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DEDALUS -Acervo - FFLCH-fll

O neg,o no mundo dos tr.,nccs.

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I I ORl~TA.'I F.f.R.,.-'\NDES
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CORPO E AL1.v1.A. <li

O NEGRO
DO BRi\SIL NO :\!JU~Dü
DOS BR:\.NCOS
D'.ro;io elo
Prof. fcr.:wlcloHenriqcc úrdoso

·-i

XXXVI D1r:.:sio Eu20PÉJA DO ln...o


No-,=1,m de 1972 Rua Den:oPrc.'IM,362 - 6.•
Ruz M•rqu&. ck Im, ,9
S.io P.4.ULO

I
INTROD"GÇÃO

Este li\'ro rc,,nc v:írios escritos, publicade>sem períodos cli:e-


r.m1r• 1\ 111Jlo1üfoi rodi,lida recentemente (c::nrre1965 e 1969).
Jl.o ,•11iun10,.,l,{un, furnm clJ11X)t'3dos cm époc11mais distante ( em
19~2 e 191; 011 cm 19SI e 1958). O tema central e dominante
ronsi<1,•,crnpr<' n, ÍJllnçiío dQ nqro e do mulato na soc:Made
b_.[lhikin,v1"• J ,e:1rtirde São PauI<j/'Esta <:idadeé mais tipi-
ramcnt(· bra,i!cír,1 <lo que parece, no sentido do que foi tradi-
cio1111!ou, llO oposto, do que <E moderno, ofere=do um bo,;_:n
c:unpo paro o ests:do co padrão lm,sileiro de relações raciaisa:,
C'--omose-pode vec, atmvés do, livros de A- Taunay, H. (!e Freitas,
A. Ellis Jr., R. :\forse, E. sn~-a Bruno, G. Leite de Barros e
tantos outros, a é s ·cve um lon;:o ssado de 1ricl•trrufit'.onal,.
da qualdespertog paraurh:mizl!"•!~i!l '.1Strinlizar-se_ra12._:d:YJ!en!$
_,e::f.~ar~ar.;-àse;•:,,;co=:i;";;·e~n==,ez=.:=;:..,;º~':::ll:i--:a'l:'
c:=e;:rr;-:ó~ru:'le"-::tet;::n:.:;ts.~ru::."f:lar
/Por isso,
n.. a epammos coe as ª-!t-~<eJlsoes, ~e arti~n .-r - as e:q,e-
riências e contatos ra::ipis_..s.eja
ao tronco ,OIJllUllctQ regio:e esçra-
y~çrats. e senbõti!!b }eia iis tt~nsfp~~es Pl~IIDR.'4Ld:\_
"sociedade com~eti<iva" e da "<:i1,;liz.~o industrial" .::o Brssq)
-:J?or es53 razão, quando p!anej:lll:os nossa investi~ção, o
Profe~r Rogcr Bastide e eu demos grande 11te:1çãoaos dois
focos11Yiscose ligados como :cndênc:fosque c:hc:goma tor:::ar-se
co11comits.nks,em u□ processo contínuo - e não como po!o;
extremos e c-sta11qc."Csde um suposto gr.;dieni sóc::o-ccltur.al,si-
tuacl.ofoca e acima do teapo e áo espaço, conx, é de ~llil de
u1;1as~fologia descritiv:t, que teve a sua ,·oga no Br:i~ 11'~-
j bcm nao temamos o--pl.icaro presente ;,elo pasSl!do,o qüe seria
irreal numa sodeda~-e de classe; em forrna.,"iioe eru dpidn exp<1n-
são. Porém, combinamos a anilise s:na:ô::ica à análls;; diacrônica,
num.modelo q1:a,edialét:co de ~9:cé..~_per~-p,."Ctiv11 hístór!<:aCOIU
1 " per,pc·c-1-ivac,si:mtural-fu.,cior· ,l!:,tJ. ro!lscqüêocfa, o passado
e o prc-sentefora'll reconstrnídos conj11013111cnte e irue!ligados oos
pú:itos d:.,junção-..~ qL-ea s,:,cieda<le de classes cn,crgerite hn-

7
\JV \\Ul! , ... ,~. \O
. . .
Jnlcrior s1sccma at: OJStaS C CStalllCDtoS ou
emp1ricru e teóricos J.~pesquÍ3a feita em Silo Paulo, t'Om Rugc:r
rn,, •111.11• 111n<ln11i1,.ção não possufa baswue força para cxptu:- Bastide. Emhora e., tetiha snpleme<>tadoa pcsqu:sa posterior-
1
••• , d ,füi 10s, p:idrões de C001[,urta:nen10 e funções sociais
mente, cnlhendo mais matcr:al de ca:ii.,o e dan_domaior a1er_ição
1111tl1d1 1uHzodas, m~'ltsou m~~os arcaicoiJ' A'SSia11, tornou-se
às c-oloçõesôe iom;tis do "meio ney,ro·• ou às tone~ estalÍsuc.1s,
H ,tvc I cun,prce::der 001:10 o preeonccito e a discrim.i.nação ra-
o fulcro das que~tões dc:h:uidas acha-se no proi~ro iniehil da
i.,!a, no 1n-O<losegando " q,:el se man:fesrnm no Tlcasil, se ex- úwcstigaçiio.
,1,,•nmdiferentcrneme, ,eg.:n:io ~e coo;idere a organfaação do
, ic,fadc sénhor.al e escravocrata; os efeitos da lentidão coro
Os seis prin,eirus n:ahe.lhose o último capítulo p=lem-!>e
diretamente2_temáti~ _d~~~ proj:to, erobor{Ã n!l11rc:za~o
,roenegros e mulatos for.aro incorporados ao sisrema ele classes;
<111o~ complexos de ,..._!ores,aúrudes e orientações de comporta-
nmao vi.J,::ulacos aos estilos de vid~ dos diversos segmentos
! "'prcblc:maroc1sl b.rasilenQCJR consrder:!da de um:i zonna mais
livre, direc~ e ahitr~ta, cm vixrude elos tipos éc público a que se
sociais º" dos ,,&rios gn1;,os étnicos e raciais, m.ús ou mepos dcstinavMMks com~ o.ma conlribuiçã'? nova_e~ d?is pontos.
determinados POr sitwções de classes, consolidadas ou n'5o.L-A Prime.iro, porque focalizam a nossa peculiar res.1stcnc1a ao reço-
:nie.oção foi Hg,ir a desims:gmão do sistema de castas e ~til.· nh,,c·mento das "bJneitas de cor"it nossa negligencia típica do
mentosà fom:aciioe à expansãodo sistCDJ• de clas..<es,
parades.o- 'lm1•-1>,e
nxial" de forma cspecinc-J. P:utindo dos .resultadosda
bi-ircog;io~á.eis jpdependente;s,constimfda~I fa_!oiespsi;t 1mc•li,it1ç,10,,·r, 1x,s,íl.'d movim t:lt a discussão com maior
liherdtklt e ir 111,11,ao funJo (ias coiS3s. através de teflexões que
-sociais ou ~g~l!!!EE.ais b;lseados na elabora~ histórica _
11
• ca'' ou da "cor", poderia ser e ·o recnh1m1dos
i:;i!l]X!lLC • ,~o por a s1111 dv.er JJ<:J.,4Õjl:c,...
O conhecimento produzic!o tem
:t 111• 16~1<::1
e e!:1iiodc ser ec<plorad.1racionalmente: no primeiro
esttutura e ruc:,.meme /Há, por trás éesss posição incerpre-
r~nva, uma arroj a :llltU e '"cieí-,rífica,qu,: impunha aos autores livro, com .83SI ide, e: DO segundo fü•ro, a verdaêe consistia numa
que o complexo "cadinho de relações raciais" ( que se constituiu t·erdadee111piricilmente aproxi,nada.A verdade assim estLbclecida
e se transformou, ccmplic<lOdo-seinces..<atJtememe, em tomo da abre novos caminhos ao enteru!iment0 da sitaâção e, quiç,I, sua
cidade), fosse consider.icocomo um faJo total, ou seja, sob todos transfotmação. O sociólogo, consic!erac!oindividualmente, J:ode
os aspectos q1..~pudessem ser rele,,ances pata uma descrição socio- fuzer muito pouco em ambas as direções. Consciente éisso, gumen-
lór,:ca e un:a illterprctaçiio c:iusal focalizadas sobre certos pro- tei o meu esforço numa direciio cducai[va, em si rn<:smsviscer.tl-
blémas íundamen:ais':JAlgumas anális<es,que não puderam ser mente~ntr-ária à pe.q..--etulção do nosso faris:ómo r-..cial.Segundo,
c:aha.lrnemecom:iletádas nbs trabalhos em coo=ação com Roger porque tc:ntd emprocnderatt:a"li,ondagemhori20ncal,com os_pre-
Bastide. fur2m "",,etomadasem obm posterioi, escrita com sua cários dados estatfsticos dispolih,eisJ t'om o intuito de veuf1.<:m:
generos~ snuência. /\pen.is os 1:wteriais relativos aos :1spectos os limites dentro dos qnais a e:i.-tte"n,..a des:g,iakhde racial exis-
psiro!ógicos. e;>,.-pJorados tangenc:almentenas abordagens deseo- te!ltt em São Paolo vem a ser mais geral do que se supõe, repe-
vol•:icas ou nela.~ discmidcs ck for:ma lioútada, sofreram uma tindo-se em outras ,m:dddes da federação. O gue se conheci,1
expforoção que niio faz jus ~os ma:eriais recolh..'<los (1) • .ÂQbrea uoiv~s-alizaciíoc!o1~halh2 es.C.!!,\iO e do padrão.Jiá_iliy
Os ensaioo sgui reunidos não foram redigidos conforme t:m de relação racial assimétrt<;!I fozia presumit,..q_nea concenttaçio
propó:;ico precsmbe..lecido. Preparados ;00 sabor das circunstân- "racial" da ren_4ªJo ü5stfaiorsç,dal <, cb__podct e~;~..!!!!.
cias, elc:s i;irnm, pre<lominaotenience, tm torno dos resultttdos tên6ir.eno g_enerali:zsd9. s resultados ela ,ondagcm cOJO_pro,aram
• hipótese:,dcr,,oflSt1·ando que a maior misa:ger.açãoe a maior

( l l C:. R"',!or Bas-.'cke l'kr~ra..-, Fcroandts. O l>recQtJ<e:to R,,ci,;J


,...., São Prr:tfo, Slio P,,U:ú. Jrnituo de Adm.inisuaçi,oda U.S.P., 19.51; estudo adic:o..-tl.c!aborado P<>' llo&'t :&stiJ.: e Pkr:c \'~e den ~rcue
o. Olpitulos rtdi;.,s:fosti:> CtJLabo~o rom Ro~e: ~•ride foram publi- ( ~r &,,.,;~.., e fl,xe$lw, f=,ndcs-, JJrimoose Ncp.ros.,.,,_Silo P4Rb,,
~o,,;losl pe:.,r::v'$(a,1,:J,,,,,,;,;(Vo:S.X-Xl-N... ;o ..34,1953).
p._-cdn<.b.u:ent::, 2: ediciio, São Pa'1lo, Ccr.:1P3T1hi• :&!:tora X>JCional,l959): F!ote."tt'11
Fer-
ediru"' tro \llll~ ob:.i C\l0p<Tarivis1:1 ( 1-'.ditcreAc!t:imbi, RE!"'&s Rccúsis nandes, A 1Jit.::~4çiodo Ne~,> ~ Soci~~d~ de C:b•s:e;~Sâo Pou!o, Tiix>
r-nJ,rNez,GS~ 'BT~C!JS ,,,,. Slzo Pau!<,,1955j e ~foa:mentt puhlk:'.ados tm en,fia do l,_,:ol<bde ck Fik,o/:,,, C~1óis e lcm,s é.a U.S.P .. 1964: 2.'
UO{Icdiçio a-u1õoc-ou, q•x co.::ufmo 1>:ojetoirii~l dt ~'l.t.i.sa ~ wn d:1U11iwrsidaJede São
<:di.çiotl:'V!Si:i, Sã, P~lo. DtwninusEdi:0:11-Edi:o::1
l'imio, 2 vds., 1965).
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_j:isibidadccio "nei;;rp" e <lo"mulaio", em ~_sqes de 511pos1a
tolerânda humana "ide,11"1 não se asç-ociam '1 ttan.,-fonnações
Jade entre as "t2Çis"; o fortalecimento dªLt~s_d~ ace-
estrntum s1gmh01nvas o.ap:irtic[)açã2_rncial~oomuuo, !la. falia dos cstratrn; rãêiaisctcrooô!kicosou depenclentcs: os tã0
@iwfic2õ racial). conbeddõs m..--..--,,nismos de moli!1idãdesocial seleti"a, nums linli,1
Em con~ü&iêia, temos de admitir_ que o mito da demo- ulLra-indiYid,iâlista,e de a.:eitsção e compensaçao tlõs''õe~
~cia radal Õruenrn outros mi!fls parnlefos1 que conm'I5'n pa~ e umularos" ionamco,noa ncc. o uc con]:TtJ:4 a regra).
a realidade'~ e que csJs- micos sio
e:;condct ou "13t.-y:a_enfcitar Ambcs o., ing;edientts irazem consigo ormas mv1s v'Cls e ror-
ggfi.lnadossem ~~ubi.çri'l'.!,...!!2$J:nQ.ée.J.!15
"oçg~O$" e eetos rupçio, já que qutbrarn as lealêades ck cunho socw, étnico ou
3nu!ato~~ ;lS evidêncies pertinentes à Ba.hia.Pctnambuco e racial que se itleniifieam com os intcn:s= da "coletividade nesl'II"
Sima.• Gerais, por exemplo, su~iram reflexões amatg>lS, o que e <."'On\•ertema udcmocracia .racúú~'fscis.:-cnt,e
ffl\ ntn bom nr&áci.o
dizer dos <l11<'.os
rdati\'Os ao R'o Je laudro? Costa Pinco havia
p:ira os indiyfduos que usufruem a cx:mdiçiíode exccçãn que con-
consírlerodo as tcz:<l:'.'nciasdescri tas ~:ll ~ande pcnettaçlio e ho- firma a regrn.i Kessss condições, o <ipatecimento e a inflnênda de
nestidade ciemffica. Toda,-ia, o; ,fac.lossobre ~ p,micipação edu-
cac.ional (ou, seria melhor dizer, a fal~.t de pacicil"'Çíio edn::a-
movimcnto.~-:-<Ociajs <le "protesto 11~0" é quase mn mil,igte e a
soa sobrevivência se roma impos.,ível. N:jQ há ~i;>,!Ç.Oççooômiw,
ciorntl}sugeremcm quadrosombrio (ftéqücntcmcntc su.~itrulo sócio-culrural e político pitta "defct>.d~a causa''. Os mov:mentos
em \':ÍO pelos esporádicos movm.,entos sociais qce eclodiram no
"meio negro" carioca). O que é ,-urprccndcntc, !>"'" mim, é surgem e se afirmam no v'12io polí rico das grandes transformaçõe;
cpe na pesquisaefemscla em São Paulo ouvimos "'™'
freqüente da sociedade inclusi,•a, éccabdo e desapare=do posteriorme.ute,
romanticizadio dn Rio de Janeiro e das nr=amívcis "rcclharcs por falta de suPOrte no "meio ~ro". Eles n:ío podem exp<1.ndir-
condicüesh~manns" R!>eztas ao negro e ao inubto, seja cm termos sc e crescer por si próprio:::,não logrando ....
-encer, ao mesmo
<le tratamento pesso,d, sej~ em termos de opocturüda&s concretas 1empo, a hostilidade on a incompreensão éo polo "branco" e ,1
de as-.-cnSMl ooci11le d.1 :ICOrnodaç:íointer-racial "democcllica.". m(Wjdade do polo "negro". Nesse senütlo, n:io são apenas os
Essa com;,.,rn;-ão entre <:stados pre.s-..,mívelmeore tão diferentes brancos" que bloqueiam a desintegração ela ozdem racial supct-
,051,t à ordem social da sociedade nacional brasileira. Embora
J.,._•an:awu probleca fundame::t11l pa.ra futu= investigações: até
gue pont~o *'"e.e. ron e Cl .-'m:.:htto,,estãosoda!izado!;í "R!9!., , k-scjernigualdade raciat jtlSfiçae reevnheci111ento~o "negron e o
tolerllT. II'"..!Staro ' 7cªaceitarcoco oo
form:,s ex'Hentes dec~igaaldade raci~, co,;; os ,;ais com~
e até endossaras mulaco"estão na rai1. da oeutrafüação c!ohnpacto racial de pro-
s-os acelerados de mudall('a social prog,es;iva/'/
nentes drniÍ s - o ,reconceito raci, c!lssitncladÕ
1 ~âção racial indireta? pe,:petuaç;o e1 êfnib do sla1us quo
rnisçn; Os outros seis ensaios estio presos a motivos mais hotcro-
n~-ose fortuicos. Eles focafüam a significação das pesquisas
r-aco:◄ etro
,.,J~· possm 1s polos. Os efeitos csci:icos das orien- oclaisteél:hres sobre relacoes r11c1'lls;ventilam algum dilema<
1
tações de C<lmpott:amenroelos "br:u:cos"; e ema modalidade de • poeta negro ou do teatro que se pretende voltar pa.-a o negro;
•romodaçio rocial, por ;:,arte dos "negi:os" e dos "mulntos". ~e it, 11ntemas reladomdos com a presença do negro cm nosso
já descrcd corr.o capitu1i,ão passiva.('> substância elo eqniUbri_o 11lorc e nos qu2dtos da religião popular. Essestrabalhos tê,-,,
racial da rociccfade bra5ileir,iproced<:do modo pclo qu,tl os dois 11ul.1ções explicita.~ou imp!lcitas com os outro, se:e eos,iios.
rolos se :miculam com uc minin:o de fricç~I{ uma fri"-20 que ,,mdo menos, porque pos.v.1crno denominador comum, n:asddo
pode. inclnsi..-e, ser iJentiíicada, oondcnadae ,&!>sorvida,sem , • r,tcocupações morais e poHticss de quem os escrev,;y, j'.,~ el~s
nenhuma 21ter-;ç:loda orée:m racial existente). j Qrs~ e~uanto , ,ncis nos leitor<-s que se interessam pela "conta redonda".
persistir esse pacl"áo de cqcilíbtio persistirá "'t- Jêsig~d~ M ,1, que nos outros ensaios, neles se cvicknciam certos "por·
dÕ "negro" e àõ¼mubto" se dará dentro
ru:fal1 po!s 11 11Seens:io , • · Por exemplo, se a pesquisasociológica poêe penetrar mm
de-um processo dê acumulacao de van cens que pnvÍkgrn ao d, 11,l.,mentcas orientações do comporrnmento coletivo se ela
" tro .J:l o. c...e mante.r os JS m en cs n anu- )ui, .lu problemáliôl material e moral tios agentes humanos
Ja.çiio do ''neg;o'· t: n:ulato ~: a) o soa me::to e a n~ 1,. r dos proces;os de que eles p:1rtkipam, ele transfor.
g.ação dos movimmi;;;. soc•a1s110 tac.os pw, ã dcmoc.ratiz~ 1I i condições de eJú.stf:r:cia
{ te.nhatn"tritoou não).
10
Doluro Indo, reríamosum ;,uw connedmemo do. furos ~ nos ,·i,•c~ limi\!.' de sua ~da
.irca,_Q,.fl!&!:O natur,.:,'k1mJn9,!ll!_/
ativéssemos às Ulanifesmçõcs restritas do preconceito e da discri- e tem de aceitar e submercr-se às re=s do jo8!). ela!:,c,rncbspata
mmaçio txi:1is. :-!iin verfa:ncs :l situaçio global nem _poderíamos e com vistas à íefic:dadedos bran@:
pel~ b.t11ncos
os 6r.11.1coi.,
ver o homem total. Em .oos.a pesq::isa, o que mvia de funda-
r.ientalm<:nre idêntico, nas :notivaçõcs de Roger Basúde e nas Três quc:rrõestttrginais e.~em o pronunciamento do autor,
minhas: ~.2[<: pretecd~os ,u hzir p,im_eiro o bo~m e S!!!js nc,,a in:mduçso. Primeiro, os rcs::lrado. que set\'em de ba.e
condições gerais de existêr.cia; e. cm segu.:da, p=trar, ~os :,s análises di1e:n r<:,pdto a situações L-i1nscon-idash.i qt1inze
ou ,mrcanos. Ele, sõo ,-áliúos para o B..--.,sildos nossos dias?
=:rndros da psiml9,gia incividual e ~ndes _processos dÃ
• SOCJcda?e @Õbal,o con.'i:onto clãs•~\S e os seus limites. Põr Ele, não se;:iaru a p<.rre t.'"<ln.scon·id.tdo pass:Jtto rerente on do
prCS"'1tcque ~cl &,np:1r«eru!o? Sobre is,o não há a menor
L<tSO.,&í-ôo.s:.anta importânciaao e_,tuC:o de aso, às Jústóriascle
vida, ,à reconstrução histórica e às informações qoontítati\'as dis- dúvics.. Os dados reoottam-se a situ::ções mmscorridas e vividas:
poníveis, como o ponto de partida da 3.~álise de substrato, que rnuico do aue se disse (ou do que se podcria dizer, com fonda-
imprimiria sentido ao estudo intcr..sivo de s!runçõ-..sconcretr.s de mento em -suas evklêucfos} já é bktórko. Tocfovi~ os ritmos
convivê!:tia de .. brancos'' e Hnegros,.. A poesia! o te.atro e a hist6écos da sociedade brasilein. não são nem tio incc11sosnem
rc!igião pe=item chegar ao homr;:1negro, às suas ambições e tão rápidos a pooto de e:rigirern mn,, co;npleta revisão de dados,
frustrações cws profundas, e ao que há de irremediável e de hip61cscse ('("1clusões.. Ao cona:lrio, eoJ110já escrevemos algures,
irrwutí.-d no empobrecimen~o hu:nnno e cultural ck uma sccie- esses ritmos mostraram-se muito lentos quanto às estruturas
dace que converte s dtmocracia racial em um falso idealismo. meio.isdo sistema social. Desaparcc:hlis• escra,;dão e • impc-
Além disso, ,odos e.sses temas - com a orientação impémida à -iosa necessidade de or!(mi-Lar o sís:emn cb trnàa.1hocom base
na mão-de-ob.r-,tnegra, o nC3tO deixou de ser um prob!.ema histó-
coleta de dados: pesquisamos bi:ancos e negros, porém criamos
siru,ições individuais e coletfoas para ouv:r intensamente negros rico para o branco e deixou, por ~-oaseguinte, de contar =
:uitmética polícics. Ao re,.•és do que se pens:a vulgarmente, 11
sm
e mulatos, ap~dct com eles e ganhar uma compreensão profunda
de sua visão da sociedaée brasileira - indi= que a condiçíio tenacidade das estruturas raciais continua a mosttar-se maior do
hunurna do "negro" e elo "mulato" não foi subestimada. Não que seria clcscj:ivcl ( não apenas em funçio dos iDteresses dos
fi2àllos, como algt;ns sup=mm éepo,s, tt1bu!arasa da herança C'-11';.llo'-::;oci:li.$
cm que ''negros"'e "mulatos,, alcançamclra par-
culm ral. das o=ic:ir,içõesde valor e das idcntiíicaçõcs psiro-sociais ti, i1x1.,o, ma~ em função dos próprios dinamismos da sociedade
predorobantes no "r.ccionegro''. Se certos materiais não formi i.,tei<> ~I COOló u_m tudo). Por essa nz1io, os dados e conclusões
utl:izados ou cxplcrádos. de forma ~-isível, isso não se de-,c a que l>OSSuem pleno \'olor amai e as reflexõ.--scríticas, que eles suscitam,
clcs tenham sido ignorados. ~ CfL>e. postos em xeqL>e, eles não se "lo se opõem oos rim:os históricos. Quando menos, p~ que
rcwln;:nc oq,licotivos, tcndo-!e cm vista as 111111ü.íesta{õcs c!es- 1ossamos t:r-ansbi1· par,i. • •lt,~-,,ção das :eb~õs roóai6 r::tmo;
céus e.o pr«-onceico e da discriminação nciais. ~D: l11,16ricosque se firm,rnim eo oi,tros esferas, seria necessário
oue há algum funêo_de yer~d!:.Ji;!~J;;!tiyas ç_est~ll:Q~ , 1om:1rtais reflexões cl'it.:case inseri-las em políticas concretas
_011e justifica:n as aútudes.l as orientações_ck co~rtamento_e , 1 11 1nsfo11ru1.ção da ordem racial, que se superpõe 1tornem social
as avalia,:õesl\jci:ÜS dos "Qf'L.">ÇOs'.'..
111:ovavelmcn~ n~ .r, ~,ric,fade de classes em exp~llSão.
-element!Jsa,;ceslrt:isd~ culr::ra e elo romoor.;imento do ºsi:!2 Uma scguoda questão en,olve a própria natureza dos tra-
Lunã.
e+9iicaçãn...pa.a
••ose:,fucassa"' crõry,rp-
Pfl narao mâjõgro i ,lhos aq,.ri reunidos. Tomem-SI: o segunêo e o terceiro capí•
teHo 1t<:2ro"Contudo~nem rr.~mo Jl.ca_girulasã~s.h.-~ria rulc;, como exemplo: escritos para servir de b3.se i\ comunicação
ser imputada 20 que se _poderin consid..-,·ar original e profuntÍ[ , ,,l, nesses estudos o pensameruo é pouco dzborado e descn-
mane DC8J'Q no eo:nponaanenro .lo negro ~ do mulato,__Na ácea ,lvl.lo. O, dcmai~ ens,tios compartilham dessa co.:idição. O
de contatQ çom~.,.ll~ o~;?to não a_eai:ecedespoj;fõ ~ ,tor precisa t1J,:1tharcom o autor. O que se oíerett:, e:::i-..-plidta-
valores Je_seu_nmodo social pr6Dciõ~.,~~ io~t!:!iêãçõc,; ~nús 111 é um mero ponto de 1xuúd". Quer o leitor aceite ou se
ou cufronus IJ!o~s~ neohumL _91_c1a ~n~ co~tam Pª!! ,1114às idé'as aqui detendicks, é :ndíspensh-cl essa colai»
412danock.te;::n:fr·,açio
dQ:.ci(lo,lc ajnsram-.,iro
iot~c1:1l. "\T(:$$.~ , ,.. 1 .-ln qual as íanplical:ÕC$ poderio s~ tvidéroar e ser cnten-

12
1J
diclas. Isso não quer di«:r que o ldtor precise it aos outros
esrudos. mais completos, do autor ou eleoun:os sociólo1,-o,;.Esse mcndo tap\#n nio fi=.J1\JJI.IX..•D
rti'ill-0 )'odQLOS que k::-an;,.
passo dq,éude, nacur--...ltncnce,dos iDter.esscs do próprio leitor. l:,Uhcrto Fmrs.. sahe•'l..S!l.tl.foL
a .ilii..ela
J.ntcmçii!!,4\!J;,. se e5tJl.·
Informando-semais, terá ma.iorhasc pnra compreenders com 4
hdo..-en ncs dunscireç~. /l'oda"fo,em nenlit!In mo:mcnco ·a!=.,
plexa situação racial br.isile'r.1 e pa1'a compará-la com 0\1tra. 111 ,. . • 1 rõCãSin :.ll',UUo sene, o roc:csso soc1a . M \

situações, análogas ou diferentes. Poi-ém, ficando-se no plano 2.-iegco.


permaneceo-:eu101 . êun à o. a um mun<too qu~~ao se (
imediato deste livro e n•s úoutc'css do q,::c ele se pro;,õe di- O~IZOU pltta trala-fo COWOS<."t frnmann
O como 1~ . (.JuSf.:.;:.
~-ulgar, cspcc:a!memc <><(lois prim<?.'l'OS grupos de eusalo; rtque- <õsêÜá a priu:~,1grnd<:r~"\'Oluc,ão ~msilel1'il,
S-O<:ial na qnal
rem qt:c o leitor se disponha a f-a7.ero qL-c o amor túio podia, esse m,u:do se dcs:ntcgra cm sm.;; ra,us - s!>:,ndo-se ou r.acban-
el:tr:tiru!o dos dad .. ,, elas condusões ( e me,;n10 das l,i?Õteses) do-sc atra.-és de várias fendas, CQmo assinalou )hbuco - nem
por isso de contemplou a,m cqi:idade as "crês raças" e º! "mes-

r
conseqüências que não Íô.l".uneKp==-
tiçus:~1que n:asc:cram do seu im:crcruzamento.A~ oontrár.lo,~ra
A terceira qucs120 rden:-se :10 cimlo do lh'CO: O NcGR.O "aràd1ar &%e mundo, o ne ro e o mulato ~ y1ram rowoel.1'Jõs
NO ,\1UNDO lXJS nl'U.!VCOS.Esse título choca« CÕm3 idéia a se , en eea1:com o "" u~mérito ~ico-social e moral. Ti•
.1 ~-r.:-de ue a sociedade b.rasilcira é o produto da arivid:tde ~, ce sair -e sr;a e, smJ co s condição huroan9.-padrão
. conve..,gcrite de ·tres' r:iças, sup c.-mcnta s p s mestiços do '· in,mdo dos brancos".
"- Comcc-droinb:iêa1'rêüa-mtele("Iuàl c:ríti.a.àaoessa visão co-:iven- Essa situação ronstitu1, Ctn >i mesma, uma terrÍ\!el _pr°'':!.Ção.
tional (em cuoferfocia f.ei1>1cn, Assunçio, h5 trinca annsj.
Queeq,uilíbrio podem ter o "negr<1" e o --mul:i.ro" s~ são s_oos,:~s,~
O que ela pode ter de çerdade? Ou~I seria a "chanc,:'' d~vos
por princípio e como condi iio dt rotin:1 a íoan,1s de ª~ffi!:
/ cs!(genas ou africano,; de cQ111parrilliar:w1 esperi.',,J1~bistó~~
( -a;;. co!-OlliUJdo=e setJ5 desce:u:lences? ,o Brasil
longa elaboração cfa sociedade
= resultou d2
ogloniãl' ;ão~ um-;- 'uco-:-.m-ci.:
mação ~e sno1 ao nle~mo tem,.,c,, to e autone2:a.ao? No
cume C[,ascensão social ou no fio de um lo!:'SOprocesso e'"ãPc'r.

) anvtdadê 1soladânem da vonmde exdusi~r "" i;>ti. .!ll.!\d.2


e dorniname. O fato, porér'l, é que a sociedade cobdal ,oi nwo-
_pf
fekoamento coDS"...onte.
o 1JlJiv.:dimdc:...«:o°bre
o vã!ã?"e õi-eoo~Íineslto
51.w em...gu~ele
~. c'itta, ;-"scÜ
"Jc:ssêviilor p~lç,s
Moé, d:~rtJ;d1111c.;nre,,new
oc,tros, d~- •
mgr.anemm:Jato ~
"'1 Ücfapamesse6canco. A oossa história umbérn é lllla lústória - mas BRANCO: Para os analistas supe.r.licis.is. esse rn;~, ~ ,r-
,J

3o branco pr1vilcgfadopara. o br,tnco privik,giado, não ímp<>rta !íSmoctãbTIÜ19uirudeé :20_rmal e necesõário. Isso· porque fomosf'
se haja o;J não algu= conrradição e::me a raça geoot{_piC'll. e a
l n,ento
raça fcnodpica, oç enuc as a{Wenciase as realicbdes.,,O :ugu-
íê,-:Ídosa ~ a i.!t{~fio ::xion:il g.o .Brasi,l
-~~e dessa
1omia unHsteral de realizar • nossa 11111dade nacional. Nunca <../
· do ual muitos b..-ancosSairnm à margem tlo mundo
o
tcn~mos pensar numa direção d~V"ersa e imaginar como poderia
soaa que se ceou I· ranoo e pm o. ,anc~ - com a c:>:pl~
ser ess:i mesma wúd~dc se, em vez d~ ioreg.rar por c:>:clusão,da
o S.IStcmaticada~Outr '1S (: 2os mesu os e se cfass1• integrassepot mdtiplicação.. De !ato, tanto yvvJil? haver a uniijq
6cev~m ( ou se descla..<sificaygm) .mve - s.ui pouco
vs.lornesta disa:ssão. SoC::tlmcntcflllanúo,de nio era bianco • tlllJ@dn na impm,o de cima P"'"~i•o, gaa~to a vnjfo gue
e;ãjulgãjpor ronheéimeiüos ccue obtive ao !onso de minha car- se ma com base 1 , ·es 110 d·e :entes cÍiliuras
::-ei.ra
p:ofrssioMI, continua a não ser consid~rado socialmente Cm contato,Qumdo se C()l)lp:lnt o B.:asi aos Es s 1ni os,
como bra,;cfl. Cceguci, mesmo, a ouvir ,ma ca:act~ão públka dc-scobrc-seque 3 un icl:ide nxiooal de socicdodcs com p.-u:sado
coloo:al recente td:!dc pa,2 o prin:.eiro padrão (o que sucedeu em
( ~e brasileiro racial e soc:.alrucnte ruuito bra=o). em uma cidnde
nmbos os países). É Ulll.i unidade nacional cm qlle se perdem
famosa do Nordeste cm que esse tipo de "homero branco" foi
h~as rulturuis, que não po<lcm ,.,., b.nnionizadas às co1~s •
cuactcrfaado e= l.venladd:ro animal" ( o cqui,·alente da besta
em que: os c:;tra-r.osdomindntes t<:ntamregli1.a::· a jntegt~l~ na-
no regiroe úa cs..--ravidão c!e in1por.ânda
j. C.omudo,isso C11rece
11CSL.1discu,;são prelimin~r. O negro foi exposto a um mundo
cio~ atr~ da SUi\própria dominação esrnmenial. Mesmoque,
mais torde, surjao ouvas poss[hilidndes de acomodação c,n lxises
socialm;..-ese Qtganizgµparil....US...á.~tos privlüiêi&J,,s
dâ raçf-!
domin:lllte. me não foi inerte a esse mundo. Dou- hdo, esse clcmacriíti= o mal ió esrar,í f.eito. Não se po,!e recuperar o que
se perde ~ rcfau; os on1ênhosbistói.:cos d3 intcgr:açiio ca:mô-

15
mim .. sócio.cuJru~l e polítk:a de :,rr,n socbc:a,de nocio!:2.l cuJ1t1rJl aqw, per amor à verdade e par lealdade a um ccnceh:o univet·
e rncial~cnte hetero~aea. Nós s6 admitimos =ior rnternc-_, salist.l, flbcrto e huouuú~tico éc bmsilicadc. Pode-se fundar. o
constmn,·a entre raças e her~nças cuúw-ais distintas 30 ni,:..,1 naciO!lalismo paniorciro e estreito em uma noção íechada de lll·
d:1~comunidades de subsistêncfo. Af, crcnçns e relig:&s muito tcg7ação naciorutL Entretanto, a utilidade desse n:tdcnalismo é
diferentes puderam ser conciliadas e por \'C7.es fundidas. Os t!:I· tão Jimit5'ia, quanto o patriotismo do~ ci..-culos sociais que o de-
lxtlhos de Herskovirs, René .Ribeiro, O. C<lsta :&bardo e Ro~r fcnclero. Um3 :i.~çãonova, que não conseguiu scq uer completar
'L 1• • >,
Bnsn..,,, e:tp:.re:im porque isso ,tco:1teceu: a l:eranç-.:rciD:ural e as o ádo <lemoc.rátko da revolução incrente à desintegração do re-
formas sociais corrcs;,on.!entes de associação respondiam ~ neces- ~imc de uabslho ser,il, não pode molêar o seu conceito de bra-
sidade de auto-afirmação e de auto-:calba;;iio de um rno<lo autô- ~lidade em modelos t:io cxdusiv',sus e tacanhos. Além disso,
noroo. O holruncmo quebrou a ine1,irobilida<le de uma auco- hoje ck:ve importar-nos menos o que perdemos, de fonn~ irrc~-
-afirmllção ncgndor:1 e destrutiva. No enunto, isso oco'°reu ao diável, do que o que não deveremos pétder no futuro, uncdiato
1úvcl do, cstratOS dn sociedade !ll!cionalque en01 m::rios iofluentes O\t remoto. ,\ democrocia r-Jcial nooimpõe a psr<icipação como
n:1, def:niçiío ~os rumos hist6riccs da integração m::iona.l. um de~fio passivo: P3t3 participar, o negro e o mulato precis,iriío
Pois, na ver<laue, rodo o mundo rústico brasileiro. no 100::nc:oto dar de si mesmos o que eles possuem de mais criador e produ-
da decisão éesses rumos, est,í sujeito l!O mesmo processo de de.r-
rocamento e de destmiçlo, que !):!ira oobfe as culturas que di-
Li,·o. A brasili<l~d~quâ ~!!Jmos .~ R:ts~~o escravocratae
primeiras e,_~1cnc1as e umvc~~çao
das)
""êotrãbâ1ho fo·re, e de-
0
0er=•~
, .,-= do,- p-~'<'-~ .:<...- "eru <:U.u.
"-·" ou "mo=rnos
•- · il'1zaçao.
" d a civ - m<1Siaaoesu-c:it.1 é ,E9br~eara tazcr &ce ~emas bum.anos 1"
O_titulo, P.:rnmto, transcende ao livro, e levanta uma pro- ~íticC"~ de 1,1tn.1sociedade· raciãt e culnmllmente 11etero~
blemáu~ que so foi aflorada un1la1eralmente, nos ensaios coli- ~ct.i:. ~.tÇ.2)der ~...nãQ.J:~llAALo> dÜeWJJ.esgrupos raciais •
gidos. Na ,-erdade, isso não me preocupou. O intuito direto e culturais do..!)$__ ~ .podem levar _Ç:fadorament:, so pr~~s~
con~stia e~ oõremevi4Çnda o senddo,,,global
e a~ conseaiiêudq_ de fusão e W1íÍi~o, 12.ara_.ÇLuese, a~1n1aum~a~~(!~ bta§W;
fataiseloamsrameoto
do r;nc:cro'•
e do H1nulatoº à socied..3de dade autênticameme Õhiralista .last1co , ~- Por-
brasilciia, Amesde atingir a de~acia rro ie;m,osparcuús tamo, a, por etrás do ú , uma intençiio que també~ tr:ins-
º.:'comple~s: um..l,!rôC<;S-Wpara Ú\.W'º - o n~ ç_m__l!.6t~ cende o li,TO. O que pretendemos, para o nossofuturo imediato
tem de ll!:ettar a padro=-aciio e a wiliormlzaçii,2. E~-~ perdroo e remoto, não é a fi.xação imobilista dos dois polos, sc:panmdo
ae,11!t1qq.lu
cacae romocm pp;Í{i/01'4
co:no porcasdo inundo o negro, de um lado, e o mundo dos brancos, de que ele parti-
Pna •l'>IYr:Sâá;!as..
dos b.raocos não sõo intran<pon(yci,s.,{ potdll CÍ(Y;I ma1t,"'1.'1almeme, de omro; mas, qu~ o mundo dos brancos
1
?s negros e os mulatospqssam
gpr um abr;is~tQ guf!,_€.a, dilua-se e desapareça, para incot~rar, em sua _plerut~e, t~as

< ,ma@vdme:nt~,um processo,1strmátirode bragque:.unento.


'Unidade nacional", "civili~o moc!erna" e domi.:laçãodos se-
. cores privilegiados da "raç:i branca" estlo tão intri~dameme
mi$turad.is, que a socialização p::edominante institucionaliza uma
a~ f.rooteitllã do humaoo, q\le boje ~penas coexistem mecamca-
m<'ltle° (lctirro cm,ociedadc brasileira.
Aqtr~ 1lr cncnrnr e~ta lntrodui;üo, gostaríamos de agradecer
,e, , 11 1uIor, ,,1u1n1., rcprodll\50 do~ tr-ab:tlhos coligidos neste
visão pobre e monolítica da dinâmica da economl:l, da sociedade v· lum , Ih !0111~,!lriy.111ai•( ,t< c,li1oras ou publicações, os orga-
• e da cultma. / Por todas =s implicações, o útulo pareceu-me niz,ldl"tt~ tlc ~<1h11i11, ele.), ~o enumerados devidamente, em
sugestivo e vel'dadeiro, embora ele j:( tivesse sido aprovdtado em nollls de rodapé, paro que L'll agradecimcmo se torn:! efetivo.
outra obm ( eli~s, publicada nesc,t mesma coleçio: Roberto Car- OutrOSSÍill, atzrockQ:lo imeressc de meu cokgn e amigo, Pcofes-
doso de Oli-.,eirn, O 1ndio e o .Mundo àos Bra;:cos). ,or Fernando Henrique (3rdoso. pela inclusão des,e livro em
Haveria mui to a di..<cutir-sc a propósito desse tema ger-aL
Corpo e A!ma do Brasil. O mesmo agradecimento endeieço a
Não é necessário fazê-lo, pelo menos por enquanto. Tcda,;ia, P:mJ.Jcan Montei!, mais um amigo dedicado e ccmpreensivo, que
por que retomar um tfrulo como esse, espe('lalmente depois qt1e o editor.
São Paulo, 8 de sererobrode 1971.
os debates sobre a ocgr:mc:e pratic-<11Demeemostraram a conde-
naç:.ío "oficial" de semelhante compreensãodo asmnro? Ainda Florestan Fcr:inn<les

2
Ii

i\~ IIAIIIII-.IIIASI>.\ COR


CAPITULO l

ASPECTOS DA QUEST.~O RACIALº

'11•1uhin1<,;vinte ~nos 1etn surgido uma vohunosa biblio-


1••·•fl•.,,1,u MLu~•o mü.1Ibr.asileirn. O principal motivo desse
1'ltcrc •r. (01 111, r• ujcr<l de l>c$qui~a.de que foi intermediário
r<•I• l NF'-C: 1 o ,nr ,im-..ívd \lfrcJ Méfrnux, e que conseguiu
np Jlt ,.,1 ~ ,oi;, •or.1,10 de t.">ti«ialisrnscomo W:tgley, Thaks de
\·,~v,,h>. R~riê Hibciro. CoJ.ta Pinto, Roger Basúde, Oracy No-
gudu Anid:t Ginsbcrg, Virgínia Bicudo e outros. . . Esse pro-
jeto, dc\J22JJ:icrrnitiu que se conhecesse melhor aquilo que se
poderia cham:ir d<?"realidade racial brasileira". Em !eguida, ele
foi amplia&>,através de pesqtúsns encetadíispefa Cideil'll<!eSo-
. ciologfaI da Faculdade de Filosofia,Ciências e Let02S da Univc:r-
sídade de São Pau!o, ao sul do Brasil. Fernando Henrique Car-
doso, Octávio lann.i e Renato Jardim Moreira estender!!lDas in-
dagações a um,t área na qual a proporção de negrosn~ _população
é 2 menor cm todo o Brasil e ai, que a CSCl'llvidão se nwúfesrou
de modo pcruliar. ,-
0 que se _desrobi,_? Na verda~_J hiJ??t~e sustentada ~lo
Di Dnnald J?J_g,~ro.1--de qµ.Lo..lkwJ ..çQ;J,sú.tm,..µl!l,.,.casQ...ll(l.llto.
f.ª nl3!)ifrsroção.,d~~~~i3.t,_re,-ç.9e.,si;~ü] mau
grado o empenho ela UNESCO pela coofüJll3çio da hipó:m. Ao
que pa,-cce, esm i11stítuiç.'io,ú:=ntava o propósiio de l!S'Jr o
"caso braille:ro" coo.o mat~íal de prot-"l.fr-lJlda. Se os brancos,
negros e cesticos poclem t"X)nvi"erde "fo= c!eroocrárica"no
nra.~il, porqt.."t o mesmo J)roc1?ssoscria imposslvd crn oucr:1s
regiões? .Kõo obstante, o queé u;na ~a raçfal?A ausên-
g.adeten~es abcnas..e..t.le..conilitos prrro•llt:11:t$é. ems1 ,msma1
iodlct de "bo~" org;iniz~o <lasrclaçõe~radab? Doucrolâi!o,
- - -- --=---
O !~,r.:,,f~ 1 o ,.\1odo, 1.i'5ÍJnl:pc:a ser J.Y.lb~~
,:- Arú.;c c::s::titop:::..".1
c:~d=~m: m':m~o de nc-:emb:cd;T,:mhm de t966.

21
o que é m:üs importante J"lta o "ne~o" e o "mestiço": uma
roosideração ambísWIe disfarÇ<1da ou uina condição real de sec qu~ se coloc~m ?,atante cerra \'=cidade a alg,,rruts de suas
hut00no econômica, soda! e culruralmemc igu:1l ao,; br,;llcos? ooini&s e expõe de modo <."l.-rremamenn:favorável o melhor fado
Alélll <lisso, Sê oo brasileiros co.chc,:cmum clima dc iolerânóa à~ e.lima i!c c-1nvivfocia inter-racial imperante no Brasil,, L&-
tllthil, pr,nic:andou1n código de decoro llas relaçõesem que c:ntrrun que_t~1:~ d:
mento, apenas, que não renham compreen<.li.cl?
e.tn cont~o ('ODlO ub.tanco::;'\ .-cn."l<:Sriços'~
e ".t>:egros",
nt\o seria fendem acenas opiniões e que .uo campo da 1nvcst1giiçao c1cno-
tndhor que esse fato tivesse im_;,oTtáncia em si mesmo, indcpen- fica o q~ permi:e sdccionar as opiniões _1liosão as convi<.'ÇÕf:S
dcntercenre de qualquer fantasia a re,-peíto dc~uma "igualdade de origem etnocêntrics, roas a c,mvere;ênc,a dos resultados pos1-
racial" q~ não poc.!cr1ae-xistirnuma sociedade recém~cs.~a da 1.ivosde ~ui,as autônomas., ~]mente :igorosas. 9u~nto ao
c-scravid.ª2..,'e
na q:1al a roncenuaçio da riquezz, do poder e do mais, não é_~cmocrac,a t:tc!l!! ~ e~i~or const1tu1r-,;_e-~
prcsúgio social abre um fo,;so intransponí\'el mesmo nas rdações Brasíf7fcoda a democracia na esfera econom:eg esfera soa
de difc:reo.1es segmentos c!a "popubção hra.'>ca"? na es era jun ..ca e na eS!er~ 2º t:Ç!: Para qt:e ~-ªtai:o se
!\'este pequeiio artigo, não possuo espaço suficiente para concre1íze no dõmírúo cfusrelações raciais, é mister que sníbamos
ttacar êe todos os aspectos suscic~dos pelas perguntas, que 111e dara hcmcsta e convkl<lmcnreo que tcn, banido e continuara a
foram fonnuladas por O Tempo e o Moào. Por isso, já qt.>ea •·• fJ d"Ms r.:,açocs
bJmr·' n eq111t -1 - de uLorancos,, , " !'-!'"~,
"'°"""S"e "mestiços,,
_, .
bibliogrof.u50bre o :issunto pode esdarecer os leitores mais inte- enc,c r.i /1 d, ,m.r<la"tradir;jio cultut'al brasileira .,R_ossmmlllt'?S
ressaêlos no npr<1fuJ1damento do clebare ( 1 ), vou .limiear-me a dcrnr,11.,ú,ivvu.ll~ ~ conscimii;ii~dt..wna vcrct~t!::'tildfinpc;raç13,
emitir cercas opin:ões sobre:trés temas Ievantad0s por agudas raciAl.htn ~ind.inão c-xiste,porém, e nunrn e:ostttá se os dados
pergunras: l} a ll2turcza do comPO,rtamencocio brasikiro_diantc diisrnvcstign~s çienâficas olio forem aceitos objetivam~tc e
do "problema raci;y'': 2) o que há de mito e ele realidade~ aproveitados de forma coocretn rni construção de uma. sooedade •
.da idéia de uma "democraciaíiâcialbrasileira"; 3) o 'diJ
o futuro multi-racial cojos modelos ideais nio es~o (nem podeoam cs~)
oo passado ou no presente, que dele fim e o reprodui sob muitos
parece rcswar ao Brasilem .céria..de.:.'.ituegroção ra~ .~Essas
opiniões se fu.,dam ern &atosou em conclusões cnrâkf:ís : fatos. aspectos.
Conrudo, siio ninda assim meras opiuiões. Kão quero ap:esentar-
•ine como o paledko da verdade. ~= assunto, as controvérsias
vêm de bngc. JJ Pe:ixligão.MaL'1eirosse refere "ao preconceito O Preco11ceitode Niio T cr Preconceitc
mais getal contra a raça afrkma" ( 2 ), como "preconceito de
nossa sociroade"; e, depois dei~ mu.'tos foram os que assina-
lar:un os aspce?ossoinh,õnsdo chan13do"mrmdo que o português
Cl'ÍOtt". A tais autoxes, que eu chamaria Je realistas, ,e opõem
fortemente os <.JUeacreditam mais nas ''boas intenções" que !'la
qualidade de ações. Não lhes queco faur a i'ljnsriça que eles nos
fuzcm, de S\1porque seja mentira ou im,·erdade (para não dizer
fal~íd<tdc)n.,do q\le não pt1i!erser ~anóonado p(lr convicçõesque
dcirarn raízes na.s mciooolizaçõese:xp!ou.das pelos senhores de
cscra,-os para legiliroar moralmente a escravidiío. O â11gulode

( l) .-\ ;>Jr:t csse::,c;.J


desu lxbE<>i:r..!:, •boixo,a>mo
vai r<1>,odu1:da
oonoi.buicio Co 2mçr 1.os lâ.to:es in~N.iSàdos e:u gp::ofwxlar a pr-esentc
a.:-,:ili.se.
/ 2} Cf. .~gostin},o M=iues Pcrdií?io Malheiro,, A /:.s'7otndiio,;o
Brt1;i!, .Emn:oHisuírico.Juddtco.S«icl:
Ti~r-fra N::.:-:OOJal~
Rio de Ja-
,,,;...,, 18(,6, vnJ. I, pp. 2%-206.

22
2)

port,1mC11to•
e <1valiaçõcssociais mais conforme ao cosmos moral "p=-onccito de cor". Mas, uma.realidade mo,;al~ti.-4, 9uej,e_Cl
do cttoliti.mo. pÕclcria sc~__;lesi~ada como o "l!..~çe...lli' de não tcr _prs,con-
Contudo, M situação impera.ote nos últimos quarenta anos cci!.".J Minado em sua capacidade de agir acima das normas e doo
(de 1927 até hoje, particularmente focalizada pela pesquisa que val ideaí$ da culnm1, em vei de condenar a ideologia racial
realizei t'.m colabor;i,,;20mm o Professor RO!!et Bas_tide), tem dominant~, COllStI\11<.la uma soci;;,-dade
JXU'll de castase eledomina-
prevalecido uma c-o..:siderávelambigüidade axiológical Os valores ção escra,ista, e além do mais incomp:1tívd com os requisitoo
v~ufados à ordem social ttadicionalista são antes condcnados econômicos, psico-sociais e jurldico-políri= da sociedade de
nopl:ino idcaTgüe repelidosno plano dq acio concreta e direta. classes em consolidação, o "branco" entrega-se a um comporta-
Daí uma confusa combinação de atitudes e ,·etbaliza_ões id~ mento vacilante, dúbio e subst:rná1lmcmc tortuoso- 1.\-0conuá-
que nada têm~ ver com as, cli.sposi~es efet!,;as de _atuaÇao~?'~ l'io do bnmco "racista", não ;,ossui fé em suas =ões ou omis-
Tuck, se passa como "" o 'branco assum1sse m,uor consc1enaa sões; u ideologia racial dominante mantém-se menos pelas iden-
parcial de sua responsabilidade na degradação do "negro" e do tiíica\'ÕCSpositivas, que pelos subter.fógfos atrav~ dos quais ela
"mulato" c0100 pelósoamos, oo me,,uo tempo, encontr.isse sérias se in,;crc em tudo o que o "bi:anco" acredita, pensa ou foz_
dificuldades em vencer-se :t si próprio e !lã.o m:eb<?ssenenhum Suric, assirn, o espantalho da "questlío racial" como um risco
incenú1,o bastante forte p•ra obrig,r-se a converter em re:,lidade ,fa•
da i1111Ia,;ão, in/luér.cítJS extemas ou do comixexo do IU!gro.
o ideal de fraternídsde cristâ<Katólico. O lado curioso dessa ~ndo a nílturaa do di'<!mareal das_.J>O_p~çõesnegras e..me~
at:1bfgua situação de uansição aparece na salda espontânea que
se deu a esse drama de consciência. Sem nenhuma espécie de
tiças. o
~es
P:ª7lque a egraylsÍ1o
d_! ra<e.!J.1ided!:.
sra para.gi;are~~ <h.m1a,,~
C'istã, os · ·•~ da inregras,ão D.!;
farisaísmo consciente,µênde-se a uma acomodaçio <X>ntrnditór§ ctoruil numa sociedad d e a ~ e o " aoco"...Jl!2;?eJ:l!k a um.
.Q"preoonc!itode eor" é eondeni!dosemrcscrvll.S.
comose eons- u iro a ustament0de " ·• ç,J:. Em lugarde procuru
mmsse llJll iinl em si mesmo mais a c!:Ínte ra ~m· o pra- entcn r como se manifest.a o "preconceito Je cor" e quais .são
. tique o que p,ara...9l!l,._tn
sep st~-i_tima · a e preservar seus efeitos reais, ele suscita o J){'rigo da absorção do racismo,
os antigos aju!!l!.mentosdiscriminatórios e preconce1ruosos,porém, araca as "queixas" dos negros ou dos mulatos como objetivação
é tiêlã - toc,h•mc uc se m:uitcnb - ~ desse petigo e culp3 os "escran.r-...iros"
por semelhante "inovAção•
· esta ões s:un ser cnco nas ou · timul:idas(mantendo-se estranha ao caráter bra.sil.eiro'Y
como a o "ntimo"; que s.,l,si~te no 'recesso lar"; ou se Portanto, o que fica no centro dns preocupações, das apreen-
associa a "imposições" decorrentes do modo de ser dos agentes sões e, mesmo, das obsessões é o "preconceito de não ter pre-
ou do seu estilo de vida, pelos quais des "têm o dever de zelar'TJ cooceito".QS!ravés ác processos de mudança psico-sociale sócio-
i![mbora o "negro" e o "mulato" façamco;:itraponto nesses arranjõs -cultural reais e sob certo; aspectos profundos e i.trevers{veis,
pelos quais o sistema ck valores está sendo reorganizado, eles subsiste uroa larga JX1•0.eda herança cultural, como se o brasi-
JÚO são conside.ra(fos de m11nei.ra explicita. Ao comrário, ficam leiro se condenasse, na esfera elas relações raciais, a repetir o
no bttckgro,md, 11umaconfortável amnésia para os "brancoa passado no presente. E:,,e me01nismo ada tativo só se tornou
Assim, a pres;ão ,;,e=dadeiramentecom?ulsiva, que poderia dar ssívcl - ·(trurnra sooec e.
outro conteúdo às vaciJações e ?,s ttmbigüidades ª"iológicas rela- a sar dn e:-,.t' -o da e;cravidão e tia wliversaliza -o do trab lliÔ
dorutdas com as avaliações raciais, ac:iba sendo neutralizada ab
ittitio. O~ aspectos verdadeiramente dramáticos e injustos da livl'~,._!'ao_!:.._~ .S..!ll.!L<l,.W~S-O.
cs.!l.tlnu9...~enso 2.P!.dfao
tradÍcfonalists de acomoda ão r-aci a ordem racial que ele
sin~ão são eBminaéos, atenuados ou esquecidos, como se não presuin•a~ J ! avia, o sunp.~s to ele que tal 1 -smo tenha
competi!Se ~o hmnco operar com u.ma balança. ele dois pratos. v1gênc1n1Ddicawna rc:al:dadchistórica tormemosa. Se não exisLe
)<ão é meu objetiv<1am11isaressa complexa polsrização. ~- um esfo o sb'tcmático e <X>nscieme ara · r ou t~
ta.ria de índ:cá-la p.ara situar aquilo que merece atenção especial a ver a cita situaçiio r~d nn erantc., ha , o menos dispo- uma
n<:ste deba.rDo ponw de ,-i<rae em IfJ!)lOS
-culnmü do "6ranco", o que ganha_~tro
da UoSicãosógo-
do palco não é o
sl~o ..E.~ "~es_er o J:t!SSaci.:.. 2
e ,2ar-z"deÍÃat_gueas collli _
se resolvam por si tnt:s~::J 1!-SO cq11iv~1e, do ponto de vista
' •',.,, ".:.'\ ,. ... ~ t"" ,.,.
24 25
)
e em termos da cnndrçãv .ocial do ";iegro" ~ c!o"mulnto'', a uma
condenaçãoà êes:g11aldadei:r-i21ci;tmtudo q·,e ela r~_!!;~ ~ de fo~ores forruim,, ;.ác;a~ a resis1:éncfa,'Oncta tal cre,.ro cu
_mundo histórico ~n.s!roíqo___pçlobrans;o_c.,2ara o branco. consciente, obrigatória e organizada. O ro:ndrio seria a::iolir a
própria '?S~.i.ua c,n que reJ.,'01L~11a
a diftrcnciação, a imegrn~o
e a conrinwdat..ic:
cla o:cen) racial prcSSt1P'-''"''pelo regb,e e,,c_--,,.
,·i:i4Zvigente.
U,o, isso. à r.iisce-.;maç-ão Cllrt(.-sponderar.imcca1lisn1osm•is
ou menos eíicazcs J;; abso.rçl,oc!omescico. O essencial no fun-
'--1\ idé:a de que e~!tir-ia tu:nade,no-.--racia
racfa!no B=asil,·ct:1
sendo !ome<:tãdah! :nuito :empo. No fouáo, ela consr.i:ui u:nn

oo::mnento <.1 .
esses .mea.n;smn~. nao =
- era ncr:,a a.<censãosoeiál--ae
, ccr!a porçãQ de ~gi:,QS-e- de mulatos nem a igualdade mciàl.
distorção criada no maneio colonial, c-..imo contrnpa::t:: da ind.:sõo
de mestiços oo núc!eo legai.das "gr:mde! fa:n:lfas" - ou sej~, j
1 ~ as.. !O contr2r:o,,J
J._
,. a h~e-:noma . .i"
....a T:f.Ça ann1;nante
_f • .,
- O'.! SCJ~i....
·-

comQ~"ão a ir.ec.ui,mos efoti\"os de a;ccnsifo social do "mL~ a clfcáci! d,istécnicas de ,fomb~ção racial que rna:ui:lham o nfiúi-
/6 fundan:ento ;>ecuniárioda CS,Cravidooe certos dcitos
lato''.:__ ~ríô "êlas:eiasões r"êiais e -~i~r~vam.._aêõiitinuj<Jad~ o ~em.
severamente pmscritos mas incon!~n,frei! da ei§Ceg.-;paçã'ocon- # cscravim,. Os casos que afe1av.i1na composição cbs "gr-&ndes
/ tri!Juíram para que se operasse uma e$_;>écie de mobilidade social 1amilias" iião<:onstitufa.m p:::ob.lcrr-.a. Não s6 eram pouco none-
)!, \ vertical po: :nfikração, graças à qual a com;,o,ição dos estratos rosos: as famfli25possufoni recutsos suficientE:spara educa? os'
raciais don:inantes ,eve de adqu:::i: cerro c\asticidack:1 mcsciço5 à imagem dn fi!ltll:I do senhor. Por conseguinte, eles
eram socializados pal"'.1sere!ll e agii-<:mcomo ''brancos", <i...qoe
Ko entanto, ma~ gr<1éo a exr.!,_nsa varfabi4t!adedo fenômeno eles eram, de fato, social, jur:dica e politicameote fala::Jdo/ O i
ao longo do tempo e do espaço,.icomo,.,.sea nllscegenaçãocomo prob!croas apareciano o:;tro Dível: com os lil>ertos,negros Ôllmes-
índi.ce de integu,ção social e C<mW aç mesmo tempo,
_s;,"t!_Qma. ciços e com seus c!escenéeores. No ~ontexto da sociedade escra-
de fosiio e de igualdãdc rad,üs:' Ora. as investigações 11octopc>- vista, esses tipos ·humanos já apa:cérun associados a oportu.ni-
lógiais, soc10!6g:= e históricas mosttarwn, em toda a p,:tre, que dades sociais qt2e eqcivaliam, fottl:'1!mente,a uma mudança de
a miscegenação só prod.iz tais eiei5-QS_ c;uando ela não se com- rt1:tt1t. Além cl:sso, entregues a si n:esmos c!es trabalhavam, cotn
bina a nenhuma estratificaçiio raciaQ9 Brasil, a própria escra- freqüência ( a menos que fos,e:n abso:vi,fos pela economia de
vidão e as .\:mjrl!Ç~$que 'pesavam sobre o stttJ1<s c!o liberto subsistência) pela conqu:sta de posições sociais mais altas, in1en-
convertiam a ord~ csc.ra<:istae a dorrunaçãosenhorial em fatores sif::C211do os estreitos mecanismos de mobilidade social verrical
e; em:atificrçio racial. ~ canseqüÊtlcia, a miscege:iaçao,dt:ra'1!,e de que disp:.:nhaa sociedade escr:w:sta.1 A questão ,onsisria, lite-
antes contribwu par,1_a~nU1t a JI!as;a da w1ilíiç:;o
_5!;,c;JJQ$., ra:.mente, e.-n ob:e.- a itk-nt'fi,:-acio d~sse; icd:vfduos ao.s ime-
~~v:1 e pãta clifÇ',Lenciai::..os..em:RtnS-.~i:_renclçn..t.~
jotcrm=liilios. resses e valores socia1sda "ra,,-adominante". Como o controle do
que p.~r-.ifomc,ar a )gy.i!dss(e_t:K:ii\J.l ll p:cc:;.o que se ceiili.â :11ícioe do fi:n de reis mec,,nismoo se concentravam nas mfos de
em conta que e.a antiga oocieêadc escra,·:sta o "escravo" mo reprcsen.tancesdess" ".mca", t.1I?roblema foi resokicfo de forma
c-a tlca. entidade social mals nece~.sárfaque o "'liberton. lliistiam
pacífica e d:ciente. C=icu-see diftlndiu-se a imaSS!! do ".negro .1..
~pias zo= de diiereoci'!S'\iQ...Sotjal,,_cooa:rnentes a o::ueações
ou a ati,,i~es- gJ?-s6 o bomeo scmilivre godexia _realizare que_
~~ alma~nca" - Q rntó!iJ;o co uegro ieà!,devotado .i; seu-,\ o/
sen.'ior,à i-uatamília e à pro2ri.: ordêm socwc1ristente. EiÍlbora
não !ntetessari,,n, ao f-:omemli•,rc:& ~êcdc:>te O mest:ço, co.-n essa cond/çãop::éfosse'm, oc-.isio~Imcnre,rompidãnoinício do
freqüência, º!~~~eu º. ~:ontuw.nt= .ernogr. ':° goe~m1~1a s.a~ processo/ ne.O.:ut.'111 ';negro'' ou '~e1llii1!0>> .;,od~riater co:xU-çõcs
rurax ta:s posiçoes soc121ss que eram eisenoa1s para Q...E:91:U,l<fmc;,
de c:.-rulnção e dr mob.:lidade ,e nfo correspondes;e a senie-
do si§Je".:nade c2m~~o_es,cravisca. Futn e acima desse nh•cl, lhnntc figurinn.l ;Qgí_ o_p_a,,ad_!'xomrioso. , ruoh:li_dadLl:]lmi.nou
ãmiscegen:iç..'ioteca de en\"uhce,a tr,tni:nis.~fo Ja posição ;ocúil
da~ pareutdas ~:borra:;, com iua~ ptn!)rieáades, possi.bilid.-tdes alg-c1m:;.s b.urdras e resubg!u outras ,1pcnas para aquela parte &
d,e maodn e pto:,abiliéades <le 1,c:der. E=. Ienômc:,x, $<: d;,u, ."eopul~ <lc~r" ~':!:,...tL-ci~va.,,!.>_ ,<iJig::>mozal e g;Jn~i~se,i
mas = e quase sempre scb 2 :nffoência
escala 11:11'ro.tt<li1'1-'<lã ID<:re.;m:s
- iclõ1u;11acao
-i;-- scn?.,c,11â!.
..,,......__ !
- ili -~ .f,se§
ê_..,,r,:,,,
m~~..!.lW x_nerc,!<l]:ll!!Ul 11~!1!,"0CO!nü tal, pu,s e,:ar, t:d~ como
_..,. los
-- clrcu - nu•

?.7
obra (b C'llpacidadc<le jmiJa~o e da "bQa, cep~ ou Jo "borJ
c.xemplo" do próprio bra11,co.O:; k.su=essos, por rua ve:i;,en;m /Í,crc= não_~ tJue f!ão_;e pr~~so~. uma democnitiza?.o
rear;Tã rcnd", du pod..-re dõ prestigio socrnl em lerlll0$ racrn.1s.
amõuíÕO$dirt-tamcme ~ iocap:1ddade rcsit!ua! do ··negro" de -,\sÕpÕrnmidaàcs surgidas foram .l?ro,·e:tadas pelos gtu~os me-
il(ualar-sc ao "bNnco". r:~sas figuras desenpenl,aram, dessa m:,-
!hot fOQ1.l1znrlo:;dã "rn,-1 domiDaiitc", o que c:ontribwu~~n
oeira, o papd completo da e.-a·efêt) qur: confirma a regra.. for-
neci.un as c:,icência; que i!emo11stnitinmque o domfnio do .ocg.ro
aumencar" coDr.e1urncaoracialda renda, do podt-r e do prc;tlg.io
pelo b~oco é cm ; \ mes:uo nccc,:~no e, cm última in.stân<:ia,se social em b~eHcio .:Ío bra":'o:J:'Jo .~oule.uu 1:ns-t6tico,,
~~ido
fazia em bcneffc:o do pruprio negro. após a Aôolrçfo, (>Ol'Ulnto, a u!e1e da deo,";""tlll raaal acabou
1
sendo um e.-qJe<lie.a1e (JY.lranão se cutrcntarcm os proble-
i.11lCial
fü,r aí se vê o q\te resultou d,1 ordem social viuculada à mas d,,conentes ,h tks:itlliç,'io do escravo e da cs-pcliaçãofinal de •
c,:crav,t.lão.Como nfo po<lfadci'.'<:1,: de sttet'!for, miscegeru1c;'.io
<,__\
qce foi víúma o antigo age.:>tede rCllbalho} e uma forro~ de aro•
mobHiJ.at..fe social ver1ical op~T~ynm-$e<leniro dos Umires e se.. \
u1odsção,1uma dura realidade ( que se mosrcou com a~ popula·
~lo a, mn,eniências caquda orc½,msocial, na g~l efas prec11• / ..,
de cor·• nas cidades em que das se concentr~~' v1ye11do
~-õc.-s ~'
difa:!,lfun<;&., ~?ciaisrele,;111tcs para ~ d.ife=c,ncioç,lo
e_a~LÍll\if- p1r>rc-,condições de desemprego d:sfai:çaclo, rn=na slSl~roáuc~
ifaife <lacsrrant,cação r:i<:talcng;,ndm:fa pe"'1 escravidão. Ap-0s ,
a Abolição, ~rn que ~ tn-anifen.assequal<{t:<1tcr..<lêndaou pro- e <lc,or1t•lld::oçãosocial permanente) .. O. "negro" t.:v~ a op~~-,, _
1uniJ.,J,· d ,..-r lhrc; se r:io conseguiu i~ar~e ;~ b~o.,
cesso lc recuper:tclo fmrnan:1 do negro e do mufoto, e;ses feoô-
• o prol,lrm,1 cr• dd<' nao do "b~co"l..&'~ a cgt<le d,: 1d_éia
wcnos foram focillizados à luz do; req:iisi«ls_ccozômic~, /u::ícliros .._
,c,,1 1·aci.1Ij\lstifkou-sc, pois, ,1 n1a1sextrema .Jl:ldife.•
de r.xerr.<11:r
e: políticos da o.r<lemsocial cnmpetitiva;,b-1:"""ºu•<ra ver ne~ ,, -"":(' ·:
fenômenos a llli!('ti~da..demcia•ci• rac· · aJon.e--<le-=\1ç;ío('
rcoça e TaltJ ele solicin:fodadeP'.U.t com um setor da colet1vid~ds_
psé'ínêapara a questão rnci,;J~ra,d. ,\ parte o q\1e haj:i dê' q,.,e não oossuE co~ .e1'.2Priil>
_par-ªe~ei1t:tr as mud~ngis __
( acarrctaa;;. pclãtlfi!v"'.salíza~'Eo d<?.-Lrabàlho,!i:_ree da compensa~
veooadeem tais verSa!iZ<1çõe:;, o faro é gue ninda hoje ª..J.lliSC~ 0
Ao mesmo tc:m,>o,assim que surgiram condtçoes J?Oll'll que o pro•
11e.oação não faz parte de n.rn.nrocessosocicTI:'i~in~~o das , ~
~ç:as',- em con<!!i-õcsd~u•kbde 5<,"<:Í~) A universalizeçiio do ,
testo negro cclodís:;c ( logo depois da primeir~ gr.lll~e guc;1a
e, em pattiL"1ar, no fim da d~da <le 20 ~.' ta.15 man,festaç~s -;
trli6ãlhõlivre Dão hcriêticrou o '·Gegro""ê-'o"mulato" submersos ÍO!'>IID~roscnta, cc.,10 se coru.t:1UÍ':"e.m um_ ;:,er:~o para a ~oc.'<>
n.1 economia de subsistência ( o qlte, fliás. também oconceceu
com os "brancos" q>ie fizessem :,arte desse setor); m:,.;, nas dadÇ..j Em co~egüêncfa, as prutX:~as-mru>1f~st,1çoesf:'S\>O':taneas
condições c·m que ~ eferuc:1~eiú regra prejudicou o "negro'~ do "negro" nn lut• por certas ~on°:.çoe,;~ _1~11lld•de;"ctal ~'.
baSçs co1et:vaseclodiram no vano, 0<10sens1b1hzaramo 'branco
e o "mulato" gce fa7.iam parte <lo sistema de ocupações e;sala-
ri.adas, mais ou .menos vici.oado! ~a competição com o cmi• e n.so chegaram a dí,,amizat nenhum me~ism_o efici=tc ( ou IM·
grante. '9 resule;,do foi que, tr8 Q!!2rtOS de ,::culo <1_?Ós a Abo- dência atcnt1.1d:ique foSSc j de democumzaçao racial ds rends.,
lição <1inc!asão pouco nu:n~tosos llS scgmc-ntos da "população do prestfgic, social e: do poder.
de c~r" qi1e consq:uitam se :.Ot(.111':lt. cfctivamcrite, na socicd~c E-ssequadro i:evel~que s chamada "deo1ocr.1ciaracial" não
CQJD.Petitfi"ae nas d.asSj'..'ssociais que .1 CQ1n1sõcm':"fAs L'Viêênc:.is tem nenhuma consistêocia ie, vista do logulo d.o compo~ento
a respei ro são co::dusivas ( 3 ) e: indic:un que ní'lcbtc:nu, um coletivo das "populaçõe.s de ror', constitui um mito croel.LQj_nd~
\,om caminho a and:1r porn que a "população de cor", sob hiP<'>tc:sc assiro, mau grado os contoroos negati-.o, desse quadro, existem
de crescimento econômico contínuo e de persistência d~ livre cercos elemencospote11cialn:.en1e Liv~ráv~ à einergê.oci:.\e_à c_on•
compel:~ Í!lter-rac:al. :alcaocc resultzdos cqu:vakntes ao, dos • solidação ele uma autêlltira democracia racial oo Brasil. Prune1ro,
bra,icos pobres que se hcnefir.íaram do ,:kscnvolví,-ncuto do País na economi11ire su!lsistêncw, [llU'aonde refluiu gr.mde parte da
sob o regime do trabalho livre. população de origem escrava ou mestiça, o. iú~e.lruneiuoé ui:n tato
iocome,1.1vde coctribuiu ( ou está co:itnbuu1do) par:i elnnm:1r
{3) St-b1co :immto cf. especialmehte L A. C'..ost:t Pbto. () "!\'e1.ra os efeitos econômicos, soeisis e culturais das diferenças ttciais. \
lfORi~ J.{!Janeiro> ~;-. III; Flor~~ F::=tir,cks-.A rntcp~-f'in d!; l\'ef..rO Segundo, o desenvoh,;meoro econôrn:co _recente Sinicialmente,
à S<>1:ieJ,.id~
de C:";;:s~:,pp. 100-1H. da industri.ll.izaçãoacelerada no Sul, a parttr de l94J; cm segwda, J
28 29
oorn :i políéca de recuperaçãoeconômic,; do No~lestc " de outras a orJem __ soci.al competiti.·a não se impôs por igt1al cm todo o
\ áreas em tJUe a população mestiça é pr<:00nder,m~ «:m favo- Brasil [l),:: um lado, seu dcs,onvolvil..'lentor/Ípldo coincidiu com
'recido, in,ús que oo pasSildo, a u])()pula,;io de 52t:}/ Os da<los a espan.,ãodo café e com o surro urbano-industrfaldo Sul_ .Ela
mo~traw que Cl,seus componentes oontam, atuahiie11tc,<Ximopor- beneficiou os drculos ,fa "~ don1i~1ue·• <JL'C ocupavam po-
llJ.rudackscomparcÍ\'<'ÍS ils apro.-citaclaspelos imigrantes no fim sições estr-dtégicas r.a estrun,ra de poder econômico e polírico ~.
do sééulo p;1ssado e no começo do sé."tJlo XX_ Embora isso já numa extensão wn poa,v menor, de inkio, os imigranteseuropeus-
s.,ja uma desvantagem, significa oportunidades ele emprcf!O e de De ourro lado, ela alimentou o C-Omp(irtanienroinovador das
integração no sisrema de d.,sscs. lrercciro, com a desagregação dítcs no poder e dos gmpos ascenc!cnte., de modo confinedo.
da ordem eS<:t3\-isr.a,se não houve uru aumento r:ípido da roletân- Nir'8l!ém se preocupou com as questões cr-1e
camm fora das exi-
ch racial, por causa d.a petsi:t<ência c!o antigo padrão tradiciOlla- gências .llllUSprcmem:es d.is coodiiõcs econômicas, políticas e
lista de relações r,iciais, ocorreu pelo UlCDOS um abalo nos focos jurídicas da expansão do capitafür.io ( oo âmbito da prott.-çíio
que mantinh= es barreiras sociais qL-e se:parava.in as "r:,ças". do café e do estímulo ao st:rto industtial}. Ili\-~
contradições sociais
DAí resdto:: um flbrandamcritooo ,cna atenuação dos critérios herdadas do pas..5adoe que cntr~\•a,;am a integraçiío do "negro"
intransigentes de avaliação racial, que prejudicavam o "negro" e do "mulato" à ordem social competitiv:i emergente nlío interes-
e o "mulato" de fonn-.1. irremediável e sistemática]/ Esses três savam senão à "populaç:io de cor", de resto a única diretamente
el2men10s abr= novas pos,"ibilidades,pois <Xima crescente opor- prejuclicacfapot aq,ielas contradições. Kão é de estranhar, po:s, 1
umidade de emprego o negro coma, pela primeira vez, com pro-· que os se1ores favorecidos peb dinaoú.zaçãodo desenvolvimento
babilidades de ascensão social que o classificam na própria estru- capitalista voltassem as <Xistasno drama hllDlanodos desceru:lentes
tura da sociedade de classes; e com as tendências de suavização dos ex-escravose, ainda mais, que ignorassemas implicaçõesnega-
dos critérios de avaliação racial o negro deixa de ser, i=ravcl- tivas da falta de integração da sociedade nacional ao nível das
menre, a mera "ex~ que confirma a regra". Essas potenciali- relações raciais.;J/Eles não se mostraram se11.s!veis a outras mani-/
dades são sigllÍ&a1ívase, se continuarem a se expandir, o Brasil • {estações do mesmo fenômeno em níveis que os aíeta~-am de for-
poderá converter-se na primeira grande democracia racial do ma mais direta, colllOpor exemplo o da falta de integração do
mun,do criado pela expansão da civilização ocidental moderna. mercado cru escala nacional e o da f.alca ele integração política
da Nação_ :'.'Joconjunto, a politic« que fomelltatllm revelou-se
eficiente no plano restrito do crescimento econômico mais aces-
A~ Perspe~tivasFuturas sível, mas não levava em conta o problema do equilíbrio da socie-
Essas conclusões são a1tamente promissorns. Entretanto, dade nacional como uma ordem multi-racial
síio ootórícs os efeitos de certas in!luênc:asque cootrariam ,1 via- Em conseqüência, a reintegração do sistema de relações ra-
bilidade e a nonnaJ.idade de tal desenvolvimento. As peculiarí- ciais ficou enrregue a processos sociais, espontâncÕS\• Na conjun-
d3.<.lesdo Brasil, a esse respeito. também são notáveis_ O risco, tura histôrico-sodal que abarca os três qtlaitos de séêulo da era
no rnso brasileiro, não procede ( pefo menos por enquanto) do repuhlicana, isso s'.gnificou que quak)i:er mudança estrutural na
agrav:uncmo das tensões raciãis e das perspectivas {pelo menos esferadas relaçõesraciais irfa depender do impacto do crescimento
imec!iat~) de uso cronico do confl:to .racialcomo técnica de mu- econômico, do dcs<?nvolvimentourbano e da cxpa11siíodo regime
dança. Ele provém da persistência de estruturas atcaÍças que de classes. Ora, até 1945, grossa modo, esses fenômenos tiveram
~cs~ .t:1~ '!" _me~s incólu~es. as gran~es tran~ormações po,- cenário um palco limitado: o Sul do Bn,;íl, especialmente o
~iffiio ãfetanác,~oc;ec!adc hrn;ile11;;1.,
Aqui, é p=o atentar eixo Rio-São Pfülo e os br211cos que comandavam a economia
pára o fato de que a mo<lemi2açãonão se processa <leforma igual- e a política dessa região, l"Om os oontingcmcs de inügnmtes que
mente homogêneaem todas as esferas da vida social A impl:m- se incluíram n~ tonente históric:t[Opcrou-5ç, p0is, num contexto
t.i~o. da ordem social compctítiv;1ceve conscqii€-..oêiilsprofundas, de mudança sóeio-econômica rcliltivamcnte acelerada, urna grande
pnnop:,lmeme para o dese:iwulvime1110 econômicoe a orientação concentraç-io social, regional e racial da renda, do prestígio social
do capitalismo numa direção típica do mundo moderno. Todavia, e do poder. Os dois resultados gcra:s desse fenômeno se eKjlri-

31
rn~~n: Lº) na ;11:sorçãodo snciio p,,drêo de relação ,:m:ial pch : 1 ad:::pc.:r infil'trac;ao:
b·1·d • a p:-o;,c:nsao
- e.o
' ' · n:r.;c n~ro· .,, !Dai$. ou
sociedade ele classes; 2.º) 1o1 estagnação rdaliva de oumis áreas u:cnos sensível ,,s \:Ãigê11d3scamdc-:11mal competitiva, entra
do País e, em parl:l:ular, das áre,1scm que prevalecia a ero1101nia cm mnflitu crc><:cntccom a ma::ipulação de se11~i.uere.;ses, sen-
de subsistênci..11.
A i~o cottespundeu,Jl.!!Lttalmente, uma tendên- timmtos e aspitaç&-,; de acotdo cem o mcxk:n ,b "~ceção que
cia gene.:al.izadade persistêncui de fatores arcaicos e arab:an1es confê:rmaa rcgrnH.. Lsse .:cr:ovnDC1,vro·,aspira a \~t conlO o
na erleu_ ~ rclações .raci:ús_:; De um hdo, porque a urck-m social •<!Jra::a)» de n:vd social cqu:val::ntc e prefere isolar-se ~x:ial-
cumpet10.a n.'in e:q:urgou a, sociedade brasilcira de a,'tlliacõcs mcntc a praticar um m□ércio racial que ;ncjuéicaria sua con•
raciais inooru.istcntescom o r~itl!<: de efosses e, dado o estíi,;Dlo c:c:pçãc,d,: dignid»de hmn,ma. Neste fom strrgcm as evidêncr.is
à cun';"'nltação ,-,,ç-jalela renda, c!o prestígio social e do podei-, ,ue 2rormentam mais pr~undo;;rrn:atce c!°'or!:::ntam as avaliaçfx:s
mccnt1vou L>ovo~ focos de d~n:imiz,ição do "p~econccir.ode mr" dos círculo.~conscr-,•adorcsda "raça dominante.,. ooi~ v&:m n~ssa
segundo formas .mais <:xpl:citase chocantes quc no passado: )); ~ LJ ,. " cnnt~ o. b.t.anco " e mn . " );."C'ngo
pr-opensao HOlS! rene c:1~
. tad.a.1
. . ,,.
01;tr~ lado,, porque :i relativa esta:iilidade das outras regiões êõn- :1 sei: contornado.
tnbUJu poacrounientc pa.-a co1l.5;;rvar roais ou menos int:?tos vá- O exemplo for:,ccido pclo gcc acont<.-cencm São Pfll.llo em
rios aspectos da ordem m1diriona.lista que colidiam com a fo1e- co11exííocom o segundo ciclo da revolução induso::al mostl-a que:
1,•nçãoe o dc~cnvolvimemo<lewnn sociedadenecional. Tinll'I?
a mudança social c:spontimea tem prolxibilidadcs de sru:,~ <:s:.as
cs..sesaspecws estava, naturaln.."><:ntc,
o das relações rad,,i$. O
pequenn~ fontes de tcnsõcs.áÍ>éJ)Oi~ de 1945, o crescimento cco-
úni~~ setor _g~':poderia contribuir P3ca a difusão de avàlíãçõcs 1iômico constante e a necessid,~ck de procurar a mão-de-ohra
raoais 1gual1t~\1j\S,que era o tLt (,conomia de suh.sistenci1, cs:av:i
bloqueado e o oivelam<:nrosocial que e!e fazia era um ni,;cln- dentro da sociedaden.1cit'.?ªI~bri ~. muiins):,onas que ílmes e:;m-
vam fochndas ao "1tc:Mrt1 <: ao mubtom ~les1no firmas que
mento por e para bubco,pois ''brancos" e "negros" se confun-
diam dentro dele corno parte cfa "ralé" on da "gente baixa". foz<:mr~~triçõc:-babertas ao ·'ct-abalhador de cor" tivcram de: pro-
ceder de modo mais ou menos tola-ame. Isso fzo1lton a inclusão
O perigo potencial de serudh~ntes desenvolvi.meatos-~ ao sistema de trabalho a m;iior nú,rero ce "pes5oas ele cor";
sido percebidos socialmente. Primeiro, porque as disparidades e, de <>utrolado, ajudou n s,rovocar mii,'1"açõcsimc=s que ,m&:m
de distribuição social da rem!:a forçaram distinções sociais que a re d .1srn·1 · '·'negros
"lU.lt '' e " mc.sttços
· » dt·ntto a
ao n.,
r"'J.JS ( o qu1,;;
À

se tornaram demasiado rígidas c-m comoaração com o que se aumenta, coocomitantcmcntc, a visibwdaéc do "bomcm éc cor''
admite consensU'.llmtnte.Como <!!SII.Sdistinç6es eclodem com •• rda'
e sua to 1ctanc1a .• ou meno.s ex.e1u·
· Hva por ~Eµ:ru:~tos ma1::i S!-
mai-Ornitidez nas relações Je "brancos" ricos com ºnegros" ou vistas da "raç:a dominante"). Ccutudo, csSé processo é m-uito
" mesuços
. " pobtes, smwu · o temor a,emuado de oue el ·
- 115 "intro- lento. O stu ·rcmltado de maior en=~~dr-ra foj o gpattecimmro
duzam no Brasil o conflico racial"! I Segundo, porque as mesmas de uma classe média de cor ( sob muitos nspectos urna classe
disparidades agora envolvem brancoo com tradições culturais di- média aparente), <Jlle não ret"efa 1T.11'r.a dis1xn!çiioa rc:mpcr com
dífercnres. Descendentes de imigr:1nres de várias origens fu2L-m os bloqueios que impedem o <11>rovei rsmeoto o:a.is rá_pido Jo
• pane das elites no poder e embora compartilhem da ideologia "homem <lecor" e anelam ou .restri.agemO! efeiros de sua mobi-
racial dominante:, Ía7.em-nocm função tias tradições 01hurais que lidade so-~ial ve..-tical. Há matf.cia p,u.\ i,ensru:-se, portanto, em
tran.s~a.ntaram de oulns conrunidades nacionais. Por aí também ,.isccs potenciais.~~a medida e:n quê os die=tes círculos dli
se ins.ilam fotmlls de avaliação e de comportamentos que colidem "po?lill!Çâo de cor" passem a pa.-ticipar ath·:L,1eotedas asp!rn,;ões '
com a propcruão de decoro e de harmonia aparente que gs .G.- de: crnprêgo, nívds de: vida e oportunidad,:s d;; ascensão social
núlias tradicionais b!,!lsilc.iras sempre procuraram fomel)tar no que se tendem a univm..ilizat graças ao déSCll\'Ol\'ÜDClllO urbano,
troto com o "negro'.'. Terceiro, porque a ascensão social do é pR'Sinn.Ívcl que a tolerância Co ' ne~ro ., e Co ºn1-u1ato diruite
1 1
'

negro e do 111clatoestá se proo:ssando, ele maneira crc,;c:cme, de da.s "inj1Lstiç:assQCÍais" q1lC~n:em ir:;o evoh.1irdu passivic)ade à 1
formaque dificulta a prcscrvaçiio des antigas técnicas de soci.ali- agrcssividarlc.JlDomro fado, a questio racial t.ainbé.Cl atera o ,
2,)Ção e de conn-ole do negro e do culato--:-Não só muitos repelem equilíbrio da sociedade i:;acioruil. )/ão po<Jerá ba.-er iotegrnçãu
os conhecidosmecuú.smos de acomodaçãoracial inerentes à mo• nacionlll, em bases de um regi.me t!emocrátiro, se o. diferente,;

32 3]
tstoq11es raci:iis n:io s-01m1
...-em com oporrucidad\:S equivak·m:es de Bl.BLIOGRAT7TA
SUPLEMJ::..YfAR
p.articipoçlo da, estrutures naconais ck 1>02cr.-
.[A cünjcrnçiiu dcs!>tSriscos só poderá ser obtidn através de AZEVf.DO, 'l'ha!o.: L?1 EJile-sdt C.oufr•r;T u~sUne Vi:!~ Brétitiem:e,
Pnris, IJNESCO, 13>3.
uma radical mU<.h~a de 3:ilucle,;di:l:llc da 1.1uc,rãor~cial lm,
porta, em 1,runeii-0lugar, qu;, se indua o ·'111:~,yu" e o ;'m~lato" lSASIIDE.,ll<.le=-
e Fcm:n1&:s, Fl~~n: e Negrose.t!'l SacP::ulo,
l<..r.ina,s
2.:. có.. rC\•i;.:ae -:i.nµlfat.b,São Pa:1ln, C".or.,~ E.diton X~nal,,
( romo ot1tr.\S"mir.orii:. frni~as, í:aci:ús uu-ruiuo!WS")'Ji~ pro- 19)9.
gnl1nsç.ifo ,:lo desenzcl.in..,,nto sócio-eco11õn1icoe nos~Íl"TOjeros BICTJOO.Virgfnir:.Lconi: "ALLt.:dw..--s
ê,os:•.-..·:;1r.os
cios Gfl:Jl,)OS
Escola:cs e:.n
que VISffi'I a p.:,~nt:11' n efioíciA da ;ncer;raç.'íonncionnl ))ada Rclação co:o a C'.or Je Sem Col"&"<"ir. O'.\'E.SCO-f,NJ th.\l:!11,
à con,õ71:1'>!Ç:ÍO 1·,ici,11cb renda, elo pre.,tíiio social e ê:!õ""podcr, Rd.irl>u en:-re N~rM .e Dr•11cr;s em Sãf> '1>.:u!o~São Pu,lo, _faiitora
~ "populaç5o de cor" não possui n;:u!:lluna vitalidade para en- Aoh<onbi L..da, t?n, p,:,. 22,-310; "Aritud:,s P,seuis de Prc1os e
Mufatos cm São l'•u1'>''. S«:io!cgi::, Vnl, JX-N.• .>.Sio Paulo, 19-17,
trcnt:r e r,-sul\'"cr seus probkm.l, m:ite.r:.és e worais. Glbc: ao pp. 19~-219. •
80Vcmo susdur ~ltcmativ;is., que virfom', aliás, tardiamente.
CARtx)~, Fc.nanc!o BendqL.C.: Cap!tdis~o e fu·cro!.:id~ .....o llra!il Me-
Nc.s.as altcmaéva,, ~;;cobrizacão, nfvd de cw;m,go e desloca- •1, º" d, Slo Paulo. Diíu>Jo Ew'opéiodo Livro, 1962.
nY.;nto de J><>pu!a<;õcs ptt-cisr.riam ganbar enorme relevo. .Eni
e hnni., Octávio:Cor.: /,fobl!ü.1ade
CARi )~ ), f,:rn1l li.,l lc-nr1~uc. 5tX;4J
sun1.~ ai se necessita d:: mn programa c!e eombate à miséria e a , / ,1 "' MI,, S, o l'•ulu, Companhia Edimrs Nacional, 196().
seu, efeitos no sm!lito dessa po?ubção. ri::"'11 segundo lugar, seria
qce o "m:gro" e o utndatou- mUdasse111
ne::es...:;tfrio suas atintdes <t)l> 1 \ 1 il\ l'O. 1 \ Ja, I) ',/c;;ro "°l<..-o
de J•""'"'•S-:i<,Po'Jlo, Cem•
IM 111 ) Ji1 •I ~ k 1l1 J~5}
disn~ dos cf.lem35 do HhorrY.:mde cor':J/Co::no os únioos inte-
ressados direws nos ;!=!lrados d(-ssa in(e-g2ção, deveriam devo• llll ARDO, 0<111,•• d• Ca.11: Tbe Negro io Nor:h,rn JJr,e'I, SeAul~,
Wa-.hmgwn. Ur.iv=il)' oi Wa,hlagton Prc.$, 194&
tar-se a tal objetivo cem: maior tcnacidat'.e e discero.imeoto, seja
p2ra co:1quistar unia posição na sociedade nacio11alcomo e en- L'l'.RNANDES, .to Nego na Soci:á,d, de Cl,nm,
Flú:.:s1:m: ,1 1":e;:µ,çi.t>
São 1',,11!0, Dúciuus E<l:10,•S/A.. 196} (2 wls.); "A Pems:ênd~
quanto "grupo", seja para furç,,r ajustamentos mais frutíferos do P~sê.o" ( Co.-:f,,re.~;;e f.1!1 Rae <.:olor,Co-penb:a:ger-:..
oi..:'J.d 1565);
por p,me dos "braocos" .(Em terceiro lugar, cabe aos próprios ulmisµcion ~.nd Rilre Re~tioc.s" (Tbe lon,'er-ence Qr. R.:u ,md
"brancos" um esforço decreeducação, para que deixem de falary' 1%5).
i,: L:tin l!mh'ir:.u:D:u-ingtbi! J.\\.-:ior.r.t
Cl.,:ss:1 Puiod~ No\-a Jorq-.at,
em "democracia racbl" sem t1ad2 faz ~ <le concreto a seu favor
e fazendo muito no sentido con~ári~ Sení dilícil que o govern rREYRJ:C.G::h.:to: Sobr.rdott ,\/uca,.bos, 2: cd., R:o c.lcJan::i.ro,Liwaút
José Olyr.ipio Llil<ln, :951 (Vo:. 2, cap. VIIJ; Vcl. J, cap. Xl};
ou os próprios compc,ncntcs dn "população de cor" consigam O M::mdo qu~ o PorJuzuh Criem. Rio de J:u1ciro,.J..!\7:irl.J.Josl:
;11
êxito diante da irxliie=ç:i do "branco" nesse asst11110. pre- 1 01:;mpío lidi:u::i, 19.;().
ciso que se ct1mpre~nda que uma sockd:ide nacional não pode FlJR'l'AfX>, Ccéso:l'orms,;ã<> Ecor.6micado }J,.,,1, Rio ée Janciro, Eéitott
ser homt~....neae foncio.oarequilibradamente sob a permanência Fun<lo<l.<Cullma S/A.• 1959.
persistente de fatore; de desigi.1aldadcqcc solapam a solidaciedade Cl:--iSBER(;, ,\nica M<:ie: "i>d<!uiso,,,obre a, Atin:dcs de um GruJ>O di:
113.cional:Alétn disso, c~rn ck cvohúr para o~õe;; menos.roscas / füct>l.m:•cm Rcla,;iioJàlm u Cótnçu de Ccr", /11 UNJ:'.SCO-
i:: egoi;uc;is elo que vem a ser uma democn1cJÕ1' Nnda disso se ANHEJ\-IBf,,rp r:I , pp• .Hl-361. .
conS(guirádei:llTode um pra:zocurto, porém, através do,; efeitos 111\RIUS.M,i•,i.n: P111tm1Jo/ R.11~ i,: ibt Ama-ius, NO\'olcxq11c,Wal~er
~b mud.~oça social espontânea. O que e:la podia produzir está & Co., 1%4.
pate:ite e ooosrrnque, em vez de elimillllr.mos a.s conttedições, 11\NNI, O:tovio; ,'J !l,'t,:,11or{ase1
do EIQ"ai-c;,Siio>l'OU:o,Dli<l$ãoEuropéia
~wllCllt-runos
as tensões ancig:1.s
e criamosoutras novas, de poten- <lo Llno, 1962.
ciali<fadedestIUtiva ainda maior. Convém, {)Ois, que se inicie LOBO. H2d,tod: e Ak>isi, Ir-:-né: O 'l\~ro n~ Vida SociiX Drasifei.rtz Sso
l'a,Jo, S. E. l'srnr>ln:a, 1\41. •
um program:1 caciooal voltado oara o dilema social des minorias
que n1io têm mndições autôno:nns pata resolver rapidamente os .\11\RTUSC.:ELI.I, Cm,Jina: "Uma l>s::squis:.,obre Aceitação de Grupos
G,-l-'JX'$"Racüi~ e Gru;::osRq;ionfil, ei!1 São Paulo'',
Nac.lc.caES>t
problem~s de se~ integração à ordem econômica, social e política &,letim i!e p,;a,iof,ia, N.• >,l'xuldadi: de l'ilosofia, Ci.nciase Letras
i=ente à S<.'Ciedadcnacional.. da Uoiv.:rsidadcde São Poulo, 1950, pp. 5J-7J,

JJ
MO:lEIRA LEITE, Dame: "l'rooiocd tu iucii e Pauiotwno cm Seis o, tn16alh(,sq,.1e ~ de.eo,'Olvcm na ,'usocioçãoCul-
Ar.on,..,cllllllJ.:>
J,i.,,·"'Dkl;1iru. de Pr;oologi,,N:
l'ri;.;;ri<» ll.rasile:ro<". H,,1;::i,,:1 tural elo N~ro, aos ltalrus c,-peri,,x.n::ús (d: oriCTtts;,õcs divcrs.tl), n~
>,cp. e!:., pp. 20(,-2} 1 AOASE••na fcooaçoo éo,s Bra.<ircirosd~ Cor (<1u:co,g:ct~ ci~des no s:il
SOr.t,;J',J.Rl,, Orot1·: ·t<oJ,çõcs Ra61i, no Mnnicip':o J.. ltg;x:cininga~, do Esu,cn) e oo:w emiw<l..-sori11ndascl.t rett;io do C:c:mm10i:cgro Jian:e
it, L:-.°ESCQ._'\Nl➔t,.,\11\l, op. cit., p;,. J<,2-5.54;"l'tt'<X>na,i-:ode do v~-ooaeiro, FlorestanFcrr.a.nd<"S :.tfirml.que "<=SSCS mfr.i..c1tnros.tlltStem
Mat,.-;it l':..ro:Jô:i,o Raci,t de ~.n", Anit do XXXI <Angrerso de neu:$:s:ch~se>,..i;t:$ Ímperi053,; n&S?O.Pula~ cq;ru". ronclusiiob::lse,,d.11.
de A1'1trieai:i:tot, Sãu P:i»'o, J¼_to."ll il.:ih:m)>i L.lda. l'Jj.5, Vo'. I na posqu.is3rcsli7.ada por <!.: jo:11.am::;itecom seu anti,,;(, Vtof<:sror~
-;,, 409-13 ,; ~11,:1udo O.:sfaw"'l\"tis de Ali;,ms ktunciautc, rlc São Bmide.
P,,..;o Clll Rcl2çi:o""" Em'()ftt•clos de e,,,;•, Sociolotil, Síio Paulo,
Vol, LV•N." 4, 1?42. op. 32S-J;i8.
PffiRSON, Dou]d: Bw,c01 , Pr,ros ,:a Bahia, Sio .Paulo, Caaipae.hh Após 11 Abolição
E-:!:,.,,.,,N:lcioooL 1945; "Lc P.ciui)é R1tdal c!'A11nõsl'E1udc dcs
S!t.1at:xnslla.dak..~'\Butk:it: l1mm:$t:Ona!, -da Sc:er:ces Soddes
Pcis, Vo:. ll N.• 4, 1951J, ;,p. 48&-500. ' - ''Dll.tllnfe o período c6 escravidão - diz Florcstnn Fer-
l'R/\DO JONIOR, Caio: Form,rio <loBnssil Co111w1P(JrJneo.
Colaaia, nandc,; - o negro viveu em estado de dependêocu social tão
São P:u.:lo.LlvrariaMart:.llsEcfüora,l ':)-.:12.. t.•,rlrcmo, que não chegou a participttt, autonomAmente, das for-
R l.llLIRO,Rer.é: Rclig:iio , &!a(l:,r Rac:iw, Rio de J•ndro, Ministério mn, de vida socfol org,alliudas mínimas, co[1)0 a família e outros
<ic Ecuo,çiio e CU:tw:o, 1956. RTUJ)tn('llln.írim: de que se beneíiciavam _osbrancos. A Aboli&
WAGLEY, Ch9r:... oom o col2bcnçio de Harry W. Hutchinson, Macvia oconcu em condtço~ que foram verdAdem,mente "espohattvas ';
i:farrli e Ben Zi.mocrm:m, R«es ct Cia;s:-s d@i k Brl.síl Rural, ,ló Jlo1HoJc.- vi,ra Ja $itunção de interesse dos negros. Estes
Paris, U=:-:ESCO, s. d. t><'rdcrnmo úoico ponto de referências que os associava ativa-
WAGLEY, Cb:lrle. e Hatris, .\.1.u,vc<:i\!im;riJi,s iu 1/J, New World, N0\02 mente à oossu ccononüa e à nossa vida social. Em conseqüência,
[ir.qce, Co.'-,unbiaUni,-etsicy, 1958. viram-se convertidos em "párias" da cidade, formando o grosso
\\7JLLEMS,Em~: '•R= Auin:dà in Bnz:1", Tb, Améri.m Jo:nnaJ of da população dependente de ~o Pado nos três primeiros (leçê.
SociO:Ov, Cbi,.""io, lll., Vol. UV-1,: 5, 1949, pp. 402-408. nios do nosso século. EssC$fatos foram descritos por vários via-
jantes e estudiosos, tendo merecido análise mais completa cb
p:me de Bastide e do sociólogo norte-americano lov:rie. Para
APÊNDICE patticipar da&garantias e do; direitos sociais, consa.grados por
nossosiste,nia_~ yida., os nêgr{,s -th·er-~izi'l';.Jeãesen,:Õlvcr U;!2
j) REMOTO O .IUSCODE SEGREGAÇÃO R,\CIAL ORIGINÃRIO Ôsfpr.50_pro?!lº de aw:(),(ldurnção _e de aut~ccscl,irecimenio.em
DA ARR.EGD,IENTAÇ.\0 )if;GR.A (1) escala coletiva. ,\li1uos l!dercs m:11sesdar=dos e bem info1-ma-
E114o.r.,nc:,se a1l niú existir ptCCOIICQto, os sociõloi,;o,llogr::rBastidc
dos, apoiados por compmiheiros qtie pero:biam s importância
e Fl(l{cs:an Fe:-1u.odes r.:.-~pesquisas que:01lmina:.1mnas
5<:::.-n:Jrc.nha-..:un desses empreendimentos para • população ncgr•. desde 1930 vêm
e<l!lCh..~i cont,Lu em i,R::~iX!S lUciais cncre Draocose ~egros cm São difundir.do cnsirn1mentos q11emostram as vantai;ens inerente. i
P:ndon, Jj-;rode 40.iüse d.lS r.,3nffcsa;õc> CO preccmoeiu> de cor. nssi:milaçãode formas de organização das atividades soci:.üs comi-
F. =nqc3JltO se d:c, pen e sim?lc:sroc:n:~, que "aão cxi>tc o problca» nantes no meio ambiente. Assiro, realiz= Cllmpa~Jiaspam a
éu r.t:gr()", o l'l'<>Í<:s>orFto:csum f-crnalldcs prepara-se par.t defender sua
u:sc ;-,1st:uncote a propúsitt,cio p,O()Jc:m:,do negro, c:<tc:ndcndo suas pes- re:1bili.taçao
"d"-• mae so1·»
terra . l!l'tH·Cpro bl<.'maporq,Je aumenta u
quisas • S.n:a C:rnrina e tüo Gi-•ndc do Sul · número de menores dcsa_'nparndos e dificulta o casaroCll to ou a
llcrC$<aDFe=de> ,em, por ou:ro lado, opbüio furmad• sobre as constitu:çao da família; para o inceutrvo da rcs,xmsabilidade do
en::ida.dcs (lL'C !>L!J;inc rccen:c:nen:eou C'Slio iu.:ginda ~n aghninar os J>.Úoa altx'<IÇOOdos filhos e na 1nan11(eoçãodo lar; p:m1 o a\)9.1'1-
<.Jc,ilCJl:os t no Inteticr crc tOmu ~ chamadas
:lél!:O• na C..,_p,1,l «,~rin- dono dos "porões" e de, "c<Jrtiços''e., aqc:isiçãodo ca.sa própri,1;
dicaçiie, w nça".
para a valorfaaçoo da aptcndi,,2J1.emde profusões acessíveis 'SOS
negros, tendo em ":sta suas habilitações; para o combate no
(l) Enrtt•:ist1 !él:cit><fa e publ:cad.1 pO! ffis Rai&, •utor d• nota maHaheti;1no; par,, a Jl-lJ1icipaçiiomois vigorosa e consciente
io.crodu!6:ia:Di!:.rioU NtJiu> 9/1V/19SB. nas atividades polftiais etc. wes movimentos so&ctam altos e

JG 37
baixos, paralisando-se, ou arrefecendo-se na "ditoourn", ganhando
novos alentos aqui e acolá, graças às co!l<lkü;;s mais ou me.nos
fovo.clveis de vida de uma ~qt:cna da;se ll1~d1a .ne,.ra em São à pergt,ma ;cbre se r.;is movimenm~ de er:e-
Re;J?C>n<.le:1<lo
nascem de nece.s-
PanJo.,1:t\s.sbi,p&:-a t<.:3u.r.,ir:esse~ movirneut<..'s j><Xl;:rifün
git10:::i1z.ç,fo p,-c.-dm:ltuma iicull-,"lfo
.!e se;1rer,açiío rsc,,l
sidacles sociais pr6prias da populaçã,, n"l,nl e.iaCspitaJ e trnduzcm l°Qmp.,dvel ,, cxistcme nus Es1a<lo:;L:nidos,<le.:lua o l'rof. Flo-
ª. ~obilidade ou ~ soc<.:ssosde ul~:-ni.d7 ~us, $elon.-;:, na compc-/ re,-:un Fenu:id.;s que '·o desfecho da coc.i~ciçíío e do cm,flim
~ao ,om c,s brancos e na asccnsno SOC1ru]; nas Rt!açõc-s cuL-c grupos Raciais Jistin'.o,, depe!lde de vnrios
f.dturcs t: ~ondi<,-í'L-s
5ociai.s>·.
- "Pdo qi1e sabcmc>s, com base na p,-s<.Juirn dctuada em
Nao pt;r Pri,;i/ég,ios f,f(is Contra Pri:;ilégios S,io P:1ulo - acresa:t:.to'1- esse ri>t'tl ~ri,te, ;:,ois ainda :ião
Prosscgr.in<l.o, acentua o Prof. Flor-:sl".m Femslldes que ' se ,abe c-omoas diferentes cariadas éa ;,opula.;iiuhrlillca 90<:lerfo
· à !l ..cen:,,;ao
rc1t•;1r ~ SQCJ ·a1 do negro. Co:Jt::d o, i:::
' pte-..1s0
· ponc..ersr
'
ªesses movirnenoos correspondem a fins socialncnte úteis,,, que
a.Lugam·'as es!er-as dentro d.ts quai~ nos,;o estilo de \·ida é posto
em pt:ític:ã".
r
,lnn n t, s. P,·imciro. se isso chegass<a ocorrer, n.ão ;erh1 por
,.,1,, ,. ,ln, 111,\\
m<111<1 ,,,, .1<1111,
inwnto~ de ai:n:gimen1,1ç:10dos m,gros.li,bisola-
rnl1u1.J t: social, cm caws dessa oacuteT.a. cons-
- "Em outras pala,'Ns, eles se baseiaiu em 11:.ó,ds e e!ll 1,1"1um I''" 1, 10 J!n.iin1ro do tr.itamemo dispensado às mboti2'>
as1)ir-ações~ociais que, bem suceJiJos, farão <los negros melhores r ·" 1.11, ..,nk:.1,. dcmnnsu Jn<lo a i11ep.p-,çidadcda urckm soc1tl
f cidadãos. /)}-Táquem pc:11,eque o negro luta por privilégios, atrn- ,1 , v, luir na direção de p:Klrõcs i11tcgrarivos de recoasrruçoo
1 vés Llesscs movimentos. Mas, i;so não é ,e:dade: cles luta;n '"' 10L7Soh c<sc as~--cco, pois, o ;x.:riiio?()ti:ndal da segrei::c.ção
/, contra privilégios, que os manti\'er.Jm efostados. em detrimento i'OC"ria ser ad.mkido. E!e nã<l st:ia cau;aéo pelo nie~ro, no cn-
1 de llOssa seRtJrançae de nosso progresso,dns direitos fuoo:llllen- t::Jr:to, q<LCpassaria ~ sofrer c-s ele:1os da sit:o?.ÇNO global nas
tais do homem em nossa o~em :;oc;a!7•
A esse re;peito. convém atimdc-s e '"' comporta:nento é-OSl::r,111eos. F.ste é o pru~lcroa.
<._ frisar que não lutam contra pessoas cu grupos, qi:e 1100 u; mima
Os ":novimc.:tos d~ arn:.;,iruentação,são aper~, uma parcela d.\
a ambição de prejadkar o branco cu corn..l-,accros ,,alores " íns-
siruaçíío global e a re,ção desfa,or:íveJdos brnnm.s n:io serfu
tihú~õcs sociais que U1econferem ri<:;:L>eza.
pockr ou estab:tlio:!ade. p1·1w0<.':!da a?(:nas por des. A segunda coi!a, que pn.-cisa ser
As impuls&>.s psko-50éa:s, ineremes :1 seu~ "movimcncos de arrc- ponderada. diz :espdto ao cadt.er eventu9J de<.se presunú,-el pe-
gimcmação", C'Onduzcm, ao CQntnítio, a alvo bem dikrence: o
r..go, Não, C:C<:.a.-tQt;.}Ut e.k vçnh:i :l <Y.'orrer, sendo n1uito '-'<1tiadas
de: t,ennitir ao :i:egro ter acesso mais livre e equitaévo a esses
e fortt-s as ;,n;:,:;õe~ em se:ilido conmírio. Ezitrc estas, ccmpre
valores e instíruições. ~ão são, potmn:o, roovjmento~ conduzidos.
põ~ cm rcl~;o, ns rund:ções concre1asda compecçio do negro
pdo pmpósiro ele at?menlu a á.rca de confl;tos sociais de "°"'ª rom o br.anco, que cio soock :nddc ~ crfar <lificuldade.sinsi::p:,.
socicdadc. l/P gue seus fins sociais conscientes pre,~upõe=n é o ,
níveis p.,,,~ es,e, dad"' as oportunidades crescentes oferecidas pelo
alargamento efetivo da área c.le ikOJ!!odaç~1. pch ime_P.r;!Çfodo
jsis,ema :x:upacicnal;lfinei..--isté:?cia__ <le alvos definido~ e:<:oposição
negro às oportuo idades econôm:~-as. políticas, educacionais e n1cial. por parte co negro, qu-: nao preter,de desalo;ar o br:ioco
sociais, conferidas ãOS bunoos sem tcscriç0Cil1 Parece-1-m que ê;1s posiçi5es ~ocinis cm que de s:: encontra, ma:i compartil!iar
i!SO eviêem:ia que são infomfadcs os receios, cc c,.,rtasc-amad.ts com ele &,s dirc:::os " gatlntil!~ $~ia~/ os cciidéncias i~eoló!\':cas
sociais, de que cles redundem cm "perigr;$" políticos OJ raciais. e :,tóp!Cas q:~ -.:aJorizam. no ul:e!O .:lntOCO,il tntc-gra~ao ~~;,\l;
l\o fundo, o negro tomou a si a 1a...-efa<le lu1ar contra esses o fort.alecime:>to co ::x.-gin:cdem;:.,ctático, q·ic ,u,,p.,ra polmca-
perigos, cn:rrotando com seus recu~os e sem ne:ihu1:1,1 manifes- mecite aq~el2~ i"i:nCênci~. Por i~o, presnrr.o q::c não d:!l.·emos
tação mais forte ele si111p.ati•01, de comp1·e.eMão." gig,rn,e;ca 1:uls ooLGot.1tt
te(Tler e5$eS •.:-movi:11c::t<:>S~', r,ar11que eles Ceíin~m
rc:sponsaI,ilid,de de prep-,U"3r-se()llta a vida !1UID1l ortlem ;ocial m.elh,ir e alcancem realmente os seu; alvos construtivos, tão im-
democrácica''. ~\Ortrulle$ 1;ara wn pais oovo e heterogêneo como o Brasil".

J8 J9
APtNDICE po!ícica entre o "negro" e o "branco" srní gr.iode, embora tal
\ coisa não seja =onhc.-cida de modo ab<:tto,hc,:iesto e explkito"!
2) BnASlL .ESTJ, .BIDJLONG!l DE SER UMA DE~10CRll.CIA
R.-1,CIAL
(>)
. ltc:.1:faa-se, e:u Br."..Sí.:ic1. sobre:$c;;rcsaçêoRs.i.JJ,p:omo-
l,..!!l Sc:r.1!1J.á:k>
,>i<lo;,el:, 0:::-lU. O )>;;cfc:to Pl!ni1> C.1t~nhe.k, d\1:an,e a -..:Cnidadeée
iastal~:io 00 Sariní.rio) diJSe'-f'.l::::eraw~ :Kmr::a rcr B.ras!liacoco se-de
l~l1'2. clisc:n:si~de cm d<.lsuaws j:.:-<\;l:..ll'JS da mu~ o
:.t1U1:n. lq).:eseJl• Co:-ainuaado a :csponder !Cbre a fobda "democracia rací,il",
e:-itr~otrt:r::sc~u. :1fir:oo.a;,.,-;1c:
[Z.n.lcd.a Scó...-:ia., r:io existe conflito mci.al
oo B:,,s:l. • acrc;centou: "Os n:mltado., cfa invc-stigação q-.ie f:z, e:n colabo-
M:t:.s!
:ii.::Qm~n::-::. -.,crd1é:e,l.ll~ cqai .niloc>:~c: t3l «:uWr.o?Pat!:Jnc~ ração com o 1'rofo5sor R~er l:lasú<le, demorutr,m1 gt:e es:;a pro-
de vm pr:"':ipio àe:::,cna~ 11• qce,;,io do 1o<;;<c&ac'oru.sro.e< - Exn:e J>:é- palada 'le11:-oc.raciaracial" ooo_passa,infdí:r.mente~de u.tn_mi{ll_
coricx:1co toc::,J ,cr:l J:.0$S,;, priú? &ta e O'.UJ'u FCftU!lla,S sW r-espo-ndiún, sociàJ..E mn mito o:iaoop.cln.JlllÚ9,tiae rcrido em t'lt_ta os .inte-
1Jo<iuPrcl'e"'-'<Flores:i..,F=1.ode,, a.:c.:lrfüco c.•Cadeu:,1de So:fol.ogillJ res$CSsociais e ~ valores morais d~.ssa ma:oiia; ele níío ~juca o
da Faç.llda::ede FO.:osolia, l:iiida, e ktt.~ 61 USP. '
"br.mco'' no ~ntido Je obrigá-!o a dio~inuir as furmas C:\.--Ísumtcs
de r~-i;isicnda i1a<rcns~o social do ·'negro"; cem o ajuca o "negro" •
a mmar n.>n-.c,êncbrc~lista da siruação e ~ lucac p,lta modificá-la,
de moJo n cunvc, ter a "tol~rfutcia rttdal"' e,ristenle eru um fator
favo1iivel :1 seu êxito como pessoa e como rccmhro &eum esroqtre
In.:cialmcnte, o Profe;sor Ploresta.::i Fcrnanc!es "hordou a ''racial...
qu'."'rlki da pcis,ênda ou .nEo cl~ÕQÇracia ,racial", no Brasil,,
Afüfa <estet<:n:'3é debatido 110seu 1Jlriti:olivro ("A Intcgnição do
~gro llll Sociedade de Classes". aip1tuws .}, 5 te 6 ); "Na ,·er-
dade, nos acostwrurnu.s à situai;;.,., e,drtcnte no Btasil e confun-
dimos to."'1-ância !Jdal com dcmocr-acia racial. '!'.ira qÜe ·e,1.1
t\tílmãe::rl,ta -.ão 6 suficienic que iiaja ali;ulJla harmonia 11.llsrc• Í~·m.1beJ~c:doq::c: e~istc ,,rtc\.-ooccico:aé.al no Bra..;;iJ,
o Ptv!.
lações sociais ée p;::sso~ pertcnccnr.es a estoques r-.iciaisdi.ferenks Flore.slan ferw.ndes escliir,:,-ccu:
~u qt.e pc1-ren.~m a "Ra~2S•· distinta,. O,,mocrac:a sigai[ca, ' - '·De foto, e..-dst<:m,!Ír:as fonu.1s S<X:Ío--ouliurais
2-: preco.nceilo
mnd~m::m,1l01e1Uc.igualdade social, ecxlnb:i,'ca e políric,t. OrJ, racial. O que há de ma\, ct'L'OS<:ll, consiste uo foto (]e que 1~
no .13rasil, ai;sd11hoje n[(o cur,scg11i1uos,-onstroir unlll Sociedade mamns como paralelo e t'po d:: prcro,...~eit:oracial '"'i'líciu.>, ,il.,erto
D:omocrática 11eo, mesn10 j)'.UU o, ·'bratKn," dns elites o-adiei~ 1 ;:: ;;:He.TuÍlicoposto en J>1:iÍ!irn r
nos ,m:dc, Ullidm. Todsvis, oo
nais e <la.sd21!i::s médias em florescitne=to.]JF. wlli! cunfos.'-ío,so'.:. c.~pec~alk"'!a~ já ,.:v:<iencitr,aw cxis.-en, vido, tip.ns d~ ptecon-
<-JLLt:
rnu7,os aspe:ccosfari~i~-1.~ptL'tcnderque o neg.r.-o e o mulato con- ~itc e, pdo rr.en0$ vm ::10,:ic'.:-lc-1,'<l
brasileiro, o Prot~"Ss..Jr
OU:Kv_ \
tem COJn i:;nahladc de opo:nn'dac!e, diante <lo brdnco, em ter· ,, . . '"t ~
-~.:.-.1, s,: preooJf:O; em c11ractcr11.a- :1$ ui ·ercnç;1s existem~ ) ~
rnos ,le -rcnds, de prescígio socia I e d.: poder. entre Oj)fl"<.-OT.CCl[O reçiaLs.i,,;~-=má.i~•lUS O\.Xlrr-~ nos,.J!~.ui~~ ,.
. . :--o ~•~ár&.>hrllsikiro c!erelação l'acial, ainda ho ;,-; donúi:!an,c, tfni<l:,!i,e o nrc.conrei:or;1~ialé.i.~~rrm1
atlo e as:::i~--i:<..tr~ticn,J
do tjEº
to1 cot1struíci1para. un1a :c:ocieckdc escravista. ou ~e}fl, para n1an- Cooque s:: m~::n~fcstn n~sH. /j!á~cntci; del'C.inhaparte, com- \
rtr o "11ei,-..-o"<oba su;dçoo do "hran.:o". Enqua,,to esse padrão preenJcr genctcarmnt,e o DO$~o uxKlo de se,-. Segu:ido p:,o,m,
cc relação racial nã<>for aboliéo, 9 di;t,1ncfa cconõroica, social e o ca:olicismo crioc um dr,1011 Cloral para os anti~os senhores )
de ~c.crJ\'ôS~ pois a cscr~viôáo coli~ia com os a.:mores• cristãos. .>
1

(2} Parle.; de llClO "11'TI:VÍS!ll~EC\oo roe A G:;ze:a,21/VITI/196&. StL-giudai, i.:.::~urll!vdm{;:1t."'!,


a te"dêru:iaa d:SI:irç;lra inobse.r-
Reprodvr.ida ""' f. F=ancks, J. B. :Boiecs Pe:.,ic~ e O. NOJ,>w:ini,A vând~ <!os.H1no::c:s?i, pela recusaS..:.St;.:m~~a do recooh~cirne.nto (
Q;R.dâo R.t:ciclBrtISildr; V is:1 por 1'rês Prj.f~.rWt~!~ de
São Ptulo, ]!..,<cola da ext~tenc:a d(- t n) _?rt<'on:::cito
1 qne l~.1t1m:1,·{'I a pr6;:>r::1
c:~cra-
Ü"'11111icllçiiC$ e Arte,; - U .5.I'., 1971. vidiio"] 1

41
"./\,."egro
·• Versus ·7Jranco'' conduziu os .__hmncos··2. uma pollúc:1 de amparo :to negro e ao
f'I,,,,rnn I emandes rontinoo: "Sem a idéia de que o "Ne- mulato. Como o dcmo:mram os tesult.tdos ela aoálise pioneira
~roy ~c-j~ '"inferior·•e ncccs~ri2rrleote ;'subordinado,,
~o ''bran- ( de Roberto Simonscn, cm ttab,ilho magistral, nos mou:ento; 111:iis
2 e:.c~vi<lãouão seria po.~ível nwu pa!3 crisciio. Tomaram-se
1,;v'". duros da tl'ansição existiram fozcnclciws oue dc:feo<li:una idéia
C' :n~ 11oç~s r_:1:c:,
_dar fw12frínenroà escr.,vidão e p,,ra ~limentar da indenização. Nenh,1m deles se levantou em prol da i.nde-
ou~r.t r:tcton.~1zac~ocorrcpte 1 ~undo a gual o próprio negro nizaçíio do escravo ou do lihcrtc> e, cm conseqüência, os seg-
11
sc:.nn benefic:1aéo pela ~cravJc-Jo, a:as sc!)l aceitar-se a moial roenros, da populaç:io brasileira que escavam associados à condi-
da rela.;ií? que se cs:abe~ia entre o senhor e o escravo. (Por ção de escravo ou de liberto v:rsm-se nas riones condições de
1s.so,~urgw oo Bto.il uma espécie de prcconccito reativo: o pze- vida nas grandes cidades. Fomm redw.idos a uma condição mar•
conceito contra o p,c'COncei10 ou o prccoD<:citode tec preconcei10::i/.1 ginal, n2 <JllOlse ,'Íraro mantidos aré o presemc. Somente écpois
Ao q:.i<:parece, _entendia-seque tcr p:ecooceiro seria degradante de 1945 começaram a surgir oporrunidades reais de clas:oifica-
e o ~lOJW ma:or passou ,1 ,er o d;, romb1tter a idéia tle que çíio nn c-s1n,1ur3da ordem socW competitiva, ainda assim, para
ei«smia preconc<:icono Bn.sil. = se fazer ruidano semido ele
melhorar a simação do negro e de ocabar com as misérias ine-
número liminado de individt1os potencialmente capazes de terem
i'xttv na ,olllr,etkão «Seio-econômicacom os brancos".
rentes ao seu d::stir.o hu:nano n:a rocicd:1debrnsileú:a. Acho
que, aqui scrid bom que se lcsscm os tr:thalh<>srecentes, publi-
cados por soció!<Jgos.fültropólogos e p~icú!<Jj?Os,
mais ou menos
concordan:es, e. e.~1 ;rat:cuhr, que o "brnnco" se reeducasse
de t.l ma=eir;: que poclesse pôr em prética, reahiente as dispo- _ .\ segnir, disse o famoso sociólogo: - "A discrimioa9io
sições igu~iu&ias que de pr<>pafocer disn:e do "neg~"- existente é nm produto do que chamei "per,istencia do passado",
c1n todas as esferas &s relações humanas - na mentãlidaJê do
((branco"e do "negro". nos seus ajustamentos à "'1daprática e
Di.<!rimi,raçiio
e Stgrcgação na organização das instir--,içõese dos grupos ~ociais. Para acabar. \
J-\pergunta ~xL"i,_~11. '.:.cfucim!.11:ição"
e Hsegreg9Ção"
rn- mos com esse ri_pode discrimin,ição, seria necessát1o extinguir
_, disse: .
ci:tis no Brasil. o _padrão uadicional b,~ileiro de ~ação racial., e criar um novo / f.
-t:.._A discriminação que se pratica no Brasil é parte da g_adrão~te igualitátio e i:kmocclticode rili.fe.:,racial que •
heranca social da soáeda<le escrevisw.. Ko muodo em que o "ne- cotifer1sse1gualdadc:econôom:s. ,,spc1al,cultural e 1l(llítica entre ;
_gro,,e o "-'branco'·se refacio11a\-am como escravo e senbor este n~ros, bWtro~ e..inu]ar~. As l)'.leSl!l,~S
jcl.<iaspodem ser !!Plicadas
último tinha pterroga!il'as que aqude não possuí;i - nem podia à SWe;?'i!.<J•
Esta foi p~cicada no J.l<lSsado senhorial, apesar dá
11
pos~uir: ccnlo coisa·' que era e 1 :fôlego ";"º~ uma espécie com'!Venc:apor vezes intrma. entre senhores e escra\'os. Fazia
parte de duplo estilo de vida CjUCseparava espacial, moral e social-
de "ins::\:meoto ani:nado d:is rdeç&s de produçií_o".A pass:igem
da soc,~ade e!Cra\'a parn ,i !Clciecladelivre o5o se' deu em co11- meme o "mundo da seoz.11:i" ào "mundo da casa grande''.
d icõe$ ideais. Ao contrário, o nc:,,roe o mular.o,·ir2J1Hesubmer- "A scgrcg:içiío do "oegro·, é mtil e dissimulaca, pois, ele é
iidos ,.,~ econo:ni;aC:(:m!-i;ístê~b. ni\'e\:lndo-se. eiuão, com o confinado ao que os anúgos lideres dos movimentes negros de
·'brnr.co", que tarobé:n níio coru;cg11iac!a<sif:car-sesçcialnie.111e, São Paulo chamavam <b "porão da sociedade". As coisas estão se
(Ili formar.<louwa .:s-p('Cic de escória da iirande cidade, vendo-se alccranclo, nos últimos tempos, mas de !o:ma muito superficial
çonden3<losà 1niscr:a social mais terrível e dell,rad,mte". e demorada. !'ara a1i.aginnosa situação oposta, implícita no nosso
mito de democnicia racial,o negro e o mulato precisariom con-
;-tboiícitmim10
Não Aho!i11 fundir-se coro o branco n= mundo de igualcade de oporiuni-
clades para todos, indcpendcnrcnocm:., da cor d:i pele ou da e:;ua-
Repotrnodo-s<: -ao al,"lic:011ísr10, t1oresran Fe.rnandes acen- ção soda!. É pouco provável q11:eisso se clê sem qve os ptóp,~cs
tu3: .....\pesa~ de sc1:.sideais b11manitários.o abol:Cionismon.1o negros e a.ulatas tcnha:n um:a consciência mAis ccmplet:1 e pf~

41 4)
íw1da de seus inrere;ses numo sociec::de muhi-r.>eial, em que
eles constituem uma rcino.rh"têe-;etdad.te pro~cr:ir-a,,.
Flo=rnn Fe01~n.:lesconcluiu, obseITando (1ue "foi prec:..<0
quase três qoartos de sécclo p,'J'.a:pe negro e mulato ~11contras-
sem, em $.to Pfülo. 11:rspectiw.s rompará-:eis àqllelas com oue se
ddro:irnraru os in:.igntDte; e ~us de.;centleme;. Qc,uito tempo
terá que correr p,ua q11e coru'gam Ln11a1nentoigualirúio m,ma
sociedade :ac-'ahnente aberta? Essi J:ergu::ta me 9~=e. funda• CAP1'l'ULO Il
memal. O, "neg::u," dev~n pr"?-tra:-,:': para resp()ndê-la.e o;
'·bl',tnco,'· devem prep,1=-se pan, ajudá-los, sol.idarism~te, a M013ILIDADE SOCIAL,E lU:LAÇôES R..-\CL>\.IS:
por em ;,r.ítiot a; soluçôe, que ,1 ra,ão in<llcru-,
,em subterfúgios O DRA~fA DO NJ::CRO F. DO ML'L!-.:TON"lJ:M
...\.
e com grandeza hWD30a ". SOCIEDADE E'.\·l '.\·1UDAKÇA•

1-Jouvenm momento em qut· O:::içie.,,ti:sta~ sedais aderiram


ti ii!éia<legut n ns.:t11sãosocial constitui \lm ir-diciode ,m~êncía
de preconceito e de di5Crimin~o t<tciais. A hipótese purecia
l,\gk,i, pois o sistema Je ca.stru.abolia a nxibilidade social ver•
tic:i'. e: ÍDlpu..,b•:is ;,essoosde castas diferente,;.que emra=m em
conwtu lH:e\'"i!-to ou fortuito, complic.1.dosrituais de pt:rificaçiio.
)qo cnta.ulo, vária:. ~1:isas feita, ~, socic·,hldesnacionais
dislinra.<,c!axioostraramque o preconceito e a êiscri.mi::i,:çãorn-
dais dif:cuh~una ascensão sc-cid de mioorias étnit:~ ou xaCll'Js.
Não o.l,srnntt, da ;iode oc<•ttet <em que o precoru:dto e 8 ,iíscti·
minoçõodcssp,L-eçam. lss<>htnro em sociedaccs nac:onais que se
organfaam; sucialn1C1Jtc; crn sis.tema bi-rach-tis
(romo ocorre nos
Estados Cn:d00<i,q1rnnto uo socicr..idcsir.•cicm,ris<.{ue&e orga·
nlza.m.. pdo menos teoric:a:nente,sctn l.."::var cl'itétio~
eo <..'.l.>.nt:.¼
de eSlr~ti fi::a,;ãorada 1 {côlllO sucede àó Dr-isll).
A situação brasilcir-1já {ni definido,por algw1se,pcciallstas,
com<>•C11doneiwa em relaçio 30 preconceito de raça e à t!isc.d-
min,1~-Jo1acial Ai invt:sLi;?JÇõcs r«cn1es. porão, indic-Jmq1Je
CJ<. ,~ ow abismo entre ns ldeolopia; e otopbs rzcfois domin:mr ..:s
uo Br~l, connruft.h,;oo passado l)Or elli.esbra~as e c;crt\vistas,
e a r~!id3dc 1":lcial. /\ afimrnção é verd~deira com rctcrêocia a
tod.,asas r.1inoria~nadon:üs, émic~ts oo raciais.: pelo m~)OS du·
raote o pc.--íocl-0
em que elas l'.io cou~ucn responder às prcs-

* Ar~,;:, c;c1iw p:tro s rc\·i...ctt1Re,-;:.:,d:;de


e p.1hü:-l.do C(.lm sua
uu.:orinçiudl! Cd.crr.os «$:Jkiros~ N."4i, Dtt:o~junho
de 1968, pp. 51-67
(ni:ncro ur-.;:1r~i2:Xlo por Abd~ ccmar.tr.rtivo d0$ ''80
éo Kf:SCi.J.r.ienw~
;'Ir.D, de Abo!iç-;;.,
., ) .

44 45
;ões assimilaáo:iistas ca sociedade nacional e aos cnterios de
avalfação s6cio-t"conômict<los círculos dorT'.Írl}tntcs das classes
' reccram n:elhores cou:lições ?Àa?tativ-Js às J)O?UÍaçõesnegr:as e
mulatu. l)oml'o lado. ,ts S!'<!as
q•Jc: perrcitirnm a p:c.-ser,~çiio QU
a inst:tlai;ãodas várias iorm.1sde cco::omfa.de s=bsist~ncia.conh..-..
ahas. F. eh é partlcularmeote ver<ladeira no que diz respeito
ao negro e no rnulato.
cidas no Brasil, rambé111oforeccrnm boas con&çõcs a<bprntivas
a essas Pot>ulsçõe.,. As ,L--e;s<1.feta<hs
oor mo-·krniz:.tçãosúbita e
:-Ja\-enfade,2 esl.'ravidão
descnvoh-eu-se
de ÍOf!MS bêm di- inter.sa,-~-Õmosuccdcucomo Su:, por c.~:>Jo. lo.-r.%1:lln\-~menos
versas :'ºlongo de. nossa bist6ria, nas regiões que conseguiram fo.vonívcis ao demento ~~ro e m::bto, que ou n:torn~l _pai:a
cxpanôn· • economu cxporudor3 em conexão com o trabalho :is regiões de or_igero( no pcr.o<lode d.~reg~ção do u,tl:>,lho
escravo.. ~ 1~n~o fria s:u~cdcr:tm st-5-iéda.com as regiões que sen1il e de consolidação co tn1lx1lnolivre) 0:) pr.:cisa dceitar
con~gmn:m r.!ptdo crcsc1mc:ntoc."'COnômi<.:o em oonex:iocom a condições de cxís1€--C1cia c:ctr=nroentc duros, cm panic:,hr se
iml_graçãc; o cr.:1halhnlivre e a ordem social comoetitivn. \·ivesse nas cidftêes.
No çue 12.ugeao pas~do. ,~ reg:ões que possuíam vitali• E~~as ronsiJer-açfx.:~
530 empiricamcn;c necessícfas. Não se
dadc econômica poôiam <.-xpandir a c.s-craviC2o t; co:icomitante-
cutr.11 ,1 -.iu,mçãodo ncg:-oe do md~ro f..:izeo<lo-setabtrl,t rasa
nx:nt::, os oportuoiê-,des de rrabalho que eram conferi<l:isao .lo 1,c:rlo,lnMna\' ÍSL:1e do que ocorreu ,o b:ig-.:, da instauraçfio
n~~ e.:::<)m=1~to: con:o libcr:os e hol"!lcns.livres.. A estagnação ,ti nrd ·111l()(i,11 nrnncdti\·:l. .\ 1\boliçã.o não sfeto~1, :1?'-=nas . ..1
e.::onom,oares::rui2.a,1 e,cr•nslo da cscr:t\'iclão,mas não impedia, 1"'' " lu , '-''• 1.1,tum! n, .,Tetou <1 ,11u;i.r.os.\o "ho:uejll
onde oco.c:esse, qne o ~ro e o mulf!tO oarticin~m ativam-cntt: '"'' ,1 , N., rd 1., Aboliç5o con, itui ;,1n l-pisó<lio
da e!IC\trt•rnonipr.cional.con>o =mvos. ·libenÕs e homens livres.
Os dois últimos 3daprav,,m-se à eco110miaele suhs:stência, ao
Jn, ""de um,, ,.vol 110 -0~i.> íci-3j]élo br,inco e l"'''"
o b~anco.
~.if,lo ifo rc me .crvil sem cc,ndi~ves paro s:.:achp!11< rap:d,1men;e
àtte.:lll,llo ur_:,ano,oo pequeno comércio e ouoos scrvicos de <l novo s~tem3 de trabalbo, à eronomia utbano----oin=ial e à
pt<.ftG:ila merecem as regi<k=-s
:uiportâociã, ~enç-Jo e.s1;:,."ial que m o<l • .. o mtJOnsen,t:e
cmizaç:10. ' <or" v1u-.s~
· < r
oup1:U)1er.tl! "--'
espm!auO. -
se incorporaram tardi~nlc ~ economia expol'tsdora, como su- ) í'.J'rimêiro, porque O ex-2!,-Cllle de mhalho c,cr(l','0 nílo tcl'e!:ieu
ccdo,e no Sul. e cm particular corn São Paulo. Aí, o surto ueohoma irnk·ll.r.ciçtlo. garzntiaou !"s~:~têcrfa; itgu-"tdo, porqu:~se
crnnóm i.cocomt,a a nt!llgir !ll.'11 prin:eito dfmax DOfim do 1íltimo viu, .repentinamente.,em rom.oetiç--.locom o br-.t:1C'Ocm ocu~la('Ões
qu~nel do sécnlo XTX ( ou. mais prccisaruc-nte, na última décacla que ernm écgrad:1ds.se rcp<.:Íidas ~1nteriorn1errte, sem t~r ·meios
desse ~éculo). N25 cir~mtâ::cia, em que se desei:imlou,o surro para enfrentar e repelir =a form,, r,,ais s:1til de cc,pojamenro
econôrn ico n?io hcocficiou. o 1.."X-.agente de t.ral'r.llho
escravo, nem soci.al.;T/Só
com o tempo é que :ria o;,ardh<lr-se pM8 isso, mas de
m.esm<> 0$ qu.e j,í e:am, então. libelos e homens livres. 'A con• modo L'lo Ímpt."tfoi10 ciue atw:!a l:oje se sot.le ÍIT("lü:DIC }XIJ'.<>
corrênda dos imip.rantcs não só os <lt~ojou da.; pos::çõês mais dispt.uarªn traba:'ho li:~ .'.'aPátrio li:,,-=».
ou meo.<>$ vanrojosasque <)C\)p-,1"an:impediu que eles ahsorvcs-
sew, na Enba do padrão rr,idiómal de ajush1memo econômico {CJ)o ponto de v!Sta sodol~ico,. o q:1c intct~s.sa~ ::~se pano
impcr.u.ae se,!, a escravidão. •~ o::iortuniúadcs novas. T'or c.~sa de fui,<lo,é o faro <k qu<: os esloques netrC1e mulai\l da pop\1·
razãt.\a ~.•ol~to bttrít:.,....,.sa
foi int~~tm.~nte f.!esf.avorá.vel 20 de-
Laçâo Urasileim ainda não ating~uu um ?am.mnr que favoteça.
mento negro e mu1'llo, oon:o no meio rural, quanlO principoJ- ,1.1ar-.ípitla inrctroçiio às estruturas c,up::do.,..is, sociais e cul-
□cmc no meio utbi.:10, dos fins rlo sé-culoX1X :tté '1 d&stdâ~e nrraí,; cri1\(J.1Sem cono:ão c<'m a ~:nergência~ ·a cxpl!llsão<lo
193~ De.ta ép,x:a em <lfonte, ~mbos adquirem melhor posiçio c:ipit:ilis~Quando ele.<~pr.:.rntam indício, <!e aà.1ptaçfülfavo-
relaava, 2bsorvenc!o ,is oportunidades ccnnômic,1sque a inrensífi- rávd~ est.l!:lOS &ir..nte de estruturas ocu~dnnais e ~ócio-econó--
c,,çiio <lnd:)scn,ol,irutnlo urlxu>o-hdusaial e a expansão agrícola mioasque oão for,llll aferodaspelas 1ransfoi-maçõcs
oconitlas ou
tendem a co:1fcrirao!- ttab3.1.rutdoré:S
na_cionais
im:.grantes
.. de e,c;tmttcas nuvas. que ab~o..-vcm a u1:ão--<le-0btanaéon..1.l sem
q,18lificaçõcs cspccfais e sem mclhor~s perspeetivas~:,o signi-
. _ Esse_rJp:~o bosquejo permite assina!ar alguns aspectos esscn- fte,l, em outrn, pa]a..-n1s.tJue a a:-censi[osocial d:, _ o e do
c,ai; ón S1n12ç,,ode contam rac'<i! i□perante no Brasil. As áreas
n111!a10apresenta dois aspc,:ms disti::tos. O qi::e p=.c ser '1SC:en-
que ~tingiram seu clíroox. de prospcricbdc ccnnômlca no período
são social no horizonte rultural co negro e do noularo, muitas
colonial a;, cm conexão com a emaocipaçiío pollõca do pa!s, ofe-
47
·Í6
vcz.:s não ~ss.-1. de mer-a incoq,omção ao sistcraa de cla.,ses. A 3% :o o iegundu ro1:1 qu33e 12,5%. Doutro lado, :1 distríbu.õçoo
as!X'nsão sodal ve:dooeira, isto é, n mobilidade sociul vertical das posições cm c:,da gru?o de cor s.:gere que o negro e o mu-
oo sentido ~s::cndcntc, claitro do sistema soci,ú vigente, ainda lato estão longe de pa,tici;,ec c!,1s oportull!daó!s 0q1pncionais
oão re o:ganizou.,__,lla.""- eles, <:omo um p1ocesso histórico e uma e sócio-econômicas em cond'ções de i~ualdade com o htanco. Essa
1ealidad:: mlct!v.!,( Í\ tiJ•~e a alguo;. ;egn.~ntos ( ou melhor c.enos clistribuíciío ruscic~ certus ih;sões, na !!1edidt1etn q1.1ecoe-obre e
indivíduos) d:1 11c,mlaçlíode cor", s= rtperrutír na :il,craçào relativiza: diferenças c!e partidp::ção Jaq::elas opoctu:lidadcs muito
dos cste:c6t:pos ~ntiros, nos p,\drõei que n.>g;:m as rdaçõcs tK-en:un~s entre oo dh~rfos <:5tcqncs rJl.78".!. J.:.o que torna C\·Í--
raciais e sem susci<íl.:-llll.l íhxo comtaute d~ mobilidad<e social
2:S:::cndente r::o"mejo neg.ro".il:w sunu:, ~ õ..-pansãnurbana,, a• dcmc o qoclro Y., de signífiaação e;.peçial pnm o cosso ~"tudo:
n.'\·nlução inó1,tri11l e a ocoderoi:,.tçãu ainda cio prodaítatn l.º) porque mostra, indírecr.mente, que a .inreguc:io do negro ao
efeitos '.,osu,cte profooJos 1,ara ,uoJificar a exL--cma i!csíg;."'1dade sistc= de classes níío lhe p:oporciom1,de fum, as condições de
mci•I que herdxnos do p.1;,,;ndo;J/fi.._-c!Jo:a "indivíduos de cor''.. partic:paçíio cclml-a.l, acessíveis ao branco; 2.•) porque dcmonsua,
partici1,eu1 ( em algumas regiões segw,ck, ?rcporções 2p:1ttnte- conclusi~·ainenre. que os esroqt.~s n;;:groe mulato não dominam,
mente consi<.<er.bieis), elas"conqu:,tas c!o p=ogresso•·,não se pode pro...-nvclmenrepor causa ele suas po,,ições na esaul'UTII sócio-
afi~mai-, obiet.:vameutt:, que efos con:parti'.heo, cdetl-,amente, •«ou~mica e por moti"os relaciona<los oom suas tradições cu}.
61, coneri:es de mobilidade sodat vcrtíc,J ,i11Culadas ,1cstrutW:a, torais, os c•innis de ascensão social que poderÍ,!tn permitir tanto
e ao dL-:<cm•olvim~ntodn socie<lnd.:
ao fo::cio:l:tmc·mo de d.as~~ .1 mdhoáa de $URS possibilidades de competição com os "brar~
ws". qu:into h am1>liaçiio de suas perspectivas de mobilidade
Cssa afirmação cx,~trarla o que se c~t~ama dizer sôbre a social v~rtical. Esse qu:tclro, aliás, dá cru,rg,:m a conclusões melan-
àe,mx:,·.:ciamâal q-;e imperaria no Br11sil.ÍÉ que se confundem cólic:1•. pois deixa p3tente que: :llé ao nível do e::isino elementar
padrões de to~erâocia csttirnmcntc :mpcrativos º!L.. esfeta do de- existe.'11aoentuados "pri~-ilégics sociais da niça b111nca''.IIJ-fo
coro social rom ipmldadc :acfal pr<."Pruamcotc cli¼,_jPar,i se ter fundo, ,,s posi,óes des"ant.aj~as dos <:stoquc.,negro e ro\1latona
u:maic!éia.2o alcance dessa int~r,nc:!1Çio~~ri;;. SÜtlC..lente consi- estrutura sócio-econ(i:ni:::,cwidido:12 fo:mas ele participação cul-
derar alg-.llls d:ic!ossohrc a comp~çio e'-. port: la~o brnsileir,t, a tural e l.leinteg:rlll.iio ao si,icma de da.sscs que favoJ:ecem a sua
estrutura ocu;,,:cim:,;l predcmirv.rnre e o ripo de parlicipaçfo cul- pcrJ>(.-tuaçãocrôoiaa naquelas posições, em v~1. de estimularema
mt2I im::cr.tc à obtc:néío de diplo~ias AOS di..,-erso; nNeis do Daí o fato ele os demais
ruptura com o p:,.ssadoe a s1::1su:;x:ra~-.i'!]/
01sino :x:lo.s nírios .esr.oqnes nic'ni,. f nfeli7rnente, a; roruide- índice.< ~h.re o ~J'I..Sl no "..omprovaTM1tt exisr~nda. <leom. <l1·amA
r.:çõcs l{,~iaro-se no; .restilrndos do recen;eameolo de 19.50, cujos ignorndo e hi?ocriumenre d:;si1111.1la<lo sob o manto da "dem.o-
clac'os ;iio a,~;s{\"eis ;1 q :tm •1t1e.ir;1
ac:li~r a siruasão r~cial cf1lci:1racial". Os ú:iicos c,u-.a.iseíicie.n.res de asc~:isfo socwl na
brasileiro. socíecbde brasileir,t ainda ccmti.:n1am,quase tão forteme.ote qun;1to
Os quaclrns T e TTforn«:em ::rc~ &~r:çiio da ropuhção se'. 110 passado, 00100 privilégi.os soei ai~ das elites das classes. !;Iras
Rundo a C<Jre as rey.iões fhiO!lC1if'c?.s.Ele; ic<lk~Ju duas coisas, e <la "ra--a dominante". O .cegro e o mulato, como eles d:r1an1,
que no, inrei-ess,uude perto: 1.• J A pa,·ticipação relativa <.'-Os :ú "não têm ve-,", enconrra~do-se rigidameore bloq-ceooos por
es10-1uein:,gro e ouuno 11,tpopu1a;ilo global; 2.ºj As ce11,~én- privilégios sociais que possuem ioevir,i,,eis e rrofoncks ímplé-
ci,1sregio.oois<!eroI>:eol::tç-lodesses estoques no .Le:1ee }.'orc!este mções raciais.
do pm.. Seria interessnot,:; ,orupar-Jr _e~sas mJ:c.1,;õoscom ou~ra_s, Dadas as var~,ões regionaisimperantes uo Brasil, poder-se-
form:éd:t:i pclus quadrus UI, IV e v. Os dac..~sobre. a ros1910 -ia d:?.erque esse paooran:a aprest-ma gradações e que, pormnto,
ca ocupaç-ãod:, po;mlac5oL-co::ômictn:;ttte ativa e·.-idencrnm_a pci:- l!1' perspectivas <lo negro e éo mulato p<.-dero ser melhores ou
sistência c~ônicn ê<~•dciros de crna tüne concenuatãorelat;vn da piores, con.fom1~ as rc:gifü.·sou os Estar!os 9ue se tomem em
rt:11d-a e do pre5tígio social. Cnqn~to ru cswques negro e mulato
conta. Esse racioclnio é legícinm, rnas não de,e ser admiüdo
pnrtcipam dns po,:ç~s 1neMs v:int<'.josas em propor_-õe; supc,. com ingenuidade. Aqu.:. é ptedso consider,n-se outros fatores.
riores oo quase :guois à s,13 partlc:4:,wüo Ja yopulaçio global, De fato, os lruliccs co"cern~nles ao Leste e ao Xordeste evideo-
oas poiições de c1npn .. -g<1c!oto primáo wucor=e com npenas ciam melhor a..lapta.Ç30 apate{lte do ·negro e elo mulato à• con•

48
• 49
<liçõessócio-eco1.lÔroicas e culntt:ús i,nper,intcs naquelas regioes.
mais vama;us~$dos :re.'Viçose: Hi\,idaJes c.-conômkss. Ao mesmo
No C!1tanrn. aptoÍLmdaado-~ 1' análise,.\-!-escohrc-se facil.utcn"ie
que
a,sa achpt<içã<:> também dissimula um.1 acomot!.lçiíoc!esvantnjosa. tem1.JO, o estoque bmnco, que entra com qu.1sc 30% da população
global, absm--.eapi:c,as 23 % das posições de empregado e 52%
A participaçiío ~e d:í e :;e illlé~s!Íicn ptincipalmcnre em ocup,>ções <laspos:1~,1c.s de emp,cgarlor. .Pode-se descohrn: o que isso signi-
e ~erviços v!l'letLh~<>S à eoo11um:ade ~ub.<lstênc.i.1 ou a setores
eco11ômioosque não se .insercrnn<H"mshn:;:itc r.o fiu.xo da redis- fica stentan<ln-sep,ua " qua<lroVII, que deixa clato qt.>ca pr~do-
lribt!!çfo da rend;i. Doutro fodn, oné,: ;is eoisru; aparentam ser micància dcmognílirn do negro e do ornlarn n3o afeta profi1:>da-
m.e<1r~a cstrUtUl'a súcio-c:cc,nôrnica nero ,t pershtêncfa dos privi-
piores, como Do Sul, o número dos que "con~eguem varnr" é
l~ios soc:a:s gssociados à desi~ual&de rn<:ial. Assim, a minoritl
ínfüw. Os zcsllira,los das in,esriga~s feiros em São Paulo
br,m~ entra com S3% do; cliolou:adnsem rnrsos de nívd médio
sugerem, pon:m, que e,,-,;;, nú.,,ero ínfimo se iocorpo:a estcuru-
e c.-;r.i 88% éos diplomado, ·em ,ursos de nfrcl superior. En-
ralrneJJ:e na din!miic,t c!a sociedade competitiva- files siio poo-
4uamo o t:<:!,'!Ocrn p-.tnicul:tr ,ti p3rtici 1)'1 <.k:nodo ínfinx, e o
qufas.Unosma.s co1~lui::i."taram um pt1t.1mareoooômko~ soci;,1le mulato, ilJJe,ar de constituir mús da :netade da pcpula,ãu. cem-
C'\iltural rcalm:;:ite nwo, :idqui.cindop=ah.-.bili<l.tdcs concret:1s de
cone com 15% dos Jiplomarlns em cn.srno médio e l0% dos dí-
diminuírem '1 <listâncinsoci,tl em face do "branco" e de circula- plmnados em c:osino superior. .Em síntc,-e, como suc,:<le no Sul.
rem socialmente, projetando-se na própria esfera crn que se desen-
..!..!:ill~en1xaçãpJocial da ren.cfa ...c..
dQ.pr.cs1Ígi!l-social.pQssui imnli-.
rola a competiçiío rnci9l i-:or prestigio e a~-eiisiio social.
ca~es raciais ~m d.efinié;u; ou seja, em outros palavras, vista
:Cs;a dupla rcali&i<lenão mmspaTec-e dan,mcnce nos dados t:m t<?rnlO,daestmt:iro racial da ,Ot~crl•de !misildra, ela aparece,
c::statíscicos.Todavi:i, escolhendo dois exemplos contrastantes - ocsmo DOS cs.ta~os Jo Lcs,e, como um~ couc:cntraçãoracial de
como os do,; Estados da Bahia e de São Pau!o - é possfvd dcs- poc-er. - -- -
vell(h;r-se algo» e.;chrecill!<.ntos iundaroentais. Seria preciso lem- -Sli9 l'nulo ilcsua a .1ltemativa da r~ião meridional, que dis-
brai alguns dndos sobre as poJ'\ltJçôes desses dois Estados em crepa fortemenlé dus índices nacio:iais. Os negros :.. os mula~
1950, segundo a cor (omiti_n<lo-~e
os h~hit:uJC~.s
de mr não deda- tendem a .s_onctnlrJr-sc ms posiçõe~menos s>lil.t:l.j,:.-sa,; na esttllt\ll".t
nula): s&io-cconôoka e entram com quotas ulrra-úifunos (bem abai:x.o
Sa<,Paulo
aós'Todices amivés aos gJ_!nfs c~1 para constimi.i:..
a popu-
1 ~2$685 7<123111
00%) (36%) 1al2o ~fo§.U,Os brancos, gue concorrem com 86% <la po;:-u-
2 467 108 292669 loç:10, or.::ccem84% do,: emp,eg-adose 92 % d\>Scm;,reg,i<lores.
(51%) (3%) Doutro lado. o negro e o mul2w, que eni conjt<ntu formam 11 %
926075 72778~ tia JJ01>ulação,c:oncorr~m com 15% do, empregados e ~peoas
(19%) (8%) 2,,"ó dos empregadore~. Íl')?t.i,s,: de uma situ11çiioq_ucevi_dencia,
Am:,;dos
l0,00}%)
156 276 85)
(}%)
muito ,mi, cbrnmente que n da .Bahia,ej
1r.~l<.><lXi,il d.i rcnd~. do ,1>res1fgio
qâ ~tido a concen•
soc,a e o 119aer é, coíiêõ'.
Comparnndo-se os qtrnd:-osV l e \''1I, vei::fica-seqru:, de foto, 111,1,111rm, utc, um.a c('>ntt'ntraç_iio
racial de privilé&ios econômicos.,
existem d:íerew;~1srelativas considcrá,...cisentre a csrrututa ocupa- ·,1,1J1,r "1lt11r,11s, S<!se levar em conla que o negro e o mÜlato
cional dos Esrndos da Jl~bia e S.'io P~ulo quanto à cor. ;\:fas, a GIl<lllll:1ur1nunrn rninoriu, t3is índices ac!quircmuma significação
realidade racial prohmda nilo é tão diferente, quanto se PQ<leria mcJlO,incongruente. Além àisso, cnC>lu<las à lll7.da participação
pensar à primeira v:sta. O, ú:lc!kcs de porricipação do negro e
cio negro e do mulru:o. as diforcnç,,s, em conjunto, nifo são tão
do mulato na cs-rmmr~ocupacional aêquirem ouu::a significação a~ntuadas como ,;,,riu de esper-,r. Sobre 70% de m:llros e mu-
latos na l¼hi,i, existia om 101,d de 5 438 individuas com diplomas
quando se atenta para o futo de <f1.1c. n>! B,thia, dcs constiruem
70% da !')Opufação. Não obstauk, ahmrven1 em conjunto, 77% de nívd médio i ou seja, 1 t % do resp;;:ctivototal nacional); sobre
11% de n~t'OS e mulatos em São Paulo, e~isríam .3538 indi-
d:?, posiçfies de ernprcgaclo~ e apen!l.>48% d:ts poskóe. de empre-
vfduos com diplo1trd! de nível n~o ( ou sejd 7% do respectivo
p,adores. Re:o que se pode infe:rir dos da,'os ;obre a distribuição
U>t:llnacional). Qu.l!lto ""ª dip!on..>ascm ensino ,-upcrior. os
desLas úlónns posições, nem sempre cln.s se sitw1m nas csforas
1orn1sseriam de 666 COtll rcl~ão à lhhi3 ( J6% do rota.!nacional)
50
51
tese d.eocorrer e= acelera-ão cons:.i,m:e n-escen1e110ckscnvolvi-
~ 265 con .•} rd ..ç~ a São P;IU:o (_~%_-.lo:ota! nacio11al~1.[For memo e1:ooômico,a história tra.b:ilhar~cm favor de suas aspi-
J fim as mvcst1Ea,•oe:; realiz.ac.:.s"''1ocnc1ara.-n que o crescimento
'
econôm;co ..
acelerado, a mode..-nização e c-crtos e{ e11os
' '
e,, con1pc•
niçõe. de asce.'lsâo social. Doutro JaJo. as &versas classes. da
"Jl"pulaçiío de cor'' da Bahia se achsm prepattada~parn apl.V'.'ettar
tição rocial furç,!m o negro e o 01uli,ro, cm São P-.wlo,a alterarem semcl.hante altersção, se ela ocorrer e na mohda em que ela
) $tias con~pçõcs de tft:/us e suas re?tt•~tações sob!e as rei~~ ocotttt. !'\-ão só ali;umas de suas esfet'l!' passaram por formas
com os lraix:os_;t/fraia-se,é certo, de nume...ros ínfimos de mdi- de sociiliza-lio r«ebid:is pelos brancos do mnodo m:bano inclu-,
víduos. Toé.avi.aeles conscituem uma parce'.a de pesSOots imis- ,ivo co:no nos inc.li<:,tm os cstJ::dosde Tb:iles de Azevedo. /Í./
cuídas caitralocme em tendências ig::elitáfr.,s qce se reik:rem mai~ria ée~!:l populsçõo foi afetada, é>-"lem,t e í::iten,:i:nc:ite,pelos (
rdl estrutura de •= perscnalid:J(]e, no tem de sua v:são do mundo eíeito, descmafa:.1do:es ele d:,:s ?<0tt1sos conco,:nir:antcs - -~
e na a:-g:mizai,.1!0 de 5Llasd!Sposiçôc:s ~c.:ahJltlesron1pemcom cJ<pon<iioda cx:onor:ci~<le m<õcca.•lo. L'ID escala nac:oruil, e as m~
o pa~sadoe curo o paJr-ãonadiciQnaH.stn de aco.:n00a,;::1o
i,la.5s.h~a, r,roçõ,,i;'nterna1, O primeito pmccs,o p:i)jetou, em gtende vart'e
subalterna e: subseNieJlle diante oobr:uico. Em conseqüência, t1~,,.1r,opu!açlo, as;,ir:ições de cn::rumo q,...-só podem scr alen-
para e5SC pugilo de ";ia;soos rlc cor" o ptohlema não consiste, d, 1, 11,.J\' ·• ,la elevação das quotas de pt.rticipação da ren<la.
:,penas, cm ~ganhu: s v'.<ln". Eks !ut:i:n por igualdade _de opor- 1'"' •i!n<Íi,, ,1uco mcncionxlo proc=o concocxeparo n1odificar
nmidzd,;,-se por igunldadede 1ratamemo - e se não cbtem o que 1, 111 , '"" l"i" , 1rod:cin11:iis de ajustamento econômico, quanto
preferem isol~r-se a '·rcbai~uetJ1-se"JIOm, e;se pequc::,o
q<..,ercrn, , 1, 1 " ,lc ,.i.._,.., ut·ial <!llC d..s pressupunb?.m, qi:e "incula-
c(1mcro tende a ~tume.ntaT e é ai:l-a'\·:;5dde que o flegTO e n aula.to , 0111o r i~vl t o m•11nto a :1tivl,.fo.c!cs
eccnôoiC";lsmafa ou n1enos
sé pro;etam tle modo difcrrnt~ !la reo1.;ao.izoçooda socicdarlc bra- l,J,'I" ,1dA O sc,41.111<!0prOCd$0 <lifun<liu,a p.rinápio c!c n,,,neira
siÍcira. O i.usmo prr.<:cs.,oocorrtrá 11:boonais regiões, presumi- lrro111 m.., cm sci:uid., de mc><:!o tumultuoso e ixcmtroláwl, noves
velmente eJTIhmcií,, do rin:io e cfa i111e11sidade com que cles wncc,pçocs e n<was•~piL'oçiks<.-rooom:ca;, S()ciais e polí!icas. i\s
vierem a comparriÍhar de p,1d!ões e::onôlJlkos, sociais e polltko; mi~uçõcs nJo nfernm •penas os ;,;;::; agen.e<. I:les ~l,6~ reper-
de org.u1iznç,ío d,t sociedade de cfosscs. cutem nas suas ('(>munid:idcse nos p,tdtõ€s de cq::ilíbrro ·oeJa,
Contuc!<\ p.uece se.r convrnie-..::tc aCotar muita caUlel;,tna~ vil(CflfCS.que niío podem accicar as mosa.;ões daí rcs::iltames sem
:nterpretações de car-Jte.r prospcctl-.o, voltadas var,,o que viu uma w~ual transforma~ão éo~ p2c!rõe.st.radicio:rais. de compor-
suceder no !ururo pr.:himo/[ê,n termos da tensão e da !)re;são ) tilmento. Amhos os nr~.x:-~os ?.toJn?.eJn. con::om1tantet11~te,
que s:iporram cfa sociedade indu.,iv", a situa~âo do negro e r.o prcl-SÕeS cio mesm.,r..2t,;,c-za,que tendem, 110 nf.d cmnôn1iro e d:t
nlulA10 ;, rehltivom.e:1re1Mis r.u:a e dt,ut:J.ana c1ll São Paulo..]/ cultura. :1 eslimular a difusão éos padrões de com;xm::1mcntoe
As perspe,m'.is de imegT>lÇÍÍo,ofcrcr.:i6is pela ordeo1 social com- dos ,·alc,rcsdo orcem ro<:ialcompcê.ii,-a. Vendo-,c •• co~~,adtsse
petiti"', precisam ser conquista&s p:dmo a oolrno. numa luta pri~mo. <e ocon·c,-,;cm~<i.·tas.:te.-;l«Í'ài na_','estrutura da ~i1;:iaç~,",
Jesigoal p,tNI o "homem de cor''. Assim, e:CCstendemo • se ,, nn::m e n mulato cnco:i.tranarn na l~:-1".lJ~ .. pto\.--avdn1ente,;>r.o-
infilt.nir lcntamcr:tc nas t,os.kõc~ de d~~e médfa e alta dn sode- i,,h,hl,1Lk, ele êxito e de ,,sce.'lSãosoci.'t~mfatávcis ,.~_que os
dadc nÍ,,!,n!: e ainth n.'Ío ,; oode <liLec,ccrn ser,urança, se :is 11nw .111tcotlc.fn.rnram no <Ili do Brasil ,\srun, as reg1oes qnc
prop~sõcs igual.itá,·i:isc'.t) nq~(i e <lomula10seriío completam~e l"""u. 111 nl.lÍ<'rmnss.1.!e pop,i!.ação IX!/'.t~ e mulata co:rnu11wm
satisfeitas ao llÍVeldo p3ÕciOde in;eg_raç.íoda ordem 1.-conG!lll<:a, mdll<lr<'> ~rsJ>cnivas de corllbica1·bal~11c.:adnmcme, nas oró,imas
s()cial e policies. Portanm, deline\s-se.claramenteu':' pan~rama ,J&;idas.dc•cnvolvimc1110sódo«onômico, m<.xfo::ii~çãoe demo-
que e-•iden61 que as melhores i-.e.s-,,ectivasr!e asccnsao social do cratizaçio das rcbçiies r-Jci<iis. A raião éc,s,t pos;ibil:dadc é
negro e do o,ulatn têm ele ser conqu:stada.s a dctas penas e " simples - o mulato e o negro contariam. em escala socLII, ao
loz:go prv.o. _Tácom réerê:!,cia à J3alJia.a situ,ç,ío d? negro e elo '"'
me::;mo ttt:!po como artu:.ces e l')C'llcnt:r.ar~o~
,.,., .. cms
L ~ -
tran:.-~ormaçues 1
muLuo pal'e<:ebem dislinl:t. Eles se acham, st-b mu11osa;pectos, l,ist6rko-sociail Por is~, é prm,ávd 4 ue re;1.Lêz.~râ<1, rnais de-
na !llesrna !âr~:,çãocm que os il),i11ra::ites
europeus se viram em São pressa que em out.res,egi5es co Braru, o ,-atkfoio <}eRugcn<la,,
Paulo, entre 1880 e 19.30: ocu;,ando p~içõcs sócie>-econôroicss ...f os IXlS'OS c,-,1>11:
•<'~uodo o <Jc.u • ' • t
!JS seriam, p0r seu .. 1 uro,
h «
wna
su!.esrirnsdas pelas classes alt:is e sna; elites, mas estr,négicas d•• dassts mais \m:iorrantcs" do P:ús.
em termos da orgall'.Zaçiíoda economi;I e da sociedade. Na hipó-
53
52
Deio.ando de 1ido outros aspt\.'l~ da que,tio, conv1.1:1a $ posiçõesconqcistadas, 1rnuuen<lo-se de:itro clos limites da "linha
indat(,tr, agorll, o que sucede com o negro e o mulato <[!.,econ- de cor" invislvd. Ou rom;,er ro:n o bloq:.do e com o padrão
seguet:1"subir sociahn~.rae''e corno es5c:tcor.cli<;ãose reflece ( ou tcac!iéonal de rel3)âo racial assíméuica qt.--eo roma um "inferio,",
deixa <le .e ref!eticj nos cstcr.:ócipo, rac:ais ,. nos pr.,drõc:sde wn "protcg:do". um "su:>altcmo" permanente l1'l. convivência
relações raciais. A e::sc r~--pcito, as pesquises rr:.eisconclusivas cem o br:ixo. Em regra, dc:xando-se de )ado os mee2-1ismos
foram fcit-.l:lem São Paulo. .-\o con:rário do qi.:c ~e prop,tla, o compeiisij;óriosou ouL'"?l.s
formns êc dissimuhf as fnistt11ções
"~.sito" oii-0põe uin paradeiro no drama humano do negro ou do resultantes, o "homem éc cor" rende a rc3j!Ír. socialmente, de
molato, especialrnente se ele pretender d:s&utar e<;_uitJ1tiv:1Jnente três modos disêntos 3 ti>is s::uaÇ<ies.Primeiro, c!e ma.neixacnl-
"as prerrog,11::vasde s113 $Ítt::ção social"_ De um lac!o, tem de cul.ist':1,tíra,.-.do pro,·dto d:t.s!!rit::d<?S~mbivalentes c!.o branco e
enfrenta: um!! espkie de crise cm seu ajm1a.-ne:i10ao pró1)riO das possibilidades da ac:d:açJ;o díferenc:al, abertas 1>elo meca-
"m~o negro". Pn:-a manter a posição ,oc:al adquirie:i e para nismo da "exc:-eçiío que rotÚi.rna a rcgr:,". Segundo, de m:meira
poder melhor:í-L,,• rnptura é inc,:idvcl ;:,or ootivos e~o,,ômicos CÍ1lfo9~ procu_ran<lo
"des&uraro hranco11 f!3 ~o ,resma tempo,
e socÍ:lis. Efa se imLlÕecc'l\O mecn11isr.:iode autodd.:s3. P= imt"'r-se de ncordo com seus interesses e pretensões. Terceiro,
proteger o lnchiduo cor,tra ;,=dr/",cs d= solic:_'lrieéa<le,<Jue o <lc manr11·• puritona, sego.indo um código de rneneira_s ri!'lido ou
arru:.t1.ariase fossem conservados e liqu:darian, qualquer perspec- .. "'lt.:v.ido••
e, ~cm "fazer concessões~', procura.?::doproteget.-se pelo
lÍ\•a de con1in~r no jogo de mcbilicade social astendente. Ela i-,1l,r11r1110 cultural t'm seu pr6prio n!vel sóc:o-cronômico.
se impõe tdm.bémcomo meoini~mo Ce osie.-,r.açãode st5tus e de J t>tuilo '" 1..-111ci.crito oobre a importância co "negro de
absorção de novos p•drões de vida. qu:- roacluzcm 20 isohmemo n1 11' p.irJ modific- ..r 3$ atitudes. os csrereótipos e os padrões
relarivo e à formação de cliqne, de indivíduos da mes,:oa cor e ,lc· 1t,lcrJnci:1do brooco. Na vcrdade, as !)<'õquisas realiwdas
estilo de vida. El.t se impõe, por 5m, como psoc= ele consoli- mo u-.m que :is presunções c:stobclccidas só são verdadeiras e,::,
daçãodo J!a!tis em cermos d~ família,pois difcilnente a _;iosiçio ) um ponto. Qa311dose trata ô:: "pesso~, de cor" que xcit'lr,1
poderia ser trnr_;mitida de pai a filho se aq:;dc n20 lutasse tenaz- os mecanhmos da "c.xceção que confirma a regra". Esse meca-
mente p,lr:I impedir o restahcledmen:o dos velhos lac:os emo-
cionais com as pessoas de seu a:itigo ah-d social e com j!S sedações
fascin:111tesdo mew 11egro.De oatto lado. as rontingências raciais
l nismo é i ne.-enre ao pad.--ãot=::idióo:ialde relação racial 2,simé-
trica e à ideologia racfal dominanrc.-,'Graça; a ele, n "pessoo de
cor" é aceita como e enquanto indiv!âuo. em ft:nçilo de um s!al.!1s
mais doloros.is romeçnm daí p,ara • frcnte.,(:-\o i~afar-se ao \ ííctf<:ioou real, sem que os "bra.-icos" que intera_gem com ela
''bronco", oo nível do· emprego e da p:u:titipaçiio da rencb, o se obriguem a m.odific-:irS!las zcit;:des mais intimas a respeito
'':,omem diecor" rompe um b'.oqucio à sca participação cultural. do "t:-<:gro11
ou do "mcla.tou. Q-.1antomais pró:,êma estive.r a
Entíio, ínicfo o a\•c::tcra de tcnrar o desfrute do estilo de vida, "pesso,1 de cor" da sociedade tradicional b=asileira, rnais natural
das gara:irias sociais e dos prazeres asscguracos pela sociedade in- / ela acb:uá a cxistênci:1 c!e tal mecanismo é mais se ,-alodzará,
dusiva; e começa a ser vcrdadcitaO?ClltC "bár.ndo"Jf Í. o llmigo com :tS formas de infiltração ou de ace:taç:io n:>"soci<?cbde» dei<!:
"branco·•. que o tl'~ta com con°ide1·;,çífo no trabalhé, e nas con- decotrente:s./(l'odavio, os J)e/.\TOS e mubtos que estão vetdac!eira-
versas 01sunis) mas o.ão o convida p2.ra i= à sua ca.s-aou não n1<:ntc se incorporando à ol"dem social c:c:nptti!iv2 e que t&n,
retribui suas gentilezas. t e> colega 9n~ pru.sa a sentir a sua

l
toro isso, possibilidacles re•ili de mobilidade social as-:cndeme i:a
presença competitiva r.o m,balho e vê-,;,, forçacfon :iccitat a rom- estrutura de sociedacc de c:L1sses,tendem a repelir essos modali-
petiçiío e1:1 termos usuais nas rel:tçfu:s dos bcancos entre si. É dades de acomodação-:-''Não se comen:am com as compensações /
a filha que n:clama das atirodes das colcguir.has ou da profes- oferecidas pelo c:onncío cem "pessoas bmncas de classe baixa" 1
sora na escola. É a mulhel" que se cnfurccc com o com;,orrn- e não ,-aloriz:,mo branco por cau;a de sua cot. Assim, lutam
n:ento dos fom.::cedores.que" tr,imr.i como se fosse a cmp,·egada J>ara íic-.uem seu rúvd social, no ",neio negro" e na sociedade
da ca!a. l:. a bo1te,o hotel o:: o c'11bcque o r,-peler..1,cooo fre- in<:lusiva_E.1n conscqi::êada, ~s alternativas compemadoms m3s
guês ou como sócio. >.1essa; riromst:incias, c:c tem de tomar ÔQloro;asd:1 aceitação ambí~'U-aou d~radanri?, preferem a mu-
uma resolução drll!lllltica. 1\ceitat fl< \-cll-as rcµ;as do jogo, abs-
0
d:1nç.1detiva <lasarítudcs e: avaliações do ''bronco"_ Querem ser
tendo-se de µrerender pant si papéi< e "r~ali2S' sociais i.tlerenrts nceitos e uai.adosccmo i;;ut:is,sem :e:striçiíes nem evasivas. Ao,

54 JJ
f agi,-em dc,sc aiodo. não ,e;tão apena; re-.,da.'ldOseus próprios
preconceitos e recalgucs, como o~ hraocos o snpõem. Is.so ocorre,
1n2turnLnen,c. como wna mauifcsmçí"iode cono:a-ideolo&iaracial.
~o e.OJ,lllto,(\ fator psioo-social dinJiroico é a defesa do status,
da r,ossibilidooede transm.iri-locomo parte de seu legado à família ~
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forçndos 2 lut.ar conn·a as il!l1cé,.::,sociais do prcco;,ceito e da
discriminaçãori1cüis, rn:s fo:m.is q:1e ambas a•sorue:mno Brasil, :;;!? ~~ "'"' ~~
e a cri,1r= nova tudiç;;,., Jc rn!:l;,etiç,ío com o branco cm todos
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os n.fveís da ..-ida social Gr:ic:1sa cssss Nicntaçõe;, não ~ó am-
pliam os nívcis ele p,1rtiópeçiío sóci<He<:onôroica e-cultural. Tam- "
bém pa= a do111in,u:is tknica5 soc:i,iisusadas J~Jo branco das "...
r.-:a;sessociais f~e:1 galgar as _pos:çõc:srn,1is ou mcnoo
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<1cessívdsiis SLt.lS p:-o:13bilida<les de asce:isiío social. ~~ :gt~ Q;g.
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_d~: e Ct1r,pd,s Regi&s
Bra1?tiran-z,J.•UbJ pt:u:c..ts:::dta: Pes:so~ Ea,no.or..ic:mrtn:e
Di1trii,1,,.i;CO Alir:ds d.!tPop~:!~:~o
Fm~grc;:<as ao P,::s• (1950) Brs;f!âr..;, s~u~u!1J4 cor.. ,1.,,, 1950

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res.posras :SC-111:.:i~T dodo:adl.

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PrJ.JiçilJ
1.4 OC!iporãodas Pt!:o:;J E.t111sf;wiL.a.-r.t:!1:e da Po~,l.ç~
~~.:ViZS QlJil OJt() V
l!rw'leirJ - 195<! • ![; tS:iOi e 1.•.u;;:t;~ Pop:,!.i;ir>Hr::cit~i,.z,ugu.,:d.o .t eot
- ::.950*
, POSIÇÃO NA. OCL-PAÇÃO
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Cor 1
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F<>nte::op. cil.i 1.,""Q!. 1~ p. 30. For.te· O;:. dt .• ~ol. 1. p. 24.


~ F:lr>l!n ooitir~ •~ rc:spcm~s sem decl:i::,tçiio~ posiçã:o. ~ Fo:arr:om:tid::s2s reipc-sbl..;(tm é.ccl:rr:u;iode cor e clt gr..u1 de cn..."-L"lO.
QUAl>RO V[ QC:ADltOVIII
P<:ls;ri:o
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J:'<.)SL('.ÃO NA OCtJI'àÇ.:i.O
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Cor 1- Bmpre• [;,,,p,q,,- c,,,,,,,
1 ~\f~tl'ihTô
Co,
Emp,ef11::!os F.";fN•&"·1 {,Olrta .l.fembro ::sdos d(;f'es 1 Pr,b-ia i F~1JJJlf3,
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0,'J05% 0,02% 0,003% ' 0,001% 1
1 1 To«l 21W07il 159281 530208 454806
Total 5}3259 .54320 604 005 ' 2919n 10096 100$6 lCO% 100%
lCWo '' 100% 100% 10091> 1
1 1 .
ror.u: lnJ1itu:o Br!si'.cicode G:x>gnca e E,..lltls!lca- Úln9':lboN:cwn:al
1 1 1
Fo11f,: ln,thu:o :l3n.sikiro de Geogrnfü e Est~tlttka - Co='.ho ::,,: .. de l:sca:',cia, VI Ra~,:,:.<o Ge-rr.St!ó Br1isil- 19;() - Sér.c Re-
c~oo~ <1.~Es~tís:ca, \ 1l &ce.r:std..>tU~n!.()G~ra! r:'o .Bri:.1it19'1J,
série Rc- iion,I, Vol. XXV - tomo l, E.JtiE<io <k S/:QP,;;,/o,Rio de Jo:ieixo,Ser.iço
g10:ul, \·oi. XX,on:o 1, E!tdo d~ '&bia, Rio de Janciro, =--iço gri!ico G=,Hioodo T.B.G..E.E, 19>4,p. JO.
,!o J.:S.G.E., p. JO. • l'cr:un <'D::tidA,a, respouas sem doclal:<>Çiio c!.t:posíç,ío.
t: Foram oir_~_-ié~s~ reqx;-s-m:ssem dod1~ de posição,
Qll,\DRO IX
Diplotu~ào: com !O ::r.o.r:e tr:oi.sr.,,; Pap:.·!~ão Br.s:!!l::Ta,
$~g:mdoa co,
QUADRO \'JC - '1!Jj0'':
Dipfot!f:uf-0s
(fJUJ 1() 1L:c,.;e mr.~ ,:~ Pop.~·!~ç&o
da 8:.hia, segr,ndo a Cor CURSOSREALIZ..-'1.DOS
" - 1950* l --
Cürxs ~--tfraa'os- Cor Elem~r.!llr J,lé:lio s,=e,inr
1
Cor
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1
F..Jemm:ar
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,l!itiio fa;,tri!W llm= 1617436
90,2%
297653
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1
44 .562
9i,S'!f;

.Br.ancos 115410 25767 502(, Pudos 31 5l!5 165i' 1 170


1 1~8%- 0,.5~ 0,4%
54,46% 82,.56~ 1 88,2l9l:
Mula:os 7S7•ti 477Z 578 Ne;:;,o, 76652 l 8i9
1 9.5
J7,l~~& 15,29% 10,14% 4>3% 0,69<> 0,29&
.
Nq;ros 177)2 666 88 A.mareie, 6572} 7674 674
8,}6% 2,14% l,50% 1 3,69b 2,5'{, 1,5%

Amarelos 42 4 6 Sem D.:clan!çio l 2142 22'J 28


é:: Ctc 1 0,19& 0,07% 0,06%
0,02$', 0,01% 0,l9ó
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1 1 1 1
Ftmte: op. cil., ;,. 24.
• Foro...,nne,~~1'.d:><J'-!as r,-.;,,sm ~ ded!mçio de g,.-,,c1censino.
, ·,tobcleo:.ra transmú..<ãosocial da posição social atr:JYés&t mãe
1,lc ,-cordo com o prir.dpio p,trtm uquilur ventrcm), e •~
~•== qi:alquer con&çílo hcnao• (n-,11111pe-r1onamr.011ha•
bt'I, etc. ... ). Po1 outro lado, a ::.c,-a,-icão e:-s pn.ricaca em
r ''I'"'°"escab ec1 Llsboo, e foi tent11<.la •~o~Açor~, .\hdü,,
1 ,t..., Vctde e São Tomé, :irepara..,do o à.TllJlOO para o J:JOderno
,.tC'rna"81'iirio. A escravidão, todavica,entra,-a ea:1 confluo com
(;<\P(TULO 11l rc':gião e com os costumes criados peb concepção católica do
,,.,>Jo. i\fas cs5e conílito, de nzturen coral, não p~rçíonou
• o cscra,-o, êc u,n modo ge, .,1, 1:1clhorcondição nem um tr>·
,<._.\.L'Éi\lDA POBREZA: O XEGRO E O 1Jmento mais hm:i:ino, como ac:reJit.n Fuok TaO!leb9um. Pro-
Ml'LATO :'.\O BRASILº u>eou apenas uau tcndêrcia ;,.sra disfarçar as co~•s, separando
, pcrm.is.qvd do real.
:-Ião ol»lan~ o Br:m1tem uma boa tradiçno incclectualde
1. lr.trruiução: «>nhccimcntopcnc::ni.~te r.:ilita e clesm:i.scarador~ siruaçio
r ,eia!. Primc:.-o que rudo, o or11aiho coosei:vador dera origeci
O .,.pttto da si::uaçãoracial DO Brasil, que mais impressioll:l, distinções mu1to cla."lls ( ccmo xon:eci2, de ordbário, com os
aparece sob a n~ção incisiva ele q•·•lquet p!QÔ(c:ma·•raoo" ou ·nhores e: a!gum.1sfamll:as br.uxas arisrocrát.:= e :irrogancc-
"de cor". O p:eccnccito é it discrimiJl::.çãoraciais, bem como a aentc auro-afum1rivas em questões de desãgunJdadcroc:iale dife-
stgreg,,çio racial, sooencarados como un,. espécie de ;,ceadoe de 1cnç,is de taÇAS). f.J:t segundo 1-c:gar.alg:;:nas figuras de prol
comporramenco vergonhoso. Dess:i=eira, temos dois Dfi;ci. UJeres dos idc::i.isde en1,1"?cirx•ção nac.ional ou clo abolicioo:.smo,
dil=ces d~ percepçio dn realidade e de ação lig2dos com a , ,mo José Bonillcio de Andradn t- Silva, Luiz Gt:Dn, Perdigão
'"'cor''e a "raçaº: pri:neiro,o nível mmifesto, cm cr.x a igualdade M.,lhciros. Toaou:.mNabi,co. Anroolo Ben10etc., renw-am mos-
racial e a democr:ic,a raci,,l se proumero e proclamam; segundo, ' r a naturezll ·do com;x:,run)Cfltoe du orientações de: valor dos
o nf\'Cl,faía..--çado,
em qe:e funções c:olatttai.$agem através, abaixo l toros cm rebçiio aos negros e IT'U!atos. Em tcra:iro h.lpr, os
e nlé:mda esttndicação social. ' 10vimenros::~Aros" depois dit Primeira Guc= Mundial í mor-
Cssa superposição não é exclusiva das relações raciais. Apa- ' ntc e:m São PaU:o e :io R:o de J•neiro, durontc os ~nos 20, 30
·wv;da social. No caso das relações de rnç;1,
recé em outros ::,Í\.eÍS , -Ili), assim como as co::ferêadas de intde<-h.. is negros '50b(C
gurge co:no produco evidente da ideolc,g:a raci:tl e da uinpi• .ra- ' "'"'-~ de raça co:nríbulnm p,u·s uma percepção e uma apl•
cül pttpoodcu.:no, am!», consrn:.idas durante a CSCNvidãopelo , ,o OO\':!Se realêstH da con::plen situaçio racial brasilciu.
estrito bt~nco c!omi.c2n~ - os scnho:es rurais e u:bmos. A ( >sresultxlos dt modernas in=tigaçõ::s ,ocio!ógicas, cu-o-
c•n~vidão11ãoe::nava em confüto com as leis e a tradlção cul- "'' •• ou psicol6gic:.s ( &lmucl Lowrie: Rogtt &stide e: Flo-
tw:al porn,gu..~as A legisLtcio roroan,i ofercciJ !s ordenações t "' F,-rnandes; L. A.. C0$1a Pinto: Oracy Nogucir:i; A. Guer-
da C.Oroaos dementes mucê elos qua:~ =ia rossível cbssificar ' t , llumos; Octavio Iann:.. Ferna:ido Heoriq;ie w<l~ e Rc-
os "fndiosº ou C\5 nafrkanos~•oor.iocnisas. como bens n::óveis, ,,.,, fmhm ?.:loréin,; Thnles de Azevedo; Ornrles Wnglcy, Mnr-
vln I l.rris. Hcary W. Hutchínson e Ben Z-:ronxm1an:Re11é
,-e.
(•) o p:,:•ÓÍuc rra..¼.'!,oÍ<ri r,:rc,a'.,-io. ;,clt pn,,,.;,,, em -=.'lo H1l~110, João &pista Bofllc• Pereira; Vicginia Lcone Bicudo;
cu-,ê~lA. por ocudo Cl)5 ~.,,i.cL-ios w:-b«Mi1J<Ni(;J JS!2 AJ.,;ir:!:31.11six1S
Ame-laGiosbcrg:CaroEna Martuscelli Bori; Dnnte Moreira Leite
< ,ros E,h.!$$ l'r.i.dOf ('Il,e C-cl!cn:of d:.e Fie,,= IAkcs, Com:ll6,Ko,,n n ). co11firmau1n e sprof,mcbram o, dadosdcs-.--obcrtospor
Io:qcc, 5 de <l=i1'ro cc 1969). P-,biiooçiiopc~•ia: "Beyo:,d P~: Tbe ••"""' antcriorc,,. ~o presente o:ame. liroitar-me-<:ia. três t6p:;:m
~q:o ..,,1 ""' u,,;,,,,,;,;,. ll,w", JQ""":l a< :aSocbl
M. S.. Por:,, .!>:ú:>éo
ª" Antbial.oirw,
é:: l'P..,rw,x, 1%9 (Tomo LVIII. ;,p. 121-137) l'.sr~
1 r 'l'L , rtízes da 01dcm social com;,etitiva do Br';"'1;_qu-
cs;,i<-uloi<' r::w:icz',lo pc:-. o po:t~ por Ocuno Mwor.s C.Jl.l)O. uv·" objetivas de dcsiglõ21d:l<!c:
11111 111 racial e o seu s,g11,fkado

62 6}
10 l,111,ildm de pu:.:o:a<:cito
11,,nol,I""":11111<><1.- e di.,ulminnção 11,,lf11,u I üÍ ~stc ur:1;_,-,ntuhist6rioo ele inflexão, cm <juea de-
,.,dai~. ,11,1cw11ç11v
d.t ordem.social c;cmv11cra1n e senhotial e ,1intcgrnçilo
ill unfc-111soei~! competitiva •urgiro.n, cowo fcnllmcnQS,ooc;i11i~
1,11-.,,mirnncc, •.
:Z, As 'Rahtl da Ordtm ~urldl CompNit/vami JJratil:• N1·escnruplo cunltxto, a situ1iç,lodos negros e mulatos foi
,1k1,ufacm tr~• direções d'lcre,1tcs. Aré c·sse petlodo, como cs-
Como omrrou 1:m todos oJ pn!sc~mn<lc.rnc»eu1 que ,1 ewc\'I\• .rnvos ou cotno libcr·1os,1i:Jhn111 uuia posiçiíutone e 1n101:dvcl
v!diio cu~vc li8n,fa ~ Cfploração rolunhJ e "º ,i.rernade pLin1u- ni1<>tru1m·nda c.:onomin. A1~in1IJUC1ud,1" e,u111ura,Jo m·
(•"· a ,oc,crl~,J.,IJ1"~•learft
cnlr.nrou ,-11111dc., diflC'\Jdn<lcs nn dJlu. 1,·11111
d~ l"'<J<luç.1o pduclplou u ,uoclilicuNc, e,sa. po•icao foi
•ÍIOe n11lnrcur-:11•ílo
Ju 01:ucm>O<'lul compclltiva, Lkcrnlwc:nlcfa- cm d•s~• fre111~,.O nl<'rcadoi111crrL1Cional
,11ll<:J\'1du foroe<.-cutlO
fa11dn1tl<<nordem soci:tl smiiiu cmu n ruptura do velho sis1en1~ p,,r,imigrnnrc• pmve1lic:i1e1du f.11rn1,a,'111cvinh~,uctu bnscu
colcui.il, ~ft> " sun cvn\uçffoini ,~ll'C•11111 ícull,ucno urbaun, utt ele llrcos mQi•r1t-J•e ttn 11ie.< de <itscnvo!virucn,o,para tr1baU1u
o derrndciro qm1rttl do •fculo XIX, A c<cro\lidiioe n rclRtlvn .. uno r1",11C nualoriodn, nll'ltl e urb•no, ms coruo 1uaic:1tc•
im11urr~ndndos liberto, co1110orip.,cmde 111nnc.11cgol'iosodnl l<1/iKrn;cou1c1•clo1ntes,'"' fol,dc,11\tc~.Por nutro ludo forulllu:
<.11n1r>,:,1krt\~J11is]tlvo
for:11m um ~ronde <>b.rikulo~ Jífcreu,c:i.lçjo hr.1nca, 1r~dicio11oi1 co,11<."ÇJrnm• mud•r•:.c c!o 1mcrio; As ,,arn
e~ u111\cr<ala:,~:10 da ordem >O<'Jillrom1-e1!tiw .. A r~iiio 6 •ss,12 1•.1,111dcsddadc•, e no pc"5o:rnpohres ou dependentes ** surgi-
cunhecit!a. ümw 11ssinnJmrLoui, Cuuty, " <lcsvalorixoçãue ,1 1nnt mino uw 1e1or nss.,lwado <'lld:IV~ mnlor. ~o Kortc e ll0
dc~r,tda(iin Jo m,h~lho p11kiu.ci<las 1,el• es<rn11idKo in1('<.vlirn111
ou Nnrc.lc,~, n rclG1tvQcitn,Rnaç~o~co116mlcndn e<.~mo,nioruml
c~rorv•i,,m n ,-onstimkliode 111nn da~1eQ•snlnrlncln 11s•i
u1 """ 6r,ea~ n1l,uulol1 doí, 1>roc:cMOK corrclnrlvN - n vcuda do 01,io,dc-obn1
u,·bunns cowo nn• &rcns rurul• e o c:merg!nclnde um setor de , ,m1vaexccde:uep:,m •• ftw:nJa• de rnfé d~ Süo Pnulc, Rio Je
~11ucu11agdculturit ( • ). 1-,,rnl'lllilo di6so, até o mcndo do século J,rneiro e Miuns Gcrni.,; e n consolidnção dns poséc;õc;dos Ji.
XJX, a cc~nomin de lll~l'Clldoníio. deu ori11~1 a uma or~,uni:.aç,lo bt•r1<,soc~ros Ol~ mul,m>;icomo Oj\cntc.de mao,dc-obrnlivre ( e:,.
rr,otlt:rn11 1 uo ,cnnJu tn1>hnb1n,cio 1uh11lho
t1p1r'1 e t\11•rclaç!Ses pt11nhi,ufa<Jll111~, c~pcc1oll1ndn,wohec1udona crcs<.-cn1~ ccoiimnlu
,mnl\m lcn~. Sou":111c nu,nns p,1w11Ad, JndceJc•e1u11Mhnuu com, 111hrnn), Nu~ro:slõc~de foic111IRi ele ~Q(~, que se dcwsvolviom
peliç~ú I\IU~'Ílh con,truti,•,u b:\.!C"a1e pcxkintej!l"Jt 0> papéi• r,1plJ:\mcn1e(sobretudo cnt Si!~ Paulo), ,is rccéw<hegndos, es•
ou •s p<JSl<,'Õesde alRttnsnl(cnteosociais ( os seohore• de terras ou f11111J;e1rosou fülc1onn1s,nbson·Jí1111u:c mdho.rcsoportunidutts
fazcndd cos, cunio fornccccfore,de produtO'Itropicnl<; os ngcr11e-s ruw1ômirns,016nas fircnsrutllia,n<.-clero11Jo o cri'ICdAc,c,·nvidao
º"
de nc~ios de Ílnl"Ortn(iine cx110r1~Go; comcr<.·ln11tct e "~80· 11 , 11nvcrrcmlo ONncurose 111uln1u., prcdom!11u11ccwc1uc
1,,, m1uslnnie~, povuln(âo e nwn &ubprolcr.uin<lo.
num ec-
N,,;
áreas c.!o
d~m~e11n1lvos e c11r11ngcl1·0,;
nl11unsliMquclznsou agcn1c•(innn•
ctnm; mspcS$<»s1111e cxerdam ;,rofissões libecai,, proies.sorcse Sul, cm que • coloniznçiíoesrr~n.gcirnse co111bin~va com A peque•
burocratas; os pouros fubl'ic:1occse lrubalhndorcs cm fobric:ns; nn n{lricultur:i<>11nnt(ucfo, em <iuc prcpondcrovnm M fo,icoclms
o, l'écnico.,,artcliio• e <>p<:r~d<}• c,pcchili~lo, Cl<',)
Com \\ ln1crru1x;3odo 1rM1~11 do~ eicrnvoRe ns leis cmAnd• ( l Cowo ''"' y,11,~c .,,ndm d• rtl«éo>cia: F. l'cn,ande,;, A
esse vcmr c.nlrou u omplhlf..~e e :, crescer, No tlhimo
J')1\dm·11t:1, INt Y~•;'> do N~c ua S()(.it,lr;Jttk- C!,:It!.'r, $;;,, Paulo O(,cni.Jma E<.füor\1
q~artd do sécul~ XIX, a crise cio sistema eõCTavista - que al'ln• blm·rn dn Ut1·i.·tNiàndc de S.1oP11uio, 196,, \'OI. t, 'c,n, l· n. llú.wde
1 1
t 1 l c1n11,dcl1 DttJ1tf"OS"' Nt1.rnsw, S~, P4ut,,, &,o ~ulo.' Comptnhf•
1111111010tcml~nc,a c•trulul\11e irrevc:rdvcl on décadn de 1860 - 11
l \hh 1 .t \t1dona,,1 2: tJk,io, 19)9 t:Jt>II, r ll: O. 11111111,"O Prop_,,su,
akun(ou o ~eu dúnnx. A p,\rtir de cntilo, • rnoderni1.11çiio do I • rnu-Jn1h.-,, tt o t'111balb,1d,1, LJvrt'~ l11S. l\uar,1uoele }lol.mJa HÚMrJ..1
ACtur urh,wo 1<11·1\0l~se
. l uma í.or~n •<1chil vioorosa
.. e autõunmu , ( ,', 1,1( d~ ( lr#ila,ilo hr11sU"h11· O Dt,H)J U,mJ1qt,·1toVol. 1ll, $10P1u\o,
que opcr11Vasnnu taneimente 111ravésdos ní,·cl• ccunõmlco e l_•~•I,l);{...,'loE.,l'O\><., Jc, Uvr,,, ~p . .!')7.)19; Ç, ~t<do Juoillr Hi.,16rl.1
l• ·1mtJ,mc,do Bmsll, Slo J>1tulo
1
1 E<htom Dta:<iHcn~\',2.' c,H~.itu,
19:;~,cap. l?.

Cí. l.'Esd,,,.11 su IlrfJ/1, Puil, Ubta:ri• ele <',11W.1um!A


(*) ct Cio
( ••] I\Ol.,;tCttl
hnmco no s,,\,
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O vruecn,ooror110U
de i>C1>1•la~ln,(enn,/pk-n
n,11 tid"du
Mnu,:h111\can,rncc
,..,L,1-
t

1&11:~ .Drbll c111RM, l'nro & Uno, Hdlteur1,lUo d~ Jnnelro,18114: ítt •• 1•urnl1.
, 11i111

64 6J
de sacio, ronuol"'11, por poderosas famílias ua&ciooois, os ne• ►UIIK I M) l\.·1,cin1,~ O)!Ã:.enaa~-00 nlll'&2ciáiltlc g~e, como
gros e mulnto> wcbésn se vi.tru alijados d-a com;:,etiçfopelos h ,, 1'11111,,,r ., congl<Jroençionas favelas. sol~ suben· :,sta
no,•4Sopom11tldadcs, IDOnopc~da, ;x:los Curopt'U!, ou peana- 1 1,li, o ,k 1111,rcgo J>e:manent~ o,, te1T)poranopar,1 o homem,
llCÓam em posiç6c; d::pendemc.sou marginais d:ssinrnladas *. li 11 , • sobreca,i;a p<!tá a 1nulhere a anomia ~ para
/1 ,, d• nu cic!aJ:: raro equivali~ à portilhn dl1Soportuni-
Dcssarte, CO::JD conclusão geral: • vítima da cscravidfo foi 1 1 ,l.a ti.it..Jc Tnk s.~'"OÇÜL"lf aucc!-,-i-r4."Scunhec-cram o que
tambérn vitin1ada pela cri•c do sisleilla esaa,-ísc,, t!e ('tnduç,io. 1 11, ,~1ulica1a do!;O.'Jl&"izaç/ío socialcoroo cslilo _de vida,
A rROfo,ão .social Jii 01·ch.:msooat comueticiva lll!ciou-se e con-
1111,1 • lc/\3 pnra cidades pcq11e1iu,,em que o t1'1lbalho<lor se•
c.luiu-sccomo ema reoo!uçíiob,cr.u. Em r~o disso, u mp:1:• 111r 1..!.,.1,,_.._10,
o trnWhador cspedaliztdo ou o artcs;,,o_ po<le-
macfob~aocannoc.':Ifoi ame~ç•dapelo ,1bolido~o. Ao co1>- 1e1}tuarJ~r-se da ~c11npe.tição
•' 1111 ,c?in os b:311_cos,
_e$UJ.Dgeu"OS 0~1
tclr'.o, foi OflClUS rcor,.iani.ada co ouuos termos, cm que a com- , 1nn.u~. e <Orne('ar vida D0\'3. L,1 soluçan n-nplicavaum-:i oce1•
Jl'!t:çâ'o teve tlJl'la cooscqü~nda tettl\-el -
a cxdado, pattfal ou , \ 1c1 \'vlunúrb de posj~ ::f~vant~~~ ~em espcrlh,.~ em
mtal, do ex•t.ge:,te da mão-de-ubracsttav,1 e dos hncttos do fluxo 1 1',~n ao futuro, Ti nh:a Slf.ll•~•~núo ,10 que ~ abso_rção
1d1::u:,co
vi12l do crcscimeo10eronômico e do dcstnvolvimen,o socfal. • no l\ordcstc, :>J,11.muduroo1co pcl'foduce J<:-ante•
l1ll('<1t1
No po.oto zero J., ""' iI:clu.io numa oun ordem scK"i.J, , ,1,111,!.i ocravidão, O destino do, óll"-·:ues,p-0t1unw, (01 um•
pottan10, o ne.gro e o muluto d<>fl'.U•t'llo1~om v:!.w.s opções, tu• t'U do ?TQ2,t<.:-s~o <l.-3
tll\14\l 41,1<:stagn=ição ''d e esco )l"J11 a.
co111u1, 1ua
du cspoliativu e dc,nurávc:s. Prir:i.eirn, o ;egresso :l$ rc-giõcs 111 'l~lt.: ~ de mc.ro e a:go ZCJSO.
de origem ( ou de o:ii;em .!o.s s,-,,; 2.'iCCUCeo1es
), úto é, a algu= l'm,,r;too• JX>ressa per<;>e<:Ú\'il, cviJroda-sc que os proble-
área rur.il do ~on!cs1c ou a algum:i comu,üJode estagnada ou
atnts2<bdo inLc.,lor ceSã1>Paulo, ~iiuas Gerais uu Rio <le J•·
M ,h l'l(!P'US º"
mulato.<br~,i!~jros siio, ?dana de ~do, ur.1
1 ,,lil, 111• a •rado pela ll.lC9~cb.<le,di_ wc,eJ..u!e_naciooal de
ueiro. Tal solução implicava a s-.ibmersiio nwua economia natu• 1 l t1 rup,Jomenrn uma econ(lOJJa n1p1talistaes;,,,ns1v:1! c.tp'JZ de
ral de ,.b~istência. Segunda, a ;,crmonênda como trnbalh~Jor •l ,,wr os c't-c,cravos e os lihcrios no i=do de mao-de-0hrn.
em geral, do untigo senhor para u.-n novo em-
rurol, p:,.ss.111do, 1 , vlr111<k dis<O des ÍOl".u:l txpubos p;u:aa ~-riieria d1 ordem
p:~r. Com<>o cx-csc.rnvoniío pos,uía as insti11:içõcs nem as ,1 ictlltl ,•1ili\'~ C"J r~n cst.r1.nur11it ,cro_i<:olu1!h~is
e co.lon!n~s
tntditücs t.1llturois dos irui~ta.nte~, e predMva, po" ouun foJu~ 1 .1" -lo 1 ., Jdu. C.ssa;estruturas semJ<Olon:a1s uu ro!omn_:s
com1x1frc,,w elés em rermosde b«ixo pogome:no**, CS5R
luçio supunha uma incap3cldodt permanente para utilizar a <:O-
= , 111
p1Hh11um11n111>rl:mtes. funções na ctm\ltcnção ela ~m~:1.
" 1 , 1 ..'111 111("onde -1h pf.u-Hações,as ía.zcn<:htsde cru1ç,aô
opcra,;io ào1nés1ka, as ticuicas ttsclt:tntes da poupança e da , ALJ J. ,, ·otl1•m ( m1 d,,pendem) de formas <le crabel',o
mobilic!Jadcsc-<.ial<'omo mecanismo ce acumula(ão de caplr2.I e 1111, ,q,1(wl1e •
1 ~ 1 (li 1 111t11nt•r q""'• 1H'/'\:l"IC cnrnfo, os ex-escra\'ose
li 1 1ur, 1 t no t,111mm, ',. ux 1os os .........
yuvtes "
(•) Cem.tc7~.a eo i\o.rdr.,t~ r à cmt:gé11efatd: \:m m~n::11.rl~ •le ti 1111111J.i, , , ,vo••e .1 clirniunc;ãodos libertos
"1•0-&.'0bcalivtt, 0$ a,,w.~\c:$ l><sci<.- se <J.'Dleslu&>do pul)li;:a:.lo
de ~ Tmsei, •~ 0 i~:to l13 .8c.!na..Com rdtrGlC'i.t a S~u rauJo~ "' \1, , ,n ., 11111~r••*~• europeus livres
füo Gn.,d: do hl, }>...,,{ t $ruiu C=:ica: e!. ll ~ e F, rcr- , n pti , ••on N , nh~ tanrc como 3S·
n.J..'ld::s, i',,rt;."JC(l! e ":v,?Q<,~(1.t1 São Ps--1-kJ,/(i&. cii., F. F~tn1mdes, .,,,,.,.·,..u 1 1, la . , , ..,1d11n11.10prc1w·ou ,., seu •geme
A Jn:~»~o do .''itVo 6$ \n<U:,ücdtde Ci.;sst, l«. ci:.; 1:. Henrique
1 1101 ,li 11lt>r
Can-toso.úpi;r.Hsmo t Ew-r.vidâ1Jr.n Dr:uil Mer;dio,:oJ,.Sãu PAulo r , 1 , 1 . h"c, ncm mesmocomo
,
Dlfnslo 1-'AL."1'.J-,Sn l9<•2;O. Lmcl,A: lrl<1•m<>r;0<«
do LlYT'O. Jo fücraoo, 11 , ""li d11h .u,lo ,,11\('1nl--c\pcci3.liz.a<lo.
111h"ll1111li11 1'>01~ás da
Sio Pn:o, DitJ,,o Eu.op!'.. do L:vro, 1962: O. I,uuú, R,,ç,:, < Classes 11111111n•• •l ,li oHkm soda) cscrnvocrato <: seohonal, O
no Rr4!il,. Ria de )~~ E.citora a,':lu:a;in bilcio.. l966; 11• Hen-
rique Car<lc'50 o O. [Cllni, Cur e ,\!obi!id.dt Soâa! em ffo,i,;•ópuli1, Siío
Pa...:lo,Ca.7lp:mhial:d1tm2 Nanor.~l. 1?60.
{") i\cr.m1 C:o, ri1n,:uados !i!'IHriusda ~c-ohra ru:-al !i•.,rc,•ecj;t l' 1 \',k • bh.,. .. 1.. IU no.<•d.1 p'i;. 66.
E. Viotri do Co,13,1x S.-.u.a ~ c,.,;w.,, Slo P•u!o, DmaoiioF.,ltOpéia 1°) 1 1--,
.. 1., Ju11lt,r,f,c,,r---4'\Jo do BrAJ:'!Con.:tmp,Ohfoto. Col6!fi.z,.
do Li...,, 1966. 11.,.1[) Un u M,udns Edmxà, u,2, J'll>•~1.)-$2.

66 67
"e,c11,-u" e o '"negro'' cr,un ,lo:s demeoto, i,•ralclos. Eliminado ,1kk,. ,lo rcccnsc.1n1cn10.revel.,m umn 1md~nci~fund.1ncn1>11
<."=
o "cxra,·o" p<'fan,ud.tnç:1M'Cial,o "negro" se converteu num 1111111<,p;\lio
da, melhore• opc>r1uni<lodes pd01 br11ncos. Escolhe•
re,lduo rad~I. Prrdtu n condiçau ><>Ciul que adquiri111no rcaJmc n•><a l'()>Íçio do cmprtgaóor ~ Oii nlvcls cdUC1clunaiscomplct~·
Jn ~ra, idÃoe foi relca,,do,CU<l)(l "~sro", à categoria mai• baixa ,k>,,c,110l11unsl:stndo< rcprc<cmalivose •~ pa.ls, como o m~l½or
"1,opul,tlo pohre", no 1uorocn10 cx:ito Clll qu: algun, do$ seus i,.Ji<ador disponlvel. .Eles covolven, pnpc1s, \'nlures e tradiçoes
<clorcspartilh:1vamda., OJ'()trunidaucsfnu,quc«las pelo mb.lho
livre e ptla ron>1i1uiçãode uma ela.se 0;1<:r:lri,1
assalariada. Dessa
culn,ras, expressivos c:m termos d,s a\'1ll:"IÚC,S . fClos
hran•
cus, do prestigio, do controle do poder e do onob,hdade soem!
raaneirt, o nei110 foi vítima da S\13 posiçio e da sua condição a,cendeote. - -
racial. Encerou, com os pro)'rios meios, o processo pelo qual A evidência sociológica básicn dos dados não é negativa; ,e
poderia ,er metamorfoseado de "negro" num covo ser social•. considerarmos que a c<euvidão s6 terminou ltl scs<c11ta e doi•
~ias. quando ele estava ten1:uxlo impor a ,i me.mo e aos brancos anos (em rclo~ãoao rccen!lea~nto de 1950), a tola! ~li11~ncia
ir.difcrcoles a "Scgund• Aboliçiio"', a tcntutivt foi rcrus:i<l. e dos problcm.is hum•no&dos "!)Obres" em gemi e <Lipopulnçilo
<·ondcnada,roll'IOmanifesu,;,iode ''r.l('ismo" • , Em outNs r•· indigcnt: de origem e,mwa, o l~lto de c,ricntn~ de valor e dc
lavr11s,nri;ou-,e-Jhe• ou10-ofirm.~o como "ncHrll'' n despeito d:1 cxpcrié11ei•C(IUI os requi•hoa ccouômicos, socia,~e cultumis dtl
<uo m1r~inalid1dc•odal como tal ordem •ociAI rompctitivn cm dc.c1wolvimcn10,predominante cn,
rrc negros e mulntos, A indiíe=Çll ou • oposição disfarçoo• dos
J. êviJt11ri•1d,• Vesígu.ildadrRoei.dt stu Si&11if,c.,Jo btulCOSl p:utilha dcmoa,lúco das oportunidade, ccooôrolcaso:i
S0c,ológico educacioMis com ambos os setores da 1>0pula(iobrasileira etc.,
os dadosdo tttenseamento revelam umo melhoria "'1 situação,
A su exan a descrição L~tc:rior, as mudan~as na estrutura graças aos esforços desses grupo,<de cor para se ,-.kra.m du pos-
social qi:c ocorrenun na sociedade brasileira desdt R aboliçíio da síveis vanta~ns da liberdade e do prowcsso. A ,,aior parte d•~
escravidão até agora, não úvenm efeitos profund::is( ou twenm rcndêncios, natumlmenre, est:I lig;><laà aqui.içii) graduiva c!c
efeitos mairo superficiais) sobre a concenlrnçilora:inl da riquc1.n, novas orientações de valor e de rrBdi(õcsculturais, à impor11lnciR
do prestígio social e do poder. A falta de indicadoresobje1h-os doa nt-grose mulotos como agenccseconômico, leómo força de
oiio permite uma completa verificaçãodcss• concluslo. O último trAoolhoou predomlnnn1cmcn1cromo pc!queno,tmprcslrÍ<><),e
rcccoseamtnro ( cm 1960) excluiu os aspectos 11,c.nJs da popula• "° dcscol>rhncentoe utiliza(io d.11o.,ortunil'lndcs cduadonais
~iio hrasilciu, Emrernnto, o rc«nsc.ilfflCntode
olgumu iríorma~s tireis.
"'º
ministra\'• como csc..dn l)<lraa lntcg~ social e a mobilid.idc1,ccndentc.
A importma de$SCSaspc,:10<é maior do que se p(l<leriaimaginar
Como ,e ubc, o percentagem dos clilcrcntcs grupos rxiais à primeira vi>ta, em resultado d05 efeitos cu.mulnivos do pro-
( ou carcgorias de cor) varia ern cada região fisiogrnfieado pai~ cesso econômico,social ou culmnl envolv:do no futuro de no\ras
( cf. quadro l, acima, capí1ulo2, p. 5i ). Em conse:iüêflciadisso, ~rações.
o gnll! de concenuação de cada grupo racial ( oo categoria de P.ntrctauto, o progresso foi <l=asiado knco < ihs6cio. 1'•
cor) nas diferentes regiões varia com manifesta i.ntcruidade (d. rc•I.J ,k, 0< negros e mufaros fonun :,rojcudos ncs cs1rato.~d.,,
qu•dro H, acima, capítulo 2, p. 58). Jit '"'·" maiA pobres, q11e não r:utilhalll ( ou po1till11m muito
Não obst>tnte,os dois indicadores Msicos- posição ocupa• P'"""'),h, 1enJ~nciasdo dc.cn,-olvinicncucc-onômicoe tà um•
clonai e nf..el de insm11;20- que roc!crlamo1u12r atnv& dos ,l.,11<,-.,.,. ,,,<"t1lrun1I.Atf nn, rqiilles cm que' ,,. ucpros e mulato.<
co,mh u,•m II nrniMia dn po1,ul~5o. romo no Nor<btc, ou num
,tr1111<l~..-11,, ,lrlJ, como 110 ú,1, ( em que ~'<>1wti1ucm, cm cun-
(•] CT O. l.aMI, As /,kt<"fo,/nt<J, &rr,ro, op. n1 P F.rnondes,
A lnuq .. J, lc, ,'i,1111n• Vo<ttd1td,dt CI..,~,, 01>,cit,, vol. !, <~JI.I e wl. Jun10, H,7% e 47,}%, ttsoccti\•:\l'llentc, d• IC)lÍÍI.>;e c:n qcc
li, <11p.' são mais co,cmtr:,uos - 62,8% r,u Nurdc•I~ e 95.5% no f.,ejte,
( u 1C'f. lL Oe.,idc e F. F.:nandes, JJ,~r t N<R<Ot "" São Palo, cumulativamente. ''°''grupo de cor l ,em umo iiartlópaçJo cure-
np. cil., C1Jh 5; P. Pct-nunJd.,A l'llc,vaçm> dt1 Nciro 11a S«i.ed11ded, manicnte tseossa na po,iç,io Jc emptc?adorcs e na, mefüores
0,n~,. nf. eL, ..-~. 11. cup. 4 oportun;d,õcseducacionais.F.c,fon~ãocio, FstaJ,-s =IH.Jos_
68
69
a a,nplitude d2 desigualdade n:la,h•e ils posi~-ões dos cmpn:goJo- .l,1" ·, que precis.1ser extirr,aco pefa lei e ~lo controle formal.
res dá aos brnncos notável su;,rcmada ( eles n,rtilhAm des,3S uo- 1'111ret•mo.as ,·Jrias pesquisas ~ a eieito por Oracy No-
sições numa proporçio de }, Ã, 5 e até 6 ou. 8 vezes co:ura um~ ~ucor:a.Rog,.-r8astide e F. fcroantcõ, L. A. Costa Pinto, Octa·,io
l11nni,r-ero:mdo Henrique Cnrdoso e Rc:i~to lardím Moreira pu•
dos negros). O mesmo se 'Ocrir.ca cm relação ,tos mubtos, ooesar
de se encontrmem e[,s cm posiç..¼ melhor do q:rc os ~ros .cnim de ?Mr.ifesto que as menc:io,.~d:is sritu&:s e orieotaçõcs
{os bnncos parcilh~m das po.~:cõcsde emp.rqpdorc,, cm r.ic•••s são um pndriio cultnrnl hcrd,1do. t:i'o dinmdido na socie-
média, numu proporciio que o,dla cone 2, 3 ou 4 vc,.e. m~is do .lJ,k braiilcin qt:211too foi a csc.rav,dio no pa•sado. ,
que os mulatos, =nianclo-,e o C-JSO do Rio de Joncir.-.J. Crn ~m, no fundo do problema r:1ci:tlõra,ilciro encontra-se
-algunsEstados, us mcsma.steadM.cias se repwduicm, de m:u,cira • p<r<~t~ ce um modelo as,:méuiro àc relações de raça,
chocant~, na partilho das o;,ortu:údades educaciom.i<, sobrttudo con•t=-..ído pa.--aregulor o contato e a orckmçfo social entre "se-
nos níveis d•s escolas secundárias e elas uníversidudes. (Veja os nl,or·•. bescravo" e "liberto". Como a(O(ltcceuno Sul elos Esta-
qmadtos III e IV.) O cotejo do, dados fornecido< pelos J:JCS- d.-.s U:iidos, e~ tipo de relação ass:métrica cc raça envolve uma
rnos quadros com os do qaad,-., V mostra que a ex:clusão dos ne- esp(-cie de rirnali,açiío do comportnmento meio!'"'. A domina•
gros e mulacos elas melhotts o;,ortunicL,des econômicas e educa- çi&odo s,enhor e a subordinac;io do escra\'o nu ,lo libeno cão
cionais ~!?"º o mesmo roodeJo r.<""I,noo oiro Eoto.!o. acollüJu,. f'lltC do mesmo r:tunl, por meio do qu:al•s e1-coçõcse os semi-
.'\ predominância de mulatos, consjdcradn ele per si, ou de negro, mtn:os poderiam ser controlado, e mo$1.-.nado.!. No Brasil, esse
e mulatos, considerado cr.t conjunto, pouco influi, mesmo cos 1:po c!c rhualliacão teve idénticis fu,i(iics, reforçado peln pres-
.út&OO$m:i!.s"mi~ccados 1' e- r.teialmc.'lte mnis "democdticos ... "'º c-~t6lica paro preservar., em algum sentido ,1parc11te, o estilo
1 O sig.nificudodesses dadas é evidente. A estrutur3 raci2l de ,·ida etistão dos senhotcs, escr:ivos e libertos.

l da sociedade brnsileira, até ai;ora, favorece o monopólio da ri-


qu,:za, do prestfgío e do pockr pc,los brancos. A suprcm,1cfa
briinca é uma realidade no presente. quase tanto quanto o foi no
~do. A orgnnimçõo da socioclade impele o negro e o mulato
para a pobreza, o dese1uprcgoou o subdesemprego,e para o "u•
halbo de negro".
O 1>rccooccitoraciol era inerente •o modelo Hssimétrko de
rcl~c;ões•de raça, porque er• \IDl ckc-iento nece.!ário para ba.se.r
a, re~ escravo-senhor, ou libcr10-brar.co,na "inferioridade
n2111.-.tl"dos negros e no eficiente rcnd:mcnto d., escravidão
n., ,ubjugação <!osescrnvose (í::,e.rt~- Ao ~mo tempo, n discri-
111inação c:rn incrente ~ ordem social escravocrara e senhorial, em
,11>·rr:im rigoroc~mcntc prcteritos o comporumcnto :>dequodo, os
"·*s," lingwscm, !IS ocupações,obrigaçõese direitos do escravo
4. O ModeloBrasileirode Prtco,rc~itoe DiscriminaçãoR.t1dais: r ,lo libeno *••. 'A pcrsis1ência dosdoisdancntos após a dcsin-
tq;r:,ção da escravid5o explica-se pelo fato de não haver o sistema
Somente agora os cien!isr2:s !<>dais brasileiros estão tentan- de classesdestrurdo todas as e,tr.:l1ln1Sdo ,,,u:ier.rtgime, prind-
do descobrir a verdadeir. cr,,Hciçio des.a dep1or.h·cl $ittuçio. 1'dmcnre S! estrut'Jras das rd3\-~S ie (8('a. *•.-..
Como us;nalou Costa Pin10, o (ator explicativo básico é inc..--enrc
à persistência de ,tlgumas atit:Gdcse orient.ições raciitis dos bran-
cos, profundamente arraiga<bs, o.~sentido ~e tr:,1111 os u~ros e t•J Vc;o ~r::ri1nhrcn1c R. lk,,idc • f F=,od,-,. B,Maos e Negros
,,., .'iJt1P4u!.o.op. ât., cnp. V,
mularos como subalternos ( e depois sub,tltcrnizá-los ). Tais ati-
rudC$e ol'iemaçõcs r.1ciais pre..!omi03mentre as d.:i,ises bnoc.ts 1••) ("J. B. \V;lburD?.YI•, 1't, C;~""'' oi fl-«<Rt:lot~n• i11t~
1..,,~ A Sn.:cfyl:l Socrol Cc-ntrol. Cl,~-o. r:i;,.,.,,Thc \/!'"'"'"''of
supcriorc< e médias; m3.<apn.x-cm t:im~m nas class-cs inferiores 1 t., .,,,,Pr,... 19)7 (e ••1>cdnlmemco ptt¼éo dc Rc!>tr1h. P.irk, ?l•-
e :1116nas 6rca.,rurais, mor:nc:,tc no Sul. l!I XXIV).
Para muito,; brru;íleitos. ~ ritadas atitudes e oríenrações 1• ·) a. sob!-ctr:cloR. Ra~tick e F. ícma:>tl:.:-s..
Branros e Negro.t
racfais são ptodutos de "illfluê.oei.tsexttrnas". umo contribuição • De P:..lo, o;,. cit., (!lp. 2.
e Ü):S ~ oodemoo t!e com.unicat5-o~~
orgaci-.rade irniv.rancc.s e· . Vcp e:,.~i;.!m~n1e F. Fe:na...-ides.A 1;!teztA{âo dr, ~frJ,rO
m3."1Sa.foram -t! !-PO coosideraC-a..::;cumo um "câr,cer !mporta• •1 f ltJ, lt dt Or.•:1er, OD. ci:.~
voL IL CA'!'I.6.

79 71
t ncce~sário, tod.i~;a. nio c,queccr que esse rcsuludo não Pelas mesma.,razões, o "dil=o racial br-..süciro" também é
faz parte are= de um processo de aua.so cdr::uaL Sob o capi- c<:1mplic:.ado. Não rnn10 por deseripcnrarem o.~ l,rnncoa,11egros
talismo d=r,eudcnte, o sistema de clas.scs é illCap"" de exercer e rui.éato.,os JnJ?éi~
que ddc. se espc=ar.ide ilisf:uçu ou flCJ\at o
tocla.s~s fu~ destrur:i\·asoo cuM:rutiv,is qne exerceu nos po•- "preconcciro J.: cor" e a "ciscrioi:11içiio de cor", ma, porque
ses c:ipitalisllls desenvolvido;*. Dois procr.ssos <e \-crilicam u único c..minho.:thertoi mooi!J!Ça CJlsill:a<;ioracial de;x:ncleda
COn;tlllta!ne.-itc- ::i modcroiuçio do :traliro e a arcaização grac!ntiva, mnfro lé'tlta e irregular, dos ocfiros. e
pr:o.-p..--ridade
do m~r"<>, como fato: oormal d~ inlcgTaç:oocstm:ur.11 e de mufatus. Sob esse USJX."<-1:0, é fora cic dú,i6 que o p~cconce1t~
s-vo'uciio 6 <oclafade. Na rcaliU.e, as<i.mg\le o negto e o e • di.,;o-imi:,;,ção,!!.as formas guc as.-utncm :io Bcasil, conta·
mulato foram prcdomin1ullcmenu: ~lija<losda recoostn1ciiocco- buero m:1is para 11l3lltcro modelo assin:éttico dM relações c.le
nômko, socinl e po!Itica, p:i~~ram a ser um parcdro marginal. ~ do que para clinini-lo.
A cri.se do modelo •~!>imétrico da relação da r:,ça começou Is~ significa que, considemdos sociologic,unenr:c, o prccon-
nnte.. cfo pr6:,ria Abolição. Entretanto, havendo o negro e o cciro e a discriminação de cor são :.:ma c:s::saesuurunil e d.'ni-
ir.u.lato perdidoa imporclocia corco ai:cnte social histórico, so- mica do "perpé!ttllção do passado no presente"'. Os hrnncos ,,;;o
freram o deito ~-státicoda sua nova posição social. S6 agora, ,·ieúmiu1n oon..<cientee c!elibcrrula=tc os nqr;os e os mulatos.
mercê de migrações internas. do prog:csso econõcico produzido Os efeitos normais e i.,dirctos das funções do preco11ceir:o e da
pela ín ttgraçio :,aciona I e!,, sociedade, e da fmc:1mobilidade so- discriminação de cor é que o fozem, sem cemõcs rncia:s e <em
cial ascendente, eles ack1uirirnmconéições de enfrentar • snprc- inquieuçiio social. Resrringindo u o?Ommicades eco::iômic:as,
maci.3br-.1:lCII,
quase semp.-.: de m:ineira disfatçad3 e acomodatícin. ctlucacionais,sociais e políticas do negro e do mularo, m:ontend0-0$
Ape.,ar dé 2lg-.m,aresisr:Cociattiva dos br:uxos,não a es>e$ "fora do sisttl!:lá" ou ¼ m~m e na periferia da ordem social
fenôrc=, rrw ~ algumas not,keis persooalidncles negms e m\1- rompetitiva, o p=n~fro e 11 discri.ninaçiio de cor impedem •
latas em a=nsão. esse longo período de inanição contriblÜu paro existência e o smllimento de uoa democracia l'llcl.1 no Brasil.
mamer a CO!'~ ri rualístic:,d.is relaçõesraciail. Corno indi-
vfd=, t:tas p=incipalmcn:e como minoria de cor, o r.egro e o
mulato não têm li!iexd:tde =se uu1izar de u1112compct:ção
ag=essivacontra o~ brancos e explorar o conflito social no intuito
'S. Conclasõcs:

de lute.r cootu. a dcsittualdadc r:icial. Nesse come1110,é evide.nte Es$9 exposição geral foi orientada por algumas suposições
que o preço da 1olcr~1iciae cb 2COmocbçâor.,cial é pago pelo h.isicas. SociologictU11ence consic!craclo,o ~!emento tstr.#ur~! da
negro e pelo mufato. t11tl4ç'io r11aalhrasiltira tem duas d:JDell:IÕCS diHint:is. Uma, es-
Por es~u nzõcs, a ror nio é um demento importante 11:1 p«ificninentc social, 255ocic<l,1 à impo,sibilid~de, com que se_de-
percep(.io e na ronsci~is rncial do mundo pclo braoc:o. A1é frontam as sociedades01?iuilisr:as e de classe. sdid.esm"olv1&s
agora, C:e m.o:.i ~ seotiu a;neaçsdo pela c'.esintegrtÇ:ioda escra- , ,h América J,arina. de crÍilr uma or.!cm social compclit;va capaz
vicão e pela co111pet_ição ~• conflito com negros e mulatos. O d RbSürnT os diferentes ,etott$ da popdaç"io.tinda q;e ~1-
branco só percebe o n<.1;TOou o m::Luoe tem coosciêociaJele " •nte, oos cstrat05 0~1.xicio:,ais e sociais êo sistema de prodo-
quan<lo cn(tc:n:.aumtt ~iruação COL>cret.1,inesperada ,.. , ou quan- ~ ,1. Omra, que é, poc s::2 mit1=, o " pro11.cma
,1 .,J
a4 a, ,,. , com-
do a sua 3!cnç-;ío é c!irigida[l2U qucs:.ões relacionadas com o i' x:a hc-rançado p:,ssa:lo, s-ontinu:unen:ere:orçoda pelas tcnd&i-
"problema do cor". <11, ,,~sumidM ;:,ela d.~gc,ldade oob o capiwismo d~cnc!eu1e,
r 1,rcscrva&l at:n-és da ma::1ifestaçio conjunta de atitude:~ pre-
(•) Cf. es~a,nte F. F::Jl1nd<~,Suci,fi,;Jc áe C/6sus e Sut,tk. < 111t'Cituosus e comoort~ucnto &scr!minaLi-.-o baseadosno "cor".
Rio dt Ja,-,ci;c). 7~h~tt r~:o:c:s, 196S~at;>. 1.
1c.•t:;<;!:,i:aento, 1: ,;es do:selem::nt0s lr.\ba!ham jl.últot, de cal maneira q;e
( "*l Per cruM dis,o, "'6°'owliçJÜái, spi.:.cbs p0r J;-1ro."'o-,:m
norl.,. lui~m efeitos cumulacivos, d!no_ci.icam::nteatlvetS05 si 1uu-
-um~, aJUtcm61.o,;os
p,.ôcók,1,.-oo;, ou ,cxiólot,."U:5
ú• r,ac.;,ç<lo, dM difcttllClos ~ cb; i~ribcwics
.soc:.i:li,;
no ê'$Wdo pess,oe,J
.J. r,,;a 5io •neficua • 1 • ,1., ~r:nnura r2cia1 tla socied11ee,hcnfada d:i pass:,do. A
uo an.do êa s:raçio ~railcb. :1m oci:11 est;l-sc: modif:cai,do e, com cb. o; moodos de reb-

i2 73
ções de raça. Não obstante, a posição relativa dos grupos de cor se .l4 milhões { 11% da população total), mas pattJc.-p!lV:un de
tende a ser estável ou a mudar muiio ligeiramente. mc:nos de 20 000 oportllllidadcs como cmpregado:-cs ( 0,9% ),
Não h:í dúç,idade q>Jeo fator mais importante, em média, prcdomill:1lltcrnEntecm níveis modestos,e apmm 6 7~4 (0.6%) e
é a estroti:ra de uma socfodade de classes sob o c:apital:smo de- 448 ( 0,2%) tinham complcmdo, respectivamente, onso; em
pendente. O efeito estárico ,b c.=cma COJKentração da riqueza, escQlas secundárias e universii:!ades. Uma SÍtIBlçlio como esta
do poder e do p.:-escígiosocial impede ou restringe severamente envolve m:iis do que desi.1(11akladesocial e pobrw-1t insidiosa.
a própri.l mobilidade soc:al ascen&:nte e a integração 02 ordem P~ssupõe que os iodh·!duos afetados não estão iocl:ídos,
social comoetifü,a de famílbs roci:ús brancas. As cifras forneà- colllo grupo racial, na ordem social existente, como se não fos;em
das pelo n~mero e proJ)Orçõesde brmcos que atingiram posições ~e.cesbum:inos nem cidadãos nomuls.
de empregadores(ou que mono?oliz:im~ melhores opo1:runida-
cks educacionaisl são cbocances. Uma comparação com os j2po-
ocs,:s s-ugc_rcque, entre os b.ta11cos, prevalece uma tcoddlcia BIBLIOGRAFIA
defini<l;. l'"'"manter e tah.-t-zrdor,:,ir os privilégios ttonômicos
e políticos O'J as injusriç.i,s$(lciais,à causa de todos os grupos de AZEVEDO (J. Lccio de). €po,:,u&,: P<r.!!!.~,,!E<tJ.•"1llKó,Lisboa, U,:mi,,
mr e de todos os pobres, indui.odo" "gente pobre branca'', Cl:issia E<Eto:11,1928.
AZl'.VEOO (T.), ÚJ ÉiiltJ ~ C/Y-:!e:;rd."''·'
u11~ Vi!/, Br&i!it1':;t,Pub,
Entretanto, os deites estáticos são evidentemente mais for- Cnc:sco.1953;Er.uios d.eA11tm:-::;!ogil
Soci::.,S1.:\·ttdor,
Uuh,ersldacle
tes quando cc,nsideramo. os negros e os :nulatos. Apesar d,.s da B,11.tl:1,
19;;9.
vancagen5 relnti\·as dos mulatos em rela,.ão aos negros, aqueles Biu'IIO~ (M.}, R,,c, Re!arioi:s,No-.~ Io:q,·c. füsic Kook,, 1%7 (cap. Xl).
também s&, ,iti ma.,da., injusti\'>\Seconômicas,sociais e políticas JMSTIDE, (R.), So<ioloiJe,J:, IiréliJ, P«is, <::cnc--e de Dorume<:'.aílonUni
w1·sirilie., s. d .
.!;i ;ociedsde brasileira de uma forr:rn muito dura ( se collfron-
llA~"TJT)F-(R.) e ,·:mé<'l I\F.RGHF. (1'.J. •·Stm:,>-,1>::s.Nor.,,, o.nd f:t1<r-
tarmos a, percentagens rclntivas à composição da cor e à coocen- r◄1cial &:tavior:L"lSão P.iclo, B1.1?.J1'". ..meri::a,-s
.11 Sociofo~::! R..e!,-i~w.
tração Ja popu}AÇio com a distcibaição das posições de creprega- 22, 1957. pp. 61,9-69-1.
Llores e as melhores opornmidadcs eduarcionais). Atgt=enta- IJE}{G!IE (P. van d<-.n). &u:? cm: p,_,cism.No,-:1 Jorqm; Juhn \'?',J.,..,. &
ciam al~ms <jt?ea identificação cotn os b1=ms ( "p,;ssing") - Sons, 1%7, (cap. lll).
tão fiei!. ~brernd9 nas rcgiéJC.~ cm que os mulatos constituem a BICUOO {V. L), "AtiLi.Jes<!ot,\'.,u:~; de Cni~• J:.•-.nlues cm R..roçüo
COlll • Coo <le ~.JS Co!egil!''. fa Uae>co-Anb<:mbi, Kt!aç~.< 1:r.tr,
rn.üot:a ou grande pane d.a pupulação - talvez c:-cpliCáSseas Nevo, e BrtmroJ ~ Sic Po-ulo.S><> l'oulo, r.ditt,n :\nhcmhi Lufa.
cifres adversa;. >ia re.lidadc, porém, o a.-gum,,nto n1íotem s4,'lli- 1955, pp.. 227.310; "A::.:'tl.ldcsRaci.1is de Pretos e \1nl:1ti1~cm São
ficação sociológlca. Cada gn,po <lc cor, sociologíc,,mcntccum- Pa\120", Soc'.olo:;,,. SJo P>.ulo, lX-3, 1%7, P?• 1?.5-219.
preen<lic:o,ab1"11ngepes,oas que se conside1'1l01
e s.<ioaceitas corno JIORGESPEREIRA (J. li.), ('.a,, Pro,&,~ e ,\!obfiidi,Je, O Nei;te n• R~io
p<:ncnccniesa tlererminaclacategoria de cor. Por outro bc!o, n de Sio Paulo. São P!l1.1fo,Livrui:? P?o:lêi:s Ediro1'3. l5S7.
n<lSS3 pcsqui:;2 com 1la$tide dcmomrrou que o imbrio1mcnto ou COSTA PI1't0 (1. ,\,). () '<rgm ,,,, Rfo ,;,, Ja::euo, Rcloç;;:,-'!t.d,ís
o cruzamento, cc termos celirhas êc cor, são mais ·com1,licados n-,-1.iu Sociedade cm ~focbny1> SSO P:r.ulo,Cot__.'"1~chi1:
c:=l, 1953.
f~ttora N-a-
do que se havia prc.swnido. Assim como certos mulatos "cla- l'.DU_\!lOO (O. C.). 1'1,c N,,-r" ;,, ,..,_or:im,;:i!r.:;:d!. A Stt1d;-h .~a,:ltu-
ros'' teztam "pas.sar por brancos", assw outtos se recusam a atiou, Washir_gton. of '\':ashir:~Lou
lJ11iv::n.ity P:m! 1948.
foiê-loe até prl'!ercrn dimificar,,se como"negros". Foi um re• rC!lNANDf'5(F.), "A~,1s d:! Q,mti,, Kàekl", O Ttm,'>ô1- o ,Modo,
su.'.tacfosurpreE-ndente. Na verdade, o ÍC1JXlrl.3ntc
é que: isso SU· Lisboa,1967, 1"'· 3(,-f9, "'fhc Wc:i;;htof -<hcPasc". Th:td.li:.s,C:,m.
gere uma situação dramátic2, que não pode ser negada nem bride;c.Mm, l'rimav::::i.1%7, pp. .5©-)19.
escondida. PRllYl!t-: (G.), C.= Grmulc & Stn::ak, Rio de Jaceiro, lh•1-arit José
01)-mPÍ<>lá<lin,~,9.' c:m<;io, 1959 (2 \'Ol.. ); Sobrd:!JJe ,\foÇ,;rJlb(,S,
A condicão econômica, socí:il e cultural dos negro,; é o Rio rl:: Jsndrn, Li\--rariaJmé Ol>•rn-p:o Et:iLon:, 2:' edi~o, 1951
(3 "-,1,. ).
aspcc.o mais tcnívcl de uxlo o quadro fornecido pelos dados do
N\BERG (A. M...}, upº'i"'..Jis:::..~sobtc: as Atitudes J~ um Grnpo de
,ccenseamcnto. ~o censo de 1950, os negros compreendiaJJ1qua- c!C'Si-ol¼ulu ctn Rd~-in e.:orn
.bC0!:1..-es 1;. C.riân~~de-Cor": L½esro-

74
•Ãn.iênibi,Relações~,,, Ncl.'OJ~ Bra::eosé!n Sio Plllilo,Sio P1ulo, QU,\DRO [
.Ediron Anl1oubi Lrea~ 1955, p;>. 311-.361. Populaçiio B.:tillcin: Regiões F:s.ioeclEcllS
e Cor
GUERRBIRO RA.\10S (A.), Cartilha Bra1i!tirt1dn Aprendiz d, Snâólogo, ( Yer acin:sa.,
cap(mlo 2, p. 57}
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fi.\R.'US C,i), T,:;1<.•mui Cc,mtry ln Br.tzíl,Nov• Iorque, Columbia Uui- QUADROII
=1i1y PtL'SS, 195:, :ir,,.112•124), PattcrM of a- in rbcAlnttÍ01$, l'opul:açõo Br-.,.ilcirs: Distn'buii;i<> de Pcia:01.,_.m por Grupos de Ú'.'<, <!e
Nova lorq:,:, W.:kcr a. Co., 1964. aro::do com., Re:aiiõesF:,iogclfu:., ( 19:50). (Ver eé,no, capítulo 2, i,. 5&)
úl.NNí :o.), Rd("'-' < Cieus 110 Brail, Rio ck Jantiro, Edi.roraCivili:z3Çiio
Bmileirt, 19<í6.
QUADRO 11[
LEITE-{O,.i\!.J, ""l'rca:,n:,::itoRr.<""11
e: P•uioti!ruo eru Seis Li,ros Did1tkos
B:osile:ros", m 8o!,:m1 de Pricolog~. K• 3, Sio Paulo, Faculdade Enipr<&adorcspur Grupos de Cor - 6mil e .Esaôos l¼:o,nidos ( 1950) •
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pp. 2(16-,01. N~1u.ro
LOBO {H.}. e ALOISI ( 1.J, O Nc;vr, ~ Vidtt Sod,l Brasileira,Soo Paulo, 1
S. E. Pnnoninu Lida.. 19-;l. Estados
Br~t:€.OS l\'eg,ros ,.\fo!s:cs AsiJtietJs**
lOWlUE (S. H.;, "O Elen:cnto :\'cgro M Popub,çio <!eSão Paulo", Jt,. 1 1
ufstgth he11ivoMu,iitips~$:'~ PJulo,IV-XLVIII,1933;"Otiil<m 1
da Popcb.,-w da C:<bdc de Sõo Paulo e Dif=ciaç:io <!as <hsse. Panl 5089 208 3 1)2 88
Socws"', Rn•isla do ArqMhv.>,½fo11irip:.I,
Sio Paulo, TV-XLIII, 19.33. Pernambuco 21121 90-i 5836 17
t,f:\lUtJSCELLI (C.i, "Urr.o P~,rq\Ü$a rob:c 1kcilll(-jo ele Grupos"Raci,is" llihia 2817& 5295 20837 1 10
e Grupos Region•;.", ;,, ~liw de Psieoiogia, n." 3, São Paulo, Mws Gwis 85 08-I " 3910 15949 1 107
de Fi!osofü, O,,.é,s e Lcuos da Univc:sidaclc de S.o
F.t-.--U:cbdc Rio de Jai~'O 4ó477 447 l 2BJ 1 64
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éei.o Racisl ée Oriie:n", A,;,is da XX.X( C,,ngrem, de AmtriaJ. 1 1
1:út11S,São Pn:uo, Ediro,i Anhombi L:cb, 19.5.5,rol. I, pp. 409-4'4; Pnce11!dl('!I em Cada Grupo de C-Or
"R~ ~is no ),funidp:o de ltapctioiaga", C;:icsc;o-Allliembi,
Rdaft}es et#te N~,gros e Brt1r.cosem São Pa;.lo, Sio Paulo Editora E111uú,s
A:ih,i,:,i L<da., 1'>55, pp. 3l1-36L ' Bnmce.r Ne2,ro1 iliul::to; Asiifi(;()t*~
.PERDIGÃO .\1..-\LHEJROS(A. M.). A Esa-G~itiãor.o Br11Si1, Rio de: J•·
1 1 1
l> \'04.). 1
ne:ro, 'i'ipogr._fu 2'\ici<>rul,1866 P>rá 5,4 1
o:, 1.4 1 34,2
PlERSON.:D.). &•-'.:<ose Pretcs
N.lcicnol, 194;,.
"ª &bis, S.wP~ulo, Companhia Editoro Pmumbuco 4,0 0,7 1,2 ' }4,6
ll•hia 6,8 1,6 2,8 1 15,6
RlBEIRO {R.J, Re!.if.ião , R,~&s RA"itõis,Rio c1cJmeiroMinistério de '1_,n 1, C".rtJ'A.Í!C 6,4 1.0 2,5 14.6
1 12,5
.Edu~çi,o e Ctó·-..na.11956. ' 1\,o de í•ndt·o 8,2 0,3 0,8
SAl\"1'A:S.\(E. T.), &kf9's entre Pre~s e !Jr.11cosrm SãoPau/o P1'COll- S>óPtulo 5,1 0,11 1,2 • 10,1
ocito ct Cor, Soo P•'Jlo, 1'.diçio do Autor, 19.H. ' Rio Cr.uxle <lo Sul 4,2 ô,$ 0,i 1 s,s
Mo10 C1-osso 6,6 2,3 2,5 8,9
WAGL<:Y {C.i, co,n • rolcboni;lo clc:IIUTCHIJl(SON (H.J, HARRIS
(M.), Z-IMl\l.ERM.•,X (B.), Roces el aa.rus dr;JJr/e Brisil Rmol
; 1
Paris_ Ur..:KO,s. cL ~
1 BRASJ1 1,8 10,2
WAGLEY(C:} e H.'\.RRIS(.\!.), Mi.~oritin i111h< Ntw World, No,.,. '
Iorqi;e, ('..,luml>ioUnh-c:nicyP.ress, 196-1.
WlUF,\fS (E,). "Race A1tln1é:C$ in B,.,;J", Tb, Amtrican Jomncl of ( • ) Da<!os<lo r,:<:osci:ncnto. Omitidos cs ots0s sem Jed'-"lção de ;;osição
S,:,ciGklb•,LJV•.5 1949, Jlll· 402-408. (o:cclUJlndo.se<>P•d, ~te que esses rosos fo:.un incluí<l<>t).
(
11
1t) Os asi.ítioos são, qnase todo~ japon....=-:ses.

76 77
QUADRO IV
NívC:SEdua:doo.-1tis
C;,,;1plctadosper ~~:as e: .r-.~ulatos
- Brasil
e Em.d,,,,..Esoo'.;,l.Jos11950)•
QU1\DROV
População por C<>rne5 0:10 Esu.d0$ Escolbk!os ( 19.50)•
1 Pric,árw SecsmdJrio U,:iverriddde
(;,..,,/;9s de Cor
Nwuro "' 196,k
Jo!al .-.
1..u1JU:ro
Toul
Nf:t>
Brancos Ne&ros 1},fo/w.,r Aw.arc.'os Ject.>
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1 1•11r.i 325 281 27$9 l l23 273
Perr.ambua, 1 28,96 5,32 65..)9 O,C-8 100
~(gtOS 58991 3,3 192 0,5 7 0.5 l 0,25 1
Mula«>• 42 669 24,2 2&,"9 8,0 ]89 J/, 'lorJe.u
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Negros 36 805 5,4 4il 0,4 44 1 0,2
Miüt0$ 103082 l>J 4 757 4,6 459 , 2,8 i 1
Muus Gcr.,is 14509 515 1 122 940. 2 069 03; 1 2257 13 933 1 7717 792
Rio d, J ""~''º 1 58,43 14,55
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Nc:i;ro,
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Ne-;;ros 2 5-13 1 5,3 59 o,s 3 0,2
M'.Jl,tos 12 911 1 r,,o 1148 16,2 69 8,0 • ~tr..l,r.>-Oe$!e ! 1
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BRASIL
Negros 228890
1
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53,32 9,79 3.5,89 i 3649
0,70 11563
0,30 1
1
522044
100
Mulatos 551410 10,2 41410 J 4,2 1 3568 2,2 ·-
r (•) .lnfo:ma;ões cxtta!dos de "E.s:udos T:)c,mot:llfioosN.• 145" (eb.bo-
1·adospor Remulo Coelho}, L!h1~t.õrio de Es~a.tfsticado lnsüru!o Brasi-
( •) Os dados do rec:::i.::1mcn10 fo:,m omitidos oo caso ~m que nio ,.. leiro de Geografia • E..<t,;tL<tÍa- Con,C:J,o Nadcn,l de Est:,ústka, l\iQ
registrou dtd.ara;-ãoc!c:cor nero de rúvcis eduacio:Jais ( ex~ o de Jao~iro, 195.5.
Pll.!'á,i:ni 91c: .s6?C omiêr3.Clos. e~ t..-:i qt:c r.ão hocvc declaraçãode níveis
ducri,n,.;. ).
(••) Nún<ro mtal de l)wSO.S qu~ co:,r,,J,w-.o o ,,ívd ospccificndo de
<doc,'l(i',opar:, c,da Esudo.
79
SEGt:.1'<D.1 P.\RTI

O IMPASSERACIAL~O BRASIL~fODERNO


CAPfTULú IV

A PERSIST:E:l\CJA DO PASSADO •

Jntrodt1çáó

N 1 ,1111.1~.m
d<'c1>ntJlOmeia) ímpcrmtc no .6ri1sil;:vidcn•
ei 1, •,< mu1rns 1,ro1bkmassociol6gioos, de grl\lldc signiiicaçio
ln 11 •n• , \tcnLlhta. O Brasil vive, simultaneamente, em várias
''1,l11Je. hi~tôri,-u.souaís". Conforme a região do país q\1e se
C\"'1&1elerce o grou de: dese:nvolvimenio das comunidades <lames•
ma região, podemos focalizar cenas que relembram os contatos
dos coloniziuiores e conquistadores com os indígenas ou r~istrar
quadros que retTatam o sp:rrc-cimento Lt11nuln1oso da "civilizaç.'io
industrial", com ~JOQ figuras tfpicas, aadonais ou advcntkias.
Prescutc, passado e fnmro cnm.=am-se e confundem-se de
t:il mandra, que se pode pa.ssor de um estágio hi;tórico a outro
pelo cx!)(.-dicutemais simples: o dcslocamt:Oto no espaço.
Ota, a cada est;lgio hi.st6rirn rnrn:sponde \IDJ2 sitn:,ção bu-
=a. O observador ingênuo perna éstar num mundo cultural·
mente homogiêneo. .E, de faro, c:cttos pofari:aidores impregnam
ss sitwçÕ<.-s mais comrnstantes d:: um subst;ato psico-social e
sócio-cultural co111wu. Mas, n:1 re:1lidadc, c:idasÍlu,;çiío hu=
organiza,sc, estrutw·al e dinamicamente, como um mundo mate·
l'Íal e moral l'<ltn sua íeição próprÍJI. Sem dúvida, as várias situa·
ções humanas possfreis põein il luz, no conjwito, os diferentes
pad~ de intcgra<;ão sócio-culrural da sociedadebra1'ilei~11. ao

(•) Tnb:Jho apresentdl!o l Confcw;u °"R:ra •1:.dCo!cr, ~ir.,.:!o
pru- ~ Jl.mcric:in Aoioonr oI An, ,:>d Scit1\CCe 'f'be CcJll;l'CS$fur
Culrur:alFr.,.,,!om;e :coll:<9<lo enrtt 6 e U d: s:temb:o de
cm Copc:nhai--en,
1%5'. Public:açio p:i\·tt pe!os organizadore. <Is co11forêoci• c:n inglês e
fntoo?s. Publicação d<fuútiy• _in Jolm HC>peFtn.llklin (org.), Colo, a,sà
&zce, lloston, Hu,,ghto,i Mifflin Co<np.my, 1968, pp. 282-301.
longo de sue1 fortnt.-çãoe de ma c,•olu,;iío no tcrapo e no espa;o. lação. Tudo se passou, bisroricaillentc, como se exisrisscm dois
M:is, cada nma ddns, <le per ,i, ,6 poJi, ser comprce11<fülae ex- m:llltlos humanos conám1os, mas esiai:,ques e com destino; opos-
plicada at1'11\"<'.S
do seu próprio p:1drio de incegl':lÇâ(l
sóéo-Cl'.lltoral tos. O nmnJo dos bn,r.cosfui profundamente alterado pelo surto
e pelo modo deste víncular-se com às tendêncfos amantes de mo• econémiro e pelo d~'SCll\'oh·imcuto soei,~!.lig.idosà prodt>,--ãoe à
,icmil'.-t,-ão<11,quehsociedade. e à urbani2"1çãoocclerada e 1t in-
expu.··taçlb do café, no inici..Q;
cm sci,'Uid:l.-0 munàc dos negros íicou pntica-
du.~trialiT.iição,
!.Projeta,fos cont;a esse pano de fondo, as relações étnicas ou n-.cnb:à rnarw-.""!11
c!es!>Csproce::--q)S
sóci~c:conômicos,como se ele
raciais e o sign4cedo da cor na vid-ah\1mana :1pr~lllaJlHC sob esth=se dentro Llos..!-'®.ms.Àaédade mos não participassem cole-
diversas f~cctas. · E..<eolhcmos,pa.ra debater neste trabalho, o t:iynmeti:e<le s:irv-ida c:ronômÍC!I,social e politiCíl.JPortanto, a
e>.""Cmplo qoe nos·parece ser o mais iodic:ido p:lia crna ca-:-actcri- e a e..>ttinç5odo regime ser<:il niío ~igniíicou, de
desagrc:g:1,;"&0
zação sucinta do que se podem ente:ider como o dilema rai,;J imediato e a curto p.'11zo,modificaçíio d:is l)OSÍÇóes relativas dos
brc-sileiro. Trata-se ela situ~ção do uegro e do mulato nn cidade estoques r:,i:iais en pre;ença na estrutura social da comunid~dc.
de São Pmtlo. :CSrncidade níio se singulariz:l pela nl1.1 propor- O sistema de c,.scs, foi abolido legal □en:e. Na pdtk,t, porém,
ção de negros oi1 de ce:.,iços de negros e brancos na popolação a população negra e mufats continuou reduzida a uma condição
global. Ao contrário, ,oo esse aspecto conta entre as comonida- socilllan.-íl.ogaà pre()xistcme. Em ,-ezde ser projetada, em massa,
c:!esurbam1s brasileiras cm que essa proporção é relath·amente nas das!es sociais em formação e em diferenciação, viu-se incor-
baixa. ...Elaé signific:u:va por omros motivos. De um l:ido, porada à "plebe", como se deve;.se CQ:iverter-sc numa camada
porque se inclui na última regiiío <k>BtasiJ eo1que n cscra..,;dãc social ~pendente e tive!se elecompartilhar de uma "sim:ição de
desempenhoo ftioções constrntiv-as, como :ihmmm e ponto de asta" disfarçada. D.i.í resulta guc a desigualdade racial mante-
partida de um longo ciclo de prospctichde económica, que se ve-se in:ilt.enível,nos termos d:, ordem racial inerente n organiza-
iniciou com a produção e a exportação de c:úé. De outro lado,
porque foi a primeín cidaéc brasileira que e.-q>ÕSo negro e o ção social desap:uecida legalmente, e que o padrão assimétrico
mulato às contingências típicas e inexoráveis de uma economia de relação rac:al trad:cion:ilista ( que conferia ao "br:mco" supre-
competitiva em e,,.-p-anslió)Etn conseqüêncu, ehi permite anali- ma® quase rota! e compelia o "negro" à obediência e à submis.
sar, com objetividade e cm condíçóe3 qwse ideais, como e por- são}, c:oconu:ou condições ma.tetiais e morais para presctv3I-se
que a velha ordem racjal nlío desapareceu com a Abolição e o em bloco.
término legal do n:gime de cas1.1s,prolongando-se no presente e Os fatores pri ocipa:s dc,se processo de demora sócio-cultu-
nroificando-se pelas estruturas socais cmdas graças à univet-Sa• r:aljá sfo bem conhecidos. Numa visão tetrospectiva e sintética,
li7-açãodo trabalho livre. os al.u&idosfatores podem ser agrupados cm qnatto constelações
histó1·ico-socia.is
suc=h•á~ (= intcrdt-petJtlenres):~) ag ten•
~ia• \tSStunidas pela transformação global d:i cõrounidade;
Desigru,!d,;JeRacial e E.<tratificrofl;o
Social 2_:? caráter sociopático drn mo1ivnçõcs que orienmram o ajusta•
meoto do "negro" à vida na cidaJe e à nam= :t:lômica dtts
O dilema racial hrasikiro, J1'! forma em que ele se mani- formíls de associação que p1.-'<i=r= descnvoh•er(i'õ) inocuidade
Ít"sta na cidade de S-'!9Paulo, lança suas ralzes elll fonómCllosde da reação dir~ do negro e do mulato contra "a marginalizaçiio da
csuatificnção socialCTcndo-sc em ,•i.<taII cstrulll~ sochtl da co. gente negra";,[õ, aparccí.:.uento tardio e débil de corr<-çôes pro-
mtmidadc como Olll todo, pode-se afirmar que, desde o úhi 11:0 pi-iamc:nte estruturais do padrão herdado de desigualdade raci•~
quarrel do século XIX até boje, as gnmdcs transform:içõesbist6-
rico>-sociaisnão produziram os mesmos proventos para todos os Na primeira constdação, ccv<mo~ considerar rrês grupos
~etores da popuh!Çiío:De fato, o con~mro &: u:nnsforma.;ões que de fatores }1is1órico-socinis. Primeiro. a cicbde de Soo Paulo nlio
<leu orir,cm à "re,ohição hurguesa", fomentando a universal:- repete o P3driio traclicionar de de,:envo!vill1<!fltogeográfico e só-
r.1ção, a consoli6ção e a expa:isão da ordem ~oci2l competiti,·a, de outras cidat!es brasileiras, que se e,..-pandiram
cio•<.'c0:1ôrnico
apenas beneficiou..coletivamente, os segmentos brancos da popu- SQh ·a égide da cxpk,ra('Jo do tr.iba'.ho csc:ra,o. A inclusão de

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São Paulo na órhitB da economia colond brasifej,.,. (L2,;cacla na u hh Iha11nmola re\-'°Olucion.átia residia nos intc.resses e valores
~~-portnçãot!e produtos rropicals) 1 ocorreu bl.rdizmcnte. Só co:n w, ,.1, 1n~jt'<.lkiidospor ca:.isa c!a v4,-ênt',a da .:scravidiío. Doutro
a proc.lu.,--ãode café no "Oeste Paulista" e gr-,ç-,s à intensifie2çíío la h, t ncrros e os mu!.t!os se ir=i~m oe;sa i nsi1rreiç.iíocomo
prugrcs,;iva da exportação desse proclum J1,anhoca cidade ,,Ofü,ll- • ,,1,, 111ºe mert.1,cma.-;s:1de :n:anobra'>.Eles nâo pt1dera1nproje-
ç/\es p.ita <ldxat (!e ,;çr um bc.:rgo rústiro e paf'll coorar com 1 ,r ~•la C1Sseus aiiscios 011 nc,.,--cs:,idnc!c:s
mais diretas e, com ratas
e..-onômica. Por isso, somenre
fo:11es regulares de prospcric'-?.<;]e , , , iks, ficar.un relegados no$ 1>:1péissectmêfu::os. ..\ssim, o
a pan:ir do Glwno quarrel do século XTX efa sofre: m()difkações ,,.,, ~.- podcri:1chamar de uma "coMc'ênci.1eholicicv.:usm"cra
que a cQnvcrten1 i•ropriaIT'..:nree;n cidade, ~o eslilo d.e outTOS 1111rw11 1:xitrirr,õnio dos próprit-s br:mcos, que liderav:im, orga-
agregados ur.banoscfa época. Esse fator rem gn\:lck im;,on,'lncia. 11 vnm " ao mtsroo tempo cc,::tinham a in.surreição dencro de
Os centrc-s urbanos provocavam rerras n::<:<:ssidadcs espe.ciais, 111111 ·• que convinham à "nu;-a" domin9-,r.e". E.~sc quadro ger11l
que arnpl:,..-:,m a divisão do tralxúho social. Neles surgiam ,, 11>1udo:.s efeitos negativos O:t litnirativo&- Quanto aos br-.in-
ocup~ç~s e ser,iços qui, alarg;ivam a área de alividadc consttu- ' Í,L"Ortceu u--i1 proccss..'l pa.rac!o:uú: na fase agud~das t:-at-s•
riv,t do e..<ct:ivoe, espe<:faltncntc,que não podiam ser exercidos 11 1~ul.'S,a lider;.\nç~do processo passou para as müos Cos ér•
nem pdu escravo nern pelo homem fo·re. O libcr.o <lesfn,tava, , 1, rn1us ro!'!Se:\'adares, em~nhado:s. cm ater1é-,er:.\('Sirytetelõses
~sim, sigamas oportcn:dades eccnômic:is <pe lhe permitiam t a c,-onômims e polífros dos grandes fazc:,dd..-os. Embora
integcar-se na cstmtura ocupacional das c-Jdadese que forçavam n ~ ~sem ,1 conceder aos fa7.endcirosqualquer indeni7.açiio p<.~
os brancos a tcrern interesse pelo seu a<lestrawtnto e aproveita- •t· clsJSfi11sncciras, dcrorr,-ntes da Abolição, :r,oora121u por
mento em e..!úe.i. Pod::-,e veri6= t-omo esse mecanismo se ,,, 111~10 ,a rn:cessidade de pôr cm práti,11 m~-t!ic.bsque as,;q;u•
roanileHa,·a cm cid:xles co:no São Salv,1dor, Recife QU Rio cl.e , , m um ruiniri.o de prot~iio ao esc.ro,o ou ao liberto e con-
Jane:..--o,na.5quai, a popul119ionegra e, principalmente, mesciça « nrJr:im toe.lo o esforço consuur.vo numa poliôca <r~c garan-
logravam a oquis::çíio de um nicho relativamente Vru)lajoso na t, ( n r:ípida substituição da mão-de-0hro e ser-ava. Por essa ra-
org,u:üz,tçãoc:col<Ígica e econômica daquelas <:omwlidades. A in- ' ,,o fim &, Jmpério e no hício <laRepÍlblica, o pr.incip-al
clusão tardia & cid:iúe de São Paulo no núcleo da CCO:lomia 11 "", Jn política governamental provinha do fomento da imigra-
colonial bresileira rep.n:,;encou umn desvanrngemp:ira a popula- \ , p(>r todos os meios viáveis. Quanto ao negro, con, 2 Abo-
ção negra e mestiça eh mesma, tanto escrava quanto liberta. Isso li, .10 de perd<:u os liames hut:12.llit~.rfosqce o prendiam aos
porque o inicio da exp,a~ão ecouô:n:ca coincide com a concen- hr•1,r0tradica:s ou inconform:scas e deixou c!cformar uma CO!:S-
ttaçâo crescente de imigl'ant~ de origem européia e 001n a crise , 11 111 ~ociol própria da situação. Copo foi maL, tutelru::lo qc,e
do próprio re~ servil Poucos negros e muL>tos pudcr:un 1 titt ,lo processo revolucionário, uãu tinha uma v!5ão obj-2:tiva
aproveitar as oportcnidacks com qne <:onta,ia..'Ilt:n outras cir- ,111n1•1110 dos seus interesses e possibilidades. Co,.:lverceu a
cunstâncias. e que lhes pe.nnit,h:iarnconverta-se em al'tesãos, 1 li em um fim tm si e f?,l_rllsi, wfte:ido a,m a dcscit::ição
pcquenQS con:er.:iantes etc. Ao eclodir a Abolição, estavam dis• ,, ti "1 u espoliação - a última pela q\1al a cscra~dão ainda
tribuido~ nas ocupações rne::os desejáveis e compensaé()r~s. pois 11• 1 ~, 1nsóvel. A "explosão de alegria" logo iria ter urn a-avo
a; oponunidadcs mdhorcs haviam sido :oo:iopolizadas e 2hsor- ,! 1 1 11 ~,, • dignidade do "homem l:vn:" p:,.tecia valer mais
vitL1s pdos imigrantes. Seglmdo, o movimento abolicionista e 1,~ ,111,1l<1uc1· outra coisa e, de imedia.o, o "negro·• dec'ico~Hc
todo o proct:SSode êesa?,regação do regime 5(:tvil asswniram, co- 111rn• 111rntc ao :ifã de usufruir um dom que_, n<>passado, o ex-
mo teria de acontecer farnlmeote, o caráter de uma insuncição 1 '"" l rondiçio humana. Terceiro, a "rcvol~o burgoe;a"
dos pcónrios brancos contra a ordem escnn•ocra1ae senhorial ,, 11c b~niu o "ne1,'to" da cena histcírica. Ela se deseo-
Esta emb:u-.içavao dcscn-,olvi mento sócio-econômicod:,s regiões " " 1<1moele duas figures: o íaien:Jeiro <le café, que viu
prósperas do país e sufoc:iva a apan!ão do capit:tlismo. Ainda ,., <•iois e econômicos se difere.oci~-rcmgtaças ao cres-
que o abolicionis,oo 2dquiri~se o teor de um ooovimeoto huma- ' ,11 mico provocado pelo~ "n::gócios do café" e à

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,,1n como .e perpetullssc a escravidão por outros meios e como
expansão urbana; e o jmigttn~e, q~ se apropriava te.nazmcnte , 110 vender sua for,;,, de rmb:ill,o, o trabalhador ,endesse, si•
de rodz as oportutú<bdes novas, ao mesmo tempo em que dimi• 111111ll<':lmente,
a su-.Apcsso:i. l)aí n:sultou um desajustamento
nava o " ncg,.-o., das po<1cas pos1çoes · - compensa doras que e1e al. rr,l:l<kir;mente estrutural, agravado 1--elofato de suas opottu•
cançara no artesanatoe em alguns NmOs do pequeno c.omé:rcio. ,11!:idesde rrabalho serem as p:ores e de <xistir dois nfçeis de
Por ~s.~,o "~e&ro"nio f:icouapenas à margem dessa revolução. ,~tribuição, mm o que se dCAràd:tvi\o salório do ttahalhad« ne•
Ele 101 sclce1onad0ncg2rJvaacnte, prcc1san<lo contentar-se com t<I, Segundo. a abundânda de roiio-de-ohta com mdhor quali-
aquilo que, dai por d:ante, saia tonhecido como "scn•iço de nc• ticaç:io, como produto da imiguç.ão intcnswa, coocotreu para
gro": u,,balhos incertos ou brutos, ião penosos quão mal rcmu• rapidamente a mcnmlidadcdos empregadores e su,ts
1no<lific.ar
ncrados. E.o oonseqiiência, achoL~se numa estranha siru,,çio. ptopeosões, mesmo a respeito da selcçii.o dos trobalh.,dores agri-
'Enq::anto a prosperi6dc Wejnva todas as demais camadas da wlas. Anres;o negro era representado con:o o ún!co ageorc de
população, o "negro" scntiu-ce cm apums alé para maJ'ller ou , 11,halbo possí.el, pelo menos com rclaç~o 110; SCt\'ÍÇOS degntla•
conquistar as fo:>tes estíveis de ganho mais humildes e relegadas. .los pela escravidão. Havia, por isso, relaü,,a roled.ncia diante
Quanto ii segun<h constelaçlio, <levemos considerar cinco ,lc sws deficiências e real preocupação em cmrigi-las, corno fosse
iJUpos de foto~ m:is significativos. Primeiro, o negro não fora p1Jssí,-el.. Ao se eviclcociar que ele podia ser substiruklo, inclu-
•~~do pr':"=ente, como escrar:oou liberto, para os papéis ,ive com alguma facilidade nas regiões prósperas, e que seu subs-
SOC1o-«00Ôm1ros do trabalhador livre. Por isso, ele não pos• 1i 1,uto era "ma.is inteligente'\ ªmais eficiente~' e "mais laborio-
sola nem o treino técnico, nem a mentalid.:tde nem a autodisci· tl" ( ou "industrioso"), aquelas diSpo5ições desapareceram. Por-
plina do assalaruido. Ao ,-er-se e sentir-se liv;e, queria ser lite- rnnro. de UJlUI hora para outta o negl'O vio-se condenado corno
ralmente tratado como HO.AlEl,f,oo sej$, como "alguém que é ,1p,corcde tnbalho, p:issando da categoria de :,geme privilegiado,
senhor do seu nariz". 1'ais disposições xedundaram em desajus• pura a de agente refugado, nom momento em que ele próprio
tamentos fotás para o negro e o mulato. De um. lado, os em• ,·levn-a suas exigências mor-.ús e ~ tornava inttmJSigente. De
pregadores bmncos se irtilar$m sobremancirncom as atitudes e mnncir.t qu2SCautomática, foi confinado à periferia do sistema
os compor_r=ntos dos cx~ravos. Estes usaram p.redatoria- ,h· produção, às (lCllpaçôes indesejáveis, mal retribuídas e sod-.il-
mente a liberdade. Supu:iliam que, se =m "li,;,res", podiam Jlltnrc degn,àadas. Terceiro, a escravidão despojou o negro de
trabalharcomo, quando e oode preferissem. Tendiam a Gfastar• •111ase mda sua hermça cultural e socializou-o tão-somente para
-se dos enc:atg(lOldo trabalho quando dispunham de recursos su- p,,péis sociaisconfinados,nos quais se tealizava o dcsenvolvimeo·
~cientes pam Sé manterem em ocio,-:dade reroporma; e, em par- ,o da personalidade do escra,-6 e êo liberto. Como comcqüên•
ucular,. =ius-aoHe m11itociosos diante de odmoestações. ad- , ln a Abolição projc1011-ona ~..$fett dos "bomeos livres" sem
vertências ou reprimendas. Alegarulo tjue "eram li,,res" ( ou que ,1uc de dispusesse de «-cursos psico-sociais e institucionais par2
"o tem?() Cc cscra~ddãojá acabou»), pretendiamuma autonomia ,lju ,tar-se à nova posição na sociedade. Não conhec:iil nem podia
que se chocaw, fuodamcnt:dmence, cmn o regime de trabalho I",r cm prática nenhuma das forro:as~ociaisde vicia org2llÍ7.nda,
assalwdo. Esses descntendimenros seriam, naturalmente tran• ,lc qoe desfrutavam os broncos normalmente i inclusive a farníw
sitórios. .Mas.,como havi-1 relativa abundância de mão-<l;-obra r o 1ipos de ,-oopera(áo ou de so!.idnried:,dc que ela contlicio-
~ ,·.irtudcdo vo~ atingido pela imigr:ição, os empregado~ 1111usocial.mente). Para usufruir os direitos do Homem Lí-vre
aª'.ra.;1-de fo:ma mrolcrante, demonsttálldo notávd incomptcen· pr..cisava despojar-se de sua segwida natureza, constituí& en-
sao diante do negro e do mulato. Parecia-lhes que estes criden• 1111 ,n10 e oomo escravo ou líberto, e absoNer as lécnicas sociais
ciav•m "falia de responsabilidade" e <1ueos negros seriam "im• ,1• · .i,iam parte do "mundo dos brancos". Fi.undo-se na cida-
prestáv~s" ou Hinrrar.áYcis.'' .. íora dn "jugo da escravidão,,. De '1 São Paulo, onde a urbanização rápida e o crescimento
outro lado, o própr'.o negro pôs a libcrc!ade acima de tudo, como ,ti.,l accle.:ado provocarsro a espansão inteos.a da ordem so-
se ela fo.55cum va!o, intocável e obcsoluto. Por falta de sociali· .,u,pc·útiva, essa lacuna de otigei:n cspecifícamc:nte s6cio-cul·
zaç..1oprévia nã'osabia :nmli-3rcor.retiimcntea naturezae os limi-
1 111, <riRir-se numa barrdrn i::transponível. .1\ incapacidade
tes das obrigações dtt:orr,nu:,; do contrato de trabalho. Es1e era
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de lidar efla,zrn~re í ou de q=lc;=r :noco) com as tcleri<hs mh> no próprio negro a "culpa·' pelo que ocorria ( como se o
técnicas sa<:iaisicp<:diu o aiust,miento às eo:xli~s <!e .,;da im:.::• ,.. ~10 ''n.io ti~~ a:nbição'\''nio t,,~-c~ssede a:ab:tlhor'>,
"fos:i-e
nmtes tu cidad.::, colocando e, negro à margem da histócía. cu;,,o 1, h~do invcternêo", "tivesse propensão 1»1r-~o crime e a pros-
se lhe fossem vedadas z oportunidades crescentes, sofregamente 11t11i.;!io",e "não fosse capaz de dirigir sua vi& sem a direção
apw,-eitadas pelos :migrantes e pelo rrahelha<!or branro de o:• 1 o jugo do brruico"). Contudo, o drama eo si rnc!mo nio
tr.1Ção DJCional. Q::inrto, é1ll $Cgu:daà Abolição, a população
, ,noveu os bran<X1snero foi submeddo a concrole social diret0
nc-gr:i converteu-se nurru, popuhçfo alrnmcnte móvel ),fo;ros •'*•incHreto~ só serviu i:ara dcgradt..rainda mais u sua vítin:a ao
romponentes des;a !)Opulação, oais ou n,e.7os ajc.:stadcs à vida , .. nsl'.DSO gct:11. Qubto, o negro e o mularo não dispunham de
na cicfodc, dc;locaram-se pam o Ínt<:rior tle São l'm,lo ou rt:fluí- técnicas sa<:iais qçe lhes famltasscm o comro1e eficiente de sei:s
r:im para outras regiões do país ( o Nor<lesre e o None prind- ,hlernss e a s,~per.1çãorápida dessa ía,c de vi6 social anôuiica.
palroente .. de onCe ptoretliruTIj. Ao mcs.mo ternpo~ levas suces- Pt'.,rst.:a\:~✓.-, ns. <l.e[D.'.)Ís
úU1Pdas <la comuuiJ.adenão rtvclatat11
si,as de negros e mulatos aninhannHc romo podiam nos po- r nhuma f.s;)écic cle piedade ou de solid:!rk:d.lded::i:ite do d.amn
rões e nos cortiçcs éa c,ipira1. Nn conju:,ro, ns perdas foram 1ra1erfol<: mor.11ào neg.m, enquanto á flfÓp:fa romu..T'lic'.adecomo
ar1pfarnente co□?,;,:nsada:s pelos gannos, 1n2S ootn nítida cotKOl· wn ,oc:I<> n,16 podia fo,.cr.já crie 1120t:!.ispu:ihade uma rede de •
uação de peswas rústi= e:wu ambiente ·<f"!:·aigia cerrns quali- , rviços sociais suficier.tcrne11t.econiplexos para r<"i>olvr.rpro-
dade! iorelecn,ai.< e morais, rei;ue.rú!aspelo tr.únilho :?Smlariado hlem:1$huniar.os cão gr,avcs. A miséria associco-se à anomfo so-
e pela coJ11petíçí:-<>C\.--otlÔni.'e>t. De per si dc,saju;tada, essa ;mpu· e ,1 formando ema c-adeia de feno uue ptdl.cfu o negro, roleti-
lação tinha de viver de ti,.-pe<lrentes,i:'.esilárfos insu6dentcs e ' J~eote, a w11destino in<,:,r.onível.~\. d2gr.1<laçi'íomareri:il cor-
.ipinhada em ~lojeroentos ( que ou!l'll roíss não eram os porües r -<.pondi.e a Cesmorali1,aç:Eo: o ne~ro cnuegava--sea esse destin?>
e corriçr.s em que habitavam) CJUenão compo:tavam os mora- ih pro'.um.la Íl,isttaçfo e insuperá,;d apaoo. ½_gose difnnc!iu_ -/:
dores. O {micg..c_l;:JnogQ_ tkssa pcpubJ:o que contava com ecl· , huplan:ou um estado ck csp(rito ccrroti•a. segundo o qual "o
,: ·p,ro035.ceupara sofr-erº, HVidrdeuegro é a::,'9JU mcsreo!', unio
prego a..ssnariado m3is ou menos cert<> cr• a mulbcr, que podia
tf.mta ~ nadnn etc. O únko ponto cm que o negro nã-0
éedicar-seoos servisx,s domfstioos. Tie modo que ela se rorno11, ,l,a. rckcíCfl~va-scco.m a 1d1oosa peunanência na cid,Kle. Co-
rapidamente, o <:$lc:cJdos agrup:ime111.os domésticos, já qoc deh , 1 e -fc~e r.m pá.ri..\ tla era UlO<kna, aç{-.i::ava
passiva -e confut-
pro,·inha o sust01to parcial ou coral da casa, a roopa e a comida ,d;une,te o peso &1 ,ksgraça e os tli,is incetlOS q•.!Co futuro
do cITFião ou do amésio e :1.réo d:nbeiro com qoe estes cnfren-
tàvam a; peqnenas <'.espcsas. O ócio do homem, que de inicio r rcsc-rvas!.e .
.:za vm pl'oduto d1t ,,;,,llÍJ.'g,<",:-ú ~ rnn pro:e.sio ,J~no, tr:msÍOt· Na tcra~ir• ,m,,.1êlaçiln.dt\'~-=• consi,knr as c,us:is e os
m<.)u-se berc dcprcssa1 crr1propcrçê~ consit!erãveis., em uma for- <"hCK õos 0~1ovimt."tllos scdtü:, que ~e constituíram no rncio
::ia cavil.o;a e ~.odoplftiêl <le esnlore.ção de: um ~et humano por f k• ~ <leSão Paulo. )-enl-.llln ll/\f'=Jlacb}oun:l:!Opoderia supor•
ou:ro. Além disso, tres qu,trt'1s f",lt= b. popobçoo n,::gr• e ar, de modo t0tal:m:!lte ioc:te, \?rr-..asill1<\Ç:ÍC!co:no n popula;w
mesli,:i dn cidade rubmerp·,un mm,a doloros.1.ern de misc:tfa I'' e mulam e.'lfn:tllou Mquel.a cid:,de. :\05 po:xos. foram-se
roletw.1, de <'cgradação mor,;! e de vi& social c\e.sorganiz3<1,1. O 1.. ,rncloe cn,.n& íorçn :ilgumas tíoit\:ss t=tal:Í\'as d~ crírica
r.o
alxuiJor.() menor. do úo.enrc ou do ve!ho. ,1 "míic solteira~ ,1,,1u10tlcfes:1. Entre 1925 e 1930. essas ttntalivas tomars>m
o âlêiÍolismo, a ,•adi:igem;a prostb*-ão, a cÔllinalidiid<=ocasio- ,, I "' e prod.uri,:nmse\is-primdros frutos maclu_-c>s, c>.-pressos
offl-ou si:::tcrr.-ática
tCponranamoomo dimensões ~rmais de cm 11, imprensa negra, empenhada em diíu!ld:r fot11HIS de auto•
drnl!',a hun-..ano sem µ.--ece<leotcs na hist6rfa social do Brasil. '" u'uda da sit1Utçãornc.i,tl busi.leiro e do "ab:w.don<l do nc•
~e;s,e; c:ondiçfK.-s,o negro não tinha clcmemo; pgn1 olth·or ilu- 1· 1.1mbémem organéz,.ções clispost:IS a kvtt o "prote<~ú
sões !\&li-eo presente ciu sob;-e o fr.:turo. li ainda acur!rnlava 111, 1~,r.1" "º tcrter•o prático. Pela. pri:neira vez na h1,-
pontos neg,civo., pois o branco paccbia e e,cplic:1vactnocentri- ' , d •'" ddod.c, ::~;,.rose mufotos toliga,•am-separa defon-
cnmente os :ispeccos dasa s:n1a;ão<lc que toc:t.1v;.1 conhêêimenco. lrr ·,ses ca,nônkos> stX"icis e tulturâs da •'raça", ~s-
111 de solida.<ie~e e de attução social organizada que
2través de a:nas de:?rimentes, ou rio notidnio dos jcm:ais, impu-
91
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re<lll!ldasscmem beneficio ,fa recducação do negro, na ele,.,,9iio 11, ,11c". Por voltá do E~1ad.oNovo. os movimenms foram pros-
_progressiYa de sua participação oo nível de renda, no esólo de " iw, legalmtntc, sendo íecbil<laa Frente Negra Drasileii:a, a
vl<lae Das ativi<ladc,; polítiras da colctividadc e, pot ronseg-'1ll.>te, p1lncipal orgruúu,ção ,lparec-ida nesize período. Eshoç:uum-se,
ele sua c-.ipacid3dccm converrer-se ~'01 cidtu/Ja, ~n<lo os mo- , um a ei..,inç'ão do Lslado Nov~ 1945 e l 948, algubláS
delos impostos pela sociedac.leindusi,•a. : No ema.nto, os movi- 11ncativas de reurgani2aç-:ioJaqudes movimentos. Mos, to&is
mentos sm:iaL<só consegwr.1.m atrair pcqucM; pgrcdas da popu- da~ falh:mtm rcdoudame:1te, pois o; negros e mnlams em asccn•
lação negra e m11Jarnda capital. ;\.fougrado seu alcance constru- ~..o scx:ialpassata!Il a &tr p1'efe1·énc-ia" nm,i estratégia c-strcita-
tivc.-, o m~forrnismo, a apatia e a ~Jlendêocfa em relação aos m~ntc c_goí.sta e .imli,idu,11.istade "solução do problema do ne-
bran~-os,b!Qquearomesse caminho rk: ruirm:içâo sutôroma. Em 11ro". No ft_,ndo, a inexist~nC'Ía<le nieô'lnismosde solicbtie,faJe
bora chcga.,sem a abr~.nger paredas de n,ilir,,ntes encarad"" rnmo r:tcial prh·ou o mcio negro <la lesld;lde e da mlahoraç;io altruí;-
alarmantes pelos bl\1oéos, os movimentos niío serviram senão uca d:is rafo, eli:es que safouu de sem qunclms lmmanus. Num
para crltlr um 1u~1-co hlstórico e tcl'.!-{'.finira$ atirudesou os col'T}o l'htto ma.:s geral, porém, isso si~niíicn qae a contribuição que os
porramcnt.os <le negros e mulatos. ~,11asc,um<lo a i,foolo"í:i oFOVÍnu:nm~ ~oc:iaispoderia.tndar à rooderni7ação do ;sistema tra-
rocial dominante, eles elaboraram uma contm-ideologfa racial c.l.cion,l de rdações r-.iciaisficou comprometida e neutralizada.
qt.-c auml!entou:1 área de pcrccpçíio e de coo.ciência da rc.';l].idadc A :1cbptaçâodaquele sistem,1à simJçoohist6cico,,social imper:1.11te
racial brasileira por pc.irtc do nq;to. Doutro lado, IKX:ntuando ll'.\ dda&: depende, agora, se não surgirem altcra~'Õcs,à.os efeitos

certas rendências igualitárias fundan1eo1.1is,levaram o nc-gro a krnos e indiretos da absorção ~radual do n~'TO e do mulato à
ctnpunhar s bandeira da ckmcx:racia r&cial, exigi.ndo p.ira si con- nrdcm soci2l vigente.
dições equitativas <lc oarticipaclio do nivel ce renck do <.-stilo Ka qoorta constelação, devemos nmsidctar como a expan-
de vida e das pretroi,,;itíV'JS sociaif das ourras camada; da cc,mu- SdO da ordem social <:ompe1itiva rqicrcutiu, a curto termo, na
nidacle. Como as rei,.;,,dic,,ções eclodiam de forma pecífica, elíls waduaçio das orortu.nêdndes e,.-ocômicas conferidas aos negros
não genuioaram disposições de s~regaçiio racial e não alimen- ,. mulatos. No período imediatamente po;ierior à Aboliçi'ío, ,as
taram tensões ou conflitos de c;i;-átet i:acial. Nesse sentido, eles c•11ortuoidadesforam monopolizacbs pelos brancos das antigs.s
foram socialmente construtivos. difondindo novas imagens do ne- , unod.~s <lomioantes e pelos !mÍgrantcs. Um le..-antamen.roesta•
gro, rec,itihra,x!o sua maneira de resolver seus problemas e t~- 1•lko, ,ealuado .ca ci.d,wede 18?}, indka de n1odo bem chlro
t311doabsorver as J6cnicas sociais e a1>ro,•eitar-as oportuníd,,cks , tendência. Assim, sobte 170 capitalistas, 1.37 er11m nacio-
cconô:nk:,; de qce de.sfrutavam os brancos. Responderam lite- ,. t[, (80,5%} e 33 esn·,mgeiros(19,496). Sobre 740 proprie-
ralmenteIls_exigências ,fa ordem sod?l competitiva, afirmanclo-se 1 11,os, 509 eram nacionais ( 69%) e 231 estrangeiros ( 3l % J.
como o ú1ucoprocesso pelo qual ,a populnçJío negra da capital 1 111 certas proiis~ões conspkUJts, l!'adicionalmente t.'Oottolat!as
tc-ntou ajustar-se, coletvamcnte, "'• eiágêncizs histórico-sociais do 1 •l 1s clit~ locais, o estrangeiro só aparece espotadlcamcnte. Isso
presente. Kiio obstante, tais movimentos, com os objetivos que , , mexia, por exemplo, com a magistratura e a advocacia. Mas,
de:; ~limavam, não repcrcutira.m w:nst:tulivameate entt:c os 11 oul r(IS profis~õe:;, mais ligad.ls ao progresso técnico, os es-
brancos. Estes se mantiveram indiferentes diante deles, ~rguell- 1 ,11,;eirosrepontam cm propor,;-ões signific;itivas. É o que se
do um r.mro de indiferença e ele incompreensão, que anulou sua 1 ,,lc onferir, por exemplo, de profissões cotuo a de engenheiros

l'TÍc:1kia
práüe-J,ilupedíndoque eles toilttib~setn, d., fato para 1 1J7 nacionais~arn 105 crua.ngciros),de argui,emra ( 23 na,
ajustar o sist= d~ rcfuções rnciitis à ordem social compctióva. , .,,,.is para 34 estrangciros), de agrimensores (!O nacionais para
Além disso, os clrcuk>s m,,i.5 influentee, írnbuídos de atitudes e 11 , 11r11ngciros), de profossores (274 nacionais paro 129 cstran•
avaliaççes ttadkionalistas, reinterpretaram os movimentos sociais "" ) etc. Entre o chruru!do "pessoal da.s i ndústri:ü", o üni-
surgidos no meio nc:gto como u1:::1"perigo'"'e c.-omo1:m'll'•a,r:ea- "'' •parece praticruncnrc corno o agente privilegiado. Excep-
ça" (como:!(; de,; "incrod1u.i.ssemo problema racial no pilís''). 1 , "1, e as OC1lpaçõcsag1ícolas, nas quais o elemento nacional
~lp.uns <lefcnéiam o pomo de vista d,: que. se "a n~nilll'1<lt1 1 ""'º~"ª(pois entrava com 1673, ou 68%, contrn 783 ~
ficasse à v,mtacle", depois "ninguém co:iseguiria ,0111er essa "", ou 32% ), lla5 demais áreas urbanização equivalia, de
âos Hômess ~ }if.uU,~t.•~d,: 10 A.r.os e M!li!~
Distrib11iç2D
faro, a euro;)ei7.açiío. Eis os cr..:mi:lc, mais rck'i:mtcs: serviços Seg;mdo a Posifão Qn A:i:,umts Dro~fl,eJ· - Alu.-,.idpio de
doinés1.kos, .5878 nacionais i41,6%} ;iara 8226 c,~ttangeiros São Pa;ilo íCmso de 194())
(58,J9ó ); a:ividades monnfomreíras, 774 nacionais (21 % ) pa-
Pos;rão::.; O,up,.~?.:i br::nco; Pre:os Pardos ,,.,,,,.,.,;,~
Tct&i;
ra 2 893 ~trangeiros ( 79 % J; m,l,albos de artesãos e an:(ficcs,
1 481 n~.;:íonais ( 14,4%) para 8 760 estrangeiros {85,5% ); ati- 1'.mf!·eg,.dor 15261 51 72 3~2 15726
v.itfades de transportes e conei---os,
1 998 Mciona:s ( 18,9 S'í>) para 97,04% 0,}2% 0,45% 2~17% lllv\'6
.2317 35235)
8527 esmm11elros {81%); ~rivid"dcs comcrcíoi,;, 2680 m,cio•
õoais (28,3% i para 6 776 em:a.ogi,iros{71,6% ). Ten<lo-seem '""Jl'~"° jl399i
91,959?
1.5114
4,28%
10925
3,109!, 0,65% 100%
vi.;ta tais atividades, em m~xlia 71,2% das ocupações es1avam A 1t.ôru.>mu 74448 2051 1595 1577 796i\
soh controle dos estrangeiros. Ú>mo, por outras informa~ões 93,44% 2,57% 2% 1,98% 100%
c,·p:us:is, fica•sc sah<:nclo(!OC era mínima n p-4rtidpação do negro Membro<!aFs.:nllis .; 64-1 S,J 5& 565 5 345
ocssc quadro ocupacioml, c~pccialmcncc nos trabalhos qualiíirn- 86,689'> 1,50% J,04% J0,57% 100%
clos e s~m:qualifict1úos, rero-se po1· aí urna p:st.i indireta muito
significativa. O <leseovolvimenro económico pom:dor da cidade l\1sir-[r>Jgnnntcb 4 J9J 3'6 }25 44 .5118
85JI.>% 6,%% 6,.3596 0,86% 1009&
corrigiu c:::saritua~ío, m~ts de maneirn quase insignific.ante. De J'.;r!:·cipsç~on:J
faro, só posteriormente a 19.35. com a inr--:nsifü:açãodas mignt- flop;i/Jiçii() 1.203111 63546 4.5U6 14 074 1 326 621 •
çfx:s internas, a "fome <le bra-os" a1;1r.cntou accntuada:nei:re as 90:n9é 4,79% 3,409& J,06% 1009b
oportunidades ocupacionttis da população negra e mulata. A
modificação foi, entretar.to, mais qu11I1tii:ariva q"e qualitativa.
Um maior número de pessoas dequeh população passou a cer t\iio obst1tnte o caráter pcssimis"tadas conch1sõesque taís dados
a1gwnn facilidade na obtenção de fontes estáveis de ganho, em- possibilirnm, em conjunto, as altcr,,çóes deoorrentes são de g.an-
bora tal coisa contillue a dai-se, prL'(\ominamemente,na esfera Jc signilicnçíío. A aquisição t!e fontes estáveis de ganho, não
dos serviços menos qualificados e mal pagos. Um levantamento importa em que condição, ofotcceu ao negro e ao mulato meios
qi:e fuemos em 1951 revcla que o negro está encontrando, em de integração da e<:trurura ocupaáonal e, em conseqüência, uma
nossos dias, o ponto de partida que pod~>riadesfrutar no período ,hu:1çiíofavom\'el à absorção gradativa das técnicas sociais an.re-
da desagregação do regi.roeservil, se ooo esbarrnssc n:1 competi- rionneme mo11opoliza~s pdo branco. Doutro fado, conquisra-
ção do imigraote. , Ka amostra estudada,escolhida ao acaso entre ra1u simultanearoente -cm patamar para a classificação ocupacio-
homens e mulhues, descobrimos que 29% dos negros e mulatos ~l e a competição com o branco, que .1bre alj!UDscana.is de
distribuíam-se por ocupações artc,;anai,; e 21 % empregavam-se inobilldade social v<:rrieül à população tu:gra e n:estiça. ).1ão só
em serviços doro.éscicos. QUJ1nto a outras atividades, a~ seguin- os negros e os mulatos podem "pertencer ao sistema"; também
tes indicações podem dar uma dara idéia da situaçiio: em servi- já podem "lutar p-arasubir", ou seja, pata "mclho-rar a posição no
ços públicos, coroo bedéis, servi:,n.tc:se: escr:itnri"uios, predM1i- ~•s1cm:1".Por ralas e débeis que sejam, as ''c:litcs de cor" ou as
nante01ente, 9%; na indiísttia, boa p:i:-te como eocarregados ele "dasses méd1as de oor" aparecem como uma realidade nova, e
sei:viços bnuos ou s~miqt!!llificados, 8%; cm serviços de escri- 1r1ao chances de auroemar contürunreente, mantidas as atuais
tótios, pouco; como datilógrafos, corresponck-:ites ou cont;ido- , mclições s6cio-econôm;Ols.
r.~ .. 7'1b;no comércio, e apenas alguns como balconistas ou che- As quMro constelaçõc:s de futores atuam n., mesma ~
fes <le seção. 4% etc. Em ,sorna. o quadro se alterou, mas muito , produzem efeitos só.::io'ilinSmicos da mesma r,ature.<a. Eles
pouco. O negro ainda se acha numn posíçlio muito desvantajosa " ,1rtlêln a desigualdade racial em níveis e ,;cgunc!o um padrão
na pi.riunideocu_p:l(:Íonale (1Qss1.n fracas possibilidadesde corrigir " li> cultural estranho à ordem social compeiitiva e a lllll3 socie-
essa siruaçiíono futuro próximo. i\lLís, a esse respeito os &idos 1 l multi-radal democrática. C-0mo se o p.,ssa<lo se reprodu-
<lo censo de 1940 também deveriam ser k"VEdo,cm conta. Reu-
nindo-se só ns indicações mai.s signifiaitivas, poderíamos elabo-
rai· <:>seguir.te quadro: 1• Induuidc-s,, 394 indivícluôSd, cor t1fo cL-cl0rnd•.

9.:/ 95
zissc cootinuan1cnte no pres<:nrc, a concentração racial da renda,
do prestígio social e Jo poder engendm um arcabouço social que 110din,1mjcasemocêntrkas. E elas não desaparecernru. Conti-
nada ( ou muito pouco) ostenta de competitivo, de igualitário 111.1mfortes e atuantes graças ao a:cabouço social que presetva
e de democrático em suas linhas raciais. Os brnncos desfrutam 111110
conccotr3Çiloracial <la renda, do prestigio social e do po(!.::r
de wna hcgemoni!l completa e total, como se a ordem social 111a1stéprcsentativo de uma "=icdace c!ect!Slas", que de u□a
vigente fosv:, literalmente, uma combinaçãohíbrida do regime "">Cicdadede classes".
de ca.stas e do regime de classe. No que diz respeito à inlegra- Para 05 fins desta expoiição, bastarill considerar al~'UDS as-
ção cio brrute0 ao sistema e.e rclcções sociais, s6 o último regime 1•'l lOS cruda:s dessa complexa situação. O preconcciw e n <l:s-
possui vigência plena. Quando se troca do negro ou do mulato, , •iUlinação surgiram. na SQcie<ladebr:is:leira como uma comin-
J>Ortm, os dois regimes se combinam de form:is variá,•eis, sempre 1:ctlCiainclurá,•cl da escraviéão. Os mores ca16licos pr0<;1cte\;aro
fazendo com que infllkncias arcaicas operem livremente, revilali- ,1 t-scravidiio do homem pelo bo:ne:n. Além disso, llDFUDham ao
.anJo de mooo extenso e profundo uma ordem racial que já ,.-,mor, como obrigação fund,IID!!ntnl, o dever Je levar S'.::afé e a
deveria ser um~ relíquia histórica. •,alvaçãoao <escravo, o que os igualari:1 perante Deus. Para e,.-a-
,fü-se de tais obrigações ou tor:iá-hs inócuas, apelou-se par:1 um
1,rocessoaberrante de racion..1!ilC'1çiio sócio-cultural, que conv<:rteu
Precomeito e Discrimin(Jfão!JasRelt;çõesRaciais 11própria escravidão nui.:;,, relação aparemen:ente piedosa e roi-
·,•ricordiosa. O escravo seria um bruto, um ser entre as frontei-
Esse p:lDOde fuodo pode passar por um "fenômCD() natu- 1•s do paganis-rnoe da animalidade, cuja existência e SQbrevi-
ral". Ocorre, porém, que ele favorece a perpetuação e, sob cer- vcncia resultavam de uma respQllSahilidade assumida grnei:osa-
tos aspectos, a revit.tlização do padrão tradicionalista e assimé- meme pelo senhor. Por consei,>uinte, à condição de escnvo seri;i
woo<le.relaçõi;:sraciais. Esse padrão manteve-sepor assimdiz.er 11.~rente1,ma dcgtedação lotai, qce afetari,1por completo sua
intato até 1930, apivximlldamentc, ou seja, meio século após a 11li•Lrcza biológica e psicológica. Como criarnra "s.:b-humana",
Abolição! E, ainda hoie, não se poderia dizer que ele tenha ll~IR'CÍ:3 como "inferior" e "depeooente", i1Dpondo-se cor;elata-
cnttado em crise irreversível ou que esteja em vias de superação. 11 rn,., a condição social de senhor tr)mo um encargo material e
Ele se preserva parcialmente, mas cncontr:1 reforços contínuos 11 .,,,1. Tais mcionalizações, penosanrente requeridas pelos mores
na ex:1remad~g1:iaklade &i situação econôm:ca e do destino 11 li~i<JlóOS, eram duramente reforçadas .ior instituições tomadas
social dos dois estoques "raciais" em presença. A alternativa do 111 ,hreito romano, q,;e excldain o e.scm,,o da condição de pessoa
desaparecimento, final desse padrão de relação 1-acial só se con-
, ,1t1fcri:im ao senhor um poder qu:i;e ilimimdo. :\'essa cone-
ctetfaara historica.mente a partir do momento em que a popula- li " Je sentido, o preconceito co:itra o negro e o seu descendente
ção negra e mestiça da cidade consiga, em blooo, situações de rue•ll\<>( pois a condição de coi~a se tr-Jnsmitia pela mãe: pari/is
classe equivnlemes às que são des&utac!as pela popnlaçilo branca. r 11111t11 ,,emrem), configw·ava-se, socialmente, coroo u:na enti-
O que significa o mesmo que admitir que isso sucederá quando 1 1c mor...l. As marcas radais possofani, nesse contexto, um
a ordem social competitiva estiver despoj:1& &s inconsistências • 1 1 «·undário ou adjetivo, porg1.1e elas apenas serviam para
econômicas, sociais e c,-.ltumis que se objetivam em tomo das
1 1 , micnsivamenrc, con:o se fos:;ero um ferrete, os pom1dores
tendências de concemraçâo r:tcial da renda, cio prestígio social 1 " 11!i\uodegradante e infumame de escravo e, mais ti1rde, de
eco poder. Ili , ,,.,, No fundo, portanto, o preco:-iceito, que se t0rnava racfal
Em termos gerais, o busilis do "dilema mcial brasileiro" - 1••1 11111.1c.'Ontingência das or'.gcns biol6g.icasdos ~>scravos,p:een-
tal como ele pode ser caracterizado sociologicaroente, através de
uma situação hístórico-~ocial de contato como a que predomina
'l 1• "'"ª (unção recionalli:adora. Cabia-11:e lcgitimnr o que era
, , 1111..-nte ilegicimável. Graças a ele, o senhor poo:a lidar
na cidade de São Paulo - r~ide mais no desequilíbrio existente 111 ,l1nc111ecom os morer de SWJ culrura e ji:scifiear-se mor:1.l,-
entre a estratificação racial e a ordem sOCÍJIIvigente, que em ' , , 11 r.,ntc a sua consci~ncia re]:giosa e o consenso ge1'11L
influências et11ocênt.cicttSespecíficas e irredutí,eis., No entanto,
o padrão de telação racial tradicionalista continha influências só- 1\ ,1 «uninaç:ío, t>Orsua vcr, eme.rgia e ohjetiva.-a-se ;()(;ia[.
, i , mo requisito iustitucional da rel.lção scnhor-cscrnvo e
96
97
da ordem social cotrespon..Ieme. Gn:no o fondamen!o da dis- 1~111 q·i:11110 a dbcrinii:lação vinculam-se, funda-
, 1•1tc·e>rKciro.
tinção entre o se1l!>Ore o es.::ravoprocedia de sua coodi,.ão so;:i,al '" 111 Almc1ttc. com a estrutura e o fuocioi:~amentodt uma sccíe--
( e, port31lto,tfo sua pQSiçãorecíprcx:a),,1 discrill1ioaç;ío,~ el... 1 ,1 .lt 1 •~ a , na quru a Clltratiticatâoradal r~;.xmílfa,\Oli pri:i-
boJ:ou, primarian1tt1te, como um recurso p,L""lltlistand,u social- 1,, • ,l, 111IC)ir.1çiío
econônú:i!. e rocio-<ttltur2l dn organização
mente o,tcgoriru. raciais coexiSicntcs e como um meio J)llnl rint.t• ••I O,mo. menos ap,i-entc e dis.simubdn, é de mnho racfa!.
1:7.m·as rcla(:óe, ou o conv'vio =tte o senhor e o escm•;o. Pa- 11hinc, eram extl-s.ÍÔfl> dn estoque radaT hranc:oc 1 cm nc..'tt1e
b.\"!'as~gestos~ roupas, aloja.rncnto, allin~t:1ção, ocup-aç.ões, rectc- 11 interesses e vafo:-e5 soei.ai:;, excrcian1 urr...adominação
ç.'io, a~-ões, ;tspir:1ções, dircit0$ :, deveres, tudo a1iu no âmbito () mesmo acon:e:d2 com os e.s::ravo$, Si:!kdon.-idoono
d~-ssc p:occ~so, q\1e pt-ojetou • convi>·é::cfa e :1 coexisténd:i numa ,11 1 ,tini negro ou entre mestiços, sem interesses sociois
separação e::.:trema,i:ígida e iuo1ediávd &:: duas categorias s<>- t ,1110, e suí.:itos a wua éon:in.1çãosocial qcc eni, ,10 mesmo
ci:tls qce eram, ao mesmo tempo, do:s es:oq\les raciais. Além •1 • 111·1a r:1ciiu.
dornín,1,:-:ío
di~o, os escravos fotma\"Jm a m,1ssa da popolaçffo, uma maioria \ 1rotíftcs;çso ,ccb! press-:zpunha, pais, uma estratificação
pOtencilllmente perigosa. e, se pudesse exp:odir, incootrohh·el.
1 t 1'(:ult3va. Cor.ia um:1era inercn:e :1 o:itra, pode-se
Eram, assiro, pe«cliidos e represenllldosÇQIDO "i,nimigos da ,1 1·,i~tênciade um paralelismo foru:1,uuenlalcn.tre "cor"
ordem" públ:ca e privada. Par-;. mantê-los sob o jugo senhe>ri:tl , od:il". :\'o limite histórico ci,.;_remo,fomcédo pela
e na condição de escravo, ac-escenra,;a-se .t ";iolêndacomo n:eio
1 , 1al cscravocrat2 e senhorial, os princípios raciais como
notroal de repres;ão, de disci?lina e de controle. Nesse amplo 1 11 1m e dcsa;:,n~ciam por rr:ís dos prhc:p_ios soci:J.isde
contexto, oão só :is dimensões hUJll:lJiasdo escravo como "pes-
soa" foram ignoraéa,. Firmou-se o hábito inflexível de colocá-lo r Ja ordem soc::tl. Mas, a análise pode desf:m~r ess:i
II
t'Vidc:nciando as duas faccrss dá t'Qrrdaçio entte "e;.
, 11
e de mantê-loem s<?ulugar, de forçá-lo vio!entaou brandamente
, r , 1 . ,c1~i-• e uestrut-.;ro racial" da sociccbde. Dcmro lado,
à obediência e à passividade. Em su1na, diferenciaram-se do;s
, 1 , 11, .,, polarizações e;:se paralelismo dcix.1 de s~ tão comp:e,o
mundos sociais distintos e opostos, ena:e dois estoques roci:iis
que partilhavam de culturas diferentes e pOssuíam destinos $0- , , , "J" íicnm evidentes por si me~m,ts. A :mportincia ó
cfals antagônicos. Esses pontos precis•m ser retidos claramente, ' 1 , Ir $ão Paulo, como caso c.-ucial para e,,lldo do tem.3,
se ~e qi.1~,::rQlttndcr ~ ~Íll,l~çiio de contato raci:tl imperao,e no 1 ~m que ela permite 0:>5erva_r: as várias pohlri?.açõessu-
BI:2sil. ,._s fon~ de distinção e de sep:ir.1ç:i<I1;Jo erom p1·ima- .1 ,l,•:;scparalelismo, d~e a desagrej;>-.oofinal c!o anâgo
riamcnte raciais. Ma,, conveniam-sc cm Lal, n~ medida que " .r formaçífo da sociedade de classes.
atrás do se,:bor estava o "btanco" e, por trás cio ~scra,·o,ocuJ. 1'omlo-sc de bdo a ern ooescravidão, que nS:o nos interessa
1
ta\"a•SC o "nL-grõH ou ô uí:Yl!Stiço·. rr ,11~,.,11eawdiscuS3iío. tcrll03 diante de nó~ três prol:ikmlll
É importantls;imo o,.,,,cicnar esses fotos. De um bc.lo, • 1111 O primeiro, éi.z rcspci,o à f.ise de tra.,siçio, em qu::
porque eles c:srurecem as oriRens sociais remotas do preconcdto • h " 1r~dicioo:ilirn, e assimétrico de relação .rac:al subsiste
e da dscrlminac;ão r.1ciai; no Brasil. De outro, porque ele;, ddi- h u,111. O segundo, rderc-s-: ao que acontece quando :,
mitar.1 as funções soei.tis que o prccorrceito e a discriminação 1 tl i~1ldo ::cgro pro•·<1ea91.gtnr.~espécie d.e l'.tlPtlli-,a
no
r~ciais prec:nchiainoa sociedade brasileira do JJ"Ssado. Um, ser- ,! 1 11111 Cnlre ''o.,r·" e -'posição social•'. O
t~iro, rehdo--
via para kgiti:nar romportamen:os e instituições moralmc:nte «,cistênciaou não de probab:lidade; ele in-:orpoNçíío
' •111 •

proscritos. Outro, para reguiar o convh·io intel•racial, subce• , , 1 lt!o paralelismo ao r~in:e de classes sociús, o crue leduo-
tendo t<idasas suas manifestações, mesmo as mais íntimos, o Ulll 1 , 11 ,l .... orção ela desi.11ualdaderacial pela o.réem soch1l <Ol'O·
c6di&o étiro vetdadeirrunente intle:rivd na p~ação da dis- 1 th • r li cx1xmsão.
tância econômica, social e cultur~I existente entre o senhor e o 1 > I' unc·.ro problema pede ser ilusuado com o que ocottc-,i
escravo. Isso sugere que, ~ parcir de s-uas origens roais lon,,ntn· I' 11,h,<:n~re 1888, dsts da Abolição, e: 1930, aproxirna·
quas, o prccoocdto e a dis<:rimírutçâ<>possuem duas facetas. N •~ cnnclições apontadas <1cima, de exdasão quase
Uma, cvicknte, é estrurural e dinamk:nmeotc social. O senhor , 1 1th ct-onômica ativ~, de desorglloização social e ele:
e o escravo relacionam-se e opõem-se como categorias sociais. 1 1 1111lt~:io negra e mestiça pratic:micnte peonaneccu

98 99
nllt:l r/dns equivakme ao ,fo .!íkrto "" ord::m social es<.-ravo- I' 1u.1lnt<Slume,na esfo-m das refações raciais - put mais que
çtai:a e senhorial. O padrii'.o l.í~diciollali.sta e assimétrico de te• 11opalc o contrário - e!e acarreca a sobrevivência tácita do
la,-ão r~ial foi. mio;ferido êlfl sua q=e t<iuilidade para a nova 1•,ral<•li,no eucre ºcor" e '·poskão social".
situaçoo hi:.,órico-social, como se a a1:cração do estaruto jurídko O segundo probltma merect ma:or atcr.,(,'.io. Em dnd3,
do n::groe do mulato n:ío ~é rctletlssc cm MIAS
r11errogativasso- , u.im1t~11cias, o .õ.~íú é o mulato podiam saí= c!n pr6pria pele
e-ia.is. Por sua vez, eles se acomodavam passivamente às atitudes M 1ink1n social escravocrata e senhorial Tocuvia, ~oh a cooêi-
e aos comportamentos precooccit1:osos 011 descriminaüvos do . "• .Íc que se .incorporassem ao núdc-<,legal da família hr.anca
branco, cl1eg2nco,., at.::, ~, ~e ccsonc,ntsrç:n
•· quru,do. este ttgtsst ,Ir prnl ou que fossem aceitos co:no seus prcpostos, opanig-.iados_.
de forma rlivêrsa (digamos: "igualitária'' ou "democrática"). Ao 1••ntci;Jdos ete. Nesse C'l!SO,o indivíduo cruco que perdia, ;,ar-
mesmo tempo, os branco.s,?ríncipalrm:::ite das camadas altas ou 111,nente,sua identidade racial, e coma quc adquiria, também
em asce:isão social, toleravam muito mal outro tipo de reação 1 11co,1lmcme, a idelltidacle social da familia a que pa.o;savaa
p<_1rparte do negro e do mulato. Revelavam notável in<:ompre- 1,vr1 sua lealdade. ::Xãose pode afirmar, como pensam muitos,
cnciio e ext:rei.-c.,iatta.nsigência diante daqueles que "saíssem da ,, ,rrnelhanre altema1iva aca.rretasse tuna corrc~'So completa e
!uma", pretendendo tmt:i.r os brancos como se "fossem gente de l 11n11 i,,:, da "cor" peh "posição social". .A,,,Jq,e patece, alar-
s;:,alaia". Portanto, r.ão era só o pad~o tradicionalista de rehição " , · -, algumas vezes con.s~dcravclmente,o âmbito de aceitação
rac:nl que se mantinha cm vigor. Toda a estrutura social que o ,1, n1açiio social da "1>~ssoade cor" no meio branco. Contudo,
supor..a,a, a ideolo 6ia racial q"e lhe dava sentido e as foo~ 1 11 , muitos efo.itos, o indivíduo precisa.-a saber guardai: as a.;,a-
sociais que de pre.!ndüa prcservavaro--se com plena vitalidade no ' " ·"· mantendc>-se "em seu lugar'' quando fosse !lecessário e
plano das acomodaçõesracfais. 1, , m,oh•eodouoa verdadeira política de seduçiio sÚitemática
Esses fatos são éeverns sig;Jificativos do ponco de vista 1, ânimos daqueles bra:-:cos diante dos quais devill mmsigir
sociológico. Eles icd:crun duas coisas essenciais. Primeiro, que trunndrcionalmente. Aí se equaciona -.;m tipo c:eascensão social,
as inovações q1'e afetam o padriiQ de integração da ordem social 1• ~e poderia ch:unar de infiltração social prop~iamente dita.
nem por isso repe.rcute:n, de modo direto, imediato e profundo, \11,,ves dele, abria-se uma vál·,-da de rnobiljsl,ide vcr,ical qu-:,
na orcenação das relações raciais. Onde ix:rsiste o mundo tradi• , , pr~miar o "mulato de talentq'' ou o "negro no.tável". p~odu-
cionalista brasileiro, é inevitável que sobi-cviva, mais ou .rnenocs 1, uma cont!m:a e inexorável ace!alização no...scio-da..!!l'(Y,luh,ção
forte, o psrsleüsmo entre "cor" e "posição social'',ainda que os ,1, "li". Tal mecaoisll!o, não obstante, além de abranger núme•
agentes humanos envolvidos neguem essa realidade. Segundo, o , • t<•duzi.dosde oersonalidadcs, em nada conrtíbufa para alterar
pccconceito e a discriminação raciais não emergem como subpro- , 11u.tÇão.racialÕu para moéi6car a imagem do negro feita pelo
àutos históricos da el.teração legal do status socfal do negro e do 1, 11, ,,. Os personagens, selecio11aéos;,or seus dotes singulares,
mulato. Ao comrário, a persistência de ,=!ios consútui um fe- 1 m m~nipula-dos como "a exceção" que confitma a regra. O
nômeno é.: det1oi-a cultural: atitudes, compomunentos e nlores 'I" <'lc, fizessem de excepcional, não bcr.didava a sua "raça";
do regime socisl anterior são cra,c.Sforidose mantidos, na <.-sfcra 1 1 1lt () como .1-
(~V
, 2. llC.LUC-i'.l:Cl3
<.[UC !,;:-raia·--"' • . -ou 3 •:~ . _t.•
--f)S!Cv,u!V"'
das relações taci11is,em situações hiscórioo-sodais em que eles
encram c,n choque aberto com os fu11ruimentoseconômicos, jurí-
1• h , ~ 50Cialdo brancc. Dizia-se. a rc-spcito deles:
' ~-º d::
t1l1 li l runcau,".cegro s6 por fora", "'é brantú };b! de:nuo,.,, "nem
dicos e rnornis da or<le:n soda! ,,ígente. :epreciso que se notc, 1 MC:Ct·rwgro" ele. Simulta.aeamente, se ~alhasscro dialltc de algu-
neste passo, que as manifestações dc pr.:conceico e de cliscrimina- " 1 rl<J1r(rntiva, fris.?:v-a-se: "logo ;,e vi:, negi-o q,:anc!o não suja na
ç5o raciais ned.1 têm que ver mm ameaças por ve.o:ura criadas ,ru,11, •ujn llfl saí<l:t", "não se µode esperar outta coisa de u:n
pcb concorrência ou pela cornpcúçíio do 1.1çgrocom o br.mco, 1 ru' , "é negro mesino" e-te. Ora, o apar~cimcnro c!e opo:-tu-
11cm com o agravamento real ou pntencial das tensões raciais. ,1 ..! r11:lvcis de eop:eg-0 e é<.:ganl1v, bem como de certas
Elas são expressões pmas e sim;,k-s àc mccani;mos que manti- ,1lb,l.,dcs de ascens.'fo social, abertas pcln ordere stY.:fofcom-
v-cram, litei:ahneme, o passado n<>presente, preservando a desi- i ( 1 ( MJ')ecialmeutellOS íi!thco:i; v!nte ano~), fi.T.c:am oom
i.ualdacle rsc:al ao esrilo da que ín:per-ava no regime de casus. 1 1 1 1rtc das chain,1,fas"ditc-s dc cot" ou "cbsses médias
Is,;o sígnilia1, naturalmente, que onde o tradicionalismo se per- 1 lnssifkasse socialinente sem o bafejo. ck, .?•ternalis-

ll'!J 101
mo do braoco e sob rdariva independência dessa foJma espfüia l,1.11<·0 acaba tendo de apc!ar, de modo mais ou mc:nos cl>erto,
de mobilidade social \'crtical. ,,.,tu atln,dcs ou comportamentos que se chcx:am mm s tr2dição
, Dfoote ~sse ";:or;,J r.e~ro", o branco vê-se numa posição , li dl'<:Oroe envolvcrn o apelo ao ctnoccntcismo como recurso de
C?ntusa e resi<b"1!mente•mbrvalcnre. O "nQVO negro" já é, en1 111ttldcs11- Segundo, a4ío oposto também se evidencia com niti-
H mesmo, ~i:n npo ~=no relativamemc com!)lic:ado: possui li , embora de forma aparcnttl!lrnrc menus extensa e intensa.
um,1 menta.Edade IDlUSsecn]ll!izada e orbani?~1da. não teme a 1 ) b,aocos de propei"lsâo rea1-n::rttc tolctallk e igu,,lithia pto-
Ji.-re cornpelição com o branco e, sobretudo pretende "vencer 1,1~m amparar esse "no,·o negro'', resg1.1aréando-o
dos efeitos
n,i vida" a codo o cus~o. Rompe o~ cordões ~ce.ciais ou morais 1 pre;são indireta e estim:tl.uxlo-oa p:o~eyuir e111suas ambr-
com seus "ambicmes de oriAem". ncgllJlclo-sc a conviver com os \1 •· Mau grado certo grau ,•ariável de a.mbival&1àa de atitt.,des
"negros
l
pobres", a i:espcitar t ~olidariedadc apreste
•• -.
que torna e unia consciência <ldcrUJada da realida<lc racial, tais brancos
o ' negro rioo" uma \'ttÍln2 :ndeíesa dos amigos ou parentes uem 1,. ,ulizam o farisa!smo <loprecooceito e da discriUtinaç1ío radúis
necessidade'º, e a manter um oível de ,,ida modesto. \lefo= o 1 ,unuladas, ao mesmo tempo que procutlllu, embora por vet.es
" negro d cs 1ei;s.1cco
. -' ,.·, que :;çr:a
. o L..ator d a eterna degnidaçiio.,..do
11 1•i~fotorialll<:nle, "dara mão ao negro que merece". Poz isso,
nei1ro pelo bt'80Co; e coUJh31e os movimentos i;ociais de cuoho , ,, , p:roduto realivo da emergêi;.cil do "novo negro" e pelo
racial, 81>Soalb.ando que o ."problema não é e,,sc" e que dcs podem 11,1,tl"tO de sua personnlkbde ou c!e seu su=so, alguns círculos
se_ tOJ:Jl.at contrf<procfoce::itcs. ~o tb,-pcrtar ilusões entre os pró- 1 r <1pufaç;iobranca também re envolvem de manei.r8 !llllis pro-
prios negros e ao f<>1ueotar11 animosidade do btan<:o. Absorv~ ,",,.!.,113 rnod--.rnizn9iodos padrões vigences de refações raciais.
e cx•g,x.1 a meutalidade do branco, gue roma coroo modclo <le 1 1 eixo, o meio 111?!\TO propriain~te di10 niio rcn~e ,,niforn:c-
5113S t·ealiiaçõ~, ': ~ em prátka um pnr.itanismo .inif-nuo mas 111.: 11() ê;.-içodo "noyo n~ro", ,'\migos e paren,es d<>me:ir.m
duro, _qL-eo eltlm1rt" de qualquer crítica e o pu1;ficaria de qual- 11fri social pooem ficgr entusinsm-.dos e oferecer uma ba,e en-,<>-
quer lontc: extrap<:<;so,.Jde cfogradação moral. Cultiva a ddica- 11111~1 e nlQnil,qne seJ:Vecomo uma espécie de caixa ele re=n~n-
clcza e a a!abilidãck, COl1lO técnica de suavização de soas atitude$ u " de fonte de estímulos ?is pes.<;oascm C!lDSA. )s)o enronto.
auto-afumuiv,is, mas também co11JOC.'Cpressão do seu modo de .n, ~mo no próprio nível social '-llrP;ein aprccis.çõe~mais ou menos
ser, de pensar e de 1™'.dira grandeza humano.. Por fim é intMn- 1111,·volas, que min-im!7..am 011 ridiccli!:rizama~ ptctcnsõc~ e as
sigente cllante dos lmmcos que pretendam congelá-lo, ~plic:ioclo- , ,limçõcs do herói. Nos demais círculos de sua.s relações no
.Jhes o padrão tnicicionaUsta de relação meia!, pois as wuênci:is 11lo negro, princip.ilmcntc abaixn do nfr::l soàal adquirido, a
ucs.sn esfer.i redundariam em perda dos proventos esperados - , •~.io dominanrc combina r=eotimcnto mm satisfuçãc,. O
a conqu:st3 c!o "lugar a que faça jus". Vis10 em conjunto ele , to ocaba lcvarulo à ,1Sttüsão soda! e 6ta converte-se (.-n, ruptllra.
se ar,1-esent11co1~0 o principal agente humano de moderoiz'açiio l\lr i'50 os antigo::; nmiROS e pa1·cnrei; ficam ansinsos; numa
1
das rel~ções raciais r,,1 cidade. Pois objetiva \1003 fornl<J ativ:1 e ranhnreação amorosa, oonclenam aqueles a quem amam. Fora
ron,;tante ck rqm\sa às manifestações readicionais do preco.occito u ,na d:is rcfoçõcs de caráter pessoal, poré,n, o ê:rito é cnfa-
e d., discrimi:i~çãorac:.:iis. d 11~) com entu.sinsmn. Prevalece a ide:ia de que, aquifo que
/11ravi8des~ ti;,o huíllllno, cvidenci:un-setrês dados essen- 111111~wo pode: fazer, outto também pode. Ilortna-se, sssiru,
chiis. J?rimciro, no momento cm que o negro rompe com os 11,1 folclore do negro cm <1SCcnsão, que !C::Vc de cstím•.tlo aos
est 7rcór, ros e com as conveniências dissimuladas, impondo-se 11, ,.,1,iram idêntkos objetivos. Os pró;:,rios heróis desse fol-
soaalmenle por seus méritos pessoais, põr sua riqt1e-.ea e por seu 1,1 , contudo, afu.stan= do "antigo ambiente". isolando-se do
pres~o, 51uchra-se inc.-ita_velrucnteuma das pol•r~aç,,cs que 1 · 1 mdo ôriginário e procu~ndo constrcit ~ laborios:irnente, o
pemt.tt-.a <li~f.,trçaro paralcl,sruo cnrre "cor" e "posição social". " , 1!rio do "negro direito", de "posição social~ e que "é gen-
Então, a; linhas de res-is:ênda à cor se mauifc5tarocom relativa " ' Esta reação, mais ou menos típica, di,·orCÍllo principal
dareza. O preconceito e a úiscriminnção raciais sobem ¼ too.a 1 1 • nto hwnano do meio negro das grandes "massas de cor",
sem máscar.1. ~ão só algumas da.s r<eStrições,que pareciam con- 111 1111J<>-0 a ignorar a importância vital c!e movimentos que
fus:une.')te associadas à posiç-Jo social precis:im ser postas a »u 1, 1 1 11·1 redundar na aceleração da democratizaçãod3S relações
em termos ck, cor. C-0mo, ainda em situacões competitivas o
' ,
.. , 1
102 103
O terceiro problema coloc:t-nos diante de um .,,,ip,ma. É
impossível prever o que irá acontec::r no futuro remoto, em ma-
•J11,,pri.1dos;as chrun;idas "elites de cor", porque das r.iio per-
téria de relações raciais. Parece provável que as tendências do-
ed ,c.•mou se percebem não acham vantajoso comprometerem-se
rnÍ!'lanteslevem, a longo termo, à .implantação de uma nucêntica d, ulle de semclh;antes objetivos, que afetam mais o fururo dsl
democracia racial. De imedi,1to, porém; certos ocorrências repc- r ,,11unidadcque o prese.ote delas próprias. Por coneeguinte, a
,1c•mocraci.'lr-.icial fie9 entregue ao s:cu dcsrino, se:n ter ounpeõc:;
údas fazem cemcr pe!o desfecho dessas tendências. Pelo que
,111e n defendam como UJD ,,alor absolmo. Se a foroução e o
vimos, o fator verdadeiramente profundo, que produziu :ugumas ,1 •,·n,·oh·imcnto espontioeo das classes sociais eorec!arema de-
zlterações sigoifiaitív,1s no contexto histórico-social das relações
1aciais, v= a ser o clesenvolvimemo SÓCÍ<>,econômico espont.â- 1r.11:1ldaderacial na desigualdade incrente à or&:m :.oc!al c~m•
r , 1i1ivn, então ela estará fatalmente condenada. Contmuara a
neo. Ora, ele foi evidena:meutc insuficieme, até hoje, P3ra pro- r um belo mito, como se dá na atualic'.ade.
mover o reajustamento da ordem racial herdada do fY,issadoaos
requisitos da sociedade de classes. A tal ponto isso é verdadeiro, As considerações n·postas ap:uihrun apenas algollS aspectos
que em muitos círculos sociais e, simultaneamente, nos diversos ,l 1· mnnifostaçõc:,e dos efeitos do preconceit0 e da discrimina•
g.:..'JX)sétnicos ou nacionais que o compõem, existe nítida pro- \ , , nns rela~'Õcsucia:s. Mas, esses aspectos são sufiC!en_Les para
~t 1 ,r o que pretendíilJllos: como e porque a ordem social corn-
pensão a dar 2colh:da e a por cm prática velhos procedimentos
preconceituosos e discriminativos. Há quem te:,ha medo de per- 1-r111 va não a~sorveo e eliminou, rápida e de~t:iv.ctmente, o
der prestíg:o social "aceitando o negro"; há também os que só 1•1<ir,o de rei.ação racial herdado do passado senhott~ e da escra-
aceitam o negro na órbita elo convencional, afastando-se deles d.1e1.É que, os homens e as soci~des <p.:eeles lormam ~1
~a área da verdadeira amv.ade e da comunhão afetiv~; há, por 111r,rese modernizam por imciro. As vezes, elementos e ta~o-
fm,, os que oustcnum a todo custo certas representações arcai- fl a .1rcütos oontinu.am a existir- e ;:, ore..rar além de su~t er2 hi~•
cas, repudiando qualquer possibilidade de incluir-se o negro em 1 rir,. exercendo influências negativas na evolução da personali-
posições que envolvam o ci,.--ercício de liderança e de dotninaçiio. ,l~rl.-. da cultura e da própria sociedade. Esse par«e ser o caso
Deiioanàe>,sede lado a questão do intcrcasamcnto, guc esbarr~ ,1 s.,oPaulo embora ela seja a cidade mai!i moderna e c!csen-
com resistências e avaliações (Jll!lse incontornáveis na prescme \ ,,J,<1Jacio B;asil >Ja esfera das rclações radais, ela :11,da está
h11 110 comprometida com o passado, indecisamente imersa num
conjtcltura, dados corno esses sugerem o tipo de risco que sobe
à tona. A conreatração racial dn renda, do prest(gio social e 1,, todo de transição que se prolonga indefinidamente, como se
do poder, as tendências muito débeis de correção dosefeitos , 1rf!rosdevessem aguardar, p<1r3 se igualarem oos brancos, o
negativos que ela provoca inexoravelmente e as propensões emo- d, •nto espontâneo de uma Segmu!a Abolição*.
ciniricai; e dé3Crimínativas,poderão facilitar a absorção ~radual
do paralelismo entre "cor" e "posição social" pelo regime de:
t±isses. Parece ind:ibitável que essa ameaça existe. O pior é CONCLUSÕES
qi:e efa constirui uma realidac!e qi:e só pode ser combatida de
furroa consciente e organizada. E n:io parece que, mantidas as < >, resulrnclos da presente análise são óbvios. Eles 100;-
coadições atuais. t:11tipo de re,iç,in socie~rfo enc:ontre viabili- 1, 1111no,. de lado. que existe nm dil_em..-,
llOl rt1r.".dlm:ú/J>iro~
~de histórica. Para os segmentos brancos da sociedade, o que " , Ir-possui om caráter csttorural. P~ra ~e_?tá-lo e corrig1-
importa, viralmefüê;""não+o-destino- da democracia racial, mas \ " Jrtta preciso mudar a estrutura da disttibwçao ela renda, do
a "tõniinmclãôe e""õnuno de expãilsãôcbOrãem soci:11con1peti- t•r titio ~ocial e do poder, estabelecendo-se um mínimo de
1iva. .Mesmo o problema d.1democracia ao nfvel politico não se 11Ih Lh1r- cco1,on1.:.ca,
• · soo·ai e cu.ru.r.
1 al entre "b rant:os " .e
· '' , " negr<;_s.
coloca como um dilema para ess~ círculos humanos. Os seg- '" dato,'. Também revelam, de outro L,do, que a emergc:nc1a
meotos negros e mulatos da sociedade, por sua vez, o.ão possuem 1 ,k r1,olvimento de uma ordem soci:t! competitiva niío cons-
ek,mentos para desencadear e generalizar o estado de espírito
por uma defesa consciente, sistemática e organi7.ad3 da deme>,
crada racial. Os !Cus se!C'respobres. ;:,or ?.bsoluta falta de meios ( • 1 I· Jlfe\!lio trolad.t de manifestações ele inteh.-ctuaisnt"J::t"P-Sr-.i-
l•lfi;wn•!~ it)(l -n1,,,·núst.1S.
104
105
titt:em, e:n si mtsruos, g,iraatia de urna democratização homo- ,., ( <'Uoutros dramas igu21.rocntc pangenie, e dignos da "ação
gêllC3 oorenda, <lo prestígio social e do poder. As oporrunida- 1,1r6ria"). De..cseilngulo, verifica-se não só que o negro deixou
cles que os dois processos hiscórico-scciais criam 5$0 nprovcitadas 11 tonrnr no processo histól'ico, t:<>mose fo~se lx,nido da vida
de fortl!<! desigual pelas <líwrsas Clltegorias sociais e rací,us em .. "d comum. De.cobre-se alRopior: a demccraci,1, que for.occc
prese:iç,i. A experiência his,ór:e< analisada comprova que as •<>,nesmo temoo o ~porte jurídico-politko da ordem social
categorias sociais melhor lccali,.sda; na estruturn economtca, so- ,,mpccitiva e sua
única fonru & con1role rnoml, deixou de
cial e de poder tendem a roonnpofüar as \"antaR""" reais e a 11,pirar exa:amente àqteeles qt:c "fazfa:n à história".
Cãpiraliur os provemos verdadeiramente compensadores da mu- Outro proble:na reJ:ere-se à mo<!cmizacão ( e, em particuhr,
da_oçawcial. Em CO'lseqiiênria,a democratiwção inerente aos 11N,uas repercussões no plano das acumoc:lacões raciais). :ê difí-
dois processos cootêrn duas face;. Uma d~las, ddxa patente que .11 4uc a no<le:nizaçíio p~sa ,,kançru: _proyorções eguführadas,
,IS i~indes massas t_êin acesso n cercos benefícios gerais, que ,µu.clmc-meextc,::sas e profur:da, cm todos os ní.v~is da vicl:t
,nefbw.am sua !)ar.ticiração ao nfoel médio de renda, de padrão , liJ orgaro:2-la. Ela arompanha o ?Oder relati\-o e a viralida-
de vida ou de \ISO <lo poder político. O!!ml, deixa patente que 1Ir J. ,s gmpos inleresSaldos em determinadas lllu<lanç-.Js
sócitx."1•
pequeno., p,n,pos se inserem mais 011 menos ptivilef!iadamente 1" .us e progride em fonçíio <b capaédadc •:ue eles logram de
nesse processo~ m~mtendo on alco:1çando níveis de !)artÍápação <onçrctiz:í.J:is hisloricunente. Po= isso, " cidade de São Paulo
ela renda, do padrão de v:da ou de uso cio poder polfricn que u.m;1rápi<l3 uan~:ormação de sua fisionomia url"lna e
( 011111(:CCU
ultrnpnssom as propofÇÕE$ r.iédi~~- Kess.e sentirlo 1 nas fases & ,t, <ua org.uú:ação econômica, cnqu.anto ficou variavclmcn~
formação e d-: expansão inicial dn ordem social competitiva sirr- I" s.t oo !?assado _em_0\1~•~ c,;fc:ras da:1 r5[ações_ ~um•n~s <>-; oo
gcm tci:-1focias muito fortes c!e •~rnvsmcnt.'l da;. desigualdades 1, ,. ,voh,~mento 10rntuc10n.1l. As rcl.tÇOe3rn,t8JS se mdlll«un
sociais e poHêcas, cm termos d~ clas.re, de rdça
c..,.;onômica.'ii, 11,le élt.imo seto=, >1[)rcsent:ado um índice de estagnação sur-
ou de região. A pcnistêncb ou a climin:içíio gradual dessas dc- 11 ·t-ndcnte e ;>e.rigo;o. Para qu, semclh,1nce situação se altere,
sig-.rJdadt-s passam a depender elo modo pelo qual as dem,ús prtciso que orocra. com das. o tm:,m:o que Htceccu cm face de
catei,,orías sociais rc-agcm, colctivarncnte, às de!ormaçilcs que ,111us esfor,is da vJd11 ~ocial que se modernizaram tapi6.mente:
assim se: introduzcrn no padrão de intcgrnÇ<'io,ele funcionamemo , 1:rupos b~'lllaJlOSdireramc:ntc afetados ( ou interessados) de-
e de evolução da ordem social coa:pcticiva. ' ttl rooiar ccmsciênda :,ocial dessa situação e rentar mL'd.ificá-la
Esses a!<P,."'<'tOs.da realidade sugerem, queiramos ou não, Lllll 1, fmma org,wb..«:la. Tssos:gnifica,em outras pala\'l".i:;. que é
quadro =ealmc"!!tecomplexo. no qual se dc:vatn dois problemas lu p1·6prio neg.-o que deveria pa,tir ,1respost:1inicial ao ck-safio
reatrais. L'm deles, diz respeito aus tipos de homens que "faze01 ,,, posto pelo dilema rnóal brasileiro. Ele precisa mohilizat-sc
a bisiória". De que C:lllladas soda.is eles são e:.u-aidos, o que 11,rn dcfeoder 11.foosi1ncd:atos: uma participa(OO mais equitativa.
eles representam e;n te..-mos de inte.es.~ e<:onômlcos, sociaisoo "' pro,•emos da ordem social c'Ompe1iti~11; e para visar alvo;
pol:ricos e Je ideulid~:les i<le<>l6g:.:a,;,=ionais ou raciais? No , nnh.,\~ ~\ lm1.>lant~çã.o ele ema. autê:nt!Cac..fen10cradar:acialn:l
CJro e!J' apreço, mi!. homtns provinh,IDl de categoria; sociais , 111m-d~de. A.•indo soci,,lmcrm: m.:ssa direç.io. ele c.cspctlá·
muito div~=s - represeruantes<lasantigas eliles ou seus des- 11 «,·: brancos, "' dos (l?íerente; :lÍvci.1 sociais1 para o a1cancc de
ccnc!c:nr.e;.,imigrantes ou ~us ÚeS<."en<lentes. elementos selecio-
,, 111 1 1us:i dn qunl depende, de maneira nocó.tfa, ~ funcion•~";lto
nadns cm pupulaçõL-snadonai!: ruigrantes etc 'fodos rinhntn
, , , ler,cn,·ol11ímentoõa!ancc,,&>s da ord= social compcut1va.
cn1 con:um a â;isia do (.ntiquechoento, da mqqu?sta do bdto e
do t-xé-rdéo do poder. Para ele.s, os valores ide.ais da ordem 1~,rn perSJ,>ecllvo,compreende,:.- melhor o qoanto a mo-
social competith•~ não possufo;u nenhuroo secnçfo. Limitavam· ", ,. <;•<l cfas rekções raci.\is depende du grau de racionalidace
-se a macipuli-la como um meio par:1 aringir aqueles fins de ,l e ,pncid:ide d<: atu:i.ç-ãosocial ele certos ~rupos hum,nos.
forma racional. ráoida e segu.cn. Port.anto, eles "fizeram histó· 11111 11 t<lo pela ideolOj\ia racial elllborad~ pd~ br~cos _e •"':11;·
tia"-masi=orando a coleri'vicla<le
e os seusprob!cma.~
hurna:1~. 1, 1 •ln 1tã Je "perteix:cr ao sisten:ia'· - IStO e, de 1d::nt1fi-
' .,.. 1 •
Expurgaram :! eqüidade de seu bori:ronte culrura e, com ISSO, 1 ,no posmel ~ \m>?tto !Jranco - o negr<l permanece
não tioha:n persp<ccüva J,l<lraaquilatar o drama humano do ne- 1 11 ,, 1~ntc neurro, ncg;.11xl;J•SC cot110 futcr lwmano de mu-

106 107
d.uiças sócio-cu!turai.sque têm de gnvírar, Iatalmente, cm torno
de soas insatisfaçõc:s e aspirações histórico-sociais. Assim, ele
aparece como a principal yítiroa da cadeia iavisfvel, rcsult:mtc
da persistêné.1 do pass~do. 1'oma-seÍ!X;tp,a é.e inkr.igir social-
me11te, de m:u,cin p<1síti.:1,rom ~s e.ti~,..n;:íasco ;,rcscnre e
deixade afumar-se. na mcdída do possí,;el, ~ ddc5a e na cons- CAPITtn.O V
t~çiio <lo seu futuro hun1ano.
U,lICllAÇ,\O E 11.ELAÇÕESRAC[AIS •
REFI:.RtNCTAS Bf.BUüGR.-\FICAS
O estudiosos estão acostuinndo$com um duplo conrrastc.
O leitor lntcrc,;saco enconu:ici, 1ias dcas obr3s scgtIÍmes, , ,v,Jiio é gctalmeme apomada como wn olxmículoà ími-
fundamentação cmpíric~ e intexp1e1afo-:i parn as consider~ç6cs 1 \i ,, e est2 é geralroenu.: repres~macb como ~ fa,?r de
sociológk2s <:..'(l)Clldiéasneste tr:ib-.tlbo, bem como referências 1 , , ,., do trnba!ho livre e do c1prnilismo. Por isso, e Ix:m
bibliogr.if.i<:~ssobre outras public,tções, 11c.tir1ena:.1ao ass11/\Co: h , la e tem sido muito cnflllizadn sua relação com a cnse
Roger Bastíd~ e Florcsta,1 FcroMtes, Brancos e Negros em Siio 1 ,1 trma de pruduç,ío escravista, que eh precipitoa.
Pttlllo ( 2.• edição, Síío Paulo, Comp:mhfa Editora Nacional, N, , 1e trabalho, o :rutur não pretende cogitar desses pr?ble-
1959; 1.• ctli~o, 1955 }; florest<!ll Ferruuxlcs, A Integrt!,;30 da 'Jomn11co:1 dd"dc de São Psulo como fonte de suas 1.oda-
Negro à Sodedtu!e de Closses ( São Paulo, Jlarnldode ele Filoso- '" r111píri01s,apenas quer responder a certas perguntu, que
Üa, Ciéncias e Letr,s da Vniveisic!ad~ de São Paulo, 'l964). 1.111I' r objéto o passado rece,,re e o presem<:. O que rcpre-
11 1 ,1 imigr~ção, entendida sociolog:c-amence como fator es-
1111111rnl ~ dinâmko, pua a pel'peruaçiio ou
a ~lteucão_ das "':o-
i ,,,.., r~dais? Doutro lado. ela contrtbum ou_ ~ao, ass~tn
11 11,IJ,. pnro ahernr os padrões de relações tac1ats propua-
l11m>
• •11m,. " pl(lDOa ser $cguido na eS'J)Osiçãoé simples e
J k ►' · r•",1
trorno de tres questões básicas, decorrentes
runto, 1)
uno o imigroçiio interferiu nas formas
l•
h 11" 11 tu h , do 11curoe do mulato à C3trutura
11 11 ,,1 d , l) ""'"' o negro e o mulato re;igi-
, , ,ll,i1 , " p •1cc111ívebdos io'ligr!llltes ou
3) o que a ímigra•
,1 • 11111 ·11.,, 1•c111(uc:s;
1, 111, , 1 11i11º'' ~ 11lcraçâo do sistema de
1 , " 11!"'"' 1<>11111·" conclusões puderam set
111,1111
!11 ,u 11111.L.m~nrnc!As
eropiricameote.
i 1 ,,. 11 ,1 t 1,c111lo
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, • ri, ", (/. l'iu/m"-11PnioJ, Ot:gaDizadopelo Dr. Mognus
1 u s, 11 f1 , dr c:.lrnicU e Co!umbia:
Uruvcr~;-ity Unm:niey,
11 11 ui ,4 J 1Ulll \r-:l<'r,canStodics; ~ cm Nova Io:que,
1 1 1 r11bro,i,. 1961. Pub'.ic,,ç".10;,mi,, cm inglês, M.
I ! '/ ,, 111 /.,,;,, A"'"'"'"''>k,.-
Ycxlc,Coll.llllNalJ,,i,,e.r,iry
1 1 1-1 ; e n'I 1,ortutuês,pelt R~~,.:sta
Ciuii:%!1-,ão
Brsl-Etinz
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109
:-.:o trtt•nto, tl•s t!c,noo,tl'.lm a1f(o Jc: rdacit o ,utercssc Lcorrco 1 )t c,tuoo.\ Jcmográficos {~o; por S.mL-cl Lowrie mos-
e pr~ti~o. A i.mig=~ção~ ,l(fapt0u ~ b=is~ndes do sistema 1111 'I"~ náo houve. stricw :rrmru, ,uh~cituiç.ív popufack>nalêe
br.u1lcm:, Jc :d_OÇt.1e~ racial~·- l'or mmeguintc, não concom:u , hos l><'rimigrnni:e:s. ~•io obst.tntc, principaJn.~ie no que
s~uer par,1i:l~1nar vu u:odincar os e!emct1ti:>S nmli.cos ou arcai- , '"' •rx: ,t cidade de S,;iul'(l].êo( e nio oo Estado de São Pa~n,
2~n.resl'{l~ ~npcdcm a bclusão <Íe$s:is1·d.aÇOCS l'I05 processos 11 .-r:il), a uroaui1,1ção rnmbém sígnificon, de ruodo c-i.ccnSQ
5?'"~--cooooc~ e nJn1n1is ql.lCestão prt:ido:cindo:i moclern~a- I '' ,(1111,k,,CU:CYz?CÚllção..E r-.ucce fora de dúvidas que, com
ç,;o da co_mun~dsdc. Se cl:i posrui nlg-,un .;ii,<nil!C'ldo :n:úor a 1 h\,1•1 aos SC1,'me11tos ncgto e mulato d;i popul:.ição urb:oa,
esse rcs1x1ro,. i,;;o se de,-c :10 fazo de h:r contril,uíúo poder~:i- ,·11de fato substirulc;20 populacionll ;,mpmmente dita. A.,
meu_:ep,u:. cnar i:m Condoon 1;ua!a liuc compe1içaoe :i Jcmo- hpn1,11das do knõmrno for-.1L,cisfarçzdns pela in1eu1õC? mobilida-
'-TllC}lltl";1dt:n li. !-é c.mvc:rter ern vdlore. sodais. futc a.~pcc10, 1l .t,1 "populA."JUde coe" e pelos a<Jé;cimo:; r~nlt,Ultcs do
po.rc1>1,e <l.:P8'111ldoar.iplo e :io rne>mo tempo dcrun~iac!oe\'Í• , csso 1.'e cncmdu sobre as saí&tS, os <IUlll• (';;lractedzam as
dente para s.:r J:ibmet:do pro,.,-'!o.;à.,ie!:!teà <lisru.ssão. , nçõc~ i.ntcm.-ts <lo negro e cio mulato ni.:~e período(=).
11ir, os fõa,; da pre5C!?teanálise é sufick,nre pbc c:m rdc.o m
I''"'"'°" histcíri<:u-sodnisucsi~nifica<jíoc-strut111JJ. Th:= pers.
1 li .,, ~ria pred<o diistw;;cir três g111ndc,;tcndÊJ.>Óasglobais,
A aceh.-rlll;ão da j_,.,;1,'l'aç;iocoosriwi, /!O início, nma função 111,1rt:,:d~m que o ÍlnJ>aeto da ímig;,l,;-ão sobre os segmentos
Ja dt-,sagregaçiío tio rcgunc ,cr,;1. ~m quando se evidencia n •rn e nulato da população pa11llmin,1vn.ria com o período
41,.-c o icaha.l~ ~avo devia :stt suhstituído pelo 1.c::tbalho livre. 1 1,hco q :.,e ,e considere.
o volulllc t!.:iL"Dlgt,lfÜ:> soúc uma alt:t bru..cca <'O:tsidcrável. O ! !ti. em primeiro lu;.,:r,a km~ fase ( a;,co>.im:!<lun1.:n·e de
o:ionta.,te de imigranccs entr~dos em São Pn!!lo nos últimoç 18'7 a 1885), em que a imigtação foi sct001da pek~ conring!:n-
c:n::o :mos do •~o XL1{ 1.-quivafo:1 cais de quatro vezes e 1 , socio-econômica$do te1,,ime s.:rviJ. Nessa fo~. o i.'lligrantc
mei.i_o to-.-tlde 1rul~anlc$ entrados entre 1827 e 1884! Em 1 , ~ aruc:açaos padrões de aoomodo('ãoracial decorrentes d.1 es-
seguida, <:<S:t acdenç:"t0 BÜllJ:\e o ôe\1 pomo culminante on h!s- <Tdvidiio. C.Omo;ugerc coo ni;,ão Coury ( 3 ), o tralnlho cscra,"O
tóría da i,uii:caçio em $ao Paulo como ÍW1çio Jos requisito!< l11ui1,:1va, ec-onom1camente,o trdhalho livre. Enquanto possuísse
humanos da reorganização do sistc1ni1 de trahalho. Por ca\153 • e ·r~vo, o se1'L)Urlinha o ntiior e._,ipenhocm e,.-plorá-lo tãn
das exigê!:ciasde ro»ac-<ibr11da lavoura.os efeitos de tal reor- 1111.-nSJ e extensamente quant0 D,e fu•se J)O$~lvel. Todavía, a
~ni~~ se fizer= scnlir 21,'ll~te llO$ anos s~ÜClltes coça do fo1ig,:ame r.ão foi totalmente neutrn. F~,1toJo o
~ ~ü~~ ( ~ 1~~9 a 1,899}. t.;ns, ~odo o Jl,'!l'lodoque vai d<> 11111,il.o dc..<e:n"oh-iu,cntocconôm•co da 3.í!rin,lrun. sob o rc•
ul11m5> ~;nnqueruo t!o ~~u!o.X!-X ate 1930. •r,ro.óri.:idruncntc, li'""' ,etvíl, provocava e condicio.'lava a fonn:1ção de núcleos
corumrut um ~nodo ele si.1b,mru1ç-liC1 de o~...,a-
r:ípid1 dos J):.l<lrões , l i::<-.. e, dentro d.."'>res.dctennioa-.a c,:rta diterenciação do
niiação 6s ac.'vioock..ç cconó:iüca, ou de inttodus-iio consolkl:i- 1 11.1 oc,ipadonal. Sfo p3uJo n-lo corut1ru:u esceçio a essa
çio e ex1)ansão c.!a ecnJlU1UÍ2bure.1da no m1balho liv~e. Os se- 1 ncin. Mas, a:r11vC$SOl1-~ sub condiçó,."l<hi>tórico-~iaís pe-
l,'111.'.lte:! dados indicam as 1t::dênci~s desse movilllcnto ituig:ca- l1J11,. .Enqua:ito cidade, como o Rcci(e, São Sa!.,..dor e, mes-
tório (1 ): 1, 1 10 de Janeiro ofereceram oponunidades de re:6sorção do
/l.r.01
1827-1884
l883-1SS3
1690-1899
Enr,adas
37..Sl
l&.1127
735076
- r ,1,..-nlc de uahalto &"t:ivo como liberto, c:rn pleno re.J!llne
1b 'M.rnvidiio, no.s Jifcrentcs setores dos servic:<>Surbanos. das
,.:11 w;i>c$artesanais oo do pequeno com<.'::cio,cm São Paulo se
1500-1909 }8$70!1 65 262 ( 1908-1909)
l?J0.1919 4ll0509 247927
1920-1929 7U-06 234.342 ( 21 S<ihrco, tc!lÚmcoos<'Jll q.:cnio: l(o;:=r &.<tidt e fl<l<e,;cz.'l F~
Toritl 2 522 }37 5475.)1 llr.•ro; < Neu,;,s e:n Si:<,Pe:!o, c:,sp. l; l~ fcrna:><!::s, Jl
, 1 m do 8cgro ,1 Soei,i!ad, de C'4sset. ca;,. l.
l l ( or.fl,noc I.c Bréril "" 11!84e, pri.~cipalrttn<c, L'E,'1-,f t:lJ
I /''1 ll'tl.

Jlíj
estabdc1:cu pzeco-."aneote a te.nlk"ndsa c:;maliz:1rt<tis oportuni- Ir• apti..!fo p:l.('11o 1rnl,ol:io l:vre, a com;:ienç:io inter-racial e o
dades n2 rlireçifo das i1'li~:anres. , talv urbano de vida é agravada peb pr.:,cu~-a de massas <!e
Por ,conseg:iinC.e,embo.::aa população da ci<lack:ahriga,se , ,trnngeirns, áddos por absorve.cemas opor,unid•dcs econômicas
gmndc mimero de libertos (-<,) e,tes Jlâo log"taram aproveirar 2I , ,,stcntes ( ou em eaergênciaJ e tota!me11tcpreferidos no mcr•
O?Ortuo,dê.<:les de trabalho liyre iae.eOICíià ordem rocial escra- , ulo de ttabalho. A,resce q:1e o própri-0 "negro" tinha de
- ,., vocrata e senhorfol de maneira vanrajC!S!I.Ao contrário oomo 1prendc:ra 2gir soéalmente como trabalhador 1'i.Tee n lidar com
• :./ ., mos~am os -anuáriose ,1s L-statísticas, os imigrantes conce{u.rados ,, mundo chi economia urbana, sem ter ,empo para isso. As
~ adnde absorveram as _g,01·tU1ucladcs ocupacionai~ de waiot , .,,s~s ~nir,.haram depressa demais. De modo que o desajusm-
mterc.;se econômico. Em conseqüênc:a, o número de liL-ertos 111cmodo "negro", que poderia ser um fenômeno transitório,
que l_?S~a.ra1:1 c-01:9uist2r um nicho vantajoso na estrutura s6cio- .i,wcrtcu-se em <lesajustamemo estrorursl. Em vez de ser
•ecor:om1cada c:düde foi rclativrunente peq-Jeno (G), em con- •~~bsol'vido peki sistema cetrabalho urbano e pela orCem-siltiãl
1.:-t•~~"co~ o 5,iesucedeu em ou,ras _cidadesbzasileÍ.rlls, nas quais , "mpc~t.'va, ele foi repelido ;,ara fü esferas marginais deise sís-
os m~-st1ços c~,~J:1 a ser co1is1der:ido.;., por isso, oomo 05 1,111:1,m1s q~1aisse êo!lcentra\"run:isoCupaÇÕ<?Sirregularês"ê<l.e- _
elementos demo~aro:a ~ eco.i.orn1camememais importantes pam 1rncbdas, ta.oro eçonômica quanto socialmeme. - -
o_futuro do Brasil. Pott-.a.nto, antes do colapso do regime ser• Dentro de tal contexto, pois, o termo "desalojamento das
vil, o negro e o 1:11.úato sofrei-:unde ma.oeira bem defuiida os ,,.-,pulaçõesnegras" não significa que o imigrante renha absorvido
efeitos negs.ti,;,ose.laco:;corrência com os .i1:uigtantes. Pezderam ,,. up:ições ou pos.ições econômiC>ls a.me3 pertencentes eo "ele-
as ~~a. vias acessjvefa_ de c~ssif:capo est.lvel e g""antida no mento negro". Semelhante afirmação nlio possuiria i.ignificaçíio
coniun.o de ocupaçoes livre; vmcufano à ::strutura e ao foncio- hist6rka precisa, já que no perlodo de transição se altera raro os
n_iune.i~t? ~11 t-."OllO~a eicr~visttt. E!:~ tttó tévé uma signilica- 1,.t<lróesde relações de trabalho e os padrõesde organização do
çao dma.:.uca espeafica, pois a ele se )>rende o amíter implaca- utema de produção. ''Desalojamento", no caso, qt:er dizer pura
'-'elmente devastador que a imigração iria assumir parn os dife- , ~implesmente que, no decorrer das t.ronsfom,ações ,xorrir!as, o
rentes estra,o~ da "população de cor". "rlcmcnto negro" perdeu a situação de miio-ce-obraprii;ilegiada
Em segundo 1-ugar,deve-se co:isiderar a fase de consolida- 1, , ine•:itá•:el) em diverws tÍJ.,'OSde trabalho manu<lle ,u-tesanal
ção e. c!e rápida e.'i:p2nsãoda ordem social compedti,;,a, q-::ievai, '" de ati<:idadeseconômicas ( em regra, associadas com os ~ervi-
aprox.11:1adaIDeJ1te,de 1885 a 1930. ~esse período, embora sem 1• urbanos e com o pequeno cooiérdo ). Tal situação, co,-no
operar co!"o um_ fa:~d_ircto,exclusivo ou dominante, a imigra-
çao. adqwre o s1grulícaco e as pro?Orçóe; de uma calam:dadc
,n,cqüência fundamental da Abolição, u:ansfedu-se para o
' 1, ,1nco", o que queria dizer, n:1q.1elecontato, ;ens.'velmente
social pa.ra o i:egro e o mulato .• A escravidão não preparam o 1tt:t o "branco estrangeiro". Alguns dados são su,'icientcs para
seu agente de tcabalho senão para os pap~is s6do-econôcicos do l11,licRra natll.t"...z.ae o sentido do referido processo. Em 1893,
escl"ll.voe do liberro no seio ca o:-&:m social escr:i,;,oc::ata. Quan- 1><•rexemplo, os im.ig.a11tes entra,·:im oom 79 % do pessoal
do esta c:n,~ etu cri~ 5 se desínt:gra, com ela fjjmbém desapa- ,. "f~lo nas atividade; manufatureiras; com 85,5% do pes•
re~ as uruc~ C0.1'.dlç~seconôlDJcase wdo-(ultunis que pro- " omp::do nas atividades iu:~1lllllis; tom 81~ do pessoal
reg1~me gsr-annam os aiusta.71eri.tos sóc:o-cconômicosdo ".negro" ,, ,,,,,.ro nas atividades de trPJ>sportee cone~cas; co:n 71,6% do
ao stst~a de _trabalbo .. De rep'7'te, :; sem estar preparado paa r, "''ªl ocupado IhlS atividades ooJnCrdais. Sua participação nos
os .?8:F<;ts SÓCJo-econôrnicos do comem lfore, o "negro" \-;u.se r , 11l1usmais altos da estrutura ocupsc:onal ainda era pequeM
numa ~c.'1<:leqt,e se torna, ra~iidmncnte, a principal cidadelii ~ 11 "" oo31 % dos proprie::ár::.os e 19,4% dos capittl!istaseram
revoluçeo bm:gutsa no Brasil. Em c:onseqüi:ncia, sua fafoi. 1un11t.:iros). C'.ontudo, achavam-se inclu{c1.osnessa esfew, ao
, 111•rio do que succdí.1 com o negro e o mulato. Me;mo na
, ,los secv\~-osmenos compensadores, ele; compareciam oom
I 4) Cf. IL llo,ticlc " F. l:-d-nanl.c>, /«. ci:. 58,3% do pessoal ocupado oo;
1• ,1 , 1 nltas ( craan estrangeiros
• (5) Ver, a respeito, lliJ»D.Í da Slh,s llnino, His16ri~ < Traà;.r,,, àa "I , domésticos: e 32% elo i-.e,soal OCUJY,?do nos sezviços
Cia:+det!e Sào Pt!áfo~e Rich,ut.l!..fo.~ 1 Forn:{lfão1-fi.Jt,Hia;te Sifo P.r.:!o. r ..1,~). Em conjunto, 71,29& cio pessoal absorvido na estru•
112 ft 113
tllt<! ocm1acional tia cidade er.un estrangeiros {e). Embora a Aliás, os dados elo censo de 1940 indicaro algo ~logo ( eml.:~
coru:oi~cia do hnigr-.uue afolasse:toda 11popclação nativa, so- ra~ .uidircramc-ute), =is pnra 15 _.J 261 eror-ref!ndor-:s '·bmncos
l'DC!ltcos r.cgros e os mulatos sofreram n impacto como uma ' 1......, u ., ,t __
J n
(97,04%} existiam 123 emp~""orcs prc.'tos ou l"'':':?"
cspécfo ~.e çaraclisma social F.!iroin~dos do mercado <le tralY,tlho ( 0,78% J. P~ra ser e<1uiparável Ã~ l;roporções ~mogn.hca:
ou expulsos par,1 a s0<, periferia, os "homens de cor" víam-sc 3ssiua!.1vcis pelo mesmo censo, est:1: ~"":m. ~c-vc:r-.aser l~.:>
condenados ao de,e01pr.ego IDLemátko, ao trabalho ocasional ou v<"Lesmaior! Xão obstante, proletan7.açao 1nap:ente e eme!gcn•
;\ retribuição dei.ra~da, tei:<lo de se acomod,ir a um estilo de eia de "famílias negras de d.asse .m.!dia" traduzem uma _re~lida,~c
vida c1uc associava, h1exora'\l~eJ..mentc,
a mi9.:ria à dt:SOI!,'3.D.ÍZ:ação nova, que sssinala a cessação dos cfcic?s 1mb1dc,rcs~ =;r3Ç<l_o
social ( 1 ). sobre os processos de absorçao ocops.c:iorole de classifica~o ro-
.Em terceiro lugar, deve-se considerar a fase que se conso- cial sobre o r,egro e o mutuo .
lida depois c!-c1935, em que a! □igrações internas adquirem Es..<enípido escorÇ<> suscita duas ponderações. P~i~í:º• é
maior it::lporranc:a como fonte de mão-de-0brn. Nessa 6sc, a
sceleração do ~-rescimento econômico deu origem a nova, opor•
inc,gávelque a in1i31·11çlio cO!lstitcía ~ma. fo!'ça revo~uc1onar1ade
0.1:iidadesocupacionais, largan:ente aproveitadas por elementos :tito ttor construúvo. Se ela pr<:_<luziu ete1t~ negativos º'-'..mes-
mo destrutivos para as populaço~ negras, isso se deve- as pe·
o,;tivos. A conquisui de uma ocup,,~ão permaneore e, de modo
culiaridades que cercam t1 ckstituição do cam:o _e a formação _da
correlato, de uma fo::ite estável de ganho (ou de renda) deixou
ordem social competitiva. Segundo, as cond!çoes de f?~ma"',?,
de ser algo tão problemático para o negro e o mulato. Inaugu•
consolidação e desenvolvimmto da Ol'dcm SOCialcompetmva nao
ra-se, emão, uma tendência mais definida DO sentido da absorção
da "popWll\Ío de cor" pelo sistema de ocupações instituído pela
favoreceram a rápida neutralização do impacto. negativo _ou des-
Lrutivo da imigração sobtt os ajustamentoi sócio-econôm1cosdas
universalização do trabalho li,-re. Todavia, as oportunidades
populações negras. Ao contrário, elas e:ngendratam um conl:"'to
concentr-.>ra-sena esfera dos serv:ços menos valorizados e menos
econômico sócio-wltural e politico q1.,e prolongou a duraçao e
compensadores numa economia urbana. li.inda assim, com mais
de cinqüenta anos de atraso, o negro e o mulato trnnspassam o ampliou a' intensidade do referido_im~act?- ~sas_ ':.º~bs&s
comprovam, mais uma vez, que as mfluenClass6c10-dlllllm1<?'5 ~
umbral da nova era, começando a participar ooanalmente das imigração dependem, estrutural e funcionalmente, da orgamzaçao
garmcias econômicas asseguradaspela ordem SQCialcompetitiva.
do meio social. Não é a imigração, em si mescia, que p~t12
Os rcsulcados ele u_m levnnt.uneoto, Eeito em 1951, indicam como
esta ou aquela conseqüência, ro:is o ~o pelo qual é con~ert.tda
se rna.-ii-fcsuiessa tendência ( na amostra considerada): no arte-
cm fator his16rico-socialqt:e- derernnna a natureza, a variedade
sanato, 29,39%; nos scn;~s domésticos, 20,76%; no funcio-
nall=o público, 9.18%; na indúsrr!a (como operários qua)Hi-
e o grau de persistência dos seus efeitos diretos ou indiretos.
ca.dos ou semiqualif:cados), 8,13%; nos ~~s de escritório,
7,08%; no comércio (como balconis.as, p1:acistasetc.), 4,46%;
em !ervicos oscilantes ou ocasio:utis, 3.93\ió; e01 atividades de A Reação do Ntgro e do itu!ato
hort:c,Jt~ra e jardinagem, 2,33%; · em 01.1ttas ocopações,
14 69%! • ). Isso evidencia q'.!e ml!Smo n _proletari7..ação,
no seio A reação do negro e do mulato à p~scn_ça._do it~g.rantc
da' "po_pufação de cor", vem a se.e fenômeno incipiente. \>,11, ~o longo do tempo. Mo,.;dos l'Or d1spo;1çoes de 1~cegra-
\ ,., ,,tini e com íreqi\êocia postos i\ □argcm das telaçoe; de
"''"I" t«;.10, mais ou menos con{inadas ao mundo dos_ brancas,
{6) RL:l~ório.Apres~nJ,àoao Cit!M'ãoDr. Ces_árioMotta Júnwt, ,, 11,I''" r o roulaco cendero a dar va,:ão aos seus ressen~tos a
Seaalirio é,;s :-tt(.cir,s d11Inter,,,, do 1-:r.a,!ode São Pi:t:fo pelo Direior 1111111 ,hi. fruslr~ões sofridas oas d"\lllses-frra.s. Por isso, o ca-
d. Re;,.<rt~iw,/.g fatiZJ!ttic• , Art11;.'t,oDr. AnM5Ío ,k ToJu!o P:zit, em
Jl tk Jdú d, 1894, i,;,. 6!! e i'l-72. ' ~trr , li• , c.ições var..amhistoricamente, ern fimçoo cio~º- pelo
(7) Cf. F. kn..1<b, A Inicv•.Zo do N,zro l Socieà4de de C/,mes, 1111,1 ,,. po1,ibilid~<lesde imcgraç&., soeis} e de cornpet1çao lll!er-
cap. 2. ta, i,,t ~e <'<>nfiguranun sacialmcnte. Grosso mo~o, é poss1vd
(8) u,,,,,,p. 426. di.i11111uir ,e quatro polari7.ações tc:ativas caracterlsttcas.
114 11.5
1111, ,lf'llll1<'n da.-.u:nemcque, f.O pé c!o trnbalhsdor livre e re-
No perfoclo escnvisra, a presença do iruigranre íottoduzíu li" 1rr1<l<',$O pé do ionigra111e,é impossível o trabalho gratuito,
nm tlememo pen,diador no horitonLe culai..-al do escravo e 11 1 roh,tlh<1escravo, feito para gozo exclusivo <los propcict:tríos;
de m3.ll<:nag<:r-41,nas auto-avaliaçõesdo "negro". Tanto par~ I' 11• uni~·açiio, como instirn.:çlio S(lc:ial,repele i.cresistívdceme
o se!lhor, q~to par-.1o cscr-avo cir., o liberto o ími!?rante se , m.t i1uição servil; que âqllele gre.nde fator do nosso progresso
dctínc, irJéóocrite, como equÍ\•alentc hum~ do tr;balhador '"' nn impossível o escravo•·( 't,). [ Os escravo;) "fogem e
sc-rvil. O imigrante repudiou essa das_silicação, favo:-eddo p{lr 1'1111,Jc,nam c,s est:tl.,.,Jccimc-ntosagrícolas, porque se\l espicho,
duas pressões cô!la>nÜt:.tntcs: i) a crise progre:;siva do mercado ,, 11 ,~ml;ém acompanha a '°'"alução, j;í não cott.preeode trehal!-io
d: ttalxtll:o; ~) a. impulsão para a fmpl:mtação e a unh-ers:úmi- rin rcmvncrac;ão; porqlli! snbc, que, o colono, que nãQ cem mais
ç,K'_do_tr-abal~ l:v!t:. Doutro /:ado, suas ttsdíções c:ultura:s e 1.. ,\~ mufcular ~m mais aptidão que ele pua o ierviço da
aspuaçoes súc,ais au,paravam-ilOcomra <l autoritarismo ou man- l,vmH2. fomia p5-."i1l:o, tem gozos e vive mcito mclb.or ( ... )
d~1úsmo dos ~rcs. Estes se vita.-n t-ompdidos a tl""er suas fl rnçn negra é capaz de todos os smtimentos :iol:res. como as
a!lrndes e cornp<>ttamcntos, po:s cs ímigran:cs cingiam-se ~$ 1 •~ ,s ci,>il:zz.d:is" ( 11 ) .
obng':çõ~ conm1tuais e cxight:n o seu cumprimento, com apoio )Jo r-nodo que vai d:i Abolição ( 1888) ao nm da I .Repú-
n! açao dos consulados. EJI_1conseqüência, antes da éesagrcga- 1,liui (revolu,;iio de 1930), o "negro'' enfrentou ein São Paulo
çao coopleta da ordem social escravocrata e: senhorial o imi-
" piores vicissitetdes q,ie se podcrísm irnagi.oâr ( 1:). Nesse pe-
grante éesftutava de posíções e de i,,,péis cconômicos ~ais e
1/uJo, dew,:n-se ressaltar duas coisas. De i;m lado, a propensão
legai~ típ:co~ de uma estrot~a co~pctitiva, Isso te~resentava , ~, negro pa.~ üdar com a liberdade de forma que envolvia
saLtao ao nJ\·el do trabalho hvrcmc:otc contratado respeito hu-
; •trema irrac:onalidade. Representando-se como "dono de seu
mano mínimo e garantias sociais de autonomia da pessoa do
, iriz", pôs em prJtica ajustamentos que colidiam com a natn·
rrabalhado 7 ou dos tne:niliros àe seu grupo doméstico. ô escm..-o, r , 1 do u:abalho livre, d:i.relação contran1al e com as bases con-
poI ser pn\'ado qoase rotalaente dessas vantagens on por go2á-
1~·tith·as da nova estmtura socfal. Daí :resultou .im desajusta-
.fas de foioa ateou:ida, e o liberto, por ser atingido pela degra-
' wn,o estrurursl pro:undo, gue concorreu severamente para
dação social e econômica dos trab,:lbos de negro, reas:tiama essa
, li miruí-lodo mercado de trabalho, mesmona área elos"u·.ibelhos
s.ituaçio de maneira_tosca, mas violenta, A scguinrcfrase, colo- ,1 negro". De outro Lido, a íntens.ific2.çãodas tendências de
cada pelo comenta.rista .oa boca de mn e=avo, dá uma idéia da
nstureza e do sentido do inconformismo em questão: "Senhor
, tntcntroção rac::il da renda, do prestigio sodal e do p,.,"'<ler.O
l .,l"cionísmofuz parte de uma revolução socif.l tipicamente cio
é bom, não nos malti-,\ta,ro2Ssenhor g::e ficou rico e feliz, d:í
1 iAllCO e pata o branco. Em conseqüêr.cia, a ordem social com-
teus ao estrongelro, paga-lhe o serviço e deixa-nos como dan-
i , 1h iva não conctétizotl, (~ imedfato, veuhuma das espcrao;-a;
tes" (~). '!:ratava-se de um ínconformisrr.-o,porém, que não ,,, ,-nrrcção das iniquidades raciais do antigo regime. Agrav,1-t,s.
fança.".:o escravo cont.'ll.o imigrante. Ele passava a repudiar a
, 11.-ialmcnte,de forma extrema e por ,er.es chocante. Ao con-
c':'nd1çao_que o tornava vitima da esl_)Oliaçãoescravista e pteten-
mlrio elo "i:,egro", o lmigr9nte es.tava illserido no selo desse ?I0-
~ ex1gi.r t~a1mento ªflákigo ,o dispe.osadoao "estrangeho".
1 ~ 10, pelo quil se deu a revoluç':io butg\!esa cm São Paulo ( u).
Eis como tlo,s comentários cfaé-poca focalizam ta! tendência: "O
l'..r isso, de ad,:;uirh:, rzpidamcntc, uma si./ll(J{i':Ode clone e
escravo por força das ô:cu1mândis, coropar,1-secom o traha-
ll'18.dor
livre; mede a dis,ilnd,i profu.l>daque o afasta dele; com-
preende, Clltio, a liumildadede sua posiçw, sem que lhe sorria l 10) O Cr.<wio P:::,iü:::,w, lJ·XI-l!lS7.
ao longe a espe1-.inçade melhores dia,: e dCS&lsua simaáio
( 11i O Corrtú1 P,;u!.isJa~t>,
16-XJ-1881', Sobre o 9$SSlllt1>, '-"'i•-se
c!e;a~1ua~c»:ana;c_ern todos 0$ de;.at:.nosde que é çapaz ~a " ,1 "' Josf J.faria dos Santt)s, 0; Rtp~b!ir:.;r;()S
P•,ilistG>e • ,1boiiçiit>,
0.Q.(atuzaç.10grosse1r.1, tod,1s as re.J.ÇÕesde que pode lança,· mao 1 111,316.
urn homem que se sente vilip~.ndiado por ·umn sotte inflexível. r ll) a. F. Fcrr.""~"'· .<l.fa:rg<"f;;;' do Negro• Soâ,é.lf.de,!e CT,uses,
IIH'k!.

117
1!6
conseguiu usá-h e<,n10rodo sdspt?.!ivo t!e competição e de mohi- N1>pcrlodo gu:~ se inicia cou1 a crise esttL-tu,:aJ da I Repú-
I d e ~1a.i.. 1 O " negrn" vn::-se
lie.a . . . ·'· C.'l1t.rc
ooopzl:ll.li;,aJ cs~as duas 1 li, , ,, negro e o nmlato tambéro se J,.'IOjetaram,de rr.odoir.re-
vressóes ccutradit<íri35. Uma, e:imir:a\"a-0 pêlo 1:1c::uos do núcleo ,~,111C' tímjdo, ma.~ cnnflncnte, r~\; ttn<.lêccias de rcconstru_çiio
do sistema de tta,ialho e da classifi~çoo no seio d,~ 01t'-cms-."lcial ,, ,~I tJUC abalavam e sociedade brasileira. Esfor~aram-se,n::es-
compe!:!tiv11;
outra, marcava r:iitid2men1eesse efeito, tomando-o ''"', por 1omar J)()içio dian;e dess2s teodê:lcias cm terJOOS.ra-
oste:isivo e fragum:,o p~ aparente ê.xi~o fulgurante de um ' • '"• uu-avés de seus Jll0Vimt:1tosrociais éc mai<JTvulto, de 1927
"igual" (pois as semelha.o"'1S
e2<1emase :mpcrlcitas do pon,o de , 1'I 18, aproximadame!'lte. For.lei fovados, as.,:m,a equacionar
partida an1,.,avam essa representa,;i'iono meio n•g.-o). Como oiío 1, tt>ric~mcn,c os cbjerivçs e as asp::açõL-s~oáais da "ge:ne ne-
possufa mccaoisG100para absorvtr psicdógic.i e socialm.e:ue as 6 111" nn lura consciente e om:mizatla co:1tra fatozes e efdtos
&wtraçõc-sresulc,mtes, o "negro'' exprimi::. ;e?U res;entimento de ,11 concentraçifo r?.<'ialda :en,i;;, do pres:ígio social e do poder.
r.:ianei:-aatnarr,a e desttutl,..,. Então, surr)r.im e 2if:::ndiram-se l o-no esrabe]eC:a Brf,iSfieira,"O PR0-
o ~\lan;'jerto.i Gente ,"/\iegra
( no aluciclo meio negro) cenas rcpresenrações a:nbivalcrites, 1,1J/,\.lA:-JEGRO BRASILEIRO t O DA INTEGR±\LTZAÇÃO
cultivadas cm a!guns de s.,::s es:r:itos sociais at~ boje. O imi- \IISOLUTA, COMPLETA, DO NEGRO, EM TODA A VlDA
gr:inte era visto co1110o cotn~nheiro, que uc.omeu o pão que o l•RASllE.lRA (POLiTICA, SOCIAL, RELIGIOSA, ECON0-
cliabo amassou" junto com o !)ejlJ'O, so&enêo com ele os infor- 1\IIC:t\, OPERÁRIA, MILITll.R, DIPLQ;\1ATICA ele.); O
túnios da miséria. ~las, ao mesmo tempo, era desse "tipo de ' FGRO BRASILEIRO DEVE TER TODA FORM... >\.Ç,\O E
gente orgulhosa''. qt.-e se esqcece dos l!migos e os abandona à 1C>DAACEITAÇ.\O, E11 TCDO E E.\f TODA PARTE, DA-
própria sorte qua.,do ~,obe". Em particular, os imigrm:.es se, I >ASAS C0'.\1DIÇôES COMPETENTES (que devem ser fa,0-
riam respons:,v.:is:;,da "política de reieição da p::11tada casa'', 1fORAIS,
1 ~•dn.s)FfSlC,\S, TEO\ICAS, INTELECTUAIS,
pois só apoiariam e p:oteileriam "cuttos escra::geitos como eles". 1 XlGIDAS PARA A "IGUALDADE PERA.. "iiE A LEI". O
Em c?nocão com .:ais a\'llliações, de catáter unÍ\·ersal,..§]?,!tC<:eJ:l 1 ,.,,iiprécisa absolm,;mente cessar de ter vergonha êa rua Raça
uma :orte rl!ndêncÍll a imputar a exislência do "preronc_eito d~ ,,.,,,; dcnuo e Já fora, na ,ida illtemaciona\" ( ... ) ) "Por isso.
~i:w" ao,.:.S~nz.ejro, qoe o te.ri3 .introduúdo no pais ( H ). Con- 1-ctimos,nós devemos lu:.ar por uma Associa~o Negra, ç,orêni
tudo, ~••s representw;ões riáo d1egar-,m a se converter cm fator Rtt:Jlda-se bem! - r.adicalroénte bi:a;iJrêr'l e afirn::!dora da
êe hosrilidade sistemálica. Em virtude das condições anôm:cas de 1 •,,.lição, e a qual se estenda para O!lde qi.1erque exista o pro-
vida social e de sua redu:Jda envcrgooura competitiva, o negro l 1,ma" (,.). De=iuo do conta:o emocional e lógico de scme-
e o n:u!a,o r2rameore se vi,!m ero situações de confronto efetivo 11o,itc visão da reaüdaée, o "negro" ar.acou, dire:amentt, os
011 irre.u,edi,h•elcom os imigr1lntes e seus descendentes. Por- f ,1nrL-s da c!e.igualdaderacial e os efeitos dela que concorriam
tamo, essa.s re.tçóes faliam parte do fo!.d,eredo ,;egro. t-.-las,so- I' 11a perpetuá-la indeiinidamcncc:. Seu inconformisoo a,s-~me
ciologica.rnenL:etnão passavat:1 ée an:ifídos pata r~sguarclar a .
1 H isso,. uoa f orma socia ·1meme /cons.trunt1a,
. levando-o a expt'i-
b:tegridade ou o equillbc:o dn ego. Em q1.:alquer circm:st:tocin, '" ><' porque a "igualc!zd1e !)<-T:t.'lte a lei" não produzia conse-
forneciam explicaç[,esplausíveis e impeÚollisJl:ll'i1o~ "furhõ!'' ,111cnd~~ práricas e a desmascarar,com uen~l:açío e objcrivichc!e
d~ uns e os "l.raeas5c,s" ae
~.. outro!. ,. ·
.>0n1cntc • se-re laa.o-
.tss.c, nao . " 1,1i10 da in6istêccia do t=recvncei:,o~fe cor oo Brasil. Ness;
naudo vlsivelmeut-~ ~om tcmik-s o:. conflicos <1bertos. Esse dado lllujçiio, o negro e o rnulat;, não se ,o!t,m,_-n contra o imigrante.
é relevante, ponJs.:Cparco!da algo es,C!'.cia\. 1'-ks1:10 onc!e e no 1 tr em diluído na cstnmm1 C:.<1sistema que prodll2Ía a coocen-
nh•el em q•..:e:t te<1çâo2<> imigrante arin~b .maior imensidade .::e, ,, 1\,tO rxial da r-~i?da,do prestigio !Ocial e do poder. Embora
gadv~, ela não <:ouduziu a c~fini-lo, $0Clalmc:1te;r:c;no i•flbnfga r 1oan1ivesscm 01.Snoções de que o imigrante propendia a ore-
e r.ão ocatretou a ncccssiÇ;!dc de traci-lo ç.omo e enquanto L1!L , 1 • ..n prara da. ca5a"f, aTorec:enc;o
• seus contcrranco;
• '
e p:eser.-
,,.Ju com.:.x,rtamentos pl'eoollCeil~o,;o, ou t!iscrimin~tivos, os

(l•i) _,;>ubt t-=:1d::-x:t1th"r.l3th=,> ~1alnxnre ÍOlte, ú:.vcie :: e;pH--


caçOO.O ...1,"C«o.»ed~o <:e ro,~ sc-rieac!.q:ti:ico1'.0 &ll&:1 1
.ç:a~._ .b- fu- n I Arlit.cloVc-ica eles S,u~tos,M:1!1:/est!i
,.:G~,,tc l\'~gr4 Rr:1úldrd
fltti>díi:t ~~ fat:i ..tliz trJdi,;ior..1is sOO:eos :J'ili~.,._,tci. ft/19)1). tn:,i~rito como roos.a tt~ original,

118 119
toovimentos soda.is ir.troduzira,u um:1 avali<>çãoioespera<la ;;; te• i. ,u 11:10~e ,¾ 11er:1d:; focma homogêne,l 11eJ1 cii:ito intensa-
volucionária do "$.'!ir.O elos imigrantes". Os líde~es desses mo- 1.,,me. ,\penas uns poucos lugrrun \':llst o; nlveis d~ concentra-
v.imen.Lo:; tiveram, por uma .rxáio ou por oun:a, ell:;x,.dtndas ~"" rntifil dn rcnc2, t;j prestfgi.o so-.:iale do poder, atingindo
ID:ÚS IJU n:t:IJOS profonda.; ÇOW fom!lfas <:strangeir~, es1xciaJmei,.. pp,1~ues :;ocialmc.,xcequivalentes ,1s <los br1J,ro; que se classif:-
te as it2lianas (l 6 ). Em c-0nsec1ü~1M:ia, podiam avaliar melhor as "1"' 11:1ordem rnci-d competitiva. ~o entnnto, s.~o ur.s pcPct.,s
razõe~ do "êx:.todos imignmtes" e, ao mesmo tempo, exercer tjUC ,mmcntam contin•.:amcrllc. O ,1ee sig:iilk-a r1ue se trata de
iailuêaclá no ,;cntido de iocentivar <>"n~ro" a <lesem·ohet for- 1111u ten<lên.::iacm:figuradne ~-ons1antc,da qut1.lse µode pre;ur:tir
mas ron,1:nrriv,;sele in1:t1<,;-ão.fooi nesse coi,t=o que s:iri;it.w1 •tuc, mantiries c,:rtil5 ccndiçõc.-sh:,16rico-sociais e er.onômí::a,s,irá
as preoc11paçõcs ~o senLiúode ,,clor.Í7.~r $. fanúlia-..i1ue1,<rnda, a hvorecer êdinida.,,cntc a intcgrnção prog:ess, ....a <lo oeg~o e do
cooperação domr.sciC'll,a poup:i:iça s:.;tem1ítka, a i:quisição da mufom a iimaçõe!; de classes t!picas. O q~e inte:essa, ne;;sc
C?.sapropria, • pi-o=kão da irr-~•J><.ms;ibilklade se,rnlll dn \:o- _11,ploprocesso, é a aparição de um novo tipo Je ".negro" -
~, , o " t.1.L'"L<>
,,,..'w.l '' C?.
• .mae
- 1~gra " etc. T nrnnn do <>llllI€,L"'a:ltc
· · cu ..-nn ,1uc 1ra;: ct,nsrgo uma nova inentalidat!e, um novo roinpotta-
pomo de 1cfcr~ncia, o "negro" dcscobtiu que. lhe faltavam 2s nlCOtoe oovas asr,iraç&s sociili. Esse "m,gro·• se '.MiJeficion
técnicas sx:úii,; que poderiam pcrmitfr sua .integnição na socieda- ,los influxos c:onsuuêvos dos antii;os movimeotos icci~_s; spren-
de e assci,'1.l!at as ba,e:; ,:facomperi,.ão i.t11er-rncial Portanto. o i!e-11,graças ~ cstccS1:1ovin1cntos.a não tct:J~r u branoo e a ,er
estr,u1gdm rq'lO!lffi, equi, sob dupla condição: a) a êc hr:111co, ulRum discetnim.:nto sobre os fatores é>:ltapessoais é.a <lesi.goal-
pura e simplesmeme, que de.via ser pe.rcebiúo e n:ptciarntado ,lnde r;icíel. Toi:"~via,por cmL~ de sua idc:1tificaçãocom os pro-
como qualquer out.ro br.i.r..co( iudusivc o de orig<.~n nacional); p6siros de mobilidade snci~l vc11:icalque ?od~explorar efeüva-
h) como fonte de e.mufatão ( remo o imigra:itc cnfre:it,u-a difi. rneot:e, ,ob1 "" co.s::,_<e chega a combater m alvos hullhlnitácios
culdades an.üog:1sàs do "11egro", e,,:e !)aderi.arepetir as fsçaohas dos movimento; soci,us, preferindo usar a ~,xriência acutnulada
daqucl-c}. Os ataques explícitos surgem polarizados em toroo 110 coaci:etização de objetivos diretos, pcssoa:s e egoísticos. Esse
doS interesse, soc.ülis e.lopró11riu "tx:gru". Com freqüência, vin- "novo negro" deb.:a de valorb,r o hran;;o, w:::almentc, <:OWu ~
culavam-seàs acusaçõesceitas às famílias tradicionais, que teriam eoqU?.nrobr.1nco: Vi>o br~nco cm fonç;;o êc si.:n situa~-ão cíe
"sacti€icado o negro" a uma "política de imigrtiÇão"cons1;rutda ( lasse e pode repudiá-lo, se ocha que csrá numa "posição infc-
pata proporcionar vantager.,, eco::.ômicas. Mas, também se pl'en- rl<11:'.' Doutro l,iJo, como possui tirocÚJio pe;;oa 1 sobre o f-.:n-
di.'l!Dn casos concretos t:!eexter:ori2ação do "precon<:eito de cor" <iona,ne,ito das in.stit,iições e os <:ritério; do pe,,~eiramentonum:1
pelo;; irqígra~tes.. Então, tnun combatidos, em escafa direta e ocie<la2e compelltiva, é menos propenso a supen·alotizat o
pankular, ec fonção da natureza das OC()rt<incias que svsciwvsm lll'dcr de determinadas pesso..s. l>aí resdta oão só que pro;,eaàc
os co,-Jlitos oa dese.ntendiinentus. - rcst:tiu1•ir o enusiaS1Uo<lfaute <loe,tr~:igetro s.io_plesmentepor
Por fi.-n, no período que se po<leria desigmu como S<:nêoo .,,usa da tor; 1,unb,<..mrent!.ea .restr~ít 2, reta.Ha~ infood:a-
da "sti,>ucda rc-volnção índustri,11" em São Ps.t!lo, espcéalmcntc ilns a re,peito da ''proteção dos conterr~n~os". Aléo disso,
da d<'.-.:.ida de 1~40 cm diance, o titmo do cre:<imento eco:iôrnko ,,,mo pene,r.1, de fato, 11:1escrut1.1ra <las relaçõ.escompetitivas,
se refletiu nas crx,mmÍriildes de t((iOOfüo e Wl$ tenc1êttcias de ,~,1l,a fotsa~ "- rupturn do equilíbrio <las acOJr.odações rn::iais.
dassifíca,;io cl~ ,;negro" na <.,si,:ur;:1rasócio-eronômka t!a cotnu- N,>co:,fronto com o estrangeiro ou con, seus <lesrer.de:l!es,isso
nicl:ac.le ( "). O ".:qvo" como que :epe:e, embora eru rondi,ões 111,umcparticular importância. Truttn o imigrante e set15<lescen-
competitivas lllais duras e JJWJJOS promissoras, o ;>a,saJo do hni• ,1,11tes,qu•1'to o "negro" ~ão )<.,,,..a~u,;a reforçar a, representações
gr.inte_ Efo se projet" nns segc1emos da populaç,:io c;ue fazen, 1r<1dicíor:afüt:ts, t!tlvez como rr.ccani!mo sup,::rfkial de autode{esa
p,u:te da toncntc e são :igenres do drama hiscórko. Todavia, r ,lc neutnilv.aç&:,ele conflitos potctx:iais. Apesa.r disso, os ca-
' 1 que r,ude>'am&er analisados sistematfo:amcntc sugerem que o
'" gro·' propende a a<lour arit\:d~s ~ comporrnmentcs !,a~,an~e
{l6i J~ Gcr~fo lci,t, por cx"'!m;:,lo, r.n dc:isp:ir,c:y,1is l'dacs , « looais, tendo-se er:i vi;t.s a r..>1t1Jtela dos intcr<:s.~cssociais do
dws.:! t::lnv:me:r.?OS.
J.)Cl:2e.r.;'!
itt l(lru,:.:oc..'Omo
iluS-Ir2çio.
.,,l,vídoo isofado. Ern vez; lle f.grnvat as tensões, ptO\·o::amw
,;:-;j a. F. F~i1<bS: C'>jJ.ci:.; f.t"•415~52, ,u#Çiíes &011tai;e rorupi:nffitcs ir:eroedi.~,cis, ptderc,n "con-

120 121
tomar a situação". Se se ~-.:ntc:mprejudic.tdos pox ''determi:14. ti, , w1Jiçu<>de co,ivo ou de liberto pata n de cidadãu i 1• );-não· - ~- _...
dos é»Lrangcim.s", procu.,:-.un ,apoio noctto.; brancos e tentam. r 111untrou suoo1<t~<.'(.-cni1Uicos,
~ociaise .IX'líticmque lhe d~ss<:lll
a$Sil!1,a superaçfo ~ fato:c,; d.is titn;Ü<:S pc,;$0~Ís. A iu,portà,-,. ,, ,lulndc h:;tórica. Foi um;~ 01>eJa~~n scrnfutti<.:s; c.1:1. n,:no
da Jes= dados {: óbvia. TTJesindic:01 que os fatores rcfacio- •
, 11,., ttnl cos H...
)ºl
~crc~ do p-.~!?l:i":.HllMLO
. 1 ,~ • • ~?
UJeJ."11.,·1rn1a. lt'oma. ~urú2. ,
, . • . , . 1 . .
nacos com ~S- o.t1gcns ng:c1on.1~ oLt ctmc-as <.os 1mll!fanres sio 1 l 1 .leu forma ~ ron~~ídou, na, re.;.ióesem crcscimcnm crnaô-
~ectmrim•:o;n.,J, 1:1oth•::iç.?ío
e na oz&-:iniz~9lo Jas .rclaç~ co.mpeti- um u intcns,o.. .1 úlima cspulim;f,u ~irida pd.:> cacravo, p<.:loing~~
lÍ\'as do ":iegro" com o ·'bx~nco·•. nt1{l e j:,do fH~~rtn, 1o
pratic.":lml·uteexi::1.rga<.los si5ECJTia d-~1:a-
Os ~P.Su!iadc$gfobais ,b dis<..i.ss.lodeste t6pi,o comprova, 1,.dho sen1 qc11ü;q~:cr cr>-:n}"IC'n~~tcóes econôruJcnsou g1:1nmt1as
pois, a e.xisLenciade um.~ !e:id&u.fa uni11er$~le cunstantc. ;\Jas ,>t ',1isi1' ). For isso, o "negro" iria continuar o dnu11ahumano
diicrer:ces CO:lstdações .bistóricp,socinis.em que se mediu e re 11,, ·•escravo'·. senclo ll!:CCS$ário rr.ais de meio sél."Ulopar.a que
ddrcntoo f.:Omo "imig.rant<.!'\ o t.:r..~roH não se lançou concta r .,a siL1.~çfo ·,CIJn<'.ç~;~e a se altcT-'.sr.Os pa~ões Je relJ><;.ío r~-
o est1tmgei;o. ;\•fosn:.o<Irnmc!o<is ir.iloéncias ,foste foram perre- • ,~I L~:lt~ciooalisca ( ,~) pcrmanl'(.'-'rtltn quase uttatos, nesse meio
hiclas e rc;,rcscnradas como ~~l!CÍÍ:.Calllé.ltc dc,~favoi-ávei~,d2.s , rn lo, mruue::t!oUJll clima de i:1tcr:1çâorodai que diferi:t mt1ico
nnn01 chegaram ,1 se.eelaboradas, de fuma s:stc,má1ica. el:!!ter- ,nuco d,1quelz que impera,"11 na situação hístócka pwceJente.
mos ,1gn,ssiv0,5C de CF05içãn. ;\ r.1ifo d1sso parece simples. Ü Esse ~•anode fondo ajudou a i,)re..<;erçar ncitudi.-se avaliações
que ittt<.:11.:"~~so "negro··, c:i1 qna.!queruma dessasIases, não é a , .,rfois mmsplan!adas pelos frlligrames coro suas bci.nças culiu-
posição do 1migramc e dos se\J~ <bscendcnr,~ na es!r<.1mra ,h ·,b. Em si.ia tlla1oria,quióquer que foss.en, snas ptoa:dê!l<:ias,
comuuidadc, ruas o fato dele próprio niio cscar, ou úe est,r apc- rl~s não tinb.dn c:xi,e:iéncia n0 traro cocn o "negro" e \'fanl-llO
11,1.sp1trcialrr.erue,inserido ne~ êSLtututa. O seu inconformismo 1noca1tricruneme COJUO se fosse inferior ao hranco aos ph\nos
!e ori~n-rou., porta:1to; invaris.t~elmen-.:c na J11es:na c.ütoç~o: ~ CÃ- l>iológico,psicoiúgico e cul;:ural. Era f.(cl Ji~simuh;rtais _coiS<lS,
«t1são da.~v~nt:age,1s rfu oocieJa<lc~~rt,1 a todos os ""Jme<ltos l'"r traz dos paJ.rões de rda~--o racial impostos !.'do mctu atn-
da "gente !W'.grn". As re,içôes do "negro" contra o :migrante 1,icnte. Ko crttanto, ia;$ atirndes e avalfações não "cria,.·a.m" o pre-
s.io ahsotvída.spor L-ssatendência, a qua1 dilui e reelabortl social- c;onct:iloe a discr!mina('âo 1'~\C'~a!~,
nas.form-asque se aprescnmm
mente os motivo$ de fmsi.n\ÇtÍOou ck ~gi·e;são, conv.::rtendo-os 1H1soc;e&tle bra;ileira. Ambs su:·girao1muito antes, coroo -P
em disposições ativas de acoretxfoç;;c,racial e em :mscios ~e in,e- parte e enLt:eSJ.XlSta à m:ccssidac:<:de 6.r fundgrnco~ m_oral e de
grnção L'rn bitses igualitária;.. l('f(himar soci11hnenceo csc:tr.vidão e suas c~oscqu&tlC1<1s numn
,,x:icdade de niores crisffios(H j. E se flhtnnvcra.-n ao longo (i(l
formação e ôo ch,sen.-olvimcrito d,1 ordem social cotlp~ti,fr;i,
por cau~a da pçt$i&tência, no in!d(..\ e c.\oagrava.~1ento,.<:in se-
11uida,da coucemra,1l0 racial ela tenda. Jo prestlg,o social e do
A imigração n'io comrihuil! ~<r:l a!ter:u, nem de m<l<loime- 1,odcr ( ou seja, <ln pro1)1·Ü!dcsfgua!dade rad~)). Sah outros
diato ll<"lli a longo p1•a7.o, a esuutuu do sistema rree:.isceme de J q1cc1os. o in:igrame oiio r=isou lançar mão nem de um nem
rd,1<;õe;;rncfr,is. r-la ,tju<lou a acclcrnr, a p,mir da década de
1880, o dc:.~sp;c~<lo<loregime s,;:r.il. ~fa;, ela ptóptia apare-
ce e se inten~ific.t, nu séL-uloJ<..TX,como 11.rodutohistórico da _! 18} Aié..i:o C~ ltt.b~~ iUt 1:0.:a
,.(::tdtl.'! 2,, vej1.rn•!e
O:.:lh,.~ ~,'lo
J ml. As lft!.'!m~r:-0-:-,~,:~ J".:;',":T~'(J~ oip,s.\· e \1.~,e ,Ferot.nd~lknnque
crise da mão-dc--0b1,ae das relru;õe; de trabalho no mundo social e ,niOSO,~pipàir.iu) t E:cr-..•Ç.'~ã.o r.r, 8r1:.S].{~m:..;~u•~,c~;,s. \• e V''"l
..
~c.ra11ista. ( l9j a. F. Fcmencl::s:l, !::~w~~o do ~~;.r_o4 Sod~~6:Je
<l~Cf.as:~·,
A expfa:aç1fo des.1efenômeno é rcl;rtivarocntc ~im!)les. ,\~ I' ~oC Stts.; Rf)b(:,'f(I S.:1m:.'tlsen,;.\3 Cc•nsa(uctltUS E~t:.W.!C3~ ca: E~ra,-
ripidas e incensas tran~fo.rCJ.ações,qu;: efrtaram a ci;nutura do 1100.
• 20) Snbr~e;~ ~:.:':ie•~ro Silo P~ttk!.Ci. F. Fe.roo.o.C(-s,
up. e:.!.$
dese.nvo-h,imcntode São Paulo, cão rcp<?tctltitarnnem na posição
do :legto na orcem social nc111 nm padrões de relaçõe, raci:lis.
t
~.
21 \ a. R. O::.~~...d-= .!!,,_,,,~.,:
e 11• f•':::n:!..."'l-1{'-S> r.-w~>,
t. Ne:.1cs~ttt S&o-
No fundo, ~ cransforma::ão éc s~ti;.t, pres;i.1po!la!h\ passa~n 'J'. )1 1 .~:i!SÜH.

121
de outra como req1rso pa:a defender ptobabifafades de -a.,;censão
11111.11 n<l.:1uiriramum oficio e o que ser:a a vichi hwnan:1 1r~m
~oci&,resguardar certos nívc.-isde renda ou proteger dcteTOOÍJlil· b, o~g:loizado'>. Bss.-iexpcrit~c½t,110 conju~~o, iria sn· 1~uÍ!ó
dos L"sti'.osde 1,-ida. O "1iegt0" não chegou, em nenhum mo-
óul r, alguru dcs lidere; dos mov:.m::utossoc,nis, que ~e ocscn-
mento, a ser uma nlll.eaça para o hnmco, os seus valores .sociais ' hrrom no •·m~.:.oner,w". Todavia, em ,dguos pl(lfl(i. cLi pro-
ou o seu destino hums.oo.
, , , 11 con,;cqüi.nc:.as perturbadoras. A Jr-rtir d~ roocirlnd-e, u
N'ão obstante, por qi1atto motivos ,-lifcnmtes a iw.lgr:ição 1,inao de trfação" descobria que sua t-ondição r~.alnão lh;: dava
w,ivou o clima da~ rei~ .r:1ciaís. O primefro deles cliz rcs- · - análoyas aos u.em~1s.
u (1arei·to de rer aspn··açoc.s ' · ·~;-.s
• re1açoc:s
- · d'e:
peiw à waneua ck ~efiu.ir os "tllStu~ do pals". Na sua rnu,pan~smo <le.;moron11:ªf!l·
. Em s<;ulugar, l1C1Jva01
üffiJI};'l.\·
âr>.sfade não disc.T<e?arelos bn,í!ciros, os ir.tigr:an!cestcntavgm ,J {11.1smçaoe, por ve?.cs, odio 1mplacavel. Do lado do braac-o,
njuscar•se à.s ~tuaçõzs de C.OJlvivê!!cia
com o "negro., mantendo rc:içõe,, de autodefesa forr.rnm,·,L-n retaliações convcncio:;ais
a fórrnr:fa Jc que, por "s.er i.aferior, o preto não dcixa de ser , ,, úpo, "não se po<le w.r a mão a um negro", ''/':ente ingDta",
r;crite". .Essa f6rmul11 só j.>O<.Üà ser aj>!ic:aclacom Êxito onde F. I' ltc qu~ cc~pc no pt"ato~JT. qi:~ comell etc.). O negro on o
quando as dua~ parte o!Jser....issem os fundrunenros da rdnção ra- , 11utt>iam mais longe, ;,o,s S.:?nt!amqce su,1 segllrn:nçn e asp1-
cial tradicio11alista,ciue co.nfeti11ao "negTO" lima posição hete- ·''"'"' não frJ,am sentido, o qnc <is lcv-ava,COlll frcqüêocfa, a
mnômka. Por falw de experiêncb, e também porque nem sem- nos movimento; dc protesco coleti,;o.
oh>('"aras e.speTanç,,.s
p,-e a dls1ância se<ial. ajuda.a o difícil jogo qui::assim se criava, O terceiro moti,•o é ante$ ir.direto e envolve a ~açiio
o imigrante falhava na apli<:açãoda f6rmu6 " v~-se presa de 1.-modo parei~- O u:creinento da popofação e a cons«1üentc
sua arma<lilh-~.O •·negro" mmcç:ivn a "romar libcrdnrlcs", a , 111opcizaç1íoda cidade não tivcra:n, com referênda aos bpincos
"ser co1úiado demai~u, a Hfior atrey.-jJo",a utüo rncdir di~tán- 111iV()s o caráter de urna subsritcição populacíonal P!O?~amcn-
ci?.S", a "explorar a boa-fé da gear.e", :1 "!é meter na vida dos 11 Jita,( 2"). Cmn respeito ao nc:g.ro, po.rém, a substituição po-
outros" etc. Dentro c.:mpo1100,o imig..,wteap=cudh a sua lição; 1'Ui,1cionalassum:u caráte.r es_()(!cífü:oe _tlnlscico("" }. Por e;;sa
e rassava a outro o.temo. Proa1=,1va "evlt,,.r o taqiro", roed1'an- 1 úo, os fenômenos de anomia social, que se dc-senrolal"l\m no
te atitudes e co:nportementos relativamente dis:repances e os=- 'u,do 11egro",encontram um-a de suas tci:t.es nesse proc~so, que
sivos. embora excluf~sem excerioriz:açõesq-...c pudessem ser en- un,lirona e agi:ava o çless.lojamemodas popul.açô<;snegras. Esse
t.endidas como "in~nk\losas" ou "degrad2ntcs". Ainda assim, ~nunto precisa ser traâJo à baila, aqui, em vi.-tude d~ duas
isso representava oliscrvânçia di,;,ergentc, mas toJn agtavamenco ,m1,licaçõesp,u:ticclarmente importantes. pe um fado, o ~ses
do tretamento facia1 convencional. fcuômcncisde j\nomia se associaram desa1os1amcntoscromcos,
O 6egundo motivo prcndc-:;c a certas mod.-!lidadcsde "ex- 1
ut- provocnmm o nu□ento <l.1y:sihilidd~ do ~r<, r- rl:1 mnl,uo
ploração do negro'' que foram, oo:iscieme O\I incon.scicntemmte, wmo "desordeiros" "v,1gnbundos", "bêbedo~•·, '·ladroes" etc.
post.~s etn prát:ca por muitos imigraotes na época mais árdun o,• foi essa visibilidade que alimentou a perpe.tt:oçãodos ami-
de sua !ma .l)('r "fazer a Amkica". Nas fases iniciais de acumu- u,11'estereótipos raciais e que canaliwu a redefitJí_ç"~S<><ial ~o
lação de c1picel, o imigrante det>endia de formas de cooperação 'nri1ro" em sentido ultradesfavorávd. Embora o 1ro1granten,io
'-1"'-'tedu nda,•air.n.<Jobtençiío do traooll,o necessário "º custo da . i• nem pessosl nem ruor:un-ente r<..,;ponsá\1~ _()(!loque arome-
do mibalh:tdor. Esse artiflc:!Osó podia s1er:iplicado
s:ibsistê.1'\Cia ,, a sua pi-escno relaciona-se de modo facUoiente pctcepd.-el
com fu..-ito 11Q â01bito da funúli.a e da cooperação doméstica. , 1 ;,loo proce=: De outro lado, o negro e o mularo, tJuaü~lo
Graçis à abundiocia Je me.'10res"negros" abandon,,dos e à pre- ,iu, ,tlonam a i:nigr;a~-ão,recde.m!l focalizá-lac.!eâJ,gu!o L-mocro-
disposiçíio de muics.s progenitoras de "d11t uma profiss1io" aos ",1 ~ moral à luz dc.,;se im~c;:o. Ela não foi s única (nem mes-
filno.s, o negro e o mui-ato ac:ibaram caimfo nas malhas desse '"" a principal) causa do {enômeno; e, sob vários 11.5pcctos, nun-
artifído ( o qual, aliás, tamhém e~n freqüente e11t.re as familias
brancas tradicionais, mesmo Olll'llm<' o p:i:imeiro quartel deste s.:~
~ulo;. E:n termos de sooali7.ação, isso representou uma vanta- ( 22) Cf. eip. Samur.1ll. lc-.vrie, IrnifF,'-"' e C,·e:ci..,,m!o "'' Pa;,"'
, "" Etlddo d4 São Pt:ulo.
gem sensível paro m m::nor~. :M.uitcsaprenderam :, l::r e a
1• 1l CL F. Fen1anáa, op. cit., P;>.81-118.

125
«rn de classe média", por sua v.ei, ;e choca com o caráccr mais
bém r:ão p.:ssa d~ deito da :nesro!'.Isérie Je futcres q•;e coniuzi-
,111 menos acintoso que a evicaç-Jo assume no oomportamcmo dos
ram ii. c:L-sagreg~ãoela sociedade servil e à revolução burguesa. 1111i11rJntes.Portanto, en, dois :iheis soc:ais o im:gnmtc ac2lx1
Mas, o "9~ro" que ,;içeu na ciddde durante esse perlodo ( e por , 11<fo descritocomo se esci.es_i;e
"introduziodoJ)recoi:ccitos de
vezes também oo seus descendentes), não ;,e libena da compul- ••,-a"
r.o Brasil. A imigrn;,,o f post,i em causa, emb:l(a ela só
siío de rdacicnar sllil vergonhaaos fcitos do L1-.ign:mte.No c:tSO,
" prenda, pelo que ~e sabe, de modo indireto aos forosde tcn:60.
este não se coo~crte e-01bode exph:tório. Contudo, 5u.rgecomo
a peça que e~,-,licaria o aparedmenro e as proporções do dram-l Os resnhados da a:iálise, 1.e;ta parte do r=eme ualx!lho,
.• .. m~ecem clarruncntc que a imigração não comr:bui, de fato, paro
que se a bateu so brc a · gente negra .
O qu:1t10 motivo opera w longo ck: toda :1 siru.ição de ,on· lnduir ~s relações rada:s ru, e;:eca de mi:danç-a social e ck
;3,0 rucial e p:irecc ser, ,;ob o p0mo de v:sta dk.âaüco, o ma\s 111txkmização. Ao con:rário, anele ela não se adaptou, ;,or
importante de toc!os. Trata-se dos efeitos direms ou indiretos ,c-u~ efeitos diretos ou iodiretos, ao sis!ema p=ee-.dsten:e ~e
da :isccnsão sc-ci11!sobre ilS ,wruia.çõese "" t"elaçôes r2ciais. Sob ,.,l:iç-iíes r~ciais, cl:1 o :1grn'l<>'-l.
e,~rimufando a pc:rsisc&icfacc
rnuíros aspeccos, o siCllnção do imigrante sempre foi parecicb ,1 ustamentos inter-raciais p,l'eronceituosos e discritni.n2:rórtos.
com a do negro e do mulato. Efo teve um ponto é,: partida bem 1vtla\'fa, n«d;l dlí fund:11:1cntoit propensão de auibtúr-se aos
modcsio, apesar de sei: branco; e locou, com fxeqüência tenoz· Imigrantes a "introéuçlio" do preconceito e da discriminaç,io 111-
mente, para classificar-se socialmente e, em seguic!a, para desfru• 1,.1isna cidade. Pelo menos nos limites das manifestações conhe-
car os benefícios d;i mobilid,;de social. ~o entanto, em virtude l 1<bs de ambos os fenômenos, a esse respeito os imigrantes
de possuir ~lguro domínio ( ou domúi:o cumpleco) sobre as téc· ,1hson,em atitudes e comportamentos previamente inco.poradoo
nicas sociais que oLgani2aroas relações hun:=s nulll" sooedadc ,1<1s padrões brasileiros de relações raciais. Ao que parece, a
competitiva, o imigt:mte logrou bem depress~ os dois objeti,;o;. Imigração tornotHc cm fator nei.mo em face da democratização
-' '-Ú que lnteres53 ressaltar, no momentQ, .f que se estabeleceu ,1 ,s relações r,iciais porque o que se poderia chamar de "pro!,/e-
uma nítida diferença coere o imigrante "pobre" e o imigrante lfl(l negro" não chegou a afecar o desei,volvimento da ordem
"rico". Ao subir socialmente, o imigrancc a1.ra,·ess:i um período .,,,c,alcompetitiva. Deixando de ser rnão-<le•o!'.iraprivilegiada e,
de crise, no qusl rompe coro as ligações materiais ,e. morais_ qu: 1 Jr qualquer l"3Zão, fator ou impedimento do crescimento eco-
ml!fldo social. Ao conmmod:is tmru·
o prendem aõ seu ,intifZO 111\11tito,
o "ocgro" perdeu importância histórica pm o branco.
lias brasileiras ua,d.icion:tis,principalmente Óa..1Uelasque nlio per- poderia envolver os iruignmces, portanto, nas m:ilhss dos
N,1.<ln
deram statlts atnivés de tcdas as transformações ocorridas na l111crcssesou dos valores sociais qt:e se vincularla,-n com a im-
cidade, o imigmm.e não possui prestíg:o social suficiente 1::u-a l"lnnroçãoda decocn,cia rar;ia_l. .-\ imigraçiio também tei:ia sido ·
enfrentar as exigências do nível social adquirico, rnante:ido liga- 11~uIra com referência à própda estrutura do sistema de rebções
ções aparentemente espúrias com o passaclo. Elas suscitam ne!e 1atênis, não fossem as ci.rcun;tândas histórkas qoe a conve1·tiaro,
o temor eladegtadnção soc:al, como se a visibilidade do "negro" , ,1,Qntân.-a e inc,•ita,·elmence, num fato_r de conreotração racial
afetasse e se cornunieasse àquek-s qce s,'ío vistc-s em sua com;:,a• ,11 1·enda, do prestígio sooal e do poder. Foi graças a esta tsziío,
nhia. J\16m disso, a tendêocia n e..-i.rnro "negro" no mencionado
pe.-íodo de crise se converte numa espécie de c.01wcnçio. Como
,,llll's,que ela conrribuio para agravar, de maneira evidente, a,
,,pat-êncfase a realidade da desigualdade racial. Contudo, aqui é
esc=·cu em se\l relatório uma das pese]uisadoras, o inúgrante e l"rr-ciso c!iscingtúr condições, causa.~ e tfcitos no emaranhado
seus desccn<lent.es a.-abam, essirn, construindo uín 1mllldo "no , •,n1eno histórico-socisl considerado. O imigrante não se iiltro-
qual não existe h,gat p.iw o negro". Ambos os ddtos aponta- ,t., tlu - nem se ,•i\l introdll7ido - numa estnnura de compe-
dos não s.ão produtos de sua tradição cult1m1l. Eles dctiva111, 1 , o r\\cial com o negro e o mub.to. Se a imigração r,-pcrcutiu
ames, da~ com:,licadas ter.sões provoccdas pela luta pela ascen- ,hamntícamen!e nas manifesmçõc~ da desigualdade racial, :sso se
são $0clal 11umasodcd11de de classe;. Tocla,·ia,os out.ros círculos ,1 · 1 porque ela era um <los fatmcs da aceleração do crescimento
hu.:naims não vêem as coiS;ts por e;se pcisl:1:1. O branco nativo, , ,,1,t11nicoe do desenvolvimento soc.í:tlda comunidade. Os gru-
de cl,nse a!:a, puta e simplesmente dc~1prov,,o q,;e ele entende 1 , que conta'>'am com pos:ções mais ou menos vantajosas na
ser uma "manifestação iotolctável de prerooceim racial"; o "11e-
JJ7
126
tstruturo de pockr e de competição, ta:nbém contPvam, naroral-
mel!te, com as opommidades :na.is vantajosas de participação
11essesdois ?I<,><:essos.:ila vc.-dztle, como a estromca elo sistema
de re~ções rnciais e,ccluía o ".ueg.ro" de tais o;:,or.unidadcs, os
br:l.1COSprnricamente monopoliza,··:u:1ss vantagens ddu ckror-
rente;. Tudo isto quer dizx:rque a imigrnção apena, agravo:i,
como e enq_1:11niofator histórico, a; <li.ferentes expressões a.sumi-
ú:aspela dcsigu:1!dade1"2<:ial na vida soei~] do negro e do mulato.
C.~ITIJW VI

BlBLTOGRAr-IASUMÁR1.'\ o NEGRO E~-1s.~oPAULO"


,,RACJO FllJiO, J. R. - "A Popuh~ Paulistana" (in A Cié;;àe de
Asço::ú;çii()<los G<lógnfo, Brnileiros, CompanhiaBdít<>r,i
Si:!>P,1A/1>,
N,cion,1, S. P.tulo, 19.58). As investig,ições hist6ricas e sociológicas recentes mostram
AZEVEDO, Salvlo de !,ln)c;d:, - .. Imituoçilo e Coloniuçio r,o Estsdo 11uc certos padrões de orgXlização da ecooomia, da sociedade e
de São l.'ou'.o",Revista d,; Arq:ào Munit:i;,al, Ano l\J, Vol LXXV,
Slo P•clo, 1941, p;,. 10.5-157.
,1.1cultura tiyerain vigênci<1universal no mundo criado pela co·
BASTIDE, Jlo6o,- e Femzndos., Flo:.man - Brar.cose Néf,!:O'em Siiô loniZ3çâo porruguesa do Brasil. Não obstante, São Paulo parti•
P.:tlt.,;, 2! edição, Co:np.11">.;rla
Editora ~scional, Sio Ya.a!o,1959. ,1pou desse mundo de forma peculiar. Sua posição no contexto
BRU:--O, Err.tti da S-:1""- Histórn: e T,.,diç~, d• Cidadetk Sso Po,ilo, ,ln ~cooomia colorJal impedia o florescimento das formas de do-
l\k- de }"1á,o, 1954 O vols.). ,nionção patrimon.mlista as.ociadas à economia agrária cxporta-
CAMA'ltGO. JO<é F=.cis«> - Cre,ú-,,e,,to da Popul"fÕO do Estado de
Faculd•dede Ftloooli•.Ci!o-
S~ P""!o e 1es,.; .4r,;eciosEco,:úv:iét.Js, ,ll>ra. Em conseqüêocia, embora existam documentos q'..!eatestam
::Ls::,a d:, Un:ve:s:daccde Sio P~ulo, S. Paulo, 1952 O ,-ois.).
c=,..,. p~csença precoce do negro em terras paulistas, inclusive no
CARD0..::0, Fetr.<!ldo Hcncique - C.;it"1isr.,o e Ücrdo-iJõo no Br.sil •Í<l d<lSbandeirase da economia de subsistência aqui existente,
Merid:o.od, Difusão f.u:opéio do Lhro, S. Paulo, 1962. • Ili 00 se tornou ctu:nexosa e rc,gn;ante 3 ?artir do ciclo de mi~
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l'~cu&.:l,e cc Filosofa, CiSoci1S e Let::ss d:t 1.Jnn-ersídadc de São ..,. inicia sob o marco da I.Ddependêociae cm conjunção com a
V..ulo, 1%,;. wnstituição de um Est.,do nacional. ;',Íessc petiodo, por força
L'L'->-1, Ôétâ<•io - ;.., M,~_.,,,,,Jom d!> Escr&eo,DiluS30 Européia do
Llv:o, S. P~ulo, 1962.
k- cirLi.Jtistânciaspollticas e sodais, a soc:.:dadebrasileira já ha-
LOWRIE, Sanmcl H. - •o Ele::xJ1ro r:c;,;:<>n• POl)'.ilaçio d= 5® Poulo" .J~ assimilado novos mode!os de organização das atividades
'ReciJt~àc .t'..r<J·!:.i1,,o
1l:n:idp:a1, S. P:1\Lo,Ano l\', Vol. XLVIII, , p>nómicas,c:ntra!Xlo,atrn,és de rekições diretas com o mercado
f-11tboC.c 1938,f>?. ,.56; [w:gr~® !' Cr~rim,,;lo da Pop:::!&;0 11undial,cm um processo iiu1,nso de e,.1,ansão interna do capi-
i,,> Estc,I,; de Siio P""lo, Esco'.o de Soc:ologia e Politial, S. Pa:tlo, .,l1sn10comc:da!. Certas instituições c.cooômicas, que não exis,.
19.38.
MATO$, Odil,,o Nog,.,ei::ade - ~si<>
Paulo no Sécclo XIX" ( in A Cüfadt tl"m anteriormente <)u funciowwam sob deforrnações inerentes
~ Sã" P~::ki, op. dJ.J u1 ~istema colo11íal,foram absor11i<las e s:: difundirom pelo me-
:.¼OJtSS.Ri::1,!lr1- Forss~ó Hi116ri<•d, .Ião p.,,/o (De COCl:ini<!ade
;; 110• no :imbico da economia urb,\ll0<001ercial. Essa conexão
). Soo P•clo, D'fJ~o
Mctt<'.-p:>!e Eump:!"n do livro, 2.' cd., 1970. I" le S(:r observada na c:\'J>allsâo e.lovale do Paraíba, já que a
-WíOS, J~f 1i.ui3 êos - Os Re;:d,i;c~~os P&:di!ttJs! ~ Aboliçlo,YLi--
S...
,-r,.ri•
Martins Edirura, S. P.o.ilo,1942.
St.\101\'SEN, R<>ocr10- "..\s Consoqúênóa., Eco~mic'-> ih Abollçioff, • Tral:x,11-.o ,:;;crlto pilta J. V. F:ei:,,s Marcond!Se Úffll1f Pimentel
Re~ta d,, Arq:.-foo }J;,,:ic.i:,d, Ano JV, Vol.XLVIJ, S. Pado, 1938, (1,rw.), São ]'c,,Jo: E,pmlo, Po:tJ, úmiJui,éits, São P4Ulo,Lívmfa Pio-
25i-268. "'"~ &lllou, 1968, pp. 127-151.

128 129
emancipação p<llítlc::1cum.-ertcu o, senhores rurais nwna aristo- escravos se inida coo: .\la<lim Afonso de Sous.a, em 1530; nessa
cracia agrár~a ( i!itO é, u.o e;ta.tãento sod~tl politicammte dotni• ~poca, eles vinham d() Reino, presuuüvelmeotê como p2t:te da
na.ure). i1,u;, foi na evolução <lo Ü(.-s1ep.iuE,111e da cidade <le b,:g,:ge1r.Jos "colonizadores" ( 1 ). Dada a esL.-utura da econo-
Sfo Paulo qm, cl.1 se fe-~~nt:r com parcicd,u intcnsitl:ick. O mia, porém, e ?. pohrc:za dos =radares, ,11éos fios do século
que im;,orca, cm 1ennos <lo nusso ass,ulto, é que a presem;~ <l? XVI poucos possufam =avos de origem a&k,ma, cuja capaci-
negro se a'\"olum,t,em São Paulo, dentro de mi\ contexto lUSIO- dndc de ttai:m.llioern µreu.ominaJ1te.01ente utfüz.qdaDJ~ fainas
t!CO no qu:il o, padrõc,; de <1con.o<hiçãoracial, vigentes em todo ngcícobs. Aiu<l" prt'vj;!ecin, coro pequengs cxccçôl'5, o padrão
o uamáo- oofodal brasileiro. cum~avam ,1 se torn,1r incücient;;s e de co.oJ:erfraos índio.s a obrigação ele"fe:ter os afüner:tos para
com o tempo, ill.,;iávcio. L-omer"e de "irem às rni113spara tirar ouro" l 2 ). Mesmo de-
pois de estabelet:!do .::n!"~atodireto ,·om i\.ngola, ~ indi01çõcs
As dua~ r:v.õ;;:s nu:ndonadas siinam sociologic.amenre a fornecidas pelo~ mvcntanos sugerem que até os setecentos h:i•
orn:stão. A lüst6rin t!o nem-oem São l'aulo seguiria romus bem via um,1 pr()pcrçiio de 34 cs,:ravos fudios cr.ua 1 escr.1ço afri-
div.:.rsosdos que podem ,;, notados na c:vobção da B,ahia, Pn- cano l ~ j. •
n:unbu-:oou Rio de J1i:1ciro. Sob o pano de fondo apai:ent<:1De11ll:
,miformiz:idor da cscravidãv e da implncável explornçiio e:scu- Niío obst:mte, o negro já tinha um nicho na economia
paulist:1, ocupando-se cm trabalhos reh1cionadoscom 3 lavoura
visrn, emcrgia uma realid3dc hi,;tórico-sodcl nov,1,que se rdleri-.
em toe.losos nivei~ p05s1veh: nas formas e funções d:i escrnvidiío e_<:Ollla obte,içi"í?de oum por lav.ig.:m. Assim, quando se in1en-
s1litam as baoc!eH•~de capmra de índios, nos fins do século XVI
como i.nstitui(:io ~onô:nica e social; no teor d:is n:la,õe.,entre e nos romeços do sé.:olo Ã'VII. de se incorporo ocasio:ial.memeà
scr.SOres,cscr~vos e Iibcrtos; ou no próprio destino social do sua orgaoi:mçiio;e quando se constitocm as expedições ,le maior
negro e do mufam. vulto, ele passa a ÍJl7.:r pattc de sua t.-strumra( 4 ) . Os 01orndo-
Nos li:nires da presente discussão, seria impc:lSsh<el c!cbater res de prol aül<laeram,liceral.rnentefalando, "/Jot.:nt.aJor iie arco
sequer os p.óncipais asp~-ctosdo assumo. ru.simente11<üdo.Limi- e f/.ecba'' i •}. Mas, com as Je,;çolxr.as dos minas de muco,ruani-
t3tnO-llOS à e:fJ)C1;iÇjio <lc alguos dado~ e iodi01ções :,parente• f~tan, crescente inttrL-sse e empenho na ;iquisição c'.c escravos
mC!lte e:;s:ncin:s, deix,mdo 30 leitor a tarefa eleir :tdiantc, se os afri~nc,;. De modo que é pelos fins do sécÚlo XVII que avulta
problemas debatidos desafiarem ma curío,idade. felizm;;nte, a a imf>0tcánciado negro. De UCl fa<lo,como aite{lte de trabalho
bibliogrofia à disp,:,siç,"íopermite um bom pooco de p,JJ:cida,em- nas rn1nas e□ que os paulistas mantinham o ronu:ole da e>..-,,lo-
bora esteja loJ1géde set completa. ração, possuíam :ilgwna lavra ou come.davam com gênero~ e
muare.;. De outro, como O st:bstr".110 hlllll.1DOda prooria eco-
nomfo de mineração, já que cabia ao escravo africano 'suportar
boa f~tte da ecooo:nia de subsistência, num regime de atlSência
O Negro n:; População Paulfrt: nescente cegrandes parcelas da popufaçiío niasculin2.

Os meliculos<,s e;w~ns de Lowrie, p:i,ticnbrnl.ãlte o que


ele dedicou a "O EleJJ1entuNegm na .População de São Paulo", (l) M. G<iu-
CL R. B;,stide e F. rcrunúes, pp. 1-7, e cspe,::1.Jme,ne
tomam sup-frflu,\ qualqcer incursão clemagráfica que ruio tcnh.l l2Jt, pp. ~,7 e 95-96, C. 'f,ss:,r~ <lé PJdua, 1943, pa.r,i,-::.
cm mi"' apena; suplementar ,. su• cn{<lisee os resultados a que {2) CL Ac!.JS d• Ctm.r& de Villa de Si';/Jp~r,!Q (UY6:l622, II. pp.
chegou. Kc-sta contrib\liçao. 1,-orisso, somrnie remos em mente 94 e 314. ·
situar as proporções as511mid:is,em diíerentcs époc:ts, pela par- (} l a. A. Glis Jt., 1941, p. n1.
ticipação do negro e de, mulato ntl <.ul!lposiç:foda população _ {4) G. ~•P- A. E. Ta·,n•}', 1941, p. 55}; C. füoo:ck,,vol. 2, pp.
p,iulista. ~,; C. TssSáOl<lêPi!o.iua, p, 149; R. lla,-tide e FemmdC$,Joc. cit.
Aincfa se co11hcccimuto m~l a h5e mais -anlign <la trans- (5) A. E. Tnuooy, 1929, vol. ]V, l>P- 207-210; A.\cãnttn ~íacl,Mlo,
plsnta~-ãodo negro pau São Paulo. Ao que J,X\r.:ce,o tráfíoo de p,,ssim:!1. EU.isJr., 1937, p. 55; R. C. Simo~et1, 1937, ..-ol.l, p. )};,.

130
bicio se Ul'icrte à rdtçio e.ou:e• 111ão-<ie-0bra índia e a 1 •~I e- contínuo de cresci:ncnto da C-CO:"?Omia paulista(ª). Os
africana. Os mortluorc:.sj:i o.i<>se contentavam com ,s co1a; 11< n tVO$ paro R ,quisiç:!o ele .'.!Ot-ns c:scraros num ritmo inte:o...<0
oiidais ( cm janeiro de 1701, lliUUllll pcrmiS>-10para compl'ar 11, ,,,.,,ni,sc nos [>Oucvs;por fim, rcdcfiuem-~e em funçiio de um,1
200 airicaaos po, auo; cm agosto .:e17\!6, podiam cOll\pru :no, '". ") 3. de t.-oca que t"a:Jou~,-. na lavoura, na criação e no
dos quais 200 ,e dcstin.irism à CÚl.le:ra(áo e }O à L!vow:aj, c,ó. e •1111.'rt"io_interno. ~sferas nfcLacfaspch ,,i!oCda mineração e pela
gindo provldênciis <J.t>C.lhes permillsscul nurorot.u rapió.un.::ntc e lflt'' .u;-,o «onôml.CI ~ul>!tqiiC:!llc.
a coc:ro,'OÜ3.de ori1,>C111
nfricarui. Portaoto, entre o; lins Jo ,é-
rulo XV íI e o início do iéculo XV CTI,opera-se urn:1 rransh.>r- A p,lrtÍr des,n é~-a. pode-~ 2co111panhatcom maior cópfa
oaçiio iundamcutal u.-t organà:ição do uabalbo. O íodio airufa d da.lo$ '? Sf:'Ude p:trtictp.ação do clcment<:>negro na popuk-
era o ag01te c!c tr-.1b-..1lho
praiominanr:<:. Comuóo, 110 qU:1.dro çllo d3 capn.:uu:1. /Is ínformaçó~ ;ão preclri-as, esparsas, e mc-
a:onónuco prochuido pela tnineração, pcla proóuçio de go:ixros rrttm JlO~ ~-onfr~ç,i. No entanto, dão un.a i~ia aproxin,a,la
pila <..-s<:nmoo
e pc!o comén::o nas minas, tOtJi.,•j-se neccs.ário •ln q,w teria ocorndo. 1\ truv<'.';de urn (locumeoro ele 1766
suprimir a su~ presenç,, e substitui-lu pelo negro(º). O 1n1bn:ho 111,...Séqui, a capiun.ia possuiria 58 071 mbit.nntes, dos ~
escravo indígena n:ío pos.cla coodic;ües ~ra ali.rnct,w uma inci- Ili (.22 hon,cll$ e 27 449. mulheres(•). A dístriblJÍção por cor
piente economia de trOCll cm «:>.1>an~io.Em suma, J?aTllpoderem p,x~ ser calc'.lbda g~ID1mc:1te. com b,i.c cm indÍca<:óesfor-
1irctdas por V'tlhcna ( 1 ~), ·
competir com os bra.;irosremóis ou ée Ol.tl"IIS rcgÍÕ/!$ do país,
os mor:l(lorcs braooos de São Paulo tiveram ds: o,-.:iteir ns uu- llaux,:,s · · • · · • • · · ••• , . • . . . • • • .. • . 11 098 ( ?l 'l!, )
danças de S<:11$ hábitos U'lldicioiws, permitindo ir,ch.:sivc a si:bs- I:i&os ..... , . . . . . . • . . . . . • .. . . .. . . 32 526 (629(,)
titu~o do llidio pelo negro e •~ tralliformaçõcs que da =· :--1.'Ç'OS
. . . ••. . •. . . . • •• . . • . •. •• •• . 8 987 ( 1791
)
raw, numa áre.t tl1l qual a cio~ pauimonialista e o pres-
tigio social repousavam larir,uncnce no controle de lxmdos mais Total . . . • . . ........•.•..•..• 52 611
ou menos numerosos de indígenas e de coboclos li\Té>. Nilo
obslame, o d«reto de 1758, que promulgou a liberdadedcíini- . O censo de 1797 é o prí.'.nciro que fo= incliçxõcs mais
twa dos lixlios, arruinou vru-iasfamilias paulíuas, cuja fortuna cm S<:usdados, teríamos a seguinte dis-
J•rcx1•as. B,,_1c:anJo-nos
dependia da escravaria indígena( 1). A cri!oCdo tr.tbalho indí- ulbui,ão c!aJ>O?ulação da capitania, segundo a cor e O sexo ( n):
gena, porém, ~ssumira cu,u,1 c,,tn,wrol. A lei nlw " tleternÜll3-
ra, pois procunav:1,apenas, di111inaras con&ções que a con,e:-- Jh_1p,.r:u Mu!~re.J Tot,I
úatn num ünpessc cronico. Isso não impcclia, naruralmcllle, que S.-=ccs • • . . • 42 270 470,3 89323 (}7~)
Mult.t<>S. . • • • 14 236 16 251 30487 (1996)
da! por <lianteo ccgro fosse o únioo •~nte regular .!o mb:ilho
K~ •.••• 20669 17'71 }8 640 (2496)
e;cta\-0.
Total •.• 77 17$ 8127$ 1584Xl
l:-ss.t rransfottMÇão não conJuúu a mn aUJllcnto súlito da
proporção cc negros e rnula,os Dã população. De um lado, por•
que a m:tior,3 cioscscra~-os i,egros, desde 1706, apenas rra:isitt1vu
pela c,iphania: para 20 que se destinavam à mínernção, 3 fic,rv«111 1~, Cf. S. llconiue c!c llal.iada. 19-15pp 8H,$· M ~dLt. 19.:H
(ou de\'ttian, íicu) associados ã CCODOOlia de subsistência. De "" ic,z; R. &.t:.d~ e F. fc:rnan<!c.,p~. 1j.u. '
i5.'I ' '
outtu, a decac.c:nciadas minas foi demasiado rápida para que a ( '1 OF.::io de D. Lw .l.o.tor.,ode Soc.izallotdbo Moufr.>diàgido ao
mincntçio fomentasSe, por ci,-itos clireros, algum pc:ocesso estru- 1 OYfffUilOC
1 O ·•
d, M:trlp&c
•1
no ,r,.- 10il2il,66
'
l!ped J Ri...·'-· ,·"·' • n
' ' "'-""• v,.. ~, r·
v..~to e- uu~ e à po:m!sçio m,so,li:l9
!"t.lO co:wã:, ocaçio
, lin!id•dcs. '
(6) a. R. &stidc e F. Fw,,ndcs, p. 9 e s.-:s_.;cf. ~ém M. Gou- '(IOJ 1.ui%dos Sctllo. Vi.Jle,,a, p. ;9 ( notc-,;e qoe o .-\. menciona
la."t. p;>. 126-127 e 137-l3S; Actc!.iano Lâtc, p. 74.
( (7) M,Pl>á G<tol00! 1bhiton:c, ,i. C.r,!tania ele S PauloDO Ano
{7)(;f. J. J. :',lachaclo(;C o:n..,.,a,
pp. 2J9-220; R. lla,.ê(k ~ F. 1 l>,;cu"!'-"l~sJ,;:n-o~:tu, 1901, -.. !,57. P,,. rroc.'<osõlmo,
ftmoncles. 12 e !óds. 111 , ,1 , O'i ,.,ados ~ti,u::Jtei l tcb\°'.c, -,

jJ2 lJJ
Os dados cona:rnenres aos s&ulo XIX são mais elucidativos, 11•11,.., se dissipou de mo~<>lc:nto é íueguht. Ainda a.;sím, os
emhora t;1rol'émsuie.itosa dúvidas insanáveis. Os quadros I e TI ln,l,tcs de crescimento <k:mogrÍIÍico tévdaro duas tendências fnn-
rcú11e111-as inilica..--õesfornecidas pelas fontes selecionadas ( 10). ,1 111cll12is,que 5e altcranm apenas no último qt,,<.rie!do s,,colo
Ao que parece, o lento incremento d11populat;lioprende-se t~ r tlcs:1p:irecer11m
com a dcsagregaç.íoe colapso finais do rqjlil'J
dilJculda<lesque imp!:dirrun =rií;iida superação da estagnação
eoonômiCll, subse'lüentc à crise de miner,1ção. O ouro e o co-
d, trabalho escravo. Primcim, o pat:un,u atingido pelo negro
, pc:lo mul,1Cona composl<,-ãoda popu11ciío{otnl, nos fin,; cfo sé-
mércio ele go;tlé«:,-sou de mua.rcs dei11:aram de ser o foco das • 1110 XVIII, mantém-s" d<:forma característiC>l ( de 1811 a 1R.52,
ativHa<.ks ~onúmíais, mas nli'.osuljtia 111n produto que permitisse 1•rn exemplo, rua quota de part.cip:ição oscila em torno de 47%;
expandir internamente a grencle \11vo11ra.No fim de várias tcn- r 111 1872 essa <JUOta começa a entrar <..-mdeclínio, mas era ainda
tn:ivas, p1-imeito ,, cana-dc-a;-.'icar,depois o café fo.tai:n sdecio- 11111i10alta, po:s te)>tcscntava 44% ,fa popu.la,.fo). Segundo,
na<!cs ro.:no núdt.x>sda produção ap,r,í,-iapara exporta,Jo. Ope- ~n1 ronjtt11to, o ritmo de cn:scimento global <los segmen.ns bran-
rava-se, a~sim, wna mmsformação da esrnmira econômica da. cll• •o e negro-n,ulaco da população é relativameJlle hoJT1ogeneo,
pic,rnia,qu~ iucor9orava São Pado ao próprio eixo da economia Hnire 1811 e 1872, período essencial p,tta a anáfüe de1nográfic::i
colonial. Essa ttansfotmaçifo, por omro lado, oferecia Wllà base - em seu transcorrer <.'l'>:nplctara-sea inuodução, esp9nsão e
eccnôruic:ip:ua o aUlOC!lto panl11.tioo d11população negr:1e mu- ronsolid9(io dll j\mndc lavoura acrnvista en1 S.'lo Paulo - o
lata, c!e coudiç.w cscra,--a nu livre. TodllviJl,exceptUllndo-se o e•loque bl:llnco aumemou goa.sc Óll<:o vezes. Ora, o 111e~mosu-
Vale do Pârafba, a e,pansão da fircni!e levoura foi, no iclcio, H·deu com os estoques negro e mulato, que 11u1uen1amm pouco
lenta e oscifante. Por isso, na mmsição do séclllo XVIII para mnis de cinco vv..cs, con.,-icferados ooniuntameote.
o :XIX, continua a suc~ii:o de homens JY.tta as :r.onas de mioe- Afor,, essas tendêncfas globais, seri" conveniente ressaltar
~ão ( e por outros motivos) e, de imediaw, o setor que aumenta Jllluns aspectos do crescimento demográfico que JYMeccm=is
oon1maior intensidade, em fu,-,çiío do declínio da produção aurí- ,ignifiC:1ti\·os. Assim, entre 1811 e 1836, fase imprn:taal"e por
fera, será o da populnção. e.scrava. O êirodo dos escravos p3.1"3 cnu:;:ick,s refluxos populacioMis cngen&ado,; pda crise da n,i-
São Paulo tomava-se i nevitiível e eles representavam o principal neroção ou por seus efeiros, ,1 população branca d.e São P,m!D
aumento de riq>ie?.a,q_,iea mineração legava à economia paulista. •ILmsedobrou. O mesmo ocorre com " população negro e mulata,
Não dispomos de espaço para 3.Jlalisar exaustivamente a co1:1Sidetada em conjumQ. Todavia, o aumento da;. qt.otl.s de
pari:kÍpS\20 do negro " do mulato na evolução demogdfica de negros e mulatQs H\-i-,,sfoi J><'<}t:eno
(1---oucomús de 2/3 j; foram
S--aoPaulo du~3.Jlte o século XIX. Contudo, parece óbvio que a fü estraoos escravos que sofreram uma elcvaçífo mais rápida e
integrnçlo <hiprodução agrícola paufüta à org:miznçio da ccono, rntensa ( em seus contingente!, ! elevi,çio ultr.1pa~$0U oo limi,e$
mia co!o,lial de eitportaç-ão fez com <1ue os padr&:s dcmográfu:ns a leitura c!oquad.to 11).
1h1 duplicação; a respeito, é conveJ1ie.,:,te
de São Paulo se alterassem, tendendo para o moddo típico das
"áreas economicamente desenvolvidas" da sodcdade escravista
brasi!einl. ./,- fül4do dos Neg,xio.r t!ó !J1t_oério P,;-li110So,,,.e, i!e So=, pp. l06-112
( 111,tar <z:'"'
,s difere1,ç,,.scoo, rol.lçil<> ~ 183G são dt•idas à ld qnc ct.iou d
Vários fatores, qi::enão podem ser debatidos neste cs-twio,
Província <lo Puaná, em 28/&!1853. ~ ::::bsem,,--sa doo.i;~<> cio, dados
fizeram com que essa evolução se efetuasse soo
ímpeto redwido, ,1 PL-dro Mülle:-.só (!03n:o :i coo.Ó<por cor, l~llJ\1C$: bn.noo,, menos
rendo c.omopano de fundo um estudo de marasmo t>eonômico lllt95; indi~, menos&5; m:.,la::us lí-,r,,s, m~oo 10135; muhtx1sei;cmvoi,
111c•nos 208.J; negros <.Tioulos!h-res:n:.e::ios~$8~ negros criodos esc.ra•
,,,,., "''"'"" .>332; oei:,-os oitlô!J:COS livres, 1-xnos 314; nr.gc"• awC!Ulosei•
r,J\'OS,roeaos 2 ~5?. Por ti! re \~ qt:c a ?JP1;bç:ic1,n::.,;~ ~er!odor tntre
(12) Foot.c,; princil":s: 1811, 1<<1..-trírio
d<JMini,--m, , Secretlric ã,x 18\(,-18>2, não sofreu 1-cgi:c:ssão. Ap1'.Dasfia-., csucionL--a); 11/72,R=·
J\itt,6ci01!ÚJ [$plrio. 1&70, p. 110 (dlidos atraldos de Escbw~e e a ek c,.1mcnto <k 1872, ( ir. RA,mírio , 'i'rt:htihm Estaí:slir:u ..::e, 1877. pp.
fomccidos pelo GonJe d-, B,.roi); llii} A. S..int-Hiliilie, 1. pp. 124-125; )} }8); 1886~Re1'2t,j,-iQ ,Ap!'.:sa~o cc, E,mJ,,. Sr. Pus:dent~ da Pro:hu:ia
18"/5,J. 13. vc-n Spil;:e C. F. wn Marfr..1s,L pp. 238-239; 18Jó, D. P. , e, 1888, i'· 14. Sobre: l8i9 e 182'), á. S. H. lowrie, 1938, -pp. 12-"13.
Mü,lor, Ili'• 1.54-173: 18~2, R.e!&térir.,
/Jpreienr.,:t!.r,J flJsto~b/!f4 Gerd ::11 P,r.l 1.:JOO dt::S:crimi11~mais cc:,np~elâe cdt..icatias !o~tes, d. lL &5"!id~
Se:.,und~ .Çc..ts~ d:; Péc~11.,;Qt1,'jf':1:, L~giSÜ:!u!'apdo 1Ui1;is-troe Se-:reltTio ,. I'. Fem,nc.!es,i,p. 15-16, 24-2i, }7-39.

134 IJJ
1:\2fase ,ubSceqüeatc, o mesmo fenômeno se r<:pere: entre 1836
e 1872, a populaçiú> bra11;:aariogc um aun:cr110s'llperior a 2,5, ti• p, ovínci:l ou de outras n.'gfücs do Brasil, c~m sufié~1tcs par.i
enquanto 9 populaçã.--.n~r11-ruu!ata so&e Uíllil elevação inferior 11l11nenr:u: as exigências do crescimento econômko. No fim do
m3s. de 2 e pico. Kcss.1fase, porém, a quuta de escravos sofrera t,·rceiro ,Jtlll.rtd e durante o último quanel do século .XlX, esse
am 1ncrc:meotoeleapenas 4/5. ;\ popula~o negra e mulata livre, fotor de equilíbrio <lernogr,ífa:o sofi-e uo:a :i..-pmra. As pn.-ssõcs
por sua vei, c:ume..--.t.u:a
mais de três vc'7.e:s.O Íct>-Õmenose ,li,procuri ck míio,le-<.}brarornam-se, aos x,uros, dcnmsi~do
e.,Jllicafar.iimcnie. De um hdo, pelas oportunidade,; abertas a fortes pata a rcser:va de tníío-i:!e-obcaservil e Ji.vre, incrcnce ao
tal.S elementos pd.a cconcrnia de ~uhsistência e ele criação que
l('j\ime de trabalho escravo. Abre-se, eo conseqüência, tun novo
continuava a tci: importância cm São Pa\1lo. Como os br~ncos dclo dc:mográfico, que ~e irá associar ao ttahafüo li~re e à i01i-
procurava_-i,explorru- as o;,ortunic!edes econômicas rclac:oruidas i:mção. O fenómeno só atingiria um primeiro dimru, m, último
cQm a e."Çl:msiiodll fovoura de e,tport.,ção, havia uma retração ,k-cênio do séCt.Jlo.Ccntuoo, a raziío apo:itada explica sufidente-
das relaçõescompeütivas, que fa~recia os bom.enslh•res da "po- r11cntea crise do pa<lrão demográ:ico vinculado -ao regi1T1ede
t raoo.lho escravo. O estoque rllcial h=:rnco converte-se no con-
pt~ de cot". De outro !:ido,n 01-ganização
do ttabalho escravo
1illgenre populacional que deveria fornecer o grosso da mão-d~-
exig!ll, notmaú:nence,wna massa re[atframente elevada de rra-
·<»bra.em un1 sistema de produção em que o trabalho escravo sena
ba.L~_livrebroco. Como a escrnvicão degracbva as "ocupações eliminado pelo tmbalbo liv,:e. Nesse processo, o concorrente
mecarucas" executadas pelo ugeotc servil, os vários tipos <le tra-
br:mco ameaçou tanto o age:ite negro ou mulato do trabalho
balho qu-e caíall) nessa categorfa só podialll ser realizados pelo escravo quanto o agente negro ou mulato do trabalho livre, o
liberto. De qualques maneira, a expansão do trabalho escravo
()llC esclart?Ceseu reduzido crescür:e:nto demogrMico =se pe-
acarrccava duas conseqü~n,;fas interdependentes: o aumemo <la
ríodo: uma parte consideráveldess,ipopuL1ção, que saiu do cam-
po~~~o escrava e o aumento concomitante da "população de po e deixou de concentrar-se nas cidades paulista.s(U), migrou
co1:_livre.• De 1872 a. 1886, o padrão de composição da popu- p;ira outras regiões do Pais, submergindo na economia ce
rubs-
laçao se al,era subsranc111lmente.A população branca coorinua a t:iJ'lcia ou incorporando-se ao artesaooto de economias u:banas,
a~eDtar, tece~do um acréscimo quase da ordem de 1/5. To- que pudessem reabsorvê-!os. As estatísticas de 1886 e 1890
dav1a, a populaçao negrn e m11fatapecinanece estacion:íri:a( infe- registram o sig;iificado desse processo ( ver quadro; I e IJJ).
re-se melhor a natureza do processo estendendo-se ~ an.11.iseaos Os estoq1.,es brancos co.ccorrem. então, com 68% da populaç,ío
dados fornecidos pclo censo de 1890, compcndiiidos no quadra tot~l e, enquanto a população negra e m~lara pefmanecia pra-
l!I~. -(lo mesmo. tempo, de 1872 a 1886 a população escrava ticamente estacio:iária( "), eles auoentam, entre 1872 e 1890,
dunww quase 1/ 'j.
um pouco mais de duas veres.
Portan;10,o fim do tercdro ~llllrtcl do sécolo XIX apre- A partir do últ::mo decênio do s~ulo XIX, o padrão d~n_?-
senta o carster de um marco h1st.6nco, no estudo da participação
do neg.ro e do mulato fla evoluç20 demográficade São Paulo.
Mdfico da província evolui para o:itro modelo ce composiçao
r:icialda populaçeo,con.10 s.: verifica pelo quru.~roIII ( 1~). De-
NesS<: peclodo, constaram-se três fenô1nenos dc:mográfiços oor- ,apare<'em 2.s t<.'tl~éncizs de uma alta participação ;_>ec-eotualdo
rdstos: 1) tli.ro amnento pe.rcentual ela "popuLtção livre de
cor"; 2) claro ckdínfo J.X'rcc11r-..12I
e quantfouivo da pooulaçlío
~•crava; 3} declinio sintomático da população n~ta e mui.na, {O) Cf. F. Fernandes, 1%5, aip. I; S. rL Lowrie, op. d:., P4nfo1.
~vre e e;crava, n~ c~rnposição racial da popakção. F.nt,ío, ao ( 14J A c:tisc do an~o pa6ão deücogtí.i:oooon·elaci:ic,-;c,_uun_bém,
=etnei1ro qua.-itttat'lvo da "popclação de cor" (muito leve?, i1 ruigi":!~ i:nerms da "eopuf:JÇ:iode cor.. es:~.a~ae li.!re·.. ~o.,mter:o:- e
se so coJDpara os ,!.-idosde 1872 com os i:!e 1890), passa a cor-
.responder, de fonna crc$t.--en1emente
1uaisintens..~,uma <liminuiçíio
r .Jra fon da pnw!nd.1. A~'Uns aspectos do fenomcnos~ toca..izado) P0t
,nwric (loc. ci!.), ouuos por 1'. Fcm:ir.dcs, 1%5, lu. e<.1.e 71-102.
( 15) Fomes J:>rL'lcipé~: 1890, St!:::o,l(,:;r. e &-:ado Ciril etc.. d•
cons~n~e de s~:ia contribaiçiio telati.-.a paot a co..'15ciruiçãoda }/.a;enseaá,,etlt :li de <kumb,o ,k IS/X!, 1S98, pp . .2-}; 19~;>-
I'u{'td<1Ç'ã;,
p.~açao pal,lista. Aré essa época, as migrações internas de 1?:?J,C'.om:iclDt. a. Lobo d,, S'tl,a, quodr,, 1; 1921-19.28, S. H. Lown~
mao-de-obra e.crava " de ttaha.lha<.!oresncg.os e mul:uos "livres", ,,, 12, Q,:adl'O I. e Qu,Jro Ill, p. 20; 19.;(), R.er,::s,,,,,,,-.;10J.o .Bs«;i,,
p l; 1?70, Rac-:s.;c.,;;ne,:lifi Ger::l J(i Sr;;.si1,p. 5.
1)6
I.37
11~m e do mLlli!tO na !'l()l)tl)açio tor:il e_, com elas, o equih'brio
quancitativo e o incremento bnlanccado ou com\>ensado dns cs-to- Ql.,V*:": T
qucs raciais "branco'·~ '•ne_f.ro,. e ''mulahi'. .Enquan;:o n popu- • ~1:'"" < t,~)t 111a.~ ,,nfll : ,or 1--~ a ::-,rap,-.~"'· J; ;x,>.:.,l.,,.õo,:k C;.;,if.,.-.o:"?tc~
~ P..,·o ·õ: llfl1 .t ~)'•
d:

loçíio negra e mutu,t apentlS se c!c-;-n pouco ma.is de J /l O, cntrt -


r:rns i-..<.CGAVt..:S 1·ari~L
1872 e 1890, por e.xemplo, o rnntinge::ite branco nltrapassa a
clopl:c:açíio. As evidências pel'oenma:s rcvcbm que a proporção
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f'r.,ur. .,•,.:;u,:1. .~~ ;-IÍ$:,re..
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do negro e do mdato te:!der.ií a rcddínir-sc em te.ano, einda 1::,,c,;

mai.s haixos que no pe::lcdo de transição cio trabalho escravo -


,1:-1~ lítj,.: ~- ::.21 - - - ,11:u :i>,,>
p3ra o tra..',alho livre, descendo co:,tinua:net:te de 1886 em àiom<:.
De 28% cm 1890, oscilam emre 16 e 18% na dé<:ada de 20 e
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hu-Ahi

Sr\,'llt;~
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fixam-se eo 12 e l J % nos crosos de 1940 e 19.50. Não ol:i&-


tante, os estoques r~ciai, negro e mulato crescem no decorrer
desse período, co:11 certa intmsidade. De 1.89() a 1940, w- ·---
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e.xemp\o, eles 2un1entaram pouco mni, de duas vezes; e de 1940


N4,-rt. l:77 !:EC l"' !ai i.?:i

'r rl•· ,s.,~ :-.t.f6· h,C~t !í:~L 11,~_ ... M 1»21~ :te~
~ 19.50 conha.--eram uma c!evação <le li 6, aproximadamente. Com
a intensa d;m,nuição da imigracão e com o incremento constante 1 .,_~
t,',.;.d:it
l$CSJ
_8,:..,,;
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lJ:l''
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-H!;:) ;~é
!,):.1•
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-
·1,-1;.
02:,
11s2:a~ !: ...:,
Si:.X -=->~
ilSl:t,, ~).,,
6ts migr:içéks intenu.s, princi;xiltr.cme depois de 19}0. inttodu· N,.,._ ~:,n ;.~ •1~~

i~~-
z:.:am-senovos fatores na c.omp:isiçíio demogrifi<:'1 da pop~ação M!l,1 lH~S !f!':'H l2 S!'t 11271 ia:,n u:c~
1, ..1 ~!.*
p:iulista, que de um mo<lo ou de oua:o concorreram p:ira aumentar
o ritmo de crescimento desses estoques rncia:s. Contudo, nos
f>u!"JIC::it 6H<> r.,r.
;a~
r:zs1, -
-: l-S)
- H':!:
- F2 ~:ao ,2.&1
2t~
mesmos períodos, o contingente popufacional identificado como
...,....
v.-..
:-,J.U 2,:--1.
J'i "1..
..,.,, 1111c
7*
,, n) )Hlt
'"' 1;~
;.-.:,::;; :!.-H'i

"branco" (1°) elevot:-se quase sete vezes, de l 890 a 1940; e m:iis ,..._
<'.t110U:11$

,.,,..
l,!,i<c,o, 1t.f1
;,::
J(q
~, ~.z-r.:1.l~é
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1- 1-:S
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!,=.i:r.,.
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-
de 1/4, de 1940 a 1950. Sl:-

Portanto, nordctn social compctitiv;1 vincula-se a emetgencia Tni - - ::, ,·u _!_12~1_ ~1 ..6" .:..siw- 31 "'t - 1-s:-:, Jii-'id: 13:,~3

e a oormali1~ção de um padrão c!emografico de composição racial ;;.:n;f ~%, 1c.J ~5'= - - - u,,.
J~s~~ ,~J7

cai·actcrfoóco. Há (lt.~m pense que as migrações intet-nas estejam


....
\f.lldc,._ 1H.72 ?<>To 4~J:1' ,q:..?_ l)::' :HJS l~'9

"'""' =~ yir,t ]J?C! "-IS

..
2 ::i tlU l?.l9 i% l}.;JS
conco~reodo para corrigir ht:.s efeiros, nn medida que lançam 11:1. ~~
........ .,, ,~e j,SS.:.2 1: .,z:
,
popubção paulis:a, conrim1amer.te, fortes coati11gentes popula-
cioceis em que a patticip~ção do ocgro e do mulato é mo.is ele•
\bcuo:,.
t- "'~
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~,.. .. -JI,
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Micl1·=· :-:.:--y. ::,,u: 1')1}~ :i- ◄ :-=-

(16) A g-..estõio da icler.:ífi.eoçoo:xi"1 co:1>:llw um p:-õ!,l:::n" inso• ~---< :,3::ii-" 4~~)• ··:,te:r. J.., .......
:. rf:.
h:vcl. i='..:npt:...-t~ é -;:rcivi,,.--d'.'l:!e o roc~1ngcr::.~i!e mu~tos sofre ~
t,....tr,
r,.l.a.'•"
lHl:!
1: ·..u
Xf•).."7
!t ..-,1
~'(.jj";
j,)-:.~ - - :-'1~'1 ~.--a
:-:c,;çio poffi!edvel, éiluir.ci<·,-~-= ;)() conrbgc;,tç dos branros. o::mo têm res· ~~n~ 1--I!-")I~ -1.~
,..!....._
.._ ~w}!~......!:_ez.. --~)-t-l -~"1~
( l.<rm-ie.Ro:il ômll!'al etc.). N, pcsq-.úsa fe:tn em
,_.Jtaéo os est:i:!io..<-os
..• ~~


-
- ~.,1
colabo:-;;-$·,::>
com Ko;;cc Bislide, dC'$fobf:rnCJs: que a mc;rn::1 t~&i'Xia flôSW-
~c <.rJtr3 dirccõo 1 que não tan S,;dn Jc..·k!2:na.1:e:.SS:~lub: mlLlltcs que
í-1•...,)lo
,-i.:m,~
-- -- -
-
.
-. -
-
- --
::u>'~,
lO'!'lt 1), \)

,,... - :?4il l),}I


s: idcncificaru~ (0:00 m:e,~. Essa t::t>dêr.61 pa::!XC ~ tr.t.!S fcctc com - -
rcl2:ÇP.o2cs "□·.tla!~ esaros... Mas n·::.'llC)()S, q'.te ólté c<mt:Jatoscla..."'OSº , t,.bcc.......
N.y.:~
- - - - - f-1::--:G i.,~s

- e qu: ~~rlrun passar por ...{PlrJ::os'' ô1lc.te dos pró;rtlos bwt.."'05 - ":'cu' .. • :·..i,·-; .u: ~:'\? ~•~2 :o.•:,.W
lldc«un eua pririca, 1:11....,,po, ll'lo-i,'Ospoix.l5eko.<. O roncrolc clesu ~

C\'"3$.1oé- i;npc;si;oc;. Faia u: !er fl\.':..l~ÇÕ~ g)ohai~ r:::~ath•dll'.e:1te~ri:..,_f'1.


ooasidcrar <!5 ê.4Jos 30brc ncg;os e me·
t6rils impõe se. r:<JTcoc1i.egll!otc,.
latOlitil! qu: c!~f ~etãc
rooju."lto, .ir~l.512éoas 1.H:~iO:ÇÓC'S :c>'Jlu.~.

138
139
vada, ~'Olll n:eqãênda até prc:dominance ( 11 ). Em.hora esse fenô-
meno ocorra, apa.renteruc111e ele níio atingiu proporções sufícieotcs
l,),tra alter-.ir o paddo de coroposiçfto dcrr-Ob'l'IÍÍlca que se cons-
ritciu em c-on,ex;\ocom. o advento <lo tnlhalho livte, o stuto imi-
gratól:io e <? ó.-p?JlSí!oda ordem social competitiva. Sob esse
aspcc:o, entendclll(ls que: o mais importante, seja para a análise
demog.r.ífica,s~ja para a análise sock•lóg:ca, 1wo é tanto a parti.
cipação tehcivs do 1.-egroe do mulato na popofação total Mas,
o fato vcixfa<.leirnmenteQll!-picio~ode~ses estoque:; raciais terem
rc:tdq,?irído, após um dreruárico intcrl'egno de criFe econômica
e ele 11.nomfa social, que se rcfletiNlIOnegarh•amence nos movi-
mentos àell!ográficos ca
"população de cor" ( 18 ), vitalidade de
a·escin=to demográfico n3s co~dições de existência a que se
adaptaram na sociecla~e competitiva. Sob esse ponto de vista,
.g
QOADRO II
~ Negros
Poroent>&e,.'11 ! MuL,:os, PQ: c.indiç:io social,
na populeçjio cotll) (1811 • 1886)

At10 LivTts 1 Negros e


EJcr111,-os1 Mulato,
96 1 % '!1,
1811
1813
1815
l1 24
2J
'
1 23
23
' 47
46
1
2.3 24
1819*
1 -20 r 47
--47
1829-" 3.3
1 30
18.l6
1852
1
1
. 20
19 r
27
1872 28 47
25 l1
1886 1 - 1
i.9
l4
44
24

(") Ci. Szmue.! l,L Lm•ri~, "O Ekn::enro l\e-;;tQ na Pol>Ul4-1ode S3o
Paulon, Qt>:1<l=oI, ;,. l.2 {782iJ2 <'let\tvas nuJJ14 poPlllai;io de
...
2
2)8 >23 ba:>ic:t.'ltcsJ.
;g 1 ;!;
(••) ldco,, toe. dt. r90 713 tSCt:1\'0~ llLl.f:13 1>,1J<Jl,çiode 306581 habi- "' 11 "'
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( l7) Ci. 1'. L,tlll Smicf,, e,.p. pp, 155-156. 1
(18) Omici.100$ a dE.~u:~:bdo d,~$;do ª,le/iciJ ~ro~ neste estudo;
xoCr:: o e
a.c:rut~!O perc™o!C ~ c;.ue.s::io,
:? S,f(IJ.:ogr~fi1 d. F. Fernandes*1965,
p_;,. 71-1G2,p~sriJ.rt,

140
QUADRO IV au comr-Jrio, os mcsrr:-0s pressupostos alicerçam propensões in-
Pt.-soos Pr<,senc.es,
de 10 Anos e M.sis Se;;,;ndo 2 Cor e • Posição na versas. que subestimam ou negam qmlquer influência social cons-
Orupaçi'io* ( 19.50
J 1ru Üv3 do negro. Em alguns círculos chega·s~, até, a ligar o

íooRl Emt>re-
1JJt!o,
1
1
Empre-
~dJ,re,
ümta
Próp.-14
máJ:/JTO
d,:
F-.Ili4 1
"csrndo baixo" das sociedades :úricanas à idéia de: que o negro
exerceu e continuará a exercer uma influência ddctéria sobre o.;
cosnunes e a moraEdade dos b:anros. Os resultados da anruisc
Bn.noos 1846445 146145 4(,15()2 378 22.5 sociológic.1 não satisfazem a nenhuma dessas av,tliaçõcs. Mas,
849(, 91,;w 87% 339" descortinam um quadro que ab:c ao negco um crC-dito digno de
Mufa,os 8J 3.36 1 }9{> 12586 U056 consic.lera~ãoe que revelam que sua impotruncia puramente hist6-
3.8% 0,99& 2;\'ló 3%
Negros 238169 2561 27 326 31925 ric:, transcende, de .muito, ao signifie3do que tcr:a como nuto
11% 1,6% 5,2% 79ó ageme do trabalho escravo. •
Amattlos 21120 9179 28i94 31600
1% 5,8% 5,4% 79& O negro esreve pr<:st'nte e assistiu a duas rc:voh-sções econô-
J micas na história SO<:ialdo Estado c!e São P~ulo. A primeira, já
To::tl 2 )89 070 159281 5.l0208 454806 foi mencionada acima: l\ re,'Oluç,ío agrk-ola, inerente i\ transição
1 Hl1% 1 100% 100'1& 10091,
1 para a grande lavoura e5etavista. Pouco se tem escrito o res-
fonte <!o,;dados i>rut(J5:VJ ReamM11w:!o G.-,a! do Jlras:l- 1950: Es- peito ( "). No entanto, tod.! a evolução de São Paulo teria sído
l«a-09a'e São PdUla. C,•ns.n JX:n:og,Jf~o, op. ât., p. 30. d..iversase o término da aventura aurífera encontrasse outro des ..
( ~ j l'ora,-n 01nitidls a.s , .. pOstss san dccbraçoo ele po.s~iio. fecho histórico. A riqueza acuornlad:1 pelos paulista$ objetivou-se
principalmente numa voh:mosa escravaria, que precisou ser trans-
ferida p-Jta as localidades em que residiam os sc-us senhores. Daí
as porcentagais aparentemente baixas significam muito pouco. resultou que uma lavoura de subsistência, em <.-stagrr,çãoe embri-
Coroo socedeu ~m ourros lug;u:es t países, o negro e o mularo cad,1nuJlllllosca <..,conomiade troca, apenas parch1mc.nremone-
\'encer.am a fase de J>rovação. Já se pode pr~ver, mantidas as tária, viu-se subitamente "en1iqueci<laº. Se Í0.5se oun:a a con-
at1tais conúiçõt.-se tendências Je desenvolvimento demográfico e juntul'll econômic.1 reinante cm esca.!a geral, é provável q\1e o.;
sócic>-econômico do Estado de São Paulo, que esse setor Ja po- escravos ~erii!m convertidos ao seu valor venal Nas circuns-
pulação awneotam prngTessiv,uueme. akança..'ldoum~ virnlidade tâncias rein,to!es, os s<:nhores foram predominantemente fol'Çll•
dcmogtáfica equivrucnte ( ou levemenk superior) a do estoque dos a reter suas escravarias e a ~e ddrontarem com ns dílema.s
racial .. branco''. t!C01romicos que assim se cri,war:i. Dispunham cc
uma massa
rei.ativamente f!rande de mão-de-obra _privilegiaéa e, não obstante.
os meios para ap)id-la pro<!mi,amelllc eram pouco ou neda com-
O Negro e ,i Evohtçãod,: São Paulo pensadores. Isso e,q,lic:i a r.enacic!ade com que se devotaram à
busca de utn ptoduto !!f(fÍc:ob, que J,}el't:li1i~~a introdução e a
.É t!.iiícil avaliar-se, escnuuralmente, " imponãncia do negro expansão da grande lavo11r.tno interior de São Paulo; e, também.
coroo /ator h,,m,mc na formação da ch~.ação impexante em
11osso:&tado_ A., auco-av,iliações,correntes no meio negro, in-
dicam propen$ôes bem defin:das no sentido de supcttstiITK1r a
sua influência. P,uti;ido cio pressuposto de que o negro e o mu- (19) Vcf<-sc l\. lla,ride e F. Fern,r.dcs, !'P· lS-27 (é claro que •
lato, como age11tcsdo trahallio escravo e parte fundamental da pe- int<:l'prcro,iio
d=,,ihi<[a ooüde oom o ponto de vism p:clcrid<>por outros
1 que ron\'crtcm o dcscnvolvl:nen:o
~11.1tores 2j.,'1'Íc:o[a
num p~so .lint:ar,
riferia da família Pl]rriarcaldos cstr'1tos senhoriais, praticamente que giraria ttn torno da migT?.çâO do 01f~. Pn:fcr:.:'l'Kl5 fate_-p:i?La-çâo
UL"'33
constituíam o substra:o do funcioMmearo da econom~ I? da que lc\'J r,l)') conrn as :"1n<furm:>;õe~ tk esU\:~.m & iÜ!tM:I =:itr.nioo
:;ocicdadc sob a escravidão, essas amo-avaliações :1tribucm :10 e que: mestra, de modo claro, qi;.e.::1 seleçi:, dos pTcd1,;tos~co!ss c.\.-p:0-
r:iv~s se faria nut!l&linha de aç:io«o.oôm.k:air:v:::nivae ~daptati\'a,St",b"1.lOdo
negro todo o surto de progresso e de ri<rueza. No meio Jmmco, 1"'$$ibífid,,dcs de cada t"êÍio ó• pro,;lxh).

1'12
14J
explica o desenvolvimento independente mas coocomitaote ( com balho existeme na socicd:!dc nocional, portanto d!?f>Oisdas dt-
relações diver;ss apenas em função dos produtos agrícolas expe- rodas de 1920 e 1930 ( 20 ).
rimentados ), que ela iria apresentar nas diforcntes regiões da É interess,uite notar o quanto a evolução sócio-econômiot
província. O e:templo do Oeste paulista é o mais expressivo, na de São Paulo discrepa do que ocorreu na.~ regiões do Brasil que
medida em que revefa como o aventureiro. o tropeiro, o nego- collhc=ram algum apogeu ou c-,resdmc-ntoeconômico continuo
clame 0,1 o olineOJuor poái.avam por igual na tentativa de se sob a égide do siStcmo. colnnia.l. A<1ui, o n~ro teve durante
fl."<'1l'Cm
nas lides 3gtkolas em novas ba.S<.-se de dc~rir o pro- mais de dois séculos, moa função meramente suplémeiit'1t e espe-
duto que faciJiwsse a iutegras-m ddinith,a na cconomfa agrária ci~.9a. Somente dcpoL, da crise da mineração é que :l eso:a-
exportadora.
vidão iria implancar-se nos moldes imperantes naqucla.s regiões,
.Ne.sst:mntc"to, o negn, :eve um papel histórko primordial no contc>.-t<>cm que a grat1<.h: lavnura esportadora on:n.>cia um
i em linguagem scx-iol~ica, diríamos que o csa:ivo preencheu substrato cconôm,oo, social e p<>lítico à aut2ntka tradição se-
um.1 função social construtiva, ao nívcl da diferenciação do si,;. nhorial brasileira_ Ainda assim, não se reproduiiram, aqui, várias
cema ewnômico ). R qi-rç ele estava n.a própria raiz do dilernn. das condições que cercaram esse tnUI1do senhorial Exc:cpruando-
A falta d:: documentos pessoois Dão possibilita uma análise sufi- -sc o Vale do Paraíba (' 1 ), que se manteve fiel a esse modelo,
cie.nLemc.:nrccomprobatória e condu.,tva dos faros. Todavia, po- mas era, sob tal aspecto, om apêndice sócio-cultural da zona
dc~se conjenu:;ir, com certa plai:sibilidade, que os senhores ti- fluminense e da influência da Cone. no Estado de São Paulo ( e
veram de escolhe.r, por cama recsmo da ID:lSSa de escravos rei.a- cm particular no Oeste paulist-a) a e,sccavidiio nunca passou de
tivamente alta que possuíam, entre n ação econômica criadou uma instituição e~-pecializada, que inter=ava por causa de suas
e a ~uína. Ou .su;ieravao a estag~ção econômica e rompiam. fun("Ões econômicas. Muitos iazendciros logo atinamm com o
assim, com a economia de: subsfatência; ou veriam percrer a sua teor antiet.-onôiníco do padrão tr.ididonal de orb=Í7.ação da la-
áqucza, imobilizada no ai,,cnte êc trabalho e..<cravo. Doutro fado, voura escravista e reagiram contra ele, procurando sepamr, nor-
como dispuoham desse agente, comav:JJU com o pr:inápal rcqui- malroente, o "lar" da "unidade de produção". O que se chamou
si:o ecxmô:niw para tc:ntar ~s sucessivas experiências que leva- de absentismo do grande produtor rm:al esc.ravista do interior era,
rÍ<lm à sel~iio dos prodntos-cha~-e e, por fim, à constituição de portanto, wna tentativa de reduzit ou eliroin.11os custos socia:.s
uma infra-estrutura cconôrnica que asseguraria a ímphntllçiio da da produção escravista, 1:da redução da organização da fazenda
grande lavoura exf?Oitadora no Oeste paulista. às SWIS funções produtivas. Essa ino~-..ção não chegou a univer-
A r~coluçífo burguesa; a outra revolução econômica assistida salizar-se, pois muioos fazendeiros, lllllÍS apegados à tradição se-
pelo negro, n1lo contou com sua ilillo~1 ~a fia tacltia dos ttácli-
nhorial e aristocráti.ca, eftUUpor demais ciosos d!ls p-.1d.tõe~
fatores causais. Ela se desenrolou, oos condições mais remotas cionais. Ainda assim, antes da implamação do trabalho livre, ela
e i,rimordiais, em conexão com a formação e a expans.~o da se achava muito difundida e eia explorada pelos lwradores mais
g=dc lavoura ei--portadora. Contudo, nesse processo o negro importantes. Além <lísw, a itradiação do progresso econômico
s6 teve uma imporc.-incia indireta, como agente humano do trn- sobre o ambient.e socrol também assumiu no interior de São
balho que permitiu a captação do excedente t-conômico que iria Paulo a..-pcctoo e tendências pr6prio~. Os· negros e mulatos
condicionar a constituição do complexo urbano-comercial de São "livres", especialmente, encontraram cert;ts oportunidades eco-
Paulo e dinamizar o desenvolvimento do capitalismo comercial nômicas, sociais e intdect1Jais aJ>Cllasenquanto a estmtura do
co,no reali(lade econ.ôm:C:lu)tema. Não obstante, o negro ficou sistema escravista ftlllcionou em condições de relativo equilíbrio.
à margem desse processo histórico-social, cujos heróis, no Estlldo
de São Paulo, foram o fazecdciro de café e o imiJ!rame. Também
ficou à nwrgem dos proventos dessa revolução econômica, social (20) A respeito, veja-seF. Fernandes, 1965, Vol. J, C!lps.I e II e voL
e cultural, da qual só iria tirar algum proveito de lllodo muito 11, capfrolo V.
tardio, qu.indo o cresdn:<:.nto econômico e o desenvolvimento ( 21) U1113 oosctcti,:açio da economia e do estilo de ~i<b $0<:íaldo
Vllle <lo Pru-a!ba,em fu:1çiioJos aq,eaos que faleressom • ate estudo,
industrial pass:urun a nwbilizar intensamente a reserva de tra- ci. S. J. Stdn, p,,,sw,.

144 10
145
Logo que este se rompeu e o polo de equilíbrio deslocou-se para de 1950 oftrcctm, :i esse re:;pcit(), um J?'lDOr~n.1J~solador. O
0 desen;-olvúuento <>radual
C>
do lra~lho•.I li,re - o que.•. 1
ocorreu
• ! •
,1u:1dru IV, sobre a posiçiio no QCup;çã,> segundo a cor, indica
em pleno regi.ou, cscr-açocrsta•senhoruu,como se pwe m,cra que a estrutut1 sóáo-<:eonômic.ido Esra<:.'ode São Puulo oco•
pela$ estathticãs de ~8?2 - oo n~grose !11ufatos "~vres" ú, berca, :lÍlltb hoje, ~tre111â e i11e!i:ôdve.lclesigüald,ide:uci,L
veram pela fre.ote o !Illlgran,e, melhor qualifiC100,mais cotado .Emboia o negro e o m.il.1coarareç,un em toéos os níveis e po·
e sc'topre preferido. Em conscqiiéncia, cstabel~eu-sc uma co~~ sições ocupacionais, isso se dá sem abalar nem núrigsr os pa·
lação que fez com que a imensifa:aç.ío do ~escunento <.-con6m1co drões seculares de dominação da "raça branca". Comp-.irandoos
~a,sa•se a beneficiar o branco - predonunantementc, o branco fodices desse quadro com a porcentagem do negro e do mulato
~e origem escra.1geira - e não o _negr? ou o mulau:, "livres•:- n.1 população I01'Ú (que era, cm 19.50, da ordem de 11,16%),
constata-se :1 persistência da conctntraçiio rcl,uiva da teoda, do
.
Tudo isso concorreu para qllC li suuaçao hutnana, vmculade. a
escravidão fosse muito mais duro e desumana em São -
. Paulo,
que eJll outras reglões do Pais ("'), e p:ira q~c a 1raos1çao pal'9
prestígio soci,il e do poder n-.ts inãos dos "brancos" ( ou
norias cuja posição n.1 escrutura sóci<H-cOtlÔrnica
ce
mi-
favoL-ccesua
a liberdade representasse muito !)OUCO como fonte de compen- r:ípida absorçio pefa ordem social competitiv", como ocorre com
sações sociais. os japoneses).
Esse aspec10 mcrcce ser cuidadosamente ponderado. Pode,se Apesar da extrema concentração sodul da reDda e do pres•
afinnar que o rrabalho escravo foi explorado pelos paulistas de tígio social, que torna a cstrurura ocupacional do Estado de São
modo mais eficiente e sisteJ!lát:ko. Isso não roelborou a condi- Paulo muito pouco "democrática" (ou balance:ida), o estoque
ção do seu agente de mibalho e teve conseqüências insignifi. r-Jcial branco participa das posições mais vanca.josas signific:ati-
cantes par-a o sett destino, quando re tornou "liberto" ou "ci- vameote acima das proporções com que concorre para a com-
dadão". O mundo que surgiria posteriormente, em função do posição da população total. O inverso sucede COJll referência
crescimento urhano-<oJllA...rciale industrial, não corrigirja essa à posição de empregado. O negro e o mulato, por sua vez, entram
situação; para que ele viesse a contar, parn o "negro" e o "m~- com qua.se 1.5% nesta posição; e concorrem, apeoas, com .3957
lato", era preciso que estes se tta11sfor.t:00ssemprev~meme, asst• cmpreg.idores (oo seja: 2,5% da posição), o que cestcmuoha,
milaodo atitudes e comportamentos d<>homcv1 da c,daàe da era claramente, que a tendência à sua subalceroizaçiio contínua muüo
do trabalho livre e do c:ipit:tfumo. Dal o qu2drodesolador, que forte, malgrndo a universalização cio tr:ihalho livre e a ie.'!:pa_'lsâo
ceICa a desagregação do sistema servil e a forOY.1çãoda ordem do capitalismo. Se construisscrno; uma disu-ibuiçaQ percentual
social compet:iciva. O negro e o m,1lnto, postos à margem, atra· desses dados. de modo a oocerroosa estrutura 0C1.1pacionalde
\'CSSlllll uUJ d,:ro pctlodo de Je;orgaoi:iaçiio social, ~ •pati~ ~ c,1d2grupo d-: cor, t.ufamos um quadro que ,fapens,uia maiorer.
de Jesreontlizaç.'io coletiva ( 23 ) • E os fracos índices de pat~a- comentários:
paçlío L-conôroica, social e cultunil chegam até os nossos dias, Empre- E1r.p,eza- Crn:ta Membro d,,
atestando 2s dificulcb<lescnfremadas pelo negro e pelo mulato gt:àor a'or~.r Própria Famr.i4
pa.--ase illtegr'1~m à ordem soda! com!)Ctitiva. Os dados do censo Branco, ............. 669:, 5% 16% 13%
\fulatos ...... ' ..... 76% 1% 11% 12%
~cgros ............ ' 79% 0,8% 9% 11%
(22) Pocl::-sc:1er =•
i~i• apro.ima<h co sist= de ,deçõe, lin?""
csp. II, r,a,sm,.
ranre em Si<.>Pilu!o atra"6< de R. J.hs::clee F. f c:r0;111des,
Al1Y.lte~os ........... 2}~ 10% 32% 35%

rclarionsdt>scom os rtfl~s da des::,grc:ga..--io


Outros :!Sp,:<c<><. do siste:na Esses fudices se repetem em outros níveis, que se conside-
~n:icra.La e sa:ihoriel na ·vith hunianaCo r:.egroe do mal:no. cf.. F. r<"m. Assim, a relação <leempregados com a popttlaçiio de 10 anos
Pet,úlsdes, 1965, ,-o!. I, pp. 103-190.
mnjs é de 32%, p:ua os bnincos, de 11%, parn os amarelos,
í23) a. F. F=.,ndcs. 1%5, lrx:. cit. Os proc:::= <lcs.:ritosdi7.an , de 40 e 45%, respectivame-nte, pata os 1m1lstos e os negros.
,~d,o ·li 6bdc <'.eSio Paulo, mas cettM ili~mantes ofimlanl que:,
,as coisu se pm,sara.mdo me!m<>modo cm OIJtrlS
em esetili 1,~•;':~h."Ct \ mesma relação, com referência à proporção de empregadores,
ci,bdei, CCO)O C.:emi~-ia:s,S;1ntos etc. , de 2,5%, pai·a os brancos, de 4,8%, para os amarelos, e de

l4G 147
0,6 e 0,4, respectivamente, par& o ruuloco e o neJôíro.Doutro 1mc2,soci!ll e caltul'alrncnte compensadora, se~-t ao nível d:l eco-
lado, nestes <lois serores da população se acbam J.6,5% ( quanto nomia de ~nhsistênci!l ( cnmo sucedeu em regiões rurais da Bahi.-t
aos mulatos) e 22,4% ( qmnto aos ntgros) <la mão-de-obra fomi- uu Per~ambucu. estudadas a esse respeito), seja so nível <b
nina cfasillicnda em ss:tviço,, catc;,"'Oriaque inclui as empn:gadas t·conom1a urk,a ( com<>ocorreu em cioodes corno o Recife, Sa}.
doméscicas. O total de empregos nessa categ:oria { 6i 143) repte· vndor ou mL,smoRio dt Janeiro). Em co.oseqüência, sua pce-
sellta quase 21 % da participação tornl do nc:gro e do mulato M:nçacomo agente úc preservação cultural !oi aqui menos tele-
na estrutor-a de eiuprego da população (a qual é da ordem de \•.tnt<:. As única;; csforas em (!lLC aparentá algum Êrito s:ío a do
321 505 e!:!pregos, cl. Quac!ro TV). Pode-se ter uma idéia de ío!dmc e a da rclígião. Níio ubstante, até nessas esferas a pre•
como essa situação se reflete em onrros domínios, através dos scrvação ;Wturnl ontrs se associ,iu .to cstlmulo negativo do iso-
<11idos pertinentes li iusttução. Enquanto 61 % dos brancos e bmct,to terçado, imposto e mantido ptla c:scravidiio, que: tq>re-
74% dos :urutrelos se classificam como sabendo ler, <ipe'l1!1s 43% scnta o ;,redoto de um floreKim<.:nto espontâneo, forjado através
dos mulatos e 41% dos negros se ápreseowm como tal("). O de irn:enti,•os dinâmicos de subculturas em funcionamemo inte-
pior, porém, é que somente >2% da população negra e mulata, grado ( 21 ).
entre 5 e 14 anos, se encontraria se.ido alfabetizada (""). No N'a verdade, a ptàsão as..,imilacionista da ~ociedade brasileira
mais, a distribuição das pessoas de I O anos e mais, que possuíam 5em;,re !oi pouco favotávd à reelaboração interna ele culturas
em 1950 cursos completos, revela q1.:e as des.-antagens existentes d<! minorias étnicas ou raciais, nativas ou ,migrantes. O sistema
na cstrUtura ocupacional estão presentes, com maior intensidade de controles vigente na época da escravidão impedia que o negro
rel:iúv~, oa p:i.rticipação cultural segundo n cor { 2 •): pude~se recriar, no BrasíI, as culturas transplantadas. O rumo
tomado pela escravidão e1n &io Paulo fez com que esse farot
CtJTSQsCom:l11fdos operasse, aqui, com intensidade-limite. A liberdade não alterou
EltnU/Út!f /11&/i!, Superwr fundsn1entalroente essa condição, porque o negro não conseguiu
Broncos .... ' .. ...
' 1617 436 29765} 44562 erigir-se em porta-\'OZ de uma "raça" e da "cultu.n1" correspon-
(90,2% (96,39ó) (97,89&)
dente. No momemo em que ele tentou afirmar-se, não o fez
Mul.uo.s ' ........... )1585 1659 liO
ern função do pa~sado recente ou remoto. mas ele sua situação
( 1,891>
l (0,.59ó) (0,49&)
N<gIOS ' . ' ......... 76652 1879 95 de e,dstência intoler,ívd ('"). Suas rein,-idicaçõcs asswni.tam um
(4,3%) (0,6\ló) (0,2%) tom de protesto coleüvo, mas o pcotesto não foi aceito, enten•
&naxdos ... ......
' 6572} 7(,74 674
(1)96)
dido e roornlmente compartilbado pelo ''branco": isso cxigíría
(J,6%} (2,:>%) uma transformação radical nos padrões de relação e de acomo-
Sem d<cl. cor ....•... 2142 220 28 dação raciais, o guc seria dem:ús tanto para o branco das família•
(0,19íi) (0,07%) (0,06%) tradicionais, q1:an10 para o branco imigrante.
Tows ......... 1 793 .538 309085 45529
I:ntreta!tto, é nessa etle.ra que surgiu a maior e mais ind-
100% 100% 100%
sivíl contribuição humana do negro. Pela primeira vez í e até
Pode-se coocluir que, pelo menos até o presente, o negro 01,ora n única v<·z na socic-<lat!ebrasileira), uma minoria racial
não conseguiu, no Estado de Síío Paulo, lllllll acomodação econô- elevou o claoor de sua inconformidade até os ouvidos moucos

(24) Cf. &oe,,m:men/.lJGer,d ,fo Br4S:!, 19JQ, pp. 20.2l. {27) Se.i·la Jn~e,tcs~ a: cs.t.c re!ipCito,os tttbalhos de R
..,~te C:Q(l){l:tU.r,
(25) Idem (48 (,64 indiví.!•.l(Js de :S • 14 DC0S, entre os maàto!l, e lfastide, 1.9.5!1,
<:sp. a parte sobre • m:;rumho pau!istft, com os <lê O. C.
114 412, corre os m:~:ros,declararamguc oiio sabfam lc:r), ou sei•, rcspc:c:i-
Eduor<!o.1948, e R. Ribcim, 1952.
v.mcnte. 67,5 e 68% dos respectivosgrupos). O fc::n,1m.eoo ocorrin entre {2.R) So(m: ,,... rnovin1~mos sociii:s no 0ieio negro, O?CLU$est5o cstll·
oo bt-a= numa e,c,,J.,. =~-n<nr• meoor, pois, o.s~ limitts de idJlde,
46% declaruam qü<: s:,b:am b e 5.\S'<,ir.dk:u--,mo ccna&io.
cbd:u nuoikst:,çúes qc;e ooorrcro,n na ddotle Je São Paulo (cf. F. í-cr•
1.indc& 1955. vol. 2. c.,p. IVI. Várics íorni:s ncr,ro,, [>O.téo>, fOl'A!ll
pu-
~1 cid:.1d{"S
J.~im..-ios io inicric-r.e al51,1nsfo1:.1mpirxjC1_ros
na af!rtn3çãodo
(26! Dodos ""trúdos de Rec<?rue11m:::nrn Geral do llmil, 19.50, PJ>- ''pr<rtcs1:o n:gto:\
24·2~.
das das~cs dírige11tcs e <las dítes locais. A. e-nuca inerente :i
CSlletipo de proce.to possuía um teor constru'tivo e coerente coro 1t1 (\u-sc acima do seu passado e elo seu antigo senhor ao ímro.::-
o~ requisito; morais de Ulna sociedade democrática. Contudo, .,. o dilema da igualdade .rat:.al em termos jurídico-políticos,
o desmascarnmento de mitos muito caros p11ma sociedade brasi- t~t:io-i...wnômicvse morais. Não éeixa de s~.x si:nton1~tti<:o que
hist6rica surgisse e eclodi..,seem São Paulo ( 0•).
r.-11 ncce,;si<.l.1dc
leir.i nêo se fez sem algl!!ls ressentimcntos e alta dose Je paixão. ( 1>m isso, o 1:K:gronão s-: tornou, apena,, o tcpresent,;,,te d,,s
Embor:i o neg:o e o mulato vcnre~~lll a si próptios, impondo-se mlnori.n que poderiam prme~t.ar co:im1 foiçuidade$ sociai.s: ro11-
como nmite,; o ideal t!e fraternidade e de tolcrãncfa raciais, as vcr1eu..sc na pri:mciro pan.-cfodo _povo q:,e ex½,-iu, co.cio grupo
sWL~ afirmações de solitlaricd:-.de grupal e de autodefesa coletiva
r por coma próprfa, o seu c:uínbiloe um <lesLinoa viver. ProIJÔs,
não podiam scr aceit.-ts ,en1 rce.~n'as e oposição frontal. Era um
<'m síntese, o probler,,.t', da dcriocratc:a nos seus tc:rn,os maLs r,1-
dc,;afío, que inclusive us "hr,vicos" mais esdarecido$ e toler--,üucs ,lic:iis (: pro[uudos, e1n _face<l.1 lradiçifo cultur?J dos árculos
rcpudí,ivain como um l,'Tave t'isco ("ninguém pode segurar essa ,lítigentcs. Comr:a as ideologias e as ulopi-.t.sdomi.mmtcs, que
n~•a<la", snpuuham, se negros e mulatos tomassem a si mesmos mascaram a rea.li,fac!c e prodamam ç1ua ii,•ualde<le que eão existe
<>/!()Vernodo seu dcstioo social) ( '''). Em suma, um muro in-
ou moa liberda<le que não tem conteót!u hi.stórico, clc OIJÔS
traus-ponível, comtrnklo de ~oismo, indiferença e exasperação,
11mnmensagem, em sua cssênda cristã mas :ia for.ma liberal, de
impediu qualquer comunicação entre os movimcmos de protesto
pum fé na civilização vigente. A~si~, não ~or:un os represen-
do negro e a sociedade inclusiva. Eles acabaram desaparecendo, tantes das nntig,ts dír<>.ssenl~ociaisnem os descendentes dos mi-
deixando atrás de si um novo folclore - o folclore do negro
da cidade, que pretende a "Seg,mda Abo!içiin", isto é, tornar-se gronres que tomaram a si a autêntica defosa rnílita11tcdos valores
cidadão e igoolar-!e ao branco. [unc!ameutai, d= civilização. Os q-ne a usaram, para concreti.za
a rc\·olução bul'gu~ omitiram-se diaote de: tais valores e do que
É ,ú que se acha o legado mais si1tn.ific-.1tivo do negro i\ clcs deveriam represemar pa.ra inst,uir, equitativamente, "o tra-
civilização imperante em São Paulo. O observador estranho ou
baJ.boli:m: ;:,; Pá!-riaLivn:". Foram os qu~ ficaram à rna:gem,
~uperr.ciel sente-se tentado a encontrar cm outra pane os "êxitos
esquecidos e nc~dos, que se tornaram os c:nmpeõc.s desses ~-...-
marcantes" do negro e do mulato {nas realizações, por exemplo,
!ores, ,ICa!entandoo sonho mópico de que a dviliz.ação aperfeiçoa
dos joiadotcs ele furebol, dos composícores, músicos e artistas de
rádio, televisão ou teatro}_ Essas rcali1~1ções,ú1<lependcmementc n natUieza fori.01ado homem e extirpa nele o lobo ou o cordeiro.
de sua enorme grandeza e importância, tem um significado muito
disa.11h-d,como fatores ou como meros índices de ruptura com o
passado, pois elas funcionam segundn ã '\telha fórmula da exceção BIBLIOGRAFLi\SUM..,úUA
que co.11#111111à regra. Elas não contribuem, por isso, para modi-
ficar \-clhos estereótipos racfais negativos nem para romper com 1) Fontes PrimJ,ü,s( somaue as ci::tdas no re:sto):
o padrão tradicion~l de suh:alrerrL½mção do "homem de cor" (3 6 ).
Aqttefcs movimentos possuem outro significado, porque indicam Aét,u D11úma,a da V;a,, dt São p,,,,4, (1J%-:622), 'Ptrblicaçio o.firu.l do
como e dentro de q,,e proporçõe1i, negros e mulatos ;e afümar::un ,¼chivo Municip:tl de S. Po'Jlo, D:tp!at & Cio., 19lJ.
como parr.e ele uma coletividade, e.-cigindopara si a mesma con- 1\i•qutvo do ú::ado de Sfo Pau!<,,Vol. XXXl,
l>,,c11m,r.loslr.terc,s1;11Jes,
dição !,,,mina dos homens chs c11sscs altas d.1 raça <lomin:1me. S. Paulo, 19()1.
Um povo só se identifica com certo padrão de civilização
qcanJo o põe cm práúca de forma íntegra, eguii,:tiva e intrsn-
slgente. j\,.fa]g'!'adosu2s orige:is rústicas e humildes, o nqito (31) Isso 1>:ios:enifico. qu: • "gente cr cm» ruo tenha orz:11úado o
JeU pro!l'5to em Ot!lr.l.Sregiões do V..ís. O len:'=cno foi rdstiwm:;;.1.1e
:mi-
\lb:tl llâ a,cicxfadcbr:uCcirn. A;::oias e~, Sio P•ulo. por.m, su~~ ~
,•imcntos occi:aissi:ttem3t1C'Os e ~ue dhc:cpa:nrn d:JSm.o.nifc:staçõcs
to~t-riuh3
: 2::J) E-n F. Fe.m.a;..id..-s
(tnc. cit.). enl":.,ntnm-se
aeL"'l;il-Os
a res---~i:o. 1t>1)~C'T.tSUalmcnr.c
.. L~Ç!U'!rlo os mr,r1S da 001mmlé:.& icc!~l.):1,--a
e criando
1 a r:,speiw, J. 13. Bori,= Pcrcirn (es;,. l>fl. 93-23?).
!.3(1) Co,-_,u'.tc-sc 1urifusões.p2t3 cla, que::$C
\'Í.\J {o.rç:sd, a 1·otul:U<>s,
pelos ap-arênriu,,co:no
K' fossem "ntAni-fcs.ta~ç
r(i('.::sh:~.

150
151
R,I<ii<i1i.?
Aprest,:r::da o¼ AsumbW:: G ~ra, r.,: Seg11r.!t11 Sess,o t!:: Décu!f11
º""''" LegJ.sl.'li,,,a{>tio ,\{i:1?.m, e Se-.:reJ.mo de F..Jt/SIÚ>
d-,, N~-
gócios do Im;,érió P::uii,:c ]o.ré So,:;re,de So:,z,:, Rio de Janciro,
Jl Obra. de Reconstrufiír>
1-Jim'iriu:

'fipogi:afia N•cioool, l 870. All.NEOO MARQUilS, M•ood Eufraúo nc, Apo:;ê,mentoJ HistóriLns,
GelJ2,rip!::lco.:,
Bl!!t.r.fyhir;c;;, e Notickisn;;Ja Pt(Jf,>$,:ci,;
'f:,;111r!rt:i:os de
KelaJtrio e Tr,tbdl,,,, füt&!Jtic<>s ,:1,Timo.e E,m:o. Sr. C,ms,.
.4;,1eso.i11dos SJo Pc.,do, Rio dé J•itciro, fypoi;:"t'hiA U1:J..·e-r.al de Edt.:llr<!o&
lá:irQ Dr. José &,,:te da Cuit&!1• Figtteiredo!,!ir.ú/J"ç e Sec:tetáYio Hoorique L=err, 2 ,,-.!~
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155
E1.f BUSCA DA DEtvlOCRACIA RACJAL
emJLO
<'.A VII

CitNCIA E COKSCií::NCIA

Seria injusto dizer-se <J.llC o co11becime11to crítico e.la re:ili-


d,tde rocial brnsilebt s6 foi inauguraêo com a recente expansão
das pesquisas sociais. .Enrrcunto, está fora de dC"Vidaque as
ciências soci:iis contribuítam para ampliar e aprofundar a per-
cepção objetiva dessa realidade, introduz:ndo em seu deb2te cri-
térios de avaliaçiio q,c-enão podem ser neutralizados ou contidos
pelo pensamento conservador.
Como de,,cria normalmente ocorrer em uma sociedade fun-
dada no trabalho cscnwo, as vítim35 reais da escravidão ou das
formas semili\ilés ou ( semi-escra\'95) de trabalho não pa.-tici-
pavam da dabornção e da revisão da ideo!ogia e da utopia raciais,
que se tomavam socialmente ntccss:írias. Ambas foram forjulas,
mantid2s e refinadas pela "rafe" áomhumt~, cujas elites ecooô-
roicas, culturais e políticas ditaram, como bem entenderam, como
elas devi= exprimir as relações "cristãs" e "ir1s1as"emre ~
nhores e escravos.
O dcsaparecimeoto da escraviêão concorreu, de modo pode•
roso, pata codificar as atitncles monolíticas e dgidas sobre a
estratificação racial, que se ocult:\va por baú«, do sistema se•
nhorial e escra,'Oct'ata. Primciro, porq,1e o abolicio::,ismodesen-
cadeou Uüla crítica severa da cscraviclão,como instituição social
( em todos os planos, ou seja, com referência às suas funções
econômicas, culturais e politicas). Embora os el=entos opri·
midos th-essem uma influência limitada n~ forrr~çio da contr-.l•
-ideologia e da contN-utopia ine:emes ao 2bolicionismo, este
trazia consigouma nova imagem dos motivos e das conseqüências
da estNtifica;ção racial, requerida pela eKravidão. Segundo, por-
que a desagregação das fom1as sociais escravistas liberou o negro
e o mulato do dtrulo de ferro .:!.acnnseiência !'llcial ronscrvaéora,
levando-os a idctrJficar-se, aos po:icos, com varfantcs dtsmisti-
ficadoras de c>.-plicaçãoda realidade racial brasileira. Passa.1'31ll•se

159
mais de quatro <!t'.-cadaspar.l qm: isso succdesst. Nu enunto, <)S
• • • 1 u • u
mov,tnc.:ntos socia:s co meio ne-~ro trouxe-ram, co1n a contra .. couuibui~iio c!o cicmistn soci~l p,lil o alarg!'llT.i?DIO
t o aorofun.
-ideo!og:-a e a c:ootta•utopia da Segunda Almliçífo, um autêntico da_meot?&\ c-oruciên~-1: ~ocisl <la r~lid,idc ~ni<lada; o sq;undo,
fo1 escuto P,L"a a cdiç,,o C'Qndens.1da,cm inglês. de um livro do
~mascnramemo da hipocrisia racial conservadora e uma afit-
1nat"ão pura do tadicali~modcmtx-r-.itico in1egral. .PelJlprimeira aucor ( t) e es~a · UTI)• C:1racreri:,.ição global de nossa situação
vez oa história d.o Br:asíl,a democratização das relações l'aciais de contato raoal l e ooque parece ser o seu principal pomo é.?
foi equacior>.l!Ôopelo "negro" e pclo "mula10", embon, nos limircs contrasre, <'?m rctcrê~ia ao que se pas.<a nos Estados Cnidosi.
da eficácfa e da legirimidadc da ordem social consrinúda. Ambo,;os livros suscit.:11numa rcflcxlio fundam~tal: h,i 11m pro•
/Is pesqu:sas rodais sobre as rdaçõcs raciais surgiram depois fundo e terrível hiato entre as técnicas c!e consciência social dos
desse evento, isto é, d~pois da cfcr,..cscência e do rápido amorte- problcm:is raciais br.1sileiros e :i.~ técnicas que são =prcgJ1oos
dmento subseqüente do "protesto negro,,_ Por isso, elas ga- para fazer focc ils suas conscqümcias ( e não para e11fr~1,tá-ws
nharnm uma <.vzexão ce sentido típirn: tinham, como ponto de e resolvé,lvs, pois eles c::int:nuam ignol"tdcs nesst nívd mais oom-
partida, as cl.aboraçôe$ oficieis e obnubilantes da consciência plexo de intervenç.io ). Ko primeiro plano, a ciência concor1·e
tocul conservadora, e a; el:i!>orncões mas cscfarece-
diverge11te.r para dcmonstNr a ,•alidaclc e a consistêoci.i do "protesto negro"
doras da contra-ideologia e ela oontra-utopin raciais, difuncl.idas po°'!o em evidência as contradições que existem entre as nortru1;
pda rebelião dentro da ordem dos movimentos de protesto racial. 1dtais e o compornunencoderivo na esfera das relações raciais.
Mesmo a pesquisa de campo mais neutra e estreitamente descri• No segundo p!a':o, porém, a ciência permanece igoorada: os pro•
tiva não poderia esc:ipar ao confronto de representações tão blemas mdms sao ooogelado; ou. então, se proclama que "e!cs
eJttremada..<neme antagônicas. Qualquer análise de inconsistências 11ãoexistem". Em conseqüência,o conhecimento acumulado tor-
institucionais, de iniquidades sociais fundadas na desigualdade ns-~ i~produ_ti"?·. A consciênciasocial é "esclarecida" pela in-
racial ou de dna!idaces éticas, operativas ao nível da acomodação ves_ug;içaosooolog,ca, JllJlsnem por isso ela se propõe o impe-
racial, te1i.a de Jcvar em conta as implicações desse oonfronto e rauvo de uma transformação radical da realidade.
SI:!\ significação para o componamemo coleth·o polarizado coroo Isso signific.1,na verdade, que as forçassociais empenhadas
divergente. O que é importante ressaltar é que o coodicioll:I• na democratização das estruturas raciais da sociedade brasileira
m~nto exterior expunha as pesquisas sociais aos dilemas do meio a!nda não ~ã? 1;em muito fones nem muito organizadas. .-'I
ambientc e às ?ressões alternativas das opções em presença. O snnples negl.igeooa de problemas cultocai;, étnicos e raciais numa
conhecimento do processode democruização das relações raciais sociedadenacional tão heterogênea indic-.1. que o impulso para a
inseria-se, de próprio, nas etapas hisróricas do processo, tendo preservação da desigualdade é mais poderoso que o impulso
aSlim de r~pondcr a03 requisitos intdccruais tl1llto qllllnIO nos oposto, na direção da iguuldad~ CTt:Sl=t~. ()ua.ndo a negligência
requisitos práticos da transição para uma verdedcira demoe&1cia emerge em um contexto no qual seria fácil fomenta, o trata·
racial ( 1 ). mento racional e programado dos problemas culturais, étnioos e
Aqui estão reunidos dois prefácios, que situam n in,·esti- raciais, e ero que já se poderia contar com recursos intelecrullis
gação sodológica diante dessa problemática, com (]\le nos defron- par" submeter a controle pelo menos certos fatores de margina-
tamos por causa da es,rutura e dos dinamismos da situação racial lização ou de udusão ( parcial ou total), fica patente a resis-
brasilcira. O primejro, foi escrito para o livro de Fernando Hen• tência à aceleração da mudança social progressiva. Estratos
riquc Cardoso e Octavio fa.nni l 2) ~ ressalta o significado da sociais_ fortemente idendicados com 8 prerenre es\Iutura racial
da soacdade brasileu-a estão empenhados na reprodução das desi-
gualdades raciais existentes, idencificand~se. con..sciente ou in-
(l ) P= uma anúfüc cb., a>ne.ti;es,Lu pcsqtú= reali.udllscooi os
;,ro:iessosh:scoó.-osocu:>,
vc;.."" O. Iruuú, JIJl,as e CJ,mcs SQdais no consdcntcrncnte, oom a perpetu~çãodo s/<1hts quo racial. Pondo
Draril, Rio de J•nóro, Edi:o:ú Q,~ ll..-.silón S.A., 1966, pp. 41•i2.
(2) F. H. C..rdo<oe O. Linni, Cô, ~ Mo!Jilida,!,,Soci.tem Florom6-
p_~fa.A,pcc:o, d,s rdaçõcs e-otrt ix,~ e bra.-.cosnUIM comunid:u!c do ~J,) r:. ~cm:mdcs.Tóe Negro fo Br;;;,i!~
.., Soàr-:ty, tramfa:t.cd
b;·
Pe•Jlo, Coo!~
tsrsril Mctidiooal, S->.<> Edliora Nscional, 1960. Jacquclinc D. Slciles,A. Brun='.,and Anhu- Rorhwcll, cdtteb by Pbvllis Jl.
ll,-elcth, Ncw York and Lond011, L969. .
160
151
Jhcurson. Ele aponta também ~ra ;Jtna mafo.r congrlXncia entte
o seu prestígio nã bwçn, esses estratos decidem quais são as
ci?ncia e imervenção n1cional. Impõe-se que as remie-as de inter-
pc.liticasncáouais "necessárias" e transferem a democracia racial venção raciorutl acoiupanhelJI n evolução da consc:ênda social,
para o furnro remoto. eliminando-se o ponto morto d~ neutraliza('ão prática do conhe-
Esse é o ?3ra<lo~o que não conseguimos vencer. De um cimento científico.
la.do, o poder ronservador barra, atraçés ck c:fcitos estáticos, a
Toda via, semelham e desfecho retjuer 1ll'1Íor cnvolvime:,to
~nsibilida& do sistema político diame do dilema racial. De coletivo do ('negTo!-', ~o Hlllufoto,,e do ubranco~• na conc.leo'açâo
ouiro lado, os g..--uposnfemdos - dos qu.1is n:io se podetia folar
em núnorfas, como r.os Estaéos U1,i<los- estão .iquero das de formas exU:ernosde desigu'<lldsclcracial Os homens só tr3•
rcbçõc~ de poder e do comrok eh influência polltica constru- balham po.r uma sociL-.i1c!eJemo.:mtica qW!n<lopossuem tUJl senti-
tiva, éireta ou ir1direta. A., liuhas igrnal.itánas da participaçlio mento profundo do ,,alor da democracia - não em um sentido
sócio.eco.oô01ica, cufo.u:al e política, na esfera racial, são rele- ub,;ttato, mas de modo concreto e cm roda, as dire::Õ<.-s simul-
g.i<las ao cre;cimento es;:,ontâ::,coe ao 37.at. Tem-se por certo tâneas. Uma sociedade:: cliústa produz pofüicas elitist\s e as
que efas ncsharoo vi:lgão<lo. M-as não se procura intensificar os aplica, se necess:ítio, de fOima autorit:íria ou totalidria. A de-
,.riuuos da história,'. l)e novo~ o egoísmo reaparece e Jeddc mnenciarr.cialapar<.-cc,
cm su.1ronsciêncb so,ial. comot.:ma con·
as orien.:.~ções dr comport,1mento das elites no poder, pois não trafração e um efeito retórico. Por isso a tr.u:siçiío pua uma
há :m:ita diíeença enu:e o que estamos assistindo e o que (;zeram ordem racial democtáÜCll exige uma ruptum profunda com o pas-
as mesmas elites no período final d.i <les:1~regação do regime s~do. O passado não uos ensinou a respeitar e a am~r o "negro·'
escr~vism. Em20, os destituídos não foram comcmplados n~s e o "mulato", corno nossos irmãos. Ensiron-nos o oposco. Ele
1:1mbému:io nos alertou paro os riscos do ei;d.smo, coxebido
<lik:·entcs "polítiClls" de oce)eraçiiocbs mudanças sociais, 1odiis
~o::,irui, 1-.arnos i1:tcrt-sseseconôrr.kos, culnmiis e pollticos dos e aplicado como nm c~riJo d~ vida. O par,,lelo com cs F.srados
Unidos merece um• conside.r,1,;nomais profunda. Se a i:;oss.q
est:Ntos poderoso~ e privil~i:>dos. 1
experiência humsna é realmente umais bt;;11.r.1ul, porc1ue não à
1:tpreciso imisili sç,hre es.,e pmdoxo. N:,nJ,wna democracia aprofundamos? l'<irçm: 111.'Ultemos diaate de nossos problemas
será possível se tl\'ennos uma lingu:igen, '':tbcnaº e \IM com• cnlrurais, ~lnicos e raciais uma atitude de cegtt incompreensão?
purlamenro "kchado:•, O faw de a,, pesquisas sociais avanprtll> Se fiZL-rmos o paralelo até o fün, verem~ que, no; E:i1atlos Uni-
até <IS Iro:it~.ir~.sdo clesml!SC11rnmcnto Ja n<)= "constituicão Íll· dos, houve om esfor,;o muito mais ooncrntrado e P,ig:mtesco rara
tima", com<>sociedndc nacion,il, e ru1s nossas técnicas ·sociais se equacionM e, <k111ro das con<li,~ de urna soc:<:d.adci.!ldivi-
estarem na idade dn "~-u.ltw:11 tradicio:ial" constitui um fato cho- du1lista, se resolver o "dilema nicial", Todavu, os resultados
cante. )iíuma et<l em que a a,;,aliaçiiot: o ""'' do, rcc11r:s05hu• atingido., foram mocteslOs e o contlito rac1:tlrornrn.M,co cal-
manes denm1 1-Sl salm revolucionário, JJÓS nos apegamos, obsti- canhar de ;\quiks daquela supeq,otência. O que podt.TI!OSei.-
nadaJT\e:itc, a proced:meolos ulrrap:,ss:tc.'<:is• dcstrnrivos. Como pcrar, negli~enci:mdoaté 0$ providências mais ele:n:"iltarcs e igno-
_1.,ode.mo Br:,sil entrnr oa C!ltegoria de paí.s de 100 milhões de rando o que é 6hv!o?
habirann:s:co1n uma c::;tarurarêo pequena, s<..-mmesmo contar
com um esforço o:ganiza<lo e o ic:tc-nto de possuir políticas es- Desse prismn, (: inteiramente falsa a avdiação ne2ativa da
l?ecinis, adequadas n solw;20 dos problemas culturais, émicos e contribuição dos ácn1b1,1s sociais, lJL>C ,;f.m i1>sisúntlo sobre os
raciais de Sllit popckção? f. romo esperar que a democrociã contóroos espt!ciâis ~ nosso dikma racial e clamam por provi•
rRcinlse L-Oncreti?.e, sem t:ue se criem ta!s polfricassegundo prin- ciênciaspráticas que estejam :i almra Je nossas ilusões. Tais
cípios que facilitem • cre..«:<:11.te participação econômica, sóc:io- cientistas não estão "criando o problema entre 116s",coroo fal-
o.tl.tur•l e polític,, por parte dos grupos ou categorias cultu.rsis, •amente se assoalhou. Eles apenas tcmaram equacion,u proble-
étnicos e rncfois excluídos da inl~~rnç,io nacional, t'.m virtude das mas que são cenrnri., pant o foturo do Brasil como Nação e como
fornu,s existentes de dcsigualdatle econôaúca, sócio-cultural e ,lcmottacia racial. O mal não está cm que eles tenham tido ,1
política? Por ai se vê que o p:m1doxo aponudo não envolve coragem de afrontar preconceitos arraigados. Ele procede <fo
apenascomport,1memosefetivos q:.:e honrem a nossa "lógica do indiferença com qnc os resultados de suas im-estigaçõcs foram

163
152
vei,o d" JesiF,1.,akh1c~ e t\2, cfiltrença5 Je oporrun:dade, c:ons\!-
:ecebidcs e d·,1corti11nça irra::ior,,; ,r.:m~ cre~.t inve:-os:<ín:el:J~ do passado. Em
llr'.ldas ou 1uanti,fas pelo. orJem soc\Al.hc:_r<loda
CJUC se pc.-dee."1.rair , der:oo,roci:t rru:ial é.o n,1Ja. F. muito mais rt'nseqiiê:!cis, ns ,lllçogad~-sd~ tradiçfo se fonv.itterr.. insensivel-
f~ícif.para wna :\:~o mud.êrna, $'el' a_,tidi.'IIlOCrázica que dcrnocrá- mente, cm o:)siá.:ulo~ vivos à llni;:antação da IlO\l',l m·::niali".ade,
nat. &1 toe.la ~ . pane .. uut Cl):1tC'ltto .:u.1titl~n.-«l'llticoé quas~ requerida por llill pif5 que prcteô.ti~luta.epela it1dn.,róli1.:?çâo,
s<:mprc uW;J.IC:ltena ck swple, prcscrv:içfü, o,., d.: fortalcdmento pcL\ d"1ll.ocratiza\:oo tia tique;-..a,,,. do poder e pelo progn::sso
do .sfo•:ssquo. O uiesmo ttãc su.:ed.ecom o ests.1belccim.t!!-lo <le .ncinl
urru.t~ocieds.dcc1en>úcrática.E.srareq1u:r~ cumo ~s:so prdimirHr, Esre pú!ltO pred~. scr Jevidan>entc r~alta<lo. E v.rcriro
ª.rupt:>rnoon, o µass,100,e cl•:i:10poo--cs,;odccish•o,um3 rc:volo,.-oo que se cenhaem mente que o prccor:~itu e a Ji.1crU1:,:!Ui;ÜO nfü>
~entro da Ot\~Cm ou co::tr~::t cr-d.en:,que crie padrões dccivos tleguu,1m llclll os ,;(:LI$portadores. l\~1 3S suas vítirons. Ambos
cb :'".aliaç.ãn
e _dea<;ão,le.raocrátk-os. ,\o que pa.-ere, os cientista, s~ ~~rcs::iÓe$ & mi111ein\ pela Ç11.13.l ~t 5oc:ied:U:iee a cuhura org-a•
soa.u~ l,,a_.,Jci~os ~~.r:u-naté os limires nc s1.:a re;ponsahilié.!Je nizam o comooTuunenb) dcs sercr burnan.('IS. Tntegram~~ 1 escru•
propr,ame,-:te acnutlca. O C!U<:prele11dism e p:ete;,dem é que o rural e diDamic:arrmlle, no hom<>n;ei~tdcct1>0ldv$ home!lS, de•
, ..rlOHO r,:-ob!e?J.ta esckr~ddo e res.olvid.o,~egu~oo O! cri-
•; s-e-.ja tcrnlinn...-:.do
s11as fonnes de oonc::cbera~ -pesso;~t;,~eus áirehos e
térios raciona'.! da 1,enson'.cnto científico. dever.e:;;e: sua po~içio D1 :-;(IICieb:.& em que vh;'et!l. !u c.onvicç~
rdig'mas <los"br:uxos" e e,, danc"'se:o.i larc~ elos"negros" e "mu-
latos'=, g;an:h1osa convicções éa 1T.cSina e.spl-c.ie>
criaram ambien:e
para o flore:scin:e.ntoé.e avaliaç-õ~ e:t:Joêcn.tise rnornis que CO·
locam os Jois temas ctn ,mos de di,cussi!o proib!dn. Ora,o ~ic.n-
O proc~reS$O das ci&ldX> sociai~ no Br:1silvem se refletindo ústa ~c..'Ci1ll çom o ilSSuntone:;te nh•et que ?:-tn1
n?io ~e pt<..-OCll?:?
de modo extenso e profundo no çolume e na qualidade das inves- de é c:tnocénrr:"c -...de 111/llct:ramesto d:.s coiMs, de respeito s~
...
tigações sobre relações étnic-.lSe raci,\is. Semelhante tenJêt><:faé ronv-..:uçõ~se de pn.:serv?.Çâo chl ~'paz Jon1ó1:ica •>~ C'Of'\O &fa1.1
mcito :,atura.!, pois o nos-so pafs co:1scitui. como se diz vul&>r· os CD$a!StllS braiilciros do sé.:ulo XIX. Ao proceder à an~l',c
mcorc. um cadinho de raçaY e d~ culturas. Ain<l..1. qne tais in~es• e ü caracreriztl('".lo
d:is siruaçõa, e1e nio conde.nanem o "hrar100·•
tig:açóes se r,ropunbam mó-..-cisempíricos e teóricos - até o pot ter prc.concejtos, nem o uneAroe,! por suportá•lus; ele lt\nl•
prc:,<ente,rodas das foram cmpt.:éndidas ·ww o objetivo de ~u- poucó se :nstLr-r,econtta mo!lif~t•çóes mlis ou meoos disfa,.
m-::otar nossos c-o,..ihedrc"'1tossobre as diferentes situações de
contaio lnter-étdro cu racial, c-.ira-:ter'.závcis .a~ sociedade bro-
çadas cedi,cri,-ni:uçio, 'l"c mantfan o posição ~ominanie ê<:
un1a '"1zçc.~ e a posiç1o símdric-t1rncnle subordinada àe our-u.
sileir3 - inifüetauieme elas satisfv.cm ncces~idndes práti..--ai ~
afc-ancecolctivc.\. Njngnán ignen,-1.
o quauio a heterogtnei<l:.tde
Líroita-S<:a º""'"''.como, = dad:15condições ocOrj(aciz,1çio
da ~ccicdaúe, t.ab cois.1s podem dru--se e p,,clem perperu.1r-se.
cultural e rnóJ afetou, está aier,todo e runtim:,uá " att-tar as Doutro laé<i>rxJc e,tn cvid~nci.a o que ~n.os C$tc...-eóúpos.., tl\'8,~
possibilidades de t!e;e:wolviccmo <la "civiliza(ão ocidcmal" no lia,&<, padrões de ccmport~mcmo e valores suci~is represcnUlll
Bn1SH.Sob esse aspecto> as. quesi:Õe5 pcrti.uenre;. ~ ~sunto como obstác11iosà m1x!aUÇ;1 s~,w. 1'cnbwna ordem social seria
possuem o car.ít.er de prob/ro,a ,;acion.t, o que confere às im·es• tão pc:fclia, aos ~hos dos senhores de escmvo do s6,u1o Xl.i(
tigaçõcs n:;;tlmd!lliou em curse, um in:e,=sc pr.ít:.co iniludível quanto ~ <lasncic<lade cstt~w>erata e ;cahorial bra~ikira Ja época.
O p&,lico l~l(O ncrn st:lllp.te:ttcnro, convenientemente. parti Mesmo ~ es,~ravi<lãoerl\ de.finic'.a.como um be1J1,que daria aos
a mencionad,1signil:icaçãodes,;1sinvestg.,,ões. :Estamostiio ron• c,;crnvosconforto. seif~rnnçne ircios morais. Os que se opt,s.:>r-a.ro
v~iC..os de que ";o Rrasil consl!rn: \1ma democrs.cia racial'\ que .Je..~ta\.·:JãoJ)CZlsavnm
c.:xat,;n:cnteo contr,trio e t:O..'-'iilm
em vishl
aplicamos mal lllesmo as tc-gra, éo bom sa1so na as-alio,ãorlos libertar e;,-x:ci.almentc
o bra!:!Oculto e ab:ist~.do d.is pci3S pro·
resulw!os a ql1e chcgat:1 os i11,..c.tigl1Jores. C<Jm reras ex,eçõe.< d1rLidasí)c!A
e.<.era,,jô~. O rroblernocuntinna e fOi:S!OO-O ideal

quest10nan•se --' • à 1uz ele ~.rgnrncntos que outra coisa'
os rcswtaoos brasileiroi-e uma <lerc:m.u.dasc.<:-.l1.,
ad:na mc-:--:no
,fas <life:rer~ts
coofzzcm ,enlic justificar e defender as concepções econômic;,s,. eLnicns e =,icia.:s,I: o ic'.ed e,~ elevado qt1e uina ç,:,letivics.d.:
pofü.ias e moroil' das ctJ11adas sociais lJU.: s,:roprc ti.nu:un pro-
165
164
dos países int~rados nn órbita <ln civili,z~o oci~~t":1. O que
chega a ptopot-se. Mas, p,1ta que ele se concrcti2e, toroa-se indis- (:s1ilem jogo ooo é apeoos a nossa poss!Dlhdadc ue_1mnar povo,s
pensável sabet o que o <letér:ina vida cotidiane. "rn,üs adi:mtadcs" ou seja, de reprodUZ1.r01oso reg,.,,e dei:io=-
Ai está o sencido mais profundo da contribuição positiva 1.icocom cstilO<S de viéa correlatos, tal corno de pode ser 1de:ih-
do cientista social. Ele não c-"...;Jsura
O<Sagc:nks humanos, sequer 1.adopela experiência h:stó:íca dos J)O\'OS em questão. JI,~,,_a
em teri:ios dos valon:s qu.e sexvem para ju:;tifkar suas ações. pcrspec:tí.-a de conseguirmos esse inre:ito ;ct:1 ;~n.fas c'_'i~r•_Ls.
Tenta, somente. rnostmt o grau de congruêocia t,tisleote entre D.:sse insulo, preci;a.:nos e.s.tor ••:e~ros a un•~ l:x1genccas
as açfüs e os .-alares soci,tis. i\{uiuis vcr.c-s,as omissões or.oni- io~e!ettJai.Sdjsdntas, igualmente 1mpos.1uvase croC!atsna cena
das na ohscrvâncfo dos valores são h-eqii(.•utese dau10ros~s; o histórica buslkira. Primeiro, cev~mo, conhcr-et mdhot o qu~c•
que não in:pcéc que o, agente; b.:n:anos iir-,on:m ou dissimulem cm noss.1 l:eunça sódo-cultuf'"d, é :ncomp,1tível com a conce;)Çlo
esse~"º· Analisando-se as cond:ç~ cm que isso se cLí,constata- d~mocr.ltica çs vida e com a únr,lai,ta~-ão e.lac!emocr.<cíono Brasil.
-se que os agentes atu,tm cor.victns e'.,,própria in:eg,riJade, 010- Mdt(lS siniplific= demais e,s:i quc-:;tão, pens2ntlo que o proh!cma
viCos por moti\'acões que o~liter::m o rcconhecitre.010 objetivo ce
esté :,ex; h:íbitos mando e nas perv:,tsões do uso êo poder pefo,
da verdade. Ketn po.c isso as ir.co"j\TUÊ:lc:asdeix;U!l Je ref!eth- reprcsenta:,ri:s do parrirr.on:a!ismo ~<>velho e.scilo h:~o-~r-asileito.
•se no gra,, de integra,i!o da ot,:'em social estabelecida. Con- No cnta1to, a questão é bem m.~is com?lex'1. :ó,.os háb11os e cx-
siderada:1tt~\-és d,lSformul,içõesideais., objeth.,adasculturnlmente, pcct,ti\-as d,: niandn dás a!!t~~ ..-:amariasdrnnllla.Oces corropon-
a orc!em social é uma; encarnd• <!través dos cotopoct,unentos ma- dem h,íbitn,; ele s,:borcünaclio e obcd:ência, tálllO quan!o repre-
dos iutlivíduos)o,a:s oo menos h:cn:1b'll.1\!llt0) com aquel?.S
:-1ih:-stos scn:a,õe, que legitlmam n •donlinação p,11rimoniafüta cm. terr~os
formu!a,çõesü!ea.is,a otdem ~ial é o•.itta. E.ssa sitU3.çãoexero- d.as lrarlicf~s. Ali-m Jisso com a muchinç2. rJp1d.:16 5HU:t~-ao,
. ' f t J. •"' •T
-µI.ií.ica
o que os es?eCialistas designn.mcom o tenno "inronsis- setores da popolsção - em to~as t1S cam!I.tt.tts..a [>tr.:.'1f!Q.t!
:nr1-;.1]0"S
tencia culrural". O com.,"Xlrt?.mento r',o.; in:iivíduos t o funciona- s~c1,t- não c..~garam a adqu_irirhábitos :io'<OS, fun<l.3(\oc; e:n
mento c!as instirulções não corresponde::, !Km à., deternúnações coocepçôcs r"ciona:s <llisrela~-õesent:c ll!eios e fins e nos yalm-i::s
rn.otai;, impostas cxplicicamcn:;, por oormas e valores wci,lis, aue lcgiti1nam a êominação buroc:r2tiC11.PoI1:,i.nto, o conhecs-
r.em aos r,,quisiros ide,ijs de organização c!a \'ida social, aceitos tte:Ill.o da retlidadc presente precisa $ef has!Mte e.mplo para
por axlos como 0-5 fundamentos da pt6pria ordt-m soci3l esra- ptoporcionar-005 idéias ju,ras sobre ~ pont<>Sé"lD ~e a h:r~i;tt
bdeci,~a. soci.1I tradicional se opõe, como ohst'1!:ulo cnhural, a~ t~n~eocias
Ora, está fota ..de dúvidas Quein:onsistêndes dessa nan:reza ÍS\•oril'.vcisli dem,x:r,tl~iio e J.Xl.l'<l
n:"dar-nO:! as cond.ko-:; cm
Itstringem as _;,otcncialidades Je desenvolvimento Jos su:temss que da urie111t r.cg,lli,amcrite a f3rma,:ão_c!c~ábitos 1;0,0s, ~hl-
soóús. A perpet :.:ação Jdas expr'.n:e e.;taúos de inétcia cultural, ri>.ando-usem torL"<l<las cont-e~oo; p,awrnmualist:15e11srelaçoes
que com_;,tometerna capacidade <los ~ge.ttreshumsnos n• reali- Je donúna~o-,uhordinací(o. Segl1ndn,dtv~ruos c.onoc«.r, ii;i.rnl-
>aç,ío de cerlã c-o.ocei.,çiio
ck, mun<.lc e J,1 füo;ofi,t 1-.oral corres- Mcr.te.o ci,ccle\/e~cr pre~rvado, a todo o:s,o, em ."~$a !,eran,;a
;:,oncenre. l\ilo existe c!eo:ocrachlrocial eíe.tiv:1,onc!e o imer- s15cio-.:ultural. t:Jri ("lOVO
gne c,1io111lc pro~rnmas rapto~ de CJ;.;-
cfünl,io em.re indi,id::o.s pc:knccntc:s a "raç,ts'' distintas começa <lnnca t·At:r.raj, se:rÍ oriemjÍ-los s..~undo çritérios intcligenr.c~ e
e terruiJ>a no plano da u,k-rântia conve11ci0Mli:..>1dll. Esra po<k c(ln.~tn1ÚV05, paga prc,ços cxotbi:,m:cs. _µelo pro?,~~so sc-.a~.
do ''bum tom", de Wll <.U~uti~el''cH,í.-
S{lcis.fazecis éX-:P.~ncia.~ Muitas ,;n<?s, este se fa~ao longo oe .sacrii!cios materms e mora5
ciro crisrfo" e dn n=idoc1c prftica ck "m,uuer ca<la um t.m demash\Jo ncnc,sos. tmxlozir.d<>t!e;Ol"fanR'°'-ilosoci111 pcrmsncute
seu lu.l\;1r'. Co:mido, ela não aproxima rcaltne:ue os hooens e ~clcÇâO~cgati~a· de. vafores; sociais. qce p<,deriam pre:,,:~ier
senão na base m mera cOC:<isttncia no mc,mo e.spaço social e. fu::cões criaéoras na :.--rónriarecofl":r,,ç;ío.!o sis,-:ma c,v.!illa-
onde isso chc,gaa aconrecc:, da ro:1vivência restriti..-,1,regdada - subde.en"
cotÚ. Vá:ios "pal::..:., ...
olvidos" es~~ ~ri1!1mitlo
e.!)~
por um código que con~gra a c:csigua!dade.dísfarça::do-a ,:;jus- caminho. S,'.cia impcrtante ane <>Brnsil não os mulas.se. A civt-
cificando-ancil1lll do,; princípio~ rle imcgraç&:, da ordcrn soci:tl (i7.:i,·:w ocidental é su.Ekientcmentc rk;i e plástico para perniti:'.
dem()crática. Se ii:shtimo~ neste aspecto da qucstíio é porque cle :1m1;l:tsdiferença> entre o~ sisrerr.~s ~.-1.1lt~1r31s.
~cicoois, ..que 5:
é CS$encfal,c;unuckise atenta pa::à o .:uturo do Brasil co110 p3rte omaniiam atra,;~ de seu, ,·~lorc.-s ideais básicos. Fal~'.111>-nos
e

167
JGtí
cen,1, exper::enc-,a; história;, s-:ocerf•:eis de intensificar e da, m:1s ob;oletos em mm,os dias. O jomalislà ainda se aforra a
soliêez ao desem-ok·irncntoda democraciasocial no Brasil. Entre ambições ol[m1>i..--as,da auto-mfidêncio poligriíica. E f;Ssim ~-r
eles, com=. a ausência de um senso fu::d:uncnrol de respeito à diante! A con;eoiibcia &tal é ;empre a me$:Ila. . . Estcrili-
pessoa humana e a incaoocida<lerelativa de cx:>loratco:n eficácia z:ição dos esforç~~ hem s-.ire.lido; e um cte:mo recomeçar do
os moddo; úistituóo:iâi.s de orgmização gruj)al <l,1satividades carco -<ero,por ccrnor à coh.boração, ao diálogo e ac- craball:o
humana.•. Em troca, dispomos de algumas rcaliza("Ões que me- v.:rdac!eir~ment.eimckctual. que é c.oleti.o. Após o; resultados
receio ser ~resetvacbs, por seriem p01e11cialmentepositivas a esse de i:lvestigaçõcs crnológ~ras ou _sociol~icas criteriosas, _b!storia-
respeito. Podemos incluir en:re ehs, a mlc.rãncia~on,;encionali- dores rerom~n, remas soo.re a vida socralentre os abor,gmcs, a
z.ada nas relações raclais e o nl.áli:no ::re<lutível Je sobrancerin, rolo.:lizaciíodo Bra!li etc., scgunc:o cbavõ.?s inconsistente; e dc-
que caractcri7.n a ex.pressão as.;umida p::lo indi,-ic.lualismoe pela form,iti,'.,,s. O "cm:i<.>
se" orienta " Íllte.qm,mção do, processos
~urooomia da J'>eS$oa quer em nosso !:wmemc,Jto, q,,er cm .r.os;.o econôroiro,. dL-scritoscomn for(;as <tt,tônomas e incon<licicn>1d'1S
homem rústico. Componcnces psicc,.sodais dessa e:.-p..4:ic,com sociaJme.-,tC:O crítico tr~ta d::· obus reilizadas ron.foro,e dirc-
s:.,.1s!::ases din.-imicas st'.>cio.cdturai,. merecem niío só anábes uizes cienúficas eoroo se cHs=tiss.: 1.-1J.:discurso parlame:ttac de
IJ'.laÍsprofun&is; i,.red,amos pMsar a encar,í-los com a parte poFÍ· Rui Tu:rbosa. l.rrçe~ml'llte, o ~ncióJogoou o <.tnólogoignoram
flt-,\ do n<.>ssolegado cultural. .no processo incipiente de mcder- roais c:o qce <leçerbm os resul,ados a que cbeg.,.ratnaqueles S<:lLS
r&..ção de sistema civilizat6,io brasileiro. co]er:as.1
que permit:.Tia.i-n
~stabeleccr in~erpreteçõcs n~is jncegta-
Em SUIDa, conviJá!n(}So leito! a suspender ju~amcntos cor- lÍ\',!5 c!1,srelações entre a esrnn:ma s=l e ~ ecooolll!a, o fluxo
rentes eni t,o.ssos meios letrados e a fazer uma sorte de 1-evo- histórico, a,; rerercussfü:s dos pa.-lm::s de go,m ou éc consumo
lução co;,tt.1iicn_7e em seus crité.-ios dc avalizai;iiol!ttdoctual. Ntío liccnírfo rui Ol'Mnização do púhlirn c no destêno finai <h;. prc-
devemos continu3,: provincisno;., repelir conclusões fundamen~J- ducô;:s iuLelectuais etc.
das ci:: fotos "?lir,idos atrav.:, de inquérit0s posith·os, só porqi.~ · O presente livro convida-nos a tais reflexões. A tazão disso
e!es ruio ro!ucrdc,m com estereótipos 011 com L'Ollccpçõestracl:- é simples. Ele coosxitui ~ indice :lagrante d': que cerras tcn-
crcruus arraigadas. 1:'roc,.dcndo<le:<iaforir-11, corrcm0$ o risco c'ênd<tSde produôio cirnúl.iC11oc»baram por fixar-se: cm no;,so
de considerar pc;Jeitlf uma democracforacial que aln,fa se est,I meio. Ele forç,1-rÕso pcmar na contribuição tio~cientistas sociais
fori"Cllnéoe po)m<lo. Doutr0 h•Jo, devemos principalmenre adotar cm t:..:=os t.!e;m,ceun - - de ali:o que ttm cooti11uicl'1dc, dim~';
\Jn~ novo estado Je espírito, que nus facilitea 1i1rcfade tirar pro- são e sc'!ltiJo :,róprios. 5-:us a.irore.~,que tontam entre os socio-
\-c1ro real das conuibuições intelectuais dos citntistas sociais. lo-:m,;de 1:1.iio"rs::bstà:icia científica na atuzl.ichde, nc:lc:nos dão
Me.~roo<JLX: inconam ""' defelros ou linúrao'íes, clns alargam u,;-;a aioos~a do nadrno c:-e1nibalho que ce.l<Ígu:;indo. efetiva-
nmsa cap,lC!oodP.,1.- r:-rr,·""'nrar ,1,o,m.-l,ções e. os proce$~S e.ln mente:. 11;; e~êJ1CÍ:15, e ali ámbit.ões rlos Uive:1llgaJo~ f11H"pttt.-
vida sodal organÍ7iltfa cm nosso tn.<:io. /\lfm c~so. amplhunos sucm bo.! forn;:ição espccia!izaJa. Per x~u, ttats.-se <la ~)rirncir~
L'O,sos criLé!fos c',e reconh<:cir-i.eoto objetivo elas ~,dgéncias J.i c..1xt'.:{:ndac.leflmbos na rcaliz~l(~OJe um projete comp!ct<t C:i:
situação lüstór:C~social hra::;ild.r-d.Se não ífaern:-os isso. oor- pe~quisa e na red;1ç;.iod\~uma n:onografia. Além di!:iso,a ;,:~tia
ren1os CI risco am1ct·ônicoc!c sli01e1:tarseps1"-.tçóes <.JUCmio elevem pesqu:sa foi feit1111sscondições habituais <le,,.,cru;sczde re..,1r50s,
existir c~c.Te intdcc:uais, que S(.' entendem ''especialistas.., ou
"leigo," cor.fortnc as ~--SJ>et:tiva.sde que avalic-m ~ua produção
impondc>sérias lim.i1:1çõe< .-lopcrí0clo <le permanência = carnpo
e n:i cxp'.or.1çiio
tias té.rnkas accssh'êis <le inve.:rrigação. ConJiçõc,;
e sua n:spon;2bili6de. F.11iste,abda hoje, u!:l fos.~o entre ;1n1bos, ~lcacórias côil!O e$Sa\S:1.er:;1111 irrele~-antespar,i s avali:1Ciiodgs
o qual rnnoorre para mancer i.sola.71<?nt0s
imp.roduri~ose adve.--sos 1cndêndas f1.ai<l,1111en1ais de c'.cS<.lnvolv
imento ela sociologia em
e,; funções crfa<lo=asda inteligência. O h:Ho:faêor ou o econo- centro• cíemilico; mais aveocad<.,s. E01 face ifa situac-ãobf>lsi-
mi;ta, por cxe1uplo, teimam em i!,'Dor;1ra c-outri::uição especifica lcira ~ntrel3JltO, elis possuem profunda ;:j\nificaçiio. A rw.liú
do eta6logo ou do soc:61ogo p:ua os seus e.stué~ em .reai.iz~o. disS<;é simp:es: elas revelam com d1re:.:a os ideais de rri,balho
NiSS<1, são p:,gos com a nx:smn moeda por ~te~. O crítico litc- renuta<los css~"ciús, pelos ciencisuis soci:lis br,isikiro,, encArll-
rári_oou o_ro111ancisracontinuam fa:Kioados por modelos prcé- Jóseomo verda:feiros ":niail!lo~" cm m~ detiniçiio dos ol:j~ivos
•umver5112r::osc!c t~balho, pler.gme11:e jtL~tifidRi; no pas,aéo da iu11e;1.i~.1çiiocientífica das soci:obcks hcnun~~-
168 169
rl4debr,zsi/cira.Resttiilgir~m-se oos aspectos
, . .
no sis~ma ce re-
Pode-se con.stal:tr a v<:ttciJ.:dc dcss:1conclusão, cm primeiro lações radais e ela sociedade glohal que pte=.isavrunser "coohe•
lugar. no plano celodológico. A m,moirafin de Fernando Hen- cidos". como condi,:.O oarn a escolha dos casos. )-.ús, esses
rique Ca....!oso e: Occav:o hnni scbre relações entre negros e :1six-ctÓsfonim reconstruidos e analis.!dns metodic:1me11te,,0,da
brnncos ero Flori:m6;xilis consrirui um produto marir.nal <le invcs- gnc nos limites ,le uma sundagém c,cploratúria.. Assim ;e explica
ógeção mais l!.mp!ii. F.k reúne indicações lcvauracle.sc-om o fi:o
ck selecionar as wiidadcs ddinitivas do projeto de cstt:dos. Até 0 grau de su~sso 11lainçzdo pelos a.utores em dois níveis dis-
tintos. De um lado, na oo~preensão e interpretação de certos
hoje, não se fe~ nada scrue!hantc no Brasil. M~mo os amon:s fenômenos aind,1 m:tl coohcci<los na socied<tdc brailleira - s.
• que se referem i explo=-açãode casos tipicos, em suas invc-st.i- o;trunua da t~110,nia eoloJlial; os iru1nxosc.c,s:1 economia ,,c-.s
gações, nnnca reafoarnm sondagens pí:évÍ<lssuíkientcmente npr& p·rocessos de crescimenm cconô·m.:co;as coneJ.ôes ~-tentes entte
fun&<las da re~lidade. D<iul to l<tdo,uegligcn<:i2.nlll"Ia ia:110.níincfa as bases econõrn:casdo !ti~tc:1Ua socia1 e a otgan1zaQ'iodas TL-
de 1>Ublicutrehalhc;,sque cootivessem o m,iteri,,l porventurn uti- lações raciais; M origens e us funções sociais elos em,re6tipos
liudo na seleção dos casos " qlle pcr-.ni,iss..-=apreciar os próprios C".tciais;as siLOações<le :ot.ercsse: e os v:tlorcs, ~dais ~~ pro-
etitérios de selcçio . .Em face di$so, só temos a lamentar que o-ia movem o sol:tpamento ou o reforço dos estc·r,:ó11poor:10uis etc.
n,onogta!ia 11prc-sen1e,npcnas, fatos concernentes a um doo casos De outro na maneira de dcú.oir e compreender a si mação éc
- a:ahtmemc um dos q·.tc não se tornou objeto de itwesriJlaçio ~-onrato ;m termos da tot"1idadc c!as rondíçóe$, fatoi:es e pro-
intentlva po,-cr:.or. De qualq11crmodo, porém, ichamos que efa dutos ele □n mesmo colllir.w;m hist6rico-socia1: o q,:e permitiu
oferece um bom quadro de referência P""' a aprecia,'ão dos cri- descrever os diversos :1spectosdinâmicos do sis1e,n3 de relações
ré·dos usados no levantamento pré\.·io e, principalmente,da <.."Oll- raciais, cm SU9. ior1r.:3Çâo
sistêocia dos conhecimentos de que se serviram os investil!)ldores • C:lll su:t evoluçãn,
podem sua integração
•·>--
arual e nas tendências à reintegração que ero Stl pc:rceo1rnc,
p:ira escolh~ as \lllicedcs da investigação s.istemácica. Do ponto
de vista mctodológico também mcrC<'emrealce as ditetri,..es que no presente.
/\_referida condus~o pode s:,c romprovada, por fim, no pl:ino
delo de surw; posto =
o:ientar:,,.,1 os invesrig:idore5. Aq::i, é prociso considerar o mo-
pr~!Íca e os propósitos mais gerais do
projeto global. Quanto ao modelo de suroey, des·e-5e notar o
da contribui&o 1e6cic:1tra.oii:!npor csf.2.monogratia aos esruclos
sociológicos das relac;õe., raciais 110 Brasil. Enne os sociólogos
ainda prev~lcce a suposição de que o sur,,ey se -alin:e::_ta de in-
esforço de adequar essa téCliic.:ia um conhecimento mais pene- tentos socio!?Iáficos. No entamo, os e,tu&,s dos d1se1puJosde
trante da realidade. O objetivo foi alcançado mediante a rom- P3rk e de Burgess (p?.ra só citar os que aproveitarnm e<plici-
plementaçlio da obset..,.ação in:cnsiva dos aspectos da sirua('iio, tamente as perspectivas abertas pela cicntifi1.ação co sun;ey).
que interes;avan à so:1dagem, pelos resultados de questionários dernonstr-amque essa técnica pode ser associada " intuitos te6ricos
e da reconsuu,ão nisrórica. Quanto aos iuopósitos gerais do variá,·eis. No t.robalhocm aprceo, há dois pontos a oonsiJerar-;,:,
projete>,i'arece-nos rica <le c,mseqüências metodológicas • diretriz
"teórica". Cm deles é ?3cifü:o: no caso,
de efetiva signiF.c:;,,;-:k,
e.'<ploradapclos a\1torc~de con..liecero "passado" pelo "presen:i:". o lcvant.amctto se prende a uma lk.;iuagem empírica de definição
Os car:lCtcrcs das C(lmu.nidadesinvestigadas traduzem diferentes dos problemas teóricos. Em outras pakvras, Í$SO quer dizer c;u~
cst:ígios de dife.-enciaçiío e rcinte~ração da ;odcd:1de l--,rasileir;;e,
e, mrvey representa um insuumenco da teoria, fornece::do ii inte•
po: ron.,cguiute, do sistema de relações sociais no ll=il. A for-
li!lêncill, a) critérios ercpíricos rigorosos de ~rc!)Osiçãol)as )iipó•
mulaç.iíoe o apr<:m:itamentodessa idéia abre novas perspectivas
quer aos estudos de c-.iso,quer à elaboraçoo comparativa dos re- teses; b) U1eiosrudimentares de cxunprovac;-.to da pfous1bilKlade
e da consis1ênéaempíricas das hipótese< aveniadss. O c,utrn
sulc,,dos que se ronsig-am obter através deles. ponto não é tão p&Hico. :n>L<p,1,rcce i~rocnte rde,;ant~; M
A n:l'SillO roncl\lsão pode ser corroborllcb pelas implic,11;õcs
e concribuiçôes da monografia no plano estritameme emp!rieo. evidências empírica.,acumcla.das, que permuffi' d~ 7..,·er~ nltc~-
A signlScaçãodo preparo cspccit1w.1doaqui se rcvel,1plcn:unente. pretar os procl-SSOS csroclados, são. n-al.'Jralmente cte1s a .'!'.;~tt-
gações ulieriorcs, de teor comparat1vo. O fato dessas ey1vcllC\3S
O, autor,-s t\-i:ntam a p!"Cten:siiode reconstruir e de explicar serem obtidos e cor.ipro,•adas arra,és dos r<-corsosfornecidos ;>elo
ºtudo". a çua1 tramt,Hl.1.~cc,desordem:,damentc~cm quase todas as
lcvrun,1mentol.:).1)!oratór'néeixa d.e ser impcrtame, paSS<1ndo j)<-t:l
precedentes de ar.áli.;e hi.stúrico-socio1,,cl(icada ,~ali-
te:Hati-..-a.s
171
170
primeiro plano as. sugestões, rondusõe, ou hipóteses que cons-
tt~am o saldo positl~-., da contrihui,;-lo teórica e.pecilica do ptó-
p~10 ;c\'an~o:cmu. r; certo que, de roooo ~erol, esse ~specto da Já ~e r.omou um hisar comum q\tc o l\rasil é "um c.::dioho
conm:b::,ç:10de :m:.asoncfagemde,·e se.r viHo com ~servas. Não de roças e de culturas". No en:llnto, ainda não ,e focalizou devi•
~cvcmos íg_oora.r, tods_v~, que uesto mo11ogi:afia ela cobre una damente as várias fot-et,i~ desse c:ac.li.nho,q ae está longe c!e ier
arca da soc,c~•~ brasileira quase i.ne.xplol'.ll<la
pelos e!'J'lecialistas. concluído suas íunç&--s c.tldca<lorase que oper;, cc forma peculiar
Em coc,sequ,:nca, confere-nos a possibilidade de sabe.: se certas em c:aca regtio do País.
explka,;;ões,obtidas no estudo de outras situa,;ões de contato no Kesr.e l:vro, síio relatadas as tdncipais conclusões ele uma
Brasil, são válidas para a zona 1:1ecidionalcb rocie<ladebrasileira. investlgação sociológica, q1.1e101,ou por objeto n silua.çio de con-
•\cresce qu(; as explanacões apresentadas suscitam, aqui ou ali, tato entre negros e brancos 1:a cidade de São Paulo. A cidade
pistas no~s e a for1;1ulaÇ_ã? de hipóteses digoas de consideração, considerada não é import,1mc por seta passado sob o regime servil.
~mo o le11~rpodera venf,car facilmente, n-1spassagens relativas M:tS, por sua posição na emergência tia c:vilização urbano-inc!us-
ª.' vmc:ulaçoesentre a organttação ecoaômica da sociedade e o ttial no Brasil e por seu fum:o, pois é a única meu-ópale bra-
~l•t_~ª de ?j\!s-«1~1119s raciais ou às funções dos estereótipos sileira que conh\ eom um bcc/:grQ!md cror.õmico,;ççial e cultural
em succss~vXJseo-ntextos hiscórico-sociais.. No conjunto,
rac_1a.is capaz de dinat.:1iz.u o fo:1cionamemo e a expansão da sociedade
pol~, a _monografiaalarga as nOS$aSpossibilidades de aplicar, de classes.
soc1ologicammu,,as bases e os produtos s6cio-d:nilmicosdas re- Sob esse asoecto, ela ê úp;.ca para o estudo das relações
lações raciais na sociedade brasileira. raciais em u·:rmos·do que se vem chamando de "Bra1ilmoderno"~
As !lle~onadas qualidades da presente contribuição indicam Nda, o negro e o mulato não e11ronr;aram, desde a desagregação
9-ue o aenttsta social brasileiro já /em u:n padrão de nnbalho do regime servil, nem o refúgio proporcionado pela eco))Omia de
tntelect'.'al ; qoe ~ _capaz de aplicá-lo segundo os critérios do subsist&ncia ( qoe nivela "braocos" e "negros" r.o mundo rústico,
saber oenttfico-positl.-o. lsso parece ser da maior importância parcialmente excluído da ordem. '.egal e polltica inerente à socie-
par~. nós, porq13eo processo de desenvolvimento cbs ciências dade nacional), nem as arr.bigüidac!es do pate;-nalisrc.o ttadicio•
socw~ no Brasil_pode ser sumariamente desuito, no que ele nalista ( persisteme de modo ,...,_riável
mesmo em cidades grandcs,
pôSSUlde cBCnctal, através de tr.s gerJçóes, que se ocham w, nas q,:ais o legado do mundo co~nial luso,brasildropos$Uaalgu-
contato e em cofo6?raçiio_na vida acadêmica. O faro dos repre- ma vigência). Viram-se diante do branro sob o peso total das
sentsntes da gc:açaQ mais oova demorutr:irem domínio seguro ex.igên<:iasda "sociedade competitiva", L-om as desvantagens
de seu cacpo - com as técnicas de i,westig,ição e os problemas oriund11sde sua falta de socializaçãop:ira o trabalho livr., a eco-
conesJJOn~entes- constimi sigo au!picioro, que nos fai: confiar nomia de mctClldoe o csúlo de vid11urbar.o, roais ,\s limitaçúes
~o pr°lª1'esso lluiênttco_das ciências sociais em nossas instituições nascidas de arrni"adas a,-a!i2Ções restritivas ou negati,,as, res-
ce e!lsmo ou <le pesqrnsa. Eles não incorrem nas mesmas limi- ponsáveis por di~rsas modruidades de prcco;:iceitoou de eis-
ta(~ dos lllCJnbrosd,1s duns gcraç&.--spioneiras, mais ou menos criminação t:aeiais (fundadas na C(lr) e por sua ro1u,cqiientc
s~cados pelas conti nJlênciasseja 6 :mprn~;sação, seja da pre- marginalização na ordem sociMco:npctiúva.
c-ar1e<l.1dedas condições de rrnball-.o cicnnfico orS?:Jnizado. Podem
tirar tuaior pr~eiro
·11 ·1
ce"'"' encrj:Ías intelectu,6 e de sua CI""· Portanto, as razões que a toc-:::<!matípica e singular, 00 ce-
c1<.:
ace c.t·•ac.o.rn,
J_
torri:anoo-seass1
• •
m mats.ª?tos para uromover a
,. ..
názio l.üst6!ico brasikiro, indicãi'á~d<:omoa cidadena q\llll se
expansão das ciênci.1s sociais nas trê., esferas corrdata~ do ensino. pode e se <leve buscar respostas ao que o presente e o futuro
da pesquisa e da
teo.ti~. Os dois ,mtorcs deste livro, pdo <1ué reservam ao destino social e numano do negro, r.a CJ'a da civili-
zação u:bano-indusrrial. P!'imdi:o, ela 11c~ revela_ com toda a
podem~ presumir, terao com roda a cerw:a um:a. participação
ro~trut1va e m.1.t01nre nesses desenvo 1vimentos, que nos coln- durcza e curo toda a clareza, que a re·c~ução burpesi: Íoi uma
carao entr~ ?Sgr,10des centr<1sde investir,ação ciennfica d01'fenô- convul.~o que ,apenas rocou nas b:3seseconômicas, soci2is e c1.1l-
menos ~octatS. towis do mundo dos brancos. O negro e o mulnm {icarmn à
~..., 1'«1!0. 12 de d=bro ti~ 1939 margem dos aconteci1:1cntos históricos e <los processos !;(>cinis

172 17}
que a engei1d.raum. S::gw1do,a cidade também mostra que o 4uer maneil'a, rodos sofrem, 110 plwo <l.t ~~ns~iêncin social _da
uegm e o mulat0 somente entrara..'Dno c.,kulo polilicu dos bran• sim.ação e no do comportan:u:Dl0, a, co.osequ.:ncillS de um ~~o
cos cnqllrulto a escnwidiio co:itava como obstáculo histórico à ponto de pgrtida, do farisafsmo do branco e _Jas.11JT1bivalenc1as
re..-oluç:ã<:>
burguesa. D:sai;rega<lo o regime ser.vil e pulverizada ou indecisões que as frustrações rcsultanks msttlam tanto no
a urgani7.>1çiio do trnbalho escravo, ambos deixaram de ser rck- füúmo <lo "negro c:onfotmista" e do "negro uânsfuga", qu~n~o
v,1ntcs cou10 fonte de mãCH.!e-<Jbra, pois o imigraJitc passou a no ânimo Jo "novo ner,rn". O protesto l!egro, qu;; exp.tllllJ\J
contar corno o demento central da r.eestrutu!'>lçfodo sis1ema de o dltna:i: <le sua capacidade de preocupar-se e de lutar pefa Se-
l'ela~-õc:sele prndução. Forjou-se, assim, um paradoxo. A socic. g,mdo. Abolição, aiirmou-$e como um protesto c)entro da ord~,
d,1de:de dasS<.-s herdou os raúrücs de .te.lações.raciais, ehborarlos como se uma minoria im;rotente 1x1desseoondn1.n uma rc.-voluçao
sob a escravidão, e m,um:,ve as principais iniquidades que pesa• através e.la mudan~1 das leis e dos costuoies. f.lc possui um
vara sobre os "libertos" na ordem i;ocial c::;.o:ravocraoi e senhorial. cuumie valor, como marco his16úco e como evidência do púdér
).!5::> obstante, os n,:gros e wu1uos pouco ou quase n,1<laconse- assim.ilaciuoista da sociL-éadeinclusiva. Mas, deixa patente que,
guira:n fa.ccr pam alterar o terrível Cllr-so da história, j,í que n:io mantidas a.~ atuais condições econômicas, sociais e polícicas, o
pos.suín.mcondições econômicas, $0Ciais e e<luc.,cionais para en- alrruí.~mo, a nobreza e a ck,,1ção dos mo,,ime11tos sociais do
frcnt:'lr vintajosamemc o período ele trnnsiçfo, nem <lisptml.r.1m meio ne<.;:ronão põem em questao ~ as ,... · "d os bran cosou
miusuç«s
éc meios culn.Jrais e polílicos par.a se proce.gercnida caoístrofe da ordem social existente, pmqce o protesto arnbou se transfor-
que se -abaku sobre o ,m,io negro. ' mando num valor em si mesmo, como se o ::1cgrotomas,;e a $Í_
Os seis capilulos, que compõem este livro, retratam os Jj. a tarefa his16rica de exibir UJTl<l integridade que os brancos não
vcrsos aspecros da situ~çãu 1,:stórico-social, que se criou sob 0 possuem na aulo-ide<llilicação com 11, ,•alorc:s fundamentais dn
signo da revolt:ção burguesa e da consolidaçíioda ordem social civili2ação vigente.
competitiva. i\"os dois extremos, cstiío as páginas mais tristes: Se a sociedade brllsileira fosse menos indiferente à "qu<?Stãu
da v_erdadeiraruína rua:erial e moral, que era a "vida elo n~-gro" racial", o protesto negro provoca.tiaprofonOjlco01oçãonacional.
na c~d~de, du~autc o primcir.o quartel do século XX; e se adi.aro Ao se pôr t:lD caus.\ e ao exigir dos bl'llncos o seu quinl~ de
,is p,iglllits mms esperançosas: e.lolaborioso e discutível b'.ito das
liberdaLle e <le igualdade efetivas na ordem estabeleoda, o
pequenas "éli!es de cor", constituídas sob a importância cres- "negro" tomou a si o papel eleft,tladino e.latlemocmcia, num País
ceme dos migran1cs nacioruús nos último,; surtos industtfais. No cm que as elir.-s1radicionais e as novas classes em ascensão preo-
ronjunco, o livro dé.monsrra que o branco não tem consciénda cupávam-se e lutavam pelo poder político ou pelo poder econó-
clar.1 da situação racial imperante na cicL:de. Mascara 3 reali- mico, sem se importuem com as ddorlllllções do regime rep:1-
cfade, porque Jlfo se sente p:cjudicado ou ameacado direta ou blicmo e com a crfaçiio de um verdadeiro estilo democrático de
indiretamente, pela presença de pouco mais de ÍO<;;/de negros vida. Assumia os riscos de co.nst.tuitwna contra-ideologia que
e mulatos na população global. .Entretém os C!lj\ll.llOS e o fari- o afírolllva, histor-icamente, através daquilo que nega,·a, con\'el'-
saísmo da ideologia e da 1->topiaraciais, construidas no pass.-u.lo tcndo-se numa espécie de mperb,c.m·o e num campeão ingênuo
e so!> a égide da escravidão, como se fosse possível combinar o mas íntegro da própri;i ordem ~ocial que deveria aucar e c.les-
"espírito a:istão" com a Í!,'110.l'ânda da ressoa, dos interesses e d<>S uuir. Portanto, ví1ima de duas cxpoliações lctuéis - a que se
'-'ªl<'fes do "outro". Apega-se e mantém, assim, o preco,u:eito estabelecera pela escraviclio e • ciue resultara do modo pelo
de niio ter prccorn:ei!o, limitando-se a tr:ttar o "negro" com to)e. qual se coocretízaro a abolição - o "negro" não se insurge co?'..ra
rância, carr.erendo o velho cerimoni~I de polidez nas relações entre a ordem existente oem se volta contra os brancos. Ao contra.no,
"ressoas cetaÇIS diferences" e a:dL1indn dessa tole.âocia qual- p~e-se defendei:-, p(Jra si e para os outros, os valores ideais
9ver s,:ntido ou cooteúdo propriamente igualitário. O fü-ro tam- dessa ordem social1 embora eles nlio tivcs_semvigência 5<_'fliiopara
,; • ,._
bém sugere que síío vário.; os caminhos que levnm o "~ro" a os branros das clDsses dominantes ou em n=nsíio soe10-cconu-
se ver em fu.r.ç1io d.t i•iugê!lldo ''homem de cor", que o branco mica.
coostrói e mar.ipula ~-um a maior cksenvohnrn. Uns sucumbem O livro funda-se em dados colhidos pacientemente, c1qntt·
a ess.1$i11íh:êndasreati,•as, outros reagem conm1 ela. De qual- gados e critic.!<los <le !llilneira cuidadosa. Portanto, os relatos
l74
!i5
se basci~m em conclmõe,; 4nc se alicerçam ew ohserv3çõcs obje- 11egron-ão apen,1scomo um ser h:imano, in abs!1aJ.o"cm tcnnos
tivas e que poécm ~• a:>mprovadas por outros bvesrig.ulorcs ( 4 ). de contato cacegórico, m,\s como alfluém igual a si mesmo sob
i\"ão obmintc, cm ~nhum mowemo da pe,;quisa, <lac:Lssificação {O<losos aspectos e cm todas as circunsrâncias, e aprender o que
e imcrpretação dos dados ou m;;smo da e.,posiç.ío o auror pR~ livros comÕ este podem ensinar sobre tal assunto, o Tlr:i.siJse
Lenden ser "n~inro". Não há neutralidade possive! <liamede tal converterá raoicla'1!cmc:num.i l\~.rtuío,t democrac:a rtcial.
t<:alidade. Pode-se, como p,ulc do treino cicmífico, apreo<ler-sc É prov:ivcl que o insmureção d,, uma dcmocrac~ rscísl
a ser obj::tivo. Contudo, se a <.iéncia no., cou<luzisscà in<lifo- autênúca seja mais fácil no Brasil que nus E.stados Umdos ou
reoça di~ntc oos valores iundamcnta.is da civil.izacão, das mani- Ih\ África do Sul Por e<A'eIDplc. Existem na si=ção racial bm-
' - fo,_•o.r~hrei~
~ileira }'M)ff':nrialielstrtPS ~ un1.~ttr--.iru:içiojXICÍf ;<:~ e mAf_s
-
[c,tnçõc, violenta~ vu pi1dfka, do etnoccnttismo e do pre<.-on-
ceito racial, ou dos efeitos <lt qualquer tipo de discriminação, ou menos rápida nessa direção. Tudo \•ai depender das oportW11-
=
ela não merc-<:cria cultivada nem poderia fornecer a ünica vw.
que ainda llOSresta, para a reconstrução das ba$es morais da vida
dades de igualdade E?Ctmômica, ~ocial e cducacio!':;t\que forem
conferidas aos "nc:gros". No emanto, ao contrário do que se
hwnana em nossa era. A investigação ajudou-nos a COIDpreendet cosrun}jl pensar na !;()Ciedadebrasileira também eJtisLempoten-
a propalad:1 "democraci,t racial brasileira" como parre de tima cialidades clesf~orá\'eis a esse desfecho, em si n1esmo o útúco
complicada situação econômica e sócio-cultural, que expõe o desejifrel. Essas potencialidades aparecem tanto na perple.,cidad::
branco a procurar subcerhígios e disfarces à sua impotência para e na frustração <loelemento hu:na:io mais inreressado - o negro
docar a sociedade brasileira de condições reais de eqüidade social, e o mulato - quanto na completa indiferença e na omissão crô-
em todos os níveis das rebções hun,anas. Doutro lado, ela tam- niai do branco. E são agravadas pcla atuação de dois O-.>ttosfa-
toi:es, q\1e começam agora a ser mel_borconhec:dos. Primeiro,
bém fortaleceu a ao~a coo~·icção de que o cientista social preen-
che papéis intelectuais altao:ente construtivos, ao elevar à esfera
o regime ~e classes absorveu e _connn~~'1 absory~r estrutu:as
sociais arcaicas na esfera das relaçoes rnc1a1s,ncccssanas no antigo
de consciência soéal aspectos da vida cm sociedade que não são
mundo social da sociedade escravista. A economia de mercado,
devidamente percebidos e cxplicaoos pclos agentes humanos. Ao
o wbalho livre e a modetoização institucioMI não eliminaram,
desempenhar essa fuoção ele clarificação da consciência social e
como se poderia presumir, essas estruturas, o que faz com que
de alargamemo do horizome intelecroal médio, o cientista social
o estoque de estereótipos contra o "escravo" ou o "liberto" con-
presta um g;andc serviço à sua comunidade nacional. Se for
tinuem a ter vigência, referindo-se explicitamente ao "negro", e
ouvido e, principalmente, se o conhecimento objetivo da situação
com que o velho padrão tradicional de rc:açlio.racial. ass~étrica
se acompanhar de movimentos de reconstrução social, o conheci-
continue a devastar a segurança e as perspectivas h1St6ncas do
memo produzido pode se tomar mnim útil p=:t <>c~lihruçüo de
mudança., sociais pmgress:vas essenciais 20 equilíbrio ou à trans-
"homem de cor". Se!!Ulldo, nas cond1ções otuais, criadas pela
fornwção da ordem soci:il. No caso brasileiro, é óbvio que o
sociedade co1Dpeticiva, ~ negro e o mulato brasileiro dificilmente
conhecimento sodoló_g.ico,em instâncias análogas à pre,;enre, é poderão congregar-se em movimentos sociais típicos de !1linorias
insatisfeitas e insurgentes. O novo negro tende a abrir o seu
suscetível de co:iduiir à verdadeira deruocracie, que não pode re- c1minho de fonna indcpcnc!eme e agres,fva. ).fos, propende a
pousar em mitos. entretidos consc:!ente ou inconscientemente. Se
resoaardru:-se, através de um egoísmo indiv:dual friQ e realistn.
o brasileiro - especialmente o branco brasileiro - abandoruu EU: conseqüência, corre o risco de combínar, em proporções ines-
o "pteconccito de não re,: preconceito" e aprender a tratar o
peradas, "êxito co:inómico" ou "su<:esso profission>ll" com m:1·
lasros morais, forçando po.r sua ve;c a solução que o pr6pno
i rJ) C':u~pc.çqnis:nfo~t:l ir.<lep=.'"h.ic~tmt~Le
do tcv:int.trr.cnto do nu~or
branco prefere - de "contentar o nc.-po", col,x:ande-0, po~1,
e 2nics cl,1 p:ibli"'1;iiodeste livro, que só foi upnm:iudo de mGMIDi fora de seu caminho. Nesse caso, a sociedade de classes abre VJ.\S
as~:,;::a':"láricd.
e p::m.':al,
revelou q'ue o quadro aq--..üdcsait0 se reproduz tortuos;is nas rclaçôe$ emre negros e brancos, c;ue precisam ser
f:lé.tta) m;:n:. iíreg que ~e 3~punl-.P.de "'ê"(ito n~le" do nce,10 ou <lo CQ11juradas prontamente e com ânimo radical. Não L--áoutra saiJa,
mo.tlato. Vtj,.-se João Jl:,p;irn1,lloc;{::,; Pereira, Cor, Profusi;o e Mobilid&de.
O N~,ro e o ruilio de São PaU:o ( S. P•ulo. Llvr,ti, Pioneira &litota e para que a democracia racial passe de miro a realidade histórica
í-.clicor,,<ia Uon,..i:sidád:de São Poulo, 1967, ;,p. 99-261}, na cena brasileira.

li6 12 1i7
O prc~nle trabalho foi escrito segundo alvos cognit:vos que
valorizam a ru1álisc ma,ro-socio16gica e as possibilidades coi,,nitiv.1:; rnnduct an.:l foelings oi which m;:n ia spccitic mil'eu.x
111,li\•i<l<:11!
nn· 11aem,dvcs unawnre" {•).
i.ccrcnres à ei.p.lo.raçiíoco11Comittu:tede crirério;; .;incrônicos e
diacrônicos de <lcsciiç;íoe i111t1pK"taçifoc!os d.idos c!e fato. Por Um ponto de vista gen1! dessa natureza permite coroprcendcr
Í>,o, te:ido-:;e em .isca as orientoç~s predominantes na investi- r explicar processos pski:H!<lCL•Üs e socio..:ulmmis no comcxm
gaçifo sociológica nos Es,ados Umdos, talve-~pareça iruule,;uada 11<>r-\lncionamen10e da tran~form3çiío es,nuural da sociedade
a atcnçfo c:fupensa&:;.osospecto, das relações r11cfaisque seriam 111,ib:1I.
Pt-~<1:;co,o conhecimento teórico result:L'lte é mcllos
cnfatiz.1doscm abordn!',ens rnicro-soc:-:o!ór,icas. Os fenômenos <J"C rt•lcvante para os a-;pectos psic.o-socíológ:cosda maruíestação e
Sin,nel chamaria c!e "roicrci,cóp.:cos"não foram propriame.1tc 1 onseqiiêncías do preoo1.'Cdt0 e da distciminaçiio raciais, que para
negligenciados.Co!lrudo,foram ol>serv:ido,1,<lesctitos e .interpre- o~ Sei.is asr.ecto; histórico-socio:óp;ioose eslrucmais-ft.mc:on:tis.
tat!os cm te:mos de wn J>antode vista ger,,l que convenia tais N:io obstante, suponho que esta ob1-atrili:ª alguma comrib,üção
~pectos em meros sub,;tmros de fonõmenOô roai> complexos, dos de Jllàior inrzres.scpãta a investigação <::omparada_A sin;,ição de
quais o autor e:nrniu e isolou o,; fawres ou efeitos de signiíic-.iç:io ,ontalo racial brasileiu não é tão importante por ser ,ret1tra ~
heurislica_ Esse ponto de v:sta geral corresponde, grosso modo, tebção a an1bo,; os (enô:ne.,os_ ~fas porque, nela, o preconceito
à perspectiva de ínte,:prefação que Wrigbt Mills dcfcndet: corn e a discrimü1açãor-aciai,, se manlfesta.-n de modo brando, difuso
muita propciedade: "\Without use o! histo1y anel witbout an e assistemático. Por C!sa ta-lâo, ela apresenta interesse compaf'J-
historical .sense oi ps>-chological roatten, the social sdentist ti,,o específico_ Seja potque é, em si mesma. uma ilustmçiío
e,remplar de urna alte.rnativa típica de contato r:icio.l. Seja por-
CllllllOt be adequatcly state the kinds of probJen1s that ought now
que permite evicenciar, pela comparação, a r,,a1urezae a estru-
to be orienti.ng points of bis studies" _ ( __ . ) "But the view of
tura dos motivos que dinlmizam a acomodação racial, em con-
ma-, as a socio.l creatore eoables us to go much deeper than
traste com o conflito r:icial. Nes~e sentido, por patado,.,"(I]que
merel5•the external biography as a sequencc oi social roles. Such p!lieçll, a paS!!ageo.1da "acomodação" ao "conflito" não é um
a view reqoires us to onderstand the most internai :m<l "psycbo- índice ne~civo em face da emergência de uma democracia r,1cial.
Iogical" featores of lllal'.I:in partcular, hi, self image anel his Ao contrário, parece ser uma fase inevicávd da transição nas con-
conscience and indeed lhe very growth of his mind. It may be dições em qL,e o ritmo da de;;agregação do regime esrnmcnt:tl e
well tbac ili◊ roost rndic:.l discoveiy within recenr ps>·chology ele castas. i'lét(!Jlte :\ escravidão, apresenta imensidades desiguais
and social sc:ence is- the discove.ry of bo,v so many of thc most no mundo negro, no mundo branco e na sociedade nacional con-
intimate {eatures of person are socially pattemed and even im- siderada globalmente_ Se essR interpretação for aceim como cor-
planted. Within the b10ad limits of the glandular and nervous reta, então o conflito e a intensificação do conflito constituem
appllrttus, the ~otioo;; of Fear and bau:-ed and !ove aod rage, ,vidêtx:iasde uma progres!\i\'a demotrntlzação dos padrões de
in ali rhei: varieôes_ mu:5t be un<l.....n:toodin close and continuai refações raciais_ Ao invexso, a acomodaçii:oracial, em coo<lições
referencc to the socí;l biogmpby and the social context in which de capitubcão passiva do n~ ou de aceitacão, por su,1 parte,
they are expeden.ced and expressc.-d"_ ( _ .. ) "The biography a~d de extrema dcsiguald<ide social, ecooômica e educacional eviden-
thc cbaractcr of the individual cannot be undcrstood mercly m ciam a persistência de formas de esttatiiícsç,ío racial pré e antí-
tcrms of milíeux, and ,-crtainly not íncire!y in tcrros of tbe eatl}· clemocrátkas. quaisqocr que scjarn os padrões de decoro, Jc role-
cnvironments - thosc of infant and the child. Adequatc unclel'$- rilncia ou de: simpatia envolvidos nos oontaros sociais entre
pessoas e grupos de pessoas r,ertenL-el!tesa categorias racfais
tanding requites thac wc grasp tnc inrerpfay of ih~ mtirnatc diferentes.
setting with theír ls.rgcr sa:ucra.r.tl frnmework, nnd tbat wc take
ínto account th<,traosformations of this f.ratnework,and thc con-
sequcnt efiects upon ntlicu,-_ Wen we underscand social struc-
tures and structtirnJ changt'S as they bear upon more intimate
sce.o.esand expecicru::es, wc are able to ,mdeNtand the causes of (5i C. W'right Milis, TJ,~Socir;logfazJfm.:git:oli":;, ~'<wYork, Growc
r,css, Inc., 1%0, pp. 14} e 161-162_
178
179
Tendo em <>istao:icig.,~x-,esconrralJn, especialmente e:n con-
s.:qofocia da edição 1:or1e-3meric:1na deste livro, i!OSl'ariaJe agra-
<lL-ccro em_;:.,cnho de vhlos ªllliJl~ e colegas nor:e-amecicmos,
que tornar:.11:1possível a tradt.,ção do trabalho. DL-VO es1><.-cial
mcriçiio :1 Cb:u-!esWagley, que c!ernon.strou,de váries f,;;.111ns,
0 seu proverbial clcsp!'e<:r1diolénto, gcoerosidP.de íot.dett1L1l e
amor ao nr~siL R.icl12rdMorse, por sua ve,, tornou-se digr,c, Je
iglllll_recoilhecimemo, ,,dos n1esn:-osmo,ivos. Jacquclinc Quayle
l'i:;;1'.d fucram ~ Vfrsâo Í~!pl!!il um>1obr~ que fl0$SliÍ
e :-\'.·1211c CAPITULO VIII
llKTIIO!i ptoprws, uo que roram auxi.!1,d~s por Phyllis I!ve.!eth,
que se encarregou cfo parte edimri.aJ. As crcs ü11tC.Hlle o:tt·en:a-- POESJA E SUBLL\.fAÇ.~O DAS FHUSTRA.ÇÕES
mente rccoohL-cido, por me darem ;,ma colabomçã<, a1:ôn:matfo RACIAIS•
mnstr.;Ó\'!l é criaLlorn. Ao fosritulc of Latin American Studícs
da Coh.amWa Univcrs.il y devo mai,; do que ümple,; •$ntdeci-
mcmos. Não for,1" cpormn.icladed" convivéocia e de rrabalho
qm, ganhei junrnmen1e co1:1 a ro11dição ele vi<iting-schohr, é Ignoro as razões que levaram Oswaldo de Gn:ar:go a c!.ir-
•mc o privilégio de prefaciar a _presente coletâneo d" poema,;.
prováçel q:1e esta tra<l::çiionull('-.t viesse a lume e i:a presente
Nffo sou critico lirerário. TampOL>cOt.enho competência (lU scn-
f?nm,. I>or~1a vez, d~-v_oà Columbi~ lJniçersity Pccss. em par- sihilidade para apreciar judiciosamente sua prodt."<:ÍOpoétic2.
ticular arnwes Je seu d1r~or exex:utl\•o,llemard Gro:iert uma Considero a crítica literária uma c.specialidadecomplexa e difícil.
simpatia genu,ll>le esrimulante. que nie ajudou a correi· os ~iscos
que exchú a irnpxo,.Jsaç,ío e requer não só talento e: bom gmto,
de_e~rar ?~ p:fül.k:otilo díver,,o daquele para o qmtl a obra mas sen.s:bilidade, erudição e imaginação crfa<lol'.t. Sendo evi-
fo1 escr1111origUJalmentc. Espero que o livro justifiqt1e i co1i-
dente que niio r<níno essas condições ( pelo menos cm relação à
boração e ir.c~civo que recebi ckssas pessoas e institt:ições, aju-
c.apaddade de ser cr.tico füerá:io ... ) eotendi qt,c o convite se
dando-nos a cnar rnefüor compreensão e relações intelcciuais mais
profundas enrre o Brasil e os Estados Unidos. enJen.-çava a<>!>Xi6log<>, alg•= tanc,, conhecedor d! situação do
negro na sodedttde bNsileira. Às vc,,es, uma condição exterior
:i obra r:e anc poc!e ser sig.lifiaitiva para a su:1 compreensão e
interpretação. Tal"-"' o autor procurasse, portanto, algué1J1que
pudesse "ecplk.ar" a sua JX>e~Íit à lu:>:de rna condiçãohuman2-
dns inffo~ocüis e tnntivoçik.; plicos,1ociais 4ue fiDlJll por lds d.1
sua manei.--.ide ,·er e de repxesentar, pocticruneote, emo.,--ões.scn-
timemcs. aspir~üc-s e &u.srraçõe,; que P<'(leriam ser cn(eudidos
ro:no parto! da e.-qx:riêo.á, <le vié9 do neg_--ohrasilciro.
Todavia, .10 )e,; i: r~e: F"' ffomcm T ertta Ser A-1.,i,;,
e: :ts poesias cokdonadas nesta obra, cheguei à O.'<lclusii:o de q,~
O,waldo (1., Cmnargo é, esscncialrecotc, cm poeta. O fato Je
SCr Jlegl"O tet."l tanta Ín,portâ11cia qua::to Cllltt'dS cirCUtlSblnÓru;
( como a de ser brasz7eiro,católicoo:atcido por CX!)Cciê!lcia 1nís-
ticos singufarc'Setc.). O q:1c com", em sua obra, é a poesia.
Embora eh exp:ima, en1 ,•ári,1s direções, a condição humana do

t: Prci:::~:od:: 1; P~n;.:s Nt.'i.rt;s,,de Os\•~õ.Jode C-acc_:t::11;0


(Sã~
Pilu\>. Ecli-;:icth A~oci:,:-çZ(1
U.t:1u,rn1
de N~--r-n,1%?).
180
181
SéU criador, sobre ela e ruio ,obre outras co~;as deveria fol:ir o J>,><k·•5<:
im3ginar que existem vária.5 !!radações na lin~uagem poé-
sc'U intérprete. Ora, falece-me autoridade para isso. Um poeui tic~ e que a poc_-sianlío seja inrnmparível. com ocnhuma s:cuação
jo,..crn, que vem de uma estréia rc..:cme, pretende ,ilgo mais que l1um3nn, reconhcávcl objeúvamcme. Embora isso pare,:,1inron-
uma ''apresentação" con,..cncioll3.!;cspern que o aprcsêntador di<>a tt'stilvel, só a força de um gÊnio penn:!e supera,- as l.imítaçõcs
aos O\ll!'-'S o que de 1,n,;,ri-0sabe acerca de seus versos, de stl;S ,ufoaimes das barreiras que anuiam o prúpric, senlido da &gnl-
intenções e do sentido de !;lia poesia. Naoo que me sentisse 1bde do ett, aniquilando pele raiz as L'11pulsões criadoras cla
Clpru<d<: fazer, pelo menos com justiça, p.ouricdade e o devido ln1eligêocia humana. Em conseqüência, os "'.)oel:ls 11.egros"do
respeito pelo amor, pelo públi<:o e por mim mesmo ... ,,,,,J,,,
llrasil caem, grosso ei..--i duas catcgcrnis eircrem~s. Ou são
Abriam-se diante ele mim dois caminhos. Un,, o de Limen- réplicas empobn:cidas do ·'poetastro hrilllco", ou são c>:l-cçõcs
rar as limitaç&-s de nos"" cdebrada "formação humanística". que confjrmllm a regra, Oll seja, episóclio:, raros, na história de
1km mal vai um país no qual tm1 professor universitário treme um~ literaruni.de brancos e para brancos, o que se pcxkcia C'.l(<:em
dimw das tesJl(ln:ubili,fades do juízo es,ético. Não é s6 um sis- plificar em relação 2 poesia, com uma figura tão co::ihccida como
tema de vida intelectual que sofre um ÜDJ.:r.lcro negativo. Penso, .1 de um Cruz e Souza. Não existe uma vitória autêntica sobre
e~ particular, na negligÊncia c!os críticos especializados, que só o meio. A "intcligê,:c:ia negra" é tragsda e desttufd3, inape)a-
existem para os prodmorcs de arte de prestígio cons2gr2do,subes. vclmcnte, antes de revelar toda a sua seiva, como se rtão impor-
rima!ldoo~ negligenciando a energia moça, pela qual se processam tasse para o destino :ntelectual da );'ação.
a af,rmaçao e a retlO\'açlo das gi:aooes ou das pequenas litera- A produção poética de Oswaldo de Cam'!_tgg,se.seita, em
mrns. O segundo CaJ::!L'>ho seria o de a,,am;ar os resultado. de 1ermos dessas pondet:Jções,novos ensinarn:?ntos. Ela foge ao ;,.ci-
minhas modestas reflexões. Os que não podem concentrar-se na meiro extremo e cvira, apesar das quaUdacle5 v:s!v::is do poet.a,
própria medula do mciocfuio poético, já ~o algo de si indicao<lo o segum!o,demonstrando que o negro intelectual. liberto c!os pte•
o que percebem, o que sentem e o que pensam. Por consideração conceitos destrutivos do passado, tence a idenriHcc.r S'Ja con-
especial pelo autor, não me neguei a iSSQ. Acho sinceramente, dição humana, e extrair dela uma força criadora qc:ase bn1tal e
porém, que ninguém lucrará nada com idéias tão ming112dasde desconhecida, bem como a superar-se pela consciê?:Ciac!ador, da
verdadeiro teor crítico. vergonha e da ahoma moral. Em outras prua,.,.:is,coreeça a
Em uma civilização letrad:i, o poeta representa um dos pro- tlelincar-se uma poesia negra e dela constitui uma íloração rica e
dutos m2is cornp!icados do condiciomimemo educacional, inte- exemplar a preseme coletânea. Mi:is que sobre qualquer omc:i
lectual e moral. E um conrra-se:iso pcnsat-se que o negro brasi- coisa. é sobre essa poesia que gostaria de medirar, servindo-me
leito cnc:011trena poesia {como em outros c:unpos de arte) veí- d3 oporcunidade que os versos de Oswalco de Cwurgo ~ ofe-
culos fáceis Je auto-rea.Íizaçiio. Há toca uma aprcnclizagcm t~- rceein.
nica, difícil de mnseguir-sc e de cot:1;,le~r-se. Vencido esse obs- Na medida em que c.xpressa a condição humana do negro
táculo, er~uem-se as verdadeinls barreiras humanas, que estão n(I Brasil. C!<sl\poesia alirma-se como uma poesia de ressenti-
dentro e fom do própzio nes:ro. De um lado, temos as contin- men 10 e de profunda humilha~.ão moral. Niio evideccia apenas
gências de um n:eio intclcc:tual :à1da m:i.1pofalo e i,arcamen1e dc.-~alcnm e 111cwtificação: a depreciação social da coz atinge: o
aberto às aventuras <la intelig.?nciá criadora. Ele se ·fecha com cqu,lfbrio ela pessoa, convertendo o poeta "" voz do crama psi-
f:'.cilidadc,IDO\·idopor molas que as convecções escondem ou c,.J<;wrnele uma coletividade. Já no livro amerior ( u,,, Homem
d1sfar_-am. espccialr.ie1m: dÚlni.e das oconências que fogem às 1'e11taSet Anjo, S. Paulo, 1959 }, scme-~e o ,0111 acre e soturno
n~>rma~e_ à rori.:J.a. O pIOduto.r c!c arre negro é, em si mesmo do protesto negro:
(isto e, mdepe~dcntementc da cpalidac!e e ~ signific2ção c!e Meu Deus! meu Dc:u.s!com que pareço'.?
sua poe:;ia ou ~cja J:í o que fac), um.i aberração de todas as Vós me destes uma vida, Vós me destes
normas e uma transgressão à iotinil niim mundo organizado por e a não consigo levar ...
e para os bnuxos. De onero lado, nd1:11n-scns fronteiras que Vós me <lestes u.'lln alr.ia, Vós :ne destes
nascem da sitcaçfo !iurnrL-,,ado nc,:ro na so;iedac!c brasileira. e eu nem sei onc:c está ...
182
183
Vós = desce; um r.osro <lehomém,
f!r.\S a trc-ç:t caiu
P.clo nmor Ja~ lindas hora,
cm que sonha:"s00 co'o an1or,
sobre de, Deus meu, vede que triste, par.oi i:n-. po\JCO. ,enbo.r~s,
to<loptetO de está! (obr,z citada, p. 55). ~omos os home.ns de ccr,
que vêm tecendo coroas
M>IS,é nos po~::n:tsckstn cokção que o referido protesto d<: tristezas pela estrad:t. ..
ati.ogê seu dírna.,, ~csvei:dan~o toda a amaxgura \Úste e 3 revolta Vuftat1:.os de militas noite~,
e!~·brasileiro,; q1;e õe e,wergonham de $er geme: há noir.: de!!tro éc r:ós,
pdo amor dos qL-c vos =rn,
Reculho o pens.imenío e me <.lebruço cs<·utai a nOS:ia vcrz:
n~sta co11remplação, assim me largo ...
E., preso ,to ser que rnu, soh::çoe babo
na cerro pret.\ de meu corpo amargo... E,,conmunos a ::spcra:,ç:i
(excerto de Ca11çiíoAmarga). toda em pranto d~balhada ...
E. no, perdemos na ll<JÍre,
não achamos a akoi-ada;
Deslcn:h:-,ido de mim. me recordei:
qaeren10s subir nn vida,
í:ôlhn 110 cii20. esuurne. a:JtÍ!!o som
d:e fonre e sob;e a preta· face - não encontramos a CSC300.
E estamos diante de vós,
e:;:sa triscez.i ,p;;e sempte haverei ...
chorando o não sermos nada ...
( exceno de Relembrança). (eltcetto de A .Modo de Súplicti}.
Quem \'OS 08:ie, se:inores,qt:e p,.reço Eu conheço um grito de angúsria,
em d,m,spero com qualquer rapaz? e eu posso escrever este grito de angústia,
Se roe amargo a coniemplar-me, sou e eu posso berrar este grito de angústia,
a luta en,;re o ser e o ser demais... quer ou•iir?
( excerto de Pergunta). "Sou um negro, Senhor. sou uc ... negro!"
( e,ccer10 c:!e Grito de Ang,Í!tfo),
Profund,1mente em raim l1lllil lâmina ~e.enterra
Se ente-::-(!!e nio \•:tle recuo~ :;em e m::.u gr:robreve Tt111ei m11lriplicaros c:xeini)los de propésito. Sob várias
•• L • .L••· facetas, eles nos mostrar.i o negro cortur!l<!or,a; avsliações que
:;; llOWS tuvt;l$ CC;;ta tatu<: C<.: hOJC, ••
decorrem da ac-ei~çãode uma imgge01 do J)tÓpc:oneiiro cons-
tmícl:i pelo br:1nco. As coou:adiç:ões,as nnsiedaê-es e a; frus-
Jã não sei qJe ia= para :c.kgrar mir.h'2lma! trações.e.xpre;s,iscom tamanh.iautenticidade JJoétic.,por Oswaldo
F. é r-:reóso sofrer p3ta sthvou- □c:1 ~onh>~ de úmargo, emergemda mesma matriz. Avaliando-se at.cavé5
ele critérios t!e julgamento e de expect.ativas morais recebidas
( excerto de Projtmd.,m:nlr ). do branco, o drama de ser negro corresponde, literalmence, i\
impossibilidade de afamar-se em um mW1do moldado pelos
Não sei meu rono nesta rude terra. brtJitiCOS e ç,1.rnos brancos. Desde a infância, o negro é modelado
n~ wi n c:1ie desti~o me cc,m,:igro: .. p~rn viver ne.se muntlo, como se não houvessem diferenças entre
1ll!grose brar.co,;mas, as porta, fod,am-sc diante dde, quando
tenta arraves:saros tortuosoo l-Ol'.tcdocc:;que conduzem a tal fim.

184
Eri.;re, poí um "branco.t'' no UL1jro, o qual só púác ser reco-
0
,

!lhccido e é válido como ei.tac!o sl!bjetiw do espí::10: ,


nUJnaesquu,_1 ' . 1no~-1~ 1:ic csp<rnm_,
<.j~1<jut,· ou1tas
e eu c.spero c.ur.hém qualquci: oorce qc1e ,·cnl,a .. ,
llo:sa, rosa~ o rr.cu braiX'orc.>tist:!'.
llli!I ine.xi~tet' meu .:orpo ·c.1101:;1;'
ro:;a, meu pemar.'lemo e,cistc, (fY&n:ede Ronda).
m~.s~1stc e 1nc..,1coroo sofre . .. ..~mb2,, a hran~ura :.: a in:iu1ria. constiluc,n pclariz"'ções
Percebo o bro>.ncor q:1ê em nlÍllt existe
<Clltr~,sc;;n ma ~sia. Lr.,a, c'omo cxnre:,,sí:odo muudo .,.c,fado
(1bjttivan1cnte,.ao ucg:~o:a~ss5,rel pct\ pm:t:dp~o subjefrv-a.
ine·~c~atlo e isso rr.e foz trfr,1e. ..
Quero ~ ave! Outra, como ta~e da vida e,n que as proil,ií:ões são menos dt[t.S,
tia,, ou p;s;ll!l1 d.::;pcrcehidas,
O aLW ~ei gue eEÍ.ii:e. ..
1\ii, mínlr.\ alon, chora: O ~:rama psim\6gíco e: moral do r.eg:ro,st::iti,fo e descrito
ne,,~ plm,o, c,u q,:e o e;.o :iprofonda as cont:adições e as hipo-
{ U1i1 HrJine."Jt'I'e111aSer l1ufo, p. 73 ). crisias d~ ·'de1:.1oc1'llcia radal hosikira~\ nõo coni;ubsc:mciaum
c-;i.,do de u:nr~walid<lt!enelli uiua ati,u<lc de rebelião. Eveo-
Daí resufouo m.:uadis&s m<)Ta:S.A ;;,ra.1cw:a e a infânc:11 Lualmcme, o "btfm:or" chega a ser rlçsmascaraoo:
surgem cocío obcccai;ões que traduzem v,1lorcs s:,prcmos:
Tenho em meus j,\esi:mwn rdxu1ho iotcico
Eu vi de branco a mcnba e esse so::h<, de a:itvdc:s b.mncas. scn.1sentido.
jama;.s me es<:apou, .. que não sabem fala~.. . ·
E me<.:s dedos sem visgo em vão 1<:mararn ( t-.-certo de A N.tu;hã},
sustar do ro!lho névoa e bre.,idade. , .
E não s,2i que eco de orfa11dade Co:intdu. o jopp do, comrnst:s evoq1 a manhã e ,t ::oilc em
le:i.'lbrou-mc então a mim que eu ci;r:ava só, ,ermos da opc,~i{ão entre o brt.."<JCOe o ,regro, :--Jzohá o desafio

só e.orno o sonho <JUcem óníco: mora! da escolàa cem o apego ainbiv,tleme ii herança mhural do
branca mei:ioa de sandália,; b!2llcas.,, negro ou t!o hranco; t:l'ata-se do :,oive=so mental qu~ o negro se
Como tut.'-0 ere btanco, bcanco, i>ranco! construí", oo ~ual ele deveria si:r unt.1 co;sa, rr~; é outra:
E qu.:indo me It;i escava só. , , Ln penso qL>cn m:inliã nfo interpreta beo
.E Jni,,ba vkls estava branca, branrn, branca, a rnpcriície ~cura desra pele,
coruo meu pi imeiro eãdêmo que páss:iro nel,t "ai ,:,ousar?
da escola, .. (Idem, p, 79).
Ai ck t:isteza de meu l'Uí]'lQ, ;,(.
;\b! (JtY.: medi nmito mal a distância d.1 vida, o p:í.,aro conl~ece a mà:lhà,
e julgant comigo: "hel de ir nmito longe", e sabe 9;.,e é bt,UlC.t o manhã,
mas com,,ou .;obre mim or:1a idade irr.predsa ma.s não ousa en1<:rrar-sc de "º"º
e eu invejo ~gora o menino <JL>cfui, na noite, , .

Tiu ttlvejo agora o merl.bloque fui,


Cu, no emento,p!IlllJlll(!{'.O no Wo
d<?m,u,bã e c:as canciga-5., ,
leve, :incll!ndo nas pedras de canta~ montanhas;
t\ noite, a jl;l'j!Jldc 11t-:teestá poustda cm mim
pam breve serei =
e, porque me tomd cristcmentc um homem,
somhra, só sot:.tbta.
escandalosaniemc! (idelJ1),

Muitos .resr0<;de mim laq:,:ucijá peb.s ruas; O qrn: sul>sis,e. poi,, é " <lesalemo re,,scncido, que u·aJtsparece
infelizmente me tMtando vou .. , melho: onde re niinn.1 uma lig~~ii<,e.,p.irintal com o.s :incc:strais
:1frit.-anos
e.· e;aavos:
18(,
187
.\íeu grito é o t-stc:rmr éc um cio convulso ... tidtnc;ffo seciol do n=t;rc. Scgu:::do, ela se divorcia, de modo
]')o N ,.o,
,, a., ' N'\I o e' o m:,u gnto ...
h co 0 • 'lll~Ufat. dos mor"s das ff>?uh,,;ões negras hN>;ikiras. Por en-
quJnto, o poesia que serve de veículo \!O pl'Ocesro negro níio se
vinl-ub. nem fonn.il n-:,,,, ma1e.'almente, ao m11nck,de valores
i\{eu g:itc é um t'~p2.sn10que 1nc:.esmaga, 01• ,10 clima poético das ruhuras ner;::-ascio lka•il.
h,í um punh-al vibrand-, em mim, rasg-.mdo
A, d;:,c; constatações pcssne11 amplo interesse. Elas não
rueu pobre c-0niçoo 4ttc hesiu
pre,s1'põem ncnh= sorte de restrição ao nosso .,ioeca ou oo
entre er~ue: ou c:ilar 1: voz ;,flita:
tipo de poesia que se !)J'OCl.,a cultivar com vi.sr.is ~o órmua liJ-
Ó Africã! ó Africa!
mar.o do ~ro. Mas, revelam Ae forma expressiva o poder de
).ieu grito ~ ;em cor, é LUn flrÍ!() seco. condício!:llmento excerno da o:ira de arte. Se o "meio negro
f: vcré.~dd:-o e tris1:e... hrasilci..co''ti.esse um mínimo de lnt<.1,-r,1cikl,o.; dilemas 1r.oraís
do:..«:ritospot!eriun se.rÍOC'1lizad<isà luz de <:xperiê:iciascoletivas
autônoma; . .c."i'.istiriamconceicos e cmegorias de p-ellSflllJeJJtoque
perrnitiria-n arre.enct<;>J"a rca:idace s.:m 11clun1a medinçlío ou
í excertos de 1Heu Grilo). :ilienação, ~través de sentimenws, p~rCCIJ\."Õl';Se explic1.Çõesestrl•
talllcll!e cslc.,da., nos modos de sentir, de pensar e de agir dos
Em suma, o negro nao n:pudia nada - nem a exper'.(':icia p:..~prios negros. Na medida em q:=c o negro, como grur,o ou
ances!r.tl, ner.1 o univt"tso criado pclu br3oco, nem " condiç,:io "mino~ia rncial", niío dispõe ce clcmcntos p:1Ia crhu uma imagem
humana que nek: mcontra. A sua revolta nas-:c de uma injus· coere-nte di: ~d n1e~m<-'> vê-se n~!contingência c!e s.er entendito e
tiça profunLla e St.'tn I<:midio, 9u.: ~nde sente por sct pi.~to à expli~do pcln comra-imagemque ddc foz o buoco. Mesmo um
maQ\"elll da vida e da justiça hurrum:i, vít:ma de um estado o.."lrc• poeu, negro do e,tofo de (}.;w• Ido de Camargo Dão escapa s
mo de ne~ção do hom~1'llpelo homem. Em nome de um código esse ir.1pa~sc,de e:iorme irof1()rtiindahistórica: até onde ele per-
iôco 1·udee egoísla, o br!'.:.nco ~:,;nora
a.~:orruras,os oo::flitos e t!s durar, o negro pennanecer.í aus.:nte, comu força social con;.;iente
conmidições que cirnemam sua concepçíi<J"crisili", "eordüil" e e orgaaiz.ada, da luta cont1·a a at,:ru situação d:: contato, sendo-
"deo1ocmtirn'' do rnundo, condeiltlndo à danação todos os negrvs -lhe impos${vel concorrer eficazmente !)2t'a a correçiio das iojn;;.
'lU~ AC't";t~mcom inteP,ridndeP ll~l""Pri~mol"S.c;~ mc·s,m:1<'onc-rr,çio ti<,-ass<.-ciaisq1..-e ela encobre e kgitima.
do :mrndo, con suas orçõ~ e valores morais. Já o segundo ponto tem f!J:\is que ver com a dinâmic~ c!:i
,\ in<laé cedo parll eini lir juízos deíi.niúvossobre essa poes_ia ctfo~ litcréri". Os padroe.s Je pcocln.,_--ão 2rtí,;ú□ e de go;r.o
nep,r•, associada à lil>eiaçfo soc.¼11 progres,ha Jo branco e J,) liter1Ho impcr<!.lltcs2holiran1. farl!,runenre,e infh:::xocontínuo e
Dl?);ro nn sode<l~de urbai:.ae industria! brasileir:\ de no;sos dias. produtivo das ncmnç'llscultur.ais t!e que foram portadores esto-
Dois rxmws, todavia, pnrlctiam se= ,1pro(unt.',aJos. J?rin:-eir<>, na ques étnico$ 011 raci:l:s. con:tl<ler~doscomo <'inferioresº. Ao
su<1fo11ru1 atual, fi:::ando o dra:na moral do 1ie.gro de um llnP,t:h~ aderir a tais padrões, o anilita x:ab,1s.icrilicando, "<!m o saber,
m;.:rarnc::nicschjctivo, cla não trau:;cc:ide nem mesmo radkafü• riqne;,,as pmcnciaís insot:dávei,,.. algulll,IS lig.'.das às SI'ª' em:rgfas
o gi·•n.:.de " consctcnda
.. · da ~nuataô
· - ·• 1uerenLe
· •as nu1u'f esu~s- pessoais, outras vuiccl<!<h,s â influfncia Jo runhíenre S()cial ime-
ilctr:«fas do pro:e,·to negro. É certo q:ie da expõe a, co:,as <le diato. Lm simples parale;o permitiria ilustrar danamente o q.ic
maacir.1 m:iis 1,>ran&osa,..-hcx.11ntc c ptu1geu1e. Diante Jela, mé pretendo dizer. Tome-se c:onio c:<cmplo o futeL-ol: e11 sucessivas
os rcluumle$ ou o; i~diicr-~:itcs tl'1a<J da abrir os oihos e o co- gcraç~, sempre contamos rnm alguns "magos da pelota" ru:gros
ração: há torpezas se.m ooir,e por detrás ck,s iníquos p:ultões ele e attav<:sdeles CO.ílSef:UÍm<F•cntique,er gradativa1nente a nos~a
conviv=1.xi;1,que i-egolam a integr"ç,ío ck, negro à ordem social "arte d., jog.1r''. E:n gran& parte,, isso se de~e i\ lil:>E-xdade de
vigeru:e. ~o entanto, essa mfsmn poesi11 •~ moscra inc,l!Y.l.: ele expressão coclerids !IO jogador nct,,ro, que não en~ontrn réplica
sublimar atitud~s. evmpulw~s e a;pirf.çôcs inconformístãs, ,ice na esfera da produção art'stica. sufocada por preconceitos de
a ;:,oJeriam c-cnver:er num:i rebelifo, ,;,olrndc. para o proets:So cle vária espécie - ou ;e e]il)linao concurso do negro e o ~proveita-

188 189
mcmo de sua conrrihuiçâo criador.1, ou .se esliol:i sua capacidade
das assooaçoes culturais neg;-;IS,das eStão lo:,ge d.: juscifíau
de rennva,ão, submetcndo-o a um processo c.k rceduettçíio que
as prcforêi,cias que met-ecein. Os Olmiahus que uoem a reden•
o transform,1. sem nenhum sarc-.ismo, em um escritor branco
de pele preta. Embora não dcverr.os levar o paralelo com o fu. cão social do 11c170à ema.ccipaçãoj ntelenu:il do Brasil repousam
sobre processos civilíurórios que :-ec.lam,imuma _poesiasuscetível
tebol longe demais, o que p:trece aconselhável scria uma re,t<".iío
cfo inspirar e dirigir a bsia de apetfeic;oan,ento conón\lo do
positiv,1, pela qual o imele<:tsz.,loegro ( e c-omo de qualqi.:er in-
homcm. Ela tran.parece em mui,o.; "erros e em algu:is poemas
cdectua! idznti!icado com determinada pareda da heterogênea
de Oswaldo de Camai-go, ?riucipa!meme naqceles em que o pr~
civiliza,,·ãobrasileinz) repuclia~se os freios que o isolassem do
ter/o negro encontra eco mais se.1lico e profondo. Se ela ;;e
ethos de sua geme. Certas perdas cuh:ur-.tis síio itrttuperáve!S;
roma.tá mais participante e militante, ou não, é impossível prever.
r.ertlcmos o p<.><:t,
negro que recriava as tradições Voéticas tribais.
Todav:a, precisarí;,ooos perder tMJbém a própria Li<:uldade do Tudo <lepc!Odedo .inter<:iaseque o poc-ra t3ver pelos problemm;
humanos de s1,a gente e: do sentido que iroprimir, em fonç'io
poera negro Lle crr,rimir-sc, através de sua poesia, como e en-
disso, às suas ativitfades criacoxas. De minrui parte, gostaria
'l\lllllto "n~gro"? Se se desprendesse da tutela total do branco,
é presumível que o escritor negro bNSileiro estaria em condiç&,; imenso que ele completasse o círculo de stllt evolu~-:,ointelectual
orrostaodo os ângulos Í!:L-xp!ol.'13dosde>protesto ocgro e .Ebcr-
ele rontrihuit melhor µ.1r2 o e:-..riqucc:memo da oossa literatura.
tando-se de influxos que a:nda retêm suos produçêies [.>O~tica;
Um poeta da enveti,'lldura de Osw"1!o de Cunargo, se pcr- no limiar das =periências lmr.:ianas do negro brasileiro.
si5tir em aperíeiç<>aNe e cm trabalhar duramente, poderá marcar.
con1 sua presença canto os movimentos sociais e culturais do
1ncio lle!ll'o quanto a renovação de nossa poc,;ia. O "grande ho-
11:cmde cor" tonu-se, em si mesmo, cada ve,; menos impommtc
eD1nossa sociedade. l::m compensaçiio, os frutos de sua contri-
buiçífo pesam cada ve;; mais no fluxo da vida humana. N'mguém
meO,or que um poeta pam revhalizar as aspirações igualitárias,
um tanto admmecid:lSatualmenie, que oritnmr,im os grandes mo-
VÍlnl'TltOssocia:s nrgros <la década ele 30. ~ingm:m melhor que
um poer,, para sugetir e-ovo; rumos no aprovdca01e11to cons-
trutivo das energias in!elcctt111isdos "tâlc...,tosnc:gros". Fala-se
muito que vivemos ntUÍ1.1cr.; pouco propícia à poesia. Não obs-
tamc, o poeta con;erva <l fascbame prc~tí2io que advém da

1112gi>1. pal.tvra, iodtssoluveln.>entc~ssÕciaci,;·
à l.inznagen, e ao
raciodnio poct:c:os. O .;e;,1 e.-..cmplo não só se propaga, como
também cala fundo. Is~ é tão ,·ettladciro hoje, corvo o foi no
pass.!do, ~mbor;i oouitos ignorem que i,l;o existe civil~;;º .<em
P~Ja.

A questá'.o e;1á na <JUali<lade


<la puc.,ia. Em regra, o poeta
negro brasileiro tende a eutrcg>1r-seao fascÍJl!o pela poesia de
efeito dramático. A poesia de au,Ütúrio, que "dquire viço e
artebata os coraçõe$ quando se atuaJza através de um recital,
com acompanhamentoao piano. Aqtú e ali Oswaldo de G.margo
fez concessões a esse tipo de poesia, t-ncijando-acom a substância
crua <lavc:rdade e rnm ;ua admirável intuição poética .. Mau grado
o êxito invariiível des,as composições, nas reuniões intelectuais

1$0
191
no Brasil. Contudo, gostw,1 de aborc;3=aspectos ((Uz. sssu=i
maior imporcêru:iaht~-ióricapara r:ó;, porq:;e dd:ll.em melhor
cm {orrn,:çiio e a_fir
da intciigêr.ciaDe:9,1-a
o que devemos c,,pe.,.--ar ..
in11Çiío.Seja-me permitido coweçar com 11ma cilaçoo, talvez ex•
tensa roas ncccssá.rla: "A lite.rarcrd cramátka Pª"" os neg:-os
está cm plena fase <lecriação, e, ccr:amente, n:ic>é estranho a esse
fenômeno a era nova que o Pafs ztta·<C!!.-a, é.e c!esenvo~vin~...Dto
CAPfl~JLO IX
e autocooscicnéta~Jo. Semdúvida, cst;UllOSnssi..tiru!ooo eocei:•
romcnto ela fa.,:;c
do caos par3 o negro ex~cm.o. Assumi::do,
oo Br-..sil,11s co:1S<:qiiências
e as implir.acõesque a NegrimdeCO!l·
O TEATRO ::-IEGRO º tém, ele afia os in~trumentos 6 soa :crus,. engmdrada rui c:spo-
lução e no soúiruento: recusa da ~ssimilaçlío cu!tur:il; L"L=sa
da misdgcncr~ com;>ulsó,-i•: reresa à h·.unilh:içiio; recusa il
O fançamcnto Je uma coletãnco de peços teatrais, org.ini- miséria; recusa à servidão. O Teacro Expcrim::ntal do Negro é
200!1por Abd::i.,
do N:iscin:clllo
{ '), obriga-nos3 pell$llrde novo isto: um instrumentoe um clcmcmoda Ne~rb.1tle. Seo único
o tcatTO o~ro brasileiro ou, pelo menos, a rc:laç:o que o teatro v!tlor absoluto é a gene.--osicb:lc" l p. 25).
possa ter com os probleor.s bumano,; do negro ao Bnisil. Nesse Ess~s afirm.1Çõespartem ele Afxlfas do Nascim~to " le-::irn-
li.-ro, não é ~cm um rompante de orgulho que Abdias cksveoda -nos, dire"1.Dlentc, pan n problcrdtic:1 do tí?iltr(> ex,x:runental
qt:<="os ar.recedentes mais remotos de textos !"',ta negros, for- do negro. As peças reunidas na colerí\nea seriam, per a--,sim
t!Ulmcore e!abor~dos, estão no te:itro grego. Ésquilo escrereu dizer, um episódio, ligado à contin#ncia das re!açõe. entre meios
As Stspiic,;,:tes,odisséia das cinqüeota fi111asde Darutu, 1rig11eiras e fins. O esseociol não é a peça ,eaual, m.1S o eh-ama coletivo
de pcle, queimadas ~lo sol do ~ilo"'; e qiic as últilD:lStentativas de uma "raça" e de seus descendentes mestiços. Sem dúvida,
eleconstru:r esses te.nos encontram represen~antes negros, induí- ele tem razão. Os "dramas para negros", escrito; por r.evos ou
dcs em sua colet~ através de Rosário Fusco, Romeu Crusoé por brancos, são testemunhos. Eles indicam o que os hcmeus
e de próprio, e ouu:os drarnsrurgos, como Ke!son Rodrigues, pensam e, de forma mais suti!, o que a socied:ide·fu com o seu
T=o c!e0:ivci..--a,,\gostinho Olavo, Lécio Cardoso, Joaquitn Ri- pensamento. Todavi<l, tomando-.se em conta z peças coligidss
beiro e José de Morais .PiJJbo, br..ncos "duma pcrspeniva de (para s6 depois voltarmos ao assunto ce!lrral), parece q>Jeesta-
sentido popular" (!'P· 2>-24 ). mos longe do equacicnacr.cnto normal do que é a ~egritu<le p:,.rs
Esse livro con,ém rica con:rib-..tlçãoà compreensio do negro os poetas negros da lú;,gua funcesa. Par.a falar cem franqueza.
e do, véu, <aro que o branco encobre uma realidade t2da\ pnn• sempre cnc-.uei ã Negritude como um produto i11rclcctuolímco.
gente; e b~ poderia ser visto como cro~ udocun,entaçãonpara Isso não quer ciiz.etqt:e a c-onsidereaJ.i.\oartificial e inútil; ao
n análise psicológ:a e sociológicadas teos&s e conflitos raciais contrário, ela foi o =inbo pelo qual 5e a:ou a consciénda
revolucionária da condição do negro, ctll face da domi:lação co·
lo.oial, dos dik-mas morois e.ach·iliza,;ão cristã e w:nológica e
,r: PubliC:Lçio Lltccirio
p:érit: O Es;,;.:dode S,'fo Pasdo, Sopk,OlCTltO do desúno do mundo negro, liberado das fontes de sua alienação
N.~ 26~-,.10/2/1962. humann e da vergonha aniquil,ido~• dos "out.-os". Se .ofo qui•
( 1) A..~~as do !\asciroento, Dr~as p:r&- Nevas I! pr&o1,P paríi
hr,m:ot, An,o!ogio de T~ro> N~J!n,silei.-o, &liç~o do Teotro °El<p<si• scnnos confundir as coisas, devcn1os ser daro;: a ~egró:u<le.
m,::itol do Negro, Rio ceJon.-ito, J.961; «:m6n: pr6l<>s<> p:,ro bttncos, de associada à po,,s~a negra que e.-.cuntro11seu '1--eído na língua
,\lx!ias do Noscim<Jlt<).pp 7-V; e ., seeuintcs peços: O Filho Pró.iiJO, francesa, foi também favorecida por o;;u-:>Scondições wtclcc:tunis.
O Cz!ip/> de Ox~!s,CCRon,~ Cro,ot:;A.~1-to
de Lúcio Ca--rl::-so; d11NO:ua.,
de Ro.wio l'nsoo; S01tiUt.io, ck: Ab<Easdo !\sscil)1c,rlto;AJé,r. do Rio que oonverteram certos çce.t::asnegros de nossa era c:n aJguns do>
de S210 1 de ,lasé<le ~ionis pj;..,ho;
O!:rro; t':!J:o.r
(!1fode$), d: Agosti."Jho maion:s poeta.< de todcs os tempos. $,!1:m, percebeu oom gn1n-
..4.r.JamiJ:,
ele Jooqu1m Ribeiro; At:jo Negro, de Nclsco Rodrigçes; O Hm- dc1.nesse:foto. Embor• su,is variações sobre • Negf.rnc!enão nos
paeibsdo., de Tas.w <k Olivci:-:t.
193
tJ
192
convençam, pelo menos quanto ~ r.ecessi<lacke 1i univ=lidade u11r~ n<l,, 1\:10p-,1::isepará-lo c:c si - :nns para res;,eirt-lo, pa.ra
do fenômeno, de ,lpontou c<>:nh,cidez: 1.•) o que 11rondiçiio , ln<JlJistaruma pcrspccó--a di! qual possa v,;lorizá-Jo,omo h<,mc-n1
hu.:!\tlllil do r,cgro representou para o ,iparecimcnto e o floresci-
r ,m.1-Jocomo criatura ln:n-:.ina. E ,1 recíproca é verdaécim. O
mento de cn,.a pc,e;ia revolocionária, que rompe todos os limites
11rl\1·0precisa lutar para ser aceito como negro, pr<:scrv.1rsua
d06 pnJ.rõe-.:: estéticoa e poéti<'os de~ branco.is ( e .m.esn10 Ja ~~ua
, lnc'epçiiodo homem e sua hcrnllÇa cultmal. l\ão parn scgrq!at•
francesa, _onde ela lhe se.rvi\1 de .-ekulo}; 2.º) () que signlii<:a
e, mas para (widir--sc e perder-se, sem ilisfar,ar•>eou sc·r dc5-
essa ,>ne;rn romo fu:ma de ,oosciênci,1, de h1ta e de si.1pc:nição.
uuído, no iluxo de crescimêllto dun.1 :Kaç-loqu~ a:nda s<ecnvtt•
pela ~nal o negro reivindica o seu 1•assado toma sobre si a IC$• ~mh:i <las graodezss tle su~~odg(11s étnicas, radXs e cultt:rn!,.
poosahilid,ide do sc-u d.:stino no presente ~ procnr:t fundir e:.st
~~-stbo à coeltistêllcia com seus alg~cs no futuro sem dar as Nesse sentido, se~ia possível com,)reender e c~plkar a p1·eo-
b.ces a hei jar e sem nenhum falso pu=it:uú.smo ~mo um ato CUJY.lçiÍO do incelecmal brnsileiro pela Netri:ude - como um
puro de vit.aljc\a<le e de confüinçanos "estilos afr.icanosde vida". n1.1do de espí,:ito de rcdeoçíío do branoo, no sen.it\o ev:lng.<Í·
"A ahsnr.d,, >\gitaçio utilwír'.a do braom, o ncgm opõe a autat· lico, e de ascensão do nej\ro a n1~0 o que lhe foi proibido ou
ticidade recolhida de .;eu sofcimcnto; pot teJ: desfrutado o hor- tlég.l(lo. Conn:do, como já aconteceu nas difer..-.n!esía;es da lula
tfod p:h1Iég)o }e• tocar 110 fur,do dn desgraça, a raça negra é anticscravista, esse estado de. e~íriro tem de ser universal na
urn.1 raça ele na ( ·). Aqueles poetas ap,uçeerrun como vales ele ,..,,cicdadebrasileit'1. No pasS>1Jo,"lutar p!lo negro" constituía um
um~ "raça eleita"! pa.."Zcx;mrgó-la e redimi-la. Só a poesia po· ma11dato da r~ bN11ca., como a ck se referiuKabuco; hoje_.''luw1~
deoa fornecer meios para ele,.,,. de tal modo o homem na idade pdo nc-grou é uma missão com que se den-ontam os próprios
da ir.lÍguina. Só o poeta nqiro poderia rel't1pcrar e retemperar negros, embora as su~s aspirações POSafetem tanto qu,1nto a c:es
os dons criadores ela intuição genu.ü.1amentcpoétic:i. próprios e nós façamos, ari 1,a0\1passivamente, pane do pnx.-csso
Agora, como viocu!Ar " li:enuura d:atnática brasile.ir-da esse que se desenrolaflOS nossos olhos. Kes,<>stermos, solidaricrludc
clima inteiecn.v.il,com suas complexas raízes c-dturais e suas dcli- ,: integração representam. meios e alvos, e :i-enbum branco eir.:í
c:2das complicsções morais? Quem leia a coletânea de Alxlias i•cnto de co111parrilbud>ISoj.)ÇÕes qLLeéão sentido ao ·'p(o:esw
do Kascimeoto logo c:on.staia uma coísa: os dramaturgos são n~ro", configu1'1!nd<rocomo realidade bst6rica. Anali<ando as
negros e brancos, ainda que se possa, legiómameote duvidar da pc~s teatl.'11isreunidas em Dra,r.ar p~ra Negros e pró!ago p..ra
"nci,'Iituée" dos q':e são negros e da "hranquitude" 'dos que são /.rJucos à lt,z de semelha2tes convicçõ::s, cledu,:; que é i::rviá~l
b~anC?s,dentro de nossas concepções de "r:iç,1" e de "cor". A <KJtra fórmula, qualquer que da seja, pana a situação brasileira.
m!lll isso sugere algo inconteslivel: o imeleco.1alnegro brasileiro Na vcrdac!e, Ro:neu C.-usoé, Ros:írio fusco e ;\!xi.ias do :Nlls--i·
tom de preparat•3C p:u-aum desafio bem mais diffdl que aquele ~llêflto, os. r:rês. "ocgroi", r..ão atin3en1s.enâQo quç:
d_ra:nttu.rgo1>
com que :urastou o !')OCC!l negro das rebeliões africanas e das S•rtre caracrenzou co1110moà:ilidades de "negritude objetiva":
luta$ anticolonialistas. Doutro lado, o intelectual branco brasi- • v.llori7.açâ'O da experiência humana e de suas fontes psico)ó.
leiro não pnr{P.Íf™l't~t rs~ de'SStf.i<:,
e voltar-lhe ~s costãSt potquc J•(~s, sociais e cu!tut:úsno mlli,dodo neisro. Oru, tod.ii as de-
estamos todos empenhe.dosem com?tcendê-lo, defüú-lo e superá- ,n~is peças, de autores "bmocos", não fozem outra co:s:t, mesmo
-lo, para r<:aliurmos de for□a autêntica e completa, a rcpresen- • trntativade '1 recupera('ãofo!clórica"contida cm Ar~u1:dci. Por
~ç:ío do homem ~nereme à civilização pela qual propugnamos , ,doso que seja, ond,; o jogo c:!os~Ullbolosj>Odctia nos lev,u
h:sron<-.un<:ntc. A1 se coloc:ic questões quase impossíveis. O 11d1lcmalinentem.ús longe, como em O Filho Pr6digo, em Sorti•
branco consciente da sic;iação históric<Ku.lmral brasilcitji tem IIK'º e CIU Anjo Negro, tcmC'l:1õ de no,;10 o ubranco"irmanadocom
êc resguardar us condições q.:e permitam no negro ser mais negro " '' negro" na busca de uma peneiração mais profunda no cos:nos
111ur,1lproduzido pda miscigen.1çãoe peles injustiças flagrantes
" • ili;!arçadas da "dcmOQ11ciau.cial" bra.sileirn.
(~) Jttn•P•u~ Sarne, (J_rfe, Net,1't>, ú, Reflexões sobre o racismo, Tu,lo isso nos leva, nnturalmeote, a ter de refletir wbrc o
troduçao
Ui.
,:.,4,g.
ct J. C'm,nrourz.. Difusão &ircp,:ia do Livro São P•ulo 1%0
' ' ' 1 1u1•110 pl'l;l!,lemado teatro negro no Brasil. A idéia de um tc,,,tro
, (' "flfrntol nasce de uma formulação moderna e posith-a: a ques•
194
!95
tão e~-tácm ~aher co.rno rcaneiá-k. A 1·;gor,o teatro que possuía- ,una t()mpensação;, e o hr:egro11- o que o teatro dc-\..e ofctcccr-
n:os ( =cemandc>-se cedas rn.mifestacões <le teor folclórico ou lhr como inceotÍ\'O, fonte de reeducação e meio de integração
pcp1.li.1rcsco e a p~sença dctonJ13da •ou amênt.i<:a do nrgro no n• l,bcrd:ide? Ao Ie.r esse belo livro, con$tatei que Clõsaspcrple•
<inê~o teatro erudito brasileiro), como as demais manifestações •i.Judcs respoodem " motivos e a c,\u;as ditíceis de alrerar, poc•
ir.telecruais, era de brancos e para brancos. Engendrar um teatro •111cprovêm de uma situação h.istóri<.-o-culturalque se transforma
n"R•Osigoii.ic-ddar uporn.midade cle formação e de ,ú.ianacão {om demasiada leotidão e muito pela i-ama. Em conrrapeso, o
artíscic,,s ao nt»;;ro - algo em si mesmo revolucioná.rio, que im- "t"!lroman..,. a sua presença,condmindo o teatro em no,•as di-
plica\.,. em revi.s<x:sde estereótip)s ncg.1tivos para o negro e na reções, propor.do novos liames e,llre a vida e a arte.
eliminaç-:íoprogress:v:i de: bam:iro~ que p1;051:revr.un o negro d~
nn:;.sa 'l'id:t inrelec1ual pródu.tiv:1 e criadora. 1,,1as, wn teatro
e:-:p.t-riu:e,u;;lte:n Ltc: \'bar 3 o:.:ttos fins. Ou seja, ao dar canais
.:le expxes;ão à c.ip.1ddadc criar!or::: do l)e{!.toe ao redefinir rcpre-
semações ;obre sullS aptidões inrelecn1ais ou morais, ele preâsa
ttlgw,:4 C!Ji!a C,71dct.ertniJ!
t'ot1C1Jrrcrp.t1ra1.>1od.i.f!l'!ü' ..ada direção.
Isso levaota v,bas yucstõcs, lip,a.:l•sà elaboraçfo dos dramas, à
compcsição do, auditórios e às influências educativas <lo reatro.
Por Vtlrias,,.~t::i rt:fk"'tí
se.riamentesob.te esse assunto e nunca
consegui a\iviac-n~ de e<:rta.<perplexidade:;. Um dos pontos que
me !)reocupou e,.'ever.1s diz rc.~peito ii ligação entre o reaa:o erutÜIO
e o teatro popuhr, rum si:n; imp.lk~ operativas: se há grande
intcrc-ss:, e1n ,urai.t para esse teitto toe.lo, os hrasileiros, há inte-
t<:sscs cspedallssimos ck fomeJ1tar o L'Ompnrecim~.ntoem m,1ssa
do ncgi:o e de :::xpandir as b:i.;.esJe :i:,cnmunento do artista nq,,ro
ncs~ m:as.sa<le.espectadores. ~esse caso, o teatro devc.-ria ~r
~inc:1->t
maõ; revolucionário, quebrar as CJdeias que o pxcndcrn
ao nosso teacro europer.iado ou norte-americanizado, tornando-se
11amcrli<h do possível e,:io11dnc-o, muito l'lástko e recupcrando
c'..:mcc,ms da l.radkão atticana qrn, inseci~m o drama dircra-
:n~ntc: nn; {'(lndiçiX:stribtú~ de c:xistênda. O,uro ponto vincula-se
ao conteúdo clessts d.-atnas. Ilá. a preocul-.a,ão de cvimr -se o
Hexóc-ico" ~ oomo estllização ou como est.únulo estético; tn~, onde
s-: u:m cxpforac!o rQm \•;gor o incentivo peLt /c,m,ul" de com•
c~11â111 Onde o desm;1sc:irame:i110ou a descric;:iio simbólica fo.
ram mais lon~e, ambos per1~nece.,t:n na pcti!cria, cm 1,-randc
pane porque se resolve::am os proble1J1as da representação pelo
artista negro ma; não se túlha pussibilioodc sequer de equacionar
o uu::ro prohlema, o do :1uditório e d,, patt:idpaçio do negm no
púb!íco orgânico do teatro brasileiro. Por fim, a própria função
u,cra-cstétka desse tealIO inipõe•sc como acintoso desafio. .Está
certo que temos <ie pemar Do homem bra.rUeiro - e naoDO
"br:,,"lCo·•011 no "negro·•. Porém, sc:gt:nc!o que medidas? O
"brattco" muir,1s ve,;es procura uma cntarse, uma justificação ou

196 19i
RELIGIÃO E FOLCLORE
C.'J'i'l'U1.0 X

REPF.ESE);TAÇôES COLETIVAS
SOBRE O .KEGRO
O XECRO )IA TR~DIÇÃO ORALª

1) Reaçiio do ekinen!c nq,ro ;obre os fo:C!cresihérico e


a,ncrlnàio:

O nei,-roesctl!.voocupou, na sociedade brasileira, uma posl-


~o sui generis, hfiltrando-se ";,m nossa vida lntitna", como o
observou SJlvio Romero. Po=isso, conseguiu estabelecer e man-
ter um sistema de relações primárias com os senhores, o que
os colocou em situação pcvilegiada oo grupo familiai do brru1co
e possibilito:, o :>mplo sincretismo operado entre os elementos
das tres cdmras cm contato ( do branco, do ~ro e do indí-
gena). Escc,; ,aspectos da v:da social e o aurccnto comtante,
durante o perfodo do Brnsil colônia e até meados do sécdo XD(
do contingente negro, através éo tráfico e c!apróptia reprodução,
re.lldendoeste cleme::itoa di~tríbuir-se sobre uma área cada vez
roalor e a partic:p,lr CO!JSt.m:e e ativar.1en:ed.~vida cultural c.le
roda a sociccfode,explic:1CJa rreponc-erái:cia<lo negro sobre o
índio en:. nossa tr:1êiçâo orai ( quer no; a.specto5 -aculr-~r-a;:ivo~
inicia.is, quer no poSterio.t tle5envokl mento de ainplos procesr,os
de. acdt::raci:o). Além clis_so.o d.erMnto '.llclliie~atendia a se
·o SErtio, fuginéo ao cativeiro imposto pclos brancos;
retrair _;,ru:o
en:ho.ra não tenhamo.~&,&,~ concretos para avaliar quantltaü-
varoen:e o gue ..,fjrroa,nc:,,,é do e<inh,-cimentogecal e$S8foga co
índio l "civili~çiío". É claro que : c:on"'--qüência imedia:a des0 e

• Série db..3Tt~s, f:'L~Hcrclosem O Í:t!aio d~ ~ Pü:!o ( 117/1$-0;


15;7/l~): 22/i/19-13). E::iç-;;o;,r~o «1n;una: F. Femandes, M<:d<r.<•'
r.o .Brtti;J,S~o POL!c.Difr~ fair.ipéh óo Livro, 19'..<(),
S<iti:.i.t pp. 344-351.

101
:ctt~imen:o t.tat!uziu-se por u,na diminu\çiío cfos wntatos entre
os lndios e cs bn1t1q1s, o que possivdm;,nte velo -atenun a inten-
pormp,uêsde baixa po;íçso, ocupa,"9o lug;ir tio cspanta-rria.n~as
lusitano ( o "cuca", o "pei-.ão"), nn jusra observação tleste
sidade dos proc~sos acultur2riços, cxis,entes entre os dois gru-
pos. As relações diretas cntte negros e f.ndios foi inicialmente
,,ucor( •). "Veixoc,sc de ninar n meoino cantando como cm
Portogal:
prejudicada pela avcrsro qu.: aqueles causavam aos silvi::olas
machos ( d_ S~int-Ill!a:re:e pr.o\'avelo1elltcpor motivos reli- "VaE•te;coca, \illi-te,. coca
giosos. Suas re1i,;íics se tomaram mais fatimgs s6 posterior- I'rá cima do telhado
mente, 1uas n::n.cachegaram a ser con.s:der~h.·cis,
e üs.o no; força Dei,;:a donnú o meoino
a admitir a h:p6tesc de que a açfo do oe,",ro sobre o foklore Urn ;oruclio c!csc,-,1JS-1<lo".
índio se pro::c;so:t 111:Nvésde contatos com os bnocos, e sobre
os clcmemos da cultura o:al índíge,-'l aceitos pelos me;mos "Par:1camnr de preferência:
brtncos_
"Olh.a o negro velho
Assiro, além da sua contr:bciç:fo origir,al, o negro reagiu Em áma do tellutdo
sobre o folc)ore do branco e c!o indígena, e._-.,_-ucecdo a função Ele está dize11do
que rum_-,,Jmencepoderia ser real::i:zda por este, tanto no que Quer o e>eoitlo assado" -
respeita à tn1diçiio lusitana, como no q::e se referia à rons«vaçio
da própria tradição indígerui., não fossem os situações que apon- Cotn o '•p9pão" aconteceu a mesma coisa, sendo substituído
tamos acima. pelo "tu:u", como poderemos verificar, cotejando a ,,arfante bra-
Nos elementos do folclo:e ibérico, em q,Je essa reação pode sileira e a versão portuguesa, coihidas, respec,iv~mente, po: Ba-
ser evkkndada, o negro preenche, ger'1lrneoie, as fun{ões coc- sllio de Magalhãe.se Go:içalres Viana( 3 ):
r~spondentes ao seu status soáal, ocupando os lugares "infe-
riores". É o qL>e podemos observar ao romance "D. Barão", "Tutu, vá-se embora
recolhido por Cclro de Magclhics no Recife e ~tudado por Silvio P.rá cima do telhado,
Romero ( '): Dei:xa o nhoohô
"D. Ba:-ão oue era macaco Dormir sosst!_1!11.do"
De nada se- arreceou; "Vai-te, papão.,vai-te etnbora,
Chamou pelo .;eu "roo1eqce", De cL-nadesse relhado
Uma carta lhe entre;.ott. Deixa dormiT o mecino
Um socinho descansado".
Compare.se agora ao mcsn:o Rom:lnce, recolhido na Foz por
Teófilo Braga: Toc!avia, não ho~ve desap:i.recimento das versões ?<Jtlu·
un. Barão como t'.iscreto .._ guc..;as: ~pe!!as ho-:ive um:a afrc,abr$.Sileirizáção
1
por assitn dizer,
De nada se arrettou: est.s éua!-;cant?g.is d-=berçQ,
como testenn.:nham.entre. Oui:ras.J
Cha11lQu.
p,:!os.eu c!"fado~ por nós recolhidas em São Paulo:
Vma carta Ilie entrego,,."
"Dorme, nenê ( Born llet:ro ).
Vê-~c q,.ieo criado português é substituído pelo moleque, o Que o cuca k,go vem
"prescadio n\lln(~gostoso, man.,_jadoà ~-ontade por nhonhô", com:> Papai foi na r()Çjl
o considera Gilberto F=eyre. Quando o meto não s,:,bstiru!a o E mamíie também"

(2) C.r<.~r.:nd,, & SenZda, Rio ée .Toncirc,, 1938, !Mli•240.


O) O I'olc'-Ne "" Jlrasi/.,B.m <lo J2t1circ. 1939, pég. Ul6, e Y•·
l~!J.t11t Fitr,!l,ti.~!, pi'g. 93* ,•:~!i. fo,;. âJ.

102
203
"Papão \";\Í embcm1 (BC1mRetirol mcnto; tht &roologb. atuerím\ia; ou nparccimeoto de criações
De cimn do telhado o mesmo rem;. básico. Um do; eseroplos
idê.-:ticos.co11S<!rva.1.do
Deix,1 o nenê é o saci, Olltro a iara.
Dormir sos:.egado". Cor.Jorn:c cspeciíica Basílio de Magalhães, oo ;eu rrab:\lho
,obre o fokk,rc hc,sil1,iro { •j, li,\ nc,n d::pl:cc simboli:a.çiío do
A mesma coisa poc!emosobservar quanto ao ronto "a me- ~i 11:\roicolog:air1díi,<e11:1: u1ru1:1nuopomórfic:a e outr.1 orni·
J.,inados brinco; de ouro,, ci~ o "rurrãogu~ c..u1tava";do cickl comórfica. Eoqu:i:ito uo Norle er-Ao s3ci 1:cpr-:s::ntadopor um
europeu, apc,;ar de cer um equivalente ,1fric-.ino.recolhido nor "r.1puia pernct.1 de cabelo averll!elhado,sem 6rglios para excre~r
A. B. J:.llis. !<Cj1\mdo
Nfaa Rocrigues: o velho c!o bordiio,' de O$ resíduos da bebida e d<1alimenraç,ío sólida'', na "africani•
bnmco qu<:era na versão ibérica. ~ qual J><ts;CU para n6s e Assim r-<1ção" co dt:cnc.c nn:cdudio predomit1C\l a reprcs.:nta,;5<>antro-
foi recolhi& por l\i11a Rodtigues Ih\ Bahia, ,tcahou por ser subs- polllórlka, !ll.~SFioonmi cn,no " ,'<'nhecemo;; hoje: neiro 1:ctimo
1'.illl!dopor um rv-..gro,na varku1te rcgisrrrula pelo Dr. T. .b. c-010um barrete vc1-n1cllioLt:lc:,b.:(a e um c,tchio,bo .~o e.mi<>
Silva <;;impos,_rambém&1Bahía('). Da \"Crs1io!l()rtugues;, em d:,. boca, dis',)licc11b:mc::me kr~<lo, bondoso ou malv~do_.como o
que o velho e bnlJlCOe falá rnmo tal": convém a uma entidade aÜ:iC<lnb:wa..Ad:iptcu o nome à nova
,'01·, p3;s,mdo >1 >te coohe.::iê.ocomo "negrinho do past1,r.::io",
ccc~wta, airr:ão ,(o n~l'inho d:1 úgu..l 1
·~ v~ simpksrr:i.!nk,;o negrfn.ho:'.
Senão levas com o bordão" A inro já tú161 ul:hl oom:spondenic nll hiurolntria fctichisht
do; neP,ros africanos: ien~11j~. Enm:c211to, nito houve pi'O!)óa-
PllSS:l!llOS ao utyrn afrkano: m~nr.e uma s::l:stitul('ão, 11anossn culturtt oràl, cesta ;;,or aqu~la,
mas apc:tas o ap(\recimeino&, mera entidade idêntica, a "mie-
'"Canto,cenra, Jninha Stlrtâo, -<l'n~un"('}. llo!!ve Lt:n intel'cs~antc sincretisn:o na versão afri-
Se não eu ti <li cana, qu-, s~ cm5>ardhou à indígena, e da qual 3pe11ass,1brclcra-
Com cachamol'\lde minl1>brudão" -se pelo ~•.:!to ~JroHnico ("), rnnscrvado pclo, nej\ros feti-
d,i~ta.s.
Na pcsgu:,a ,iue efellll!moscm São Paulo cão e.ucontrarnos f.ss:,s dcrttn:o;, stgundo c1'1:mos,podem <larur\'la inéia do
esse:L"nto, tQlh-.,;a~ch.twosprovável que h,tia tem.iniscênda do q,ie ,~issemos,octrca da re11çiorlo 11.:yr:usobre os elemen:os doi
fato narrado, pois as ,,cfaoças acreditam na exiw:ncia do "ho- folclnrcs iné:ico ~ wd•_p,enne mustram que, relllti\'an1cmc ,10
mem ~o saro", o qual idéntuicam cxatanl<!/lte ao negro do SllTrÕO, folclore c:u braucc, há uma rr:msfcrêná2 das iJÍOre$sim.ações
aproxt~10-0, ooutro laJo, tmrito de:, qulbli,:,go, porquanto é pt\ra o nq:;:ro,t..1u-:ptl$S-',~
('t"IT%\uY:1piano <.Juep<xler'iamc.s.
consi•
que cabem i:-o seu ~oo.
<J•J~seiliin1tadn o ra'1n~-v ele c==~nça::-. dtt-.u:''jn!erio!'.,.
Al<:llldis.«>. "o negro acfapt,,u d,mentcs de sobrevivência
hi,,n,rira, e ~,é eru-eclo;compk:ms. 30 te;;.tro pop~ar 1).1.ie d~
já cocomrnt: no Bra;;il, m,1.i(lo pelos portugu::s.:s" ( ºl. ccioo 2l ti mpl'T!orilkdcbi,1/6g,icae a poti~~ soâ,;l ~o ::egro:
podemos verificar no$ "cm~os", pot e.xempl.o.
Ekntc'll,os da cnlmra oral iodi,genatambém 02ssararunor A superioridade biológirn dt> n~ro, r,a tritdição oral, --eferc-
uma espécie de "ofricaniz:1tiío". Vejamos apenas dois exemplos -se à Slln resi~ência físíca, lt>:lge'.'Íé.ldee rnpacichde pare cru-
cscforece<lo,.,.;,
o, quais <lo::111on,::.n1m
c·m que consistiu p1'ecisa-
mente essa "afric,tni~ção": 01.1transformação t'Orcplccnde ek-
(6) 0?, ci•., p,íip. 76-7/J. V<i•·"' também Lindolfo Gomes, Crm!M
Pop1i!cres~ voL I, pJs$. 91-9?.
( 4) Basfi:o d: , Msi,zlhias, ç~. ri!., ~l'S- ~$6S e 13().31. Arre, (i) O n,. Jaiu da Sih.·a C~pc,s recolheu ns éis tei:nas,. Vc:,1-s:
lh.-.,0$. O Folàt>te !\ei,rG ::o llrc.úl R.o d<: Jonaro, 1935, pág. 210.
0
op. cit., f>ÍF-'-246-249.
{$) A!tlr .R~_;n~)o;.. d!... p.{g. ,i9. {S) Artur R!ircos,O Negro B,,,siJ,~o, S. .l'O'alo. 1940. p,lg. if1.

204 205
balhn, hi·u,os. A .tnális~ das l'epresentações :;olctivas que signi- Jsso nulo sintetizado, íbri,i (> ~e.tle(jllizado rifão, corre!lle
ur:1a superioridnêc: bíológic,1tio negro pode ser feita, fccun-
ficITT11 crn Síio Paulo: "Trabalhar é pr:á negro", em q.1e se liga à cor
damc:nte, na pa.tcmiologia e em algutnas ql'-'<d.rinhas do nosso ,1 ex-cont!içiíoservil
folclm,::. ,\ an:ifüc do mate1ial recolhido mosu-a que se trató\ A icledod1fade ~ocial do negrll í: f:artametm:cxpt1.-:.sa
cm
de un-.a superiorid,i~c apcna.s aparente, pois os traços qut po• v.icias situa,&::. tio oosso foklore. :&sa inferioridade, toda._.fa,
dtrfam aira<"re.rizar o negro como set superior 5'1o aquelc::s que não é simplesmente c-ons.1atat!a,pois se chega a dar aos ato,; da
simbolizam um,1 verdadeira inferioti6de e qu,: definem a vida soc.ial dos pretos wn significado d<.. -prÍI!1Cnte e pcjoratív~,
"besi.i". Em se uataodo rle tr:1!:,alhos de racioci.n.io,logo '1;1a- estabelecendo-se um,1 espécie de tlislin,;ão cnm: c.,ss<:sams e os
re.:e o b:-aãlcopara dirigir o preto e mandar nele. Vejamos mesmos quando pnirtcados 1Jclos btru1<:os.Duutro lado, atribui-s;.:
alguma coisa: "Negro é c<>mo grn,: tem ~cre fôlegos" (Bela comu11:1ente aos n~os o 1:111isbaixo st!Stus da hierarquia social,
Vista). ~e5$e provérbio a xc::sisttncia do neiro é corupru:ada,vm correspondente ~o nlvel ecoaôwico menos repres.:;ntativo, cu-
a dm gams, que, d'ii o vovo, "km sete vidas". Com significado quanco o inte1-casamenco,previsto, J proibido.
corrcspo:idc:nte, colhemos também: "Ne~ro quando phrta tem H.i, na nossa paremiologla, provérb:_os de uso quotidiano.
Sl-sscnta mitis r.cima" ( Pm ). O rcrmo "pinta" significa ficar como os seguint~; º'.Preto não é geme".
wm ns tabelo, bril.lKO~."N~-groniio tem dó da pele" (Brás),
pm·que é <lesas.so1nbrado e c.1pa,:<le huefas ,írdu:is. Este pro- "Negro quando não suja na entrada, suja na saída", e outros,
,é,bio foz parte do popular '·bumbit-meu-!Joi", conforme a vcrs:fo que veremos :l<llillltC.
os quais parcCL-macomclJ-.:1r~.a,nel11
nO!l
dc,;crita po.:- Percir:i da Cos1J1 e cita<l,1por Arrur Ramos ( 8 ): que tratem com pretos.
Acreditat.nos que gnmdc parte dos pmvérbios referentes à
" .. ' ' ........................... ' condição social do preto ~ão parte., do "podre-nosso do negro",
S6 ~chei :1 Matc-us, do qual S!lvio Romero apenas rccolhen os "fragroentos" ( 1"},
Kão achei Pídélis, \.
Bem se diz que negro .. "O n~>ro na femt do bn1nm é o prhnciro que apanha e o
Não tem dó c!a pele" último que come";
''N,-gro conf= e não comunga";
Sobre a resistênciafisic,1do negro e eapaeidAdt<lt thlbàlho, "Negro quanJo &e dw.ma, resmunga;
a;néii reC<ilhem.?s
as seguinte,; q11adrinha.s: pau',;
"O negro é burro de caxga (Br,is) "Negro é vulto, qo:,ndo não pede, fona";
O branco é inteligente; "Negro cem c~tiog,t: tem semelh:!.ll(acom o Di:ibo";
O bt-a11eo s6 não traball,a, é a derracleii:a coisa do mundo";
"J\egro
Porq,;:e prelo não .: gente".
não entra na igreja; espia da banda de fora";
''Negro
·'Quem diz que prem se ~nsa (.Bela Vista) "Negrotem o J.X <lebkho, ,mha de caça e: calcanhar rachado;
)ião tem boa o;,inião, o dedo millhinbo é- como semente de pepino de S. Paulo; o
Se: 1:!'ahalha o dia inteiro, cabelo é canapicheita";
De noite ioda foz =ão". "NL""gto quando nio canta, a~soviau;
u Negro é bicho safado ( I pi ranga ) "Deitado é uma laje, comendo é wn porco, sentado é nm
Tem fôlego J., sc-t:cg!!ios; toco''.
Não fica doente nunca,
E~se pé <lec-arra?atô".
---- (10) "A Poesia Popul.,r no llrasil", i11Recist.11.l,r.,ikb11,1879, ,;ol.
(9) O Negro Dr11sileito,
S. Paitk•, 1940, ~- 365. II, p,lg,;. .3S-39.

20G 20i
:\To p:issndo, r.oroo ntuztl□entc, o mc,tre sertipano diz qu,, Do 1>o11to êe vim, S(l<:Íi!],
um dos indices mais :.nportanks,
que K-colhcu e.;ta ''leng?.lenga" ru□lxm dns pl'6prios L-sc:a._,,,.. que pod:em indicar se h,í 11maefetiça seg.-egação de ceno.s ele-
negros, n,; q~is a tepcli.u:i "çom cc,t.'> se,1tirnea10 à: in:c=ic;. ment05, é a misdgcnação. A hipchcse de fusão já foi 11re,•ist11
ridaC:.e·. 1111 foklor;: bra:dldro é a reação é deci;iva.o.1e.'lte ~ont~árfa ao
Vej11ll1oso material que recolhemo;: imercas,L'l1ento,como pod<:mqs verifks;r (Psri):

"Negro 1'2<.l=e, ap.ercce·• {geral); ''Marmelo é irnt.i gostosa,


Q,.re<lJna poma eh ,•ar~;
"Nqiro não morre, <le:sapartee" ( id.::,n) 13.raoc.;.
gue ca.s.tCUEI1 preto
u.\'egro não ecompan;~ piocissão, i-.c:r~gue' (Cidade, l\ão cem vergonh.1:)a carJi•.
Jxlém);
"i\egl'O não ,1hnoc,1,coruc" (Cidade, 13eléin,
Santa Cedli3); O q.san,ento deveria ,;;r rcoliz,,do Jent=o da mesn,a raça,
'·l\eiro não com~, <en~le'' í.lkl6n, Sa1,ru Cecília}; cegto com negto.
"Kcgro n:io casa.,~junta Bcle!m);
-J ( "Li em cim,t daquele 1001'.t'O ( Pe:iha)
"Xcgro não ranr,1.,uegro grita'' c>n "negro ber.rn - ; S.1nta Tem um p6 de seJmrobaia;
Cedifo); Neg:a só cesa com ne~~o;
São b>elltcc!n ,n~~mn laia.,.
"N~gro não Jonne, n~g1.J cochil,i'' ( $.in;a Ce-:íli.i);
tcNeg.t.-o
não fwna, 11egrop:~,, (ide.'ll};
Este ccm:i não é comu::nuoicame!lle ao folclore hrasileim,
"Xq,<to não faz feitiço, n~ro fa~é m;11id:ngtt"(Bela Vista); como podcrnos vc!Sficarn• &e~uintequ;1dr-J,d~ ''O Preto", da11çn
'";\¼:gro.oão \'.'!v:,nt...-gro
vc.-g~:nn(Rnh-); coreogrMicatL-c<>lhida
;,or Fernandes To:n.;s, vul!,'llri.ada cm rodo
"'Negro não f-.Ja, c:egro l'e;m1mg,1"{Bela Vista); Formgal ("):
"Ne&ro é pingueiro' íit=); "Ai lai-ilari Jó lela
"Negro não bclx: água, neiiro engole pin1,,a" (L.,pll'j. Batatas cnm hac.-1lhatJ.
O JJI~-mé p-aroa preta,
A po,siçiio do prew e do bra::co, na escala soc:i.,lhrasildra, São peças do mesmo pau''.
cst,C"ia ::onfo::,ne ao SÍSLt'made mstas, de acorde, com a s~uintc
qundrüiha p<>pular q:•c rccoll-.e1TI<ls: M{u:iode Arult2de ( 10 ) consign:io ,eguinte hndu, qrc de
dat:t tio século XIX, colhido em nr~ganç.-\por um;1 sua alllllil:
"Bnu:co nasceu para o mando (lklém}
O negro prt! rrribnlhar
Quando o neg;;o n.ío ttabalna GOSTO DE !\'EGRA
Do braoco Je"e apanhar".
".Ea <>
•!0>1:0 eh negra
-
Cor Je c-aivão.
A qual'rinha ainda implica a mm:mcn,-iiot'.,1 org8ni1.açno Eu teriho ?')l · da
~ceia! pelo cm,tigo uos ca,os c"ttcmos, corno n(I :emr,o da ese1"1-
vidfo. Grande 1:aix.iío
Há l~mbém ''xir::gaçk ·· padrnniT..aC~ls, p:.lla 1 ;-llOlir"
com o; (11)
pret·os, conio as SCJ,'UÍntcs: •tr.-.acarQ~',...rjç;;{o", 0t.1 '"tiç.uno
1
", p/_.g.120.
...:~ci.r '"bcx.!c)\
'pau.dc.f111n1'"'
etc. í12) O F~Mr<! "NtJ,10 110 B,-..!il,_
Rio Je Jtt~iro, 1935, píg. 263 .

208 20?
Que bem m'import.1
Que fa!cm de mim
Eu gosro da negr,1 dx:garufo o dia de nego l'OOrrer
Mc...-smo
as.simº. E se for prn c:fu, S. Pcd.to faz c!csccr
No purgatório nbguém lhe abre a port<l
A segunda quadi:a j,í esda.recca situação real dos rransgrc.- }:; no in(erno nioguéci lbe <pet ,er".
so.res, que são castigados v::.lo"falat6rio'' do povo.
A separação entre .lçj\1'0 e b:'ltllco não toma apenas fogar nos Essa impossibiHdade "do coo"p--..roo r,reto, está bastante
casos extrelllos de fusão. Os ";;ão somos gente da mcsroa laia", gencralnada na fl()S.Sai n-adiçiío, como 1:xx!eráexemplificar n gua•
ou "lliio vivemos no mesmo balaio" ou "não scmos co mesmo tlrioha segu:nte, recoihida por Alfredo B.rantlão (" ), e já ante-
estofo", J><.~emlimit11r as xehções sociais entre eles. Nes_,c ser~ riormente assinalada por ootros autores, como Artur Ramos e
tido, são muito expr~sivos os ~-e~os de desafio, recolhidos ?<Jc Pereira ela Costa:
Pereira da Costa e ci:ados ;,or Artur Ramos ( 13 j:
"Negro \•elbo qU2ndo morr~
"l-Iá muito neg:o insolente, Tem canriga de xexéoJ
Com clcs não quero e:!gano Permi1a Nossa Senhora
Veja lá que nós não somos Que neg,o não ,á ao céu".
Fazeooa co mesmo pano, \
Nisso só for!IIDwlfllld~ O que vimos neste capítulo não passa de uma tentativa de
Kabuco e Zé Mariano". localização, cm no.ssa cultura tradicional, co problema do pre•
conceito contra os indivíduos de cor preta. Como 9UD()S, esse
O caso extremos de limiuição copreto na vida social está preconceito pode sl?t analisado nos clememos do foklore, o qual
representado -na seguime qua<lrinha, que recolhemos na Bela pode Sér a fonte ée esterc6ripos que fornecem juizos de valor
Vista: aos indi,.fduos, regrando a sua conéuta social. A consciência
tl,T
.,egro preto, cor ca• noite,

desses juízos de valor poce fazer com que os indivíduos, antes
Cabelo de pLxaim ele se porem em contato dírtto, já se tenham julgado e avaliado
Pelo amor de Deus, te peço: r«iproc:amentc, dercmú11ando-sc, a.ssim, ~ aspectos que as inte•
.l')egro não Q]ha prá mim". rações possam a;scmir.
Como ob,crvamos, e há muito tempo já obsen,~ra Sílvio
. T:unbém na música popular rooderiu podemos analisar esses Romero, os pretos têm conhecimento dessas represencações, que
taros. O cru-npo é ,;-a;to, para q1.-em desejar fazer um trabalho os colocam em plallO Í!lferiot ao bnux:o. e isso pode não só
completo; nós, porém, nos limitaremos a citar a.4,=ns fragmentos influir e modificar ~ aspectos das rehções sociais, como con-
'
do som b•-1ongo "Nego ", em que nao- h,a so 1uçoes
- poss1vcis
' ' para tribwr para a exist~.ncia e consc:~ncia <le ress.entimemos e mar-
o negro ( 14 ): ginalidade entre eles.
O simples fato de o bl'.~nco formar "um.a idéia inferior do
"Nego,
nel\ro" já secia su.fident.e para modificar o aspecto das rehwões
Li.nguade m:ltraca sociais, evit.~ndo-0 ta:ito quanto possível. Isso explica, até certo
Boca de cometa poato, a predominância das relações borizomais entre indivíduos
Nada que é seu de cor diference no sodedade sulina, pelo menos. A co:isciêod-J
Se aproveita
( 13) O folclc~ Nevo "º Brari/, Rio de Janeiro, 19}5, pág. 26}.
( 15) -OS K,gros ili Eíst&i• de A!.Jll')as", ;,, fü1udos A!r<>-Br~ri-
(14) De n1101Íllde Orw1do llras:i, Mig-,C:J.;m3 e Pcdrico. Mros, Rio de J.r.eiro, l S35, pJg. 87.

210 211
\

d-cssu rcprcg:ntação do branco, pd-0prelo: aind,t n:údificaria mais Nesse materW pcbimos ~istÍnf,'Uir !rês sitllllçõcs do negro,
os QSPectosdas ini:.:1-a~-ões,
pelo seu espontâneo e conseqüente relativamente ao branco: J) e negro é apresentado como se-'l<lo
1-etraímemo. o que podemos verificar em qualquer cidade pau• c:-Liolog;camcnteinfedor oo brnaco; 2} o negro é. a!'>t<:scr;1ad~
lista do i.nterior, melhor que :ios centros urb-&D<)s. wmo senc!o biologic.imenie ;s::p<:ó1, ao bra:ico; 3 1 o r.q,<ro"
a1>rcscntado como ~endo socialmcnrc ínft:rior ao branco. V<:tnos
Essa si!uaçifo é compliced~ posteriormente, pots o senti- que os itct1~ l e 3 s:ío desfavor:ivcis ao negro, enquanto o Item
menro de inferioridade pode a?rcsenrar um dup!o aspecto: a) 2 parece_.à primeira.vista, favo1'2v~:.
ser o ·'resuluido negalivo de um processo de avaliação" e b) set
a "co.nseqüência de uma repulsa rnais ou rr.enos decidida" (1G).
Os mesmos fatores aue e.,oJicar8.DIa atuação co negro no
folclore brasileiro tar.:ibéi~expl.itam, a nosso ver, essas três si-
A reação 5:Slctnática do primefro aspecto sobre o segundo, ou
tuações do negro :u s11atradição oral De fat0, a condição ser.il,
desce sobre o pcirneiro, leva, inevitavelmente, a situações im.pre-
vjstas e apressa prováveis conflitos, acabando por aumentar e se punha o nesro cm conrnto direto COID: o b:-anco,_i:,~lia-oem
condições de inferior:dade. ~!grado a lotm3Çiio crista d,1 Cl\lJ-
cristaliiar o hlpotétko ou real prt-ronccito de cor. Desse modo,
Jí.zaçãoCo senh;>r, o negro cm a ºbe3~a d: cargaH, a máqu~a
corporifica-se o retraimento do preto e sua aversão aos valores
que devia mov1memar tudo, desde o mtenor da C.sa-Gra11at,
ou futos concretos que o !evaram a essa siruação.
até as áreas imensas, cobcrtas pela culnu-.1 e pelos engenho,. B
Ai transpae<.tt o ressentimento. Para se afirmar a veraci-
como "besta de carga" era mcarado pdo senhor, que de17 exigia
dade do q~c: -afirmamos é suficiente a análise do ciclo de Pai obedi€ncia sem limites e passividade absol::ta, e o obrigavll a
João, n1 tradição popular, quer em prosa, quer em verso. Do trabalho insano, sol a sol, denominando "manhas do negro" qual•
mesmo modo a marginalidade, que po<len:os analisar também
quer prc:te,cto de failiga. Além disso, o negro, 00;110 catiro, não
nesse material: o negro sente-se repelido ntl:11 mundo que ele
gozava das regaliasda "pessoa" e occpavao ml!ls~1J10 st11t:a
julga seu e que ele ajudou s criar.
da hierarquia social, não tendo, me;mo, duran«: mwro tempo.
sequer o direito à paternidade, pois o filho er.i propriedade c,cclu-
siva do senhor, qm: dele ilisptL-ihalivremen:e, veoêendo-o ou CO!l·
3) Representações coletir;as do ,:egro - O ciclo de formação servando-o de acordo com a,; necessidades do momento. Doutto
das raças: lido o fat0 de haver rdações sexuais encre o senhor e a escrava,
pou~ ou quase nada beneficiava a mãe negra e o filho mestiço,
Além 61 análise.sucima que já !izemos da atuação do negro pois ainda a escrava exercia a função de "besta", da ~áquina <le
co foklore brasileiro. poc!emos e~carar qual é a posição ocupada reprodução da Casa-GrtUui~. E o que o senhor retm:\S Jessas
pelo .x:gro neste n:esmo folclore. Essa posição poderia ser reco- relações. posteriormente, el'2 o aumento da n,ão-de-o':Jra, equili-
nhecida em certas representações coletivas, cristaliudas na tra• brando assim o número de braçcs com as necessidades de ua-
dic;IIO popular ( ruis lendas, na paremiolcgia e.te_), as qu:iis podem balho na fazenda.
fomel-cr jdws ~ valor e regular, conseqüentemente, as relações A sinação social do escravo, por ouuo lado. vinlo.,.te~orç_:u
entre os indh·íduo5 de cor &ferente. fornecendo padrões predo- ~s repr=tsções 9ue já existia□ sabre a inferioridade e a bema-
mina:1tes d<: c-o□por-.an1ento e ro:1trioubclo l"l"' a estabilização lidade do negro, que aliás justificavam a sua submissão e seu err.•
definitiva dos padrões ·'deoocrálicos" o:, "aiiscocráticos", na prego coroo cafrm, por pane dos senhores. O resultado dessas
sociedac!e. Em síntese, rrau-se de ,crificar como o foklore bra- refações sociais, regulac'-'!spela própr~a _es~u:uraçã? da sociedad_e
sileiro poderia CQ!OC3x o problema das relações encre brJ.ncos e l-olarual e imperial, bem como a existeneta antc~1or de esre~o-
negros, e para isso l'IOS ampar,unos, prdcrivdmertte, em ruaterial tipos desfavoráveis aos r:cgtos parecen1-nos e>.-plicar, converuen-
por nós recolhic!n em São Paulo. temcncc, e;;s.1s três situsçõc:< previstas no oo;so folclore.
Podemos analisa= a ttpresencação da :nfori.Drida<le et:o!ógi<'ft
(16) Emílio 'w7llem$ - A;riv:ill<ão r Popsilaçi',cshC:zrtfMisdo \10 n~ro no ciclo sc:br<:a ÍOtllli'.,;áO das raças. .{{ bâ i.:rr-~loca-
,~rasil, S. Paulo, 1940, tllÍg. 103. lização bem cefin;d. cfo posição do negni, o <!U<t!,i:! aparec-,,

212 213
cri~do por Deus, se apresenta iofoíor em relação aos elementos pois O e!.:Deos cru branco e ll?nito, mas ! cu1pa foi sua, porque
repres.:ntantes c!Js demais raças, por wna espécie de retarda- o:ío reonrou que ~t:o. !1".30 queuoova. Assim 011SCC1.1o P~?to e,?
mento físico e mental, os qua:~ o ioibei:1 de qualquer iniciativa branco~ um filho do "Coiss-Ruim" e ootto filho de Deus .
pmp1'Ía e imedia!l1; ou, então, a noção eleinferioridade se pat<:n· A rep.esentaçeo de que o neRJ'O,é filho do Diabo está bas-
reia através da entidade criadora, diferente para o negro e: p.1rn entre o po-.o. Alem &'Ssa lenda, rec~lhemos
tante dis:seo:út1ada
o branco, o Diabo e Deus, respectivamente; num ólti,nu aiso, outra ("Deus, o Diabo e o Porroguês"i, d<.:fondo aneoó_uco,em
a infer:orirl.zcleé resultante de uma maldição morh•ada pch ,;uc Deus cri.a o branco, o Di:lbo o negro, e o por!118ucs, su~
conduta do scJ)QSto ascendente, coroo -.cremo., adiante. Es!cs rwclo os do:s, cria uma síntese: o mulato. Í 3IDbero. na poes18
fa.tos, crisuifü.ando-!ena tradi;:.'i'opopular, refü,iiram-sena parc- popular cabocla h,í =:ssa"prcoo.pação de diminuir o preto:•, como
miología, p!"Cve11<.lo até a sinHiç.'ío <..losc!c~endeoces mc-stiç<>s, observa Roérigues de Carvalho ( 17 ), q•,:ç. recolheu vár.a;; qua•
como esclarece o seguinte provérbio. qoc recolhereos no bairro drinhas, ci::tre as quah ckstac,1mos a segu:nte:
<lo Pari: ''<:aipira dest.'cndente de branco é limpo e trab.,lhador;
c.1ipira c!cscenc!ente de ptc,:o é sujo e vagahunco". "O braoco é filho de Deus,
V cjamos as lendas. O mulato é entcac!o
"Orlgero dai raças" (Pari). O 01bra niío tem p(lrente
F, negro é fiU'lOdo Diabo".
"Antig-.imcmct0<los os botncn.~eram pretos. Uma vez Deus
resolveupzcrnia1·o esforço de enda um sem nad:1ter dito a eles: A oilll:a lenda, q1,-e~e refere ao supostv :<scendcste da ruça
mandou-Os ar1·aves&1rwn tio. O mais e!peno, e que tinha ma.is
ié, executou logo as orcl1:11s2c Deus, atraves"ando o rio a nado. negra, é ~ seguinte: .
Quando saiu do outro kdo escava complctmncnte branco, que "Como nasceu a raça ntg?ll" (Saota Cl'Cl'lia):
em uma bele,,a. "Quanco Caim foi ,ur.eldiço.1clo por Deus, porque matou o
"O onero, qt1an<loviu o que ,irooteceu ao frmão, tamb::m !'CU ÍtDlão Ahd. "irou r.c.gro. .E ele, n': desesp,:-ro, procurou
correu pa1'a llS águas do rio, fazendo a mesma coisa qt:e ele tbha um rio para ~e favar. Enconu-a.odoum. ri.1cho.mal ~ a 7ola
feito. M<>sa .ígt.:a c,,t<va suja e ele saiu do 011tro lado apenas dos pés e as J>almasd~ J~o na águn. o m1d-10 S?.ccm.~ ;,or isso
amarelo. qt!C es negros t&n ~ pa!rr.Mda ro1ioe 11 sola tios .JX;~ brancl!!,
enciuanlo o resto .!o seu corpo 6 ne;,ro como ,\ noite •
"O terceiro r,imbém q'Jis mu<l.i.r a Lvr, imitando os dois
irmãos. Ivl.n;a Jgua -e:;tava mui co mais suja e quM~O ele chL-gcu · Outra lenda, que L-sc'..-irece~ l'osiçiío de !nfctio.t!.d~,-le do
do outro Indo viu com desgosto que esr:wã ~nM mutuo. negro no folclore brasikko, <áa $"41-clnte,~--.;,lhida ?°' L,ndolfo
Gomes ( ,; ). e incluída no ~eu "Cido sohic a forrr.eçao dns raças:
"0 quarto, :nuito molctga e !)te_guíçoso, quando chegou ao
rio, Deus já o ti~ha {eito secar. F.n,ão ele m<1lhouos pés e as O Branco, o índio e o Negro".
mãos, a?<=rtan<lo-0ssobre o leito do rio. f por isso gue o preto "Deus criou o bra.'lro, o !r.dio e o negro.
1em ~ó as palroas <bs mãos e as ;o.\:Js<los pés hr<1~~. e é mc:ios "Quisdepois expcrime:ltar-lhcs as qua~:mdcs tle btcligê!lcia,
(iue us outros'•. cors~ein <: dt:strcza.
"O ]}remo t: o Nq;~o" {Lapa). ·•Ati.ou-os ,1 :m, poço de c"rt.1 profunc!iclade.
"Certo di,l, Deus, ao ver o mundo tão boni(.O, resolveu po- "O brJnco, ycodo o pcri1,,o em que se ~cb,-,vg, pensou no
voá-lo para <lflrmais ,•it!11à n~Lt1re-a1.Eruão fe7. o branco, apto• qnc deveria fazer e, a1>ro,eitand~se &is f~ndas da tln&, ag;u,-
veitando o huro da tl'tTa. O "1:.nhc•so", q,.1e sempre ,t:oda r,tndc-se às r,ncdc-s do buraco. s.U\'CI.HC samdo do J)OÇO.
espiando o que Deus foz p;ira fazer a rr:esma cois:,., também
tratou de faze.e :..-n, bon-.--code barro. Quando acabou den 11m
:issoprão nele e = mor.stre."l!!Ocamhaio, preto e de c3bclo quei-
r.,ado, ;aÍ\l a corre: o mun<lo. O D'abo fiem, dam:do da vid11,

21.5
"O fadio, .;u: Ih~ observ?.=atocos c,s movime::!tos e expe-
~e_ntes, procurou im:t¼lo. 1~~ só pôde conseguir o que dese-
J"V" trepando às cosr.ss do neg=o.
'.'Ma.>e~te, .indolente, n,idi ceotou par, ~lv,u-se e dchou-
-se f:ctt, :n1Jt1\"c,.S01:! pedi:-Sôrotto, sem ?r<)Q1rsr qu~quc:""t" tt•
curso ate q~rc -ve:o a morre:-.
. ."E- ••. c:.,ta
• _coroou.w.,
,...,__ 113 ,o,: grande s:Jbedcc;a, iez o negro
1n.fenor ao ínc!10e o !nõo L1ferior ao bra:it-o". CAPITULO Xl
D_o mesmo modo, l;á e"!)lica,õe, .tidiculari,,scoras dos tra•
ços fis1c<»do negro, na tudíç,~o popucr, cofoando-o, tambéc. CO'.'-TRl:BUIÇ,\O PARA O ESTUDO DE U1·:l
4
cru J>os1cão:nferior: · LÍDER CARISMATlCO
"Urubu, páss,u-opreto (flej~ Vista)
P635aro cio bico rcmhL><lo,
Foi p:agn que De-.1:;deixouj I - L~TRODUÇ.\O:
Todo n<:gro !er bcicuco".
O pcesente tra:1alho, como i::d:ca o próprio tftulo, constituí
Outr~l exµ.1ca~io: de.;~e J!-::=.c.:nl..
ei1ccr:Lrnrr.os sobre u na:iz
uo;a s:n.,plesconrribui~o paro tJ estudo dtJ cu/!r, criooo por e
do ptem, erc Lindolfo Gc,mes (op. ât.j: desenvolvido em torno de Joíio de Citmargo, eo Sorocaba. Os
<!nelese,::ro;1os!ONJmrecoibidos in foco, durante o mês de julho
·'Dc,1$ c;uandofo, o neg:o e-el 942. Os resulrncos d,1 p.-.squis.i1ão foram pnhlicsdos naquela
ü1rneçcu ::o c,lcan}J;'.lr, êpoo.1 eo, vim1de do me11ioteres;.e pelo p,obkMa. Pretendia
Quando chegou ao r,sriz. realimr 110\·as pesquisa; e e.laborarum estudo siice1niítico a rcs-
R--u ao bia!x, para acs\,-Jr pe,,o dos arivid,.des de Joiío J~ CE..toorg_o, a org-Jni,.açãoda Igreja
' úuha p!('!\viça, ,
O Diaoo Nosso Senl:or J°lQmJesus da Al!ua Vermelha e a jntegraçiio do
Não qi1::ria ttabalhar: "'<.:uhoª a.o ~i::;:tt:u•~ J'-=So.1ocal:r.\.Contudo, ouu-o:s
S<"....:iu-,11hu~al
Deu u oi soco t!o nariz u~balhos ,1tr,ürru11 n-:.inha mrnção_ e oi; dados recolhidos conser-
E. o ~~cu de cs.honachRr 1
'.
11aram-re inú;e.is, J>C"~idos no ,;,.,u &:hfrio (>). Ptosando no in-
te~sse que eles ooderi:irn tcr paxa os c~-:p:xialistas,resolvi pn...
Pon,u110, nio só ;.e cxplirnm r.o :okloic: br,,ü'.c:ro o ne"tti
blid-k,:,, me.,u10em 110.-a forma .sc,dográfica.
corno. S:<1<.~cti<:logicn.01enttdcrior tlOb1--.?nco e de inleligê;ci:3 '\'a mkw dcs cfad()s, foii.l evhleole1))(:nJ,e depois da morte
e ",!'t•doe, utf-~:"';":'• coe~? hL71bé~1 1..i uma t::-::tativa Je exp!i- de Jofo <ie C'.!!margo.foi 2LL-.;!:adoe eschtrecic!o1'><>r Nar-Alino
uçno dos traços foJ.OS <l1krcmcs ! nns kadruc- :,alma da mão e Ancôn,o Gri,,o, dois disápulus dde_ e pri:J.cipaiszeladores du
etc.; e em 01:m>se!eroentos fulclótk0$ L · lj\reje. no período cm qll'o " visitei. OuuM iJ1í-0anaçõcsforam
-:- Puh:kocõesprévias:Ret<i.~.ztfã A.-q~i~ !..1;;n~lFal, Sio Pilu!o,Vol.
CXXXVIII, 1?51 (com i:·~1~~); F. Fere.andes/1i:i~nts1 Sod~is ;;o
B,ai:, S!io Paulo, Dii.1Si1> &.:ropda <lo Livro, 1960, f-P· 360-,;8I.
(l) Os ,fados TC1»ihidosforte:, ;,o.ttialmtnrcapni-,drndos i,or Roga
llasók, qoc csn1d-1 cm "'" uabnlho, elán das ativid,éc:; de Jõ,o de Ca·
m~Tgo,:1: de omroa;;.4u:: se <!edicar~ tambémao cn:amentoe oo ''profc·
risu:o rcli~uso" ra. R~ Bast:dc, .il .~f~crrmbaPaulists, ir. SociO:ogi1~
K• l. a~L:1imLIX Fac,,:cdad<> de pijr,sofi:s..Ciências e Letns da Uni=-
sica<le~• 5''ioP.1ulo,S. Paulo, t~n, l"'IJ"-51-112; sobte João de C.=i;o,
;,,i!,>,S'J•q,;e 105).

216 217
o:,tidas de moredores da cidade ou cxrr:údos c:c escritos sobre seus podcrc-,: sobrenaturais. Ela está difund:da titnto no ótculo
João c::eCamngc. Durante miu.ha permanência e:n Soroc:iba fui dos crentes, qu.:mio entre os simpk-s admiradores - isto é,
tambén~ m~to auxiliado po= Luís C'.ascanhode Almcida, co~1,e• pessoas qw: não acrcditavan1 nt-.s 5<:usdo!cs ,_.,a.rl.ootnrais;mas o
tente h1ston;1doz e foldods:a ct•l'lhc::ido de sobejo, e q'1em noL'O· adtnitav2rn, ern virtude da bondade qu:: tevdavn no trato com
v::lto o ensejo pata agradecer algumas informações, 0pr0t'eitidas os necessitados ou com os d=1tes.
:1es1etrabalho.
a) antecedcnter da u profet;:,cção"' e ,io culto:
II - DADOS BIOGR.~FICOS:
Em l 859, Alfredo, um m.e.iioo de 8 ano,, filho de uro CO·
João de C1:unrgo nasceu c:n Sarapuí, bairro dos Cocais, onde rocrcí:1m,português, chamado João Buava, foi levar ao pasto um
foi e;ui,·o dos Cama!)'!() de Barros. Em julho de 1858 foi bati- ca\"alo, o qual se.-via para a en:re5J de encomendas, n,, padaria
zadc, to:11do rnmo mac'..rinha'.\'-0~saSc::ho:o dns bore~. Sua mãe de seu !lctl. Am,mou a rctlea cm su.:, cinta e foi peb estrotla a
e-..ru d::s.·
UCla m:gra cativa, um ~'-01.;.l'o ...
~arisda. chainada.Fr-andsca~ fora, montado em )'cio. no :mimal. No c';ltt:inho começou a caçar
ruas con.l,cdda pcc ''nh-í Chka" e "Tia Chica", que t:1111h6nfav..a com um hod()quc. Ao fazer os mov:rm:e1tosp,ua :riatar um pás-
~lgma:1s
prá1ío1srle u1ro11deiri~mo cbtic!asde Dona
( :.nforrnaçôes saro, percku o cqcihôáo e oiu do cavalo.cspJllhwdo-o. Como
.t:ugênia Marília ele Barros, <lc:sctndcmedoo Cam~rgo de Barros, estava !>R~O pela cintura às réd=. foi csfacclaco CO!ltra () crufo,
que vive cm uma carn, perto da Igreja. mandada cm:struir p(!J' !la disparada do ani.~1al, o q,.?el só parou perto do c6rrc 5o das
seu p:imo João de Camargo). Por ictermé<lio de sua "siohií", Águas Ve,-mell,es, onde havia uma JX'tteira. Ali acharam o que
dona Antt Tcrcr.a de Camargo, católic;i pr>\cica,llee muito ,l,evot•, do ro,:po do j nfeli;; menino e e~\1eram uma çruz em ~ua
1·est<1,-a
foi João inic:iark• no catolicismo. Trab.1lhou nos scrvicos da <:115'\ memória.
e depois na lavoura, como cativo, tendo com c-.:rtti'a rccdido
iiilluêocias de ma mie e dootros E?!Ct'S\'OS, nesta C-.ioca. Depo;s b) A ''pro/ctiz,:_ção"
e o tu!Jo:
,la libertaç-ão, <1té 1893, quanc!o fez part.e do ootalhb de volun-
t,irioo paufutas, qne formou ao lac-o do 11ovemo. e-r,:,Itararé, 1rn- Era devOÇ,'iode João de Cunargo acender uma vela €:Opé
balhcu ror,:,o doméstico em várias fomílifü. Gsou-sc, nesta épo:a, daquela """', coisa que ele fazia 1o<l.1. vez que tinha oportuni-
com uma mulher br.11,,c,1, do Pilar. e co:uiouou na mc,;mn\'Í<:hl dade. Aí ~e inicia uma ºº"ªfose de sua víc,¼, p;1ssando de
até 1905'. Nesta dam pa!sou II trabalhar .ou:naolaria, de onde wtandciro i;er:i "pont.o" fixo, ,1 çur.,odeiro "instsla<lo". Nesse
passou, éllt 1906 • trab~r com() c~maraé;i num sítio do ooirro lugar, o pri nieiro passo 1,a::aessa transforroa,ãofoi a "profeti-
do Ce1-rat!o.Em 1~06, hl '';m>fttf!llJi/', éómo diz o povo com,.. '-:lÇão". J>ium e~ inforn.,;,Jlf~~que, em 1906, qt:anJo ioi fazer
• a pequena cape,a
ti·mu l elll ftente à e:tr,>.ca
li, <.t "Agua Vermelha".
' se,1 devoção diante da "c:::z ele Alíredinh::,". C:\llsado depois Lle
Oaí em d::mtc, cedkou-se e."dush·amcnre ií sul\ "mfsxão". To- um dia <le trahruho ínterso, t!eitou-se i-l ;ombra c!e wna árvore,
cfavia, em contra~tc co1n a versão 9fir.ial, que circd.a cnt~ os ap{,s n;r c-ccndído a ,;,ela. e ador.meceu. }"
..mão o esplri to c!o me·
cremes, soube o ~~uime por seu primo, o · 'ohu Dito".: "Joiío nino 1\lfrd.o teri• apre;enuêo toda 1i cen.-t de sua morte, rev~
de O!!n,,rgo curava ~ores de S<.T"i,rofe:i1.<1tlo'".desde muito, ma,s J:odo,lhc, ta:nbé.m. ~ "s::<imissão", d.:zeodo-11:e<f'--eseri,i o "gufa"
s6 nqui e ali". Isto confirma a hipótese ""- iu.fluê::cia ele sua mãe e "protetor" de Joiio de Cunargo.
e de ?.lium ccmpanheiro negro. cst:vo como ele.
"Ouvia n t:07. q;.:edizia:
'N°:?:;ce~tes, dt1:novo, João;
TTI - A CARREIR,\ DE JOÃO DE GA~iARGO E Por sc-res tu tã::, J~_,roilde,
DESENVOLVIMENTO 00 CULTO: Vou te der a proteçiío." ( 2 )

. A LV!r,;ioafiei.! da rrtcir~ de .k>ãode Camargo é um pouco {2) DJ ~•vi&rdo &:,:~o J~o de Qtr.1::r,;o,llmr.:léc: M~ion:ir{o ~
diferente, pelo menos no que co..caà rc·velaçffo e a aplicação dos fé''. cm ,·crso, de :iu-=o-i,1 P-::3.éo,Sorocabi,1~1, p:Í,r;.'17.
rl~ JCl~éHi1.--°;.<!'vl

2111 219
-'-
~e,s;, ocasi-Jo ;:i
n' · .,
'
•P2=
a ci)";n,.,.;..,. di! J - d6 r •.
--,-•• 000 - vi.7111~0
p2smosa nipidez. t ~erdade it= seus dí.;cipulos, que CO!itÍ&ua:n
.t"'= urterQs. parunuotll!ente o nlÍmero Ól'CO poi., -• :1 zelar pda ip:Í<t, neg:im o s:u passado de alcoólam. 1'.{asde
ira,cla-o aa:,-,dcr ciuo ,;ek. e ctdcm-.lbc ' - o ~to 1:1esn:o d:•se. na sua preg.açlío,ter rcccl>idoo.--dempo..racio beber
capela ' , a cor.. auçao oc uma cuili, "para ser perceh:Joe conhecer t Deus", 5Clldo esta u.,.a
fi · CO'U3grllc:a :\o cu.to de '.'!os.soSen,,or Bom Jesus do &n-
un. ,\o
se.~ J - So,
== tt:npc, tcr:a ,--isto também O _,.,· • d ., __
d ._ I . -·rltltO e .,mn,-
ce
du c.mS3S sua fobia oonu:1 o ikocL o qual ccmbatia com
todl< ts forç-J.Se ero todas as oportunidades, tl:lp:,rs:>do-;=na
1900 - ""','º ares o ~~o . taleddo em 2( de fevereiro de
, -" ,er:-ívelftbrc: ama.--ela.<;uc assolou "-----L- __, fé. AO$c=,tes proilr.n toda espécie de: bebida.
aquele s ccnl d -""<A""" e ra ,..__,
~- ore emonst:'OC UI':\ dewelo carttativo e úniro =ra O scgu;nrc ..,oiso'', e-<erito a una e c:n letra rui:·'ClUl,
com os '""'n t~. ' ,... · emolc!.u.--aco e colocaJo no '111eriord:i igrei2, pode esclarecer me-
~ ?-'-,iprfo:en:o à :nspâ'3ÇiiCrcccl,kla Jciio de Camar lhor :i sun posiciio cm rcl.:içãoao c-olloe aos cn:nrcs:
:a.nú
:_=i 00 , .':_'~"• ~m l 907. Ur:'IJ opelinh:, no l~ar indicado e : "Crenêo ;;o qce eu e.reio ;en:mos irm:io, e descrendo DO
~ tn CQ"'''"'
1
m&> • " ;nzigea:
,, de N • S· Bo'T1 -•- Bo-"'
'-~- uu
.r-- .
,,.,m em ct1J:is que eu creio nem parentes ser=, DCm com este ocm oo:n
•. ) =•.tou
Clp!O, r:m1
UTla r:ta \'c.'~mell-.a
"o-.:,,·ir3 ,= a q;;:d caia até o
ocolu" i •
cl-,.;•\ ..
. • pr~
aqt...:le posso ter 2:nizade. Pricci?ia <lo mindinho oté o porte
cura) 'odb . ..inn.c aos !:::S procc.-os de m:iior. De De::s n:ío sou amigo. Só h=ilde c:m~ eonde
; a; ava ,;e, segurllD?o :i fita e11trc as mãos. USS\Ulii.'ldo Deus me pois.
wn aspecto c:oncentn!doe ,moooenK.. · Ora pro oobis, m:w-c.re DO!ils,Domilll.lSo Bispo. E o padre
..,,.,,,.
OI ~ená ~dJvim~to elo ~,lto, • parúr de 120 modesto co- e o ,-i:ior a igre;:i me declarou: - cu não sou p-.dree nem nada
~- ....... 0 ~ r P•o. .1
W1l3 ,.,_ a " ---'
°"º
de Camatto ac:bava
, "
-'-L ,..._..._.,_
que UUll 1u.x,,oao com de rc::.ho,cada qual em suas obriglÇÕCSquem arrecc!ic e
.~..:!
ron.coên~ de
' :tpanzua CO'!l ~"
· - _ .. L' •orurn e vc::t!2de" (•) T' '
• • ,nrrn Dei.!>e nada m:ús poc!emossabet.,.
. •=. ;.;ma nms:10 =usiv2rscnte dedicada bem,
80 e Soube que ele cosruma~-. cbunar os santos cató!icos pelo
por Otf adeptoc. A sua igreja para cle, acc,ou •end.o 2
!-<r.o
!g:i~ ~~1:º-
bém Ira
d~ ruas P~~~ c.kec:,rar.dcirlsmo, desenvoh-eu
1
d as •~e:ns ~ s:unos, ~- mesmo oiganúou wn-
nome comwn, geando diante de acntc:s. Mas, que entre os inl-
ciados, chamava-0s por =n:es diferentes. .Esfon:ei-rocpor con-
seguir alguns, m:is oio foi possível. t;m de seis cwsfiéis dis-
edianre}:~ a cultl!I'I afncana. fuod1dos ao espiritismo (cf. ópu!l:ls, o Sr. l\a;a!ino (braoro }, sc:n querer, disse-me um: o
de São Beocdito, o qual João d~ Camargo chzrcsva de .RG,,,o,s.
JesusAo do ,'Olta.
Bonf daf pncie.ua• · !';0"1!"º•· - em :ouvor de N. S. B.
un, .ez a sua pr,.me1rap!'eg!IÇ20ea, q.::e se ,1,..,_ dor:60.
aos crmtes = "Inníos de cr da . . •
(U Agua Vermelha" Fala . mh~ça I lgtC~~ nerr~ e ~istenos:,
-~ Alémc!o cU:.10cacólico. vus =ws, feito .llt()01WmeD.te,em-
bora sem a inrer\'ençiO do padre. e oficio da missa, João de Ca-
_.,_ · , • UI em '·'" sua profotrl"IQIO"e diz
ter eoc:oOlel,...do ao hs;>inro S.an·o - 52:x:
L- margo atnbufa, e com de os c:cn.tes, poderes sobrau.tur.ils aos
eio csofri•o de •1<--~- · .,' • e qce nao se é 2u-avés números. Os oomcrosprediletos cr-a:n o 3 e o 5, mas dava maior
- ' ·• ,r,;;omno ou c:e ~lon,~hox Jo- So
opcn a• curas: '·só Deus sabe" 6 ao ares que imponâocia ao sqr.mdo.
N • • ma.
,.,,.,- :_~ma c!io_n,;30prega o. fatnfumo e ~ .suboo~siíoa Deu~: Co:no foi iod1C1do 'ICirn, sobre rres coisas fundousua igreja:
· ~ao
Deus á uuuemos ,,(• T - ccrt 1ficar
1.>:r nem -
, DOdcm p=ar e em
; so ~"" "água, pcdn e vcrdac.e''. Conforme iofor~ obtibs de
cio ""--'.!)C.--a.r, J. . erm,r.a &:sejando que as "foi-ças bcnéJicns crco tes, ele teria, mesmo, crrp;egado os números, depo:.sde certo
u,v,no ,\.esuc de a todos ~úce e nros....,.,.:d.a&:" tempo, nas ~gwas•·. Esoe fato é confirmado pelo seguinte c:irtiío.
A , - .-- .
:Jpcct;;:- ..
.:ios~~!:3.:~
- '
de ~m-oe ~lco6ltttr:t, sob este
í.li~t(XJ, o ~w:n-etode c:reotescresceu et::.Y:'\
e.taropac!o pot FranCÍ$CO
livro:
Gaspu :la primcira página de seu citado

"N. >
A ca.u d<tverdade diz:
li. numeração do s(-culo
E <los seus princlpios
21t
220
fol demJii:cada e sempxe um amplo sí,-icretismo, em '!ºe s.e pocle_~~tatar a existê~ de
seja feirn, ou, qoe toroe a elementos da religj.ío católica, do e.spmhsmo e do fench1smo
remarcaro N. J :ifri,mo.
João de Camargo". A Igreja Nosso Senhor Bom Jesus da ,'Í.guaVermelha, como
o povo chama a prímiciva Igreja !\osso Senhor Dom J= do
Mas é o número cinco o "número" por c.xcelêocia,para ele. Bonfim, n:gistrada e-orno associação espírita, O:)l)Setva usos do
culto tatóliro: culto às imagc.:JSdos santos., as mesro~s rosas,
Era o número da igreja e o da h:mrui de músiC:1. Isso c.~licou- uenuflexão diante das imagens, a!t-c.r mor, procissões, pregações
4

·mc 01mo disópulo, dos m:iis run:idos e fiéis, o Sr. Amônio


~te. Ao mesmo tempo, nomm--se dementes ela cultura afciama na
uri..,o, do seguinte modo: "Todas os igrc.-jas têm grnu dez. A
que João de Camargo construiu rem grau quinze. São cinco graus fusão processada: o culto c!as pedras, por exemplo. A _lit?grafia,
c-ultut• 3f.ric:ma,tanto pode ser um traço do culto fenchísta su-
mais forte que :is outras". Acreditam, os seus crentes, que é a
igrcju ma.is "forte" do mundo. O próprio João de Camargodizia danês a Xaagô, como um traço de religião banto. Ko primeiro
que, por isso, a igreja era viva e que as estátuas eram de barro, caso, a pedra adorada seria "a pedra do raio", conforme ~thur
mas tinham m:iis força, porque também eram vivas. Cirino afir- Ramos( •); mas fl sqiund:Ihipótesepare~•meser a mais pro-
ll!Ou-me que João de Carns.rgo lhe asseverara: "as imagens s5o
vável por causa da predominância do elemento banto nessa
de barro, mas eo falo com das, e logo cem uma voz que me regiã~, e porque as pedras M?são "pedras ~ raio". Luciano
responde". Galler já observara que os cabiodas adoravam ·as pedras, os pa-
ralelepípedos e as lascas de pedra" ( 9 ). A pedra que trouxemos
Ouo:a coisa imeressan1e na igreja de João de Camargo é ainda dá mais consistência à hipótese. Além disso, há outros ele-
uma relllioiscêncí.a da culrura africana: um culto litolátrico. Um mentos como os nomes africanos com que desigaa\>a os santos,
dos três .fundamcnros da sua igreja coroo foi visto, é a pedra.
Mas isso não o é apenas de um modo simbólico: João de Camargo
quanoo' entre os inicíados, como acontece com São Benedito, o
qual ele chamava de Rongondongo. Até ago~, este_ santo ~ta
estava de fato interessado em reunir certo número de pedras, conhecido apenas por Lindoogo, conforme reg1m:a Joo.o do ruo.
necessá1io p:ra f:uet o "culto d.as pedras". As pedras para este
culto fetíchísta ele as procurava em Santos e em Campo Grande. Também na ordem do culto dos santos cristãos, coroo se
Algumas têm o aspecto de cascalho polido, na parte superior, que vecl ;1diante,ao estudarmosas "~hts'', PO?e--se
foier apr~l!i-
é branca. enqt.?3nto a inferior é negra. Há, também, lascas de mações às práticas gegê-nagõ, nos candomblts, com a segwatc
pedras, das quais obtive uma amostra. Quando começou o culto ressalva: n.1 igreja católica não é usual fuier-se o coiro a &ter-
das pedra!, colocowa$ no altu t.le No~u S.:uhur Bom J~-us do minado santo, em um predeterm.inado dia da s~na, como a
quinta-feira, por exemplo. Faz-eodo-se as necessa.nas transpo,
Bonfim; depois criou um altar ao lado direito do "trado" ( d.
sições, obtém-se esta correspondência:
adiante), onde as colocou. Posieriom1ente, dedicou o culto das
pedras a S. Pedro, roas deixou-as no mesmo lugar. Cirino e Nata•
Cegi-nagó - João de Camargo
lino me informaram que o culto iria ser solene, quando ele tivesse
conseguido o número sclidcntc de pedras. Sexta-feira - Obatalá - Sagrado Coração de Jesus.
Constantemente. disse-me Natalino, João de Camargo ia a S:!hado - Iemanjá - l\o,sa Senhor-a das Dores.
Santos por "ordem da lgreja", onde aprendi<t todos os "segredos Domíngos - Todos os Orixá:i (7) Todos os Santos.
do ruwtdo e da Igreja". Mas, continuou o informante, "tira-
vam-lhe tudo"; quando subia a serra um o-pírito lhe dizia:
"sabias tudo e agora não sabes m•ís na<h", mas "ele não sabia (5) Arlhur Ro.c::os,O N,R,'Q Br,<i/eiro, Gomp. Editot1 Naciroa\,
só para contar oo; outros". Parccc11-me c;_uesua ida a Santos se São Paulo, 2.' ed., 1940, pfg. 45.
prendia a um culto porticular, a C:ilunga. Como Nacalino se (6) l.uciono G.úlcr, O Negro "" ,'J.úsia, lJr,:sik.iro,pág. 5-~; ap,,á
recusou a dar outras i1úocmaçõcs,nio ,onsegui elementos para Anhur Ram<>s,up. cit., póg. 101.
confirmar a hipórese. Em síntese, os d1idos o.:posros evidenciam (7) Arlhur RsllJOs, Dp. cit., l'-'8·74.

222 223
Consk:et:1!'-'-lo-se
o qt.:c foi indicado ocin:<i,à cc:ncidência na s;:ntido da estr-Jdn, dando a fr.:n:e ?at".l 4u<:m,~n!mda cidade
c<)mo culto C'dt61:.c:o é apenss ,tp~reote-,cou)o, por exemplo, o e a parede lateral esquerda p:1.ma C-Jpe!inha.
ail.o d,;s alnus às ;eg111Xlas-feix:,1s.
Em conseqüêuda ~o contínuo aumento de ?r-estígio., e do
D01.!tto lado, deve-se consiéerar, como o~erva A. Ramos, cxuaonliná:io aibJ<o de romeiros, íolo <le C.unargo teve neces-
que o preto banto já tinha em ,ua cultut.1 uaç<,s que muiio se sidade de orclemu nova, reformas. A rcs;,ei10 destas não co:i-
ª?roximava:n do e;p.ititismo, como o culto Orodérc, cm Ben- .;:,gui datas exa:a;. Mas sei, <le fo111es f:tlediiaa,, que !ão pos•
guela.. Por isso é f,1cilmcnteexi:,.l:cáveIa quase predominância de tetiores :1 1910 e ronheço o ordem s~undo ,1 qual fnmm ;-cali-
traços de: espiritismo, 1niswrJêos co et1lto criado por João de zadas.
C:,:nargo. Além disso, a influêocia Jo esp:riti,mo tende a :w-
mcntnr ~ graças '110 grs.nde llÚmero de ='centros'> existentes cm J\ igr::ja aprc,::::t.i éua, enl.lC>, u:m ,izos, ,, m,10ei.::,1
~.
Sorocaba, e também porque muitos ck,s seus discípul0$ eram igrei~.~cat6H~:i~~rr- disticó c."D qt:<: s-::lê - '·Oremos A Deos~·,
espírit:1S, frc,Jiicnudorcs assíduos de t,1is "centros". gl,_1ixodo cua! e,r,í um cor~çfo ci~ rdY.1q,:;,_pin:.ido de ,•~rrnclho.
T;:m u:n krraço g;ra<.leado . .;:;nCelOCSV;! :1 :orpontç-:ío musical
Outro traço, que sq,"-mdo me parece, ele herdou de s-eu.s cinco. aos dom!Jl:;ose fcri:.1d(,s,
nl'if'OC1"tl
oomp:anhefros esc.c1.vos,é o "quar:<Jdos mifa.gres.n, em que, à
manei.ra c!o que se foz na Bahia, na Igreja de :--!ossoSenhor de .É preciso :iotat q:..-e as rdc:mas fe:rns de;,ois c'e 1-;>{)8nto
Tlo::f.io1,
1l1Icapela dos ex--,010s, e tm Aparecida, no Esrndo de clinú,avam :rs antigas dependência,. Estas eram <ljllOveita<l.ts,
Slio Paulo, ele ,m.nnulou centcn.1sde fotografias, algum:1s fundas, dc:rrubanéo-sc:apenas as paredes io,eroas, estabelece:ido-se assin1
muleta~, br3so,; e mãos de t'Cra etc. a comwúcação entre a oov:1 e a antiga "c.ipe!,1". O <lesen.olvi-
memo tles1aigreja tem q-ua1querl'OlS>I <la evol\lçfo d,1s nossns
Como João de Camargo ~e utih:ou de "guias", traços cl.t :uas antiga,, faze:1do-$e,10 sabor <las necessida.:.les. Por Í$S<1, n
culrur.1 ahicaoo dos malés, con:o se ,·cr:í adi.ante pan:c-c evidente igr~ja de João de Camargo apre:;eill~ nm que <!ebi7.,ir-co,em rua
que a fusão foi ainplll induindv dtmcnto~ de culto católico, espí- .ttquile..au-a; <ks tréS safas pr:.ndrn;S;,<le~tins:la~ao C\:lto dos
rita e ha.,to, predom.inantemeote,cks cuhut<ts africallas ~ê- ~\DEOSlX>,·eKe.01ploapenas ~ nrimein1, logo n:i entrada. est.1!":a
-nngô e musuJn1i.
regula.aneote sin.1~da. Nesrn 1Q('a!i7.:i-;.e
o alwr-11:or,em qu.:: colo-
cgt11ro 'N. S, llom Jesus cio :Bonfim. :\o ladQ de;;ta primciTII sala,
~llÍ out.ri\ sala m~ii c~paçosn, i.1mbém d~ti:ladn 110 culto. A
IV - EVOLUÇAOPA TGRF.JAATUAL E o "QEJ\RTO nn t~rc~jra sak. f.cs atnfa <i.ar:rimcirn: Cnndo !".ccssnn U!Ilâ ~pécie
MlL-'\GRE.5" de ccirrec!or: onde há t:rr. prc:,c:;cp::
que- nunca se desarma, ..: a
uma ~s.letn, rmde. se amuã.1.tt."8□ v.lria~ c~-ránta5; sob=e LWI <.t!tzr,
Acompaoha.,dQ o cle;e,woh-imenmda crença e o concomi- tamh.:m dcst:nack, ao c-u.lto,e m:dc -::,t-.íum St-iihor eJ<posto J~
taoce :hnn<:ntoccadepto;, João Je Cumi.rgo foi amplí,mdo s::a_; modo pcrmaIB:ntc. Da j-:._1iLWéas.:il,. p.:t~a•~i;a. oulr;.tSÚU8$ ~·
io.scak,;õe,;. Desse modo conu·ibuiu, Í!m.:11sdcntc1:1c,r,te, para lct::1s,onde st· t-u.lrua uma i11fitúdadcéc: s211lo, e também Ss,co e
!.Orna: bizacco o rnlto e ~ e; réiict t!,i i;,-::eja. Da capelinho ri: V anzctti etc.
! 906> pa~samos~kntamente~ à-; atuai:; depeudências da 1Rrejs. Ao lado d:Ycito d2 igrc..iaestá o «q;..;il.nndos mílagrc:-.·'.que
Depois tia co:rnnusão ria capeli,-,ha, Jo,.1ode Camargo nuru:1011 é o maior d-: todo;,. Como as p-..r;;dcs da igrtia, "-' d~-stc (!Uarto
,:unst=uir uma casa peqi1en;1,p,i:-,1servir de cobertura a um poço, ap.i.rcccm forradas de fotografbs, algu:n:i..sc<'m '\mtcs" e "dc-
q'.ie fora a~rlo por sca orck:m, no bg:ir. De!:te poço tirava, a pols."
pr.iocipio, a "água milagro,a", ntili2ad$ com finalidade.,;CUl°a' A forografu em que se ,é<:m os senhor;,;.Cirino e Natalino
tiva5. dá wna vi~íio nítida da porta de eutrad1J,onde st r.ode le.: "Deu,
Mas. íéno :mo imcdiaco.a c:a~lan.iiocon,porlJlvao n6roero a.1:le11ço~
qm:m entra" ~ "Jesus cnl-arninhc(Juem ~e". :Cmeioon,
de fiéis e crentes. Joao de C'.amnrgoprecisou ni-1.ena,nova cons- no vitlru sémicircu.htt J:1 l,-J.Jlde:ra.João ce
C.unargo mandou
trução crfa11do uma capela tnaior em fre:'lte da outra. Ficava es<:r.evera ordem. em qne clava consulta,. durante a 5emana:

224 lS 225
"Co::isulta desde :erçu, quarta, quinta e sexta "2s. 7 horas até l 1:Lt'.>tudo misaut:1dorom os ciit(,s santos~ v~bs e limpll~ls eJf.
ho=a e 21eia". Ao redor da igreja. João ck Canargo, foz constntir, tricas. É preciso discernir: esses obje1cs não se <lestin:1,'aCJ.~o
com os rccUisos comei,ui<los através das e:m:ohs e dádivas dos culto, coositu:'am s::mplesenfeites~
roroehm, IS casas, as quais deu a ge.·ne pobre para mora:: ( alguns Actcdito que João de G:unargo rei::nm em sua igreja, qu~e-
parentes de cor e várias pessoas :trnig,ts ot1 conhecidas, qne prc· todos os sa:1tos do agiológio cdstào. Em a!i,ms a!c.m:s l:á ;,,,,1.
cisavam c-0seu auxílio), reservando-se ainda al~uns alojamentos gens de 15 a 20 sanlos, q,:,iudo não :n:,is. Alg::r=s ÍOr,m :ci:,is
para peregti::os pobres. pot de ID'~=o, quando no comêço ele s:,n ca..-reira, de barro ( P,1-
dre Mestre, wn velhote de barro, parecei::do um padte re:=ido
Na po.rta da igreja csta,•am af.ixaJos dois a,<isos, cm ktrn
missa t: assim apar-atado>com u,na coroo de elrc.:te na c2.beç.ae
comcrci.1.1,escritos, um com tinta veonelha e outro com ún1;,1
um par de &u!os sobre os ol'>os; N. S. Jesus dos Af!icos; ~- S.
azul. Apenas o primciro era i.:ltelegível Vej:,,mo-Io:
das Dores). Santos pretos tinb uma porçiio: São Bon1 Jes,..s cios
P=etos; Sama lfigêni:1,São Elescão, N. S. /\parecida, São Bcoediw
"Quem fafo nqui na Igreja é João de C:umrgo. Em nome etc. Prediletos c:os negros, São Jorge e Sio ;\,iiguel ,ambém fo.
do senhor bom Jesc:; da verdade, ni'io se vc:cda mais azerte. :e....,,,
parte do culto. De se-.J cu:co parciedar era Santa Quhécia,
N'osso Sc11I1ornão faz negócio. que mandoo desenhar a dnta preca, de escrever, '"' parede c:e
um quütto contígoo ao seu doo)1!rório. Da sua cama João de
Está escrito coci vermdho a,1 porrn p~ra todos ler, ente.-,der Canuugoa vfa, vesrida de vennell:-o,como a orn9mt.:n,ou, ~ ucon•
e na Igreja crer". \-ersava com ela".
As o=dens são est:is, q..!esou cbrir,ado cumprir. Uma cas gr:ivcras mostr;i o interior da 110,~igreja. Vê-se o
São Safoado=. altar-mor e João de Camargo. t\ parte anterior foi ?OUCO ou quase
C6pb 29-1-42''. n:,clamodificada. Mas, o lugar em qt:e ele se encontrn enoos:~do,
n:, fotografia, eSL{ bem diferente, ;,orque mandou construir um
tapume grande de madeiJ:a;ao rednto e11treo tapume e o altas-
Esse azeite era Ycndído por "ordem" do espírito de mon- •IDo=,em que dava consulta ;,or \t:na pequena abercu=a,ch~mava
srnhor João Soares. Como algwis vendedores fizer3m trapaçit, de '-'trado,,.
João de Camargo proibiu a sua venda.
A igrej,a está legüzada como "Assaci:,.,-ão Espírita CAPELA
~OSSO SENHOR 00 BONFIM", tendo co;no final!dade "pra- V - OS PROCESSOS DE CCRi\ E OS PODERES
SOBRENATURAIS
ticar o espi&.isrno sob o pcnto de vista celigioso, te6rica e praci-
camenle". Isto em tese. De fato. re.1lizavamo culto segunc!o
a fo:ma de:;crita acicta. Muir.a ge..,te já diz. somente "igreja Boro João de Camargo t.rntava seus doemes com "água milagrosa"
e com "óleo santo", nos qU1tis me.rgulliava uma "gtlia". Ess,i
Jesus da .'\gu,1Vermelha".
água, na época da capelinha, de ticava do poço, aberto ao lado da
Além dos retratos das pessoos, e de algumas amas rlttbidas mesma. Depois mandou allr:~ r,ro poço de::rro <!a igreja nova,
da ,Europa, do Sul e <loNorte do Brasil, e da Arger1tina,guardadas usando rua água dora:lte qmn tetJJpo. Por fim. maodo-.i fattr
m;.m quadro, João de Cam:argo tinha pelas p:L-edes rett:atos de u:n cncarum:eoto,pata ág1:2do cio São José, o qual chega•:aao~
pessoas gratas, como Getúlic Vargas, João Pessoa, Afooso Pena, fundos da igreja. E.s"" er~ a água milag(osa, urili2uda com fina-
Pi.:'lh:eiroMa,hado, Carlos Gomes, Monsenl:or João Soares, Papa lad:idcs curativas.
Pio X, 0Hdeal :\ro::,.Verde,dele mesmo ecc.; possuía, também õl! ripo, de oli\"1
O ó'.copodiã icf ile qiialql:Err,fficedênein
imai::ens várias, romo a do Pal'8 Pio X, a de Saoco e V ll!!7.ettietc. ou de albrodão,de acordo con, os l'CCU..""'SOSdt) cttnte que o Ic-.a\-a.
Para enícitat UCl pouco mais -aigreja, internamente, colocavamtrt: Durante muito tempo ,-cnde1.J-Sc óko na porta da igreja; como
aparelhos de chá, pratos para c!oces
os sanros serviços para liC'Ot-es, hou,;c "crp!ota~'Õcs", João de Camatgo ocabou pro:bíndo a ven:1!.

22G Z27
Também fazío cr.ras rom raíz,:;se, mesn::o, ainda se COJlSer• rcméd:o é feito e :,e~,í d.do de gr-~ça" segundo uma inf(r,mação de
va\9arn na isare:amuitas ràttê: que 11ãc !on1:n U$8.~S; 1nas es:e Fr,incisco G11s;,a: ("O ;\•füt::.rio da Agua Verodh:1", pág:. 64 )_
não era o i'"1! proccs~::,predlle.u.)<le .:-un\. .Yla!s qt1e as ra!:ze.;, C-0mo :Odiquei adca! ?etl.so <.JUC: essas 1'guias.., são uraa so-
11sav3ervas cm muitas cun1,, por me:o <lechns etc. Neste caso, brc,;vên<:i:i da culttrra afI.Í<'an:I
do,; malês, pois, conforme Arthur
Jleralmcntc C<lmbínavab:s cua.!idade.,<le erv,1s,ou rr"1n(favato• Ramos (!i L os m:!lê:s "nio ~.? ~ep!travam de seus. tal:smaru ou
mar chás,. fcitos. de três e1·;as d:!cr~tes, ~ad~ uma emptt:b,.-ada mai,1cliog.1s·'os qi111iseram ~frngmen,<>;ou vers.:,os ce
,.\lc<.>:-iíes,
:solacooi.-:nle,<lur,1.11,e
urna scmatw. e..<crito; e:n e<1rsc:teresárabes, nu r.1 pedaço de pnpcl, ix:qucnas
As ugu:as:', a ?rinclpiu. o::nsisti.>...m
num rttángulo <le p~pel t,íbua;.,ou em 0111cos objetos gue eles fl'Jt>rdavaro como grís-gris''.
o:1deJoão de Camargo çsc=~·vi,i"letr.1s enigmáticas", no Ji.oer dn Na oes-nia página. pouco ,mús acliante, A:tb:ir Rf.mo; esclarece
11ovdist,1Antooio Franóco G.1s1,;1.1· ( • ), que as viu nessa épo01. ainda mais o referido compott.'lmento pondo em e~;dêncin ~ fun-
Depois pa~$0:1 dos '·pãpéiz.i:!hos,,p~ra os •:-c!lrtôé•Liubosu;003ru. ~ miígic1 oos:1s gds-gris. Os 1,iusulrois, "1111S suos feicç.ar:;is
mava nu-:ma:t\\:;1S ·'g1.1ias', ou então ~per ne1as o nome do sa.nt(} oosrumavrun escrever numn c,!boade IT'.3-ieira,la,-an,ki-,i ôcpois
do <:ia. Este er:i o seu processo de c,rcn µredileto, ;x,is chego\1 com água qve j nfundia virtt:cles poderosa, em q,:.:m a hd:x:ssc"
~ :nandar fazer carimbos, rnm o i:owe <los santos; IY.1sca..-;rlhe Talve7. fcssern deste ápo a$ "letra.s c:iii;m:íric!IS"que J7ranciS<:C
u.dmb:ir u cartão e r.icrgul.há-lu na ''água mi!:,gro,a", ou .no Gaspar n~sill<!_lou.
"óku bemo" (que ele próprio be:izia). A ordem do culto do, João de Caoargo também gost9va de imp ..essiooar os crentes,
san:os, di'II'(lntc:a sem~~, era a scgu:n1e: mormente os ma!! di:=gados, i,:c..:u.rando revelar o; potle-.resso-
Seguo<!a-feír,a!- Di.> das Alma; Tie:,d:rns (não d,1'·9 breruiturai, ele q1,;e.-est:iriâ <lot,1é-0. Antônio Cirrno relarn,:.m<õ
,tgui.as"); uma é~ta, pass.1gens, que ele ,issisciu,&1as de mndo ohcuru.
Po.r isso gostaria de tnlll$,rC\'er a dP.Seciçiío feita pnr (',cnésic
T~rç,1-feira - I,iigtiel - Dava "gufas";
J)i>'! de São ~l:!cha<lo P''), da "cerimê·:ifa de Cocai,", fcic,i numa maah3 dou•
Quarta-feJ~a - Dia & Nossa Sc:nhcm, c!o Carmo - idem; vosa no cemitério dc-,;ta cidade: "João <le Ca,r.~rp,o prepara-se
QuintS.-r<::ra-- Dia <lo Snr.tís~n:u S.icrameMo- idem; para a solenidade ro,,ndsndo distcr:dcr nos brotos da ci:u2 maior
Se.,i:tn-feir:i- Dia do Sagrado Coração de Jesus - 1dc1n; wna toalha romprida, ~ue tinhl escriro 3 ?')n!Oci de linha ,-cr-
melnn 2.5 vcrso.s rd'crcntcs zu be:n-ave...,t:,rado I:.spfrito ~n:::i,
SábaJo - Dia dt ;\. S, d~$ Dorc; - idem;
1menJo ,1 su:i caheçn envolta cm unu toalha branca. Tui vai
Dooillgo - Di_a cc Tcdos os Samo;, n:ío da,a "g-<.1ir.f', ate: a pare.!c do fado direito da caj'>Clinha,e cc:n mão esp:tlmada,
Só ;x:rru:tia vis:~a.•?t l!!fi:ia.
n:m CU11.l,ult-a;_ dá trl:: _paocada,, C3~9IL"k1, formnn~o um ttrnn~uloe
O santo do Ji;1 era o wtruno do rrllbal'.10 e da c-.1ra, na
tric, vczc.-.
ri= rrês VC7.CS
atuado<lira.n:e.
com lápis ro.:o, t!ei,oi; torna ~o pé da =
e j;.
o seguin~".:•·:{ o r::stoé cruatlt-Ctl!tJ~~e1n"recebida"
íi]cin!í! fase <lê,le tl~senvo!v;;ncnto, le11andoo c,utão, is10 é, a
por ,!oão de Camargo, qu,e "'"~" :,cm ,k Ílltcressame).
ªguia»~ a~ st..a:!prc•ririei.1Mcl\bcut-iiclsà .i~ua on ao ú:eo, aruan-
o t"rente. u~.:alntente, o •'ók·o
dn, Ôi::!'-SCt:ll.'l(..ÍO, direc~rr.entt:sc..'i.St-e A tb~o de ,xen1pl:f.icação, registrei stlg- ...ruzs ,·ersõe, de
k:.to!' e::.c1,f.'8Vfl :.t ei!\!lO!"àcm_1.:orquea pc5~oa já o tr.ufa com o ccras. feitas por Joiio <.leCamarF,!("I, corrt".:"'.:tl"8
::.o!ugru::
nome de Silo .Roque, como o detetll'lui.iv:1 Jn:io de Cam,irP,o. O 1) ''Havia urr.--~prctl !i?Ji.~a.qi1\.'. ttnbal:12.vad: !l\vadeirnflil
"tralà!ni:éltô" :~ou;~va l'SSL-:!tÍ81ne.1tenn crença dos fiéis e <lo:; c~s:tde uma fan;ília rica. Tinha gc:m-:qoc qccrfa fazer mal parr.
roroi.:iros. Joífo & Ca:uurgu i:i,;i:;tia risro, afirmando aos seus ela rar~. ir illr-,oçar nm dia ,::, casa ck'.c, e d,1
ela, Convid,1m111
fiéis que e.nt arnwés àa fé ddes lJle.5mosq;,ic clt poderi11curar. foi. No dia sezu:nte, ela estava com dotes de garganta, .mas
Pelos "rem<édíus" iu<licaJos, João de Cama::go nada robra"a, assim mesmo foi rr9halh.u-. Na hc=a do alreo,;o, Mt3Vfl q,!<?
pois, segt1ndo seu lema: '"na minha casa s,l.nta e m!stt-.xi~a. e
\!>l O;,- ât., pé;;. 83.
~ "'~; Jo.;fl)
dt C.-f!tf S. Pn!lo, J.928,1:r.ig..
P-f,P e :eF; ;'\!i.'.;.g,r;i S8 : !19

129
nem e:,gclia um tico de água. Ela ficou :m, dias ,;ssim docme. cebe.::". Com o incremente da própria :n[uê:lcia passou a rece-
Não havia remédio de c!ou:or que a curass<:. Ei:tão mandou ber a; "ordens" de esJiiricos mais "2c\•ac!os", como os santos.
al&-iémpedir a João de C:u:iargo que tivesse dó dela e de:sseum Ko a,;gc de sua. importânciae inflocncia_já tcetbia em qual.qucr
jcito naqcilo. Ele mandou um ·'Guia" e um pouco ée "água mi- Jogar, ;:20 prcciS<1ndose ajoelhar para "fuhtt" com os sa..'ltoS.
lagrosa", (jUe a água passav2. Mas da cs;ava quase morrendo Podem, e d1egava, mesmo, a "rL·cd>ê-los"n.1 ma cama. Mais
de f:aqucza, porioo foi prOC\!tar"nhô'' Jo5o. Emão João &? rard:: ;,assa :i "receber ot<kn_,"t:i..-nbémeloEsplrit<:JSanto, e quase
Camargo deu um copo c!e água, que clc tinha nwna moriDgulnha, no fim, até ée D.:u~- Este mesmo foi ~uplantado, oois, já no iirn
para ela. Ela béeu e dal a pouco l-:!Spiu um osso co.o duas e bo apôgêu de sna cart-d1:a, consider:ido "wci1113mrgo", "mis,10-
cebcças, q:=e estava cntabdo n~ g;itgs.ma. Isso c:u vi com meu nário da fé" etc., recebe as "ordens" da Ig,ej,, uma enú<hde
próp~io olhos e vi o filho dela eJ1u:ei;nro tal osrn par-aJoão de ampla e abstrata, que segundo me p.1:-ece,p-ar.i ek e para os
C,amargo" (colltado por Antônio Cirino). crentes iniciados, está ac:ir:,a do ,iróprio Deus. F,)i, pot assim
2) De uma p~ssoa éc &uru. em visita it igreja, om,; a se• dizer, orca to:alização 6s cmicbdcs sobrena:i.m,is. T,1hez :sto
guinte: "Minha m::lhc:r cst"''ªdoen:e de etis:pefa e i::õo h::wia se explique pelo foto de se enconL.7ltem na ig:eja os iraagens dos
cura com os médicos. Corremo, rndo: o:. de !á c!e S. Paulo. e santos, do Espírito Sanro, quadros das A!ims e êo próprio Deus,
quando já estova d=nímado :ne coutaram que ero Soro01bati1iha passando o re:-moG designar, eo uma sí.ntse st:1 g-e.•;cris~ o ron-
ujj horcem que curava todas as doen1;11s.Temei um 2utom6"el e jumo de :o:ça. div'.nas, gfr:1,cidzs oo, Santcs e g D<:us: a Igre.ia.
tccuxe minhl mulher oara C:Í. Ele disse aue nós oodfamc, ,-olear A "lgreja maic!ou ·,, costwi1ava dlzcr de oos d~sdpulo.s,
para Bauru, q&e ele ~andava o remé<l:o.' Que d~ três v,:ze, cla qua:1ào queria fazer uma nov:dade cu fozer um:i cura. Também
ficava boa. Ele mando:: primeiro om chá, p1ta ela mm;rr, com por ªordem da Igreja'\ disse;-oe o Sr. >lat,lino, e]e oosrum:1va
u:n Hgcia:'; depo:s de un1a sem.x:ia, oaoC.ou outro. Na outra ir " Santos. Lá aprendia "rodos os segt~dc,s do mundo e da
semana mandou ourro chá, com o seu "guis.". Ela já estava qua- lgre:a", mas1 quando subia a sen:a, ªtfravam tudo'\ d!2enéo-ll:e
se c::rada, quando chegou o terceiro ch,t li.gora eLi já está ccm- um es?írito: "sabi3s tudo e agora não sa!>es roois ~da". ~{as
plec,amente boa". {A pe= não me gu:s contar que chá et>1; ele ºnão szbia s6 para coatst aos ouL-os'', concluiu Natalino.
disse-me que era utna "porç20 de ervas"). Quando dava cocsultas e.ntrava no Trado, para recdier o
Exemplo ~e cura zttavés de "6leo bento" é o da menina cu;a Slrro de DeU5.O "trado" esta"ª sob o altar•Jnoc, de Jesus do
fotografia tive opo:ttnidade de examinai:. Disseram-meque a mie Bonfim, e era teclo fechado, rendo só ona pec;uena -abertura, à
dela friccionou 6leo bento na parte inchada do rosto e que lhe mandra da j11neli!,por ondç eh, respo=:dia. Foi construido de
deu ":ígua milagrosa" p,,ra beber: "pronto, em J meses esta,-a madeira e está envanizado com U0"'-3 rinta e~curs.. É ao seu kdo
bo:1". esquerdo qce csr,í o "cul,o das peà~s". l)esigi:av3 o recinto
João de Camargo t:tmb6n era tldo. pelos cr~tes, como um desse modo (T raéo) 90rque lá "el~ mduzia a palavra divi.:iz et:1
grnnde médium, capaz de 5e er.tenclercoro forçs.ssobrenaturais e pa1av:a :ncrt.al". "Sf..rio'' em a "pa:av:a de Deus, que só ele
de saber tudo o que acoi:rL-c:c ou está por acontecer. Em tal a escurnva·•. H.iviu duas ent:-ad:2spa..-ao "'trs.do": nma para quem
certeza e a convicção dos cre.--itc.-s.
a este respeito, que conforme •
v1c.s:$t: '
ce •
seu qua:to; ou~at par2.que□ est.Jvesse - 1.
n:asall?. •
co;iogua
me disser:im v.írit1s pe.<S<X!Sncr.1 ,>ensat mal dele das podiam, à !'rindpal. L<~havia tudo. ''Pepéí, d<: ,,e&do". jogadc5 pelo
pois ele logo sabi:1quem era e o que pe:1Saradele. Katalino chão, imagens, crucifh:os. ter,;os. rctr:Uos, san:inhos, raízes. ÍÍtüS,
c!isse-meque ele "recebia tuéo do o!éro,de Monsenhor João cbjetos de enfe::e, un po:nbo ir:a::ide, {cão de madeira. e um
Soare;;e de O\?trosespíritos protetores". A pr:ndp:o ele "recebia'' pequeno, talvez simhofüanào o .Espfrito San:o, ,iquele r.rate2do
aµen,1s da alma de Alfreclinho. Já n·.1Slla primeira pregacão, p:>·
rém, diz nlio saber quem lhe "enviava" as ":rn::isagens", se a
e e>'tC pintado cc ac-.iareloe vvcc, cúm t:tll<l fita b=aocanmn:-rada
alma da criançu, ou se o e,pí.rito ée i\-for_<;enhorJoão Soares. ao ~oço etc.
Somente Deus, n• sua opmião sahia q,;e era. Nesta épo,.-asinda Ao contrádo d<:>s cspíC:tt~s.nilo dava ºse~~º de tnesau~ dlsse-
;e a;oelhsv• diante da im~gem de :--<. S. Rom Jcss.,s do Bon'im. -n1e ~atalino. j\.fas ('ele conhecia todos. os pvé.-eresespfr:r-Ja.ise
'- na :1ta
sct,-ri.:ranno ,. 1
escar_ftteq11e p.e, d'12 e.e
' s-.Jas n:2os,
- f)3ti .,
· rc- ?natedais, i::ciso seu lc.maera qoe.~ão digo sem que 1,;c diga..~''.

2J(} 2)1
Pelo mer.os a:;,:m o encendiar'Ios seus Sef!uidores.Também não VI - O LfDER CARISMÁTICOE A SOCIEDADE:
nlrmpas,ava os lim.:,cs "d• lei", fw.en<losó o qoe a "Igreja man-
chva" e "nãn dava ol'dem", sem a ter recebido, t)()iS afirmava: Como acentuei oa introduçãQ, o pre;erite trabalho tem um
''D.,_
cus a1naa nzo mt dºº'1ssc· . caráter sociogrãfico: seu objetivo e:<idusivoconsiste e.m pôr ao
~ medit!r-iclJr
Sobre os seus podere; de vid!11ci11 conheço des- akance dos especialistas e dos interessados as informações que
crições ir_reres~nte.5-: con..~ul recolher a respeito de João de Camacgo e do culto por
ele organizado. As descrições mostram como suas s tivitf.,,des ck
l) "Uma vez cheruei oa igrej,l de João de C'.aroargoe vi
as n:,ísicas eh h"-llrlsse q,.;eim~n:!o.F.u fui correndo falar para ele, curandeiro transformaram-se e ampliacam-se,e como leotamentc
se modifiat, atro\·és da criação e do desen<lo!viroentodo culto, a
ro.i;;ele me ci:;l'e: "foi eu quem pós fog<.) oas músicas. :Me man•
daram c:u2imal',EU q.::eimei". E encão? Ago.ra o que os músicos própria personali.hde do chefe religioso oeg.ro. Joiio de Cama~
tornou-se lJJet carismárico, s;,oiando-se em numerosos seci,írios
vão toc2r? Ee n;c rc;pondeo: "Isso eu não sei. Mas se me m:a.n- e dirigindo pessoalmente o culto religioso dentro da igreja por
datam qucim:u as m~cas é porque me vão mandar outras". "Na ele fundada. Além disso, ficou evidenciai.o o J>r~so de fot•
vcrc!.adernandn=am om:ms, porque todos os dobrados da banda
quem escreviaern ele". ( A. Cir.no}. m~ç\iodo Ç\llto,conHinúdQ de vilote$ 111otedent~ e.e religiõe,;
negras, do catolicismo e do espiritismo. Contudo, há algumas
2) "E:e sabi.1tudo. A ,;,e~soanem pr.ecisavade falar nada. ligações entre as atividades de João de Carnargo e o rocio social
Uma vez foi um.3prei:a, que veio ele fora, procurar o João de ern que ele vivia, que roei:ecemser indicados ~pllcita111enteaqui.
Camargo. Assim que ele viu a preta mandou que da se sumisse Não creio que tllis indicações exotbitero o prop65it0 meramente
da1i. "O que você <j\ter fazu aqui não faz", disse ele a preta. documentativo que a.Tlimaeste ensa:o. De ecordo com os u:.a-
Ela fo: saindo. E..leadivinhou que ela queria que ele fizesse bru- tcriais já expost0s, acho que seria suficiente trat:ir de três pro-
xedo paca alguém, m~ ele não fazia isso" (idem). blemas básicos: 1) as sobr~'Ívências africanas em Sorocaba; 2)
3) "Uma oois:ão o meu cunhado esqueceu de prender um a ação recíproca de João de Camargo sobre o meio social e de~te
papagaio que ele t:nha, de estimação_ O papagaio desapareceu_ sobre de; J) evidências de um "culto pcrt mortem".
Ele ficou aflito e p~OCUtou-o ?01" todo o bdo. Qoando já estava Como se sabe, a população negra de Sorocaba chegou a ser
cei:init.'W.do.fei procurru-o Jolo de Camargo. Contou o caso p.ara bast::lllteelevadano p.1ssado,gr11Çasa importância daguefa zona,
ele. João de Gamargo cis,e-lbe !)llrn niío bCilr aflito, porque o como centro de producão agrkola e de troca. Aluísio de Almeida
papagaio csta,•a nUl'l)aárvore alta, 110 seu próprio quintal. O extraiu de wn fü'to da Cúria Diocesana imeress-ames indicações
meu cunhado voltoo para casa, foi correndo no quintal, pegou a respeito: em 1840, cm 3 428 habitantes da vila, existiam 1 181
uma esc.tda e subiu na án•ore. O papagaio lá estava, entalado". escravos; e dos 8 053 ha::iitanres dos bai..."Tos,2 010 eram escra-
(De "uma pessonque não acredita" em João de Camargo). Casos vos ( 11 ). Porta.n!o, o; negros esc.-avoscoostituiam 34% da po-
assim são números, correndo po~ toda a cidade, e consúrucm pulação da vw e 25% das populações dos bai:,ros. De acordo
1m:aespécie de lendário, c:n tômo <!esua figura e de s-.ias ativi- com as infonnações, fornecidas no referido rrab:ilho pelo mesmo
dades curati,;as e rdigiosas. autor, a escravarht c!e ruguns propi::euirios que tinham C<>Sa na
vila, er;1 grande_ Um deles possuía 65 e:;.:tavos, "quase todos
P!'ocurei descobrir: pa!a com_pkt1u as informações, as mú-
s1cas
• 1 "
qL~ e;e receb" que clas nao
" . O maestro d'1!-;Se-.cae
"_;a - tJ'nl:iam mocosde 30 aoos, sendo 19 crianças", e ou;ro 60 c:;çr.i,o;, A.
escrav,uia de outras farnJliasl!lencionadasem rnt?tlOr09 escravos
lett;;,; e cra"l1 to<fasdobrados. Eis os nomes de alguns destes e dois agregados; 29 escravos; 17 e;crsvos e um agre-gado) { u ) .
dobradc-..s:".Pad,·e João S-Oarcs", "Santo Patcocioio", "Nosso Esses escra\-OSprovinh:un do Congo, Angob, Bengala e Moç.1m-
~ovo Dq,.:tsdo", "Amoroso M2rau1ra". E,..,,m tocados 1,--ela
banda. q,.,,,rulosafam em proc:s'5âo,ou nas festas, em domingos
e <lbis-san,o;c,peno da igreja. A banda chnm0\1-sedurante muito {ll) Social,
CL Al1.,isôode A!mcida, SorQG~/,,,1842. Do,:umC111ari:o
tc:mpo"Banda NÚ'Jl('roCi--:m". lílárramente chamava-se "Banda S. Prmh>. 1931$.;,ói;. 59.
Típ. Cu{)<>l<>,
Sio Luís'-, vesti:~do i,s rnmpnr.entes um far<l.1mento,•istoso, (12) Cf. A~.1Woe!-<Abn:idú, ""· c:J., ,lg,. 60.6:;:

2}2 233
bique (entre 1720 e 1820, pouco mais ou menos); depois de w1ços do cul10 religioso "criado" por João de Ca1nargo ê b::is-
1820, até o tfrrnino do tráfico, são indicados como "gentios cfa tnnte prov,ível. De ccordo com semelhante ponto de vista, ele
costa de Guiné" ( 10). Aliás, os pretos com que c:onversei, que não só illooi:porou tnis sobrevivências à sua "religião" como ainc\a
trabalharam como eseravos, consi<lerrun-seGentio da Cuit:!. se beneficiou do pt-estígio conferido por ekts. Em outras palavt2S,
Ce>ntudo, é c:Efícildetetrcinar com precisão a origem d.as popu- é bastante provável que João de Cnmargo tcnhn ~co:.trado no
lações nc-gras é.e Sorocaba, pois Jurante o século XIX cntrara.:n c;o:,hecirnent0 de valores de or:gcm africana e na observância c:o,
muitos escravos na região, prove:ui_enies da Bahia e do Rio de mesmos no culto religioso q:,c: desenvolveu. um ponto de: "poio
Jll!leiro. Os trabalhos de mineraçiío atr?-ÍJ'am, mmhém, quando inicial c:.,traotdinariamcntc for.e, ~-apaz d<: atr.ltt por s: mt>'rDú
da g,:er:a do Pa:aguai, escravos procedentes do Piauí, os quais utn número refativam:;ntc g:andc de scg:lldurcs. Esta hip6tcse
pertenci.-un ao Estado. não implica, nccessarizn:cn'.c::, a cxdu~o capossibilidade de reco-
Arn<ilmente, a proporção de cor na população c!e Sorocaba nhecimento in:cizl dos dotes e poderes c"rfamáticos de João d-e
é diferente. E.11 virrude das bcunas da c!O<C'Utl!Cntaçãoestatís1:ica Camargo, por p,ute dos segtád:ires; apenas insinua que tal reco-
oficial ( fornecida pela Prcfeimra o:i obtida pefo ceuso es1sdual), nhecimento provavelmente foi ruc:uos cfaro e decisivo L'O co:neço
1cntci aplkar uma técnica de observação direta. Comei a fre- do que posteriormente, quando a personalid:1de co antigo escra-,o
qüência de un:a. ig:cja e do cinema.no donúngo, e fiz out111s já era aceita e se impunhacomo a <leum líder religio:o.
contagens <.m zonas centrais e em horas de maior 100,iniento Percebe-se, aqui, como a personalidade de João de Camargo
(ant~ das oito e depois das 17 e 18 horas). O resultado médio reflete o meio sOCÍ1llem q112 \'Í\'eu e foi educado. Do pnnto
geral foi 14,7% ou seja, aproxit:tad:unente, 15% de pret0s e de ~-istatéc.nico, porém, esta proposição do probkma tem pouco
parúos na J.!Opul~ão da cidade. alcmcc. Estabelece, na verdade, uma conexão entre a foana~-ão
I?.sses.daCos fornecem, é óbvio, nma hoa pista pat2 o soció- e o dcscml()!vimcnto da pcrson.nlidadt: de Jo..-o de Carnasgo e as
k,go. O fato ele o; neg«Js de procedência banto terem c(mstitulclo, sítwçõc:,; sociais por ele cnfrc:ntnda,;. típica.~ de uma socit-dac!e
no pgssa&i. um<> porção tão importante da populaç20 de Soro- culturrunr.ntc heterogênea e cm :nudança. ~as, conexões desta
caln é, cm ,;\ me~mo, muito significativo. Os indiv!dt:us !t.-van1 esp&ic podcin scr encontradas o.a vi6 de outros indivíduos de
consigo, p:arttoné!c se dcs?ocarn, os V9.lorcs sociais que estão in- cor preta, radicados c,n Sotocaba; das são ,:ormais, no sc:iticlo
corporados à pró?ria personalidade. Por isso, a primeira hipó- de resultru:em de cond..içõc,de existência sociál cm uma rocie-
t\."SC sugc-rida ao especialista pelo confronto dos dooos históricos cfadeestratificada e de passado escravocrata. O prohlcma cspccl-
à situncão atual consi~tc cm admitir a possibilidade de preserva· Cico diz respeito à sem:bilidade às sol:citações do meio social,
,ão de "sobrc:vivêndas africanas''. J.ufdi,aneute, as condições revelada por )020 de C,ll::largo. É nisto que ele se clist:ngue
etD que .ceaÜ;ce.i a ~quisa n:io fovon:cl:ram - ao contrário, pre- 11rofu11<l11l!lente e <lo~ deniais m<li-
dc,s an1i~s cort1t,,mbeiros
iudiC11J-.irr.- a exploração sh;tcmáüca desta pista. Con$êp,ni, vkfoos, que ocup:ivrun Pa es1rutura social de Sorocaba uri,, Fº·
apenas, cnlher alguns dados a re,;peiio da m~cumba, dss con- siçi<oidêntic,i ou l)flr.alela à sua, cooserv,toao-se porém m,1is ou
~adn.•e dos barnq,.:cs cm Sorocàb,1 (l •). A presente discu.ss5o mcr:os''cepJosuàs mesroassclidr..ações.
;1.-erm:re,no entanto, situar de modo CO'lvenienteos díldos ex, A inteTJiretsçlíoesbarra, no ent&mo ~om um8 d'frcnl,farlc:
posto.\ noutra parte dc-ste arti1;-o. A origem ~frica1» de cettos incrnnsponível. Falia-no~ dedo;, brutos ou explcrodos cie:-itifi-
carncntc, sobre o tipo psicológico ele JOO()
de C.amargo. Contudo,
os acontccimenco.se sucessos significativos cm sua vida, relatados
( IJ) D,,d0$ foro«idos pelo S:. Cónc:gol.\1i,J C.uur.ho é.e:Almeit:fa, poz seus biógrafos, esclarecem parte do p:-ohlerr~. É evidente a
hi31o:ia.dlre foklod:m1de Soroab.'l, r..~1i:o cu:;,h::c:do;xrr s:t.ts e:xce!.e!lf.~ existência àc uma ligação basmn,c estreita entre os dcs:,jusul•
e~k:s> sob o pso.tdônimo ck Atui-ci<1 c!e Almeida. Os. c!ttdosfo::am con-
sc,gt,1idosatr:tv-é$ de ums ?CS4u:U r.os ..\r~UÍv('Sda CW-laDfocesana, ge:n- ou:ntos sociais e a revivescência de velorcs mágicos e =eligio;os
últndlt(: !cita a meu pc=diéopdu il~trc l:!storiaLlor. tradicionais no comportamento de Jo5o de C.amatgo. Parece-:ne
(14) Os chdc.3rob!t;; s n,ao;m~ c-mSo:'OC3ha serio inê:-csc!u-.
acfüm:e; provávd que as sitnaç<ics críticas oor ele cnfrcutad2s c:icaminh,,.
ql:Sh.t:.:.) i" cnngaé2" e :.o h:ituqut"; d. o meu a:ti:;o '~C".an_çack."
e Bíltuq_ues ram-no para a experiência religiosa e m3t:Cz. abrindo-lhe o r:1-
""' Sum:>h•", in Sodo!i,;,is, Vol. V - N.• 3, 19-0, p::;;,.242-2.54. m.inho paxa a a::toconscidlcia dos própric,s do!es sobren:1turais

234 235
e para a sua qualidade Je "eleito" e de "predestinado". Não é Driga<!eiro Tobins, e os prot.sgonijtas dn "mandiogi1·•tor-nmdois
difícil, doutro lado, compreender o sentido dos ajustamentos de- pretos, escnwos e africanos. Eis como rr.e relatou o fato o Sr.
senvolvidos aa:av~'s ela e.,q,eriÊnw religiosa. Esta aparece 1úüda- Cônego Luís C:iscanho de ,'\hneida, que encontrou WDS descrição
me.nte como um.Ltécnica de soh:ção de <!esajostamemospesscuis do :irontecimento nos Al"quivos da Câm.tra ).fonicipal: "Dois
e de conflitos, com base e apoio m cradição. Por isso, aplicando-a t-scm,-os, os quais vienim de MoÇ:J.mbiquee foram batiiados em
com sucesso. João de C;1margo obteve uma autêoti<:a ret1bi.litação Sorocaba. passant.!o a d-iat1!'1r-seCalixto e Alexand1:e, desavieram•
pessoal; em omras palavras, couseguiu un,a cova avaliação de siia -se com o feitor da fazenda e por isso resolveram matá-lo. Os
[lOf me'o elaqu!I!se roodificaram
pessoae <lema con<luca, ~s dois cativos n:unir.un-se a outro~ e íi.er.am o "feitiço" diante &
atiludes negativas ex:is:entes a ~eu .respeito. uma :magcrn de Cristo, a cujos pés puseram pinga e m.1ndioc:i.
A carreira de João de C:unargo é um úueressante exemplo. :Emremcntcs, o feito= que esu,-a na cidade íescejando o
além disso, das formas assumidas pela transformação da perso-
nalidade sob o influxo da ,ida grupal. Depois que se alteraram l\'atal, voltou e deu com eles fazendo a cois:i. Os dois c:;cravos,
os critérios de avaliação e de reconl·:<.·<.'Ímemosociais de suas então, avan~mm sobre o feir(>r,matacdo-o a golpes de enxada".
aptidões e capacidades pcssaa:s, João de C:unargo colocou-se su- Posteriormente, o 1-ecw·so à macumba niío só se conservou corno
cessivamente cm novas ca,egorias de atu.tção social, conforme foi tomou proporções aparentemente sérias. $q,'11ndo os "filiL6rios"
visto acima, ampliando e ttansfom,ando :issim seja o ptóptio cir- dos moradores da cidade. alguns curondciros aproveilavam-se fre-
culo de relações sociais, scj:i a natureza mesma desws .te.lações. qüentemente da credulidade dos clientes. Cani::,.ram-me, entre
À medid:i que p:issa,•a de uma categoria social para ouua, modi- outros, o caso de uma jovem de 14 anos, violada por = curan-
ficavam-setambém os quadros sociais dentro dos quais ,igis e deiro que lhe deV1:<ria "fechar o corpo" com azeite. Parece que
pcnsa\'<1. Com o mcrtmento do prestigio e da influência pessool, a proliferaçãode curandeiros e =wnbeiros foi ccs;,omávd pC.:a
como l!der caris□ítico, acplia va paralelamente o edifício da severa campanha de repressão ao curandeir~lllO e à tw1cumba,
Igreja e passava a "receber" espíritos mais "fortes" - tran- organizada peb polícia ée Sorocaba. E:n todo aso, é C\'idente
sição do espírito de Alfredinho,pani o de Monsenhor J020 Soatts, que Jo-Jo Je C2mari;o dc:sc,n:,pcnhouu:na fw1çfo muico ma.is rele-
desce Pª-"ª os santos, para o Espírito Santo, depois par:, Deus vante neste sentido. Pratic2meme, o exercício de c:cras sobre-
e finalmente para a It,rej,;. O processo psíquico liga-se pois i:oti- naturais foi monopolizado por clc; d0t.tro lado, combatia a "ma-
mrune:ote às alter-ações sofridas na forma de aro.ação social de cumba" abertamente, impedindo que os seus crentes e seguidores
João de Camargo, refletiodo tanto" elevaçiio de ;!4tus dentro da se utilizassem dos processos da ":nasia negra" e da "macumba".
estrutuu.social de -SOr001ha,quanto a situaçiãocriada por atri- Soube que expulsava facilmenteos freqüentadoresde si:a igreja;
btiçõ,:i e3peda:;, definidas m, tcrmo1 de doroinaçiio carismá• era li\lÍicie.:ite qi.1e de;confiasse dos intuitos dª pes.'()llem ques-
tics. tã<>.O seu secretário afirmou que João de Camargo e:-a inimigo
Nn refoção indivídao-sociafadc. há outro aspceto que cumpre irreconciliável dos "feiticeiros", "gente ruim, que só quer o mal
ser arulisado 2qui. Tmta-s.ie dos resultadM sociais da atuaçio dos outros". Propll2,andod iremmente as suas idéias, con;cgui.i
de João de Camargo. Em pr:meiro lugar, os indivíduos que se criar nos crentes e seguidores atimcle:s semelhantes.
dedicav2m oo curandclrismo e à macu..,i,,baviram-se apanhados em Além disso, pregs~a contl'a o a.'eoolismo, o roubo etc., exer-
11manova i:edede relações <:ompetitivas. Jo1;o d<:Ca.in.11:go iniciou cendo certo controle no compott:amcnto éos fiéis. Ele próprio
um combate sem rréguas 2 semelhantes competidores, procur-~ndo citava-se como exemplo dos ma.les do al.cool:srno e da possibili-
desocredítá-!os aos olhos dos crentes e sci,'UÍdores, e estabelecendo dade de supressão do yício. No âmbito ecológiro, são notáveis
uma distinção oomnte nítida entre o q1.1cele próprio fa'.<iae as as conseqüêocias da construção da c'lipefa [ e depois da igreja)
atividades dos c,n·,máe.'rose 111arnmbeiros.C,omo se sabe, a ma- e da cri:lc;ão Jo culco. Os icfortl!a!ltes me asseveraram que "de
cumba desenvolvera-se seriamente cm Sorocah:1. O primeiro "fei- deu vida ao bairro da Ãgn11 Vcm1elba". Este bairro sit~-se a
tiço" rcgisuac!o na hi.stórb local ocorreu na fuu:oda de dona Get· dois quilômetros da ddade e conheceu de fato 1:ma época de
trudt-s, progenitora de Rafocl Tobias c!c Ai,'U.iar, em 1841. t\ floro~-oo de construções, devido õ. Igreja de João àc C:w1argo.
Eaz::.~dachamav2-sc Pa~sa Três, lu;ar q11c hoje re chama estaçío Ainda agorg se vÊ um botn número de casas, ronsttuídas na.s une-
236 237
dioçõcs da :grcjn por sm i::iiciau,-:i. Apareceram pensões <lstl-
ruidas aos crentes, "por ordem de João de C,unargo", bem como
restaurante:;_ 1\-fandou abrir uma estola, A.BC,sub,•enciona<la por
ele próprio, pata as crianças <.lolugar. E fuzÍà outras obras 1mma-
nitárius, pois dis;,unha de muitos recursos. InfomY.içõesab.solu-
1;1me,,tc fidedignas revelam que recebia diari.u:aeme de 300 .,
400 consu.!cntcs, de Sorocaba e arredores oo ainda ele outNs
regiões áo Estad-> de S:ío Paulo e éo Bnsil, e uma moofa de 50 CA.Ptruw XII
a 100 canas. Por isso, podia maod:u- recolher, nas pensões <las
redondezo.sou rla cidade, os pcrci;-rinos p3upérrimos, e dar habi- COXCADAS E BATUQUES E1-f SOROCABA º
tação, roupa e eomida a vários !)Obres. >lesta categoria de bene-
ficiados, quase todos pretos. entravam os seus parentes; sub,en-
cion3v3 também o c-studo ck algumas pessoas na Escola Normal
de So_rocaba;na G.násio etc:. Alguns destes protegidos er~?.m A, congadas são amos populares represen1.1dos pelos pretos
pretos, sendo algt□s ddes seus afilhados. Informaram-me que o por ocasião das fc:..tasde !'\atai prolongando-se até o dia_de Reis.
núm::ro de prctos do lugar au:nento:i: chegavam da cidade ou de A-Ocont=ário ooque afrm:rran Carnpdlo_. Prado Ribciro ,. , a
mw,icípios címm~;zinhos, aJraícos peb fama e pclo prestígio d~ pr:ncípio, Gustavo Barroso ( 1 ) , estes autos não são de origem
Jo:io de Camm:go. Por isso, quando re'11:zava fc;,as ou procissões, pcr,m:,ente nfricall'l, como se poderia supor, baseando-se ero seu
contava com um bom número ée seguidores em disponib:lidade. nome. Como muito bem sintetizou Artur Ramos('), ".oão exis-
Puece que a ligação Jo "po,.o" com João de Camari;o nlb tem, no Brasil, autos populares típicos de origem exclusivamente
2c,ibou com sua morte. No dia do seu e:uerro, dizem os mora- negu. Aqueles onde .interveio cm maior dose o elemento afri-
dore;. oolugar, h:1via wnas quatro mil peõS<P..sacompanhando o cano, obedece.raro, em tíltiJ.n:aanálise, à ttcni<:>tdo desenvolvi-
féretro. Foi, no entender <lestes in.formant<.---s~ ªo enterro □ais rncmo dos antigos auio.; JX:ni.osulares·•. O negro exerceu 11çiio
aconi.panhado em Soroca:ia'". ativa nos autos populares dos brancos, apoiando-se nos elemen-
É correme entre os crentes que se pode alcançar "graç:ts", tos de soa própri,i cultura. O rema básico de todas as congadas
rerondo diante do seu túmu!.o. Diz.em, mesmo, que muitos já tem
obúdo 11e:dadeiros milagres, por esse meio. Constatei apenas a
• A.."1:i,,"0
re~ido COOl cbd05 recolhlclosnuma pe,;qulsa rc:,füada ern
existência de romarias ao seu túmulo. Vi muita gente em vol1.1 Scrocabo, em 1942, para • ctdeim de ,-\::i1ropoloai•e publicado pelo Dr.
dele, no cemitério; e verifiq:iei qce o número de velas ~cesas tk Se<iofug:a,,•cl. V - n.• 3, S. Paufc. 1942,
E.~a:o Wtlla11sin Re:.o;st4.=
também é grande, pois hav.ia uma verdadeira pasta de cera, no p,lgs.. 242-254. Pos1eríora:eote. Maru. de Lowdes Gim= rolbeu tatoS
chão. Todavia, não se restringe ao té.roulo a crença <leque João sobre a nmma 0011ga.da,de oot."O ::g,;rantc (o caêquc); é p,:o,;ávd que
,e possa ,ccoostro.ir, agora,o te<JO litc:ário é:ssa com_posiçio {,•cja-se
de Camnrgo continsia a c.,r:rr, a "fazer n:ilag!es", mesmo depois M,iriade LOlltd::sGbne,1ez,• Con~1dt ~ Sorocabo",in &vist• t!o /lrq11h-o
de 1notto. Prova é o scgu:nte "caso", que uma pessoa (Kara- .'Au1r.â;a/,,o:.. CXJX, S. Plulo, 19-;$, l)ÔBJ. 30-42). Rcpcoduzido cm
lino) nx: contou: "Havia urna moça na cidade que tinha perse• F. í..:;;D2ndes,M,.àa,°""' Saci,;it 1:0 Br,:sil, Sio P:rulo, Difusio Européu do
gu:çõc:s csp:rimais, por espíritos pesados. Cm dia acordou e Lrrro, !\160, l>?· ,82-J!IS.
mrprcende11,sef:12enêoo pelo sinal. En:iio apar= "nbô ·• João (1) Samuel CA,npello: "Fa,eram os Negros Teatro no Bn.sil'? in
que disse qne ela ,;e livr-.'lria <!a perseguição, se contlnW!sse a Nor;osEs!t1dosAfro Drosieiros(Rio de )IUle:ro, 1937), l)iB. 242; P::11do
Ribeiro: 'ºOs Con&os", in Re,;mc d~ B,.,,i, wl. XXV111, 1924, pó_ç,88;
fu:zx:tsua fé religiosa. A moça não o co::hecia e veio me pedir C-.u, .. ,_, :&i:ro;o, sob o pscodônúr.o de Jow do Norte: "Os Con;;os", in
nina descrição dele e disse q::zc era a l!lCs'llla ~1:suiç,,o que ela &v/,tr. do /Ir,;,!!, ,-oi. VII, 1918, p-!g. 191. Dr;x,i, mrrigiu sua opi:iiio,
tc,;c, acordada, quase ao :unanhc>ccr. E-!a continuou ~ fazer a t,d,tic::..:Klai:itc:rosantes estados sobre o íb"SUDto.A!ém de Ao Som Ja
\ti,,!,;, .::j:,-s: Alr:wb t!,,r Fa!kl<>w (Siio Po:.ib, 19Zi), pég. 106.
ma fé, aa::nde.i algumas velas a João de Camtttgo, pouco depo's
cst:m1 comp!c.amentccurada" .. (2) O foicfore Nevo do Brasil, (Rio de JL,eirn, 1935), pi:;. H.
Veia-se so:>rco assunto os c:apiruJosIl. lll e IV~

238 2)9
é, na vcrdll<le, 1.1masobrevivência d<1slutas Ültestina.s, !r:iv:1<.la;
entre os reis C os chd:cs d.e tribos, C 3 guerra oeste,; CO."ltt!l O
, 1 ) A rcprc:,cnr,1ção ttp.1rece com:1 = es,">6:ie de réplica
as crudd-.idcs c!os senhore; oranros: o negro c-ompraz-se em mos-
invasor, com a eucenaçãodas midkionais "embaiJtadas". comuns trar-se desprendido e tolerante, 1:;1h•e;;como e.lépre.enúia que
entre os africanos antes <..!oes,ado de belii?erância. procede:;semcom ele os ~nhores brunros. Es.sa situação é mais
Em 24 de junho de 1706. lll1 Vila de lg1.1araçu,Pernambuco, ou menos comum, aparecendo em vários autos das congs.das f''-bi
grafia! o rec-olhi~o por Gn$tavo Batroso ( •), pois, =te, ao '1~~ar
tcr•!e·:>i,peta pcimc.::a\.'ei no Brasil. encenado o amo "doo Con-
gos", segundo o testemunho de Pe1·eú:ada Costa (' ), ly,iscado assassmar o Rei, por ordem da R1tinbaGino. o Emb,ü.udox é
cm documenros por ele encontrado:. e ,ina1:sados na lr&1and~,le preso. ~le pede m!seticórdia, tenerosame::1tc: co~edida pelo Rei.
S6 dep01s,, ~forL-c:do, é que o ~b;.Úx,1.doi:- tcap:irece, ~ frente
de !\. S. do Rosário, desse hig-.u:.
do seu eJ<crc1to, vingando-se do rei, ao qual 111,miff,a.
Já ll~S-\ primeira representação, descrita pelo dtado autor, 2) Aprcsc:ma o Ótcique Jllllll~ latett.-ssan,e tt,UJSÍeréncia
podemos observ~r n influêncfodo branco, u~;e popular auto d(ls
pn:tôs, pOÍ$, '"nos molde~ da monarquia portugt1e,;a,comp,:nbam• como n inimigo comum, repre.entado no mouro invasor. A~
-se ele rd, rainh~. secretário de f.s,,.do, mestre Je cn"1po, ara:.,tos. mesmo tempo, o final do auto demonsu:1 o desejo de pnz, ami-
d:un:1s de honor e açafata$; e \101 scr,-lço militar com maredi.tis,
zat!e e colaboração, " que aspirJV'1o negro do indígena a;sim
representado. ·
brigaddros, coroniis e todos os demais poscos do exército•·. O
autn ainda não apre,;;cntava a forma complc.>1aat-.:al, ape;,ll das Outra personagem, que deJapareceu no núSS<>auro foi o
pcrson<1gen; pen)lanca:n:o ,1s me,smas até agorn. Q~imbo~o, ? fohice\ro; aliási se a~reccsSt:, estaria sem fuo,lo.
A versão que coll,emos c:111 Sorocaba é um pouco diferente pois ~ v1t6r1a do Púnctpe soore os mouros invt-rtcu o u:ma dos
das demaii. As personagens sofreram alterilçôessensíveis. As5Ün, demais auto:; em que ele $parece. Na nos,a vc=são nlio é o rei
em comparação com as versões rccolbi<la,cm outras regiõc:s do
quem pede clem&icht para o filho, mas é este quen1!cra a.sfalas
•.,. p or 1s::u.
r tr uno ao ·1n.-as:or.~eoch.x.1.
ilO . os aim:os e as danças
BrasH, podemos notar llS Sej!llÍlltcs diferença.\:o Príncipe é npe-
uas o herdeiro e: não se cbsma i.\-iametô 011 ptínciµe Suena, ou
de enc~-uamcnro s:gmhcsm uma ,enladeir:I vitória e não :ipenA5
Sw·eno. A Rainha Giog.t ou Gino, a ,:íngadora que mands assns- a alegna pela ~3!vaç:íodo J?ríncipemoi-10,que rcssusóci, gra~
ª?s poderes magicos rio Qrnmboto, aparecendo como uma autên•
sioar o rei dcsapa=e: SU!lS fllllçõts cabem ao Caciqu,: e são conlpensação da derrurs, nAsouil'.11S
l1c.1:_ versóe-s. Sch este ~---pccro,
<lesempenhnrles attw.-ésdo EmhaiX!tdor.Não se m,tando de uma OltUt~ se 3SSC-mclhaao nC".ssoo mito do, C,içumb:s,(IUC Mclfo
vingii.nça de tnu!her, como aoor.tcr<: r,;1 maiori<1 dcs autos desse
Morru.sdcscrcv.:!n.-is Trtidü;õerJ'()pr;!ares
tln Br.:t.ril.
(f-).
gêue.i:o,podemos coí1dcir que há um~ dupla simbollzaçlo. De
tl m lado, o iema primitivo da lurn entce os goveroafltê., doS O q11epc:rman~ccn, ero tO<losesses autos foi o motivo .inki-.il:
cstackisnegros e, doutro, o da fula ds M'\''1 rdigião, o c:ntOli- as fort~s. O Rei ordena os prepan1tivos P3I':l um régio folguedo
cissno, com 11 antiga, a m11çnlmana,sem que a vit6ria do "Rei ~ sua ~ortc, quando é ~urpreen<litloJ,.'Ot uma guena <JUc de
<loCongo" - outro traço original da nossa vcr:.ão, poi; comu- nao dcseiava e procura evitar, como que se refcriildo à rnancira
ment<e de 6 vencido - o le.-e " procedec tirnnicunente, rcspei• como foram escravizados na primiti~·a pátria. A guctrll ~ im•
t,mdo, no traiçoeiro rival dermtado, a crença suplattta<la. O iato posta pelos "ru1-cos",e qttem dirige a t!efesae ordena o ataque.
de o Cacique, cb.cfo dos llXl\lros. não se converter ao catol:cisrno, na granac maioria das versões, é -0 Príncipe. ·
como l'Otnuroeme acontece oos nutos popufar~s, como no "dos Um ponro discutível, que a nossa veE,ão poc!e es.:hll'l:cer,é
Mouros", refoi-ça n nosso ponto de vist,1. º.das luias contra os "mouros''. Os estudiosos geralmente co1r
O perdão do c,idqrn:, displicenu:mcnh: concedido pelo rei, sideram o assunto do ponto de vista histórico. O "mouro" seria
SÍf:nifíoaapenas que a c-onve.sãocos e.cJ:11vo,fora iocom-
1\llo apenas uma sohn.....,ivênciad,i; anrí!r-lS.lutas 11vs solos ,úríc.anos.
pleui. Pcxlcmus levar rr.nis longe a nos.saanálise:
(41 ln artigo citsdo.
(; Artur ~unos, a:,. ci! .. ~'\, }9. (5) PJgs. 159-163. /',.pud A. Remos, op. ciJ., i>Ó:1-44.

240 ~ 24i
Para nó~., cntti::tt;ntoJ pode ses tm1a sobre,;.rivência s.frica~;,,como Orgc.ni~r.çlic
das Co11gr.das
( =)
.._,_ _,
t:un~u um ~cr.ucnto rece:>r
• "do pe.io
1
.r,egro escr-avo atrt:.vcs ao
, •

roJJia.rK:eiroi)llíl!ll!~~ ç pel.!ça\~\!e~~ pQ:i,i àescri?o elas Cru- O l)OV.:Je1\Câttegu-ie de fornecer os eltJ\'l!ntos nettssários
zsdas seria um ótimo ponto de reierêrx:iapa.raos sacerdotes cató- à c:nccnaçiio do auto, dando cü11heiro,roupa e até comida e
licos, ilustrando, a,m exemplos semi-rorc.anescos,llS rcprcscn- lx:bidns, nos digs de represemação. As c::is'1.> comerciais e cara•
rações dg fé cristã. O tema cla luta rootra os mouros, como bém as panicu lares co~tribuem c:spomaneameme, pois além de
esclarece ;\-iello Mora:s ( 0 }, vem-nos através do folclore l~iteno, aprc:cia~cm essas rcpresentaçõ--~, consideram-ruJ.s
como um as~to
' " e h~ga..'lças" l os "'1
oos a1.1tos e.a . ,, e os H'\.(;.Y.iouros,,) , "C a
_11atuJOS 4

da t:tadiçio local, de'\'eodo S<:rmantidas.


pitão da Arm.ada" etc. A int1uê::cia do catolicismo, doutro lado,
s-alta aos olhos cio analista, pois a cruz br,U1ca,que todos os figu- Dos auto~ parJciiiam <1peoospretos. Ilá u_,1 in.struior geral
rantes usam no peito, bem co1w a grande cruz que ,e destaca ( em Sorocaha e:a o preio AmãDcio de Aadrndc, falecié.o et:1
no fondo da bmc!eira, podem ser enc:L-,iclas como símbolos das 1942), o qual seis mc-csesa,ues começa os ens,úos, preparando
antigas CJ1.17xdas. A hipó,c.se mais defensável seria, sem dúvida, e orientmr.lo os comparsas. A escolha destes n30 é 2rbitt:ái:ia_
de que houve concomitâncfa na transtnissã:odos símbolos e va, São elo1ltlltos <le projcçio na soded11de de cor e sccs argos são
]ores, fundindo o negro traços ..dquiridos às sobrevivências h:s- l.'it~lícios. Só poden1 scr subscimídos depois de mortos.
tóricas. A organização i: completa. Tudo está pre.;sto, em bases
Outro aspecto interessa1te, :aser analisaê-01 é o qt:e se refere conttmua!S, ccmo podemos verifkar na seguinre obrigação, tex•
i\s danças e à músi~a- Os instrumentos 52(> simples, e ,itm:cos: tualmeore copiada:
cuícas, p:mdeiros, b=bos, tambores. !\ músk>l é mon6tona e
triste. As c!anças ª?c~ar de sua simplici6ide e monotonia, consis- "Nós-, abaixo anilUUUJs,Jr,,·•,nospleno co,;se;:tilNento para
tbdo na re;x:tição dos mesmos passos e dos mesmos gestos, par- . ' '
que se. tartil..tnws a este co111prr.misso
1
,
se1av;os ' e pu-
execu.taaos
ticioam dos três caracteres essenciais do auto, c?da q1:al a seu 11ido como 11m dei;r:dcr, e bem 11ssm,ficaremos obrigedor as
te~po: é profan:,, religiosa e guerreir2. Em octra.s versões tam- penas que nor-for i?npos!.a. Os er.carregadosgozar.ão dos teu.t
bém pode asSwn.Ír as;,ectos funerários. com a morte éo Príncip,, direitos de procuraçio aos que fai!tiren,. Scrot:duz, l.º de º""
Sureno_ 1nb1ó de 1916.
O fato de assumir a dança esses aspectos diferentes dá, às Torqua10 Ayru
combi.oaç6es rorcog_ráficas, uma feição inte.ressante, amenizando S,./emo das l\er;es
os efeitos causados pela monotonia ela músia, e ,>0heza dos
bail,.dos, aum<:ntando, concomita:itercente, os efeitos c&iicos do
dxama, em cada situação ~re;entada- Sob esta ohrigaçio, assinada pelos chefes presuotivos, assi-
nam todos os participantes de "himrquia~, ao lado das Íllll,;ões
Em síntese, o que se pode ro::duir é que o sincretismo, que preenchem. Desse modo, assumem uma responsabilidade
visível no ,roto, foi amplo e d::finitrvo, pois há muito tempo -.-em co11creta, à qual não podem faltar. No aso concrárlo, os dois
sendo assim represen;;,do e:n Sorocaba, conforme ouvi de negros líderes têm dircico de substituí-los pot ou1:raspessoas. Mas só
que foram catives, embora cfüses;.em que nunca "saí= de nestas circunstâncias podehaver substituições. Qualquer CQmpro-
Congo'. misso a!sumiclo pcl.icolcth·:dacle paro a realização do folguedo,
det>e ser saldada pelos dois líderes.

(7i 01>::vcrncs wdt.s :as informsç-6::i.do 1:dcr r~"'° locú, ªrei daJ
nos d::dscn que ni::, hou~t'. con.
Sr. ~lcrno Ô::;. ~eva.. <1 ~"U:31
C'..t.>e-~'',
!10 áll.O passadoporqt1e a ro{!da ;,roibiu. As pa.rb::sdo tuto, rel1lÍ\'a5
.g~:.!11
>0 Cac:quce ao Embei,:aJor,ni:o poderaruse: oblid.,s l\t oa.sü.o.em ,•ir,
qu~ os optuiham:.o "Rcin.
:udc <lc an'.mos.tdaets.

242 24}
bebes aos "Gongos", .ipó, ~ e,1ce,1;1ção. Tupois disto, eles vão
Os 61;uN.11Ze;p1-incipais sã(>em número ce26, nlio se con- representar noutro lug~c.
tando alguns coropars:is.r.ic::no=es e âS cri:1:1ç:is,que ªforrorunH
o c.v.ércitodos mouros, pc:,rqoc,disse-me Salerno, são h:irulbentas. Os pa.rticipa.ntes d,\ ConAuda caminbim cm duns filas ou
~
me,'hor, em "ois um ck ada fado. De wn ,laJo,,
gn:p~ !'CJ>2rac!os,
A "orgMin~o do l-stado e os fahlgos de Congo" í: a se-
,;aí o Rei do Con~o, com .1 sua "rort<.: e fidalguia"; e, do la'-lo
!;~t:llte:
opo;,o, o Cacique com seu exército. Encontr:un-se na porta
FamíJi,.. Real -Rei, Ra.inh:l, Principc; onde clC\•emrepresentar.
Estado-Ma:o, - S:!ttet,írio, dois Duquc-s, um Conde de No tt2iero que fazem, mé chc-ga= au ponto e.e encontro,
Pr<,ma,llDlGei,er~l de: .-o\r:11,is,
um Uoletlm {arauto), wn C:1riúio o:nram o ;eguinte:
<!oPorto, um C-0:idc:é.e Momée e um J\lfercs da Bandeira.
Pisei no tijolo,
Corte -12 fidalgos. Tijolo ~;rou;
Dos inimigos - O Cocique, chefe dos "mou,:os", um Em- Pisei r.o tijolo,
baixador e o exérci,o das cr:ança.s. Tiiolo ,;rou;
Essas pcrsona&-<:nsdesenipe.nhun o popcl qce lhes rompctc Moc;aboni~
na vi<la;ocial, de ae<mJ.ocom a ·'po<ição e fidalguia". O alforcs S.aiana jallela
~a bandei1::1carrega a 6:1.oc.leh:1.do reino do Congo, ~ q..:-alé de Pra ver os ccngos pa;sar
lundo aml, em que se de,t:1c:1va mna cniz br:lllCl. Que vão ;,ara ,, guerra
Os v,1SSalosdo Rei elo Congo ves,em uin calção awl e uma
bl.:sa da mesma cor. Sobre o on6ro, dependurada, têm uma meia
~npa ,-or-de-rosa, e, 11,;i cabeça, um ch.qxu da mesma cor e fo.
São BeneJ.iro
' .
uUtl C.IS2 <:nei.ra,
("
zc'Ilc.la. O Rei elo C,,ngo vc-stc ulJl.l tún'm azul, a qual cai acé Cheir« cra,;-os e rorns
os seus pés, e uma capa cstar!He, do mesmo comprimento e
muito larga, permit:ndc►lbc jogá-la sobre os ombros de ,;e,,t em
E flor de forii:sjeira
1quaru.lo, com a di.splicênda gaiata de um rei de btinq:,e<lo. Em-
pu::1bao ce.1-0 e tem sobre a c:.1be.ç.1 urna coma. A rainha. i. e., O-h-.té-hi
a u prulCe.sa
. ,. ~
~ coiro a--coomo1. '\·es:te-se
l
lov-.\ l ,
< e oram:o, corn um Como ,; bonito
imcmo véu. 1ambér:1branco. e mtL um J.iademar.ohrc n c,lbeça, O Siío Jo.ío no ~ luir
Os figurames "monro,;" ,.,,,-rcm-léde tem1elho. João, Mara-Joiío,
Não gau;.i a magirú
C.0Jl"O cl:si-cncJf\
~dr.cli\es.les ..ttltOS prolongam-se do dia 25
1
Que a Vírf!~n,do Ru,úio
de de:>.embm n,é 6 de janeu-o; aµrovei cam rn,fos os êowingos, ~os há de 2i11M.
dias ~•nros. fcriados. nc>!e lllt.>SO e!~ ,empo, para cuc:en3r.' A
festa é feio cm louvor de ~0$5'\ S!!nho:-a do Rosário. p,1droeira Q.<lim-!em-1ê
dos n~'T""- Sc,lw«b .aos roorou o C.ênq;r, Luís Ca~t.Ulbode
0-dim-lê-lé
,\lmeida. a influi?ncl,i <lo au.o é tã,-, grande, q,.u: crn Itapetining•,
onde é nuis completé' ( r-ois também ct1c<.:namos "1\-foçam-
A ro2.inheirafica al~rc
hiqccs"). contr.t o lüc,·gi,1 da Tgrcja Cmílk:i, No;sa Senhora Q=c.!o caka o boriná.
do Rosário ~ cultuadar.o ,fü <le Nual, º"" igrejas <lo luga~.
Viva o rei
A represenraçlo dura de 20 a 30 minutos e é feitn dfonte
Viva a rainh~
das casas elas pes;oa& que querem <Jueos '"Congos·• representem
Com sua cüt<,_"J.
d.i:inte c.k suas poru1.,, na ma. D-.:võID colocar c.uas ;,oltronas.
De plati.!la.
p:ira o R.tí do Congo e ;,era a Rainha, é podem ofcrcccr comes e
245
244
Olegados 2() l1;g,u de encenação !ornlàln duas filas; um•,
T<Jmando parte neste festim,
ccptesentando o "reinado do Co:igo"; e, onua, os "mouros". O
Rei e a "PriJlcesa" fic-.u:i "-'-ll.tado,: no fim, clomioando toda a Ouviste?
pcç:i. Príncipe
Sobo :somdos ins-r.rwnt:nros,com muito '"'r.itu::o:•,
aprolr.-iman;i• (ao rci)
-,e até e11cm1ar os pés, rctrocedc:nc!-o dcpoi,, cnqtlflnto fa7.eru - Amor pnra temo rei. St:nnor
'
fiurcac!os c:om a, espadas. Os passos são contados, o mesmo 11o fog<Jque me de\'Or:t n~ste dis
número para a frente e p;L'"JItr,L;, <:011servando-se
1 os pucciros, O qucl dams paz.
d~ freme un, p:i.-a o outTú. E vede a multidão do teu povo
Vejamo.so diál()jlo: Que cntoroa a tcu.s pés;
Fidalgos reclamam;
l{ei Glória seja dado
- Olá! Ol~'i,men st<.T<.:cirjo E.xcrçorei senho ...
Da ntioha =<?t11ria Rei
r: <.1omeu real csrndo.
- Cantai, dançai, alcgr,;-s, comentes. meu< filhos
Secretário Que oos emporca com essas tcme10$.;s tcmpestad::s cure-as.
- O que rnauda,rei scnbor QuMdo :iós tratamos de e-m festim
Neste v(,sso real 11)at1dado? Que cuja festa fa.remos n1do
Rei Ein louvor de nossa VirRe.mdo Rosár:o
- Vejo o rn1.mdoinceiro estar na rua
E do nosso padroeiro ··
E s6 em vós me vejo dcscanss.do Glorioso São Eene<lito.
Sccretii!io Príncipe
- Rei Seahc>r! . . . Seiafcsra, - Voc<:srodos estão dentes
Ou seja guerra, Dos festejos dc,1:c dia
Sení mdo ck,e,Jll.1ct1~do! Vll.Qloslouvar com 11,osro
O rosário de Maria.
Rei F.roh:úxador
- Senta-ce ~ minha direita
(f:.le !,lede a cntrad.1, mas u noletiln ~, ~tlâJ?alf-~~,
E vê lá q1.1e<!essespróprios inimigos gcite.ndo Je loni:e):
~ão sejamos atnc.10,1.,bs.
Boletim
Se('teM:!o
O vos~o reine está perdido!
- E.%,ld.in,a da foli-1. .t\qudcs santos que lá vêm
Quinacube(•) será ~cu fill-io Por C'ênosio vossos inhnigos.
.ele sejo oos.<o guia.
Rei
Rei
(ao filho) - Que notícic.s sâo c:-sta.,
Qt1e vós me com.Indo cmi?
- Quin2mhe 1 mil'J,a querida O meu coraçi'ioestá quicro
Reg07jjai-,·os coJni!,'O Não se move do lugar.
Boletim
- Rei senhor
2-i6
247
Ec me=:.rnosou 1.esternunho Secretário
Das noticüs que vim te dar: ( no primeiro Duque)
ll:na grande b.ic."'<ltirade guerra - Guarde hem camato.d~.
Que vi no campo de Mumb,,ca. A<lianre nem um passo! ·
Qt,ando meus olho,; avistou-se
Meu; pulsos se quebro,~, Secrer.ltio
O rr.,u coração tremeu. (ao rei)
Fottc,; gentes vlllentes - Rei senhor;
Cad" qual suspende as atn:as, Lá vem o embaixador de místico
Cada um mais a contente, com vá.rias noções de estado~
Pois minha rei. Licença \'em vos pedir
Vi..!to a gLied'a set pretos com pretos; Para vossa mio beijar;
Brru1cos cem b~ancos Como vem alegre e contente.
Aonde rompe este vo;so fone batalhão Que coisa havecl perguntei,
Vamo!... [ .av.111çamos. Intcrrngandoquem el'll se..1dem
Rei E quem era seu santo.
- Príocipe e secretário Me respondeu:
Vão depress:i perguntar: i\leu Dens é Alais
O que bUS<:2 nesta terra, E do santo nem te como
O que vieste aqu: buscu Rei
- Príncipe e secretário,
Secretário
hlinha corte e fidalguia!
( 20 embaixador)
\Ião todos .. _ Prendam e tragam
- (Falto e~ta parte. ConformeSalemo,ele repetiria: Debaixo de armas
Guerra, e mais guerm:) À minha real presença
Secretário E perguntem os nomes;
- Pois edian te oão irás, Contem todos um a um
Que ao t:letl rereu \TCU contar. E me trag:un bem escoltados!
Embaixador Sétlétáfiõ
- (fair.i outra parte do rcxto redrndo pelo Embaixador) ( ao embaixador)
- Atrevido embaixador!
Secretário O Rei te manda prender,
- Arrasc.dcs se.rio tefü tonguinl:os Dirija teos passos,
Qtct vêm par,1 rua defem Chega na presença
Adirui te do meu rei Para receber
Hão de ser desam1ados Tua sentença
Poi~ bem! A meu rei vou COOlat, Embaixador
Coota,mt co!l'lo te chama
Quem é u:u Deus e quem é teu Santo. (ao C3ciquc)
- Olhe::meu c-acique:
Embb;ador Aqui voo eu;
- Meu Deus é Aleis Se eu dcmomr por estas duas horas,
F. meu Santo é Maom~. Ponha teu povo elll campo

248
E vai ,çer o ultraje 1'.iaiscoroo rei tu não td1S
Q,:e sofre este teu Emb-aixs.dor. Pica ,ut!o em meu cu!daclo.
Ma:s fale com o Príncipe
Secrcaírio Q-üc é um füho u:ui,o amado,
( ao Embaixador)
QL'<'dentro c!e meia hora
- Sou eu cucm habito con,emc Tcus crirne~ ~etilo J?Crdoados.
:Sksle novo ·oootu!ário;
Se for guerr:i me decl.1re. Rei
Nc::,ta ação ~em merecer ( ao embaixador)
O teu p-O\"O em cacpo - Então!?. . . Pocq,ic oiio joelhas? ..
Que algum~ c.olsa Pensarás que e,.,:ás falando
Tem q~ tr32c:- Com um simp.k, cmbai?tador,
O que querer, Como ru?
Em6-aix<1dor'
Embaixador
Erolx•ixador - Serás n1 o g.ra::dcAlá,
- (Falu est,l p2rtt. Terrnflt=:l:
G1~crrae m:ús guerra!} Senis tu o granck i\-Ll()mé
Séuctário Para mim Cur\'ar cm tellS 1>és?
- Serra .ts arma::;·ao inim1gos ! Rei
(Prende o Embaixador. F. • gucm\. O erobnixador e - Sentai. monarca ...
levado d;antt: do rei)
Então sei o que Yieste aqui tratar!
Embaixador Nesse dia de granJ,:; fr~ta?
( ao rncique ) Li na raia ooJe tu p,1ssa:.,:c.
- Aqui vou eu Cá m.:u povo lu umorim1ste.
Com os olhos raJl')dos Emb-.üxadm
Com as mãos amarrada~
Sofrer aqt:efa.esuonclo,rn morte. - Sim, senhor,
Eu \tim rratar
Cacique D<:um as.,mto de divisa cl~ tem,
- Vai sem m,úor ccida<lo; Q-.;c vós tem que,ido nos toe.ar.
Se sofrer alron insulro
S,,-,í pmmo- e bem vi.n~do. Rei
Embaixador - Ho!e não t:-ata éc ncgf.-cios ,lgmn
( ao secret:ário) Est-rao~eiroscu na::::ionais
t!a curte ~ con.;e.11::.el1'0$.
Qoe me j nvo..r-a
Se nm rei cu ti,•es!e
E11~eria perdoodo; E.11:baixador
Mas como um rei eu não tcoho - Tcrr. que ,:ne ouvir
Fici n:clo em teu oiidado. E temos de o·ac.1r,
Secrctá,-io Vejíl o que é 01ist~r
{ ao c:né.aixador)
E pode rc:..<Uk1r
- Sim. Se ur:i rd lt: tivesSt!S Rei
Tu e..-,,sperdoado; - No,·cs cxtrcmc,s de v:J,,?

250
Embai,cador Que aqui tem filho
- Veja o qcc é mister Para ~-o,sa defesn
E po<le1-esultnr.
Rei
Rei - Já que tenho filho
- Atrevido et:tbaixa<lor'. De minJ-,.amerecendência
f"orn de minha .~l pr<:sen<;a'. Torrutrei a meu troJJo.
Eu podia te llUln<larprender Mais! . . . Porém guerra'. ...
N:1 m1iis e!CU!'ll prislío: - (0 Estado-m:i:or e ,1 corte combm:cm os "mouros".
Mas níio quero qJe o tc:.1 rei l,i .liga fv.endo grande algazarr.1 1000s, <!<'quantom•.nejam
Que aproveitei-me da ocaSlão! . .. freneticamente a.s cs.pa<las).
C.mhai~ac!or .Rei
( o Emba'i,.a,-lor ameãÇ>l o rei. Falt,1-00s esta parte}. - A1,-;mi,"a
rue.us camaradas,
Rei E dai o ,n.ús fino golpe mortal
- S:trito meu p-J.tTOno!.. . Ncssa canalha
Anjo <le minha goarda! .. . ( O combate oontinun}
E os soldados que roe rodei<1m! ...
Vejo-me ,icra:coodo com este atrevimento! Secretário
Alvore-;.ecs~a bandeira. - Vitória, <.enhor
1 (Pren<le.m
todos os "1oouros")
Seja ela a nossa mormllu e a nossa iroia. Rei
Vamos. Avan,:amo;. - Bnvos, meus valt:Iltes soldados!
Prince;a ( Os ven<:idas ajoelhado,. pedem perdiía ao rei)
-Rei senhor Cacique e
Não dci.xaivosso nono perecer Embaixador
Nem vosso tesouro se i-.errlcr, - Cm,•ando aos vossos p~
Olhe para a vossa direir..1 Peço penlão de meu, crimes:
Tem u teu filho prínc'pe
1'.itL>Odéstiaele quem não sabe viçer,
]\na tua dek,a: E a polí.irn ele quL-m 11,íosabe ap.re.ncler.
T!ldo q~oto csp,>...ro
Q-t1cserá vossa g:Fdlldezu_ Rei
Rei - Levantai-vos, meus filhos.,
- Silll'. Cont:a:2do eu na minb~ alu:za Os teus crimes e.scãoperdoados;
T !1:-narei ao meu a:ono; Chega lá ao teu reino
Porém! 1:,11m grande insutto 4
E diga que o Rei elo Conp,oé poderoso.
Paro mi oh• fidalguia; ' Os mouros"

Não posso dei,rnr (L.-.rllltam-sc. e <:a11tam.Nio 0011.~eguimoste<:olber


De dar garantia. o que des c--antam. O rei manda-lhes entregar ,IS arm.1s).
Avancemos. Rei
Príncipe (ao Prfocipe)
- ó1eu pai! Meu Senhor! - Levanta, leva1ita prtncipc:
V<>~ci trauq5ilo ao ceu trono Faça que chegue ao Cac'.<jüC a linguagem.

251 253
( Então começa ~ ú!cirn:t dança e rodos camarn): e impressio.::iante. O movimento do corpo acompan:-r.1,sílaba po:
Senhor Rei, sílaba, as notas tsp:152das da música e da,; vozes.
Adeus! Adeus'.
Pague a ,visita Pisa no chão
E vá com Deu~! De vagar leão
Ê ... É ... ~1ariá
Não encoste na parede
Os J',attllj11es Que a pnrcde deixo pó
l?.... f. ... Mariá
Al~m c.l;is,:ong11das,é muito comum, encre os pretos de Soro-
caba a batucada. Vejamos 3 descrição qne no, foi fc:ita pelo Sr. Esce final é comum n q1)Jlsetoda, as ha mcad,1s. Koce-se que
Francisco C.unargo César: c-Jnt.1m apenas 1101 dos 'l'ersos, noite adentro. Outra letra para o
''Kas festas pop11lares, como as elo Divill() F,spírito Sanco, b'1ruque é 2 seguime:
de Nossa Senbora ;\parecida. de Snnro Antônio, São João e S:io
Pedro, oas comemorações de 13 de maio e na nol!e de ~arai. o Batuque ns cozinha
samba, que quase toe.los denominam "pandeiro" ou "batuque", SinháDilo qué
era muito freqüente. O "batuque'~ e~ cxt.:lus:ivamentede gente Por causa do batuque
de car. A ºbatucada'~ é uma da.lça cipkamentc africana, com Queimei meu pé
muito rcmdcxo ck corpo e umbjgad.1s; os instrwnentos são: o 011

bumbo, o panckiro " a cuíca. A música é ritmica, como roda, Quebrei meu pé
a.s músicas africanas. Atualroente só no bairro <le Apacecida,
cm Sorocaba, pode ser u!osetvado. A santa fica seis rne.,;csrui Nc$tc, o n:md<'.xodo corpo é mtÚt<>maior, morm1'nre quanto
caK-dral e seis meses na igreja de= bairro. Quando ela é levada ao requebrado tios quailiis.
p,ira lá, cm procissão, há batuc,1w.1". As letras por .o6srecolhíw.1ssão múnótoiw e mcr,"nnlés, mas
Como se vê, <>motivo da danç::,também é a comemoração estes são tr,1,;os Jo batuque, co= podemos avaliar pelas s<}-
de uma sacta pzdrocira, <lobgk,lógio au6lico. Enquanto a con- ~uinres, colhidlls por José Vieira ( ' 1 ):
gada é feita cm bunra·e louvor <le ).!. S. clo Rosário, a batuc.ada
é ck-dicadaà N. S. Aparecida, cooscrvant!o, pois um cunho 01- Chorou ribeira
ractcristica."tlcotc profano-rdigíoio. Verifica-se q'Je llOllTt uma Chorou ribeirn
Chorou l'ibe.irs
fusãoentre o primitivo motivo <la <l~oc,1e o a1lco c:,u:ólico. Óia a s.o.iada M,u-iquinha
De dança profallil e IeiUI em.,11)Jl.\q,1ei:
lnfl"I',ha.,tando, par,1 Tirando balão
isso, apcua~ os sons rümicos <la.dopefas l""lmns ela<mãos. de um De t:'.otê.
bumbo ou <luascolheres, passou a df.~ comemorativa de dmas
festivas <: de dias ele culto, como o de N. S. Apsrttid3 {º). Chorou laranjeira
Recolhemosos seguin(e; ,•ersos( ,n), cantados ao som dos Cborou laraoj:ira
bumbos, tambores e etiícas, monorona,nence, enO'(lsaooo-.co Chorou laranjeira
c,mto e a! notas do instrumental em um úniOJ som. lamentoso Que não des:sc mais flor
Chorou laranjeira
Chorou lanmjeira
(9) So.l>rco "b•mquc", ,..,j....,
A. Rsmo., O Folclore Nev,, no
l'/,as-:1,~p. ât., flÍg),. 1.3.5-141. (l l) "O•oç•. Mútica e P~ Negra no Brasil", in Jorr.o! d~
(10) Dados fornecid;)Spt~ Profrsoo,· R~tto P,1~malid,;, Comérdc, Rio ic Jmlf'iro,1928, p~g. 667.

254 255
A GrISA DE CO~CLUSAO

17
CAPITt!W XIII

ASPECTOS POLÍTICOS DO DILE~fA


RACIAL BRASILEIRO { •)

Sabe-se que o dil=a :-aé.tl brasibiro a:,:,r<e<:c,fundrunen-


ta!mente# co1no um cont.-astc entre nornas idcnl! ( moldadas.
por um ccetbot democrá!:coH) e comportntt:entos é<.-rivos ( exclu-
sivistas e tende11tesà Sttbzlterll:zaçãodo "negro,, e do ºm~a:o").
Como escre,ern Bastide e Van ckn Becgue: "?or um hdo. encoa-
tl"amosuma larga aderência às normas democráticas,e, p,oroutro~
um alto g;,tu de estereoip:,g<":n. un:a gt:.nce segregarão no nível
da imimicade pessoal. e u:na endogami2 praticamente ,b,oluta.
Esta ambivalênc'éll estabelece um verdadéro di!~m4 bra,-;/eirc,,
muito embora talvez difercn:c do dfic,?11:a·wer!C!l1w" ( 1 ). Em
sua versão bt:,sildr:i, es;e dileme expka-se pelas condições de
desintegração da sociedade escravista e- de ionuação da sociedade
de classes. :\la verdade, "a ordem social com;,etiri\'a emergiu e
c:pandiu-se, compactamente, como um am:ênt:co e fechaio m:~-ndo
dos brancos~\ o que signiEca, eihoucras pahwras>que Has estr..:-
rurns da sociedade de dasses ruo conseguiram, até o preseme,

f'') Trú:!ltho -=-.scri:o?:?n o \'ClL>:ne::.-oleth-o,~ s.::::;-p•:.l:-,Bcsdv


~
França, cm 1:Xltt:êmgc::m ~o .Pro:csso: R.ogcr BF.ttide,2.nti~o pt"Ó:CSSO•da
Universidaclê de São P,u:lo.
( l) R. BilSUlk e P. Van <le:iBerg,ll~ 11E;:ere6ti;i~ :.,oro:~ e oom-
poru.ment<> ínt.r-rachtl""' São Po.tlo'', ir. R. Bas::<lee F. Fc,.ru.ndd, g,._~.
C'Of , N,a,01 e//t 5;,,,Pa:Jo, s. Pc"1o,COClp,ill!lÍl Eàitcra )i•den.:. 3: cd.,
1971, p.. Wt. V.efa.se, Wlch, L. A. d2 C0>'1aPir.to. O '/\ffro 1:0 Ri~ <f1
Jil1'&o, S. P,;s;lo.Cou:panhia faiitnra Nxi=•l, 1:i.5.>,csp. VI. Costa Pinco
dá muita arenc;OOl :1.ia:.IC",.,1 e às h::--i?lÍcaçõc::s.
da sc61tcrn~~çiio e J.a
11
infetloriz;t,çito llO a:n:cxto d.t urbru:ii.xaçio
drcul:ardo ncg...""O'" :: da :Jld>JS.
tria!i.açüo.

259
ellm:nar r.oJ'm~ln:cnteas est;_ lwil!> pree.x:Stc=tc:sna ç0sfer~ das O;de.w SodcJe Prii~iUgio
rdações raciais, fozeado co:n que a orclcrn S<lcial comp.:titiva
r:lío alcance piei.ia "igênda no ootivaçfo, n.1 coorêenação e no Todas as sociedades estrntiCicad~s são socie<.la<lesnas gu:iis
rnntrole de tais rela:;õcs" (%}.
o privilégh> poS$uÍ influ&1c:as espec-'Jic,,s, quer ;obre a coopo;iç.ão
O dilem.a social cotlstitui :11n fenômeno sodolós:!icoesse:i- do n:cio social interno, '!.ue: soiire os dina:n:smos de func~on:.1-
i
d-~lmeme polltiro. Ele tem ::,1{z;:s crnllÔrnicas. 50ciais cultur?.is; mcmo e de evolução da oré~11:scéa!. Tais inf11.êndas são C(!nl1~-
e pro<l"~ efeitos ramificad(,s c:n: toêas essas direções. To,favia, cidamcntc di.-ecsrui, quando se pas5a do regime de cas:as pn.--ao
a su,1própria exi.t&lcia só 6 pcssivcl ~r:iç,1sa <'~rt~sesmitura; d,e estamcttos ou deste para o .e<,!C..,,c de cbsscs. O gr<.u é<:
de poder, q oc o torruim incvit.:ív<?le necessário. E a sua pi:r- dn privilég:o v-ar:::de u□ rcg,ir:1e p:l!'a Qtltro,.o r.:iesrno
segreg3.Çâo
peru:1<;20. i:,ddin:da ou =nsit6tia, Í.:l(]ÍC.l rual; qw: isso, po:, ocorrendo co11 sua \':sibili.¼de, lep,irimnçãoe signifioido sócio•
~~tcm:Utha não só que ~n!pcs, dssses ou raças dt1:n:Il!ln.:es sãl) -polícico. O regime de C:n,se.s, porém. é o único gue pro;c:a
capazc-s de manter tais estturuntsde J.,-"Oc!cr-. ma.i que. ao mc:::no o ;,rivilégio em uma es(erade conflico nxiológioo. 1\ t>rdeJr•legal
tempo, gr1:pc$, classes e raças su!Júl<:tidcs à domü~Çlo ::õo :m. e polft:.cafunda-se mnna ideo!ogiademocrália\, eoqu3llJO o sis-
p::;cntcs par,, im~,or suá \'úUladc e corrigir a úuaçlio. teoa de produção org(ll1Í2íl•se com base <:rn relações e.:ooÕ!'llic,,.s
CoL-ioas froutcir-&srac:•Ís Ditodcsaparece.t>!ll',no Brasil cu::u que in;,-tin.cic,1alizam,i e.,-;,ropriaç-ãue reqcerem o privilégio de
:t Abolição, é um tlro supc..,t··scqut: 2 sup-r~"l:4!."'ia
~ia lx>1ner.1br~nco e"propriar, de arnn:u:ac e de ma::dar (ou dominar). Esse co:i-
seja um dado hiSH\r:a,. um foto édinicivarr.cntc "Upc:odo co:n flitu a.xiolôgk·v.. está claro. por si mesmo não impcéc 3 cunti.oci~
o desaparccimcr.to da e:;.:ro,;dão. Do:irro laclo, como n econnm:a dace do privilégio. n-:gado ~m um plano ma.s co:ifumndo em outro.
de .rab.?lho livre se organizou sobre ::,n p,HalYIJl!"p,·6-c:,picelisr., A ordem s.,cial compet:tive. <:x:nlt.~-o atrls de <!hsttaçõcs c<.-000•
e c:oloni2I. ser:a ]Q,r.enr,h-else i!(:,orá;semos como :;~ decenui- micas e sociai~. can~crtend("AJ, porém, e-1u 1.:m d.e seus prindpim;
nações de rnças se inseriram. e afe.arnrn as determioaçõe; de ou for,;:,s intEY,rnt:\"(IS.
Cont1Jdo, o conflito aidológko aummt>1 n
d~sses. Ao contr>kio do <pe ocorreu na :Europa, na América visih:lidade rer,sr:iva Jo privilég:o, ao mes1llo ,c.>mpoque fornece
J.arina a e.i<"P.uuãoúo ,,.pit11lismo<l~senrolou-seem cen:frios émi- fonclan:<:ntomoral e kgitimidad-: po!ícica e vári:is roodaEd:1.d~~
cos e raciais muito com?lcxos e heterogê:n~'O,. .-\s i,,<randcscr:ses de perccpçãn ctitica e de c,posição ilO privilégio.
e tr:msi~·ôt,-smm('Çll?:une acahar:im -· ou :1pcru1stcrmin:uan - •
como "rc•i:ol11ç6cs d:- cima para baixo:i',soh a u:.tcla ou o arbfrr.:o
As ~ondiçoc• de formação do ca?itslismo n.is Amér:ca., n;i,;,
fovore~ra m a "rcpetiçâ<i c.itth:nfü-iaº. Sob muí:i:lS aspectos~ o
do pudercu;:servadpr, o podcJ· supremo de rah$ minorfas hran-cas.
f>oz- t~so, a dc~""("J1cmlmção
ai:-:da e.~IÍ en y,roccsso. O que d-=:$a-
me.1éoJ10do o:nflito axiolóR.:co cnn~cimiu11m co1111úxo s::hprc,,
parcccu hi~toricamcnte - 1
o ''m11ndo colonli'.11~ - ~::h~istein:s• pTozluto soc.ial t!a revolt,~o bt~riuesa na Europa. P<1ra t;LH: n
tirucional e funr::onalmenre. ai nd,1 qne de formn variável e <k- e o Esl~tlo nacie>nalput..~;~\ preenci>er cerras funções
:::--Jaçii<)
s1tna1, ronfor.me os níveis de oc~.aniz9çâoda vid11huma:,,1 que ..g~ul!natlva,, e in1egra1ivas. impresdn<lh-eis pa.r~ o Jesenvolvi-
se considerem. Ele vi,e, \>Ois,em qoo;e mdo qoe é essem:i"1 m<!lltv do c.,pitaF,mo, c=a pre..-iso fomen:a: ma ideologia taJ.>a,
para o capitalismo JepenJeme: llil poss<: da terc,1, na o.rganii-B<;li<> de at:cn<kr a interesses díspares f ?Or ve-,es inronóliá,•eis j. eni
cúnflito :i.b::.tto na 50dcdadc. Daí rcs1.Út:aram cútlce,.,,ões,no t~r-
Ja agric-dtur-a, na autocracia dos poder0:;os, na expo!i:>.çifosiste-
r<.:nodas idcu!ogiils. que auncntttta:n progtcs!:h·am~l·e à 1ne-
mát'.<:ae 11:i. margjn:rli.zaçã,,dus poh=es, no parücufarismo e no
di~a q:1c o~ g::-:.rp:...-,s
e ~s c!a:ssc..-s
atcndic!c.."S
aéqu_irfammaiores
fa::isafamodas cfacs, na apatia ou 0.1 confusão das massas opri·
núdas e, prh,cipalmcn:e. nos !)adrõcs de rcbçõcs étn:cas e raciais, garn=tias so.::isis e ampliavam rua posição & barganha po~tica. O
poi- natureza ilcgícjrnos, c:!{ttacristãms e antidcm0tráticos. ponto de 1-..i.rciê:Icc1onis\ e ~5 fur.çõe.shistóricas dcscmpei::haú.ls
pela emancipa,~ n2e:ion.?Ino privilegiJ,,mcnto dos inte:esscs e de
pensamento oonSer\,'ll~ore; nas Américas - e ;ob muitos asptc10;
(2) F. Fa·nsndes, .:-1ln:e~ar-4o da ~iel{,ro,;a So~etf6..-Ul.e Classes, o Sul dos Estados Uniéos ruia difere e;seooalmente da Amétirn
S. Paulo, Dcm:nus E~:toro e Ed:t0:.t da Uni.-c,sêdade de Sfo Pmllo, 1%5, Lst:i;:,1 <!$~111::ob e porti.lguesa - int:oduiem 5érias difarcn~.o,
•;ol. 2, P9· 389 e 391. com re:~ção à E;iroj.xl. A;x:sar da ,,pnen:e f1;,1rq11irt e do mn
260 2Gl
e;d !ibitsm da li!>erdade pessoal, as formas patrimoniais e des- sLn~res.
no cenário cutopi:u o-~ nâo proc!uL'i~mco.,seqi'1ênch,~
pótkns <le doUÚl'13Çâonão entram pn~cocemen1e nas transações • O lihcrolismc, cra wn bstru:oc:1io ck ad.ipta,;20 d:i icko!o,gis.s,,
~ a1fapta_õc, r<:ciprocas de ca:egori~ SO('i<tisdesiguais. O poder nhorial à dominação colenial i:idircta e nio contribu!3 p,m, fo.
poliriCú c:q,dmc muito mais UnlSl confluêochl ,la ,·ontac!e cb ari.s- mentar qc,lqucr tcndêccia radical de tevolusio dc=tro da otdt::n.
tocraáa que cm crrsnjo ot1 acomo<la,ão <la,uisrocracia com os O< denv.ii; setore; sociais, por sun vez, nâQ d!spunhom d~ bas:!
d~m:tis gru!)O, soc:a:;. eco.nôroica, soei,,1 ~ política polra dcscnr.~lc:.Lrs=lha:11:c p:o-
Poc is:;o, ll:ls clíforenc~.s rejltóes <la Ainérka Latina a cman• <'CSso. O "etbos-dernocrádco" ( ou o sen eq~ivalentc, nos ·v.ir:o;s
cipação nacion.al e a orga.niwç~o <le Ltn Esrndo nacional se dio tipos de o!igaxquin) circunscrevia-seà \io,iu,h ord.:tn civil, em
eu1 ut:1 <:on:aco 1)0 quAf a <lesagt~,gãÇâo do sistem2 colo:1[2l tomo <l.aqual gravitavam, em foz~1o io; ilre~ss<?; oJig.írquico~,
apenas se rn11.s1:ma;\O nfvd ;urídiarpolftico ( e, assim mesrno, o, Esudo, nacionais. Ela era, de fato, o ,,o.iconúcleo .!e;sa socie-
no que :s<:refer~ à subordii:ação dir(."tn às metrópoles e à estm• dade n<:ocolooiale:n que h,wfa 1.!I'1l3 soci.dizaçã<Jpolítica en:re
ruraç1o do Ern,do inécpcw=ntc, p<>iso a.nti?,o sistema l~,tl pet· igu:iis. Essa siruaçã<l crn mús cxiocma e: drást:ca no Br::s:l, t)Ot•
durrá por □uito rc□po). A e.s,nltl:ra wk>nia\ <la economia e da que a pasisténc:ia d:, esc:ravidiio <--riaracondi~-ões para a pr.:se=-
S<lcicdadc nl:o s.: oltemn senão superiicfal.rotnte, pois ela era vaçio em bloco elas estr1n11,-.i.~ ecc=ôrr:icase sodcis c,>!onfa1s
1
seja p::,ra li p~serva('lio <lo htAen:onfod,is C.UJ1:1das
Ol'CL'ss:í.ria se- reduzindo as pro;,orçôcs e os dc:cos da de;;:oloru2:tção.
nhoriais, seja para a i:1corporaçãn dos países da ;\ mé.rica T.nrin::i As L-voluçõcsposteriores, ao longo do sécJlo )(l:X e capri-
a uma forma indirctll. àc dominação t-co:iômica e cnltm:a] de tipo meira 111eradcdo século XX. trazem cou~igo utn,t nítida 1endi11cia
ru!unial, tan:b6n ro!l1andada pelo capitalisino euC(lJ>eu. A emàll• à couso!id:ação do Gtpita1isl:lotnode.t:JlO, do 1•~:me de d.·ts$c,; e du
ci?ação nat:iooaI !:tcino.amc:-ican~1 tipk;1 é, port~nro, um {~nô- Estado nadom l. Não obstante. permanece 111:l!l i11v,ciávd pclari-
político ( ou, como se dii, Ulll'J "revolução
::ue:..oc:sp<.·dficam<=ire zaçio elitista, q.ie resul1a da c,ap11ci,~~d~ de,~ ~tra~os sociais do-
política"). Por ;1arndo'.'<al
gue isso 1.101S>1
1,arecer, lllll:l. revolu,;ão 1ninm1les de manter e de forralecer os seus priv:Mgios. ablvl-s
dL·ssa~péde nno $e opn11ha ao llnligo ;:,isternacolonial como tilll
d:is várias mmstorm,;.ções da ordem e.ronô11'ça,soda! e política.
mdo. Ao ço:itrário, da de,:,en<lilda continuidade das c,m,rura~ f.s~e fcnôn1cn<,.ainda m;il i'.!ves:.igaoot pouro conl:ecido socie>
econômicas e soei ai~, montadas sob o $-ÍStema colonial, par,1 ter •
logicamcn.:t.·, •• p el,¼ nlQno,o 1•
pa:L--cc.txJ?-fC"cit-se N
~)d 'ai e.o
17...aÇAo J •
pvcer
êxito { :10 ?fano cm qne a emancipaçãouoadonal'• fui co::icebida polúicc, e do aparato es1:i1,J por :lqutles est·,l!'os. Ü> ,~cmais
<: visada ?Cb créstc,.rn_i;1). r'. tanto isso é ve.uadeiru, <JU<:é no
L~tntosda ,ociedm!~ fo=,unJ.muic1101<cJ1 te exc:u~-ic,~ ,io po,k-r polf-
pcnudo ;:iós-nacio11J1! que o regime eStamenLal ( ou de c-dstas e tico instirucion~Hzado- aesroo quanJo ,1 pllrtic:pnçã.,cl:c:ga::;;:;~
~tfüne:ito:;, t:1!1 algun!;<.-s.:io:;}ati.~ge o ::.cu a;:,n_~ct1hi1tórioo. l.>ois
a ser admiácb - e nt:nca logc,.nu:1qunl')t:~c ch.!int·eêc ;\mCí!Çt'I
foi !Faç,c; à rcvolu;;ão pol:ác3 -qne os· estamemos senhoriais lo- o status q,w "atra,és àa orc!em·•. Es;t pa<.lüo ·i~id(I e ,no11olí-
giararn autor:,>mÍllsuficiente l'Xll'il transformar o potler econômico tico ck du1:ninacic ~uiocrárics res1~nde às crigências da s:tllildi;)
1: social de que dispunham ~m r,oder !>O!Íticoe es;,11al, prolllo-
hisa)ric..v-sodal.A p~si~1ênd;.\!S<•bvária~ ~nrma~,da ,1ornittm.i10
vmdo s.c a >"-'3 :nt:ep.raçiío hom.onrnl ao nh·el <lao:ga.iiliação do cxtcl'oa ( 3 ) <: a c:xr••n<iini:iterna <loc.tpil'.11.lisf:JO impõcei a con-
ixdcr csped:i01menre J)Qlit',o {o que equivale a drzcr quc: se tinuidac!cde n1oc!.elosven.la<.!eirameri te colcnfaic::de apr,>ptit~1o e
tomaram. assim, ~;1-iunencósbegeillÕll.ÍCOs ). Por aí se vê que,
de expropriação cconôwka, aos qu,i"s <leve corre,pondcr, ncc;;s-
inidalmetitP. 1 a de$COConh:açikl
sigitlf:t:011 m1.1ito pouco na Arcérica
saris.eicntc, t:n'.Jl c:1trcma rnncen1n1,;,ío perr-,,1nente da dqu<z.t,
rJ1tin.1:uma mudanc-;1no c,uátc.Tdos li:.nx:s de dcpcndênchl ex- no :o-pe, e o 1J:Ç{lpacífrcn ou v.:i,!i:.nlu Ci: t~nkas a1..1tocrát":-ú?sd::
do podcr politim por cscamen!l\s que ~
terna; e lllOOOpoli.t<1ç,;,o
m~:1opo.D:2.v21na riqocza. o prcst:'gio social e es fo,•m9s ro.rres-
ponden:e-;de podl-r ( com suas inpli01ções políticas, co11si<kr.íveis
ao nível local). (}) Cf. F. l'ctNode<, "Prnctr.s o' Eili:n2'. Dctn:ru.,ion lo l.:ni:t
An.\CY'i~,.io F. Fcrm.00,::s,
Thc l.t1tin ,.m-:r!!'r.:;ü: Re-a.:iit1i:.e
Lte:u.res_,
Groç,tS a e,5'\S ciro.uls,!'iuáas, os l'Ontlitos que eclodiram To,oo·o, UJi«::rs't, ef T01onto, 1%9-í.970, p;:,. 3-23 ( on& ll1!r.bán.se
11es;et~clf'.ldotão tumultuooo ou nãn tinhnm o mesmo sentido que c;.cc,1:ra1m10hlb!iotrofi.a).

263
Oi>Tc<são e de rC!)ressíio( • ). Os din3mismos de classe só se tor- Aind,1 é preciso que se re,enham três pontos, que são cru-
nam efetivos para as classes que i'>Odemutilizar livremente os ciais para a presentediscussoo. Primeiro,as ideologias e as utopias
tec\trsos institocioaaliz:ic!osde luta çolltíca (,; ). Aínda assim, u oficids, .cessas 50cie,fac!es,
possuem pouco ,;alor para se conhecer
coocrole político conse!"':ador,na st,a essência sempre fundamcn- sociolõgieamente sua sitoeção C(.)ncreta( crr.bo:a ~eja:n deveras
rn!mente voltado pa~ a defesa intransigente e o forta!ecimcn,o importantes para se conhecer sociologiCc'lmcntc sua reilida~e polí-
do pri~;Jégío, te:n imposto tiloto a co-optsçiio quanto o osrracisroo tica e• natureza do pensamento conservador ne.5saposição-limite).
ou a elimiDa1tÇão 20s setores divergeates que chegassema ameaç.,r O prh,;Jéj;ío é tão "j1mo" e "11ecessoirio",r,aro as camadas domi-
:i estabilidade (13 ordem. Nessas coodições, o uso "lcgfamo" do na·ues. e também para as s:.:as elites C1Jln:rai5, que as formas
co:iflito faz parte do privilégio e, com o poder polítlco instituc:o mais duras de desigll.:lldadce de crueldade são representadascooo
nn.li=lo, os sccores di:-íg<:nt~ das dassés dominante; detêl!l o algo nt:Juraf e, 2ré. democrático. Est,í nessa c1regoriao mito da
monopólio da violência. na v~ão conservadora do mcndo
dernoc.raciaraciaJ, cilo e:ntr<1n.'1,,,Jo
Essa eJposição é sucinta, roas revefa o essencial. O con:lito no Brasil O qt.-ede.fineuma democracia racial? Pouco importa.
axiológico, ~o importante pm. explicar a ?cttepçiio crítica e as O qce i1:1portaé que o mito sei• aceiro " que se propague que
vJrias fomias de restrição ou de opos:ção ao privilégio ( atra,-.?s não eiós:e, no montlo, "outro exemplo de democracia racial".
das conhecidas crises do ltbcrilismo e da evolução do socialismo), Segtmdo,a ideologiae a utopia 'oficiãis comam-se e.,mcmam::nte
niío encontrou meio prop!cio de florescimento no contei.."tohistó- perigosas. Elas fozem parte exum ritual; mas, es~e ritual é t:do
rico-social latino-americai,o, No fundo. o controle pol(tico con- romo s:igrado. Se a}guém - uma pesm~ ou grupo de pessoas
servador não admite alternativa - ou· a perpen.iaçiioautocrática - se opuser a elas, então tem de arrostllt os ciscos da infração.
da ordem <>ua revolução conrra a ordem. Emende-se que, nesse Os fo!.tuxiys funcionam como se fossem mores, em grande parte
limite histórico, o gi:au de falsidade,de mistificaçãoou de racfo- por causa da intolerância e da inseg-cra:1çados controles autocrá-
nalliação, inerente às ideologias, atinge o clímax. Ao mesmo tiros do poder cor..se;;;•ador.O dissiden:e é focalizadocomo cfü•er-
tempo, a íc!eología toma-se ineficaz, pois, em última instâo.c:a, i;ente sistemécico e, de i:roa m:mcim ou de outra, acabará rec:e·
eh não é "a imagem im•errida da realidade". Ela é uma simples bendo o :roco, amt\"és de trotam.encos e."1:ee1pl11sres. Terceiro, a
roásClira,em um jogo no qual ela pode ser posta e tirada ao sab~r exposição inten.""-e durad0'.1r.?a .ais ideologia e utopia oficiaiJ,
das conveniências ou das imposições tidas como "ineluráveis". sob as mencionadas condiçõzs de controle soc:etário, acaba crian-
Kão há outra via à perpetuação de pad=ões pré<ap:talista; e anti- do socializações profon<.¼se distorções ct6nicas :ia percepção e
nacionais de privilégio, em socieoodes que são capitalistas. si :na explicação da :-eali6de. O q= é rna! conhecido e entendi~o
organizam rucionalroeme e estão subc:1etic,1sa wn estado "demo- ~~ba por rajl.1st~-~eà r~prt3enta.ção;cm CO.:lseqüência_, mesmo :1s
cráticoº. vitima; cfus represcnt:,ções tendem a admitir que elas contêm
"a!g,:m gt$u de verdadt"_ compartilhndo c!aconfusão e desorie:t-
tando-se. ~o exem!;)loevocado: não caberia ao "negro" e ao
. (4) Veis-se Comisi<\n Económica p.,ra América Lacin.1,"La Dimi•
"rnu!ato" 11.dagsrse o mito c:!a"demcc..--adaracial" visa a ajudar
bnaóc dei I~rcso c::nAmér:i,._-a Utir.a", JJO:e:ir.: F.oo~ó,,:ko~ ✓1,JJ.éri«t ou a impedir a ~emocr2tizaçlio das rcl11<;õcs r:,ciais no Brasil ( ")?
La!i'kt, XII-2. 1967, pp. 152-175; sobre o B:as:l e at impEceçõesdo uc;:es- Se úarcos :?S devidas condusões, parece óbvio que o di-
cit~nt::>económico oc::lcrado'-- ?<II':o~ sclores pob:es éa pO?lÜaçêo: M.
C. TaPr:s e J. Sczn, M~s .AJ!add EsJt::1;camien!.o: Ur.~ Discusi6:, s~br:: (.! forua soci!ll se projeta, no comc~to hi>t6rico-coltut81 descrito,
Es:ilo deJ Des(l"olfoR.a:i~:teá~ Brasil!San~go .. Flacso, 1972, pp. 6S-7l. em wna área de acomodaçõesanestesi:adoras. As "mencit14 con-
Q1.1at1c:o poli~>tos:J. Gtet.-:.ar:::,a,
oos rirobk:m.,s Pc;::er; Cases S~i~les et: e.t vencioooi.s'' e "as inconsistências de valores,, podem ser retra.ta...
D~rro/io de /,.,,1áb: L:ti,,::, 1:1,:cno,Aires.. r.ditorfal P.üdó,, 1967.
{5) Cf. F. FE-rnacde,;,So,cJedadeâ~ Cf.ane1 t! S«bdertnco!:,i,1;.e.,:ttJ
Rlo de .far..efro,Zl!har ü!:to.es, 1968, c:-ip.1: e: especi:ilir.c:nte:~Los Pr.:J~ (6) E~ pcnt:> foi icsSJJ~o an:o nu 3.r:.álises d.e Costa Phto
d.e lr1sa"lte..sS<;eisks e,: l:vnérica Utl1:~ hté.~
b!.er.,nsa.e C1Jtx:ep~.v.tkaci6,, qU11'l!O de Fe::iu.:ld.es:cl. 1:1cin1~. nca; 1 :: 2. Pata t::m. t:náHse<.!o1,:to
l<ico, Iacltu:o de lo,-e,1igac:onesSocialr:s c'.c b 'Gnh=-iclad !\odonal Autó da denlOC~ :oci~I :i~e se:1tido.d. F. f,.;:rn.1.~~~ _,A ()e.estio Radal",
noma de México.. 1971, ed.. tni~n..,pP~ 14-104. o Tt"tJ/..~ ~ "i .l.lo<fJJ,llsbo:-:,N." !'O,esp. l>P·-ro-4.
264
das roo algum reli!tivismo iotcinseco onde o regime de c~aF-scs O, cfriws & Abolkão não for.uu os roes.tros pam os ex•
t:.,ndona mni mc,1
a plenicude. A ,,ropria divcrgêncio do; inte- -escra~--QSe seus ck:sccndctlles e para os que e,q::!or~am o tta..
r=<=• em cen~o ooxllhl e ptotég,: as m:uru,,staçõ~ ele mi rcb- l:xilhoc.scr.lvo.na c~'Unom:a r.:rnl uu na urban~. .-')de$thuiçiio elo
ti\.~mo. O roe~:110 não a~tecc e!!l sc..x:k-dadcs
de eles~ depe~ escravo ;e proccs;oi: no Brasil de forn:a tão du.r8, q-ce ela roo<e•
dentei: e subtle;e,11.-olvkfas.Kcfas. as "=ntiras conveneiooílis"' sentou a éltimo expoliaçio que de ocfr-.:u, rn,ao
:Il.11$que uma
e as "jr:cocsistêndas de valntcs'! c5tão tffo enredaC~ com o des- dádiva o:, um o;,o1·.,111ic,ide
coocrcu. Não se to:nuu nenhuma
h:tamento <le ptii..-ilég:os,que toc.or nelas é o me.-mo que íecir ecd:da .,.at• .tm~J-.k, na [are de L-an,:Ç2,1 e nada se fez p,tta
ditt:aruetllc o privilégio. Ilias nno são, ;x,rl8Jll0, fadlmentc ro- ajusc~fo oo sisle:na de trab:iJho li'>'te {opesar dos r.rniros projetos
rea<las :>ar si m{:~.rrrn::. e absmuamente. Elas roncrn.iz..tm. e.a cruc forare \o!hhora<lc-sou sasdlados .;.ntetit:-\'mence.. enq:::nto a
algum grau, os efeitos d:is :t«,es ou das atividad=s a q,.;,,"' i~'ci.tfro privada e o E,hido temiam pela eS<".,s;.a da ofcrta de
ugn:gam por refer&lcia. Too,r ..-ela, cq:1ivalc a fav.:r a crítica (kl5 tr:ibalhoi. ,\ ,ümn<lã::cía.de mão-de-<>!:::-a. (':lp,ll<l~ inrer1,so1eme
Ú.~,;.enfos da orde1n t:·:-:.i!iten:e!
f;m ... !550 expli01; segi~ndo _penss- ( num:t escah1 que não seria !m:agin~vd sob a escra\"klio) Otl
mos, tanto a hiper•sénsibilibd:: c:o pm.<a11nen te conservnuore sua aL-avésJs i.tnig.r?.Ç\10{ na é;,oca, c,;pcáa!m<.'tll.!da Euro;.,~).crion
mim.-Jede P<iniro e <lc :nscg,:L=ç• diante ce ol~J:\'OCÕ:::S crfü~ ema reali6l.de no.-~, õda ,do u "má forrar.a" d<>chamad,, r,r;!fO
freqtienrem~te !:,11Jais.quamo <:> padrslo ceoo;erv,\Jor <le reaçãa se,g,·o. "·-
n.ao o b stanre, os e~-sen:'\Orcs
, re prot..5'-'="2.me~! -..·.u1os
..
~n<:i~t:!.tioà foctliiaciioliverP,r.n.~, em reg;.\lm::ito •:iolento,obsti- m,~os. Tiven.m de are.ir com o 1~rcj11fao :ncrcn:c aus invesl:•
nado e intoler.otc í c:n:nose f.osse impositivo ou pre$..::r~'\'2-.fa
ou mcntos realizados nas J?=OSS êos ex-e;cravos ( pois a A;,~[i~,,
<l=cre<litá-k pnt .neio da estii,rna:i,:1çfo). málgr,ldoas p.ressõe~senhoria.i5~ seu•
re fez !=;en::n&nizn..:OC!:i,
rido contr:írio}, oas obtivi::ramCOlll~JlS,)v--ÕCS 1ltl'8V~S da poJ1t.:.ça
<l~sm?Aro flnancciro
t~e~!1Míciiooficial d2 Liligr..t.;io,c!i:n:e"'li<les
de <.mcrgêuda e ,fa prop:fa rede Je solidatic,fadc partxu!ar, que
a iniciativa privada po<li.i,nobi\iz2.c.F.Q'lcor.s.:qüénda, a re,upe-
U:n grupo ou rntcgo::ia S<ld.e.lr-o<'evar-ar barreiras dessa
rnç..~o
do 5i!-teo1J1ê.c r,rodt!ção~oi rápid.l ( na verdade, só em caso~
ordem e t<:atar impor sua p:-óp.tia v•,ão da rcalid«cc Se es
demais c<mcliçõc::;pennanece!'em a~ rucs112a~ou só ~e n·nns!o!"-
isol900S e em termos clc variação local O<'Nrw o contdciu). O
nmrcm muito pouco, l,)Orém,a,, cuias uiio se •Iterarão simples- faror princip:;J do cqu:!íb::io ,scooômico cootinuou ~ ser n posição
do c~fé no rnctc:2.duex-tetuo e a evohlÇ)iú lntcma d.a::,s,lÚ':t~.
rr:cntc por i!isn: a i<le1>logiae :1 i:.:rop!aofid~iJ·conti:mari'o a ter
c!dt:ndicim com ma:ot 7.do. Bá
vi!'f.ncis e ser.ão pr<.w<!,,dm-!i.t-.!
A rempcraçoo do atr-igo agente <lo crnb.,lboescr,,,,,, foi dillcU,
um ei.em.pl<'e.~ gnndc i.nttrc~,c t"tll?irico e rcó,'ico: 01 ,no,;:. le:,t,1 e ~~11i11 ur.u, ttajt-n:íria COII!pJ.ic1da.As cscolh:,s tb,sriois
. . de p=oh:stü t2c1'ai qi:c se r,cs::nca.tx:am;11
mentos 5(1Ctais ' _,_ nc .• .
· fllêK> !>e ~,u,:,hnmen.re 12ru..hmcr,ão tm econon~ d€ s,1m,i~têt1cia ou i
1

negro êe São Paulo. cr:trc cs f:us da céat<la de 20 e ,:,s 11.,--eadc,s to~en!r.açâo ~, grandes cid,1cks.,11nl~1$ ewolvendo to:-n1ases,,t.·
da ·dll<:adacc 40, que já ,~c.,:r::vemos e ~n•lis,mx>;es.teo;,1:necct cíHc:3Sck m.h-ciual~;.tcãoC' de autc-el:chu.ão niai-scu 1nw.os ço--::..
• - • l• • ,.. •
tl!l trabalho anterior { ~). E.<.~c5n)("f\"êrnentos roe-..recemt~ ,~tenção ae.ntes. ;\s c-s~o!has tnten:neo1ár,-1.~,
como a pcnnan~cr.a oo a
porq,ic pl'omn;-cran ,_:m:,e$ten.;a :1gi1.a;:ilo, dal.,0111,.--,U!l
a prindra miurac;.ío~u rire.?.5rcla6·am,:utc éS1sgo"'<las.
ofereciam melhores
sisren,áli,;o do 11L'iuda d::mocracin
t<:ntat:va ele desm11...-:~r;ime11to 1 ~t«'I t~~5 · à c1uta do sacrilicio· de qu,a.lquer((:<leal
~11e'Cintes
I de libetd.,,Lle"( 1una cx;,rc,síio
cOtllp:e.-<8. <>,1cesso
q-r,e dcsig11a1.-11
racial brasileira e cci.t1.s.trdr.Hnuma çoni.ra-:dL-c)k,i!!.a rx!91. C(}C-
renie co.:nos fund,c:n,;moskgais da urdem dcmoc.-r~àcobutg::ct:t. z. tudo ,:ue o n~gro rifo p<.1clia
tcr e 2U qui:: ele niío poc\ia kgiti-
mim:cnk aspirar 11i1cond.içâo de esc~:vo ou d~ lib:rto). En"-
suma, a A.bu!kão e as ieodêncfa; de desenvol.-imcnto do sistemíl
( 7) O. 1110\"imia.tnsJõ()(.is:i. no meio nc~m fur:1m 1:nb:naidn:-2 uo de ttabalhu lh•rc e~"OJ.far,uno cle:'71Cll0 negro cm uma crise
dludo de CIS{) o-pt!C:3.1.
cbb.,r.,dv poc J~10 Jru:di.mMot..;:n, C)C1 ~ irrenãHávcl ée supcrnção tn~to difícil.
wl~•~'io_ de ,]OW. Co:-r~ l.êr<',.tHn ~~ ira.$ ~~mincnrcs _!'rlcrcsco
J:)c'tlodo de ta:s lr'-"i":rocc:~~ é :C:1J~ per F. ~-~de;,,
~;1r.sb::o. A .i.n:i.E.cç ,\ imensa maioria da p<>;m!açãoneg-ra oo mdata brasildra
,:;: SW1rftJit t~ Cl~;es, oy. d:., ap. -t.
A foltlf'lf!ÍÍO do .._."-g:o ~ essa trágica $Ít1.1.1ção.
se adaptou í"'Ssiv~1n.?1rn, Todavfo. os
2(,6
negros e os mularos que se concentraram nas cidades grandes se apresentava na mtlidadc. Por isso, os uioviincncc,s socinls do
tinham de romper, de uma forma 011 de mura, com os padrões "mei<>negro" guardam ccrn1plet~autonomia de condicionamentos
tradicionalistas de acomodaçi!o p,tssiva. Muitos deles conseguiram cradiciorui.is, que poderiam reduzir o seu ímpeto ou a soa ideoti-
cert:1 instrução e, o que é dever-as :mportante, tornaram-se letra- ficnçlio e,ccbslva coro a "causa do negro·•; e, "º oc-sroo t~.ropo,
dos de um tipo especial, çue F..âo haviam sido sociali,.ados ( ou superam os ismos atuantes rm socie(fode inclusiva, embora cxmús-
en_~o real haviam sido co:tlormedos) por meio da educação se:m de alguns de!cs SU8 for.e orieoração libertácia, igualicárfo
of,?al. Doutro l<><lo,a comu:ucaçíío enue indivíduos e grupos e fundarcentalmente populista. Seu alvo espccífim consistia na
fazn com que es.--as me.-itcs esclarecidas se vissem expostas às redução progressiva e r:o d~aparecimento ftn,J, ambos suposcos
ideologias revolucionárias, que eclodiam abertamente, pda pri- a c"1"to prv.o, da distància econômka, sócio-cultural e ;,olíticn
meira vez, no ceoátio urbano-industrial Isso facilitou a transição cxisrcnte entre o "bra1xo" e o "negro". i.'\ão se valtavan1 conrra
da "indiferença" ao "radicalismo" na perccpç.'ío da questão racial: :1 ordem existente em b!o...-o( pois cst:1 i::.ãoera questio:1ada roll!<.>
comtíuúram-se pequenos grupos, empenhados em descobrir "o e enquanto tal), 1ruiscontra o modo pclo qWJI o ordem ex.isreme
porquê da sitoaçio do negro" e dispostos a acabar com o sai retinha e agr2vava a desigualdade racial, com suas terríveis con-
"emparedamenro". Tal evolução desenhou-se entre o fim da pri- seqüências. Nesse sentido, eram movimentos raciais despojados
meira Guerra .\fondiru. e a c:tÍ$e de 1929 e parece ter sido ;,m de conteúdos ou pretensões rac:sms. Q-.ieriam II mesma cois,1
com intensidade variávcl, cm
processo freqüente, pois a,......_,:-ece, que os liberais-radicais ou progressistas brancos, com a diferença
várills cidades brasileir-o.s. Em São Paulo da foi particularmente qce estes eram indiferentes à nccessicfode de mobilização do negro
intensa, presu1niveln:ente porque a extrema concentração de imi- para atingir tal objetivo e 20s ritmos hiscóricos de s:,a co.--icreti-
gnmes, o rápido e desordenado desenvokimento urbano-industrial 2ação. Queriam-na, portanto, com 1.-,gência e ce maneira ,oral,
e a ampla mobilidade social ascendcme estabeleceram, nes~ ci- o que os compelia a tttolocat o proble!lhl da liberdade e da igual-
dade, um quadro de refe.rêocia c.hocame })'Jra quem qui~esse fazer dade em cenncs raciais.
comparações objetivas. Posta, em regra, abaLxo dos últimos de- Essa ótica não era, como mu:tos obser"adores d~ esquerda
graus da economia e da sociedade, a "população negra" via-se 3inda boje supõem, int.-inscC1meme oportunista e capiru.lac:ooista.
excluída do que parecia ser a prosperidade geral, sentindo-se Ela continha ( e ainda conteria, se se reproduzisse historicamctite)
irremediavelmente rondenada ao desemprego, ao pauperismo, à um :-eal avanço revolucionário. Para se admitir tal conclu~o é
c!.esorganiza.çãosocial, à vergonha coletiva e à impotência. Ela preciso que se atente para a natureza e ~ varied2Cle c!e ba=reit2S,
part:cipava do clima, tumultuoso de ilusões, que imperava na ci- que o negro e o mulato venceram para chegar até aL Na épo~,
dade, e das inquie!açõcs revoludoruú-ias da plebe urbana, na épo..ra os brincos mais e:;çl~~idos e,tplicavam " supcr,to. 6el<:çiiodemo-
mu~m forres em São Pa:1!0, m:as sem grandes esperanças, indi- gráfica negativa elo negro através de sua incapacidade p<1ra se
viduais ou coleri,·as. Os letrados e sem:letrados radicais do "meio ajustar ao plan,,lto e às condições de vida impostas por u t;ta
negro" captat<trn ess,e esudo de frustração, convertendo o desa- sociedade urbano-industrial. Doutro lado, os brancos ei,;.iroiaro-se
j,:rnunenro sisterrultico e uma ioqu.ietação amorfa no substrato de qualquer responsabilidac!e pela situação (!çsumaoo existenre
do proteNo negro, erravés do qual lançam e difundem o apelo à no "meio negro", fazendo largo uso, consciente e in.<:onsciente,
Scgm1dallbwifirJ. de um rico estoquede cstc:rcóáposnqiarivos,pelos quais pen,
Os vários jo=.ús e m"nifostações, que tt:tdll2irarn as tomadas savam explicar suas taxas an.oroais de mis.ért:1, de deseo:p:egq,
de pos'ções desses imc!ecn,ais negros e mulatos, atestam qt?e eles, de mííes solteiras, de menores abandonados, de alooo5smo, de
de futo, preteuéiam organizar e levar a ca!-.o n= autêntica te· prostiruiçno, de ruf.ianisoco, wiga.bundagcme ccimiruúidace etc.
beliro dentro da ordem. Eles se Ís<.Jlaramno "meio negro" por Por se sobrepor a unl8 pl'essâo psfool6giaJ. cnerna. tio cer[1lda,
motivos pnitkas: não só n:io tinham acesso aos mcios de comu- libertando-se ao me.$:110 ten:po dos cfoicos inibidores da est:i@lllll·
nicação comrofaclos pelo, b(n:-icos; os divttS(,s rnovime11cos polí- tização e do monopólio da liderança intelectcal o:; polílica dos
tic<l.,, de ceutro ou de esquerda, qcc se opunham à República brattas, aquela ótica possuía wn calibre n:volucionário int.,foseoo.
Velha, não da•:sm acolbic!:: à qixstõo racial, ignorando como cb Pois trazia consigo uma d:,p'.,i liber.-:ção: diante ,la ideologia racial

268 269
Jomin:mte e Jfante. da tulcia do branm. E definia uma tbic:a O dcsmasc:1ranten,o da sitU(IÇ:iontc:al icz-sc em diforcntcs
proposição políuc,: ~ conqcis"' ( e ono s conces.slio)dn libercade planos. Apes,ir da insuf.iciêocfo Je r«u,-sos imdcctuai.s, os 1,.
e da igl1al6de pclo pr6pdo i:egro, per rneio de sua auto-afo:ma,.io deres dos 01ovi01.e11cos soei.a.is buscaram explicações que iam do
individua! e coleti\lana sociedade:is.cioual..Analistldasoc'olo1tiC1- pus;~o ao presente e que ap,lnbavan, neste, o econô,n:co, o
menle, aquela ótic.t vcéeria ser 'ng~1ua ( e é surpree::<leotememe social, o psicológico e o polfüco {e!lum=içõcs que surgem, com
?Ouco rc,-olucionária, em termo; él>')Jecificxneme :,1ó1:;, o;uru1do ma:oc o:, menor latiruc!e em diversos documentos). Em conse-
à 1ebe:i,iouegra oos Enados
comparada a o:mas óticas, i::ete111e,, qi:;ê,1cfo,a focaUzação crflíca da realidade ( omitindo-se ouu·os
Unidos da época e ao mo,•imemo da neg:tit·.:de). ~âs, examinaca a.sps--.:rosi:l.asituação do negro o.: do sistcn,;i de rel..tçõesraciais
dentro do é-011tcxw hist6:ico, él.ecu esp-,cifican1ct1tc re;,óluc:o- qu,, não ;ão rele\·aotes aqui) abre-se- cm !eque: a -.,;são negra
,.. , •. ,,-.tu; on:e1P. o=
~2r!a e 11:tt,;tar.,at! r~vmuço~ rucr:,.•.,
'b. .:lY!J p,tr(i'
da história brasileir~; a natureza do mundo esci-a,,ista e as defor-
â,,u1. mações que ele im;,la.n:ou :10 negro. no bram:o, 110 mulato e ca
Essa ót!ca permitia focalizar. s.imul.wnerm1c:nte,ranto cs pr6;,r'4l sociedade br.lsi!eín1; o preco11eeitode cor, em suas três
proWfmas sociais ( que o negro oomp!;rtilh;rva com outros $CtOrt:s po:adzoções { como precoixeito propzi~,,enre dito, discriminação
pobres ou marginclizsêos da pcp!llação i.>ra<ilcira},quanto o dile- com base oa cor e segregação social i, e como instrumento de
ma racial hrasileiro ( decorte:1te da cren~ de que existe um~ do:ninaçiio racial e de sup:er:rncia da raça brar.ca; o; mecaoisnos
democtacia r.icbl no Brasil, ,1 qual esC1moteia a desiguakbde ra- de ••~tentação dos privilégios e de monopolizeção do poder pelos
cial da arena polí.ic:a e cria uma sirna~o única, que só .161@~- bro.ncosou, inversamente, de ms.rgi,-ialização, e~dcsão ou subalter-
o negro) ( ª }. Ka ve.n:lade. a massa que acolh:.i aqucles t:JOVÍ· ni2açiiodo negro; o "ron:p!cxo" como forrr-'1çiiopsiccdinâml<.-ae
mentes ( éecconstraodo a fertilidac~ do "meio negro" par3 os sociodinâm:ca reaóv:a, por meio da qual o branco in,.-,,de a per-
mesmos) exa roais sensível /, primeira couribuição que à sq;u:,d:,. so::t2lidade proft:nda êo negro e debilita o seu egufübcio psíquico,
No rnomeoto, indivíduos e famíl:as e..,1 cr:;e esravern em busca a seu C;J..ní:er: e a sua \.--ontad.e.No css:::.ncial,
o desm'llScarame::ito
de orientação e de assistéocfa. No eotanlo, a seguncb mA--:ênàil conduz a ur.1 :cetraco alternativo da situaçâo :-ac:al brasileira,
era bsubStitoível e tbha co:iseqüências mais prol:un~s- Pela segundo o q::al a personi.idade den:ocr2tica e o tomportame:nco
pr.meira vez o negro não só enfrem:a.-ao bra.'lco: passava a d:s- de:no,.·-:ráticorepreseornm a exceção { e nro • regra); a tolerância
~tir aber;ame.oteo preconçeitóde cor, C:\rptess:io sincrética com é superficial e asL-cciosa( como norma); o preconceito de cor se
que desigcavam ( e ainda designam: o padrão vige:ite de refações conjuga com a exploração do negro pelo bl1lnco ( econômica, sexual
e socialnemc); e a o,:-dern soeia! legítima ;ó 1em vigência par:1
~-
raciais
. assimétrica;,
. . co_ro.uas
. conéiwes e efeitos preconceituoso; ,
01s.:nmmat:",'QS e segregam-os. Aqueles mov:mentes declôn3rant os :irancos, funcionazdo para os oegros e os rnukros como uma
ée vigor e foram S11pricico,.como se desapa:-ecei;semde UJll 11-.0- versão atenul!da da autocracia senhorial. Em dois oontos fonce-
:ncmo p:ira outro. A sua ü:fh:ênôe para o z"1t'g!lmemo do ho.ê- menceis{ embora menores"t- taobém são focalizados·
1
oiticaroente;
zonte cultural do negro subsis-e e con;tinú, aÍ/lda hoje, o único o ºbrangu~Amen.to:i(rocitit OY rccial, qua::do en\~olve miscege-
ponto de rderêocüi coletivo, a ser oposto a outra ~rte~a, reitera- naç5oj, ,,isto como um processo pelo qual o "negro transfoga"
damente afir.nada e coofirroada pelo b:,ioco, de c;ue "o negro comercializa eccoômic-a, soc:al e política.mente sua subse,:-.,:ência
:1iio tem problellJas" de nnturez,1racial e c!e que, no Bras:l, não do pre::ooceito c:c
e tr,,csferência de lealdade; a c;_utst1io cor eo,~
há nem preconceito ::iem dim:faüna.çiio ::1ci;iis. os imigraates e seus êcsccndenre~, percebida com oscilações ( pois
alg-.:ns acham que já traziam o precooceitoem sua herança cultural,
enqt:ai!o a mnior'..a a5rrna que o abson-cram ·,e.71 contato com
(S) A ;,cb:-tza nít> é p~l».r ao ne;;1~ t a.o r:::uhto+~ cntros familias wulic:onais b1'11si:eiras),mas posta na bsse do processo
~tore;: th popllaç:ior,ob::cb.::9s:lcint !Ião :::nút::uarn as ~~.u d:lk-;.1lcb6:s
&0$ ;:roo:1.osd~ cb,~iflQ!(;f:o e de :nojili~:ldc ioc::nlv.:r1ic,1J, J)O!~n.o pdo qual o esn,meeiro ..., ,amb6n •orncurou e'S11Iorsr o nC!!ro
... e
ld?: d: c.r:~r.:ar h=reirns u..::it:S'"<"kdas a~ a ~-~tk9$ tmciu:.:.o.ativc.s 1
t-.:nrou.-a.cwjzar-.sesocialm~r.tc.
d.e:x>t:e-r.~:,.C'=. f. F.:T,ardcs,73cycnd Powrty: The Xegro mld :he 1v1.u-
l.at-~ú: B:tr.lll,Jo.ar.-:.Z
C.ei...:Sm::itl de; ilwé•ric!!!,';!;es.Ptci-s,To:.neLV!Il, Ap~•• d,1airplimdc e cn1·d11tiva1-.:ofundi<l,1êe do desroa;.-
1%9. µ_:,. 121-1}7. carunenro, a n,xiío de li.llcrdade J1ãofoi manej:1daatf o pomo em

27() 271
que o nei;to de.feode~se su.i auionc,nia cic ser u:u br~ileir:, difo- caus3 de ,irias fatores intOJ11rolávei~{c-omo?, úill.uêncilldo
renre c!os out.tos (port,«lor de sua visão elo mundo e & sua "coo1pk,c0" Ili! confo.s.~perce;içiioda rcalidack: mci3l; as ~nsc-
cultuta) e a noção de ig=aldadc ficou wnt:da deotto d°" limites qüência.s cnfraqueceélorusdo apego ela 1r.1.ss:i nel1,-.1
ao tradic,ona-
de iclcritliic-açao
co1n " ordem social csfabekci<la ( o q::e implic.t lismo· :1 deb;li<lnde cmnômic,1,social e polít:l'll do "meio 11egro";
uma ccn"icção e:eroentar: que ela pode corrigir a des.lgu:ilckdc a n~sidade de conr:ll"de w1temãocom uma solidariedade racial
racial ou pclo menos e.liminar su:1s arcsms Hma.i.sinjustas~',prc>-
a ser forjada no processo de lu1.;1.;3 falm de dcstre'ta e o medo
\=evelrnenteherdadas êo período esc1'a-\•js1~l;. Ue1a inte!":')tetRglo do "negro" em. enfrenrnr abertame0te_o "branco" cm ~SS\lotos
sociológic:i sup,.1.ficíal pennitíria arribuir e.Sá contenção à i11fl~n- prot"biêosetc.). 1'ooavia, rada disso ate.a\'!! o que nos mteressa
cia de eleme:.ilús cr.<:noa, coJoo os anseios de das,Jncaçio socfol aqui: o p:idrôo de dem1a.sca.rum~to racial ine.--eme. àqueles movi-
cu o car,íteramhfguo da ..'d..ts.seméei.a Jc cor)?co p1cnagestação mento;, êo in!<:ioaté Sll3 estcrifu._:ão e de;nJ),1rccimcmo. ~ssa.s
( ou 5ej::.lJ
e1n outras pa1a\r-ras., □ais cu menos ;n:roos-
a <'Oncessões nzões, quando muiro, explicam o 11:od? ée J-.Õr cm prá'..iCll o
cicntcs}, 'l'oda\1 ia, e:nborn seEd.:lante condicic,,"lamento pussa s-:.:;
evocado ( est,ecif1lmen1e,lOnfrd p,:s.<od dos ajustamentos rnci,Ü3;,
ª.
referido pooríio de desmsS01rnmcni0 racial. m~ sus natu~eza,
o,; seus contt-údos e a forma .-:gund<, a qual obieuvnva as ch'ver-
de não pare::e sei responsável pelo efeito npon:ado. '.Pelo fato gêndas estnmJtJIÍ~. Para .chegat-se ~ c:st":' ,'lSJ>C<'t?s, é pr~o
éc se opC\1em à ideologia e à t:to;,i2 1·::~da-is dominantestor~t-se- coasiderar como a íc!colc,gra e a m:op1a moais doimo,tn ;:es soc1a•
•iamo nc~.roe o mulato i:nutx:..~ is sua.e;i.:-,Auênci~s
mais p.r:úiun- lizam ~ visão do mundo e d,i re~lid<,dc das etnia5 e• c,,,csorias
• ,~ • ,; • !--'
das ( e, porveJl.ttlra,m,is Íiisidiosas)? Nõodevemos nos esquecer -raciaisdominadas ( que nem semp:e con~ttucm mu:onas etn1cas
que a rebeli:ío .tadal mal eclodia e que o éian tcvolucionúio e "minorias rnci-aisn. cspedalmenre em escala local e ,:nc5:tno
não exigia o repúdio total da ordem exi~ente. O borhon:e <:1·(. regional). O fulcro da questão está num efeito espedf.co: a id<;o-
tico foi tntballutdo ,;,c!o dã de liberdade e de iguald;,de raciais. logi,, e utopia raciais dominante;; j.'npii~ a todas_ as catcgonas
Mas,e!e o fol também pelo ideal pur-.itocntcburguês de l:"berdsde éuicas raciais oo nacionais submetida.e; a .,'t:prem:Jt.,"'$i.
!,rç;zca~sem
e de ígu..:dack,e, num cerro .sei:rido, ao se to,n.it· o pal2.liao dC5se =ct.-c;ã~, uma fotte pn:ssã? _assimí~oo.,·~, que ,ião d~a a)tc"'=a-
iL~al, o rdxldc neiiro e mulato como que se RlJr-remhr,tnqt<c· tiv"" etn problemas c:ssce?Ctats,Je s,gmf1c,ado ou com 1rophcaçues
co-n. Não pxe1eode1:1(,s s-.:gerit gue o protesto neg;-ofosse uma políticas. Essa pressão é intransigente e monolít'ca, embora qua-
simples n."àção de tipo corupeti;a1.ório. Porém dcix,ar pste.-Jre se scttiPte se juStlfiq112cm nome tla ''integração r1aciooa1., ou da
cercas c<lncx-õc.s1,roftm.da;,que esclarecem os fatos. A ruu.tu-eza ••c1..,,~r.1da r-acfal"e da "deme>cracia ct1!tural". Ela úz !):!ftc da
do d~sn1asl-atrunento foi ,unplatncmcafetada pela sinie.ção do (X)Jnplcraheraoçs do rnt:ll® roloni,1\ ( pois nasceu e foi apcrfci-
negro que, n20 podia s,1lh1:de c!cnn:ode s:i;,ropiio e convetter-,;e, çoad.t no trato com o índio, com os escravc':nêgr~s 7 com !llS
c-m.111" Mi100, 11~ .uegaçãode si mcsr,10 .. Assim, ss limita;;i>csda ra~íço, cm condições nas qU11isel~ coru;ótulllmm,uor>AS h<!stis,
t·espostado negro à p.rcepçõo c.ríriC>I e ao repúdio d2 realidade firmnnd,;_sccomo Wll "pcrig1, público" p~l"!la ordem escr!lvLga)
procedem de!;;próprio, •= no CflSú ele surge como um medi,1dor: e foi aperfeiçoada posrctiormente, 110c imptis.i_õei dos nm-qs
oo íntimo, echa-se a St1't scdalizaçâo por essa ~ociedade ruulti- comir,gcntcs n~cionaís, mmdos com a ímigruçoo, e <los váric_s
•J'ar.i,tl"democcitica", cm que ele vive, e o q\ltllllO de incorporou cleslooimcnros internos de populações mestiç.1s( •). O, ,novt•
da ideologiaracialoficial. ruenros sociais do "meio negro" :acolheram po.ith•smente ~s:i
Ilavcrla crutro prisma p-.tra chegar-se a esse resulhtdo inter• p,esslio étnica, forjando divergências que negav,;m a orl!ero ~1al
prctativu: as expectativas de ín-~ompreensão, de Ílltolctuncia e de ~.s:~te, mas para afirmar ~ai<)r im~.g,.'flÇ<io rocial, e«>oom:cz,
repr,e.;são - r,u:ro llll!is Ío=ks e c011scientcs quan.to msis os .líJeres culnn:al, sncial e política r,o tuturo. No fundo, o que se atacnu
,:adia1is negros " lll:llatos co11.1c:ciampor e,q,eriência amarga o
rerreno em que písavam - i::rroduzia,n r.aw~ol moder,;ção na
eictecio.rizaçoo de sws ori~:.tações crflicas e de sw dis;,o:si<;io
de: acd::ir o ronfli.o .c1c'~!sem agravá-lo cem provocações inúteis.
F.ssa moderaçi!o, clout=o lnd<,, rc,ndia a cre;,er for.ilrcente, por

272 18 2i3
e xepudiou foi o modo uni\.\teral com que :1 pressão =íntiladora desdobt<1men:o político. M<is. is,c nã..i ocorttu. :Vl.ilgr,1dosua
define os ideais a scrc-m atingidos, o qual tem redun<llido em
c,,;<k:,'1te .imponência para a i oreg:ração racial cm esc;ila nacíor.al
monopólio &I jguald2de, da liberdade e do poder pelos brar,cos
- uma nacão rr.nlci-racial não pode con.;iclerar-se :niesrada sol,
dos ei,;:ratosdoruinanrns..:-.Iãoé difícil perceber-se
qUé 6 nel\l'O o padrão de concentração racinl <la .cndn, do prestígio social e
e o maiato não tinh~rn ( como ai.ncfa niío têtn) condições p:u-a
do poder vigcnte no füasil - esse eam:1lho de de,integ~ação
desencadmr outro tipo de negação e de oposição. Além disso,
revolucionária das estruturas raciais existentes " de formação àe
parece (ibvio quc, seguindo essa linllll, o desmascarruncnto racial
novas estruturas raciais pelo menos oom;_,aiíveis com ,l univcrsa-
e o p1·oteslo vegro acumulavam v:ítias vantagens psicológicas e liZDçãoda deiigualr.!ade cspecificarl!cnu, cap.italista, não vingo::,.
políticas, desarmando ,i rc,iç('(o conservadora e tornando pclo
menos mais inteligível o que entell<Üam corno Segunda Alroliçãa Interessa-nos dcsc,-e,,•erpelo me.no, dois nspec:os dn situação
( co:no que esta representaria, se levmfa a cabo, _l)lltao desenvol- oue se criou, pois eles. ensiuam como uma u'.raca dom!naote",
vimento de -.crcla<lciras estruturas nacionais de poder). Kão obs- ,tlánele infiltrar sua i<leología e Sllll u1opia .tllciais no pensa•
tante, o fato de quererem isso ( e de se empen.barem por isso}, menco re\·olucioruírio dos antagonistas, énvenenando-0 nu esterili-
punl,a aquelas movimentos no mesmo barco em que escavam os zando-o. pode tatnbén.1 inibir ou comer, 11-0romros meios, as
setorei:dominant~!<la"tnça branc:, ••, deix.'lndo-0s ine,mravelmen:cc proporções,a propag:1ç.ãoe :i ciieiícfados n10~mc::nirude .rebeldia.
à mercê das de1~minações ímuhimeotais da ideologia e da utopia No cnso, esre desdob.tllmcnto au!odcfe_,.,si.,.,,era de fácil cons ...~
raciais desse; setores. l'ara atacar a desigualdade mdal. com a m,tÇão, na medida que os movin.1em.osde prot<1slanegro nasceram
ordem rndal que a engendrava ( oculta e mistific:adapor detrás da e se m~fltiveram segregados oo "meio Jltgro", sem qualquer su-
ordem existtnt<e), e assim deS11lascru:a;o branco e sua dominação porte nos demal, eHnHOs da popula~o. Doutto lado, embor:1 nii?
racial autocrática, foi consagrado um camioho que não climi- e.>dsta, pnrn a estrutura econômica dn socied:ide de classes brasr-
n2va por eompleto o controle ideológico e múpico detido pela leir-J, gu11lquer imetesse cm evoluir para o ~drão sistcm,friro de
• raça dominante.. Portanto, o ne2ro e u multto tinhrun de pro- p.rcronceito e de discrimin8ção r.><:iois( como o que existe nos
jetar sua pc:rcepçiio crítica, e inchisive SU2 vont.1dcrevolucio:::uíria, .E.'tad0$ Unidos 0\1 .na Afrie;1 úo Sul), o tipo elecapital.ismo dc-
como se fossem supcd,raocos, e tinham de afirmar, oo processo pendcn te e suhdesenvolvido imperante não roJ~ prescindir da
de rcl.,d.ião,o que c,;t;tçamnegando. concentraç,ío meia! éa ternb e do poder ( e, t'Ul conseqüência,
É claro que scmelhalltc &itua("!o traduz a precária situação das fon~,s J:n-éou subcapitafüt:is dee,q,lora.çíio e ele expropriaçãn
polítict de wu;,os rebeldes dcstituicos de poder e de meios pnra cconôinie.,, e de d0tn.inaçâo polítim qt1c ela em·ulvc). Por isso,
cof\au:stá-!o de modo m.'lis ou meJtos rápido. O ponto de pa:rv.oo apC$at do apregoado ,pego à dmmcr,;ciu rad,;!, os Ciiffa:os "cscfa.
mod~·ruc!o, no entanto, taU1hém 2eab<t tt11do o seu preço: essa reciclo~" tios dflsse• nlt~ ou médios, qnc detinham o controle d<)3
estralqf..a depende muito, parn coroar-seeficaz, do v.-:1uck an11ên- meios de cornut1Í<."a<;aoe com freqüência se 11.'<lstravnmacess-fveisàs
cia ou de consentimento potencial que os donos do poder poss.-'1ru diferentes modalid:.tdes de nacionalismo refonnísta, evitaram asso-
ilimerrtru: diante oos causas dos rd,cloo. Em outras palavr;1s, ciar-se ao protesto t1e/l,ro.A sua t-oni.,-,i.ic!colog:ade Jesma=ra-
resta saber como fl dh"<-Tgênciacolcti\"a é n:-cchlJa por setores mento racial e a sns contra-utopi:t ck uu::a SeJ!.utl(fa11boli(iío
que detêm, ao mesmo tempo. o contrcle ideológko e utó:,ico emravam e1I1 conflito real com os "ideais ckmocráricos" de tais
tht sinnção e seu contxolc instiluci<msl e polfüco-est.ital. Se ele., classes, que vêem tlll persistêndn de {l2dróc:; arcaicos de relações
se mos:tnun abcrcosà arciração tolerante d.t di,..,r,!\ênda e i, i111ro- r-.1dafaum cômodo succd.áneo rJopreconceito e da discri~1inação
dução de mudanças para suped-!as, a rebdião ati.!lge sru alvo e raciais sistemáticos. Por 0011seguinre. não havia COino constituir-
se in:cfa um processo mais amolo ,le reforma social ( com &e- ·Sc uma "opini1fo pública" favorável aos movimentos de protert~
qüê.ucb sob conrrole conservador}. Ko c;,so gne descrevemos negro fora e aciJna dos pequenos setores mais ou menos radi-
tal rc,st1\tado só seria viável se as mesmas manifestações se repe- calizáveis da p1:óprla "popul.u;ão de cor".
ris~m em outrns cidades brasilci:as corn a mt!Srua inkn.~idade O primeiro <?.5pectordationa-,c com o n1odo pelo qual os
e se ,-.íríos estr,uos c:llisidentes t!a !)Opuhção hrn11ca:tdetl;sem 2iferentcs es.l!ato5 do ºmeio bra,a>" re.tgiram aos movimentos
à contra-utopia oo s~gunda Abo!ifi:o. Esta poderia merecer tal de p;ot,,sto negro ou il e.;clências prárlc:.:s de sua contra-ideologia
274
275
e contr~-utopia. Na-se muito, ~o discutir-se a sitt.'<lçãodos po,·os o conflito, cm fins volr,,dos pa:a a dc!csa, o c~ntrole cu a tram-
subdesenvolvi<!os, na "ap<1tia" das massas. No entanto, até onde fcwmt\Çâoda ordem socfa! existente. constituem prer..-rogati-.:as po-
essa apatia é om produto <!e exclosões, de controles e de opres- líticns cios brancos; e que, qoondo se torM:n instituciona!m~cte
sões famemente estabelecidos, insli:ttcionalmente ou não, e utili- acc:ssfvcis à "massa", b~nca 011 negr8. só afetam matérias de
zadas com nicionali<lade pelo poder "utocráticu? Isso parece rotina. As c'.emais condições manti~s iguais, a mudança imposts\
oot6rio no Cl!SO em apre,-o. Vá.:ios lídc:rcs dos movimentos sociais de baixo para cima l: invhlvel. Como não se põe a :ilternativa
tenratrun angariar ô apoio d,t impte:iS.ae d.a rádio; muitos tam- da mudw;a vir espontaneamente corco ucrn lnki:1tiva.d.e:cim,a
bém fuenl.Li Sc:tiose~fo=ços para tirar sua causa do isolamento para baixo, temos: l.") que ,is estrunras de poder 520 cegas aos
político e do confinamcm<> ao "a:cio negro". Todavia, não obt.i- "problem3sdas lllSls.sn~u~ 2.0 ) que tais C!>l:-utnrasoperam de m()do
vern.rnsimpztia e apoio: 211t~.s; obtinham-:ios e os pei:diamJassjm re.pressi'7o ( inclusive por mcios discretos) quando as massas
que revdav-am sc.."US propósitos autônomos e seus desígnios libe.r- questionam os "dilemas soci~is" ( o que parete. criar ameaças in-
tátiús e ÍbTUalitários.Ka :i~rência, o "meio btsnco,. reagiu con1 control.íveis ao c:miter s,,crossanto e à c-stabilid~de <lo st,:!!IY
~távd indifcr<.:nç,1, como se se i1'3r~sse <le un1a sgita~o estéril quo). Isso transpareC'emais claramente nos 1:1ovimento;; Je pm-
lfü inútil. Ao intcrpret.ar-::eesse padriio<le reação societária, em :csto rada! que em outras numifestnçõcs dn populisno, porque
bloco, percebe-se qUlll era a Sll!l ft:nçiõo: impedir que os setores fie-a evidente que o negro foi tolhido ns medida cm que r.âu te,,~
<!csciru/dos de poder encontl'Jssem ressoooncia, lo.mando-se aptos liberdade para ura; Q conflito rGCit'.1 e,11 fins cvletisc;s próprio:!.
2 fazer pressões políticos ele baixo para cima. Alélll disso, em C'..omo o branco possui a liberdade oposta, de usar o conflito
ol~uns nfn~i.c dt1c dti-s.~ médias e alrn51 como tatttbém ern olgua:; 1-aüal yai..i i-,rex.rvai: ~ ,o("Cem cxi~t.cnb: - anbcra i~~ pcr-
círculos imelectuais e políticos Jessas classes, os movimentos fi- manoca dissimulado, pois o c:onflito é ern?tcgada sob a forma <lc
carsm msis conl,ecidos, qt1a~e sempre coroo efeito de rnsos coo- violência: organizada insritucionalrnente~ar;r-avésdessa mesma
eretos ( empregadils que pllss;ivam a discutir cotn as p-dtroas; ordem - ele pocJeequaàoni!r~ estiRn,atizare rcprinir o ªpe.ti~o
avaliações de .uitudes, disposiçõe, Je comportamento ou co:n- do rndsrno negro'\ sem que o Ae~o po~::;z,lcgit:it.:.1amente> des-
?Jrtame--itos de negros e de molaros, envolvidos nos movimentos, mgscarar o miro da "dernocrná11 racial" e p=opor, em seo h1r,;a:,
como rnanifest~tçóesostensivas e intole.r-J.veisde "atrcvllnento" dn.< cstruttuas raci.1:s da ;odedndc
Utll;Iautêntica <lemoc1·stí7.açã,;,
e ele "ódio racial"; discussão etnocêotrica dos objetivos liber- brasilei01. O que res1tlrn,dai, nlío é ,1penas a impot::i:cia polJ:ica"
'.ários e igualitários dos movit::!emos r-.ldais). Colocada à prova, do negro e do muh110. :e íl neuu:11
l;-,~o do "meio negro" como
essa diLe bntnca filtroduzfo o cumpottan:ento autocráúco cm sua coletividade ou c-Jtegcrianicial psra qualquer proccs;o dotado
reaçª<>, '-!l!C' passa<:·aa ser host:! 1 n'Oiminando a ((intolerância de real eficácia política. No fundo, o 'iue s.: passou pode ser
du neg.-u" e rt-;,udümdo o seu "rnri!.rno"! de-sento, socioJogicamcnt::1
wco uma cou.te,rçãoeJe:iv-; dtJ :a.Jf.
O S<-gu:t..-loaspecto diz =<-~-pdtoa processos latentes de auto- ,:o/im,o negro pda ordem soci41 inctusitla ( embora de ficasse nos
dc~esa da ord"m racial que se e&:ondc:m por trás da o=dc-m csta- limite.< do "legítimo" e cefeíld~.sse n conrin11id~de des;n 1J1es,ro
bdcdd:t { e.~, ?LJtt2nto, ~ 21.1roc:bf<Sa do ?:id.rio 2ss.imét=Ít.:o de ordem social). Prlndo de: <o.n..:Üçõe$par-~ ab~o1ver as esu1,,tl\Tta'i
relação racial, da dcsigualchde racial e da mor:opolização racial de poder que seriam necessári~ pam que elo::pudc$:ie equaci,;,oa1·
do poder pelo branc..'O). Aparcntcmcntc► o u:mcio negro" Dao <.-on- e resolver (ou conUibuiri..xuaequac:on,ue 1ewlver) ,e,~~ prv-
tinha pm:encfalidades para imp:-imir m3ior ímpeto, continuid:idc <: bfemas sociais e o dilema ra<:i:tl brasileiro, o "=io u~gm" l'OmO
eficicia aos seus movimentos de pmtesto. 'Todavia, foi ~tJ?cnte- um toe.lo estava condenado :1 não poder tomar-se ag,;;i:rc de se«
i.i~ que ocorreu ns. renl:dsàe? Se se e:x-am.1na.m hem as coisas, destino, em todos os nfrds da história.
vcrifics.-se que a impotência do "meio n...-gro'-',t--m parte produto
de ~n-:1situação cccmômic..."3,
sócio<1.1l:urale política, tambC:mresul-
tava ele modo clirc10 ela estnm,1:,i racial da sociedade brasilein1, A Dcmacrccia Racid seg:;nJo a "lt-:ç_~Ôp;i:n:da ··
que concentra,º. poécr polí~co n~ tope (~ms seto~ domi~tes
elas cl2sses méd,as e altas, ,sto e, nas maos dcls elites da raça Seri~1ingênuo penst1r-seq1.1eo cfüem1lsocbl. em ~: e pcw si
dominante"). E.s;a concentração p,;essupõe que a competição e mesmot pos~ converter-se em foco de. rrc:-e5sosrevoh.:don.trio~

276 277
de rrar:sfonnzção da ordem. Contudo, sua análise é sociologica-
Essa dinâmica fortalece o poder ée controle ideológico e u1ópico
• ~ente un;,orm:itc, porqtre desvendacomo as ideologias e as uto- da socitxhde pelas classes domiir..ntes, e corrompe pela_ba.sc qual-
pias podem ser ndap1adass privilégios e a interesses de classes quer espécie de "ide.tlismu deJ:llO';rát:co" que el~ s<: ~!quem,
e categoriassoci~is,e1:1. cn:atégicas de poder, e como,
_po;jçQ($ cm 1ermos oonscrvadores, reforrn1s1asou r<:Volnoonarios.
de outro bêo._ ele estimula o aparecimento de coorr-a-ideologi:,s, As coisas se apresentam, na situação br,1si1eira, de modo mais
de rontra-utop,as e de contr.1-clites. ::-Jaçerdade, o avanço radial complic-.ido. Como a "revoluçíío nacional" aiod~ não conduziu ii
de ideologias e utopias iotais - difundidas por classes domi• completa descolonização. há margem p~r:t que gru;,os, setores de
:iantcs e ma;s ou me.ru,,. romp:,rtilhedas pelas demáis classes de classes ou categorias r:.?Ciais fixem tl3. "integr-açãonncicnal"a via
uma m=5ma50C:iedadeancio:1nl- ocorceem períodos de ~•ande pela qual se poderia oor.sumar pelo ~oos a dimirulção ~e for1IIas
cmulaçao ooleuva. nos quais o idealismo re,.,okciorufr:o facilita arcakss de Je,sjgualdade, rcptesentat!vas do a,,t;go ,·tz,me. Por
concessões ou acorcodações de teor libertário igualitário ou buma- c,,usa de sua fraqucia econômic:a, sóci<><ulrurnl e pollúc.t, eles
rJtárioque são. não obst::tn:e,incompatív-eis'coma ordem interm ,êm de p,irtir forcosamente, de "crft:<:asmorais da ordem", isto
ce wna socieclace csttwficada í mesmo gu<>ela seja uma "ordem é, de fa;.,r o~içâo ostentattdo Ull1 :zelo real_ ou simul:ido diante
social aberta", como a sociedadede classes moderna). Passados dos valores CeJJtrais d,1s ideologias e das utopias da,; dasses dorru-
os pedodos ele efo.-vesoêoci.te de confraternização revolucionária., naotes consagrados oficialn:ente pela ordetn e:,dstcnte. Os con-
o idealismo re,,•olucioniriodesaparece,D'.nsficam as ideologias e flitos 'axiológicossão, assim, engrandecidos pelos di,•erg~mes,
;is uto,:ias forjadas ~u redifinidas sob seu impacto, Então, as servindo de fundamento ao ide:tlismo crírico e a seus desoobra-
:deologtas e as u~plas convertem-se em máscaras, mesmo que mcntos práticos, reformistas ou "revolucion:írios". Por sua vez,
mantenham conccudos d<:moétá:icose impulsões revolucionárias. es classese as categori:ls sociaisdominamcsvêem-r.edian;~ 93
As classes e as categorias sociais C-0minantes, que 2.s utilizam, desigualdade arra,·és de duas polarizações: o forte processo de
émpcnbnm-se mais na =lid:,ç:io do podere cm mudanças so- rcvitalizaçoo de privilégios mais ou menos :,.rc,iioos;.e o pr~,so
CllUS que somente concorrem p,,ra s eswilidadc do stdlus quo. ainda mais importante dos interesses de classe proprt:i.mcnte ditos,
P!'r conseguinte, suprimem os relações das ideologias e das uto- resultanteS da expansão interna do capitalismo moderno. Eles
P"'' com qualquer praxis revolucioruú:ia e com freqüência com podem explorar a mística da ªsociedade aberta:', m3S só em sen-
s:1a p=ópti.l pclrica soéal quotidiana: a~un-se. assim, ao 'signi- riclo não,exemplar e com muito ruidedo ( :11ais verbalista que
ficado abstr~to-formalda idcologja e da utopia, segregand~ real e de qualquer maneira, nio no terreno político). Queiram
de moco mais ou menos completo daquilo que são compelidas a ou cão,' sio compelidm a 11 corear a nuven1 por Juno" e, o que e,
faz.er, em \'Íitudc dé seus i.ntecesscse relações de classe. Con- pior, a obrigar as _outn.s classese categorias s~i_s a !azercm o
seguem estabelecer uma e;:l)écie de conexão de sentido absoluta mesmo. Em conseqüêocia, não só segregam as ob!etr•açoes ~bstra-
pora suas ideo!ogw e ucop:as, ée grande utilidade como funda- to-formais dos valores centrais de suas idcolog1ase utop:as da
rcento de um tipo especial de dualidade éticc, que permite uatar pnític,i correspondente quotidiana; projetam nessas objeti~ações
as demais desses como se fossem "esrra.nhos", Hmem.brosde um significado absolutista, maniqueísta e towitário, ~~o se eJa_s
o_utr.tssuciedades" ou 2té como "inimigos". "Esta função socictá- fossem em si mesmas o co:icreto, o dado real, e n p!':IUCaquotl•
na da ?~~lidade étic,i é ~cilmente c1™.imuladae mascarada, graças diar,a um elemento contingente, inelcrante e rn1.'1Sit6rio.Com
ao artif,c10 <la scg?Cgaçno entre o formsl-,1bstrato e o concreto, isso, pretendem proteger-se de ri.«:os pot<:ncuis, rongdando politi-
que opera como um fa,or de obnubilamento da consciência social camente a crftica moral e a rcbelfüo dentro da ordem. e impondo
de classe e de tnitigação do significa,Jo social das inconsistências de maneira autocrática soa visão do mundo e s.ui imagea, do
i::lstitudon:ús e dos conflitos axfológicos de uma civilização. A Brasil.
contradição entre esses dois ní,;cl.:;.; por sua vez, não .o-eraPôt si Tudo isso colaça " tdlexoo so::iol~:ca crítka êbnte de uaa
mcs1112 reações<lescollfort,í.c:s
nu calllstró{ic-as. Especi:tlnu:ntcse confusa realid~de. Como pens:;.r sociolog:carncntc .;s "saídas f'OS·
~ clas.5es,preteridas ou ptt:udicadas e.speram<:úmpartilhsr((no ~fveis" é inerente à prÕ?rÜ~
1 se a cir<.1.1larid::1dc or~niz.?ção .. n::..
tu";'r!>", c:e nl~n modo, da rr.v:roliz::çforecorrente de privilégios cíc,,.1,l" d.• soc:cdade brnsilei~•? Se m<:5moem São Paulo, pouco
soaars ct: de mte=scs de d~ss.-;seme..rgentc,se cm crescimento.
27(/
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tempo de;x,is <loqi:c desci:eve1Ds).õ ccim:t. o próp:io "meio 1:cgro" democr.1!:it,ição :.ic:'.llda riquC?.a, c:o pcdct e Jo prestíl,'i<Jsocial.
voltou ns co5tas à rebelião cofoti\."2.proc~rando e:i.plorar,h: forma fu53s altcrnçõe; oegativas :orn1 rompcns.:das por outt'>!S mu-
individualist.1, cgoíst~ e ,ué d:cis,.~ as nova:; 01,onucidades de danç~ parnlclns, ç:ue "lcgamm a iru:id~:ch ces.:tna pcrcep:;ão
sociais (bem in,üo=es ntualmenre que
&..ssific.çíio e de ascc:ns.Ji'o c.."Íl:.C:?d3 dcslguald,tde ncial ernre !:.raix:osde :odas llS classes
ruis cifradas de 20. JO ou 40), o 4uc rest.:, ao sociólogo, por maior sociais e facilitam o a~tecimcmo de part:ci;izção mi.bante dc,sse;
que seja sua ident::iq1çfo com ci il(ualit2r:s:no? /\. que~-rão -, cfrru;o~ t.m prol <'o ioconfor,nismo negro, desde qne ele se con-
ainda mais complicada, pois as análise~ r~umida~ na segi:n.!<1 c?t:t:ize ei,, torno cle objetivos cl•1amer:te definidos, Sob esse
par-te deste a?tigo ii'ILlicam
q~,e ctna aucênt:c.t democratização mais
aspccco, a m: tolo1~iaofidal, do Brn;il como "paraíso racial" c):1
ou in~nos rápida das relações méafa cont.:nua a rcprcsenuir uoa de que "enm, nós o l'!e.gron1ío<e.o>prcblcmss" est,I em crise no
"improbab:Jicladehisrór:<a", quer se focalize a s::tll3~0 racial br-.1-
~ilC:r:1do ingdo do ''broncou. quer do ºneg.con ou do ,:ln\.iliHO,!. "munclo dos bnu::cos". A mudança de rneotalidace,, n:1 sucessão
de i;craçõei, tem 2b-.ilacop=e>fuudameote as forma; aicda predomi-
Supomos, portm, g\Je h~ margem para se ,1panhar pro,pecli- nantes de hipocrisia rgdal e, em part:cular, tende a s1.:.citarsim•
,-ame1.m,pelo ir.enos alguoas linhas des;e aml:!guo ,'Ír-a-ser. Pri- p3tia efeli\-a por um r..&aliso:o igualitáxio na csfcrn das relações
rceiro, a no~a orientação predominante oo ,;~io negron; mais roei.ais.
indi.:dualist2, utilitarisUs e p:>1gmá:lc:a- e por isst) tão c.'-ioca.tlte
Se O! difa,re:1tes estracos da popclação negra e mulata de:
e emípátia1 - p2rcce comer alta dose de aceno {pondo-se de São Pado p.:derern mohiliiar-se de alguma m!!oeira, pua apro-
lac!o a miti!icacão do "nevo bGmem ,:?~o"). N'essa orientação - veitar suas novas possib:.lídades de aoio✓.1.fümação, os problemas
e não no ancig<>prote.1:0 colerivo, que J:<lS é tõo caro - é que
polít.:cos qL-ese colôC:lmdizem respeito ao 9ue fazer com a l,erançs
o negro e o mulato estão usa:ido as am1asdos próprios brancos. dos c1ovi:nentos anteriore,. Um hiato saía lameotávcl, pois se
Eles es,ão e.levandoas po:encialidace; ecor:6micas. rocio-cu.lrnrais perderia todc o conl:ecimmro critico arumul11do- sabre a rea-
e pol:iicasdo "meio negro" e. po.risso, estilo se p:eparmdo para lid-ace racial brasl.leira e sobr<: a ?OSição que o oeg,.-o deveria e
um novo rÍJ>O de embatt ( no qual será inafa c!ilicilalijá-los de
pode ter em nossa sociedade, Toda\'ia, as mmsfomlllÇÕ~ foram
todas as formas de competição e de conflito, na luta pela absorção profundas e definere. uma linha de conduta: não se trata mais
e co::trole das e~trururas de poder;. Seguodo, houve abandono
de recuper.tr pac!rões de reação rs.c:al Óo passado, m.s de criar
nrernaturo dos !nO\'Í.mentossoci.lise difundiu-se u:na rea,aÜação outros novos. Toda 3 estratégia eles il:<:tigos.movimentosde "pro-
~gati'nst3. contra <piclquer forma de "protesto negro" coletivo. ..esto negro" :oi supe.-aca. E:a 1~pondi• a um estado extremo
Mas, os movimentos pod>-.,m ser retol))3dos- e ~ quase certo que c!e desesp<:rv, de isofo:rcento e de in,stração que praticamente
o serão, opo:tunamente, re2dinidos em s::as fo:mas, est~atégia,
"cegou" o negro dí:i11teêo q:i.:-lhe seria mai~ acessível e r<!Cional
objeri,•os e funções - pois eles cotistitueo uma "exigência da faze:, para atlnglr, ~radualmcnte ou a mb:lio e a largo prazo, os
S!tU!lç::ío".Co,n a e.x;,eriê1!cia acumulaéa no mundo ur!:.ano-lndus-
objeth·os visados de "iguakfade perante os br;:ncos mais iguais".
trial, é Juv:doso qce o ncf""o ,olte a <'Cn<ralizarseu esforço etítiro Rá pouco interesse em re?('tir ho;e os obsess.isos" o.'te,,sos c!e-
e .uas a;pirações cc!ctivas 110 rombace :10 dilema mci3l, que
bates sobre a e~st~ncia ( ou não} c!o preconceito de cor oo Bri!Sil
cicigitia, para ser cor,scqüenr<', <:011dicões
h:stó.riro-sociaispnra uma
e de rolo01r taota ê:nfo,c nos re<;uis:cosideais ( cemo se definem
"revoluçã..,rncíal de baixo pJ1a cimr,', O :ie-groe o 1n11lato, atual- legaJ.,,1ccte)tia igualc!ade n1cial crn u,;1,;oulém b11r,,.u~sa
demo-
mente, prcfezem 1:1::<lnnças<:irc-Jnso:itas,pot"'.:rncom;,en""dc1rns, crática, Parece cvide11;e aue os no,,o, debat,:s de,•erão centra
i1-:tevers!veis
e n~J~ e~e ~~ l6gicastg""ündo
de ca~c-a'tz. a qual Jizar-se na COlll"Cntraçãor,Ídal da renda e do p:x\er ( ce>msrus
,l <1ut=,1'º.t(;t~-ciro. O "'!lleio b-ranco", apesar
"uina t.:mclançal,)ll.l<U múlti!)los e nuniilcsdo; efeitos) e nas mt:d:dns que pode111set
de suas variadas e pro:m:d:is clivirucs, co11ti.nuatão lndiferen1c ao
a&otad?,;p;w~tl:ffil.zi);011 ellminaras piáticas descriminativa1que
dr,:m<l d1; '1e6r!> <Juanto o foi há algumas décadas ;más. Houve
prcjodicam o ncgTO e o muL-lco,prescrva.,do inc!dinidm:nenre a
OJJl forte e desp;rnporcional fortaledmcmo de posiç&s comer- dcsigu,1ldadcracial e a supremacia da raça branca. Dc,ctro l•do,
vznti~::a~,reaciorufriase autt:-ccitk~s, Centro dele... P.Cl F=ej:.:fao ns movimcDt<>~ êe,·erão VÍ$:U-, em hloCXJ.rn~nos a intcj\ridade
, rc..np.tc,;,:n~o
d e 11matnc1:"'Or ,. <J;.tS v-.-..nr~c::1se d a noc~!>tc.·.a
- ' de r..t:.
'
( ou a falta ie i.11egri6d~: do, boncos, que si.tas p<isiç.ões1h\s
280
18'/
e,;ttu:u:as é.e poder. Isso requer que se proc!uzaum radicilismo imperantes no "mu:,do dcs br,u1<:os .. - uma t<:ndência ruui•o
racial rnois cocrente e efic,,,, a,~z de forjar solidariedade racial - cwrc:·ará o ri;,:x;, <.!eimolant~r
forre à q1U1lJliio se tem o.1,--os10
e lealdade racial nuoa eS<:aLlincor.-ce!:,ívelno pas.sado, par1 per- der.uo de ~i mes:no o q~e mais ~<..m<1'-lui~o, a e.1n11uro-iníqua
r:11tíra su;,craçüc tanto <lo facciosismo, d:i csopismo, do opor- de um rei:11nede chl;se ddormant,, e del·or.m~do. Nessa hip<,-
t:m:;::110.do tn<:I"cenarisrr-0
- aue sola'.)>!r;im t3o n:ndamcntc o tese, ter:Í?JlJOs 1
ne:tto" e do
uma ,.~ers5obrasilcin~ r1.o' C{p:h~lisn::o
"prorest~ negro" ::m passado ~ quant;, e!,,.insicios., :nfluência "eliti~lllO neg:-o", como conttapartià:i à <!<lroioaçãoa':icocrática
psic-o!ógiC'fl on polkica da iéco(ogt·1e da utopia raciais dom:Jlantcs c!o b.raoco" <: está for:i de d(widi1 que ~melhantc proccsc-o serfo
ce
{cu sejo, coroo di,.em 2lgt:ns líderes negros. :lo "c,w:tlo Troia =is noch·o no Br.,_,iJdo que ren sido nns Est:1d.o;Unidos ou
branco·•}. Conrudo, a nrienroção polítle2 gcal dos movimentos na _.{frica do Sul ( '°).
de ºprotesto 11~.rou e:a cor:-cta. Primci:o. el~ eratn po,:m/.istas
Estas propcéçõcs podem parecer tendencío,,1.s. Por que
no sentido mais puro e preciso, e iazh!m éa das!iíicação de e,- •
~r 1:0s _omhJvS do_ negro ,e éo mulato res:pon;abili<l,tdesque
toqu('S raciais m.ari:i~li7.<1do< 0:1 "ittlu!d<,s um problem,t de igu:Jl-
dade econômica, SÓCÍO-<'ulrucal e polidc2. Segunêo. eles defendiam uao sao ip.ualrnentellllin~taaas ~o brarn:o? Porque o negro e o
1r.1Jlatocoi:s11tuemo p,vo da revo)oç&l racial ( den.t=<> <faordem
a revolução racial ( embora definic!,i como uma rcvo:uçã<>dentco
ou cc.·1tra ,1 ordem} no Brasil. Essa revolução nm:ca se consu-
da ordein), como =a revoh:ç;io democrn,ic:,, d:: ba:.xo pur,1cima,
in1;:,nnindo novo seaticlo à imagem do Ilra.sil co:110 nacão multi- m~ráde modo pleno'.' :otal sem (Jl,'e o negro e o mulato a deseje.'Tl
-racial ckmocrátka. .CSS<I orienrnç:fo polítirn gemi 1:1erece ser ardcnr<:mcntce n purtfiquern de modo pcrm,mcntl!,con-ç-ertendo-se
retid;,. e aperfeiçoada, em .unbos os pontD'-, po:s da é ~$SCllCial, cm suas forç.as de radicalizaciiocrc:sccn;e. P8J-a t'reecd,er esse
oindn hoje. p:m, defini: ,1 Dlo!oíia pollt.i.::afll<lbaldo r.egro e do papel hist6rico, é óbYiO<J.t:Celes prcocisnmV:Vetessa revol.uciio
mulato na l,ru, pelo poder, pd1t igu,1!d-t<le e, cs;,ecific2:n:cnte,
pels antecipada e integramente entre si, par.. rransferi-la e iliíund.i-!:i
democroefa r,cial. dcpoi~ ao re;to e.lasociedade hrMileira. K«i se trar.a c!e oensar
Mais social:z~do pclo meio Uibano-indu~trial ambiente, o o n.egro e o CJ.ulato sepru-ados do branco: m'1.Sern um todo no
"mek> n",'lm" é m..-nossuscetível aru.wiente no monolitismo uue CJ'!~o i~ ~l!imo da Jemocrncfa r:acj,,_Jccvcní re:=vlr<1rJa
há qu~tro décad?.s arrá.c;;. O próprio 11 1:1eiobrg,ooo>:é meno.-:: nlo- .iL;v:dadc hrs,onca do oge11te realn:cntc rcvolucioo:írio. Em
nolílico - embora possa dar u□:i irnpressiio opo$ln (rois a re- outms palavras, eoc?.rat!a dts't'.t pcr,;pcc:tiva, a t!eruocn1ci, racial
{ ,: ~n f\1turo d.esenvo!vin::c.:ntci) nio d~enJe ~pe:i~& d(, ''êxito''
prcss:'ioao radictlisll!o e.m ~ral e ao radicalismo das "r;iç~s opri-
:nhlas'', em pa.rtkufar, é pmduto da dtllll!tlâ,;ão ,uitocdtics dos ' net.ro e do ruwato
oo ' no " rnnn do dos brancos" ··- ou seja:
sc= ' .
.....,rcs001nm.mtes d~~s e·1l1S-'5e~ ,J•
m-::a.1as 1
c- ~t-as ()~, em ourras pn.- c m.~\la lu~~cow ? branco pela ituoklade en rigt"?-" e poder.
brtas, das elites dirigen.e, ela rn~11 b~x:<.:a). í: imp,vt.1nre que- maclepen..e t:mbcm,_cprcw,ivelme,u:et'!ll l'St:ala ml!:or, do êxito
0

brarom-,e "uni<la<.!ts''fictíci"-~,tanto no "ndo 11q1ro", <)llânt.ono <lo negro e co 1nclaro c~, supe,-.1ro br~n:::o c cm ...-er,cerseu
'·1:1c-iobranco'". Qu11.-ito rm1s dEc,-,,1:ciaézfor a ~ama ele posições ~or.ip:reen.sivoanseio, tJllC ãlimeibll~m ro paS"Sat!o e ainda é tão
~1x: o ucgro ?)SSa romar, ry1aior~c:ráo impa;:to d~ neves movi- torce, de se <'ônvertcrcm ell" r.rot6tipos do 51q,e,•hr,"c,,. Pois
mentos de "protesto negro". Se essa d.':crr:nd.aç-ãopuder ~e.r nma \:-enladejr..t r:acia!
t,;.--vo!uç:-ãn L-n1 noss:1.era, só
de:tLX'lctática,
rnotda :,os limites em que :epresen:cm, cfcth-arn.en:e, inte.res;es pode ,h1r-sc sob -uma rondiçiio: o nei,>r<> e o mnh10 precisam
divergentes fu:lda.-ne::tais deotro da csttat:fic.."açâudo "meio o ,uis pu.r.om<l:calismo
torna:-se _o ,m!tbra11co,;,~ra eaC11.r::ar:.:m
r:qiro" e sc os rrovímentos put?e..-em
ligar entre si os grupos resul- tlet1-.ocrático
e mostrar aos brnnro, o .-crrl.edeirosemitlo da revo-
wntcs, 110 plano mais amolo da luw ,o,nvn1 ,:oeladcmocratizaç-:ío lução democtáticn dn per,;c.:1aliddc,~. se>ciecfa<le e da c-~ltura.
r,.:ial da r:qu<.-u e do poder, a Segw,,J4il!>r.liçlodeixará rapida-
mente ~e :::cr t:ma conira·utopia :-t?areotemenre vA:i:.a. O tiue
o "meio negro" precisa rq,elir, a todo o custo. vem a ser a
"repetição da h:q6ri3" em cm s<.'.llti<lo c:;:ue.ico( ou s~ja. remo-
dta.ir no presen:e o l1S.i:;,s3c!o
remoto l."".l rececte de c.·neio h~u-
co"). Se o ·'ro:io 11e;-.n,:-' ah;;orvcros padrõ~ ~u.1,ocrátlcos
282 283
1NDICE

- ✓ lnrr<>dv~o ................ , ...•.... , . , . , . . . . . . •. • . . . . . • 7

l'lTMH,,\ l'àll'h
Ar &m·d.ril, d."1VJr
-\)>Gp,mlo JJ-- Aq,ec1~s w Qu,,6.-, R:!e;al ................. . 2\
~ Copítulu @- Mobilidade Sodel e R<la;,õcsRaciois: O lmun•
do N~ro e &i Mulato cm um., Socicdodc cm

,, C'A.pÍtnTo !iv-~~' pvi,:~~;.ó.N~~.- ~~- ik~i


~-~;-r,~;~-
45
·62

sw~'ND•
P.1ltl'.l,
O 1rr.p,:.sse
Raci,tl "ºB1t:.!ililfoda,,o
• {':,pía;lo IV - A PtrsiStbc:ia do Pa!Slld<>.................. . 8,
·C"'..2;,ím1of- \1~ Im¾;::açiioe R::loçõcsRaciais ................. . 109
• Üpíru!o VI - O ~~-o i:rn SiioPattlo ..................... . 1.29

Capímlo VII - GÊ!lcw. e Consciência .. .. .. . .. .. . .. • . . .. .. .. 159


C.pfrnl~ VIII - P<>esue S:il>'.i.ma,ãow Fcu.maçõcs Racial• . . • . 18t
C..pículo IX - O Toitrn Negro .. .. .. .. .. .. .. .. . .. .. . .. .. .. 192

Qu!..STA P.,~J'E
&liffeo e 'Foldcre
Capítulo X - C'.o!c:tivnsobre o Kcgro: O N~i:ro
Rq,rcsC"!lt.1çiio;
na Tradiç.fo Or\11 .......................... . 201
C".ai,ítulo XI - Cúntril:mição po,:• o 1:!,;n,doJe urr, L!dcr Caris-
n1:át:r.o....... , ......................•...... 217
C'.apítt1lo XII - C.on;:o<bs~ furuqu=> =Sc,:o.,.t,,1 ....•.•..•.•. 2}9
j!:·Gt.isad,: Ccu!t1sâv
~, ....p(tulo XIII/ t\!pOC'IDt Politic:o, do Dilam R.icial Brasileiro •. 2.5-5
~

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