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Critérios de correção

Para quem não sabe, UEMA possui “tábua” de correção muito


parecida com a dos demais vestibulares. Com esse material,
contemplaremos a banca, dando enfoque, sempre, naquilo que será
importante a esse certame. Vamos abordar cada um dos critérios, porque
essa é a melhor forma de entendermos o que os professores-corretores
esperam dos candidatos.

1. ATENDIMENTO AO TEMA PROPOSTO/ADEQUAÇÃO AO TEMA:


Esse aspecto está relacionado à capacidade do aluno em atender
integralmente a proposta de redação. Sendo assim, em casos de
tangenciamento do tema, é nesse critério que o aluno será penalizado. Além
disso, esse tópico leva em consideração a sua marca de autoria, ou seja, o
corretor precisa perceber que a sua redação é fruto de um pensamento
organizado e projetado por VOCÊ. Nesse sentido, meras cópias de obras e
citações sem que haja uma conexão com o seu texto trarão penalizações.
Nessa perspectiva, é avaliada a defesa consistente do seu ponto de
vista. Aqui, a UEMA costuma pesar a mão, uma vez que um texto original
é muito bem visto e valorizado pelos avaliadores. Por isso, a quem for fazer
o Exame Discursivo, digo que é muito importante, ao longo da sua
preparação, treinar a criatividade e originalidade. Fuja de textos prontos e
receitas de bolo. Na UEMA, NÃO ROLA!

2. ATENDIMENTO AO TIPO DE TEXTO PROPOSTO:


Como foi mencionado, o tipo textual na UEMA é a
DISSERTAÇÃO-ARGUMENTATIVA, o mesmo da prova do ENEM.
Dessa maneira, é necessário se atentar para a construção efetiva do texto
argumentativo, por meio de recursos pertinentes à tipologia, a saber:

 Evitar o uso de clichês para fundamentar os argumentos;


 Utilização de áreas do conhecimento e da obra do vestibular;
 Informações amplamente conhecidas pela mídia
 Expor um ponto de vista (tese), abordá-lo logo no início do texto
(introdução) e defendê-lo ao longo dele.
Com relação à UEMA, o tema, não raro, é um questionamento ao
candidato e, por esse motivo, requer uma resposta - a qual será dada por
meio do texto dissertativo-argumentativo. E, nesse aspecto, o
posicionamento do aluno pode ser de 3 formas:

3. COERÊNCIA TEXTUAL/DESENVOLVIMENTO DA
ARGUMENTAÇÃO:

Nesse critério são avaliadas a pertinência, a suficiência e a eficácia


dos seus argumentos.
Vamos analisar o significado de cada uma dessas palavras destacadas.
a) Pertinência: se os argumentos construídos estão relacionados ao tema.
Caso não estejam, além de perder ponto nesse aspecto, haverá penalidade
também no primeiro critério abordado, o qual trata sobre a adequação ao
tema proposto. Afinal, se os argumentos não são pertinentes, houve fuga ou
tangenciamento do tema.
b) Suficiência: se os argumentos construídos conseguem sustentar
integralmente atese elaborada
c) Eficácia: se, além de suficientes e pertinentes, seus argumentos
conseguem defender seu ponto de vista de forma eficaz, ou seja, se não
claros e objetivos.
Desse modo, a coerência textual está relacionada à defesa da sua tese ao
longo do texto, sem cair em controvérsia ou fugir do que foi dito.

4. COESÃO TEXTUAL E ESTRUTURA DO PERÍODO


Esse aspecto é muito semelhante à Competência 4 da redação do
ENEM, aquela que se refere ao uso de elementos coesivos, os quais são
igualmente importantes para a redação da UEMA. Aqui é avaliado o uso
adequado e produtivo dos elementos de coesão, isto é, deve-se usar e

abusar dos conectivos e, claro, com uma boa diversidade deles. Nada de
ficar repetindo os conectivos ao longo do texto. Essa atitude garantirá o
encadeamento das ideias e, por isso, é também um forte aliado à
manutenção da coerência textual abordada no critério anterior. Alguns
exemplos de conectivos:

Obs: é sempre importante que haja um conectivo no início dos


parágrafos de desenvolvimento e de conclusão, para manter o máximo de
coesão no texto da UEMA.

5. DOMÍNIO DO PADRÃO CULTO ESCRITO DA LÍNGUA


Lembra da competência 1 do ENEM, que versa sobre demonstrar
domínio da norma culta? Então, é a mesma coisa aqui! Os corretores irão
analisar a gramática (crase, regência, concordância, pontuação,
acentuação...), registros de oralidade(os quais serão penalizados se forem
usados, como exemplo, o uso do “pra” em vez de “para a”), ortografia etc.
Estrutura textual

I. Introdução

A introdução é composta por:

a) Apresentação de um repertório;
b) Relação do repertório ao tema;
c) Apresentação do tema;
Recomendo que nessa parte você tente relatar o mais próximo
possível do que está escrito no tema.

d) Tese;

A tese é uma proposição que direciona a argumentação. Geralmente,


a vemos na forma afirmativa, apresentando o posicionamento do autor do
texto.

II Desenvolvimento

O Desenvolvimento compreende o espaço entre os parágrafos seguintes


à introdução e termina no penúltimo parágrafo do texto. Nessa parte, as
informações previamente selecionadas no planejamento são detalhadas e
devem estar a serviço da argumentação e da sustentação da tese apresentada
na introdução.

Os argumentos podem ser ordenados observando sua relevância, as


relações de causa e consequência e a cronologia dos fatos. A argumentação
deve ser consistente, isso significa que o autor deve selecionar de informações
confiáveis, como Notícias, pesquisas e estudos científicos, citações, mobilizar
outras vozes de autoridade no texto para concordar ou refutar suas ideias,
como profissionais da área. Além da consistência argumentativa, o autor deve
posicionar-se diante do assunto construindo uma linha de argumentação que
favoreça a defesa de sua tese.
O Desenvolvimento é uma parte muito importante do texto, pois é o seu
núcleo informacional, espaço em que o leitor/ouvinte encontra as respostas
para ampliar seus saberes anteriores a respeito do assunto.

II Conclusão

Diferente do Enem, na UEMA é preferível realizar uma conclusão


que reafirma os argumentos. Consiste, basicamente, em unir as duas teses
da argumentação e reiterar o que já foi discutido no texto.
Espera-se que na conclusão uma nova reflexão seja criada a partir
dos pontos de vista analisados.
A conclusão nesse caso é dividida em:
a) Retomada
Geralmente é um período que faz um resumo do que foi dito
apontando que será concluído, ele se encontra no início do parágrafo de
conclusão.
b) Contextualização
Aqui, resumem-se os argumentos principais ( A1 e A2 )
desenvolvidos ao longo do texto.
C) Conclusão com novo ponto de vista
Por fim, o novo ponto de vista é reiterado, finalizando a discussão
fomentada no texto. Tem-se um aprofundamento do que fora explorado ao
longo da argumentação. Caso seja possível, relacione ao repertório usado
na introdução.

IV Título

TÍTULO

Agora, é o momento de mostrar como fazer um título para a sua


produção. Vou montar um passo a passo, com o objetivo de fazer um bem
feito, completo e seguro.

Deixe-o para o final, pois, para que seja coerente, é preciso levar em
consideração a tese e os argumentos já prontos.
Analisando por partes, tem-se:

Ao fazer o seu título, é essencial relacionar os argumentos do


primeiro e segundo parágrafos, além de também poder fazer menção à
tese. Assim, além de completo, ele será seguro e, ao lê-lo, o corretor já vai
ter uma boa noção do que será abordado na redação. Não precisa ser a coisa
mais criativa do mundo! Basta relacionar A1, A2 e a tese que será
coerente com todo o seu texto.

Possíveis abordagens temáticas

É possível perceber – basicamente – três temáticas na UEMA até hoje:

1. TEMAS COM PROBLEMÁTICAS CONCRETAS: aquelas mais


facilmente perceptíveis na sociedade; geralmente, são temáticas que se
assemelham mais com as da prova do Enem; Além disso, não são – em
geral – essencialmente retirados das obras, mas isso não impede o
candidato de usá-las na contextualização.

2. TEMAS COM PROBLEMÁTICAS MAIS ABSTRATAS: são


problemas reais, porém menos perceptíveis de forma tão concreta quanto os
anteriores. Normalmente, são retirados das obras e, por esse motivo, é
muito interessante utilizá-las em um ponto de contextualização.

3. TEMAS PERGUNTAS: podem apresentar uma problemática mais


concreta ou abstrata, no entanto sempre são questionamentos feitos ao
candidato. Podem ser retirados ou não das obras, contudo o mais
importante daqui é RESPONDER à pergunta proposta. NA MAIORIA
DOS TEMAS DESSE ESTILO, seguir 2 posicionamentos diferentes: SIM
ou NÃO.

Análise textual
Proposta de redação:

A mistura de raças é apresentada em Canaã como possibilidade de


desenvolvimento da nação. É possível afirmar que a miscigenação
conduziu o Brasil a uma democracia racial?
Texto para fins didáticos

Da evolução à libertação: existe democracia racial no Brasil?

A Teoria da Evolução das Espécies, de Charles Darwin, atestou


a existência de raças inferiores, que poderiam evoluir com o passar do
tempo. A partir de proposições como essa, surgiu a ideia de
superioridade racial, que culminou no racismo científico, teoria que
validava, por exemplo, o ideal de supremacia branca. Essa convicção
hegemônica foi responsável pela escravização de povos, como os
negros vindos da África, que, no Brasil, misturaram-se com indígenas
e imigrantes, dando origem a uma nação amplamente miscigenada.
Com efeito, dessa mistura de raças, surge uma importante indagação:
é possível afirmar que a miscigenação conduziu o Brasil a uma
democracia racial?
A princípio, destaca-se que a formação do povo brasileiro é
marcada pela mistura de raças. Sobre isso, cabe lembrar que, durante o
Período Colonial, os portos brasileiros foram abertos para o comércio
com outras nações e, com isso, pessoas de várias nacionalidades se
estabeleceram em solo brasileiro em busca de progresso. Exemplo
disso são os jovens alemães, Milkau e Lentz, personagens da obra
“Canaã”, do escritor maranhense Graça Aranha, que vieram para o
Brasil atraídos pelas oportunidades da terra prometida. Essa vinda
massiva de imigrantes resultou no encontro de raças que deu origem à
mestiçagem do povo brasileiro manifestada não só no aspecto
genético da população, mas no encontro de culturas, tradições, línguas
e religiões.
No entanto, essa reunião de raças não aconteceu de maneira
harmônica para todos os povos, principalmente para os negros
africanos trazidos para o país como escravos, por serem considerados
uma raça inferior. Nessa perspectiva, esse ideal, sustentado pelo
racismo científico que legitimava a supremacia branca, foi responsável
pelo tratamento desumano dado aos negros - fato ilustrado pelo conto
“A escrava”, de Maria Firmina dos Reis. Tal desumanidade, por sua
vez, só foi minimizada com a assinatura da Lei Áurea, em 1888, a
qual determinou o fim do sistema escravocrata no país. Entretanto,
essa garantia não foi suficiente para mitigar o racismo no Brasil, visto
que, ainda hoje, segundo dados do Atlas do Desenvolvimento
Humano, de 2020, os negros são mais pobres, morrem mais e ganham
menos que os brancos no país, reforçando a teoria da Necropolítica
(“existem forças que ditam quem vive e quem morre, naturalizando a
morte de minorias” ), defendida por Achile Mbembe, sociólogo
camaronês.
Portanto, a miscigenação, responsável pela atual formação do
povo brasileiro, não foi suficiente para a promoção de uma
democracia racial. Sendo assim, é necessário que, cada vez mais,
coloquem-se em pauta debates sobre a permanência do racismo e da
xenofobia entre a população do Brasil, para que a reprodução do ideal
de supremacia branca seja findada em território nacional. Dessa
forma, será possível pensar o estabelecimento de um país democrático
para todos, conforme estabelecido na Constituição cidadã.

Temáticas possíveis com base nas obras Canaã


( Graça Aranha ) e A escrava( Maria Firmina dos
Reis ):

Canaã – Graça Aranha:

Racismo Científico
O racismo científico, crença pseudocientífica que defende a
existência de evidências científicas que justificam a discriminação racial,
tem como origem os primórdios da teoria da evolução humana, de Charles
Darwin, que atestou a existência de raças inferiores, que poderiam evoluir
com o passar do tempo. Na mesma perspectiva, o naturalista francês
Georges Louis Leclerc, ainda no século XVIII, defendeu a ideia de
degeneração para discutir as misturas raciais, sobretudo no Brasil,
afirmando, por exemplo, que o negro e o branco eram duas espécies
distintas, sendo o negro uma espécie inferior.

Miscigenação
A miscigenação é apresentada, na obra, ora como possibilidade de
desenvolvimento, ora como fator de degeneração. A mistura de raças
aparece, ainda, em “Canaã”, como um possível processo de branqueamento
da população brasileira, o que é ilustrado pelo pessimismo esperançoso de
Maciel, que vê na miscigenação a possibilidade de uma futura substituição
da cultura tradicional, “atrasada”, por um modo de vida mais adaptado à
modernidade – substituição esta que acarretaria mudanças tão radicais que
marcariam o fim da cultura brasileira.

Corrupção/ abuso do poder público


O comportamento caricatural dos personagens denuncia o
aparelhamento da justiça e a corrupção no Brasil, em todos os níveis de
poder.
Em “Canaã” temos alguns exemplo desse comportamento
displiscente dos agentes do poder público, como é o caso do personagem
carcereiro, o qual não aparecia com frequência na cadeia, o que fica
explícito em passagens da obra, como: “tinham-lhe dado, como é de hábito
no país, o emprego para remunerar serviços eleitorais, em que era
excelente”. Outra ocorrência que ilustra a corrupção no livro é a ascensão
do mulato, mais autêntico brasileiro de Canaã, que acontece concomitante
com abusos de poder e violência. No geral, observamos que os personagens
mestiços ocupam cargos importantes na política (capitão Pantoja) e no
judiciário (promotor Brederores), porém esse poder é utilizado para obter
vantagens pessoais, sem qualquer respeito ao princípio “republicano de
igualdade”.

Xenofobia
O promotor Brederodes é, dentre os personagens brasileiros de
“Canaã”, o que apresenta xenofobia mais agressiva. Para ele, a presença
dos estrangeiros parece ameaçar seus domínios e ele teme por sua
multiplicação, pela tomada do país.

Assédio sexual
Na narrativa, a personagem Maria, uma jovem filha de imigrantes, é
assediada pelos soldados negros, bêbados, todas as noites, de quem tenta se
desvencilhar.

A escrava( Maria Firmina dos Reis ):

Escravidão X Abolicionismo

Fica evidente, durante toda a narrativa, que Maria Firmina dos Reis
utiliza a própria literatura como instrumento de luta contra a escravidão.
Com a personagem Joana, a autora denuncia os constantes abusos que eram
praticados contra os povos escravizados, no Brasil, e os efeitos disso, bem
como destaca o atraso do país – principalmente se comparado à Europa –
em determinar o fim do sistema de trabalho servil.
Discriminação racial

Na obra, a denúncia da discriminação racial acontece,


principalmente,
por meio da dicotomia entre o colonizador e o colonizado. A relação de
soberania que se estabelece entre eles, sendo o colonizador uma figura que
se considera e se porta como superior ao colonizado, só era possível devido
à crença de soberania racial defendida à época do período escravocrata.

Poder de fala/ Liberdade de expressão

No conto, o discurso abolicionista só consegue se concretizar, porque


surge na voz de uma mulher branca, a qual é ouvida por seus pares. Apesar
de a narrativa dar destaque à voz de Joana, mulher negra escravizada e que
narra, sem filtros, as violências sofridas durante toda a sua vida servil, essas
memórias tornam-se dependentes da reprodução de uma mulher branca (na
obra, “uma senhora”), autodeclarada abolicionista, para alcançar outras
pessoas.

Empoderamento feminino

O protagonismo feminino em “A escrava” começa com a


própria autoria da obra, já que Maria Firmina dos Reis se destaca na
literatura brasileira como pioneira na escrita de romances
abolicionistas, além de
ter sido, ainda, a mulher responsável pela fundação da primeira escola
mista do Maranhão. Essas singularidades, além do fato de Firmina ser
uma mulher negra contemporânea do período escravocrata no Brasil,
fazem com que a obra dela seja compreendida como um ato de
ousadia e um importante registro histórico.

Fontes:
ARANHA, Graça. Canaã. São Paulo: Martin Claret, 2005 (Edição original: 1902).
ARAUJO,
Barbara Del Rio. Estudo sobre a composição estética da obra Canaã.
Disponível em: https://1library.org/document/nzwv07lq-estudo-sobre-composicao-
estetica-obracanaa-graca-aranha.html;
BOTTON, Viviane Bagiotto. Histeria, mulher e feminino.
Disponível em: https://www.filosofas.org/post/histeria-mulher-e-femenino ;

CAMPOS, Leonardo. Canaã, de Graça Aranha.


Disponível em: https://www.planocritico.com/critica-canaa-de-graca-aranha/
D’ANGELO, Helô. Quem foi Maria Firmina dos Reis, considerada a primeira
romancista brasileira.
Disponível em: https://revistacult.uol.com.br/home/centenario-maria-firmina-dos-reis/
FAGUNDES, Maria Clara Marques. Retratos do Brasileiro e da “Terra Prometida”.
Disponível em: https://repositorio.ufba.br/bitstream/ri/30303/1/Canaã%20versão%20
final.pdf
FILHO, Nascimento Morais (Org.). Maria Firmina: fragmentos de uma vida. São Luiz:
Comissão organizadora das comemorações de sesquicentenário de nascimento de Maria
Firmina dos Reis, 1975.
http://www.letras.ufmg.br/literafro/autoras/322-maria-firmina-dos-reis

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