Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Indígena
PROFESSORAS
Me. Daniara Thomaz Fernandes Martins
Me. Eloá Lamin da Gama
FICHA CATALOGRÁFICA
http://lattes.cnpq.br/3364198313831933
Eloá Lamin da Gama
http://lattes.cnpq.br/3628480979062864
HISTÓRIA INDÍGENA
Sempre que encontrar esse ícone, Ao longo do livro, você será convida-
esteja conectado à internet e inicie do(a) a refletir, questionar e trans-
o aplicativo Unicesumar Experien- formar. Aproveite este momento.
ce. Aproxime seu dispositivo móvel
da página indicada e veja os recur-
sos em Realidade Aumentada. Ex- EXPLORANDO IDEIAS
plore as ferramentas do App para
saber das possibilidades de intera- Com este elemento, você terá a
ção de cada objeto. oportunidade de explorar termos
e palavras-chave do assunto discu-
tido, de forma mais objetiva.
RODA DE CONVERSA
1
11 2
41
QUESTÕES A PRESENÇA
ÉTNICO-RACIAIS INDÍGENA NA
NO PERÍODO FORMAÇÃO DO
COLONIAL E BRASIL: CULTURA
TERRITÓRIOS DE E IDENTIDADE
OCUPAÇÃO NO NACIONAL
BRASIL
3
73 4 109
A DIVERSIDADE POLÍTICA INDÍGENA
ÉTNICA E E INDIGENISTA NA
CULTURAL CONTEMPORANEIDADE:
DOS POVOS RESISTÊNCIAS E
INDÍGENAS PERMANÊNCIAS
5
139
O ENSINO
DE HISTÓRIA
INDÍGENA E AS
PERSPECTIVAS
EDUCACIONAIS
1
Questões étnico-
raciais no
período colonial
e territórios de
ocupação no Brasil
Me. Eloá Lamin da Gama
Caro(a) aluno(a), você já deve ter ouvido a famosa frase “quem descobriu o Brasil
foi Portugal” ou “o descobrimento do Brasil aconteceu em 1500 com a chegada
de Pedro Álvares Cabral”, às vezes, antes de iniciar um curso de graduação em
História, você chegou a concordar com este pensamento, ou repetiu esta ideia
pronta que circula em nossa sociedade como uma verdade absoluta.
Eu lhe garanto que, como docente de História em formação, no período de
estágio, ou quando estiver atuando, profissionalmente, em alguma escola, você
escutará a pergunta recorrente “Professor(a), quem descobriu o Brasil?” dos seus(-
suas) alunos(as) e, até mesmo, dos seus familiares, “Ah, fulano(a) está se graduan-
do em História, pergunta para ele(a) quem descobriu o Brasil”.
Tais questionamentos acabam sendo comuns no cotidiano de uma pessoa
que está cursando ou já é formada em História. Mas você já parou para pensar o
motivo disso? Por que esta ideia acaba sendo tão forte e enraizada no imaginário
popular brasileiro?
Este pensamento, reproduzido e naturalizado nas narrativas acerca da His-
tória do Brasil, não é apenas uma ideia do senso comum que vem de concepções
superficiais e equivocadas a respeito da nossa historicidade enquanto nação co-
lonizada. Logo, para compreendermos os reais motivos de grande parte da po-
pulação brasileira repetir e concordar com a esta visão, temos que contextualizar,
historicamente, as razões deste fenômeno, isto é, temos que estudar e pesquisar
as consequências que o processo da colonização portuguesa deixou em nossa
forma de pensar a História e a formação do Brasil como nação.
Uma destas consequências é o apagamento histórico da população indígena
nos processos de construção da sociedade brasileira, que, de forma errônea e
naturalizada, é considerada uma mera espectadora da formação social do Brasil,
ou nem é considerada quando estudamos a História do nosso país. Este fato,
acaba por atribuir legitimidade à ideia de descobrimento, concebida por Portugal,
no intuito de validar o seu domínio no território brasileiro nos primórdios do
período colonial e reforçar o seu controle sob as narrativas históricas do Brasil.
Em razão disso, torna-se fundamental que nós, profissionais da História,
possamos argumentar com visões falaciosas e que negam a presença dos povos
originários no território brasileiro antes da invasão e da ocupação portuguesa.
Esta disciplina traz em sua ementa esta concepção, isto é, que nós tenhamos em
mente o nosso papel como formadores de opinião e conhecimento dos estudantes
que encontraremos em nossa trajetória profissional, contribuindo, assim, para a
12
UNICESUMAR
13
UNIDADE 1
14
UNICESUMAR
primeiros grupos humanos que chegaram às Américas, que, a grosso modo, eram
de culturas de caçadores-coletores, majoritariamente nômades e antecedentes
ao advento da cerâmica, do sedentarismo e da agricultura (FUNARI; NOELLI,
2005). Considerado como o maior símbolo e uma das mais importantes desco-
bertas arqueológicas do Período Paleoíndio na América, o fóssil nomeado de
Luzia foi encontrado em uma gruta do estado de Minas Gerais, sendo cientifi-
camente datado em 11.500 anos.
O crânio de Luzia (Figura 1), considerado o fóssil humano mais antigo já en-
contrado no Brasil e em todo continente americano (América do Sul, Central e do
Norte), foi descoberto em 1970, no sítio arqueológico da Lapa do Santo, na região de
Lagoa Santa (MG), pelo bioantropólogo e arqueólogo brasileiro Walter Alves Neves
e sua equipe. Pertencente a uma mulher que viveu por volta de 25 anos de idade, há
mais de 11 mil anos, o fóssil é fundamental para a compreensão do povoamento e
dos fluxos migratórios mais antigos de ocupação humana nas Américas.
Descrição da Imagem: a imagem fotográfica apresenta quatro peças que se encontram expostas em
um compartimento de vidro em linha horizontal e com a seguinte ordem da esquerda para a direita: três
esqueletos de crânio, o primeiro em gesso sem a arcada dentária; o segundo com o aspecto envelhecido
mais próximo ao real, porém, assim como o primeiro, sem a arcada dentária; e o terceiro mais completo
e ainda mais próximo do real, com a arcada dentária e o queixo bem como com metade do rosto com
a reprodução da pele da face pertencente ao crânio. A quarta peça está um pouco mais à frente que as
outras e traz a reconstituição de toda a face pertencente ao crânio, que é de uma mulher indígena, ca-
reca, com sobrancelhas arqueadas, nariz largo e lábios grossos. As peças estão suspensas em suportes
que as retiram da base do compartilhamento, que, por sua vez, possuem textos escritos que explicam a
exposição das mesmas.
15
UNIDADE 1
PENSANDO JUNTOS
Você sabia que o incêndio que atingiu o Museu Nacional em setembro de 2018, quase
destruiu o fóssil de Luzia? Vinculado à Universidade Federal do Rio de Janeiro e a mais
antiga instituição científica do país, o museu teve mais de 90% do seu acervo, com mais
de 20 milhões de itens catalogados, perdidos no incêndio causado pela ausência de ma-
nutenção em um aparelho de ar condicionado, o que demonstra a negligência e a falta de
investimento do Governo Federal para a preservação do patrimônio histórico do Brasil.
Fragmentos de ossos de Luzia, Homo sapiens mais antigo das Américas, foram encontra-
dos numa caixa de metal nos escombros, e profissionais trabalham para recuperar todo
material resgatado, correspondente a 80% do crânio que existia.
16
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
Estudante, você sabe qual o contingente atual da população indígena no Brasil? Segundo
o último Censo Demográfico realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), em 2010, o número de indígenas brasileiros era de 896.917 habitantes, distribuí-
dos por todos os Estados da Federação e o Distrito Federal, dos quais 572.083 se encon-
travam na zona rural, e 324.834 nas zonas urbanas.
Neste ano, com a realização do Censo 2022, depois de dois anos de atraso causados pelos
cortes do Governo Federal e pela pandemia de covid-19, os dados acerca da população
indígena serão atualizados. A pesquisa nacional, que é feita em praticamente todos os
países do mundo, será essencial para apresentar a realidade dos povos indígenas brasi-
leiros e contribuir para a formulação de políticas públicas.
É imprescindível a participação de toda a população para que o Censo cumpra o seu
objetivo de contar os habitantes do território nacional e identificar suas necessidades.
Exerça sua cidadania e o seu papel como futuro professor de História, receba o
recenseador e responda o questionário.
Fonte: IBGE (2010).
17
UNIDADE 1
18
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
19
UNIDADE 1
Descrição da Imagem: a imagem fotográfica, sob incidência de luz solar, tem como figura central um
homem indígena da etnia Pataxó, da parte de seu tronco. Sua cabeça está voltada para a direita, levemente
inclinada para cima, ele segura um arco com uma flecha engatilhada e apontada para cima. O indígena
possui um cocar em que predomina a cor azul em sua cabeça, outro símbolo de sua cultura, estando com
uma expressão de concentração. Ao fundo, encontram-se muitas árvores e folhagens.
20
UNICESUMAR
“
como foi o caso dos Aymoré, posteriormente chamados de Botocu-
dos, grupo nômade que resistiu tenazmente à dominação portugue-
sa na Bahia, e somente ali foi derrotado no início do Século XVII.
Foi também o caso dos Goitacá ou Waitacá, baluarte da resistên-
cia indígena no norte fluminense, atual ‘Campos dos Goitacazes’.
Foi igualmente o caso dos Janduí (grupo cuja nominação é bem
incerta), ‘tapuias’ que lutaram ao lado dos holandeses nas guerras
pernambucanas do Século XVII. Foi, enfim, o caso dos Kariri ou
Kiriri, grupo disperso pelo sertão nordestino que, entre outros fei-
tos, enfrentou os portugueses juntamente com outros ‘tapuias’, na
famosa ‘Guerra dos Bárbaros’, travada nas partes do Ceará e Mara-
nhão, entre fins do Século XVII e inícios do XVIII (VAINFAS, 2000,
p. 42, grifos do autor).
21
UNIDADE 1
“
Nos relatos que divulgaram a ‘descoberta’ do Novo Mundo a ênfase
na belicosidade dos povos nativos e a afirmação de que estes fa-
ziam guerra porque se alimentavam de carne humana cumpriram
importantes funções: legitimar a ocupação do Novo Mundo e a
escravização dos indígenas e diferenciar as guerras indígena e eu-
ropeia. Ao situar os relatos dos descobridores no contexto europeu,
observamos que a guerra era a regra, não a exceção. Desse modo,
somente a afirmação de que a finalidade da guerra era a antropo-
fagia poderia fazer com que os leitores dos primeiros relatos sobre
o Novo Mundo concebessem a belicosidade desses povos como
um elemento exótico e digno de ser punido com assassinatos em
massa, a perda da soberania e da liberdade. Tal caracterização da
guerra indígena foi construída no século XVI nas narrativas dos
‘descobridores’ divulgadas para o grande público e financiadas por
mercadores e banqueiros com interesse na exploração econômica
do Novo Mundo (FUJIMOTO, 2016, p. 242).
Neste sentido, podemos afirmar que os textos escritos por colonizadores e, mais tarde,
por padres e pessoas vinculadas às ordens religiosas que vieram ao Brasil, contribuí-
ram para a legitimação de narrativas históricas repletas de estereótipos e preconceitos
e que, ainda hoje, circulam em nossa sociedade, a exemplo de discursos que apontam
as populações indígenas como atrasadas, incivilizadas e mal desenvolvidas.
Logo, caro(a) estudante, se, nos dias atuais, a ideia de atraso dos povos indí-
genas ainda reverbera no pensamento de grande parte da população brasileira,
inclusive de governantes e pessoas públicas, não é exagero concluir que, durante o
período colonial, o imaginário construído pela narrativa colonizadora foi decisivo
para a guerra e o cativeiro, estratégias violentas encontradas para exterminar essa
população em massa e impor uma organização de trabalho compulsório que a
explorava e, em contrapartida, negava recursos mínimos para a sua sobrevivência.
“A violência empregada para a colonização denota que a práxis colonizadora (e
bélica) europeia, com sua ampla capacidade destruidora, causava estragos maio-
res que os provocados pelas guerras sem tréguas que os descobridores afirmavam
ser realizadas pelos indígenas” (FUJIMOTO, 2016, p. 244).
22
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
23
UNIDADE 1
NOVAS DESCOBERTAS
A partir das três referências indicadas, que mesmo tendo formatos distintos se re-
lacionam entre si, complementando o nosso conhecimento de uma forma propícia
e diversificada, podemos apontar que é neste contexto que nasce o conceito de
Guerra Justa para legitimar justificativas levantadas pela colonização portuguesa
e pela Igreja Católica para a formação e o estabelecimento de guerras contra os gru-
pos indígenas brasileiros, que, em suas visões, eram selvagens, bárbaros e canibais.
Buscando enquadrar os nativos em seu universo conceitual e religioso, os
europeus identificaram os povos indígenas de diversas formas, utilizando um vo-
cabulário específico nos relatos produzidos durante o século XVI, a exemplos de
nomes, como “brasis”,“gentios” cujo significado é pagão, termo geral utilizado para
se referir às pessoas e às culturas que não são adeptas do cristianismo, “negros da
terra”, termo de cunho racista que era usado para se referir a indígenas escravi-
zados, e, por fim, “índios”, indígenas aldeados de várias etnias (CUNHA, 1993).
“
As ‘guerras justas’ para aprisionamento dos índios hostis tinham
sua legislação baseada num imaginário difuso sobre práticas in-
dígenas ‘bárbaras’– canibalismo, poligamia etc. Tal imaginário era
sempre acionado em defesa dos interesses econômicos dos colonos.
O confronto dos missionários com pajés supostamente demoníacos
tinha raízes no imaginário medieval da luta cristã contra feiticeiros e
bruxas. Daí encontrarmos uma iconografia recorrente de mulheres
canibais nos textos dos cronistas muito distante da realidade. Há
24
UNICESUMAR
“
Não existia, porém em quaisquer das duas hipóteses, seja para os
aliados ou inimigos, um reconhecimento da relatividade das cul-
turas nem de espaços significativos de autonomia. Os povos e as
famílias indígenas que se tornavam aliados dos portugueses necessi-
tavam ser convertidos à fé cristã, enquanto os ‘índios bravos’ (como
eram chamados nos documentos da época) deviam ser subjugados
militar e politicamente de forma a garantir o seu processo de cate-
quização. Este tinha por objetivo justificar o projeto colonial como
uma iniciativa de natureza ético-religiosa preparando a população
autóctone para servir como mão-de-obra nos empreendimentos
coloniais (econômicos, geopolíticos e militares) (OLIVEIRA; FREI-
RE, 2006, p. 35).
25
UNIDADE 1
Figura 3 - Guerrilhas de Johann Moritz Rugendas, imagem que integra a obra Viagem Pitoresca
e Histórica ao Brasil de Jean-Baptiste Debret / Fonte: Debret (1834).
Descrição da Imagem: a imagem em preto e branco apresenta a pintura de uma guerra ocorrida em
um espaço florestal, representado por uma vegetação com diversos tipos de árvores e folhagens. Nela,
é possível apontar várias pessoas indígenas, entre homens, mulheres e crianças, que estão seminuas no
centro, e, à esquerda da imagem, sendo que algumas estão caídas ao chão e feridas, outras estão correndo
com crianças no colo, e alguns dos homens estão segurando arcos e atirando flechas em sua defesa. Em
contraposição, encontram-se vários homens brancos à esquerda da imagem, que estão vestidos, usando
chapéus e portando armas de fogo, alguns em posição de atirar, com seu alvo indígena na mira, outro
atacando um indígena caído no chão e outros em pé entre as árvores. Ainda, podemos observar um
homem negro, de calças, porém sem camisa, com uma flecha cravada em seu peito e caindo no chão.
26
UNICESUMAR
podemos apontar que esta prática ancorou as principais justificativas para a guerra
contra os povos indígenas, que seriam a propagação da fé cristã e a retaliação a indí-
genas que ousavam resistir, tidos como hostis e perigosos à sociedade estabelecida.
Desta forma, obtendo amparo legislativo em normativas institucionais do
período medieval, podemos afirmar que as discussões teológicas encontraram,
no âmbito jurídico, a autorização legal para a constituição e realização da guerra
colonial, transformando, assim, a prática bélica europeia contra as populações
indígenas, bem como o uso do trabalho escravo indígena em leis amparadas
juridicamente e exemplificadas nos relatos contidos nos textos dos colonos.
A legislação que regulamentava a guerra e a escravização das populações
nativas tinha como base o Regimento de Tomé de Souza, de 17 de dezembro
de 1548, criado por Dom João III, com o objetivo de nortear a administração
colonial do território brasileiro pelo Reino de Portugal. Entre os seus 48 artigos
que detalhavam como deveria ser a instalação administrativa do governo, dis-
punham-se as justificativas para a realização de guerras contra os indígenas que
se rebelavam contra as instituições e estabelecimentos coloniais.
A guerra, para os indígenas que sobreviveram a ela, significava sua captura e
escravização, como representado pela Figura 4, tornando-se, assim, a ferramenta
mais utilizada para a obtenção da mão de obra escrava indígena. Mediante a su-
perioridade cristã portuguesa, a legitimação para as guerras da conquista se deu,
também, no âmbito religioso, que serviu para o estabelecimento da escravização
dos povos originários, pois, para transformar os costumes culturais e os valores
sociais indígenas, era necessária a integração dos nativos ao trabalho colonial,
que, por sua vez, tinha como base política e econômica a escravidão.
27
UNIDADE 1
28
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
Estimado(a) estudante, você sabia que o Brasil se tornou um Estado Laico apenas em 7 de
janeiro de 1890? Foi somente com a Proclamação da República e com a promulgação da
Constituição Federal de 1891 que o Estado e Igreja Católica Romana se separaram, institu-
cionalmente, de forma definitiva. O Estado laico, inaugurado pelos Estados Unidos, primeiro
país laico do mundo, e defendido pela Revolução Francesa (1789), torna-se um fenômeno
da História Moderna e Contemporânea extremamente importante para a separação ad-
ministrativa entre Estado e Igreja e a liberdade e a proteção da crença. Neste sentido, a
laicidade é uma qualidade fundamental dos Estados não confessionais, como o Brasil, para
a garantia da liberdade religiosa e preservação de crenças marginalizadas socialmente e
consideradas inferiores, como as crenças e espiritualidades dos povos indígenas.
29
UNIDADE 1
30
UNICESUMAR
Figura 5 - Primeira Missa no Brasil, óleo sobre tela de Victor Meirelles (1860), exposta no Museu
Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro. / Fonte: Wikimedia Commons (2020, on-line).
31
UNIDADE 1
32
UNICESUMAR
33
UNIDADE 1
Figura 6 - O funeral Tupinambá das mortes causadas pelas epidemias / Fonte: Bry (2011).
Descrição da Imagem: a imagem apresenta a pintura em preto e branco de um ritual fúnebre indígena.
Cinco mulheres indígenas estão no plano baixo da imagem, agachadas no chão, em movimentos corporais
que indicam desespero e tristeza, sendo que duas estão se abraçando e as outras três encontram-se uma
ao lado da outra, duas com as mãos da face e a cabeça baixa e a outra com as mãos na cabeça. No plano
superior da imagem, à frente das mulheres, estão cinco homens indígenas, ao lado esquerdo podemos
observar um homem deitado na rede e outro ao seu lado, em pé, segurando um objeto espiritual, já ao
lado direito, encontram-se dois homens carregando um terceiro, dando a entender que este terceiro é
um corpo sem vida, pois ele está enrolado em um tecido, em uma espécie de embalsamamento. Ainda,
na parte de trás dos homens, está mais uma mulher agachada ao chão com as mãos na face.
“
Nas primeiras décadas do séc. XX, esta realidade não foi alterada: nos
grupos recém contatados pelo SPI, aldeias inteiras foram destruídas
por doenças pulmonares. Ao causar mortalidade, o pós-contato ini-
ciava o desequilíbrio das condições de sobrevivência de um povo,
34
UNICESUMAR
35
UNIDADE 1
36
UNICESUMAR
37
Caro(a) estudante, chegou a hora de colocar todo o conteúdo socializado até o mo-
mento em prática. Responda as questões com atenção, sempre voltando a ler o
texto, se necessário. Lembre-se de que a Avaliação é importante para medir seu
conhecimento, mas não para o determinar, pois cada pessoa tem um processo de
aprendizagem próprio.
38
2. A catequização foi fundamental para a introdução e a consolidação do cristianismo
nas relações sociais estabelecidas durante o Brasil Colônia, pois, além de se configu-
rar como forma de controle e dominação cultural da população indígena, também
contribuiu para o êxito dos interesses comerciais e administrativos da Igreja Católi-
ca, na América Portuguesa. Acerca da catequização indígena, assinale a alternativa
correta.
39
2
A Presença
Indígena na
Formação do
Brasil: Cultura
e Identidade
Nacional
Me. Daniara Thomaz Fernandes Martins
42
UNICESUMAR
43
UNIDADE 2
Gostaria de elencar alguns pontos para que você, caro(a) aluno(a), compreenda
a relevância dos estudos sobre a presença indígena na formação de nosso país.
Em primeiro lugar, é necessário sinalizar que toda história sempre contém mais
de um interlocutor. Logo, uma mesma história pode ser contada de muitas manei-
ras diferentes e sob distintas interpretações. Assim o é em nossa vida pessoal, com
os casos e os acontecimentos cotidianos que ficamos sabendo a partir de diversas
narrativas, e, também, com a história dos países, das culturas e das sociedades. Falar
sobre a história do Brasil por meio de uma perspectiva única – aquela produzida
pelos colonizadores – fornece uma visão unilateral dos processos, dos fenômenos
e dos fatos que compõem a formação de nosso país, excluindo, assim, uma série
de interpretações igualmente importantes para a compreensão de nossa história,
cultura e identidade. Entrar em contato com a perspectiva indígena possibilita a
ruptura com esta percepção excludente do Brasil.
44
UNICESUMAR
45
UNIDADE 2
46
UNICESUMAR
Figura 1 - Indígenas da etnia Tembé no Acampamento Terra Livre - Por Christian Braga
Fonte: Wikimedia Commons (2019, on-line).
Descrição da Imagem: a imagem fotográfica traz, em primeiro plano, nove homens indígenas da etnia
Tembé, situados no gramado em frente ao Palácio Itamaraty, localizado em Brasília. Os homens vestem
apenas bermuda, apresentando o peito seminu com pintura corporal expressando o grafismo indígena.
Todos eles usam cocar composto por penas azuis, o cocar de alguns deles também contém penas maiores
na cor vermelha, as quais estão assentadas no centro do adorno, destacando-se do restante das penas
azuis. Além disso, também utilizam um colar feito de miçangas coloridas cuja extensão vai até o umbigo,
cada homem usa uma variação do apetrecho que apresenta uma mescla entre as seguintes cores: branco,
amarelo, vermelho, azul claro, verde e laranja, alguns deles usam um bracelete feito de penas amarelas
logo abaixo do ombro. Os homens seguram, com apenas uma mão, um objeto vermelho com formato
semelhante a de um bastão, apoiando-o sobre o ombro. A maioria deles sorri e tem a expressão corporal
em movimento, como se estivesse andando ou realizando alguma dança ritualística. Ao fundo deles, é
possível ver parte da arquitetura do Palácio Itamaraty.
PENSANDO JUNTOS
Estudante, você sabia que o uso do termo “tribo” em relação aos povos indígenas é con-
siderado pejorativo? O conceito de tribo, além de não refletir a diversidade étnica dos
povos indígenas, é suprido de preconceitos e estereótipos negativos que concebem esta
população como primitiva e datada. Quando o utilizamos para nos referirmos às etnias
indígenas reforçamos uma concepção racista que homogeneiza e apaga suas inúmeras e
distintas identidades étnicas e culturais.
47
UNIDADE 2
“
O cânone literário brasileiro direcionado para adultos incorporou
desde muito cedo a ideia de que o ameríndio, quando não submetido
ao processo civilizatório e cristianizador do europeu, estaria entre-
gue a uma natureza selvagem e animalizada à qual não pode escapar,
sendo o canibalismo uma das manifestações dessa natureza. No to-
cante ao projeto de conquista e colonização, é preciso ressaltar que,
da mesma forma como a representação do bom selvagem, também a
representação do índio como canibal serve ao propósito colonizador
dos europeus, na medida em que propõe, primeiro, que o habitante
das Américas se define completamente por sua natureza animal/sel-
vagem e, segundo, que essa natureza só pode ser domesticada através
de um modelo civilizatório, dos valores relativos à lei, à religião e à
autoridade do próprio europeu (BONIN; KIRCHOF, 2012, p. 232).
48
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
49
UNIDADE 2
“
Civilização e progresso, termos privilegiados da época, eram en-
tendidos não enquanto conceitos específicos de uma determinada
sociedade, mas como modelos universais. Segundo os evolucio-
nistas sociais, em todas as partes do mundo a cultura teria se de-
senvolvido em estados sucessivos, caracterizados por organizações
econômicas e sociais específicas. Esses estágios, entendidos como
únicos e obrigatórios — já que toda a humanidade deveria passar
por eles —, seguiam determinada direção, que ia sempre do mais
simples ao mais complexo e diferenciado. Tratava-se de entender
toda e qualquer diferença como contingente, como se o conjunto
da humanidade estivesse sujeito a passar pelos mesmos estágios de
progresso evolutivo (SCHWARCZ, 1993, p. 45).
50
UNICESUMAR
“
As implicações que formam a concepção específica de uma ‘identi-
dade nacional’ e, posteriormente, ‘social’, no caso do Brasil, perpas-
sam a compreensão sobre a ‘cultura’. O que a história desse território
enquanto ‘nação’ nos informa é que a ideia de ‘pátria’ e de pertencer
a uma pátria só foi de fato questionada após 1889, ou seja, quando
questões como cidadania e cidadão precisaram ser pensadas (MAR-
TIR; CALVO, 2021, p. 93).
51
UNIDADE 2
52
UNICESUMAR
indivíduos, foi uma das áreas de estudos reproduzidas no país que expressava a
dimensão do racismo como método científico positivista.
O eugenismo surgiu em nosso país, portanto, como uma solução teórica para
o problema da heterogeneidade de raças e povos que impedia a consolidação
do Estado-nacional. Como dito anteriormente, a estrutura de um Estado-nação
depende, necessariamente, da existência de uma comunidade nacional unificada
pela cultura e identidade daquele país. Como resultado dos processos de coloni-
zação e escravidão, o Brasil recebeu em seu território milhões de pessoas africanas
traficadas que, em sua terra de origem, faziam parte de culturas e etnias distintas.
Considerando ainda a presença originária dos povos indígenas e a participação
dos colonizadores europeus na composição demográfica nacional, a sociedade
brasileira foi formada a partir uma grande pluralidade cultural e étnica, represen-
tada, sobretudo, pelas três raças matrizes da nação: o índio, o negro e o branco.
A temática das três raças formadoras do país foi muito explorada pelo
pensamento social brasileiro durante o século XX, no sentido de se compreender
qual rumo racial o país viria a assumir num contexto de ampla diversidade de
povos, raças e culturas. A preocupação vigente na época baseava-se na necessida-
de de transformar o Brasil em um Estado-nação moderno, afeito aos padrões de
sociabilidade ocidentais e civilizados. A presença massiva de indígenas e negros
colocava-se enquanto obstáculo na construção de uma cultura nacional unificada
e homogênea (HOFBAUER, 2006). Assim, o projeto de modernidade brasileiro
deparou-se com o entrave da presença indígena e africana e suas culturas que
simbolizavam o atraso cultural e social do país.
Segundo o racismo científico, as raças não-brancas eram consideradas como
naturalmente inferiores e atrasadas. Suas formas de organização social, cultural,
política e econômica eram vistas como arcaicas e deveriam ser, arbitrariamente,
integradas à ordem social ocidental, por meio da civilização, isto é, da imposição
dos costumes, da língua, do sistema econômico e produtivo e também da cultura
colonizadora. Neste contexto, a mestiçagem surgiu como importante elemento
para a formação do Brasil, pois, teoricamente, permitiria a total assimilação racial
e integração cultural dos povos indígenas por meio da mistura com o homem
branco e o contato com o modelo social civilizado, processos denominados, res-
pectivamente, como branqueamento e aculturação (SANTANA; SANTOS, 2016).
Ambos os processos são, atualmente, questionados e criticados pelos movimentos
indígenas, como podemos verificar na Figura 2.
53
UNIDADE 2
Descrição da Imagem: a fotografia, em preto e branco, apresenta o líder indígena Francisco Kaingang
em primeiro plano com a bandeira do Brasil em mãos e expressão facial séria. Ao seu lado, estão outras
lideranças indígenas, porém seus rostos aparecem desfocados na imagem. Todos eles estão sentados
e dispostos em fileira no auditório do Congresso Nacional. Na parede ao fundo, encontra-se fixada uma
faixa branca com escritas em letras garrafais, na qual é possível ler a seguinte frase: não à aculturação!
54
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Querido(a) aluno(a), você sabe qual a relação entre o processo de imigração e o projeto de
branqueamento no Brasil? As políticas imigratórias que tiveram início nos anos seguintes
à abolição da escravatura foram instituídas como tentativa de embranquecer a sociedade
brasileira, fomentando a presença massiva de imigrantes europeus, principalmente nas
áreas urbanas do país, visando ao fortalecimento do sistema capitalista competitivo a par-
tir do estabelecimento deste contingente nas funções designadas ao trabalho assalariado.
55
UNIDADE 2
vez, é definido por Ribeiro como a transformação do indígena aldeiado para o in-
dígena genérico, isto é, aquele indígena expropriado de seu contexto étnico e social.
A partir disso, o autor classifica a presença indígena na sociedade brasileira
moderna em quatro grupos distintos, fundamentados no maior ou menor grau de
contato com a ordem social civilizada e o homem branco, como veremos a seguir.
O primeiro grupo, denominado pelo antropólogo como isolados, diz respeito
aos povos que tiveram pouco ou nenhum contato com a civilização (Figura 3).
Considerados como arredios ou hostis, os indígenas que integram esta categoria
mantêm sua autonomia cultural, subsistindo suas formas sociais, políticas e eco-
nômicas, mesmo que inseridos num amplo contexto de ocidentalização do país.
Descrição da Imagem: a fotografia aérea apresenta cinco pessoas indígenas na mata, entre folhas de
bananeiras. À frente, estão dois homens adultos, vestindo apenas tanga e utilizando um apetrecho nas
cores azul, branco e vermelho na cabeça, um dos homens porta um arco e flecha, o qual se encontra
arqueado e mirado para o equipamento que tirou a fotografia. Atrás deles, estão três crianças, duas delas
seguram uma lança em suas mãos, e a outra porta um arco e flecha, todas elas vestem somente tanga.
As cinco pessoas olham diretamente para a fotografia com expressão facial séria.
56
UNICESUMAR
57
UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
Título: Xingu
Ano: 2012
Sinopse: anos 1940. Três jovens irmãos decidem viver uma grande
aventura. Orlando (Felipe Camargo), 27 anos, Cláudio (João Miguel),
26, e Leonardo (Caio Blat), 24, os Irmãos Villas-Bôas, alistam-se na
Expedição Roncador-Xingu e partem numa missão desbravadora pelo Brasil
Central. A saga começa com a travessia do Rio das Mortes e logo eles se tor-
nam chefes da empreitada, envolvendo-se na defesa dos povos indígenas e
de suas diversas culturas, registrando tudo num diário batizado de A Marcha
para o Oeste.
Comentário: querido(a) estudante, o filme Xingu aborda a questão indígena
no Brasil a partir da experiência verídica dos irmãos Villas-Bôas, no Parque
Xingu, território demarcado que abriga dezesseis etnias indígenas: Awe-
ti, Ikpeng, Kaiabi, Kalapalo, Kamaiurá, Kĩsêdjê, Kuikuro, Matipu, Mehinako,
Nahukuá, Naruvotu, Wauja, Tapayuna, Trumai, Yudja e Yawalapiti. O parque
localiza-se na porção sul da Amazônia, no estado de Mato Grosso. Com uma
narrativa impactante, o filme retrata os efeitos do contato civilizatório com
as populações indígenas isoladas, trazendo-nos uma emocionante reflexão
sobre os feitos da civilização para a dizimação e etnocídio dos povos originá-
rios. O filme pode ser assistido na plataforma de streaming Globoplay.
58
UNICESUMAR
“
A relação do Estado brasileiro para com as sociedades indígenas
tem se pautado pelo ‘processo de pacificação’, isto é, pela transfor-
mação do índio de obstáculo ao avanço civilizatório em um ser
manso e pacífico confinado em reservas, sempre menores do que
seu território original.
59
UNIDADE 2
60
UNICESUMAR
“
a filosofia positivista considerava necessária a implantação do
regime republicano no Brasil, como sendo o último passo para
61
UNIDADE 2
EXPLORANDO IDEIAS
Estudante, para uma compreensão mais ampla do conteúdo aqui exposto, torna-se ne-
cessária uma breve explicação acerca do conceito de nacionalismo. Este configura um
movimento ideológico político que surge durante o século XVIII, na Europa, como reverbe-
ração da Revolução Francesa. De modo geral, a ideologia nacionalista está associada à de-
fesa e à valorização da soberania do Estado e dos elementos nacionais, como o território,
a economia e a cultura. Via de regra, condiciona-se à difusão de símbolos nacionais popu-
lares, como o hino, a bandeira e as expressões culturais, tendo como objetivo a produção
do sentimento de pertencimento, por meio da consolidação da identidade nacional.
62
UNICESUMAR
“
Desse modo, o nacionalismo brasileiro atingira um estágio mais
alto e mais construtivo pois já não se manifestava primordialmen-
te em críticas intelectuais do problema nacional, em programas
governamentais isolados ou em ideologias e movimentos ativos
de partidos extremistas da oposição, mas constituía o cerne de um
propósito do governo, no sentido de um desenvolvimento global,
que se concretizaria nos anos seguintes. Pela primeira vez, pois, o
nacionalismo se encontrava principalmente no domínio das pla-
nificações governamentais e com os dirigentes do poder político
(LAUERHASS, 1986, p. 132).
63
UNIDADE 2
Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma gravura de Getúlio Vargas discursando para diversas
crianças e jovens. No lado esquerdo da figura, verifica-se Getúlio posicionado em pé, num púlpito, com
a mão direita levantada e olhando diretamente para o público espectador. No lado direito, é possível
visualizar uma multidão composta por crianças e jovens portando em mãos a bandeira do Brasil, todos
eles têm a cor de pele clara e olham atentamente para Getúlio. Ao fundo da multidão juvenil, encontram-se
onze bandeiras nacionais hasteadas. No canto inferior esquerdo da gravura, à frente de Getúlio Vargas,
há a figura de um papel amarelado contendo a seguinte mensagem escrita em letra cursiva: “Precisamos
reagir em tempo, contra a indiferença pelos princípios morais, contra os hábitos do intelectualismo ocioso
e parasitário, contra as tendências desagregadoras, infiltradas pelas mais variadas formas nas inteligências
moças, responsáveis pelo futuro da Nação”.
64
UNICESUMAR
“
O pacto social assim montado traduzia-se em um acordo que tro-
cava os benefícios da legislação social por obediência política, uma
vez que só os trabalhadores legalmente sindicalizados podiam ter
acesso aos direitos do trabalho, sinônimo da condição de cidadania
em um regime político autoritário como o brasileiro.
65
UNIDADE 2
De acordo com Ribeiro (1962), durante 1930, o SPI consolidou feitos de grande
magnitude para a civilização dos povos originários: somente neste ano, dezenas
de etnias e aldeias foram pacificadas e mais de 90 postos indígenas foram ins-
talados e mantidos em funcionamento, sendo distribuídos por regiões diversas
do país. Segundo o autor, em muitas áreas, estes postos representavam os únicos
espaços disponíveis para que a população indígena tivesse acesso a amparo e
à assistência. Anos mais tarde, o órgão foi transferido para o domínio do Mi-
nistério do Trabalho e da Guerra, passando por reformulações internas no que
tange sua estrutura e sua organização e instaurando novos postos com o objetivo
de pacificar e nacionalizar os povos indígenas, por meio da apropriação de sua
mão de obra. A proposta seria, portanto, transformar a população originária em
trabalhadores rurais, e a designação do SPI para a pasta do trabalho expressava
esta inclinação estadonovista.
Enquanto espaços direcionados unicamente à civilização da população
autóctone, os postos indígenas foram peças centrais no processo de nacionali-
zação deste segmento, atuando, assertivamente, na conversão dos povos indí-
genas em integrantes do Estado-brasileiro com o auxílio de ações disciplinares
baseadas na ideologia trabalhista. Este movimento se instaura em meio a um
momento particular do país, isto é, a consolidação do capitalismo a partir da
industrialização e da urbanização, ambos fenômenos ligados, intrinsecamente,
à promoção do nacionalismo.
Assim, mais do que transformar a população indígena em cidadãos pro-
dutivos, a doutrina varguista objetivava, também, a introdução dos princípios
nacionais na forma de vida e na organização social indígenas. Para tanto, o en-
sino de disciplinas, como civismo, história, geografia e língua nacional foram
inseridos na rotina dos postos vinculados ao SPI a fim de consolidar junto aos
povos originários conhecimentos referentes à história da nação brasileira, de seus
representantes e dirigentes e de seus símbolos nacionais, como o idioma, o hino,
a bandeira etc. Além disso, a própria rotina de estudos configurava um meio de
66
UNICESUMAR
67
UNIDADE 2
NOVAS DESCOBERTAS
68
UNICESUMAR
69
UNIDADE 2
70
Querido(a) aluno(a), utilize os conteúdos e os conhecimentos adquiridos ao longo da
unidade para responder às questões seguintes.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. 2. ed. São Paulo: Companhia das
Letras, 2020, p. 11.
ALMEIDA, S. L. de. Racismo estrutural. São Paulo: Sueli Carneiro, 2019, p. 62.
71
A partir da análise exposta no trecho apresentado, elabore um texto de, no máximo,
quinze linhas relacionando o conceito de nacionalismo com a presença da população
indígena na formação do Brasil. Utilize, pelo menos, uma referência bibliográfica
para embasar os seus argumentos, esta referência pode ser alguma já abordada na
unidade, ou outra que você ache apropriada ao tema.
3. O pessoal da Funai tinha me dado uma rede de algodão bem grande e vários tipos
de roupa. Tudo aquilo me deixava feliz. Dizia a mim mesmo: “Por que não imitar
os brancos e virar um deles?”. Eu só queria uma coisa: parecer com eles. Por isso,
observava-os o tempo todo em silêncio, com muita atenção. Queria assimilar tudo
o que diziam e faziam.
KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu. São Paulo: Companhia das Letras,
2015, p. 283.
I - Além das políticas tutelares, a Funai também foi responsável pela promoção e
garantia do bem-estar psicológico e emocional da população indígena, um dos
principais propósitos das ações indigenistas no Brasil.
II - A assimilação dos indígenas ao modo de vida consumista do capitalismo foi faci-
litada pelas condições econômicas precárias em que os povos originários viviam
antes do processo civilizatório europeu.
III - A civilização foi um processo complexo que envolveu não apenas a dizimação
física da população indígena, mas também o extermínio de suas culturas, por
meio da imposição dos valores culturais dominantes.
IV - A naturalidade com a qual os povos originários lidavam com a nudez foi con-
cebida pelos colonizadores europeus como um atributo positivo, pois estaria
associada às noções filosóficas sobre o conceito de beleza.
V - As políticas indigenistas brasileiras objetivavam a integração dos povos originários
ao projeto político do Estado nacional. Para isso, a adequação deste grupo às
convenções comportamentais ocidentais foi imprescindível.
A partir das análises feitas sobre as afirmativas, assinale a alternativa correta.
Querido(a) aluno(a), você sabia que, no dia oito de julho de 2022, o “Dia do Ín-
dio” passou a ser denominado e celebrado como o “Dia dos Povos Indígenas”? A
alteração ocorreu de modo oficial, por meio da promulgação da Lei Federal nº
14.402/2022 cujo conteúdo normativo revogou o Decreto-Lei nº 5.540, de nove
de junho de 1943, que estabeleceu a data 19 de abril como o Dia do Índio, durante
o governo do então presidente Getúlio Vargas. Ao contrário do que possa pare-
cer, esta modificação não se baseou somente em questões de cunho meramente
etimológico, ela se respaldou, na verdade, numa série de reivindicações das po-
pulações indígenas que concebem no termo “índio” a propagação de estereótipos
e preconceitos históricos sobre os diversos povos originários do Brasil.
Além de ter sido erroneamente atribuída aos habitantes autóctones do Brasil
pré-colonial por parte dos colonizadores europeus, a palavra “índio” não contempla
a diversidade e a complexidade que abrange as inúmeras etnias indígenas presentes
em nosso país. Ao serem tachados simplesmente como índios, estes sujeitos perdem
o direito às suas particularidades e suas identidades étnicas e culturais, sendo con-
siderados como um bloco racial uniforme sem especificidades ou distinções entre
si. Assim, os costumes, os hábitos, a língua, as origens, as práticas, os mitos e os ritos
de cada etnia são invisibilizados, tornando-se uma breve e superficial parte dos con-
teúdos de história que aprendemos nas escolas e demais instituições de ensino. Por
isso, ao abordarmos a História Indígena, estamos, com efeito, abordando diversas
histórias de distintos povos indígenas, os quais apresentam diferentes condições
sociais, culturais e geográficas, conforme os fenômenos e as características históricas
que fundamentam sua presença em nossa sociedade.
A abolição do uso do termo “índio” é apenas uma das tantas medidas rei-
vindicadas pelos povos indígenas na tentativa de se reconhecer e valorizar sua
diversidade étnica e cultural. Sem dúvidas, a problematização desta palavra deve
ser acompanhada do exercício de conscientização acerca das relações e das es-
truturas de poder que atravessam a questão indígena no Brasil.
Caro(a) estudante, você já havia refletido sobre as problemáticas incutidas na
palavra “índio”? Essa reflexão lhe auxiliará a compreender o conteúdo apresenta-
do na presente unidade, pois, a partir dela, você poderá tecer uma leitura crítica
sobre as imagens e narrativas históricas e culturais construídas sobre os povos
indígenas em nosso imaginário social.
O Brasil é um país de dimensão continental, seu considerável território abre
brechas para o regionalismo, fazendo com que as diferenças culturais e geográ-
74
UNICESUMAR
75
UNIDADE 3
2) Você pode utilizar como objeto de análise qualquer livro didático da dis-
ciplina de História, desde que estejam dentro das normativas e diretrizes
do Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD).
76
UNICESUMAR
77
UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
Prezado(a) acadêmico(a), você já ouviu falar em raça sociológica? O conceito traz um con-
traponto à interpretação biológica e geneticista da categoria raça, opondo-se ao determi-
nismo e racismo científico. Grosso modo, a raça entendida sob a perspectiva sociológica
desconsidera a classificação dos grupos humanos, segundo suas características físicas e
morfológicas, endossando as evidências científicas de que não existem raças humanas.
Por outro lado, o conceito chama a atenção para os impactos da raça no plano social,
sinalizando que, a despeito da inexistência das diferenças raciais no campo da biologia,
existem hierarquias sociais produzidas com base nos traços fenotípicos dos indivíduos,
como a cor da pele e o cabelo, que afetam distintamente grupos raciais diversos, benefi-
ciando uns na medida em que prejudica outros.
78
UNICESUMAR
“
Uma atribuição categórica é uma atribuição étnica quando clas-
sifica uma pessoa em termos de sua identidade básica mais geral,
presumivelmente determinada por sua origem e seu meio am-
biente. Na medida em que os atores usam identidades étnicas para
categorizar a si mesmos e outros, com objetivos de interação, eles
formam grupos étnicos neste sentido organizacional (BARTH,
1998, p. 193-194).
79
UNIDADE 3
Deste modo, quando afirmamos que há mais de 896 mil pessoas autodeclaradas
indígenas no Brasil, aproximadamente, 0,41% da população nacional, estamos
falando sobre a totalidade de uma raça, e não especificamente dos grupos étni-
cos que a compõem. Existem mais de 305 etnias indígenas em solo brasileiro, as
quais apresentam formas sociais, culturais, linguísticas, geográficas e históricas
heterogêneas (IBGE, 2012). Todas elas são, de fato, parte da raça indígena, mas
isso não significa dizer que cultivam os mesmos hábitos, falam a mesma língua
ou que compartilham a mesma cultura e mesma visão sobre o mundo.
Além das distinções étnicas, há, também, os contrastes entre as situações de
moradia e localização. Pessoas indígenas alocadas no contexto urbano distin-
guirão-se em termos comportamentais, sociais e culturais daqueles indivíduos
aldeiados ou inseridos nas zonas rurais, ainda assim, continuarão tendo sua iden-
tidade étnico-racial preservada, uma vez que a condição territorial não é o único
fator determinante na construção identitária dos povos tradicionais.
Das quase 900 mil pessoas que se autodeclararam indígenas, no último censo
demográfico, 379.534 não estavam localizadas em aldeias e demais territórios
indígenas oficialmente reconhecidos pelo Estado brasileiro, o que corresponde à
cerca de 42,5% do total da população originária do país. Ainda segundo os dados
censitários daquele ano, 502.783 autodeclarados eram residentes da zona rural,
em contrapartida aos 315.180 indígenas inseridos no contexto urbano. Percen-
tualmente, os dados equivalem, respectivamente, a 61,46% e 38,53% do número
total de pessoas indígenas autodeclaradas no Brasil.
Sem dúvidas, caro(a) aluno(a), todos estes fatores contribuem imensamente
para a diversidade étnico-cultural dos povos autóctones presentes na sociedade
brasileira. Além das dissensões naturais entre etnias distintas, os processos de
civilização e urbanização potencializam ainda mais a transfiguração cultural das
80
UNICESUMAR
“
Adentrar o espaço da cidade significa conciliar os opostos, ou seja,
ser constituído por uma formação cultural singular, com a sua lógica
e práticas próprias e ao mesmo tempo, conviver com uma outra
organização societária diferente da sua, politicamente legitimada
que organiza a sociedade branca e rege as políticas das minorias,
incluindo a dos povos indígenas (GOMES, 2006, p. 15).
81
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
NOVAS DESCOBERTAS
82
UNICESUMAR
“
O processo de classificação é central na vida social. Ele pode ser enten-
dido como um ato de significação pelo qual dividimos e ordenamos o
mundo social em grupos, em classes. A identidade e a diferença estão
estreitamente relacionadas às formas pelas quais a sociedade produz
e utiliza classificações. As classificações são sempre feitas a partir do
ponto de vista da identidade (SILVA, 2003, p. 82).
83
UNIDADE 3
Com isso, podemos concluir que toda identidade pessoal é também social,
pois parte de referências e símbolos que são compartilhados e significados social-
mente. No caso dos povos indígenas, especificamente, esta conceituação é ainda
mais pertinente, uma vez que se trata de populações que foram submetidas a
intensos processos de apagamento étnico e cultural, tendo sido suas identidades
reduzidas a uma imagem de selvageria e/ou integradas de modo arbitrário à
ordem social, perdendo, assim, suas particularidades identitárias.
PENSANDO JUNTOS
NOVAS DESCOBERTAS
84
UNICESUMAR
“
O modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valo-
rativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas
corporais são assim produtos de uma herança cultural, ou seja, o
resultado da operação de uma determinada cultura.
Graças ao que foi dito acima, podemos entender o fato de que in-
divíduos de culturas diferentes podem ser facilmente identificados
por uma série de características, tais como o modo de agir, vestir,
caminhar, comer, sem mencionar a evidência das diferenças linguís-
ticas (LARAIA, 1993, p. 36).
Com efeito, a cultura está impressa em todos os nossos atos, desde as práticas mais
rudimentares até os hábitos mais complexos. Aquilo que julgamos como corri-
queiro ou habitual reflete, na realidade, nossos padrões culturais e corresponde,
diretamente, às nossas formas de organização social e cultural, não abrangendo,
na maior parte das vezes, outros povos ou outras sociedades. Logo, indivíduos
pertencentes a culturas diferentes apresentarão, via de regra, tradições, costumes
e práticas igualmente distintas, as quais serão elaboradas, conforme os símbolos,
os valores e as referências atuantes em sua comunidade, grupo étnico, sociedade
ou qualquer outro tipo de agrupamento humano.
Inspirado pelo relativismo cultural, Lévi-Strauss (1993) afirma que a diver-
sidade das culturas é resultado de fenômenos variados, entre eles estão a locali-
85
UNIDADE 3
“
Um aspecto igualmente importante da vida da humanidade: a saber,
que esta não se desenvolve sob o regime de uma monotonia uni-
forme, mas através de modos extraordinariamente diversificados
de sociedades e civilizações; esta diversidade intelectual, estética e
sociológica não está unida por nenhuma relação de causa e efeito à
que existe, no plano biológico, entre certos aspectos observáveis dos
agrupamentos humanos: ela lhe é apenas paralela em outro terreno
(LÉVI-STRAUSS, 1993, p. 329).
86
UNICESUMAR
87
UNIDADE 3
EXPLORANDO IDEIAS
88
UNICESUMAR
“
Os sistemas sociais indígenas existentes às vésperas da conquista
não estavam isolados, mas articulados local e regionalmente. Ao que
tudo indica, vastas redes comerciais uniam áreas e povos distantes.
Movimentos em uma parte produziam efeitos em outra, por vezes
a quilômetros de distância. O comércio, a guerra e as migrações
articulavam as populações indígenas do passado de um modo mais
intenso do que observamos hoje (FAUSTO, 2010, p. 9-10).
89
UNIDADE 3
90
UNICESUMAR
Figura 1: Indígenas da etnia Tupi-Guarani na 1ª Conferência Nacional dos Povos Indígenas (2006)
Fonte: Wikimedia Commons
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma fotografia com sete pessoas indígenas dispostas em redes
enfileiradas, durante a 1ª Conferência Nacional dos Povos Indígenas, ocorrida em abril de 2006, na cidade
de Brasília. Em primeiro plano, no canto esquerdo da fotografia, é possível verificar um homem adulto
indígena sentado em uma rede de cor azul. O homem está de perfil, sendo possível ver somente a lateral
de seu rosto, o qual contém um bigode com pelos escuros. Ele está sem camisa, utiliza um apetrecho de
cor branca em seu pescoço, similar a um colar. A parte superior de seu cabelo, próximo à testa, está pig-
mentada com a cor vermelha, o que contrasta com o restante dos fios de cor preta. Seu rosto apresenta
um desenho étnico, também na cor vermelha, localizado na região das bochechas e, em sua orelha, há um
tipo de alargador em formato cilíndrico. O homem carrega uma mochila amarela em suas costas e tem
uma expressão facial séria. À frente do primeiro homem e mais ao centro da imagem, há outra pessoa
indígena adulta do sexo masculino sentada em uma rede com estampa xadrez, nas cores azul, vermelho
e verde. O segundo homem tem o rosto posicionado em frontal, o que permite a total visualização de sua
face, ele apresenta uma aparência mais velha, contendo uma barbicha com pelos brancos. Ele também
está sem camisa, usa um alargador em formato cilíndrico nas duas orelhas e porta em seu pescoço um
apetrecho branco semelhante ao descrito anteriormente, além do apetrecho, há um cordão de cor preta
que se estende até sua barriga sobre a qual é possível ver parte de um crachá na cor amarela, anexado
ao cordão. O cabelo também tem pigmentação vermelha na parte superior, e o homem esboça um sor-
riso. Ao lado do segundo homem há uma rede com estampa listrada nas cores azul, verde e vermelho,
a rede encontra-se vazia. Após esta rede, há outra com estampa idêntica, sobre a qual está deitada uma
pessoa indígena de aparência jovem, vestindo uma camiseta de cor azul, seu rosto é tampado pelo braço
do segundo homem indígena. No segundo plano da imagem, há uma mulher adulta indígena deitada em
uma rede com estampa xadrez nas cores azul claro, amarelo e azul escuro. A mulher veste uma regata de
cor rosa e está posicionada de costas para a câmera, não sendo possível visualizar sua face. Ela conversa
com um homem adulto indígena que está deitado em outra rede localizada à sua frente, a rede também
tem estampa xadrez, porém nas cores azul, branca, vermelha e amarela. O terceiro homem, por sua vez,
veste uma camisa branca e se encontra deitado de lado com a cabeça sob seu braço. Por fim, ao fundo
da imagem, no canto direito da fotografia, encontra-se um quarto homem indígena, deitado em uma rede
e usando um boné de cor azul, ele aparenta estar falando ao aparelho celular.
91
UNIDADE 3
“
Falada nos aldeamentos e nas tropas de resgate, nas vilas e fazendas,
por índios missionados, por brancos e negros, tal língua foi avan-
92
UNICESUMAR
93
UNIDADE 3
94
UNICESUMAR
Figura 2 - Integrantes do povo Ticuna em 1865 / Fonte: Wikimedia Commons (2008, on-line).
Descrição da Imagem: a Figura 2 é composta por uma fotografia antiga, em preto e branco, com quatro
pessoas indígenas da etnia Ticuna. À frente da imagem, no canto inferior esquerdo, há uma mulher
indígena adulta sentada no chão, com o peito desnudo, utilizando colares em seu pescoço. A mulher
tem cabelo escuro com comprimento até a altura da orelha, está com a expressão facial séria, seu braço
esquerdo repousa sobre sua perna esquerda que está dobrada, o braço direito, em seu torno, cobre a
sua barriga, e a perna direita encontra-se esticada. À sua direita, há outra mulher indígena adulta com
o peito nu, seu cabelo é escuro e se alonga até os ombros, seu rosto expressa uma feição séria. Ela está
sentada em uma rede, utiliza diversos colares no pescoço e repousa suas mãos sobre os joelhos. No seu
lado direito, sentada no chão à frente da rede, há uma pessoa indígena com o peito desnudo, vestindo
shorts de comprimento até a coxa superior. A pessoa encontra-se de lateral, sendo possível ver apenas
o perfil de seu rosto, ela utiliza vários colares no pescoço e um bracelete abaixo de seu ombro direito,
seu cabelo é escuro e segue até acima dos ombros. No canto direito da fotografia, posicionado de pé e
apoiado em um tronco de esteio, há um homem indígena adulto que veste apenas uma tanga, tendo seu
peito à mostra, ele utiliza adereços abaixo de seus joelhos e de seus ombros, em seu pescoço há um colar,
há também um adereço em seu tronco, na posição transversal. Seu rosto encontra-se virado para o lado
esquerdo, e sua expressão facial é séria. Todos(as) eles(as) estão no interior de um ambiente coberto,
estruturado por esteios de madeira, dispostos pelo chão há um vaso e outros objetos.
95
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
96
UNICESUMAR
PENSANDO JUNTOS
Acadêmico(a), uma das formas de distinção e identificação das etnias indígenas é o gra-
fismo. Presente nas pinturas corporais, nos artesanatos, na arquitetura e nos demais
componentes das sociedades originárias, o grafismo indígena pode ser considerado um
complexo sistema de significação e classificação que, além de seus propósitos estéticos,
cumpre a importante função de representar a identidade étnico-cultural dos povos origi-
nários, indicando posições, títulos e status.
97
UNIDADE 3
“
Dizem que Kañerú e a sua gente toda eram de corpo fino, peludo,
pés pequenos, ligeiros tanto nos seus movimentos como nas suas re-
soluções, cheios de iniciativa, mas de pouca persistência. Kamé e os
seus companheiros, ao contrário, eram de corpo grosso, pés grandes,
e vagarosos nos seus movimentos e resoluções. Como foram estes
dois irmãos que fizeram todas as plantas e animais, e que povoaram
a terra com os seus descendentes, não há nada neste mundo fora
da terra, dos céus, da água e do fogo, que não pertença ou ao clã de
Kañerú ou ao de Kamé. Todos ainda manifestam a sua descendência
ou pelo seu temperamento ou pelos traços físicos ou pela pinta. O
que pertence ao clã Kañerú é malhado, o que pertence ao clã Kamé
é riscado. O Kaingang reconhece estas pintas tanto no couro dos
animais como nas penas dos passarinhos, como também na casca,
nas folhas, ou na madeira das plantas.
98
UNICESUMAR
Nota-se que existe uma oposição entre ambos, porém este caráter opositivo não
deve ser confundido como uma característica de exclusão, como, via de regra,
interpretamos as relações binárias na cultura ocidental, mas sim deve ser en-
tendido pela perspectiva da complementaridade. Nesse sentido, todos os seres
da natureza carregam consigo, conforme o pensamento cosmológico Kaingang,
elementos pertencentes a cada uma das metades formadoras de sua cultura, so-
ciedade e natureza.
Como é possível perceber, a cosmologia dualista do povo Kaingang não trata
apenas de uma teoria abstrata sobre os cosmos, os astros e a origem do universo e
de todas as coisas, ela revela, na realidade, um modo complexo de organização so-
cial que incide sobre todos os aspectos da sociedade, inclusive, nas relações de pa-
rentesco, uma vez que a tradição Kaingang estipula que os casamentos devem ser
realizados entre pessoas pertencentes a metades distintas. Assim, um indivíduo
da metade Kamé deve unir-se a outro indivíduo da metade Kairu. Caso a união
matrimonial resulte em filhos, estes deverão pertencer à metade do pai, por isso,
este sistema dualista sociocosmológico constitui-se, também, como patrilinear.
99
UNIDADE 3
PENSANDO JUNTOS
Você sabia que o povo Kaingang é a etnia de maior expressão demográfica no estado do
Paraná? Atualmente, o estado conta com 23 territórios indígenas, treze são ocupados pelos
Kaingang, ou seja, 56% das terras demarcadas do Paraná. Além disso, eles representam mais
de 68% do número total de indígenas presentes no estado. Em dados absolutos, isso corres-
ponde a 9.120 pessoas dos 13.300 indivíduos autodeclarados indígenas nesta região do país.
Fonte: IBGE (2012).
100
UNICESUMAR
101
UNIDADE 3
102
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a imagem fotográfica apresenta um altar de divindades da jurema sagrada, estru-
turado em três degraus. No primeiro e segundo degraus, de baixo para cima, encontram-se, seguindo a
ordem da direita para a esquerda, um buquê de rosas vermelhas e ramos verdes embrulhados num papel
plastificado branco com estampa em formato de coração e ornamentado com laços de fita vermelha. Na
sequência, encontram-se alguns copos e pratos transparentes, seguidos por um jarro branco com flores
igualmente brancas. No degrau mais elevado, é possível visualizar, no canto direito da fotografia, a ima-
gem do Mestre da Jurema Zé Pelintra, o qual é representado por uma escultura humanoide de cor preta,
vestida com uma calça vermelha e camisa branca, utilizando um laço vermelho na região dos ombros e
do pescoço e um chapéu também branco. Ao seu lado esquerdo, há uma vela branca sem fogo, seguida
por alguns vasos com flores brancas. No canto esquerdo da fotografia, há outra escultura humanoide
representando a entidade Cabocla Jurema, a escultura tem cor marrom escura, veste uma saia (tanga)
listrada nas cores azul, amarelo e vermelho, em sua cabeça há um cocar nas mesmas cores que sua saia,
um de seus braços encontra-se levantado. Ao fundo do altar, visualiza-se uma parede branca com dois
pequenos vasos de flores pendurados.
103
UNIDADE 3
NOVAS DESCOBERTAS
Título: Ex-pajé
Ano: 2018
Sinopse: um pajé passa a questionar sua fé depois de seu primeiro
contato com os brancos, que alegam que sua religião é demoníaca. A
missão evangelizadora comandada por um pastor intolerante é ques-
tionada quando a morte passa a rondar a aldeia, e a sensibilidade do índio
em relação aos espíritos da floresta se mostra indispensável.
Comentário: acadêmico(a), o filme sugerido é um documentário brasileiro
que aborda a experiência contemporânea dos povos indígenas, a partir da
perspectiva de um membro do povo Paiter Suruí, localizado nos estados de
Rondônia e Mato Grosso. A produção retrata a estigmatização do xamanismo
e como as violências contra as culturas indígenas reverberam nas identidades
culturais dos indivíduos pertencentes a este segmento da sociedade brasilei-
ra. Esta obra cinematográfica nos possibilita diversas reflexões importantes
sobre o processo de aculturação das populações nativas, o qual segue em
andamento atualmente. Ex-pajé está disponível na Netflix, aproveite.
104
UNICESUMAR
105
UNIDADE 3
106
Prezado(a) estudante, utilize os conteúdos abordados no decorrer da presente uni-
dade para responder às questões a seguir.
1. Tratamos, afinal, de uma certa organização ou configuração de mundo que não pos-
sui um dogma estabelecido, um conjunto de doutrinas ou alguma escritura sagrada,
uma liturgia fixa, um corpo de sacerdotes organizado em torno do Estado e, mais
importante, uma fé em alguma divindade única. Difícil, portanto, definir o xamanismo
como uma crença. Tais ausências são especialmente válidas para os povos indígenas
das terras baixas da América do Sul, ou seja, para aqueles que não viveram sob o
domínio de organizações estatais, tais como o império Inca. A mediação exercida
pelos xamãs amazônicos tem mais a ver com uma certa diplomacia, uma forma de
traduzir e de conectar os humanos viventes à multidão de espíritos, de almas de
mortos e de animais que constituem as cosmologias indígenas.
I - Uma das funções exercidas pela figura do xamã é representada pelo estabeleci-
mento da comunicação entre os planos terrestre e espiritual, por meio de rituais.
II - A figura do xamã é análoga à de uma divindade, tendo em vista as funções que
ele desempenha para a conexão espiritual entre os homens e os deuses.
III - O xamanismo diferencia-se das religiões cristãs por não apresentar elementos
basilares do cristianismo, como o dogma, a doutrina e a relação com o Estado.
IV - A ausência de um conjunto de doutrinas e preceitos faz do xamanismo um sis-
tema de crenças primitivo e limitado às sociedades sem organização estatal.
V - O xamanismo pode ser classificado como um sistema animista, pois compreende
a espiritualidade como atributo exclusivo dos seres humanos.
É correto o que se afirma em:
a) II, apenas.
b) I, III e IV.
c) I e II.
d) V, apenas.
e) I e III.
107
2. Deve-se acrescentar que, recorrentemente, alguns indígenas, como parte de uma
estratégia de afirmação de sua identidade e de sobrevivência étnica, estão reivin-
dicando como sua língua materna o Nheengatú, mesmo em situações nas quais,
historicamente, essa reivindicação não corresponda à filiação linguística original dos
grupos em questão, caso em que os Barés (família Aruak) se enquadram.
I - A língua indígena nheengatu tem sido utilizada como forma de resistência indí-
gena, visando à preservação da identidade étnico-cultural desta população em
face ao desmantelamento de suas línguas maternas.
PORQUE
108
4
Política Indígena
e Indigenista na
contemporaneidade:
resistências e
permanências
Me. Eloá Lamin da Gama
110
UNICESUMAR
111
UNIDADE 4
112
UNICESUMAR
Estimado(a) estudante, agora que você já sabe que políticas indigenistas e polí-
ticas indígenas não são sinônimos, ou seja, não possuem o mesmo significado,
apesar de se referir às questões dos povos indígenas brasileiros, já podemos nos
aprofundar nas diferenças conceituais entre ambas as políticas que foram se mo-
dificando ao longo do tempo, para que, assim, possamos distingui-las de forma
apropriada e condizente com o conhecimento histórico.
Logo, podemos afirmar que as políticas indigenistas são apenas uma das possibili-
dades de manifestação do indigenismo, que, por sua vez, configura-se como um
movimento de caráter político, mas também cultural, social e intelectual. Em razão
disso, o indigenismo deve ser pensado como uma categoria histórica que envolve
debates produzidos no campo político, mas que não se restringem ao discurso, pois
trazem consigo consequências na vida prática das populações indígenas, transfor-
mando suas relações com a sociedade e os padrões civilizatórios nacionais. Con-
tudo o significado de indigenismo que prevalece na interpretação historiográfica
brasileira é no âmbito das políticas indigenistas, isto é, no tocante às legislações que
trataram da questão indígena ao longo dos períodos da História do Brasil.
A partir desta definição hegemônica, que coloca o indigenismo como li-
mitado às políticas indigenistas, é necessário pensar o conceito de indigenismo
para além do âmbito das políticas oficiais implementadas pela Coroa Portuguesa
ou pelo Estado brasileiro, problematizando, assim, todo um imaginário social,
reforçado pela mídia, pelas artes e pelo sistema educacional, que compreende a
presença indígena na história da nação ora subalterna, inferior e sujeita à tutela,
ora romantizada e folclorizada.
Em acordo com a temática da presente unidade, nós nos concentraremos
nas políticas indigenistas, porém, torna-se necessário tais apontamentos a
113
UNIDADE 4
Ninguém melhor para pensar políticas que dizem respeito sobre sua própria
vida do que a população indígena, não é mesmo? Para isso, torna-se preciso que
os povos originários tenham voz e poder de decisão no processo de construção
e aprovação das políticas públicas. Buscando cada vez mais a presença perma-
nente de indígenas em espaços de poder e privilégio social, como universidades,
instituições públicas e privadas, mercado de trabalho formal e casas legislativas,
é que estão sendo implementadas as políticas de ação afirmativa.
114
UNICESUMAR
“
As políticas de ações afirmativas apresentam-se como importante
mecanismo social com características ético-pedagógicas para os
diferentes grupos vivenciarem o respeito às diversidades, sejam
elas raciais, étnicas, culturais, de classe, de gênero ou de orientação
sexual. Essa percepção do direito à diferença leva em conta que a
realidade das políticas denominadas universalistas – ou, no caso
das políticas raciais, cegas em relação à cor – não atendem às es-
pecificidades dos grupos ou indivíduos vulneráveis, permitindo a
perpetuação da desigualdade de direitos e de oportunidades (SIL-
VÉRIO, 2007, p. 21).
115
UNIDADE 4
Na população com 15 anos de idade ou mais, 23,3% dos indígenas não são
alfabetizados, contra 9,6% no nível nacional. A taxa de analfabetismo entre
as crianças e adolescentes indígenas com faixa etária entre 10 e 14 anos
é de 17,8%, quatro vezes a observada na população
em geral cujo índice é de 3,9%. No interior
das Terras Indígenas (TI’s), a proporção
de analfabetismo de 23,4% é muito su-
perior à da área rural do Brasil, que
é de 8,4%. Além disso, no país há
cerca de 50 mil crianças e adoles-
centes indígenas de 5 a 14 anos que
não estão alfabetizados, fato que
contribui, de forma negativa, para
a sociedade brasileira, impedindo
o avanço da trajetória educacional
indígena e prejudicando oportunidades
futuras (IBGE, 2012).
116
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
Querido(a) estudante, você sabia que os primeiros cotistas do Brasil foram imigrantes
europeus? Durante o século XIX, o Estado brasileiro subsidiou a vinda de imigrantes de di-
versas regiões da Europa, que viviam em situação de miséria em seus respectivos países,
como a Itália, Alemanha, Espanha, Portugal e Japão para substituir a mão de obra escrava.
Chegando no Brasil, os imigrantes europeus receberam do Estado lotes de terras para
morar e cultivar, além de garantia de emprego assalariado para que pudessem refazer
suas vidas no novo país. Uma das medidas de cotas implementadas pelo governo, foi a
Lei n° 28, aprovada no ano de 1884, pela Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo,
que incentivava a chegada de imigrantes europeus, beneficiando-os com uma quantia em
valor por cada filho que possuíssem.
Fonte: ALESP (1884).
117
UNIDADE 4
“
Art. 1º As instituições federais de educação superior vinculadas ao
Ministério da Educação reservarão, em cada concurso seletivo para
ingresso nos cursos de graduação, por curso e turno, no mínimo
50% (cinquenta por cento) de suas vagas para estudantes que te-
nham cursado integralmente o ensino médio em escolas públicas.
118
UNICESUMAR
119
UNIDADE 4
Descrição da Imagem: a imagem é uma fotografia tirada de um debate público, caracterizado por uma
mesa de madeira e horizontal, onde sete pessoas se encontram sentadas uma ao lado da outra, identifica-
das pelo nome por uma placa pequena que está no canto da mesa à frente de cada indivíduo. Em primeiro
plano, à direita da imagem, aparece um homem indígena que está falando em um microfone, ele está de
camisa social e cocar. Ao seu lado, uma mulher branca o observa com atenção, ao lado da mulher está
um homem branco, sua posição é abaixada com a cabeça escondida debaixo da mesa, aparentando que
está pegando alguma coisa que deixou cair no chão. Ao seu lado, está um homem negro, ele está olhando
para baixo e usando uma vestimenta característica de alguma congregação religiosa da Igreja Católica.
Ao lado desse sujeito, encontram-se, respectivamente, uma mulher negra e um homem negro, que estão
observando o homem indígena que está falando, e, por último, na extremidade esquerda da foto, está
um homem branco, desfocado da fotografia e olhando para frente. Na mesa, estão dispostos um copo
com água para cada debatedor, sendo que, em alguns lugares, encontram-se, também, papéis, cadernos
e canetas. Ao fundo, podemos observar uma parede, um marcador de tempo e uma bandeira do Brasil.
120
UNICESUMAR
121
UNIDADE 4
122
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
123
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
Título: Xetá
Ano: 2010
Sinopse: durante o desordenado processo de colonização do noroes-
te do Paraná, nos anos 1940 e 1950, foi avistada uma população indí-
gena que, até então, havia tido pouquíssimo contato com o homem
branco. Logo, o povo Xetá foi expulso de suas terras, vitimado por ações de
extermínio, e os poucos sobreviventes, dispersos para outros locais. A quase
extinção dos Xetá acabou contribuindo para provocar um desastre ecológico
irreversível na região.
Comentário: este documentário, concluído em 2008 e de domínio público
(financiado pela Secretaria do audiovisual do Ministério da Cultura, que foi
extinto, em 2019, pela Lei nº 13.844), conta a história do contato e quase ex-
tinção do povo Xetá, reproduzindo imagens de Vladimír Kozák (1897-1979),
cedidas pelo acervo do Museu Paranaense. O documentário ainda conta
com entrevistas de alguns sobreviventes da etnia Xetá, como Tucanambá,
falecido em 2007, os antropólogos Ney Barreto e Carmen Lúcia da Silva, cuja
pesquisa contestou a extinção da população apontada pela Funai nos anos
1990, e o linguísta Aryon Rodrigues, um dos mais renomados pesquisadores
de línguas indígenas no Brasil, que se dedicou à análise e à documentação
da língua Xetá. O documentário pode ser assistido pela plataforma Youtube.
Voltando nosso foco às políticas indigenistas, foi apenas no século XVII que a metró-
pole lusitana elaborou um documento específico para os povos indígenas brasileiros,
o Diretório dos Índios, conhecido como Diretório Pombalino, pela Lei de 1755 cujo
objetivo era aplicar uma ética da moral e da disciplina europeia ao indígena por meio
da formação de aldeamentos coletivos centrados não apenas no missionarismo, mas,
sobretudo, no trabalho na agricultura como forma de catequização e civilização nativa.
Assinado pelo Rei de Portugal Dom José, o Diretório Pombalino foi uma
política indigenista de Estado com poder de organização social voltada à vida dos
nativos, em especial, da região Norte do país. Para os demais povos, distribuídos
em todo o território nacional, a condição legislativa era de invisibilidade e omis-
são, não havendo nenhuma ferramenta de proteção oficial à população originária,
que ficava à mercê dos interesses e da ação violenta de bandeirantes, tropeiros e
colonos que a capturava e escravizava a fim de submetê-la ao sistema colonial.
Com a extinção do Diretório dos Índios, em 1798, por Carta Régia, a legisla-
ção deixou de ser generalista, característica de um projeto mais amplo, transfor-
124
UNICESUMAR
“
uma política agressiva em relação às terras das aldeias: um mês após
sua promulgação, uma decisão do Império manda incorporar aos
Próprios Nacionais as terras de aldeias de índios que vivem dispersos
e confundidos na massa da população civilizada. Ou seja, após ter
durante um século favorecido o estabelecimento de estranhos junto
ou mesmo dentro das terras das aldeias, o governo usa o duplo critério
da existência de população não indígena e de uma aparente assimi-
lação para despojar as aldeias de suas terras (CUNHA, 1992, p. 145).
125
UNIDADE 4
126
UNICESUMAR
“
No período republicano, prosperaram as ideias de uma socieda-
de industrial fundamentada numa matriz racial branca de origem
europeia. Passada essa fase inicial da república brasileira, muito
pouco se avançou no que diz respeito às questões sociais e políticas
referentes aos índios. O Estado brasileiro prolongava a cultura da
indiferença, da “invisibilidade” em relação às populações étnicas
(ALMEIDA, 2018, p. 618).
127
UNIDADE 4
128
UNICESUMAR
129
UNIDADE 4
Neste sentido, podemos afirmar que a década de 1980 foi de extrema importân-
cia para a afirmação das políticas indígenas, sobretudo, em razão do fato de as
próprias lideranças nativas representarem seus respectivos povos nas questões
políticas e jurídicas à frente do Estado, das instituições e de toda a sociedade
brasileira. O maior exemplo dessas mobilizações foi a atuação direta de líderes
indígenas na elaboração da Constituição de 1988, nosso marco jurídico atual.
130
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
131
UNIDADE 4
132
UNICESUMAR
Esses núcleos econômicos cuja riqueza tem sido acumulada com o desmatamen-
to, a poluição e a exploração do meio ambiente, vem invadindo terras, histórica
e legalmente, indígenas, usando da força, da coerção e da violência seguida de
mortes com requinte de crueldade, dando continuidade no genocídio indígena,
denunciado por diversos atos, como apresentado na Figura 3, e iniciado, no pe-
ríodo colonial, com a chegada dos portugueses a este território, originalmente,
habitado pelos povos nativos, que, depois, veio a chamar-se de Brasil.
133
UNIDADE 4
NOVAS DESCOBERTAS
134
UNICESUMAR
135
Estimado(a) estudante, chegou a hora de colocar todo o conteúdo dinamizado em
prática. Responda as questões com atenção, sempre voltando a ler o texto, se neces-
sário. Lembre-se de que a Avaliação é importante para medir seu conhecimento, mas
não para determiná-lo, pois cada pessoa tem um processo de aprendizagem próprio.
a) V- V- F- F- V.
b) F- V- F- V- F.
c) F- F- F- V- V.
d) V- F- V- V -F.
e) F- F- V-F-V.
136
2. De Colônia de Portugal, o Brasil tornou-se independente e passou a ser um Império
a partir de 1822, contudo o sistema político e econômico pouco foi alterado, pois a
escravidão continuou sendo a base da economia agrária, e o sistema de aldeamento
e política de assimilação completa da população indígena, submetida à servidão,
catequização e expropriação de suas terras, continuou sendo a realidade na prática.
Sobre as políticas indigenistas do Império, analise as alternativas a seguir:
3. O período republicano foi proclamado em 1889, porém não alterou a cruel realidade
social dos povos indígenas, pois diversas etnias continuaram sendo massacradas, e
suas terras permaneceram sendo invadidas. Mais de 130 anos se passaram da nossa
República, e muita coisa mudou ao longo das décadas. Diante de todo conhecimento
adquirido, redija um texto de, no mínimo, de 20 linhas, fazendo um panorama his-
tórico das políticas indigenistas e indígenas desde a Proclamação da República até
os dias de hoje.
137
5
O ensino de
História Indígena
e as perspectivas
educacionais
Me. Eloá Lamin da Gama
Me. Daniara Thomaz Fernandes Martinss
140
UNICESUMAR
141
UNIDADE 5
142
UNICESUMAR
143
UNIDADE 5
144
UNICESUMAR
NOVAS DESCOBERTAS
É a partir desta relação de poder com o Estado, que, na época, estava se con-
solidando como um Estado independente de Portugal, porém, que continuava
vinculado aos interesses políticos e econômicos da metrópole portuguesa, que
a disciplina de História é forjada por princípios eurocêntricos. Este processo é
intensificado com o movimento de consolidação do Estado Nacional, na segunda
metade do século XIX, momento histórico permeado de disputas e conflitos entre
monarquistas e republicanos, devido à necessidade de estabelecer uma identidade
nacional que pudesse definir a sociedade brasileira e a nova nação.
Com a Proclamação da República, em 1889, a importância da História, em es-
pecial, a História do Brasil, torna-se mais significativa ao contribuir, diretamente,
para a formação de determinado padrão de cidadão, responsável por representar,
de forma homogeneizadora, universal e cristalizada, a identidade do povo bra-
sileiro. A identidade em comum idealizada pelo Estado, que acabava de abolir,
oficialmente, a escravidão e continuava a negligenciar as comunidades indígenas,
não havia de ser outra se não branca, cristã e patriarcal.
Ignorando e invisibilizando a grande maioria da população que era negra e
as etnias indígenas distribuídas por todo território do país, a identidade nacional
desenhada pelo Estado brasileiro tinha como padrão civilizatório, social, político,
cultural e estético as sociedades europeias, uma consequência direta de como o
processo histórico de colonização portuguesa incutiu um ideário de sociedade
eurocêntrico e baseado na desigualdade racial.
Neste sentido, para sustentar a identidade nacional arquitetada pelo Estado,
a disciplina de História passou a configurar-se como um dos pilares do projeto
político de nação, implementado a partir da Proclamação da República, tendo
como base as concepções europeias da história, principalmente a francesa, isto
145
UNIDADE 5
“
Sustentado a partir da matriz histórica e historiográfica europeia,
particularmente, a francesa, o surgimento da História como disci-
plina escolar está imbricado ao contexto histórico de consolidação
do Estado Nacional, logo, à formação de uma identidade comum,
fato que ancorou o ensino de uma História das datas cívicas, eventos
e personagens da História Ocidental e, posteriormente, da pátria
(GAMA, 2020, p. 79).
PENSANDO JUNTOS
Caro(a) estudante, você sabia que a divisão quadripartite da História, isto é, a divisão da
História em Antiga, Medieval, Moderna e Contemporânea, que ainda hoje permeia o currí-
culo da nossa disciplina e que é utilizada como uma verdade absoluta, configura-se como
uma influência direta do eurocentrismo no ensino de História? Pensar o Brasil, histori-
camente, a partir de uma divisão temporal da História da Europa Ocidental é continuar
perpetuando um pensamento colonizado que atribui um maior valor cultural, social e
epistemológico ao continente europeu enquanto marginaliza e inferioriza a história de
outras civilizações, povos e continentes, como a História da África e da América.
146
UNICESUMAR
“
O sistema educacional brasileiro e dos demais países hispano-ame-
ricanos se constituíram sob a hegemonia cultural de países euro-
peus. O rompimento político não excluiu antigos laços identitários
da fase colonial, evidentemente, mantendo-se o ‘berço de origem’
nos países ocidentais cristãos europeus. Para o Brasil, a opção das
elites no poder, elites provenientes dos setores agrário e escravagista,
foi a constituição de um nacionalismo identificado com o mundo
cristão e branco europeu, acrescido de um espectro conservador
representado pelo regime monárquico. O desafio político para essas
elites era a manutenção de um vasto território conquistado pela
monarquia portuguesa que necessitava manter o regime monár-
quico e consolidar uma unidade territorial, além de criar formas
identitárias que ultrapassassem as visões provinciais e os conflitos
locais com projetos republicanos e separatistas que desafiavam o
poder centralizado (BITTENCOURT, 2007, p. 35).
Em razão disso, podemos afirmar que o fato de o ensino de História, ainda hoje,
ser pensado a partir da história do continente europeu, faz parte de um projeto
político que foi implementado no século XIX e continuado no século XX, em que
a identidade escolhida pelos grupos sociais dominantes para representar o povo
e, consequentemente, o Estado brasileiro, foi uma identidade coletiva baseada
nas sociedades e nas organizações sociais europeias.
Levando isso em consideração, eu lhe pergunto: se, no final do século XIX, pe-
ríodo em que o Brasil aboliu, oficialmente, a escravidão, a identidade designada para
definir a população brasileira foi a elite branca, como ficaram as populações negra
e indígena do país no que tange as políticas públicas e as benesses sociais de dever
do Estado? Como essas populações foram representadas no ensino de História?
Ao preferir o continente europeu e o considerar o epicentro sócio histórico e
cultural do mundo, importando um protótipo unilateral e enviesado para caracteri-
147
UNIDADE 5
148
UNICESUMAR
Figura 1- América Invertida (1943), obra do pintor uruguaio Joaquín Torres García, em exposição no
Museu Municipal de Belas Artes Juan Manuel Blanes, na cidade de Montevidéu, Uruguai
Fonte: Wikimedia Commons (1943, on-line).
Descrição da Imagem: a imagem apresenta uma obra ilustrada, à caneta e à tinta, do mapa da América
do Sul invertida, em outras palavras, “de cabeça para baixo”. O mapa desenhado apresenta apenas os
contornos do continente sulamericano, sendo cortado por uma linha, na parte inferior, que representa a
Linha do Equador e por outra linha, na parte superior, que representa o Trópico de Capricórnio. Na parte
inferior esquerda da Linha do Equador, sinalizada pelo escrito do nome do país em espanhol “Ecuador”,
encontra-se a assinatura do autor da obra, representada pelas siglas do seu nome JTG e o ano de 43.
Na parte inferior esquerda da linha do Trópico de Capricórnio, consta uma coordenada geográfica com
longitude S. 34º 41’ e latitude W 56º 9’, já acima da linha do lado esquerdo estão desenhadas caravelas
e, ainda, do lado direito inferior da mesma, encontra-se o desenho de um peixe nadando sob as ondas
do mar. Na parte superior da imagem, está desenhado o Sol e escrito “Polo S” do lado esquerdo, e a Lua
e seis estrelas do lado direito.
149
UNIDADE 5
Em todo o caso, o que verificamos é uma longa e assídua trajetória de lutas acam-
padas pelos diversos povos originários de nossa nação, representada, principal-
mente, pelos esforços de dar continuidade às suas culturas, às cosmologias e às
relações com a natureza, mesmo em meio a uma conjuntura de violências físicas
150
UNICESUMAR
151
UNIDADE 5
152
UNICESUMAR
Descrição da Imagem: a figura apresenta uma gravura de dois jesuítas catequizando um grupo de
indígenas, no interior de uma tapera feita de esteios de madeira. No canto esquerdo da imagem, vemos
um altar com uma cruz e um castiçal ao lado. Em frente ao altar, ajoelhado num tapete feito com o
couro de algum animal, há um padre jesuíta ajoelhado, segurando em suas mãos uma bíblia, ele veste
uma batina preta. Ao lado do primeiro padre, há um segundo posicionado em pé, vestindo uma batina
preta, um de seus braços está levantado e sua posição sugere uma conversa afirmativa com o grupo de
homens indígenas localizado à sua frente. Os indígenas vestem apenas tangas e seus adereços étnicos,
o que produz um contraste com a roupa longa vestida pelos jesuítas. Mais adiante, à direita na imagem,
posicionado em pé na porta de entrada da tapera, há outro homem indígena com uma lança em mão,
vestindo somente tanga e portando um colar em seu pescoço. No canto inferior esquerdo da imagem, é
possível verificar alguns objetos, como um baú, um sino e duas cumbucas, seguindo para o lado esquerdo,
há uma fogueira apagada.
PENSANDO JUNTOS
Caro(a) aluno(a), você sabia que o primeiro curso de nível superior do Brasil foi fundado
durante o Brasil Colônia, no ano de 1553, sob o comando da ordem religiosa jesuíta? O
curso de Teologia e Ciências Sagradas, voltado para a formação de sacerdotes católicos,
foi criado no Colégio dos Jesuítas, instituição localizada na Bahia. Este fato nos demonstra
como a educação brasileira está vinculada à colonização e aos seus diversos processos
em nossa sociedade.
153
UNIDADE 5
154
UNICESUMAR
surgiu como órgão oficial indigenista do Brasil durante o auge das políticas de
incorporação da população originária à ordem social brasileira. As premissas
assimilacionistas e o caráter tutelar do paradigma indigenista da época foram in-
ternalizados pelo modus operandi da instituição, a qual teve sua atuação baseada
em ações paternalistas e assistencialistas, conforme expôs Daniel Munduruku.
Apesar de sua incontestável importância para o fortalecimento do diálogo
entre o Estado brasileiro e as populações indígenas, a FUNAI manteve o caráter
integracionista de seu órgão antecessor, o SPI, perpetuando a crença na completa
assimilação das sociedades indígenas ao modo de vida ocidental moderno, repre-
sentando, por diversas vezes, os interesses dos latifundiários em detrimento da
defesa dos povos indígenas e de suas terras, o que, até os dias de hoje, tem provo-
cado protestos e manifestações por parte da população originária (vide Figura 3).
Descrição da Imagem: a fotografia apresenta dois indígenas anexando uma faixa de protesto a uma
parede de concreto. No canto esquerdo da imagem, está um homem indígena vestindo calça jeans e uma
regata na cor verde claro, o homem utiliza um cocar com penas nas cores branca e azul. Uma de suas
mãos segura um maracá, chocalho típico indígena, a outra mão segura a faixa junto à parede. No canto
direito da fotografia, vemos o segundo homem, também vestido com calça jeans e uma blusa vermelha,
ele está inclinado, colocando a faixa na parede. Na faixa, com fundo branco e letras vermelhas, é possível
ler parte da seguinte frase: “CPI da FUNAI/INCRA: ruralistas para ruralistas”.
155
UNIDADE 5
“
I - Isolados - Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que
se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais
com elementos da comunhão nacional;
156
UNICESUMAR
“
Art. 47. É assegurado o respeito ao patrimônio cultural das comuni-
dades indígenas, seus valores artísticos e meios de expressão.
Art. 51. A assistência aos menores, para fins educacionais, será pres-
tada, quanto possível, sem afastá-los do convívio familiar ou tribal.
Art. 54. Os índios têm direito aos meios de proteção à saúde facul-
tados à comunhão nacional.
157
UNIDADE 5
158
UNICESUMAR
159
UNIDADE 5
“
A recuperação do termo se daria no boio no Movimento Indígena
quando ele passa a ser usado para expressar uma nova categoria,
forjada agora pela prática de urna política indígena, a saber, elabo-
rada pelos povos indígenas e não mais pelos alienígenas, fossem
eles particulares (como as missões religiosas), ou governamentais
(como a Fundação Nacional do Índio - FUNAI) -: políticas essas
denominadas de indigenistas. Em oposição às políticas indigenistas
começavam a surgir esboços de políticas indígenas com grandes
possibilidades de, em algum momento, criarem objetivos e estraté-
gias comuns suscetíveis de estabelecerem uma única e globalizadora
política indígena (OLIVEIRA, 1988, p. 20).
160
UNICESUMAR
Por fim, tem-se o terceiro elemento, o projeto que, no caso das populações
indígenas, constitui-se por vias educativas, assegurando a continuidade
dos movimentos e das culturas protagonizados e construídos pelos povos
originários, por meio da salvaguarda da identidade e da articulação da
memória social.
161
UNIDADE 5
“
Essa possibilidade gerou o encantamento inicial, uma
vez que com ela seria possível adquirir e apropriar-se
dos conhecimentos tecnológicos e científicos para
ajudar a resolver os velhos e novos problemas da
vida nas aldeias, sem necessidade de abdicar-se de
suas tradições, valores e conhecimentos tradicionais,
antes perseguidos, negados e proibidos pela própria
escola (BRASIL, 2007, p. 6).
162
UNICESUMAR
EXPLORANDO IDEIAS
“Brasil: outros quinhentos”, você conhece esta expressão? Ela foi utilizada para nomear
uma importante ação protagonizada pelos movimentos sociais indígenas e negros. Tra-
ta-se da manifestação “Brasil, outros quinhentos: resistência indígena, negra e popular”,
realizada na cidade de Porto Seguro, Bahia, local em que atracou a primeira navegação
portuguesa nas terras pré-colombianas. A data de realização da manifestação também
foi simbólica: 22 de abril do ano de 2000, dia que marcou o aniversário de 500 anos da
invasão europeia no Brasil. Na ocasião, representantes de 200 povos indígenas estiveram
presentes, mas eles não eram os únicos, havia também pessoas negras, sindicalistas e de-
mais grupos pertencentes às camadas populares. O objetivo da mobilização? Manifestar
contra a narrativa histórica sobre o “descobrimento do Brasil”.
Fonte: Boson (2020, on-line).
Neste contexto, a questão indígena foi se tornando cada vez mais evidente e a luta
pelos direitos deste segmento foi adentrando esferas até então intangíveis, como
a agenda governamental por meio da criação de políticas públicas. Os anos 1990
marcaram esta nova roupagem do movimento indígena, tendo sido palco para
o surgimento de diversos projetos que visavam à consolidação das propostas
idealizadas durante a Constituinte de 1988. Muitos destes projetos abrangeram
o campo da educação, por exemplo, a formação de professores bilíngues para
atuarem dentro e fora das aldeias.
Após a virada do século, instaurou-se um novo patamar no país em relação
às reivindicações e às lutas por direitos das consideradas minorias raciais, repre-
sentadas, neste caso, principalmente pela população negra e indígena. Cumpre
salientar que os anos 2000 consagraram a ampliação do debate público sobre as
ações afirmativas, em especial na figura da política de cotas, por meio do pro-
tagonismo político dos movimentos sociais (SANTOS, 2020). Neste contexto,
diversas esferas da sociedade brasileira passaram a ser questionadas pela pers-
pectiva crítica dos sujeitos e coletivos engajados na luta antirracista, entre elas, a
educação e os currículos escolares.
O caráter eurocêntrico e unilateral do ensino, sobretudo, do ensino de Histó-
ria, tornou-se insuficiente mediante as novas abordagens intelectuais e educacio-
nais produzidas pelos povos negro e indígena. A ideia clássica de um currículo
fundamentado unicamente nos saberes e nos conhecimentos europeus, reduzido
às noções positivistas da ciência, foi sendo cada vez mais tensionado, conforme os
163
UNIDADE 5
164
UNICESUMAR
“
Se os povos indígenas empreendem
esforços para concretizar o diálogo in-
tercultural, nos levam a pensar que se a
proposta educacional é conviver e efe-
tuar trocas com as sociedades indíge-
nas, a escola terá que fazer um esforço
para conhecer esses povos, sua história
e sua cultura e, mais especialmente,
afirmar uma presença que supere a in-
visibilidade histórica que se estende até
o presente.
165
UNIDADE 5
NOVAS DESCOBERTAS
“
Colaborar e construir, com os sistemas de ensino, instituições, con-
selhos de educação, coordenações pedagógicas, gestores educacio-
166
UNICESUMAR
167
UNIDADE 5
“
Todavia, percebe-se que ainda persistem muitas incompreensões
em torno do que determina a Lei nº 11.645/2008 em seu componen-
te curricular referente à história e culturas indígenas, quando, por
exemplo, são desenvolvidas somente ações isoladas para a criação
e manutenção das escolas indígenas ou para a formação de seus
professores. Pode-se afirmar que, em determinados sistemas de
ensino, por exemplo, há programas e iniciativas que, baseados na
ideia geral de diversidade ou de respeito a ela, não apresentam ações
específicas para o tratamento da temática indígena nas escolas. Em
alguns casos, as ações realizadas nesse campo são feitas sem a devi-
da orientação antropológica, linguística ou histórica, provocando a
reprodução de estereótipos e preconceitos tradicionalmente utili-
zados contra os povos indígenas (BRASIL, 2015, p. 6).
168
UNICESUMAR
169
UNIDADE 5
cional designado à população nativa somente recebeu uma nova roupagem após
a consolidação dos movimentos sociais indígenas, sendo radicalmente transfor-
mado pelo protagonismo político dos sujeitos e das comunidades autóctones.
À guisa de conclusão, podemos compreender que as mudanças acerca do
ensino de História e, mais especificamente do ensino de História Indígena, refle-
tem os processos históricos da sociedade brasileira, os quais, aliados à luta por
direitos dos grupos minoritários, fundamentaram o surgimento de novas bases
educacionais e de ensino que, até aqui, têm orientado a educação brasileira por
um caminho mais inclusivo e democrático no que se refere à diversidade cultural
e à pluralidade étnico-racial de nosso país.
No início de 2023, os meios de comunicação repercutiram fortes imagens da
crise humanitária vivenciada pelo povo Yanomami, grupo indígena com cerca de
35 mil integrantes distribuídos entre aldeias localizadas nos estados de Roraima e
Amazonas. Afetados por anos de negligência estatal, somada à expansiva ascen-
são do garimpo ilegal em seus territórios, os Yanomami tornaram-se vítimas da
fome, da violência e da incidência de doenças para as quais já existem tratamentos
e vacinas, como a malária e até mesmo a diarreia.
Assolados pelo descaso governamental e pela falta de acesso aos seus direi-
tos básicos, os indígenas desta etnia viram, ao longo de quatro anos, 570 de suas
crianças perderem a vida por causas facilmente evitáveis, como a desnutrição
e a contaminação por mercúrio, devido à invasão dos garimpeiros sobre os
rios e as terras de suas aldeias. Considerado um caso de calamidade pública e,
por alguns estudiosos, um exemplo de etnocídio, o triste retrato da realidade
Yanomami revela parte da história brasileira que, durante muito tempo, prefe-
rimos não ver, isto é, os efeitos das políticas de extermínio sobre a população
indígena nos dias atuais.
Em contrapartida, o ano de 2023 foi palco de um significativo avanço para os
povos originários: pela primeira vez na história da sociedade brasileira, o Poder
Executivo criou uma pasta destinada, exclusivamente, à garantia dos direitos
170
UNICESUMAR
171
Acadêmico(a), com base nas informações apresentadas ao longo da unidade, res-
ponda às questões a seguir.
BRASIL. Parecer CNE/CEB nº: 14/2015. Brasília, DF: Câmara de Educação Básica,
2015. Disponível em: encurtador.com.br/abzQY . Acesso em: 1 fev. 2023.
172
2. O ensino escolar indígena se justifica pelo motivo principal que é a oportunidade de
a comunidade construir sua própria escola, com a participação efetiva dos próprios
alunos, quase todos jovens e adultos, e da comunidade como um todo. É importante
considerar, também, o papel dos professores neste processo de mudança, porque
são eles, juntamente com os pais, os principais envolvidos nesta busca de concretizar
uma escola norteada pelas pedagogias indígenas, numa relação direta do ensino com
os projetos de cada sociedade.
I - A educação escolar indígena deve limitar-se somente ao âmbito das aldeias, não
se estendendo aos estabelecimentos de ensino convencionais.
II - A relação horizontal entre os interesses das comunidades e os métodos de en-
sino ocidentais é uma das formas de atuação da educação escolar indígena.
III - A necessidade da educação escolar nas aldeias relaciona-se com a capacidade
parcial dos povos indígenas em relação ao exercício de sua cidadania.
IV - O ensino escolar indígena distingue-se das perspectivas educacionais anteriores,
pois reconhece a autonomia das organizações sociais originárias.
É correto o que afirma em:
a) I, apenas.
b) II e IV.
c) III e IV.
d) I, II e III.
e) I, II, III e IV.
173
3. O protagonismo indígena começa a se manifestar com maior intensidade a partir das
Assembleias Indígenas apoiadas pelo Cimi, que, na década de 1970, pela primeira vez,
reuniram lideranças de diferentes povos de Norte a Sul do país. Nessas Assembleias,
os povos indígenas colocaram, definitivamente, na pauta a retomada e a garantia de
suas terras como condição para combater a violência de que eram vítimas e para
assegurar o seu futuro. Desde então, aconteceram significativos avanços conseguidos
por meio da articulação, da organização e da mobilização.
Após a década de 1970, a unificação das lutas e das reivindicações indígenas no Brasil
reverberou no surgimento do movimento indígena cujo principal objetivo foi a imple-
mentação da resistência passiva em contraposição à atuação combativa empregada
pelos povos originários nas décadas anteriores.
PORQUE
174
UNIDADE 1
BRY, T. de. America tertia partis (Frankfurt, 1592). Oculum Ensaios, Campinas, n. 13, p.132-152,
jan./jun. 2011.
CUNHA, M. C. da. Imagens de índios do Brasil: o século XVI. In: Pizarro, A. (org.). América Lati-
na: palavras, literatura e cultura. São Paulo: Memorial da América Latina; Campinas: Ed. Uni-
camp, 1993.
DEBRET, J.-B. Voyage Pittoresque au Brésil. Volume 1. Paris: Firmin Didot Frères, 1834. Dispo-
nível em: https://digital.bbm.usp.br/handle/bbm/3813. Acesso em: 19 jan. 2023.
FARAGE, N. As muralhas dos Sertões: os povos indígenas no Rio Branco e a colonização. Rio
de Janeiro: Paz e Terra, ANPOCS, 1991.
HEMMING, J. Red Gold: the conquest of the brazilian indians. London: Macmillan, 1978.
HOORNAERT, E. et al. História da igreja no Brasil: primeira época. Petrópolis: Vozes, 1979.
IBGE. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. Disponível em: https://bi-
blioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf. Acesso em: 19 jan. 2023.
VAINFAS, R. História Indígena: 500 anos de despovoamento. In: INSTITUTO BRASILEIRO DE GEO-
GRAFIA E ESTATÍSTICA. Brasil: 500 anos de povoamento. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. Disponível
em: https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/livros/liv6687.pdf. Acesso em: 19 jan. 2023.
WIKIMEDIA COMMONS. Brazil. Rio de Janeiro. 2013. 1 fotografia. Disponível em: https://com-
mons.wikimedia.org/wiki/File:20130825_Brazil_Rio_de_Janeiro_0178.jpg. Acesso em: 19 jan.
2023.
175
WIKIMEDIA COMMONS. Pintura sobre a primeira missa no Brasil. 2020. 1 pintura. Disponível
em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Pintura_sobre_a_primeira_missa_no_Brasil.jpg.
Acesso em: 19 jan. 2023.
UNIDADE 2
AZANHA, G.; VALADÃO, V. M. Senhores destas terras: os povos indígenas no Brasil: da colônia
aos nossos dias. São Paulo: Atual, 1991.
BONIN, I. T.; KIRCHOF, E. R. Entre o bom selvagem e o canibal: representações de índio na lite-
ratura infantil brasileira em meados do século XX. Práxis Educativa, v. 7, número especial, p.
221-238, dez. 2012.
BRASIL. Decreto nº 8.072, de 20 de junho de 1910. Cria o Serviço de Proteção aos Índios e
Localização de Trabalhadores Nacionais e aprova o respectivo regulamento. Rio de Janeiro,
20 de junho de 1910. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1910-1929/
D8072impressao.htm. Acesso em: 19 jan. 2023.
CANCIAN, R. Auguste Comte revisitado: positivismo, teoria sociológica e intervenção social. Re-
vista Sem Aspas, v. 10, n. 0, p. 1-16, jan./dez. 2021.
FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Juventude no Estado Novo: textos do Presidente Getúlio Vargas,
extraídos de discursos, manifestos e entrevistas a imprensa, A. (S. l.): DIP, 1937. Disponível em:
https://www.fgv.br/cpdoc/exposicao-virtual/dip/juventude-estado-novo/16-17/. Acesso em: 19
jan. 2023.
GARFIELD, S. As raízes de uma planta que hoje é o Brasil: os índios e o Estado-Nação na era
Vargas. Revista Brasileira de História, v. 20, n. 39, p. 15-42, 2000.
176
HOFBAUER, A. Uma história de branqueamento ou o negro em questão. São Paulo: Editora
UNESP, 2006.
KRENAK, A. Ideias para adiar o fim do mundo. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2020.
KOPENAWA, D.; ALBERT, B. A queda do céu. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.
MARTIR, J.; CALVO, N. C. D. A formação da identidade social brasileira a partir das construções
ideológicas nacionais da Primeira República: análise e reflexão na Nova História Cultural. Re-
vista História em Curso, Belo Horizonte, jun. 2021, p. 86-99.
STEPAN, N. L. Eugenia no Brasil, 1917-1940. In: HOCHMAN, G.; ARMUS, D. (org.). Cuidar, con-
trolar, curar: ensaios históricos sobre saúde e doença na América Latina e Caribe. Rio de
Janeiro: Editora FIOCRUZ, 2004.
WIKIMEDIA COMMONS. Índios isolados no Acre em 2008. 2008. 1 fotografia. Disponível em: ht-
tps://commons.wikimedia.org/wiki/File:%C3%8Dndios_isolados_no_Acre_em_2008.jpg. Acesso
em: 19 jan. 2023.
177
WIKIMEDIA COMMONS. Dia 3 - Acampamento Terra Livre - 26 04 2019 - Brasília (DF). 2019. 1 fo-
tografia. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Dia_3_-_Acampamento_Ter-
ra_Livre_-_26_04_2019_-_Bras%C3%ADlia_(DF)_%C2%A9_Christian_Braga_MNI_(47796964221).
jpg. Acesso em: 19 jan. 2023.
UNIDADE 3
BARTH, F. Grupos étnicos e suas fronteiras. In: POUTIGNAT, P.; STREIFF-FENART, J. Teorias da
etnicidade. São Paulo: Fundação Editora da Unesp, 1998, p. 187-227.
CORRAINI, S. R. A construção política e social Tupi Guarani: Uma visão sobre os povos Tupi
Guarani ao longo da História, seus enredos cosmológicos, diferenças e posições entre os sub-
grupos. 2017. 127 f. Dissertação (Mestrado em Ciências Sociais) – Universidade Paulista Julio de
Mesquita Filho, Araraquara, 2017.
178
MUNANGA, K. Uma abordagem conceitual das noções de raça, racismo, identidade e etnia.
In: SEMINÁRIO NACIONAL RELAÇÕES RACIAIS E EDUCAÇÃO, 3., 2003, Rio de Janeiro. Anais [...].
PENESB, 2003, Rio de Janeiro.
NAVARRO, E. A.; ÁVILA, M. T.; TREVISAN, R. G. O Nheengatu entre a vida e a morte: a tradução
literária como possível instrumento de sua revitalização lexical. Revista Letras Raras, v. 6, n.
2, p. 9-29, 2017.
OLIVEIRA, R. C. de. Identidade, etnia e estrutura social. São Paulo: Pioneira Editora, 1976.
SILVA, T. T. da. A produção social da identidade e da diferença. In: SILVA, T. T. da (org.). Identi-
dade e diferença: a perspectiva dos estudos culturais. Petrópolis: Vozes, 2003.
UNIDADE 4
ALESP. Lei nº 28, de 29 de março de 1884. Manda executar o decreto da assembleia legislativa
provincial, que houve por bem sancionar, autorizando o governo a auxiliar os imigrantes da
Europa e Ilhas dos Açores e Canárias, que se estabelecerem nesta província e a criar até cinco
núcleos coloniais, e a abrir os créditos precisos para este serviço. São Paulo: secretaria do
governo da província de S. Paulo, 1884. Disponível em: https://www.al.sp.gov.br/repositorio/
legislacao/lei/1884/lei-28-29.03.1884.html. Acesso em: 1 fev. 2023.
179
BRASIL. Lei nº 12.711, de 29 de agosto de 2012. Dispõe sobre o ingresso nas universidades
federais e nas instituições federais de ensino técnico de nível médio e dá outras providên-
cias. Brasília: D. O. U., 2012. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2012/lei/l12711.htm. Acesso em: 1 fev. 2023.
BRASIL. Logo oficial da Funai - PNG. Funai, 18 ago. 2022. Disponível em: https://www.gov.br/
funai/pt-br/centrais-de-conteudo/copy_of_material-grafico/logo-png.png/view. Acesso em: 1
fev. 2023.
CUNHA, M. C. da. Legislação Indigenista no século XIX. São Paulo: Edusp, Comissão Pró-Índio
de São Paulo, 1992.
IBGE. Censo Demográfico 2010. Características gerais dos indígenas. Resultados do universo.
Rio de Janeiro: IBGE, 2012.
NEVES, L. J. de O. Olhos Mágicos do Sul (do Sul): lutas contra-hegemônicas dos povos indígenas
no Brasil. In: SANTOS, B. Sousa (org.). Reconhecer para libertar: os caminhos do cosmopoli-
TIsmo multicultural. Porto: Edições Afrontamentos, 2004.
ONU. Declaração das Nações Unidas sobre os Direitos dos Povos Indígenas. Rio de Janei-
ro: UNIC Rio, 2008. Disponível em: https://www.acnur.org/fileadmin/Documentos/portugues/
BDL/Declaracao_das_Nacoes_Unidas_sobre_os_Direitos_dos_Povos_Indigenas.pdf. Acesso em:
1 fev. 2023.
SILVA, C. L. da. Os Xetá. Cadernos Temáticos. Educação Escolar Indígena. Curitiba: SEED, 2006.
SILVÉRIO, V. R. Ação Afirmativa: uma política pública que faz diferença. In: PACHECO, J. Q.;
SILVA, M. N. da (orgs.). O negro na universidade: o direito à inclusão. Brasília, DF: Fundação
Cultural Palmares, 2007.
SOUZA FILHO, C. F. M. de. O renascer dos povos indígenas para o direito. Curitiba: Juruá,
2010.
180
WIKIMEDIA COMMONS. CDH - Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa.
2017. 1 fotografia. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:CDH_-_Comiss%-
C3%A3o_de_Direitos_Humanos_e_Legisla%C3%A7%C3%A3o_Participativa_(33431873430).jpg.
Acesso em: 1 jan. 2023.
UNIDADE 5
BITTENCOURT, C. Identidades e ensino de História no Brasil. In: CARRETERO, M.; ROSA, A.;
GONZÁLEZ, M. F. (orgs.). Ensino de História e Memória Coletiva. São Paulo: ARTMED, 2007.
BRASIL. Lei nº 6.001, de 19 de dezembro de 1973. Dispõe sobre o Estatuto do Índio. Brasília,
DF: Congresso Nacional, 1973. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6001.
htm. Acesso em: 3 fev. 2023.
GAMA, E. L. da. Lei nº 10.639/03 e as disputas de memória no ensino de História escolar. In:
PRIORI, A.; SILVA, A. L. da; BOLONHEZI, C. S. S. (org.). Ensino de História, diversidade e Edu-
cação antirracista. Curitiba: Brazil Publishing, 2020.
BOSON, V. H. C. Brasil, outros 500: a Marcha dos 2000 vinte anos depois. Le Monde Diploma-
181
tique Brasil, 16 jul. 2020. Disponível em: https://diplomatique.org.br/brasil-outros-500-a-mar-
cha-dos-2000-vinte-anos-depois/. Acesso em: 3 fev. 2023.
SHIGUNOV NETO, A.; MACIEL, L. S. B. O ensino jesuítico no período colonial brasileiro: algumas
discussões. Educar em Revista, n. 31, p. 169-189, 2008.
WIKIMEDIA COMMONS. Joaquín Torres García - América Invertida. 1943. 1 figura. Disponível
em: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Joaqu%C3%ADn_Torres_Garc%C3%ADa_-_
Am%C3%A9rica_Invertida.jpg. Acesso em: 9 fev. 2023.
182
UNIDADE 1
3. Espera-se que o/a estudante traga argumentos coerentes e coesos com a discussão
realizada na unidade, entre eles: a presença indígena no continente americano, há
milhares de anos; a pré-História indígena a partir da ocupação do território do Brasil,
há mais de 12 mil anos por populações paleoíndias; a problematização do apagamento
e invisibilização que os indígenas sofreram na construção das narrativas históricas a
respeito do Brasil; o papel dos próprios estudantes na desmistificação deste pensa-
mento na sua atuação profissional e na sua vida pessoal; a tratativa dessa questão
nos documentos norteadores da disciplina de História na Educação Básica; resultados
e conclusões das entrevistas que eles fizeram com familiares e amigos; a produção
historiográfica eurocêntrica, que exclui a participação e o agenciamento da população
indígena na História do Brasil. Vale ressaltar que a utilização de referências utilizadas na
unidade ou outras da preferência estudantil tornam o texto mais rico e fundamentado,
teoricamente, logo, apesar de não ser algo obrigatório, é recomendado e valorizado o
uso de referências, seja para legitimar a narrativa construída, ou para problematizar
autores que perpetuam uma visão eurocêntrica e excludente.
183
UNIDADE 2
2. A segunda questão é discursiva e demanda que o(a) estudante discorra sobre o concei-
to de nacionalismo, associando-o ao tema principal desta unidade, isto é, a presença
indígena na formação do Brasil. Em sua resposta, ele deverá elaborar, portanto, uma
reflexão acerca da ideologia nacionalista e sua consolidação na sociedade brasileira,
bem como os efeitos desta no que tange a história e a cultura da população originá-
ria. Espera-se que o(a) aluno(a) construa seus argumentos com base nos conteúdos
explorados durante a unidade, trazendo sua interpretação sobre as análises aqui
elucidadas. Deve-se apresentar, obrigatoriamente, ao menos, uma referência teórica
que pode ser uma das abordadas na unidade ou algum outro texto ou livro que o
estudante achar adequado. A resposta deve manter-se dentro da temática proposta,
sem fugir do objetivo estipulado na questão e respeitando o limite de quinze páginas.
UNIDADE 3
184
2. C. O nheengatu, de fato, tem sido utilizado como instrumento de resgate e preser-
vação da identidade e cultura indígenas, sobretudo, por aqueles povos que tiveram
sua língua nativa extinta, configurando-se, assim, como forma de resistência indígena,
conforme indicado ao longo da unidade. Contudo este movimento ocorre, devido
aos ataques cometidos, desde o período colonial, contra as populações e as culturas
indígenas, o que resultou tanto no extermínio físico quanto na dizimação cultural dos
povos nativos do Brasil. Por isso, a asserção II não se enquadra como verdadeira nem
como justificativa correta da asserção I.
UNIDADE 4
1. E. Durante o período colonial, as políticas indigenistas eram regidas pelas leis da me-
trópole lusitana, sendo exemplos disso as Ordenações Manuelinas e Filipinas, e foi
somente no decorrer do século XVII que Portugal elaborou um documento específico
que tratasse da questão indígena no Brasil, o Diretório dos Índios, implementado pela
Lei de 1755, conhecido, também, como Diretório Pombalino.
2. D. De acordo com Cunha (1992), o século XIX é caracterizado por um verdadeiro “vazio
legislativo” em relação à questão indígena, sendo que o único documento indigenista
geral do Império é o Regulamento das Missões e Catequese e Civilização dos Índios,
de 1845. Logo depois, em 1850, tem-se a Lei 601, que tratava, estritamente, os ter-
ritórios indígenas, servindo para expropriar e expulsar as aldeias e as comunidades
indígenas de suas terras.
3. Espera-se que o/a estudante traga argumentos coerentes com a discussão realizada
na unidade, fazendo um compilado das políticas indigenistas de todas as Constitui-
ções da República, desde a primeira de 1891, passando pelas de 1934, 1937, 1946
e 1967, finalizando na atual de 1988. É importante que o/a estudante dê atenção
especial à Constituição Federal de 1988, evidenciando a atuação política direta dos
movimentos sociais, as organizações e as lideranças indígenas na elaboração dela,
que traz políticas indígenas construídas pela própria população originária. Vale res-
185
saltar que a utilização de referências utilizadas na unidade ou outras da preferência
estudantil tornam o texto mais rico e fundamentado, teoricamente. Logo, apesar de
não ser algo obrigatório, é recomendado e valorizado o uso de referências, seja para
legitimar a narrativa construída seja para problematizar autores que perpetuam uma
visão eurocêntrica e excludente.
UNIDADE 5
186