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Resposta:
Há alguns anos, a IBM, por meio de uma carta aos membros do Congresso dos
Estados Unidos, comunicou que estava abandonando o desenvolvimento de tecnologias
de reconhecimento facial de uso geral, em razão do seu elevado potencial de vigilância
em massa, violações dos direitos humanos e discriminação racial. Por certo os protestos
nas semanas anteriores elevaram a preocupação pelo uso político desses sistemas.
Segundo Arvind Krishna, CEO da IBM, as empresas devem reconsiderar a
venda de tais tecnologias para a aplicação da lei, pelos perigos que em mãos e intenções
erradas podem gerar. A comercialização dessa tecnologia quase nada representa dentro
do balanço da IBM, mas para empresas como Microsoft e Amazon já é bastante
significativo.
No dia seguinte, Timnit Gebru um dos líderes da equipe de ética em IA do
Google, afirmou em uma entrevista ao New York Times que o uso de tecnologias de
reconhecimento facial pela aplicação da lei ou segurança deve ser banido hoje, e que ele
não estava ciente de como o problema evoluiria no futuro. A Amazon anunciou também
uma moratória de um ano sobre o uso pela polícia de sua tecnologia de reconhecimento
1Um viés é uma forma tendenciosa de pensar, isto é, em peso desproporcional contra ou a favor de um
determinado grupo de pessoas, cultura ou ação, que pode ser considerado, muitas vezes, injusto devido ao
tratamento desigual.
facial, a polêmica e controvertida Rekognition, com o propósito de aperfeiçoá-la, e mais
do que isso possibilitar que os governos possam avançar na regulamentação e na
proteção das pessoas dentro de padrões éticos.
O uso do reconhecimento facial da tecnologia para outras finalidades, como
evitar o tráfico de pessoas ou reunir crianças desaparecidas com suas famílias, e ou
identificação para operações bancárias, assinaturas digitais é interessante, porém a
Amazon deixará de oferecê-la temporariamente à polícia. Essa sequência de gestos de
grandes players do mercado levou a Microsoft de Bill Gates a mesma decisão.
Em que pese a maturidade já apresentada dessa tecnologia, o reconhecimento
facial enfrenta um dilema fundamental, pois por mais aperfeiçoada que esteja, não é
suficiente para um uso discriminatório dela ou a perseguição de pessoas por atos e
gestos políticos em governos pouco democráticos.
Suas inúmeras formas de uso na esfera privada, podem e devem proporcionar
conforto e facilidades aos seus usuários, tais como desbloquear dispositivos ou acesso a
determinados espaços. Mas na esfera pública, pode ser, e de fato está sendo utilizado em
muitos casos para o monitoramento e controle da população, de forma ultrajante para
alguns usos, tudo feito sem quase nenhuma participação dos legisladores que pouco
entendem ou acompanham o uso indiscriminado dessas novas tecnologias.
Em resumo, a utilização ética do sistema de reconhecimento facial na segurança
pública envolve a transparência, a precisão, a não discriminação e o respeito aos direitos
individuais. É fundamental que essa tecnologia seja utilizada de forma consciente,
visando contribuir para o enfrentamento da violência e criminalidade, sem abrir mão
dos princípios morais que regem a nossa sociedade.
Referências: