Você está na página 1de 14

MONSMA, Karl.

A reprodução do racismo: fazendeiros, negros e imigrantes no Oeste


Paulista, 1880-1914.

Sociólogo - Universidade Federal do Rio Grande do Sul

RESUMO

Capítulo I - A natureza do racismo e a persistência da dominação racial

Etnicidade, racialização e racismo

Apesar da ciência afirmar que “raças” são construções sociais, muitas vezes as
categorias raciais são utilizadas sem investigação histórica, dada a abordagem de somente
um tipo de racismo em contextos mais “óbvios” (ex: “judeu”). Só quando
questionamos as várias formas de discriminação como “racismo” é que a definição e os
processos de racialização começam a ser pensados.
No geral, hoje “raça” é vista como um fenômeno a ver com diferenças físicas
entre grupos de ascendência comum, já “etnicidade” sobre diferenças culturais. Fruto
da separação biologia x cultura pelas ciências sociais (sec. XIX e XX), conveniente aos
discursos racistas ligados a “atrasos culturais”. Antes a tendência era mais ou menos
lamarckiana, em que a cultura era expressão do “sangue” herdado. Uma definição do
racismo não pode, assim, basear-se em distinções entre fenótipo e cultura.
Um grupo étnico, para Weber, é um grupo humano com uma identidade coletiva
baseada na origem comum, real ou imaginada. Barth acrescenta que elementos culturais
específicos salientam a distinção de um grupo para outro. Hoje, há um consenso entre
antropólogos que um grupo étnico não equivale a uma “cultura”, a delimitação das
fronteiras étnicas só importam em interações grupais que permitem sua manutenção.
Podemos estender a lógica de Barth para as diferenças físicas, dado que são socialmente
construídas e somente certas são reconhecidas, sendo também uma fronteira étnica.
A definição sociológica do racismo deve também reconhecer a relação entre
ideologias ou discursos racistas e práticas de dominação racial, dada a importância da
racialização das instituições sociais na durabilidade do racismo e seu sentido. Desenvolve-
se a definição de racismo em elementos de dominação étnica e ideologia, se
caracterizando pelo essencialismo negativo, definindo como intrínseca e duravelmente
negativa as características de um grupo étnico, servindo como justificativa de dominação ou
exclusão do grupo.
Nesta concepção, o fenótipo pode servir como pertencimento racial, mas a
racialização é consequência da dominação étnica, assegurada pela internalização no
habitus racial do indivíduo das categorias raciais.

O conceito de “raça” no mundo europeu moderno


Os europeus usavam “raça” para designar grupos humanos com ascendência
comum (“linhagem”-”raça de Abraão”)1. E assim alguns grupos pensavam-se como

1 Barton
“raças” superiores (ex: aristocracias pensavam ser descendentes dos
conquistadores). Com o colonialismo, imperialismo e nacionalismo essa noção de
superioridade se difundiu. Porém, havia mecanismos de mobilidade além da
ascendência, adquirindo-se títulos de nobreza. Nas justificativas bíblicas da escravidão e
suposta inferioridade dos negros, a culpa da condenação deles era dado algum pecado de
um ancestral ou uma maldição da pele escura marcado por Deus.
Com o tempo, “raça” passou a se referir a povos inteiros - grupos étnicos. É
somente a partir do racismo científico europeu e norte-americano do século XIX que se
estabeleceu a noção de “raças” como tipos humanos permanentemente distintos (“raça
nórdica x latina”). No século XX passou-se a aceitar o esquema branco-negro-amarelo-
vermelho, de origens continentais, além de outras racializações (ex: antissemitismo
europeu). Pós-2ªGM, há certo grau de consenso na ciência que “raças” biológicas não
existem, a variação genética é pouco relacionada com as origens continentais. As
diferenças físicas geralmente resultam de pequenas mutações, adaptações a ambientes
distintos, sendo absurda a crença racista de correlação entre físico e moral.
Os cientistas sociais e psicólogos também contribuíram para debelar essa crença
em qualidades internas características de “raças”, mostrando que a maioria dos
comportamentos é produto do contexto social e história, aqueles que são componentes
biológicos, são apenas potencialidades, cuja realização depende da história e do contexto.
Ainda existe uma tendência popular, estimulada por políticos, de misturar e confundir
a ancestralidade, a história compartilhada e a cultura dos povos estigmatizados. Separar na
análise sociológica discriminação cultural da física servem muitas vezes como eufemismos
para o racismo que é visto como inaceitável, utilizando termos velados como “etnias”,
“imigrantes” e “culturas”. Na Europa continental, Reino Unido e EUA os grupos étnicos são
essencializados: os muçulmanos são “resistentes à integração”, “machistas”, “simpatizantes
do terrorismo” ; a pobreza da população negra é fruto de uma “cultura de pobre”. Esta
opinião que exime a população branca de responsabilidade, tal como brasileiros brancos a
respeito das comunidades carentes de maior concentração de pretos.

Racialização e racismo nas ciências sociais


Peter Wade critica a definição de “raça” como somente uma construção social
que interpreta as diferenças físicas por entender que estas são pré-sociais, apesar de
manter a centralidade delas à definição do racismo. Ele entende que o fenótipo também é
socialmente constituído, dado que somente algumas diferenças são percebidas e “raciais”.
Na mesma linha Omi e Winant definem “raça” como “um conceito que significa e simboliza
conflitos e interesses sociais pela referência a tipos distintos de corpos humanos”, Sérgio
Costa trata “raças” como consequência do racismo e hierarquização. Antonio Sérgio
Guimarães diz que a classificação das diferenças físicas é só um aspecto da definição de
“raças”: “discursos sobre as origens de um grupo”. Todos incluem a construção social
das diferenças corporais na definição de “raça”.
A seleção das características corporais específicas que significam “raças” é um
processo social historicamente variável. Wade afirma que as diferenças físicas relevantes
para a classificação social são as que diferenciam os europeus, ou seja, a racialização do
mundo e o racismo são produtos do colonialismo e imperialismo “europeu”. É comum
no meio acadêmico a relação do termo “racismo” com as relações de europeus com o resto
do mundo, porém tal abordagem limita outros fenômenos raciais, definidos como “não
racistas” ou não ligados à aparência física. Robert Miles e George Fredrickson mostram que
o antissemitismo apesar de ser uma das principais e mais duradouras formas do racismo
europeu, não tem relação direta com o colonialismo.A identificação do racismo como
expansão europeia tampouco pode explicar fenômenos parecidos em outras partes do
mundo, como os japoneses com os coreanos na 2ªGM.

Uma definição geral do racismo


Por Richard Jenkins, que não limita à expansão europeia, tampouco por diferenças
fenotípicas, mas sim nas relações de poder e dominação, salientando dois aspectos
distintos do racismo: ideologias e dominação racial. Essa definição salienta o processo
político da construção das identidades raciais: classificação interna do grupo e externa.
Enquanto a racialização envolve a imposição de categorias ao grupo “inferior”, sendo uma
dominação simbólica acompanhada da dominação econômica e política (A aceitação da
identidade negra pelos africanos é uma forma de racialização defensiva, que facilita a
resistência ao racismo). Para Jenkins a violência é uma maneira particularmente eficaz de
categorizar o “outro” (“colocá-los no seu lugar” - o poder está no cerne da questão). Miles
enfatiza que a categorização racista essencializa os povos dominados. O que realmente
importa são as supostas diferenças de disposição e capacidade, não a aparência
física em si (“negros violentos”).
Racialismo se distingue pela crença na qualidade intrínseca e duradoura de
um grupo de origem comum e o racismo. Max Weber nota que os grupos étnicos quase
sempre acreditam que seu modo de vida é melhor que o do outro. A racialização pode ser
positiva ou negativa, ex: “os franceses são arrogantes” é uma manifestação do
racialismo, mas não do racismo, pois não acompanha
dominação/comparação/rebaixamento. Em situações de racismo, a racialização é mais
agressiva para “justificar” a dominação.
O habitus racial consiste em: 1) categorias raciais de percepção e classificação dos
outros e de si mesmo; 2) percepções, associadas às categorias raciais; 3) disposições
corporais e emoções; e 4) esquemas de ação diferentes a respeito das pessoas de “raças”
distintas. Como o habitus em geral, o habitus racial é complexo e contraditório. Como se
referir aos grupos étnicos racializados sem atribuir uma “raça”? Miles diz que
devemos descartar total a palavra “raça”, criticando autores como Stuart Hall. O ponto
central dele é que a crença na existência de “raças” é uma consequência do racismo; o
racismo não é consequência de diferenças raciais preexistentes. O centro da análise deve
partir do racismo e os processos de racialização, utilizando termos como “grupos
racializados” (circunlóquios). Antonio Sergio Guimaraes usa a terminologia “raças sociais”,
na mesma ordem que classes sociais, sendo relações de dominação étnica e de produção
de representações de um grupo. Embora ideologias e práticas racistas geralmente
ocorram em conjunto e se reforcem mutuamente, há exceções como as descrições
racistas dos aborígenes australianos nos livros para as crianças da década de 1950
nos EUA.

Racismo de exploração e racismo de exclusão


É possível distinguir duas lógicas, ou propósitos, da dominação racial.
Dominação para exploração (extremo: escravidão) ou exclusão da competição por
recursos, oportunidades e poder (extremo: genocídio). Elas se misturam, mas no
geral uma domina.
Na histórica da América há uma tendência para a exclusão dos povos
indígenas e exploração dos negros. Com os africanos e descendentes apenas nas
décadas recentes começou a reinar o racismo de exclusão. Uma forma notável de racismo
de exclusão é sobre as “minorias intermediárias” em várias partes do mundo, as elites do
grupo dominante ressentem a competição dos comerciantes e empresários dessas
minorias, que reforça a estigmatização das diferenças culturais ou acusações de falta de
lealdade ao país de acolhimento. Tudo desemboca em restrições legais: expulsões como
dos indianos de Uganda ou em genocídios como os nazistas contra os judeus.
Muitas vezes o racismo de exclusão reforça o racismo de exploração,
deixando o povo vulnerável à exploração, produzindo o que Bonacich caracteriza como
“mercado de trabalho cindido” (ex: situações dos imigrantes ilegais que aceitam condições
de trabalho e moradia precárias). Ambos os processos envolvem aspectos simbólicos
importantes, a exclusão simbólica se manifesta quando um grupo racializado é impedido
de competir pelo capital simbólico de reconhecimento e respeito. Para Bourdieu “não
existe pior desapropriação que [...] a humanidade”. A exclusão simbólica pode
magnificar a exclusão material (antes do genocídio os judeus foram desumanizados). Já a
exploração simbólica ocorre quando o grupo subordinado se sente obrigado a
prestar homenagem/aceitar humilhações ao grupo dominante para conseguir bens e
oportunidades. Honneth vê a humilhação como um ato que fere a capacidade de sentir-se
parte da mesma comunidade moral que os dominadores. Jack Karts identifica na
humilhação a principal causa da violência interpessoal. Marshall “um estatuto conferido a
todos que são membros plenos de uma comunidade’ - a abolição final permitiu maior
liberdade para responder a humilhações.

A reprodução do racismo

Como qualquer instituição social, o racismo não continua por força própria.
Sewell mostra que qualquer falha na reprodução social pode reverberar em mudanças
sociais imprevisíveis, sendo elas relacionadas. Sahlins reitera tal pontuação, porém mostra
que várias instituições sociais e os sistemas simbólicos sobrevivem a períodos de
mudanças intensas, essas servem de base para a reconstrução do mundo social. Giddens
enfatiza que mesmo nas mudanças radicais, os humanos precisam mobilizar as categorias
existentes, o que reforça-as.
A reprodução do racismo envolve pelo menos cinco ordens da realidade social:
- as instituições: Omi e Winant denominam o que o “Estado racial” abrange não
somente as leis, mas seus órgãos. Estes são contraditórios, alguns racionalizam
e discriminam, outros tentam combater com projetos sociais. Além do Estado, as
categorias raciais podem estar em escolas, empresas, igrejas e famílias;
- as redes sociais: tendem a ser racializadas. No Brasil, negros e mestiços
concentram os setores subordinados e periféricos das redes, a natureza das
redes sociais brasileiras facilita a exploração racial simbólica ao mesmo tempo
em que intensifica o controle sobre os negros e fragmenta sua resistência,
contribuindo para a reprodução da dominação racial;
- as representações e ideologias: aspecto da realidade social mais comumente
analisado, dada às ideologias raciais são acessíveis ao método de pesquisa
intelectual. Porém, as representações racionalizadas incluem uma ampla
variedade de fenômenos, como estereótipos raciais parcialmente subconscientes;
- as interações sociais: Giddens enfatiza que as rotinas e normas informais da
interação delimitam o comportamento aceitável ou despropositado. Também
existe um conjunto de normas de comportamento e interação impostas pelo grupo
dominante que reforçam a coerência interna do gripo e sua capacidade de manter
os subordinados no “seu lugar”;
- e o habitus racial: importante em situações de mudança nas instituições, como
a abolição, porque o habitus é relativamente durável; as disposições e formas de
percepção racializadas que se internalizaram sob o antigo regime racial
continuaram. Para Bourdieu, o habitus é a internalização das estruturas do mundo
social, na forma de disposições, categorias cognitivas e esquemas de ação. Para
ele, o habitus não é segmentado e parcialmente contraditório, o autor sim
considera que o habitus corresponde às lógicas estruturais parcialmente
diferenciadas das instituições e campos sociais distintos que o indivíduo atua.
Sewell demonstra que qualquer sociedade inclui várias estruturas e sistemas
culturais (posso ser escravo, colega de trabalho e pai). As lógicas distintas e
potencialmente contraditórias de diversas esferas institucionais são internalizadas
como aspectos distintos do habitus.
As primeiras experiências formam as camadas mais profundas do habitus, e as
categorias raciais expostas em um novo contexto podem acionar disposições
mais profundas distintas do habitus local que se encontra. O habitus possui
também esquemas de percepção, que classificam as situações sociais e acionam
disposições para cada situação.
Em épocas de mudança institucional, desentendimentos e conflitos sobre a
definição de situações cotidianas são mais prováveis.Pós-abolição, ex-senhores
e escravos tinham visões diferentes sobre o que podiam fazer, assim como
dignidade e igualdade para os negros era vista como ultraje e violência.

Essas ordens da realidade social se relacionam e interagem. Crescer no


contexto de instituições, redes, representações e interações produz o habitus. Este
por sua vez reforça as fronteiras raciais das redes e interações, bem como nas
decisões dos funcionários das instituições. O autor comenta que o foco será mais no
habitus e nas interações, dado o habitus ter um papel essencial na reprodução do racismo e
sua importância nas mudanças institucionais, assim como as interações revelam categorias
e disposições do habitus (ex: a resistência individual ao racismo).
Em situações de mudança, como na abolição, o habitus no interior paulista
continuou, o que influenciou na resposta às reivindicações dos libertos. Os habitus
dos ex-escravizados também havia se formado, influenciando no entendimento sobre
liberdade e suas forças de resistência ao racismo. Os imigrantes, por sua vez,
internalizaram o habitus racial brasileiro de forma contraditória, ás vezes
solidarizando-se com os negros, ora sendo racistas.
As consequências desses diferentes habitus inclui elementos contraditórios, a
interação de vários tipos de agentes ao longo do tempo resulta na combinação complexa de
múltiplos processos sociais. Os resultados dependem da política e da natureza das redes.
O desafio é entender como esses processos produziram o racismo. Sua complexidade e
imprevisibilidade exclui a probabilidade de planejamento das elites, porém os
projetos destes são pertinentes para o entendimento. Fica claro que a elite nunca
pensou na igualdade plena ao negros, mas sim sua incorporação ao mercado de
trabalho; muitos negros foram contra esse projeto que levou a um conjunto de novos
estereótipos.
A elite também queria os imigrantes como submissos, porém sua resistência a
longo prazo foi mais “eficiente”, o autor argumenta que esse sucesso relativo foi
consequência principalmente da natureza das redes, mais densa e com parte da elite
imigrante, recebendo apoio inclusive de elite e representantes de Estados europeus, além
de claro os imigrantes terem internalizado as representações negativas dos negros.
Um dos resultados desses processos foi o deslocamento das fronteiras
étnicas, com a redefinição dos grupos étnicos existentes e a reconfiguração das relações
entre eles. No início da imigração em massa, havia convivência entre todos os grupos no
Oeste paulista, com o passar do tempo as divisões raciais entre brancos e negros ficou
mais nítida.

Capítulo II - O pós-abolição na América e no interior paulista

Um dos fatos mais notáveis a respeito da desigualdade racial na América é sua


persistência em quase todas as regiões de descendentes de europeus e de africanos
escravizados, estes quase sempre em desvantagem. Nem toda desigualdade racial é
consequência do racismo, mas sua extensão e durabilidade sugerem sua operação. Outros
grupos estigmatizados no passado, hoje estão em posição de igualdade (judeus, escravos
brancos), porém com os negros perdura, assim como aos povos indígenas e aos “ciganos”.
Carlos Hasenbalg enfatiza que o passado escravista não é suficiente para
explicar o racismo atual, focando como ele se reproduz nas interações e como se
espalha para outros grupos (onde não havia negros). O fato de imigrantes tidos como
inferiores no passado hoje serem “brancos” levou à constituição de um novo campo de
estudo: “estudos da brancura”. Segundo Jacobson, a mudança foi fruto do contraste com
negros, indígenas e povos não europeus, visto como “selvagens”, o que reforçou o racismo
antinegro, mas não explica o porque dos negros. A explicação parece pautar novamente a
escravidão, contudo descendentes de servos desde o fim da escravidão na Europa oriental
não são estigmatizados como os negros (tempo não muito maior que a abolição aqui) e
durantes as quatro gerações sem processos sociais sustentando sua reprodução
continuada, o racismo antinegro teria se enfraquecido.
Tampouco é convincente o argumento de que os negros continuam
estigmatizados dada as diferenças corporais. Porém, estas são construções sociais;
um “branco” no Brasil pode ser “negro” nos EUA, assim como grupos racializados hoje no
mundo não tem fenótipo diferente dos grupos dominantes (ex:burakumin do Japão). O
racismo reproduz-se com relação à dominação racial em circunstâncias sociais específicas
e se influencia por elas. Rebecca Scoot, referindo-se a Luisiana e Cuba no pós-abolição, diz
que não é possível isolar as “relações raciais” até a abolição, entendendo os processos de
renovação. Hoje os cientistas sociais que abordem o “Atlântico negro” engatizam a grande
variedade de experiências e identidades negras. O argumento do autor é que o racismo
originário combinou-se com certas vulnerabilidades da população negra para permitir a
consolidação de novos regimes de dominação racial e novas formas de racismo ideológico.

O pós-abolição na América

Na América espanhola e nos EUA, a abolição da escravidão foi uma tática de guerra
(recrutamento para exército da liberatação, enfraquecimento dos confederados), o que
provocou muitas vezes um desequilíbrio demográfico muito grande que empobreceu
muitas mulheres e crianças negras. Com algumas exceções notáveis, como o Haiti após-
revolucionário ou o Sul dos EUA, os ex-escravocratas continuavam com seu poder,
enquanto os libertos apenas com sua “liberdade”. Os abolicionistas brancos haviam lutado
contra uma instituição dado valores próprios, mas nunca pensaram em igualdade. Os
libertos não foram abandonados a própria sorte, em diversos contextos foram inclusive alvo
de medidas repressivas do Estado (leis anti vadiagem, criminalização cultural e religiosa).
O brancos “ameaçados” pela competição se organizaram para exclusão dos negros das
boas terras e empregos. O resultado seria a forte tendência dos negros continuarem
pobres pós-abolição.
Nessa linha, o habitus social dos brancos naturalizada a pobreza dos negros, assim
como ditava a resistência como indícios de defeitos inerentes dos negros. Esses fenômenos
gerais se manifestaram de formas diferentes, dependendo das especificidades regionais e
dos diferentes ritmos temporais, lembrando que a abolição chegou tardiamente aos EUA, ao
Brasil e a Cuba.
As regiões de maior concentração de negros no pós-abolição quase sempre
eram aquelas com predominância histórica de fazendas escravistas, como o Nordeste
brasileiro, no qual reforçaram a violência e dependência com concessões de usufruto
ou parcerias. O atraso e a pobreza típicos dessas regiões também levou o atraso
regional como culpa dos negros ao habitus racial dos brancos. Como argumenta W.
Arthur Lewis, as regiões de fazendas tropicais e subtropicais continuavam pobres dada a
competição mundial. Segundo ele, as limitações das políticas racistas de imigração das
colônias e ex-colônias europeias contribuíram mais para a divisão do mundo entre países
ricos e pobres do que as políticas dos países metropolitanos à industrialização. As
migrações internacionais de grandes números de trabalhadores pobres e as
oportunidades e políticas ditadas nos destinos contribuíram para o nivelamento de baixos
salários, endividamento por custos, restrições dos contratos, constituindo um contexto de
reprodução do racismo. A nova categoria de mão de obra semisservil, com
“enganações” aos imigrantes contribuiu ao habitus racial.
Um terceiro tipo de contexto do pós-abolição na América é consequência da
busca de muitos negros por terras e autonomia, com migrações para regiões afastadas,
fazendas abandonadas. Andrews enfatiza que esses lugares proporcionaram dignidade
por pouco tempo, dada a expropriação posterior. Essas comunidades autônomas de
negros (Brasil-comunidades quilombolas). com propriedade comuntária da terra e
tradições festivas e religiosas de matrizes africanas, foram estigmatizadas como atrasadas
e semiselvagens pelos liberais. Um quarto contexto geral de reprodução do racismo eram
os territórios com agricultura altamente produtiva e indústrias crescentes, dada a atração
de imigrantes europeus com os negros em desvantagens competitivas.Alguns países
inclusive fizeram leis limitando ou barrando a imigração de não brancos (ex: italianos x
chineses no Brasil). Os negros já existentes nessas regiões de clima temperado ou
subtropical não podiam ser barrados por políticas de imigração, mas competiam com os
imigrantes e sofriam racismo (até chegaram a ser usados como fura-greves no Norte EUA).
São Paulo e Cuba são as únicas duas regiões de fazendas escravistas da
América a receber grandes números de imigrantes europeus. Em ambos os
contextos, dado os custos da imigração, havia uma tensão entre as elites que
queriam branquear a população versus os fazendeiros em busca de mão de obra de
qualquer cor. São Paulo se destaca também pela industrialização do período, além de
“importar” imigrantes com toda sua família e com uma durabilidade e até fixação maior,
diferente de Cuba. Sendo assim São Paulo permite examinar a reprodução e mutações
da dominação racial de brancos em um contexto onde boa parte dos europeus
inicialmente era pobre tal qual os negros.

Pós-abolição e imigração no estado de São Paulo

É comum afirmar que o principal motivo para os incentivos à imigração ao


Brasil pós-abolição era o branqueamento da população, no qual as elites acreditavam
na superioridade dos brancos (biologia e cultura), essencial ao progresso. Um problema
nessa tese é que o programa paulista de imigração subvencionada foi decidida não
pela elite intelectual, mas pelos fazendeiros de café, que se preocupam com a falta da
mão de obra. Vários autores, porém, reconhecem que os fazendeiros poderiam ter
empregado os ex-cativos, estes que foram excluídos dos empregos mais desejáveis, que
permitiram a produção de algum pecúlio e aquisição de pequenas propriedades (colonatos).
Dizer que a imigração refletia a vontade das elites também recai em uma das formas
mais tradicionais de historiografia, em que somente os grandes homens influenciam
a história. A evidência histórica disponível também contradiz essa interpretação, uma mais
coerente pode levar em conta os projetos variados dos fazendeiros, a experiência e agência
dos imigrantes e negros e a natureza das relações.

Fazendeiros, racismos e o programa paulista de imigração subvencionada


Na Assembleia Legislativa da Província de São Paulo - dominada por grandes
fazendeiros - a pauta era como resolver o problema da falta de mão de obra na
lavoura. Sem dúvida o habitus racial prevalecia, mas a suposta falta de inteligência e
ingenuidade era uma justificativa conveniente para a exploração. Nesses debates a
imigração era somente uma das soluções aventadas, havia a sugestão do
aproveitamento da população nacional (mas uma maioria acreditava na
“vagabundagem” destes), vários continuavam escravocratas (culpabilizavam os
brancos abolicionistas) e queriam reabrir o tráfico ou ao menos eliminar impeditivos
(como o imposto sobre o tráfico interprovincial). O certo consenso só chegou com a
imigração, Maria Helena Machado fornece bastante evidência das conspirações e revoltas
de escravos nas fazendas de café (que contribuiram para os fazendeiros não quererem
negros como trabalhadores), assim como a censura da polícia nas notícias para não
difundir pânico nos senhores.
E porque não a busca de trabalhadores livres brasileiros? Parte acreditava que
os nacionais eram vagabundos, e mesmo retirando-os, considerando que havia
pessoas o suficiente para vários anos de expansão, nada valeria se eles não aceitassem
servir os fazendeiros. Boa parte dessa população livre não queria servi-los,
preferindo buscar opções com maior autonomia. A historiografia recente sobre negros
nascidos livres e libertos no império fornece indícios claros dos seus desejos, Hebe Mattos
enfatiza o processo de aprendizagem do negros livres que geralmente plantavam roças
próprias, formavam família e conquistavam eferas de ação autônoma. Os presentes há mais
tempo tinham mais chances de conseguir tais conquistas que os recém-chegados, Machado
enfatiza esse sonho no interior paulista na década de 1880, assim como Marques olhando
para o Paraná constatou maior proporção de negros nos municípios com expansão
agrícola. Ou seja, muitos negros migravam em busca de terras nas florestas onde podiam
se estabelecer como posseiros.
Logo depois da abolição, muitos fazendeiros paulistas acreditavam que somente a
coerção seria a solução, a primeira colheita pós-abolição foi difícil a eles. Após o pânico
inicial, muitos fazendeiros do Vale do Paraíba e Rio de Janeiro fixavam famílias de ex-
escravos com acordos de parceria (meação) ou outros arranjos de usufruto de terra por
serviços, o que Rios categoriza como “pacto paternalista”. Mattos focaliza os primeiros
anos mostrando que vários fazendeiros foram forçados a abrir mão do controle do
processo de produção para fixar libertos com contratos de parceria. Rios identifica três
trajetórias no Vale do Paraíba: famílias negras que ganharam acesso estável a terra com
arranjos clientelistas; famílias que mudaram várias vezes em busca de terra e trabalho; e
famílias que se fixaram em comunidades independente de negros. Entretanto, os
fazendeiros do Oeste paulista não queriam ceder tanta terra a parceiros ou
agregados, porque elas eram mais ricas, e o café estava em expansão. A população
paulista poderia ter suprido a mão de obra necessária à cafeicultura com uma
reforma agrária ampla, dado que não havia economias de escala significativas, o
plantio familiar era muito viável, mas eram os fazendeiros que controlavam o poder
político no estado de São Paulo.
O motivo original do programa de imigração subvencionada não era o
branqueamento, mas da crença que essa imigração em massa libertaria os fazendeiros da
dependencia de mao de obra dos negros e outros nacionais. Depois da rebeldia dos últimos
anos da escravidão, queria-se também colocar os negros no “seu lugar”. Ou seja, além da
falta de mão de obra, havia questões raciais atrás do programa, a hostilidade aos libertos e
os nacionais visto como “vagabundos”.
A intenção era baratear os salários e disciplinar os trabalhadores, importam
assim muito mais europeus que os que empregavam nas fazendas. Os fazendeiros
precisavam também da oferta constante de novos trabalhadores, em função da alta taxa de
evasão dos colonos, muitos se mudaram, fugiram ou voltavam para a Europa. O sistema
assim dependia da importação continuada, teria sido impossível encontrar tantos
trabalhadores entre os nacionais, tampouco teria sido tão fácil enganá-los sobre as
condições. Alguns autores afirmam que um programa com migração de nordestinos teria
surtido o mesmo efeito, alguns cearenses até chegaram a ser importados, porém a leva de
italianos e outros europeus foi levada mais em conta. Neste caso o racismo é a explicação
mais plausível. Porém, uma imigração em massa desta teria também produzido uma
oposição da oligarquia nordestina. Com a chegada dos europeus e competitividade, o
desincentivo aos nordestinos era grande, o que atrasou a migração nordestina em busca de
empregos melhores e independência dos fazendeiros do Nordeste, tal qual após a
imposição de restrições a imigração no governo Vargas, mas que já chegavam em posição
de desvantagem frente aos imigrantes já estabelecidos.

A imigração e a “marginalização” do negro no Oeste Paulista


A suposta marginalização do negro pós-abolição serve como explicação para a
pobreza continuada dos negros nas décadas subsequentes e maior grau de mobilidade
social entre os imigrantes, estes teriam monopolizado os contratos de colonato, os ofícios
manuais qualificados, deixando os negros em empregos precários. As explicações mais
recentes refutam Florestan Fernandes na atribuição das desvantagens dos negros à
escravidão, desmentem a anomia dos cativos e mostram evidências da força familiar
e comunitária dos negros. Andrews acrescenta a teoria dos estereótipos racistas
(vagabundos, alcoólatras) a visão de que os imigrantes aceitavam o trabalho familiar,
enquanto os negros rejeitavam o trabalho de mulheres e crianças nos cafezais. Os
argumentos de marginalização dos negros geralmente se sustentam por verossimilhaça,
dado que é difícil encontrar fontes permitindo a comparação sistemática entre negros e
imigrantes. É fato que não só os fazendeiros eram racistas, como os próprios imigrantes,
que logo constituíram a maioria no Oeste Paulista e décadas depois, concentravam o poder
em vários municípios.
A tese da “marginalização” do negro não é totalmente coerente. Fernandes
aponta evidências mistas: documentos que comprovam libertos trabalhando nas fazendas e
entrevistas com descendentes de senhores e escravizados afirmando que os fazendeiros
não admitiam os libertos. As informações disponíveis mostram que alguns negros
chegaram a conseguir competir com os imigrantes, muitos aceitaram o trabalho
familiar, assim como os imigrantes com acesso autonomo a terras rejeitvam o
trabalho o que dava “oportunidade“ aos negros.

Imigração e mudança na população de São Carlos

Aqui analisa-se a situação dos negros, brasileiros brancos e imigrantes no Centro-


Oeste Paulista, em 1997, de um censo bem raro com a variável “cor”, que revela a
presença signitiva de negros junto aos imigrantes no colonato, e evidenciam também
outras formas de vantagens e desvantagens.
A abolição, a expansão do café, a imigração levou a mudanças de composição
grandes em São Carlos:

1886 - não brancos - 55% do total


71,6% dos pretos e pardos eram escravos ou ingênuos (Lei Rio Branco 1871)

Mattos apresenta evidências de que, no século XIX, o termo pardo era usado para
negros nascidos livres, então não podemos comparar os pardos de 1886 com os mulatos. O
emprego desta terminologia em 1997 sugere as categorias raciais predominantes se
referiam a cor da pele e fenótipo, ainda se remetendo ao contraste dos escravizados e
nascidos livres. O desaparecimento de “caboclo” constitui mais evidência de que era
principalmente a cor da pele que embasava as categorias raciais, embora vários
deixaram o município em busca de ocupação de terras como posseiros.
São Carlos chegou a ocupar o primeiro lugar em 1894 em atração de estrangeiros.
Entre 1887 e 1902, 64% dos imigrantes eram italianos. Os estrangeiros em 1907
constitiuam 40% da população, subestimando a presença imigrante, dado que
descendentes foram contatos como brasileiros. Em 1907, 67,1% dos chefes de família eram
imigrantes, metade de italianos. No mesmo ano pretos e mulatos eram apenas 12,5%.

Ocupações de negros, imigrantes e brasileiros brancos


Na opinião de Cincinato Braga: “prepondera-se no pessoal do trabalho agrícola o
elemento italiano, segue-se allemão, portuguez, o ex-escravo, o caboclo, o hespanhol e o
polaco”:

Os brasileiros pretos eram o terceiro maior grupo, quase 8%. Logo, mesmo no
Oeste paulista, onde segundo a literatura a presença de imigrantes resultou na
marginalização dos negros, a persistência destes nos cafezais surpreende. A trajetória
identificada por Rios, o “pacto paternalista” era uma possibilidade real, a segunda trajetória,
a itinerância era possível também, mas a terceira, com o estabelecimento de comunidades
independente de negros era menos viável nesta região, dado o desestímulo de
doação/”achado” aos libertos pela valorização das terras pelo café.
A tabela 3, mostra que boa parte da literatura errou ao afirmar que os negros só
trabalhavam como camaradas ou trabalhadores especializados no Oeste Paulista. Com o
colonato permitia-se certa mobilidade social, o acúmulo de dinheiro permitia a
compra de pequenos sítios e negócios. Como esperado, mostra-se que os italianos e
espanhóis concentravam-se no colonato, mas que era a categoria ocupacional mais
comum entre chefes negros de família (43,5% de pretos e 31,3% multados). que
somadas eram mais numerosas que as de colonos espanhois ou portuguesas. Tal
análise, porém, subestimou o número de camaradas imigrantes, dado que vários italianos e
portugueses migraram para São Paulo sozinhos.

Claramente era exagerada a ideia de exclusão dos negros do colonato, porém é


visível ainda a discriminação contra os negros mais fortes nos primeiros anos após a
abolição. Na segunda metade da década, o preço mundial do café caiu, seguido por queda
nos salários e êxodo dos colonos, além da proibição da Itália em 1902 da emigração
subvencionada para o Brasil e o aumento do preconceito contra eles (desordeiros), tendo os
fazendeiros maior sentido na contratação de brasileiros. Em 1907, São Carlos não estava
mais na fronteira de expansão do café, sendo explicado o maior número de empreiteiros
pretos e mulatos, dado que os italianos provavelmente com maior experiência partiram para
cultivo próprio. Apesar do enfoque em uma região de fazendas mais antigas, o trabalho de
Mattos ajuda a pensar sobre as prováveis origens sociais dos colonos e empreiteiros
negros, enfatizando a luta por estabilidade e direitos, mais viável aqueles habitantes locais
por mais tempo.
Alguns poucos pretos e mulatos ocupavam posições de autoridade nas
fazendas em 1907, mas os processos criminais deixam claro que havia negros em
posições de autoridade sobre colonos e camaradas brancos. Este censo mostra
também a mão de obra em fazendas específicas, com uma população de quase 1000
pessoas, a Fazenda Palmeiras era uma das maiores. 48% das familias eram chefiadas por
italianos, 19% outros imigrantes, 17% pretos, 10% brasileiros brancos e 7% multados. Entre
as famílias de imigrantes, 92% tinham contrato de colonato, 29% das por pretos. A imagem
muda um pouco quando olhamos para trabalhadores individuais.
A presença de colonos negros nas fazendas, não significa a ausencia de
preferencia por imigrantes nem igualdade, como comentado é possível que eles
tivessem sido a 3ª opção. Nas fontes pesquisadas, não há evidências de
discriminação racial nos salários, mas os processos criminais mostram maior rancor
aos negros. Coerente com a literatura, a Tabela 3 mostra também uma alta proproporção
dos afro-brasileiros em ocupações com maior autonomia. Dessa forma, o censo prova
que os negros conseguiram competir com os imigrantes em uma ampla variedade de
empregos manuais, o que não significa que a migração não tenha os prejudicado. O
programa de imigração em si era desenhada para enfraquecer o poder de negociação de
todos os trabalhadores.
Considerando as camadas mais altas de distribuição ocupacional, fica
evidente que os negros continuavam excluidos da elite local quase duas décadas
pós-abolição. A elite imigrante, composta de fazendeiros, comerciantes e donos de oficinas
e pequenas fábricas, empregavam seus compatriotas, defendia os interesses dos
imigrantes pobres. Quase não existia uma elite negra para empregar e defender os negros
pobres e obviamente não existia cônsules negros, o que aumentava a vulnerabilidade dos
negros pobres em relação à exploração e aos abusos, para eles os únicos protetores
possíveis seriam os brasileiros brancos da elite, contudo a interação dos negros mais
afourtunados com as redes clientelistas de brancos tendia a menter a subordinação e inibir
a ação coletiva.

Estrutura familiar
Florestan Fernandes propôs a tese da anomia do liberto, uma forma de
analisar isso com o censo de 1907 é examinar a estrutura familiar dos vários grupos,
supondo que a alta porcentagem de famílias chefiadas por mulheres seja indicador da
anomia dos homens. A tabela 4 mostra a % baixa de chefes femininas em todas as
categorias raciais, não apoiando a ideia de maior tendência para desestruturação familiar
entre a população negra.
Outra manifestação de anomia em um contexto católico tradicional seria uma baixa
taxa de casamento, mas elas são mais altas em não brancos.
Tamanho das famílias
Os fazendeiros preferiam famílias maiores para os contratos de colonato, a
política migratória também favorecia famílias grandes, assim como o tamanho
influenciava as possibilidades de poupar dinheiro.
A cultura italiana da época também valorizava a família conjunta, com irmãos
casados morando e trabalhando juntos. Diferenças raciais nas taxas de mortalidade podem
explicar parte da diferença no tamanho das famílias negras. A falta de atendimento médico
também teria aumentado a taxa de mortalidade infantil dos pretos. Além disso, os bairros
urbanos e suburbanos onde os negros moravam se concentravam provavelmente eram
menos salubres.

***

Este capítulo salientou os diversos contextos do pós-abolição na América e porque


quase todos resultaram em desvantagens marcantes para os descentes de africanos
escravizados. Em resumo:

- os negros se concentravam em regiões empobrecidas

- eram objetos de medidas repressivas do Estado

- precisavam competir com a migração em massa de europeus

- as comunidades autônomas eram vulnuráveis a expropriação

Criticou-se também o programa de migração subvencionada de São Paulo, que para


além do embranquecimento da população, havia uma preocupação com a mao de obra
para a lavoura. Muitos nativos não queriam trabalhar em lavouras e nem teriam aceitado as
condições. Os fazendeiros queriam mais trabalhadores livres do que escravizados para a
manutenção dos salários baixos. Além do racismo da época que os fazendeiros
acreditavam nos imigrantes como melhores trabalhadores.

Evidenciou-se também o mito dos negros afastados de todas as atividades


produtivas centrais, eles conseguiram competir com os imigrantes, em parte pela
competência e conhecimento, outra pela falta de mão de obra. Por outro lado, negros eram
realmente excluídos da elite. Outra crítica foi a ideia do negro anomico, mostrou-se uma
grande onda de casamentos de libertos, assim como grande parte dos negros no Oeste
paulista trabalhava, contrário da visão de “vagabundos”.

Você também pode gostar