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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE FEIRA DE SANTANA

DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO
DISCIPLINA: EDU311 RELAÇÕES ÉTNICO-RACIAIS NA ESCOLA
DOCENTE: EDUARDO OLIVEIRA MIRANDA
DISCENTE: VINICIUS MERCEIS SILVA
FICHAMENTO:

A MESTIÇAGEM NO BRASIL: ARMADILHAS E IMPASSES


Por: Josildeth Gomes Consorte

"Mestiço é que é bom", disse e repetiu Darcy Ribeiro, em várias oportunidades, ao


longo dos seus dois últimos anos de vida l , em pronunciamentos sobre a construção
da nossa identidade. (Pág. 1)

Menos otimista, porém, o professor Kabengele Munanga afirmava, à mesma época,


na sua tese de livre-docência 3 , que o Brasil, apesar da mestiçagem, não era um país
de identidade cultural ou étnica mestiça (Pág. 2)

Que ingrediente é este que pode ser ao mesmo tempo tão desejado, tão aclamado e
tão rejeitado? Que fenômeno é este que, quase quinhentos anos depois de conviver
conosco, ainda é portador de tanta ambiguidade? (Pág. 2)

Dos primórdios da colonização até meados do século XIX, a mestiçagem aparece


como contingência do modo como foi colonizado o país por um pequeno contingente
de homens brancos, desacompanhados de suas mulheres, entrando em contato,
inicialmente, com uma profusão de mulheres, de indígenas e, mais tarde, de escravas
africanas. (Pág. 3)
[...] a mestiçagem abriu um leque de possibilidades novas de identificação através das
quais foi sendo fragmentado todo o conjunto. (Pág. 3)

A cartografia dos cruzamentos envolveu muita gente e muitas situações, sendo seus
frutos, cuidadosamente, distinguidos e nomeados à medida que surgiam, como um
atestado da importância das distinções na construção do mundo colonial.
Com o fim do tráfico negreiro e a cessação da entrada de africanos, depois de 1850,
a relação entre negros e mestiços passou a se alterar em favor destes e o número de
negros só diminuiria a partir de então. (Pág. 3)

Com o tempo, o desejo de substituição da mão-de-obra escrava por um trabalhador


livre de origem européia foi ganhando corpo até se transformar numa política
imigratória de vulto que, a partir da segunda metade do século XIX, traria para o Brasil
milhares de italianos, espanhóis, alemães, poloneses, com os quais se esperava,
também, branquear o país, alavancando as suas possibilidades de inserir-se,
definitivamente, na caudal da civilização ocidental. (Pág. 4)

Às vésperas da libertação dos escravos e da proclamação da República, a


mestiçagem, que até então pouco preocupara, começou a despertar interesse como
problema social. Era preciso pensar no lugar que os mestiços ocupariam na formação
do povo, de quem passaria a emanar o poder com o fim da monarquia. (Pág. 4)

A preocupação com a mestiçagem agravar-se-ia com as assertivas do pensamento


evolucionista, segundo o qual a mestiçagem degenerava. Em razão disto, passaria a
ser encarada pelas elites pensantes como uma séria ameaça ao nosso futuro. Que
povo seríamos nós com aquele imenso contingente de negros e mestiços? (Pág. 5)

É claro que uma política oficial francamente favorável ao branqueamento só poderia


resultar em uma negação ainda maior da negritude e de um acirramento dos
preconceitos contra os mais escuros de pele. (Pág. 5)

A crença na degenerescência do mestiço parece ter sido, definitivamente, sepultada


nos anos 30 deste século, e com ela a política deliberada de branqueamento[...] (Pág.
6)
Na década de 50, os estudos sobre a presença do negro na sociedade brasileira
mudarão mais uma vez de perspectiva e são as relações raciais que vão ocupar o
lugar da preocupação com a cultura que dominara as duas décadas anteriores. A
mestiçagem passa a ser percebida, então, do ângulo do preconceito e da
discriminação de que os negros e seus descendentes eram alvo no processo de
integração à sociedade, a despeito do já então consagrado mito da democracia racial.
(Pág. 7)

[...] a mestiçagem só representa um valor, em si, quando se toma como referência o


mundo dominado pelo eurocentrismo e se considera, como a meta a ser atingida pelo
negro, tornar-se branco. Logo, na (re)construção de uma identidade negra, o inverso
é que deve ser buscado. Tornar-se negro equivale, desse modo, a recusar a
mestiçagem como fonte legítima de identidade. (Pág. 8)

Como se dá o processo de assunção da negritude num país tão fortemente marcado


pela mestiçagem? Em que circunstâncias os que se percebiam mestiços passam a se
assumir negros? (Pág. 9)

Quando se fala em mestiçagem, no Brasil, fica sempre a impressão de que os mulatos,


sendo seus grandes beneficiários, não são discriminados e se sentem absolutamente
à vontade como tais, mas não é isto o que realmente acontece. O preconceito e a
discriminação contra eles podem ser ainda mais sutis porque mais disfarçados, menos
óbvios. (Pág. 9)

O lugar do mestiço, na sociedade brasileira, longe de ser um lugar confortável, é


assim, também, um lugar de denúncia do preconceito e da discriminação que não
atingem só o negro, mas a ele também. (Pág. 9)

Desde o final dos anos 70, por exemplo, vem se cogitando de alterar as categorias
referentes à cor utilizadas pelo IBGE no Censo Demográfico com a intenção explícita
de suprimir a rubrica "pardo". Uma das alternativas aventadas tem sido a adoção de
uma classificação da população brasileira em brancos e não brancos, já empregada
aliás em vários estudos 24 , com a qual se julga de uma vez por todas poder resolver
as ambigüidades permitidas pelo sistema atual desmistificar a nossa democracia
racial e contribuir mais eficazmente para o combate ao racismo vigente entre nós.
(Pág. 10)

O combate ao racismo na sociedade brasileira concerne a todos, porque ele fere


direitos essenciais da pessoa humana e nos impede de crescer como nação, e não
há como negar que são particularmente os negros e os mestiços os que sentem mais
diretamente os seus efeitos. Como corrigir a distância que os separa parece-me no
momento o grande desafio que a nossa história engendrou e colocou no caminho da
nossa luta comum por igualdade. (Pág. 10)

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