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UNIVERSIDADE POLITÉCNICA – A POLITÉCNICA

Instituto Superior de Humanidades, Ciências e Tecnologias ISHCT

Trabalho de Investigação de História de Psicologia

Licenciatura em Psicologia Clinica

Raça e Racismo

Luísa Luís Mareço

Quelimane, Março de 2024

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Luísa Luís Mareço

Licenciatura em Psicologia Clinica

Raça e Racismo

Trabalho de carácter avaliativo da


Disciplina de Psicologia Transcultural a
ser entregue ao docente:

Msc. Basto de Morais Elias

Quelimane, Março de 2024

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Índice

1. Introdução..................................................................................................................4

1.1. Objectivos...........................................................................................................5

1.1.1. Objectivo geral................................................................................................5

1.1.2. Objectivos específicos.....................................................................................5

1.2. Metodologia........................................................................................................5

2. Desenvolvimento........................................................................................................6

2.1. Conceitos e diferença..........................................................................................6

2.2. Construção histórica do racismo.........................................................................7

2.3. Racismo na modernidade....................................................................................8

2.4. A Superação da discriminação por meio de um compromisso de consciências


de múltiplas cores..........................................................................................................8

3. Conclusão.................................................................................................................11

Referências bibliografia...................................................................................................12
1. Introdução

O presente trabalho, constitui uma ferramenta avaliativa da disciplina, Psicologia


Transcultural, leccionada pelo Universidade Politécnica – A Politécnica no 1º ano do
curso técnico em Enfermagem, e tem como tema: Raça e Racismo.

O conceito científico de raça vem, originalmente, do termo italiano “razza”, inspirado


na palavra “ratio”, do latim que significa sorte, categoria ou espécie. Nas Ciências
Biológicas este termo foi utilizado primeiramente pelo botânico Carolus Linnaeus, na
botânica e na zoologia para classificar espécies de plantas e de animais. Este conceito de
raça, por sua vez, saiu de suas áreas originárias para validar relações de dominação entre
classes sociais, apesar de não haver as diferenças notáveis que eram utilizadas pelos
naturalistas para classificar os vegetais e os animais como “raça pura” (Munanga, 2004).

O surgimento do racismo científico no século XIX e seus respectivos desdobramentos


na política e na sociedade do período têm sido amplamente debatido entre os
historiadores, sociólogos e antropólogos. Sobrepondo-se aos dogmas religiosos
reinantes até então, as teorias raciais deram status científico às desigualdades entre os
seres humanos e, por meio do conceito de raça, puderam classificar a humanidade,
fazendo uso de sofisticadas taxonomias (Schwarcz, 1993).

Hoje, a caracterização étnica e racial dos indivíduos é amplamente utilizada em


pesquisas científicas, diagnósticos, porém seus significados são desconhecidos e muito
confundidos pela maioria dos acadêmicos (Santos et al., 2010).

Na comunidade da saúde é comummente aceito a utilização da raça para distinguir


populações ou até mesmo indivíduos que procuram assistência médica. No entanto, essa
prática é um reflexo do preconceito que se originou no passado e que é recorrente até
nos dias de hoje, seu uso, por isso é defendido como uma ferramenta mais prática para
diagnosticar doenças (Jay, 2006). Essa percepção científica consolidou o chamado
racismo científico.

Neste sentido, o objectivo principal da deste trabalho foi analisar o potencial de uma
intervenção didáctica, sobre raça e racismo na perspectiva científica, e o seu
desenvolvimento será estrutura em: Introdução, Desenvolvimento e Conclusão.

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1.1. Objectivos
1.1.1. Objectivo geral

 Analisar o potencial de uma intervenção sobre raça e racismo na perspectiva


científica

1.1.2. Objectivos específicos

 Apresentar conceitos e diferença de raça e racismo;


 Descrever o processo de construção da ideia de raça e do racismo;
 Descrever o processo de superação da discriminação por meio de um compromisso
de consciências de múltiplas cores

1.2. Metodologia

O desenvolvimento de um artigo ou um trabalho científico exige dos autores evidências


sustentáveis para a sua credibilização, com isso, para a concretização do presente
trabalho, será antes feita revisão bibliográfica, que conforme Gil (2002, p.44) “é
baseada em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos
científicos”.

Com isso, serão explorados manuais de estatísticas assim como outros artigos referentes
ao tema em questão.

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2. Desenvolvimento teorico

2.1. Conceitos e diferença

Nas sociedades humanas a prática da discriminação (no uso deletério do termo) é tão
disseminada quanto nefasta; pode-se afirmar que, historicamente, onde existe a
diferença, existem indivíduos cujas vidas são prejudicadas por pertencerem a um ou
outro grupo que foge a determinadas categorias. A discriminação não é um fenómeno
brasileiro; como todos sabem, existe em todos os continentes, países e culturas.

Entender que seu grupo é mais relevante, mais potente, mais capaz de estabelecer um
modo de vida melhor do que os demais é uma característica inerente à história humana,
à qual não podemos atribuir um fato histórico específico para sua criação. Há uma
repulsa natural ao estranhamento que o outro lhe causa e a tentativa de reduzi-lo a
espécimes inferiores, com o objectivo de fazer seu modo de vida prevalecer. Foi assim,
por exemplo, que os gregos denominavam os estrangeiros de bárbaros (Da Cruz, 2019,
p.311-315) e os inuítes do ártico foram considerados primitivos e batizados pelos
europeus de esquimós ou “comedores de carne crua”. Como cantou Caetano: “É que
narciso acha feio o que não é espelho”. Podemos dizer então, o ser humano é narcisista!

O racismo é um dos produtos mais indignos e perversos da relação saber e poder.


Guarda vinculação directa com a afirmação das ciências positivas, pois se âncora na
perspectiva de raça inicialmente criada com base científica.

A ideia de raça é coisa muito recente. Tem em média dois séculos e se cria a partir do
racialismo, antiga doutrina protocientífica que afirmava que as diferenças biológicas
existentes no interior da espécie humana eram grandes o bastante para diferenciar raças
com qualidades psicológicas, intelectuais ou de carácter distinto. A partir desta
perspectiva importada da Botânica e da Zoologia é que se origina o conceito de raça,
cuja etimologia tem suas bases no termo latino ratio, que significa sorte, categoria,
espécie (Munanga, 2016).

A categorização de raças sai da Biologia e passa a ser um elemento para a descrição da


história humana com Arthur de Gobineau, escritor e filósofo francês do final do século
19 (1816 – 1882). Este filósofo relacionou a diferenciação de raça ao desenvolvimento

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das nações e escreveu o “Ensaio sobre a desigualdade das raças humanas” com a ideia
central de estabelecer um escalonamento de raças (Gomes, 2011).

Com a falência do projecto de eugenização e a demonstração de toda a sua


monstruosidade em decorrência dos horrores da Segunda Guerra Mundial, o racismo à
brasileira foi transformado no mito da “democracia racial”. Em uma comparação com o
projecto de eugenia dos Estados Unidos da América buscou-se falaciosamente
demonstrar que aqui nada disso ocorrera, afinal não esterilizamos pessoas (como as
7.000 mulheres esterilizadas no Estado da Virginia).

2.2. Construção histórica do racismo

Delimitar precisamente quando o racismo começou a ser praticado é uma tarefa difícil.
Entretanto, conseguimos traçar alguns momentos da história em que tal conduta chama
atenção.

No século IX, na Arábia, por exemplo, já existia a diferença entre o tratamento de


escravos brancos e negros. Nesse sentido, mesmo com as duas raças vivendo num
regime de escravidão, as regras para os brancos eram mais amenas do que para os
negros (Neves, 2008.).

Além disso, os ensinamentos religiosos da época já traziam a ideia de pureza no sangue,


o que também pode ser considerado uma forma de racismo. Inclusive, tal pensamento
deu início à perseguição dos judeus. Então, essas atitudes escravistas e preconceituosas
permeiam as sociedades com mais afinco desde a colonização árabe (Neves, 2008.).

Entretanto, outra percepção de racismo vem das interpretações cristãs da Bíblia e


também remetem a questão da purificação. Nesse sentido, vários judeus se converteram
ao cristianismo para uma possível aceitação social e, assim, se tornaram os “novos
cristãos”.

A ideia de pureza do sangue ganha força na Idade Média e se estende até o século XIX,
legitimando os discursos que defendiam os conceitos de inferioridade/superioridade
entre as raças. Vale trazer, também, que no século XVII, a diversidade humana foi
classificada em brancos, negros e amarelos, através das classificações da biologia e da
zoologia, (Neves, 2008.).

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2.3. Racismo na modernidade

O racismo no mundo moderno é visto como consequência da expansão europeia, a partir


do fim do século XV, e se estendeu para judeus, árabes e ciganos. Vale aqui também
mencionar o maior genocídio da História, que foi o Holocausto, perpetrado por racistas
assumidos e justificados por uma ideologia explicitamente racial, (Neves, 2008.).

Entretanto, é importante tratar sobre o racismo não europeu. Nesse sentido, podemos
citar como exemplo a violência dos japoneses contra coreanos e chineses durante a
Segunda Guerra Mundial, além de casos nos Estados Unidos, (Neves, 2008.).

Inclusive, a tratativa americana é bem peculiar de ser analisada. Isso ocorre, pois houve
a socialização com um grande senso de superioridade, para manter os brancos como
classe dominante. Então, negros e imigrantes eram tratados de forma diferenciada e
perseguidos pelo grupo no poder.

Mesmo assim, é válido trazer que ainda existe um problema de estigmatização com
esses grupos. A desigualdade social gerada por um arcaísmo de uma sociedade atrasada
ainda vê tais indivíduos como criminosos e vagabundos pela ordem estatal e dominante.

2.4. A Superação da discriminação por meio de um compromisso de


consciências de múltiplas cores

Acções afirmativas são políticas públicas que buscam criar um patamar mínimo de
igualdade, colocando determinadas minorias historicamente discriminadas dentro de
uma possibilidade de isonomia, ou seja, visa a reduzir os efeitos atrozes da
discriminação racial. O desenvolvimento de um conjunto de políticas de carácter
afirmativo, que se somam às importantes políticas universais, tem contribuído, sem
dúvida, para a conformação de uma sociedade que avança paulatinamente rumo à
igualdade, (Arendt, 2011)

Assim como a lei teve papel importante para a instituição do ideário racista, reflectindo,
nada mais nada menos, que as perspectivas sociais elitistas da época, agora demonstra
exercer papel inverso, abrindo uma fenda no discurso brasileiro para desmistificar o
paraíso das raças.

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Algumas leis são emblemáticas na luta do movimento negro, entre elas a Lei 12.288/10
(Estatuto da Igualdade Racial) e a Lei nº 12.711/2012 (lei que institui cotas raciais em
universidades e instituições de ensino técnico).

Especificamente em relação às políticas de cotas raciais para acesso às universidades e


cargos públicos, vale lembrar que o STF já decidiu, na Acção Directa de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 186, de 26/4/2012, que esta
espécie de acção afirmativa não contraria o princípio da igualdade, mas o estimula,
ainda que atinja grupos sociais determinados, de maneira pontual, atribuindo a estes
certas vantagens, por um tempo limitado, vez que busca permitir-lhes a superação de
desigualdades decorrentes de situações históricas particulares, (Arendt. 2011).

Especificamente em relação às políticas de cotas raciais para acesso às universidades e


cargos públicos, vale lembrar que o STF já decidiu, na Acção Directa de
Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) n. 186, de 26/4/2012, que esta
espécie de acção afirmativa não contraria o princípio da igualdade, mas o estimula,
ainda que atinja grupos sociais determinados, de maneira pontual, atribuindo a estes
certas vantagens, por um tempo limitado, vez que busca permitir-lhes a superação de
desigualdades decorrentes de situações históricas particulares.

Faço um parêntese para lembrar que esse tipo de lei não é novidade e, inclusive, já foi
aplicada às elites, como a Lei dos Bois, editada em 1968 pelo presidente Costa e Silva,
que criava cotas para as escolas superiores de Agricultura e Veterinária e que
beneficiaram directamente os filhos de fazendeiros.

Ocorre que a instituição desta justiça social encontra desafios. Pontuo alguns deles:

 O primeiro desafio é a definição, para inserção nas acções afirmativas, do que é


ser negro. Usa-se a autodefinição de cada indivíduo – o que está a gerar
bastantes controvérsias, decidindo, o poder Judiciário, recentemente, pela
exclusão do critério genético para o fenótipo caso assim conste no edital.
 O segundo desafio é, usando-se o fenótipo e não o conceito genético: Não se
estaria a produzir desigualdades de oportunidades dentro de um mesmo bojo
familiar, muitas vezes? Teremos o caso de dois irmãos, filhos de negro e branco,
que, possuindo aparência distinta, concorreram de forma diversa para vagas em
uma mesma universidade. Não teria o filho com aparência branca elementos

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culturais negros e legado histórico de exclusão que justifique sua alocação na
mesma categoria de seu irmão? Agora, se adoptarmos o critério genético, não
estaríamos retornando à perspectiva de uma “gota de sangue” que embasou o
projecto eugenista norte-americano?
 O terceiro desafio é manter o discurso a respeito da existência de raças, o que
poderia alimentar ainda mais a ideia da dicotomia entre homem branco e homem
negro.

É por isso que a política de cotas não será capaz de mudar o ideário social sem que seja
efectivada uma outra lei, que se observada for produzirá efeito mais duradouro e
efectivo do que a política de cotas – sem com isso combater essa medida, a qual
acredito ser eficaz dentro do seu carácter de temporalidade – que é a Lei 10.639/03.

 A Lei 10.639/03 é a principal agente de transformação, mas também é a que


menor efectividade tem hoje. É ela que determina o ensino da história e cultura
afrobrasileira e ressalta a importância da cultura negra na formação de nossa
sociedade. Ao invés de trabalhar com a ideia de raças de maneira isolada, e
necessário mexer na superestrutura da sociedade brasileira, trabalhar, então, com
a perspectiva de cultura e mudar o ideário deletério deixado pelas distorções
históricas.

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3. Conclusão

Demonstrou-se ao leitor que a ideia de classificar os seres humanos em raças diferentes,


ao migrar das fronteiras da ciência, modificou estruturas sociais, criando a falsa
perspectiva da existência de raças superiores e raças inferiores. Esta questão abriu
caminhos para o racialismo e, ato contínuo, ao racismo. A superação deste mito levou
alguns defensores a sugerir que fosse banida a ideia de raça; todavia o fato é que, ainda
que banida fosse, a ideia de raça permanece na realidade social e política,
condicionando a vida de muitos.

É preciso, portanto, mudar a superestrutura social por meio da educação; entender que o
povo africano não se reduz à escravidão, ao contrário, são povos nobres, que
contribuíram muitíssimo para a evolução do ser humano e que nada há de inferior em
sua cultura, muito menos em sua cor. Incentivar meninos e meninas a reconhecerem
algumas verdades elementares para se romper o mito da inferioridade de raças: o Egito é
africano e, portanto, todo o legado desta civilização é negro. É preciso entender a
herança africana que formou a musicalidade brasileira, a importância da africanidade
para a formação da língua brasileira (como os verbos zangar, cochichar, cochilar, entre
tantas outras palavras).

Para tanto, torna-se definitivo que nenhuma cor mais defina quem é quem, o destino de
meninas e meninas ou suas competências e habilidades. Que haja um mundo de
múltiplas cores e muita luz. Afinal, racismo não é como você parece, mas sim como as
pessoas atribuem significação à sua aparência.

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Referências bibliografia

Da Cruz Santos, T. (2019). As consequências da escravidão na história do negro no


Brasil. Diamantina Presença.

Gil, A.C. (2002). Como elaborar projectos de pesquisa. 4. ed. - São Paulo. Atlas.

Gomes, A. (2011). A miscigenação do Brasil sob o olhar de Gobineau. São Paulo:


Martins Fontes.

Jay, N.C. (2006). The use of race and ethnicity in medicine: lessons from the African
American heart failure trial. J Law Med Ethics.

Neves, M. (2008). Entre Têmis e Leviatã: uma relação difícil. 2. ed. São Paulo: Martins
Fontes.

Munanga, K.(2004). Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo,


identidade e etnia. Em Brandão, André Augusto.

Munanga, K. (2016). Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo,


identidade e etnia. São Paulo: Martins Fontes.

Santos, D. J. (2010). Raça versus etnia: diferenciar para melhor aplicar. Dental Press J.
Orthod.

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