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RACISMO ESTRUTURAL - RAÇA E RACISMO

DA LUZ, Pedro rodrigues1


BOATCHUCK, Ygor joão2
RENATO, Derek3
ANHAIA, Marlon Moreira4
SAPLAK, Ivan5

RESUMO: O conceito de raça é dinâmico, moldado pelo tempo e contexto político,


cultural e econômico. Originou-se na expansão comercial europeia, transformando o
homem europeu em padrão universal. O colonialismo justificou destruição em nome
da civilização, embasada em supostas diferenças biológicas. Racismo é discriminação
baseada em raça, enquanto discriminação envolve tratamento diferenciado, direto ou
indireto. Racismo pode ser individualista, institucional ou estrutural, relacionando-se
com subjetividade, Estado e economia. A discriminação institucional mantém padrões
discriminatórios, perpetuando o domínio racial. O conceito de racismo reverso é
questionado, destacando a importância das experiências históricas na compreensão
do fenômeno.

Palavras-chave: Racismo. Colonialismo. Antropologia. Subjetividade. Estrutural.

1 INTRODUÇÃO

A raça e o racismo são temas complexos e debatidos, com raízes históricas


profundas. A visão antropológica oferece uma perspectiva valiosa para analisar essas
questões. A antropologia destaca a natureza social da raça, evidenciando que não é
uma categoria biológica, mas uma construção social moldada por fatores culturais e
históricos. Além disso, essa disciplina ajuda a examinar as origens históricas do
racismo e suas implicações contemporâneas, incluindo desigualdades sociais e
discriminação. A antropologia desempenha um papel importante na desconstrução de
estereótipos e na promoção da igualdade, contribuindo para uma compreensão mais
profunda da diversidade humana.
Neste estudo, aprofundaremos esses temas da perspectiva antropológica,
visando uma sociedade mais justa e inclusiva.

2 DESENVOLVIMENTO

O conceito de raça é um termo dinâmico que sofre diversas alterações


com o passar do tempo, o que mostra que o mesmo está intrinsicamente ligado ao
contexto em que estamos inseridos, seja político, cultural ou econômico. A
classificação da raça humana surge com a expansão comercial da burguesia e da
cultura renascentista europeia que irá transformar o homem europeu, no homem
universal, a versão ideal da humanidade, e todos aqueles que não são condizentes a
essa raça, são variações menos evoluídas. Surge então a distinção filosófico-
antropológica entre civilizado e selvagem, que no século seguinte daria lugar para o
dístico civilizado e primitivo. Com as grandes navegações e o choque cultural do
encontro do “homem ideal” com os primitivos, em um processo, denominado
colonialismo, onde o homem europeu busca levar a civilização para onde ela não
existia para apresentar todos os benefícios da liberdade, da igualdade, do Estado de
direito e do mercado irá despontar um processo de destruição, morte, desvalorização
em nome da civilização dos povos “sem cultura”. Os atos de destruição tornam visíveis
que por trás da busca da civilização, o projeto liberal-iluminista não tornava de fato
todos os homens iguais, e nem sequer reconheciam os mesmo como seres humanos,
já que muitos foram escravizados ou sofreram diversos tipos de humilhações. Para
justificar os acontecimentos, o europeu se apoia a biologia e a física, buscando na
ciência respostas para a diversidade humana, dando origem a ideia de que
características biológicas (determinismo biológico) e condições ambientais
(determinismo geográfico), seriam capazes de explicar as diferenças morais,
psicológicas, culturais e intelectuais, bem como toda a diferença entre as raças. A pele
não branca, clima tropical eram justificativas de comportamentos imorais, violentos,
além de indicarem pouca inteligência, justificando assim os atos do homem europeu,
contra as outras raças, já que essas eram menos desenvolvidas e até perigosas ao
homem ideal, e por isso, deveriam “servir” e “aprender” com o homem europeu, isso
seria racismo? O racismo é uma forma de discriminação, que tem a raça como
fundamento, podendo se manifestar por meio de práticas conscientes e inconscientes
que irão trazer a determinados grupos de pessoas desvantagens, ou privilégios para
indivíduos, dependendo do grupo racial ao qual pertencem, no entanto, racismo,
discriminação racial, e o preconceito racial, embora haja relação, são conceitos que
trazem diferentes entendimentos, sendo de suma importância entender os mesmos,
para então combater eles. O preconceito racial são os estereótipos acerca dos
indivíduos que pertencem a determinados grupos, que pode ou não resultar em
práticas discriminatórias. Já a discriminação racial é a atribuição de um tratamento
diferenciado a indivíduos de determinados grupos racialmente identificados, então
essa, exige necessariamente que haja poder na relação, ou seja, há a possiblidade
efetiva do uso da força, pois sem ela, não seria possível atribuir vantagens ou
desvantagens. A Discriminação pode ser ainda, direta ou indireta. Na primeira, a
discriminação direta, requer que haja a intenção de discriminar através da imposição
de um tratamento desvantajoso, é o repúdio ostensivo aos sujeitos, sem nenhuma
máscara, como países que proíbem a entrada de determinados imigrantes. Todos são
discriminados a partir de um único vetor. Por isso, para Adilson José Moreira, é um
conceito “incompleto” para definir a complexidade desse fenômeno, a discriminação.
Já a discriminação indireta, é marcada pela ausência explícita da intenção de
discriminar, ou seja, a situação de grupos específicos é ignorada, ou enfrentada sobre
a visão da neutralidade racial, não levando em conta as diferenças sociais
significativas que diversos grupos enfrentam dentro de um espaço geográfico. O fato
é que há consequências da discriminação, seja direta ou indireta, e a principal delas,
é a estratificação social. Um fenômeno que afeta todas as gerações de um grupo
discriminado, o qual terá suas chances de ascensão social, e a construção do
materialismo histórico prejudicados devido a um processo de discriminação. Além da
segregação racial, que se torna ainda mais visível, pois há a divisão geográfica dos
grupos discriminados, seja as periferias, guetos e bairros afastados, e o
reconhecimento e definição de determinados estabelecimento comerciários, ou
serviços públicos (hospitais ou escolas), para determinados grupos. Com a definição
da diferença de discriminação, racismo e preconceito, precisamos elencar as
concepções de racismo, sendo elas, individualista, institucional e estrutural. Essas
seguem aos seguintes critérios, respectivamente: a) relação entre racismo e
subjetividade; b) relação entre racismo e Estado; c) relação entre racismo e economia.
Na concepção individualista, o racismo é entendido como uma patologia, ou
anormalidade no comportamento humano, seria um fenômeno ético isolado, de
caráter individual, ou coletivo, mas atribuído a pequenas porcentagens da população,
sob este ângulo, não existe uma sociedade, ou instituição racista, mas indivíduos que
não representam a sociedade, está ligado à sua educação e formação particular, não
sendo um problema do Estado, ou das instituições. Já a concepção institucional,
significa um importante avanço no entendimento acerca do estudo das relações
raciais. Nela, não se resume a um comportamento individual e isolado, mas é tratado
como um problema do Estado e também das instituições, já que as mesmas, são
atravessadas pelo primeiro. É entendido como o resultado do funcionamento das
instituições e como a estabilidade dos sistemas sociais dependem da capacidade
dessas instituições de absorver, e normalizar os conflitos inerentes da vida social,
estabelecendo normas que irão orientar as ações dos indivíduos, moldando os
mesmos como sujeitos, e também seus comportamentos. Os conflitos raciais também
são parte das instituições. E a desigualdade social se torna uma característica da
sociedade, não apenas pela atitude de grupos isolados, mas também, porque as
instituições são hegemonizadas por determinados grupos raciais que utilizam
mecanismos institucionais para impor seus interesses políticos e econômicos. No
racismo institucional, o domínio se dá com o estabelecimento de parâmetros
discriminatórios, os quais farão com que o grupo racial que esteja no poder,
permaneça sempre o mesmo, e ainda, que se tornem o horizonte civilizatório da
sociedade, ou seja, os padrões estéticos e culturais se tornam exemplo de ser bem-
sucedido e de possuir poder. O domínio de homens brancos em cargos de instituições
públicas e privadas, não é de hoje, pois, desde sempre, existem regras e padrões que
dificultam a ascensão de negros e mulheres, sendo esse, o primeiro motivo de porquê
o mesmo grupo racial se mantém no poder, e o segundo, é a inexistência de lugares,
para a discussão sobre os padrões e a desigualdade racial, tornando normal o domínio
do grupo de homens brancos. Na concepção estrutural compreendemos que as
instituições são apenas a materialização de uma estrutura social ou de um modo de
socialização que tem o racismo como um de seus componentes orgânicos, ou seja,
as instituições são racistas porque a sociedade é racista. O racismo é parte da ordem
social, não é algo criado pela instituição ou pelos seus grupos dominadores, mas é
reproduzido por estes, ou seja, é de opção da instituição se posicionar, ou não, contra
os conflitos de ordem social. Com isso, apresentamos o racismo como processo
político e como processo histórico, respectivamente. O racismo é um processo
político, pois como todo processo, depende de um poder político, pois caso contrário,
se não houvesse poder, não haveria a discriminação sistemática de grupos inteiros
sociais, o mesmo tem grande influência no processo de organização da sociedade.
Com isso, trazemos a ideia do racismo reverso e como sua execução na prática seria
impossível, pois, grupos minoritários podem até ser preconceituosos ou terem atitudes
discriminatórias, porém, como apresentado anteriormente, o racismo necessita de
poder para acontecer, sendo assim, os grupos que estão no poder são sempre os
mesmos, e com isso, grupos minoritários, não possuem poder para de fato serem
racistas. O próprio termo “reverso” traz um questionamento interessante, já que, para
ser reverso, algo tem de estar fora da normalidade, tem de haver uma inversão de
valores normais, sendo assim, o racismo contra a minoria é algo tido como normal. O
racismo reverso, é um conceito criado apenas para deslegitimar as demandas por
igualdade racial. Já o racismo como processo histórico, se dá, devido ao fato de que
o mesmo também é estrutural, com isso, não podemos compreender o racismo
apenas através de uma derivação automática dos sistemas econômicos e políticos,
cada sociedade possui uma trajetória singular que dará ao econômico, ao político e
ao jurídico, particularidades que só podem ser apreendidas quando observadas as
respectivas experiências históricas. Com isso, o racismo se transforma durante sua
jornada e durante a jornada de construção de cada Estado, sendo assim, as
classificações raciais tiveram suma importância para definir as características sociais
e a legitimidade na condução do poder estatal.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, o texto proporciona uma análise minuciosa sobre a dinâmica


do conceito de raça, revelando sua estreita ligação com o contexto sociopolítico. Ao
explorar a trajetória desde a expansão comercial europeia até as justificativas
científicas para o racismo, evidencia-se a construção ideológica que perpetuou
desigualdades e discriminações. A distinção entre preconceito e discriminação, assim
como as diferentes concepções de racismo, enriquecem nossa compreensão do
fenômeno. A análise estrutural ressalta o papel crucial das instituições na manutenção
do racismo, destacando sua natureza política e histórica. Diante disso, compreender
a complexidade desses fenômenos é essencial para enfrentar e transformar as
estruturas que perpetuam a injustiça racial em nossa sociedade.

4 REFERÊNCIAS

ALMEIDA, S. Racismo estrutural. São Paulo: Pólen, 2019. 264 p. ISBN 978-85-
98349-75-6.

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