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Raça e racismo no

Brasil
Marcadores sociais da diferença

Profª Luiza Hortelan


Sociologia
O que torna as
pessoas diferentes
umas das outras?

E quando essas
diferenças são
desigualdade??
Marcadores, ou marcas, sociais
da diferença são:categorias que
diferenciam e classificam os seres
humanos e que só existem nas
relações sociais.
Exemplos: raça, etnia, gênero, classe social etc.
Muitas vezes, os marcadores de
diferença aparecem para nós como
se fossem naturais, por isso é
importante perceber como são
socialmente construídos.

Desnaturalizar as diferenças
= combater desigualdades
Diferença racial

É possível falar em raças humanas?


Raça no sentido biológico

Raça = na Biologia, grupos de indivíduos distintos no interior de uma


espécie (por exemplo, raças caninas).
Eugenia, ou “racismo científico”
- A partir do séc. XV, com a colonização, os europeu passam a ter contato com a
imensa diversidade de povos que habitavam a terra. E passam a tentar explicar
essa diversidade.
- Ideia da superioridade racial branca, que os europeus buscaram afirmar
cientificamente, através de uma série de estudos sobre esses outros povos.
- Ideia de Raça surge para definir os grupos humanos, como se eles fossem dotados
de características físicas e intelectuais diferentes, geneticamente herdadas e que
definiriam suas capacidades.
- Eugenia: doutrina científica que pregava o melhoramento racial, a busca pelo
aperfeiçoamento da espécie humana pela reprodução de indivíduos com
características desejáveis.
Ilustração do livro
“Tipos de
humanidade”, de
1845.
Humanidade = raça humana
“Raças Humanas?”: Hoje, com o desenvolvimento da genética, sabe-se que as
diferenças entre os grupos humanos variam de 5% entre populações oriundas do mesmo
continente a 15% entre populações de continentes diferentes. Isso significa que, na
prática, 85% da diversidade genética humana permanece no interior das
populações, fato que não se observa em quase nenhuma outra espécie de mamífero do
planeta. Em outras palavras, não existem grupos humanos geneticamente tão
diferenciados a ponto de se afirmar que existam raças humanas.
Raça no sentido sociológico
- Raça como construção social: como qualquer outro
marcador social de diferença, a raça depende sempre do
contexto social, das relações e do tempo histórico onde
se insere, para ganhar significado.
- Racialização: processo social pelo qual uma pessoa é
classificada como pertencente a determinado grupo
racial, a partir de seus atributos físicos (fenótipo).
Resumindo...
Uma “raça” é uma categoria de pessoas cujas marcas físicas (quer sejam: formato
dos olhos, textura do cabelo, cor da pele etc.) são consideradas socialmente
significativas num dado contexto social e tempo histórico. Essas marcas são
utilizadas pela sociedade para agrupar indivíduos dentro de determinados rótulos,
categorias raciais. Assim, embora não indicam diferenças biológicas, elas se
transformam em diferenças sociais relevantes e, muitas vezes, se tornam
preconceitos, estereótipos e desigualdades.
Raça x Etnia

Já quando falamos em etnia, estamos nos referindo a marcas culturais.


Um grupo étnico é composto de pessoas cujas marcas culturais
percebidas são consideradas significativas socialmente. Os grupos
étnicos se identificam por um conjunto de características culturais
partilhadas, como a língua, religião, costumes, valores e ancestralidade.
Diferenças étnico-raciais

Há ainda um entendimento de que etnia seria uma forma mais


adequada do que raça para se referir às diferenças de identidade,
pois a noção de raça ainda enfatizaria supostas diferenças
biológicas.
É muito comum ainda o uso do termo étnico-racial, como um
modo de afirmar a desnaturalização das diferenças e reconhecer o
valor positivo da diversidade.
Existe racismo no
Brasil?
Pesquisa do Instituto Locomotiva, 2020
Eugenismo no Brasil
- 1872: 58% da população brasileira se
declarava preta ou parda e 4%
indígena.
- Após a abolição da escravidão (1888),
muitos médicos e políticos, seguidores
do eugenismo defendiam um
branqueamento da população
brasileira.
- Políticas de favorecimento da
imigração de europeus e asiáticos para
o Brasil.
A redenção de Cam, 1895.
O mito da democracia racial

- Casa Grande & Senzala (1933, Gilberto Freyre)


- Se opõe ao eugenismo e ao determinismo racial
- Valoriza a miscigenação como sendo um traço positivo da formação do
povo brasileiro
- O Brasil teria se formado da mistura de 3 “raças”: indígenas, europeus e
africanos, sendo que cada um destes povos nos deixou uma herança
cultural
- Resgata a presença africana na nossa cultura como algo positivo e
fundamental para nossa sociedade: língua, música, religião, culinária
etc.
Gilberto Freyre, antropólogo e historiador.
O mito da democracia racial

- Ao afirmar o caráter positivo da miscigenação, Freyre


retrata as relações coloniais como sendo relações
pacíficas.
- A integração cultural e racial seriam provas dessa
harmonia entre as raças
- Ao contrário de países como os Estados Unidos, onde
houve segregação e violência racial explícita, não
existiria racismo no Brasil.
- Romantização do conflito racial.
Raça no Brasil, segundo o IBGE:
Desigualdade Racial no Brasil
“O racismo no Brasil é um
racismo que tem vergonha
de si mesmo” Lélia
Gonzaléz.
Racismo à brasileira

A partir dos anos 1940, diversas pesquisas, autores e


movimentos políticos irão contestar a tese da democracia
racial, demonstrando como a desigualdade, sobretudo entre
brancos e negros, se manteve no Brasil ao longo do século
XX.
Diversos autores buscaram pensar as especificidades do
racismo no nosso Brasil.
A antropóloga Lélia Gonzaléz (1933 - 1994)
- Sistema de dominação social
O que é Racismo? - Presente em todos os níveis do
pensamento
Uma definição de Lélia - Parte de todas as instituições da
Gonzaléz
sociedade
- “hierarquia racial e cultural
que opõe a ‘superioridade’
branca ocidental à
‘inferioridade’ negroafricana.”
Vamos pensar: como a cultura
branca-européia marca nossa
visão de mundo? Exemplos:
padrão de beleza, gostos estéticos
e musicais, o que é religião e o
que é folclore, o que é superstição
e o que é ciência.
Racismo aberto x disfarçado

Racismo aberto: é mais comum nas sociedades de colonização


anglo-saxônica, como nos Estados Unidos. Ele tem relação com o racismo de
sangue ou origem, que considera a ascendência familiar e genética como base
para identificação racial.
Por exemplo: só é considerado branco uma pessoa que tenha os lados paterno e materno da
família descendente de europeus.
Racismo aberto x disfarçado

O racismo aberto é uma forma mais explícita de segregação e discriminação.


Em países como os Estados Unidos e Àfrica do Sul se menifestaram em
políticas como o Apartheid, ou seja, leis de segregação racial que proibiam
inclusive a miscinegação.
Racismo aberto x disfarçado

Racismo disfarçado: em países como Brasil e outros países da América


Latina, o racismo seria disfarçado, isto é, essas sociedades buscam omitir a
violência racial, e o racismo age de forma não-explícita.
Aqui, “prevalecem as ‘teorias’ da miscigenação, da assimilação e da
‘democracia racial’”.
Racismo aberto x disfarçado

O disfarce cotidiano dificultou a criação de uma “consciência objetiva desse


racismo” e, por consequência, o combate a ele. Silenciado e camuflado no mito
da democracia racial, o racismo continuou existindo e se aprofundando em
nosso país de forma estrutural.
Para Lélia Gonzaléz, combater o racismo significa afirmar e valorizar o legado
cultural que os povos africanos nos deixaram de herança e desnaturalizar e
denunciar a desigualdade entre brancos, negros e indígenas em nosso país.

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