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I I ORl~TA.'I F.f.R.,.-'\NDES
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CORPO E AL1.v1.A. <li
O NEGRO
DO BRi\SIL NO :\!JU~Dü
DOS BR:\.NCOS
D'.ro;io elo
Prof. fcr.:wlcloHenriqcc úrdoso
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INTROD"GÇÃO
7
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. . .
Jnlcrior s1sccma at: OJStaS C CStalllCDtoS ou
emp1ricru e teóricos J.~pesquÍ3a feita em Silo Paulo, t'Om Rugc:r
rn,, •111.11• 111n<ln11i1,.ção não possufa baswue força para cxptu:- Bastide. Emhora e., tetiha snpleme<>tadoa pcsqu:sa posterior-
1
••• , d ,füi 10s, p:idrões de C001[,urta:nen10 e funções sociais
mente, cnlhendo mais matcr:al de ca:ii.,o e dan_domaior a1er_ição
1111tl1d1 1uHzodas, m~'ltsou m~~os arcaicoiJ' A'SSia11, tornou-se
às c-oloçõesôe iom;tis do "meio ney,ro·• ou às tone~ estalÍsuc.1s,
H ,tvc I cun,prce::der 001:10 o preeonccito e a discrim.i.nação ra-
o fulcro das que~tões dc:h:uidas acha-se no proi~ro iniehil da
i.,!a, no 1n-O<losegando " q,:el se man:fesrnm no Tlcasil, se ex- úwcstigaçiio.
,1,,•nmdiferentcrneme, ,eg.:n:io ~e coo;idere a organfaação do
, ic,fadc sénhor.al e escravocrata; os efeitos da lentidão coro
Os seis prin,eirus n:ahe.lhose o último capítulo p=lem-!>e
diretamente2_temáti~ _d~~~ proj:to, erobor{Ã n!l11rc:za~o
,roenegros e mulatos for.aro incorporados ao sisrema ele classes;
<111o~ complexos de ,..._!ores,aúrudes e orientações de comporta-
nmao vi.J,::ulacos aos estilos de vid~ dos diversos segmentos
! "'prcblc:maroc1sl b.rasilenQCJR consrder:!da de um:i zonna mais
livre, direc~ e ahitr~ta, cm vixrude elos tipos éc público a que se
sociais º" dos ,,&rios gn1;,os étnicos e raciais, m.ús ou mepos dcstinavMMks com~ o.ma conlribuiçã'? nova_e~ d?is pontos.
determinados POr sitwções de classes, consolidadas ou n'5o.L-A Prime.iro, porque focalizam a nossa peculiar res.1stcnc1a ao reço-
:nie.oção foi Hg,ir a desims:gmão do sistema de castas e ~til.· nh,,c·mento das "bJneitas de cor"it nossa negligencia típica do
mentosà fom:aciioe à expansãodo sistCDJ• de clas..<es,
parades.o- 'lm1•-1>,e
nxial" de forma cspecinc-J. P:utindo dos .resultadosda
bi-ircog;io~á.eis jpdependente;s,constimfda~I fa_!oiespsi;t 1mc•li,it1ç,10,,·r, 1x,s,íl.'d movim t:lt a discussão com maior
liherdtklt e ir 111,11,ao funJo (ias coiS3s. através de teflexões que
-sociais ou ~g~l!!!EE.ais b;lseados na elabora~ histórica _
11
• ca'' ou da "cor", poderia ser e ·o recnh1m1dos
i:;i!l]X!lLC • ,~o por a s1111 dv.er JJ<:J.,4Õjl:c,...
O conhecimento produzic!o tem
:t 111• 16~1<::1
e e!:1iiodc ser ec<plorad.1racionalmente: no primeiro
esttutura e ruc:,.meme /Há, por trás éesss posição incerpre-
r~nva, uma arroj a :llltU e '"cieí-,rífica,qu,: impunha aos autores livro, com .83SI ide, e: DO segundo fü•ro, a verdaêe consistia numa
que o complexo "cadinho de relações raciais" ( que se constituiu t·erdadee111piricilmente aproxi,nada.A verdade assim estLbclecida
e se transformou, ccmplic<lOdo-seinces..<atJtememe, em tomo da abre novos caminhos ao enteru!iment0 da sitaâção e, quiç,I, sua
cidade), fosse consider.icocomo um faJo total, ou seja, sob todos transfotmação. O sociólogo, consic!erac!oindividualmente, J:ode
os aspectos q1..~pudessem ser rele,,ances pata uma descrição socio- fuzer muito pouco em ambas as direções. Consciente éisso, gumen-
lór,:ca e un:a illterprctaçiio c:iusal focalizadas sobre certos pro- tei o meu esforço numa direciio cducai[va, em si rn<:smsviscer.tl-
blémas íundamen:ais':JAlgumas anális<es,que não puderam ser mente~ntr-ária à pe.q..--etulção do nosso faris:ómo r-..cial.Segundo,
c:aha.lrnemecom:iletádas nbs trabalhos em coo=ação com Roger porque tc:ntd emprocnderatt:a"li,ondagemhori20ncal,com os_pre-
Bastide. fur2m "",,etomadasem obm posterioi, escrita com sua cários dados estatfsticos dispolih,eisJ t'om o intuito de veuf1.<:m:
generos~ snuência. /\pen.is os 1:wteriais relativos aos :1spectos os limites dentro dos qnais a e:i.-tte"n,..a des:g,iakhde racial exis-
psiro!ógicos. e;>,.-pJorados tangenc:almentenas abordagens deseo- te!ltt em São Paolo vem a ser mais geral do que se supõe, repe-
vol•:icas ou nela.~ discmidcs ck for:ma lioútada, sofreram uma tindo-se em outras ,m:dddes da federação. O gue se conheci,1
expforoção que niio faz jus ~os ma:eriais recolh..'<los (1) • .ÂQbrea uoiv~s-alizaciíoc!o1~halh2 es.C.!!,\iO e do padrão.Jiá_iliy
Os ensaioo sgui reunidos não foram redigidos conforme t:m de relação racial assimétrt<;!I fozia presumit,..q_nea concenttaçio
propó:;ico precsmbe..lecido. Preparados ;00 sabor das circunstân- "racial" da ren_4ªJo ü5stfaiorsç,dal <, cb__podct e~;~..!!!!.
cias, elc:s i;irnm, pre<lominaotenience, tm torno dos resultttdos tên6ir.eno g_enerali:zsd9. s resultados ela ,ondagcm cOJO_pro,aram
• hipótese:,dcr,,oflSt1·ando que a maior misa:ger.açãoe a maior
12
1J
diclas. Isso não quer di«:r que o ldtor precise it aos outros
esrudos. mais completos, do autor ou eleoun:os sociólo1,-o,;.Esse mcndo tap\#n nio fi=.J1\JJI.IX..•D
rti'ill-0 )'odQLOS que k::-an;,.
passo dq,éude, nacur--...ltncnce,dos iDter.esscs do próprio leitor. l:,Uhcrto Fmrs.. sahe•'l..S!l.tl.foL
a .ilii..ela
J.ntcmçii!!,4\!J;,. se e5tJl.·
Informando-semais, terá ma.iorhasc pnra compreenders com 4
hdo..-en ncs dunscireç~. /l'oda"fo,em nenlit!In mo:mcnco ·a!=.,
plexa situação racial br.isile'r.1 e pa1'a compará-la com 0\1tra. 111 ,. . • 1 rõCãSin :.ll',UUo sene, o roc:csso soc1a . M \
r
conseqüências que não Íô.l".uneKp==-
tiçus:~1que n:asc:cram do seu im:crcruzamento.A~ oontrár.lo,~ra
A terceira qucs120 rden:-se :10 cimlo do lh'CO: O NcGR.O "aràd1ar &%e mundo, o ne ro e o mulato ~ y1ram rowoel.1'Jõs
NO ,\1UNDO lXJS nl'U.!VCOS.Esse título choca« CÕm3 idéia a se , en eea1:com o "" u~mérito ~ico-social e moral. Ti•
.1 ~-r.:-de ue a sociedade b.rasilcira é o produto da arivid:tde ~, ce sair -e sr;a e, smJ co s condição huroan9.-padrão
. conve..,gcrite de ·tres' r:iças, sup c.-mcnta s p s mestiços do '· in,mdo dos brancos".
"- Comcc-droinb:iêa1'rêüa-mtele("Iuàl c:ríti.a.àaoessa visão co-:iven- Essa situação ronstitu1, Ctn >i mesma, uma terrÍ\!el _pr°'':!.Ção.
tional (em cuoferfocia f.ei1>1cn, Assunçio, h5 trinca annsj.
Queeq,uilíbrio podem ter o "negr<1" e o --mul:i.ro" s~ são s_oos,:~s,~
O que ela pode ter de çerdade? Ou~I seria a "chanc,:'' d~vos
por princípio e como condi iio dt rotin:1 a íoan,1s de ª~ffi!:
/ cs!(genas ou africano,; de cQ111parrilliar:w1 esperi.',,J1~bistó~~
( -a;;. co!-OlliUJdo=e setJ5 desce:u:lences? ,o Brasil
longa elaboração cfa sociedade
= resultou d2
ogloniãl' ;ão~ um-;- 'uco-:-.m-ci.:
mação ~e sno1 ao nle~mo tem,.,c,, to e autone2:a.ao? No
cume C[,ascensão social ou no fio de um lo!:'SOprocesso e'"ãPc'r.
3o branco pr1vilcgfadopara. o br,tnco privik,giado, não ímp<>rta !íSmoctãbTIÜ19uirudeé :20_rmal e necesõário. Isso· porque fomosf'
se haja o;J não algu= conrradição e::me a raça geoot{_piC'll. e a
l n,ento
raça fcnodpica, oç enuc as a{Wenciase as realicbdes.,,O :ugu-
íê,-:Ídosa ~ a i.!t{~fio ::xion:il g.o .Brasi,l
-~~e dessa
1omia unHsteral de realizar • nossa 11111dade nacional. Nunca <../
· do ual muitos b..-ancosSairnm à margem tlo mundo
o
tcn~mos pensar numa direção d~V"ersa e imaginar como poderia
soaa que se ceou I· ranoo e pm o. ,anc~ - com a c:>:pl~
ser ess:i mesma wúd~dc se, em vez d~ ioreg.rar por c:>:clusão,da
o S.IStcmaticada~Outr '1S (: 2os mesu os e se cfass1• integrassepot mdtiplicação.. De !ato, tanto yvvJil? haver a uniijq
6cev~m ( ou se descla..<sificaygm) .mve - s.ui pouco
vs.lornesta disa:ssão. SoC::tlmcntcflllanúo,de nio era bianco • tlllJ@dn na impm,o de cima P"'"~i•o, gaa~to a vnjfo gue
e;ãjulgãjpor ronheéimeiüos ccue obtive ao !onso de minha car- se ma com base 1 , ·es 110 d·e :entes cÍiliuras
::-ei.ra
p:ofrssioMI, continua a não ser consid~rado socialmente Cm contato,Qumdo se C()l)lp:lnt o B.:asi aos Es s 1ni os,
como bra,;cfl. Cceguci, mesmo, a ouvir ,ma ca:act~ão públka dc-scobrc-seque 3 un icl:ide nxiooal de socicdodcs com p.-u:sado
coloo:al recente td:!dc pa,2 o prin:.eiro padrão (o que sucedeu em
( ~e brasileiro racial e soc:.alrucnte ruuito bra=o). em uma cidnde
nmbos os países). É Ulll.i unidade nacional cm qlle se perdem
famosa do Nordeste cm que esse tipo de "homero branco" foi
h~as rulturuis, que não po<lcm ,.,., b.nnionizadas às co1~s •
cuactcrfaado e= l.venladd:ro animal" ( o cqui,·alente da besta
em que: os c:;tra-r.osdomindntes t<:ntamregli1.a::· a jntegt~l~ na-
no regiroe úa cs..--ravidão c!e in1por.ânda
j. C.omudo,isso C11rece
11CSL.1discu,;são prelimin~r. O negro foi exposto a um mundo
cio~ atr~ da SUi\própria dominação esrnmenial. Mesmoque,
mais torde, surjao ouvas poss[hilidndes de acomodação c,n lxises
socialm;..-ese Qtganizgµparil....US...á.~tos privlüiêi&J,,s
dâ raçf-!
domin:lllte. me não foi inerte a esse mundo. Dou- hdo, esse clcmacriíti= o mal ió esrar,í f.eito. Não se po,!e recuperar o que
se perde ~ rcfau; os on1ênhosbistói.:cos d3 intcgr:açiio ca:mô-
15
mim .. sócio.cuJru~l e polítk:a de :,rr,n socbc:a,de nocio!:2.l cuJ1t1rJl aqw, per amor à verdade e par lealdade a um ccnceh:o univet·
e rncial~cnte hetero~aea. Nós s6 admitimos =ior rnternc-_, salist.l, flbcrto e huouuú~tico éc bmsilicadc. Pode-se fundar. o
constmn,·a entre raças e her~nças cuúw-ais distintas 30 ni,:..,1 naciO!lalismo paniorciro e estreito em uma noção íechada de lll·
d:1~comunidades de subsistêncfo. Af, crcnçns e relig:&s muito tcg7ação naciorutL Entretanto, a utilidade desse n:tdcnalismo é
diferentes puderam ser conciliadas e por \'C7.es fundidas. Os t!:I· tão Jimit5'ia, quanto o patriotismo do~ ci..-culos sociais que o de-
lxtlhos de Herskovirs, René .Ribeiro, O. C<lsta :&bardo e Ro~r fcnclero. Um3 :i.~çãonova, que não conseguiu scq uer completar
'L 1• • >,
Bnsn..,,, e:tp:.re:im porque isso ,tco:1teceu: a l:eranç-.:rciD:ural e as o ádo <lemoc.rátko da revolução incrente à desintegração do re-
formas sociais corrcs;,on.!entes de associação respondiam ~ neces- ~imc de uabslho ser,il, não pode molêar o seu conceito de bra-
sidade de auto-afirmação e de auto-:calba;;iio de um rno<lo autô- ~lidade em modelos t:io cxdusiv',sus e tacanhos. Além disso,
noroo. O holruncmo quebrou a ine1,irobilida<le de uma auco- hoje ck:ve importar-nos menos o que perdemos, de fonn~ irrc~-
-afirmllção ncgndor:1 e destrutiva. No enunto, isso oco'°reu ao diável, do que o que não deveremos pétder no futuro, uncdiato
1úvcl do, cstratOS dn sociedade !ll!cionalque en01 m::rios iofluentes O\t remoto. ,\ democrocia r-Jcial nooimpõe a psr<icipação como
n:1, def:niçiío ~os rumos hist6riccs da integração m::iona.l. um de~fio passivo: P3t3 participar, o negro e o mulato precis,iriío
Pois, na ver<laue, rodo o mundo rústico brasileiro. no 100::nc:oto dar de si mesmos o que eles possuem de mais criador e produ-
da decisão éesses rumos, est,í sujeito l!O mesmo processo de de.r-
rocamento e de destmiçlo, que !):!ira oobfe as culturas que di-
Li,·o. A brasili<l~d~quâ ~!!Jmos .~ R:ts~~o escravocratae
primeiras e,_~1cnc1as e umvc~~çao
das)
""êotrãbâ1ho fo·re, e de-
0
0er=•~
, .,-= do,- p-~'<'-~ .:<...- "eru <:U.u.
"-·" ou "mo=rnos
•- · il'1zaçao.
" d a civ - m<1Siaaoesu-c:it.1 é ,E9br~eara tazcr &ce ~emas bum.anos 1"
O_titulo, P.:rnmto, transcende ao livro, e levanta uma pro- ~íticC"~ de 1,1tn.1sociedade· raciãt e culnmllmente 11etero~
blemáu~ que so foi aflorada un1la1eralmente, nos ensaios coli- ~ct.i:. ~.tÇ.2)der ~...nãQ.J:~llAALo> dÜeWJJ.esgrupos raciais •
gidos. Na ,-erdade, isso não me preocupou. O intuito direto e culturais do..!)$__ ~ .podem levar _Ç:fadorament:, so pr~~s~
con~stia e~ oõremevi4Çnda o senddo,,,global
e a~ conseaiiêudq_ de fusão e W1íÍi~o, 12.ara_.ÇLuese, a~1n1aum~a~~(!~ bta§W;
fataiseloamsrameoto
do r;nc:cro'•
e do H1nulatoº à socied..3de dade autênticameme Õhiralista .last1co , ~- Por-
brasilciia, Amesde atingir a de~acia rro ie;m,osparcuús tamo, a, por etrás do ú , uma intençiio que també~ tr:ins-
º.:'comple~s: um..l,!rôC<;S-Wpara Ú\.W'º - o n~ ç_m__l!.6t~ cende o li,TO. O que pretendemos, para o nossofuturo imediato
tem de ll!:ettar a padro=-aciio e a wiliormlzaçii,2. E~-~ perdroo e remoto, não é a fi.xação imobilista dos dois polos, sc:panmdo
ae,11!t1qq.lu
cacae romocm pp;Í{i/01'4
co:no porcasdo inundo o negro, de um lado, e o mundo dos brancos, de que ele parti-
Pna •l'>IYr:Sâá;!as..
dos b.raocos não sõo intran<pon(yci,s.,{ potdll CÍ(Y;I ma1t,"'1.'1almeme, de omro; mas, qu~ o mundo dos brancos
1
?s negros e os mulatospqssam
gpr um abr;is~tQ guf!,_€.a, dilua-se e desapareça, para incot~rar, em sua _plerut~e, t~as
2
Ii
•
21
o que é m:üs importante J"lta o "ne~o" e o "mestiço": uma
roosideração ambísWIe disfarÇ<1da ou uina condição real de sec qu~ se coloc~m ?,atante cerra \'=cidade a alg,,rruts de suas
hut00no econômica, soda! e culruralmemc igu:1l ao,; br,;llcos? ooini&s e expõe de modo <."l.-rremamenn:favorável o melhor fado
Alélll <lisso, Sê oo brasileiros co.chc,:cmum clima dc iolerânóa à~ e.lima i!c c-1nvivfocia inter-racial imperante no Brasil,, L&-
tllthil, pr,nic:andou1n código de decoro llas relaçõesem que c:ntrrun que_t~1:~ d:
mento, apenas, que não renham compreen<.li.cl?
e.tn cont~o ('ODlO ub.tanco::;'\ .-cn."l<:Sriços'~
e ".t>:egros",
nt\o seria fendem acenas opiniões e que .uo campo da 1nvcst1giiçao c1cno-
tndhor que esse fato tivesse im_;,oTtáncia em si mesmo, indcpen- fica o q~ permi:e sdccionar as opiniões _1liosão as convi<.'ÇÕf:S
dcntercenre de qualquer fantasia a re,-peíto dc~uma "igualdade de origem etnocêntrics, roas a c,mvere;ênc,a dos resultados pos1-
racial" q~ não poc.!cr1ae-xistirnuma sociedade recém~cs.~a da 1.ivosde ~ui,as autônomas., ~]mente :igorosas. 9u~nto ao
c-scravid.ª2..,'e
na q:1al a roncenuaçio da riquezz, do poder e do mais, não é_~cmocrac,a t:tc!l!! ~ e~i~or const1tu1r-,;_e-~
prcsúgio social abre um fo,;so intransponí\'el mesmo nas rdações Brasíf7fcoda a democracia na esfera econom:eg esfera soa
de difc:reo.1es segmentos c!a "popubção hra.'>ca"? na es era jun ..ca e na eS!er~ 2º t:Ç!: Para qt:e ~-ªtai:o se
!\'este pequeiio artigo, não possuo espaço suficiente para concre1íze no dõmírúo cfusrelações raciais, é mister que sníbamos
ttacar êe todos os aspectos suscic~dos pelas perguntas, que 111e dara hcmcsta e convkl<lmcnreo que tcn, banido e continuara a
foram fonnuladas por O Tempo e o Moào. Por isso, já qt.>ea •·• fJ d"Ms r.:,açocs
bJmr·' n eq111t -1 - de uLorancos,, , " !'-!'"~,
"'°"""S"e "mestiços,,
_, .
bibliogrof.u50bre o :issunto pode esdarecer os leitores mais inte- enc,c r.i /1 d, ,m.r<la"tradir;jio cultut'al brasileira .,R_ossmmlllt'?S
ressaêlos no npr<1fuJ1damento do clebare ( 1 ), vou .limiear-me a dcrnr,11.,ú,ivvu.ll~ ~ conscimii;ii~dt..wna vcrct~t!::'tildfinpc;raç13,
emitir cercas opin:ões sobre:trés temas Ievantad0s por agudas raciAl.htn ~ind.inão c-xiste,porém, e nunrn e:ostttá se os dados
pergunras: l} a ll2turcza do comPO,rtamencocio brasikiro_diantc diisrnvcstign~s çienâficas olio forem aceitos objetivam~tc e
do "problema raci;y'': 2) o que há de mito e ele realidade~ aproveitados de forma coocretn rni construção de uma. sooedade •
.da idéia de uma "democraciaíiâcialbrasileira"; 3) o 'diJ
o futuro multi-racial cojos modelos ideais nio es~o (nem podeoam cs~)
oo passado ou no presente, que dele fim e o reprodui sob muitos
parece rcswar ao Brasilem .céria..de.:.'.ituegroção ra~ .~Essas
opiniões se fu.,dam ern &atosou em conclusões cnrâkf:ís : fatos. aspectos.
Conrudo, siio ninda assim meras opiuiões. Kão quero ap:esentar-
•ine como o paledko da verdade. ~= assunto, as controvérsias
vêm de bngc. JJ Pe:ixligão.MaL'1eirosse refere "ao preconceito O Preco11ceitode Niio T cr Preconceitc
mais getal contra a raça afrkma" ( 2 ), como "preconceito de
nossa sociroade"; e, depois dei~ mu.'tos foram os que assina-
lar:un os aspce?ossoinh,õnsdo chan13do"mrmdo que o português
Cl'ÍOtt". A tais autoxes, que eu chamaria Je realistas, ,e opõem
fortemente os <.JUeacreditam mais nas ''boas intenções" que !'la
qualidade de ações. Não lhes queco faur a i'ljnsriça que eles nos
fuzcm, de S\1porque seja mentira ou im,·erdade (para não dizer
fal~íd<tdc)n.,do q\le não pt1i!erser ~anóonado p(lr convicçõesque
dcirarn raízes na.s mciooolizaçõese:xp!ou.das pelos senhores de
cscra,-os para legiliroar moralmente a escravidiío. O â11gulode
22
2)
•
port,1mC11to•
e <1valiaçõcssociais mais conforme ao cosmos moral "p=-onccito de cor". Mas, uma.realidade mo,;al~ti.-4, 9uej,e_Cl
do cttoliti.mo. pÕclcria sc~__;lesi~ada como o "l!..~çe...lli' de não tcr _prs,con-
Contudo, M situação impera.ote nos últimos quarenta anos cci!.".J Minado em sua capacidade de agir acima das normas e doo
(de 1927 até hoje, particularmente focalizada pela pesquisa que val ideaí$ da culnm1, em vei de condenar a ideologia racial
realizei t'.m colabor;i,,;20mm o Professor RO!!et Bas_tide), tem dominant~, COllStI\11<.la uma soci;;,-dade
JXU'll de castase eledomina-
prevalecido uma c-o..:siderávelambigüidade axiológical Os valores ção escra,ista, e além do mais incomp:1tívd com os requisitoo
v~ufados à ordem social ttadicionalista são antes condcnados econômicos, psico-sociais e jurldico-políri= da sociedade de
nopl:ino idcaTgüe repelidosno plano dq acio concreta e direta. classes em consolidação, o "branco" entrega-se a um comporta-
Daí uma confusa combinação de atitudes e ,·etbaliza_ões id~ mento vacilante, dúbio e subst:rná1lmcmc tortuoso- 1.\-0conuá-
que nada têm~ ver com as, cli.sposi~es efet!,;as de _atuaÇao~?'~ l'io do bnmco "racista", não ;,ossui fé em suas =ões ou omis-
Tuck, se passa como "" o 'branco assum1sse m,uor consc1enaa sões; u ideologia racial dominante mantém-se menos pelas iden-
parcial de sua responsabilidade na degradação do "negro" e do tiíica\'ÕCSpositivas, que pelos subter.fógfos atrav~ dos quais ela
"mulato" c0100 pelósoamos, oo me,,uo tempo, encontr.isse sérias se in,;crc em tudo o que o "bi:anco" acredita, pensa ou foz_
dificuldades em vencer-se :t si próprio e !lã.o m:eb<?ssenenhum Suric, assirn, o espantalho da "questlío racial" como um risco
incenú1,o bastante forte p•ra obrig,r-se a converter em re:,lidade ,fa•
da i1111Ia,;ão, in/luér.cítJS extemas ou do comixexo do IU!gro.
o ideal de fraternídsde cristâ<Katólico. O lado curioso dessa ~ndo a nílturaa do di'<!mareal das_.J>O_p~çõesnegras e..me~
at:1bfgua situação de uansição aparece na salda espontânea que
se deu a esse drama de consciência. Sem nenhuma espécie de
tiças. o
~es
P:ª7lque a egraylsÍ1o
d_! ra<e.!J.1ided!:.
sra para.gi;are~~ <h.m1a,,~
C'istã, os · ·•~ da inregras,ão D.!;
farisaísmo consciente,µênde-se a uma acomodaçio <X>ntrnditór§ ctoruil numa sociedad d e a ~ e o " aoco"...Jl!2;?eJ:l!k a um.
.Q"preoonc!itode eor" é eondeni!dosemrcscrvll.S.
comose eons- u iro a ustament0de " ·• ç,J:. Em lugarde procuru
mmsse llJll iinl em si mesmo mais a c!:Ínte ra ~m· o pra- entcn r como se manifest.a o "preconceito Je cor" e quais .são
. tique o que p,ara...9l!l,._tn
sep st~-i_tima · a e preservar seus efeitos reais, ele suscita o J){'rigo da absorção do racismo,
os antigos aju!!l!.mentosdiscriminatórios e preconce1ruosos,porém, araca as "queixas" dos negros ou dos mulatos como objetivação
é tiêlã - toc,h•mc uc se m:uitcnb - ~ desse petigo e culp3 os "escran.r-...iros"
por semelhante "inovAção•
· esta ões s:un ser cnco nas ou · timul:idas(mantendo-se estranha ao caráter bra.sil.eiro'Y
como a o "ntimo"; que s.,l,si~te no 'recesso lar"; ou se Portanto, o que fica no centro dns preocupações, das apreen-
associa a "imposições" decorrentes do modo de ser dos agentes sões e, mesmo, das obsessões é o "preconceito de não ter pre-
ou do seu estilo de vida, pelos quais des "têm o dever de zelar'TJ cooceito".QS!ravés ác processos de mudança psico-sociale sócio-
i![mbora o "negro" e o "mulato" façamco;:itraponto nesses arranjõs -cultural reais e sob certo; aspectos profundos e i.trevers{veis,
pelos quais o sistema ck valores está sendo reorganizado, eles subsiste uroa larga JX1•0.eda herança cultural, como se o brasi-
JÚO são conside.ra(fos de m11nei.ra explicita. Ao comrário, ficam leiro se condenasse, na esfera elas relações raciais, a repetir o
no bttckgro,md, 11umaconfortável amnésia para os "brancoa passado no presente. E:,,e me01nismo ada tativo só se tornou
Assim, a pres;ão ,;,e=dadeiramentecom?ulsiva, que poderia dar ssívcl - ·(trurnra sooec e.
outro conteúdo às vaciJações e ?,s ttmbigüidades ª"iológicas rela- a sar dn e:-,.t' -o da e;cravidão e tia wliversaliza -o do trab lliÔ
dorutdas com as avaliações raciais, ac:iba sendo neutralizada ab
ittitio. O~ aspectos verdadeiramente dramáticos e injustos da livl'~,._!'ao_!:.._~ .S..!ll.!L<l,.W~S-O.
cs.!l.tlnu9...~enso 2.P!.dfao
tradÍcfonalists de acomoda ão r-aci a ordem racial que ele
sin~ão são eBminaéos, atenuados ou esquecidos, como se não presuin•a~ J ! avia, o sunp.~s to ele que tal 1 -smo tenha
competi!Se ~o hmnco operar com u.ma balança. ele dois pratos. v1gênc1n1Ddicawna rc:al:dadchistórica tormemosa. Se não exisLe
)<ão é meu objetiv<1am11isaressa complexa polsrização. ~- um esfo o sb'tcmático e <X>nscieme ara · r ou t~
ta.ria de índ:cá-la p.ara situar aquilo que merece atenção especial a ver a cita situaçiio r~d nn erantc., ha , o menos dispo- uma
n<:ste deba.rDo ponw de ,-i<rae em IfJ!)lOS
-culnmü do "6ranco", o que ganha_~tro
da UoSicãosógo-
do palco não é o
sl~o ..E.~ "~es_er o J:t!SSaci.:.. 2
e ,2ar-z"deÍÃat_gueas collli _
se resolvam por si tnt:s~::J 1!-SO cq11iv~1e, do ponto de vista
' •',.,, ".:.'\ ,. ... ~ t"" ,.,.
24 25
)
e em termos da cnndrçãv .ocial do ";iegro" ~ c!o"mulnto'', a uma
condenaçãoà êes:g11aldadei:r-i21ci;tmtudo q·,e ela r~_!!;~ ~ de fo~ores forruim,, ;.ác;a~ a resis1:éncfa,'Oncta tal cre,.ro cu
_mundo histórico ~n.s!roíqo___pçlobrans;o_c.,2ara o branco. consciente, obrigatória e organizada. O ro:ndrio seria a::iolir a
própria '?S~.i.ua c,n que reJ.,'01L~11a
a diftrcnciação, a imegrn~o
e a conrinwdat..ic:
cla o:cen) racial prcSSt1P'-''"''pelo regb,e e,,c_--,,.
,·i:i4Zvigente.
U,o, isso. à r.iisce-.;maç-ão Cllrt(.-sponderar.imcca1lisn1osm•is
ou menos eíicazcs J;; abso.rçl,oc!omescico. O essencial no fun-
'--1\ idé:a de que e~!tir-ia tu:nade,no-.--racia
racfa!no B=asil,·ct:1
sendo !ome<:tãdah! :nuito :empo. No fouáo, ela consr.i:ui u:nn
•
oo::mnento <.1 .
esses .mea.n;smn~. nao =
- era ncr:,a a.<censãosoeiál--ae
, ccr!a porçãQ de ~gi:,QS-e- de mulatos nem a igualdade mciàl.
distorção criada no maneio colonial, c-..imo contrnpa::t:: da ind.:sõo
de mestiços oo núc!eo legai.das "gr:mde! fa:n:lfas" - ou sej~, j
1 ~ as.. !O contr2r:o,,J
J._
,. a h~e-:noma . .i"
....a T:f.Ça ann1;nante
_f • .,
- O'.! SCJ~i....
·-
comQ~"ão a ir.ec.ui,mos efoti\"os de a;ccnsifo social do "mL~ a clfcáci! d,istécnicas de ,fomb~ção racial que rna:ui:lham o nfiúi-
/6 fundan:ento ;>ecuniárioda CS,Cravidooe certos dcitos
lato''.:__ ~ríô "êlas:eiasões r"êiais e -~i~r~vam.._aêõiitinuj<Jad~ o ~em.
severamente pmscritos mas incon!~n,frei! da ei§Ceg.-;paçã'ocon- # cscravim,. Os casos que afe1av.i1na composição cbs "gr-&ndes
/ tri!Juíram para que se operasse uma e$_;>écie de mobilidade social 1amilias" iião<:onstitufa.m p:::ob.lcrr-.a. Não s6 eram pouco none-
)!, \ vertical po: :nfikração, graças à qual a com;,o,ição dos estratos rosos: as famfli25possufoni recutsos suficientE:spara educa? os'
raciais don:inantes ,eve de adqu:::i: cerro c\asticidack:1 mcsciço5 à imagem dn fi!ltll:I do senhor. Por conseguinte, eles
eram socializados pal"'.1sere!ll e agii-<:mcomo ''brancos", <i...qoe
Ko entanto, ma~ gr<1éo a exr.!,_nsa varfabi4t!adedo fenômeno eles eram, de fato, social, jur:dica e politicameote fala::Jdo/ O i
ao longo do tempo e do espaço,.icomo,.,.sea nllscegenaçãocomo prob!croas apareciano o:;tro Dível: com os lil>ertos,negros Ôllmes-
índi.ce de integu,ção social e C<mW aç mesmo tempo,
_s;,"t!_Qma. ciços e com seus c!escenéeores. No ~ontexto da sociedade escra-
de fosiio e de igualdãdc rad,üs:' Ora. as investigações 11octopc>- vista, esses tipos ·humanos já apa:cérun associados a oportu.ni-
lógiais, soc10!6g:= e históricas mosttarwn, em toda a p,:tre, que dades sociais qt2e eqcivaliam, fottl:'1!mente,a uma mudança de
a miscegenação só prod.iz tais eiei5-QS_ c;uando ela não se com- rt1:tt1t. Além cl:sso, entregues a si n:esmos c!es trabalhavam, cotn
bina a nenhuma estratificaçiio raciaQ9 Brasil, a própria escra- freqüência ( a menos que fos,e:n abso:vi,fos pela economia de
vidão e as .\:mjrl!Ç~$que 'pesavam sobre o stttJ1<s c!o liberto subsistência) pela conqu:sta de posições sociais mais altas, in1en-
convertiam a ord~ csc.ra<:istae a dorrunaçãosenhorial em fatores sif::C211do os estreitos mecanismos de mobilidade social verrical
e; em:atificrçio racial. ~ canseqüÊtlcia, a miscege:iaçao,dt:ra'1!,e de que disp:.:nhaa sociedade escr:w:sta.1 A questão ,onsisria, lite-
antes contribwu par,1_a~nU1t a JI!as;a da w1ilíiç:;o
_5!;,c;JJQ$., ra:.mente, e.-n ob:e.- a itk-nt'fi,:-acio d~sse; icd:vfduos ao.s ime-
~~v:1 e pãta clifÇ',Lenciai::..os..em:RtnS-.~i:_renclçn..t.~
jotcrm=liilios. resses e valores socia1sda "ra,,-adominante". Como o controle do
que p.~r-.ifomc,ar a )gy.i!dss(e_t:K:ii\J.l ll p:cc:;.o que se ceiili.â :11ícioe do fi:n de reis mec,,nismoo se concentravam nas mfos de
em conta que e.a antiga oocieêadc escra,·:sta o "escravo" mo reprcsen.tancesdess" ".mca", t.1I?roblema foi resokicfo de forma
c-a tlca. entidade social mals nece~.sárfaque o "'liberton. lliistiam
pacífica e d:ciente. C=icu-see diftlndiu-se a imaSS!! do ".negro .1..
~pias zo= de diiereoci'!S'\iQ...Sotjal,,_cooa:rnentes a o::ueações
ou a ati,,i~es- gJ?-s6 o bomeo scmilivre godexia _realizare que_
~~ alma~nca" - Q rntó!iJ;o co uegro ieà!,devotado .i; seu-,\ o/
sen.'ior,à i-uatamília e à pro2ri.: ordêm socwc1ristente. EiÍlbora
não !ntetessari,,n, ao f-:omemli•,rc:& ~êcdc:>te O mest:ço, co.-n essa cond/çãop::éfosse'm, oc-.isio~Imcnre,rompidãnoinício do
freqüência, º!~~~eu º. ~:ontuw.nt= .ernogr. ':° goe~m1~1a s.a~ processo/ ne.O.:ut.'111 ';negro'' ou '~e1llii1!0>> .;,od~riater co:xU-çõcs
rurax ta:s posiçoes soc121ss que eram eisenoa1s para Q...E:91:U,l<fmc;,
de c:.-rulnção e dr mob.:lidade ,e nfo correspondes;e a senie-
do si§Je".:nade c2m~~o_es,cravisca. Futn e acima desse nh•cl, lhnntc figurinn.l ;Qgí_ o_p_a,,ad_!'xomrioso. , ruoh:li_dadLl:]lmi.nou
ãmiscegen:iç..'ioteca de en\"uhce,a tr,tni:nis.~fo Ja posição ;ocúil
da~ pareutdas ~:borra:;, com iua~ ptn!)rieáades, possi.bilid.-tdes alg-c1m:;.s b.urdras e resubg!u outras ,1pcnas para aquela parte &
d,e maodn e pto:,abiliéades <le 1,c:der. E=. Ienômc:,x, $<: d;,u, ."eopul~ <lc~r" ~':!:,...tL-ci~va.,,!.>_ ,<iJig::>mozal e g;Jn~i~se,i
mas = e quase sempre scb 2 :nffoência
escala 11:11'ro.tt<li1'1-'<lã ID<:re.;m:s
- iclõ1u;11acao
-i;-- scn?.,c,11â!.
..,,......__ !
- ili -~ .f,se§
ê_..,,r,:,,,
m~~..!.lW x_nerc,!<l]:ll!!Ul 11~!1!,"0CO!nü tal, pu,s e,:ar, t:d~ como
_..,. los
-- clrcu - nu•
?.7
obra (b C'llpacidadc<le jmiJa~o e da "bQa, cep~ ou Jo "borJ
c.xemplo" do próprio bra11,co.O:; k.su=essos, por rua ve:i;,en;m /Í,crc= não_~ tJue f!ão_;e pr~~so~. uma democnitiza?.o
rear;Tã rcnd", du pod..-re dõ prestigio socrnl em lerlll0$ racrn.1s.
amõuíÕO$dirt-tamcme ~ iocap:1ddade rcsit!ua! do ··negro" de -,\sÕpÕrnmidaàcs surgidas foram .l?ro,·e:tadas pelos gtu~os me-
il(ualar-sc ao "bNnco". r:~sas figuras desenpenl,aram, dessa m:,-
!hot fOQ1.l1znrlo:;dã "rn,-1 domiDaiitc", o que c:ontribwu~~n
oeira, o papd completo da e.-a·efêt) qur: confirma a regra.. for-
neci.un as c:,icência; que i!emo11stnitinmque o domfnio do .ocg.ro
aumencar" coDr.e1urncaoracialda renda, do podt-r e do prc;tlg.io
pelo b~oco é cm ; \ mes:uo nccc,:~no e, cm última in.stân<:ia,se social em b~eHcio .:Ío bra":'o:J:'Jo .~oule.uu 1:ns-t6tico,,
~~ido
fazia em bcneffc:o do pruprio negro. após a Aôolrçfo, (>Ol'Ulnto, a u!e1e da deo,";""tlll raaal acabou
1
sendo um e.-qJe<lie.a1e (JY.lranão se cutrcntarcm os proble-
i.11lCial
fü,r aí se vê o q\te resultou d,1 ordem social viuculada à mas d,,conentes ,h tks:itlliç,'io do escravo e da cs-pcliaçãofinal de •
c,:crav,t.lão.Como nfo po<lfadci'.'<:1,: de sttet'!for, miscegeru1c;'.io
<,__\
qce foi víúma o antigo age.:>tede rCllbalho} e uma forro~ de aro•
mobHiJ.at..fe social ver1ical op~T~ynm-$e<leniro dos Umires e se.. \
u1odsção,1uma dura realidade ( que se mosrcou com a~ popula·
~lo a, mn,eniências caquda orc½,msocial, na g~l efas prec11• / ..,
de cor·• nas cidades em que das se concentr~~' v1ye11do
~-õc.-s ~'
difa:!,lfun<;&., ~?ciaisrele,;111tcs para ~ d.ife=c,ncioç,lo
e_a~LÍll\if- p1r>rc-,condições de desemprego d:sfai:çaclo, rn=na slSl~roáuc~
ifaife <lacsrrant,cação r:i<:talcng;,ndm:fa pe"'1 escravidão. Ap-0s ,
a Abolição, ~rn que ~ tn-anifen.assequal<{t:<1tcr..<lêndaou pro- e <lc,or1t•lld::oçãosocial permanente) .. O. "negro" t.:v~ a op~~-,, _
1uniJ.,J,· d ,..-r lhrc; se r:io conseguiu i~ar~e ;~ b~o.,
cesso lc recuper:tclo fmrnan:1 do negro e do mufoto, e;ses feoô-
• o prol,lrm,1 cr• dd<' nao do "b~co"l..&'~ a cgt<le d,: 1d_éia
wcnos foram focillizados à luz do; req:iisi«ls_ccozômic~, /u::ícliros .._
,c,,1 1·aci.1Ij\lstifkou-sc, pois, ,1 n1a1sextrema .Jl:ldife.•
de r.xerr.<11:r
e: políticos da o.r<lemsocial cnmpetitiva;,b-1:"""ºu•<ra ver ne~ ,, -"":(' ·:
fenômenos a llli!('ti~da..demcia•ci• rac· · aJon.e--<le-=\1ç;ío('
rcoça e TaltJ ele solicin:fodadeP'.U.t com um setor da colet1vid~ds_
psé'ínêapara a questão rnci,;J~ra,d. ,\ parte o q\1e haj:i dê' q,.,e não oossuE co~ .e1'.2Priil>
_par-ªe~ei1t:tr as mud~ngis __
( acarrctaa;;. pclãtlfi!v"'.salíza~'Eo d<?.-Lrabàlho,!i:_ree da compensa~
veooadeem tais verSa!iZ<1çõe:;, o faro é gue ninda hoje ª..J.lliSC~ 0
Ao mesmo tc:m,>o,assim que surgiram condtçoes J?Oll'll que o pro•
11e.oação não faz parte de n.rn.nrocessosocicTI:'i~in~~o das , ~
~ç:as',- em con<!!i-õcsd~u•kbde 5<,"<:Í~) A universalizeçiio do ,
testo negro cclodís:;c ( logo depois da primeir~ gr.lll~e guc;1a
e, em pattiL"1ar, no fim da d~da <le 20 ~.' ta.15 man,festaç~s -;
trli6ãlhõlivre Dão hcriêticrou o '·Gegro""ê-'o"mulato" submersos ÍO!'>IID~roscnta, cc.,10 se coru.t:1UÍ':"e.m um_ ;:,er:~o para a ~oc.'<>
n.1 economia de subsistência ( o qlte, fliás. também oconceceu
com os "brancos" q>ie fizessem :,arte desse setor); m:,.;, nas dadÇ..j Em co~egüêncfa, as prutX:~as-mru>1f~st,1çoesf:'S\>O':taneas
condições c·m que ~ eferuc:1~eiú regra prejudicou o "negro'~ do "negro" nn lut• por certas ~on°:.çoe,;~ _1~11lld•de;"ctal ~'.
baSçs co1et:vaseclodiram no vano, 0<10sens1b1hzaramo 'branco
e o "mulato" gce fa7.iam parte <lo sistema de ocupações e;sala-
ri.adas, mais ou .menos vici.oado! ~a competição com o cmi• e n.so chegaram a dí,,amizat nenhum me~ism_o efici=tc ( ou IM·
grante. '9 resule;,do foi que, tr8 Q!!2rtOS de ,::culo <1_?Ós a Abo- dência atcnt1.1d:ique foSSc j de democumzaçao racial ds rends.,
lição <1inc!asão pouco nu:n~tosos llS scgmc-ntos da "população do prestfgic, social e: do poder.
de c~r" qi1e consq:uitam se :.Ot(.111':lt. cfctivamcrite, na socicd~c E-ssequadro i:evel~que s chamada "deo1ocr.1ciaracial" não
CQJD.Petitfi"ae nas d.asSj'..'ssociais que .1 CQ1n1sõcm':"fAs L'Viêênc:.is tem nenhuma consistêocia ie, vista do logulo d.o compo~ento
a respei ro são co::dusivas ( 3 ) e: indic:un que ní'lcbtc:nu, um coletivo das "populaçõe.s de ror', constitui um mito croel.LQj_nd~
\,om caminho a and:1r porn que a "população de cor", sob hiP<'>tc:sc assiro, mau grado os contoroos negati-.o, desse quadro, existem
de crescimento econômico contínuo e de persistência d~ livre cercos elemencospote11cialn:.en1e Liv~ráv~ à einergê.oci:.\e_à c_on•
compel:~ Í!lter-rac:al. :alcaocc resultzdos cqu:vakntes ao, dos • solidação ele uma autêlltira democracia racial oo Brasil. Prune1ro,
bra,icos pobres que se hcnefir.íaram do ,:kscnvolví,-ncuto do País na economi11ire su!lsistêncw, [llU'aonde refluiu gr.mde parte da
sob o regime do trabalho livre. população de origem escrava ou mestiça, o. iú~e.lruneiuoé ui:n tato
iocome,1.1vde coctribuiu ( ou está co:itnbuu1do) par:i elnnm:1r
{3) St-b1co :immto cf. especialmehte L A. C'..ost:t Pbto. () "!\'e1.ra os efeitos econômicos, soeisis e culturais das diferenças ttciais. \
lfORi~ J.{!Janeiro> ~;-. III; Flor~~ F::=tir,cks-.A rntcp~-f'in d!; l\'ef..rO Segundo, o desenvoh,;meoro econôrn:co _recente Sinicialmente,
à S<>1:ieJ,.id~
de C:";;:s~:,pp. 100-1H. da industri.ll.izaçãoacelerada no Sul, a parttr de l94J; cm segwda, J
28 29
oorn :i políéca de recuperaçãoeconômic,; do No~lestc " de outras a orJem __ soci.al competiti.·a não se impôs por igt1al cm todo o
\ áreas em tJUe a população mestiça é pr<:00nder,m~ «:m favo- Brasil [l),:: um lado, seu dcs,onvolvil..'lentor/Ípldo coincidiu com
'recido, in,ús que oo pasSildo, a u])()pula,;io de 52t:}/ Os da<los a espan.,ãodo café e com o surro urbano-industrfaldo Sul_ .Ela
mo~traw que Cl,seus componentes oontam, atuahiie11tc,<Ximopor- beneficiou os drculos ,fa "~ don1i~1ue·• <JL'C ocupavam po-
llJ.rudackscomparcÍ\'<'ÍS ils apro.-citaclaspelos imigrantes no fim sições estr-dtégicas r.a estrun,ra de poder econômico e polírico ~.
do sééulo p;1ssado e no começo do sé."tJlo XX_ Embora isso já numa extensão wn poa,v menor, de inkio, os imigranteseuropeus-
s.,ja uma desvantagem, significa oportunidades ele emprcf!O e de De ourro lado, ela alimentou o C-Omp(irtanienroinovador das
integração no sisrema de d.,sscs. lrercciro, com a desagregação dítcs no poder e dos gmpos ascenc!cnte., de modo confinedo.
da ordem eS<:t3\-isr.a,se não houve uru aumento r:ípido da roletân- Nir'8l!ém se preocupou com as questões cr-1e
camm fora das exi-
ch racial, por causa d.a petsi:t<ência c!o antigo padrão tradiciOlla- gências .llllUSprcmem:es d.is coodiiõcs econômicas, políticas e
lista de relações r,iciais, ocorreu pelo UlCDOS um abalo nos focos jurídicas da expansão do capitafür.io ( oo âmbito da prott.-çíio
que mantinh= es barreiras sociais qL-e se:parava.in as "r:,ças". do café e do estímulo ao st:rto industtial}. Ili\-~
contradições sociais
DAí resdto:: um flbrandamcritooo ,cna atenuação dos critérios herdadas do pas..5adoe que cntr~\•a,;am a integraçiío do "negro"
intransigentes de avaliação racial, que prejudicavam o "negro" e do "mulato" à ordem social competitiv:i emergente nlío interes-
e o "mulato" de fonn-.1. irremediável e sistemática]/ Esses três savam senão à "populaç:io de cor", de resto a única diretamente
el2men10s abr= novas pos,"ibilidades,pois <Xima crescente opor- prejuclicacfapot aq,ielas contradições. Kão é de estranhar, po:s, 1
umidade de emprego o negro coma, pela primeira vez, com pro-· que os se1ores favorecidos peb dinaoú.zaçãodo desenvolvimento
babilidades de ascensão social que o classificam na própria estru- capitalista voltassem as <Xistasno drama hllDlanodos desceru:lentes
tura da sociedade de classes; e com as tendências de suavização dos ex-escravose, ainda mais, que ignorassemas implicaçõesnega-
dos critérios de avaliação racial o negro deixa de ser, i=ravcl- tivas da falta de integração da sociedade nacional ao nível das
menre, a mera "ex~ que confirma a regra". Essas potenciali- relações raciais.;J/Eles não se mostraram se11.s!veis a outras mani-/
dades são sigllÍ&a1ívase, se continuarem a se expandir, o Brasil • {estações do mesmo fenômeno em níveis que os aíeta~-am de for-
poderá converter-se na primeira grande democracia racial do ma mais direta, colllOpor exemplo o da falta de integração do
mun,do criado pela expansão da civilização ocidental moderna. mercado cru escala nacional e o da f.alca ele integração política
da Nação_ :'.'Joconjunto, a politic« que fomelltatllm revelou-se
eficiente no plano restrito do crescimento econômico mais aces-
A~ Perspe~tivasFuturas sível, mas não levava em conta o problema do equilíbrio da socie-
Essas conclusões são a1tamente promissorns. Entretanto, dade nacional como uma ordem multi-racial
síio ootórícs os efeitos de certas in!luênc:asque cootrariam ,1 via- Em conseqüência, a reintegração do sistema de relações ra-
bilidade e a nonnaJ.idade de tal desenvolvimento. As peculiarí- ciais ficou enrregue a processos sociais, espontâncÕS\• Na conjun-
d3.<.lesdo Brasil, a esse respeito. também são notáveis_ O risco, tura histôrico-sodal que abarca os três qtlaitos de séêulo da era
no rnso brasileiro, não procede ( pefo menos por enquanto) do repuhlicana, isso s'.gnificou que quak)i:er mudança estrutural na
agrav:uncmo das tensões raciãis e das perspectivas {pelo menos esferadas relaçõesraciais irfa depender do impacto do crescimento
imec!iat~) de uso cronico do confl:to .racialcomo técnica de mu- econômico, do dcs<?nvolvimentourbano e da cxpa11siíodo regime
dança. Ele provém da persistência de estruturas atcaÍças que de classes. Ora, até 1945, grossa modo, esses fenômenos tiveram
~cs~ .t:1~ '!" _me~s incólu~es. as gran~es tran~ormações po,- cenário um palco limitado: o Sul do Bn,;íl, especialmente o
~iffiio ãfetanác,~oc;ec!adc hrn;ile11;;1.,
Aqui, é p=o atentar eixo Rio-São Pfülo e os br211cos que comandavam a economia
pára o fato de que a mo<lemi2açãonão se processa <leforma igual- e a política dessa região, l"Om os oontingcmcs de inügnmtes que
mente homogêneaem todas as esferas da vida social A impl:m- se incluíram n~ tonente históric:t[Opcrou-5ç, p0is, num contexto
t.i~o. da ordem social compctítiv;1ceve conscqii€-..oêiilsprofundas, de mudança sóeio-econômica rcliltivamcnte acelerada, urna grande
pnnop:,lmeme para o dese:iwulvime1110 econômicoe a orientação concentraç-io social, regional e racial da renda, do prestígio social
do capitalismo numa direção típica do mundo moderno. Todavia, e do poder. Os dois resultados gcra:s desse fenômeno se eKjlri-
31
rn~~n: Lº) na ;11:sorçãodo snciio p,,drêo de relação ,:m:ial pch : 1 ad:::pc.:r infil'trac;ao:
b·1·d • a p:-o;,c:nsao
- e.o
' ' · n:r.;c n~ro· .,, !Dai$. ou
sociedade ele classes; 2.º) 1o1 estagnação rdaliva de oumis áreas u:cnos sensível ,,s \:Ãigê11d3scamdc-:11mal competitiva, entra
do País e, em parl:l:ular, das áre,1scm que prevalecia a ero1101nia cm mnflitu crc><:cntccom a ma::ipulação de se11~i.uere.;ses, sen-
de subsistênci..11.
A i~o cottespundeu,Jl.!!Lttalmente, uma tendên- timmtos e aspitaç&-,; de acotdo cem o mcxk:n ,b "~ceção que
cia gene.:al.izadade persistêncui de fatores arcaicos e arab:an1es confê:rmaa rcgrnH.. Lsse .:cr:ovnDC1,vro·,aspira a \~t conlO o
na erleu_ ~ rclações .raci:ús_:; De um hdo, porque a urck-m social •<!Jra::a)» de n:vd social cqu:val::ntc e prefere isolar-se ~x:ial-
cumpet10.a n.'in e:q:urgou a, sociedade brasilcira de a,'tlliacõcs mcntc a praticar um m□ércio racial que ;ncjuéicaria sua con•
raciais inooru.istcntescom o r~itl!<: de efosses e, dado o estíi,;Dlo c:c:pçãc,d,: dignid»de hmn,ma. Neste fom strrgcm as evidêncr.is
à cun';"'nltação ,-,,ç-jalela renda, c!o prestígio social e do podei-, ,ue 2rormentam mais pr~undo;;rrn:atce c!°'or!:::ntam as avaliaçfx:s
mccnt1vou L>ovo~ focos de d~n:imiz,ição do "p~econccir.ode mr" dos círculo.~conscr-,•adorcsda "raça dominante.,. ooi~ v&:m n~ssa
segundo formas .mais <:xpl:citase chocantes quc no passado: )); ~ LJ ,. " cnnt~ o. b.t.anco " e mn . " );."C'ngo
pr-opensao HOlS! rene c:1~
. tad.a.1
. . ,,.
01;tr~ lado,, porque :i relativa esta:iilidade das outras regiões êõn- :1 sei: contornado.
tnbUJu poacrounientc pa.-a co1l.5;;rvar roais ou menos int:?tos vá- O exemplo for:,ccido pclo gcc acont<.-cencm São Pfll.llo em
rios aspectos da ordem m1diriona.lista que colidiam com a fo1e- co11exííocom o segundo ciclo da revolução induso::al mostl-a que:
1,•nçãoe o dc~cnvolvimemo<lewnn sociedadenecional. Tinll'I?
a mudança social c:spontimea tem prolxibilidadcs de sru:,~ <:s:.as
cs..sesaspecws estava, naturaln.."><:ntc,
o das relações rad,,i$. O
pequenn~ fontes de tcnsõcs.áÍ>éJ)Oi~ de 1945, o crescimento cco-
úni~~ setor _g~':poderia contribuir P3ca a difusão de avàlíãçõcs 1iômico constante e a necessid,~ck de procurar a mão-de-ohra
raoais 1gual1t~\1j\S,que era o tLt (,conomia de suh.sistenci1, cs:av:i
bloqueado e o oivelam<:nrosocial que e!e fazia era um ni,;cln- dentro da sociedaden.1cit'.?ªI~bri ~. muiins):,onas que ílmes e:;m-
vam fochndas ao "1tc:Mrt1 <: ao mubtom ~les1no firmas que
mento por e para bubco,pois ''brancos" e "negros" se confun-
diam dentro dele corno parte cfa "ralé" on da "gente baixa". foz<:mr~~triçõc:-babertas ao ·'ct-abalhador de cor" tivcram de: pro-
ceder de modo mais ou menos tola-ame. Isso fzo1lton a inclusão
O perigo potencial de serudh~ntes desenvolvi.meatos-~ ao sistema de trabalho a m;iior nú,rero ce "pes5oas ele cor";
sido percebidos socialmente. Primeiro, porque as disparidades e, de <>utrolado, ajudou n s,rovocar mii,'1"açõcsimc=s que ,m&:m
de distribuição social da rem!:a forçaram distinções sociais que a re d .1srn·1 · '·'negros
"lU.lt '' e " mc.sttços
· » dt·ntto a
ao n.,
r"'J.JS ( o qu1,;;
À
se tornaram demasiado rígidas c-m comoaração com o que se aumenta, coocomitantcmcntc, a visibwdaéc do "bomcm éc cor''
admite consensU'.llmtnte.Como <!!SII.Sdistinç6es eclodem com •• rda'
e sua to 1ctanc1a .• ou meno.s ex.e1u·
· Hva por ~Eµ:ru:~tos ma1::i S!-
mai-Ornitidez nas relações Je "brancos" ricos com ºnegros" ou vistas da "raç:a dominante"). Ccutudo, csSé processo é m-uito
" mesuços
. " pobtes, smwu · o temor a,emuado de oue el ·
- 115 "intro- lento. O stu ·rcmltado de maior en=~~dr-ra foj o gpattecimmro
duzam no Brasil o conflico racial"! I Segundo, porque as mesmas de uma classe média de cor ( sob muitos nspectos urna classe
disparidades agora envolvem brancoo com tradições culturais di- média aparente), <Jlle não ret"efa 1T.11'r.a dis1xn!çiioa rc:mpcr com
dífercnres. Descendentes de imigr:1nres de várias origens fu2L-m os bloqueios que impedem o <11>rovei rsmeoto o:a.is rá_pido Jo
• pane das elites no poder e embora compartilhem da ideologia "homem <lecor" e anelam ou .restri.agemO! efeiros de sua mobi-
racial dominante:, Ía7.em-nocm função tias tradições 01hurais que lidade so-~ial ve..-tical. Há matf.cia p,u.\ i,ensru:-se, portanto, em
tran.s~a.ntaram de oulns conrunidades nacionais. Por aí também ,.isccs potenciais.~~a medida e:n quê os die=tes círculos dli
se ins.ilam fotmlls de avaliação e de comportamentos que colidem "po?lill!Çâo de cor" passem a pa.-ticipar ath·:L,1eotedas asp!rn,;ões '
com a propcruão de decoro e de harmonia aparente que gs .G.- de: crnprêgo, nívds de: vida e oportunidad,:s d;; ascensão social
núlias tradicionais b!,!lsilc.iras sempre procuraram fomel)tar no que se tendem a univm..ilizat graças ao déSCll\'Ol\'ÜDClllO urbano,
troto com o "negro'.'. Terceiro, porque a ascensão social do é pR'Sinn.Ívcl que a tolerância Co ' ne~ro ., e Co ºn1-u1ato diruite
1 1
'
negro e do 111clatoestá se proo:ssando, ele maneira crc,;c:cme, de da.s "inj1Lstiç:assQCÍais" q1lC~n:em ir:;o evoh.1irdu passivic)ade à 1
formaque dificulta a prcscrvaçiio des antigas técnicas de soci.ali- agrcssividarlc.JlDomro fado, a questio racial t.ainbé.Cl atera o ,
2,)Ção e de conn-ole do negro e do culato--:-Não só muitos repelem equilíbrio da sociedade i:;acioruil. )/ão po<Jerá ba.-er iotegrnçãu
os conhecidosmecuú.smos de acomodaçãoracial inerentes à mo• nacionlll, em bases de um regi.me t!emocrátiro, se o. diferente,;
32 3]
tstoq11es raci:iis n:io s-01m1
...-em com oporrucidad\:S equivak·m:es de Bl.BLIOGRAT7TA
SUPLEMJ::..YfAR
p.articipoçlo da, estrutures naconais ck 1>02cr.-
.[A cünjcrnçiiu dcs!>tSriscos só poderá ser obtidn através de AZEVf.DO, 'l'ha!o.: L?1 EJile-sdt C.oufr•r;T u~sUne Vi:!~ Brétitiem:e,
Pnris, IJNESCO, 13>3.
uma radical mU<.h~a de 3:ilucle,;di:l:llc da 1.1uc,rãor~cial lm,
porta, em 1,runeii-0lugar, qu;, se indua o ·'111:~,yu" e o ;'m~lato" lSASIIDE.,ll<.le=-
e Fcm:n1&:s, Fl~~n: e Negrose.t!'l SacP::ulo,
l<..r.ina,s
2.:. có.. rC\•i;.:ae -:i.nµlfat.b,São Pa:1ln, C".or.,~ E.diton X~nal,,
( romo ot1tr.\S"mir.orii:. frni~as, í:aci:ús uu-ruiuo!WS")'Ji~ pro- 19)9.
gnl1nsç.ifo ,:lo desenzcl.in..,,nto sócio-eco11õn1icoe nos~Íl"TOjeros BICTJOO.Virgfnir:.Lconi: "ALLt.:dw..--s
ê,os:•.-..·:;1r.os
cios Gfl:Jl,)OS
Escola:cs e:.n
que VISffi'I a p.:,~nt:11' n efioíciA da ;ncer;raç.'íonncionnl ))ada Rclação co:o a C'.or Je Sem Col"&"<"ir. O'.\'E.SCO-f,NJ th.\l:!11,
à con,õ71:1'>!Ç:ÍO 1·,ici,11cb renda, elo pre.,tíiio social e ê:!õ""podcr, Rd.irl>u en:-re N~rM .e Dr•11cr;s em Sãf> '1>.:u!o~São Pu,lo, _faiitora
~ "populaç5o de cor" não possui n;:u!:lluna vitalidade para en- Aoh<onbi L..da, t?n, p,:,. 22,-310; "Aritud:,s P,seuis de Prc1os e
Mufatos cm São l'•u1'>''. S«:io!cgi::, Vnl, JX-N.• .>.Sio Paulo, 19-17,
trcnt:r e r,-sul\'"cr seus probkm.l, m:ite.r:.és e worais. Glbc: ao pp. 19~-219. •
80Vcmo susdur ~ltcmativ;is., que virfom', aliás, tardiamente.
CARtx)~, Fc.nanc!o BendqL.C.: Cap!tdis~o e fu·cro!.:id~ .....o llra!il Me-
Nc.s.as altcmaéva,, ~;;cobrizacão, nfvd de cw;m,go e desloca- •1, º" d, Slo Paulo. Diíu>Jo Ew'opéiodo Livro, 1962.
nY.;nto de J><>pu!a<;õcs ptt-cisr.riam ganbar enorme relevo. .Eni
e hnni., Octávio:Cor.: /,fobl!ü.1ade
CARi )~ ), f,:rn1l li.,l lc-nr1~uc. 5tX;4J
sun1.~ ai se necessita d:: mn programa c!e eombate à miséria e a , / ,1 "' MI,, S, o l'•ulu, Companhia Edimrs Nacional, 196().
seu, efeitos no sm!lito dessa po?ubção. ri::"'11 segundo lugar, seria
qce o "m:gro" e o utndatou- mUdasse111
ne::es...:;tfrio suas atintdes <t)l> 1 \ 1 il\ l'O. 1 \ Ja, I) ',/c;;ro "°l<..-o
de J•""'"'•S-:i<,Po'Jlo, Cem•
IM 111 ) Ji1 •I ~ k 1l1 J~5}
disn~ dos cf.lem35 do HhorrY.:mde cor':J/Co::no os únioos inte-
ressados direws nos ;!=!lrados d(-ssa in(e-g2ção, deveriam devo• llll ARDO, 0<111,•• d• Ca.11: Tbe Negro io Nor:h,rn JJr,e'I, SeAul~,
Wa-.hmgwn. Ur.iv=il)' oi Wa,hlagton Prc.$, 194&
tar-se a tal objetivo cem: maior tcnacidat'.e e discero.imeoto, seja
p2ra co:1quistar unia posição na sociedade nacio11alcomo e en- L'l'.RNANDES, .to Nego na Soci:á,d, de Cl,nm,
Flú:.:s1:m: ,1 1":e;:µ,çi.t>
São 1',,11!0, Dúciuus E<l:10,•S/A.. 196} (2 wls.); "A Pems:ênd~
quanto "grupo", seja para furç,,r ajustamentos mais frutíferos do P~sê.o" ( Co.-:f,,re.~;;e f.1!1 Rae <.:olor,Co-penb:a:ger-:..
oi..:'J.d 1565);
por p,me dos "braocos" .(Em terceiro lugar, cabe aos próprios ulmisµcion ~.nd Rilre Re~tioc.s" (Tbe lon,'er-ence Qr. R.:u ,md
"brancos" um esforço decreeducação, para que deixem de falary' 1%5).
i,: L:tin l!mh'ir:.u:D:u-ingtbi! J.\\.-:ior.r.t
Cl.,:ss:1 Puiod~ No\-a Jorq-.at,
em "democracia racbl" sem t1ad2 faz ~ <le concreto a seu favor
e fazendo muito no sentido con~ári~ Sení dilícil que o govern rREYRJ:C.G::h.:to: Sobr.rdott ,\/uca,.bos, 2: cd., R:o c.lcJan::i.ro,Liwaút
José Olyr.ipio Llil<ln, :951 (Vo:. 2, cap. VIIJ; Vcl. J, cap. Xl};
ou os próprios compc,ncntcs dn "população de cor" consigam O M::mdo qu~ o PorJuzuh Criem. Rio de J:u1ciro,.J..!\7:irl.J.Josl:
;11
êxito diante da irxliie=ç:i do "branco" nesse asst11110. pre- 1 01:;mpío lidi:u::i, 19.;().
ciso que se ct1mpre~nda que uma sockd:ide nacional não pode FlJR'l'AfX>, Ccéso:l'orms,;ã<> Ecor.6micado }J,.,,1, Rio ée Janciro, Eéitott
ser homt~....neae foncio.oarequilibradamente sob a permanência Fun<lo<l.<Cullma S/A.• 1959.
persistente de fatore; de desigi.1aldadcqcc solapam a solidaciedade Cl:--iSBER(;, ,\nica M<:ie: "i>d<!uiso,,,obre a, Atin:dcs de um GruJ>O di:
113.cional:Alétn disso, c~rn ck cvohúr para o~õe;; menos.roscas / füct>l.m:•cm Rcla,;iioJàlm u Cótnçu de Ccr", /11 UNJ:'.SCO-
i:: egoi;uc;is elo que vem a ser uma democn1cJÕ1' Nnda disso se ANHEJ\-IBf,,rp r:I , pp• .Hl-361. .
conS(guirádei:llTode um pra:zocurto, porém, através do,; efeitos 111\RIUS.M,i•,i.n: P111tm1Jo/ R.11~ i,: ibt Ama-ius, NO\'olcxq11c,Wal~er
~b mud.~oça social espontânea. O que e:la podia produzir está & Co., 1%4.
pate:ite e ooosrrnque, em vez de elimillllr.mos a.s conttedições, 11\NNI, O:tovio; ,'J !l,'t,:,11or{ase1
do EIQ"ai-c;,Siio>l'OU:o,Dli<l$ãoEuropéia
~wllCllt-runos
as tensões ancig:1.s
e criamosoutras novas, de poten- <lo Llno, 1962.
ciali<fadedestIUtiva ainda maior. Convém, {)Ois, que se inicie LOBO. H2d,tod: e Ak>isi, Ir-:-né: O 'l\~ro n~ Vida SociiX Drasifei.rtz Sso
l'a,Jo, S. E. l'srnr>ln:a, 1\41. •
um program:1 caciooal voltado oara o dilema social des minorias
que n1io têm mndições autôno:nns pata resolver rapidamente os .\11\RTUSC.:ELI.I, Cm,Jina: "Uma l>s::squis:.,obre Aceitação de Grupos
G,-l-'JX'$"Racüi~ e Gru;::osRq;ionfil, ei!1 São Paulo'',
Nac.lc.caES>t
problem~s de se~ integração à ordem econômica, social e política &,letim i!e p,;a,iof,ia, N.• >,l'xuldadi: de l'ilosofia, Ci.nciase Letras
i=ente à S<.'Ciedadcnacional.. da Uoiv.:rsidadcde São Poulo, 1950, pp. 5J-7J,
JJ
MO:lEIRA LEITE, Dame: "l'rooiocd tu iucii e Pauiotwno cm Seis o, tn16alh(,sq,.1e ~ de.eo,'Olvcm na ,'usocioçãoCul-
Ar.on,..,cllllllJ.:>
J,i.,,·"'Dkl;1iru. de Pr;oologi,,N:
l'ri;.;;ri<» ll.rasile:ro<". H,,1;::i,,:1 tural elo N~ro, aos ltalrus c,-peri,,x.n::ús (d: oriCTtts;,õcs divcrs.tl), n~
>,cp. e!:., pp. 20(,-2} 1 AOASE••na fcooaçoo éo,s Bra.<ircirosd~ Cor (<1u:co,g:ct~ ci~des no s:il
SOr.t,;J',J.Rl,, Orot1·: ·t<oJ,çõcs Ra61i, no Mnnicip':o J.. ltg;x:cininga~, do Esu,cn) e oo:w emiw<l..-sori11ndascl.t rett;io do C:c:mm10i:cgro Jian:e
it, L:-.°ESCQ._'\Nl➔t,.,\11\l, op. cit., p;,. J<,2-5.54;"l'tt'<X>na,i-:ode do v~-ooaeiro, FlorestanFcrr.a.nd<"S :.tfirml.que "<=SSCS mfr.i..c1tnros.tlltStem
Mat,.-;it l':..ro:Jô:i,o Raci,t de ~.n", Anit do XXXI <Angrerso de neu:$:s:ch~se>,..i;t:$ Ímperi053,; n&S?O.Pula~ cq;ru". ronclusiiob::lse,,d.11.
de A1'1trieai:i:tot, Sãu P:i»'o, J¼_to."ll il.:ih:m)>i L.lda. l'Jj.5, Vo'. I na posqu.is3rcsli7.ada por <!.: jo:11.am::;itecom seu anti,,;(, Vtof<:sror~
-;,, 409-13 ,; ~11,:1udo O.:sfaw"'l\"tis de Ali;,ms ktunciautc, rlc São Bmide.
P,,..;o Clll Rcl2çi:o""" Em'()ftt•clos de e,,,;•, Sociolotil, Síio Paulo,
Vol, LV•N." 4, 1?42. op. 32S-J;i8.
PffiRSON, Dou]d: Bw,c01 , Pr,ros ,:a Bahia, Sio .Paulo, Caaipae.hh Após 11 Abolição
E-:!:,.,,.,,N:lcioooL 1945; "Lc P.ciui)é R1tdal c!'A11nõsl'E1udc dcs
S!t.1at:xnslla.dak..~'\Butk:it: l1mm:$t:Ona!, -da Sc:er:ces Soddes
Pcis, Vo:. ll N.• 4, 1951J, ;,p. 48&-500. ' - ''Dll.tllnfe o período c6 escravidão - diz Florcstnn Fer-
l'R/\DO JONIOR, Caio: Form,rio <loBnssil Co111w1P(JrJneo.
Colaaia, nandc,; - o negro viveu em estado de dependêocu social tão
São P:u.:lo.LlvrariaMart:.llsEcfüora,l ':)-.:12.. t.•,rlrcmo, que não chegou a participttt, autonomAmente, das for-
R l.llLIRO,Rer.é: Rclig:iio , &!a(l:,r Rac:iw, Rio de J•ndro, Ministério mn, de vida socfol org,alliudas mínimas, co[1)0 a família e outros
<ic Ecuo,çiio e CU:tw:o, 1956. RTUJ)tn('llln.írim: de que se beneíiciavam _osbrancos. A Aboli&
WAGLEY, Ch9r:... oom o col2bcnçio de Harry W. Hutchinson, Macvia oconcu em condtço~ que foram verdAdem,mente "espohattvas ';
i:farrli e Ben Zi.mocrm:m, R«es ct Cia;s:-s d@i k Brl.síl Rural, ,ló Jlo1HoJc.- vi,ra Ja $itunção de interesse dos negros. Estes
Paris, U=:-:ESCO, s. d. t><'rdcrnmo úoico ponto de referências que os associava ativa-
WAGLEY, Cb:lrle. e Hatris, .\.1.u,vc<:i\!im;riJi,s iu 1/J, New World, N0\02 mente à oossu ccononüa e à nossa vida social. Em conseqüência,
[ir.qce, Co.'-,unbiaUni,-etsicy, 1958. viram-se convertidos em "párias" da cidade, formando o grosso
\\7JLLEMS,Em~: '•R= Auin:dà in Bnz:1", Tb, Améri.m Jo:nnaJ of da população dependente de ~o Pado nos três primeiros (leçê.
SociO:Ov, Cbi,.""io, lll., Vol. UV-1,: 5, 1949, pp. 402-408. nios do nosso século. EssC$fatos foram descritos por vários via-
jantes e estudiosos, tendo merecido análise mais completa cb
p:me de Bastide e do sociólogo norte-americano lov:rie. Para
APÊNDICE patticipar da&garantias e do; direitos sociais, consa.grados por
nossosiste,nia_~ yida., os nêgr{,s -th·er-~izi'l';.Jeãesen,:Õlvcr U;!2
j) REMOTO O .IUSCODE SEGREGAÇÃO R,\CIAL ORIGINÃRIO Ôsfpr.50_pro?!lº de aw:(),(ldurnção _e de aut~ccscl,irecimenio.em
DA ARR.EGD,IENTAÇ.\0 )if;GR.A (1) escala coletiva. ,\li1uos l!dercs m:11sesdar=dos e bem info1-ma-
E114o.r.,nc:,se a1l niú existir ptCCOIICQto, os sociõloi,;o,llogr::rBastidc
dos, apoiados por compmiheiros qtie pero:biam s importância
e Fl(l{cs:an Fe:-1u.odes r.:.-~pesquisas que:01lmina:.1mnas
5<:::.-n:Jrc.nha-..:un desses empreendimentos para • população ncgr•. desde 1930 vêm
e<l!lCh..~i cont,Lu em i,R::~iX!S lUciais cncre Draocose ~egros cm São difundir.do cnsirn1mentos q11emostram as vantai;ens inerente. i
P:ndon, Jj-;rode 40.iüse d.lS r.,3nffcsa;õc> CO preccmoeiu> de cor. nssi:milaçãode formas de organização das atividades soci:.üs comi-
F. =nqc3JltO se d:c, pen e sim?lc:sroc:n:~, que "aão cxi>tc o problca» nantes no meio ambiente. Assiro, realiz= Cllmpa~Jiaspam a
éu r.t:gr()", o l'l'<>Í<:s>orFto:csum f-crnalldcs prepara-se par.t defender sua
u:sc ;-,1st:uncote a propúsitt,cio p,O()Jc:m:,do negro, c:<tc:ndcndo suas pes- re:1bili.taçao
"d"-• mae so1·»
terra . l!l'tH·Cpro bl<.'maporq,Je aumenta u
quisas • S.n:a C:rnrina e tüo Gi-•ndc do Sul · número de menores dcsa_'nparndos e dificulta o casaroCll to ou a
llcrC$<aDFe=de> ,em, por ou:ro lado, opbüio furmad• sobre as constitu:çao da família; para o inceutrvo da rcs,xmsabilidade do
en::ida.dcs (lL'C !>L!J;inc rccen:c:nen:eou C'Slio iu.:ginda ~n aghninar os J>.Úoa altx'<IÇOOdos filhos e na 1nan11(eoçãodo lar; p:m1 o a\)9.1'1-
<.Jc,ilCJl:os t no Inteticr crc tOmu ~ chamadas
:lél!:O• na C..,_p,1,l «,~rin- dono dos "porões" e de, "c<Jrtiços''e., aqc:isiçãodo ca.sa própri,1;
dicaçiie, w nça".
para a valorfaaçoo da aptcndi,,2J1.emde profusões acessíveis 'SOS
negros, tendo em ":sta suas habilitações; para o combate no
(l) Enrtt•:ist1 !él:cit><fa e publ:cad.1 pO! ffis Rai&, •utor d• nota maHaheti;1no; par,, a Jl-lJ1icipaçiiomois vigorosa e consciente
io.crodu!6:ia:Di!:.rioU NtJiu> 9/1V/19SB. nas atividades polftiais etc. wes movimentos so&ctam altos e
JG 37
baixos, paralisando-se, ou arrefecendo-se na "ditoourn", ganhando
novos alentos aqui e acolá, graças às co!l<lkü;;s mais ou me.nos
fovo.clveis de vida de uma ~qt:cna da;se ll1~d1a .ne,.ra em São à pergt,ma ;cbre se r.;is movimenm~ de er:e-
Re;J?C>n<.le:1<lo
nascem de nece.s-
PanJo.,1:t\s.sbi,p&:-a t<.:3u.r.,ir:esse~ movirneut<..'s j><Xl;:rifün
git10:::i1z.ç,fo p,-c.-dm:ltuma iicull-,"lfo
.!e se;1rer,açiío rsc,,l
sidacles sociais pr6prias da populaçã,, n"l,nl e.iaCspitaJ e trnduzcm l°Qmp.,dvel ,, cxistcme nus Es1a<lo:;L:nidos,<le.:lua o l'rof. Flo-
ª. ~obilidade ou ~ soc<.:ssosde ul~:-ni.d7 ~us, $elon.-;:, na compc-/ re,-:un Fenu:id.;s que '·o desfecho da coc.i~ciçíío e do cm,flim
~ao ,om c,s brancos e na asccnsno SOC1ru]; nas Rt!açõc-s cuL-c grupos Raciais Jistin'.o,, depe!lde de vnrios
f.dturcs t: ~ondi<,-í'L-s
5ociai.s>·.
- "Pdo qi1e sabcmc>s, com base na p,-s<.Juirn dctuada em
Nao pt;r Pri,;i/ég,ios f,f(is Contra Pri:;ilégios S,io P:1ulo - acresa:t:.to'1- esse ri>t'tl ~ri,te, ;:,ois ainda :ião
Prosscgr.in<l.o, acentua o Prof. Flor-:sl".m Femslldes que ' se ,abe c-omoas diferentes cariadas éa ;,opula.;iiuhrlillca 90<:lerfo
· à !l ..cen:,,;ao
rc1t•;1r ~ SQCJ ·a1 do negro. Co:Jt::d o, i:::
' pte-..1s0
· ponc..ersr
'
ªesses movirnenoos correspondem a fins socialncnte úteis,,, que
a.Lugam·'as es!er-as dentro d.ts quai~ nos,;o estilo de \·ida é posto
em pt:ític:ã".
r
,lnn n t, s. P,·imciro. se isso chegass<a ocorrer, n.ão ;erh1 por
,.,1,, ,. ,ln, 111,\\
m<111<1 ,,,, .1<1111,
inwnto~ de ai:n:gimen1,1ç:10dos m,gros.li,bisola-
rnl1u1.J t: social, cm caws dessa oacuteT.a. cons-
- "Em outras pala,'Ns, eles se baseiaiu em 11:.ó,ds e e!ll 1,1"1um I''" 1, 10 J!n.iin1ro do tr.itamemo dispensado às mboti2'>
as1)ir-ações~ociais que, bem suceJiJos, farão <los negros melhores r ·" 1.11, ..,nk:.1,. dcmnnsu Jn<lo a i11ep.p-,çidadcda urckm soc1tl
f cidadãos. /)}-Táquem pc:11,eque o negro luta por privilégios, atrn- ,1 , v, luir na direção de p:Klrõcs i11tcgrarivos de recoasrruçoo
1 vés Llesscs movimentos. Mas, i;so não é ,e:dade: cles luta;n '"' 10L7Soh c<sc as~--cco, pois, o ;x.:riiio?()ti:ndal da segrei::c.ção
/, contra privilégios, que os manti\'er.Jm efostados. em detrimento i'OC"ria ser ad.mkido. E!e nã<l st:ia cau;aéo pelo nie~ro, no cn-
1 de llOssa seRtJrançae de nosso progresso,dns direitos fuoo:llllen- t::Jr:to, q<LCpassaria ~ sofrer c-s ele:1os da sit:o?.ÇNO global nas
tais do homem em nossa o~em :;oc;a!7•
A esse re;peito. convém atimdc-s e '"' comporta:nento é-OSl::r,111eos. F.ste é o pru~lcroa.
<._ frisar que não lutam contra pessoas cu grupos, qi:e 1100 u; mima
Os ":novimc.:tos d~ arn:.;,iruentação,são aper~, uma parcela d.\
a ambição de prejadkar o branco cu corn..l-,accros ,,alores " íns-
siruaçíío global e a re,ção desfa,or:íveJdos brnnm.s n:io serfu
tihú~õcs sociais que U1econferem ri<:;:L>eza.
pockr ou estab:tlio:!ade. p1·1w0<.':!da a?(:nas por des. A segunda coi!a, que pn.-cisa ser
As impuls&>.s psko-50éa:s, ineremes :1 seu~ "movimcncos de arrc- ponderada. diz :espdto ao cadt.er eventu9J de<.se presunú,-el pe-
gimcmação", C'Onduzcm, ao CQntnítio, a alvo bem dikrence: o
r..go, Não, C:C<:.a.-tQt;.}Ut e.k vçnh:i :l <Y.'orrer, sendo n1uito '-'<1tiadas
de: t,ennitir ao :i:egro ter acesso mais livre e equitaévo a esses
e fortt-s as ;,n;:,:;õe~ em se:ilido conmírio. Ezitrc estas, ccmpre
valores e instíruições. ~ão são, potmn:o, roovjmento~ conduzidos.
põ~ cm rcl~;o, ns rund:ções concre1asda compecçio do negro
pdo pmpósiro ele at?menlu a á.rca de confl;tos sociais de "°"'ª rom o br.anco, que cio soock :nddc ~ crfar <lificuldade.sinsi::p:,.
socicdadc. l/P gue seus fins sociais conscientes pre,~upõe=n é o ,
níveis p.,,,~ es,e, dad"' as oportunidades crescentes oferecidas pelo
alargamento efetivo da área c.le ikOJ!!odaç~1. pch ime_P.r;!Çfodo
jsis,ema :x:upacicnal;lfinei..--isté:?cia__ <le alvos definido~ e:<:oposição
negro às oportuo idades econôm:~-as. políticas, educacionais e n1cial. por parte co negro, qu-: nao preter,de desalo;ar o br:ioco
sociais, conferidas ãOS bunoos sem tcscriç0Cil1 Parece-1-m que ê;1s posiçi5es ~ocinis cm que de s:: encontra, ma:i compartil!iar
i!SO eviêem:ia que são infomfadcs os receios, cc c,.,rtasc-amad.ts com ele &,s dirc:::os " gatlntil!~ $~ia~/ os cciidéncias i~eoló!\':cas
sociais, de que cles redundem cm "perigr;$" políticos OJ raciais. e :,tóp!Cas q:~ -.:aJorizam. no ul:e!O .:lntOCO,il tntc-gra~ao ~~;,\l;
l\o fundo, o negro tomou a si a 1a...-efa<le lu1ar contra esses o fort.alecime:>to co ::x.-gin:cdem;:.,ctático, q·ic ,u,,p.,ra polmca-
perigos, cn:rrotando com seus recu~os e sem ne:ihu1:1,1 manifes- mecite aq~el2~ i"i:nCênci~. Por i~o, presnrr.o q::c não d:!l.·emos
tação mais forte ele si111p.ati•01, de comp1·e.eMão." gig,rn,e;ca 1:uls ooLGot.1tt
te(Tler e5$eS •.:-movi:11c::t<:>S~', r,ar11que eles Ceíin~m
rc:sponsaI,ilid,de de prep-,U"3r-se()llta a vida !1UID1l ortlem ;ocial m.elh,ir e alcancem realmente os seu; alvos construtivos, tão im-
democrácica''. ~\Ortrulle$ 1;ara wn pais oovo e heterogêneo como o Brasil".
J8 J9
APtNDICE po!ícica entre o "negro" e o "branco" srní gr.iode, embora tal
\ coisa não seja =onhc.-cida de modo ab<:tto,hc,:iesto e explkito"!
2) BnASlL .ESTJ, .BIDJLONG!l DE SER UMA DE~10CRll.CIA
R.-1,CIAL
(>)
. ltc:.1:faa-se, e:u Br."..Sí.:ic1. sobre:$c;;rcsaçêoRs.i.JJ,p:omo-
l,..!!l Sc:r.1!1J.á:k>
,>i<lo;,el:, 0:::-lU. O )>;;cfc:to Pl!ni1> C.1t~nhe.k, d\1:an,e a -..:Cnidadeée
iastal~:io 00 Sariní.rio) diJSe'-f'.l::::eraw~ :Kmr::a rcr B.ras!liacoco se-de
l~l1'2. clisc:n:si~de cm d<.lsuaws j:.:-<\;l:..ll'JS da mu~ o
:.t1U1:n. lq).:eseJl• Co:-ainuaado a :csponder !Cbre a fobda "democracia rací,il",
e:-itr~otrt:r::sc~u. :1fir:oo.a;,.,-;1c:
[Z.n.lcd.a Scó...-:ia., r:io existe conflito mci.al
oo B:,,s:l. • acrc;centou: "Os n:mltado., cfa invc-stigação q-.ie f:z, e:n colabo-
M:t:.s!
:ii.::Qm~n::-::. -.,crd1é:e,l.ll~ cqai .niloc>:~c: t3l «:uWr.o?Pat!:Jnc~ ração com o 1'rofo5sor R~er l:lasú<le, demorutr,m1 gt:e es:;a pro-
de vm pr:"':ipio àe:::,cna~ 11• qce,;,io do 1o<;;<c&ac'oru.sro.e< - Exn:e J>:é- palada 'le11:-oc.raciaracial" ooo_passa,infdí:r.mente~de u.tn_mi{ll_
coricx:1co toc::,J ,cr:l J:.0$S,;, priú? &ta e O'.UJ'u FCftU!lla,S sW r-espo-ndiún, sociàJ..E mn mito o:iaoop.cln.JlllÚ9,tiae rcrido em t'lt_ta os .inte-
1Jo<iuPrcl'e"'-'<Flores:i..,F=1.ode,, a.:c.:lrfüco c.•Cadeu:,1de So:fol.ogillJ res$CSsociais e ~ valores morais d~.ssa ma:oiia; ele níío ~juca o
da Faç.llda::ede FO.:osolia, l:iiida, e ktt.~ 61 USP. '
"br.mco'' no ~ntido Je obrigá-!o a dio~inuir as furmas C:\.--Ísumtcs
de r~-i;isicnda i1a<rcns~o social do ·'negro"; cem o ajuca o "negro" •
a mmar n.>n-.c,êncbrc~lista da siruação e ~ lucac p,lta modificá-la,
de moJo n cunvc, ter a "tol~rfutcia rttdal"' e,ristenle eru um fator
favo1iivel :1 seu êxito como pessoa e como rccmhro &eum esroqtre
In.:cialmcnte, o Profe;sor Ploresta.::i Fcrnanc!es "hordou a ''racial...
qu'."'rlki da pcis,ênda ou .nEo cl~ÕQÇracia ,racial", no Brasil,,
Afüfa <estet<:n:'3é debatido 110seu 1Jlriti:olivro ("A Intcgnição do
~gro llll Sociedade de Classes". aip1tuws .}, 5 te 6 ); "Na ,·er-
dade, nos acostwrurnu.s à situai;;.,., e,drtcnte no Btasil e confun-
dimos to."'1-ância !Jdal com dcmocr-acia racial. '!'.ira qÜe ·e,1.1
t\tílmãe::rl,ta -.ão 6 suficienic que iiaja ali;ulJla harmonia 11.llsrc• Í~·m.1beJ~c:doq::c: e~istc ,,rtc\.-ooccico:aé.al no Bra..;;iJ,
o Ptv!.
lações sociais ée p;::sso~ pertcnccnr.es a estoques r-.iciaisdi.ferenks Flore.slan ferw.ndes escliir,:,-ccu:
~u qt.e pc1-ren.~m a "Ra~2S•· distinta,. O,,mocrac:a sigai[ca, ' - '·De foto, e..-dst<:m,!Ír:as fonu.1s S<X:Ío--ouliurais
2-: preco.nceilo
mnd~m::m,1l01e1Uc.igualdade social, ecxlnb:i,'ca e políric,t. OrJ, racial. O que há de ma\, ct'L'OS<:ll, consiste uo foto (]e que 1~
no .13rasil, ai;sd11hoje n[(o cur,scg11i1uos,-onstroir unlll Sociedade mamns como paralelo e t'po d:: prcro,...~eit:oracial '"'i'líciu.>, ,il.,erto
D:omocrática 11eo, mesn10 j)'.UU o, ·'bratKn," dns elites o-adiei~ 1 ;:: ;;:He.TuÍlicoposto en J>1:iÍ!irn r
nos ,m:dc, Ullidm. Todsvis, oo
nais e <la.sd21!i::s médias em florescitne=to.]JF. wlli! cunfos.'-ío,so'.:. c.~pec~alk"'!a~ já ,.:v:<iencitr,aw cxis.-en, vido, tip.ns d~ ptecon-
<-JLLt:
rnu7,os aspe:ccosfari~i~-1.~ptL'tcnderque o neg.r.-o e o mulato con- ~itc e, pdo rr.en0$ vm ::10,:ic'.:-lc-1,'<l
brasileiro, o Prot~"Ss..Jr
OU:Kv_ \
tem COJn i:;nahladc de opo:nn'dac!e, diante <lo brdnco, em ter· ,, . . '"t ~
-~.:.-.1, s,: preooJf:O; em c11ractcr11.a- :1$ ui ·ercnç;1s existem~ ) ~
rnos ,le -rcnds, de prescígio socia I e d.: poder. entre Oj)fl"<.-OT.CCl[O reçiaLs.i,,;~-=má.i~•lUS O\.Xlrr-~ nos,.J!~.ui~~ ,.
. . :--o ~•~ár&.>hrllsikiro c!erelação l'acial, ainda ho ;,-; donúi:!an,c, tfni<l:,!i,e o nrc.conrei:or;1~ialé.i.~~rrm1
atlo e as:::i~--i:<..tr~ticn,J
do tjEº
to1 cot1struíci1para. un1a :c:ocieckdc escravista. ou ~e}fl, para n1an- Cooque s:: m~::n~fcstn n~sH. /j!á~cntci; del'C.inhaparte, com- \
rtr o "11ei,-..-o"<oba su;dçoo do "hran.:o". Enqua,,to esse padrão preenJcr genctcarmnt,e o DO$~o uxKlo de se,-. Segu:ido p:,o,m,
cc relação racial nã<>for aboliéo, 9 di;t,1ncfa cconõroica, social e o ca:olicismo crioc um dr,1011 Cloral para os anti~os senhores )
de ~c.crJ\'ôS~ pois a cscr~viôáo coli~ia com os a.:mores• cristãos. .>
1
41
"./\,."egro
·• Versus ·7Jranco'' conduziu os .__hmncos··2. uma pollúc:1 de amparo :to negro e ao
f'I,,,,rnn I emandes rontinoo: "Sem a idéia de que o "Ne- mulato. Como o dcmo:mram os tesult.tdos ela aoálise pioneira
~roy ~c-j~ '"inferior·•e ncccs~ri2rrleote ;'subordinado,,
~o ''bran- ( de Roberto Simonscn, cm ttab,ilho magistral, nos mou:ento; 111:iis
2 e:.c~vi<lãouão seria po.~ível nwu pa!3 crisciio. Tomaram-se
1,;v'". duros da tl'ansição existiram fozcnclciws oue dc:feo<li:una idéia
C' :n~ 11oç~s r_:1:c:,
_dar fw12frínenroà escr.,vidão e p,,ra ~limentar da indenização. Nenh,1m deles se levantou em prol da i.nde-
ou~r.t r:tcton.~1zac~ocorrcpte 1 ~undo a gual o próprio negro nizaçíio do escravo ou do lihcrtc> e, cm conseqüência, os seg-
11
sc:.nn benefic:1aéo pela ~cravJc-Jo, a:as sc!)l aceitar-se a moial roenros, da populaç:io brasileira que escavam associados à condi-
da rela.;ií? que se cs:abe~ia entre o senhor e o escravo. (Por ção de escravo ou de liberto v:rsm-se nas riones condições de
1s.so,~urgw oo Bto.il uma espécie de prcconccito reativo: o pze- vida nas grandes cidades. Fomm redw.idos a uma condição mar•
conceito contra o p,c'COncei10 ou o prccoD<:citode tec preconcei10::i/.1 ginal, n2 <JllOlse ,'Íraro mantidos aré o presemc. Somente écpois
Ao q:.i<:parece, _entendia-seque tcr p:ecooceiro seria degradante de 1945 começaram a surgir oporrunidades reais de clas:oifica-
e o ~lOJW ma:or passou ,1 ,er o d;, romb1tter a idéia tle que çíio nn c-s1n,1ur3da ordem socW competitiva, ainda assim, para
ei«smia preconc<:icono Bn.sil. = se fazer ruidano semido ele
melhorar a simação do negro e de ocabar com as misérias ine-
número liminado de individt1os potencialmente capazes de terem
i'xttv na ,olllr,etkão «Seio-econômicacom os brancos".
rentes ao seu d::stir.o hu:nano n:a rocicd:1debrnsileú:a. Acho
que, aqui scrid bom que se lcsscm os tr:thalh<>srecentes, publi-
cados por soció!<Jgos.fültropólogos e p~icú!<Jj?Os,
mais ou menos
concordan:es, e. e.~1 ;rat:cuhr, que o "brnnco" se reeducasse
de t.l ma=eir;: que poclesse pôr em prética, reahiente as dispo- _ .\ segnir, disse o famoso sociólogo: - "A discrimioa9io
sições igu~iu&ias que de pr<>pafocer disn:e do "neg~"- existente é nm produto do que chamei "per,istencia do passado",
c1n todas as esferas &s relações humanas - na mentãlidaJê do
((branco"e do "negro". nos seus ajustamentos à "'1daprática e
Di.<!rimi,raçiio
e Stgrcgação na organização das instir--,içõese dos grupos ~ociais. Para acabar. \
J-\pergunta ~xL"i,_~11. '.:.cfucim!.11:ição"
e Hsegreg9Ção"
rn- mos com esse ri_pode discrimin,ição, seria necessát1o extinguir
_, disse: .
ci:tis no Brasil. o _padrão uadicional b,~ileiro de ~ação racial., e criar um novo / f.
-t:.._A discriminação que se pratica no Brasil é parte da g_adrão~te igualitátio e i:kmocclticode rili.fe.:,racial que •
heranca social da soáeda<le escrevisw.. Ko muodo em que o "ne- cotifer1sse1gualdadc:econôom:s. ,,spc1al,cultural e 1l(llítica entre ;
_gro,,e o "-'branco'·se refacio11a\-am como escravo e senbor este n~ros, bWtro~ e..inu]ar~. As l)'.leSl!l,~S
jcl.<iaspodem ser !!Plicadas
último tinha pterroga!il'as que aqude não possuí;i - nem podia à SWe;?'i!.<J•
Esta foi p~cicada no J.l<lSsado senhorial, apesar dá
11
pos~uir: ccnlo coisa·' que era e 1 :fôlego ";"º~ uma espécie com'!Venc:apor vezes intrma. entre senhores e escra\'os. Fazia
parte de duplo estilo de vida CjUCseparava espacial, moral e social-
de "ins::\:meoto ani:nado d:is rdeç&s de produçií_o".A pass:igem
da soc,~ade e!Cra\'a parn ,i !Clciecladelivre o5o se' deu em co11- meme o "mundo da seoz.11:i" ào "mundo da casa grande''.
d icõe$ ideais. Ao contrário, o nc:,,roe o mular.o,·ir2J1Hesubmer- "A scgrcg:içiío do "oegro·, é mtil e dissimulaca, pois, ele é
iidos ,.,~ econo:ni;aC:(:m!-i;ístê~b. ni\'e\:lndo-se. eiuão, com o confinado ao que os anúgos lideres dos movimentes negros de
·'brnr.co", que tarobé:n níio coru;cg11iac!a<sif:car-sesçcialnie.111e, São Paulo chamavam <b "porão da sociedade". As coisas estão se
(Ili formar.<louwa .:s-p('Cic de escória da iirande cidade, vendo-se alccranclo, nos últimos tempos, mas de !o:ma muito superficial
çonden3<losà 1niscr:a social mais terrível e dell,rad,mte". e demorada. !'ara a1i.aginnosa situação oposta, implícita no nosso
mito de democnicia racial,o negro e o mulato precisariom con-
;-tboiícitmim10
Não Aho!i11 fundir-se coro o branco n= mundo de igualcade de oporiuni-
clades para todos, indcpendcnrcnocm:., da cor d:i pele ou da e:;ua-
Repotrnodo-s<: -ao al,"lic:011ísr10, t1oresran Fe.rnandes acen- ção soda!. É pouco provável q11:eisso se clê sem qve os ptóp,~cs
tu3: .....\pesa~ de sc1:.sideais b11manitários.o abol:Cionismon.1o negros e a.ulatas tcnha:n um:a consciência mAis ccmplet:1 e pf~
41 4)
íw1da de seus inrere;ses numo sociec::de muhi-r.>eial, em que
eles constituem uma rcino.rh"têe-;etdad.te pro~cr:ir-a,,.
Flo=rnn Fe01~n.:lesconcluiu, obseITando (1ue "foi prec:..<0
quase três qoartos de sécclo p,'J'.a:pe negro e mulato ~11contras-
sem, em $.to Pfülo. 11:rspectiw.s rompará-:eis àqllelas com oue se
ddro:irnraru os in:.igntDte; e ~us de.;centleme;. Qc,uito tempo
terá que correr p,ua q11e coru'gam Ln11a1nentoigualirúio m,ma
sociedade :ac-'ahnente aberta? Essi J:ergu::ta me 9~=e. funda• CAP1'l'ULO Il
memal. O, "neg::u," dev~n pr"?-tra:-,:': para resp()ndê-la.e o;
'·bl',tnco,'· devem prep,1=-se pan, ajudá-los, sol.idarism~te, a M013ILIDADE SOCIAL,E lU:LAÇôES R..-\CL>\.IS:
por em ;,r.ítiot a; soluçôe, que ,1 ra,ão in<llcru-,
,em subterfúgios O DRA~fA DO NJ::CRO F. DO ML'L!-.:TON"lJ:M
...\.
e com grandeza hWD30a ". SOCIEDADE E'.\·l '.\·1UDAKÇA•
44 45
;ões assimilaáo:iistas ca sociedade nacional e aos cnterios de
avalfação s6cio-t"conômict<los círculos dorT'.Írl}tntcs das classes
' reccram n:elhores cou:lições ?Àa?tativ-Js às J)O?UÍaçõesnegr:as e
mulatu. l)oml'o lado. ,ts S!'<!as
q•Jc: perrcitirnm a p:c.-ser,~çiio QU
a inst:tlai;ãodas várias iorm.1sde cco::omfa.de s=bsist~ncia.conh..-..
ahas. F. eh é partlcularmeote ver<ladeira no que diz respeito
ao negro e no rnulato.
cidas no Brasil, rambé111oforeccrnm boas con&çõcs a<bprntivas
a essas Pot>ulsçõe.,. As ,L--e;s<1.feta<hs
oor mo-·krniz:.tçãosúbita e
:-Ja\-enfade,2 esl.'ravidão
descnvoh-eu-se
de ÍOf!MS bêm di- inter.sa,-~-Õmosuccdcucomo Su:, por c.~:>Jo. lo.-r.%1:lln\-~menos
versas :'ºlongo de. nossa bist6ria, nas regiões que conseguiram fo.vonívcis ao demento ~~ro e m::bto, que ou n:torn~l _pai:a
cxpanôn· • economu cxporudor3 em conexão com o trabalho :is regiões de or_igero( no pcr.o<lode d.~reg~ção do u,tl:>,lho
escravo.. ~ 1~n~o fria s:u~cdcr:tm st-5-iéda.com as regiões que sen1il e de consolidação co tn1lx1lnolivre) 0:) pr.:cisa dceitar
con~gmn:m r.!ptdo crcsc1mc:ntoc."'COnômi<.:o em oonex:iocom a condições de cxís1€--C1cia c:ctr=nroentc duros, cm panic:,hr se
iml_graçãc; o cr.:1halhnlivre e a ordem social comoetitivn. \·ivesse nas cidftêes.
No çue 12.ugeao pas~do. ,~ reg:ões que possuíam vitali• E~~as ronsiJer-açfx.:~
530 empiricamcn;c necessícfas. Não se
dadc econômica poôiam <.-xpandir a c.s-craviC2o t; co:icomitante-
cutr.11 ,1 -.iu,mçãodo ncg:-oe do md~ro f..:izeo<lo-setabtrl,t rasa
nx:nt::, os oportuoiê-,des de rrabalho que eram conferi<l:isao .lo 1,c:rlo,lnMna\' ÍSL:1e do que ocorreu ,o b:ig-.:, da instauraçfio
n~~ e.:::<)m=1~to: con:o libcr:os e hol"!lcns.livres.. A estagnação ,ti nrd ·111l()(i,11 nrnncdti\·:l. .\ 1\boliçã.o não sfeto~1, :1?'-=nas . ..1
e.::onom,oares::rui2.a,1 e,cr•nslo da cscr:t\'iclão,mas não impedia, 1"'' " lu , '-''• 1.1,tum! n, .,Tetou <1 ,11u;i.r.os.\o "ho:uejll
onde oco.c:esse, qne o ~ro e o mulf!tO oarticin~m ativam-cntt: '"'' ,1 , N., rd 1., Aboliç5o con, itui ;,1n l-pisó<lio
da e!IC\trt•rnonipr.cional.con>o =mvos. ·libenÕs e homens livres.
Os dois últimos 3daprav,,m-se à eco110miaele suhs:stência, ao
Jn, ""de um,, ,.vol 110 -0~i.> íci-3j]élo br,inco e l"'''"
o b~anco.
~.if,lo ifo rc me .crvil sem cc,ndi~ves paro s:.:achp!11< rap:d,1men;e
àtte.:lll,llo ur_:,ano,oo pequeno comércio e ouoos scrvicos de <l novo s~tem3 de trabalbo, à eronomia utbano----oin=ial e à
pt<.ftG:ila merecem as regi<k=-s
:uiportâociã, ~enç-Jo e.s1;:,."ial que m o<l • .. o mtJOnsen,t:e
cmizaç:10. ' <or" v1u-.s~
· < r
oup1:U)1er.tl! "--'
espm!auO. -
se incorporaram tardi~nlc ~ economia expol'tsdora, como su- ) í'.J'rimêiro, porque O ex-2!,-Cllle de mhalho c,cr(l','0 nílo tcl'e!:ieu
ccdo,e no Sul. e cm particular corn São Paulo. Aí, o surto ueohoma irnk·ll.r.ciçtlo. garzntiaou !"s~:~têcrfa; itgu-"tdo, porqu:~se
crnnóm i.cocomt,a a nt!llgir !ll.'11 prin:eito dfmax DOfim do 1íltimo viu, .repentinamente.,em rom.oetiç--.locom o br-.t:1C'Ocm ocu~la('Ões
qu~nel do sécnlo XTX ( ou. mais prccisaruc-nte, na última décacla que ernm écgrad:1ds.se rcp<.:Íidas ~1nteriorn1errte, sem t~r ·meios
desse ~éculo). N25 cir~mtâ::cia, em que se desei:imlou,o surro para enfrentar e repelir =a form,, r,,ais s:1til de cc,pojamenro
econôrn ico n?io hcocficiou. o 1.."X-.agente de t.ral'r.llho
escravo, nem soci.al.;T/Só
com o tempo é que :ria o;,ardh<lr-se pM8 isso, mas de
m.esm<> 0$ qu.e j,í e:am, então. libelos e homens livres. 'A con• modo L'lo Ímpt."tfoi10 ciue atw:!a l:oje se sot.le ÍIT("lü:DIC }XIJ'.<>
corrênda dos imip.rantcs não só os <lt~ojou da.; pos::çõês mais dispt.uarªn traba:'ho li:~ .'.'aPátrio li:,,-=».
ou meo.<>$ vanrojosasque <)C\)p-,1"an:impediu que eles ahsorvcs-
sew, na Enba do padrão rr,idiómal de ajush1memo econômico {CJ)o ponto de v!Sta sodol~ico,. o q:1c intct~s.sa~ ::~se pano
impcr.u.ae se,!, a escravidão. •~ o::iortuniúadcs novas. T'or c.~sa de fui,<lo,é o faro <k qu<: os esloques netrC1e mulai\l da pop\1·
razãt.\a ~.•ol~to bttrít:.,....,.sa
foi int~~tm.~nte f.!esf.avorá.vel 20 de-
Laçâo Urasileim ainda não ating~uu um ?am.mnr que favoteça.
mento negro e mu1'llo, oon:o no meio rural, quanlO principoJ- ,1.1ar-.ípitla inrctroçiio às estruturas c,up::do.,..is, sociais e cul-
□cmc no meio utbi.:10, dos fins rlo sé-culoX1X :tté '1 d&stdâ~e nrraí,; cri1\(J.1Sem cono:ão c<'m a ~:nergência~ ·a cxpl!llsão<lo
193~ De.ta ép,x:a em <lfonte, ~mbos adquirem melhor posiçio c:ipit:ilis~Quando ele.<~pr.:.rntam indício, <!e aà.1ptaçfülfavo-
relaava, 2bsorvenc!o ,is oportunidades ccnnômic,1sque a inrensífi- rávd~ est.l!:lOS &ir..nte de estruturas ocu~dnnais e ~ócio-econó--
c,,çiio <lnd:)scn,ol,irutnlo urlxu>o-hdusaial e a expansão agrícola mioasque oão for,llll aferodaspelas 1ransfoi-maçõcs
oconitlas ou
tendem a co:1fcrirao!- ttab3.1.rutdoré:S
na_cionais
im:.grantes
.. de e,c;tmttcas nuvas. que ab~o..-vcm a u1:ão--<le-0btanaéon..1.l sem
q,18lificaçõcs cspccfais e sem mclhor~s perspeetivas~:,o signi-
. _ Esse_rJp:~o bosquejo permite assina!ar alguns aspectos esscn- fte,l, em outrn, pa]a..-n1s.tJue a a:-censi[osocial d:, _ o e do
c,ai; ón S1n12ç,,ode contam rac'<i! i□perante no Brasil. As áreas
n111!a10apresenta dois aspc,:ms disti::tos. O qi::e p=.c ser '1SC:en-
que ~tingiram seu clíroox. de prospcricbdc ccnnômlca no período
são social no horizonte rultural co negro e do noularo, muitas
colonial a;, cm conexão com a emaocipaçiío pollõca do pa!s, ofe-
47
·Í6
vcz.:s não ~ss.-1. de mer-a incoq,omção ao sistcraa de cla.,ses. A 3% :o o iegundu ro1:1 qu33e 12,5%. Doutro lado, :1 distríbu.õçoo
as!X'nsão sodal ve:dooeira, isto é, n mobilidade sociul vertical das posições cm c:,da gru?o de cor s.:gere que o negro e o mu-
oo sentido ~s::cndcntc, claitro do sistema soci,ú vigente, ainda lato estão longe de pa,tici;,ec c!,1s oportull!daó!s 0q1pncionais
oão re o:ganizou.,__,lla.""- eles, <:omo um p1ocesso histórico e uma e sócio-econômicas em cond'ções de i~ualdade com o htanco. Essa
1ealidad:: mlct!v.!,( Í\ tiJ•~e a alguo;. ;egn.~ntos ( ou melhor c.enos clistribuíciío ruscic~ certus ih;sões, na !!1edidt1etn q1.1ecoe-obre e
indivíduos) d:1 11c,mlaçlíode cor", s= rtperrutír na :il,craçào relativiza: diferenças c!e partidp::ção Jaq::elas opoctu:lidadcs muito
dos cste:c6t:pos ~ntiros, nos p,\drõei que n.>g;:m as rdaçõcs tK-en:un~s entre oo dh~rfos <:5tcqncs rJl.78".!. J.:.o que torna C\·Í--
raciais e sem susci<íl.:-llll.l íhxo comtaute d~ mobilidad<e social
2:S:::cndente r::o"mejo neg.ro".il:w sunu:, ~ õ..-pansãnurbana,, a• dcmc o qoclro Y., de signífiaação e;.peçial pnm o cosso ~"tudo:
n.'\·nlução inó1,tri11l e a ocoderoi:,.tçãu ainda cio prodaítatn l.º) porque mostra, indírecr.mente, que a .inreguc:io do negro ao
efeitos '.,osu,cte profooJos 1,ara ,uoJificar a exL--cma i!csíg;."'1dade sistc= de classes níío lhe p:oporciom1,de fum, as condições de
mci•I que herdxnos do p.1;,,;ndo;J/fi.._-c!Jo:a "indivíduos de cor''.. partic:paçíio cclml-a.l, acessíveis ao branco; 2.•) porque dcmonsua,
partici1,eu1 ( em algumas regiões segw,ck, ?rcporções 2p:1ttnte- conclusi~·ainenre. que os esroqt.~s n;;:groe mulato não dominam,
mente consi<.<er.bieis), elas"conqu:,tas c!o p=ogresso•·,não se pode pro...-nvclmenrepor causa ele suas po,,ições na esaul'UTII sócio-
afi~mai-, obiet.:vameutt:, que efos con:parti'.heo, cdetl-,amente, •«ou~mica e por moti"os relaciona<los oom suas tradições cu}.
61, coneri:es de mobilidade sodat vcrtíc,J ,i11Culadas ,1cstrutW:a, torais, os c•innis de ascensão social que poderÍ,!tn permitir tanto
e ao dL-:<cm•olvim~ntodn socie<lnd.:
ao fo::cio:l:tmc·mo de d.as~~ .1 mdhoáa de $URS possibilidades de competição com os "brar~
ws". qu:into h am1>liaçiio de suas perspectivas de mobilidade
Cssa afirmação cx,~trarla o que se c~t~ama dizer sôbre a social v~rtical. Esse qu:tclro, aliás, dá cru,rg,:m a conclusões melan-
àe,mx:,·.:ciamâal q-;e imperaria no Br11sil.ÍÉ que se confundem cólic:1•. pois deixa p3tente que: :llé ao nível do e::isino elementar
padrões de to~erâocia csttirnmcntc :mpcrativos º!L.. esfeta do de- existe.'11aoentuados "pri~-ilégics sociais da niça b111nca''.IIJ-fo
coro social rom ipmldadc :acfal pr<."Pruamcotc cli¼,_jPar,i se ter fundo, ,,s posi,óes des"ant.aj~as dos <:stoquc.,negro e ro\1latona
u:maic!éia.2o alcance dessa int~r,nc:!1Çio~~ri;;. SÜtlC..lente consi- estrutura sócio-econ(i:ni:::,cwidido:12 fo:mas ele participação cul-
derar alg-.llls d:ic!ossohrc a comp~çio e'-. port: la~o brnsileir,t, a tural e l.leinteg:rlll.iio ao si,icma de da.sscs que favoJ:ecem a sua
estrutura ocu;,,:cim:,;l predcmirv.rnre e o ripo de parlicipaçfo cul- pcrJ>(.-tuaçãocrôoiaa naquelas posições, em v~1. de estimularema
mt2I im::cr.tc à obtc:néío de diplo~ias AOS di..,-erso; nNeis do Daí o fato ele os demais
ruptura com o p:,.ssadoe a s1::1su:;x:ra~-.i'!]/
01sino :x:lo.s nírios .esr.oqnes nic'ni,. f nfeli7rnente, a; roruide- índice.< ~h.re o ~J'I..Sl no "..omprovaTM1tt exisr~nda. <leom. <l1·amA
r.:çõcs l{,~iaro-se no; .restilrndos do recen;eameolo de 19.50, cujos ignorndo e hi?ocriumenre d:;si1111.1la<lo sob o manto da "dem.o-
clac'os ;iio a,~;s{\"eis ;1 q :tm •1t1e.ir;1
ac:li~r a siruasão r~cial cf1lci:1racial". Os ú:iicos c,u-.a.iseíicie.n.res de asc~:isfo socwl na
brasileiro. socíecbde brasileir,t ainda ccmti.:n1am,quase tão forteme.ote qun;1to
Os quaclrns T e TTforn«:em ::rc~ &~r:çiio da ropuhção se'. 110 passado, 00100 privilégi.os soei ai~ das elites das classes. !;Iras
Rundo a C<Jre as rey.iões fhiO!lC1if'c?.s.Ele; ic<lk~Ju duas coisas, e <la "ra--a dominante". O .cegro e o mulato, como eles d:r1an1,
que no, inrei-ess,uude perto: 1.• J A pa,·ticipação relativa <.'-Os :ú "não têm ve-,", enconrra~do-se rigidameore bloq-ceooos por
es10-1uein:,gro e ouuno 11,tpopu1a;ilo global; 2.ºj As ce11,~én- privilégios sociais que possuem ioevir,i,,eis e rrofoncks ímplé-
ci,1sregio.oois<!eroI>:eol::tç-lodesses estoques no .Le:1ee }.'orc!este mções raciais.
do pm.. Seria interessnot,:; ,orupar-Jr _e~sas mJ:c.1,;õoscom ou~ra_s, Dadas as var~,ões regionaisimperantes uo Brasil, poder-se-
form:éd:t:i pclus quadrus UI, IV e v. Os dac..~sobre. a ros1910 -ia d:?.erque esse paooran:a aprest-ma gradações e que, pormnto,
ca ocupaç-ãod:, po;mlac5oL-co::ômictn:;ttte ativa e·.-idencrnm_a pci:- l!1' perspectivas <lo negro e éo mulato p<.-dero ser melhores ou
sistência c~ônicn ê<~•dciros de crna tüne concenuatãorelat;vn da piores, con.fom1~ as rc:gifü.·sou os Estar!os 9ue se tomem em
rt:11d-a e do pre5tígio social. Cnqn~to ru cswques negro e mulato
conta. Esse racioclnio é legícinm, rnas não de,e ser admiüdo
pnrtcipam dns po,:ç~s 1neMs v:int<'.josas em propor_-õe; supc,. com ingenuidade. Aqu.:. é ptedso consider,n-se outros fatores.
riores oo quase :guois à s,13 partlc:4:,wüo Ja yopulaçio global, De fato, os lruliccs co"cern~nles ao Leste e ao Xordeste evideo-
oas poiições de c1npn .. -g<1c!oto primáo wucor=e com npenas ciam melhor a..lapta.Ç30 apate{lte do ·negro e elo mulato à• con•
48
• 49
<liçõessócio-eco1.lÔroicas e culntt:ús i,nper,intcs naquelas regioes.
mais vama;us~$dos :re.'Viçose: Hi\,idaJes c.-conômkss. Ao mesmo
No C!1tanrn. aptoÍLmdaado-~ 1' análise,.\-!-escohrc-se facil.utcn"ie
que
a,sa achpt<içã<:> também dissimula um.1 acomot!.lçiíoc!esvantnjosa. tem1.JO, o estoque bmnco, que entra com qu.1sc 30% da população
global, absm--.eapi:c,as 23 % das posições de empregado e 52%
A participaçiío ~e d:í e :;e illlé~s!Íicn ptincipalmcnre em ocup,>ções <laspos:1~,1c.s de emp,cgarlor. .Pode-se descohrn: o que isso signi-
e ~erviços v!l'letLh~<>S à eoo11um:ade ~ub.<lstênc.i.1 ou a setores
eco11ômioosque não se .insercrnn<H"mshn:;:itc r.o fiu.xo da redis- fica stentan<ln-sep,ua " qua<lroVII, que deixa clato qt.>ca pr~do-
lribt!!çfo da rend;i. Doutro fodn, oné,: ;is eoisru; aparentam ser micància dcmognílirn do negro e do ornlarn n3o afeta profi1:>da-
m.e<1r~a cstrUtUl'a súcio-c:cc,nôrnica nero ,t pershtêncfa dos privi-
piores, como Do Sul, o número dos que "con~eguem varnr" é
l~ios soc:a:s gssociados à desi~ual&de rn<:ial. Assim, a minoritl
ínfüw. Os zcsllira,los das in,esriga~s feiros em São Paulo
br,m~ entra com S3% do; cliolou:adnsem rnrsos de nívd médio
sugerem, pon:m, que e,,-,;;, nú.,,ero ínfimo se iocorpo:a estcuru-
e c.-;r.i 88% éos diplomado, ·em ,ursos de nfrcl superior. En-
ralrneJJ:e na din!miic,t c!a sociedade competitiva- files siio poo-
4uamo o t:<:!,'!Ocrn p-.tnicul:tr ,ti p3rtici 1)'1 <.k:nodo ínfinx, e o
qufas.Unosma.s co1~lui::i."taram um pt1t.1mareoooômko~ soci;,1le mulato, ilJJe,ar de constituir mús da :netade da pcpula,ãu. cem-
C'\iltural rcalm:;:ite nwo, :idqui.cindop=ah.-.bili<l.tdcs concret:1s de
cone com 15% dos Jiplomarlns em cn.srno médio e l0% dos dí-
diminuírem '1 <listâncinsoci,tl em face do "branco" e de circula- plmnados em c:osino superior. .Em síntc,-e, como suc,:<le no Sul.
rem socialmente, projetando-se na própria esfera crn que se desen-
..!..!:ill~en1xaçãpJocial da ren.cfa ...c..
dQ.pr.cs1Ígi!l-social.pQssui imnli-.
rola a competiçiío rnci9l i-:or prestigio e a~-eiisiio social.
ca~es raciais ~m d.efinié;u; ou seja, em outros palavras, vista
:Cs;a dupla rcali&i<lenão mmspaTec-e dan,mcnce nos dados t:m t<?rnlO,daestmt:iro racial da ,Ot~crl•de !misildra, ela aparece,
c::statíscicos.Todavi:i, escolhendo dois exemplos contrastantes - ocsmo DOS cs.ta~os Jo Lcs,e, como um~ couc:cntraçãoracial de
como os do,; Estados da Bahia e de São Pau!o - é possfvd dcs- poc-er. - -- -
vell(h;r-se algo» e.;chrecill!<.ntos iundaroentais. Seria preciso lem- -Sli9 l'nulo ilcsua a .1ltemativa da r~ião meridional, que dis-
brai alguns dndos sobre as poJ'\ltJçôes desses dois Estados em crepa fortemenlé dus índices nacio:iais. Os negros :.. os mula~
1950, segundo a cor (omiti_n<lo-~e
os h~hit:uJC~.s
de mr não deda- tendem a .s_onctnlrJr-sc ms posiçõe~menos s>lil.t:l.j,:.-sa,; na esttllt\ll".t
nula): s&io-cconôoka e entram com quotas ulrra-úifunos (bem abai:x.o
Sa<,Paulo
aós'Todices amivés aos gJ_!nfs c~1 para constimi.i:..
a popu-
1 ~2$685 7<123111
00%) (36%) 1al2o ~fo§.U,Os brancos, gue concorrem com 86% <la po;:-u-
2 467 108 292669 loç:10, or.::ccem84% do,: emp,eg-adose 92 % d\>Scm;,reg,i<lores.
(51%) (3%) Doutro lado. o negro e o mul2w, que eni conjt<ntu formam 11 %
926075 72778~ tia JJ01>ulação,c:oncorr~m com 15% do, empregados e ~peoas
(19%) (8%) 2,,"ó dos empregadore~. Íl')?t.i,s,: de uma situ11çiioq_ucevi_dencia,
Am:,;dos
l0,00}%)
156 276 85)
(}%)
muito ,mi, cbrnmente que n da .Bahia,ej
1r.~l<.><lXi,il d.i rcnd~. do ,1>res1fgio
qâ ~tido a concen•
soc,a e o 119aer é, coíiêõ'.
Comparnndo-se os qtrnd:-osV l e \''1I, vei::fica-seqru:, de foto, 111,1,111rm, utc, um.a c('>ntt'ntraç_iio
racial de privilé&ios econômicos.,
existem d:íerew;~1srelativas considcrá,...cisentre a csrrututa ocupa- ·,1,1J1,r "1lt11r,11s, S<!se levar em conla que o negro e o mÜlato
cional dos Esrndos da Jl~bia e S.'io P~ulo quanto à cor. ;\:fas, a GIl<lllll:1ur1nunrn rninoriu, t3is índices ac!quircmuma significação
realidade racial prohmda nilo é tão diferente, quanto se PQ<leria mcJlO,incongruente. Além àisso, cnC>lu<las à lll7.da participação
pensar à primeira v:sta. O, ú:lc!kcs de porricipação do negro e
cio negro e do mulru:o. as diforcnç,,s, em conjunto, nifo são tão
do mulato na cs-rmmr~ocupacional aêquirem ouu::a significação a~ntuadas como ,;,,riu de esper-,r. Sobre 70% de m:llros e mu-
latos na l¼hi,i, existia om 101,d de 5 438 individuas com diplomas
quando se atenta para o futo de <f1.1c. n>! B,thia, dcs constiruem
70% da !')Opufação. Não obstauk, ahmrven1 em conjunto, 77% de nívd médio i ou seja, 1 t % do resp;;:ctivototal nacional); sobre
11% de n~t'OS e mulatos em São Paulo, e~isríam .3538 indi-
d:?, posiçfies de ernprcgaclo~ e apen!l.>48% d:ts poskóe. de empre-
vfduos com diplo1trd! de nível n~o ( ou sejd 7% do respectivo
p,adores. Re:o que se pode infe:rir dos da,'os ;obre a distribuição
U>t:llnacional). Qu.l!lto ""ª dip!on..>ascm ensino ,-upcrior. os
desLas úlónns posições, nem sempre cln.s se sitw1m nas csforas
1orn1sseriam de 666 COtll rcl~ão à lhhi3 ( J6% do rota.!nacional)
50
51
tese d.eocorrer e= acelera-ão cons:.i,m:e n-escen1e110ckscnvolvi-
~ 265 con .•} rd ..ç~ a São P;IU:o (_~%_-.lo:ota! nacio11al~1.[For memo e1:ooômico,a história tra.b:ilhar~cm favor de suas aspi-
J fim as mvcst1Ea,•oe:; realiz.ac.:.s"''1ocnc1ara.-n que o crescimento
'
econôm;co ..
acelerado, a mode..-nização e c-crtos e{ e11os
' '
e,, con1pc•
niçõe. de asce.'lsâo social. Doutro JaJo. as &versas classes. da
"Jl"pulaçiío de cor'' da Bahia se achsm prepattada~parn apl.V'.'ettar
tição rocial furç,!m o negro e o 01uli,ro, cm São P-.wlo,a alterarem semcl.hante altersção, se ela ocorrer e na mohda em que ela
) $tias con~pçõcs de tft:/us e suas re?tt•~tações sob!e as rei~~ ocotttt. !'\-ão só ali;umas de suas esfet'l!' passaram por formas
com os lraix:os_;t/fraia-se,é certo, de nume...ros ínfimos de mdi- de sociiliza-lio r«ebid:is pelos brancos do mnodo m:bano inclu-,
víduos. Toé.avi.aeles conscituem uma parce'.a de pesSOots imis- ,ivo co:no nos inc.li<:,tm os cstJ::dosde Tb:iles de Azevedo. /Í./
cuídas caitralocme em tendências ig::elitáfr.,s qce se reik:rem mai~ria ée~!:l populsçõo foi afetada, é>-"lem,t e í::iten,:i:nc:ite,pelos (
rdl estrutura de •= perscnalid:J(]e, no tem de sua v:são do mundo eíeito, descmafa:.1do:es ele d:,:s ?<0tt1sos conco,:nir:antcs - -~
e na a:-g:mizai,.1!0 de 5Llasd!Sposiçôc:s ~c.:ahJltlesron1pemcom cJ<pon<iioda cx:onor:ci~<le m<õcca.•lo. L'ID escala nac:oruil, e as m~
o pa~sadoe curo o paJr-ãonadiciQnaH.stn de aco.:n00a,;::1o
i,la.5s.h~a, r,roçõ,,i;'nterna1, O primeito pmccs,o p:i)jetou, em gtende vart'e
subalterna e: subseNieJlle diante oobr:uico. Em conseqüência, t1~,,.1r,opu!açlo, as;,ir:ições de cn::rumo q,...-só podem scr alen-
para e5SC pugilo de ";ia;soos rlc cor" o ptohlema não consiste, d, 1, 11,.J\' ·• ,la elevação das quotas de pt.rticipação da ren<la.
:,penas, cm ~ganhu: s v'.<ln". Eks !ut:i:n por igualdade _de opor- 1'"' •i!n<Íi,, ,1uco mcncionxlo proc=o concocxeparo n1odificar
nmidzd,;,-se por igunldadede 1ratamemo - e se não cbtem o que 1, 111 , '"" l"i" , 1rod:cin11:iis de ajustamento econômico, quanto
preferem isol~r-se a '·rcbai~uetJ1-se"JIOm, e;se pequc::,o
q<..,ercrn, , 1, 1 " ,lc ,.i.._,.., ut·ial <!llC d..s pressupunb?.m, qi:e "incula-
c(1mcro tende a ~tume.ntaT e é ai:l-a'\·:;5dde que o flegTO e n aula.to , 0111o r i~vl t o m•11nto a :1tivl,.fo.c!cs
eccnôoiC";lsmafa ou n1enos
sé pro;etam tle modo difcrrnt~ !la reo1.;ao.izoçooda socicdarlc bra- l,J,'I" ,1dA O sc,41.111<!0prOCd$0 <lifun<liu,a p.rinápio c!c n,,,neira
siÍcira. O i.usmo prr.<:cs.,oocorrtrá 11:boonais regiões, presumi- lrro111 m.., cm sci:uid., de mc><:!o tumultuoso e ixcmtroláwl, noves
velmente eJTIhmcií,, do rin:io e cfa i111e11sidade com que cles wncc,pçocs e n<was•~piL'oçiks<.-rooom:ca;, S()ciais e polí!icas. i\s
vierem a comparriÍhar de p,1d!ões e::onôlJlkos, sociais e polltko; mi~uçõcs nJo nfernm •penas os ;,;;::; agen.e<. I:les ~l,6~ reper-
de org.u1iznç,ío d,t sociedade de cfosscs. cutem nas suas ('(>munid:idcse nos p,tdtõ€s de cq::ilíbrro ·oeJa,
Contuc!<\ p.uece se.r convrnie-..::tc aCotar muita caUlel;,tna~ vil(CflfCS.que niío podem accicar as mosa.;ões daí rcs::iltames sem
:nterpretações de car-Jte.r prospcctl-.o, voltadas var,,o que viu uma w~ual transforma~ão éo~ p2c!rõe.st.radicio:rais. de compor-
suceder no !ururo pr.:himo/[ê,n termos da tensão e da !)re;são ) tilmento. Amhos os nr~.x:-~os ?.toJn?.eJn. con::om1tantet11~te,
que s:iporram cfa sociedade indu.,iv", a situa~âo do negro e r.o prcl-SÕeS cio mesm.,r..2t,;,c-za,que tendem, 110 nf.d cmnôn1iro e d:t
nlulA10 ;, rehltivom.e:1re1Mis r.u:a e dt,ut:J.ana c1ll São Paulo..]/ cultura. :1 eslimular a difusão éos padrões de com;xm::1mcntoe
As perspe,m'.is de imegT>lÇÍÍo,ofcrcr.:i6is pela ordeo1 social com- dos ,·alc,rcsdo orcem ro<:ialcompcê.ii,-a. Vendo-,c •• co~~,adtsse
petiti"', precisam ser conquista&s p:dmo a oolrno. numa luta pri~mo. <e ocon·c,-,;cm~<i.·tas.:te.-;l«Í'ài na_','estrutura da ~i1;:iaç~,",
Jesigoal p,tNI o "homem de cor''. Assim, e:CCstendemo • se ,, nn::m e n mulato cnco:i.tranarn na l~:-1".lJ~ .. pto\.--avdn1ente,;>r.o-
infilt.nir lcntamcr:tc nas t,os.kõc~ de d~~e médfa e alta dn sode- i,,h,hl,1Lk, ele êxito e de ,,sce.'lSãosoci.'t~mfatávcis ,.~_que os
dadc nÍ,,!,n!: e ainth n.'Ío ,; oode <liLec,ccrn ser,urança, se :is 11nw .111tcotlc.fn.rnram no <Ili do Brasil ,\srun, as reg1oes qnc
prop~sõcs igual.itá,·i:isc'.t) nq~(i e <lomula10seriío completam~e l"""u. 111 nl.lÍ<'rmnss.1.!e pop,i!.ação IX!/'.t~ e mulata co:rnu11wm
satisfeitas ao llÍVeldo p3ÕciOde in;eg_raç.íoda ordem 1.-conG!lll<:a, mdll<lr<'> ~rsJ>cnivas de corllbica1·bal~11c.:adnmcme, nas oró,imas
s()cial e policies. Portanm, deline\s-se.claramenteu':' pan~rama ,J&;idas.dc•cnvolvimc1110sódo«onômico, m<.xfo::ii~çãoe demo-
que e-•iden61 que as melhores i-.e.s-,,ectivasr!e asccnsao social do cratizaçio das rcbçiies r-Jci<iis. A raião éc,s,t pos;ibil:dadc é
negro e do o,ulatn têm ele ser conqu:stada.s a dctas penas e " simples - o mulato e o negro contariam. em escala socLII, ao
loz:go prv.o. _Tácom réerê:!,cia à J3alJia.a situ,ç,ío d? negro e elo '"'
me::;mo ttt:!po como artu:.ces e l')C'llcnt:r.ar~o~
,.,., .. cms
L ~ -
tran:.-~ormaçues 1
muLuo pal'e<:ebem dislinl:t. Eles se acham, st-b mu11osa;pectos, l,ist6rko-sociail Por is~, é prm,ávd 4 ue re;1.Lêz.~râ<1, rnais de-
na !llesrna !âr~:,çãocm que os il),i11ra::ites
europeus se viram em São pressa que em out.res,egi5es co Braru, o ,-atkfoio <}eRugcn<la,,
Paulo, entre 1880 e 19.30: ocu;,ando p~içõcs sócie>-econôroicss ...f os IXlS'OS c,-,1>11:
•<'~uodo o <Jc.u • ' • t
!JS seriam, p0r seu .. 1 uro,
h «
wna
su!.esrirnsdas pelas classes alt:is e sna; elites, mas estr,négicas d•• dassts mais \m:iorrantcs" do P:ús.
em termos da orgall'.Zaçiíoda economi;I e da sociedade. Na hipó-
53
52
Deio.ando de 1ido outros aspt\.'l~ da que,tio, conv1.1:1a $ posiçõesconqcistadas, 1rnuuen<lo-se de:itro clos limites da "linha
indat(,tr, agorll, o que sucede com o negro e o mulato <[!.,econ- de cor" invislvd. Ou rom;,er ro:n o bloq:.do e com o padrão
seguet:1"subir sociahn~.rae''e corno es5c:tcor.cli<;ãose reflece ( ou tcac!iéonal de rel3)âo racial assíméuica qt.--eo roma um "inferio,",
deixa <le .e ref!eticj nos cstcr.:ócipo, rac:ais ,. nos pr.,drõc:sde wn "protcg:do". um "su:>altcmo" permanente l1'l. convivência
relações raciais. A e::sc r~--pcito, as pesquises rr:.eisconclusivas cem o br:ixo. Em regra, dc:xando-se de )ado os mee2-1ismos
foram fcit-.l:lem São Paulo. .-\o con:rário do qi.:c ~e prop,tla, o compeiisij;óriosou ouL'"?l.s
formns êc dissimuhf as fnistt11ções
"~.sito" oii-0põe uin paradeiro no drama humano do negro ou do resultantes, o "homem éc cor" rende a rc3j!Ír. socialmente, de
molato, especialrnente se ele pretender d:s&utar e<;_uitJ1tiv:1Jnente três modos disêntos 3 ti>is s::uaÇ<ies.Primeiro, c!e ma.neixacnl-
"as prerrog,11::vasde s113 $Ítt::ção social"_ De um lac!o, tem de cul.ist':1,tíra,.-.do pro,·dto d:t.s!!rit::d<?S~mbivalentes c!.o branco e
enfrenta: um!! espkie de crise cm seu ajm1a.-ne:i10ao pró1)riO das possibilidades da ac:d:açJ;o díferenc:al, abertas 1>elo meca-
"m~o negro". Pn:-a manter a posição ,oc:al adquirie:i e para nismo da "exc:-eçiío que rotÚi.rna a rcgr:,". Segundo, de m:meira
poder melhor:í-L,,• rnptura é inc,:idvcl ;:,or ootivos e~o,,ômicos CÍ1lfo9~ procu_ran<lo
"des&uraro hranco11 f!3 ~o ,resma tempo,
e socÍ:lis. Efa se imLlÕecc'l\O mecn11isr.:iode autodd.:s3. P= imt"'r-se de ncordo com seus interesses e pretensões. Terceiro,
proteger o lnchiduo cor,tra ;,=dr/",cs d= solic:_'lrieéa<le,<Jue o <lc manr11·• puritona, sego.indo um código de rneneira_s ri!'lido ou
arru:.t1.ariase fossem conservados e liqu:darian, qualquer perspec- .. "'lt.:v.ido••
e, ~cm "fazer concessões~', procura.?::doproteget.-se pelo
lÍ\•a de con1in~r no jogo de mcbilicade social astendente. Ela i-,1l,r11r1110 cultural t'm seu pr6prio n!vel sóc:o-cronômico.
se impõe tdm.bémcomo meoini~mo Ce osie.-,r.açãode st5tus e de J t>tuilo '" 1..-111ci.crito oobre a importância co "negro de
absorção de novos p•drões de vida. qu:- roacluzcm 20 isohmemo n1 11' p.irJ modific- ..r 3$ atitudes. os csrereótipos e os padrões
relarivo e à formação de cliqne, de indivíduos da mes,:oa cor e ,lc· 1t,lcrJnci:1do brooco. Na vcrdade, as !)<'õquisas realiwdas
estilo de vida. El.t se impõe, por 5m, como psoc= ele consoli- mo u-.m que :is presunções c:stobclccidas só são verdadeiras e,::,
daçãodo J!a!tis em cermos d~ família,pois difcilnente a _;iosiçio ) um ponto. Qa311dose trata ô:: "pesso~, de cor" que xcit'lr,1
poderia ser trnr_;mitida de pai a filho se aq:;dc n20 lutasse tenaz- os mecanhmos da "c.xceção que confirma a regra". Esse meca-
mente p,lr:I impedir o restahcledmen:o dos velhos lac:os emo-
cionais com as pessoas de seu a:itigo ah-d social e com j!S sedações
fascin:111tesdo mew 11egro.De oatto lado. as rontingências raciais
l nismo é i ne.-enre ao pad.--ãot=::idióo:ialde relação racial 2,simé-
trica e à ideologia racfal dominanrc.-,'Graça; a ele, n "pessoo de
cor" é aceita como e enquanto indiv!âuo. em ft:nçilo de um s!al.!1s
mais doloros.is romeçnm daí p,ara • frcnte.,(:-\o i~afar-se ao \ ííctf<:ioou real, sem que os "bra.-icos" que intera_gem com ela
''bronco", oo nível do· emprego e da p:u:titipaçiio da rencb, o se obriguem a m.odific-:irS!las zcit;:des mais intimas a respeito
'':,omem diecor" rompe um b'.oqucio à sca participação cultural. do "t:-<:gro11
ou do "mcla.tou. Q-.1antomais pró:,êma estive.r a
Entíio, ínicfo o a\•c::tcra de tcnrar o desfrute do estilo de vida, "pesso,1 de cor" da sociedade tradicional b=asileira, rnais natural
das gara:irias sociais e dos prazeres asscguracos pela sociedade in- / ela acb:uá a cxistênci:1 c!e tal mecanismo é mais se ,-alodzará,
dusiva; e começa a ser vcrdadcitaO?ClltC "bár.ndo"Jf Í. o llmigo com :tS formas de infiltração ou de ace:taç:io n:>"soci<?cbde» dei<!:
"branco·•. que o tl'~ta com con°ide1·;,çífo no trabalhé, e nas con- decotrente:s./(l'odavio, os J)e/.\TOS e mubtos que estão vetdac!eira-
versas 01sunis) mas o.ão o convida p2.ra i= à sua ca.s-aou não n1<:ntc se incorporando à ol"dem social c:c:nptti!iv2 e que t&n,
retribui suas gentilezas. t e> colega 9n~ pru.sa a sentir a sua
l
toro isso, possibilidacles re•ili de mobilidade social as-:cndeme i:a
presença competitiva r.o m,balho e vê-,;,, forçacfon :iccitat a rom- estrutura de sociedacc de c:L1sses,tendem a repelir essos modali-
petiçiío e1:1 termos usuais nas rel:tçfu:s dos bcancos entre si. É dades de acomodação-:-''Não se comen:am com as compensações /
a filha que n:clama das atirodes das colcguir.has ou da profes- oferecidas pelo c:onncío cem "pessoas bmncas de classe baixa" 1
sora na escola. É a mulhel" que se cnfurccc com o com;,orrn- e não ,-aloriz:,mo branco por cau;a de sua cot. Assim, lutam
n:ento dos fom.::cedores.que" tr,imr.i como se fosse a cmp,·egada J>ara íic-.uem seu rúvd social, no ",neio negro" e na sociedade
da ca!a. l:. a bo1te,o hotel o:: o c'11bcque o r,-peler..1,cooo fre- in<:lusiva_E.1n conscqi::êada, ~s alternativas compemadoms m3s
guês ou como sócio. >.1essa; riromst:incias, c:c tem de tomar ÔQloro;asd:1 aceitação ambí~'U-aou d~radanri?, preferem a mu-
uma resolução drll!lllltica. 1\ceitat fl< \-cll-as rcµ;as do jogo, abs-
0
d:1nç.1detiva <lasarítudcs e: avaliações do ''bronco"_ Querem ser
tendo-se de µrerender pant si papéi< e "r~ali2S' sociais i.tlerenrts nceitos e uai.adosccmo i;;ut:is,sem :e:striçiíes nem evasivas. Ao,
54 JJ
f agi,-em dc,sc aiodo. não ,e;tão apena; re-.,da.'ldOseus próprios
preconceitos e recalgucs, como o~ hraocos o snpõem. Is.so ocorre,
1n2turnLnen,c. como wna mauifcsmçí"iode cono:a-ideolo&iaracial.
~o e.OJ,lllto,(\ fator psioo-social dinJiroico é a defesa do status,
da r,ossibilidooede transm.iri-locomo parte de seu legado à família ~
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bém pa= a do111in,u:is tknica5 soc:i,iisusadas J~Jo branco das "...
r.-:a;sessociais f~e:1 galgar as _pos:çõc:srn,1is ou mcnoo
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QUADRO II (){)ADRO IV
Distriir.ilçãoPerrt,:lS/.:,.~ P~f_ul··ri':<!
_d~: e Ct1r,pd,s Regi&s
Bra1?tiran-z,J.•UbJ pt:u:c..ts:::dta: Pes:so~ Ea,no.or..ic:mrtn:e
Di1trii,1,,.i;CO Alir:ds d.!tPop~:!~:~o
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:Z, As 'Rahtl da Ordtm ~urldl CompNit/vami JJratil:• N1·escnruplo cunltxto, a situ1iç,lodos negros e mulatos foi
,1k1,ufacm tr~• direções d'lcre,1tcs. Aré c·sse petlodo, como cs-
Como omrrou 1:m todos oJ pn!sc~mn<lc.rnc»eu1 que ,1 ewc\'I\• .rnvos ou cotno libcr·1os,1i:Jhn111 uuia posiçiíutone e 1n101:dvcl
v!diio cu~vc li8n,fa ~ Cfploração rolunhJ e "º ,i.rernade pLin1u- ni1<>tru1m·nda c.:onomin. A1~in1IJUC1ud,1" e,u111ura,Jo m·
(•"· a ,oc,crl~,J.,IJ1"~•learft
cnlr.nrou ,-11111dc., diflC'\Jdn<lcs nn dJlu. 1,·11111
d~ l"'<J<luç.1o pduclplou u ,uoclilicuNc, e,sa. po•icao foi
•ÍIOe n11lnrcur-:11•ílo
Ju 01:ucm>O<'lul compclltiva, Lkcrnlwc:nlcfa- cm d•s~• fre111~,.O nl<'rcadoi111crrL1Cional
,11ll<:J\'1du foroe<.-cutlO
fa11dn1tl<<nordem soci:tl smiiiu cmu n ruptura do velho sis1en1~ p,,r,imigrnnrc• pmve1lic:i1e1du f.11rn1,a,'111cvinh~,uctu bnscu
colcui.il, ~ft> " sun cvn\uçffoini ,~ll'C•11111 ícull,ucno urbaun, utt ele llrcos mQi•r1t-J•e ttn 11ie.< de <itscnvo!virucn,o,para tr1baU1u
o derrndciro qm1rttl do •fculo XIX, A c<cro\lidiioe n rclRtlvn .. uno r1",11C nualoriodn, nll'ltl e urb•no, ms coruo 1uaic:1tc•
im11urr~ndndos liberto, co1110orip.,cmde 111nnc.11cgol'iosodnl l<1/iKrn;cou1c1•clo1ntes,'"' fol,dc,11\tc~.Por nutro ludo forulllu:
<.11n1r>,:,1krt\~J11is]tlvo
for:11m um ~ronde <>b.rikulo~ Jífcreu,c:i.lçjo hr.1nca, 1r~dicio11oi1 co,11<."ÇJrnm• mud•r•:.c c!o 1mcrio; As ,,arn
e~ u111\cr<ala:,~:10 da ordem >O<'Jillrom1-e1!tiw .. A r~iiio 6 •ss,12 1•.1,111dcsddadc•, e no pc"5o:rnpohres ou dependentes ** surgi-
cunhecit!a. ümw 11ssinnJmrLoui, Cuuty, " <lcsvalorixoçãue ,1 1nnt mino uw 1e1or nss.,lwado <'lld:IV~ mnlor. ~o Kortc e ll0
dc~r,tda(iin Jo m,h~lho p11kiu.ci<las 1,el• es<rn11idKo in1('<.vlirn111
ou Nnrc.lc,~, n rclG1tvQcitn,Rnaç~o~co116mlcndn e<.~mo,nioruml
c~rorv•i,,m n ,-onstimkliode 111nn da~1eQ•snlnrlncln 11s•i
u1 """ 6r,ea~ n1l,uulol1 doí, 1>roc:cMOK corrclnrlvN - n vcuda do 01,io,dc-obn1
u,·bunns cowo nn• &rcns rurul• e o c:merg!nclnde um setor de , ,m1vaexccde:uep:,m •• ftw:nJa• de rnfé d~ Süo Pnulc, Rio Je
~11ucu11agdculturit ( • ). 1-,,rnl'lllilo di6so, até o mcndo do século J,rneiro e Miuns Gcrni.,; e n consolidnção dns poséc;õc;dos Ji.
XJX, a cc~nomin de lll~l'Clldoníio. deu ori11~1 a uma or~,uni:.aç,lo bt•r1<,soc~ros Ol~ mul,m>;icomo Oj\cntc.de mao,dc-obrnlivre ( e:,.
rr,otlt:rn11 1 uo ,cnnJu tn1>hnb1n,cio 1uh11lho
t1p1r'1 e t\11•rclaç!Ses pt11nhi,ufa<Jll111~, c~pcc1oll1ndn,wohec1udona crcs<.-cn1~ ccoiimnlu
,mnl\m lcn~. Sou":111c nu,nns p,1w11Ad, JndceJc•e1u11Mhnuu com, 111hrnn), Nu~ro:slõc~de foic111IRi ele ~Q(~, que se dcwsvolviom
peliç~ú I\IU~'Ílh con,truti,•,u b:\.!C"a1e pcxkintej!l"Jt 0> papéi• r,1plJ:\mcn1e(sobretudo cnt Si!~ Paulo), ,is rccéw<hegndos, es•
ou •s p<JSl<,'Õesde alRttnsnl(cnteosociais ( os seohore• de terras ou f11111J;e1rosou fülc1onn1s,nbson·Jí1111u:c mdho.rcsoportunidutts
fazcndd cos, cunio fornccccfore,de produtO'Itropicnl<; os ngcr11e-s ruw1ômirns,016nas fircnsrutllia,n<.-clero11Jo o cri'ICdAc,c,·nvidao
º"
de nc~ios de Ílnl"Ortn(iine cx110r1~Go; comcr<.·ln11tct e "~80· 11 , 11nvcrrcmlo ONncurose 111uln1u., prcdom!11u11ccwc1uc
1,,, m1uslnnie~, povuln(âo e nwn &ubprolcr.uin<lo.
num ec-
N,,;
áreas c.!o
d~m~e11n1lvos e c11r11ngcl1·0,;
nl11unsliMquclznsou agcn1c•(innn•
ctnm; mspcS$<»s1111e cxerdam ;,rofissões libecai,, proies.sorcse Sul, cm que • coloniznçiíoesrr~n.gcirnse co111bin~va com A peque•
burocratas; os pouros fubl'ic:1occse lrubalhndorcs cm fobric:ns; nn n{lricultur:i<>11nnt(ucfo, em <iuc prcpondcrovnm M fo,icoclms
o, l'écnico.,,artcliio• e <>p<:r~d<}• c,pcchili~lo, Cl<',)
Com \\ ln1crru1x;3odo 1rM1~11 do~ eicrnvoRe ns leis cmAnd• ( l Cowo ''"' y,11,~c .,,ndm d• rtl«éo>cia: F. l'cn,ande,;, A
esse vcmr c.nlrou u omplhlf..~e e :, crescer, No tlhimo
J')1\dm·11t:1, INt Y~•;'> do N~c ua S()(.it,lr;Jttk- C!,:It!.'r, $;;,, Paulo O(,cni.Jma E<.füor\1
q~artd do sécul~ XIX, a crise cio sistema eõCTavista - que al'ln• blm·rn dn Ut1·i.·tNiàndc de S.1oP11uio, 196,, \'OI. t, 'c,n, l· n. llú.wde
1 1
t 1 l c1n11,dcl1 DttJ1tf"OS"' Nt1.rnsw, S~, P4ut,,, &,o ~ulo.' Comptnhf•
1111111010tcml~nc,a c•trulul\11e irrevc:rdvcl on décadn de 1860 - 11
l \hh 1 .t \t1dona,,1 2: tJk,io, 19)9 t:Jt>II, r ll: O. 11111111,"O Prop_,,su,
akun(ou o ~eu dúnnx. A p,\rtir de cntilo, • rnoderni1.11çiio do I • rnu-Jn1h.-,, tt o t'111balb,1d,1, LJvrt'~ l11S. l\uar,1uoele }lol.mJa HÚMrJ..1
ACtur urh,wo 1<11·1\0l~se
. l uma í.or~n •<1chil vioorosa
.. e autõunmu , ( ,', 1,1( d~ ( lr#ila,ilo hr11sU"h11· O Dt,H)J U,mJ1qt,·1toVol. 1ll, $10P1u\o,
que opcr11Vasnnu taneimente 111ravésdos ní,·cl• ccunõmlco e l_•~•I,l);{...,'loE.,l'O\><., Jc, Uvr,,, ~p . .!')7.)19; Ç, ~t<do Juoillr Hi.,16rl.1
l• ·1mtJ,mc,do Bmsll, Slo J>1tulo
1
1 E<htom Dta:<iHcn~\',2.' c,H~.itu,
19:;~,cap. l?.
1&11:~ .Drbll c111RM, l'nro & Uno, Hdlteur1,lUo d~ Jnnelro,18114: ítt •• 1•urnl1.
, 11i111
64 6J
de sacio, ronuol"'11, por poderosas famílias ua&ciooois, os ne• ►UIIK I M) l\.·1,cin1,~ O)!Ã:.enaa~-00 nlll'&2ciáiltlc g~e, como
gros e mulnto> wcbésn se vi.tru alijados d-a com;:,etiçfopelos h ,, 1'11111,,,r ., congl<Jroençionas favelas. sol~ suben· :,sta
no,•4Sopom11tldadcs, IDOnopc~da, ;x:los Curopt'U!, ou peana- 1 1,li, o ,k 1111,rcgo J>e:manent~ o,, te1T)poranopar,1 o homem,
llCÓam em posiç6c; d::pendemc.sou marginais d:ssinrnladas *. li 11 , • sobreca,i;a p<!tá a 1nulhere a anomia ~ para
/1 ,, d• nu cic!aJ:: raro equivali~ à portilhn dl1Soportuni-
Dcssarte, CO::JD conclusão geral: • vítima da cscravidfo foi 1 1 ,l.a ti.it..Jc Tnk s.~'"OÇÜL"lf aucc!-,-i-r4."Scunhec-cram o que
tambérn vitin1ada pela cri•c do sisleilla esaa,-ísc,, t!e ('tnduç,io. 1 11, ,~1ulica1a do!;O.'Jl&"izaç/ío socialcoroo cslilo _de vida,
A rROfo,ão .social Jii 01·ch.:msooat comueticiva lll!ciou-se e con-
1111,1 • lc/\3 pnra cidades pcq11e1iu,,em que o t1'1lbalho<lor se•
c.luiu-sccomo ema reoo!uçíiob,cr.u. Em r~o disso, u mp:1:• 111r 1..!.,.1,,_.._10,
o trnWhador cspedaliztdo ou o artcs;,,o_ po<le-
macfob~aocannoc.':Ifoi ame~ç•dapelo ,1bolido~o. Ao co1>- 1e1}tuarJ~r-se da ~c11npe.tição
•' 1111 ,c?in os b:311_cos,
_e$UJ.Dgeu"OS 0~1
tclr'.o, foi OflClUS rcor,.iani.ada co ouuos termos, cm que a com- , 1nn.u~. e <Orne('ar vida D0\'3. L,1 soluçan n-nplicavaum-:i oce1•
Jl'!t:çâ'o teve tlJl'la cooscqü~nda tettl\-el -
a cxdado, pattfal ou , \ 1c1 \'vlunúrb de posj~ ::f~vant~~~ ~em espcrlh,.~ em
mtal, do ex•t.ge:,te da mão-de-ubracsttav,1 e dos hncttos do fluxo 1 1',~n ao futuro, Ti nh:a Slf.ll•~•~núo ,10 que ~ abso_rção
1d1::u:,co
vi12l do crcscimeo10eronômico e do dcstnvolvimen,o socfal. • no l\ordcstc, :>J,11.muduroo1co pcl'foduce J<:-ante•
l1ll('<1t1
No po.oto zero J., ""' iI:clu.io numa oun ordem scK"i.J, , ,1,111,!.i ocravidão, O destino do, óll"-·:ues,p-0t1unw, (01 um•
pottan10, o ne.gro e o muluto d<>fl'.U•t'llo1~om v:!.w.s opções, tu• t'U do ?TQ2,t<.:-s~o <l.-3
tll\14\l 41,1<:stagn=ição ''d e esco )l"J11 a.
co111u1, 1ua
du cspoliativu e dc,nurávc:s. Prir:i.eirn, o ;egresso :l$ rc-giõcs 111 'l~lt.: ~ de mc.ro e a:go ZCJSO.
de origem ( ou de o:ii;em .!o.s s,-,,; 2.'iCCUCeo1es
), úto é, a algu= l'm,,r;too• JX>ressa per<;>e<:Ú\'il, cviJroda-sc que os proble-
área rur.il do ~on!cs1c ou a algum:i comu,üJode estagnada ou
atnts2<bdo inLc.,lor ceSã1>Paulo, ~iiuas Gerais uu Rio <le J•·
M ,h l'l(!P'US º"
mulato.<br~,i!~jros siio, ?dana de ~do, ur.1
1 ,,lil, 111• a •rado pela ll.lC9~cb.<le,di_ wc,eJ..u!e_naciooal de
ueiro. Tal solução implicava a s-.ibmersiio nwua economia natu• 1 l t1 rup,Jomenrn uma econ(lOJJa n1p1talistaes;,,,ns1v:1! c.tp'JZ de
ral de ,.b~istência. Segunda, a ;,crmonênda como trnbalh~Jor •l ,,wr os c't-c,cravos e os lihcrios no i=do de mao-de-0hrn.
em geral, do untigo senhor para u.-n novo em-
rurol, p:,.ss.111do, 1 , vlr111<k dis<O des ÍOl".u:l txpubos p;u:aa ~-riieria d1 ordem
p:~r. Com<>o cx-csc.rnvoniío pos,uía as insti11:içõcs nem as ,1 ictlltl ,•1ili\'~ C"J r~n cst.r1.nur11it ,cro_i<:olu1!h~is
e co.lon!n~s
tntditücs t.1llturois dos irui~ta.nte~, e predMva, po" ouun foJu~ 1 .1" -lo 1 ., Jdu. C.ssa;estruturas semJ<Olon:a1s uu ro!omn_:s
com1x1frc,,w elés em rermosde b«ixo pogome:no**, CS5R
luçio supunha uma incap3cldodt permanente para utilizar a <:O-
= , 111
p1Hh11um11n111>rl:mtes. funções na ctm\ltcnção ela ~m~:1.
" 1 , 1 ..'111 111("onde -1h pf.u-Hações,as ía.zcn<:htsde cru1ç,aô
opcra,;io ào1nés1ka, as ticuicas ttsclt:tntes da poupança e da , ALJ J. ,, ·otl1•m ( m1 d,,pendem) de formas <le crabel',o
mobilic!Jadcsc-<.ial<'omo mecanismo ce acumula(ão de caplr2.I e 1111, ,q,1(wl1e •
1 ~ 1 (li 1 111t11nt•r q""'• 1H'/'\:l"IC cnrnfo, os ex-escra\'ose
li 1 1ur, 1 t no t,111mm, ',. ux 1os os .........
yuvtes "
(•) Cem.tc7~.a eo i\o.rdr.,t~ r à cmt:gé11efatd: \:m m~n::11.rl~ •le ti 1111111J.i, , , ,vo••e .1 clirniunc;ãodos libertos
"1•0-&.'0bcalivtt, 0$ a,,w.~\c:$ l><sci<.- se <J.'Dleslu&>do pul)li;:a:.lo
de ~ Tmsei, •~ 0 i~:to l13 .8c.!na..Com rdtrGlC'i.t a S~u rauJo~ "' \1, , ,n ., 11111~r••*~• europeus livres
füo Gn.,d: do hl, }>...,,{ t $ruiu C=:ica: e!. ll ~ e F, rcr- , n pti , ••on N , nh~ tanrc como 3S·
n.J..'ld::s, i',,rt;."JC(l! e ":v,?Q<,~(1.t1 São Ps--1-kJ,/(i&. cii., F. F~tn1mdes, .,,,,.,.·,..u 1 1, la . , , ..,1d11n11.10prc1w·ou ,., seu •geme
A Jn:~»~o do .''itVo 6$ \n<U:,ücdtde Ci.;sst, l«. ci:.; 1:. Henrique
1 1101 ,li 11lt>r
Can-toso.úpi;r.Hsmo t Ew-r.vidâ1Jr.n Dr:uil Mer;dio,:oJ,.Sãu PAulo r , 1 , 1 . h"c, ncm mesmocomo
,
Dlfnslo 1-'AL."1'.J-,Sn l9<•2;O. Lmcl,A: lrl<1•m<>r;0<«
do LlYT'O. Jo fücraoo, 11 , ""li d11h .u,lo ,,11\('1nl--c\pcci3.liz.a<lo.
111h"ll1111li11 1'>01~ás da
Sio Pn:o, DitJ,,o Eu.op!'.. do L:vro, 1962: O. I,uuú, R,,ç,:, < Classes 11111111n•• •l ,li oHkm soda) cscrnvocrato <: seohonal, O
no Rr4!il,. Ria de )~~ E.citora a,':lu:a;in bilcio.. l966; 11• Hen-
rique Car<lc'50 o O. [Cllni, Cur e ,\!obi!id.dt Soâa! em ffo,i,;•ópuli1, Siío
Pa...:lo,Ca.7lp:mhial:d1tm2 Nanor.~l. 1?60.
{") i\cr.m1 C:o, ri1n,:uados !i!'IHriusda ~c-ohra ru:-al !i•.,rc,•ecj;t l' 1 \',k • bh.,. .. 1.. IU no.<•d.1 p'i;. 66.
E. Viotri do Co,13,1x S.-.u.a ~ c,.,;w.,, Slo P•u!o, DmaoiioF.,ltOpéia 1°) 1 1--,
.. 1., Ju11lt,r,f,c,,r---4'\Jo do BrAJ:'!Con.:tmp,Ohfoto. Col6!fi.z,.
do Li...,, 1966. 11.,.1[) Un u M,udns Edmxà, u,2, J'll>•~1.)-$2.
66 67
"e,c11,-u" e o '"negro'' cr,un ,lo:s demeoto, i,•ralclos. Eliminado ,1kk,. ,lo rcccnsc.1n1cn10.revel.,m umn 1md~nci~fund.1ncn1>11
<."=
o "cxra,·o" p<'fan,ud.tnç:1M'Cial,o "negro" se converteu num 1111111<,p;\lio
da, melhore• opc>r1uni<lodes pd01 br11ncos. Escolhe•
re,lduo rad~I. Prrdtu n condiçau ><>Ciul que adquiri111no rcaJmc n•><a l'()>Íçio do cmprtgaóor ~ Oii nlvcls cdUC1clunaiscomplct~·
Jn ~ra, idÃoe foi relca,,do,CU<l)(l "~sro", à categoria mai• baixa ,k>,,c,110l11unsl:stndo< rcprc<cmalivose •~ pa.ls, como o m~l½or
"1,opul,tlo pohre", no 1uorocn10 cx:ito Clll qu: algun, do$ seus i,.Ji<ador disponlvel. .Eles covolven, pnpc1s, \'nlures e tradiçoes
<clorcspartilh:1vamda., OJ'()trunidaucsfnu,quc«las pelo mb.lho
livre e ptla ron>1i1uiçãode uma ela.se 0;1<:r:lri,1
assalariada. Dessa
culn,ras, expressivos c:m termos d,s a\'1ll:"IÚC,S . fClos
hran•
cus, do prestigio, do controle do poder e do onob,hdade soem!
raaneirt, o nei110 foi vítima da S\13 posiçio e da sua condição a,cendeote. - -
racial. Encerou, com os pro)'rios meios, o processo pelo qual A evidência sociológica básicn dos dados não é negativa; ,e
poderia ,er metamorfoseado de "negro" num covo ser social•. considerarmos que a c<euvidão s6 terminou ltl scs<c11ta e doi•
~ias. quando ele estava ten1:uxlo impor a ,i me.mo e aos brancos anos (em rclo~ãoao rccen!lea~nto de 1950), a tola! ~li11~ncia
ir.difcrcoles a "Scgund• Aboliçiio"', a tcntutivt foi rcrus:i<l. e dos problcm.is hum•no&dos "!)Obres" em gemi e <Lipopulnçilo
<·ondcnada,roll'IOmanifesu,;,iode ''r.l('ismo" • , Em outNs r•· indigcnt: de origem e,mwa, o l~lto de c,ricntn~ de valor e dc
lavr11s,nri;ou-,e-Jhe• ou10-ofirm.~o como "ncHrll'' n despeito d:1 cxpcrié11ei•C(IUI os requi•hoa ccouômicos, socia,~e cultumis dtl
<uo m1r~inalid1dc•odal como tal ordem •ociAI rompctitivn cm dc.c1wolvimcn10,predominante cn,
rrc negros e mulntos, A indiíe=Çll ou • oposição disfarçoo• dos
J. êviJt11ri•1d,• Vesígu.ildadrRoei.dt stu Si&11if,c.,Jo btulCOSl p:utilha dcmoa,lúco das oportunidade, ccooôrolcaso:i
S0c,ológico educacioMis com ambos os setores da 1>0pula(iobrasileira etc.,
os dadosdo tttenseamento revelam umo melhoria "'1 situação,
A su exan a descrição L~tc:rior, as mudan~as na estrutura graças aos esforços desses grupo,<de cor para se ,-.kra.m du pos-
social qi:c ocorrenun na sociedade brasileira desdt R aboliçíio da síveis vanta~ns da liberdade e do prowcsso. A ,,aior parte d•~
escravidão até agora, não úvenm efeitos profund::is( ou twenm rcndêncios, natumlmenre, est:I lig;><laà aqui.içii) graduiva c!c
efeitos mairo superficiais) sobre a concenlrnçilora:inl da riquc1.n, novas orientações de valor e de rrBdi(õcsculturais, à impor11lnciR
do prestígio social e do poder. A falta de indicadoresobje1h-os doa nt-grose mulotos como agenccseconômico, leómo força de
oiio permite uma completa verificaçãodcss• concluslo. O último trAoolhoou predomlnnn1cmcn1cromo pc!queno,tmprcslrÍ<><),e
rcccoseamtnro ( cm 1960) excluiu os aspectos 11,c.nJs da popula• "° dcscol>rhncentoe utiliza(io d.11o.,ortunil'lndcs cduadonais
~iio hrasilciu, Emrernnto, o rc«nsc.ilfflCntode
olgumu iríorma~s tireis.
"'º
ministra\'• como csc..dn l)<lraa lntcg~ social e a mobilid.idc1,ccndentc.
A importma de$SCSaspc,:10<é maior do que se p(l<leriaimaginar
Como ,e ubc, o percentagem dos clilcrcntcs grupos rxiais à primeira vi>ta, em resultado d05 efeitos cu.mulnivos do pro-
( ou carcgorias de cor) varia ern cada região fisiogrnfieado pai~ cesso econômico,social ou culmnl envolv:do no futuro de no\ras
( cf. quadro l, acima, capí1ulo2, p. 5i ). Em conse:iüêflciadisso, ~rações.
o gnll! de concenuação de cada grupo racial ( oo categoria de P.ntrctauto, o progresso foi <l=asiado knco < ihs6cio. 1'•
cor) nas diferentes regiões varia com manifesta i.ntcruidade (d. rc•I.J ,k, 0< negros e mufaros fonun :,rojcudos ncs cs1rato.~d.,,
qu•dro H, acima, capítulo 2, p. 58). Jit '"'·" maiA pobres, q11e não r:utilhalll ( ou po1till11m muito
Não obst>tnte,os dois indicadores Msicos- posição ocupa• P'"""'),h, 1enJ~nciasdo dc.cn,-olvinicncucc-onômicoe tà um•
clonai e nf..el de insm11;20- que roc!crlamo1u12r atnv& dos ,l.,11<,-.,.,. ,,,<"t1lrun1I.Atf nn, rqiilles cm que' ,,. ucpros e mulato.<
co,mh u,•m II nrniMia dn po1,ul~5o. romo no Nor<btc, ou num
,tr1111<l~..-11,, ,lrlJ, como 110 ú,1, ( em que ~'<>1wti1ucm, cm cun-
(•] CT O. l.aMI, As /,kt<"fo,/nt<J, &rr,ro, op. n1 P F.rnondes,
A lnuq .. J, lc, ,'i,1111n• Vo<ttd1td,dt CI..,~,, 01>,cit,, vol. !, <~JI.I e wl. Jun10, H,7% e 47,}%, ttsoccti\•:\l'llentc, d• IC)lÍÍI.>;e c:n qcc
li, <11p.' são mais co,cmtr:,uos - 62,8% r,u Nurdc•I~ e 95.5% no f.,ejte,
( u 1C'f. lL Oe.,idc e F. F.:nandes, JJ,~r t N<R<Ot "" São Palo, cumulativamente. ''°''grupo de cor l ,em umo iiartlópaçJo cure-
np. cil., C1Jh 5; P. Pct-nunJd.,A l'llc,vaçm> dt1 Nciro 11a S«i.ed11ded, manicnte tseossa na po,iç,io Jc emptc?adorcs e na, mefüores
0,n~,. nf. eL, ..-~. 11. cup. 4 oportun;d,õcseducacionais.F.c,fon~ãocio, FstaJ,-s =IH.Jos_
68
69
a a,nplitude d2 desigualdade n:la,h•e ils posi~-ões dos cmpn:goJo- .l,1" ·, que precis.1ser extirr,aco pefa lei e ~lo controle formal.
res dá aos brnncos notável su;,rcmada ( eles n,rtilhAm des,3S uo- 1'111ret•mo.as ,·Jrias pesquisas ~ a eieito por Oracy No-
sições numa proporçio de }, Ã, 5 e até 6 ou. 8 vezes co:ura um~ ~ucor:a.Rog,.-r8astide e F. fcroantcõ, L. A. Costa Pinto, Octa·,io
l11nni,r-ero:mdo Henrique Cnrdoso e Rc:i~to lardím Moreira pu•
dos negros). O mesmo se 'Ocrir.ca cm relação ,tos mubtos, ooesar
de se encontrmem e[,s cm posiç..¼ melhor do q:rc os ~ros .cnim de ?Mr.ifesto que as menc:io,.~d:is sritu&:s e orieotaçõcs
{os bnncos parcilh~m das po.~:cõcsde emp.rqpdorc,, cm r.ic•••s são um pndriio cultnrnl hcrd,1do. t:i'o dinmdido na socie-
média, numu proporciio que o,dla cone 2, 3 ou 4 vc,.e. m~is do .lJ,k braiilcin qt:211too foi a csc.rav,dio no pa•sado. ,
que os mulatos, =nianclo-,e o C-JSO do Rio de Joncir.-.J. Crn ~m, no fundo do problema r:1ci:tlõra,ilciro encontra-se
-algunsEstados, us mcsma.steadM.cias se repwduicm, de m:u,cira • p<r<~t~ ce um modelo as,:méuiro àc relações de raça,
chocant~, na partilho das o;,ortu:údades educaciom.i<, sobrttudo con•t=-..ído pa.--aregulor o contato e a orckmçfo social entre "se-
nos níveis d•s escolas secundárias e elas uníversidudes. (Veja os nl,or·•. bescravo" e "liberto". Como a(O(ltcceuno Sul elos Esta-
qmadtos III e IV.) O cotejo do, dados fornecido< pelos J:JCS- d.-.s U:iidos, e~ tipo de relação ass:métrica cc raça envolve uma
rnos quadros com os do qaad,-., V mostra que a ex:clusão dos ne- esp(-cie de rirnali,açiío do comportnmento meio!'"'. A domina•
gros e mulacos elas melhotts o;,ortunicL,des econômicas e educa- çi&odo s,enhor e a subordinac;io do escra\'o nu ,lo libeno cão
cionais ~!?"º o mesmo roodeJo r.<""I,noo oiro Eoto.!o. acollüJu,. f'lltC do mesmo r:tunl, por meio do qu:al•s e1-coçõcse os semi-
.'\ predominância de mulatos, consjdcradn ele per si, ou de negro, mtn:os poderiam ser controlado, e mo$1.-.nado.!. No Brasil, esse
e mulatos, considerado cr.t conjunto, pouco influi, mesmo cos 1:po c!c rhualliacão teve idénticis fu,i(iics, reforçado peln pres-
.út&OO$m:i!.s"mi~ccados 1' e- r.teialmc.'lte mnis "democdticos ... "'º c-~t6lica paro preservar., em algum sentido ,1parc11te, o estilo
1 O sig.nificudodesses dadas é evidente. A estrutur3 raci2l de ,·ida etistão dos senhotcs, escr:ivos e libertos.
79 71
t ncce~sário, tod.i~;a. nio c,queccr que esse rcsuludo não Pelas mesma.,razões, o "dil=o racial br-..süciro" também é
faz parte are= de um processo de aua.so cdr::uaL Sob o capi- c<:1mplic:.ado. Não rnn10 por deseripcnrarem o.~ l,rnncoa,11egros
talismo d=r,eudcnte, o sistema de clas.scs é illCap"" de exercer e rui.éato.,os JnJ?éi~
que ddc. se espc=ar.ide ilisf:uçu ou flCJ\at o
tocla.s~s fu~ destrur:i\·asoo cuM:rutiv,is qne exerceu nos po•- "preconcciro J.: cor" e a "ciscrioi:11içiio de cor", ma, porque
ses c:ipitalisllls desenvolvido;*. Dois procr.ssos <e \-crilicam u único c..minho.:thertoi mooi!J!Ça CJlsill:a<;ioracial de;x:ncleda
COn;tlllta!ne.-itc- ::i modcroiuçio do :traliro e a arcaização grac!ntiva, mnfro lé'tlta e irregular, dos ocfiros. e
pr:o.-p..--ridade
do m~r"<>, como fato: oormal d~ inlcgTaç:oocstm:ur.11 e de mufatus. Sob esse USJX."<-1:0, é fora cic dú,i6 que o p~cconce1t~
s-vo'uciio 6 <oclafade. Na rcaliU.e, as<i.mg\le o negto e o e • di.,;o-imi:,;,ção,!!.as formas guc as.-utncm :io Bcasil, conta·
mulato foram prcdomin1ullcmenu: ~lija<losda recoostn1ciiocco- buero m:1is para 11l3lltcro modelo assin:éttico dM relações c.le
nômko, socinl e po!Itica, p:i~~ram a ser um parcdro marginal. ~ do que para clinini-lo.
A cri.se do modelo •~!>imétrico da relação da r:,ça começou Is~ significa que, considemdos sociologic,unenr:c, o prccon-
nnte.. cfo pr6:,ria Abolição. Entretanto, havendo o negro e o cciro e a discriminação de cor são :.:ma c:s::saesuurunil e d.'ni-
ir.u.lato perdidoa imporclocia corco ai:cnte social histórico, so- mica do "perpé!ttllção do passado no presente"'. Os hrnncos ,,;;o
freram o deito ~-státicoda sua nova posição social. S6 agora, ,·ieúmiu1n oon..<cientee c!elibcrrula=tc os nqr;os e os mulatos.
mercê de migrações internas. do prog:csso econõcico produzido Os efeitos normais e i.,dirctos das funções do preco11ceir:o e da
pela ín ttgraçio :,aciona I e!,, sociedade, e da fmc:1mobilidade so- discriminação de cor é que o fozem, sem cemõcs rncia:s e <em
cial ascendente, eles ack1uirirnmconéições de enfrentar • snprc- inquieuçiio social. Resrringindo u o?Ommicades eco::iômic:as,
maci.3br-.1:lCII,
quase semp.-.: de m:ineira disfatçad3 e acomodatícin. ctlucacionais,sociais e políticas do negro e do mularo, m:ontend0-0$
Ape.,ar dé 2lg-.m,aresisr:Cociattiva dos br:uxos,não a es>e$ "fora do sisttl!:lá" ou ¼ m~m e na periferia da ordem social
fenôrc=, rrw ~ algumas not,keis persooalidncles negms e m\1- rompetitiva, o p=n~fro e 11 discri.ninaçiio de cor impedem •
latas em a=nsão. esse longo período de inanição contriblÜu paro existência e o smllimento de uoa democracia l'llcl.1 no Brasil.
mamer a CO!'~ ri rualístic:,d.is relaçõesraciail. Corno indi-
vfd=, t:tas p=incipalmcn:e como minoria de cor, o r.egro e o
mulato não têm li!iexd:tde =se uu1izar de u1112compct:ção
ag=essivacontra o~ brancos e explorar o conflito social no intuito
'S. Conclasõcs:
de lute.r cootu. a dcsittualdadc r:icial. Nesse come1110,é evide.nte Es$9 exposição geral foi orientada por algumas suposições
que o preço da 1olcr~1iciae cb 2COmocbçâor.,cial é pago pelo h.isicas. SociologictU11ence consic!craclo,o ~!emento tstr.#ur~! da
negro e pelo mufato. t11tl4ç'io r11aalhrasiltira tem duas d:JDell:IÕCS diHint:is. Uma, es-
Por es~u nzõcs, a ror nio é um demento importante 11:1 p«ificninentc social, 255ocic<l,1 à impo,sibilid~de, com que se_de-
percep(.io e na ronsci~is rncial do mundo pclo braoc:o. A1é frontam as sociedades01?iuilisr:as e de classe. sdid.esm"olv1&s
agora, C:e m.o:.i ~ seotiu a;neaçsdo pela c'.esintegrtÇ:ioda escra- , ,h América J,arina. de crÍilr uma or.!cm social compclit;va capaz
vicão e pela co111pet_ição ~• conflito com negros e mulatos. O d RbSürnT os diferentes ,etott$ da popdaç"io.tinda q;e ~1-
branco só percebe o n<.1;TOou o m::Luoe tem coosciêociaJele " •nte, oos cstrat05 0~1.xicio:,ais e sociais êo sistema de prodo-
quan<lo cn(tc:n:.aumtt ~iruação COL>cret.1,inesperada ,.. , ou quan- ~ ,1. Omra, que é, poc s::2 mit1=, o " pro11.cma
,1 .,J
a4 a, ,,. , com-
do a sua 3!cnç-;ío é c!irigida[l2U qucs:.ões relacionadas com o i' x:a hc-rançado p:,ssa:lo, s-ontinu:unen:ere:orçoda pelas tcnd&i-
"problema do cor". <11, ,,~sumidM ;:,ela d.~gc,ldade oob o capiwismo d~cnc!eu1e,
r 1,rcscrva&l at:n-és da ma::1ifestaçio conjunta de atitude:~ pre-
(•) Cf. es~a,nte F. F::Jl1nd<~,Suci,fi,;Jc áe C/6sus e Sut,tk. < 111t'Cituosus e comoort~ucnto &scr!minaLi-.-o baseadosno "cor".
Rio dt Ja,-,ci;c). 7~h~tt r~:o:c:s, 196S~at;>. 1.
1c.•t:;<;!:,i:aento, 1: ,;es do:selem::nt0s lr.\ba!ham jl.últot, de cal maneira q;e
( "*l Per cruM dis,o, "'6°'owliçJÜái, spi.:.cbs p0r J;-1ro."'o-,:m
norl.,. lui~m efeitos cumulacivos, d!no_ci.icam::nteatlvetS05 si 1uu-
-um~, aJUtcm61.o,;os
p,.ôcók,1,.-oo;, ou ,cxiólot,."U:5
ú• r,ac.;,ç<lo, dM difcttllClos ~ cb; i~ribcwics
.soc:.i:li,;
no ê'$Wdo pess,oe,J
.J. r,,;a 5io •neficua • 1 • ,1., ~r:nnura r2cia1 tla socied11ee,hcnfada d:i pass:,do. A
uo an.do êa s:raçio ~railcb. :1m oci:11 est;l-sc: modif:cai,do e, com cb. o; moodos de reb-
i2 73
ções de raça. Não obstante, a posição relativa dos grupos de cor se .l4 milhões { 11% da população total), mas pattJc.-p!lV:un de
tende a ser estável ou a mudar muiio ligeiramente. mc:nos de 20 000 oportllllidadcs como cmpregado:-cs ( 0,9% ),
Não h:í dúç,idade q>Jeo fator mais importante, em média, prcdomill:1lltcrnEntecm níveis modestos,e apmm 6 7~4 (0.6%) e
é a estroti:ra de uma socfodade de classes sob o c:apital:smo de- 448 ( 0,2%) tinham complcmdo, respectivamente, onso; em
pendente. O efeito estárico ,b c.=cma COJKentração da riqueza, escQlas secundárias e universii:!ades. Uma SÍtIBlçlio como esta
do poder e do p.:-escígiosocial impede ou restringe severamente envolve m:iis do que desi.1(11akladesocial e pobrw-1t insidiosa.
a própri.l mobilidade soc:al ascen&:nte e a integração 02 ordem P~ssupõe que os iodh·!duos afetados não estão iocl:ídos,
social comoetifü,a de famílbs roci:ús brancas. As cifras forneà- colllo grupo racial, na ordem social existente, como se não fos;em
das pelo n~mero e proJ)Orçõesde brmcos que atingiram posições ~e.cesbum:inos nem cidadãos nomuls.
de empregadores(ou que mono?oliz:im~ melhores opo1:runida-
cks educacionaisl são cbocances. Uma comparação com os j2po-
ocs,:s s-ugc_rcque, entre os b.ta11cos, prevalece uma tcoddlcia BIBLIOGRAFIA
defini<l;. l'"'"manter e tah.-t-zrdor,:,ir os privilégios ttonômicos
e políticos O'J as injusriç.i,s$(lciais,à causa de todos os grupos de AZEVEDO (J. Lccio de). €po,:,u&,: P<r.!!!.~,,!E<tJ.•"1llKó,Lisboa, U,:mi,,
mr e de todos os pobres, indui.odo" "gente pobre branca'', Cl:issia E<Eto:11,1928.
AZl'.VEOO (T.), ÚJ ÉiiltJ ~ C/Y-:!e:;rd."''·'
u11~ Vi!/, Br&i!it1':;t,Pub,
Entretanto, os deites estáticos são evidentemente mais for- Cnc:sco.1953;Er.uios d.eA11tm:-::;!ogil
Soci::.,S1.:\·ttdor,
Uuh,ersldacle
tes quando cc,nsideramo. os negros e os :nulatos. Apesar d,.s da B,11.tl:1,
19;;9.
vancagen5 relnti\·as dos mulatos em rela,.ão aos negros, aqueles Biu'IIO~ (M.}, R,,c, Re!arioi:s,No-.~ Io:q,·c. füsic Kook,, 1%7 (cap. Xl).
também s&, ,iti ma.,da., injusti\'>\Seconômicas,sociais e políticas JMSTIDE, (R.), So<ioloiJe,J:, IiréliJ, P«is, <::cnc--e de Dorume<:'.aílonUni
w1·sirilie., s. d .
.!;i ;ociedsde brasileira de uma forr:rn muito dura ( se collfron-
llA~"TJT)F-(R.) e ,·:mé<'l I\F.RGHF. (1'.J. •·Stm:,>-,1>::s.Nor.,,, o.nd f:t1<r-
tarmos a, percentagens rclntivas à composição da cor e à coocen- r◄1cial &:tavior:L"lSão P.iclo, B1.1?.J1'". ..meri::a,-s
.11 Sociofo~::! R..e!,-i~w.
tração Ja popu}AÇio com a distcibaição das posições de creprega- 22, 1957. pp. 61,9-69-1.
Llores e as melhores opornmidadcs eduarcionais). Atgt=enta- IJE}{G!IE (P. van d<-.n). &u:? cm: p,_,cism.No,-:1 Jorqm; Juhn \'?',J.,..,. &
ciam al~ms <jt?ea identificação cotn os b1=ms ( "p,;ssing") - Sons, 1%7, (cap. lll).
tão fiei!. ~brernd9 nas rcgiéJC.~ cm que os mulatos constituem a BICUOO {V. L), "AtiLi.Jes<!ot,\'.,u:~; de Cni~• J:.•-.nlues cm R..roçüo
COlll • Coo <le ~.JS Co!egil!''. fa Uae>co-Anb<:mbi, Kt!aç~.< 1:r.tr,
rn.üot:a ou grande pane d.a pupulação - talvez c:-cpliCáSseas Nevo, e BrtmroJ ~ Sic Po-ulo.S><> l'oulo, r.ditt,n :\nhcmhi Lufa.
cifres adversa;. >ia re.lidadc, porém, o a.-gum,,nto n1íotem s4,'lli- 1955, pp.. 227.310; "A::.:'tl.ldcsRaci.1is de Pretos e \1nl:1ti1~cm São
ficação sociológlca. Cada gn,po <lc cor, sociologíc,,mcntccum- Pa\120", Soc'.olo:;,,. SJo P>.ulo, lX-3, 1%7, P?• 1?.5-219.
preen<lic:o,ab1"11ngepes,oas que se conside1'1l01
e s.<ioaceitas corno JIORGESPEREIRA (J. li.), ('.a,, Pro,&,~ e ,\!obfiidi,Je, O Nei;te n• R~io
p<:ncnccniesa tlererminaclacategoria de cor. Por outro bc!o, n de Sio Paulo. São P!l1.1fo,Livrui:? P?o:lêi:s Ediro1'3. l5S7.
n<lSS3 pcsqui:;2 com 1la$tide dcmomrrou que o imbrio1mcnto ou COSTA PI1't0 (1. ,\,). () '<rgm ,,,, Rfo ,;,, Ja::euo, Rcloç;;:,-'!t.d,ís
o cruzamento, cc termos celirhas êc cor, são mais ·com1,licados n-,-1.iu Sociedade cm ~focbny1> SSO P:r.ulo,Cot__.'"1~chi1:
c:=l, 1953.
f~ttora N-a-
do que se havia prc.swnido. Assim como certos mulatos "cla- l'.DU_\!lOO (O. C.). 1'1,c N,,-r" ;,, ,..,_or:im,;:i!r.:;:d!. A Stt1d;-h .~a,:ltu-
ros'' teztam "pas.sar por brancos", assw outtos se recusam a atiou, Washir_gton. of '\':ashir:~Lou
lJ11iv::n.ity P:m! 1948.
foiê-loe até prl'!ercrn dimificar,,se como"negros". Foi um re• rC!lNANDf'5(F.), "A~,1s d:! Q,mti,, Kàekl", O Ttm,'>ô1- o ,Modo,
su.'.tacfosurpreE-ndente. Na verdade, o ÍC1JXlrl.3ntc
é que: isso SU· Lisboa,1967, 1"'· 3(,-f9, "'fhc Wc:i;;htof -<hcPasc". Th:td.li:.s,C:,m.
gere uma situação dramátic2, que não pode ser negada nem bride;c.Mm, l'rimav::::i.1%7, pp. .5©-)19.
escondida. PRllYl!t-: (G.), C.= Grmulc & Stn::ak, Rio de Jaceiro, lh•1-arit José
01)-mPÍ<>lá<lin,~,9.' c:m<;io, 1959 (2 \'Ol.. ); Sobrd:!JJe ,\foÇ,;rJlb(,S,
A condicão econômica, socí:il e cultural dos negro,; é o Rio rl:: Jsndrn, Li\--rariaJmé Ol>•rn-p:o Et:iLon:, 2:' edi~o, 1951
(3 "-,1,. ).
aspcc.o mais tcnívcl de uxlo o quadro fornecido pelos dados do
N\BERG (A. M...}, upº'i"'..Jis:::..~sobtc: as Atitudes J~ um Grnpo de
,ccenseamcnto. ~o censo de 1950, os negros compreendiaJJ1qua- c!C'Si-ol¼ulu ctn Rd~-in e.:orn
.bC0!:1..-es 1;. C.riân~~de-Cor": L½esro-
74
•Ãn.iênibi,Relações~,,, Ncl.'OJ~ Bra::eosé!n Sio Plllilo,Sio P1ulo, QU,\DRO [
.Ediron Anl1oubi Lrea~ 1955, p;>. 311-.361. Populaçiio B.:tillcin: Regiões F:s.ioeclEcllS
e Cor
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Nova lorq:,:, W.:kcr a. Co., 1964. aro::do com., Re:aiiõesF:,iogclfu:., ( 19:50). (Ver eé,no, capítulo 2, i,. 5&)
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QUADRO 11[
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ufstgth he11ivoMu,iitips~$:'~ PJulo,IV-XLVIII,1933;"Otiil<m 1
da Popcb.,-w da C:<bdc de Sõo Paulo e Dif=ciaç:io <!as <hsse. Panl 5089 208 3 1)2 88
Socws"', Rn•isla do ArqMhv.>,½fo11irip:.I,
Sio Paulo, TV-XLIII, 19.33. Pernambuco 21121 90-i 5836 17
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e Grupos Region•;.", ;,, ~liw de Psieoiogia, n." 3, São Paulo, Mws Gwis 85 08-I " 3910 15949 1 107
de Fi!osofü, O,,.é,s e Lcuos da Univc:sidaclc de S.o
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"R~ ~is no ),funidp:o de ltapctioiaga", C;:icsc;o-Allliembi,
Rdaft}es et#te N~,gros e Brt1r.cosem São Pa;.lo, Sio Paulo Editora E111uú,s
A:ih,i,:,i L<da., 1'>55, pp. 3l1-36L ' Bnmce.r Ne2,ro1 iliul::to; Asiifi(;()t*~
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1 1 1
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ne:ro, 'i'ipogr._fu 2'\ici<>rul,1866 P>rá 5,4 1
o:, 1.4 1 34,2
PlERSON.:D.). &•-'.:<ose Pretcs
N.lcicnol, 194;,.
"ª &bis, S.wP~ulo, Companhia Editoro Pmumbuco 4,0 0,7 1,2 ' }4,6
ll•hia 6,8 1,6 2,8 1 15,6
RlBEIRO {R.J, Re!.if.ião , R,~&s RA"itõis,Rio c1cJmeiroMinistério de '1_,n 1, C".rtJ'A.Í!C 6,4 1.0 2,5 14.6
1 12,5
.Edu~çi,o e Ctó·-..na.11956. ' 1\,o de í•ndt·o 8,2 0,3 0,8
SAl\"1'A:S.\(E. T.), &kf9's entre Pre~s e !Jr.11cosrm SãoPau/o P1'COll- S>óPtulo 5,1 0,11 1,2 • 10,1
ocito ct Cor, Soo P•'Jlo, 1'.diçio do Autor, 19.H. ' Rio Cr.uxle <lo Sul 4,2 ô,$ 0,i 1 s,s
Mo10 C1-osso 6,6 2,3 2,5 8,9
WAGL<:Y {C.i, co,n • rolcboni;lo clc:IIUTCHIJl(SON (H.J, HARRIS
(M.), Z-IMl\l.ERM.•,X (B.), Roces el aa.rus dr;JJr/e Brisil Rmol
; 1
Paris_ Ur..:KO,s. cL ~
1 BRASJ1 1,8 10,2
WAGLEY(C:} e H.'\.RRIS(.\!.), Mi.~oritin i111h< Ntw World, No,.,. '
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S,:,ciGklb•,LJV•.5 1949, Jlll· 402-408. (o:cclUJlndo.se<>P•d, ~te que esses rosos fo:.un incluí<l<>t).
(
11
1t) Os asi.ítioos são, qnase todo~ japon....=-:ses.
76 77
QUADRO IV
NívC:SEdua:doo.-1tis
C;,,;1plctadosper ~~:as e: .r-.~ulatos
- Brasil
e Em.d,,,,..Esoo'.;,l.Jos11950)•
QU1\DROV
População por C<>rne5 0:10 Esu.d0$ Escolbk!os ( 19.50)•
1 Pric,árw SecsmdJrio U,:iverriddde
(;,..,,/;9s de Cor
Nwuro "' 196,k
Jo!al .-.
1..u1JU:ro
Toul
Nf:t>
Brancos Ne&ros 1},fo/w.,r Aw.arc.'os Ject.>
1599 2,2 85 0,6 10 rados
27 536 I 39,4 2J7! 19,2 180 'l,,,,e 59 7-14 /J& 574 8,5 '
1 1•11r.i 325 281 27$9 l l23 273
Perr.ambua, 1 28,96 5,32 65..)9 O,C-8 100
~(gtOS 58991 3,3 192 0,5 7 0.5 l 0,25 1
Mula«>• 42 669 24,2 2&,"9 8,0 ]89 J/, 'lorJe.u
ft•rc..1mlmco ! 685028 1 Jl6122 1386155 li) 1 t,r; 1 ) J9sig5
ll,;1,ia 1 ,i;9,63 1 9,31 40,83 0,00 0,21 1 100
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1 IMú.1 1428 665
29,5.5
926075 24-Si !OS
19,16
156 12 551
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100
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Negros 36 805 5,4 4il 0,4 44 1 0,2
Miüt0$ 103082 l>J 4 757 4,6 459 , 2,8 i 1
Muus Gcr.,is 14509 515 1 122 940. 2 069 03; 1 2257 13 933 1 7717 792
Rio d, J ""~''º 1 58,43 14,55
1
26,Sl 0,03 O,lS 1 100
Nc:i;ro,
Muh,os
44 541 1 5,8
104 J15 1 u,1
2 O.l.5
9 S9.5
O,S
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12,30
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1032
0,0-1
7126123774'1
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1
100
1 ~ lo Grmde do Sul 1},12 2391217 52:l 226174 l 49.5 83~) 416': 821
M,10 Grosso 1 89,1◄ 1 5,22 5,4} 0,01 0,20 100
Ne-;;ros 2 5-13 1 5,3 59 o,s 3 0,2
M'.Jl,tos 12 911 1 r,,o 1148 16,2 69 8,0 • ~tr..l,r.>-Oe$!e ! 1
1 1
O IMPASSERACIAL~O BRASIL~fODERNO
•
CAPfTULú IV
A PERSIST:E:l\CJA DO PASSADO •
Jntrodt1çáó
N 1 ,1111.1~.m
d<'c1>ntJlOmeia) ímpcrmtc no .6ri1sil;:vidcn•
ei 1, •,< mu1rns 1,ro1bkmassociol6gioos, de grl\lldc signiiicaçio
ln 11 •n• , \tcnLlhta. O Brasil vive, simultaneamente, em várias
''1,l11Je. hi~tôri,-u.souaís". Conforme a região do país q\1e se
C\"'1&1elerce o grou de: dese:nvolvimenio das comunidades <lames•
ma região, podemos focalizar cenas que relembram os contatos
dos coloniziuiores e conquistadores com os indígenas ou r~istrar
quadros que retTatam o sp:rrc-cimento Lt11nuln1oso da "civilizaç.'io
industrial", com ~JOQ figuras tfpicas, aadonais ou advcntkias.
Prescutc, passado e fnmro cnm.=am-se e confundem-se de
t:il mandra, que se pode pa.ssor de um estágio hi;tórico a outro
pelo cx!)(.-dicutemais simples: o dcslocamt:Oto no espaço.
Ota, a cada est;lgio hi.st6rirn rnrn:sponde \IDJ2 sitn:,ção bu-
=a. O observador ingênuo perna éstar num mundo cultural·
mente homogiêneo. .E, de faro, c:cttos pofari:aidores impregnam
ss sitwçÕ<.-s mais comrnstantes d:: um subst;ato psico-social e
sócio-cultural co111wu. Mas, n:1 re:1lidadc, c:idasÍlu,;çiío hu=
organiza,sc, estrutw·al e dinamicamente, como um mundo mate·
l'Íal e moral l'<ltn sua íeição próprÍJI. Sem dúvida, as várias situa·
ções humanas possfreis põein il luz, no conjwito, os diferentes
pad~ de intcgra<;ão sócio-culrural da sociedadebra1'ilei~11. ao
•
(•) Tnb:Jho apresentdl!o l Confcw;u °"R:ra •1:.dCo!cr, ~ir.,.:!o
pru- ~ Jl.mcric:in Aoioonr oI An, ,:>d Scit1\CCe 'f'be CcJll;l'CS$fur
Culrur:alFr.,.,,!om;e :coll:<9<lo enrtt 6 e U d: s:temb:o de
cm Copc:nhai--en,
1%5'. Public:açio p:i\·tt pe!os organizadore. <Is co11forêoci• c:n inglês e
fntoo?s. Publicação d<fuútiy• _in Jolm HC>peFtn.llklin (org.), Colo, a,sà
&zce, lloston, Hu,,ghto,i Mifflin Co<np.my, 1968, pp. 282-301.
longo de sue1 fortnt.-çãoe de ma c,•olu,;iío no tcrapo e no espa;o. lação. Tudo se passou, bisroricaillentc, como se exisrisscm dois
M:is, cada nma ddns, <le per ,i, ,6 poJi, ser comprce11<fülae ex- m:llltlos humanos conám1os, mas esiai:,ques e com destino; opos-
plicada at1'11\"<'.S
do seu próprio p:1drio de incegl':lÇâ(l
sóéo-Cl'.lltoral tos. O nmnJo dos bn,r.cosfui profundamente alterado pelo surto
e pelo modo deste víncular-se com às tendêncfos amantes de mo• econémiro e pelo d~'SCll\'oh·imcuto soei,~!.lig.idosà prodt>,--ãoe à
,icmil'.-t,-ão<11,quehsociedade. e à urbani2"1çãoocclerada e 1t in-
expu.··taçlb do café, no inici..Q;
cm sci,'Uid:l.-0 munàc dos negros íicou pntica-
du.~trialiT.iição,
!.Projeta,fos cont;a esse pano de fondo, as relações étnicas ou n-.cnb:à rnarw-.""!11
c!es!>Csproce::--q)S
sóci~c:conômicos,como se ele
raciais e o sign4cedo da cor na vid-ah\1mana :1pr~lllaJlHC sob esth=se dentro Llos..!-'®.ms.Àaédade mos não participassem cole-
diversas f~cctas. · E..<eolhcmos,pa.ra debater neste trabalho, o t:iynmeti:e<le s:irv-ida c:ronômÍC!I,social e politiCíl.JPortanto, a
e>.""Cmplo qoe nos·parece ser o mais iodic:ido p:lia crna ca-:-actcri- e a e..>ttinç5odo regime ser<:il niío ~igniíicou, de
desagrc:g:1,;"&0
zação sucinta do que se podem ente:ider como o dilema rai,;J imediato e a curto p.'11zo,modificaçíio d:is l)OSÍÇóes relativas dos
brc-sileiro. Trata-se ela situ~ção do uegro e do mulato nn cidade estoques r:,i:iais en pre;ença na estrutura social da comunid~dc.
de São Pmtlo. :CSrncidade níio se singulariz:l pela nl1.1 propor- O sistema de c,.scs, foi abolido legal □en:e. Na pdtk,t, porém,
ção de negros oi1 de ce:.,iços de negros e brancos na popolação a população negra e mufats continuou reduzida a uma condição
global. Ao contrário, ,oo esse aspecto conta entre as comonida- socilllan.-íl.ogaà pre()xistcme. Em ,-ezde ser projetada, em massa,
c:!esurbam1s brasileiras cm que essa proporção é relath·amente nas das!es sociais em formação e em diferenciação, viu-se incor-
baixa. ...Elaé signific:u:va por omros motivos. De um l:ido, porada à "plebe", como se deve;.se CQ:iverter-sc numa camada
porque se inclui na última regiiío <k>BtasiJ eo1que n cscra..,;dãc social ~pendente e tive!se elecompartilhar de uma "sim:ição de
desempenhoo ftioções constrntiv-as, como :ihmmm e ponto de asta" disfarçada. D.i.í resulta guc a desigualdade racial mante-
partida de um longo ciclo de prospctichde económica, que se ve-se in:ilt.enível,nos termos d:, ordem racial inerente n organiza-
iniciou com a produção e a exportação de c:úé. De outro lado,
porque foi a primeín cidaéc brasileira que e.-q>ÕSo negro e o ção social desap:uecida legalmente, e que o padrão assimétrico
mulato às contingências típicas e inexoráveis de uma economia de relação rac:al trad:cion:ilista ( que conferia ao "br:mco" supre-
competitiva em e,,.-p-anslió)Etn conseqüêncu, ehi permite anali- ma® quase rota! e compelia o "negro" à obediência e à submis.
sar, com objetividade e cm condíçóe3 qwse ideais, como e por- são}, c:oconu:ou condições ma.tetiais e morais para presctv3I-se
que a velha ordem racjal nlío desapareceu com a Abolição e o em bloco.
término legal do n:gime de cas1.1s,prolongando-se no presente e Os fatores pri ocipa:s dc,se processo de demora sócio-cultu-
nroificando-se pelas estruturas socais cmdas graças à univet-Sa• r:aljá sfo bem conhecidos. Numa visão tetrospectiva e sintética,
li7-açãodo trabalho livre. os al.u&idosfatores podem ser agrupados cm qnatto constelações
histó1·ico-socia.is
suc=h•á~ (= intcrdt-petJtlenres):~) ag ten•
~ia• \tSStunidas pela transformação global d:i cõrounidade;
Desigru,!d,;JeRacial e E.<tratificrofl;o
Social 2_:? caráter sociopático drn mo1ivnçõcs que orienmram o ajusta•
meoto do "negro" à vida na cidaJe e à nam= :t:lômica dtts
O dilema racial hrasikiro, J1'! forma em que ele se mani- formíls de associação que p1.-'<i=r= descnvoh•er(i'õ) inocuidade
Ít"sta na cidade de S-'!9Paulo, lança suas ralzes elll fonómCllosde da reação dir~ do negro e do mulato contra "a marginalizaçiio da
csuatificnção socialCTcndo-sc em ,•i.<taII cstrulll~ sochtl da co. gente negra";,[õ, aparccí.:.uento tardio e débil de corr<-çôes pro-
mtmidadc como Olll todo, pode-se afirmar que, desde o úhi 11:0 pi-iamc:nte estruturais do padrão herdado de desigualdade raci•~
quarrel do século XIX até boje, as gnmdcs transform:içõesbist6-
rico>-sociaisnão produziram os mesmos proventos para todos os Na primeira constdação, ccv<mo~ considerar rrês grupos
~etores da popuh!Çiío:De fato, o con~mro &: u:nnsforma.;ões que de fatores }1is1órico-socinis. Primeiro. a cicbde de Soo Paulo nlio
<leu orir,cm à "re,ohição hurguesa", fomentando a universal:- repete o P3driio traclicionar de de,:envo!vill1<!fltogeográfico e só-
r.1ção, a consoli6ção e a expa:isão da ordem ~oci2l competiti,·a, de outras cidat!es brasileiras, que se e,..-pandiram
cio•<.'c0:1ôrnico
apenas beneficiou..coletivamente, os segmentos brancos da popu- SQh ·a égide da cxpk,ra('Jo do tr.iba'.ho csc:ra,o. A inclusão de
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São Paulo na órhitB da economia colond brasifej,.,. (L2,;cacla na u hh Iha11nmola re\-'°Olucion.átia residia nos intc.resses e valores
~~-portnçãot!e produtos rropicals) 1 ocorreu bl.rdizmcnte. Só co:n w, ,.1, 1n~jt'<.lkiidospor ca:.isa c!a v4,-ênt',a da .:scravidiío. Doutro
a proc.lu.,--ãode café no "Oeste Paulista" e gr-,ç-,s à intensifie2çíío la h, t ncrros e os mu!.t!os se ir=i~m oe;sa i nsi1rreiç.iíocomo
prugrcs,;iva da exportação desse proclum J1,anhoca cidade ,,Ofü,ll- • ,,1,, 111ºe mert.1,cma.-;s:1de :n:anobra'>.Eles nâo pt1dera1nproje-
ç/\es p.ita <ldxat (!e ,;çr um bc.:rgo rústiro e paf'll coorar com 1 ,r ~•la C1Sseus aiiscios 011 nc,.,--cs:,idnc!c:s
mais diretas e, com ratas
e..-onômica. Por isso, somenre
fo:11es regulares de prospcric'-?.<;]e , , , iks, ficar.un relegados no$ 1>:1péissectmêfu::os. ..\ssim, o
a pan:ir do Glwno quarrel do século XTX efa sofre: m()difkações ,,.,, ~.- podcri:1chamar de uma "coMc'ênci.1eholicicv.:usm"cra
que a cQnvcrten1 i•ropriaIT'..:nree;n cidade, ~o eslilo d.e outTOS 1111rw11 1:xitrirr,õnio dos próprit-s br:mcos, que liderav:im, orga-
agregados ur.banoscfa época. Esse fator rem gn\:lck im;,on,'lncia. 11 vnm " ao mtsroo tempo cc,::tinham a in.surreição dencro de
Os centrc-s urbanos provocavam rerras n::<:<:ssidadcs espe.ciais, 111111 ·• que convinham à "nu;-a" domin9-,r.e". E.~sc quadro ger11l
que arnpl:,..-:,m a divisão do tralxúho social. Neles surgiam ,, 11>1udo:.s efeitos negativos O:t litnirativo&- Quanto aos br-.in-
ocup~ç~s e ser,iços qui, alarg;ivam a área de alividadc consttu- ' Í,L"Ortceu u--i1 proccss..'l pa.rac!o:uú: na fase agud~das t:-at-s•
riv,t do e..<ct:ivoe, espe<:faltncntc,que não podiam ser exercidos 11 1~ul.'S,a lider;.\nç~do processo passou para as müos Cos ér•
nem pdu escravo nern pelo homem fo·re. O libcr.o <lesfn,tava, , 1, rn1us ro!'!Se:\'adares, em~nhado:s. cm ater1é-,er:.\('Sirytetelõses
~sim, sigamas oportcn:dades eccnômic:is <pe lhe permitiam t a c,-onômims e polífros dos grandes fazc:,dd..-os. Embora
integcar-se na cstmtura ocupacional das c-Jdadese que forçavam n ~ ~sem ,1 conceder aos fa7.endcirosqualquer indeni7.açiio p<.~
os brancos a tcrern interesse pelo seu a<lestrawtnto e aproveita- •t· clsJSfi11sncciras, dcrorr,-ntes da Abolição, :r,oora121u por
mento em e..!úe.i. Pod::-,e veri6= t-omo esse mecanismo se ,,, 111~10 ,a rn:cessidade de pôr cm práti,11 m~-t!ic.bsque as,;q;u•
roanileHa,·a cm cid:xles co:no São Salv,1dor, Recife QU Rio cl.e , , m um ruiniri.o de prot~iio ao esc.ro,o ou ao liberto e con-
Jane:..--o,na.5quai, a popul119ionegra e, principalmente, mesciça « nrJr:im toe.lo o esforço consuur.vo numa poliôca <r~c garan-
logravam a oquis::çíio de um nicho relativamente Vru)lajoso na t, ( n r:ípida substituição da mão-de-0hro e ser-ava. Por essa ra-
org,u:üz,tçãoc:col<Ígica e econômica daquelas <:omwlidades. A in- ' ,,o fim &, Jmpério e no hício <laRepÍlblica, o pr.incip-al
clusão tardia & cid:iúe de São Paulo no núcleo da CCO:lomia 11 "", Jn política governamental provinha do fomento da imigra-
colonial bresileira rep.n:,;encou umn desvanrngemp:ira a popula- \ , p(>r todos os meios viáveis. Quanto ao negro, con, 2 Abo-
ção negra e mestiça eh mesma, tanto escrava quanto liberta. Isso li, .10 de perd<:u os liames hut:12.llit~.rfosqce o prendiam aos
porque o inicio da exp,a~ão ecouô:n:ca coincide com a concen- hr•1,r0tradica:s ou inconform:scas e deixou c!cformar uma CO!:S-
ttaçâo crescente de imigl'ant~ de origem européia e 001n a crise , 11 111 ~ociol própria da situação. Copo foi maL, tutelru::lo qc,e
do próprio re~ servil Poucos negros e muL>tos pudcr:un 1 titt ,lo processo revolucionário, uãu tinha uma v!5ão obj-2:tiva
aproveitar as oportcnidacks com qne <:onta,ia..'Ilt:n outras cir- ,111n1•1110 dos seus interesses e possibilidades. Co,.:lverceu a
cunstâncias. e que lhes pe.nnit,h:iarnconverta-se em al'tesãos, 1 li em um fim tm si e f?,l_rllsi, wfte:ido a,m a dcscit::ição
pcquenQS con:er.:iantes etc. Ao eclodir a Abolição, estavam dis• ,, ti "1 u espoliação - a última pela q\1al a cscra~dão ainda
tribuido~ nas ocupações rne::os desejáveis e compensaé()r~s. pois 11• 1 ~, 1nsóvel. A "explosão de alegria" logo iria ter urn a-avo
a; oponunidadcs mdhorcs haviam sido :oo:iopolizadas e 2hsor- ,! 1 1 11 ~,, • dignidade do "homem l:vn:" p:,.tecia valer mais
vitL1s pdos imigrantes. Seglmdo, o movimento abolicionista e 1,~ ,111,1l<1uc1· outra coisa e, de imedia.o, o "negro·• dec'ico~Hc
todo o proct:SSode êesa?,regação do regime 5(:tvil asswniram, co- 111rn• 111rntc ao :ifã de usufruir um dom que_, n<>passado, o ex-
mo teria de acontecer farnlmeote, o caráter de uma insuncição 1 '"" l rondiçio humana. Terceiro, a "rcvol~o burgoe;a"
dos pcónrios brancos contra a ordem escnn•ocra1ae senhorial ,, 11c b~niu o "ne1,'to" da cena histcírica. Ela se deseo-
Esta emb:u-.içavao dcscn-,olvi mento sócio-econômicod:,s regiões " " 1<1moele duas figures: o íaien:Jeiro <le café, que viu
prósperas do país e sufoc:iva a apan!ão do capit:tlismo. Ainda ,., <•iois e econômicos se difere.oci~-rcmgtaças ao cres-
que o abolicionis,oo 2dquiri~se o teor de um ooovimeoto huma- ' ,11 mico provocado pelo~ "n::gócios do café" e à
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,,1n como .e perpetullssc a escravidão por outros meios e como
expansão urbana; e o jmigttn~e, q~ se apropriava te.nazmcnte , 110 vender sua for,;,, de rmb:ill,o, o trabalhador ,endesse, si•
de rodz as oportutú<bdes novas, ao mesmo tempo em que dimi• 111111ll<':lmente,
a su-.Apcsso:i. l)aí n:sultou um desajustamento
nava o " ncg,.-o., das po<1cas pos1çoes · - compensa doras que e1e al. rr,l:l<kir;mente estrutural, agravado 1--elofato de suas opottu•
cançara no artesanatoe em alguns NmOs do pequeno c.omé:rcio. ,11!:idesde rrabalho serem as p:ores e de <xistir dois nfçeis de
Por ~s.~,o "~e&ro"nio f:icouapenas à margem dessa revolução. ,~tribuição, mm o que se dCAràd:tvi\o salório do ttahalhad« ne•
Ele 101 sclce1onad0ncg2rJvaacnte, prcc1san<lo contentar-se com t<I, Segundo. a abundânda de roiio-de-ohta com mdhor quali-
aquilo que, dai por d:ante, saia tonhecido como "scn•iço de nc• ticaç:io, como produto da imiguç.ão intcnswa, coocotreu para
gro": u,,balhos incertos ou brutos, ião penosos quão mal rcmu• rapidamente a mcnmlidadcdos empregadores e su,ts
1no<lific.ar
ncrados. E.o oonseqiiência, achoL~se numa estranha siru,,çio. ptopeosões, mesmo a respeito da selcçii.o dos trobalh.,dores agri-
'Enq::anto a prosperi6dc Wejnva todas as demais camadas da wlas. Anres;o negro era representado con:o o ún!co ageorc de
população, o "negro" scntiu-ce cm apums alé para maJ'ller ou , 11,halbo possí.el, pelo menos com rclaç~o 110; SCt\'ÍÇOS degntla•
conquistar as fo:>tes estíveis de ganho mais humildes e relegadas. .los pela escravidão. Havia, por isso, relaü,,a roled.ncia diante
Quanto ii segun<h constelaçlio, <levemos considerar cinco ,lc sws deficiências e real preocupação em cmrigi-las, corno fosse
iJUpos de foto~ m:is significativos. Primeiro, o negro não fora p1Jssí,-el.. Ao se eviclcociar que ele podia ser substiruklo, inclu-
•~~do pr':"=ente, como escrar:oou liberto, para os papéis ,ive com alguma facilidade nas regiões prósperas, e que seu subs-
SOC1o-«00Ôm1ros do trabalhador livre. Por isso, ele não pos• 1i 1,uto era "ma.is inteligente'\ ªmais eficiente~' e "mais laborio-
sola nem o treino técnico, nem a mentalid.:tde nem a autodisci· tl" ( ou "industrioso"), aquelas diSpo5ições desapareceram. Por-
plina do assalaruido. Ao ,-er-se e sentir-se liv;e, queria ser lite- rnnro. de UJlUI hora para outta o negl'O vio-se condenado corno
ralmente tratado como HO.AlEl,f,oo sej$, como "alguém que é ,1p,corcde tnbalho, p:issando da categoria de :,geme privilegiado,
senhor do seu nariz". 1'ais disposições xedundaram em desajus• pura a de agente refugado, nom momento em que ele próprio
tamentos fotás para o negro e o mulato. De um. lado, os em• ,·levn-a suas exigências mor-.ús e ~ tornava inttmJSigente. De
pregadores bmncos se irtilar$m sobremancirncom as atitudes e mnncir.t qu2SCautomática, foi confinado à periferia do sistema
os compor_r=ntos dos cx~ravos. Estes usaram p.redatoria- ,h· produção, às (lCllpaçôes indesejáveis, mal retribuídas e sod-.il-
mente a liberdade. Supu:iliam que, se =m "li,;,res", podiam Jlltnrc degn,àadas. Terceiro, a escravidão despojou o negro de
trabalharcomo, quando e oode preferissem. Tendiam a Gfastar• •111ase mda sua hermça cultural e socializou-o tão-somente para
-se dos enc:atg(lOldo trabalho quando dispunham de recursos su- p,,péis sociaisconfinados,nos quais se tealizava o dcsenvolvimeo·
~cientes pam Sé manterem em ocio,-:dade reroporma; e, em par- ,o da personalidade do escra,-6 e êo liberto. Como comcqüên•
ucular,. =ius-aoHe m11itociosos diante de odmoestações. ad- , ln a Abolição projc1011-ona ~..$fett dos "bomeos livres" sem
vertências ou reprimendas. Alegarulo tjue "eram li,,res" ( ou que ,1uc de dispusesse de «-cursos psico-sociais e institucionais par2
"o tem?() Cc cscra~ddãojá acabou»), pretendiamuma autonomia ,lju ,tar-se à nova posição na sociedade. Não conhec:iil nem podia
que se chocaw, fuodamcnt:dmence, cmn o regime de trabalho I",r cm prática nenhuma das forro:as~ociaisde vicia org2llÍ7.nda,
assalwdo. Esses descntendimenros seriam, naturalmente tran• ,lc qoe desfrutavam os broncos normalmente i inclusive a farníw
sitórios. .Mas.,como havi-1 relativa abundância de mão-<l;-obra r o 1ipos de ,-oopera(áo ou de so!.idnried:,dc que ela contlicio-
~ ,·.irtudcdo vo~ atingido pela imigr:ição, os empregado~ 1111usocial.mente). Para usufruir os direitos do Homem Lí-vre
aª'.ra.;1-de fo:ma mrolcrante, demonsttálldo notávd incomptcen· pr..cisava despojar-se de sua segwida natureza, constituí& en-
sao diante do negro e do mulato. Parecia-lhes que estes criden• 1111 ,n10 e oomo escravo ou líberto, e absoNer as lécnicas sociais
ciav•m "falia de responsabilidade" e <1ueos negros seriam "im• ,1• · .i,iam parte do "mundo dos brancos". Fi.undo-se na cida-
prestáv~s" ou Hinrrar.áYcis.'' .. íora dn "jugo da escravidão,,. De '1 São Paulo, onde a urbanização rápida e o crescimento
outro lado, o própr'.o negro pôs a libcrc!ade acima de tudo, como ,ti.,l accle.:ado provocarsro a espansão inteos.a da ordem so-
se ela fo.55cum va!o, intocável e obcsoluto. Por falta de sociali· .,u,pc·útiva, essa lacuna de otigei:n cspecifícamc:nte s6cio-cul·
zaç..1oprévia nã'osabia :nmli-3rcor.retiimcntea naturezae os limi-
1 111, <riRir-se numa barrdrn i::transponível. .1\ incapacidade
tes das obrigações dtt:orr,nu:,; do contrato de trabalho. Es1e era
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de lidar efla,zrn~re í ou de q=lc;=r :noco) com as tcleri<hs mh> no próprio negro a "culpa·' pelo que ocorria ( como se o
técnicas sa<:iaisicp<:diu o aiust,miento às eo:xli~s <!e .,;da im:.::• ,.. ~10 ''n.io ti~~ a:nbição'\''nio t,,~-c~ssede a:ab:tlhor'>,
"fos:i-e
nmtes tu cidad.::, colocando e, negro à margem da histócía. cu;,,o 1, h~do invcternêo", "tivesse propensão 1»1r-~o crime e a pros-
se lhe fossem vedadas z oportunidades crescentes, sofregamente 11t11i.;!io",e "não fosse capaz de dirigir sua vi& sem a direção
apw,-eitadas pelos :migrantes e pelo rrahelha<!or branro de o:• 1 o jugo do brruico"). Contudo, o drama eo si rnc!mo nio
tr.1Ção DJCional. Q::inrto, é1ll $Cgu:daà Abolição, a população
, ,noveu os bran<X1snero foi submeddo a concrole social diret0
nc-gr:i converteu-se nurru, popuhçfo alrnmcnte móvel ),fo;ros •'*•incHreto~ só serviu i:ara dcgradt..rainda mais u sua vítin:a ao
romponentes des;a !)Opulação, oais ou n,e.7os ajc.:stadcs à vida , .. nsl'.DSO gct:11. Qubto, o negro e o mularo não dispunham de
na cicfodc, dc;locaram-se pam o Ínt<:rior tle São l'm,lo ou rt:fluí- técnicas sa<:iais qçe lhes famltasscm o comro1e eficiente de sei:s
r:im para outras regiões do país ( o Nor<lesre e o None prind- ,hlernss e a s,~per.1çãorápida dessa ía,c de vi6 social anôuiica.
palroente .. de onCe ptoretliruTIj. Ao mcs.mo ternpo~ levas suces- Pt'.,rst.:a\:~✓.-, ns. <l.e[D.'.)Ís
úU1Pdas <la comuuiJ.adenão rtvclatat11
si,as de negros e mulatos aninhannHc romo podiam nos po- r nhuma f.s;)écic cle piedade ou de solid:!rk:d.lded::i:ite do d.amn
rões e nos cortiçcs éa c,ipira1. Nn conju:,ro, ns perdas foram 1ra1erfol<: mor.11ào neg.m, enquanto á flfÓp:fa romu..T'lic'.adecomo
ar1pfarnente co□?,;,:nsada:s pelos gannos, 1n2S ootn nítida cotKOl· wn ,oc:I<> n,16 podia fo,.cr.já crie 1120t:!.ispu:ihade uma rede de •
uação de peswas rústi= e:wu ambiente ·<f"!:·aigia cerrns quali- , rviços sociais suficier.tcrne11t.econiplexos para r<"i>olvr.rpro-
dade! iorelecn,ai.< e morais, rei;ue.rú!aspelo tr.únilho :?Smlariado hlem:1$huniar.os cão gr,avcs. A miséria associco-se à anomfo so-
e pela coJ11petíçí:-<>C\.--otlÔni.'e>t. De per si dc,saju;tada, essa ;mpu· e ,1 formando ema c-adeia de feno uue ptdl.cfu o negro, roleti-
lação tinha de viver de ti,.-pe<lrentes,i:'.esilárfos insu6dentcs e ' J~eote, a w11destino in<,:,r.onível.~\. d2gr.1<laçi'íomareri:il cor-
.ipinhada em ~lojeroentos ( que ou!l'll roíss não eram os porües r -<.pondi.e a Cesmorali1,aç:Eo: o ne~ro cnuegava--sea esse destin?>
e corriçr.s em que habitavam) CJUenão compo:tavam os mora- ih pro'.um.la Íl,isttaçfo e insuperá,;d apaoo. ½_gose difnnc!iu_ -/:
dores. O {micg..c_l;:JnogQ_ tkssa pcpubJ:o que contava com ecl· , huplan:ou um estado ck csp(rito ccrroti•a. segundo o qual "o
,: ·p,ro035.ceupara sofr-erº, HVidrdeuegro é a::,'9JU mcsreo!', unio
prego a..ssnariado m3is ou menos cert<> cr• a mulbcr, que podia
tf.mta ~ nadnn etc. O únko ponto cm que o negro nã-0
éedicar-seoos servisx,s domfstioos. Tie modo que ela se rorno11, ,l,a. rckcíCfl~va-scco.m a 1d1oosa peunanência na cid,Kle. Co-
rapidamente, o <:$lc:cJdos agrup:ime111.os domésticos, já qoc deh , 1 e -fc~e r.m pá.ri..\ tla era UlO<kna, aç{-.i::ava
passiva -e confut-
pro,·inha o sust01to parcial ou coral da casa, a roopa e a comida ,d;une,te o peso &1 ,ksgraça e os tli,is incetlOS q•.!Co futuro
do cITFião ou do amésio e :1.réo d:nbeiro com qoe estes cnfren-
tàvam a; peqnenas <'.espcsas. O ócio do homem, que de inicio r rcsc-rvas!.e .
.:za vm pl'oduto d1t ,,;,,llÍJ.'g,<",:-ú ~ rnn pro:e.sio ,J~no, tr:msÍOt· Na tcra~ir• ,m,,.1êlaçiln.dt\'~-=• consi,knr as c,us:is e os
m<.)u-se berc dcprcssa1 crr1propcrçê~ consit!erãveis., em uma for- <"hCK õos 0~1ovimt."tllos scdtü:, que ~e constituíram no rncio
::ia cavil.o;a e ~.odoplftiêl <le esnlore.ção de: um ~et humano por f k• ~ <leSão Paulo. )-enl-.llln ll/\f'=Jlacb}oun:l:!Opoderia supor•
ou:ro. Além disso, tres qu,trt'1s f",lt= b. popobçoo n,::gr• e ar, de modo t0tal:m:!lte ioc:te, \?rr-..asill1<\Ç:ÍC!co:no n popula;w
mesli,:i dn cidade rubmerp·,un mm,a doloros.1.ern de misc:tfa I'' e mulam e.'lfn:tllou Mquel.a cid:,de. :\05 po:xos. foram-se
roletw.1, de <'cgradação mor,;! e de vi& social c\e.sorganiz3<1,1. O 1.. ,rncloe cn,.n& íorçn :ilgumas tíoit\:ss t=tal:Í\'as d~ crírica
r.o
alxuiJor.() menor. do úo.enrc ou do ve!ho. ,1 "míic solteira~ ,1,,1u10tlcfes:1. Entre 1925 e 1930. essas ttntalivas tomars>m
o âlêiÍolismo, a ,•adi:igem;a prostb*-ão, a cÔllinalidiid<=ocasio- ,, I "' e prod.uri,:nmse\is-primdros frutos maclu_-c>s, c>.-pressos
offl-ou si:::tcrr.-ática
tCponranamoomo dimensões ~rmais de cm 11, imprensa negra, empenhada em diíu!ld:r fot11HIS de auto•
drnl!',a hun-..ano sem µ.--ece<leotcs na hist6rfa social do Brasil. '" u'uda da sit1Utçãornc.i,tl busi.leiro e do "ab:w.don<l do nc•
~e;s,e; c:ondiçfK.-s,o negro não tinha clcmemo; pgn1 olth·or ilu- 1· 1.1mbémem organéz,.ções clispost:IS a kvtt o "prote<~ú
sões !\&li-eo presente ciu sob;-e o fr.:turo. li ainda acur!rnlava 111, 1~,r.1" "º tcrter•o prático. Pela. pri:neira vez na h1,-
pontos neg,civo., pois o branco paccbia e e,cplic:1vactnocentri- ' , d •'" ddod.c, ::~;,.rose mufotos toliga,•am-separa defon-
cnmente os :ispeccos dasa s:n1a;ão<lc que toc:t.1v;.1 conhêêimenco. lrr ·,ses ca,nônkos> stX"icis e tulturâs da •'raça", ~s-
111 de solida.<ie~e e de attução social organizada que
2través de a:nas de:?rimentes, ou rio notidnio dos jcm:ais, impu-
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re<lll!ldasscmem beneficio ,fa recducação do negro, na ele,.,,9iio 11, ,11c". Por voltá do E~1ad.oNovo. os movimenms foram pros-
_progressiYa de sua participação oo nível de renda, no esólo de " iw, legalmtntc, sendo íecbil<laa Frente Negra Drasileii:a, a
vl<lae Das ativi<ladc,; polítiras da colctividadc e, pot ronseg-'1ll.>te, p1lncipal orgruúu,ção ,lparec-ida nesize período. Eshoç:uum-se,
ele sua c-.ipacid3dccm converrer-se ~'01 cidtu/Ja, ~n<lo os mo- , um a ei..,inç'ão do Lslado Nov~ 1945 e l 948, algubláS
delos impostos pela sociedac.leindusi,•a. : No ema.nto, os movi- 11ncativas de reurgani2aç-:ioJaqudes movimentos. Mos, to&is
mentos sm:iaL<só consegwr.1.m atrair pcqucM; pgrcdas da popu- da~ falh:mtm rcdoudame:1te, pois o; negros e mnlams em asccn•
lação negra e m11Jarnda capital. ;\.fougrado seu alcance constru- ~..o scx:ialpassata!Il a &tr p1'efe1·énc-ia" nm,i estratégia c-strcita-
tivc.-, o m~forrnismo, a apatia e a ~Jlendêocfa em relação aos m~ntc c_goí.sta e .imli,idu,11.istade "solução do problema do ne-
bran~-os,b!Qquearomesse caminho rk: ruirm:içâo sutôroma. Em 11ro". No ft_,ndo, a inexist~nC'Ía<le nieô'lnismosde solicbtie,faJe
bora chcga.,sem a abr~.nger paredas de n,ilir,,ntes encarad"" rnmo r:tcial prh·ou o mcio negro <la lesld;lde e da mlahoraç;io altruí;-
alarmantes pelos bl\1oéos, os movimentos niío serviram senão uca d:is rafo, eli:es que safouu de sem qunclms lmmanus. Num
para crltlr um 1u~1-co hlstórico e tcl'.!-{'.finira$ atirudesou os col'T}o l'htto ma.:s geral, porém, isso si~niíicn qae a contribuição que os
porramcnt.os <le negros e mulatos. ~,11asc,um<lo a i,foolo"í:i oFOVÍnu:nm~ ~oc:iaispoderia.tndar à rooderni7ação do ;sistema tra-
rocial dominante, eles elaboraram uma contm-ideologfa racial c.l.cion,l de rdações r-.iciaisficou comprometida e neutralizada.
qt.-c auml!entou:1 área de pcrccpçíio e de coo.ciência da rc.';l].idadc A :1cbptaçâodaquele sistem,1à simJçoohist6cico,,social imper:1.11te
racial brasileira por pc.irtc do nq;to. Doutro lado, IKX:ntuando ll'.\ dda&: depende, agora, se não surgirem altcra~'Õcs,à.os efeitos
certas rendências igualitárias fundan1eo1.1is,levaram o nc-gro a krnos e indiretos da absorção ~radual do n~'TO e do mulato à
ctnpunhar s bandeira da ckmcx:racia r&cial, exigi.ndo p.ira si con- nrdcm soci2l vigente.
dições equitativas <lc oarticipaclio do nivel ce renck do <.-stilo Ka qoorta constelação, devemos nmsidctar como a expan-
de vida e das pretroi,,;itíV'JS sociaif das ourras camada; da cc,mu- SdO da ordem social <:ompe1itiva rqicrcutiu, a curto termo, na
nidacle. Como as rei,.;,,dic,,ções eclodiam de forma pecífica, elíls waduaçio das orortu.nêdndes e,.-ocômicas conferidas aos negros
não genuioaram disposições de s~regaçiio racial e não alimen- ,. mulatos. No período imediatamente po;ierior à Aboliçi'ío, ,as
taram tensões ou conflitos de c;i;-átet i:acial. Nesse sentido, eles c•11ortuoidadesforam monopolizacbs pelos brancos das antigs.s
foram socialmente construtivos. difondindo novas imagens do ne- , unod.~s <lomioantes e pelos !mÍgrantcs. Um le..-antamen.roesta•
gro, rec,itihra,x!o sua maneira de resolver seus problemas e t~- 1•lko, ,ealuado .ca ci.d,wede 18?}, indka de n1odo bem chlro
t311doabsorver as J6cnicas sociais e a1>ro,•eitar-as oportuníd,,cks , tendência. Assim, sobte 170 capitalistas, 1.37 er11m nacio-
cconô:nk:,; de qce de.sfrutavam os brancos. Responderam lite- ,. t[, (80,5%} e 33 esn·,mgeiros(19,496). Sobre 740 proprie-
ralmenteIls_exigências ,fa ordem sod?l competitiva, afirmanclo-se 1 11,os, 509 eram nacionais ( 69%) e 231 estrangeiros ( 3l % J.
como o ú1ucoprocesso pelo qual ,a populnçJío negra da capital 1 111 certas proiis~ões conspkUJts, l!'adicionalmente t.'Oottolat!as
tc-ntou ajustar-se, coletvamcnte, "'• eiágêncizs histórico-sociais do 1 •l 1s clit~ locais, o estrangeiro só aparece espotadlcamcnte. Isso
presente. Kiio obstante, tais movimentos, com os objetivos que , , mexia, por exemplo, com a magistratura e a advocacia. Mas,
de:; ~limavam, não repcrcutira.m w:nst:tulivameate entt:c os 11 oul r(IS profis~õe:;, mais ligad.ls ao progresso técnico, os es-
brancos. Estes se mantiveram indiferentes diante deles, ~rguell- 1 ,11,;eirosrepontam cm propor,;-ões signific;itivas. É o que se
do um r.mro de indiferença e ele incompreensão, que anulou sua 1 ,,lc onferir, por exemplo, de profissões cotuo a de engenheiros
l'TÍc:1kia
práüe-J,ilupedíndoque eles toilttib~setn, d., fato para 1 1J7 nacionais~arn 105 crua.ngciros),de argui,emra ( 23 na,
ajustar o sist= d~ rcfuções rnciitis à ordem social compctióva. , .,,,.is para 34 estrangciros), de agrimensores (!O nacionais para
Além disso, os clrcuk>s m,,i.5 influentee, írnbuídos de atitudes e 11 , 11r11ngciros), de profossores (274 nacionais paro 129 cstran•
avaliaççes ttadkionalistas, reinterpretaram os movimentos sociais "" ) etc. Entre o chruru!do "pessoal da.s i ndústri:ü", o üni-
surgidos no meio nc:gto como u1:::1"perigo'"'e c.-omo1:m'll'•a,r:ea- "'' •parece praticruncnrc corno o agente privilegiado. Excep-
ça" (como:!(; de,; "incrod1u.i.ssemo problema racial no pilís''). 1 , "1, e as OC1lpaçõcsag1ícolas, nas quais o elemento nacional
~lp.uns <lefcnéiam o pomo de vista d,: que. se "a n~nilll'1<lt1 1 ""'º~"ª(pois entrava com 1673, ou 68%, contrn 783 ~
ficasse à v,mtacle", depois "ninguém co:iseguiria ,0111er essa "", ou 32% ), lla5 demais áreas urbanização equivalia, de
âos Hômess ~ }if.uU,~t.•~d,: 10 A.r.os e M!li!~
Distrib11iç2D
faro, a euro;)ei7.açiío. Eis os cr..:mi:lc, mais rck'i:mtcs: serviços Seg;mdo a Posifão Qn A:i:,umts Dro~fl,eJ· - Alu.-,.idpio de
doinés1.kos, .5878 nacionais i41,6%} ;iara 8226 c,~ttangeiros São Pa;ilo íCmso de 194())
(58,J9ó ); a:ividades monnfomreíras, 774 nacionais (21 % ) pa-
Pos;rão::.; O,up,.~?.:i br::nco; Pre:os Pardos ,,.,,,,.,.,;,~
Tct&i;
ra 2 893 ~trangeiros ( 79 % J; m,l,albos de artesãos e an:(ficcs,
1 481 n~.;:íonais ( 14,4%) para 8 760 estrangeiros {85,5% ); ati- 1'.mf!·eg,.dor 15261 51 72 3~2 15726
v.itfades de transportes e conei---os,
1 998 Mciona:s ( 18,9 S'í>) para 97,04% 0,}2% 0,45% 2~17% lllv\'6
.2317 35235)
8527 esmm11elros {81%); ~rivid"dcs comcrcíoi,;, 2680 m,cio•
õoais (28,3% i para 6 776 em:a.ogi,iros{71,6% ). Ten<lo-seem '""Jl'~"° jl399i
91,959?
1.5114
4,28%
10925
3,109!, 0,65% 100%
vi.;ta tais atividades, em m~xlia 71,2% das ocupações es1avam A 1t.ôru.>mu 74448 2051 1595 1577 796i\
soh controle dos estrangeiros. Ú>mo, por outras informa~ões 93,44% 2,57% 2% 1,98% 100%
c,·p:us:is, fica•sc sah<:nclo(!OC era mínima n p-4rtidpação do negro Membro<!aFs.:nllis .; 64-1 S,J 5& 565 5 345
ocssc quadro ocupacioml, c~pccialmcncc nos trabalhos qualiíirn- 86,689'> 1,50% J,04% J0,57% 100%
clos e s~m:qualifict1úos, rero-se po1· aí urna p:st.i indireta muito
significativa. O <leseovolvimenro económico pom:dor da cidade l\1sir-[r>Jgnnntcb 4 J9J 3'6 }25 44 .5118
85JI.>% 6,%% 6,.3596 0,86% 1009&
corrigiu c:::saritua~ío, m~ts de maneirn quase insignific.ante. De J'.;r!:·cipsç~on:J
faro, só posteriormente a 19.35. com a inr--:nsifü:açãodas mignt- flop;i/Jiçii() 1.203111 63546 4.5U6 14 074 1 326 621 •
çfx:s internas, a "fome <le bra-os" a1;1r.cntou accntuada:nei:re as 90:n9é 4,79% 3,409& J,06% 1009b
oportunidades ocupacionttis da população negra e mulata. A
modificação foi, entretar.to, mais qu11I1tii:ariva q"e qualitativa.
Um maior número de pessoas dequeh população passou a cer t\iio obst1tnte o caráter pcssimis"tadas conch1sõesque taís dados
a1gwnn facilidade na obtenção de fontes estáveis de ganho, em- possibilirnm, em conjunto, as altcr,,çóes deoorrentes são de g.an-
bora tal coisa contillue a dai-se, prL'(\ominamemente,na esfera Jc signilicnçíío. A aquisição t!e fontes estáveis de ganho, não
dos serviços menos qualificados e mal pagos. Um levantamento importa em que condição, ofotcceu ao negro e ao mulato meios
qi:e fuemos em 1951 revcla que o negro está encontrando, em de integração da e<:trurura ocupaáonal e, em conseqüência, uma
nossos dias, o ponto de partida que pod~>riadesfrutar no período ,hu:1çiíofavom\'el à absorção gradativa das técnicas sociais an.re-
da desagregação do regi.roeservil, se ooo esbarrnssc n:1 competi- rionneme mo11opoliza~s pdo branco. Doutro fado, conquisra-
ção do imigraote. , Ka amostra estudada,escolhida ao acaso entre ra1u simultanearoente -cm patamar para a classificação ocupacio-
homens e mulhues, descobrimos que 29% dos negros e mulatos ~l e a competição com o branco, que .1bre alj!UDscana.is de
distribuíam-se por ocupações artc,;anai,; e 21 % empregavam-se inobilldade social v<:rrieül à população tu:gra e n:estiça. ).1ão só
em serviços doro.éscicos. QUJ1nto a outras atividades, a~ seguin- os negros e os mulatos podem "pertencer ao sistema"; também
tes indicações podem dar uma dara idéia da situaçiio: em servi- já podem "lutar p-arasubir", ou seja, pata "mclho-rar a posição no
ços públicos, coroo bedéis, servi:,n.tc:se: escr:itnri"uios, predM1i- ~•s1cm:1".Por ralas e débeis que sejam, as ''c:litcs de cor" ou as
nante01ente, 9%; na indiísttia, boa p:i:-te como eocarregados ele "dasses méd1as de oor" aparecem como uma realidade nova, e
sei:viços bnuos ou s~miqt!!llificados, 8%; cm serviços de escri- 1r1ao chances de auroemar contürunreente, mantidas as atuais
tótios, pouco; como datilógrafos, corresponck-:ites ou cont;ido- , mclições s6cio-econôm;Ols.
r.~ .. 7'1b;no comércio, e apenas alguns como balconistas ou che- As quMro constelaçõc:s de futores atuam n., mesma ~
fes <le seção. 4% etc. Em ,sorna. o quadro se alterou, mas muito , produzem efeitos só.::io'ilinSmicos da mesma r,ature.<a. Eles
pouco. O negro ainda se acha numn posíçlio muito desvantajosa " ,1rtlêln a desigualdade racial em níveis e ,;cgunc!o um padrão
na pi.riunideocu_p:l(:Íonale (1Qss1.n fracas possibilidadesde corrigir " li> cultural estranho à ordem social compeiitiva e a lllll3 socie-
essa siruaçiíono futuro próximo. i\lLís, a esse respeito os &idos 1 l multi-radal democrática. C-0mo se o p.,ssa<lo se reprodu-
<lo censo de 1940 também deveriam ser k"VEdo,cm conta. Reu-
nindo-se só ns indicações mai.s signifiaitivas, poderíamos elabo-
rai· <:>seguir.te quadro: 1• Induuidc-s,, 394 indivícluôSd, cor t1fo cL-cl0rnd•.
9.:/ 95
zissc cootinuan1cnte no pres<:nrc, a concentração racial da renda,
do prestígio social e Jo poder engendm um arcabouço social que 110din,1mjcasemocêntrkas. E elas não desaparecernru. Conti-
nada ( ou muito pouco) ostenta de competitivo, de igualitário 111.1mfortes e atuantes graças ao a:cabouço social que presetva
e de democrático em suas linhas raciais. Os brnncos desfrutam 111110
conccotr3Çiloracial <la renda, do prestigio social e do po(!.::r
de wna hcgemoni!l completa e total, como se a ordem social 111a1stéprcsentativo de uma "=icdace c!ect!Slas", que de u□a
vigente fosv:, literalmente, uma combinaçãohíbrida do regime "">Cicdadede classes".
de ca.stas e do regime de classe. No que diz respeito à inlegra- Para 05 fins desta expoiição, bastarill considerar al~'UDS as-
ção cio brrute0 ao sistema e.e rclcções sociais, s6 o último regime 1•'l lOS cruda:s dessa complexa situação. O preconcciw e n <l:s-
possui vigência plena. Quando se troca do negro ou do mulato, , •iUlinação surgiram. na SQcie<ladebr:is:leira como uma comin-
J>Ortm, os dois regimes se combinam de form:is variá,•eis, sempre 1:ctlCiainclurá,•cl da escraviéão. Os mores ca16licos pr0<;1cte\;aro
fazendo com que infllkncias arcaicas operem livremente, revilali- ,1 t-scravidiio do homem pelo bo:ne:n. Além disso, llDFUDham ao
.anJo de mooo extenso e profundo uma ordem racial que já ,.-,mor, como obrigação fund,IID!!ntnl, o dever Je levar S'.::afé e a
deveria ser um~ relíquia histórica. •,alvaçãoao <escravo, o que os igualari:1 perante Deus. Para e,.-a-
,fü-se de tais obrigações ou tor:iá-hs inócuas, apelou-se par:1 um
1,rocessoaberrante de racion..1!ilC'1çiio sócio-cultural, que conv<:rteu
Precomeito e Discrimin(Jfão!JasRelt;çõesRaciais 11própria escravidão nui.:;,, relação aparemen:ente piedosa e roi-
·,•ricordiosa. O escravo seria um bruto, um ser entre as frontei-
Esse p:lDOde fuodo pode passar por um "fenômCD() natu- 1•s do paganis-rnoe da animalidade, cuja existência e SQbrevi-
ral". Ocorre, porém, que ele favorece a perpetuação e, sob cer- vcncia resultavam de uma respQllSahilidade assumida grnei:osa-
tos aspectos, a revit.tlização do padrão tradicionalista e assimé- meme pelo senhor. Por consei,>uinte, à condição de escnvo seri;i
woo<le.relaçõi;:sraciais. Esse padrão manteve-sepor assimdiz.er 11.~rente1,ma dcgtedação lotai, qce afetari,1por completo sua
intato até 1930, apivximlldamentc, ou seja, meio século após a 11li•Lrcza biológica e psicológica. Como criarnra "s.:b-humana",
Abolição! E, ainda hoie, não se poderia dizer que ele tenha ll~IR'CÍ:3 como "inferior" e "depeooente", i1Dpondo-se cor;elata-
cnttado em crise irreversível ou que esteja em vias de superação. 11 rn,., a condição social de senhor tr)mo um encargo material e
Ele se preserva parcialmente, mas cncontr:1 reforços contínuos 11 .,,,1. Tais mcionalizações, penosanrente requeridas pelos mores
na ex:1remad~g1:iaklade &i situação econôm:ca e do destino 11 li~i<JlóOS, eram duramente reforçadas .ior instituições tomadas
social dos dois estoques "raciais" em presença. A alternativa do 111 ,hreito romano, q,;e excldain o e.scm,,o da condição de pessoa
desaparecimento, final desse padrão de relação 1-acial só se con-
, ,1t1fcri:im ao senhor um poder qu:i;e ilimimdo. :\'essa cone-
ctetfaara historica.mente a partir do momento em que a popula- li " Je sentido, o preconceito co:itra o negro e o seu descendente
ção negra e mestiça da cidade consiga, em blooo, situações de rue•ll\<>( pois a condição de coi~a se tr-Jnsmitia pela mãe: pari/is
classe equivnlemes às que são des&utac!as pela popnlaçilo branca. r 11111t11 ,,emrem), configw·ava-se, socialmente, coroo u:na enti-
O que significa o mesmo que admitir que isso sucederá quando 1 1c mor...l. As marcas radais possofani, nesse contexto, um
a ordem social competitiva estiver despoj:1& &s inconsistências • 1 1 «·undário ou adjetivo, porg1.1e elas apenas serviam para
econômicas, sociais e c,-.ltumis que se objetivam em tomo das
1 1 , micnsivamenrc, con:o se fos:;ero um ferrete, os pom1dores
tendências de concemraçâo r:tcial da renda, cio prestígio social 1 " 11!i\uodegradante e infumame de escravo e, mais ti1rde, de
eco poder. Ili , ,,.,, No fundo, portanto, o preco:-iceito, que se t0rnava racfal
Em termos gerais, o busilis do "dilema mcial brasileiro" - 1••1 11111.1c.'Ontingência das or'.gcns biol6g.icasdos ~>scravos,p:een-
tal como ele pode ser caracterizado sociologicaroente, através de
uma situação hístórico-~ocial de contato como a que predomina
'l 1• "'"ª (unção recionalli:adora. Cabia-11:e lcgitimnr o que era
, , 1111..-nte ilegicimável. Graças a ele, o senhor poo:a lidar
na cidade de São Paulo - r~ide mais no desequilíbrio existente 111 ,l1nc111ecom os morer de SWJ culrura e ji:scifiear-se mor:1.l,-
entre a estratificação racial e a ordem sOCÍJIIvigente, que em ' , , 11 r.,ntc a sua consci~ncia re]:giosa e o consenso ge1'11L
influências et11ocênt.cicttSespecíficas e irredutí,eis., No entanto,
o padrão de telação racial tradicionalista continha influências só- 1\ ,1 «uninaç:ío, t>Orsua vcr, eme.rgia e ohjetiva.-a-se ;()(;ia[.
, i , mo requisito iustitucional da rel.lção scnhor-cscrnvo e
96
97
da ordem social cotrespon..Ieme. Gn:no o fondamen!o da dis- 1~111 q·i:11110 a dbcrinii:lação vinculam-se, funda-
, 1•1tc·e>rKciro.
tinção entre o se1l!>Ore o es.::ravoprocedia de sua coodi,.ão so;:i,al '" 111 Almc1ttc. com a estrutura e o fuocioi:~amentodt uma sccíe--
( e, port31lto,tfo sua pQSiçãorecíprcx:a),,1 discrill1ioaç;ío,~ el... 1 ,1 .lt 1 •~ a , na quru a Clltratiticatâoradal r~;.xmílfa,\Oli pri:i-
boJ:ou, primarian1tt1te, como um recurso p,L""lltlistand,u social- 1,, • ,l, 111IC)ir.1çiío
econônú:i!. e rocio-<ttltur2l dn organização
mente o,tcgoriru. raciais coexiSicntcs e como um meio J)llnl rint.t• ••I O,mo. menos ap,i-entc e dis.simubdn, é de mnho racfa!.
1:7.m·as rcla(:óe, ou o conv'vio =tte o senhor e o escm•;o. Pa- 11hinc, eram extl-s.ÍÔfl> dn estoque radaT hranc:oc 1 cm nc..'tt1e
b.\"!'as~gestos~ roupas, aloja.rncnto, allin~t:1ção, ocup-aç.ões, rectc- 11 interesses e vafo:-e5 soei.ai:;, excrcian1 urr...adominação
ç.'io, a~-ões, ;tspir:1ções, dircit0$ :, deveres, tudo a1iu no âmbito () mesmo acon:e:d2 com os e.s::ravo$, Si:!kdon.-idoono
d~-ssc p:occ~so, q\1e pt-ojetou • convi>·é::cfa e :1 coexisténd:i numa ,11 1 ,tini negro ou entre mestiços, sem interesses sociois
separação e::.:trema,i:ígida e iuo1ediávd &:: duas categorias s<>- t ,1110, e suí.:itos a wua éon:in.1çãosocial qcc eni, ,10 mesmo
ci:tls qce eram, ao mesmo tempo, do:s es:oq\les raciais. Além •1 • 111·1a r:1ciiu.
dornín,1,:-:ío
di~o, os escravos fotma\"Jm a m,1ssa da popolaçffo, uma maioria \ 1rotíftcs;çso ,ccb! press-:zpunha, pais, uma estratificação
pOtencilllmente perigosa. e, se pudesse exp:odir, incootrohh·el.
1 t 1'(:ult3va. Cor.ia um:1era inercn:e :1 o:itra, pode-se
Eram, assiro, pe«cliidos e represenllldosÇQIDO "i,nimigos da ,1 1·,i~tênciade um paralelismo foru:1,uuenlalcn.tre "cor"
ordem" públ:ca e privada. Par-;. mantê-los sob o jugo senhe>ri:tl , od:il". :\'o limite histórico ci,.;_remo,fomcédo pela
e na condição de escravo, ac-escenra,;a-se .t ";iolêndacomo n:eio
1 , 1al cscravocrat2 e senhorial, os princípios raciais como
notroal de repres;ão, de disci?lina e de controle. Nesse amplo 1 11 1m e dcsa;:,n~ciam por rr:ís dos prhc:p_ios soci:J.isde
contexto, oão só :is dimensões hUJll:lJiasdo escravo como "pes-
soa" foram ignoraéa,. Firmou-se o hábito inflexível de colocá-lo r Ja ordem soc::tl. Mas, a análise pode desf:m~r ess:i
II
t'Vidc:nciando as duas faccrss dá t'Qrrdaçio entte "e;.
, 11
e de mantê-loem s<?ulugar, de forçá-lo vio!entaou brandamente
, r , 1 . ,c1~i-• e uestrut-.;ro racial" da sociccbde. Dcmro lado,
à obediência e à passividade. Em su1na, diferenciaram-se do;s
, 1 , 11, .,, polarizações e;:se paralelismo dcix.1 de s~ tão comp:e,o
mundos sociais distintos e opostos, ena:e dois estoques roci:iis
que partilhavam de culturas diferentes e pOssuíam destinos $0- , , , "J" íicnm evidentes por si me~m,ts. A :mportincia ó
cfals antagônicos. Esses pontos precis•m ser retidos claramente, ' 1 , Ir $ão Paulo, como caso c.-ucial para e,,lldo do tem.3,
se ~e qi.1~,::rQlttndcr ~ ~Íll,l~çiio de contato raci:tl imperao,e no 1 ~m que ela permite 0:>5erva_r: as várias pohlri?.açõessu-
BI:2sil. ,._s fon~ de distinção e de sep:ir.1ç:i<I1;Jo erom p1·ima- .1 ,l,•:;scparalelismo, d~e a desagrej;>-.oofinal c!o anâgo
riamcnte raciais. Ma,, conveniam-sc cm Lal, n~ medida que " .r formaçífo da sociedade de classes.
atrás do se,:bor estava o "btanco" e, por trás cio ~scra,·o,ocuJ. 1'omlo-sc de bdo a ern ooescravidão, que nS:o nos interessa
1
ta\"a•SC o "nL-grõH ou ô uí:Yl!Stiço·. rr ,11~,.,11eawdiscuS3iío. tcrll03 diante de nó~ três prol:ikmlll
É importantls;imo o,.,,,cicnar esses fotos. De um bc.lo, • 1111 O primeiro, éi.z rcspci,o à f.ise de tra.,siçio, em qu::
porque eles c:srurecem as oriRens sociais remotas do preconcdto • h " 1r~dicioo:ilirn, e assimétrico de relação .rac:al subsiste
e da dscrlminac;ão r.1ciai; no Brasil. De outro, porque ele;, ddi- h u,111. O segundo, rderc-s-: ao que acontece quando :,
mitar.1 as funções soei.tis que o prccorrceito e a discriminação 1 tl i~1ldo ::cgro pro•·<1ea91.gtnr.~espécie d.e l'.tlPtlli-,a
no
r~ciais prec:nchiainoa sociedade brasileira do JJ"Ssado. Um, ser- ,! 1 11111 Cnlre ''o.,r·" e -'posição social•'. O
t~iro, rehdo--
via para kgiti:nar romportamen:os e instituições moralmc:nte «,cistênciaou não de probab:lidade; ele in-:orpoNçíío
' •111 •
proscritos. Outro, para reguiar o convh·io intel•racial, subce• , , 1 lt!o paralelismo ao r~in:e de classes sociús, o crue leduo-
tendo t<idasas suas manifestações, mesmo as mais íntimos, o Ulll 1 , 11 ,l .... orção ela desi.11ualdaderacial pela o.réem soch1l <Ol'O·
c6di&o étiro vetdadeirrunente intle:rivd na p~ação da dis- 1 th • r li cx1xmsão.
tância econômica, social e cultur~I existente entre o senhor e o 1 > I' unc·.ro problema pede ser ilusuado com o que ocottc-,i
escravo. Isso sugere que, ~ parcir de s-uas origens roais lon,,ntn· I' 11,h,<:n~re 1888, dsts da Abolição, e: 1930, aproxirna·
quas, o prccoocdto e a dis<:rimírutçâ<>possuem duas facetas. N •~ cnnclições apontadas <1cima, de exdasão quase
Uma, cvicknte, é estrurural e dinamk:nmeotc social. O senhor , 1 1th ct-onômica ativ~, de desorglloização social e ele:
e o escravo relacionam-se e opõem-se como categorias sociais. 1 1 1111lt~:io negra e mestiça pratic:micnte peonaneccu
98 99
nllt:l r/dns equivakme ao ,fo .!íkrto "" ord::m social es<.-ravo- I' 1u.1lnt<Slume,na esfo-m das refações raciais - put mais que
çtai:a e senhorial. O padrii'.o l.í~diciollali.sta e assimétrico de te• 11opalc o contrário - e!e acarreca a sobrevivência tácita do
la,-ão r~ial foi. mio;ferido êlfl sua q=e t<iuilidade para a nova 1•,ral<•li,no eucre ºcor" e '·poskão social".
situaçoo hi:.,órico-social, como se a a1:cração do estaruto jurídko O segundo probltma merect ma:or atcr.,(,'.io. Em dnd3,
do n::groe do mulato n:ío ~é rctletlssc cm MIAS
r11errogativasso- , u.im1t~11cias, o .õ.~íú é o mulato podiam saí= c!n pr6pria pele
e-ia.is. Por sua vez, eles se acomodavam passivamente às atitudes M 1ink1n social escravocrata e senhorial Tocuvia, ~oh a cooêi-
e aos comportamentos precooccit1:osos 011 descriminaüvos do . "• .Íc que se .incorporassem ao núdc-<,legal da família hr.anca
branco, cl1eg2nco,., at.::, ~, ~e ccsonc,ntsrç:n
•· quru,do. este ttgtsst ,Ir prnl ou que fossem aceitos co:no seus prcpostos, opanig-.iados_.
de forma rlivêrsa (digamos: "igualitária'' ou "democrática"). Ao 1••ntci;Jdos ete. Nesse C'l!SO,o indivíduo cruco que perdia, ;,ar-
mesmo tempo, os branco.s,?ríncipalrm:::ite das camadas altas ou 111,nente,sua identidade racial, e coma quc adquiria, também
em asce:isão social, toleravam muito mal outro tipo de reação 1 11co,1lmcme, a idelltidacle social da familia a que pa.o;savaa
p<_1rparte do negro e do mulato. Revelavam notável in<:ompre- 1,vr1 sua lealdade. ::Xãose pode afirmar, como pensam muitos,
cnciio e ext:rei.-c.,iatta.nsigência diante daqueles que "saíssem da ,, ,rrnelhanre altema1iva aca.rretasse tuna corrc~'So completa e
!uma", pretendendo tmt:i.r os brancos como se "fossem gente de l 11n11 i,,:, da "cor" peh "posição social". .A,,,Jq,e patece, alar-
s;:,alaia". Portanto, r.ão era só o pad~o tradicionalista de rehição " , · -, algumas vezes con.s~dcravclmente,o âmbito de aceitação
rac:nl que se mantinha cm vigor. Toda a estrutura social que o ,1, n1açiio social da "1>~ssoade cor" no meio branco. Contudo,
supor..a,a, a ideolo 6ia racial q"e lhe dava sentido e as foo~ 1 11 , muitos efo.itos, o indivíduo precisa.-a saber guardai: as a.;,a-
sociais que de pre.!ndüa prcservavaro--se com plena vitalidade no ' " ·"· mantendc>-se "em seu lugar'' quando fosse !lecessário e
plano das acomodaçõesracfais. 1, , m,oh•eodouoa verdadeira política de seduçiio sÚitemática
Esses fatos são éeverns sig;Jificativos do ponco de vista 1, ânimos daqueles bra:-:cos diante dos quais devill mmsigir
sociológico. Eles icd:crun duas coisas essenciais. Primeiro, que trunndrcionalmente. Aí se equaciona -.;m tipo c:eascensão social,
as inovações q1'e afetam o padriiQ de integração da ordem social 1• ~e poderia ch:unar de infiltração social prop~iamente dita.
nem por isso repe.rcute:n, de modo direto, imediato e profundo, \11,,ves dele, abria-se uma vál·,-da de rnobiljsl,ide vcr,ical qu-:,
na orcenação das relações raciais. Onde ix:rsiste o mundo tradi• , , pr~miar o "mulato de talentq'' ou o "negro no.tável". p~odu-
cionalista brasileiro, é inevitável que sobi-cviva, mais ou .rnenocs 1, uma cont!m:a e inexorável ace!alização no...scio-da..!!l'(Y,luh,ção
forte, o psrsleüsmo entre "cor" e "posição social'',ainda que os ,1, "li". Tal mecaoisll!o, não obstante, além de abranger núme•
agentes humanos envolvidos neguem essa realidade. Segundo, o , • t<•duzi.dosde oersonalidadcs, em nada conrtíbufa para alterar
pccconceito e a discriminação raciais não emergem como subpro- , 11u.tÇão.racialÕu para moéi6car a imagem do negro feita pelo
àutos históricos da el.teração legal do status socfal do negro e do 1, 11, ,,. Os personagens, selecio11aéos;,or seus dotes singulares,
mulato. Ao comrário, a persistência de ,=!ios consútui um fe- 1 m m~nipula-dos como "a exceção" que confitma a regra. O
nômeno é.: det1oi-a cultural: atitudes, compomunentos e nlores 'I" <'lc, fizessem de excepcional, não bcr.didava a sua "raça";
do regime socisl anterior são cra,c.Sforidose mantidos, na <.-sfcra 1 1 1lt () como .1-
(~V
, 2. llC.LUC-i'.l:Cl3
<.[UC !,;:-raia·--"' • . -ou 3 •:~ . _t.•
--f)S!Cv,u!V"'
das relações taci11is,em situações hiscórioo-sodais em que eles
encram c,n choque aberto com os fu11ruimentoseconômicos, jurí-
1• h , ~ 50Cialdo brancc. Dizia-se. a rc-spcito deles:
' ~-º d::
t1l1 li l runcau,".cegro s6 por fora", "'é brantú };b! de:nuo,.,, "nem
dicos e rnornis da or<le:n soda! ,,ígente. :epreciso que se notc, 1 MC:Ct·rwgro" ele. Simulta.aeamente, se ~alhasscro dialltc de algu-
neste passo, que as manifestações dc pr.:conceico e de cliscrimina- " 1 rl<J1r(rntiva, fris.?:v-a-se: "logo ;,e vi:, negi-o q,:anc!o não suja na
ç5o raciais ned.1 têm que ver mm ameaças por ve.o:ura criadas ,ru,11, •ujn llfl saí<l:t", "não se µode esperar outta coisa de u:n
pcb concorrência ou pela cornpcúçíio do 1.1çgrocom o br.mco, 1 ru' , "é negro mesino" e-te. Ora, o apar~cimcnro c!e opo:-tu-
11cm com o agravamento real ou pntencial das tensões raciais. ,1 ..! r11:lvcis de eop:eg-0 e é<.:ganl1v, bem como de certas
Elas são expressões pmas e sim;,k-s àc mccani;mos que manti- ,1lb,l.,dcs de ascens.'fo social, abertas pcln ordere stY.:fofcom-
v-cram, litei:ahneme, o passado n<>presente, preservando a desi- i ( 1 ( MJ')ecialmeutellOS íi!thco:i; v!nte ano~), fi.T.c:am oom
i.ualdacle rsc:al ao esrilo da que ín:per-ava no regime de casus. 1 1 1 1rtc das chain,1,fas"ditc-s dc cot" ou "cbsses médias
Is,;o sígnilia1, naturalmente, que onde o tradicionalismo se per- 1 lnssifkasse socialinente sem o bafejo. ck, .?•ternalis-
ll'!J 101
mo do braoco e sob rdariva independência dessa foJma espfüia l,1.11<·0 acaba tendo de apc!ar, de modo mais ou mc:nos cl>erto,
de mobilidade social \'crtical. ,,.,tu atln,dcs ou comportamentos que se chcx:am mm s tr2dição
, Dfoote ~sse ";:or;,J r.e~ro", o branco vê-se numa posição , li dl'<:Oroe envolvcrn o apelo ao ctnoccntcismo como recurso de
C?ntusa e resi<b"1!mente•mbrvalcnre. O "nQVO negro" já é, en1 111ttldcs11- Segundo, a4ío oposto também se evidencia com niti-
H mesmo, ~i:n npo ~=no relativamemc com!)lic:ado: possui li , embora de forma aparcnttl!lrnrc menus extensa e intensa.
um,1 menta.Edade IDlUSsecn]ll!izada e orbani?~1da. não teme a 1 ) b,aocos de propei"lsâo rea1-n::rttc tolctallk e igu,,lithia pto-
Ji.-re cornpelição com o branco e, sobretudo pretende "vencer 1,1~m amparar esse "no,·o negro'', resg1.1aréando-o
dos efeitos
n,i vida" a codo o cus~o. Rompe o~ cordões ~ce.ciais ou morais 1 pre;são indireta e estim:tl.uxlo-oa p:o~eyuir e111suas ambr-
com seus "ambicmes de oriAem". ncgllJlclo-sc a conviver com os \1 •· Mau grado certo grau ,•ariável de a.mbival&1àa de atitt.,des
"negros
l
pobres", a i:espcitar t ~olidariedadc apreste
•• -.
que torna e unia consciência <ldcrUJada da realida<lc racial, tais brancos
o ' negro rioo" uma \'ttÍln2 :ndeíesa dos amigos ou parentes uem 1,. ,ulizam o farisa!smo <loprecooceito e da discriUtinaç1ío radúis
necessidade'º, e a manter um oível de ,,ida modesto. \lefo= o 1 ,unuladas, ao mesmo tempo que procutlllu, embora por vet.es
" negro d cs 1ei;s.1cco
. -' ,.·, que :;çr:a
. o L..ator d a eterna degnidaçiio.,..do
11 1•i~fotorialll<:nle, "dara mão ao negro que merece". Poz isso,
nei1ro pelo bt'80Co; e coUJh31e os movimentos i;ociais de cuoho , ,, , p:roduto realivo da emergêi;.cil do "novo negro" e pelo
racial, 81>Soalb.ando que o ."problema não é e,,sc" e que dcs podem 11,1,tl"tO de sua personnlkbde ou c!e seu su=so, alguns círculos
se_ tOJ:Jl.at contrf<procfoce::itcs. ~o tb,-pcrtar ilusões entre os pró- 1 r <1pufaç;iobranca também re envolvem de manei.r8 !llllis pro-
prios negros e ao f<>1ueotar11 animosidade do btan<:o. Absorv~ ,",,.!.,113 rnod--.rnizn9iodos padrões vigences de refações raciais.
e cx•g,x.1 a meutalidade do branco, gue roma coroo modclo <le 1 1 eixo, o meio 111?!\TO propriain~te di10 niio rcn~e ,,niforn:c-
5113S t·ealiiaçõ~, ': ~ em prátka um pnr.itanismo .inif-nuo mas 111.: 11() ê;.-içodo "noyo n~ro", ,'\migos e paren,es d<>me:ir.m
duro, _qL-eo eltlm1rt" de qualquer crítica e o pu1;ficaria de qual- 11fri social pooem ficgr entusinsm-.dos e oferecer uma ba,e en-,<>-
quer lontc: extrap<:<;so,.Jde cfogradação moral. Cultiva a ddica- 11111~1 e nlQnil,qne seJ:Vecomo uma espécie de caixa ele re=n~n-
clcza e a a!abilidãck, COl1lO técnica de suavização de soas atitude$ u " de fonte de estímulos ?is pes.<;oascm C!lDSA. )s)o enronto.
auto-afumuiv,is, mas também co11JOC.'Cpressão do seu modo de .n, ~mo no próprio nível social '-llrP;ein aprccis.çõe~mais ou menos
ser, de pensar e de 1™'.dira grandeza humano.. Por fim é intMn- 1111,·volas, que min-im!7..am 011 ridiccli!:rizama~ ptctcnsõc~ e as
sigente cllante dos lmmcos que pretendam congelá-lo, ~plic:ioclo- , ,limçõcs do herói. Nos demais círculos de sua.s relações no
.Jhes o padrão tnicicionaUsta de relação meia!, pois as wuênci:is 11lo negro, princip.ilmcntc abaixn do nfr::l soàal adquirido, a
ucs.sn esfer.i redundariam em perda dos proventos esperados - , •~.io dominanrc combina r=eotimcnto mm satisfuçãc,. O
a conqu:st3 c!o "lugar a que faça jus". Vis10 em conjunto ele , to ocaba lcvarulo à ,1Sttüsão soda! e 6ta converte-se (.-n, ruptllra.
se ar,1-esent11co1~0 o principal agente humano de moderoiz'açiio l\lr i'50 os antigo::; nmiROS e pa1·cnrei; ficam ansinsos; numa
1
das rel~ções raciais r,,1 cidade. Pois objetiva \1003 fornl<J ativ:1 e ranhnreação amorosa, oonclenam aqueles a quem amam. Fora
ron,;tante ck rqm\sa às manifestações readicionais do preco.occito u ,na d:is rcfoçõcs de caráter pessoal, poré,n, o ê:rito é cnfa-
e d., discrimi:i~çãorac:.:iis. d 11~) com entu.sinsmn. Prevalece a ide:ia de que, aquifo que
/11ravi8des~ ti;,o huíllllno, cvidenci:un-setrês dados essen- 111111~wo pode: fazer, outto também pode. Ilortna-se, sssiru,
chiis. J?rimciro, no momento cm que o negro rompe com os 11,1 folclore do negro cm <1SCcnsão, que !C::Vc de cstím•.tlo aos
est 7rcór, ros e com as conveniências dissimuladas, impondo-se 11, ,.,1,iram idêntkos objetivos. Os pró;:,rios heróis desse fol-
soaalmenle por seus méritos pessoais, põr sua riqt1e-.ea e por seu 1,1 , contudo, afu.stan= do "antigo ambiente". isolando-se do
pres~o, 51uchra-se inc.-ita_velrucnteuma das pol•r~aç,,cs que 1 · 1 mdo ôriginário e procu~ndo constrcit ~ laborios:irnente, o
pemt.tt-.a <li~f.,trçaro paralcl,sruo cnrre "cor" e "posição social". " , 1!rio do "negro direito", de "posição social~ e que "é gen-
Então, a; linhas de res-is:ênda à cor se mauifc5tarocom relativa " ' Esta reação, mais ou menos típica, di,·orCÍllo principal
dareza. O preconceito e a úiscriminnção raciais sobem ¼ too.a 1 1 • nto hwnano do meio negro das grandes "massas de cor",
sem máscar.1. ~ão só algumas da.s r<eStrições,que pareciam con- 111 1111J<>-0 a ignorar a importância vital c!e movimentos que
fus:une.')te associadas à posiç-Jo social precis:im ser postas a »u 1, 1 1 11·1 redundar na aceleração da democratizaçãod3S relações
em termos ck, cor. C-0mo, ainda em situacões competitivas o
' ,
.. , 1
102 103
O terceiro problema coloc:t-nos diante de um .,,,ip,ma. É
impossível prever o que irá acontec::r no futuro remoto, em ma-
•J11,,pri.1dos;as chrun;idas "elites de cor", porque das r.iio per-
téria de relações raciais. Parece provável que as tendências do-
ed ,c.•mou se percebem não acham vantajoso comprometerem-se
rnÍ!'lanteslevem, a longo termo, à .implantação de uma nucêntica d, ulle de semclh;antes objetivos, que afetam mais o fururo dsl
democracia racial. De imedi,1to, porém; certos ocorrências repc- r ,,11unidadcque o prese.ote delas próprias. Por coneeguinte, a
,1c•mocraci.'lr-.icial fie9 entregue ao s:cu dcsrino, se:n ter ounpeõc:;
údas fazem cemcr pe!o desfecho dessas tendências. Pelo que
,111e n defendam como UJD ,,alor absolmo. Se a foroução e o
vimos, o fator verdadeiramente profundo, que produziu :ugumas ,1 •,·n,·oh·imcnto espontioeo das classes sociais eorec!arema de-
zlterações sigoifiaitív,1s no contexto histórico-social das relações
1aciais, v= a ser o clesenvolvimemo SÓCÍ<>,econômico espont.â- 1r.11:1ldaderacial na desigualdade incrente à or&:m :.oc!al c~m•
r , 1i1ivn, então ela estará fatalmente condenada. Contmuara a
neo. Ora, ele foi evidena:meutc insuficieme, até hoje, P3ra pro- r um belo mito, como se dá na atualic'.ade.
mover o reajustamento da ordem racial herdada do fY,issadoaos
requisitos da sociedade de classes. A tal ponto isso é verdadeiro, As considerações n·postas ap:uihrun apenas algollS aspectos
que em muitos círculos sociais e, simultaneamente, nos diversos ,l 1· mnnifostaçõc:,e dos efeitos do preconceit0 e da discrimina•
g.:..'JX)sétnicos ou nacionais que o compõem, existe nítida pro- \ , , nns rela~'Õcsucia:s. Mas, esses aspectos são sufiC!en_Les para
~t 1 ,r o que pretendíilJllos: como e porque a ordem social corn-
pensão a dar 2colh:da e a por cm prática velhos procedimentos
preconceituosos e discriminativos. Há quem te:,ha medo de per- 1-r111 va não a~sorveo e eliminou, rápida e de~t:iv.ctmente, o
der prestíg:o social "aceitando o negro"; há também os que só 1•1<ir,o de rei.ação racial herdado do passado senhott~ e da escra-
aceitam o negro na órbita elo convencional, afastando-se deles d.1e1.É que, os homens e as soci~des <p.:eeles lormam ~1
~a área da verdadeira amv.ade e da comunhão afetiv~; há, por 111r,rese modernizam por imciro. As vezes, elementos e ta~o-
fm,, os que oustcnum a todo custo certas representações arcai- fl a .1rcütos oontinu.am a existir- e ;:, ore..rar além de su~t er2 hi~•
cas, repudiando qualquer possibilidade de incluir-se o negro em 1 rir,. exercendo influências negativas na evolução da personali-
posições que envolvam o ci,.--ercício de liderança e de dotninaçiio. ,l~rl.-. da cultura e da própria sociedade. Esse par«e ser o caso
Deiioanàe>,sede lado a questão do intcrcasamcnto, guc esbarr~ ,1 s.,oPaulo embora ela seja a cidade mai!i moderna e c!csen-
com resistências e avaliações (Jll!lse incontornáveis na prescme \ ,,J,<1Jacio B;asil >Ja esfera das rclações radais, ela :11,da está
h11 110 comprometida com o passado, indecisamente imersa num
conjtcltura, dados corno esses sugerem o tipo de risco que sobe
à tona. A conreatração racial dn renda, do prest(gio social e 1,, todo de transição que se prolonga indefinidamente, como se
do poder, as tendências muito débeis de correção dosefeitos , 1rf!rosdevessem aguardar, p<1r3 se igualarem oos brancos, o
negativos que ela provoca inexoravelmente e as propensões emo- d, •nto espontâneo de uma Segmu!a Abolição*.
ciniricai; e dé3Crimínativas,poderão facilitar a absorção ~radual
do paralelismo entre "cor" e "posição social" pelo regime de:
t±isses. Parece ind:ibitável que essa ameaça existe. O pior é CONCLUSÕES
qi:e efa constirui uma realidac!e qi:e só pode ser combatida de
furroa consciente e organizada. E n:io parece que, mantidas as < >, resulrnclos da presente análise são óbvios. Eles 100;-
coadições atuais. t:11tipo de re,iç,in socie~rfo enc:ontre viabili- 1, 1111no,. de lado. que existe nm dil_em..-,
llOl rt1r.".dlm:ú/J>iro~
~de histórica. Para os segmentos brancos da sociedade, o que " , Ir-possui om caráter csttorural. P~ra ~e_?tá-lo e corrig1-
importa, viralmefüê;""não+o-destino- da democracia racial, mas \ " Jrtta preciso mudar a estrutura da disttibwçao ela renda, do
a "tõniinmclãôe e""õnuno de expãilsãôcbOrãem soci:11con1peti- t•r titio ~ocial e do poder, estabelecendo-se um mínimo de
1iva. .Mesmo o problema d.1democracia ao nfvel politico não se 11Ih Lh1r- cco1,on1.:.ca,
• · soo·ai e cu.ru.r.
1 al entre "b rant:os " .e
· '' , " negr<;_s.
coloca como um dilema para ess~ círculos humanos. Os seg- '" dato,'. Também revelam, de outro L,do, que a emergc:nc1a
meotos negros e mulatos da sociedade, por sua vez, o.ão possuem 1 ,k r1,olvimento de uma ordem soci:t! competitiva niío cons-
ek,mentos para desencadear e generalizar o estado de espírito
por uma defesa consciente, sistemática e organi7.ad3 da deme>,
crada racial. Os !Cus se!C'respobres. ;:,or ?.bsoluta falta de meios ( • 1 I· Jlfe\!lio trolad.t de manifestações ele inteh.-ctuaisnt"J::t"P-Sr-.i-
l•lfi;wn•!~ it)(l -n1,,,·núst.1S.
104
105
titt:em, e:n si mtsruos, g,iraatia de urna democratização homo- ,., ( <'Uoutros dramas igu21.rocntc pangenie, e dignos da "ação
gêllC3 oorenda, <lo prestígio social e do poder. As oporrunida- 1,1r6ria"). De..cseilngulo, verifica-se não só que o negro deixou
cles que os dois processos hiscórico-scciais criam 5$0 nprovcitadas 11 tonrnr no processo histól'ico, t:<>mose fo~se lx,nido da vida
de fortl!<! desigual pelas <líwrsas Clltegorias sociais e rací,us em .. "d comum. De.cobre-se alRopior: a demccraci,1, que for.occc
prese:iç,i. A experiência his,ór:e< analisada comprova que as •<>,nesmo temoo o ~porte jurídico-politko da ordem social
categorias sociais melhor lccali,.sda; na estruturn economtca, so- ,,mpccitiva e sua
única fonru & con1role rnoml, deixou de
cial e de poder tendem a roonnpofüar as \"antaR""" reais e a 11,pirar exa:amente àqteeles qt:c "fazfa:n à história".
Cãpiraliur os provemos verdadeiramente compensadores da mu- Outro proble:na reJ:ere-se à mo<!cmizacão ( e, em particuhr,
da_oçawcial. Em CO'lseqiiênria,a democratiwção inerente aos 11N,uas repercussões no plano das acumoc:lacões raciais). :ê difí-
dois processos cootêrn duas face;. Uma d~las, ddxa patente que .11 4uc a no<le:nizaçíio p~sa ,,kançru: _proyorções eguführadas,
,IS i~indes massas t_êin acesso n cercos benefícios gerais, que ,µu.clmc-meextc,::sas e profur:da, cm todos os ní.v~is da vicl:t
,nefbw.am sua !)ar.ticiração ao nfoel médio de renda, de padrão , liJ orgaro:2-la. Ela arompanha o ?Oder relati\-o e a viralida-
de vida ou de \ISO <lo poder político. O!!ml, deixa patente que 1Ir J. ,s gmpos inleresSaldos em determinadas lllu<lanç-.Js
sócitx."1•
pequeno., p,n,pos se inserem mais 011 menos ptivilef!iadamente 1" .us e progride em fonçíio <b capaédadc •:ue eles logram de
nesse processo~ m~mtendo on alco:1çando níveis de !)artÍápação <onçrctiz:í.J:is hisloricunente. Po= isso, " cidade de São Paulo
ela renda, do padrão de v:da ou de uso cio poder polfricn que u.m;1rápi<l3 uan~:ormação de sua fisionomia url"lna e
( 011111(:CCU
ultrnpnssom as propofÇÕE$ r.iédi~~- Kess.e sentirlo 1 nas fases & ,t, <ua org.uú:ação econômica, cnqu.anto ficou variavclmcn~
formação e d-: expansão inicial dn ordem social competitiva sirr- I" s.t oo !?assado _em_0\1~•~ c,;fc:ras da:1 r5[ações_ ~um•n~s <>-; oo
gcm tci:-1focias muito fortes c!e •~rnvsmcnt.'l da;. desigualdades 1, ,. ,voh,~mento 10rntuc10n.1l. As rcl.tÇOe3rn,t8JS se mdlll«un
sociais e poHêcas, cm termos d~ clas.re, de rdça
c..,.;onômica.'ii, 11,le élt.imo seto=, >1[)rcsent:ado um índice de estagnação sur-
ou de região. A pcnistêncb ou a climin:içíio gradual dessas dc- 11 ·t-ndcnte e ;>e.rigo;o. Para qu, semclh,1nce situação se altere,
sig-.rJdadt-s passam a depender elo modo pelo qual as dem,ús prtciso que orocra. com das. o tm:,m:o que Htceccu cm face de
catei,,orías sociais rc-agcm, colctivarncnte, às de!ormaçilcs que ,111us esfor,is da vJd11 ~ocial que se modernizaram tapi6.mente:
assim se: introduzcrn no padrão de intcgrnÇ<'io,ele funcionamemo , 1:rupos b~'lllaJlOSdireramc:ntc afetados ( ou interessados) de-
e de evolução da ordem social coa:pcticiva. ' ttl rooiar ccmsciênda :,ocial dessa situação e rentar mL'd.ificá-la
Esses a!<P,."'<'tOs.da realidade sugerem, queiramos ou não, Lllll 1, fmma org,wb..«:la. Tssos:gnifica,em outras pala\'l".i:;. que é
quadro =ealmc"!!tecomplexo. no qual se dc:vatn dois problemas lu p1·6prio neg.-o que deveria pa,tir ,1respost:1inicial ao ck-safio
reatrais. L'm deles, diz respeito aus tipos de homens que "faze01 ,,, posto pelo dilema rnóal brasileiro. Ele precisa mohilizat-sc
a bisiória". De que C:lllladas soda.is eles são e:.u-aidos, o que 11,rn dcfeoder 11.foosi1ncd:atos: uma participa(OO mais equitativa.
eles representam e;n te..-mos de inte.es.~ e<:onômlcos, sociaisoo "' pro,•emos da ordem social c'Ompe1iti~11; e para visar alvo;
pol:ricos e Je ideulid~:les i<le<>l6g:.:a,;,=ionais ou raciais? No , nnh.,\~ ~\ lm1.>lant~çã.o ele ema. autê:nt!Cac..fen10cradar:acialn:l
CJro e!J' apreço, mi!. homtns provinh,IDl de categoria; sociais , 111m-d~de. A.•indo soci,,lmcrm: m.:ssa direç.io. ele c.cspctlá·
muito div~=s - represeruantes<lasantigas eliles ou seus des- 11 «,·: brancos, "' dos (l?íerente; :lÍvci.1 sociais1 para o a1cancc de
ccnc!c:nr.e;.,imigrantes ou ~us ÚeS<."en<lentes. elementos selecio-
,, 111 1 1us:i dn qunl depende, de maneira nocó.tfa, ~ funcion•~";lto
nadns cm pupulaçõL-snadonai!: ruigrantes etc 'fodos rinhntn
, , , ler,cn,·ol11ímentoõa!ancc,,&>s da ord= social compcut1va.
cn1 con:um a â;isia do (.ntiquechoento, da mqqu?sta do bdto e
do t-xé-rdéo do poder. Para ele.s, os valores ide.ais da ordem 1~,rn perSJ,>ecllvo,compreende,:.- melhor o qoanto a mo-
social competith•~ não possufo;u nenhuroo secnçfo. Limitavam· ", ,. <;•<l cfas rekções raci.\is depende du grau de racionalidace
-se a macipuli-la como um meio par:1 aringir aqueles fins de ,l e ,pncid:ide d<: atu:i.ç-ãosocial ele certos ~rupos hum,nos.
forma racional. ráoida e segu.cn. Port.anto, eles "fizeram histó· 11111 11 t<lo pela ideolOj\ia racial elllborad~ pd~ br~cos _e •"':11;·
tia"-masi=orando a coleri'vicla<le
e os seusprob!cma.~
hurna:1~. 1, 1 •ln 1tã Je "perteix:cr ao sisten:ia'· - IStO e, de 1d::nt1fi-
' .,.. 1 •
Expurgaram :! eqüidade de seu bori:ronte culrura e, com ISSO, 1 ,no posmel ~ \m>?tto !Jranco - o negr<l permanece
não tioha:n persp<ccüva J,l<lraaquilatar o drama humano do ne- 1 11 ,, 1~ntc neurro, ncg;.11xl;J•SC cot110 futcr lwmano de mu-
106 107
d.uiças sócio-cu!turai.sque têm de gnvírar, Iatalmente, cm torno
de soas insatisfaçõc:s e aspirações histórico-sociais. Assim, ele
aparece como a principal yítiroa da cadeia iavisfvel, rcsult:mtc
da persistêné.1 do pass~do. 1'oma-seÍ!X;tp,a é.e inkr.igir social-
me11te, de m:u,cin p<1síti.:1,rom ~s e.ti~,..n;:íasco ;,rcscnre e
deixade afumar-se. na mcdída do possí,;el, ~ ddc5a e na cons- CAPITtn.O V
t~çiio <lo seu futuro hun1ano.
U,lICllAÇ,\O E 11.ELAÇÕESRAC[AIS •
REFI:.RtNCTAS Bf.BUüGR.-\FICAS
O estudiosos estão acostuinndo$com um duplo conrrastc.
O leitor lntcrc,;saco enconu:ici, 1ias dcas obr3s scgtIÍmes, , ,v,Jiio é gctalmeme apomada como wn olxmículoà ími-
fundamentação cmpíric~ e intexp1e1afo-:i parn as consider~ç6cs 1 \i ,, e est2 é geralroenu.: repres~macb como ~ fa,?r de
sociológk2s <:..'(l)Clldiéasneste tr:ib-.tlbo, bem como referências 1 , , ,., do trnba!ho livre e do c1prnilismo. Por isso, e Ix:m
bibliogr.if.i<:~ssobre outras public,tções, 11c.tir1ena:.1ao ass11/\Co: h , la e tem sido muito cnflllizadn sua relação com a cnse
Roger Bastíd~ e Florcsta,1 FcroMtes, Brancos e Negros em Siio 1 ,1 trma de pruduç,ío escravista, que eh precipitoa.
Pttlllo ( 2.• edição, Síío Paulo, Comp:mhfa Editora Nacional, N, , 1e trabalho, o :rutur não pretende cogitar desses pr?ble-
1959; 1.• ctli~o, 1955 }; florest<!ll Ferruuxlcs, A Integrt!,;30 da 'Jomn11co:1 dd"dc de São Psulo como fonte de suas 1.oda-
Negro à Sodedtu!e de Closses ( São Paulo, Jlarnldode ele Filoso- '" r111píri01s,apenas quer responder a certas perguntu, que
Üa, Ciéncias e Letr,s da Vniveisic!ad~ de São Paulo, 'l964). 1.111I' r objéto o passado rece,,re e o presem<:. O que rcpre-
11 1 ,1 imigr~ção, entendida sociolog:c-amence como fator es-
1111111rnl ~ dinâmko, pua a pel'peruaçiio ou
a ~lteucão_ das "':o-
i ,,,.., r~dais? Doutro lado. ela contrtbum ou_ ~ao, ass~tn
11 11,IJ,. pnro ahernr os padrões de relações tac1ats propua-
l11m>
• •11m,. " pl(lDOa ser $cguido na eS'J)Osiçãoé simples e
J k ►' · r•",1
trorno de tres questões básicas, decorrentes
runto, 1)
uno o imigroçiio interferiu nas formas
l•
h 11" 11 tu h , do 11curoe do mulato à C3trutura
11 11 ,,1 d , l) ""'"' o negro e o mulato re;igi-
, , ,ll,i1 , " p •1cc111ívebdos io'ligr!llltes ou
3) o que a ímigra•
,1 • 11111 ·11.,, 1•c111(uc:s;
1, 111, , 1 11i11º'' ~ 11lcraçâo do sistema de
1 , " 11!"'"' 1<>11111·" conclusões puderam set
111,1111
!11 ,u 11111.L.m~nrnc!As
eropiricameote.
i 1 ,,. 11 ,1 t 1,c111lo
u. on Jtste ~nd Clan ia
J .t, C:011/trtnet
, • ri, ", (/. l'iu/m"-11PnioJ, Ot:gaDizadopelo Dr. Mognus
1 u s, 11 f1 , dr c:.lrnicU e Co!umbia:
Uruvcr~;-ity Unm:niey,
11 11 ui ,4 J 1Ulll \r-:l<'r,canStodics; ~ cm Nova Io:que,
1 1 1 r11bro,i,. 1961. Pub'.ic,,ç".10;,mi,, cm inglês, M.
I ! '/ ,, 111 /.,,;,, A"'"'"'"''>k,.-
Ycxlc,Coll.llllNalJ,,i,,e.r,iry
1 1 1-1 ; e n'I 1,ortutuês,pelt R~~,.:sta
Ciuii:%!1-,ão
Brsl-Etinz
' )\ 1
109
:-.:o trtt•nto, tl•s t!c,noo,tl'.lm a1f(o Jc: rdacit o ,utercssc Lcorrco 1 )t c,tuoo.\ Jcmográficos {~o; por S.mL-cl Lowrie mos-
e pr~ti~o. A i.mig=~ção~ ,l(fapt0u ~ b=is~ndes do sistema 1111 'I"~ náo houve. stricw :rrmru, ,uh~cituiç.ív popufack>nalêe
br.u1lcm:, Jc :d_OÇt.1e~ racial~·- l'or mmeguintc, não concom:u , hos l><'rimigrnni:e:s. ~•io obst.tntc, principaJn.~ie no que
s~uer par,1i:l~1nar vu u:odincar os e!emct1ti:>S nmli.cos ou arcai- , '"' •rx: ,t cidade de S,;iul'(l].êo( e nio oo Estado de São Pa~n,
2~n.resl'{l~ ~npcdcm a bclusão <Íe$s:is1·d.aÇOCS l'I05 processos 11 .-r:il), a uroaui1,1ção rnmbém sígnificon, de ruodo c-i.ccnSQ
5?'"~--cooooc~ e nJn1n1is ql.lCestão prt:ido:cindo:i moclern~a- I '' ,(1111,k,,CU:CYz?CÚllção..E r-.ucce fora de dúvidas que, com
ç,;o da co_mun~dsdc. Se cl:i posrui nlg-,un .;ii,<nil!C'ldo :n:úor a 1 h\,1•1 aos SC1,'me11tos ncgto e mulato d;i popul:.ição urb:oa,
esse rcs1x1ro,. i,;;o se de,-c :10 fazo de h:r contril,uíúo poder~:i- ,·11de fato substirulc;20 populacionll ;,mpmmente dita. A.,
meu_:ep,u:. cnar i:m Condoon 1;ua!a liuc compe1içaoe :i Jcmo- hpn1,11das do knõmrno for-.1L,cisfarçzdns pela in1eu1õC? mobilida-
'-TllC}lltl";1dt:n li. !-é c.mvc:rter ern vdlore. sodais. futc a.~pcc10, 1l .t,1 "populA."JUde coe" e pelos a<Jé;cimo:; r~nlt,Ultcs do
po.rc1>1,e <l.:P8'111ldoar.iplo e :io rne>mo tempo dcrun~iac!oe\'Í• , csso 1.'e cncmdu sobre as saí&tS, os <IUlll• (';;lractedzam as
dente para s.:r J:ibmet:do pro,.,-'!o.;à.,ie!:!teà <lisru.ssão. , nçõc~ i.ntcm.-ts <lo negro e cio mulato ni.:~e período(=).
11ir, os fõa,; da pre5C!?teanálise é sufick,nre pbc c:m rdc.o m
I''"'"'°" histcíri<:u-sodnisucsi~nifica<jíoc-strut111JJ. Th:= pers.
1 li .,, ~ria pred<o diistw;;cir três g111ndc,;tcndÊJ.>Óasglobais,
A aceh.-rlll;ão da j_,.,;1,'l'aç;iocoosriwi, /!O início, nma função 111,1rt:,:d~m que o ÍlnJ>aeto da ímig;,l,;-ão sobre os segmentos
Ja dt-,sagregaçiío tio rcgunc ,cr,;1. ~m quando se evidencia n •rn e nulato da população pa11llmin,1vn.ria com o período
41,.-c o icaha.l~ ~avo devia :stt suhstituído pelo 1.c::tbalho livre. 1 1,hco q :.,e ,e considere.
o volulllc t!.:iL"Dlgt,lfÜ:> soúc uma alt:t bru..cca <'O:tsidcrável. O ! !ti. em primeiro lu;.,:r,a km~ fase ( a;,co>.im:!<lun1.:n·e de
o:ionta.,te de imigranccs entr~dos em São Pn!!lo nos últimoç 18'7 a 1885), em que a imigtação foi sct001da pek~ conring!:n-
c:n::o :mos do •~o XL1{ 1.-quivafo:1 cais de quatro vezes e 1 , socio-econômica$do te1,,ime s.:rviJ. Nessa fo~. o i.'lligrantc
mei.i_o to-.-tlde 1rul~anlc$ entrados entre 1827 e 1884! Em 1 , ~ aruc:açaos padrões de aoomodo('ãoracial decorrentes d.1 es-
seguida, <:<S:t acdenç:"t0 BÜllJ:\e o ôe\1 pomo culminante on h!s- <Tdvidiio. C.Omo;ugerc coo ni;,ão Coury ( 3 ), o tralnlho cscra,"O
tóría da i,uii:caçio em $ao Paulo como ÍW1çio Jos requisito!< l11ui1,:1va, ec-onom1camente,o trdhalho livre. Enquanto possuísse
humanos da reorganização do sistc1ni1 de trahalho. Por ca\153 • e ·r~vo, o se1'L)Urlinha o ntiior e._,ipenhocm e,.-plorá-lo tãn
das exigê!:ciasde ro»ac-<ibr11da lavoura.os efeitos de tal reor- 1111.-nSJ e extensamente quant0 D,e fu•se J)O$~lvel. Todavía, a
~ni~~ se fizer= scnlir 21,'ll~te llO$ anos s~ÜClltes coça do fo1ig,:ame r.ão foi totalmente neutrn. F~,1toJo o
~ ~ü~~ ( ~ 1~~9 a 1,899}. t.;ns, ~odo o Jl,'!l'lodoque vai d<> 11111,il.o dc..<e:n"oh-iu,cntocconôm•co da 3.í!rin,lrun. sob o rc•
ul11m5> ~;nnqueruo t!o ~~u!o.X!-X ate 1930. •r,ro.óri.:idruncntc, li'""' ,etvíl, provocava e condicio.'lava a fonn:1ção de núcleos
corumrut um ~nodo ele si.1b,mru1ç-liC1 de o~...,a-
r:ípid1 dos J):.l<lrões , l i::<-.. e, dentro d.."'>res.dctennioa-.a c,:rta diterenciação do
niiação 6s ac.'vioock..ç cconó:iüca, ou de inttodus-iio consolkl:i- 1 11.1 oc,ipadonal. Sfo p3uJo n-lo corut1ru:u esceçio a essa
çio e ex1)ansão c.!a ecnJlU1UÍ2bure.1da no m1balho liv~e. Os se- 1 ncin. Mas, a:r11vC$SOl1-~ sub condiçó,."l<hi>tórico-~iaís pe-
l,'111.'.lte:! dados indicam as 1t::dênci~s desse movilllcnto ituig:ca- l1J11,. .Enqua:ito cidade, como o Rcci(e, São Sa!.,..dor e, mes-
tório (1 ): 1, 1 10 de Janeiro ofereceram oponunidades de re:6sorção do
/l.r.01
1827-1884
l883-1SS3
1690-1899
Enr,adas
37..Sl
l&.1127
735076
- r ,1,..-nlc de uahalto &"t:ivo como liberto, c:rn pleno re.J!llne
1b 'M.rnvidiio, no.s Jifcrentcs setores dos servic:<>Surbanos. das
,.:11 w;i>c$artesanais oo do pequeno com<.'::cio,cm São Paulo se
1500-1909 }8$70!1 65 262 ( 1908-1909)
l?J0.1919 4ll0509 247927
1920-1929 7U-06 234.342 ( 21 S<ihrco, tc!lÚmcoos<'Jll q.:cnio: l(o;:=r &.<tidt e fl<l<e,;cz.'l F~
Toritl 2 522 }37 5475.)1 llr.•ro; < Neu,;,s e:n Si:<,Pe:!o, c:,sp. l; l~ fcrna:><!::s, Jl
, 1 m do 8cgro ,1 Soei,i!ad, de C'4sset. ca;,. l.
l l ( or.fl,noc I.c Bréril "" 11!84e, pri.~cipalrttn<c, L'E,'1-,f t:lJ
I /''1 ll'tl.
Jlíj
estabdc1:cu pzeco-."aneote a te.nlk"ndsa c:;maliz:1rt<tis oportuni- Ir• apti..!fo p:l.('11o 1rnl,ol:io l:vre, a com;:ienç:io inter-racial e o
dades n2 rlireçifo das i1'li~:anres. , talv urbano de vida é agravada peb pr.:,cu~-a de massas <!e
Por ,conseg:iinC.e,embo.::aa população da ci<lack:ahriga,se , ,trnngeirns, áddos por absorve.cemas opor,unid•dcs econômicas
gmndc mimero de libertos (-<,) e,tes Jlâo log"taram aproveirar 2I , ,,stcntes ( ou em eaergênciaJ e tota!me11tcpreferidos no mcr•
O?Ortuo,dê.<:les de trabalho liyre iae.eOICíià ordem rocial escra- , ulo de ttabalho. A,resce q:1e o própri-0 "negro" tinha de
- ,., vocrata e senhorfol de maneira vanrajC!S!I.Ao contrário oomo 1prendc:ra 2gir soéalmente como trabalhador 1'i.Tee n lidar com
• :./ ., mos~am os -anuáriose ,1s L-statísticas, os imigrantes conce{u.rados ,, mundo chi economia urbana, sem ter ,empo para isso. As
~ adnde absorveram as _g,01·tU1ucladcs ocupacionai~ de waiot , .,,s~s ~nir,.haram depressa demais. De modo que o desajusm-
mterc.;se econômico. Em conseqüênc:a, o número de liL-ertos 111cmodo "negro", que poderia ser um fenômeno transitório,
que l_?S~a.ra1:1 c-01:9uist2r um nicho vantajoso na estrutura s6cio- .i,wcrtcu-se em <lesajustamemo estrorursl. Em vez de ser
•ecor:om1cada c:düde foi rclativrunente peq-Jeno (G), em con- •~~bsol'vido peki sistema cetrabalho urbano e pela orCem-siltiãl
1.:-t•~~"co~ o 5,iesucedeu em ou,ras _cidadesbzasileÍ.rlls, nas quais , "mpc~t.'va, ele foi repelido ;,ara fü esferas marginais deise sís-
os m~-st1ços c~,~J:1 a ser co1is1der:ido.;., por isso, oomo 05 1,111:1,m1s q~1aisse êo!lcentra\"run:isoCupaÇÕ<?Sirregularês"ê<l.e- _
elementos demo~aro:a ~ eco.i.orn1camememais importantes pam 1rncbdas, ta.oro eçonômica quanto socialmeme. - -
o_futuro do Brasil. Pott-.a.nto, antes do colapso do regime ser• Dentro de tal contexto, pois, o termo "desalojamento das
vil, o negro e o 1:11.úato sofrei-:unde ma.oeira bem defuiida os ,,.-,pulaçõesnegras" não significa que o imigrante renha absorvido
efeitos negs.ti,;,ose.laco:;corrência com os .i1:uigtantes. Pezderam ,,. up:ições ou pos.ições econômiC>ls a.me3 pertencentes eo "ele-
as ~~a. vias acessjvefa_ de c~ssif:capo est.lvel e g""antida no mento negro". Semelhante afirmação nlio possuiria i.ignificaçíio
coniun.o de ocupaçoes livre; vmcufano à ::strutura e ao foncio- hist6rka precisa, já que no perlodo de transição se altera raro os
n_iune.i~t? ~11 t-."OllO~a eicr~visttt. E!:~ tttó tévé uma signilica- 1,.t<lróesde relações de trabalho e os padrõesde organização do
çao dma.:.uca espeafica, pois a ele se )>rende o amíter implaca- utema de produção. ''Desalojamento", no caso, qt:er dizer pura
'-'elmente devastador que a imigração iria assumir parn os dife- , ~implesmente que, no decorrer das t.ronsfom,ações ,xorrir!as, o
rentes estra,o~ da "população de cor". "rlcmcnto negro" perdeu a situação de miio-ce-obraprii;ilegiada
Em segundo 1-ugar,deve-se co:isiderar a fase de consolida- 1, , ine•:itá•:el) em diverws tÍJ.,'OSde trabalho manu<lle ,u-tesanal
ção e. c!e rápida e.'i:p2nsãoda ordem social compedti,;,a, q-::ievai, '" de ati<:idadeseconômicas ( em regra, associadas com os ~ervi-
aprox.11:1adaIDeJ1te,de 1885 a 1930. ~esse período, embora sem 1• urbanos e com o pequeno cooiérdo ). Tal situação, co,-no
operar co!"o um_ fa:~d_ircto,exclusivo ou dominante, a imigra-
çao. adqwre o s1grulícaco e as pro?Orçóe; de uma calam:dadc
,n,cqüência fundamental da Abolição, u:ansfedu-se para o
' 1, ,1nco", o que queria dizer, n:1q.1elecontato, ;ens.'velmente
social pa.ra o i:egro e o mulato .• A escravidão não preparam o 1tt:t o "branco estrangeiro". Alguns dados são su,'icientcs para
seu agente de tcabalho senão para os pap~is s6do-econôcicos do l11,licRra natll.t"...z.ae o sentido do referido processo. Em 1893,
escl"ll.voe do liberro no seio ca o:-&:m social escr:i,;,oc::ata. Quan- 1><•rexemplo, os im.ig.a11tes entra,·:im oom 79 % do pessoal
do esta c:n,~ etu cri~ 5 se desínt:gra, com ela fjjmbém desapa- ,. "f~lo nas atividade; manufatureiras; com 85,5% do pes•
re~ as uruc~ C0.1'.dlç~seconôlDJcase wdo-(ultunis que pro- " omp::do nas atividades iu:~1lllllis; tom 81~ do pessoal
reg1~me gsr-annam os aiusta.71eri.tos sóc:o-cconômicosdo ".negro" ,, ,,,,,.ro nas atividades de trPJ>sportee cone~cas; co:n 71,6% do
ao stst~a de _trabalbo .. De rep'7'te, :; sem estar preparado paa r, "''ªl ocupado IhlS atividades ooJnCrdais. Sua participação nos
os .?8:F<;ts SÓCJo-econôrnicos do comem lfore, o "negro" \-;u.se r , 11l1usmais altos da estrutura ocupsc:onal ainda era pequeM
numa ~c.'1<:leqt,e se torna, ra~iidmncnte, a principal cidadelii ~ 11 "" oo31 % dos proprie::ár::.os e 19,4% dos capittl!istaseram
revoluçeo bm:gutsa no Brasil. Em c:onseqüi:ncia, sua fafoi. 1un11t.:iros). C'.ontudo, achavam-se inclu{c1.osnessa esfew, ao
, 111•rio do que succdí.1 com o negro e o mulato. Me;mo na
, ,los secv\~-osmenos compensadores, ele; compareciam oom
I 4) Cf. IL llo,ticlc " F. l:-d-nanl.c>, /«. ci:. 58,3% do pessoal ocupado oo;
1• ,1 , 1 nltas ( craan estrangeiros
• (5) Ver, a respeito, lliJ»D.Í da Slh,s llnino, His16ri~ < Traà;.r,,, àa "I , domésticos: e 32% elo i-.e,soal OCUJY,?do nos sezviços
Cia:+det!e Sào Pt!áfo~e Rich,ut.l!..fo.~ 1 Forn:{lfão1-fi.Jt,Hia;te Sifo P.r.:!o. r ..1,~). Em conjunto, 71,29& cio pessoal absorvido na estru•
112 ft 113
tllt<! ocm1acional tia cidade er.un estrangeiros {e). Embora a Aliás, os dados elo censo de 1940 indicaro algo ~logo ( eml.:~
coru:oi~cia do hnigr-.uue afolasse:toda 11popclação nativa, so- ra~ .uidircramc-ute), =is pnra 15 _.J 261 eror-ref!ndor-:s '·bmncos
l'DC!ltcos r.cgros e os mulatos sofreram n impacto como uma ' 1......, u ., ,t __
J n
(97,04%} existiam 123 emp~""orcs prc.'tos ou l"'':':?"
cspécfo ~.e çaraclisma social F.!iroin~dos do mercado <le tralY,tlho ( 0,78% J. P~ra ser e<1uiparável Ã~ l;roporções ~mogn.hca:
ou expulsos par,1 a s0<, periferia, os "homens de cor" víam-sc 3ssiua!.1vcis pelo mesmo censo, est:1: ~"":m. ~c-vc:r-.aser l~.:>
condenados ao de,e01pr.ego IDLemátko, ao trabalho ocasional ou v<"Lesmaior! Xão obstante, proletan7.açao 1nap:ente e eme!gcn•
;\ retribuição dei.ra~da, tei:<lo de se acomod,ir a um estilo de eia de "famílias negras de d.asse .m.!dia" traduzem uma _re~lida,~c
vida c1uc associava, h1exora'\l~eJ..mentc,
a mi9.:ria à dt:SOI!,'3.D.ÍZ:ação nova, que sssinala a cessação dos cfcic?s 1mb1dc,rcs~ =;r3Ç<l_o
social ( 1 ). sobre os processos de absorçao ocops.c:iorole de classifica~o ro-
.Em terceiro lugar, deve-se considerar a fase que se conso- cial sobre o r,egro e o mutuo .
lida depois c!-c1935, em que a! □igrações internas adquirem Es..<enípido escorÇ<> suscita duas ponderações. P~i~í:º• é
maior it::lporranc:a como fonte de mão-de-0brn. Nessa 6sc, a
sceleração do ~-rescimento econômico deu origem a nova, opor•
inc,gávelque a in1i31·11çlio cO!lstitcía ~ma. fo!'ça revo~uc1onar1ade
0.1:iidadesocupacionais, largan:ente aproveitadas por elementos :tito ttor construúvo. Se ela pr<:_<luziu ete1t~ negativos º'-'..mes-
mo destrutivos para as populaço~ negras, isso se deve- as pe·
o,;tivos. A conquisui de uma ocup,,~ão permaneore e, de modo
culiaridades que cercam t1 ckstituição do cam:o _e a formação _da
correlato, de uma fo::ite estável de ganho (ou de renda) deixou
ordem social competitiva. Segundo, as cond!çoes de f?~ma"',?,
de ser algo tão problemático para o negro e o mulato. Inaugu•
consolidação e desenvolvimmto da Ol'dcm SOCialcompetmva nao
ra-se, emão, uma tendência mais definida DO sentido da absorção
da "popWll\Ío de cor" pelo sistema de ocupações instituído pela
favoreceram a rápida neutralização do impacto. negativo _ou des-
Lrutivo da imigração sobtt os ajustamentoi sócio-econôm1cosdas
universalização do trabalho li,-re. Todavia, as oportunidades
populações negras. Ao contrário, elas e:ngendratam um conl:"'to
concentr-.>ra-sena esfera dos serv:ços menos valorizados e menos
econômico sócio-wltural e politico q1.,e prolongou a duraçao e
compensadores numa economia urbana. li.inda assim, com mais
de cinqüenta anos de atraso, o negro e o mulato trnnspassam o ampliou a' intensidade do referido_im~act?- ~sas_ ':.º~bs&s
comprovam, mais uma vez, que as mfluenClass6c10-dlllllm1<?'5 ~
umbral da nova era, começando a participar ooanalmente das imigração dependem, estrutural e funcionalmente, da orgamzaçao
garmcias econômicas asseguradaspela ordem SQCialcompetitiva.
do meio social. Não é a imigração, em si mescia, que p~t12
Os rcsulcados ele u_m levnnt.uneoto, Eeito em 1951, indicam como
esta ou aquela conseqüência, ro:is o ~o pelo qual é con~ert.tda
se rna.-ii-fcsuiessa tendência ( na amostra considerada): no arte-
cm fator his16rico-socialqt:e- derernnna a natureza, a variedade
sanato, 29,39%; nos scn;~s domésticos, 20,76%; no funcio-
nall=o público, 9.18%; na indúsrr!a (como operários qua)Hi-
e o grau de persistência dos seus efeitos diretos ou indiretos.
ca.dos ou semiqualif:cados), 8,13%; nos ~~s de escritório,
7,08%; no comércio (como balconis.as, p1:acistasetc.), 4,46%;
em !ervicos oscilantes ou ocasio:utis, 3.93\ió; e01 atividades de A Reação do Ntgro e do itu!ato
hort:c,Jt~ra e jardinagem, 2,33%; · em 01.1ttas ocopações,
14 69%! • ). Isso evidencia q'.!e ml!Smo n _proletari7..ação,
no seio A reação do negro e do mulato à p~scn_ça._do it~g.rantc
da' "po_pufação de cor", vem a se.e fenômeno incipiente. \>,11, ~o longo do tempo. Mo,.;dos l'Or d1spo;1çoes de 1~cegra-
\ ,., ,,tini e com íreqi\êocia postos i\ □argcm das telaçoe; de
"''"I" t«;.10, mais ou menos con{inadas ao mundo dos_ brancas,
{6) RL:l~ório.Apres~nJ,àoao Cit!M'ãoDr. Ces_árioMotta Júnwt, ,, 11,I''" r o roulaco cendero a dar va,:ão aos seus ressen~tos a
Seaalirio é,;s :-tt(.cir,s d11Inter,,,, do 1-:r.a,!ode São Pi:t:fo pelo Direior 1111111 ,hi. fruslr~ões sofridas oas d"\lllses-frra.s. Por isso, o ca-
d. Re;,.<rt~iw,/.g fatiZJ!ttic• , Art11;.'t,oDr. AnM5Ío ,k ToJu!o P:zit, em
Jl tk Jdú d, 1894, i,;,. 6!! e i'l-72. ' ~trr , li• , c.ições var..amhistoricamente, ern fimçoo cio~º- pelo
(7) Cf. F. kn..1<b, A Inicv•.Zo do N,zro l Socieà4de de C/,mes, 1111,1 ,,. po1,ibilid~<lesde imcgraç&., soeis} e de cornpet1çao lll!er-
cap. 2. ta, i,,t ~e <'<>nfiguranun sacialmcnte. Grosso mo~o, é poss1vd
(8) u,,,,,,p. 426. di.i11111uir ,e quatro polari7.ações tc:ativas caracterlsttcas.
114 11.5
1111, ,lf'llll1<'n da.-.u:nemcque, f.O pé c!o trnbalhsdor livre e re-
No perfoclo escnvisra, a presença do iruigranre íottoduzíu li" 1rr1<l<',$O pé do ionigra111e,é impossível o trabalho gratuito,
nm tlememo pen,diador no horitonLe culai..-al do escravo e 11 1 roh,tlh<1escravo, feito para gozo exclusivo <los propcict:tríos;
de m3.ll<:nag<:r-41,nas auto-avaliaçõesdo "negro". Tanto par~ I' 11• uni~·açiio, como instirn.:çlio S(lc:ial,repele i.cresistívdceme
o se!lhor, q~to par-.1o cscr-avo cir., o liberto o ími!?rante se , m.t i1uição servil; que âqllele gre.nde fator do nosso progresso
dctínc, irJéóocrite, como equÍ\•alentc hum~ do tr;balhador '"' nn impossível o escravo•·( 't,). [ Os escravo;) "fogem e
sc-rvil. O imigrante repudiou essa das_silicação, favo:-eddo p{lr 1'1111,Jc,nam c,s est:tl.,.,Jccimc-ntosagrícolas, porque se\l espicho,
duas pressões cô!la>nÜt:.tntcs: i) a crise progre:;siva do mercado ,, 11 ,~ml;ém acompanha a '°'"alução, j;í não cott.preeode trehal!-io
d: ttalxtll:o; ~) a. impulsão para a fmpl:mtação e a unh-ers:úmi- rin rcmvncrac;ão; porqlli! snbc, que, o colono, que nãQ cem mais
ç,K'_do_tr-abal~ l:v!t:. Doutro /:ado, suas ttsdíções c:ultura:s e 1.. ,\~ mufcular ~m mais aptidão que ele pua o ierviço da
aspuaçoes súc,ais au,paravam-ilOcomra <l autoritarismo ou man- l,vmH2. fomia p5-."i1l:o, tem gozos e vive mcito mclb.or ( ... )
d~1úsmo dos ~rcs. Estes se vita.-n t-ompdidos a tl""er suas fl rnçn negra é capaz de todos os smtimentos :iol:res. como as
a!lrndes e cornp<>ttamcntos, po:s cs ímigran:cs cingiam-se ~$ 1 •~ ,s ci,>il:zz.d:is" ( 11 ) .
obng':çõ~ conm1tuais e cxight:n o seu cumprimento, com apoio )Jo r-nodo que vai d:i Abolição ( 1888) ao nm da I .Repú-
n! açao dos consulados. EJI_1conseqüência, antes da éesagrcga- 1,liui (revolu,;iio de 1930), o "negro'' enfrentou ein São Paulo
çao coopleta da ordem social escravocrata e: senhorial o imi-
" piores vicissitetdes q,ie se podcrísm irnagi.oâr ( 1:). Nesse pe-
grante éesftutava de posíções e de i,,,péis cconômicos ~ais e
1/uJo, dew,:n-se ressaltar duas coisas. De i;m lado, a propensão
legai~ típ:co~ de uma estrot~a co~pctitiva, Isso te~resentava , ~, negro pa.~ üdar com a liberdade de forma que envolvia
saLtao ao nJ\·el do trabalho hvrcmc:otc contratado respeito hu-
; •trema irrac:onalidade. Representando-se como "dono de seu
mano mínimo e garantias sociais de autonomia da pessoa do
, iriz", pôs em prJtica ajustamentos que colidiam com a natn·
rrabalhado 7 ou dos tne:niliros àe seu grupo doméstico. ô escm..-o, r , 1 do u:abalho livre, d:i.relação contran1al e com as bases con-
poI ser pn\'ado qoase rotalaente dessas vantagens on por go2á-
1~·tith·as da nova estmtura socfal. Daí :resultou .im desajusta-
.fas de foioa ateou:ida, e o liberto, por ser atingido pela degra-
' wn,o estrurursl pro:undo, gue concorreu severamente para
dação social e econômica dos trab,:lbos de negro, reas:tiama essa
, li miruí-lodo mercado de trabalho, mesmona área elos"u·.ibelhos
s.ituaçio de maneira_tosca, mas violenta, A scguinrcfrase, colo- ,1 negro". De outro Lido, a íntens.ific2.çãodas tendências de
cada pelo comenta.rista .oa boca de mn e=avo, dá uma idéia da
nstureza e do sentido do inconformismo em questão: "Senhor
, tntcntroção rac::il da renda, do prestigio sodal e do p,.,"'<ler.O
l .,l"cionísmofuz parte de uma revolução socif.l tipicamente cio
é bom, não nos malti-,\ta,ro2Ssenhor g::e ficou rico e feliz, d:í
1 iAllCO e pata o branco. Em conseqüêr.cia, a ordem social com-
teus ao estrongelro, paga-lhe o serviço e deixa-nos como dan-
i , 1h iva não conctétizotl, (~ imedfato, veuhuma das espcrao;-a;
tes" (~). '!:ratava-se de um ínconformisrr.-o,porém, que não ,,, ,-nrrcção das iniquidades raciais do antigo regime. Agrav,1-t,s.
fança.".:o escravo cont.'ll.o imigrante. Ele passava a repudiar a
, 11.-ialmcnte,de forma extrema e por ,er.es chocante. Ao con-
c':'nd1çao_que o tornava vitima da esl_)Oliaçãoescravista e pteten-
mlrio elo "i:,egro", o lmigr9nte es.tava illserido no selo desse ?I0-
~ ex1gi.r t~a1mento ªflákigo ,o dispe.osadoao "estrangeho".
1 ~ 10, pelo quil se deu a revoluç':io butg\!esa cm São Paulo ( u).
Eis como tlo,s comentários cfaé-poca focalizam ta! tendência: "O
l'..r isso, de ad,:;uirh:, rzpidamcntc, uma si./ll(J{i':Ode clone e
escravo por força das ô:cu1mândis, coropar,1-secom o traha-
ll'18.dor
livre; mede a dis,ilnd,i profu.l>daque o afasta dele; com-
preende, Clltio, a liumildadede sua posiçw, sem que lhe sorria l 10) O Cr.<wio P:::,iü:::,w, lJ·XI-l!lS7.
ao longe a espe1-.inçade melhores dia,: e dCS&lsua simaáio
( 11i O Corrtú1 P,;u!.isJa~t>,
16-XJ-1881', Sobre o 9$SSlllt1>, '-"'i•-se
c!e;a~1ua~c»:ana;c_ern todos 0$ de;.at:.nosde que é çapaz ~a " ,1 "' Josf J.faria dos Santt)s, 0; Rtp~b!ir:.;r;()S
P•,ilistG>e • ,1boiiçiit>,
0.Q.(atuzaç.10grosse1r.1, tod,1s as re.J.ÇÕesde que pode lança,· mao 1 111,316.
urn homem que se sente vilip~.ndiado por ·umn sotte inflexível. r ll) a. F. Fcrr.""~"'· .<l.fa:rg<"f;;;' do Negro• Soâ,é.lf.de,!e CT,uses,
IIH'k!.
117
1!6
conseguiu usá-h e<,n10rodo sdspt?.!ivo t!e competição e de mohi- N1>pcrlodo gu:~ se inicia cou1 a crise esttL-tu,:aJ da I Repú-
I d e ~1a.i.. 1 O " negrn" vn::-se
lie.a . . . ·'· C.'l1t.rc
ooopzl:ll.li;,aJ cs~as duas 1 li, , ,, negro e o nmlato tambéro se J,.'IOjetaram,de rr.odoir.re-
vressóes ccutradit<íri35. Uma, e:imir:a\"a-0 pêlo 1:1c::uos do núcleo ,~,111C' tímjdo, ma.~ cnnflncnte, r~\; ttn<.lêccias de rcconstru_çiio
do sistema de tta,ialho e da classifi~çoo no seio d,~ 01t'-cms-."lcial ,, ,~I tJUC abalavam e sociedade brasileira. Esfor~aram-se,n::es-
compe!:!tiv11;
outra, marcava r:iitid2men1eesse efeito, tomando-o ''"', por 1omar J)()içio dian;e dess2s teodê:lcias cm terJOOS.ra-
oste:isivo e fragum:,o p~ aparente ê.xi~o fulgurante de um ' • '"• uu-avés de seus Jll0Vimt:1tosrociais éc mai<JTvulto, de 1927
"igual" (pois as semelha.o"'1S
e2<1emase :mpcrlcitas do pon,o de , 1'I 18, aproximadame!'lte. For.lei fovados, as.,:m,a equacionar
partida an1,.,avam essa representa,;i'iono meio n•g.-o). Como oiío 1, tt>ric~mcn,c os cbjerivçs e as asp::açõL-s~oáais da "ge:ne ne-
possufa mccaoisG100para absorvtr psicdógic.i e socialm.e:ue as 6 111" nn lura consciente e om:mizatla co:1tra fatozes e efdtos
&wtraçõc-sresulc,mtes, o "negro'' exprimi::. ;e?U res;entimento de ,11 concentraçifo r?.<'ialda :en,i;;, do pres:ígio social e do poder.
r.:ianei:-aatnarr,a e desttutl,..,. Então, surr)r.im e 2if:::ndiram-se l o-no esrabe]eC:a Brf,iSfieira,"O PR0-
o ~\lan;'jerto.i Gente ,"/\iegra
( no aluciclo meio negro) cenas rcpresenrações a:nbivalcrites, 1,1J/,\.lA:-JEGRO BRASILEIRO t O DA INTEGR±\LTZAÇÃO
cultivadas cm a!guns de s.,::s es:r:itos sociais at~ boje. O imi- \IISOLUTA, COMPLETA, DO NEGRO, EM TODA A VlDA
gr:inte era visto co1110o cotn~nheiro, que uc.omeu o pão que o l•RASllE.lRA (POLiTICA, SOCIAL, RELIGIOSA, ECON0-
cliabo amassou" junto com o !)ejlJ'O, so&enêo com ele os infor- 1\IIC:t\, OPERÁRIA, MILITll.R, DIPLQ;\1ATICA ele.); O
túnios da miséria. ~las, ao mesmo tempo, era desse "tipo de ' FGRO BRASILEIRO DEVE TER TODA FORM... >\.Ç,\O E
gente orgulhosa''. qt.-e se esqcece dos l!migos e os abandona à 1C>DAACEITAÇ.\O, E11 TCDO E E.\f TODA PARTE, DA-
própria sorte qua.,do ~,obe". Em particular, os imigrm:.es se, I >ASAS C0'.\1DIÇôES COMPETENTES (que devem ser fa,0-
riam respons:,v.:is:;,da "política de reieição da p::11tada casa'', 1fORAIS,
1 ~•dn.s)FfSlC,\S, TEO\ICAS, INTELECTUAIS,
pois só apoiariam e p:oteileriam "cuttos escra::geitos como eles". 1 XlGIDAS PARA A "IGUALDADE PERA.. "iiE A LEI". O
Em c?nocão com .:ais a\'llliações, de catáter unÍ\·ersal,..§]?,!tC<:eJ:l 1 ,.,,iiprécisa absolm,;mente cessar de ter vergonha êa rua Raça
uma :orte rl!ndêncÍll a imputar a exislência do "preronc_eito d~ ,,.,,,; dcnuo e Já fora, na ,ida illtemaciona\" ( ... ) ) "Por isso.
~i:w" ao,.:.S~nz.ejro, qoe o te.ri3 .introduúdo no pais ( H ). Con- 1-ctimos,nós devemos lu:.ar por uma Associa~o Negra, ç,orêni
tudo, ~••s representw;ões riáo d1egar-,m a se converter cm fator Rtt:Jlda-se bem! - r.adicalroénte bi:a;iJrêr'l e afirn::!dora da
êe hosrilidade sistemálica. Em virtude das condições anôm:cas de 1 •,,.lição, e a qual se estenda para O!lde qi.1erque exista o pro-
vida social e de sua redu:Jda envcrgooura competitiva, o negro l 1,ma" (,.). De=iuo do conta:o emocional e lógico de scme-
e o n:u!a,o r2rameore se vi,!m ero situações de confronto efetivo 11o,itc visão da reaüdaée, o "negro" ar.acou, dire:amentt, os
011 irre.u,edi,h•elcom os imigr1lntes e seus descendentes. Por- f ,1nrL-s da c!e.igualdaderacial e os efeitos dela que concorriam
tamo, essa.s re.tçóes faliam parte do fo!.d,eredo ,;egro. t-.-las,so- I' 11a perpetuá-la indeiinidamcncc:. Seu inconformisoo a,s-~me
ciologica.rnenL:etnão passavat:1 ée an:ifídos pata r~sguarclar a .
1 H isso,. uoa f orma socia ·1meme /cons.trunt1a,
. levando-o a expt'i-
b:tegridade ou o equillbc:o dn ego. Em q1.:alquer circm:st:tocin, '" ><' porque a "igualc!zd1e !)<-T:t.'lte a lei" não produzia conse-
forneciam explicaç[,esplausíveis e impeÚollisJl:ll'i1o~ "furhõ!'' ,111cnd~~ práricas e a desmascarar,com uen~l:açío e objcrivichc!e
d~ uns e os "l.raeas5c,s" ae
~.. outro!. ,. ·
.>0n1cntc • se-re laa.o-
.tss.c, nao . " 1,1i10 da in6istêccia do t=recvncei:,o~fe cor oo Brasil. Ness;
naudo vlsivelmeut-~ ~om tcmik-s o:. conflicos <1bertos. Esse dado lllujçiio, o negro e o rnulat;, não se ,o!t,m,_-n contra o imigrante.
é relevante, ponJs.:Cparco!da algo es,C!'.cia\. 1'-ks1:10 onc!e e no 1 tr em diluído na cstnmm1 C:.<1sistema que prodll2Ía a coocen-
nh•el em q•..:e:t te<1çâo2<> imigrante arin~b .maior imensidade .::e, ,, 1\,tO rxial da r-~i?da,do prestigio !Ocial e do poder. Embora
gadv~, ela não <:ouduziu a c~fini-lo, $0Clalmc:1te;r:c;no i•flbnfga r 1oan1ivesscm 01.Snoções de que o imigrante propendia a ore-
e r.ão ocatretou a ncccssiÇ;!dc de traci-lo ç.omo e enquanto L1!L , 1 • ..n prara da. ca5a"f, aTorec:enc;o
• seus contcrranco;
• '
e p:eser.-
,,.Ju com.:.x,rtamentos pl'eoollCeil~o,;o, ou t!iscrimin~tivos, os
118 119
toovimentos soda.is ir.troduzira,u um:1 avali<>çãoioespera<la ;;; te• i. ,u 11:10~e ,¾ 11er:1d:; focma homogêne,l 11eJ1 cii:ito intensa-
volucionária do "$.'!ir.O elos imigrantes". Os líde~es desses mo- 1.,,me. ,\penas uns poucos lugrrun \':llst o; nlveis d~ concentra-
v.imen.Lo:; tiveram, por uma .rxáio ou por oun:a, ell:;x,.dtndas ~"" rntifil dn rcnc2, t;j prestfgi.o so-.:iale do poder, atingindo
ID:ÚS IJU n:t:IJOS profonda.; ÇOW fom!lfas <:strangeir~, es1xciaJmei,.. pp,1~ues :;ocialmc.,xcequivalentes ,1s <los br1J,ro; que se classif:-
te as it2lianas (l 6 ). Em c-0nsec1ü~1M:ia, podiam avaliar melhor as "1"' 11:1ordem rnci-d competitiva. ~o entnnto, s.~o ur.s pcPct.,s
razõe~ do "êx:.todos imignmtes" e, ao mesmo tempo, exercer tjUC ,mmcntam contin•.:amcrllc. O ,1ee sig:iilk-a r1ue se trata de
iailuêaclá no ,;cntido de iocentivar <>"n~ro" a <lesem·ohet for- 1111u ten<lên.::iacm:figuradne ~-ons1antc,da qut1.lse µode pre;ur:tir
mas ron,1:nrriv,;sele in1:t1<,;-ão.fooi nesse coi,t=o que s:iri;it.w1 •tuc, mantiries c,:rtil5 ccndiçõc.-sh:,16rico-sociais e er.onômí::a,s,irá
as preoc11paçõcs ~o senLiúode ,,clor.Í7.~r $. fanúlia-..i1ue1,<rnda, a hvorecer êdinida.,,cntc a intcgrnção prog:ess, ....a <lo oeg~o e do
cooperação domr.sciC'll,a poup:i:iça s:.;tem1ítka, a i:quisição da mufom a iimaçõe!; de classes t!picas. O q~e inte:essa, ne;;sc
C?.sapropria, • pi-o=kão da irr-~•J><.ms;ibilklade se,rnlll dn \:o- _11,ploprocesso, é a aparição de um novo tipo Je ".negro" -
~, , o " t.1.L'"L<>
,,,..'w.l '' C?.
• .mae
- 1~gra " etc. T nrnnn do <>llllI€,L"'a:ltc
· · cu ..-nn ,1uc 1ra;: ct,nsrgo uma nova inentalidat!e, um novo roinpotta-
pomo de 1cfcr~ncia, o "negro" dcscobtiu que. lhe faltavam 2s nlCOtoe oovas asr,iraç&s sociili. Esse "m,gro·• se '.MiJeficion
técnicas sx:úii,; que poderiam pcrmitfr sua .integnição na socieda- ,los influxos c:onsuuêvos dos antii;os movimeotos icci~_s; spren-
de e assci,'1.l!at as ba,e:; ,:facomperi,.ão i.t11er-rncial Portanto. o i!e-11,graças ~ cstccS1:1ovin1cntos.a não tct:J~r u branoo e a ,er
estr,u1gdm rq'lO!lffi, equi, sob dupla condição: a) a êc hr:111co, ulRum discetnim.:nto sobre os fatores é>:ltapessoais é.a <lesi.goal-
pura e simplesmeme, que de.via ser pe.rcebiúo e n:ptciarntado ,lnde r;icíel. Toi:"~via,por cmL~ de sua idc:1tificaçãocom os pro-
como qualquer out.ro br.i.r..co( iudusivc o de orig<.~n nacional); p6siros de mobilidade snci~l vc11:icalque ?od~explorar efeüva-
h) como fonte de e.mufatão ( remo o imigra:itc cnfre:it,u-a difi. rneot:e, ,ob1 "" co.s::,_<e chega a combater m alvos hullhlnitácios
culdades an.üog:1sàs do "11egro", e,,:e !)aderi.arepetir as fsçaohas dos movimento; soci,us, preferindo usar a ~,xriência acutnulada
daqucl-c}. Os ataques explícitos surgem polarizados em toroo 110 coaci:etização de objetivos diretos, pcssoa:s e egoísticos. Esse
doS interesse, soc.ülis e.lopró11riu "tx:gru". Com freqüência, vin- "novo negro" deb.:a de valorb,r o hran;;o, w:::almentc, <:OWu ~
culavam-seàs acusaçõesceitas às famílias tradicionais, que teriam eoqU?.nrobr.1nco: Vi>o br~nco cm fonç;;o êc si.:n situa~-ão cíe
"sacti€icado o negro" a uma "política de imigrtiÇão"cons1;rutda ( lasse e pode repudiá-lo, se ocha que csrá numa "posição infc-
pata proporcionar vantager.,, eco::.ômicas. Mas, também se pl'en- rl<11:'.' Doutro l,iJo, como possui tirocÚJio pe;;oa 1 sobre o f-.:n-
di.'l!Dn casos concretos t:!eexter:ori2ação do "precon<:eito de cor" <iona,ne,ito das in.stit,iições e os <:ritério; do pe,,~eiramentonum:1
pelo;; irqígra~tes.. Então, tnun combatidos, em escafa direta e ocie<la2e compelltiva, é menos propenso a supen·alotizat o
pankular, ec fonção da natureza das OC()rt<incias que svsciwvsm lll'dcr de determinadas pesso..s. l>aí resdta oão só que pro;,eaàc
os co,-Jlitos oa dese.ntendiinentus. - rcst:tiu1•ir o enusiaS1Uo<lfaute <loe,tr~:igetro s.io_plesmentepor
Por fi.-n, no período que se po<leria desigmu como S<:nêoo .,,usa da tor; 1,unb,<..mrent!.ea .restr~ít 2, reta.Ha~ infood:a-
da "sti,>ucda rc-volnção índustri,11" em São Ps.t!lo, espcéalmcntc ilns a re,peito da ''proteção dos conterr~n~os". Aléo disso,
da d<'.-.:.ida de 1~40 cm diance, o titmo do cre:<imento eco:iôrnko ,,,mo pene,r.1, de fato, 11:1escrut1.1ra <las relaçõ.escompetitivas,
se refletiu nas crx,mmÍriildes de t((iOOfüo e Wl$ tenc1êttcias de ,~,1l,a fotsa~ "- rupturn do equilíbrio <las acOJr.odações rn::iais.
dassifíca,;io cl~ ,;negro" na <.,si,:ur;:1rasócio-eronômka t!a cotnu- N,>co:,fronto com o estrangeiro ou con, seus <lesrer.de:l!es,isso
nicl:ac.le ( "). O ".:qvo" como que :epe:e, embora eru rondi,ões 111,umcparticular importância. Truttn o imigrante e set15<lescen-
competitivas lllais duras e JJWJJOS promissoras, o ;>a,saJo do hni• ,1,11tes,qu•1'to o "negro" ~ão )<.,,,..a~u,;a reforçar a, representações
gr.inte_ Efo se projet" nns segc1emos da populaç,:io c;ue fazen, 1r<1dicíor:afüt:ts, t!tlvez como rr.ccani!mo sup,::rfkial de autode{esa
p,u:te da toncntc e são :igenres do drama hiscórko. Todavia, r ,lc neutnilv.aç&:,ele conflitos potctx:iais. Apesa.r disso, os ca-
' 1 que r,ude>'am&er analisados sistematfo:amcntc sugerem que o
'" gro·' propende a a<lour arit\:d~s ~ comporrnmentcs !,a~,an~e
{l6i J~ Gcr~fo lci,t, por cx"'!m;:,lo, r.n dc:isp:ir,c:y,1is l'dacs , « looais, tendo-se er:i vi;t.s a r..>1t1Jtela dos intcr<:s.~cssociais do
dws.:! t::lnv:me:r.?OS.
J.)Cl:2e.r.;'!
itt l(lru,:.:oc..'Omo
iluS-Ir2çio.
.,,l,vídoo isofado. Ern vez; lle f.grnvat as tensões, ptO\·o::amw
,;:-;j a. F. F~i1<bS: C'>jJ.ci:.; f.t"•415~52, ,u#Çiíes &011tai;e rorupi:nffitcs ir:eroedi.~,cis, ptderc,n "con-
120 121
tomar a situação". Se se ~-.:ntc:mprejudic.tdos pox ''determi:14. ti, , w1Jiçu<>de co,ivo ou de liberto pata n de cidadãu i 1• );-não· - ~- _...
dos é»Lrangcim.s", procu.,:-.un ,apoio noctto.; brancos e tentam. r 111untrou suoo1<t~<.'(.-cni1Uicos,
~ociaise .IX'líticmque lhe d~ss<:lll
a$Sil!1,a superaçfo ~ fato:c,; d.is titn;Ü<:S pc,;$0~Ís. A iu,portà,-,. ,, ,lulndc h:;tórica. Foi um;~ 01>eJa~~n scrnfutti<.:s; c.1:1. n,:no
da Jes= dados {: óbvia. TTJesindic:01 que os fatores rcfacio- •
, 11,., ttnl cos H...
)ºl
~crc~ do p-.~!?l:i":.HllMLO
. 1 ,~ • • ~?
UJeJ."11.,·1rn1a. lt'oma. ~urú2. ,
, . • . , . 1 . .
nacos com ~S- o.t1gcns ng:c1on.1~ oLt ctmc-as <.os 1mll!fanres sio 1 l 1 .leu forma ~ ron~~ídou, na, re.;.ióesem crcscimcnm crnaô-
~ectmrim•:o;n.,J, 1:1oth•::iç.?ío
e na oz&-:iniz~9lo Jas .rclaç~ co.mpeti- um u intcns,o.. .1 úlima cspulim;f,u ~irida pd.:> cacravo, p<.:loing~~
lÍ\'as do ":iegro" com o ·'bx~nco·•. nt1{l e j:,do fH~~rtn, 1o
pratic.":lml·uteexi::1.rga<.los si5ECJTia d-~1:a-
Os ~P.Su!iadc$gfobais ,b dis<..i.ss.lodeste t6pi,o comprova, 1,.dho sen1 qc11ü;q~:cr cr>-:n}"IC'n~~tcóes econôruJcnsou g1:1nmt1as
pois, a e.xisLenciade um.~ !e:id&u.fa uni11er$~le cunstantc. ;\Jas ,>t ',1isi1' ). For isso, o "negro" iria continuar o dnu11ahumano
diicrer:ces CO:lstdações .bistóricp,socinis.em que se mediu e re 11,, ·•escravo'·. senclo ll!:CCS$ário rr.ais de meio sél."Ulopar.a que
ddrcntoo f.:Omo "imig.rant<.!'\ o t.:r..~roH não se lançou concta r .,a siL1.~çfo ·,CIJn<'.ç~;~e a se altcT-'.sr.Os pa~ões Je relJ><;.ío r~-
o est1tmgei;o. ;\•fosn:.o<Irnmc!o<is ir.iloéncias ,foste foram perre- • ,~I L~:lt~ciooalisca ( ,~) pcrmanl'(.'-'rtltn quase uttatos, nesse meio
hiclas e rc;,rcscnradas como ~~l!CÍÍ:.Calllé.ltc dc,~favoi-ávei~,d2.s , rn lo, mruue::t!oUJll clima de i:1tcr:1çâorodai que diferi:t mt1ico
nnn01 chegaram ,1 se.eelaboradas, de fuma s:stc,má1ica. el:!!ter- ,nuco d,1quelz que impera,"11 na situação hístócka pwceJente.
mos ,1gn,ssiv0,5C de CF05içãn. ;\ r.1ifo d1sso parece simples. Ü Esse ~•anode fondo ajudou a i,)re..<;erçar ncitudi.-se avaliações
que ittt<.:11.:"~~so "negro··, c:i1 qna.!queruma dessasIases, não é a , .,rfois mmsplan!adas pelos frlligrames coro suas bci.nças culiu-
posição do 1migramc e dos se\J~ <bscendcnr,~ na es!r<.1mra ,h ·,b. Em si.ia tlla1oria,quióquer que foss.en, snas ptoa:dê!l<:ias,
comuuidadc, ruas o fato dele próprio niio cscar, ou úe est,r apc- rl~s não tinb.dn c:xi,e:iéncia n0 traro cocn o "negro" e \'fanl-llO
11,1.sp1trcialrr.erue,inserido ne~ êSLtututa. O seu inconformismo 1noca1tricruneme COJUO se fosse inferior ao hranco aos ph\nos
!e ori~n-rou., porta:1to; invaris.t~elmen-.:c na J11es:na c.ütoç~o: ~ CÃ- l>iológico,psicoiúgico e cul;:ural. Era f.(cl Ji~simuh;rtais _coiS<lS,
«t1são da.~v~nt:age,1s rfu oocieJa<lc~~rt,1 a todos os ""Jme<ltos l'"r traz dos paJ.rões de rda~--o racial impostos !.'do mctu atn-
da "gente !W'.grn". As re,içôes do "negro" contra o :migrante 1,icnte. Ko crttanto, ia;$ atirndes e avalfações não "cria,.·a.m" o pre-
s.io ahsotvída.spor L-ssatendência, a qua1 dilui e reelabortl social- c;onct:iloe a discr!mina('âo 1'~\C'~a!~,
nas.form-asque se aprescnmm
mente os motivo$ de fmsi.n\ÇtÍOou ck ~gi·e;são, conv.::rtendo-os 1H1soc;e&tle bra;ileira. Ambs su:·girao1muito antes, coroo -P
em disposições ativas de acoretxfoç;;c,racial e em :mscios ~e in,e- parte e enLt:eSJ.XlSta à m:ccssidac:<:de 6.r fundgrnco~ m_oral e de
grnção L'rn bitses igualitária;.. l('f(himar soci11hnenceo csc:tr.vidão e suas c~oscqu&tlC1<1s numn
,,x:icdade de niores crisffios(H j. E se flhtnnvcra.-n ao longo (i(l
formação e ôo ch,sen.-olvimcrito d,1 ordem social cotlp~ti,fr;i,
por cau~a da pçt$i&tência, no in!d(..\ e c.\oagrava.~1ento,.<:in se-
11uida,da coucemra,1l0 racial ela tenda. Jo prestlg,o social e do
A imigração n'io comrihuil! ~<r:l a!ter:u, nem de m<l<loime- 1,odcr ( ou seja, <ln pro1)1·Ü!dcsfgua!dade rad~)). Sah outros
diato ll<"lli a longo p1•a7.o, a esuutuu do sistema rree:.isceme de J q1cc1os. o in:igrame oiio r=isou lançar mão nem de um nem
rd,1<;õe;;rncfr,is. r-la ,tju<lou a acclcrnr, a p,mir da década de
1880, o dc:.~sp;c~<lo<loregime s,;:r.il. ~fa;, ela ptóptia apare-
ce e se inten~ific.t, nu séL-uloJ<..TX,como 11.rodutohistórico da _! 18} Aié..i:o C~ ltt.b~~ iUt 1:0.:a
,.(::tdtl.'! 2,, vej1.rn•!e
O:.:lh,.~ ~,'lo
J ml. As lft!.'!m~r:-0-:-,~,:~ J".:;',":T~'(J~ oip,s.\· e \1.~,e ,Ferot.nd~lknnque
crise da mão-dc--0b1,ae das relru;õe; de trabalho no mundo social e ,niOSO,~pipàir.iu) t E:cr-..•Ç.'~ã.o r.r, 8r1:.S].{~m:..;~u•~,c~;,s. \• e V''"l
..
~c.ra11ista. ( l9j a. F. Fcmencl::s:l, !::~w~~o do ~~;.r_o4 Sod~~6:Je
<l~Cf.as:~·,
A expfa:aç1fo des.1efenômeno é rcl;rtivarocntc ~im!)les. ,\~ I' ~oC Stts.; Rf)b(:,'f(I S.:1m:.'tlsen,;.\3 Cc•nsa(uctltUS E~t:.W.!C3~ ca: E~ra,-
ripidas e incensas tran~fo.rCJ.ações,qu;: efrtaram a ci;nutura do 1100.
• 20) Snbr~e;~ ~:.:':ie•~ro Silo P~ttk!.Ci. F. Fe.roo.o.C(-s,
up. e:.!.$
dese.nvo-h,imcntode São Paulo, cão rcp<?tctltitarnnem na posição
do :legto na orcem social nc111 nm padrões de relaçõe, raci:lis.
t
~.
21 \ a. R. O::.~~...d-= .!!,,_,,,~.,:
e 11• f•':::n:!..."'l-1{'-S> r.-w~>,
t. Ne:.1cs~ttt S&o-
No fundo, ~ cransforma::ão éc s~ti;.t, pres;i.1po!la!h\ passa~n 'J'. )1 1 .~:i!SÜH.
121
de outra como req1rso pa:a defender ptobabifafades de -a.,;censão
11111.11 n<l.:1uiriramum oficio e o que ser:a a vichi hwnan:1 1r~m
~oci&,resguardar certos nívc.-isde renda ou proteger dcteTOOÍJlil· b, o~g:loizado'>. Bss.-iexpcrit~c½t,110 conju~~o, iria sn· 1~uÍ!ó
dos L"sti'.osde 1,-ida. O "1iegt0" não chegou, em nenhum mo-
óul r, alguru dcs lidere; dos mov:.m::utossoc,nis, que ~e ocscn-
mento, a ser uma nlll.eaça para o hnmco, os seus valores .sociais ' hrrom no •·m~.:.oner,w". Todavia, em ,dguos pl(lfl(i. cLi pro-
ou o seu destino hums.oo.
, , , 11 con,;cqüi.nc:.as perturbadoras. A Jr-rtir d~ roocirlnd-e, u
N'ão obstante, por qi1atto motivos ,-lifcnmtes a iw.lgr:ição 1,inao de trfação" descobria que sua t-ondição r~.alnão lh;: dava
w,ivou o clima da~ rei~ .r:1ciaís. O primefro deles cliz rcs- · - análoyas aos u.em~1s.
u (1arei·to de rer aspn··açoc.s ' · ·~;-.s
• re1açoc:s
- · d'e:
peiw à waneua ck ~efiu.ir os "tllStu~ do pals". Na sua rnu,pan~smo <le.;moron11:ªf!l·
. Em s<;ulugar, l1C1Jva01
üffiJI};'l.\·
âr>.sfade não disc.T<e?arelos bn,í!ciros, os ir.tigr:an!cestcntavgm ,J {11.1smçaoe, por ve?.cs, odio 1mplacavel. Do lado do braac-o,
njuscar•se à.s ~tuaçõzs de C.OJlvivê!!cia
com o "negro., mantendo rc:içõe,, de autodefesa forr.rnm,·,L-n retaliações convcncio:;ais
a fórrnr:fa Jc que, por "s.er i.aferior, o preto não dcixa de ser , ,, úpo, "não se po<le w.r a mão a um negro", ''/':ente ingDta",
r;crite". .Essa f6rmul11 só j.>O<.Üà ser aj>!ic:aclacom Êxito onde F. I' ltc qu~ cc~pc no pt"ato~JT. qi:~ comell etc.). O negro on o
quando as dua~ parte o!Jser....issem os fundrunenros da rdnção ra- , 11utt>iam mais longe, ;,o,s S.:?nt!amqce su,1 segllrn:nçn e asp1-
cial tradicio11alista,ciue co.nfeti11ao "negTO" lima posição hete- ·''"'"' não frJ,am sentido, o qnc <is lcv-ava,COlll frcqüêocfa, a
mnômka. Por falw de experiêncb, e também porque nem sem- nos movimento; dc protesco coleti,;o.
oh>('"aras e.speTanç,,.s
p,-e a dls1ância se<ial. ajuda.a o difícil jogo qui::assim se criava, O terceiro moti,•o é ante$ ir.direto e envolve a ~açiio
o imigrante falhava na apli<:açãoda f6rmu6 " v~-se presa de 1.-modo parei~- O u:creinento da popofação e a cons«1üentc
sua arma<lilh-~.O •·negro" mmcç:ivn a "romar libcrdnrlcs", a , 111opcizaç1íoda cidade não tivcra:n, com referênda aos bpincos
"ser co1úiado demai~u, a Hfior atrey.-jJo",a utüo rncdir di~tán- 111iV()s o caráter de urna subsritcição populacíonal P!O?~amcn-
ci?.S", a "explorar a boa-fé da gear.e", :1 "!é meter na vida dos 11 Jita,( 2"). Cmn respeito ao nc:g.ro, po.rém, a substituição po-
outros" etc. Dentro c.:mpo1100,o imig..,wteap=cudh a sua lição; 1'Ui,1cionalassum:u caráte.r es_()(!cífü:oe _tlnlscico("" }. Por e;;sa
e rassava a outro o.temo. Proa1=,1va "evlt,,.r o taqiro", roed1'an- 1 úo, os fenômenos de anomia social, que se dc-senrolal"l\m no
te atitudes e co:nportementos relativamente dis:repances e os=- 'u,do 11egro",encontram um-a de suas tci:t.es nesse proc~so, que
sivos. embora excluf~sem excerioriz:açõesq-...c pudessem ser en- un,lirona e agi:ava o çless.lojamemodas popul.açô<;snegras. Esse
t.endidas como "in~nk\losas" ou "degrad2ntcs". Ainda assim, ~nunto precisa ser traâJo à baila, aqui, em vi.-tude d~ duas
isso representava oliscrvânçia di,;,ergentc, mas toJn agtavamenco ,m1,licaçõesp,u:ticclarmente importantes. pe um fado, o ~ses
do tretamento facia1 convencional. fcuômcncisde j\nomia se associaram desa1os1amcntoscromcos,
O 6egundo motivo prcndc-:;c a certas mod.-!lidadcsde "ex- 1
ut- provocnmm o nu□ento <l.1y:sihilidd~ do ~r<, r- rl:1 mnl,uo
ploração do negro'' que foram, oo:iscieme O\I incon.scicntemmte, wmo "desordeiros" "v,1gnbundos", "bêbedo~•·, '·ladroes" etc.
post.~s etn prát:ca por muitos imigraotes na época mais árdun o,• foi essa visibilidade que alimentou a perpe.tt:oçãodos ami-
de sua !ma .l)('r "fazer a Amkica". Nas fases iniciais de acumu- u,11'estereótipos raciais e que canaliwu a redefitJí_ç"~S<><ial ~o
lação de c1picel, o imigrante det>endia de formas de cooperação 'nri1ro" em sentido ultradesfavorávd. Embora o 1ro1granten,io
'-1"'-'tedu nda,•air.n.<Jobtençiío do traooll,o necessário "º custo da . i• nem pessosl nem ruor:un-ente r<..,;ponsá\1~ _()(!loque arome-
do mibalh:tdor. Esse artiflc:!Osó podia s1er:iplicado
s:ibsistê.1'\Cia ,, a sua pi-escno relaciona-se de modo facUoiente pctcepd.-el
com fu..-ito 11Q â01bito da funúli.a e da cooperação doméstica. , 1 ;,loo proce=: De outro lado, o negro e o mularo, tJuaü~lo
Graçis à abundiocia Je me.'10res"negros" abandon,,dos e à pre- ,iu, ,tlonam a i:nigr;a~-ão,recde.m!l focalizá-lac.!eâJ,gu!o L-mocro-
disposiçíio de muics.s progenitoras de "d11t uma profiss1io" aos ",1 ~ moral à luz dc.,;se im~c;:o. Ela não foi s única (nem mes-
filno.s, o negro e o mui-ato ac:ibaram caimfo nas malhas desse '"" a principal) causa do {enômeno; e, sob vários 11.5pcctos, nun-
artifído ( o qual, aliás, tamhém e~n freqüente e11t.re as familias
brancas tradicionais, mesmo Olll'llm<' o p:i:imeiro quartel deste s.:~
~ulo;. E:n termos de sooali7.ação, isso representou uma vanta- ( 22) Cf. eip. Samur.1ll. lc-.vrie, IrnifF,'-"' e C,·e:ci..,,m!o "'' Pa;,"'
, "" Etlddo d4 São Pt:ulo.
gem sensível paro m m::nor~. :M.uitcsaprenderam :, l::r e a
1• 1l CL F. Fen1anáa, op. cit., P;>.81-118.
125
«rn de classe média", por sua v.ei, ;e choca com o caráccr mais
bém r:ão p.:ssa d~ deito da :nesro!'.Isérie Je futcres q•;e coniuzi-
,111 menos acintoso que a evicaç-Jo assume no oomportamcmo dos
ram ii. c:L-sagreg~ãoela sociedade servil e à revolução burguesa. 1111i11rJntes.Portanto, en, dois :iheis soc:ais o im:gnmtc ac2lx1
Mas, o "9~ro" que ,;içeu na ciddde durante esse perlodo ( e por , 11<fo descritocomo se esci.es_i;e
"introduziodoJ)recoi:ccitos de
vezes também oo seus descendentes), não ;,e libena da compul- ••,-a"
r.o Brasil. A imigrn;,,o f post,i em causa, emb:l(a ela só
siío de rdacicnar sllil vergonhaaos fcitos do L1-.ign:mte.No c:tSO,
" prenda, pelo que ~e sabe, de modo indireto aos forosde tcn:60.
este não se coo~crte e-01bode exph:tório. Contudo, 5u.rgecomo
a peça que e~,-,licaria o aparedmenro e as proporções do dram-l Os resnhados da a:iálise, 1.e;ta parte do r=eme ualx!lho,
.• .. m~ecem clarruncntc que a imigração não comr:bui, de fato, paro
que se a bateu so brc a · gente negra .
O qu:1t10 motivo opera w longo ck: toda :1 siru.ição de ,on· lnduir ~s relações rada:s ru, e;:eca de mi:danç-a social e ck
;3,0 rucial e p:irecc ser, ,;ob o p0mo de v:sta dk.âaüco, o ma\s 111txkmização. Ao con:rário, anele ela não se adaptou, ;,or
importante de toc!os. Trata-se dos efeitos direms ou indiretos ,c-u~ efeitos diretos ou iodiretos, ao sis!ema p=ee-.dsten:e ~e
da :isccnsão sc-ci11!sobre ilS ,wruia.çõese "" t"elaçôes r2ciais. Sob ,.,l:iç-iíes r~ciais, cl:1 o :1grn'l<>'-l.
e,~rimufando a pc:rsisc&icfacc
rnuíros aspeccos, o siCllnção do imigrante sempre foi parecicb ,1 ustamentos inter-raciais p,l'eronceituosos e discritni.n2:rórtos.
com a do negro e do mulato. Efo teve um ponto é,: partida bem 1vtla\'fa, n«d;l dlí fund:11:1cntoit propensão de auibtúr-se aos
modcsio, apesar de sei: branco; e locou, com fxeqüência tenoz· Imigrantes a "introéuçlio" do preconceito e da discriminaç,io 111-
mente, para classificar-se socialmente e, em seguic!a, para desfru• 1,.1isna cidade. Pelo menos nos limites das manifestações conhe-
car os benefícios d;i mobilid,;de social. ~o entanto, em virtude l 1<bs de ambos os fenômenos, a esse respeito os imigrantes
de possuir ~lguro domínio ( ou domúi:o cumpleco) sobre as téc· ,1hson,em atitudes e comportamentos previamente inco.poradoo
nicas sociais que oLgani2aroas relações hun:=s nulll" sooedadc ,1<1s padrões brasileiros de relações raciais. Ao que parece, a
competitiva, o imigt:mte logrou bem depress~ os dois objeti,;o;. Imigração tornotHc cm fator nei.mo em face da democratização
-' '-Ú que lnteres53 ressaltar, no momentQ, .f que se estabeleceu ,1 ,s relações r,iciais porque o que se poderia chamar de "pro!,/e-
uma nítida diferença coere o imigrante "pobre" e o imigrante lfl(l negro" não chegou a afecar o desei,volvimento da ordem
"rico". Ao subir socialmente, o imigrancc a1.ra,·ess:i um período .,,,c,alcompetitiva. Deixando de ser rnão-<le•o!'.iraprivilegiada e,
de crise, no qusl rompe coro as ligações materiais ,e. morais_ qu: 1 Jr qualquer l"3Zão, fator ou impedimento do crescimento eco-
ml!fldo social. Ao conmmod:is tmru·
o prendem aõ seu ,intifZO 111\11tito,
o "ocgro" perdeu importância histórica pm o branco.
lias brasileiras ua,d.icion:tis,principalmente Óa..1Uelasque nlio per- poderia envolver os iruignmces, portanto, nas m:ilhss dos
N,1.<ln
deram statlts atnivés de tcdas as transformações ocorridas na l111crcssesou dos valores sociais qt:e se vincularla,-n com a im-
cidade, o imigmm.e não possui prestíg:o social suficiente 1::u-a l"lnnroçãoda decocn,cia rar;ia_l. .-\ imigraçiio também tei:ia sido ·
enfrentar as exigências do nível social adquirico, rnante:ido liga- 11~uIra com referência à própda estrutura do sistema de rebções
ções aparentemente espúrias com o passaclo. Elas suscitam ne!e 1atênis, não fossem as ci.rcun;tândas histórkas qoe a conve1·tiaro,
o temor eladegtadnção soc:al, como se a visibilidade do "negro" , ,1,Qntân.-a e inc,•ita,·elmence, num fato_r de conreotração racial
afetasse e se cornunieasse àquek-s qce s,'ío vistc-s em sua com;:,a• ,11 1·enda, do prestígio sooal e do poder. Foi graças a esta tsziío,
nhia. J\16m disso, a tendêocia n e..-i.rnro "negro" no mencionado
pe.-íodo de crise se converte numa espécie de c.01wcnçio. Como
,,llll's,que ela conrribuio para agravar, de maneira evidente, a,
,,pat-êncfase a realidade da desigualdade racial. Contudo, aqui é
esc=·cu em se\l relatório uma das pese]uisadoras, o inúgrante e l"rr-ciso c!iscingtúr condições, causa.~ e tfcitos no emaranhado
seus desccn<lent.es a.-abam, essirn, construindo uín 1mllldo "no , •,n1eno histórico-socisl considerado. O imigrante não se iiltro-
qual não existe h,gat p.iw o negro". Ambos os ddtos aponta- ,t., tlu - nem se ,•i\l introdll7ido - numa estnnura de compe-
dos não s.ão produtos de sua tradição cult1m1l. Eles dctiva111, 1 , o r\\cial com o negro e o mub.to. Se a imigração r,-pcrcutiu
ames, da~ com:,licadas ter.sões provoccdas pela luta pela ascen- ,hamntícamen!e nas manifesmçõc~ da desigualdade racial, :sso se
são $0clal 11umasodcd11de de classe;. Tocla,·ia,os out.ros círculos ,1 · 1 porque ela era um <los fatmcs da aceleração do crescimento
hu.:naims não vêem as coiS;ts por e;se pcisl:1:1. O branco nativo, , ,,1,t11nicoe do desenvolvimento soc.í:tlda comunidade. Os gru-
de cl,nse a!:a, puta e simplesmente dc~1prov,,o q,;e ele entende 1 , que conta'>'am com pos:ções mais ou menos vantajosas na
ser uma "manifestação iotolctável de prerooceim racial"; o "11e-
JJ7
126
tstruturo de pockr e de competição, ta:nbém contPvam, naroral-
mel!te, com as opommidades :na.is vantajosas de participação
11essesdois ?I<,><:essos.:ila vc.-dztle, como a estromca elo sistema
de re~ções rnciais e,ccluía o ".ueg.ro" de tais o;:,or.unidadcs, os
br:l.1COSprnricamente monopoliza,··:u:1ss vantagens ddu ckror-
rente;. Tudo isto quer dizx:rque a imigrnção apena, agravo:i,
como e enq_1:11niofator histórico, a; <li.ferentes expressões a.sumi-
ú:aspela dcsigu:1!dade1"2<:ial na vida soei~] do negro e do mulato.
C.~ITIJW VI
128 129
emancipação p<llítlc::1cum.-ertcu o, senhores rurais nwna aristo- escravos se inida coo: .\la<lim Afonso de Sous.a, em 1530; nessa
cracia agrár~a ( i!itO é, u.o e;ta.tãento sod~tl politicammte dotni• ~poca, eles vinham d() Reino, presuuüvelmeotê como p2t:te da
na.ure). i1,u;, foi na evolução <lo Ü(.-s1ep.iuE,111e da cidade <le b,:g,:ge1r.Jos "colonizadores" ( 1 ). Dada a esL.-utura da econo-
Sfo Paulo qm, cl.1 se fe-~~nt:r com parcicd,u intcnsitl:ick. O mia, porém, e ?. pohrc:za dos =radares, ,11éos fios do século
que im;,orca, cm 1ennos <lo nusso ass,ulto, é que a presem;~ <l? XVI poucos possufam =avos de origem a&k,ma, cuja capaci-
negro se a'\"olum,t,em São Paulo, dentro de mi\ contexto lUSIO- dndc de ttai:m.llioern µreu.ominaJ1te.01ente utfüz.qdaDJ~ fainas
t!CO no qu:il o, padrõc,; de <1con.o<hiçãoracial, vigentes em todo ngcícobs. Aiu<l" prt'vj;!ecin, coro pequengs cxccçôl'5, o padrão
o uamáo- oofodal brasileiro. cum~avam ,1 se torn,1r incücient;;s e de co.oJ:erfraos índio.s a obrigação ele"fe:ter os afüner:tos para
com o tempo, ill.,;iávcio. L-omer"e de "irem às rni113spara tirar ouro" l 2 ). Mesmo de-
pois de estabelet:!do .::n!"~atodireto ,·om i\.ngola, ~ indi01çõcs
As dua~ r:v.õ;;:s nu:ndonadas siinam sociologic.amenre a fornecidas pelo~ mvcntanos sugerem que até os setecentos h:i•
orn:stão. A lüst6rin t!o nem-oem São l'aulo seguiria romus bem via um,1 pr()pcrçiio de 34 cs,:ravos fudios cr.ua 1 escr.1ço afri-
div.:.rsosdos que podem ,;, notados na c:vobção da B,ahia, Pn- cano l ~ j. •
n:unbu-:oou Rio de J1i:1ciro. Sob o pano de fondo apai:ent<:1De11ll:
,miformiz:idor da cscravidãv e da implncável explornçiio e:scu- Niío obst:mte, o negro já tinha um nicho na economia
paulist:1, ocupando-se cm trabalhos reh1cionadoscom 3 lavoura
visrn, emcrgia uma realid3dc hi,;tórico-sodcl nov,1,que se rdleri-.
em toe.losos nivei~ p05s1veh: nas formas e funções d:i escrnvidiío e_<:Ollla obte,içi"í?de oum por lav.ig.:m. Assim, quando se in1en-
s1litam as baoc!eH•~de capmra de índios, nos fins do século XVI
como i.nstitui(:io ~onô:nica e social; no teor d:is n:la,õe.,entre e nos romeços do sé.:olo Ã'VII. de se incorporo ocasio:ial.memeà
scr.SOres,cscr~vos e Iibcrtos; ou no próprio destino social do sua orgaoi:mçiio;e quando se constitocm as expedições ,le maior
negro e do mufam. vulto, ele passa a ÍJl7.:r pattc de sua t.-strumra( 4 ) . Os 01orndo-
Nos li:nires da presente discussão, seria impc:lSsh<el c!cbater res de prol aül<laeram,liceral.rnentefalando, "/Jot.:nt.aJor iie arco
sequer os p.óncipais asp~-ctosdo assumo. ru.simente11<üdo.Limi- e f/.ecba'' i •}. Mas, com as Je,;çolxr.as dos minas de muco,ruani-
t3tnO-llOS à e:fJ)C1;iÇjio <lc alguos dado~ e iodi01ções :,parente• f~tan, crescente inttrL-sse e empenho na ;iquisição c'.c escravos
mC!lte e:;s:ncin:s, deix,mdo 30 leitor a tarefa eleir :tdiantc, se os afri~nc,;. De modo que é pelos fins do sécÚlo XVII que avulta
problemas debatidos desafiarem ma curío,idade. felizm;;nte, a a imf>0tcánciado negro. De UCl fa<lo,como aite{lte de trabalho
bibliogrofia à disp,:,siç,"íopermite um bom pooco de p,JJ:cida,em- nas rn1nas e□ que os paulistas mantinham o ronu:ole da e>..-,,lo-
bora esteja loJ1géde set completa. ração, possuíam :ilgwna lavra ou come.davam com gênero~ e
muare.;. De outro, como O st:bstr".110 hlllll.1DOda prooria eco-
nomfo de mineração, já que cabia ao escravo africano 'suportar
boa f~tte da ecooo:nia de subsistência, num regime de atlSência
O Negro n:; População Paulfrt: nescente cegrandes parcelas da popufaçiío niasculin2.
130
bicio se Ul'icrte à rdtçio e.ou:e• 111ão-<ie-0bra índia e a 1 •~I e- contínuo de cresci:ncnto da C-CO:"?Omia paulista(ª). Os
africana. Os mortluorc:.sj:i o.i<>se contentavam com ,s co1a; 11< n tVO$ paro R ,quisiç:!o ele .'.!Ot-ns c:scraros num ritmo inte:o...<0
oiidais ( cm janeiro de 1701, lliUUllll pcrmiS>-10para compl'ar 11, ,,,.,,ni,sc nos [>Oucvs;por fim, rcdcfiuem-~e em funçiio de um,1
200 airicaaos po, auo; cm agosto .:e17\!6, podiam cOll\pru :no, '". ") 3. de t.-oca que t"a:Jou~,-. na lavoura, na criação e no
dos quais 200 ,e dcstin.irism à CÚl.le:ra(áo e }O à L!vow:aj, c,ó. e •1111.'rt"io_interno. ~sferas nfcLacfaspch ,,i!oCda mineração e pela
gindo provldênciis <J.t>C.lhes permillsscul nurorot.u rapió.un.::ntc e lflt'' .u;-,o «onôml.CI ~ul>!tqiiC:!llc.
a coc:ro,'OÜ3.de ori1,>C111
nfricarui. Portaoto, entre o; lins Jo ,é-
rulo XV íI e o início do iéculo XV CTI,opera-se urn:1 rransh.>r- A p,lrtÍr des,n é~-a. pode-~ 2co111panhatcom maior cópfa
oaçiio iundamcutal u.-t organà:ição do uabalbo. O íodio airufa d da.lo$ '? Sf:'Ude p:trtictp.ação do clcment<:>negro na popuk-
era o ag01te c!c tr-.1b-..1lho
praiominanr:<:. Comuóo, 110 qU:1.dro çllo d3 capn.:uu:1. /Is ínformaçó~ ;ão preclri-as, esparsas, e mc-
a:onónuco prochuido pela tnineração, pcla proóuçio de go:ixros rrttm JlO~ ~-onfr~ç,i. No entanto, dão un.a i~ia aproxin,a,la
pila <..-s<:nmoo
e pc!o comén::o nas minas, tOtJi.,•j-se neccs.ário •ln q,w teria ocorndo. 1\ truv<'.';de urn (locumeoro ele 1766
suprimir a su~ presenç,, e substitui-lu pelo negro(º). O 1n1bn:ho 111,...Séqui, a capiun.ia possuiria 58 071 mbit.nntes, dos ~
escravo indígena n:ío pos.cla coodic;ües ~ra ali.rnct,w uma inci- Ili (.22 hon,cll$ e 27 449. mulheres(•). A dístriblJÍção por cor
piente economia de trOCll cm «:>.1>an~io.Em suma, J?aTllpoderem p,x~ ser calc'.lbda g~ID1mc:1te. com b,i.c cm indÍca<:óesfor-
1irctdas por V'tlhcna ( 1 ~), ·
competir com os bra.;irosremóis ou ée Ol.tl"IIS rcgÍÕ/!$ do país,
os mor:l(lorcs braooos de São Paulo tiveram ds: o,-.:iteir ns uu- llaux,:,s · · • · · • • · · ••• , . • . . . • • • .. • . 11 098 ( ?l 'l!, )
danças de S<:11$ hábitos U'lldicioiws, permitindo ir,ch.:sivc a si:bs- I:i&os ..... , . . . . . . • . . . . . • .. . . .. . . 32 526 (629(,)
titu~o do llidio pelo negro e •~ tralliformaçõcs que da =· :--1.'Ç'OS
. . . ••. . •. . . . • •• . . • . •. •• •• . 8 987 ( 1791
)
raw, numa áre.t tl1l qual a cio~ pauimonialista e o pres-
tigio social repousavam larir,uncnce no controle de lxmdos mais Total . . . • . . ........•.•..•..• 52 611
ou menos numerosos de indígenas e de coboclos li\Té>. Nilo
obslame, o d«reto de 1758, que promulgou a liberdadedcíini- . O censo de 1797 é o prí.'.nciro que fo= incliçxõcs mais
twa dos lixlios, arruinou vru-iasfamilias paulíuas, cuja fortuna cm S<:usdados, teríamos a seguinte dis-
J•rcx1•as. B,,_1c:anJo-nos
dependia da escravaria indígena( 1). A cri!oCdo tr.tbalho indí- ulbui,ão c!aJ>O?ulação da capitania, segundo a cor e O sexo ( n):
gena, porém, ~ssumira cu,u,1 c,,tn,wrol. A lei nlw " tleternÜll3-
ra, pois procunav:1,apenas, di111inaras con&ções que a con,e:-- Jh_1p,.r:u Mu!~re.J Tot,I
úatn num ünpessc cronico. Isso não impcclia, naruralmcllle, que S.-=ccs • • . . • 42 270 470,3 89323 (}7~)
Mult.t<>S. . • • • 14 236 16 251 30487 (1996)
da! por <lianteo ccgro fosse o únioo •~nte regular .!o mb:ilho
K~ •.••• 20669 17'71 }8 640 (2496)
e;cta\-0.
Total •.• 77 17$ 8127$ 1584Xl
l:-ss.t rransfottMÇão não conJuúu a mn aUJllcnto súlito da
proporção cc negros e rnula,os Dã população. De um lado, por•
que a m:tior,3 cioscscra~-os i,egros, desde 1706, apenas rra:isitt1vu
pela c,iphania: para 20 que se destinavam à mínernção, 3 fic,rv«111 1~, Cf. S. llconiue c!c llal.iada. 19-15pp 8H,$· M ~dLt. 19.:H
(ou de\'ttian, íicu) associados ã CCODOOlia de subsistência. De "" ic,z; R. &.t:.d~ e F. fc:rnan<!c.,p~. 1j.u. '
i5.'I ' '
outtu, a decac.c:nciadas minas foi demasiado rápida para que a ( '1 OF.::io de D. Lw .l.o.tor.,ode Soc.izallotdbo Moufr.>diàgido ao
mincntçio fomentasSe, por ci,-itos clireros, algum pc:ocesso estru- 1 OYfffUilOC
1 O ·•
d, M:trlp&c
•1
no ,r,.- 10il2il,66
'
l!ped J Ri...·'-· ,·"·' • n
' ' "'-""• v,.. ~, r·
v..~to e- uu~ e à po:m!sçio m,so,li:l9
!"t.lO co:wã:, ocaçio
, lin!id•dcs. '
(6) a. R. &stidc e F. Fw,,ndcs, p. 9 e s.-:s_.;cf. ~ém M. Gou- '(IOJ 1.ui%dos Sctllo. Vi.Jle,,a, p. ;9 ( notc-,;e qoe o .-\. menciona
la."t. p;>. 126-127 e 137-l3S; Actc!.iano Lâtc, p. 74.
( (7) M,Pl>á G<tol00! 1bhiton:c, ,i. C.r,!tania ele S PauloDO Ano
{7)(;f. J. J. :',lachaclo(;C o:n..,.,a,
pp. 2J9-220; R. lla,.ê(k ~ F. 1 l>,;cu"!'-"l~sJ,;:n-o~:tu, 1901, -.. !,57. P,,. rroc.'<osõlmo,
ftmoncles. 12 e !óds. 111 , ,1 , O'i ,.,ados ~ti,u::Jtei l tcb\°'.c, -,
jJ2 lJJ
Os dados cona:rnenres aos s&ulo XIX são mais elucidativos, 11•11,.., se dissipou de mo~<>lc:nto é íueguht. Ainda a.;sím, os
emhora t;1rol'émsuie.itosa dúvidas insanáveis. Os quadros I e TI ln,l,tcs de crescimento <k:mogrÍIÍico tévdaro duas tendências fnn-
rcú11e111-as inilica..--õesfornecidas pelas fontes selecionadas ( 10). ,1 111cll12is,que 5e altcranm apenas no último qt,,<.rie!do s,,colo
Ao que parece, o lento incremento d11populat;lioprende-se t~ r tlcs:1p:irecer11m
com a dcsagregaç.íoe colapso finais do rqjlil'J
dilJculda<lesque imp!:dirrun =rií;iida superação da estagnação
eoonômiCll, subse'lüentc à crise de miner,1ção. O ouro e o co-
d, trabalho escravo. Primcim, o pat:un,u atingido pelo negro
, pc:lo mul,1Cona composl<,-ãoda popu11ciío{otnl, nos fin,; cfo sé-
mércio ele go;tlé«:,-sou de mua.rcs dei11:aram de ser o foco das • 1110 XVIII, mantém-s" d<:forma característiC>l ( de 1811 a 1R.52,
ativHa<.ks ~onúmíais, mas nli'.osuljtia 111n produto que permitisse 1•rn exemplo, rua quota de part.cip:ição oscila em torno de 47%;
expandir internamente a grencle \11vo11ra.No fim de várias tcn- r 111 1872 essa <JUOta começa a entrar <..-mdeclínio, mas era ainda
tn:ivas, p1-imeito ,, cana-dc-a;-.'icar,depois o café fo.tai:n sdecio- 11111i10alta, po:s te)>tcscntava 44% ,fa popu.la,.fo). Segundo,
na<!cs ro.:no núdt.x>sda produção ap,r,í,-iapara exporta,Jo. Ope- ~n1 ronjtt11to, o ritmo de cn:scimento global <los segmen.ns bran-
rava-se, a~sim, wna mmsformação da esrnmira econômica da. cll• •o e negro-n,ulaco da população é relativameJlle hoJT1ogeneo,
pic,rnia,qu~ iucor9orava São Pado ao próprio eixo da economia Hnire 1811 e 1872, período essencial p,tta a anáfüe de1nográfic::i
colonial. Essa ttansfotmaçifo, por omro lado, oferecia Wllà base - em seu transcorrer <.'l'>:nplctara-sea inuodução, esp9nsão e
eccnôruic:ip:ua o aUlOC!lto panl11.tioo d11população negr:1e mu- ronsolid9(io dll j\mndc lavoura acrnvista en1 S.'lo Paulo - o
lata, c!e coudiç.w cscra,--a nu livre. TodllviJl,exceptUllndo-se o e•loque bl:llnco aumemou goa.sc Óll<:o vezes. Ora, o 111e~mosu-
Vale do Pârafba, a e,pansão da fircni!e levoura foi, no iclcio, H·deu com os estoques negro e mulato, que 11u1uen1amm pouco
lenta e oscifante. Por isso, na mmsição do séclllo XVIII para mnis de cinco vv..cs, con.,-icferados ooniuntameote.
o :XIX, continua a suc~ii:o de homens JY.tta as :r.onas de mioe- Afor,, essas tendêncfas globais, seri" conveniente ressaltar
~ão ( e por outros motivos) e, de imediaw, o setor que aumenta Jllluns aspectos do crescimento demográfico que JYMeccm=is
oon1maior intensidade, em fu,-,çiío do declínio da produção aurí- ,ignifiC:1ti\·os. Assim, entre 1811 e 1836, fase imprn:taal"e por
fera, será o da populnção. e.scrava. O êirodo dos escravos p3.1"3 cnu:;:ick,s refluxos populacioMis cngen&ado,; pda crise da n,i-
São Paulo tomava-se i nevitiível e eles representavam o principal neroção ou por seus efeiros, ,1 população branca d.e São P,m!D
aumento de riq>ie?.a,q_,iea mineração legava à economia paulista. •ILmsedobrou. O mesmo ocorre com " população negro e mulata,
Não dispomos de espaço para 3.Jlalisar exaustivamente a co1:1Sidetada em conjumQ. Todavia, o aumento da;. qt.otl.s de
pari:kÍpS\20 do negro " do mulato na evolução demogdfica de negros e mulatQs H\-i-,,sfoi J><'<}t:eno
(1---oucomús de 2/3 j; foram
S--aoPaulo du~3.Jlte o século XIX. Contudo, parece óbvio que a fü estraoos escravos que sofreram uma elcvaçífo mais rápida e
integrnçlo <hiprodução agrícola paufüta à org:miznçio da ccono, rntensa ( em seus contingente!, ! elevi,çio ultr.1pa~$0U oo limi,e$
mia co!o,lial de eitportaç-ão fez com <1ue os padr&:s dcmográfu:ns a leitura c!oquad.to 11).
1h1 duplicação; a respeito, é conveJ1ie.,:,te
de São Paulo se alterassem, tendendo para o moddo típico das
"áreas economicamente desenvolvidas" da sodcdade escravista
brasi!einl. ./,- fül4do dos Neg,xio.r t!ó !J1t_oério P,;-li110So,,,.e, i!e So=, pp. l06-112
( 111,tar <z:'"'
,s difere1,ç,,.scoo, rol.lçil<> ~ 183G são dt•idas à ld qnc ct.iou d
Vários fatores, qi::enão podem ser debatidos neste cs-twio,
Província <lo Puaná, em 28/&!1853. ~ ::::bsem,,--sa doo.i;~<> cio, dados
fizeram com que essa evolução se efetuasse soo
ímpeto redwido, ,1 PL-dro Mülle:-.só (!03n:o :i coo.Ó<por cor, l~llJ\1C$: bn.noo,, menos
rendo c.omopano de fundo um estudo de marasmo t>eonômico lllt95; indi~, menos&5; m:.,la::us lí-,r,,s, m~oo 10135; muhtx1sei;cmvoi,
111c•nos 208.J; negros <.Tioulos!h-res:n:.e::ios~$8~ negros criodos esc.ra•
,,,,., "''"'"" .>332; oei:,-os oitlô!J:COS livres, 1-xnos 314; nr.gc"• awC!Ulosei•
r,J\'OS,roeaos 2 ~5?. Por ti! re \~ qt:c a ?JP1;bç:ic1,n::.,;~ ~er!odor tntre
(12) Foot.c,; princil":s: 1811, 1<<1..-trírio
d<JMini,--m, , Secretlric ã,x 18\(,-18>2, não sofreu 1-cgi:c:ssão. Ap1'.Dasfia-., csucionL--a); 11/72,R=·
J\itt,6ci01!ÚJ [$plrio. 1&70, p. 110 (dlidos atraldos de Escbw~e e a ek c,.1mcnto <k 1872, ( ir. RA,mírio , 'i'rt:htihm Estaí:slir:u ..::e, 1877. pp.
fomccidos pelo GonJe d-, B,.roi); llii} A. S..int-Hiliilie, 1. pp. 124-125; )} }8); 1886~Re1'2t,j,-iQ ,Ap!'.:sa~o cc, E,mJ,,. Sr. Pus:dent~ da Pro:hu:ia
18"/5,J. 13. vc-n Spil;:e C. F. wn Marfr..1s,L pp. 238-239; 18Jó, D. P. , e, 1888, i'· 14. Sobre: l8i9 e 182'), á. S. H. lowrie, 1938, -pp. 12-"13.
Mü,lor, Ili'• 1.54-173: 18~2, R.e!&térir.,
/Jpreienr.,:t!.r,J flJsto~b/!f4 Gerd ::11 P,r.l 1.:JOO dt::S:crimi11~mais cc:,np~elâe cdt..icatias !o~tes, d. lL &5"!id~
Se:.,und~ .Çc..ts~ d:; Péc~11.,;Qt1,'jf':1:, L~giSÜ:!u!'apdo 1Ui1;is-troe Se-:reltTio ,. I'. Fem,nc.!es,i,p. 15-16, 24-2i, }7-39.
134 IJJ
1:\2fase ,ubSceqüeatc, o mesmo fenômeno se r<:pere: entre 1836
e 1872, a populaçiú> bra11;:aariogc um aun:cr110s'llperior a 2,5, ti• p, ovínci:l ou de outras n.'gfücs do Brasil, c~m sufié~1tcs par.i
enquanto 9 populaçã.--.n~r11-ruu!ata so&e Uíllil elevação inferior 11l11nenr:u: as exigências do crescimento econômko. No fim do
m3s. de 2 e pico. Kcss.1fase, porém, a quuta de escravos sofrera t,·rceiro ,Jtlll.rtd e durante o último quanel do século .XlX, esse
am 1ncrc:meotoeleapenas 4/5. ;\ popula~o negra e mulata livre, fotor de equilíbrio <lernogr,ífa:o sofi-e uo:a :i..-pmra. As pn.-ssõcs
por sua vei, c:ume..--.t.u:a
mais de três vc'7.e:s.O Íct>-Õmenose ,li,procuri ck míio,le-<.}brarornam-se, aos x,uros, dcnmsi~do
e.,Jllicafar.iimcnie. De um hdo, pelas oportunidade,; abertas a fortes pata a rcser:va de tníío-i:!e-obcaservil e Ji.vre, incrcnce ao
tal.S elementos pd.a cconcrnia de ~uhsistência e ele criação que
l('j\ime de trabalho escravo. Abre-se, eo conseqüência, tun novo
continuava a tci: importância cm São Pa\1lo. Como os br~ncos dclo dc:mográfico, que ~e irá associar ao ttahafüo li~re e à i01i-
procurava_-i,explorru- as o;,ortunic!edes econômicas rclac:oruidas i:mção. O fenómeno só atingiria um primeiro dimru, m, último
cQm a e."Çl:msiiodll fovoura de e,tport.,ção, havia uma retração ,k-cênio do séCt.Jlo.Ccntuoo, a raziío apo:itada explica sufidente-
das relaçõescompeütivas, que fa~recia os bom.enslh•res da "po- r11cntea crise do pa<lrão demográ:ico vinculado -ao regi1T1ede
t raoo.lho escravo. O estoque rllcial h=:rnco converte-se no con-
pt~ de cot". De outro !:ido,n 01-ganização
do ttabalho escravo
1illgenre populacional que deveria fornecer o grosso da mão-d~-
exig!ll, notmaú:nence,wna massa re[atframente elevada de rra-
·<»bra.em un1 sistema de produção em que o trabalho escravo sena
ba.L~_livrebroco. Como a escrnvicão degracbva as "ocupações eliminado pelo tmbalbo liv,:e. Nesse processo, o concorrente
mecarucas" executadas pelo ugeotc servil, os vários tipos <le tra-
br:mco ameaçou tanto o age:ite negro ou mulato do trabalho
balho qu-e caíall) nessa categorfa só podialll ser realizados pelo escravo quanto o agente negro ou mulato do trabalho livre, o
liberto. De qualques maneira, a expansão do trabalho escravo
()llC esclart?Ceseu reduzido crescür:e:nto demogrMico =se pe-
acarrccava duas conseqü~n,;fas interdependentes: o aumemo <la
ríodo: uma parte consideráveldess,ipopuL1ção, que saiu do cam-
po~~~o escrava e o aumento concomitante da "população de po e deixou de concentrar-se nas cidades paulista.s(U), migrou
co1:_livre.• De 1872 a. 1886, o padrão de composição da popu- p;ira outras regiões do Pais, submergindo na economia ce
rubs-
laçao se al,era subsranc111lmente.A população branca coorinua a t:iJ'lcia ou incorporando-se ao artesaooto de economias u:banas,
a~eDtar, tece~do um acréscimo quase da ordem de 1/5. To- que pudessem reabsorvê-!os. As estatísticas de 1886 e 1890
dav1a, a populaçao negrn e m11fatapecinanece estacion:íri:a( infe- registram o sig;iificado desse processo ( ver quadro; I e IJJ).
re-se melhor a natureza do processo estendendo-se ~ an.11.iseaos Os estoq1.,es brancos co.ccorrem. então, com 68% da populaç,ío
dados fornecidos pclo censo de 1890, compcndiiidos no quadra tot~l e, enquanto a população negra e m~lara pefmanecia pra-
l!I~. -(lo mesmo. tempo, de 1872 a 1886 a população escrava ticamente estacio:iária( "), eles auoentam, entre 1872 e 1890,
dunww quase 1/ 'j.
um pouco mais de duas veres.
Portan;10,o fim do tercdro ~llllrtcl do sécolo XIX apre- A partir do últ::mo decênio do s~ulo XIX, o padrão d~n_?-
senta o carster de um marco h1st.6nco, no estudo da participação
do neg.ro e do mulato fla evoluç20 demográficade São Paulo.
Mdfico da província evolui para o:itro modelo ce composiçao
r:icialda populaçeo,con.10 s.: verifica pelo quru.~roIII ( 1~). De-
NesS<: peclodo, constaram-se três fenô1nenos dc:mográfiços oor- ,apare<'em 2.s t<.'tl~éncizs de uma alta participação ;_>ec-eotualdo
rdstos: 1) tli.ro amnento pe.rcentual ela "popuLtção livre de
cor"; 2) claro ckdínfo J.X'rcc11r-..12I
e quantfouivo da pooulaçlío
~•crava; 3} declinio sintomático da população n~ta e mui.na, {O) Cf. F. Fernandes, 1%5, aip. I; S. rL Lowrie, op. d:., P4nfo1.
~vre e e;crava, n~ c~rnposição racial da popakção. F.nt,ío, ao ( 14J A c:tisc do an~o pa6ão deücogtí.i:oooon·elaci:ic,-;c,_uun_bém,
=etnei1ro qua.-itttat'lvo da "popclação de cor" (muito leve?, i1 ruigi":!~ i:nerms da "eopuf:JÇ:iode cor.. es:~.a~ae li.!re·.. ~o.,mter:o:- e
se so coJDpara os ,!.-idosde 1872 com os i:!e 1890), passa a cor-
.responder, de fonna crc$t.--en1emente
1uaisintens..~,uma <liminuiçíio
r .Jra fon da pnw!nd.1. A~'Uns aspectos do fenomcnos~ toca..izado) P0t
,nwric (loc. ci!.), ouuos por 1'. Fcm:ir.dcs, 1%5, lu. e<.1.e 71-102.
( 15) Fomes J:>rL'lcipé~: 1890, St!:::o,l(,:;r. e &-:ado Ciril etc.. d•
cons~n~e de s~:ia contribaiçiio telati.-.a paot a co..'15ciruiçãoda }/.a;enseaá,,etlt :li de <kumb,o ,k IS/X!, 1S98, pp . .2-}; 19~;>-
I'u{'td<1Ç'ã;,
p.~açao pal,lista. Aré essa época, as migrações internas de 1?:?J,C'.om:iclDt. a. Lobo d,, S'tl,a, quodr,, 1; 1921-19.28, S. H. Lown~
mao-de-obra e.crava " de ttaha.lha<.!oresncg.os e mul:uos "livres", ,,, 12, Q,:adl'O I. e Qu,Jro Ill, p. 20; 19.;(), R.er,::s,,,,,,,-.;10J.o .Bs«;i,,
p l; 1?70, Rac-:s.;c.,;;ne,:lifi Ger::l J(i Sr;;.si1,p. 5.
1)6
I.37
11~m e do mLlli!tO na !'l()l)tl)açio tor:il e_, com elas, o equih'brio
quancitativo e o incremento bnlanccado ou com\>ensado dns cs-to- Ql.,V*:": T
qucs raciais "branco'·~ '•ne_f.ro,. e ''mulahi'. .Enquan;:o n popu- • ~1:'"" < t,~)t 111a.~ ,,nfll : ,or 1--~ a ::-,rap,-.~"'· J; ;x,>.:.,l.,,.õo,:k C;.;,if.,.-.o:"?tc~
~ P..,·o ·õ: llfl1 .t ~)'•
d:
Sr\,'llt;~
1~-;s,
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'r rl•· ,s.,~ :-.t.f6· h,C~t !í:~L 11,~_ ... M 1»21~ :te~
~ 19.50 conha.--eram uma c!evação <le li 6, aproximadamente. Com
a intensa d;m,nuição da imigracão e com o incremento constante 1 .,_~
t,',.;.d:it
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11s2:a~ !: ...:,
Si:.X -=->~
ilSl:t,, ~).,,
6ts migr:içéks intenu.s, princi;xiltr.cme depois de 19}0. inttodu· N,.,._ ~:,n ;.~ •1~~
i~~-
z:.:am-senovos fatores na c.omp:isiçíio demogrifi<:'1 da pop~ação M!l,1 lH~S !f!':'H l2 S!'t 11271 ia:,n u:c~
1, ..1 ~!.*
p:iulista, que de um mo<lo ou de oua:o concorreram p:ira aumentar
o ritmo de crescimento desses estoques rncia:s. Contudo, nos
f>u!"JIC::it 6H<> r.,r.
;a~
r:zs1, -
-: l-S)
- H':!:
- F2 ~:ao ,2.&1
2t~
mesmos períodos, o contingente popufacional identificado como
...,....
v.-..
:-,J.U 2,:--1.
J'i "1..
..,.,, 1111c
7*
,, n) )Hlt
'"' 1;~
;.-.:,::;; :!.-H'i
"branco" (1°) elevot:-se quase sete vezes, de l 890 a 1940; e m:iis ,..._
<'.t110U:11$
,.,,..
l,!,i<c,o, 1t.f1
;,::
J(q
~, ~.z-r.:1.l~é
-
1- 1-:S
-
!,=.i:r.,.
-
-O~
""
•)~
-
de 1/4, de 1940 a 1950. Sl:-
Portanto, nordctn social compctitiv;1 vincula-se a emetgencia Tni - - ::, ,·u _!_12~1_ ~1 ..6" .:..siw- 31 "'t - 1-s:-:, Jii-'id: 13:,~3
e a oormali1~ção de um padrão c!emografico de composição racial ;;.:n;f ~%, 1c.J ~5'= - - - u,,.
J~s~~ ,~J7
..
2 ::i tlU l?.l9 i% l}.;JS
conco~reodo para corrigir ht:.s efeiros, nn medida que lançam 11:1. ~~
........ .,, ,~e j,SS.:.2 1: .,z:
,
popubção paulis:a, conrim1amer.te, fortes coati11gentes popula-
cioceis em que a patticip~ção do ocgro e do mulato é mo.is ele•
\bcuo:,.
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Micl1·=· :-:.:--y. ::,,u: 1')1}~ :i- ◄ :-=-
(16) A g-..estõio da icler.:ífi.eoçoo:xi"1 co:1>:llw um p:-õ!,l:::n" inso• ~---< :,3::ii-" 4~~)• ··:,te:r. J.., .......
:. rf:.
h:vcl. i='..:npt:...-t~ é -;:rcivi,,.--d'.'l:!e o roc~1ngcr::.~i!e mu~tos sofre ~
t,....tr,
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1: ·..u
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j,)-:.~ - - :-'1~'1 ~.--a
:-:c,;çio poffi!edvel, éiluir.ci<·,-~-= ;)() conrbgc;,tç dos branros. o::mo têm res· ~~n~ 1--I!-")I~ -1.~
,..!....._
.._ ~w}!~......!:_ez.. --~)-t-l -~"1~
( l.<rm-ie.Ro:il ômll!'al etc.). N, pcsq-.úsa fe:tn em
,_.Jtaéo os est:i:!io..<-os
..• ~~
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com Ko;;cc Bislide, dC'$fobf:rnCJs: que a mc;rn::1 t~&i'Xia flôSW-
~c <.rJtr3 dirccõo 1 que não tan S,;dn Jc..·k!2:na.1:e:.SS:~lub: mlLlltcs que
í-1•...,)lo
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lldc«un eua pririca, 1:11....,,po, ll'lo-i,'Ospoix.l5eko.<. O roncrolc clesu ~
138
139
vada, ~'Olll n:eqãênda até prc:dominance ( 11 ). Em.hora esse fenô-
meno ocorra, apa.renteruc111e ele níio atingiu proporções sufícieotcs
l,),tra alter-.ir o paddo de coroposiçfto dcrr-Ob'l'IÍÍlca que se cons-
ritciu em c-on,ex;\ocom. o advento <lo tnlhalho livte, o stuto imi-
gratól:io e <? ó.-p?JlSí!oda ordem social competitiva. Sob esse
aspcc:o, entendclll(ls que: o mais importante, seja para a análise
demog.r.ífica,s~ja para a análise sock•lóg:ca, 1wo é tanto a parti.
cipação tehcivs do 1.-egroe do mulato na popofação total Mas,
o fato vcixfa<.leirnmenteQll!-picio~ode~ses estoque:; raciais terem
rc:tdq,?irído, após um dreruárico intcrl'egno de criFe econômica
e ele 11.nomfa social, que se rcfletiNlIOnegarh•amence nos movi-
mentos àell!ográficos ca
"população de cor" ( 18 ), vitalidade de
a·escin=to demográfico n3s co~dições de existência a que se
adaptaram na sociecla~e competitiva. Sob esse ponto de vista,
.g
QOADRO II
~ Negros
Poroent>&e,.'11 ! MuL,:os, PQ: c.indiç:io social,
na populeçjio cotll) (1811 • 1886)
(") Ci. Szmue.! l,L Lm•ri~, "O Ekn::enro l\e-;;tQ na Pol>Ul4-1ode S3o
Paulon, Qt>:1<l=oI, ;,. l.2 {782iJ2 <'let\tvas nuJJ14 poPlllai;io de
...
2
2)8 >23 ba:>ic:t.'ltcsJ.
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(••) ldco,, toe. dt. r90 713 tSCt:1\'0~ llLl.f:13 1>,1J<Jl,çiode 306581 habi- "' 11 "'
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( l7) Ci. 1'. L,tlll Smicf,, e,.p. pp, 155-156. 1
(18) Omici.100$ a dE.~u:~:bdo d,~$;do ª,le/iciJ ~ro~ neste estudo;
xoCr:: o e
a.c:rut~!O perc™o!C ~ c;.ue.s::io,
:? S,f(IJ.:ogr~fi1 d. F. Fernandes*1965,
p_;,. 71-1G2,p~sriJ.rt,
140
QUADRO IV au comr-Jrio, os mcsrr:-0s pressupostos alicerçam propensões in-
Pt.-soos Pr<,senc.es,
de 10 Anos e M.sis Se;;,;ndo 2 Cor e • Posição na versas. que subestimam ou negam qmlquer influência social cons-
Orupaçi'io* ( 19.50
J 1ru Üv3 do negro. Em alguns círculos chega·s~, até, a ligar o
íooRl Emt>re-
1JJt!o,
1
1
Empre-
~dJ,re,
ümta
Próp.-14
máJ:/JTO
d,:
F-.Ili4 1
"csrndo baixo" das sociedades :úricanas à idéia de: que o negro
exerceu e continuará a exercer uma influência ddctéria sobre o.;
cosnunes e a moraEdade dos b:anros. Os resultados da anruisc
Bn.noos 1846445 146145 4(,15()2 378 22.5 sociológic.1 não satisfazem a nenhuma dessas av,tliaçõcs. Mas,
849(, 91,;w 87% 339" descortinam um quadro que ab:c ao negco um crC-dito digno de
Mufa,os 8J 3.36 1 }9{> 12586 U056 consic.lera~ãoe que revelam que sua impotruncia puramente hist6-
3.8% 0,99& 2;\'ló 3%
Negros 238169 2561 27 326 31925 ric:, transcende, de .muito, ao signifie3do que tcr:a como nuto
11% 1,6% 5,2% 79ó ageme do trabalho escravo. •
Amattlos 21120 9179 28i94 31600
1% 5,8% 5,4% 79& O negro esreve pr<:st'nte e assistiu a duas rc:voh-sções econô-
J micas na história SO<:ialdo Estado c!e São P~ulo. A primeira, já
To::tl 2 )89 070 159281 5.l0208 454806 foi mencionada acima: l\ re,'Oluç,ío agrk-ola, inerente i\ transição
1 Hl1% 1 100% 100'1& 10091,
1 para a grande lavoura e5etavista. Pouco se tem escrito o res-
fonte <!o,;dados i>rut(J5:VJ ReamM11w:!o G.-,a! do Jlras:l- 1950: Es- peito ( "). No entanto, tod.! a evolução de São Paulo teria sído
l«a-09a'e São PdUla. C,•ns.n JX:n:og,Jf~o, op. ât., p. 30. d..iversase o término da aventura aurífera encontrasse outro des ..
( ~ j l'ora,-n 01nitidls a.s , .. pOstss san dccbraçoo ele po.s~iio. fecho histórico. A riqueza acuornlad:1 pelos paulista$ objetivou-se
principalmente numa voh:mosa escravaria, que precisou ser trans-
ferida p-Jta as localidades em que residiam os sc-us senhores. Daí
as porcentagais aparentemente baixas significam muito pouco. resultou que uma lavoura de subsistência, em <.-stagrr,çãoe embri-
Coroo socedeu ~m ourros lug;u:es t países, o negro e o mularo cad,1nuJlllllosca <..,conomiade troca, apenas parch1mc.nremone-
\'encer.am a fase de J>rovação. Já se pode pr~ver, mantidas as tária, viu-se subitamente "en1iqueci<laº. Se Í0.5se oun:a a con-
at1tais conúiçõt.-se tendências Je desenvolvimento demográfico e juntul'll econômic.1 reinante cm esca.!a geral, é provável q\1e o.;
sócic>-econômico do Estado de São Paulo, que esse setor Ja po- escravos ~erii!m convertidos ao seu valor venal Nas circuns-
pulação awneotam prngTessiv,uueme. akança..'ldoum~ virnlidade tâncias rein,to!es, os s<:nhores foram predominantemente fol'Çll•
dcmogtáfica equivrucnte ( ou levemenk superior) a do estoque dos a reter suas escravarias e a ~e ddrontarem com ns dílema.s
racial .. branco''. t!C01romicos que assim se cri,war:i. Dispunham cc
uma massa
rei.ativamente f!rande de mão-de-obra _privilegiaéa e, não obstante.
os meios para ap)id-la pro<!mi,amelllc eram pouco ou neda com-
O Negro e ,i Evohtçãod,: São Paulo pensadores. Isso e,q,lic:i a r.enacic!ade com que se devotaram à
busca de utn ptoduto !!f(fÍc:ob, que J,}el't:li1i~~a introdução e a
.É t!.iiícil avaliar-se, escnuuralmente, " imponãncia do negro expansão da grande lavo11r.tno interior de São Paulo; e, também.
coroo /ator h,,m,mc na formação da ch~.ação impexante em
11osso:&tado_ A., auco-av,iliações,correntes no meio negro, in-
dicam propen$ôes bem defin:das no sentido de supcttstiITK1r a
sua influência. P,uti;ido cio pressuposto de que o negro e o mu- (19) Vcf<-sc l\. lla,ride e F. Fern,r.dcs, !'P· lS-27 (é claro que •
lato, como age11tcsdo trahallio escravo e parte fundamental da pe- int<:l'prcro,iio
d=,,ihi<[a ooüde oom o ponto de vism p:clcrid<>por outros
1 que ron\'crtcm o dcscnvolvl:nen:o
~11.1tores 2j.,'1'Íc:o[a
num p~so .lint:ar,
riferia da família Pl]rriarcaldos cstr'1tos senhoriais, praticamente que giraria ttn torno da migT?.çâO do 01f~. Pn:fcr:.:'l'Kl5 fate_-p:i?La-çâo
UL"'33
constituíam o substra:o do funcioMmearo da econom~ I? da que lc\'J r,l)') conrn as :"1n<furm:>;õe~ tk esU\:~.m & iÜ!tM:I =:itr.nioo
:;ocicdadc sob a escravidão, essas amo-avaliações :1tribucm :10 e que: mestra, de modo claro, qi;.e.::1 seleçi:, dos pTcd1,;tos~co!ss c.\.-p:0-
r:iv~s se faria nut!l&linha de aç:io«o.oôm.k:air:v:::nivae ~daptati\'a,St",b"1.lOdo
negro todo o surto de progresso e de ri<rueza. No meio Jmmco, 1"'$$ibífid,,dcs de cada t"êÍio ó• pro,;lxh).
1'12
14J
explica o desenvolvimento independente mas coocomitaote ( com balho existeme na socicd:!dc nocional, portanto d!?f>Oisdas dt-
relações diver;ss apenas em função dos produtos agrícolas expe- rodas de 1920 e 1930 ( 20 ).
rimentados ), que ela iria apresentar nas diforcntes regiões da É interess,uite notar o quanto a evolução sócio-econômiot
província. O e:templo do Oeste paulista é o mais expressivo, na de São Paulo discrepa do que ocorreu na.~ regiões do Brasil que
medida em que revefa como o aventureiro. o tropeiro, o nego- collhc=ram algum apogeu ou c-,resdmc-ntoeconômico continuo
clame 0,1 o olineOJuor poái.avam por igual na tentativa de se sob a égide do siStcmo. colnnia.l. A<1ui, o n~ro teve durante
fl."<'1l'Cm
nas lides 3gtkolas em novas ba.S<.-se de dc~rir o pro- mais de dois séculos, moa função meramente suplémeiit'1t e espe-
duto que faciJiwsse a iutegras-m ddinith,a na cconomfa agrária ci~.9a. Somente dcpoL, da crise da mineração é que :l eso:a-
exportadora.
vidão iria implancar-se nos moldes imperantes naqucla.s regiões,
.Ne.sst:mntc"to, o negn, :eve um papel histórko primordial no contc>.-t<>cm que a grat1<.h: lavnura esportadora on:n.>cia um
i em linguagem scx-iol~ica, diríamos que o csa:ivo preencheu substrato cconôm,oo, social e p<>lítico à aut2ntka tradição se-
um.1 função social construtiva, ao nívcl da diferenciação do si,;. nhorial brasileira_ Ainda assim, não se reproduiiram, aqui, várias
cema ewnômico ). R qi-rç ele estava n.a própria raiz do dilernn. das condições que cercaram esse tnUI1do senhorial Exc:cpruando-
A falta d:: documentos pessoois Dão possibilita uma análise sufi- -sc o Vale do Paraíba (' 1 ), que se manteve fiel a esse modelo,
cie.nLemc.:nrccomprobatória e condu.,tva dos faros. Todavia, po- mas era, sob tal aspecto, om apêndice sócio-cultural da zona
dc~se conjenu:;ir, com certa plai:sibilidade, que os senhores ti- fluminense e da influência da Cone. no Estado de São Paulo ( e
veram de escolhe.r, por cama recsmo da ID:lSSa de escravos rei.a- cm particular no Oeste paulist-a) a e,sccavidiio nunca passou de
tivamente alta que possuíam, entre n ação econômica criadou uma instituição e~-pecializada, que inter=ava por causa de suas
e a ~uína. Ou .su;ieravao a estag~ção econômica e rompiam. fun("Ões econômicas. Muitos iazendciros logo atinamm com o
assim, com a economia de: subsfatência; ou veriam percrer a sua teor antiet.-onôiníco do padrão tr.ididonal de orb=Í7.ação da la-
áqucza, imobilizada no ai,,cnte êc trabalho e..<cravo. Doutro fado, voura escravista e reagiram contra ele, procurando sepamr, nor-
como dispuoham desse agente, comav:JJU com o pr:inápal rcqui- malroente, o "lar" da "unidade de produção". O que se chamou
si:o ecxmô:niw para tc:ntar ~s sucessivas experiências que leva- de absentismo do grande produtor rm:al esc.ravista do interior era,
rÍ<lm à sel~iio dos prodntos-cha~-e e, por fim, à constituição de portanto, wna tentativa de reduzit ou eliroin.11os custos socia:.s
uma infra-estrutura cconôrnica que asseguraria a ímphntllçiio da da produção escravista, 1:da redução da organização da fazenda
grande lavoura exf?Oitadora no Oeste paulista. às SWIS funções produtivas. Essa ino~-..ção não chegou a univer-
A r~coluçífo burguesa; a outra revolução econômica assistida salizar-se, pois muioos fazendeiros, lllllÍS apegados à tradição se-
pelo negro, n1lo contou com sua ilillo~1 ~a fia tacltia dos ttácli-
nhorial e aristocráti.ca, eftUUpor demais ciosos d!ls p-.1d.tõe~
fatores causais. Ela se desenrolou, oos condições mais remotas cionais. Ainda assim, antes da implamação do trabalho livre, ela
e i,rimordiais, em conexão com a formação e a expans.~o da se achava muito difundida e eia explorada pelos lwradores mais
g=dc lavoura ei--portadora. Contudo, nesse processo o negro importantes. Além <lísw, a itradiação do progresso econômico
s6 teve uma imporc.-incia indireta, como agente humano do trn- sobre o ambient.e socrol também assumiu no interior de São
balho que permitiu a captação do excedente t-conômico que iria Paulo a..-pcctoo e tendências pr6prio~. Os· negros e mulatos
condicionar a constituição do complexo urbano-comercial de São "livres", especialmente, encontraram cert;ts oportunidades eco-
Paulo e dinamizar o desenvolvimento do capitalismo comercial nômicas, sociais e intdect1Jais aJ>Cllasenquanto a estmtura do
co,no reali(lade econ.ôm:C:lu)tema. Não obstante, o negro ficou sistema escravista ftlllcionou em condições de relativo equilíbrio.
à margem desse processo histórico-social, cujos heróis, no Estlldo
de São Paulo, foram o fazecdciro de café e o imiJ!rame. Também
ficou à nwrgem dos proventos dessa revolução econômica, social (20) A respeito, veja-seF. Fernandes, 1965, Vol. J, C!lps.I e II e voL
e cultural, da qual só iria tirar algum proveito de lllodo muito 11, capfrolo V.
tardio, qu.indo o cresdn:<:.nto econômico e o desenvolvimento ( 21) U1113 oosctcti,:açio da economia e do estilo de ~i<b $0<:íaldo
Vllle <lo Pru-a!ba,em fu:1çiioJos aq,eaos que faleressom • ate estudo,
industrial pass:urun a nwbilizar intensamente a reserva de tra- ci. S. J. Stdn, p,,,sw,.
144 10
145
Logo que este se rompeu e o polo de equilíbrio deslocou-se para de 1950 oftrcctm, :i esse re:;pcit(), um J?'lDOr~n.1J~solador. O
0 desen;-olvúuento <>radual
C>
do lra~lho•.I li,re - o que.•. 1
ocorreu
• ! •
,1u:1dru IV, sobre a posiçiio no QCup;çã,> segundo a cor, indica
em pleno regi.ou, cscr-açocrsta•senhoruu,como se pwe m,cra que a estrutut1 sóáo-<:eonômic.ido Esra<:.'ode São Puulo oco•
pela$ estathticãs de ~8?2 - oo n~grose !11ufatos "~vres" ú, berca, :lÍlltb hoje, ~tre111â e i11e!i:ôdve.lclesigüald,ide:uci,L
veram pela fre.ote o !Illlgran,e, melhor qualifiC100,mais cotado .Emboia o negro e o m.il.1coarareç,un em toéos os níveis e po·
e sc'topre preferido. Em conscqiiéncia, cstabel~eu-sc uma co~~ sições ocupacionais, isso se dá sem abalar nem núrigsr os pa·
lação que fez com que a imensifa:aç.ío do ~escunento <.-con6m1co drões seculares de dominação da "raça branca". Comp-.irandoos
~a,sa•se a beneficiar o branco - predonunantementc, o branco fodices desse quadro com a porcentagem do negro e do mulato
~e origem escra.1geira - e não o _negr? ou o mulau:, "livres•:- n.1 população I01'Ú (que era, cm 19.50, da ordem de 11,16%),
constata-se :1 persistência da conctntraçiio rcl,uiva da teoda, do
.
Tudo isso concorreu para qllC li suuaçao hutnana, vmculade. a
escravidão fosse muito mais duro e desumana em São -
. Paulo,
que eJll outras reglões do Pais ("'), e p:ira q~c a 1raos1çao pal'9
prestígio soci,il e do poder n-.ts inãos dos "brancos" ( ou
norias cuja posição n.1 escrutura sóci<H-cOtlÔrnica
ce
mi-
favoL-ccesua
a liberdade representasse muito !)OUCO como fonte de compen- r:ípida absorçio pefa ordem social competitiv", como ocorre com
sações sociais. os japoneses).
Esse aspec10 mcrcce ser cuidadosamente ponderado. Pode,se Apesar da extrema concentração sodul da reDda e do pres•
afinnar que o rrabalho escravo foi explorado pelos paulistas de tígio social, que torna a cstrurura ocupacional do Estado de São
modo mais eficiente e sisteJ!lát:ko. Isso não roelborou a condi- Paulo muito pouco "democrática" (ou balance:ida), o estoque
ção do seu agente de mibalho e teve conseqüências insignifi. r-Jcial branco participa das posições mais vanca.josas signific:ati-
cantes par-a o sett destino, quando re tornou "liberto" ou "ci- vameote acima das proporções com que concorre para a com-
dadão". O mundo que surgiria posteriormente, em função do posição da população total. O inverso sucede COJll referência
crescimento urhano-<oJllA...rciale industrial, não corrigirja essa à posição de empregado. O negro e o mulato, por sua vez, entram
situação; para que ele viesse a contar, parn o "negro" e o "m~- com qua.se 1.5% nesta posição; e concorrem, apeoas, com .3957
lato", era preciso que estes se tta11sfor.t:00ssemprev~meme, asst• cmpreg.idores (oo seja: 2,5% da posição), o que cestcmuoha,
milaodo atitudes e comportamentos d<>homcv1 da c,daàe da era claramente, que a tendência à sua subalceroizaçiio contínua muüo
do trabalho livre e do c:ipit:tfumo. Dal o qu2drodesolador, que forte, malgrndo a universalização cio tr:ihalho livre e a ie.'!:pa_'lsâo
ceICa a desagregação do sistema servil e a forOY.1çãoda ordem do capitalismo. Se construisscrno; uma disu-ibuiçaQ percentual
social compet:iciva. O negro e o m,1lnto, postos à margem, atra· desses dados. de modo a oocerroosa estrutura 0C1.1pacionalde
\'CSSlllll uUJ d,:ro pctlodo de Je;orgaoi:iaçiio social, ~ •pati~ ~ c,1d2grupo d-: cor, t.ufamos um quadro que ,fapens,uia maiorer.
de Jesreontlizaç.'io coletiva ( 23 ) • E os fracos índices de pat~a- comentários:
paçlío L-conôroica, social e cultunil chegam até os nossos dias, Empre- E1r.p,eza- Crn:ta Membro d,,
atestando 2s dificulcb<lescnfremadas pelo negro e pelo mulato gt:àor a'or~.r Própria Famr.i4
pa.--ase illtegr'1~m à ordem soda! com!)Ctitiva. Os dados do censo Branco, ............. 669:, 5% 16% 13%
\fulatos ...... ' ..... 76% 1% 11% 12%
~cgros ............ ' 79% 0,8% 9% 11%
(22) Pocl::-sc:1er =•
i~i• apro.ima<h co sist= de ,deçõe, lin?""
csp. II, r,a,sm,.
ranre em Si<.>Pilu!o atra"6< de R. J.hs::clee F. f c:r0;111des,
Al1Y.lte~os ........... 2}~ 10% 32% 35%
l4G 147
0,6 e 0,4, respectivamente, par& o ruuloco e o neJôíro.Doutro 1mc2,soci!ll e caltul'alrncnte compensadora, se~-t ao nível d:l eco-
lado, nestes <lois serores da população se acbam J.6,5% ( quanto nomia de ~nhsistênci!l ( cnmo sucedeu em regiões rurais da Bahi.-t
aos mulatos) e 22,4% ( qmnto aos ntgros) <la mão-de-obra fomi- uu Per~ambucu. estudadas a esse respeito), seja so nível <b
nina cfasillicnda em ss:tviço,, catc;,"'Oriaque inclui as empn:gadas t·conom1a urk,a ( com<>ocorreu em cioodes corno o Recife, Sa}.
doméscicas. O total de empregos nessa categ:oria { 6i 143) repte· vndor ou mL,smoRio dt Janeiro). Em co.oseqüência, sua pce-
sellta quase 21 % da participação tornl do nc:gro e do mulato M:nçacomo agente úc preservação cultural !oi aqui menos tele-
na estrutor-a de eiuprego da população (a qual é da ordem de \•.tnt<:. As única;; csforas em (!lLC aparentá algum Êrito s:ío a do
321 505 e!:!pregos, cl. Quac!ro TV). Pode-se ter uma idéia de ío!dmc e a da rclígião. Níio ubstante, até nessas esferas a pre•
como essa situação se reflete em onrros domínios, através dos scrvação ;Wturnl ontrs se associ,iu .to cstlmulo negativo do iso-
<11idos pertinentes li iusttução. Enquanto 61 % dos brancos e bmct,to terçado, imposto e mantido ptla c:scravidiio, que: tq>re-
74% dos :urutrelos se classificam como sabendo ler, <ipe'l1!1s 43% scnta o ;,redoto de um floreKim<.:nto espontâneo, forjado através
dos mulatos e 41% dos negros se ápreseowm como tal("). O de irn:enti,•os dinâmicos de subculturas em funcionamemo inte-
pior, porém, é que somente >2% da população negra e mulata, grado ( 21 ).
entre 5 e 14 anos, se encontraria se.ido alfabetizada (""). No N'a verdade, a ptàsão as..,imilacionista da ~ociedade brasileira
mais, a distribuição das pessoas de I O anos e mais, que possuíam 5em;,re !oi pouco favotávd à reelaboração interna ele culturas
em 1950 cursos completos, revela q1.:e as des.-antagens existentes d<! minorias étnicas ou raciais, nativas ou ,migrantes. O sistema
na cstrUtura ocupacional estão presentes, com maior intensidade de controles vigente na época da escravidão impedia que o negro
rel:iúv~, oa p:i.rticipação cultural segundo n cor { 2 •): pude~se recriar, no BrasíI, as culturas transplantadas. O rumo
tomado pela escravidão e1n &io Paulo fez com que esse farot
CtJTSQsCom:l11fdos operasse, aqui, com intensidade-limite. A liberdade não alterou
EltnU/Út!f /11&/i!, Superwr fundsn1entalroente essa condição, porque o negro não conseguiu
Broncos .... ' .. ...
' 1617 436 29765} 44562 erigir-se em porta-\'OZ de uma "raça" e da "cultu.n1" correspon-
(90,2% (96,39ó) (97,89&)
dente. No momemo em que ele tentou afirmar-se, não o fez
Mul.uo.s ' ........... )1585 1659 liO
ern função do pa~sado recente ou remoto. mas ele sua situação
( 1,891>
l (0,.59ó) (0,49&)
N<gIOS ' . ' ......... 76652 1879 95 de e,dstência intoler,ívd ('"). Suas rein,-idicaçõcs asswni.tam um
(4,3%) (0,6\ló) (0,2%) tom de protesto coleüvo, mas o pcotesto não foi aceito, enten•
&naxdos ... ......
' 6572} 7(,74 674
(1)96)
dido e roornlmente compartilbado pelo ''branco": isso cxigíría
(J,6%} (2,:>%) uma transformação radical nos padrões de relação e de acomo-
Sem d<cl. cor ....•... 2142 220 28 dação raciais, o guc seria dem:ús tanto para o branco das família•
(0,19íi) (0,07%) (0,06%) tradicionais, q1:an10 para o branco imigrante.
Tows ......... 1 793 .538 309085 45529
I:ntreta!tto, é nessa etle.ra que surgiu a maior e mais ind-
100% 100% 100%
sivíl contribuição humana do negro. Pela primeira vez í e até
Pode-se coocluir que, pelo menos até o presente, o negro 01,ora n única v<·z na socic-<lat!ebrasileira), uma minoria racial
não conseguiu, no Estado de Síío Paulo, lllllll acomodação econô- elevou o claoor de sua inconformidade até os ouvidos moucos
(24) Cf. &oe,,m:men/.lJGer,d ,fo Br4S:!, 19JQ, pp. 20.2l. {27) Se.i·la Jn~e,tcs~ a: cs.t.c re!ipCito,os tttbalhos de R
..,~te C:Q(l){l:tU.r,
(25) Idem (48 (,64 indiví.!•.l(Js de :S • 14 DC0S, entre os maàto!l, e lfastide, 1.9.5!1,
<:sp. a parte sobre • m:;rumho pau!istft, com os <lê O. C.
114 412, corre os m:~:ros,declararamguc oiio sabfam lc:r), ou sei•, rcspc:c:i-
Eduor<!o.1948, e R. Ribcim, 1952.
v.mcnte. 67,5 e 68% dos respectivosgrupos). O fc::n,1m.eoo ocorrin entre {2.R) So(m: ,,... rnovin1~mos sociii:s no 0ieio negro, O?CLU$est5o cstll·
oo bt-a= numa e,c,,J.,. =~-n<nr• meoor, pois, o.s~ limitts de idJlde,
46% declaruam qü<: s:,b:am b e 5.\S'<,ir.dk:u--,mo ccna&io.
cbd:u nuoikst:,çúes qc;e ooorrcro,n na ddotle Je São Paulo (cf. F. í-cr•
1.indc& 1955. vol. 2. c.,p. IVI. Várics íorni:s ncr,ro,, [>O.téo>, fOl'A!ll
pu-
~1 cid:.1d{"S
J.~im..-ios io inicric-r.e al51,1nsfo1:.1mpirxjC1_ros
na af!rtn3çãodo
(26! Dodos ""trúdos de Rec<?rue11m:::nrn Geral do llmil, 19.50, PJ>- ''pr<rtcs1:o n:gto:\
24·2~.
das das~cs dírige11tcs e <las dítes locais. A. e-nuca inerente :i
CSlletipo de proce.to possuía um teor constru'tivo e coerente coro 1t1 (\u-sc acima do seu passado e elo seu antigo senhor ao ímro.::-
o~ requisito; morais de Ulna sociedade democrática. Contudo, .,. o dilema da igualdade .rat:.al em termos jurídico-políticos,
o desmascarnmento de mitos muito caros p11ma sociedade brasi- t~t:io-i...wnômicvse morais. Não éeixa de s~.x si:nton1~tti<:o que
hist6rica surgisse e eclodi..,seem São Paulo ( 0•).
r.-11 ncce,;si<.l.1dc
leir.i nêo se fez sem algl!!ls ressentimcntos e alta dose Je paixão. ( 1>m isso, o 1:K:gronão s-: tornou, apena,, o tcpresent,;,,te d,,s
Embor:i o neg:o e o mulato vcnre~~lll a si próptios, impondo-se mlnori.n que poderiam prme~t.ar co:im1 foiçuidade$ sociai.s: ro11-
como nmite,; o ideal t!e fraternidade e de tolcrãncfa raciais, as vcr1eu..sc na pri:mciro pan.-cfodo _povo q:,e ex½,-iu, co.cio grupo
sWL~ afirmações de solitlaricd:-.de grupal e de autodefesa coletiva
r por coma próprfa, o seu c:uínbiloe um <lesLinoa viver. ProIJÔs,
não podiam scr aceit.-ts ,en1 rce.~n'as e oposição frontal. Era um
<'m síntese, o probler,,.t', da dcriocratc:a nos seus tc:rn,os maLs r,1-
dc,;afío, que inclusive us "hr,vicos" mais esdarecido$ e toler--,üucs ,lic:iis (: pro[uudos, e1n _face<l.1 lradiçifo cultur?J dos árculos
rcpudí,ivain como um l,'Tave t'isco ("ninguém pode segurar essa ,lítigentcs. Comr:a as ideologias e as ulopi-.t.sdomi.mmtcs, que
n~•a<la", snpuuham, se negros e mulatos tomassem a si mesmos mascaram a rea.li,fac!c e prodamam ç1ua ii,•ualde<le que eão existe
<>/!()Vernodo seu dcstioo social) ( '''). Em suma, um muro in-
ou moa liberda<le que não tem conteót!u hi.stórico, clc OIJÔS
traus-ponível, comtrnklo de ~oismo, indiferença e exasperação,
11mnmensagem, em sua cssênda cristã mas :ia for.ma liberal, de
impediu qualquer comunicação entre os movimcmos de protesto
pum fé na civilização vigente. A~si~, não ~or:un os represen-
do negro e a sociedade inclusiva. Eles acabaram desaparecendo, tantes das nntig,ts dír<>.ssenl~ociaisnem os descendentes dos mi-
deixando atrás de si um novo folclore - o folclore do negro
da cidade, que pretende a "Seg,mda Abo!içiin", isto é, tornar-se gronres que tomaram a si a autêntica defosa rnílita11tcdos valores
cidadão e igoolar-!e ao branco. [unc!ameutai, d= civilização. Os q-ne a usaram, para concreti.za
a rc\·olução bul'gu~ omitiram-se diaote de: tais valores e do que
É ,ú que se acha o legado mais si1tn.ific-.1tivo do negro i\ clcs deveriam represemar pa.ra inst,uir, equitativamente, "o tra-
civilização imperante em São Paulo. O observador estranho ou
baJ.boli:m: ;:,; Pá!-riaLivn:". Foram os qu~ ficaram à rna:gem,
~uperr.ciel sente-se tentado a encontrar cm outra pane os "êxitos
esquecidos e nc~dos, que se tornaram os c:nmpeõc.s desses ~-...-
marcantes" do negro e do mulato {nas realizações, por exemplo,
!ores, ,ICa!entandoo sonho mópico de que a dviliz.ação aperfeiçoa
dos joiadotcs ele furebol, dos composícores, músicos e artistas de
rádio, televisão ou teatro}_ Essas rcali1~1ções,ú1<lependcmementc n natUieza fori.01ado homem e extirpa nele o lobo ou o cordeiro.
de sua enorme grandeza e importância, tem um significado muito
disa.11h-d,como fatores ou como meros índices de ruptura com o
passado, pois elas funcionam segundn ã '\telha fórmula da exceção BIBLIOGRAFLi\SUM..,úUA
que co.11#111111à regra. Elas não contribuem, por isso, para modi-
ficar \-clhos estereótipos racfais negativos nem para romper com 1) Fontes PrimJ,ü,s( somaue as ci::tdas no re:sto):
o padrão tradicion~l de suh:alrerrL½mção do "homem de cor" (3 6 ).
Aqttefcs movimentos possuem outro significado, porque indicam Aét,u D11úma,a da V;a,, dt São p,,,,4, (1J%-:622), 'Ptrblicaçio o.firu.l do
como e dentro de q,,e proporçõe1i, negros e mulatos ;e afümar::un ,¼chivo Municip:tl de S. Po'Jlo, D:tp!at & Cio., 19lJ.
como parr.e ele uma coletividade, e.-cigindopara si a mesma con- 1\i•qutvo do ú::ado de Sfo Pau!<,,Vol. XXXl,
l>,,c11m,r.loslr.terc,s1;11Jes,
dição !,,,mina dos homens chs c11sscs altas d.1 raça <lomin:1me. S. Paulo, 19()1.
Um povo só se identifica com certo padrão de civilização
qcanJo o põe cm práúca de forma íntegra, eguii,:tiva e intrsn-
slgente. j\,.fa]g'!'adosu2s orige:is rústicas e humildes, o nqito (31) Isso 1>:ios:enifico. qu: • "gente cr cm» ruo tenha orz:11úado o
JeU pro!l'5to em Ot!lr.l.Sregiões do V..ís. O len:'=cno foi rdstiwm:;;.1.1e
:mi-
\lb:tl llâ a,cicxfadcbr:uCcirn. A;::oias e~, Sio P•ulo. por.m, su~~ ~
,•imcntos occi:aissi:ttem3t1C'Os e ~ue dhc:cpa:nrn d:JSm.o.nifc:staçõcs
to~t-riuh3
: 2::J) E-n F. Fe.m.a;..id..-s
(tnc. cit.). enl":.,ntnm-se
aeL"'l;il-Os
a res---~i:o. 1t>1)~C'T.tSUalmcnr.c
.. L~Ç!U'!rlo os mr,r1S da 001mmlé:.& icc!~l.):1,--a
e criando
1 a r:,speiw, J. 13. Bori,= Pcrcirn (es;,. l>fl. 93-23?).
!.3(1) Co,-_,u'.tc-sc 1urifusões.p2t3 cla, que::$C
\'Í.\J {o.rç:sd, a 1·otul:U<>s,
pelos ap-arênriu,,co:no
K' fossem "ntAni-fcs.ta~ç
r(i('.::sh:~.
150
151
R,I<ii<i1i.?
Aprest,:r::da o¼ AsumbW:: G ~ra, r.,: Seg11r.!t11 Sess,o t!:: Décu!f11
º""''" LegJ.sl.'li,,,a{>tio ,\{i:1?.m, e Se-.:reJ.mo de F..Jt/SIÚ>
d-,, N~-
gócios do Im;,érió P::uii,:c ]o.ré So,:;re,de So:,z,:, Rio de Janciro,
Jl Obra. de Reconstrufiír>
1-Jim'iriu:
'fipogi:afia N•cioool, l 870. All.NEOO MARQUilS, M•ood Eufraúo nc, Apo:;ê,mentoJ HistóriLns,
GelJ2,rip!::lco.:,
Bl!!t.r.fyhir;c;;, e Notickisn;;Ja Pt(Jf,>$,:ci,;
'f:,;111r!rt:i:os de
KelaJtrio e Tr,tbdl,,,, füt&!Jtic<>s ,:1,Timo.e E,m:o. Sr. C,ms,.
.4;,1eso.i11dos SJo Pc.,do, Rio dé J•itciro, fypoi;:"t'hiA U1:J..·e-r.al de Edt.:llr<!o&
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;,ek, C,,:,;i.nifo d, Es1~ti.,1;c11Com;osta dos Stt:.forts Dr. Gêr.ós e Letra,
Rádio de S,io Pil\Co,.',is, F,::ulda.de d:: Fil('ISCfi.J.,
EJitJsPacb= , C!,c,,•,r (Pu.,ir.e,:$e), Dr. Da.'11in,.o;José Nor,1<dr11 da l;oiw,r.,id.,d: de São Paulo, S. Pmlo, J'K-6.
].zgllllTiheFiJ!:-c, D,. Jonq:Jim Jo,~Vieira de Ct:zoalhr,,l!,:ienb<-:ro
Adolpbo A.-g,mo Pi.eto,Abi!," A:,réiio d,:;Si/:JaNi:rq11tr,São P,11lh, BUARQUC DE ROLAKDA, Sérgio, Mot:ç,-cs,füo de J•n<:iro, CllSá do
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B.,feN Sr. M,:fe,t/11M.-<imi1.'a" }m~1,b l. K6,,igs .C-!t lJdi<r11in deu P,{DUA, Ciro Tass.u-a,O Negro r.o P:'a11"1.la (Do S~<> XVI ao Século
Ge<lruektbci M. Lfodsuct, 3 Vols.,
]4hr,,, 1217 biJ 1820,J-.·1,-.nd·"", xtX ), sepuat:a do Volu:nc )X <ia Re,,úfq do fo.ttitJUo Hilt61it:o •
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152
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5&,Jo (182:>-!922)-,S. \>a-oi<>, S«r<-1ad, d, Agrõmlru.:s, Cc,mérdo 1\ccu.!1un1ti(..,,Sc:anlc, Woslün6 :<>n,Unive,..ity nf W•shÍlltton Prc,;s,
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I't;ctl'Js de EditON e Unl,-enili<k ile $.o Paulo, S. P.,,to. 2 ,v::S.. 1.965:
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Foc:maçííoS<,c:aJe Pclítlcà tio Brm<l,l{i<>de J~l"ltiro, 2.' é<l~Lisra:ia pp. 5-56; '' Ascendéncia <l,s Q-i,,nças Registu<.las r.o Paeqi:c bom
José01,mp:o !1dô:001. 2 ,ills., JW2.. PedIO lf", Re:1is1~do ,1,qui,;r, /tfrsiricir-:,/,S. Paul<>,A,10lV - VoL
'J'AL:~AY, Aüocs<:de T:.:Siib!id":os ~•.1raa 11:s:úr:·.;.
do Tr#fto A/ric~.'1/J n,., JC'L--OX. 1931, pp. 261-274; "Orig,,m w. Po;,ufaçiio da C.i<!sdcde
Br.isil, p".ll)!iaçio do lnstit..::u His.ü>fic-0 1 scp:l:~ta d01. Ar.às d:> S~o Pau!o ~ D:forcnciaçio é.:s Classes Scciili'", &z-isttt t!.r,AT,,uiPo
'r e=ito Cor.fl!àso ée lli,;óri; N:r.iur..i, ,-cl. III, Rio de Janeiro, ,',f,mi,;ipr:1,S. P~u!o, Ano IV - Vol. XI.III, L9}8, ;,p. ·155.212;
Imprensa Nacion,t. 1941 ip;,. n~~,6); Hi.r!lírw Seiu:e,uists da l:1Ji:_.,açJ;r,
i: Crrsâm~r.!o da Popn!.a~!I m> Es.:&doJe .S&1> Ptl!l!o:
'li!a ü S;;,,Pc!i!o, S. Pan:o, Tipogra.í:,1Id::al, l lci,et Can:oo, 4 v<>ls,. 5. P,wlô, E,,:ola Livre d<: &,cioloai,, e l'c,lftk:.,, 1938.
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Joooco, Dcp,m,rncn,:> ::-.'lldo:131 do C:1f<,19J9. LYN,'<~.\HTH. T .. Br.wl: Pe,,:,I, ,md '"·"ít,,;im:s, futon ROL-ge,
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'PP:t!oD:G:'did:.e1r. D::as P:rrta e ✓1Cfl'm~'1~'a de Duas Plt1..11tas S. P,,u!o, Co-
!-.11Ll.tl;I',S., Roteiro :lo úfi < Outro, F-m,,i,;,, }.' <.,.]iç-;'io,
GrogqJ>bi<atIr.tcrasa.:;ttr e Po::.,ns Vt1>i.;;rts p~ra.1L1vir r.a Pa,u [cç:lo Dcpwan1ci)IO de Cukora, 1941.
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.\IDCCC:11), Dafa, Imp=isa Oficial <'-<>fatod<>, l'J}5. Kcdxg e ou:x,s, Sâo Paul<>.Dif~õo EL--opéiado Ltv:n, 19,0,
ZE.iELLA~i\•fafalda, O Ab~teei,-.-zeu!odas Cõpi!ü.11Í!1.t das }rfir.~sGeré.s !!O NOGUEIRA, On.cy, ~'Ré!ações Ráciaí, no Mur,iópio de Ii.;,etini~". :11
S!cu!,, XVIH, :BoletimN.• llR da Factildlld! de filosoé:s, Ciêcci:is t:nesoo - AolJ.e1::1bi, ReldÇ&,sR,:_c;,_,,i$evlr, Negro, , Brsr_,,.,, ,m
e Leaas d, t.Jniversid.1rle ti,,,. São Paulo, S. Paulo, 1951.
São Pa:1/o,S. P,ulo. E,:;,.,,.., Anbc.mbi l.têa, 1955, pp. 362-5.54;
"0 ~:isol"itr.e,:uo de Siio Paulo A:r ...•c:sde (n<!.:c:c~ Demo~,
,; j E.rtudw Ecatrf.micor, fut::tís<ico1.,lr:1rupt,/6gicoso,: Sufo!t!gicos:* Dt:n6graío-Sanilál!O$ {•Vitiis'") e Educa:donais lU·::ina êe A:itnt•
1
',
155
E1.f BUSCA DA DEtvlOCRACIA RACJAL
emJLO
<'.A VII
CitNCIA E COKSCií::NCIA
159
mais de quatro <!t'.-cadaspar.l qm: isso succdesst. Nu enunto, <)S
• • • 1 u • u
mov,tnc.:ntos socia:s co meio ne-~ro trouxe-ram, co1n a contra .. couuibui~iio c!o cicmistn soci~l p,lil o alarg!'llT.i?DIO
t o aorofun.
-ideo!og:-a e a c:ootta•utopia da Segunda Almliçífo, um autêntico da_meot?&\ c-oruciên~-1: ~ocisl <la r~lid,idc ~ni<lada; o sq;undo,
fo1 escuto P,L"a a cdiç,,o C'Qndens.1da,cm inglês. de um livro do
~mascnramemo da hipocrisia racial conservadora e uma afit-
1nat"ão pura do tadicali~modcmtx-r-.itico in1egral. .PelJlprimeira aucor ( t) e es~a · UTI)• C:1racreri:,.ição global de nossa situação
vez oa história d.o Br:asíl,a democratização das relações l'aciais de contato raoal l e ooque parece ser o seu principal pomo é.?
foi equacior>.l!Ôopelo "negro" e pclo "mula10", embon, nos limircs contrasre, <'?m rctcrê~ia ao que se pas.<a nos Estados Cnidosi.
da eficácfa e da legirimidadc da ordem social consrinúda. Ambo,;os livros suscit.:11numa rcflcxlio fundam~tal: h,i 11m pro•
/Is pesqu:sas rodais sobre as rdaçõcs raciais surgiram depois fundo e terrível hiato entre as técnicas c!e consciência social dos
desse evento, isto é, d~pois da cfcr,..cscência e do rápido amorte- problcm:is raciais br.1sileiros e :i.~ técnicas que são =prcgJ1oos
dmento subseqüente do "protesto negro,,_ Por isso, elas ga- para fazer focc ils suas conscqümcias ( e não para e11fr~1,tá-ws
nharnm uma <.vzexão ce sentido típirn: tinham, como ponto de e resolvé,lvs, pois eles c::int:nuam ignol"tdcs nesst nívd mais oom-
partida, as cl.aboraçôe$ oficieis e obnubilantes da consciência plexo de intervenç.io ). Ko primeiro plano, a ciência concor1·e
tocul conservadora, e a; el:i!>orncões mas cscfarece-
diverge11te.r para dcmonstNr a ,•alidaclc e a consistêoci.i do "protesto negro"
doras da contra-ideologia e ela oontra-utopin raciais, difuncl.idas po°'!o em evidência as contradições que existem entre as nortru1;
pda rebelião dentro da ordem dos movimentos de protesto racial. 1dtais e o compornunencoderivo na esfera das relações raciais.
Mesmo a pesquisa de campo mais neutra e estreitamente descri• No segundo p!a':o, porém, a ciência permanece igoorada: os pro•
tiva não poderia esc:ipar ao confronto de representações tão blemas mdms sao ooogelado; ou. então, se proclama que "e!cs
eJttremada..<neme antagônicas. Qualquer análise de inconsistências 11ãoexistem". Em conseqüência,o conhecimento acumulado tor-
institucionais, de iniquidades sociais fundadas na desigualdade ns-~ i~produ_ti"?·. A consciênciasocial é "esclarecida" pela in-
racial ou de dna!idaces éticas, operativas ao nível da acomodação ves_ug;içaosooolog,ca, JllJlsnem por isso ela se propõe o impe-
racial, te1i.a de Jcvar em conta as implicações desse oonfronto e rauvo de uma transformação radical da realidade.
SI:!\ significação para o componamemo coleth·o polarizado coroo Isso signific.1,na verdade, que as forçassociais empenhadas
divergente. O que é importante ressaltar é que o coodicioll:I• na democratização das estruturas raciais da sociedade brasileira
m~nto exterior expunha as pesquisas sociais aos dilemas do meio a!nda não ~ã? 1;em muito fones nem muito organizadas. .-'I
ambientc e às ?ressões alternativas das opções em presença. O snnples negl.igeooa de problemas cultocai;, étnicos e raciais numa
conhecimento do processode democruização das relações raciais sociedadenacional tão heterogênea indic-.1. que o impulso para a
inseria-se, de próprio, nas etapas hisróricas do processo, tendo preservação da desigualdade é mais poderoso que o impulso
aSlim de r~pondcr a03 requisitos intdccruais tl1llto qllllnIO nos oposto, na direção da iguuldad~ CTt:Sl=t~. ()ua.ndo a negligência
requisitos práticos da transição para uma verdedcira demoe&1cia emerge em um contexto no qual seria fácil fomenta, o trata·
racial ( 1 ). mento racional e programado dos problemas culturais, étnioos e
Aqui estão reunidos dois prefácios, que situam n in,·esti- raciais, e ero que já se poderia contar com recursos intelecrullis
gação sodológica diante dessa problemática, com (]\le nos defron- par" submeter a controle pelo menos certos fatores de margina-
tamos por causa da es,rutura e dos dinamismos da situação racial lização ou de udusão ( parcial ou total), fica patente a resis-
brasilcira. O primejro, foi escrito para o livro de Fernando Hen• tência à aceleração da mudança social progressiva. Estratos
riquc Cardoso e Octavio fa.nni l 2) ~ ressalta o significado da sociais_ fortemente idendicados com 8 prerenre es\Iutura racial
da soacdade brasileu-a estão empenhados na reprodução das desi-
gualdades raciais existentes, idencificand~se. con..sciente ou in-
(l ) P= uma anúfüc cb., a>ne.ti;es,Lu pcsqtú= reali.udllscooi os
;,ro:iessosh:scoó.-osocu:>,
vc;.."" O. Iruuú, JIJl,as e CJ,mcs SQdais no consdcntcrncnte, oom a perpetu~çãodo s/<1hts quo racial. Pondo
Draril, Rio de J•nóro, Edi:o:ú Q,~ ll..-.silón S.A., 1966, pp. 41•i2.
(2) F. H. C..rdo<oe O. Linni, Cô, ~ Mo!Jilida,!,,Soci.tem Florom6-
p_~fa.A,pcc:o, d,s rdaçõcs e-otrt ix,~ e bra.-.cosnUIM comunid:u!c do ~J,) r:. ~cm:mdcs.Tóe Negro fo Br;;;,i!~
.., Soàr-:ty, tramfa:t.cd
b;·
Pe•Jlo, Coo!~
tsrsril Mctidiooal, S->.<> Edliora Nscional, 1960. Jacquclinc D. Slciles,A. Brun='.,and Anhu- Rorhwcll, cdtteb by Pbvllis Jl.
ll,-elcth, Ncw York and Lond011, L969. .
160
151
Jhcurson. Ele aponta também ~ra ;Jtna mafo.r congrlXncia entte
o seu prestígio nã bwçn, esses estratos decidem quais são as
ci?ncia e imervenção n1cional. Impõe-se que as remie-as de inter-
pc.liticasncáouais "necessárias" e transferem a democracia racial venção raciorutl acoiupanhelJI n evolução da consc:ênda social,
para o furnro remoto. eliminando-se o ponto morto d~ neutraliza('ão prática do conhe-
Esse é o ?3ra<lo~o que não conseguimos vencer. De um cimento científico.
la.do, o poder ronservador barra, atraçés ck c:fcitos estáticos, a
Toda via, semelham e desfecho retjuer 1ll'1Íor cnvolvime:,to
~nsibilida& do sistema político diame do dilema racial. De coletivo do ('negTo!-', ~o Hlllufoto,,e do ubranco~• na conc.leo'açâo
ouiro lado, os g..--uposnfemdos - dos qu.1is n:io se podetia folar
em núnorfas, como r.os Estaéos U1,i<los- estão .iquero das de formas exU:ernosde desigu'<lldsclcracial Os homens só tr3•
rcbçõc~ de poder e do comrok eh influência polltica constru- balham po.r uma sociL-.i1c!eJemo.:mtica qW!n<lopossuem tUJl senti-
tiva, éireta ou ir1direta. A., liuhas igrnal.itánas da participaçlio mento profundo do ,,alor da democracia - não em um sentido
sócio.eco.oô01ica, cufo.u:al e política, na esfera racial, são rele- ub,;ttato, mas de modo concreto e cm roda, as dire::Õ<.-s simul-
g.i<las ao cre;cimento es;:,ontâ::,coe ao 37.at. Tem-se por certo tâneas. Uma sociedade:: cliústa produz pofüicas elitist\s e as
que efas ncsharoo vi:lgão<lo. M-as não se procura intensificar os aplica, se necess:ítio, de fOima autorit:íria ou totalidria. A de-
,.riuuos da história,'. l)e novo~ o egoísmo reaparece e Jeddc mnenciarr.cialapar<.-cc,
cm su.1ronsciêncb so,ial. comot.:ma con·
as orien.:.~ções dr comport,1mento das elites no poder, pois não trafração e um efeito retórico. Por isso a tr.u:siçiío pua uma
há :m:ita diíeença enu:e o que estamos assistindo e o que (;zeram ordem racial democtáÜCll exige uma ruptum profunda com o pas-
as mesmas elites no período final d.i <les:1~regação do regime s~do. O passado não uos ensinou a respeitar e a am~r o "negro·'
escr~vism. Em20, os destituídos não foram comcmplados n~s e o "mulato", corno nossos irmãos. Ensiron-nos o oposco. Ele
1:1mbému:io nos alertou paro os riscos do ei;d.smo, coxebido
<lik:·entcs "polítiClls" de oce)eraçiiocbs mudanças sociais, 1odiis
~o::,irui, 1-.arnos i1:tcrt-sseseconôrr.kos, culnmiis e pollticos dos e aplicado como nm c~riJo d~ vida. O par,,lelo com cs F.srados
Unidos merece um• conside.r,1,;nomais profunda. Se a i:;oss.q
est:Ntos poderoso~ e privil~i:>dos. 1
experiência humsna é realmente umais bt;;11.r.1ul, porc1ue não à
1:tpreciso imisili sç,hre es.,e pmdoxo. N:,nJ,wna democracia aprofundamos? l'<irçm: 111.'Ultemos diaate de nossos problemas
será possível se tl\'ennos uma lingu:igen, '':tbcnaº e \IM com• cnlrurais, ~lnicos e raciais uma atitude de cegtt incompreensão?
purlamenro "kchado:•, O faw de a,, pesquisas sociais avanprtll> Se fiZL-rmos o paralelo até o fün, verem~ que, no; E:i1atlos Uni-
até <IS Iro:it~.ir~.sdo clesml!SC11rnmcnto Ja n<)= "constituicão Íll· dos, houve om esfor,;o muito mais ooncrntrado e P,ig:mtesco rara
tima", com<>sociedndc nacion,il, e ru1s nossas técnicas ·sociais se equacionM e, <k111ro das con<li,~ de urna soc:<:d.adci.!ldivi-
estarem na idade dn "~-u.ltw:11 tradicio:ial" constitui um fato cho- du1lista, se resolver o "dilema nicial", Todavu, os resultados
cante. )iíuma et<l em que a a,;,aliaçiiot: o ""'' do, rcc11r:s05hu• atingido., foram mocteslOs e o contlito rac1:tlrornrn.M,co cal-
manes denm1 1-Sl salm revolucionário, JJÓS nos apegamos, obsti- canhar de ;\quiks daquela supeq,otência. O que podt.TI!OSei.-
nadaJT\e:itc, a proced:meolos ulrrap:,ss:tc.'<:is• dcstrnrivos. Como pcrar, negli~enci:mdoaté 0$ providências mais ele:n:"iltarcs e igno-
_1.,ode.mo Br:,sil entrnr oa C!ltegoria de paí.s de 100 milhões de rando o que é 6hv!o?
habirann:s:co1n uma c::;tarurarêo pequena, s<..-mmesmo contar
com um esforço o:ganiza<lo e o ic:tc-nto de possuir políticas es- Desse prismn, (: inteiramente falsa a avdiação ne2ativa da
l?ecinis, adequadas n solw;20 dos problemas culturais, émicos e contribuição dos ácn1b1,1s sociais, lJL>C ,;f.m i1>sisúntlo sobre os
raciais de Sllit popckção? f. romo esperar que a democrociã contóroos espt!ciâis ~ nosso dikma racial e clamam por provi•
rRcinlse L-Oncreti?.e, sem t:ue se criem ta!s polfricassegundo prin- ciênciaspráticas que estejam :i almra Je nossas ilusões. Tais
cípios que facilitem • cre..«:<:11.te participação econômica, sóc:io- cientistas não estão "criando o problema entre 116s",coroo fal-
o.tl.tur•l e polític,, por parte dos grupos ou categorias cultu.rsis, •amente se assoalhou. Eles apenas tcmaram equacion,u proble-
étnicos e rncfois excluídos da inl~~rnç,io nacional, t'.m virtude das mas que são cenrnri., pant o foturo do Brasil como Nação e como
fornu,s existentes de dcsigualdatle econôaúca, sócio-cultural e ,lcmottacia racial. O mal não está cm que eles tenham tido ,1
política? Por ai se vê que o p:m1doxo aponudo não envolve coragem de afrontar preconceitos arraigados. Ele procede <fo
apenascomport,1memosefetivos q:.:e honrem a nossa "lógica do indiferença com qnc os resultados de suas im-estigaçõcs foram
163
152
vei,o d" JesiF,1.,akh1c~ e t\2, cfiltrença5 Je oporrun:dade, c:ons\!-
:ecebidcs e d·,1corti11nça irra::ior,,; ,r.:m~ cre~.t inve:-os:<ín:el:J~ do passado. Em
llr'.ldas ou 1uanti,fas pelo. orJem soc\Al.hc:_r<loda
CJUC se pc.-dee."1.rair , der:oo,roci:t rru:ial é.o n,1Ja. F. muito mais rt'nseqiiê:!cis, ns ,lllçogad~-sd~ tradiçfo se fonv.itterr.. insensivel-
f~ícif.para wna :\:~o mud.êrna, $'el' a_,tidi.'IIlOCrázica que dcrnocrá- mente, cm o:)siá.:ulo~ vivos à llni;:antação da IlO\l',l m·::niali".ade,
nat. &1 toe.la ~ . pane .. uut Cl):1tC'ltto .:u.1titl~n.-«l'llticoé quas~ requerida por llill pif5 que prcteô.ti~luta.epela it1dn.,róli1.:?çâo,
s<:mprc uW;J.IC:ltena ck swple, prcscrv:içfü, o,., d.: fortalcdmento pcL\ d"1ll.ocratiza\:oo tia tique;-..a,,,. do poder e pelo progn::sso
do .sfo•:ssquo. O uiesmo ttãc su.:ed.ecom o ests.1belccim.t!!-lo <le .ncinl
urru.t~ocieds.dcc1en>úcrática.E.srareq1u:r~ cumo ~s:so prdimirHr, Esre pú!ltO pred~. scr Jevidan>entc r~alta<lo. E v.rcriro
ª.rupt:>rnoon, o µass,100,e cl•:i:10poo--cs,;odccish•o,um3 rc:volo,.-oo que se cenhaem mente que o prccor:~itu e a Ji.1crU1:,:!Ui;ÜO nfü>
~entro da Ot\~Cm ou co::tr~::t cr-d.en:,que crie padrões dccivos tleguu,1m llclll os ,;(:LI$portadores. l\~1 3S suas vítirons. Ambos
cb :'".aliaç.ãn
e _dea<;ão,le.raocrátk-os. ,\o que pa.-ere, os cientista, s~ ~~rcs::iÓe$ & mi111ein\ pela Ç11.13.l ~t 5oc:ied:U:iee a cuhura org-a•
soa.u~ l,,a_.,Jci~os ~~.r:u-naté os limires nc s1.:a re;ponsahilié.!Je nizam o comooTuunenb) dcs sercr burnan.('IS. Tntegram~~ 1 escru•
propr,ame,-:te acnutlca. O C!U<:prele11dism e p:ete;,dem é que o rural e diDamic:arrmlle, no hom<>n;ei~tdcct1>0ldv$ home!lS, de•
, ..rlOHO r,:-ob!e?J.ta esckr~ddo e res.olvid.o,~egu~oo O! cri-
•; s-e-.ja tcrnlinn...-:.do
s11as fonnes de oonc::cbera~ -pesso;~t;,~eus áirehos e
térios raciona'.! da 1,enson'.cnto científico. dever.e:;;e: sua po~içio D1 :-;(IICieb:.& em que vh;'et!l. !u c.onvicç~
rdig'mas <los"br:uxos" e e,, danc"'se:o.i larc~ elos"negros" e "mu-
latos'=, g;an:h1osa convicções éa 1T.cSina e.spl-c.ie>
criaram ambien:e
para o flore:scin:e.ntoé.e avaliaç-õ~ e:t:Joêcn.tise rnornis que CO·
locam os Jois temas ctn ,mos de di,cussi!o proib!dn. Ora,o ~ic.n-
O proc~reS$O das ci&ldX> sociai~ no Br:1silvem se refletindo ústa ~c..'Ci1ll çom o ilSSuntone:;te nh•et que ?:-tn1
n?io ~e pt<..-OCll?:?
de modo extenso e profundo no çolume e na qualidade das inves- de é c:tnocénrr:"c -...de 111/llct:ramesto d:.s coiMs, de respeito s~
...
tigações sobre relações étnic-.lSe raci,\is. Semelhante tenJêt><:faé ronv-..:uçõ~se de pn.:serv?.Çâo chl ~'paz Jon1ó1:ica •>~ C'Of'\O &fa1.1
mcito :,atura.!, pois o nos-so pafs co:1scitui. como se diz vul&>r· os CD$a!StllS braiilciros do sé.:ulo XIX. Ao proceder à an~l',c
mcorc. um cadinho de raçaY e d~ culturas. Ain<l..1. qne tais in~es• e ü caracreriztl('".lo
d:is siruaçõa, e1e nio conde.nanem o "hrar100·•
tig:açóes se r,ropunbam mó-..-cisempíricos e teóricos - até o pot ter prc.concejtos, nem o uneAroe,! por suportá•lus; ele lt\nl•
prc:,<ente,rodas das foram cmpt.:éndidas ·ww o objetivo de ~u- poucó se :nstLr-r,econtta mo!lif~t•çóes mlis ou meoos disfa,.
m-::otar nossos c-o,..ihedrc"'1tossobre as diferentes situações de
contaio lnter-étdro cu racial, c-.ira-:ter'.závcis .a~ sociedade bro-
çadas cedi,cri,-ni:uçio, 'l"c mantfan o posição ~ominanie ê<:
un1a '"1zçc.~ e a posiç1o símdric-t1rncnle subordinada àe our-u.
sileir3 - inifüetauieme elas satisfv.cm ncces~idndes práti..--ai ~
afc-ancecolctivc.\. Njngnán ignen,-1.
o quauio a heterogtnei<l:.tde
Líroita-S<:a º""'"''.como, = dad:15condições ocOrj(aciz,1çio
da ~ccicdaúe, t.ab cois.1s podem dru--se e p,,clem perperu.1r-se.
cultural e rnóJ afetou, está aier,todo e runtim:,uá " att-tar as Doutro laé<i>rxJc e,tn cvid~nci.a o que ~n.os C$tc...-eóúpos.., tl\'8,~
possibilidades de t!e;e:wolviccmo <la "civiliza(ão ocidcmal" no lia,&<, padrões de ccmport~mcmo e valores suci~is represcnUlll
Bn1SH.Sob esse aspecto> as. quesi:Õe5 pcrti.uenre;. ~ ~sunto como obstác11iosà m1x!aUÇ;1 s~,w. 1'cnbwna ordem social seria
possuem o car.ít.er de prob/ro,a ,;acion.t, o que confere às im·es• tão pc:fclia, aos ~hos dos senhores de escmvo do s6,u1o Xl.i(
tigaçõcs n:;;tlmd!lliou em curse, um in:e,=sc pr.ít:.co iniludível quanto ~ <lasncic<lade cstt~w>erata e ;cahorial bra~ikira Ja época.
O p&,lico l~l(O ncrn st:lllp.te:ttcnro, convenientemente. parti Mesmo ~ es,~ravi<lãoerl\ de.finic'.a.como um be1J1,que daria aos
a mencionad,1signil:icaçãodes,;1sinvestg.,,ões. :Estamostiio ron• c,;crnvosconforto. seif~rnnçne ircios morais. Os que se opt,s.:>r-a.ro
v~iC..os de que ";o Rrasil consl!rn: \1ma democrs.cia racial'\ que .Je..~ta\.·:JãoJ)CZlsavnm
c.:xat,;n:cnteo contr,trio e t:O..'-'iilm
em vishl
aplicamos mal lllesmo as tc-gra, éo bom sa1so na as-alio,ãorlos libertar e;,-x:ci.almentc
o bra!:!Oculto e ab:ist~.do d.is pci3S pro·
resulw!os a ql1e chcgat:1 os i11,..c.tigl1Jores. C<Jm reras ex,eçõe.< d1rLidasí)c!A
e.<.era,,jô~. O rroblernocuntinna e fOi:S!OO-O ideal
•
quest10nan•se --' • à 1uz ele ~.rgnrncntos que outra coisa'
os rcswtaoos brasileiroi-e uma <lerc:m.u.dasc.<:-.l1.,
ad:na mc-:--:no
,fas <life:rer~ts
coofzzcm ,enlic justificar e defender as concepções econômic;,s,. eLnicns e =,icia.:s,I: o ic'.ed e,~ elevado qt1e uina ç,:,letivics.d.:
pofü.ias e moroil' das ctJ11adas sociais lJU.: s,:roprc ti.nu:un pro-
165
164
dos países int~rados nn órbita <ln civili,z~o oci~~t":1. O que
chega a ptopot-se. Mas, p,1ta que ele se concrcti2e, toroa-se indis- (:s1ilem jogo ooo é apeoos a nossa poss!Dlhdadc ue_1mnar povo,s
pensável sabet o que o <letér:ina vida cotidiane. "rn,üs adi:mtadcs" ou seja, de reprodUZ1.r01oso reg,.,,e dei:io=-
Ai está o sencido mais profundo da contribuição positiva 1.icocom cstilO<S de viéa correlatos, tal corno de pode ser 1de:ih-
do cientista social. Ele não c-"...;Jsura
O<Sagc:nks humanos, sequer 1.adopela experiência h:stó:íca dos J)O\'OS em questão. JI,~,,_a
em teri:ios dos valon:s qu.e sexvem para ju:;tifkar suas ações. pcrspec:tí.-a de conseguirmos esse inre:ito ;ct:1 ;~n.fas c'_'i~r•_Ls.
Tenta, somente. rnostmt o grau de congruêocia t,tisleote entre D.:sse insulo, preci;a.:nos e.s.tor ••:e~ros a un•~ l:x1genccas
as açfüs e os .-alares soci,tis. i\{uiuis vcr.c-s,as omissões or.oni- io~e!ettJai.Sdjsdntas, igualmente 1mpos.1uvase croC!atsna cena
das na ohscrvâncfo dos valores são h-eqii(.•utese dau10ros~s; o histórica buslkira. Primeiro, cev~mo, conhcr-et mdhot o qu~c•
que não in:pcéc que o, agente; b.:n:anos iir-,on:m ou dissimulem cm noss.1 l:eunça sódo-cultuf'"d, é :ncomp,1tível com a conce;)Çlo
esse~"º· Analisando-se as cond:ç~ cm que isso se cLí,constata- d~mocr.ltica çs vida e com a únr,lai,ta~-ão e.lac!emocr.<cíono Brasil.
-se que os agentes atu,tm cor.victns e'.,,própria in:eg,riJade, 010- Mdt(lS siniplific= demais e,s:i quc-:;tão, pens2ntlo que o proh!cma
viCos por moti\'acões que o~liter::m o rcconhecitre.010 objetivo ce
esté :,ex; h:íbitos mando e nas perv:,tsões do uso êo poder pefo,
da verdade. Ketn po.c isso as ir.co"j\TUÊ:lc:asdeix;U!l Je ref!eth- reprcsenta:,ri:s do parrirr.on:a!ismo ~<>velho e.scilo h:~o-~r-asileito.
•se no gra,, de integra,i!o da ot,:'em social estabelecida. Con- No cnta1to, a questão é bem m.~is com?lex'1. :ó,.os háb11os e cx-
siderada:1tt~\-és d,lSformul,içõesideais., objeth.,adasculturnlmente, pcct,ti\-as d,: niandn dás a!!t~~ ..-:amariasdrnnllla.Oces corropon-
a orc!em social é uma; encarnd• <!través dos cotopoct,unentos ma- dem h,íbitn,; ele s,:borcünaclio e obcd:ência, tálllO quan!o repre-
dos iutlivíduos)o,a:s oo menos h:cn:1b'll.1\!llt0) com aquel?.S
:-1ih:-stos scn:a,õe, que legitlmam n •donlinação p,11rimoniafüta cm. terr~os
formu!a,çõesü!ea.is,a otdem ~ial é o•.itta. E.ssa sitU3.çãoexero- d.as lrarlicf~s. Ali-m Jisso com a muchinç2. rJp1d.:16 5HU:t~-ao,
. ' f t J. •"' •T
-µI.ií.ica
o que os es?eCialistas designn.mcom o tenno "inronsis- setores da popolsção - em to~as t1S cam!I.tt.tts..a [>tr.:.'1f!Q.t!
:nr1-;.1]0"S
tencia culrural". O com.,"Xlrt?.mento r',o.; in:iivíduos t o funciona- s~c1,t- não c..~garam a adqu_irirhábitos :io'<OS, fun<l.3(\oc; e:n
mento c!as instirulções não corresponde::, !Km à., deternúnações coocepçôcs r"ciona:s <llisrela~-õesent:c ll!eios e fins e nos yalm-i::s
rn.otai;, impostas cxplicicamcn:;, por oormas e valores wci,lis, aue lcgiti1nam a êominação buroc:r2tiC11.PoI1:,i.nto, o conhecs-
r.em aos r,,quisiros ide,ijs de organização c!a \'ida social, aceitos tte:Ill.o da retlidadc presente precisa $ef has!Mte e.mplo para
por axlos como 0-5 fundamentos da pt6pria ordt-m soci3l esra- ptoporcionar-005 idéias ju,ras sobre ~ pont<>Sé"lD ~e a h:r~i;tt
bdeci,~a. soci.1I tradicional se opõe, como ohst'1!:ulo cnhural, a~ t~n~eocias
Ora, está fota ..de dúvidas Quein:onsistêndes dessa nan:reza ÍS\•oril'.vcisli dem,x:r,tl~iio e J.Xl.l'<l
n:"dar-nO:! as cond.ko-:; cm
Itstringem as _;,otcncialidades Je desenvolvimento Jos su:temss que da urie111t r.cg,lli,amcrite a f3rma,:ão_c!c~ábitos 1;0,0s, ~hl-
soóús. A perpet :.:ação Jdas expr'.n:e e.;taúos de inétcia cultural, ri>.ando-usem torL"<l<las cont-e~oo; p,awrnmualist:15e11srelaçoes
que com_;,tometerna capacidade <los ~ge.ttreshumsnos n• reali- Je donúna~o-,uhordinací(o. Segl1ndn,dtv~ruos c.onoc«.r, ii;i.rnl-
>aç,ío de cerlã c-o.ocei.,çiio
ck, mun<.lc e J,1 füo;ofi,t 1-.oral corres- Mcr.te.o ci,ccle\/e~cr pre~rvado, a todo o:s,o, em ."~$a !,eran,;a
;:,oncenre. l\ilo existe c!eo:ocrachlrocial eíe.tiv:1,onc!e o imer- s15cio-.:ultural. t:Jri ("lOVO
gne c,1io111lc pro~rnmas rapto~ de CJ;.;-
cfünl,io em.re indi,id::o.s pc:knccntc:s a "raç,ts'' distintas começa <lnnca t·At:r.raj, se:rÍ oriemjÍ-los s..~undo çritérios intcligenr.c~ e
e terruiJ>a no plano da u,k-rântia conve11ci0Mli:..>1dll. Esra po<k c(ln.~tn1ÚV05, paga prc,ços cxotbi:,m:cs. _µelo pro?,~~so sc-.a~.
do ''bum tom", de Wll <.U~uti~el''cH,í.-
S{lcis.fazecis éX-:P.~ncia.~ Muitas ,;n<?s, este se fa~ao longo oe .sacrii!cios materms e mora5
ciro crisrfo" e dn n=idoc1c prftica ck "m,uuer ca<la um t.m demash\Jo ncnc,sos. tmxlozir.d<>t!e;Ol"fanR'°'-ilosoci111 pcrmsncute
seu lu.l\;1r'. Co:mido, ela não aproxima rcaltne:ue os hooens e ~clcÇâO~cgati~a· de. vafores; sociais. qce p<,deriam pre:,,:~ier
senão na base m mera cOC:<isttncia no mc,mo e.spaço social e. fu::cões criaéoras na :.--rónriarecofl":r,,ç;ío.!o sis,-:ma c,v.!illa-
onde isso chc,gaa aconrecc:, da ro:1vivência restriti..-,1,regdada - subde.en"
cotÚ. Vá:ios "pal::..:., ...
olvidos" es~~ ~ri1!1mitlo
e.!)~
por um código que con~gra a c:csigua!dade.dísfarça::do-a ,:;jus- caminho. S,'.cia impcrtante ane <>Brnsil não os mulas.se. A civt-
cificando-ancil1lll do,; princípio~ rle imcgraç&:, da ordcrn soci:tl (i7.:i,·:w ocidental é su.Ekientcmentc rk;i e plástico para perniti:'.
dem()crática. Se ii:shtimo~ neste aspecto da qucstíio é porque cle :1m1;l:tsdiferença> entre o~ sisrerr.~s ~.-1.1lt~1r31s.
~cicoois, ..que 5:
é CS$encfal,c;unuckise atenta pa::à o .:uturo do Brasil co110 p3rte omaniiam atra,;~ de seu, ,·~lorc.-s ideais básicos. Fal~'.111>-nos
e
167
JGtí
cen,1, exper::enc-,a; história;, s-:ocerf•:eis de intensificar e da, m:1s ob;oletos em mm,os dias. O jomalislà ainda se aforra a
soliêez ao desem-ok·irncntoda democraciasocial no Brasil. Entre ambições ol[m1>i..--as,da auto-mfidêncio poligriíica. E f;Ssim ~-r
eles, com=. a ausência de um senso fu::d:uncnrol de respeito à diante! A con;eoiibcia &tal é ;empre a me$:Ila. . . Estcrili-
pessoa humana e a incaoocida<lerelativa de cx:>loratco:n eficácia z:ição dos esforç~~ hem s-.ire.lido; e um cte:mo recomeçar do
os moddo; úistituóo:iâi.s de orgmização gruj)al <l,1satividades carco -<ero,por ccrnor à coh.boração, ao diálogo e ac- craball:o
humana.•. Em troca, dispomos de algumas rcaliza("Ões que me- v.:rdac!eir~ment.eimckctual. que é c.oleti.o. Após o; resultados
receio ser ~resetvacbs, por seriem p01e11cialmentepositivas a esse de i:lvestigaçõcs crnológ~ras ou _sociol~icas criteriosas, _b!storia-
respeito. Podemos incluir en:re ehs, a mlc.rãncia~on,;encionali- dores rerom~n, remas soo.re a vida socralentre os abor,gmcs, a
z.ada nas relações raclais e o nl.áli:no ::re<lutível Je sobrancerin, rolo.:lizaciíodo Bra!li etc., scgunc:o cbavõ.?s inconsistente; e dc-
que caractcri7.n a ex.pressão as.;umida p::lo indi,-ic.lualismoe pela form,iti,'.,,s. O "cm:i<.>
se" orienta " Íllte.qm,mção do, processos
~urooomia da J'>eS$oa quer em nosso !:wmemc,Jto, q,,er cm .r.os;.o econôroiro,. dL-scritoscomn for(;as <tt,tônomas e incon<licicn>1d'1S
homem rústico. Componcnces psicc,.sodais dessa e:.-p..4:ic,com sociaJme.-,tC:O crítico tr~ta d::· obus reilizadas ron.foro,e dirc-
s:.,.1s!::ases din.-imicas st'.>cio.cdturai,. merecem niío só anábes uizes cienúficas eoroo se cHs=tiss.: 1.-1J.:discurso parlame:ttac de
IJ'.laÍsprofun&is; i,.red,amos pMsar a encar,í-los com a parte poFÍ· Rui Tu:rbosa. l.rrçe~ml'llte, o ~ncióJogoou o <.tnólogoignoram
flt-,\ do n<.>ssolegado cultural. .no processo incipiente de mcder- roais c:o qce <leçerbm os resul,ados a que cbeg.,.ratnaqueles S<:lLS
r&..ção de sistema civilizat6,io brasileiro. co]er:as.1
que permit:.Tia.i-n
~stabeleccr in~erpreteçõcs n~is jncegta-
Em SUIDa, conviJá!n(}So leito! a suspender ju~amcntos cor- lÍ\',!5 c!1,srelações entre a esrnn:ma s=l e ~ ecooolll!a, o fluxo
rentes eni t,o.ssos meios letrados e a fazer uma sorte de 1-evo- histórico, a,; rerercussfü:s dos pa.-lm::s de go,m ou éc consumo
lução co;,tt.1iicn_7e em seus crité.-ios dc avalizai;iiol!ttdoctual. Ntío liccnírfo rui Ol'Mnização do púhlirn c no destêno finai <h;. prc-
devemos continu3,: provincisno;., repelir conclusões fundamen~J- ducô;:s iuLelectuais etc.
das ci:: fotos "?lir,idos atrav.:, de inquérit0s posith·os, só porqi.~ · O presente livro convida-nos a tais reflexões. A tazão disso
e!es ruio ro!ucrdc,m com estereótipos 011 com L'Ollccpçõestracl:- é simples. Ele coosxitui ~ indice :lagrante d': que cerras tcn-
crcruus arraigadas. 1:'roc,.dcndo<le:<iaforir-11, corrcm0$ o risco c'ênd<tSde produôio cirnúl.iC11oc»baram por fixar-se: cm no;,so
de considerar pc;Jeitlf uma democracforacial que aln,fa se est,I meio. Ele forç,1-rÕso pcmar na contribuição tio~cientistas sociais
fori"Cllnéoe po)m<lo. Doutr0 h•Jo, devemos principalmenre adotar cm t:..:=os t.!e;m,ceun - - de ali:o que ttm cooti11uicl'1dc, dim~';
\Jn~ novo estado Je espírito, que nus facilitea 1i1rcfade tirar pro- são e sc'!ltiJo :,róprios. 5-:us a.irore.~,que tontam entre os socio-
\-c1ro real das conuibuições intelectuais dos citntistas sociais. lo-:m,;de 1:1.iio"rs::bstà:icia científica na atuzl.ichde, nc:lc:nos dão
Me.~roo<JLX: inconam ""' defelros ou linúrao'íes, clns alargam u,;-;a aioos~a do nadrno c:-e1nibalho que ce.l<Ígu:;indo. efetiva-
nmsa cap,lC!oodP.,1.- r:-rr,·""'nrar ,1,o,m.-l,ções e. os proce$~S e.ln mente:. 11;; e~êJ1CÍ:15, e ali ámbit.ões rlos Uive:1llgaJo~ f11H"pttt.-
vida sodal organÍ7iltfa cm nosso tn.<:io. /\lfm c~so. amplhunos sucm bo.! forn;:ição espccia!izaJa. Per x~u, ttats.-se <la ~)rirncir~
L'O,sos criLé!fos c',e reconh<:cir-i.eoto objetivo elas ~,dgéncias J.i c..1xt'.:{:ndac.leflmbos na rcaliz~l(~OJe um projete comp!ct<t C:i:
situação lüstór:C~social hra::;ild.r-d.Se não ífaern:-os isso. oor- pe~quisa e na red;1ç;.iod\~uma n:onografia. Além di!:iso,a ;,:~tia
ren1os CI risco am1ct·ônicoc!c sli01e1:tarseps1"-.tçóes <.JUCmio elevem pesqu:sa foi feit1111sscondições habituais <le,,.,cru;sczde re..,1r50s,
existir c~c.Te intdcc:uais, que S(.' entendem ''especialistas.., ou
"leigo," cor.fortnc as ~--SJ>et:tiva.sde que avalic-m ~ua produção
impondc>sérias lim.i1:1çõe< .-lopcrí0clo <le permanência = carnpo
e n:i cxp'.or.1çiio
tias té.rnkas accssh'êis <le inve.:rrigação. ConJiçõc,;
e sua n:spon;2bili6de. F.11iste,abda hoje, u!:l fos.~o entre ;1n1bos, ~lcacórias côil!O e$Sa\S:1.er:;1111 irrele~-antespar,i s avali:1Ciiodgs
o qual rnnoorre para mancer i.sola.71<?nt0s
imp.roduri~ose adve.--sos 1cndêndas f1.ai<l,1111en1ais de c'.cS<.lnvolv
imento ela sociologia em
e,; funções crfa<lo=asda inteligência. O h:Ho:faêor ou o econo- centro• cíemilico; mais aveocad<.,s. E01 face ifa situac-ãobf>lsi-
mi;ta, por cxe1uplo, teimam em i!,'Dor;1ra c-outri::uição especifica lcira ~ntrel3JltO, elis possuem profunda ;:j\nificaçiio. A rw.liú
do eta6logo ou do soc:61ogo p:ua os seus e.stué~ em .reai.iz~o. disS<;é simp:es: elas revelam com d1re:.:a os ideais de rri,balho
NiSS<1, são p:,gos com a nx:smn moeda por ~te~. O crítico litc- renuta<los css~"ciús, pelos ciencisuis soci:lis br,isikiro,, encArll-
rári_oou o_ro111ancisracontinuam fa:Kioados por modelos prcé- Jóseomo verda:feiros ":niail!lo~" cm m~ detiniçiio dos ol:j~ivos
•umver5112r::osc!c t~balho, pler.gme11:e jtL~tifidRi; no pas,aéo da iu11e;1.i~.1çiiocientífica das soci:obcks hcnun~~-
168 169
rl4debr,zsi/cira.Resttiilgir~m-se oos aspectos
, . .
no sis~ma ce re-
Pode-se con.stal:tr a v<:ttciJ.:dc dcss:1conclusão, cm primeiro lações radais e ela sociedade glohal que pte=.isavrunser "coohe•
lugar. no plano celodológico. A m,moirafin de Fernando Hen- cidos". como condi,:.O oarn a escolha dos casos. )-.ús, esses
rique Ca....!oso e: Occav:o hnni scbre relações entre negros e :1six-ctÓsfonim reconstruidos e analis.!dns metodic:1me11te,,0,da
brnncos ero Flori:m6;xilis consrirui um produto marir.nal <le invcs- gnc nos limites ,le uma sundagém c,cploratúria.. Assim ;e explica
ógeção mais l!.mp!ii. F.k reúne indicações lcvauracle.sc-om o fi:o
ck selecionar as wiidadcs ddinitivas do projeto de cstt:dos. Até 0 grau de su~sso 11lainçzdo pelos a.utores em dois níveis dis-
tintos. De um lado, na oo~preensão e interpretação de certos
hoje, não se fe~ nada scrue!hantc no Brasil. M~mo os amon:s fenômenos aind,1 m:tl coohcci<los na socied<tdc brailleira - s.
• que se referem i explo=-açãode casos tipicos, em suas invc-st.i- o;trunua da t~110,nia eoloJlial; os iru1nxosc.c,s:1 economia ,,c-.s
gações, nnnca reafoarnm sondagens pí:évÍ<lssuíkientcmente npr& p·rocessos de crescimenm cconô·m.:co;as coneJ.ôes ~-tentes entte
fun&<las da re~lidade. D<iul to l<tdo,uegligcn<:i2.nlll"Ia ia:110.níincfa as bases econõrn:casdo !ti~tc:1Ua socia1 e a otgan1zaQ'iodas TL-
de 1>Ublicutrehalhc;,sque cootivessem o m,iteri,,l porventurn uti- lações raciais; M origens e us funções sociais elos em,re6tipos
liudo na seleção dos casos " qlle pcr-.ni,iss..-=apreciar os próprios C".tciais;as siLOações<le :ot.ercsse: e os v:tlorcs, ~dais ~~ pro-
etitérios de selcçio . .Em face di$so, só temos a lamentar que o-ia movem o sol:tpamento ou o reforço dos estc·r,:ó11poor:10uis etc.
n,onogta!ia 11prc-sen1e,npcnas, fatos concernentes a um doo casos De outro na maneira de dcú.oir e compreender a si mação éc
- a:ahtmemc um dos q·.tc não se tornou objeto de itwesriJlaçio ~-onrato ;m termos da tot"1idadc c!as rondíçóe$, fatoi:es e pro-
intentlva po,-cr:.or. De qualq11crmodo, porém, ichamos que efa dutos ele □n mesmo colllir.w;m hist6rico-socia1: o q,:e permitiu
oferece um bom quadro de referência P""' a aprecia,'ão dos cri- descrever os diversos :1spectosdinâmicos do sis1e,n3 de relações
ré·dos usados no levantamento pré\.·io e, principalmente,da <.."Oll- raciais, cm SU9. ior1r.:3Çâo
sistêocia dos conhecimentos de que se serviram os investil!)ldores • C:lll su:t evoluçãn,
podem sua integração
•·>--
arual e nas tendências à reintegração que ero Stl pc:rceo1rnc,
p:ira escolh~ as \lllicedcs da investigação s.istemácica. Do ponto
de vista mctodológico também mcrC<'emrealce as ditetri,..es que no presente.
/\_referida condus~o pode s:,c romprovada, por fim, no pl:ino
delo de surw; posto =
o:ientar:,,.,1 os invesrig:idore5. Aq::i, é prociso considerar o mo-
pr~!Íca e os propósitos mais gerais do
projeto global. Quanto ao modelo de suroey, des·e-5e notar o
da contribui&o 1e6cic:1tra.oii:!npor csf.2.monogratia aos esruclos
sociológicos das relac;õe., raciais 110 Brasil. Enne os sociólogos
ainda prev~lcce a suposição de que o sur,,ey se -alin:e::_ta de in-
esforço de adequar essa téCliic.:ia um conhecimento mais pene- tentos socio!?Iáficos. No entamo, os e,tu&,s dos d1se1puJosde
trante da realidade. O objetivo foi alcançado mediante a rom- P3rk e de Burgess (p?.ra só citar os que aproveitarnm e<plici-
plementaçlio da obset..,.ação in:cnsiva dos aspectos da sirua('iio, tamente as perspectivas abertas pela cicntifi1.ação co sun;ey).
que interes;avan à so:1dagem, pelos resultados de questionários dernonstr-amque essa técnica pode ser associada " intuitos te6ricos
e da reconsuu,ão nisrórica. Quanto aos iuopósitos gerais do variá,·eis. No t.robalhocm aprceo, há dois pontos a oonsiJerar-;,:,
projete>,i'arece-nos rica <le c,mseqüências metodológicas • diretriz
"teórica". Cm deles é ?3cifü:o: no caso,
de efetiva signiF.c:;,,;-:k,
e.'<ploradapclos a\1torc~de con..liecero "passado" pelo "presen:i:". o lcvant.amctto se prende a uma lk.;iuagem empírica de definição
Os car:lCtcrcs das C(lmu.nidadesinvestigadas traduzem diferentes dos problemas teóricos. Em outras pakvras, Í$SO quer dizer c;u~
cst:ígios de dife.-enciaçiío e rcinte~ração da ;odcd:1de l--,rasileir;;e,
e, mrvey representa um insuumenco da teoria, fornece::do ii inte•
po: ron.,cguiute, do sistema de relações sociais no ll=il. A for-
li!lêncill, a) critérios ercpíricos rigorosos de ~rc!)Osiçãol)as )iipó•
mulaç.iíoe o apr<:m:itamentodessa idéia abre novas perspectivas
quer aos estudos de c-.iso,quer à elaboraçoo comparativa dos re- teses; b) U1eiosrudimentares de cxunprovac;-.to da pfous1bilKlade
e da consis1ênéaempíricas das hipótese< aveniadss. O c,utrn
sulc,,dos que se ronsig-am obter através deles. ponto não é tão p&Hico. :n>L<p,1,rcce i~rocnte rde,;ant~; M
A n:l'SillO roncl\lsão pode ser corroborllcb pelas implic,11;õcs
e concribuiçôes da monografia no plano estritameme emp!rieo. evidências empírica.,acumcla.das, que permuffi' d~ 7..,·er~ nltc~-
A signlScaçãodo preparo cspccit1w.1doaqui se rcvel,1plcn:unente. pretar os procl-SSOS csroclados, são. n-al.'Jralmente cte1s a .'!'.;~tt-
gações ulieriorcs, de teor comparat1vo. O fato dessas ey1vcllC\3S
O, autor,-s t\-i:ntam a p!"Cten:siiode reconstruir e de explicar serem obtidos e cor.ipro,•adas arra,és dos r<-corsosfornecidos ;>elo
ºtudo". a çua1 tramt,Hl.1.~cc,desordem:,damentc~cm quase todas as
lcvrun,1mentol.:).1)!oratór'néeixa d.e ser impcrtame, paSS<1ndo j)<-t:l
precedentes de ar.áli.;e hi.stúrico-socio1,,cl(icada ,~ali-
te:Hati-..-a.s
171
170
primeiro plano as. sugestões, rondusõe, ou hipóteses que cons-
tt~am o saldo positl~-., da contrihui,;-lo teórica e.pecilica do ptó-
p~10 ;c\'an~o:cmu. r; certo que, de roooo ~erol, esse ~specto da Já ~e r.omou um hisar comum q\tc o l\rasil é "um c.::dioho
conm:b::,ç:10de :m:.asoncfagemde,·e se.r viHo com ~servas. Não de roças e de culturas". No en:llnto, ainda não ,e focalizou devi•
~cvcmos íg_oora.r, tods_v~, que uesto mo11ogi:afia ela cobre una damente as várias fot-et,i~ desse c:ac.li.nho,q ae está longe c!e ier
arca da soc,c~•~ brasileira quase i.ne.xplol'.ll<la
pelos e!'J'lecialistas. concluído suas íunç&--s c.tldca<lorase que oper;, cc forma peculiar
Em coc,sequ,:nca, confere-nos a possibilidade de sabe.: se certas em c:aca regtio do País.
explka,;;ões,obtidas no estudo de outras situa,;ões de contato no Kesr.e l:vro, síio relatadas as tdncipais conclusões ele uma
Brasil, são válidas para a zona 1:1ecidionalcb rocie<ladebrasileira. investlgação sociológica, q1.1e101,ou por objeto n silua.çio de con-
•\cresce qu(; as explanacões apresentadas suscitam, aqui ou ali, tato entre negros e brancos 1:a cidade de São Paulo. A cidade
pistas no~s e a for1;1ulaÇ_ã? de hipóteses digoas de consideração, considerada não é import,1mc por seta passado sob o regime servil.
~mo o le11~rpodera venf,car facilmente, n-1spassagens relativas M:tS, por sua posição na emergência tia c:vilização urbano-inc!us-
ª.' vmc:ulaçoesentre a organttação ecoaômica da sociedade e o ttial no Brasil e por seu fum:o, pois é a única meu-ópale bra-
~l•t_~ª de ?j\!s-«1~1119s raciais ou às funções dos estereótipos sileira que conh\ eom um bcc/:grQ!md cror.õmico,;ççial e cultural
em succss~vXJseo-ntextos hiscórico-sociais.. No conjunto,
rac_1a.is capaz de dinat.:1iz.u o fo:1cionamemo e a expansão da sociedade
pol~, a _monografiaalarga as nOS$aSpossibilidades de aplicar, de classes.
soc1ologicammu,,as bases e os produtos s6cio-d:nilmicosdas re- Sob esse asoecto, ela ê úp;.ca para o estudo das relações
lações raciais na sociedade brasileira. raciais em u·:rmos·do que se vem chamando de "Bra1ilmoderno"~
As !lle~onadas qualidades da presente contribuição indicam Nda, o negro e o mulato não e11ronr;aram, desde a desagregação
9-ue o aenttsta social brasileiro já /em u:n padrão de nnbalho do regime servil, nem o refúgio proporcionado pela eco))Omia de
tntelect'.'al ; qoe ~ _capaz de aplicá-lo segundo os critérios do subsist&ncia ( qoe nivela "braocos" e "negros" r.o mundo rústico,
saber oenttfico-positl.-o. lsso parece ser da maior importância parcialmente excluído da ordem. '.egal e polltica inerente à socie-
par~. nós, porq13eo processo de desenvolvimento cbs ciências dade nacional), nem as arr.bigüidac!es do pate;-nalisrc.o ttadicio•
socw~ no Brasil_pode ser sumariamente desuito, no que ele nalista ( persisteme de modo ,...,_riável
mesmo em cidades grandcs,
pôSSUlde cBCnctal, através de tr.s gerJçóes, que se ocham w, nas q,:ais o legado do mundo co~nial luso,brasildropos$Uaalgu-
contato e em cofo6?raçiio_na vida acadêmica. O faro dos repre- ma vigência). Viram-se diante do branro sob o peso total das
sentsntes da gc:açaQ mais oova demorutr:irem domínio seguro ex.igên<:iasda "sociedade competitiva", L-om as desvantagens
de seu cacpo - com as técnicas de i,westig,ição e os problemas oriund11sde sua falta de socializaçãop:ira o trabalho livr., a eco-
conesJJOn~entes- constimi sigo au!picioro, que nos fai: confiar nomia de mctClldoe o csúlo de vid11urbar.o, roais ,\s limitaçúes
~o pr°lª1'esso lluiênttco_das ciências sociais em nossas instituições nascidas de arrni"adas a,-a!i2Ções restritivas ou negati,,as, res-
ce e!lsmo ou <le pesqrnsa. Eles não incorrem nas mesmas limi- ponsáveis por di~rsas modruidades de prcco;:iceitoou de eis-
ta(~ dos lllCJnbrosd,1s duns gcraç&.--spioneiras, mais ou menos criminação t:aeiais (fundadas na C(lr) e por sua ro1u,cqiientc
s~cados pelas conti nJlênciasseja 6 :mprn~;sação, seja da pre- marginalização na ordem sociMco:npctiúva.
c-ar1e<l.1dedas condições de rrnball-.o cicnnfico orS?:Jnizado. Podem
tirar tuaior pr~eiro
·11 ·1
ce"'"' encrj:Ías intelectu,6 e de sua CI""· Portanto, as razões que a toc-:::<!matípica e singular, 00 ce-
c1<.:
ace c.t·•ac.o.rn,
J_
torri:anoo-seass1
• •
m mats.ª?tos para uromover a
,. ..
názio l.üst6!ico brasikiro, indicãi'á~d<:omoa cidadena q\llll se
expansão das ciênci.1s sociais nas trê., esferas corrdata~ do ensino. pode e se <leve buscar respostas ao que o presente e o futuro
da pesquisa e da
teo.ti~. Os dois ,mtorcs deste livro, pdo <1ué reservam ao destino social e numano do negro, r.a CJ'a da civili-
zação u:bano-indusrrial. P!'imdi:o, ela 11c~ revela_ com toda a
podem~ presumir, terao com roda a cerw:a um:a. participação
ro~trut1va e m.1.t01nre nesses desenvo 1vimentos, que nos coln- durcza e curo toda a clareza, que a re·c~ução burpesi: Íoi uma
carao entr~ ?Sgr,10des centr<1sde investir,ação ciennfica d01'fenô- convul.~o que ,apenas rocou nas b:3seseconômicas, soci2is e c1.1l-
menos ~octatS. towis do mundo dos brancos. O negro e o mulnm {icarmn à
~..., 1'«1!0. 12 de d=bro ti~ 1939 margem dos aconteci1:1cntos históricos e <los processos !;(>cinis
172 17}
que a engei1d.raum. S::gw1do,a cidade também mostra que o 4uer maneil'a, rodos sofrem, 110 plwo <l.t ~~ns~iêncin social _da
uegm e o mulat0 somente entrara..'Dno c.,kulo polilicu dos bran• sim.ação e no do comportan:u:Dl0, a, co.osequ.:ncillS de um ~~o
cos cnqllrulto a escnwidiio co:itava como obstáculo histórico à ponto de pgrtida, do farisafsmo do branco e _Jas.11JT1bivalenc1as
re..-oluç:ã<:>
burguesa. D:sai;rega<lo o regime ser.vil e pulverizada ou indecisões que as frustrações rcsultanks msttlam tanto no
a urgani7.>1çiio do trnbalho escravo, ambos deixaram de ser rck- füúmo <lo "negro c:onfotmista" e do "negro uânsfuga", qu~n~o
v,1ntcs cou10 fonte de mãCH.!e-<Jbra, pois o imigraJitc passou a no ânimo Jo "novo ner,rn". O protesto l!egro, qu;; exp.tllllJ\J
contar corno o demento central da r.eestrutu!'>lçfodo sis1ema de o dltna:i: <le sua capacidade de preocupar-se e de lutar pefa Se-
l'ela~-õc:sele prndução. Forjou-se, assim, um paradoxo. A socic. g,mdo. Abolição, aiirmou-$e como um protesto c)entro da ord~,
d,1de:de dasS<.-s herdou os raúrücs de .te.lações.raciais, ehborarlos como se uma minoria im;rotente 1x1desseoondn1.n uma rc.-voluçao
sob a escravidão, e m,um:,ve as principais iniquidades que pesa• através e.la mudan~1 das leis e dos costuoies. f.lc possui um
vara sobre os "libertos" na ordem i;ocial c::;.o:ravocraoi e senhorial. cuumie valor, como marco his16úco e como evidência do púdér
).!5::> obstante, os n,:gros e wu1uos pouco ou quase n,1<laconse- assim.ilaciuoista da sociL-éadeinclusiva. Mas, deixa patente que,
guira:n fa.ccr pam alterar o terrível Cllr-so da história, j,í que n:io mantidas a.~ atuais condições econômicas, sociais e polícicas, o
pos.suín.mcondições econômicas, $0Ciais e e<luc.,cionais para en- alrruí.~mo, a nobreza e a ck,,1ção dos mo,,ime11tos sociais do
frcnt:'lr vintajosamemc o período ele trnnsiçfo, nem <lisptml.r.1m meio ne<.;:ronão põem em questao ~ as ,... · "d os bran cosou
miusuç«s
éc meios culn.Jrais e polílicos par.a se proce.gercnida caoístrofe da ordem social existente, pmqce o protesto arnbou se transfor-
que se -abaku sobre o ,m,io negro. ' mando num valor em si mesmo, como se o ::1cgrotomas,;e a $Í_
Os seis capilulos, que compõem este livro, retratam os Jj. a tarefa his16rica de exibir UJTl<l integridade que os brancos não
vcrsos aspecros da situ~çãu 1,:stórico-social, que se criou sob 0 possuem na aulo-ide<llilicação com 11, ,•alorc:s fundamentais dn
signo da revolt:ção burguesa e da consolidaçíioda ordem social civili2ação vigente.
competitiva. i\"os dois extremos, cstiío as páginas mais tristes: Se a sociedade brllsileira fosse menos indiferente à "qu<?Stãu
da v_erdadeiraruína rua:erial e moral, que era a "vida elo n~-gro" racial", o protesto negro provoca.tiaprofonOjlco01oçãonacional.
na c~d~de, du~autc o primcir.o quartel do século XX; e se adi.aro Ao se pôr t:lD caus.\ e ao exigir dos bl'llncos o seu quinl~ de
,is p,iglllits mms esperançosas: e.lolaborioso e discutível b'.ito das
liberdaLle e <le igualdade efetivas na ordem estabeleoda, o
pequenas "éli!es de cor", constituídas sob a importância cres- "negro" tomou a si o papel eleft,tladino e.latlemocmcia, num País
ceme dos migran1cs nacioruús nos último,; surtos industtfais. No cm que as elir.-s1radicionais e as novas classes em ascensão preo-
ronjunco, o livro dé.monsrra que o branco não tem consciénda cupávam-se e lutavam pelo poder político ou pelo poder econó-
clar.1 da situação racial imperante na cicL:de. Mascara 3 reali- mico, sem se importuem com as ddorlllllções do regime rep:1-
cfade, porque Jlfo se sente p:cjudicado ou ameacado direta ou blicmo e com a crfaçiio de um verdadeiro estilo democrático de
indiretamente, pela presença de pouco mais de ÍO<;;/de negros vida. Assumia os riscos de co.nst.tuitwna contra-ideologia que
e mulatos na população global. .Entretém os C!lj\ll.llOS e o fari- o afírolllva, histor-icamente, através daquilo que nega,·a, con\'el'-
saísmo da ideologia e da 1->topiaraciais, construidas no pass.-u.lo tcndo-se numa espécie de mperb,c.m·o e num campeão ingênuo
e so!> a égide da escravidão, como se fosse possível combinar o mas íntegro da própri;i ordem ~ocial que deveria aucar e c.les-
"espírito a:istão" com a Í!,'110.l'ânda da ressoa, dos interesses e d<>S uuir. Portanto, ví1ima de duas cxpoliações lctuéis - a que se
'-'ªl<'fes do "outro". Apega-se e mantém, assim, o preco,u:eito estabelecera pela escraviclio e • ciue resultara do modo pelo
de niio ter prccorn:ei!o, limitando-se a tr:ttar o "negro" com to)e. qual se coocretízaro a abolição - o "negro" não se insurge co?'..ra
rância, carr.erendo o velho cerimoni~I de polidez nas relações entre a ordem existente oem se volta contra os brancos. Ao contra.no,
"ressoas cetaÇIS diferences" e a:dL1indn dessa tole.âocia qual- p~e-se defendei:-, p(Jra si e para os outros, os valores ideais
9ver s,:ntido ou cooteúdo propriamente igualitário. O fü-ro tam- dessa ordem social1 embora eles nlio tivcs_semvigência 5<_'fliiopara
,; • ,._
bém sugere que síío vário.; os caminhos que levnm o "~ro" a os branros das clDsses dominantes ou em n=nsíio soe10-cconu-
se ver em fu.r.ç1io d.t i•iugê!lldo ''homem de cor", que o branco mica.
coostrói e mar.ipula ~-um a maior cksenvohnrn. Uns sucumbem O livro funda-se em dados colhidos pacientemente, c1qntt·
a ess.1$i11íh:êndasreati,•as, outros reagem conm1 ela. De qual- gados e critic.!<los <le !llilneira cuidadosa. Portanto, os relatos
l74
!i5
se basci~m em conclmõe,; 4nc se alicerçam ew ohserv3çõcs obje- 11egron-ão apen,1scomo um ser h:imano, in abs!1aJ.o"cm tcnnos
tivas e que poécm ~• a:>mprovadas por outros bvesrig.ulorcs ( 4 ). de contato cacegórico, m,\s como alfluém igual a si mesmo sob
i\"ão obmintc, cm ~nhum mowemo da pe,;quisa, <lac:Lssificação {O<losos aspectos e cm todas as circunsrâncias, e aprender o que
e imcrpretação dos dados ou m;;smo da e.,posiç.ío o auror pR~ livros comÕ este podem ensinar sobre tal assunto, o Tlr:i.siJse
Lenden ser "n~inro". Não há neutralidade possive! <liamede tal converterá raoicla'1!cmc:num.i l\~.rtuío,t democrac:a rtcial.
t<:alidade. Pode-se, como p,ulc do treino cicmífico, apreo<ler-sc É prov:ivcl que o insmureção d,, uma dcmocrac~ rscísl
a ser obj::tivo. Contudo, se a <.iéncia no., cou<luzisscà in<lifo- autênúca seja mais fácil no Brasil que nus E.stados Umdos ou
reoça di~ntc oos valores iundamcnta.is da civil.izacão, das mani- Ih\ África do Sul Por e<A'eIDplc. Existem na si=ção racial bm-
' - fo,_•o.r~hrei~
~ileira }'M)ff':nrialielstrtPS ~ un1.~ttr--.iru:içiojXICÍf ;<:~ e mAf_s
-
[c,tnçõc, violenta~ vu pi1dfka, do etnoccnttismo e do pre<.-on-
ceito racial, ou dos efeitos <lt qualquer tipo de discriminação, ou menos rápida nessa direção. Tudo \•ai depender das oportW11-
=
ela não merc-<:cria cultivada nem poderia fornecer a ünica vw.
que ainda llOSresta, para a reconstrução das ba$es morais da vida
dades de igualdade E?Ctmômica, ~ocial e cducacio!':;t\que forem
conferidas aos "nc:gros". No emanto, ao contrário do que se
hwnana em nossa era. A investigação ajudou-nos a COIDpreendet cosrun}jl pensar na !;()Ciedadebrasileira também eJtisLempoten-
a propalad:1 "democraci,t racial brasileira" como parre de tima cialidades clesf~orá\'eis a esse desfecho, em si n1esmo o útúco
complicada situação econômica e sócio-cultural, que expõe o desejifrel. Essas potencialidades aparecem tanto na perple.,cidad::
branco a procurar subcerhígios e disfarces à sua impotência para e na frustração <loelemento hu:na:io mais inreressado - o negro
docar a sociedade brasileira de condições reais de eqüidade social, e o mulato - quanto na completa indiferença e na omissão crô-
em todos os níveis das rebções hun,anas. Doutro lado, ela tam- niai do branco. E são agravadas pcla atuação de dois O-.>ttosfa-
toi:es, q\1e começam agora a ser mel_borconhec:dos. Primeiro,
bém fortaleceu a ao~a coo~·icção de que o cientista social preen-
che papéis intelectuais altao:ente construtivos, ao elevar à esfera
o regime ~e classes absorveu e _connn~~'1 absory~r estrutu:as
sociais arcaicas na esfera das relaçoes rnc1a1s,ncccssanas no antigo
de consciência soéal aspectos da vida cm sociedade que não são
mundo social da sociedade escravista. A economia de mercado,
devidamente percebidos e cxplicaoos pclos agentes humanos. Ao
o wbalho livre e a modetoização institucioMI não eliminaram,
desempenhar essa fuoção ele clarificação da consciência social e
como se poderia presumir, essas estruturas, o que faz com que
de alargamemo do horizome intelecroal médio, o cientista social
o estoque de estereótipos contra o "escravo" ou o "liberto" con-
presta um g;andc serviço à sua comunidade nacional. Se for
tinuem a ter vigência, referindo-se explicitamente ao "negro", e
ouvido e, principalmente, se o conhecimento objetivo da situação
com que o velho padrão tradicional de rc:açlio.racial. ass~étrica
se acompanhar de movimentos de reconstrução social, o conheci-
continue a devastar a segurança e as perspectivas h1St6ncas do
memo produzido pode se tomar mnim útil p=:t <>c~lihruçüo de
mudança., sociais pmgress:vas essenciais 20 equilíbrio ou à trans-
"homem de cor". Se!!Ulldo, nas cond1ções otuais, criadas pela
fornwção da ordem soci:il. No caso brasileiro, é óbvio que o
sociedade co1Dpeticiva, ~ negro e o mulato brasileiro dificilmente
conhecimento sodoló_g.ico,em instâncias análogas à pre,;enre, é poderão congregar-se em movimentos sociais típicos de !1linorias
insatisfeitas e insurgentes. O novo negro tende a abrir o seu
suscetível de co:iduiir à verdadeira deruocracie, que não pode re- c1minho de fonna indcpcnc!eme e agres,fva. ).fos, propende a
pousar em mitos. entretidos consc:!ente ou inconscientemente. Se
resoaardru:-se, através de um egoísmo indiv:dual friQ e realistn.
o brasileiro - especialmente o branco brasileiro - abandoruu EU: conseqüência, corre o risco de combínar, em proporções ines-
o "pteconccito de não re,: preconceito" e aprender a tratar o
peradas, "êxito co:inómico" ou "su<:esso profission>ll" com m:1·
lasros morais, forçando po.r sua ve;c a solução que o pr6pno
i rJ) C':u~pc.çqnis:nfo~t:l ir.<lep=.'"h.ic~tmt~Le
do tcv:int.trr.cnto do nu~or
branco prefere - de "contentar o nc.-po", col,x:ande-0, po~1,
e 2nics cl,1 p:ibli"'1;iiodeste livro, que só foi upnm:iudo de mGMIDi fora de seu caminho. Nesse caso, a sociedade de classes abre VJ.\S
as~:,;::a':"láricd.
e p::m.':al,
revelou q'ue o quadro aq--..üdcsait0 se reproduz tortuos;is nas rclaçôe$ emre negros e brancos, c;ue precisam ser
f:lé.tta) m;:n:. iíreg que ~e 3~punl-.P.de "'ê"(ito n~le" do nce,10 ou <lo CQ11juradas prontamente e com ânimo radical. Não L--áoutra saiJa,
mo.tlato. Vtj,.-se João Jl:,p;irn1,lloc;{::,; Pereira, Cor, Profusi;o e Mobilid&de.
O N~,ro e o ruilio de São PaU:o ( S. P•ulo. Llvr,ti, Pioneira &litota e para que a democracia racial passe de miro a realidade histórica
í-.clicor,,<ia Uon,..i:sidád:de São Poulo, 1967, ;,p. 99-261}, na cena brasileira.
li6 12 1i7
O prc~nle trabalho foi escrito segundo alvos cognit:vos que
valorizam a ru1álisc ma,ro-socio16gica e as possibilidades coi,,nitiv.1:; rnnduct an.:l foelings oi which m;:n ia spccitic mil'eu.x
111,li\•i<l<:11!
nn· 11aem,dvcs unawnre" {•).
i.ccrcnres à ei.p.lo.raçiíoco11Comittu:tede crirério;; .;incrônicos e
diacrônicos de <lcsciiç;íoe i111t1pK"taçifoc!os d.idos c!e fato. Por Um ponto de vista gen1! dessa natureza permite coroprcendcr
Í>,o, te:ido-:;e em .isca as orientoç~s predominantes na investi- r explicar processos pski:H!<lCL•Üs e socio..:ulmmis no comcxm
gaçifo sociológica nos Es,ados Umdos, talve-~pareça iruule,;uada 11<>r-\lncionamen10e da tran~form3çiío es,nuural da sociedade
a atcnçfo c:fupensa&:;.osospecto, das relações r11cfaisque seriam 111,ib:1I.
Pt-~<1:;co,o conhecimento teórico result:L'lte é mcllos
cnfatiz.1doscm abordn!',ens rnicro-soc:-:o!ór,icas. Os fenômenos <J"C rt•lcvante para os a-;pectos psic.o-socíológ:cosda maruíestação e
Sin,nel chamaria c!e "roicrci,cóp.:cos"não foram propriame.1tc 1 onseqiiêncías do preoo1.'Cdt0 e da distciminaçiio raciais, que para
negligenciados.Co!lrudo,foram ol>serv:ido,1,<lesctitos e .interpre- o~ Sei.is asr.ecto; histórico-socio:óp;ioose eslrucmais-ft.mc:on:tis.
tat!os cm te:mos de wn J>antode vista ger,,l que convenia tais N:io obstante, suponho que esta ob1-atrili:ª alguma comrib,üção
~pectos em meros sub,;tmros de fonõmenOô roai> complexos, dos de Jllàior inrzres.scpãta a investigação <::omparada_A sin;,ição de
quais o autor e:nrniu e isolou o,; fawres ou efeitos de signiíic-.iç:io ,ontalo racial brasileiu não é tão importante por ser ,ret1tra ~
heurislica_ Esse ponto de v:sta geral corresponde, grosso modo, tebção a an1bo,; os (enô:ne.,os_ ~fas porque, nela, o preconceito
à perspectiva de ínte,:prefação que Wrigbt Mills dcfcndet: corn e a discrimü1açãor-aciai,, se manlfesta.-n de modo brando, difuso
muita propciedade: "\Without use o! histo1y anel witbout an e assistemático. Por C!sa ta-lâo, ela apresenta interesse compaf'J-
historical .sense oi ps>-chological roatten, the social sdentist ti,,o específico_ Seja potque é, em si mesma. uma ilustmçiío
e,remplar de urna alte.rnativa típica de contato r:icio.l. Seja por-
CllllllOt be adequatcly state the kinds of probJen1s that ought now
que permite evicenciar, pela comparação, a r,,a1urezae a estru-
to be orienti.ng points of bis studies" _ ( __ . ) "But the view of
tura dos motivos que dinlmizam a acomodação racial, em con-
ma-, as a socio.l creatore eoables us to go much deeper than
traste com o conflito r:icial. Nes~e sentido, por patado,.,"(I]que
merel5•the external biography as a sequencc oi social roles. Such p!lieçll, a paS!!ageo.1da "acomodação" ao "conflito" não é um
a view reqoires us to onderstand the most internai :m<l "psycbo- índice ne~civo em face da emergência de uma democracia r,1cial.
Iogical" featores of lllal'.I:in partcular, hi, self image anel his Ao contrário, parece ser uma fase inevicávd da transição nas con-
conscience and indeed lhe very growth of his mind. It may be dições em qL,e o ritmo da de;;agregação do regime esrnmcnt:tl e
well tbac ili◊ roost rndic:.l discoveiy within recenr ps>·chology ele castas. i'lét(!Jlte :\ escravidão, apresenta imensidades desiguais
and social sc:ence is- the discove.ry of bo,v so many of thc most no mundo negro, no mundo branco e na sociedade nacional con-
intimate {eatures of person are socially pattemed and even im- siderada globalmente_ Se essR interpretação for aceim como cor-
planted. Within the b10ad limits of the glandular and nervous reta, então o conflito e a intensificação do conflito constituem
appllrttus, the ~otioo;; of Fear and bau:-ed and !ove aod rage, ,vidêtx:iasde uma progres!\i\'a demotrntlzação dos padrões de
in ali rhei: varieôes_ mu:5t be un<l.....n:toodin close and continuai refações raciais_ Ao invexso, a acomodaçii:oracial, em coo<lições
referencc to the socí;l biogmpby and the social context in which de capitubcão passiva do n~ ou de aceitacão, por su,1 parte,
they are expeden.ced and expressc.-d"_ ( _ .. ) "The biography a~d de extrema dcsiguald<ide social, ecooômica e educacional eviden-
thc cbaractcr of the individual cannot be undcrstood mercly m ciam a persistência de formas de esttatiiícsç,ío racial pré e antí-
tcrms of milíeux, and ,-crtainly not íncire!y in tcrros of tbe eatl}· clemocrátkas. quaisqocr que scjarn os padrões de decoro, Jc role-
cnvironments - thosc of infant and the child. Adequatc unclel'$- rilncia ou de: simpatia envolvidos nos oontaros sociais entre
pessoas e grupos de pessoas r,ertenL-el!tesa categorias racfais
tanding requites thac wc grasp tnc inrerpfay of ih~ mtirnatc diferentes.
setting with theír ls.rgcr sa:ucra.r.tl frnmework, nnd tbat wc take
ínto account th<,traosformations of this f.ratnework,and thc con-
sequcnt efiects upon ntlicu,-_ Wen we underscand social struc-
tures and structtirnJ changt'S as they bear upon more intimate
sce.o.esand expecicru::es, wc are able to ,mdeNtand the causes of (5i C. W'right Milis, TJ,~Socir;logfazJfm.:git:oli":;, ~'<wYork, Growc
r,css, Inc., 1%0, pp. 14} e 161-162_
178
179
Tendo em <>istao:icig.,~x-,esconrralJn, especialmente e:n con-
s.:qofocia da edição 1:or1e-3meric:1na deste livro, i!OSl'ariaJe agra-
<lL-ccro em_;:.,cnho de vhlos ªllliJl~ e colegas nor:e-amecicmos,
que tornar:.11:1possível a tradt.,ção do trabalho. DL-VO es1><.-cial
mcriçiio :1 Cb:u-!esWagley, que c!ernon.strou,de váries f,;;.111ns,
0 seu proverbial clcsp!'e<:r1diolénto, gcoerosidP.de íot.dett1L1l e
amor ao nr~siL R.icl12rdMorse, por sua ve,, tornou-se digr,c, Je
iglllll_recoilhecimemo, ,,dos n1esn:-osmo,ivos. Jacquclinc Quayle
l'i:;;1'.d fucram ~ Vfrsâo Í~!pl!!il um>1obr~ que fl0$SliÍ
e :-\'.·1211c CAPITULO VIII
llKTIIO!i ptoprws, uo que roram auxi.!1,d~s por Phyllis I!ve.!eth,
que se encarregou cfo parte edimri.aJ. As crcs ü11tC.Hlle o:tt·en:a-- POESJA E SUBLL\.fAÇ.~O DAS FHUSTRA.ÇÕES
mente rccoohL-cido, por me darem ;,ma colabomçã<, a1:ôn:matfo RACIAIS•
mnstr.;Ó\'!l é criaLlorn. Ao fosritulc of Latin American Studícs
da Coh.amWa Univcrs.il y devo mai,; do que ümple,; •$ntdeci-
mcmos. Não for,1" cpormn.icladed" convivéocia e de rrabalho
qm, ganhei junrnmen1e co1:1 a ro11dição ele vi<iting-schohr, é Ignoro as razões que levaram Oswaldo de Gn:ar:go a c!.ir-
•mc o privilégio de prefaciar a _presente coletâneo d" poema,;.
prováçel q:1e esta tra<l::çiionull('-.t viesse a lume e i:a presente
Nffo sou critico lirerário. TampOL>cOt.enho competência (lU scn-
f?nm,. I>or~1a vez, d~-v_oà Columbi~ lJniçersity Pccss. em par- sihilidade para apreciar judiciosamente sua prodt."<:ÍOpoétic2.
ticular arnwes Je seu d1r~or exex:utl\•o,llemard Gro:iert uma Considero a crítica literária uma c.specialidadecomplexa e difícil.
simpatia genu,ll>le esrimulante. que nie ajudou a correi· os ~iscos
que exchú a irnpxo,.Jsaç,ío e requer não só talento e: bom gmto,
de_e~rar ?~ p:fül.k:otilo díver,,o daquele para o qmtl a obra mas sen.s:bilidade, erudição e imaginação crfa<lol'.t. Sendo evi-
fo1 escr1111origUJalmentc. Espero que o livro justifiqt1e i co1i-
dente que niio r<níno essas condições ( pelo menos cm relação à
boração e ir.c~civo que recebi ckssas pessoas e institt:ições, aju-
c.apaddade de ser cr.tico füerá:io ... ) eotendi qt,c o convite se
dando-nos a cnar rnefüor compreensão e relações intelcciuais mais
profundas enrre o Brasil e os Estados Unidos. enJen.-çava a<>!>Xi6log<>, alg•= tanc,, conhecedor d! situação do
negro na sodedttde bNsileira. Às vc,,es, uma condição exterior
:i obra r:e anc poc!e ser sig.lifiaitiva para a su:1 compreensão e
interpretação. Tal"-"' o autor procurasse, portanto, algué1J1que
pudesse "ecplk.ar" a sua JX>e~Íit à lu:>:de rna condiçãohuman2-
dns inffo~ocüis e tnntivoçik.; plicos,1ociais 4ue fiDlJll por lds d.1
sua manei.--.ide ,·er e de repxesentar, pocticruneote, emo.,--ões.scn-
timemcs. aspir~üc-s e &u.srraçõe,; que P<'(leriam ser cn(eudidos
ro:no parto! da e.-qx:riêo.á, <le vié9 do neg_--ohrasilciro.
Todavia, .10 )e,; i: r~e: F"' ffomcm T ertta Ser A-1.,i,;,
e: :ts poesias cokdonadas nesta obra, cheguei à O.'<lclusii:o de q,~
O,waldo (1., Cmnargo é, esscncialrecotc, cm poeta. O fato Je
SCr Jlegl"O tet."l tanta Ín,portâ11cia qua::to Cllltt'dS cirCUtlSblnÓru;
( como a de ser brasz7eiro,católicoo:atcido por CX!)Cciê!lcia 1nís-
ticos singufarc'Setc.). O q:1c com", em sua obra, é a poesia.
Embora eh exp:ima, en1 ,•ári,1s direções, a condição humana do
184
Eri.;re, poí um "branco.t'' no UL1jro, o qual só púác ser reco-
0
,
só e.orno o sonho <JUcem óníco: mora! da escolàa cem o apego ainbiv,tleme ii herança mhural do
branca mei:ioa de sandália,; b!2llcas.,, negro ou t!o hranco; t:l'ata-se do :,oive=so mental qu~ o negro se
Como tut.'-0 ere btanco, bcanco, i>ranco! construí", oo ~ual ele deveria si:r unt.1 co;sa, rr~; é outra:
E qu.:indo me It;i escava só. , , Ln penso qL>cn m:inliã nfo interpreta beo
.E Jni,,ba vkls estava branca, branrn, branca, a rnpcriície ~cura desra pele,
coruo meu pi imeiro eãdêmo que páss:iro nel,t "ai ,:,ousar?
da escola, .. (Idem, p, 79).
Ai ck t:isteza de meu l'Uí]'lQ, ;,(.
;\b! (JtY.: medi nmito mal a distância d.1 vida, o p:í.,aro conl~ece a mà:lhà,
e julgant comigo: "hel de ir nmito longe", e sabe 9;.,e é bt,UlC.t o manhã,
mas com,,ou .;obre mim or:1a idade irr.predsa ma.s não ousa en1<:rrar-sc de "º"º
e eu invejo ~gora o menino <JL>cfui, na noite, , .
Muitos .resr0<;de mim laq:,:ucijá peb.s ruas; O qrn: sul>sis,e. poi,, é " <lesalemo re,,scncido, que u·aJtsparece
infelizmente me tMtando vou .. , melho: onde re niinn.1 uma lig~~ii<,e.,p.irintal com o.s :incc:strais
:1frit.-anos
e.· e;aavos:
18(,
187
.\íeu grito é o t-stc:rmr éc um cio convulso ... tidtnc;ffo seciol do n=t;rc. Scgu:::do, ela se divorcia, de modo
]')o N ,.o,
,, a., ' N'\I o e' o m:,u gnto ...
h co 0 • 'lll~Ufat. dos mor"s das ff>?uh,,;ões negras hN>;ikiras. Por en-
quJnto, o poesia que serve de veículo \!O pl'Ocesro negro níio se
vinl-ub. nem fonn.il n-:,,,, ma1e.'almente, ao m11nck,de valores
i\{eu g:itc é um t'~p2.sn10que 1nc:.esmaga, 01• ,10 clima poético das ruhuras ner;::-ascio lka•il.
h,í um punh-al vibrand-, em mim, rasg-.mdo
A, d;:,c; constatações pcssne11 amplo interesse. Elas não
rueu pobre c-0niçoo 4ttc hesiu
pre,s1'põem ncnh= sorte de restrição ao nosso .,ioeca ou oo
entre er~ue: ou c:ilar 1: voz ;,flita:
tipo de poesia que se !)J'OCl.,a cultivar com vi.sr.is ~o órmua liJ-
Ó Africã! ó Africa!
mar.o do ~ro. Mas, revelam Ae forma expressiva o poder de
).ieu grito ~ ;em cor, é LUn flrÍ!() seco. condício!:llmento excerno da o:ira de arte. Se o "meio negro
f: vcré.~dd:-o e tris1:e... hrasilci..co''ti.esse um mínimo de lnt<.1,-r,1cikl,o.; dilemas 1r.oraís
do:..«:ritospot!eriun se.rÍOC'1lizad<isà luz de <:xperiê:iciascoletivas
autônoma; . .c."i'.istiriamconceicos e cmegorias de p-ellSflllJeJJtoque
perrnitiria-n arre.enct<;>J"a rca:idace s.:m 11clun1a medinçlío ou
í excertos de 1Heu Grilo). :ilienação, ~través de sentimenws, p~rCCIJ\."Õl';Se explic1.Çõesestrl•
talllcll!e cslc.,da., nos modos de sentir, de pensar e de agir dos
Em suma, o negro nao n:pudia nada - nem a exper'.(':icia p:..~prios negros. Na medida em q:=c o negro, como grur,o ou
ances!r.tl, ner.1 o univt"tso criado pclu br3oco, nem " condiç,:io "mino~ia rncial", niío dispõe ce clcmcntos p:1Ia crhu uma imagem
humana que nek: mcontra. A sua revolta nas-:c de uma injus· coere-nte di: ~d n1e~m<-'> vê-se n~!contingência c!e s.er entendito e
tiça profunLla e St.'tn I<:midio, 9u.: ~nde sente por sct pi.~to à expli~do pcln comra-imagemque ddc foz o buoco. Mesmo um
maQ\"elll da vida e da justiça hurrum:i, vít:ma de um estado o.."lrc• poeu, negro do e,tofo de (}.;w• Ido de Camargo Dão escapa s
mo de ne~ção do hom~1'llpelo homem. Em nome de um código esse ir.1pa~sc,de e:iorme irof1()rtiindahistórica: até onde ele per-
iôco 1·udee egoísla, o br!'.:.nco ~:,;nora
a.~:orruras,os oo::flitos e t!s durar, o negro pennanecer.í aus.:nte, comu força social con;.;iente
conmidições que cirnemam sua concepçíi<J"crisili", "eordüil" e e orgaaiz.ada, da luta cont1·a a at,:ru situação d:: contato, sendo-
"deo1ocmtirn'' do rnundo, condeiltlndo à danação todos os negrvs -lhe impos${vel concorrer eficazmente !)2t'a a correçiio das iojn;;.
'lU~ AC't";t~mcom inteP,ridndeP ll~l""Pri~mol"S.c;~ mc·s,m:1<'onc-rr,çio ti<,-ass<.-ciaisq1..-e ela encobre e kgitima.
do :mrndo, con suas orçõ~ e valores morais. Já o segundo ponto tem f!J:\is que ver com a dinâmic~ c!:i
,\ in<laé cedo parll eini lir juízos deíi.niúvossobre essa poes_ia ctfo~ litcréri". Os padroe.s Je pcocln.,_--ão 2rtí,;ú□ e de go;r.o
nep,r•, associada à lil>eiaçfo soc.¼11 progres,ha Jo branco e J,) liter1Ho impcr<!.lltcs2holiran1. farl!,runenre,e infh:::xocontínuo e
Dl?);ro nn sode<l~de urbai:.ae industria! brasileir:\ de no;sos dias. produtivo das ncmnç'llscultur.ais t!e que foram portadores esto-
Dois rxmws, todavia, pnrlctiam se= ,1pro(unt.',aJos. J?rin:-eir<>, na ques étnico$ 011 raci:l:s. con:tl<ler~doscomo <'inferioresº. Ao
su<1fo11ru1 atual, fi:::ando o dra:na moral do 1ie.gro de um llnP,t:h~ aderir a tais padrões, o anilita x:ab,1s.icrilicando, "<!m o saber,
m;.:rarnc::nicschjctivo, cla não trau:;cc:ide nem mesmo radkafü• riqne;,,as pmcnciaís insot:dávei,,.. algulll,IS lig.'.das às SI'ª' em:rgfas
o gi·•n.:.de " consctcnda
.. · da ~nuataô
· - ·• 1uerenLe
· •as nu1u'f esu~s- pessoais, outras vuiccl<!<h,s â influfncia Jo runhíenre S()cial ime-
ilctr:«fas do pro:e,·to negro. É certo q:ie da expõe a, co:,as <le diato. Lm simples parale;o permitiria ilustrar danamente o q.ic
maacir.1 m:iis 1,>ran&osa,..-hcx.11ntc c ptu1geu1e. Diante Jela, mé pretendo dizer. Tome-se c:onio c:<cmplo o futeL-ol: e11 sucessivas
os rcluumle$ ou o; i~diicr-~:itcs tl'1a<J da abrir os oihos e o co- gcraç~, sempre contamos rnm alguns "magos da pelota" ru:gros
ração: há torpezas se.m ooir,e por detrás ck,s iníquos p:ultões ele e attav<:sdeles CO.ílSef:UÍm<F•cntique,er gradativa1nente a nos~a
conviv=1.xi;1,que i-egolam a integr"ç,ío ck, negro à ordem social "arte d., jog.1r''. E:n gran& parte,, isso se de~e i\ lil:>E-xdade de
vigeru:e. ~o entanto, essa mfsmn poesi11 •~ moscra inc,l!Y.l.: ele expressão coclerids !IO jogador nct,,ro, que não en~ontrn réplica
sublimar atitud~s. evmpulw~s e a;pirf.çôcs inconformístãs, ,ice na esfera da produção art'stica. sufocada por preconceitos de
a ;:,oJeriam c-cnver:er num:i rebelifo, ,;,olrndc. para o proets:So cle vária espécie - ou ;e e]il)linao concurso do negro e o ~proveita-
188 189
mcmo de sua conrrihuiçâo criador.1, ou .se esliol:i sua capacidade
das assooaçoes culturais neg;-;IS,das eStão lo:,ge d.: juscifíau
de rennva,ão, submetcndo-o a um processo c.k rceduettçíio que
as prcforêi,cias que met-ecein. Os Olmiahus que uoem a reden•
o transform,1. sem nenhum sarc-.ismo, em um escritor branco
de pele preta. Embora não dcverr.os levar o paralelo com o fu. cão social do 11c170à ema.ccipaçãoj ntelenu:il do Brasil repousam
sobre processos civilíurórios que :-ec.lam,imuma _poesiasuscetível
tebol longe demais, o que p:trece aconselhável scria uma re,t<".iío
cfo inspirar e dirigir a bsia de apetfeic;oan,ento conón\lo do
positiv,1, pela qual o imele<:tsz.,loegro ( e c-omo de qualqi.:er in-
homcm. Ela tran.parece em mui,o.; "erros e em algu:is poemas
cdectua! idznti!icado com determinada pareda da heterogênea
de Oswaldo de Camai-go, ?riucipa!meme naqceles em que o pr~
civiliza,,·ãobrasileinz) repuclia~se os freios que o isolassem do
ter/o negro encontra eco mais se.1lico e profondo. Se ela ;;e
ethos de sua geme. Certas perdas cuh:ur-.tis síio itrttuperáve!S;
roma.tá mais participante e militante, ou não, é impossível prever.
r.ertlcmos o p<.><:t,
negro que recriava as tradições Voéticas tribais.
Todav:a, precisarí;,ooos perder tMJbém a própria Li<:uldade do Tudo <lepc!Odedo .inter<:iaseque o poc-ra t3ver pelos problemm;
humanos de s1,a gente e: do sentido que iroprimir, em fonç'io
poera negro Lle crr,rimir-sc, através de sua poesia, como e en-
disso, às suas ativitfades criacoxas. De minrui parte, gostaria
'l\lllllto "n~gro"? Se se desprendesse da tutela total do branco,
é presumível que o escritor negro bNSileiro estaria em condiç&,; imenso que ele completasse o círculo de stllt evolu~-:,ointelectual
orrostaodo os ângulos Í!:L-xp!ol.'13dosde>protesto ocgro e .Ebcr-
ele rontrihuit melhor µ.1r2 o e:-..riqucc:memo da oossa literatura.
tando-se de influxos que a:nda retêm suos produçêies [.>O~tica;
Um poeta da enveti,'lldura de Osw"1!o de Cunargo, se pcr- no limiar das =periências lmr.:ianas do negro brasileiro.
si5tir em aperíeiç<>aNe e cm trabalhar duramente, poderá marcar.
con1 sua presença canto os movimentos sociais e culturais do
1ncio lle!ll'o quanto a renovação de nossa poc,;ia. O "grande ho-
11:cmde cor" tonu-se, em si mesmo, cada ve,; menos impommtc
eD1nossa sociedade. l::m compensaçiio, os frutos de sua contri-
buiçífo pesam cada ve;; mais no fluxo da vida humana. N'mguém
meO,or que um poeta pam revhalizar as aspirações igualitárias,
um tanto admmecid:lSatualmenie, que oritnmr,im os grandes mo-
VÍlnl'TltOssocia:s nrgros <la década ele 30. ~ingm:m melhor que
um poer,, para sugetir e-ovo; rumos no aprovdca01e11to cons-
trutivo das energias in!elcctt111isdos "tâlc...,tosnc:gros". Fala-se
muito que vivemos ntUÍ1.1cr.; pouco propícia à poesia. Não obs-
tamc, o poeta con;erva <l fascbame prc~tí2io que advém da
dá
1112gi>1. pal.tvra, iodtssoluveln.>entc~ssÕciaci,;·
à l.inznagen, e ao
raciodnio poct:c:os. O .;e;,1 e.-..cmplo não só se propaga, como
também cala fundo. Is~ é tão ,·ettladciro hoje, corvo o foi no
pass.!do, ~mbor;i oouitos ignorem que i,l;o existe civil~;;º .<em
P~Ja.
1$0
191
no Brasil. Contudo, gostw,1 de aborc;3=aspectos ((Uz. sssu=i
maior imporcêru:iaht~-ióricapara r:ó;, porq:;e dd:ll.em melhor
cm {orrn,:çiio e a_fir
da intciigêr.ciaDe:9,1-a
o que devemos c,,pe.,.--ar ..
in11Çiío.Seja-me permitido coweçar com 11ma cilaçoo, talvez ex•
tensa roas ncccssá.rla: "A lite.rarcrd cramátka Pª"" os neg:-os
está cm plena fase <lecriação, e, ccr:amente, n:ic>é estranho a esse
fenômeno a era nova que o Pafs ztta·<C!!.-a, é.e c!esenvo~vin~...Dto
CAPfl~JLO IX
e autocooscicnéta~Jo. Semdúvida, cst;UllOSnssi..tiru!ooo eocei:•
romcnto ela fa.,:;c
do caos par3 o negro ex~cm.o. Assumi::do,
oo Br-..sil,11s co:1S<:qiiências
e as implir.acõesque a NegrimdeCO!l·
O TEATRO ::-IEGRO º tém, ele afia os in~trumentos 6 soa :crus,. engmdrada rui c:spo-
lução e no soúiruento: recusa da ~ssimilaçlío cu!tur:il; L"L=sa
da misdgcncr~ com;>ulsó,-i•: reresa à h·.unilh:içiio; recusa il
O fançamcnto Je uma coletãnco de peços teatrais, org.ini- miséria; recusa à servidão. O Teacro Expcrim::ntal do Negro é
200!1por Abd::i.,
do N:iscin:clllo
{ '), obriga-nos3 pell$llrde novo isto: um instrumentoe um clcmcmoda Ne~rb.1tle. Seo único
o tcatTO o~ro brasileiro ou, pelo menos, a rc:laç:o que o teatro v!tlor absoluto é a gene.--osicb:lc" l p. 25).
possa ter com os probleor.s bumano,; do negro ao Bnisil. Nesse Ess~s afirm.1Çõespartem ele Afxlfas do Nascim~to " le-::irn-
li.-ro, não é ~cm um rompante de orgulho que Abdias cksveoda -nos, dire"1.Dlentc, pan n problcrdtic:1 do tí?iltr(> ex,x:runental
qt:<="os ar.recedentes mais remotos de textos !"',ta negros, for- do negro. As peças reunidas na colerí\nea seriam, per a--,sim
t!Ulmcore e!abor~dos, estão no te:itro grego. Ésquilo escrereu dizer, um episódio, ligado à contin#ncia das re!açõe. entre meios
As Stspiic,;,:tes,odisséia das cinqüeota fi111asde Darutu, 1rig11eiras e fins. O esseociol não é a peça ,eaual, m.1S o eh-ama coletivo
de pcle, queimadas ~lo sol do ~ilo"'; e qiic as últilD:lStentativas de uma "raça" e de seus descendentes mestiços. Sem dúvida,
eleconstru:r esses te.nos encontram represen~antes negros, induí- ele tem razão. Os "dramas para negros", escrito; por r.evos ou
dcs em sua colet~ através de Rosário Fusco, Romeu Crusoé por brancos, são testemunhos. Eles indicam o que os hcmeus
e de próprio, e ouu:os drarnsrurgos, como Ke!son Rodrigues, pensam e, de forma mais suti!, o que a socied:ide·fu com o seu
T=o c!e0:ivci..--a,,\gostinho Olavo, Lécio Cardoso, Joaquitn Ri- pensamento. Todavi<l, tomando-.se em conta z peças coligidss
beiro e José de Morais .PiJJbo, br..ncos "duma pcrspeniva de (para s6 depois voltarmos ao assunto ce!lrral), parece q>Jeesta-
sentido popular" (!'P· 2>-24 ). mos longe do equacicnacr.cnto normal do que é a ~egritu<le p:,.rs
Esse livro con,ém rica con:rib-..tlçãoà compreensio do negro os poetas negros da lú;,gua funcesa. Par.a falar cem franqueza.
e do, véu, <aro que o branco encobre uma realidade t2da\ pnn• sempre cnc-.uei ã Negritude como um produto i11rclcctuolímco.
gente; e b~ poderia ser visto como cro~ udocun,entaçãonpara Isso não quer ciiz.etqt:e a c-onsidereaJ.i.\oartificial e inútil; ao
n análise psicológ:a e sociológicadas teos&s e conflitos raciais contrário, ela foi o =inbo pelo qual 5e a:ou a consciénda
revolucionária da condição do negro, ctll face da domi:lação co·
lo.oial, dos dik-mas morois e.ach·iliza,;ão cristã e w:nológica e
,r: PubliC:Lçio Lltccirio
p:érit: O Es;,;.:dode S,'fo Pasdo, Sopk,OlCTltO do desúno do mundo negro, liberado das fontes de sua alienação
N.~ 26~-,.10/2/1962. humann e da vergonha aniquil,ido~• dos "out.-os". Se .ofo qui•
( 1) A..~~as do !\asciroento, Dr~as p:r&- Nevas I! pr&o1,P paríi
hr,m:ot, An,o!ogio de T~ro> N~J!n,silei.-o, &liç~o do Teotro °El<p<si• scnnos confundir as coisas, devcn1os ser daro;: a ~egró:u<le.
m,::itol do Negro, Rio ceJon.-ito, J.961; «:m6n: pr6l<>s<> p:,ro bttncos, de associada à po,,s~a negra que e.-.cuntro11seu '1--eído na língua
,\lx!ias do Noscim<Jlt<).pp 7-V; e ., seeuintcs peços: O Filho Pró.iiJO, francesa, foi também favorecida por o;;u-:>Scondições wtclcc:tunis.
O Cz!ip/> de Ox~!s,CCRon,~ Cro,ot:;A.~1-to
de Lúcio Ca--rl::-so; d11NO:ua.,
de Ro.wio l'nsoo; S01tiUt.io, ck: Ab<Easdo !\sscil)1c,rlto;AJé,r. do Rio que oonverteram certos çce.t::asnegros de nossa era c:n aJguns do>
de S210 1 de ,lasé<le ~ionis pj;..,ho;
O!:rro; t':!J:o.r
(!1fode$), d: Agosti."Jho maion:s poeta.< de todcs os tempos. $,!1:m, percebeu oom gn1n-
..4.r.JamiJ:,
ele Jooqu1m Ribeiro; At:jo Negro, de Nclsco Rodrigçes; O Hm- dc1.nesse:foto. Embor• su,is variações sobre • Negf.rnc!enão nos
paeibsdo., de Tas.w <k Olivci:-:t.
193
tJ
192
convençam, pelo menos quanto ~ r.ecessi<lacke 1i univ=lidade u11r~ n<l,, 1\:10p-,1::isepará-lo c:c si - :nns para res;,eirt-lo, pa.ra
do fenômeno, de ,lpontou c<>:nh,cidez: 1.•) o que 11rondiçiio , ln<JlJistaruma pcrspccó--a di! qual possa v,;lorizá-Jo,omo h<,mc-n1
hu.:!\tlllil do r,cgro representou para o ,iparecimcnto e o floresci-
r ,m.1-Jocomo criatura ln:n-:.ina. E ,1 recíproca é verdaécim. O
mento de cn,.a pc,e;ia revolocionária, que rompe todos os limites
11rl\1·0precisa lutar para ser aceito como negro, pr<:scrv.1rsua
d06 pnJ.rõe-.:: estéticoa e poéti<'os de~ branco.is ( e .m.esn10 Ja ~~ua
, lnc'epçiiodo homem e sua hcrnllÇa cultmal. l\ão parn scgrq!at•
francesa, _onde ela lhe se.rvi\1 de .-ekulo}; 2.º) () que signlii<:a
e, mas para (widir--sc e perder-se, sem ilisfar,ar•>eou sc·r dc5-
essa ,>ne;rn romo fu:ma de ,oosciênci,1, de h1ta e de si.1pc:nição.
uuído, no iluxo de crescimêllto dun.1 :Kaç-loqu~ a:nda s<ecnvtt•
pela ~nal o negro reivindica o seu 1•assado toma sobre si a IC$• ~mh:i <las graodezss tle su~~odg(11s étnicas, radXs e cultt:rn!,.
poosahilid,ide do sc-u d.:stino no presente ~ procnr:t fundir e:.st
~~-stbo à coeltistêllcia com seus alg~cs no futuro sem dar as Nesse sentido, se~ia possível com,)reender e c~plkar a p1·eo-
b.ces a hei jar e sem nenhum falso pu=it:uú.smo ~mo um ato CUJY.lçiÍO do incelecmal brnsileiro pela Netri:ude - como um
puro de vit.aljc\a<le e de confüinçanos "estilos afr.icanosde vida". n1.1do de espí,:ito de rcdeoçíío do branoo, no sen.it\o ev:lng.<Í·
"A ahsnr.d,, >\gitaçio utilwír'.a do braom, o ncgm opõe a autat· lico, e de ascensão do nej\ro a n1~0 o que lhe foi proibido ou
ticidade recolhida de .;eu sofcimcnto; pot teJ: desfrutado o hor- tlég.l(lo. Conn:do, como já aconteceu nas difer..-.n!esía;es da lula
tfod p:h1Iég)o }e• tocar 110 fur,do dn desgraça, a raça negra é anticscravista, esse estado de. e~íriro tem de ser universal na
urn.1 raça ele na ( ·). Aqueles poetas ap,uçeerrun como vales ele ,..,,cicdadebrasileit'1. No pasS>1Jo,"lutar p!lo negro" constituía um
um~ "raça eleita"! pa.."Zcx;mrgó-la e redimi-la. Só a poesia po· ma11dato da r~ bN11ca., como a ck se referiuKabuco; hoje_.''luw1~
deoa fornecer meios para ele,.,,. de tal modo o homem na idade pdo nc-grou é uma missão com que se den-ontam os próprios
da ir.lÍguina. Só o poeta nqiro poderia rel't1pcrar e retemperar negros, embora as su~s aspirações POSafetem tanto qu,1nto a c:es
os dons criadores ela intuição genu.ü.1amentcpoétic:i. próprios e nós façamos, ari 1,a0\1passivamente, pane do pnx.-csso
Agora, como viocu!Ar " li:enuura d:atnática brasile.ir-da esse que se desenrolaflOS nossos olhos. Kes,<>stermos, solidaricrludc
clima inteiecn.v.il,com suas complexas raízes c-dturais e suas dcli- ,: integração representam. meios e alvos, e :i-enbum branco eir.:í
c:2das complicsções morais? Quem leia a coletânea de Alxlias i•cnto de co111parrilbud>ISoj.)ÇÕes qLLeéão sentido ao ·'p(o:esw
do Kascimeoto logo c:on.staia uma coísa: os dramaturgos são n~ro", configu1'1!nd<rocomo realidade bst6rica. Anali<ando as
negros e brancos, ainda que se possa, legiómameote duvidar da pc~s teatl.'11isreunidas em Dra,r.ar p~ra Negros e pró!ago p..ra
"nci,'Iituée" dos q':e são negros e da "hranquitude" 'dos que são /.rJucos à lt,z de semelha2tes convicçõ::s, cledu,:; que é i::rviá~l
b~anC?s,dentro de nossas concepções de "r:iç,1" e de "cor". A <KJtra fórmula, qualquer que da seja, pana a situação brasileira.
m!lll isso sugere algo inconteslivel: o imeleco.1alnegro brasileiro Na vcrdac!e, Ro:neu C.-usoé, Ros:írio fusco e ;\!xi.ias do :Nlls--i·
tom de preparat•3C p:u-aum desafio bem mais diffdl que aquele ~llêflto, os. r:rês. "ocgroi", r..ão atin3en1s.enâQo quç:
d_ra:nttu.rgo1>
com que :urastou o !')OCC!l negro das rebeliões africanas e das S•rtre caracrenzou co1110moà:ilidades de "negritude objetiva":
luta$ anticolonialistas. Doutro lado, o intelectual branco brasi- • v.llori7.açâ'O da experiência humana e de suas fontes psico)ó.
leiro não pnr{P.Íf™l't~t rs~ de'SStf.i<:,
e voltar-lhe ~s costãSt potquc J•(~s, sociais e cu!tut:úsno mlli,dodo neisro. Oru, tod.ii as de-
estamos todos empenhe.dosem com?tcendê-lo, defüú-lo e superá- ,n~is peças, de autores "bmocos", não fozem outra co:s:t, mesmo
-lo, para r<:aliurmos de for□a autêntica e completa, a rcpresen- • trntativade '1 recupera('ãofo!clórica"contida cm Ar~u1:dci. Por
~ç:ío do homem ~nereme à civilização pela qual propugnamos , ,doso que seja, ond,; o jogo c:!os~Ullbolosj>Odctia nos lev,u
h:sron<-.un<:ntc. A1 se coloc:ic questões quase impossíveis. O 11d1lcmalinentem.ús longe, como em O Filho Pr6digo, em Sorti•
branco consciente da sic;iação históric<Ku.lmral brasilcitji tem IIK'º e CIU Anjo Negro, tcmC'l:1õ de no,;10 o ubranco"irmanadocom
êc resguardar us condições q.:e permitam no negro ser mais negro " '' negro" na busca de uma peneiração mais profunda no cos:nos
111ur,1lproduzido pda miscigen.1çãoe peles injustiças flagrantes
" • ili;!arçadas da "dcmOQ11ciau.cial" bra.sileirn.
(~) Jttn•P•u~ Sarne, (J_rfe, Net,1't>, ú, Reflexões sobre o racismo, Tu,lo isso nos leva, nnturalmeote, a ter de refletir wbrc o
troduçao
Ui.
,:.,4,g.
ct J. C'm,nrourz.. Difusão &ircp,:ia do Livro São P•ulo 1%0
' ' ' 1 1u1•110 pl'l;l!,lemado teatro negro no Brasil. A idéia de um tc,,,tro
, (' "flfrntol nasce de uma formulação moderna e posith-a: a ques•
194
!95
tão e~-tácm ~aher co.rno rcaneiá-k. A 1·;gor,o teatro que possuía- ,una t()mpensação;, e o hr:egro11- o que o teatro dc-\..e ofctcccr-
n:os ( =cemandc>-se cedas rn.mifestacões <le teor folclórico ou lhr como inceotÍ\'O, fonte de reeducação e meio de integração
pcp1.li.1rcsco e a p~sença dctonJ13da •ou amênt.i<:a do nrgro no n• l,bcrd:ide? Ao Ie.r esse belo livro, con$tatei que Clõsaspcrple•
<inê~o teatro erudito brasileiro), como as demais manifestações •i.Judcs respoodem " motivos e a c,\u;as ditíceis de alrerar, poc•
ir.telecruais, era de brancos e para brancos. Engendrar um teatro •111cprovêm de uma situação h.istóri<.-o-culturalque se transforma
n"R•Osigoii.ic-ddar uporn.midade cle formação e de ,ú.ianacão {om demasiada leotidão e muito pela i-ama. Em conrrapeso, o
artíscic,,s ao nt»;;ro - algo em si mesmo revolucioná.rio, que im- "t"!lroman..,. a sua presença,condmindo o teatro em no,•as di-
plica\.,. em revi.s<x:sde estereótip)s ncg.1tivos para o negro e na reções, propor.do novos liames e,llre a vida e a arte.
eliminaç-:íoprogress:v:i de: bam:iro~ que p1;051:revr.un o negro d~
nn:;.sa 'l'id:t inrelec1ual pródu.tiv:1 e criadora. 1,,1as, wn teatro
e:-:p.t-riu:e,u;;lte:n Ltc: \'bar 3 o:.:ttos fins. Ou seja, ao dar canais
.:le expxes;ão à c.ip.1ddadc criar!or::: do l)e{!.toe ao redefinir rcpre-
semações ;obre sullS aptidões inrelecn1ais ou morais, ele preâsa
ttlgw,:4 C!Ji!a C,71dct.ertniJ!
t'ot1C1Jrrcrp.t1ra1.>1od.i.f!l'!ü' ..ada direção.
Isso levaota v,bas yucstõcs, lip,a.:l•sà elaboraçfo dos dramas, à
compcsição do, auditórios e às influências educativas <lo reatro.
Por Vtlrias,,.~t::i rt:fk"'tí
se.riamentesob.te esse assunto e nunca
consegui a\iviac-n~ de e<:rta.<perplexidade:;. Um dos pontos que
me !)reocupou e,.'ever.1s diz rc.~peito ii ligação entre o reaa:o erutÜIO
e o teatro popuhr, rum si:n; imp.lk~ operativas: se há grande
intcrc-ss:, e1n ,urai.t para esse teitto toe.lo, os hrasileiros, há inte-
t<:sscs cspedallssimos ck fomeJ1tar o L'Ompnrecim~.ntoem m,1ssa
do ncgi:o e de :::xpandir as b:i.;.esJe :i:,cnmunento do artista nq,,ro
ncs~ m:as.sa<le.espectadores. ~esse caso, o teatro devc.-ria ~r
~inc:1->t
maõ; revolucionário, quebrar as CJdeias que o pxcndcrn
ao nosso teacro europer.iado ou norte-americanizado, tornando-se
11amcrli<h do possível e,:io11dnc-o, muito l'lástko e recupcrando
c'..:mcc,ms da l.radkão atticana qrn, inseci~m o drama dircra-
:n~ntc: nn; {'(lndiçiX:stribtú~ de c:xistênda. O,uro ponto vincula-se
ao conteúdo clessts d.-atnas. Ilá. a preocul-.a,ão de cvimr -se o
Hexóc-ico" ~ oomo estllização ou como est.únulo estético; tn~, onde
s-: u:m cxpforac!o rQm \•;gor o incentivo peLt /c,m,ul" de com•
c~11â111 Onde o desm;1sc:irame:i110ou a descric;:iio simbólica fo.
ram mais lon~e, ambos per1~nece.,t:n na pcti!cria, cm 1,-randc
pane porque se resolve::am os proble1J1as da representação pelo
artista negro ma; não se túlha pussibilioodc sequer de equacionar
o uu::ro prohlema, o do :1uditório e d,, patt:idpaçio do negm no
púb!íco orgânico do teatro brasileiro. Por fim, a própria função
u,cra-cstétka desse tealIO inipõe•sc como acintoso desafio. .Está
certo que temos <ie pemar Do homem bra.rUeiro - e naoDO
"br:,,"lCo·•011 no "negro·•. Porém, sc:gt:nc!o que medidas? O
"brattco" muir,1s ve,;es procura uma cntarse, uma justificação ou
196 19i
RELIGIÃO E FOLCLORE
C.'J'i'l'U1.0 X
REPF.ESE);TAÇôES COLETIVAS
SOBRE O .KEGRO
O XECRO )IA TR~DIÇÃO ORALª
101
:ctt~imen:o t.tat!uziu-se por u,na diminu\çiío cfos wntatos entre
os lndios e cs bn1t1q1s, o que possivdm;,nte velo -atenun a inten-
pormp,uêsde baixa po;íçso, ocupa,"9o lug;ir tio cspanta-rria.n~as
lusitano ( o "cuca", o "pei-.ão"), nn jusra observação tleste
sidade dos proc~sos acultur2riços, cxis,entes entre os dois gru-
pos. As relações diretas cntte negros e f.ndios foi inicialmente
,,ucor( •). "Veixoc,sc de ninar n meoino cantando como cm
Portogal:
prejudicada pela avcrsro qu.: aqueles causavam aos silvi::olas
machos ( d_ S~int-Ill!a:re:e pr.o\'avelo1elltcpor motivos reli- "VaE•te;coca, \illi-te,. coca
giosos. Suas re1i,;íics se tomaram mais fatimgs s6 posterior- I'rá cima do telhado
mente, 1uas n::n.cachegaram a ser con.s:der~h.·cis,
e üs.o no; força Dei,;:a donnú o meoino
a admitir a h:p6tesc de que a açfo do oe,",ro sobre o foklore Urn ;oruclio c!csc,-,1JS-1<lo".
índio se pro::c;so:t 111:Nvésde contatos com os bnocos, e sobre
os clcmemos da cultura o:al índíge,-'l aceitos pelos me;mos "Par:1camnr de preferência:
brtncos_
"Olh.a o negro velho
Assiro, além da sua contr:bciç:fo origir,al, o negro reagiu Em áma do tellutdo
sobre o folc)ore do branco e c!o indígena, e._-.,_-ucecdo a função Ele está dize11do
que rum_-,,Jmencepoderia ser real::i:zda por este, tanto no que Quer o e>eoitlo assado" -
respeita à tn1diçiio lusitana, como no q::e se referia à rons«vaçio
da própria tradição indígerui., não fossem os situações que apon- Cotn o '•p9pão" aconteceu a mesma coisa, sendo substituído
tamos acima. pelo "tu:u", como poderemos verificar, cotejando a ,,arfante bra-
Nos elementos do folclo:e ibérico, em q,Je essa reação pode sileira e a versão portuguesa, coihidas, respec,iv~mente, po: Ba-
ser evkkndada, o negro preenche, ger'1lrneoie, as fun{ões coc- sllio de Magalhãe.se Go:içalres Viana( 3 ):
r~spondentes ao seu status soáal, ocupando os lugares "infe-
riores". É o qL>e podemos observar ao romance "D. Barão", "Tutu, vá-se embora
recolhido por Cclro de Magclhics no Recife e ~tudado por Silvio P.rá cima do telhado,
Romero ( '): Dei:xa o nhoohô
"D. Ba:-ão oue era macaco Dormir sosst!_1!11.do"
De nada se- arreceou; "Vai-te, papão.,vai-te etnbora,
Chamou pelo .;eu "roo1eqce", De cL-nadesse relhado
Uma carta lhe entre;.ott. Deixa dormiT o mecino
Um socinho descansado".
Compare.se agora ao mcsn:o Rom:lnce, recolhido na Foz por
Teófilo Braga: Toc!avia, não ho~ve desap:i.recimento das versões ?<Jtlu·
un. Barão como t'.iscreto .._ guc..;as: ~pe!!as ho-:ive um:a afrc,abr$.Sileirizáção
1
por assitn dizer,
De nada se arrettou: est.s éua!-;cant?g.is d-=berçQ,
como testenn.:nham.entre. Oui:ras.J
Cha11lQu.
p,:!os.eu c!"fado~ por nós recolhidas em São Paulo:
Vma carta Ilie entrego,,."
"Dorme, nenê ( Born llet:ro ).
Vê-~c q,.ieo criado português é substituído pelo moleque, o Que o cuca k,go vem
"prescadio n\lln(~gostoso, man.,_jadoà ~-ontade por nhonhô", com:> Papai foi na r()Çjl
o considera Gilberto F=eyre. Quando o meto não s,:,bstiru!a o E mamíie também"
102
203
"Papão \";\Í embcm1 (BC1mRetirol mcnto; tht &roologb. atuerím\ia; ou nparccimeoto de criações
De cimn do telhado o mesmo rem;. básico. Um do; eseroplos
idê.-:ticos.co11S<!rva.1.do
Deix,1 o nenê é o saci, Olltro a iara.
Dormir sos:.egado". Cor.Jorn:c cspeciíica Basílio de Magalhães, oo ;eu rrab:\lho
,obre o fokk,rc hc,sil1,iro { •j, li,\ nc,n d::pl:cc simboli:a.çiío do
A mesma coisa poc!emosobservar quanto ao ronto "a me- ~i 11:\roicolog:air1díi,<e11:1: u1ru1:1nuopomórfic:a e outr.1 orni·
J.,inados brinco; de ouro,, ci~ o "rurrãogu~ c..u1tava";do cickl comórfica. Eoqu:i:ito uo Norle er-Ao s3ci 1:cpr-:s::ntadopor um
europeu, apc,;ar de cer um equivalente ,1fric-.ino.recolhido nor "r.1puia pernct.1 de cabelo averll!elhado,sem 6rglios para excre~r
A. B. J:.llis. !<Cj1\mdo
Nfaa Rocrigues: o velho c!o bordiio,' de O$ resíduos da bebida e d<1alimenraç,ío sólida'', na "africani•
bnmco qu<:era na versão ibérica. ~ qual J><ts;CU para n6s e Assim r-<1ção" co dt:cnc.c nn:cdudio predomit1C\l a reprcs.:nta,;5<>antro-
foi recolhi& por l\i11a Rodtigues Ih\ Bahia, ,tcahou por ser subs- polllórlka, !ll.~SFioonmi cn,no " ,'<'nhecemo;; hoje: neiro 1:ctimo
1'.illl!dopor um rv-..gro,na varku1te rcgisrrrula pelo Dr. T. .b. c-010um barrete vc1-n1cllioLt:lc:,b.:(a e um c,tchio,bo .~o e.mi<>
Silva <;;impos,_rambém&1Bahía('). Da \"Crs1io!l()rtugues;, em d:,. boca, dis',)licc11b:mc::me kr~<lo, bondoso ou malv~do_.como o
que o velho e bnlJlCOe falá rnmo tal": convém a uma entidade aÜ:iC<lnb:wa..Ad:iptcu o nome à nova
,'01·, p3;s,mdo >1 >te coohe.::iê.ocomo "negrinho do past1,r.::io",
ccc~wta, airr:ão ,(o n~l'inho d:1 úgu..l 1
·~ v~ simpksrr:i.!nk,;o negrfn.ho:'.
Senão levas com o bordão" A inro já tú161 ul:hl oom:spondenic nll hiurolntria fctichisht
do; neP,ros africanos: ien~11j~. Enm:c211to, nito houve pi'O!)óa-
PllSS:l!llOS ao utyrn afrkano: m~nr.e uma s::l:stitul('ão, 11anossn culturtt oràl, cesta ;;,or aqu~la,
mas apc:tas o ap(\recimeino&, mera entidade idêntica, a "mie-
'"Canto,cenra, Jninha Stlrtâo, -<l'n~un"('}. llo!!ve Lt:n intel'cs~antc sincretisn:o na versão afri-
Se não eu ti <li cana, qu-, s~ cm5>ardhou à indígena, e da qual 3pe11ass,1brclcra-
Com cachamol'\lde minl1>brudão" -se pelo ~•.:!to ~JroHnico ("), rnnscrvado pclo, nej\ros feti-
d,i~ta.s.
Na pcsgu:,a ,iue efellll!moscm São Paulo cão e.ucontrarnos f.ss:,s dcrttn:o;, stgundo c1'1:mos,podem <larur\'la inéia do
esse:L"nto, tQlh-.,;a~ch.twosprovável que h,tia tem.iniscênda do q,ie ,~issemos,octrca da re11çiorlo 11.:yr:usobre os elemen:os doi
fato narrado, pois as ,,cfaoças acreditam na exiw:ncia do "ho- folclnrcs iné:ico ~ wd•_p,enne mustram que, relllti\'an1cmc ,10
mem ~o saro", o qual idéntuicam cxatanl<!/lte ao negro do SllTrÕO, folclore c:u braucc, há uma rr:msfcrêná2 das iJÍOre$sim.ações
aproxt~10-0, ooutro laJo, tmrito de:, qulbli,:,go, porquanto é pt\ra o nq:;:ro,t..1u-:ptl$S-',~
('t"IT%\uY:1piano <.Juep<xler'iamc.s.
consi•
que cabem i:-o seu ~oo.
<J•J~seiliin1tadn o ra'1n~-v ele c==~nça::-. dtt-.u:''jn!erio!'.,.
Al<:llldis.«>. "o negro acfapt,,u d,mentcs de sobrevivência
hi,,n,rira, e ~,é eru-eclo;compk:ms. 30 te;;.tro pop~ar 1).1.ie d~
já cocomrnt: no Bra;;il, m,1.i(lo pelos portugu::s.:s" ( ºl. ccioo 2l ti mpl'T!orilkdcbi,1/6g,icae a poti~~ soâ,;l ~o ::egro:
podemos verificar no$ "cm~os", pot e.xempl.o.
Ekntc'll,os da cnlmra oral iodi,genatambém 02ssararunor A superioridade biológirn dt> n~ro, r,a tritdição oral, --eferc-
uma espécie de "ofricaniz:1tiío". Vejamos apenas dois exemplos -se à Slln resi~ência físíca, lt>:lge'.'Íé.ldee rnpacichde pare cru-
cscforece<lo,.,.;,
o, quais <lo::111on,::.n1m
c·m que consistiu p1'ecisa-
mente essa "afric,tni~ção": 01.1transformação t'Orcplccnde ek-
(6) 0?, ci•., p,íip. 76-7/J. V<i•·"' também Lindolfo Gomes, Crm!M
Pop1i!cres~ voL I, pJs$. 91-9?.
( 4) Basfi:o d: , Msi,zlhias, ç~. ri!., ~l'S- ~$6S e 13().31. Arre, (i) O n,. Jaiu da Sih.·a C~pc,s recolheu ns éis tei:nas,. Vc:,1-s:
lh.-.,0$. O Folàt>te !\ei,rG ::o llrc.úl R.o d<: Jonaro, 1935, pág. 210.
0
op. cit., f>ÍF-'-246-249.
{$) A!tlr .R~_;n~)o;.. d!... p.{g. ,i9. {S) Artur R!ircos,O Negro B,,,siJ,~o, S. .l'O'alo. 1940. p,lg. if1.
204 205
balhn, hi·u,os. A .tnális~ das l'epresentações :;olctivas que signi- Jsso nulo sintetizado, íbri,i (> ~e.tle(jllizado rifão, corre!lle
ur:1a superioridnêc: bíológic,1tio negro pode ser feita, fccun-
ficITT11 crn Síio Paulo: "Trabalhar é pr:á negro", em q.1e se liga à cor
damc:nte, na pa.tcmiologia e em algutnas ql'-'<d.rinhas do nosso ,1 ex-cont!içiíoservil
folclm,::. ,\ an:ifüc do mate1ial recolhido mosu-a que se trató\ A icledod1fade ~ocial do negrll í: f:artametm:cxpt1.-:.sa
cm
de un-.a superiorid,i~c apcna.s aparente, pois os traços qut po• v.icias situa,&::. tio oosso foklore. :&sa inferioridade, toda._.fa,
dtrfam aira<"re.rizar o negro como set superior 5'1o aquelc::s que não é simplesmente c-ons.1atat!a,pois se chega a dar aos ato,; da
simbolizam um,1 verdadeira inferioti6de e qu,: definem a vida soc.ial dos pretos wn significado d<.. -prÍI!1Cnte e pcjoratív~,
"besi.i". Em se uataodo rle tr:1!:,alhos de racioci.n.io,logo '1;1a- estabelecendo-se um,1 espécie de tlislin,;ão cnm: c.,ss<:sams e os
re.:e o b:-aãlcopara dirigir o preto e mandar nele. Vejamos mesmos quando pnirtcados 1Jclos btru1<:os.Duutro lado, atribui-s;.:
alguma coisa: "Negro é c<>mo grn,: tem ~cre fôlegos" (Bela comu11:1ente aos n~os o 1:111isbaixo st!Stus da hierarquia social,
Vista). ~e5$e provérbio a xc::sisttncia do neiro é corupru:ada,vm correspondente ~o nlvel ecoaôwico menos repres.:;ntativo, cu-
a dm gams, que, d'ii o vovo, "km sete vidas". Com significado quanco o inte1-casamenco,previsto, J proibido.
corrcspo:idc:nte, colhemos também: "Ne~ro quando phrta tem H.i, na nossa paremiologla, provérb:_os de uso quotidiano.
Sl-sscnta mitis r.cima" ( Pm ). O rcrmo "pinta" significa ficar como os seguint~; º'.Preto não é geme".
wm ns tabelo, bril.lKO~."N~-groniio tem dó da pele" (Brás),
pm·que é <lesas.so1nbrado e c.1pa,:<le huefas ,írdu:is. Este pro- "Negro quando não suja na entrada, suja na saída", e outros,
,é,bio foz parte do popular '·bumbit-meu-!Joi", conforme a vcrs:fo que veremos :l<llillltC.
os quais parcCL-macomclJ-.:1r~.a,nel11
nO!l
dc,;crita po.:- Percir:i da Cos1J1 e cita<l,1por Arrur Ramos ( 8 ): que tratem com pretos.
Acreditat.nos que gnmdc parte dos pmvérbios referentes à
" .. ' ' ........................... ' condição social do preto ~ão parte., do "podre-nosso do negro",
S6 ~chei :1 Matc-us, do qual S!lvio Romero apenas rccolhen os "fragroentos" ( 1"},
Kão achei Pídélis, \.
Bem se diz que negro .. "O n~>ro na femt do bn1nm é o prhnciro que apanha e o
Não tem dó c!a pele" último que come";
''N,-gro conf= e não comunga";
Sobre a resistênciafisic,1do negro e eapaeidAdt<lt thlbàlho, "Negro quanJo &e dw.ma, resmunga;
a;néii reC<ilhem.?s
as seguinte,; q11adrinha.s: pau',;
"O negro é burro de caxga (Br,is) "Negro é vulto, qo:,ndo não pede, fona";
O branco é inteligente; "Negro cem c~tiog,t: tem semelh:!.ll(acom o Di:ibo";
O bt-a11eo s6 não traball,a, é a derracleii:a coisa do mundo";
"J\egro
Porq,;:e prelo não .: gente".
não entra na igreja; espia da banda de fora";
''Negro
·'Quem diz que prem se ~nsa (.Bela Vista) "Negrotem o J.X <lebkho, ,mha de caça e: calcanhar rachado;
)ião tem boa o;,inião, o dedo millhinbo é- como semente de pepino de S. Paulo; o
Se: 1:!'ahalha o dia inteiro, cabelo é canapicheita";
De noite ioda foz =ão". "NL""gto quando nio canta, a~soviau;
u Negro é bicho safado ( I pi ranga ) "Deitado é uma laje, comendo é wn porco, sentado é nm
Tem fôlego J., sc-t:cg!!ios; toco''.
Não fica doente nunca,
E~se pé <lec-arra?atô".
---- (10) "A Poesia Popul.,r no llrasil", i11Recist.11.l,r.,ikb11,1879, ,;ol.
(9) O Negro Dr11sileito,
S. Paitk•, 1940, ~- 365. II, p,lg,;. .3S-39.
20G 20i
:\To p:issndo, r.oroo ntuztl□entc, o mc,tre sertipano diz qu,, Do 1>o11to êe vim, S(l<:Íi!],
um dos indices mais :.nportanks,
que K-colhcu e.;ta ''leng?.lenga" ru□lxm dns pl'6prios L-sc:a._,,,.. que pod:em indicar se h,í 11maefetiça seg.-egação de ceno.s ele-
negros, n,; q~is a tepcli.u:i "çom cc,t.'> se,1tirnea10 à: in:c=ic;. ment05, é a misdgcnação. A hipchcse de fusão já foi 11re,•ist11
ridaC:.e·. 1111 foklor;: bra:dldro é a reação é deci;iva.o.1e.'lte ~ont~árfa ao
Vej11ll1oso material que recolhemo;: imercas,L'l1ento,como pod<:mqs verifks;r (Psri):
208 20?
Que bem m'import.1
Que fa!cm de mim
Eu gosro da negr,1 dx:garufo o dia de nego l'OOrrer
Mc...-smo
as.simº. E se for prn c:fu, S. Pcd.to faz c!csccr
No purgatório nbguém lhe abre a port<l
A segunda quadi:a j,í esda.recca situação real dos rransgrc.- }:; no in(erno nioguéci lbe <pet ,er".
so.res, que são castigados v::.lo"falat6rio'' do povo.
A separação entre .lçj\1'0 e b:'ltllco não toma apenas fogar nos Essa impossibiHdade "do coo"p--..roo r,reto, está bastante
casos extrelllos de fusão. Os ";;ão somos gente da mcsroa laia", gencralnada na fl()S.Sai n-adiçiío, como 1:xx!eráexemplificar n gua•
ou "lliio vivemos no mesmo balaio" ou "não scmos co mesmo tlrioha segu:nte, recoihida por Alfredo B.rantlão (" ), e já ante-
estofo", J><.~emlimit11r as xehções sociais entre eles. Nes_,c ser~ riormente assinalada por ootros autores, como Artur Ramos e
tido, são muito expr~sivos os ~-e~os de desafio, recolhidos ?<Jc Pereira ela Costa:
Pereira da Costa e ci:ados ;,or Artur Ramos ( 13 j:
"Negro \•elbo qU2ndo morr~
"l-Iá muito neg:o insolente, Tem canriga de xexéoJ
Com clcs não quero e:!gano Permi1a Nossa Senhora
Veja lá que nós não somos Que neg,o não ,á ao céu".
Fazeooa co mesmo pano, \
Nisso só for!IIDwlfllld~ O que vimos neste capítulo não passa de uma tentativa de
Kabuco e Zé Mariano". localização, cm no.ssa cultura tradicional, co problema do pre•
conceito contra os indivíduos de cor preta. Como 9UD()S, esse
O caso extremos de limiuição copreto na vida social está preconceito pode sl?t analisado nos clememos do foklore, o qual
representado -na seguime qua<lrinha, que recolhemos na Bela pode Sér a fonte ée esterc6ripos que fornecem juizos de valor
Vista: aos indi,.fduos, regrando a sua conéuta social. A consciência
tl,T
.,egro preto, cor ca• noite,
•
desses juízos de valor poce fazer com que os indivíduos, antes
Cabelo de pLxaim ele se porem em contato dírtto, já se tenham julgado e avaliado
Pelo amor de Deus, te peço: r«iproc:amentc, dercmú11ando-sc, a.ssim, ~ aspectos que as inte•
.l')egro não Q]ha prá mim". rações possam a;scmir.
Como ob,crvamos, e há muito tempo já obsen,~ra Sílvio
. T:unbém na música popular rooderiu podemos analisar esses Romero, os pretos têm conhecimento dessas represencações, que
taros. O cru-npo é ,;-a;to, para q1.-em desejar fazer um trabalho os colocam em plallO Í!lferiot ao bnux:o. e isso pode não só
completo; nós, porém, nos limitaremos a citar a.4,=ns fragmentos influir e modificar ~ aspectos das rehções sociais, como con-
'
do som b•-1ongo "Nego ", em que nao- h,a so 1uçoes
- poss1vcis
' ' para tribwr para a exist~.ncia e consc:~ncia <le ress.entimemos e mar-
o negro ( 14 ): ginalidade entre eles.
O simples fato de o bl'.~nco formar "um.a idéia inferior do
"Nego,
nel\ro" já secia su.fident.e para modificar o aspecto das rehwões
Li.nguade m:ltraca sociais, evit.~ndo-0 ta:ito quanto possível. Isso explica, até certo
Boca de cometa poato, a predominância das relações borizomais entre indivíduos
Nada que é seu de cor diference no sodedade sulina, pelo menos. A co:isciêod-J
Se aproveita
( 13) O folclc~ Nevo "º Brari/, Rio de Janeiro, 19}5, pág. 26}.
( 15) -OS K,gros ili Eíst&i• de A!.Jll')as", ;,, fü1udos A!r<>-Br~ri-
(14) De n1101Íllde Orw1do llras:i, Mig-,C:J.;m3 e Pcdrico. Mros, Rio de J.r.eiro, l S35, pJg. 87.
210 211
\
d-cssu rcprcg:ntação do branco, pd-0prelo: aind,t n:údificaria mais Nesse materW pcbimos ~istÍnf,'Uir !rês sitllllçõcs do negro,
os QSPectosdas ini:.:1-a~-ões,
pelo seu espontâneo e conseqüente relativamente ao branco: J) e negro é apresentado como se-'l<lo
1-etraímemo. o que podemos verificar em qualquer cidade pau• c:-Liolog;camcnteinfedor oo brnaco; 2} o negro é. a!'>t<:scr;1ad~
lista do i.nterior, melhor que :ios centros urb-&D<)s. wmo senc!o biologic.imenie ;s::p<:ó1, ao bra:ico; 3 1 o r.q,<ro"
a1>rcscntado como ~endo socialmcnrc ínft:rior ao branco. V<:tnos
Essa si!uaçifo é compliced~ posteriormente, pots o senti- que os itct1~ l e 3 s:ío desfavor:ivcis ao negro, enquanto o Item
menro de inferioridade pode a?rcsenrar um dup!o aspecto: a) 2 parece_.à primeira.vista, favo1'2v~:.
ser o ·'resuluido negalivo de um processo de avaliação" e b) set
a "co.nseqüência de uma repulsa rnais ou rr.enos decidida" (1G).
Os mesmos fatores aue e.,oJicar8.DIa atuação co negro no
folclore brasileiro tar.:ibéi~expl.itam, a nosso ver, essas três si-
A reação 5:Slctnática do primefro aspecto sobre o segundo, ou
tuações do negro :u s11atradição oral De fat0, a condição ser.il,
desce sobre o pcirneiro, leva, inevitavelmente, a situações im.pre-
vjstas e apressa prováveis conflitos, acabando por aumentar e se punha o nesro cm conrnto direto COID: o b:-anco,_i:,~lia-oem
condições de inferior:dade. ~!grado a lotm3Çiio crista d,1 Cl\lJ-
cristaliiar o hlpotétko ou real prt-ronccito de cor. Desse modo,
Jí.zaçãoCo senh;>r, o negro cm a ºbe3~a d: cargaH, a máqu~a
corporifica-se o retraimento do preto e sua aversão aos valores
que devia mov1memar tudo, desde o mtenor da C.sa-Gra11at,
ou futos concretos que o !evaram a essa siruação.
até as áreas imensas, cobcrtas pela culnu-.1 e pelos engenho,. B
Ai transpae<.tt o ressentimento. Para se afirmar a veraci-
como "besta de carga" era mcarado pdo senhor, que de17 exigia
dade do q~c: -afirmamos é suficiente a análise do ciclo de Pai obedi€ncia sem limites e passividade absol::ta, e o obrigavll a
João, n1 tradição popular, quer em prosa, quer em verso. Do trabalho insano, sol a sol, denominando "manhas do negro" qual•
mesmo modo a marginalidade, que po<len:os analisar também
quer prc:te,cto de failiga. Além disso, o negro, 00;110 catiro, não
nesse material: o negro sente-se repelido ntl:11 mundo que ele
gozava das regaliasda "pessoa" e occpavao ml!ls~1J10 st11t:a
julga seu e que ele ajudou s criar.
da hierarquia social, não tendo, me;mo, duran«: mwro tempo.
sequer o direito à paternidade, pois o filho er.i propriedade c,cclu-
siva do senhor, qm: dele ilisptL-ihalivremen:e, veoêendo-o ou CO!l·
3) Representações coletir;as do ,:egro - O ciclo de formação servando-o de acordo com a,; necessidades do momento. Doutto
das raças: lido o fat0 de haver rdações sexuais encre o senhor e a escrava,
pou~ ou quase nada beneficiava a mãe negra e o filho mestiço,
Além 61 análise.sucima que já !izemos da atuação do negro pois ainda a escrava exercia a função de "besta", da ~áquina <le
co foklore brasileiro. poc!emos e~carar qual é a posição ocupada reprodução da Casa-GrtUui~. E o que o senhor retm:\S Jessas
pelo .x:gro neste n:esmo folclore. Essa posição poderia ser reco- relações. posteriormente, el'2 o aumento da n,ão-de-o':Jra, equili-
nhecida em certas representações coletivas, cristaliudas na tra• brando assim o número de braçcs com as necessidades de ua-
dic;IIO popular ( ruis lendas, na paremiolcgia e.te_), as qu:iis podem balho na fazenda.
fomel-cr jdws ~ valor e regular, conseqüentemente, as relações A sinação social do escravo, por ouuo lado. vinlo.,.te~orç_:u
entre os indh·íduo5 de cor &ferente. fornecendo padrões predo- ~s repr=tsções 9ue já existia□ sabre a inferioridade e a bema-
mina:1tes d<: c-o□por-.an1ento e ro:1trioubclo l"l"' a estabilização lidade do negro, que aliás justificavam a sua submissão e seu err.•
definitiva dos padrões ·'deoocrálicos" o:, "aiiscocráticos", na prego coroo cafrm, por pane dos senhores. O resultado dessas
sociedac!e. Em síntese, rrau-se de ,crificar como o foklore bra- refações sociais, regulac'-'!spela própr~a _es~u:uraçã? da sociedad_e
sileiro poderia CQ!OC3x o problema das relações encre brJ.ncos e l-olarual e imperial, bem como a existeneta antc~1or de esre~o-
negros, e para isso l'IOS ampar,unos, prdcrivdmertte, em ruaterial tipos desfavoráveis aos r:cgtos parecen1-nos e>.-plicar, converuen-
por nós recolhic!n em São Paulo. temcncc, e;;s.1s três situsçõc:< previstas no oo;so folclore.
Podemos analisa= a ttpresencação da :nfori.Drida<le et:o!ógi<'ft
(16) Emílio 'w7llem$ - A;riv:ill<ão r Popsilaçi',cshC:zrtfMisdo \10 n~ro no ciclo sc:br<:a ÍOtllli'.,;áO das raças. .{{ bâ i.:rr-~loca-
,~rasil, S. Paulo, 1940, tllÍg. 103. lização bem cefin;d. cfo posição do negni, o <!U<t!,i:! aparec-,,
212 213
cri~do por Deus, se apresenta iofoíor em relação aos elementos pois O e!.:Deos cru branco e ll?nito, mas ! cu1pa foi sua, porque
repres.:ntantes c!Js demais raças, por wna espécie de retarda- o:ío reonrou que ~t:o. !1".30 queuoova. Assim 011SCC1.1o P~?to e,?
mento físico e mental, os qua:~ o ioibei:1 de qualquer iniciativa branco~ um filho do "Coiss-Ruim" e ootto filho de Deus .
pmp1'Ía e imedia!l1; ou, então, a noção eleinferioridade se pat<:n· A rep.esentaçeo de que o neRJ'O,é filho do Diabo está bas-
reia através da entidade criadora, diferente para o negro e: p.1rn entre o po-.o. Alem &'Ssa lenda, rec~lhemos
tante dis:seo:út1ada
o branco, o Diabo e Deus, respectivamente; num ólti,nu aiso, outra ("Deus, o Diabo e o Porroguês"i, d<.:fondo aneoó_uco,em
a infer:orirl.zcleé resultante de uma maldição morh•ada pch ,;uc Deus cri.a o branco, o Di:lbo o negro, e o por!118ucs, su~
conduta do scJ)QSto ascendente, coroo -.cremo., adiante. Es!cs rwclo os do:s, cria uma síntese: o mulato. Í 3IDbero. na poes18
fa.tos, crisuifü.ando-!ena tradi;:.'i'opopular, refü,iiram-sena parc- popular cabocla h,í =:ssa"prcoo.pação de diminuir o preto:•, como
miología, p!"Cve11<.lo até a sinHiç.'ío <..losc!c~endeoces mc-stiç<>s, observa Roérigues de Carvalho ( 17 ), q•,:ç. recolheu vár.a;; qua•
como esclarece o seguinte provérbio. qoc recolhereos no bairro drinhas, ci::tre as quah ckstac,1mos a segu:nte:
<lo Pari: ''<:aipira dest.'cndente de branco é limpo e trab.,lhador;
c.1ipira c!cscenc!ente de ptc,:o é sujo e vagahunco". "O braoco é filho de Deus,
V cjamos as lendas. O mulato é entcac!o
"Orlgero dai raças" (Pari). O 01bra niío tem p(lrente
F, negro é fiU'lOdo Diabo".
"Antig-.imcmct0<los os botncn.~eram pretos. Uma vez Deus
resolveupzcrnia1·o esforço de enda um sem nad:1ter dito a eles: A oilll:a lenda, q1,-e~e refere ao supostv :<scendcste da ruça
mandou-Os ar1·aves&1rwn tio. O mais e!peno, e que tinha ma.is
ié, executou logo as orcl1:11s2c Deus, atraves"ando o rio a nado. negra, é ~ seguinte: .
Quando saiu do outro kdo escava complctmncnte branco, que "Como nasceu a raça ntg?ll" (Saota Cl'Cl'lia):
em uma bele,,a. "Quanco Caim foi ,ur.eldiço.1clo por Deus, porque matou o
"O onero, qt1an<loviu o que ,irooteceu ao frmão, tamb::m !'CU ÍtDlão Ahd. "irou r.c.gro. .E ele, n': desesp,:-ro, procurou
correu pa1'a llS águas do rio, fazendo a mesma coisa qt:e ele tbha um rio para ~e favar. Enconu-a.odoum. ri.1cho.mal ~ a 7ola
feito. M<>sa .ígt.:a c,,t<va suja e ele saiu do 011tro lado apenas dos pés e as J>almasd~ J~o na águn. o m1d-10 S?.ccm.~ ;,or isso
amarelo. qt!C es negros t&n ~ pa!rr.Mda ro1ioe 11 sola tios .JX;~ brancl!!,
enciuanlo o resto .!o seu corpo 6 ne;,ro como ,\ noite •
"O terceiro r,imbém q'Jis mu<l.i.r a Lvr, imitando os dois
irmãos. Ivl.n;a Jgua -e:;tava mui co mais suja e quM~O ele chL-gcu · Outra lenda, que L-sc'..-irece~ l'osiçiío de !nfctio.t!.d~,-le do
do outro Indo viu com desgosto que esr:wã ~nM mutuo. negro no folclore brasikko, <áa $"41-clnte,~--.;,lhida ?°' L,ndolfo
Gomes ( ,; ). e incluída no ~eu "Cido sohic a forrr.eçao dns raças:
"0 quarto, :nuito molctga e !)te_guíçoso, quando chegou ao
rio, Deus já o ti~ha {eito secar. F.n,ão ele m<1lhouos pés e as O Branco, o índio e o Negro".
mãos, a?<=rtan<lo-0ssobre o leito do rio. f por isso gue o preto "Deus criou o bra.'lro, o !r.dio e o negro.
1em ~ó as palroas <bs mãos e as ;o.\:Js<los pés hr<1~~. e é mc:ios "Quisdepois expcrime:ltar-lhcs as qua~:mdcs tle btcligê!lcia,
(iue us outros'•. cors~ein <: dt:strcza.
"O ]}remo t: o Nq;~o" {Lapa). ·•Ati.ou-os ,1 :m, poço de c"rt.1 profunc!iclade.
"Certo di,l, Deus, ao ver o mundo tão boni(.O, resolveu po- "O brJnco, ycodo o pcri1,,o em que se ~cb,-,vg, pensou no
voá-lo para <lflrmais ,•it!11à n~Lt1re-a1.Eruão fe7. o branco, apto• qnc deveria fazer e, a1>ro,eitand~se &is f~ndas da tln&, ag;u,-
veitando o huro da tl'tTa. O "1:.nhc•so", q,.1e sempre ,t:oda r,tndc-se às r,ncdc-s do buraco. s.U\'CI.HC samdo do J)OÇO.
espiando o que Deus foz p;ira fazer a rr:esma cois:,., também
tratou de faze.e :..-n, bon-.--code barro. Quando acabou den 11m
:issoprão nele e = mor.stre."l!!Ocamhaio, preto e de c3bclo quei-
r.,ado, ;aÍ\l a corre: o mun<lo. O D'abo fiem, dam:do da vid11,
21.5
"O fadio, .;u: Ih~ observ?.=atocos c,s movime::!tos e expe-
~e_ntes, procurou im:t¼lo. 1~~ só pôde conseguir o que dese-
J"V" trepando às cosr.ss do neg=o.
'.'Ma.>e~te, .indolente, n,idi ceotou par, ~lv,u-se e dchou-
-se f:ctt, :n1Jt1\"c,.S01:! pedi:-Sôrotto, sem ?r<)Q1rsr qu~quc:""t" tt•
curso ate q~rc -ve:o a morre:-.
. ."E- ••. c:.,ta
• _coroou.w.,
,...,__ 113 ,o,: grande s:Jbedcc;a, iez o negro
1n.fenor ao ínc!10e o !nõo L1ferior ao bra:it-o". CAPITULO Xl
D_o mesmo modo, l;á e"!)lica,õe, .tidiculari,,scoras dos tra•
ços fis1c<»do negro, na tudíç,~o popucr, cofoando-o, tambéc. CO'.'-TRl:BUIÇ,\O PARA O ESTUDO DE U1·:l
4
cru J>os1cão:nferior: · LÍDER CARISMATlCO
"Urubu, páss,u-opreto (flej~ Vista)
P635aro cio bico rcmhL><lo,
Foi p:agn que De-.1:;deixouj I - L~TRODUÇ.\O:
Todo n<:gro !er bcicuco".
O pcesente tra:1alho, como i::d:ca o próprio tftulo, constituí
Outr~l exµ.1ca~io: de.;~e J!-::=.c.:nl..
ei1ccr:Lrnrr.os sobre u na:iz
uo;a s:n.,plesconrribui~o paro tJ estudo dtJ cu/!r, criooo por e
do ptem, erc Lindolfo Gc,mes (op. ât.j: desenvolvido em torno de Joíio de Citmargo, eo Sorocaba. Os
<!nelese,::ro;1os!ONJmrecoibidos in foco, durante o mês de julho
·'Dc,1$ c;uandofo, o neg:o e-el 942. Os resulrncos d,1 p.-.squis.i1ão foram pnhlicsdos naquela
ü1rneçcu ::o c,lcan}J;'.lr, êpoo.1 eo, vim1de do me11ioteres;.e pelo p,obkMa. Pretendia
Quando chegou ao r,sriz. realimr 110\·as pesquisa; e e.laborarum estudo siice1niítico a rcs-
R--u ao bia!x, para acs\,-Jr pe,,o dos arivid,.des de Joiío J~ CE..toorg_o, a org-Jni,.açãoda Igreja
' úuha p!('!\viça, ,
O Diaoo Nosso Senl:or J°lQmJesus da Al!ua Vermelha e a jntegraçiio do
Não qi1::ria ttabalhar: "'<.:uhoª a.o ~i::;:tt:u•~ J'-=So.1ocal:r.\.Contudo, ouu-o:s
S<"....:iu-,11hu~al
Deu u oi soco t!o nariz u~balhos ,1tr,ürru11 n-:.inha mrnção_ e oi; dados recolhidos conser-
E. o ~~cu de cs.honachRr 1
'.
11aram-re inú;e.is, J>C"~idos no ,;,.,u &:hfrio (>). Ptosando no in-
te~sse que eles ooderi:irn tcr paxa os c~-:p:xialistas,resolvi pn...
Pon,u110, nio só ;.e cxplirnm r.o :okloic: br,,ü'.c:ro o ne"tti
blid-k,:,, me.,u10em 110.-a forma .sc,dográfica.
corno. S:<1<.~cti<:logicn.01enttdcrior tlOb1--.?nco e de inleligê;ci:3 '\'a mkw dcs cfad()s, foii.l evhleole1))(:nJ,e depois da morte
e ",!'t•doe, utf-~:"';":'• coe~? hL71bé~1 1..i uma t::-::tativa Je exp!i- de Jofo <ie C'.!!margo.foi 2LL-.;!:adoe eschtrecic!o1'><>r Nar-Alino
uçno dos traços foJ.OS <l1krcmcs ! nns kadruc- :,alma da mão e Ancôn,o Gri,,o, dois disápulus dde_ e pri:J.cipaiszeladores du
etc.; e em 01:m>se!eroentos fulclótk0$ L · lj\reje. no período cm qll'o " visitei. OuuM iJ1í-0anaçõcsforam
-:- Puh:kocõesprévias:Ret<i.~.ztfã A.-q~i~ !..1;;n~lFal, Sio Pilu!o,Vol.
CXXXVIII, 1?51 (com i:·~1~~); F. Fere.andes/1i:i~nts1 Sod~is ;;o
B,ai:, S!io Paulo, Dii.1Si1> &.:ropda <lo Livro, 1960, f-P· 360-,;8I.
(l) Os ,fados TC1»ihidosforte:, ;,o.ttialmtnrcapni-,drndos i,or Roga
llasók, qoc csn1d-1 cm "'" uabnlho, elán das ativid,éc:; de Jõ,o de Ca·
m~Tgo,:1: de omroa;;.4u:: se <!edicar~ tambémao cn:amentoe oo ''profc·
risu:o rcli~uso" ra. R~ Bast:dc, .il .~f~crrmbaPaulists, ir. SociO:ogi1~
K• l. a~L:1imLIX Fac,,:cdad<> de pijr,sofi:s..Ciências e Letns da Uni=-
sica<le~• 5''ioP.1ulo,S. Paulo, t~n, l"'IJ"-51-112; sobte João de C.=i;o,
;,,i!,>,S'J•q,;e 105).
216 217
o:,tidas de moredores da cidade ou cxrr:údos c:c escritos sobre seus podcrc-,: sobrenaturais. Ela está difund:da titnto no ótculo
João c::eCamngc. Durante miu.ha permanência e:n Soroc:iba fui dos crentes, qu.:mio entre os simpk-s admiradores - isto é,
tambén~ m~to auxiliado po= Luís C'.ascanhode Almcida, co~1,e• pessoas qw: não acrcditavan1 nt-.s 5<:usdo!cs ,_.,a.rl.ootnrais;mas o
tente h1ston;1doz e foldods:a ct•l'lhc::ido de sobejo, e q'1em noL'O· adtnitav2rn, ern virtude da bondade qu:: tevdavn no trato com
v::lto o ensejo pata agradecer algumas informações, 0pr0t'eitidas os necessitados ou com os d=1tes.
:1es1etrabalho.
a) antecedcnter da u profet;:,cção"' e ,io culto:
II - DADOS BIOGR.~FICOS:
Em l 859, Alfredo, um m.e.iioo de 8 ano,, filho de uro CO·
João de C1:unrgo nasceu c:n Sarapuí, bairro dos Cocais, onde rocrcí:1m,português, chamado João Buava, foi levar ao pasto um
foi e;ui,·o dos Cama!)'!() de Barros. Em julho de 1858 foi bati- ca\"alo, o qual se.-via para a en:re5J de encomendas, n,, padaria
zadc, to:11do rnmo mac'..rinha'.\'-0~saSc::ho:o dns bore~. Sua mãe de seu !lctl. Am,mou a rctlea cm su.:, cinta e foi peb estrotla a
e-..ru d::s.·
UCla m:gra cativa, um ~'-01.;.l'o ...
~arisda. chainada.Fr-andsca~ fora, montado em )'cio. no :mimal. No c';ltt:inho começou a caçar
ruas con.l,cdda pcc ''nh-í Chka" e "Tia Chica", que t:1111h6nfav..a com um hod()quc. Ao fazer os mov:rm:e1tosp,ua :riatar um pás-
~lgma:1s
prá1ío1srle u1ro11deiri~mo cbtic!asde Dona
( :.nforrnaçôes saro, percku o cqcihôáo e oiu do cavalo.cspJllhwdo-o. Como
.t:ugênia Marília ele Barros, <lc:sctndcmedoo Cam~rgo de Barros, estava !>R~O pela cintura às réd=. foi csfacclaco CO!ltra () crufo,
que vive cm uma carn, perto da Igreja. mandada cm:struir p(!J' !la disparada do ani.~1al, o q,.?el só parou perto do c6rrc 5o das
seu p:imo João de Camargo). Por ictermé<lio de sua "siohií", Águas Ve,-mell,es, onde havia uma JX'tteira. Ali acharam o que
dona Antt Tcrcr.a de Camargo, católic;i pr>\cica,llee muito ,l,evot•, do ro,:po do j nfeli;; menino e e~\1eram uma çruz em ~ua
1·est<1,-a
foi João inic:iark• no catolicismo. Trab.1lhou nos scrvicos da <:115'\ memória.
e depois na lavoura, como cativo, tendo com c-.:rtti'a rccdido
iiilluêocias de ma mie e dootros E?!Ct'S\'OS, nesta C-.ioca. Depo;s b) A ''pro/ctiz,:_ção"
e o tu!Jo:
,la libertaç-ão, <1té 1893, quanc!o fez part.e do ootalhb de volun-
t,irioo paufutas, qne formou ao lac-o do 11ovemo. e-r,:,Itararé, 1rn- Era devOÇ,'iode João de Cunargo acender uma vela €:Opé
balhcu ror,:,o doméstico em várias fomílifü. Gsou-sc, nesta épo:a, daquela """', coisa que ele fazia 1o<l.1. vez que tinha oportuni-
com uma mulher br.11,,c,1, do Pilar. e co:uiouou na mc,;mn\'Í<:hl dade. Aí ~e inicia uma ºº"ªfose de sua víc,¼, p;1ssando de
até 1905'. Nesta dam pa!sou II trabalhar .ou:naolaria, de onde wtandciro i;er:i "pont.o" fixo, ,1 çur.,odeiro "instsla<lo". Nesse
passou, éllt 1906 • trab~r com() c~maraé;i num sítio do ooirro lugar, o pri nieiro passo 1,a::aessa transforroa,ãofoi a "profeti-
do Ce1-rat!o.Em 1~06, hl '';m>fttf!llJi/', éómo diz o povo com,.. '-:lÇão". J>ium e~ inforn.,;,Jlf~~que, em 1906, qt:anJo ioi fazer
• a pequena cape,a
ti·mu l elll ftente à e:tr,>.ca
li, <.t "Agua Vermelha".
' se,1 devoção diante da "c:::z ele Alíredinh::,". C:\llsado depois Lle
Oaí em d::mtc, cedkou-se e."dush·amcnre ií sul\ "mfsxão". To- um dia <le trahruho ínterso, t!eitou-se i-l ;ombra c!e wna árvore,
cfavia, em contra~tc co1n a versão 9fir.ial, que circd.a cnt~ os ap{,s n;r c-ccndído a ,;,ela. e ador.meceu. }"
..mão o esplri to c!o me·
cremes, soube o ~~uime por seu primo, o · 'ohu Dito".: "Joiío nino 1\lfrd.o teri• apre;enuêo toda 1i cen.-t de sua morte, rev~
de O!!n,,rgo curava ~ores de S<.T"i,rofe:i1.<1tlo'".desde muito, ma,s J:odo,lhc, ta:nbé.m. ~ "s::<imissão", d.:zeodo-11:e<f'--eseri,i o "gufa"
s6 nqui e ali". Isto confirma a hipótese ""- iu.fluê::cia ele sua mãe e "protetor" de Joiio de Cunargo.
e de ?.lium ccmpanheiro negro. cst:vo como ele.
"Ouvia n t:07. q;.:edizia:
'N°:?:;ce~tes, dt1:novo, João;
TTI - A CARREIR,\ DE JOÃO DE GA~iARGO E Por sc-res tu tã::, J~_,roilde,
DESENVOLVIMENTO 00 CULTO: Vou te der a proteçiío." ( 2 )
. A LV!r,;ioafiei.! da rrtcir~ de .k>ãode Camargo é um pouco {2) DJ ~•vi&rdo &:,:~o J~o de Qtr.1::r,;o,llmr.:léc: M~ion:ir{o ~
diferente, pelo menos no que co..caà rc·velaçffo e a aplicação dos fé''. cm ,·crso, de :iu-=o-i,1 P-::3.éo,Sorocabi,1~1, p:Í,r;.'17.
rl~ JCl~éHi1.--°;.<!'vl
2111 219
-'-
~e,s;, ocasi-Jo ;:i
n' · .,
'
•P2=
a ci)";n,.,.;..,. di! J - d6 r •.
--,-•• 000 - vi.7111~0
p2smosa nipidez. t ~erdade it= seus dí.;cipulos, que CO!itÍ&ua:n
.t"'= urterQs. parunuotll!ente o nlÍmero Ól'CO poi., -• :1 zelar pda ip:Í<t, neg:im o s:u passado de alcoólam. 1'.{asde
ira,cla-o aa:,-,dcr ciuo ,;ek. e ctdcm-.lbc ' - o ~to 1:1esn:o d:•se. na sua preg.açlío,ter rcccl>idoo.--dempo..racio beber
capela ' , a cor.. auçao oc uma cuili, "para ser perceh:Joe conhecer t Deus", 5Clldo esta u.,.a
fi · CO'U3grllc:a :\o cu.to de '.'!os.soSen,,or Bom Jesus do &n-
un. ,\o
se.~ J - So,
== tt:npc, tcr:a ,--isto também O _,.,· • d ., __
d ._ I . -·rltltO e .,mn,-
ce
du c.mS3S sua fobia oonu:1 o ikocL o qual ccmbatia com
todl< ts forç-J.Se ero todas as oportunidades, tl:lp:,rs:>do-;=na
1900 - ""','º ares o ~~o . taleddo em 2( de fevereiro de
, -" ,er:-ívelftbrc: ama.--ela.<;uc assolou "-----L- __, fé. AO$c=,tes proilr.n toda espécie de: bebida.
aquele s ccnl d -""<A""" e ra ,..__,
~- ore emonst:'OC UI':\ dewelo carttativo e úniro =ra O scgu;nrc ..,oiso'', e-<erito a una e c:n letra rui:·'ClUl,
com os '""'n t~. ' ,... · emolc!.u.--aco e colocaJo no '111eriord:i igrei2, pode esclarecer me-
~ ?-'-,iprfo:en:o à :nspâ'3ÇiiCrcccl,kla Jciio de Camar lhor :i sun posiciio cm rcl.:içãoao c-olloe aos cn:nrcs:
:a.nú
:_=i 00 , .':_'~"• ~m l 907. Ur:'IJ opelinh:, no l~ar indicado e : "Crenêo ;;o qce eu e.reio ;en:mos irm:io, e descrendo DO
~ tn CQ"'''"'
1
m&> • " ;nzigea:
,, de N • S· Bo'T1 -•- Bo-"'
'-~- uu
.r-- .
,,.,m em ct1J:is que eu creio nem parentes ser=, DCm com este ocm oo:n
•. ) =•.tou
Clp!O, r:m1
UTla r:ta \'c.'~mell-.a
"o-.:,,·ir3 ,= a q;;:d caia até o
ocolu" i •
cl-,.;•\ ..
. • pr~
aqt...:le posso ter 2:nizade. Pricci?ia <lo mindinho oté o porte
cura) 'odb . ..inn.c aos !:::S procc.-os de m:iior. De De::s n:ío sou amigo. Só h=ilde c:m~ eonde
; a; ava ,;e, segurllD?o :i fita e11trc as mãos. USS\Ulii.'ldo Deus me pois.
wn aspecto c:oncentn!doe ,moooenK.. · Ora pro oobis, m:w-c.re DO!ils,Domilll.lSo Bispo. E o padre
..,,.,,,.
OI ~ená ~dJvim~to elo ~,lto, • parúr de 120 modesto co- e o ,-i:ior a igre;:i me declarou: - cu não sou p-.dree nem nada
~- ....... 0 ~ r P•o. .1
W1l3 ,.,_ a " ---'
°"º
de Camatto ac:bava
, "
-'-L ,..._..._.,_
que UUll 1u.x,,oao com de rc::.ho,cada qual em suas obriglÇÕCSquem arrecc!ic e
.~..:!
ron.coên~ de
' :tpanzua CO'!l ~"
· - _ .. L' •orurn e vc::t!2de" (•) T' '
• • ,nrrn Dei.!>e nada m:ús poc!emossabet.,.
. •=. ;.;ma nms:10 =usiv2rscnte dedicada bem,
80 e Soube que ele cosruma~-. cbunar os santos cató!icos pelo
por Otf adeptoc. A sua igreja para cle, acc,ou •end.o 2
!-<r.o
!g:i~ ~~1:º-
bém Ira
d~ ruas P~~~ c.kec:,rar.dcirlsmo, desenvoh-eu
1
d as •~e:ns ~ s:unos, ~- mesmo oiganúou wn-
nome comwn, geando diante de acntc:s. Mas, que entre os inl-
ciados, chamava-0s por =n:es diferentes. .Esfon:ei-rocpor con-
seguir alguns, m:is oio foi possível. t;m de seis cwsfiéis dis-
edianre}:~ a cultl!I'I afncana. fuod1dos ao espiritismo (cf. ópu!l:ls, o Sr. l\a;a!ino (braoro }, sc:n querer, disse-me um: o
de São Beocdito, o qual João d~ Camargo chzrcsva de .RG,,,o,s.
JesusAo do ,'Olta.
Bonf daf pncie.ua• · !';0"1!"º•· - em :ouvor de N. S. B.
un, .ez a sua pr,.me1rap!'eg!IÇ20ea, q.::e se ,1,..,_ dor:60.
aos crmtes = "Inníos de cr da . . •
(U Agua Vermelha" Fala . mh~ça I lgtC~~ nerr~ e ~istenos:,
-~ Alémc!o cU:.10cacólico. vus =ws, feito .llt()01WmeD.te,em-
bora sem a inrer\'ençiO do padre. e oficio da missa, João de Ca-
_.,_ · , • UI em '·'" sua profotrl"IQIO"e diz
ter eoc:oOlel,...do ao hs;>inro S.an·o - 52:x:
L- margo atnbufa, e com de os c:cn.tes, poderes sobrau.tur.ils aos
eio csofri•o de •1<--~- · .,' • e qce nao se é 2u-avés números. Os oomcrosprediletos cr-a:n o 3 e o 5, mas dava maior
- ' ·• ,r,;;omno ou c:e ~lon,~hox Jo- So
opcn a• curas: '·só Deus sabe" 6 ao ares que imponâocia ao sqr.mdo.
N • • ma.
,.,,.,- :_~ma c!io_n,;30prega o. fatnfumo e ~ .suboo~siíoa Deu~: Co:no foi iod1C1do 'ICirn, sobre rres coisas fundousua igreja:
· ~ao
Deus á uuuemos ,,(• T - ccrt 1ficar
1.>:r nem -
, DOdcm p=ar e em
; so ~"" "água, pcdn e vcrdac.e''. Conforme iofor~ obtibs de
cio ""--'.!)C.--a.r, J. . erm,r.a &:sejando que as "foi-ças bcnéJicns crco tes, ele teria, mesmo, crrp;egado os números, depo:.sde certo
u,v,no ,\.esuc de a todos ~úce e nros....,.,.:d.a&:" tempo, nas ~gwas•·. Esoe fato é confirmado pelo seguinte c:irtiío.
A , - .-- .
:Jpcct;;:- ..
.:ios~~!:3.:~
- '
de ~m-oe ~lco6ltttr:t, sob este
í.li~t(XJ, o ~w:n-etode c:reotescresceu et::.Y:'\
e.taropac!o pot FranCÍ$CO
livro:
Gaspu :la primcira página de seu citado
"N. >
A ca.u d<tverdade diz:
li. numeração do s(-culo
E <los seus princlpios
21t
220
fol demJii:cada e sempxe um amplo sí,-icretismo, em '!ºe s.e pocle_~~tatar a existê~ de
seja feirn, ou, qoe toroe a elementos da religj.ío católica, do e.spmhsmo e do fench1smo
remarcaro N. J :ifri,mo.
João de Camargo". A Igreja Nosso Senhor Bom Jesus da ,'Í.guaVermelha, como
o povo chama a prímiciva Igreja !\osso Senhor Dom J= do
Mas é o número cinco o "número" por c.xcelêocia,para ele. Bonfim, n:gistrada e-orno associação espírita, O:)l)Setva usos do
culto tatóliro: culto às imagc.:JSdos santos., as mesro~s rosas,
Era o número da igreja e o da h:mrui de músiC:1. Isso c.~licou- uenuflexão diante das imagens, a!t-c.r mor, procissões, pregações
4
222 223
Consk:et:1!'-'-lo-se
o qt.:c foi indicado ocin:<i,à cc:ncidência na s;:ntido da estr-Jdn, dando a fr.:n:e ?at".l 4u<:m,~n!mda cidade
c<)mo culto C'dt61:.c:o é apenss ,tp~reote-,cou)o, por exemplo, o e a parede lateral esquerda p:1.ma C-Jpe!inha.
ail.o d,;s alnus às ;eg111Xlas-feix:,1s.
Em conseqüêuda ~o contínuo aumento de ?r-estígio., e do
D01.!tto lado, deve-se consiéerar, como o~erva A. Ramos, cxuaonliná:io aibJ<o de romeiros, íolo <le C.unargo teve neces-
que o preto banto já tinha em ,ua cultut.1 uaç<,s que muiio se sidade de orclemu nova, reformas. A rcs;,ei10 destas não co:i-
ª?roximava:n do e;p.ititismo, como o culto Orodérc, cm Ben- .;:,gui datas exa:a;. Mas sei, <le fo111es f:tlediiaa,, que !ão pos•
guela.. Por isso é f,1cilmcnteexi:,.l:cáveIa quase predominância de tetiores :1 1910 e ronheço o ordem s~undo ,1 qual fnmm ;-cali-
traços de: espiritismo, 1niswrJêos co et1lto criado por João de zadas.
C:,:nargo. Além disso, a influêocia Jo esp:riti,mo tende a :w-
mcntnr ~ graças '110 grs.nde llÚmero de ='centros'> existentes cm J\ igr::ja aprc,::::t.i éua, enl.lC>, u:m ,izos, ,, m,10ei.::,1
~.
Sorocaba, e também porque muitos ck,s seus discípul0$ eram igrei~.~cat6H~:i~~rr- disticó c."D qt:<: s-::lê - '·Oremos A Deos~·,
espírit:1S, frc,Jiicnudorcs assíduos de t,1is "centros". gl,_1ixodo cua! e,r,í um cor~çfo ci~ rdY.1q,:;,_pin:.ido de ,•~rrnclho.
T;:m u:n krraço g;ra<.leado . .;:;nCelOCSV;! :1 :orpontç-:ío musical
Outro traço, que sq,"-mdo me parece, ele herdou de s-eu.s cinco. aos dom!Jl:;ose fcri:.1d(,s,
nl'if'OC1"tl
oomp:anhefros esc.c1.vos,é o "quar:<Jdos mifa.gres.n, em que, à
manei.ra c!o que se foz na Bahia, na Igreja de :--!ossoSenhor de .É preciso :iotat q:..-e as rdc:mas fe:rns de;,ois c'e 1-;>{)8nto
Tlo::f.io1,
1l1Icapela dos ex--,010s, e tm Aparecida, no Esrndo de clinú,avam :rs antigas dependência,. Estas eram <ljllOveita<l.ts,
Slio Paulo, ele ,m.nnulou centcn.1sde fotografias, algum:1s fundas, dc:rrubanéo-sc:apenas as paredes io,eroas, estabelece:ido-se assin1
muleta~, br3so,; e mãos de t'Cra etc. a comwúcação entre a oov:1 e a antiga "c.ipe!,1". O <lesen.olvi-
memo tles1aigreja tem q-ua1querl'OlS>I <la evol\lçfo d,1s nossns
Como João de Camargo ~e utih:ou de "guias", traços cl.t :uas antiga,, faze:1do-$e,10 sabor <las necessida.:.les. Por Í$S<1, n
culrur.1 ahicaoo dos malés, con:o se ,·cr:í adi.ante pan:c-c evidente igr~ja de João de Camargo apre:;eill~ nm que <!ebi7.,ir-co,em rua
que a fusão foi ainplll induindv dtmcnto~ de culto católico, espí- .ttquile..au-a; <ks tréS safas pr:.ndrn;S;,<le~tins:la~ao C\:lto dos
rita e ha.,to, predom.inantemeote,cks cuhut<ts africallas ~ê- ~\DEOSlX>,·eKe.01ploapenas ~ nrimein1, logo n:i entrada. est.1!":a
-nngô e musuJn1i.
regula.aneote sin.1~da. Nesrn 1Q('a!i7.:i-;.e
o alwr-11:or,em qu.:: colo-
cgt11ro 'N. S, llom Jesus cio :Bonfim. :\o ladQ de;;ta primciTII sala,
~llÍ out.ri\ sala m~ii c~paçosn, i.1mbém d~ti:ladn 110 culto. A
IV - EVOLUÇAOPA TGRF.JAATUAL E o "QEJ\RTO nn t~rc~jra sak. f.cs atnfa <i.ar:rimcirn: Cnndo !".ccssnn U!Ilâ ~pécie
MlL-'\GRE.5" de ccirrec!or: onde há t:rr. prc:,c:;cp::
que- nunca se desarma, ..: a
uma ~s.letn, rmde. se amuã.1.tt."8□ v.lria~ c~-ránta5; sob=e LWI <.t!tzr,
Acompaoha.,dQ o cle;e,woh-imenmda crença e o concomi- tamh.:m dcst:nack, ao c-u.lto,e m:dc -::,t-.íum St-iihor eJ<posto J~
taoce :hnn<:ntoccadepto;, João Je Cumi.rgo foi amplí,mdo s::a_; modo pcrmaIB:ntc. Da j-:._1iLWéas.:il,. p.:t~a•~i;a. oulr;.tSÚU8$ ~·
io.scak,;õe,;. Desse modo conu·ibuiu, Í!m.:11sdcntc1:1c,r,te, para lct::1s,onde st· t-u.lrua uma i11fitúdadcéc: s211lo, e também Ss,co e
!.Orna: bizacco o rnlto e ~ e; réiict t!,i i;,-::eja. Da capelinho ri: V anzctti etc.
! 906> pa~samos~kntamente~ à-; atuai:; depeudências da 1Rrejs. Ao lado d:Ycito d2 igrc..iaestá o «q;..;il.nndos mílagrc:-.·'.que
Depois tia co:rnnusão ria capeli,-,ha, Jo,.1ode Camargo nuru:1011 é o maior d-: todo;,. Como as p-..r;;dcs da igrtia, "-' d~-stc (!Uarto
,:unst=uir uma casa peqi1en;1,p,i:-,1servir de cobertura a um poço, ap.i.rcccm forradas de fotografbs, algu:n:i..sc<'m '\mtcs" e "dc-
q'.ie fora a~rlo por sca orck:m, no bg:ir. De!:te poço tirava, a pols."
pr.iocipio, a "água milagro,a", ntili2ad$ com finalidade.,;CUl°a' A forografu em que se ,é<:m os senhor;,;.Cirino e Natalino
tiva5. dá wna vi~íio nítida da porta de eutrad1J,onde st r.ode le.: "Deu,
Mas. íéno :mo imcdiaco.a c:a~lan.iiocon,porlJlvao n6roero a.1:le11ço~
qm:m entra" ~ "Jesus cnl-arninhc(Juem ~e". :Cmeioon,
de fiéis e crentes. Joao de C'.amnrgoprecisou ni-1.ena,nova cons- no vitlru sémicircu.htt J:1 l,-J.Jlde:ra.João ce
C.unargo mandou
trução crfa11do uma capela tnaior em fre:'lte da outra. Ficava es<:r.evera ordem. em qne clava consulta,. durante a 5emana:
224 lS 225
"Co::isulta desde :erçu, quarta, quinta e sexta "2s. 7 horas até l 1:Lt'.>tudo misaut:1dorom os ciit(,s santos~ v~bs e limpll~ls eJf.
ho=a e 21eia". Ao redor da igreja. João ck Canargo, foz constntir, tricas. É preciso discernir: esses obje1cs não se <lestin:1,'aCJ.~o
com os rccUisos comei,ui<los através das e:m:ohs e dádivas dos culto, coositu:'am s::mplesenfeites~
roroehm, IS casas, as quais deu a ge.·ne pobre para mora:: ( alguns Actcdito que João de G:unargo rei::nm em sua igreja, qu~e-
parentes de cor e várias pessoas :trnig,ts ot1 conhecidas, qne prc· todos os sa:1tos do agiológio cdstào. Em a!i,ms a!c.m:s l:á ;,,,,1.
cisavam c-0seu auxílio), reservando-se ainda al~uns alojamentos gens de 15 a 20 sanlos, q,:,iudo não :n:,is. Alg::r=s ÍOr,m :ci:,is
para peregti::os pobres. pot de ID'~=o, quando no comêço ele s:,n ca..-reira, de barro ( P,1-
dre Mestre, wn velhote de barro, parecei::do um padte re:=ido
Na po.rta da igreja csta,•am af.ixaJos dois a,<isos, cm ktrn
missa t: assim apar-atado>com u,na coroo de elrc.:te na c2.beç.ae
comcrci.1.1,escritos, um com tinta veonelha e outro com ún1;,1
um par de &u!os sobre os ol'>os; N. S. Jesus dos Af!icos; ~- S.
azul. Apenas o primciro era i.:ltelegível Vej:,,mo-Io:
das Dores). Santos pretos tinb uma porçiio: São Bon1 Jes,..s cios
P=etos; Sama lfigêni:1,São Elescão, N. S. /\parecida, São Bcoediw
"Quem fafo nqui na Igreja é João de C:umrgo. Em nome etc. Prediletos c:os negros, São Jorge e Sio ;\,iiguel ,ambém fo.
do senhor bom Jesc:; da verdade, ni'io se vc:cda mais azerte. :e....,,,
parte do culto. De se-.J cu:co parciedar era Santa Quhécia,
N'osso Sc11I1ornão faz negócio. que mandoo desenhar a dnta preca, de escrever, '"' parede c:e
um quütto contígoo ao seu doo)1!rório. Da sua cama João de
Está escrito coci vermdho a,1 porrn p~ra todos ler, ente.-,der Canuugoa vfa, vesrida de vennell:-o,como a orn9mt.:n,ou, ~ ucon•
e na Igreja crer". \-ersava com ela".
As o=dens são est:is, q..!esou cbrir,ado cumprir. Uma cas gr:ivcras mostr;i o interior da 110,~igreja. Vê-se o
São Safoado=. altar-mor e João de Camargo. t\ parte anterior foi ?OUCO ou quase
C6pb 29-1-42''. n:,clamodificada. Mas, o lugar em qt:e ele se encontrn enoos:~do,
n:, fotografia, eSL{ bem diferente, ;,orque mandou construir um
tapume grande de madeiJ:a;ao rednto e11treo tapume e o altas-
Esse azeite era Ycndído por "ordem" do espírito de mon- •IDo=,em que dava consulta ;,or \t:na pequena abercu=a,ch~mava
srnhor João Soares. Como algwis vendedores fizer3m trapaçit, de '-'trado,,.
João de Camargo proibiu a sua venda.
A igrej,a está legüzada como "Assaci:,.,-ão Espírita CAPELA
~OSSO SENHOR 00 BONFIM", tendo co;no final!dade "pra- V - OS PROCESSOS DE CCRi\ E OS PODERES
SOBRENATURAIS
ticar o espi&.isrno sob o pcnto de vista celigioso, te6rica e praci-
camenle". Isto em tese. De fato. re.1lizavamo culto segunc!o
a fo:ma de:;crita acicta. Muir.a ge..,te já diz. somente "igreja Boro João de Camargo t.rntava seus doemes com "água milagrosa"
e com "óleo santo", nos qU1tis me.rgulliava uma "gtlia". Ess,i
Jesus da .'\gu,1Vermelha".
água, na época da capelinha, de ticava do poço, aberto ao lado da
Além dos retratos das pessoos, e de algumas amas rlttbidas mesma. Depois mandou allr:~ r,ro poço de::rro <!a igreja nova,
da ,Europa, do Sul e <loNorte do Brasil, e da Arger1tina,guardadas usando rua água dora:lte qmn tetJJpo. Por fim. maodo-.i fattr
m;.m quadro, João de Cam:argo tinha pelas p:L-edes rett:atos de u:n cncarum:eoto,pata ág1:2do cio São José, o qual chega•:aao~
pessoas gratas, como Getúlic Vargas, João Pessoa, Afooso Pena, fundos da igreja. E.s"" er~ a água milag(osa, urili2uda com fina-
Pi.:'lh:eiroMa,hado, Carlos Gomes, Monsenl:or João Soares, Papa lad:idcs curativas.
Pio X, 0Hdeal :\ro::,.Verde,dele mesmo ecc.; possuía, também õl! ripo, de oli\"1
O ó'.copodiã icf ile qiialql:Err,fficedênein
imai::ens várias, romo a do Pal'8 Pio X, a de Saoco e V ll!!7.ettietc. ou de albrodão,de acordo con, os l'CCU..""'SOSdt) cttnte que o Ic-.a\-a.
Para enícitat UCl pouco mais -aigreja, internamente, colocavamtrt: Durante muito tempo ,-cnde1.J-Sc óko na porta da igreja; como
aparelhos de chá, pratos para c!oces
os sanros serviços para liC'Ot-es, hou,;c "crp!ota~'Õcs", João de Camatgo ocabou pro:bíndo a ven:1!.
22G Z27
Também fazío cr.ras rom raíz,:;se, mesn::o, ainda se COJlSer• rcméd:o é feito e :,e~,í d.do de gr-~ça" segundo uma inf(r,mação de
va\9arn na isare:amuitas ràttê: que 11ãc !on1:n U$8.~S; 1nas es:e Fr,incisco G11s;,a: ("O ;\•füt::.rio da Agua Verodh:1", pág:. 64 )_
não era o i'"1! proccs~::,predlle.u.)<le .:-un\. .Yla!s qt1e as ra!:ze.;, C-0mo :Odiquei adca! ?etl.so <.JUC: essas 1'guias.., são uraa so-
11sav3ervas cm muitas cun1,, por me:o <lechns etc. Neste caso, brc,;vên<:i:i da culttrra afI.Í<'an:I
do,; malês, pois, conforme Arthur
Jleralmcntc C<lmbínavab:s cua.!idade.,<le erv,1s,ou rr"1n(favato• Ramos (!i L os m:!lê:s "nio ~.? ~ep!travam de seus. tal:smaru ou
mar chás,. fcitos. de três e1·;as d:!cr~tes, ~ad~ uma emptt:b,.-ada mai,1cliog.1s·'os qi111iseram ~frngmen,<>;ou vers.:,os ce
,.\lc<.>:-iíes,
:solacooi.-:nle,<lur,1.11,e
urna scmatw. e..<crito; e:n e<1rsc:teresárabes, nu r.1 pedaço de pnpcl, ix:qucnas
As ugu:as:', a ?rinclpiu. o::nsisti.>...m
num rttángulo <le p~pel t,íbua;.,ou em 0111cos objetos gue eles fl'Jt>rdavaro como grís-gris''.
o:1deJoão de Camargo çsc=~·vi,i"letr.1s enigmáticas", no Ji.oer dn Na oes-nia página. pouco ,mús acliante, A:tb:ir Rf.mo; esclarece
11ovdist,1Antooio Franóco G.1s1,;1.1· ( • ), que as viu nessa épo01. ainda mais o referido compott.'lmento pondo em e~;dêncin ~ fun-
Depois pa~$0:1 dos '·pãpéiz.i:!hos,,p~ra os •:-c!lrtôé•Liubosu;003ru. ~ miígic1 oos:1s gds-gris. Os 1,iusulrois, "1111S suos feicç.ar:;is
mava nu-:ma:t\\:;1S ·'g1.1ias', ou então ~per ne1as o nome do sa.nt(} oosrumavrun escrever numn c,!boade IT'.3-ieira,la,-an,ki-,i ôcpois
do <:ia. Este er:i o seu processo de c,rcn µredileto, ;x,is chego\1 com água qve j nfundia virtt:cles poderosa, em q,:.:m a hd:x:ssc"
~ :nandar fazer carimbos, rnm o i:owe <los santos; IY.1sca..-;rlhe Talve7. fcssern deste ápo a$ "letra.s c:iii;m:íric!IS"que J7ranciS<:C
u.dmb:ir u cartão e r.icrgul.há-lu na ''água mi!:,gro,a", ou .no Gaspar n~sill<!_lou.
"óku bemo" (que ele próprio be:izia). A ordem do culto do, João de Caoargo também gost9va de imp ..essiooar os crentes,
san:os, di'II'(lntc:a sem~~, era a scgu:n1e: mormente os ma!! di:=gados, i,:c..:u.rando revelar o; potle-.resso-
Seguo<!a-feír,a!- Di.> das Alma; Tie:,d:rns (não d,1'·9 breruiturai, ele q1,;e.-est:iriâ <lot,1é-0. Antônio Cirrno relarn,:.m<õ
,tgui.as"); uma é~ta, pass.1gens, que ele ,issisciu,&1as de mndo ohcuru.
Po.r isso gostaria de tnlll$,rC\'er a dP.Seciçiío feita pnr (',cnésic
T~rç,1-feira - I,iigtiel - Dava "gufas";
J)i>'! de São ~l:!cha<lo P''), da "cerimê·:ifa de Cocai,", fcic,i numa maah3 dou•
Quarta-feJ~a - Dia & Nossa Sc:nhcm, c!o Carmo - idem; vosa no cemitério dc-,;ta cidade: "João <le Ca,r.~rp,o prepara-se
QuintS.-r<::ra-- Dia <lo Snr.tís~n:u S.icrameMo- idem; para a solenidade ro,,ndsndo distcr:dcr nos brotos da ci:u2 maior
Se.,i:tn-feir:i- Dia do Sagrado Coração de Jesus - 1dc1n; wna toalha romprida, ~ue tinhl escriro 3 ?')n!Oci de linha ,-cr-
melnn 2.5 vcrso.s rd'crcntcs zu be:n-ave...,t:,rado I:.spfrito ~n:::i,
SábaJo - Dia dt ;\. S, d~$ Dorc; - idem;
1menJo ,1 su:i caheçn envolta cm unu toalha branca. Tui vai
Dooillgo - Di_a cc Tcdos os Samo;, n:ío da,a "g-<.1ir.f', ate: a pare.!c do fado direito da caj'>Clinha,e cc:n mão esp:tlmada,
Só ;x:rru:tia vis:~a.•?t l!!fi:ia.
n:m CU11.l,ult-a;_ dá trl:: _paocada,, C3~9IL"k1, formnn~o um ttrnn~uloe
O santo do Ji;1 era o wtruno do rrllbal'.10 e da c-.1ra, na
tric, vczc.-.
ri= rrês VC7.CS
atuado<lira.n:e.
com lápis ro.:o, t!ei,oi; torna ~o pé da =
e j;.
o seguin~".:•·:{ o r::stoé cruatlt-Ctl!tJ~~e1n"recebida"
íi]cin!í! fase <lê,le tl~senvo!v;;ncnto, le11andoo c,utão, is10 é, a
por ,!oão de Camargo, qu,e "'"~" :,cm ,k Ílltcressame).
ªguia»~ a~ st..a:!prc•ririei.1Mcl\bcut-iiclsà .i~ua on ao ú:eo, aruan-
o t"rente. u~.:alntente, o •'ók·o
dn, Ôi::!'-SCt:ll.'l(..ÍO, direc~rr.entt:sc..'i.St-e A tb~o de ,xen1pl:f.icação, registrei stlg- ...ruzs ,·ersõe, de
k:.to!' e::.c1,f.'8Vfl :.t ei!\!lO!"àcm_1.:orquea pc5~oa já o tr.ufa com o ccras. feitas por Joiio <.leCamarF,!("I, corrt".:"'.:tl"8
::.o!ugru::
nome de Silo .Roque, como o detetll'lui.iv:1 Jn:io de Cam,irP,o. O 1) ''Havia urr.--~prctl !i?Ji.~a.qi1\.'. ttnbal:12.vad: !l\vadeirnflil
"tralà!ni:éltô" :~ou;~va l'SSL-:!tÍ81ne.1tenn crença dos fiéis e <lo:; c~s:tde uma fan;ília rica. Tinha gc:m-:qoc qccrfa fazer mal parr.
roroi.:iros. Joífo & Ca:uurgu i:i,;i:;tia risro, afirmando aos seus ela rar~. ir illr-,oçar nm dia ,::, casa ck'.c, e d,1
ela, Convid,1m111
fiéis que e.nt arnwés àa fé ddes lJle.5mosq;,ic clt poderi11curar. foi. No dia sezu:nte, ela estava com dotes de garganta, .mas
Pelos "rem<édíus" iu<licaJos, João de Cama::go nada robra"a, assim mesmo foi rr9halh.u-. Na hc=a do alreo,;o, Mt3Vfl q,!<?
pois, segt1ndo seu lema: '"na minha casa s,l.nta e m!stt-.xi~a. e
\!>l O;,- ât., pé;;. 83.
~ "'~; Jo.;fl)
dt C.-f!tf S. Pn!lo, J.928,1:r.ig..
P-f,P e :eF; ;'\!i.'.;.g,r;i S8 : !19
129
nem e:,gclia um tico de água. Ela ficou :m, dias ,;ssim docme. cebe.::". Com o incremente da própria :n[uê:lcia passou a rece-
Não havia remédio de c!ou:or que a curass<:. Ei:tão mandou ber a; "ordens" de esJiiricos mais "2c\•ac!os", como os santos.
al&-iémpedir a João de C:u:iargo que tivesse dó dela e de:sseum Ko a,;gc de sua. importânciae inflocncia_já tcetbia em qual.qucr
jcito naqcilo. Ele mandou um ·'Guia" e um pouco ée "água mi- Jogar, ;:20 prcciS<1ndose ajoelhar para "fuhtt" com os sa..'ltoS.
lagrosa", (jUe a água passav2. Mas da cs;ava quase morrendo Podem, e d1egava, mesmo, a "rL·cd>ê-los"n.1 ma cama. Mais
de f:aqucza, porioo foi prOC\!tar"nhô'' Jo5o. Emão João &? rard:: ;,assa :i "receber ot<kn_,"t:i..-nbémeloEsplrit<:JSanto, e quase
Camargo deu um copo c!e água, que clc tinha nwna moriDgulnha, no fim, até ée D.:u~- Este mesmo foi ~uplantado, oois, já no iirn
para ela. Ela béeu e dal a pouco l-:!Spiu um osso co.o duas e bo apôgêu de sna cart-d1:a, consider:ido "wci1113mrgo", "mis,10-
cebcças, q:=e estava cntabdo n~ g;itgs.ma. Isso c:u vi com meu nário da fé" etc., recebe as "ordens" da Ig,ej,, uma enú<hde
próp~io olhos e vi o filho dela eJ1u:ei;nro tal osrn par-aJoão de ampla e abstrata, que segundo me p.1:-ece,p-ar.i ek e para os
C,amargo" (colltado por Antônio Cirino). crentes iniciados, está ac:ir:,a do ,iróprio Deus. F,)i, pot assim
2) De uma p~ssoa éc &uru. em visita it igreja, om,; a se• dizer, orca to:alização 6s cmicbdcs sobrena:i.m,is. T,1hez :sto
guinte: "Minha m::lhc:r cst"''ªdoen:e de etis:pefa e i::õo h::wia se explique pelo foto de se enconL.7ltem na ig:eja os iraagens dos
cura com os médicos. Corremo, rndo: o:. de !á c!e S. Paulo. e santos, do Espírito Sanro, quadros das A!ims e êo próprio Deus,
quando já estova d=nímado :ne coutaram que ero Soro01bati1iha passando o re:-moG designar, eo uma sí.ntse st:1 g-e.•;cris~ o ron-
ujj horcem que curava todas as doen1;11s.Temei um 2utom6"el e jumo de :o:ça. div'.nas, gfr:1,cidzs oo, Santcs e g D<:us: a Igre.ia.
tccuxe minhl mulher oara C:Í. Ele disse aue nós oodfamc, ,-olear A "lgreja maic!ou ·,, costwi1ava dlzcr de oos d~sdpulo.s,
para Bauru, q&e ele ~andava o remé<l:o.' Que d~ três v,:ze, cla qua:1ào queria fazer uma nov:dade cu fozer um:i cura. Também
ficava boa. Ele mando:: primeiro om chá, p1ta ela mm;rr, com por ªordem da Igreja'\ disse;-oe o Sr. >lat,lino, e]e oosrum:1va
u:n Hgcia:'; depo:s de un1a sem.x:ia, oaoC.ou outro. Na outra ir " Santos. Lá aprendia "rodos os segt~dc,s do mundo e da
semana mandou ourro chá, com o seu "guis.". Ela já estava qua- lgre:a", mas1 quando subia a sen:a, ªtfravam tudo'\ d!2enéo-ll:e
se c::rada, quando chegou o terceiro ch,t li.gora eLi já está ccm- um es?írito: "sabi3s tudo e agora não sa!>es roois ~da". ~{as
plec,amente boa". {A pe= não me gu:s contar que chá et>1; ele ºnão szbia s6 para coatst aos ouL-os'', concluiu Natalino.
disse-me que era utna "porç20 de ervas"). Quando dava cocsultas e.ntrava no Trado, para recdier o
Exemplo ~e cura zttavés de "6leo bento" é o da menina cu;a Slrro de DeU5.O "trado" esta"ª sob o altar•Jnoc, de Jesus do
fotografia tive opo:ttnidade de examinai:. Disseram-meque a mie Bonfim, e era teclo fechado, rendo só ona pec;uena -abertura, à
dela friccionou 6leo bento na parte inchada do rosto e que lhe mandra da j11neli!,por ondç eh, respo=:dia. Foi construido de
deu ":ígua milagrosa" p,,ra beber: "pronto, em J meses esta,-a madeira e está envanizado com U0"'-3 rinta e~curs.. É ao seu kdo
bo:1". esquerdo qce csr,í o "cul,o das peà~s". l)esigi:av3 o recinto
João de Camargo t:tmb6n era tldo. pelos cr~tes, como um desse modo (T raéo) 90rque lá "el~ mduzia a palavra divi.:iz et:1
grnnde médium, capaz de 5e er.tenclercoro forçs.ssobrenaturais e pa1av:a :ncrt.al". "Sf..rio'' em a "pa:av:a de Deus, que só ele
de saber tudo o que acoi:rL-c:c ou está por acontecer. Em tal a escurnva·•. H.iviu duas ent:-ad:2spa..-ao "'trs.do": nma para quem
certeza e a convicção dos cre.--itc.-s.
a este respeito, que conforme •
v1c.s:$t: '
ce •
seu qua:to; ou~at par2.que□ est.Jvesse - 1.
n:asall?. •
co;iogua
me disser:im v.írit1s pe.<S<X!Sncr.1 ,>ensat mal dele das podiam, à !'rindpal. L<~havia tudo. ''Pepéí, d<: ,,e&do". jogadc5 pelo
pois ele logo sabi:1quem era e o que pe:1Saradele. Katalino chão, imagens, crucifh:os. ter,;os. rctr:Uos, san:inhos, raízes. ÍÍtüS,
c!isse-meque ele "recebia tuéo do o!éro,de Monsenhor João cbjetos de enfe::e, un po:nbo ir:a::ide, {cão de madeira. e um
Soare;;e de O\?trosespíritos protetores". A pr:ndp:o ele "recebia'' pequeno, talvez simhofüanào o .Espfrito San:o, ,iquele r.rate2do
aµen,1s da alma de Alfreclinho. Já n·.1Slla primeira pregacão, p:>·
rém, diz nlio saber quem lhe "enviava" as ":rn::isagens", se a
e e>'tC pintado cc ac-.iareloe vvcc, cúm t:tll<l fita b=aocanmn:-rada
alma da criançu, ou se o e,pí.rito ée i\-for_<;enhorJoão Soares. ao ~oço etc.
Somente Deus, n• sua opmião sahia q,;e era. Nesta épo,.-asinda Ao contrádo d<:>s cspíC:tt~s.nilo dava ºse~~º de tnesau~ dlsse-
;e a;oelhsv• diante da im~gem de :--<. S. Rom Jcss.,s do Bon'im. -n1e ~atalino. j\.fas ('ele conhecia todos. os pvé.-eresespfr:r-Ja.ise
'- na :1ta
sct,-ri.:ranno ,. 1
escar_ftteq11e p.e, d'12 e.e
' s-.Jas n:2os,
- f)3ti .,
· rc- ?natedais, i::ciso seu lc.maera qoe.~ão digo sem que 1,;c diga..~''.
2J(} 2)1
Pelo mer.os a:;,:m o encendiar'Ios seus Sef!uidores.Também não VI - O LfDER CARISMÁTICOE A SOCIEDADE:
nlrmpas,ava os lim.:,cs "d• lei", fw.en<losó o qoe a "Igreja man-
chva" e "nãn dava ol'dem", sem a ter recebido, t)()iS afirmava: Como acentuei oa introduçãQ, o pre;erite trabalho tem um
''D.,_
cus a1naa nzo mt dºº'1ssc· . caráter sociogrãfico: seu objetivo e:<idusivoconsiste e.m pôr ao
~ medit!r-iclJr
Sobre os seus podere; de vid!11ci11 conheço des- akance dos especialistas e dos interessados as informações que
crições ir_reres~nte.5-: con..~ul recolher a respeito de João de Camacgo e do culto por
ele organizado. As descrições mostram como suas s tivitf.,,des ck
l) "Uma vez cheruei oa igrej,l de João de C'.aroargoe vi
as n:,ísicas eh h"-llrlsse q,.;eim~n:!o.F.u fui correndo falar para ele, curandeiro transformaram-se e ampliacam-se,e como leotamentc
se modifiat, atro\·és da criação e do desen<lo!viroentodo culto, a
ro.i;;ele me ci:;l'e: "foi eu quem pós fog<.) oas músicas. :Me man•
daram c:u2imal',EU q.::eimei". E encão? Ago.ra o que os músicos própria personali.hde do chefe religioso oeg.ro. Joiio de Cama~
tornou-se lJJet carismárico, s;,oiando-se em numerosos seci,írios
vão toc2r? Ee n;c rc;pondeo: "Isso eu não sei. Mas se me m:a.n- e dirigindo pessoalmente o culto religioso dentro da igreja por
datam qucim:u as m~cas é porque me vão mandar outras". "Na ele fundada. Além disso, ficou evidenciai.o o J>r~so de fot•
vcrc!.adernandn=am om:ms, porque todos os dobrados da banda
quem escreviaern ele". ( A. Cir.no}. m~ç\iodo Ç\llto,conHinúdQ de vilote$ 111otedent~ e.e religiõe,;
negras, do catolicismo e do espiritismo. Contudo, há algumas
2) "E:e sabi.1tudo. A ,;,e~soanem pr.ecisavade falar nada. ligações entre as atividades de João de Carnargo e o rocio social
Uma vez foi um.3prei:a, que veio ele fora, procurar o João de ern que ele vivia, que roei:ecemser indicados ~pllcita111enteaqui.
Camargo. Assim que ele viu a preta mandou que da se sumisse Não creio que tllis indicações exotbitero o prop65it0 meramente
da1i. "O que você <j\ter fazu aqui não faz", disse ele a preta. documentativo que a.Tlimaeste ensa:o. De ecordo com os u:.a-
Ela fo: saindo. E..leadivinhou que ela queria que ele fizesse bru- tcriais já expost0s, acho que seria suficiente trat:ir de três pro-
xedo paca alguém, m~ ele não fazia isso" (idem). blemas básicos: 1) as sobr~'Ívências africanas em Sorocaba; 2)
3) "Uma oois:ão o meu cunhado esqueceu de prender um a ação recíproca de João de Camargo sobre o meio social e de~te
papagaio que ele t:nha, de estimação_ O papagaio desapareceu_ sobre de; J) evidências de um "culto pcrt mortem".
Ele ficou aflito e p~OCUtou-o ?01" todo o bdo. Qoando já estava Como se sabe, a população negra de Sorocaba chegou a ser
cei:init.'W.do.fei procurru-o Jolo de Camargo. Contou o caso p.ara bast::lllteelevadano p.1ssado,gr11Çasa importância daguefa zona,
ele. João de Gamargo cis,e-lbe !)llrn niío bCilr aflito, porque o como centro de producão agrkola e de troca. Aluísio de Almeida
papagaio csta,•a nUl'l)aárvore alta, 110 seu próprio quintal. O extraiu de wn fü'to da Cúria Diocesana imeress-ames indicações
meu cunhado voltoo para casa, foi correndo no quintal, pegou a respeito: em 1840, cm 3 428 habitantes da vila, existiam 1 181
uma esc.tda e subiu na án•ore. O papagaio lá estava, entalado". escravos; e dos 8 053 ha::iitanres dos bai..."Tos,2 010 eram escra-
(De "uma pessonque não acredita" em João de Camargo). Casos vos ( 11 ). Porta.n!o, o; negros esc.-avoscoostituiam 34% da po-
assim são números, correndo po~ toda a cidade, e consúrucm pulação da vw e 25% das populações dos bai:,ros. De acordo
1m:aespécie de lendário, c:n tômo <!esua figura e de s-.ias ativi- com as infonnações, fornecidas no referido rrab:ilho pelo mesmo
dades curati,;as e rdigiosas. autor, a escravarht c!e ruguns propi::euirios que tinham C<>Sa na
vila, er;1 grande_ Um deles possuía 65 e:;.:tavos, "quase todos
P!'ocurei descobrir: pa!a com_pkt1u as informações, as mú-
s1cas
• 1 "
qL~ e;e receb" que clas nao
" . O maestro d'1!-;Se-.cae
"_;a - tJ'nl:iam mocosde 30 aoos, sendo 19 crianças", e ou;ro 60 c:;çr.i,o;, A.
escrav,uia de outras farnJliasl!lencionadasem rnt?tlOr09 escravos
lett;;,; e cra"l1 to<fasdobrados. Eis os nomes de alguns destes e dois agregados; 29 escravos; 17 e;crsvos e um agre-gado) { u ) .
dobradc-..s:".Pad,·e João S-Oarcs", "Santo Patcocioio", "Nosso Esses escra\-OSprovinh:un do Congo, Angob, Bengala e Moç.1m-
~ovo Dq,.:tsdo", "Amoroso M2rau1ra". E,..,,m tocados 1,--ela
banda. q,.,,,rulosafam em proc:s'5âo,ou nas festas, em domingos
e <lbis-san,o;c,peno da igreja. A banda chnm0\1-sedurante muito {ll) Social,
CL Al1.,isôode A!mcida, SorQG~/,,,1842. Do,:umC111ari:o
tc:mpo"Banda NÚ'Jl('roCi--:m". lílárramente chamava-se "Banda S. Prmh>. 1931$.;,ói;. 59.
Típ. Cu{)<>l<>,
Sio Luís'-, vesti:~do i,s rnmpnr.entes um far<l.1mento,•istoso, (12) Cf. A~.1Woe!-<Abn:idú, ""· c:J., ,lg,. 60.6:;:
2}2 233
bique (entre 1720 e 1820, pouco mais ou menos); depois de w1ços do cul10 religioso "criado" por João de Ca1nargo ê b::is-
1820, até o tfrrnino do tráfico, são indicados como "gentios cfa tnnte prov,ível. De ccordo com semelhante ponto de vista, ele
costa de Guiné" ( 10). Aliás, os pretos com que c:onversei, que não só illooi:porou tnis sobrevivências à sua "religião" como ainc\a
trabalharam como eseravos, consi<lerrun-seGentio da Cuit:!. se beneficiou do pt-estígio conferido por ekts. Em outras palavt2S,
Ce>ntudo, é c:Efícildetetrcinar com precisão a origem d.as popu- é bastante provável que João de Cnmargo tcnhn ~co:.trado no
lações nc-gras é.e Sorocaba, pois Jurante o século XIX cntrara.:n c;o:,hecirnent0 de valores de or:gcm africana e na observância c:o,
muitos escravos na região, prove:ui_enies da Bahia e do Rio de mesmos no culto religioso q:,c: desenvolveu. um ponto de: "poio
Jll!leiro. Os trabalhos de mineraçiío atr?-ÍJ'am, mmhém, quando inicial c:.,traotdinariamcntc for.e, ~-apaz d<: atr.ltt por s: mt>'rDú
da g,:er:a do Pa:aguai, escravos procedentes do Piauí, os quais utn número refativam:;ntc g:andc de scg:lldurcs. Esta hip6tcse
pertenci.-un ao Estado. não implica, nccessarizn:cn'.c::, a cxdu~o capossibilidade de reco-
Arn<ilmente, a proporção de cor na população c!e Sorocaba nhecimento in:cizl dos dotes e poderes c"rfamáticos de João d-e
é diferente. E.11 virrude das bcunas da c!O<C'Utl!Cntaçãoestatís1:ica Camargo, por p,ute dos segtád:ires; apenas insinua que tal reco-
oficial ( fornecida pela Prcfeimra o:i obtida pefo ceuso es1sdual), nhecimento provavelmente foi ruc:uos cfaro e decisivo L'O co:neço
1cntci aplkar uma técnica de observação direta. Comei a fre- do que posteriormente, quando a personalid:1de co antigo escra-,o
qüência de un:a. ig:cja e do cinema.no donúngo, e fiz out111s já era aceita e se impunhacomo a <leum líder religio:o.
contagens <.m zonas centrais e em horas de maior 100,iniento Percebe-se, aqui, como a personalidade de João de Camargo
(ant~ das oito e depois das 17 e 18 horas). O resultado médio reflete o meio sOCÍ1llem q112 \'Í\'eu e foi educado. Do pnnto
geral foi 14,7% ou seja, aproxit:tad:unente, 15% de pret0s e de ~-istatéc.nico, porém, esta proposição do probkma tem pouco
parúos na J.!Opul~ão da cidade. alcmcc. Estabelece, na verdade, uma conexão entre a foana~-ão
I?.sses.daCos fornecem, é óbvio, nma hoa pista pat2 o soció- e o dcscml()!vimcnto da pcrson.nlidadt: de Jo..-o de Carnasgo e as
k,go. O fato ele o; neg«Js de procedência banto terem c(mstitulclo, sítwçõc:,; sociais por ele cnfrc:ntnda,;. típica.~ de uma socit-dac!e
no pgssa&i. um<> porção tão importante da populaç20 de Soro- culturrunr.ntc heterogênea e cm :nudança. ~as, conexões desta
caln é, cm ,;\ me~mo, muito significativo. Os indiv!dt:us !t.-van1 esp&ic podcin scr encontradas o.a vi6 de outros indivíduos de
consigo, p:arttoné!c se dcs?ocarn, os V9.lorcs sociais que estão in- cor preta, radicados c,n Sotocaba; das são ,:ormais, no sc:iticlo
corporados à pró?ria personalidade. Por isso, a primeira hipó- de resultru:em de cond..içõc,de existência sociál cm uma rocie-
t\."SC sugc-rida ao especialista pelo confronto dos dooos históricos cfadeestratificada e de passado escravocrata. O prohlcma cspccl-
à situncão atual consi~tc cm admitir a possibilidade de preserva· Cico diz respeito à sem:bilidade às sol:citações do meio social,
,ão de "sobrc:vivêndas africanas''. J.ufdi,aneute, as condições revelada por )020 de C,ll::largo. É nisto que ele se clist:ngue
etD que .ceaÜ;ce.i a ~quisa n:io fovon:cl:ram - ao contrário, pre- 11rofu11<l11l!lente e <lo~ deniais m<li-
dc,s an1i~s cort1t,,mbeiros
iudiC11J-.irr.- a exploração sh;tcmáüca desta pista. Con$êp,ni, vkfoos, que ocup:ivrun Pa es1rutura social de Sorocaba uri,, Fº·
apenas, cnlher alguns dados a re,;peiio da m~cumba, dss con- siçi<oidêntic,i ou l)flr.alela à sua, cooserv,toao-se porém m,1is ou
~adn.•e dos barnq,.:cs cm Sorocàb,1 (l •). A presente discu.ss5o mcr:os''cepJosuàs mesroassclidr..ações.
;1.-erm:re,no entanto, situar de modo CO'lvenienteos díldos ex, A inteTJiretsçlíoesbarra, no ent&mo ~om um8 d'frcnl,farlc:
posto.\ noutra parte dc-ste arti1;-o. A origem ~frica1» de cettos incrnnsponível. Falia-no~ dedo;, brutos ou explcrodos cie:-itifi-
carncntc, sobre o tipo psicológico ele JOO()
de C.amargo. Contudo,
os acontccimenco.se sucessos significativos cm sua vida, relatados
( IJ) D,,d0$ foro«idos pelo S:. Cónc:gol.\1i,J C.uur.ho é.e:Almeit:fa, poz seus biógrafos, esclarecem parte do p:-ohlerr~. É evidente a
hi31o:ia.dlre foklod:m1de Soroab.'l, r..~1i:o cu:;,h::c:do;xrr s:t.ts e:xce!.e!lf.~ existência àc uma ligação basmn,c estreita entre os dcs:,jusul•
e~k:s> sob o pso.tdônimo ck Atui-ci<1 c!e Almeida. Os. c!ttdosfo::am con-
sc,gt,1idosatr:tv-é$ de ums ?CS4u:U r.os ..\r~UÍv('Sda CW-laDfocesana, ge:n- ou:ntos sociais e a revivescência de velorcs mágicos e =eligio;os
últndlt(: !cita a meu pc=diéopdu il~trc l:!storiaLlor. tradicionais no comportamento de Jo5o de C.amatgo. Parece-:ne
(14) Os chdc.3rob!t;; s n,ao;m~ c-mSo:'OC3ha serio inê:-csc!u-.
acfüm:e; provávd que as sitnaç<ics críticas oor ele cnfrcutad2s c:icaminh,,.
ql:Sh.t:.:.) i" cnngaé2" e :.o h:ituqut"; d. o meu a:ti:;o '~C".an_çack."
e Bíltuq_ues ram-no para a experiência religiosa e m3t:Cz. abrindo-lhe o r:1-
""' Sum:>h•", in Sodo!i,;,is, Vol. V - N.• 3, 19-0, p::;;,.242-2.54. m.inho paxa a a::toconscidlcia dos própric,s do!es sobren:1turais
234 235
e para a sua qualidade Je "eleito" e de "predestinado". Não é Driga<!eiro Tobins, e os prot.sgonijtas dn "mandiogi1·•tor-nmdois
difícil, doutro lado, compreender o sentido dos ajustamentos de- pretos, escnwos e africanos. Eis como rr.e relatou o fato o Sr.
senvolvidos aa:av~'s ela e.,q,eriÊnw religiosa. Esta aparece 1úüda- Cônego Luís C:iscanho de ,'\hneida, que encontrou WDS descrição
me.nte como um.Ltécnica de soh:ção de <!esajostamemospesscuis do :irontecimento nos Al"quivos da Câm.tra ).fonicipal: "Dois
e de conflitos, com base e apoio m cradição. Por isso, aplicando-a t-scm,-os, os quais vienim de MoÇ:J.mbiquee foram batiiados em
com sucesso. João de C;1margo obteve uma autêoti<:a ret1bi.litação Sorocaba. passant.!o a d-iat1!'1r-seCalixto e Alexand1:e, desavieram•
pessoal; em omras palavras, couseguiu un,a cova avaliação de siia -se com o feitor da fazenda e por isso resolveram matá-lo. Os
[lOf me'o elaqu!I!se roodificaram
pessoae <lema con<luca, ~s dois cativos n:unir.un-se a outro~ e íi.er.am o "feitiço" diante &
atiludes negativas ex:is:entes a ~eu .respeito. uma :magcrn de Cristo, a cujos pés puseram pinga e m.1ndioc:i.
A carreira de João de C:unargo é um úueressante exemplo. :Emremcntcs, o feito= que esu,-a na cidade íescejando o
além disso, das formas assumidas pela transformação da perso-
nalidade sob o influxo da ,ida grupal. Depois que se alteraram l\'atal, voltou e deu com eles fazendo a cois:i. Os dois c:;cravos,
os critérios de avaliação e de reconl·:<.·<.'Ímemosociais de suas então, avan~mm sobre o feir(>r,matacdo-o a golpes de enxada".
aptidões e capacidades pcssaa:s, João de C:unargo colocou-se su- Posteriormente, o 1-ecw·so à macumba niío só se conservou corno
cessivamente cm novas ca,egorias de atu.tção social, conforme foi tomou proporções aparentemente sérias. $q,'11ndo os "filiL6rios"
visto acima, ampliando e ttansfom,ando :issim seja o ptóptio cir- dos moradores da cidade. alguns curondciros aproveilavam-se fre-
culo de relações sociais, scj:i a natureza mesma desws .te.lações. qüentemente da credulidade dos clientes. Cani::,.ram-me, entre
À medid:i que p:issa,•a de uma categoria social para ouua, modi- outros, o caso de uma jovem de 14 anos, violada por = curan-
ficavam-setambém os quadros sociais dentro dos quais ,igis e deiro que lhe deV1:<ria "fechar o corpo" com azeite. Parece que
pcnsa\'<1. Com o mcrtmento do prestigio e da influência pessool, a proliferaçãode curandeiros e =wnbeiros foi ccs;,omávd pC.:a
como l!der caris□ítico, acplia va paralelamente o edifício da severa campanha de repressão ao curandeir~lllO e à tw1cumba,
Igreja e passava a "receber" espíritos mais "fortes" - tran- organizada peb polícia ée Sorocaba. E:n todo aso, é C\'idente
sição do espírito de Alfredinho,pani o de Monsenhor J020 Soatts, que Jo-Jo Je C2mari;o dc:sc,n:,pcnhouu:na fw1çfo muico ma.is rele-
desce Pª-"ª os santos, para o Espírito Santo, depois par:, Deus vante neste sentido. Pratic2meme, o exercício de c:cras sobre-
e finalmente para a It,rej,;. O processo psíquico liga-se pois i:oti- naturais foi monopolizado por clc; d0t.tro lado, combatia a "ma-
mrune:ote às alter-ações sofridas na forma de aro.ação social de cumba" abertamente, impedindo que os seus crentes e seguidores
João de Camargo, refletiodo tanto" elevaçiio de ;!4tus dentro da se utilizassem dos processos da ":nasia negra" e da "macumba".
estrutuu.social de -SOr001ha,quanto a situaçiãocriada por atri- Soube que expulsava facilmenteos freqüentadoresde si:a igreja;
btiçõ,:i e3peda:;, definidas m, tcrmo1 de doroinaçiio carismá• era li\lÍicie.:ite qi.1e de;confiasse dos intuitos dª pes.'()llem ques-
tics. tã<>.O seu secretário afirmou que João de Camargo e:-a inimigo
Nn refoção indivídao-sociafadc. há outro aspceto que cumpre irreconciliável dos "feiticeiros", "gente ruim, que só quer o mal
ser arulisado 2qui. Tmta-s.ie dos resultadM sociais da atuaçio dos outros". Propll2,andod iremmente as suas idéias, con;cgui.i
de João de Camargo. Em pr:meiro lugar, os indivíduos que se criar nos crentes e seguidores atimcle:s semelhantes.
dedicav2m oo curandclrismo e à macu..,i,,baviram-se apanhados em Além disso, pregs~a contl'a o a.'eoolismo, o roubo etc., exer-
11manova i:edede relações <:ompetitivas. Jo1;o d<:Ca.in.11:go iniciou cendo certo controle no compott:amcnto éos fiéis. Ele próprio
um combate sem rréguas 2 semelhantes competidores, procur-~ndo citava-se como exemplo dos ma.les do al.cool:srno e da possibili-
desocredítá-!os aos olhos dos crentes e sci,'UÍdores, e estabelecendo dade de supressão do yício. No âmbito ecológiro, são notáveis
uma distinção oomnte nítida entre o q1.1cele próprio fa'.<iae as as conseqüêocias da construção da c'lipefa [ e depois da igreja)
atividades dos c,n·,máe.'rose 111arnmbeiros.C,omo se sabe, a ma- e da cri:lc;ão Jo culco. Os icfortl!a!ltes me asseveraram que "de
cumba desenvolvera-se seriamente cm Sorocah:1. O primeiro "fei- deu vida ao bairro da Ãgn11 Vcm1elba". Este bairro sit~-se a
tiço" rcgisuac!o na hi.stórb local ocorreu na fuu:oda de dona Get· dois quilômetros da ddade e conheceu de fato 1:ma época de
trudt-s, progenitora de Rafocl Tobias c!c Ai,'U.iar, em 1841. t\ floro~-oo de construções, devido õ. Igreja de João àc C:w1argo.
Eaz::.~dachamav2-sc Pa~sa Três, lu;ar q11c hoje re chama estaçío Ainda agorg se vÊ um botn número de casas, ronsttuídas na.s une-
236 237
dioçõcs da :grcjn por sm i::iiciau,-:i. Apareceram pensões <lstl-
ruidas aos crentes, "por ordem de João de C,unargo", bem como
restaurante:;_ 1\-fandou abrir uma estola, A.BC,sub,•enciona<la por
ele próprio, pata as crianças <.lolugar. E fuzÍà outras obras 1mma-
nitárius, pois dis;,unha de muitos recursos. InfomY.içõesab.solu-
1;1me,,tc fidedignas revelam que recebia diari.u:aeme de 300 .,
400 consu.!cntcs, de Sorocaba e arredores oo ainda ele outNs
regiões áo Estad-> de S:ío Paulo e éo Bnsil, e uma moofa de 50 CA.Ptruw XII
a 100 canas. Por isso, podia maod:u- recolher, nas pensões <las
redondezo.sou rla cidade, os pcrci;-rinos p3upérrimos, e dar habi- COXCADAS E BATUQUES E1-f SOROCABA º
tação, roupa e eomida a vários !)Obres. >lesta categoria de bene-
ficiados, quase todos pretos. entravam os seus parentes; sub,en-
cion3v3 também o c-studo ck algumas pessoas na Escola Normal
de So_rocaba;na G.násio etc:. Alguns destes protegidos er~?.m A, congadas são amos populares represen1.1dos pelos pretos
pretos, sendo algt□s ddes seus afilhados. Informaram-me que o por ocasião das fc:..tasde !'\atai prolongando-se até o dia_de Reis.
núm::ro de prctos do lugar au:nento:i: chegavam da cidade ou de A-Ocont=ário ooque afrm:rran Carnpdlo_. Prado Ribciro ,. , a
mw,icípios címm~;zinhos, aJraícos peb fama e pclo prestígio d~ pr:ncípio, Gustavo Barroso ( 1 ) , estes autos não são de origem
Jo:io de Camm:go. Por isso, quando re'11:zava fc;,as ou procissões, pcr,m:,ente nfricall'l, como se poderia supor, baseando-se ero seu
contava com um bom número ée seguidores em disponib:lidade. nome. Como muito bem sintetizou Artur Ramos('), ".oão exis-
Puece que a ligação Jo "po,.o" com João de Camari;o nlb tem, no Brasil, autos populares típicos de origem exclusivamente
2c,ibou com sua morte. No dia do seu e:uerro, dizem os mora- negu. Aqueles onde .interveio cm maior dose o elemento afri-
dore;. oolugar, h:1via wnas quatro mil peõS<P..sacompanhando o cano, obedece.raro, em tíltiJ.n:aanálise, à ttcni<:>tdo desenvolvi-
féretro. Foi, no entender <lestes in.formant<.---s~ ªo enterro □ais rncmo dos antigos auio.; JX:ni.osulares·•. O negro exerceu 11çiio
aconi.panhado em Soroca:ia'". ativa nos autos populares dos brancos, apoiando-se nos elemen-
É correme entre os crentes que se pode alcançar "graç:ts", tos de soa própri,i cultura. O rema básico de todas as congadas
rerondo diante do seu túmu!.o. Diz.em, mesmo, que muitos já tem
obúdo 11e:dadeiros milagres, por esse meio. Constatei apenas a
• A.."1:i,,"0
re~ido COOl cbd05 recolhlclosnuma pe,;qulsa rc:,füada ern
existência de romarias ao seu túmulo. Vi muita gente em vol1.1 Scrocabo, em 1942, para • ctdeim de ,-\::i1ropoloai•e publicado pelo Dr.
dele, no cemitério; e verifiq:iei qce o número de velas ~cesas tk Se<iofug:a,,•cl. V - n.• 3, S. Paufc. 1942,
E.~a:o Wtlla11sin Re:.o;st4.=
também é grande, pois hav.ia uma verdadeira pasta de cera, no p,lgs.. 242-254. Pos1eríora:eote. Maru. de Lowdes Gim= rolbeu tatoS
chão. Todavia, não se restringe ao té.roulo a crença <leque João sobre a nmma 0011ga.da,de oot."O ::g,;rantc (o caêquc); é p,:o,;ávd que
,e possa ,ccoostro.ir, agora,o te<JO litc:ário é:ssa com_posiçio {,•cja-se
de Camnrgo continsia a c.,r:rr, a "fazer n:ilag!es", mesmo depois M,iriade LOlltd::sGbne,1ez,• Con~1dt ~ Sorocabo",in &vist• t!o /lrq11h-o
de 1notto. Prova é o scgu:nte "caso", que uma pessoa (Kara- .'Au1r.â;a/,,o:.. CXJX, S. Plulo, 19-;$, l)ÔBJ. 30-42). Rcpcoduzido cm
lino) nx: contou: "Havia urna moça na cidade que tinha perse• F. í..:;;D2ndes,M,.àa,°""' Saci,;it 1:0 Br,:sil, Sio P:rulo, Difusio Européu do
gu:çõc:s csp:rimais, por espíritos pesados. Cm dia acordou e Lrrro, !\160, l>?· ,82-J!IS.
mrprcende11,sef:12enêoo pelo sinal. En:iio apar= "nbô ·• João (1) Samuel CA,npello: "Fa,eram os Negros Teatro no Bn.sil'? in
que disse qne ela ,;e livr-.'lria <!a perseguição, se contlnW!sse a Nor;osEs!t1dosAfro Drosieiros(Rio de )IUle:ro, 1937), l)iB. 242; P::11do
Ribeiro: 'ºOs Con&os", in Re,;mc d~ B,.,,i, wl. XXV111, 1924, pó_ç,88;
fu:zx:tsua fé religiosa. A moça não o co::hecia e veio me pedir C-.u, .. ,_, :&i:ro;o, sob o pscodônúr.o de Jow do Norte: "Os Con;;os", in
nina descrição dele e disse q::zc era a l!lCs'llla ~1:suiç,,o que ela &v/,tr. do /Ir,;,!!, ,-oi. VII, 1918, p-!g. 191. Dr;x,i, mrrigiu sua opi:iiio,
tc,;c, acordada, quase ao :unanhc>ccr. E-!a continuou ~ fazer a t,d,tic::..:Klai:itc:rosantes estados sobre o íb"SUDto.A!ém de Ao Som Ja
\ti,,!,;, .::j:,-s: Alr:wb t!,,r Fa!kl<>w (Siio Po:.ib, 19Zi), pég. 106.
ma fé, aa::nde.i algumas velas a João de Camtttgo, pouco depo's
cst:m1 comp!c.amentccurada" .. (2) O foicfore Nevo do Brasil, (Rio de JL,eirn, 1935), pi:;. H.
Veia-se so:>rco assunto os c:apiruJosIl. lll e IV~
238 2)9
é, na vcrdll<le, 1.1masobrevivência d<1slutas Ültestina.s, !r:iv:1<.la;
entre os reis C os chd:cs d.e tribos, C 3 guerra oeste,; CO."ltt!l O
, 1 ) A rcprc:,cnr,1ção ttp.1rece com:1 = es,">6:ie de réplica
as crudd-.idcs c!os senhore; oranros: o negro c-ompraz-se em mos-
invasor, com a eucenaçãodas midkionais "embaiJtadas". comuns trar-se desprendido e tolerante, 1:;1h•e;;como e.lépre.enúia que
entre os africanos antes <..!oes,ado de belii?erância. procede:;semcom ele os ~nhores brunros. Es.sa situação é mais
Em 24 de junho de 1706. lll1 Vila de lg1.1araçu,Pernambuco, ou menos comum, aparecendo em vários autos das congs.das f''-bi
grafia! o rec-olhi~o por Gn$tavo Batroso ( •), pois, =te, ao '1~~ar
tcr•!e·:>i,peta pcimc.::a\.'ei no Brasil. encenado o amo "doo Con-
gos", segundo o testemunho de Pe1·eú:ada Costa (' ), ly,iscado assassmar o Rei, por ordem da R1tinbaGino. o Emb,ü.udox é
cm documenros por ele encontrado:. e ,ina1:sados na lr&1and~,le preso. ~le pede m!seticórdia, tenerosame::1tc: co~edida pelo Rei.
S6 dep01s,, ~forL-c:do, é que o ~b;.Úx,1.doi:- tcap:irece, ~ frente
de !\. S. do Rosário, desse hig-.u:.
do seu eJ<crc1to, vingando-se do rei, ao qual 111,miff,a.
Já ll~S-\ primeira representação, descrita pelo dtado autor, 2) Aprcsc:ma o Ótcique Jllllll~ latett.-ssan,e tt,UJSÍeréncia
podemos observ~r n influêncfodo branco, u~;e popular auto d(ls
pn:tôs, pOÍ$, '"nos molde~ da monarquia portugt1e,;a,comp,:nbam• como n inimigo comum, repre.entado no mouro invasor. A~
-se ele rd, rainh~. secretário de f.s,,.do, mestre Je cn"1po, ara:.,tos. mesmo tempo, o final do auto demonsu:1 o desejo de pnz, ami-
d:un:1s de honor e açafata$; e \101 scr,-lço militar com maredi.tis,
zat!e e colaboração, " que aspirJV'1o negro do indígena a;sim
representado. ·
brigaddros, coroniis e todos os demais poscos do exército•·. O
autn ainda não apre,;;cntava a forma complc.>1aat-.:al, ape;,ll das Outra personagem, que deJapareceu no núSS<>auro foi o
pcrson<1gen; pen)lanca:n:o ,1s me,smas até agorn. Q~imbo~o, ? fohice\ro; aliási se a~reccsSt:, estaria sem fuo,lo.
A versão que coll,emos c:111 Sorocaba é um pouco diferente pois ~ v1t6r1a do Púnctpe soore os mouros invt-rtcu o u:ma dos
das demaii. As personagens sofreram alterilçôessensíveis. As5Ün, demais auto:; em que ele $parece. Na nos,a vc=são nlio é o rei
em comparação com as versões rccolbi<la,cm outras regiõc:s do
quem pede clem&icht para o filho, mas é este quen1!cra a.sfalas
•.,. p or 1s::u.
r tr uno ao ·1n.-as:or.~eoch.x.1.
ilO . os aim:os e as danças
BrasH, podemos notar llS Sej!llÍlltcs diferença.\:o Príncipe é npe-
uas o herdeiro e: não se cbsma i.\-iametô 011 ptínciµe Suena, ou
de enc~-uamcnro s:gmhcsm uma ,enladeir:I vitória e não :ipenA5
Sw·eno. A Rainha Giog.t ou Gino, a ,:íngadora que mands assns- a alegna pela ~3!vaç:íodo J?ríncipemoi-10,que rcssusóci, gra~
ª?s poderes magicos rio Qrnmboto, aparecendo como uma autên•
sioar o rei dcsapa=e: SU!lS fllllçõts cabem ao Caciqu,: e são conlpensação da derrurs, nAsouil'.11S
l1c.1:_ versóe-s. Sch este ~---pccro,
<lesempenhnrles attw.-ésdo EmhaiX!tdor.Não se m,tando de uma OltUt~ se 3SSC-mclhaao nC".ssoo mito do, C,içumb:s,(IUC Mclfo
vingii.nça de tnu!her, como aoor.tcr<: r,;1 maiori<1 dcs autos desse
Morru.sdcscrcv.:!n.-is Trtidü;õerJ'()pr;!ares
tln Br.:t.ril.
(f-).
gêue.i:o,podemos coí1dcir que há um~ dupla simbollzaçlo. De
tl m lado, o iema primitivo da lurn entce os goveroafltê., doS O q11epc:rman~ccn, ero tO<losesses autos foi o motivo .inki-.il:
cstackisnegros e, doutro, o da fula ds M'\''1 rdigião, o c:ntOli- as fort~s. O Rei ordena os prepan1tivos P3I':l um régio folguedo
cissno, com 11 antiga, a m11çnlmana,sem que a vit6ria do "Rei ~ sua ~ortc, quando é ~urpreen<litloJ,.'Ot uma guena <JUc de
<loCongo" - outro traço original da nossa vcr:.ão, poi; comu- nao dcseiava e procura evitar, como que se refcriildo à rnancira
ment<e de 6 vencido - o le.-e " procedec tirnnicunente, rcspei• como foram escravizados na primiti~·a pátria. A guctrll ~ im•
t,mdo, no traiçoeiro rival dermtado, a crença suplattta<la. O iato posta pelos "ru1-cos",e qttem dirige a t!efesae ordena o ataque.
de o Cacique, cb.cfo dos llXl\lros. não se converter ao catol:cisrno, na granac maioria das versões, é -0 Príncipe. ·
como l'Otnuroeme acontece oos nutos popufar~s, como no "dos Um ponro discutível, que a nossa veE,ão poc!e es.:hll'l:cer,é
Mouros", refoi-ça n nosso ponto de vist,1. º.das luias contra os "mouros''. Os estudiosos geralmente co1r
O perdão do c,idqrn:, displicenu:mcnh: concedido pelo rei, sideram o assunto do ponto de vista histórico. O "mouro" seria
SÍf:nifíoaapenas que a c-onve.sãocos e.cJ:11vo,fora iocom-
1\llo apenas uma sohn.....,ivênciad,i; anrí!r-lS.lutas 11vs solos ,úríc.anos.
pleui. Pcxlcmus levar rr.nis longe a nos.saanálise:
(41 ln artigo citsdo.
(; Artur ~unos, a:,. ci! .. ~'\, }9. (5) PJgs. 159-163. /',.pud A. Remos, op. ciJ., i>Ó:1-44.
240 ~ 24i
Para nó~., cntti::tt;ntoJ pode ses tm1a sobre,;.rivência s.frica~;,,como Orgc.ni~r.çlic
das Co11gr.das
( =)
.._,_ _,
t:un~u um ~cr.ucnto rece:>r
• "do pe.io
1
.r,egro escr-avo atrt:.vcs ao
, •
roJJia.rK:eiroi)llíl!ll!~~ ç pel.!ça\~\!e~~ pQ:i,i àescri?o elas Cru- O l)OV.:Je1\Câttegu-ie de fornecer os eltJ\'l!ntos nettssários
zsdas seria um ótimo ponto de reierêrx:iapa.raos sacerdotes cató- à c:nccnaçiio do auto, dando cü11heiro,roupa e até comida e
licos, ilustrando, a,m exemplos semi-rorc.anescos,llS rcprcscn- lx:bidns, nos digs de represemação. As c::is'1.> comerciais e cara•
rações dg fé cristã. O tema cla luta rootra os mouros, como bém as panicu lares co~tribuem c:spomaneameme, pois além de
esclarece ;\-iello Mora:s ( 0 }, vem-nos através do folclore l~iteno, aprc:cia~cm essas rcpresentaçõ--~, consideram-ruJ.s
como um as~to
' " e h~ga..'lças" l os "'1
oos a1.1tos e.a . ,, e os H'\.(;.Y.iouros,,) , "C a
_11atuJOS 4
(7i 01>::vcrncs wdt.s :as informsç-6::i.do 1:dcr r~"'° locú, ªrei daJ
nos d::dscn que ni::, hou~t'. con.
Sr. ~lcrno Ô::;. ~eva.. <1 ~"U:31
C'..t.>e-~'',
!10 áll.O passadoporqt1e a ro{!da ;,roibiu. As pa.rb::sdo tuto, rel1lÍ\'a5
.g~:.!11
>0 Cac:quce ao Embei,:aJor,ni:o poderaruse: oblid.,s l\t oa.sü.o.em ,•ir,
qu~ os optuiham:.o "Rcin.
:udc <lc an'.mos.tdaets.
242 24}
bebes aos "Gongos", .ipó, ~ e,1ce,1;1ção. Tupois disto, eles vão
Os 61;uN.11Ze;p1-incipais sã(>em número ce26, nlio se con- representar noutro lug~c.
tando alguns coropars:is.r.ic::no=es e âS cri:1:1ç:is,que ªforrorunH
o c.v.ércitodos mouros, pc:,rqoc,disse-me Salerno, são h:irulbentas. Os pa.rticipa.ntes d,\ ConAuda caminbim cm duns filas ou
~
me,'hor, em "ois um ck ada fado. De wn ,laJo,,
gn:p~ !'CJ>2rac!os,
A "orgMin~o do l-stado e os fahlgos de Congo" í: a se-
,;aí o Rei do Con~o, com .1 sua "rort<.: e fidalguia"; e, do la'-lo
!;~t:llte:
opo;,o, o Cacique com seu exército. Encontr:un-se na porta
FamíJi,.. Real -Rei, Ra.inh:l, Principc; onde clC\•emrepresentar.
Estado-Ma:o, - S:!ttet,írio, dois Duquc-s, um Conde de No tt2iero que fazem, mé chc-ga= au ponto e.e encontro,
Pr<,ma,llDlGei,er~l de: .-o\r:11,is,
um Uoletlm {arauto), wn C:1riúio o:nram o ;eguinte:
<!oPorto, um C-0:idc:é.e Momée e um J\lfercs da Bandeira.
Pisei no tijolo,
Corte -12 fidalgos. Tijolo ~;rou;
Dos inimigos - O Cocique, chefe dos "mou,:os", um Em- Pisei r.o tijolo,
baixador e o exérci,o das cr:ança.s. Tiiolo ,;rou;
Essas pcrsona&-<:nsdesenipe.nhun o popcl qce lhes rompctc Moc;aboni~
na vi<la;ocial, de ae<mJ.ocom a ·'po<ição e fidalguia". O alforcs S.aiana jallela
~a bandei1::1carrega a 6:1.oc.leh:1.do reino do Congo, ~ q..:-alé de Pra ver os ccngos pa;sar
lundo aml, em que se de,t:1c:1va mna cniz br:lllCl. Que vão ;,ara ,, guerra
Os v,1SSalosdo Rei elo Congo ves,em uin calção awl e uma
bl.:sa da mesma cor. Sobre o on6ro, dependurada, têm uma meia
~npa ,-or-de-rosa, e, 11,;i cabeça, um ch.qxu da mesma cor e fo.
São BeneJ.iro
' .
uUtl C.IS2 <:nei.ra,
("
zc'Ilc.la. O Rei elo C,,ngo vc-stc ulJl.l tún'm azul, a qual cai acé Cheir« cra,;-os e rorns
os seus pés, e uma capa cstar!He, do mesmo comprimento e
muito larga, permit:ndc►lbc jogá-la sobre os ombros de ,;e,,t em
E flor de forii:sjeira
1quaru.lo, com a di.splicênda gaiata de um rei de btinq:,e<lo. Em-
pu::1bao ce.1-0 e tem sobre a c:.1be.ç.1 urna coma. A rainha. i. e., O-h-.té-hi
a u prulCe.sa
. ,. ~
~ coiro a--coomo1. '\·es:te-se
l
lov-.\ l ,
< e oram:o, corn um Como ,; bonito
imcmo véu. 1ambér:1branco. e mtL um J.iademar.ohrc n c,lbeça, O Siío Jo.ío no ~ luir
Os figurames "monro,;" ,.,,,-rcm-léde tem1elho. João, Mara-Joiío,
Não gau;.i a magirú
C.0Jl"O cl:si-cncJf\
~dr.cli\es.les ..ttltOS prolongam-se do dia 25
1
Que a Vírf!~n,do Ru,úio
de de:>.embm n,é 6 de janeu-o; aµrovei cam rn,fos os êowingos, ~os há de 2i11M.
dias ~•nros. fcriados. nc>!e lllt.>SO e!~ ,empo, para cuc:en3r.' A
festa é feio cm louvor de ~0$5'\ S!!nho:-a do Rosário. p,1droeira Q.<lim-!em-1ê
dos n~'T""- Sc,lw«b .aos roorou o C.ênq;r, Luís Ca~t.Ulbode
0-dim-lê-lé
,\lmeida. a influi?ncl,i <lo au.o é tã,-, grande, q,.u: crn Itapetining•,
onde é nuis completé' ( r-ois também ct1c<.:namos "1\-foçam-
A ro2.inheirafica al~rc
hiqccs"). contr.t o lüc,·gi,1 da Tgrcja Cmílk:i, No;sa Senhora Q=c.!o caka o boriná.
do Rosário ~ cultuadar.o ,fü <le Nual, º"" igrejas <lo luga~.
Viva o rei
A represenraçlo dura de 20 a 30 minutos e é feitn dfonte
Viva a rainh~
das casas elas pes;oa& que querem <Jueos '"Congos·• representem
Com sua cüt<,_"J.
d.i:inte c.k suas poru1.,, na ma. D-.:võID colocar c.uas ;,oltronas.
De plati.!la.
p:ira o R.tí do Congo e ;,era a Rainha, é podem ofcrcccr comes e
245
244
Olegados 2() l1;g,u de encenação !ornlàln duas filas; um•,
T<Jmando parte neste festim,
ccptesentando o "reinado do Co:igo"; e, onua, os "mouros". O
Rei e a "PriJlcesa" fic-.u:i "-'-ll.tado,: no fim, clomioando toda a Ouviste?
pcç:i. Príncipe
Sobo :somdos ins-r.rwnt:nros,com muito '"'r.itu::o:•,
aprolr.-iman;i• (ao rci)
-,e até e11cm1ar os pés, rctrocedc:nc!-o dcpoi,, cnqtlflnto fa7.eru - Amor pnra temo rei. St:nnor
'
fiurcac!os c:om a, espadas. Os passos são contados, o mesmo 11o fog<Jque me de\'Or:t n~ste dis
número para a frente e p;L'"JItr,L;, <:011servando-se
1 os pucciros, O qucl dams paz.
d~ freme un, p:i.-a o outTú. E vede a multidão do teu povo
Vejamo.so diál()jlo: Que cntoroa a tcu.s pés;
Fidalgos reclamam;
l{ei Glória seja dado
- Olá! Ol~'i,men st<.T<.:cirjo E.xcrçorei senho ...
Da ntioha =<?t11ria Rei
r: <.1omeu real csrndo.
- Cantai, dançai, alcgr,;-s, comentes. meu< filhos
Secretário Que oos emporca com essas tcme10$.;s tcmpestad::s cure-as.
- O que rnauda,rei scnbor QuMdo :iós tratamos de e-m festim
Neste v(,sso real 11)at1dado? Que cuja festa fa.remos n1do
Rei Ein louvor de nossa VirRe.mdo Rosár:o
- Vejo o rn1.mdoinceiro estar na rua
E do nosso padroeiro ··
E s6 em vós me vejo dcscanss.do Glorioso São Eene<lito.
Sccretii!io Príncipe
- Rei Seahc>r! . . . Seiafcsra, - Voc<:srodos estão dentes
Ou seja guerra, Dos festejos dc,1:c dia
Sení mdo ck,e,Jll.1ct1~do! Vll.Qloslouvar com 11,osro
O rosário de Maria.
Rei F.roh:úxador
- Senta-ce ~ minha direita
(f:.le !,lede a cntrad.1, mas u noletiln ~, ~tlâJ?alf-~~,
E vê lá q1.1e<!essespróprios inimigos gcite.ndo Je loni:e):
~ão sejamos atnc.10,1.,bs.
Boletim
Se('teM:!o
O vos~o reine está perdido!
- E.%,ld.in,a da foli-1. .t\qudcs santos que lá vêm
Quinacube(•) será ~cu fill-io Por C'ênosio vossos inhnigos.
.ele sejo oos.<o guia.
Rei
Rei
(ao filho) - Que notícic.s sâo c:-sta.,
Qt1e vós me com.Indo cmi?
- Quin2mhe 1 mil'J,a querida O meu coraçi'ioestá quicro
Reg07jjai-,·os coJni!,'O Não se move do lugar.
Boletim
- Rei senhor
2-i6
247
Ec me=:.rnosou 1.esternunho Secretário
Das noticüs que vim te dar: ( no primeiro Duque)
ll:na grande b.ic."'<ltirade guerra - Guarde hem camato.d~.
Que vi no campo de Mumb,,ca. A<lianre nem um passo! ·
Qt,ando meus olho,; avistou-se
Meu; pulsos se quebro,~, Secrer.ltio
O rr.,u coração tremeu. (ao rei)
Fottc,; gentes vlllentes - Rei senhor;
Cad" qual suspende as atn:as, Lá vem o embaixador de místico
Cada um mais a contente, com vá.rias noções de estado~
Pois minha rei. Licença \'em vos pedir
Vi..!to a gLied'a set pretos com pretos; Para vossa mio beijar;
Brru1cos cem b~ancos Como vem alegre e contente.
Aonde rompe este vo;so fone batalhão Que coisa havecl perguntei,
Vamo!... [ .av.111çamos. Intcrrngandoquem el'll se..1dem
Rei E quem era seu santo.
- Príocipe e secretário Me respondeu:
Vão depress:i perguntar: i\leu Dens é Alais
O que bUS<:2 nesta terra, E do santo nem te como
O que vieste aqu: buscu Rei
- Príncipe e secretário,
Secretário
hlinha corte e fidalguia!
( 20 embaixador)
\Ião todos .. _ Prendam e tragam
- (Falto e~ta parte. ConformeSalemo,ele repetiria: Debaixo de armas
Guerra, e mais guerm:) À minha real presença
Secretário E perguntem os nomes;
- Pois edian te oão irás, Contem todos um a um
Que ao t:letl rereu \TCU contar. E me trag:un bem escoltados!
Embaixador Sétlétáfiõ
- (fair.i outra parte do rcxto redrndo pelo Embaixador) ( ao embaixador)
- Atrevido embaixador!
Secretário O Rei te manda prender,
- Arrasc.dcs se.rio tefü tonguinl:os Dirija teos passos,
Qtct vêm par,1 rua defem Chega na presença
Adirui te do meu rei Para receber
Hão de ser desam1ados Tua sentença
Poi~ bem! A meu rei vou COOlat, Embaixador
Coota,mt co!l'lo te chama
Quem é u:u Deus e quem é teu Santo. (ao C3ciquc)
- Olhe::meu c-acique:
Embb;ador Aqui voo eu;
- Meu Deus é Aleis Se eu dcmomr por estas duas horas,
F. meu Santo é Maom~. Ponha teu povo elll campo
248
E vai ,çer o ultraje 1'.iaiscoroo rei tu não td1S
Q,:e sofre este teu Emb-aixs.dor. Pica ,ut!o em meu cu!daclo.
Ma:s fale com o Príncipe
Secrcaírio Q-üc é um füho u:ui,o amado,
( ao Embaixador)
QL'<'dentro c!e meia hora
- Sou eu cucm habito con,emc Tcus crirne~ ~etilo J?Crdoados.
:Sksle novo ·oootu!ário;
Se for guerr:i me decl.1re. Rei
Nc::,ta ação ~em merecer ( ao embaixador)
O teu p-O\"O em cacpo - Então!?. . . Pocq,ic oiio joelhas? ..
Que algum~ c.olsa Pensarás que e,.,:ás falando
Tem q~ tr32c:- Com um simp.k, cmbai?tador,
O que querer, Como ru?
Em6-aix<1dor'
Embaixador
Erolx•ixador - Serás n1 o g.ra::dcAlá,
- (Falu est,l p2rtt. Terrnflt=:l:
G1~crrae m:ús guerra!} Senis tu o granck i\-Ll()mé
Séuctário Para mim Cur\'ar cm tellS 1>és?
- Serra .ts arma::;·ao inim1gos ! Rei
(Prende o Embaixador. F. • gucm\. O erobnixador e - Sentai. monarca ...
levado d;antt: do rei)
Então sei o que Yieste aqui tratar!
Embaixador Nesse dia de granJ,:; fr~ta?
( ao rncique ) Li na raia ooJe tu p,1ssa:.,:c.
- Aqui vou eu Cá m.:u povo lu umorim1ste.
Com os olhos raJl')dos Emb-.üxadm
Com as mãos amarrada~
Sofrer aqt:efa.esuonclo,rn morte. - Sim, senhor,
Eu \tim rratar
Cacique D<:um as.,mto de divisa cl~ tem,
- Vai sem m,úor ccida<lo; Q-.;c vós tem que,ido nos toe.ar.
Se sofrer alron insulro
S,,-,í pmmo- e bem vi.n~do. Rei
Embaixador - Ho!e não t:-ata éc ncgf.-cios ,lgmn
( ao secret:ário) Est-rao~eiroscu na::::ionais
t!a curte ~ con.;e.11::.el1'0$.
Qoe me j nvo..r-a
Se nm rei cu ti,•es!e
E11~eria perdoodo; E.11:baixador
Mas como um rei eu não tcoho - Tcrr. que ,:ne ouvir
Fici n:clo em teu oiidado. E temos de o·ac.1r,
Secrctá,-io Vejíl o que é 01ist~r
{ ao c:né.aixador)
E pode rc:..<Uk1r
- Sim. Se ur:i rd lt: tivesSt!S Rei
Tu e..-,,sperdoado; - No,·cs cxtrcmc,s de v:J,,?
250
Embai,cador Que aqui tem filho
- Veja o qcc é mister Para ~-o,sa defesn
E po<le1-esultnr.
Rei
Rei - Já que tenho filho
- Atrevido et:tbaixa<lor'. De minJ-,.amerecendência
f"orn de minha .~l pr<:sen<;a'. Torrutrei a meu troJJo.
Eu podia te llUln<larprender Mais! . . . Porém guerra'. ...
N:1 m1iis e!CU!'ll prislío: - (0 Estado-m:i:or e ,1 corte combm:cm os "mouros".
Mas níio quero qJe o tc:.1 rei l,i .liga fv.endo grande algazarr.1 1000s, <!<'quantom•.nejam
Que aproveitei-me da ocaSlão! . .. freneticamente a.s cs.pa<las).
C.mhai~ac!or .Rei
( o Emba'i,.a,-lor ameãÇ>l o rei. Falt,1-00s esta parte}. - A1,-;mi,"a
rue.us camaradas,
Rei E dai o ,n.ús fino golpe mortal
- S:trito meu p-J.tTOno!.. . Ncssa canalha
Anjo <le minha goarda! .. . ( O combate oontinun}
E os soldados que roe rodei<1m! ...
Vejo-me ,icra:coodo com este atrevimento! Secretário
Alvore-;.ecs~a bandeira. - Vitória, <.enhor
1 (Pren<le.m
todos os "1oouros")
Seja ela a nossa mormllu e a nossa iroia. Rei
Vamos. Avan,:amo;. - Bnvos, meus valt:Iltes soldados!
Prince;a ( Os ven<:idas ajoelhado,. pedem perdiía ao rei)
-Rei senhor Cacique e
Não dci.xaivosso nono perecer Embaixador
Nem vosso tesouro se i-.errlcr, - Cm,•ando aos vossos p~
Olhe para a vossa direir..1 Peço penlão de meu, crimes:
Tem u teu filho prínc'pe
1'.itL>Odéstiaele quem não sabe viçer,
]\na tua dek,a: E a polí.irn ele quL-m 11,íosabe ap.re.ncler.
T!ldo q~oto csp,>...ro
Q-t1cserá vossa g:Fdlldezu_ Rei
Rei - Levantai-vos, meus filhos.,
- Silll'. Cont:a:2do eu na minb~ alu:za Os teus crimes e.scãoperdoados;
T !1:-narei ao meu a:ono; Chega lá ao teu reino
Porém! 1:,11m grande insutto 4
E diga que o Rei elo Conp,oé poderoso.
Paro mi oh• fidalguia; ' Os mouros"
251 253
( Então começa ~ ú!cirn:t dança e rodos camarn): e impressio.::iante. O movimento do corpo acompan:-r.1,sílaba po:
Senhor Rei, sílaba, as notas tsp:152das da música e da,; vozes.
Adeus! Adeus'.
Pague a ,visita Pisa no chão
E vá com Deu~! De vagar leão
Ê ... É ... ~1ariá
Não encoste na parede
Os J',attllj11es Que a pnrcde deixo pó
l?.... f. ... Mariá
Al~m c.l;is,:ong11das,é muito comum, encre os pretos de Soro-
caba a batucada. Vejamos 3 descrição qne no, foi fc:ita pelo Sr. Esce final é comum n q1)Jlsetoda, as ha mcad,1s. Koce-se que
Francisco C.unargo César: c-Jnt.1m apenas 1101 dos 'l'ersos, noite adentro. Outra letra para o
''Kas festas pop11lares, como as elo Divill() F,spírito Sanco, b'1ruque é 2 seguime:
de Nossa Senbora ;\parecida. de Snnro Antônio, São João e S:io
Pedro, oas comemorações de 13 de maio e na nol!e de ~arai. o Batuque ns cozinha
samba, que quase toe.los denominam "pandeiro" ou "batuque", SinháDilo qué
era muito freqüente. O "batuque'~ e~ cxt.:lus:ivamentede gente Por causa do batuque
de car. A ºbatucada'~ é uma da.lça cipkamentc africana, com Queimei meu pé
muito rcmdcxo ck corpo e umbjgad.1s; os instrwnentos são: o 011
bumbo, o panckiro " a cuíca. A música é ritmica, como roda, Quebrei meu pé
a.s músicas africanas. Atualroente só no bairro <le Apacecida,
cm Sorocaba, pode ser u!osetvado. A santa fica seis rne.,;csrui Nc$tc, o n:md<'.xodo corpo é mtÚt<>maior, morm1'nre quanto
caK-dral e seis meses na igreja de= bairro. Quando ela é levada ao requebrado tios quailiis.
p,ira lá, cm procissão, há batuc,1w.1". As letras por .o6srecolhíw.1ssão múnótoiw e mcr,"nnlés, mas
Como se vê, <>motivo da danç::,também é a comemoração estes são tr,1,;os Jo batuque, co= podemos avaliar pelas s<}-
de uma sacta pzdrocira, <lobgk,lógio au6lico. Enquanto a con- ~uinres, colhidlls por José Vieira ( ' 1 ):
gada é feita cm bunra·e louvor <le ).!. S. clo Rosário, a batuc.ada
é ck-dicadaà N. S. Aparecida, cooscrvant!o, pois um cunho 01- Chorou ribeira
ractcristica."tlcotc profano-rdigíoio. Verifica-se q'Je llOllTt uma Chorou ribeirn
Chorou l'ibe.irs
fusãoentre o primitivo motivo <la <l~oc,1e o a1lco c:,u:ólico. Óia a s.o.iada M,u-iquinha
De dança profallil e IeiUI em.,11)Jl.\q,1ei:
lnfl"I',ha.,tando, par,1 Tirando balão
isso, apcua~ os sons rümicos <la.dopefas l""lmns ela<mãos. de um De t:'.otê.
bumbo ou <luascolheres, passou a df.~ comemorativa de dmas
festivas <: de dias ele culto, como o de N. S. Apsrttid3 {º). Chorou laranjeira
Recolhemosos seguin(e; ,•ersos( ,n), cantados ao som dos Cborou laraoj:ira
bumbos, tambores e etiícas, monorona,nence, enO'(lsaooo-.co Chorou laranjeira
c,mto e a! notas do instrumental em um úniOJ som. lamentoso Que não des:sc mais flor
Chorou laranjeira
Chorou lanmjeira
(9) So.l>rco "b•mquc", ,..,j....,
A. Rsmo., O Folclore Nev,, no
l'/,as-:1,~p. ât., flÍg),. 1.3.5-141. (l l) "O•oç•. Mútica e P~ Negra no Brasil", in Jorr.o! d~
(10) Dados fornecid;)Spt~ Profrsoo,· R~tto P,1~malid,;, Comérdc, Rio ic Jmlf'iro,1928, p~g. 667.
254 255
A GrISA DE CO~CLUSAO
17
CAPITt!W XIII
259
ellm:nar r.oJ'm~ln:cnteas est;_ lwil!> pree.x:Stc=tc:sna ç0sfer~ das O;de.w SodcJe Prii~iUgio
rdações raciais, fozeado co:n que a orclcrn S<lcial comp.:titiva
r:lío alcance piei.ia "igênda no ootivaçfo, n.1 coorêenação e no Todas as sociedades estrntiCicad~s são socie<.la<lesnas gu:iis
rnntrole de tais rela:;õcs" (%}.
o privilégh> poS$uÍ influ&1c:as espec-'Jic,,s, quer ;obre a coopo;iç.ão
O dilem.a social cotlstitui :11n fenômeno sodolós:!icoesse:i- do n:cio social interno, '!.ue: soiire os dina:n:smos de func~on:.1-
i
d-~lmeme polltiro. Ele tem ::,1{z;:s crnllÔrnicas. 50ciais cultur?.is; mcmo e de evolução da oré~11:scéa!. Tais inf11.êndas são C(!nl1~-
e pro<l"~ efeitos ramificad(,s c:n: toêas essas direções. To,favia, cidamcntc di.-ecsrui, quando se pas5a do regime de cas:as pn.--ao
a su,1própria exi.t&lcia só 6 pcssivcl ~r:iç,1sa <'~rt~sesmitura; d,e estamcttos ou deste para o .e<,!C..,,c de cbsscs. O gr<.u é<:
de poder, q oc o torruim incvit.:ív<?le necessário. E a sua pi:r- dn privilég:o v-ar:::de u□ rcg,ir:1e p:l!'a Qtltro,.o r.:iesrno
segreg3.Çâo
peru:1<;20. i:,ddin:da ou =nsit6tia, Í.:l(]ÍC.l rual; qw: isso, po:, ocorrendo co11 sua \':sibili.¼de, lep,irimnçãoe signifioido sócio•
~~tcm:Utha não só que ~n!pcs, dssses ou raças dt1:n:Il!ln.:es sãl) -polícico. O regime de C:n,se.s, porém. é o único gue pro;c:a
capazc-s de manter tais estturuntsde J.,-"Oc!cr-. ma.i que. ao mc:::no o ;,rivilégio em uma es(erade conflico nxiológioo. 1\ t>rdeJr•legal
tempo, gr1:pc$, classes e raças su!Júl<:tidcs à domü~Çlo ::õo :m. e polft:.cafunda-se mnna ideo!ogiademocrália\, eoqu3llJO o sis-
p::;cntcs par,, im~,or suá \'úUladc e corrigir a úuaçlio. teoa de produção org(ll1Í2íl•se com base <:rn relações e.:ooÕ!'llic,,.s
CoL-ioas froutcir-&srac:•Ís Ditodcsaparece.t>!ll',no Brasil cu::u que in;,-tin.cic,1alizam,i e.,-;,ropriaç-ãue reqcerem o privilégio de
:t Abolição, é um tlro supc..,t··scqut: 2 sup-r~"l:4!."'ia
~ia lx>1ner.1br~nco e"propriar, de arnn:u:ac e de ma::dar (ou dominar). Esse co:i-
seja um dado hiSH\r:a,. um foto édinicivarr.cntc "Upc:odo co:n flitu a.xiolôgk·v.. está claro. por si mesmo não impcéc 3 cunti.oci~
o desaparccimcr.to da e:;.:ro,;dão. Do:irro laclo, como n econnm:a dace do privilégio. n-:gado ~m um plano ma.s co:ifumndo em outro.
de .rab.?lho livre se organizou sobre ::,n p,HalYIJl!"p,·6-c:,picelisr., A ordem s.,cial compet:tive. <:x:nlt.~-o atrls de <!hsttaçõcs c<.-000•
e c:oloni2I. ser:a ]Q,r.enr,h-else i!(:,orá;semos como :;~ decenui- micas e sociai~. can~crtend("AJ, porém, e-1u 1.:m d.e seus prindpim;
nações de rnças se inseriram. e afe.arnrn as determioaçõe; de ou for,;:,s intEY,rnt:\"(IS.
Cont1Jdo, o conflito aidológko aummt>1 n
d~sses. Ao contr>kio do <pe ocorreu na :Europa, na América visih:lidade rer,sr:iva Jo privilég:o, ao mes1llo ,c.>mpoque fornece
J.arina a e.i<"P.uuãoúo ,,.pit11lismo<l~senrolou-seem cen:frios émi- fonclan:<:ntomoral e kgitimidad-: po!ícica e vári:is roodaEd:1.d~~
cos e raciais muito com?lcxos e heterogê:n~'O,. .-\s i,,<randcscr:ses de perccpçãn ctitica e de c,posição ilO privilégio.
e tr:msi~·ôt,-smm('Çll?:une acahar:im -· ou :1pcru1stcrmin:uan - •
como "rc•i:ol11ç6cs d:- cima para baixo:i',soh a u:.tcla ou o arbfrr.:o
As ~ondiçoc• de formação do ca?itslismo n.is Amér:ca., n;i,;,
fovore~ra m a "rcpetiçâ<i c.itth:nfü-iaº. Sob muí:i:lS aspectos~ o
do pudercu;:servadpr, o podcJ· supremo de rah$ minorfas hran-cas.
f>oz- t~so, a dc~""("J1cmlmção
ai:-:da e.~IÍ en y,roccsso. O que d-=:$a-
me.1éoJ10do o:nflito axiolóR.:co cnn~cimiu11m co1111úxo s::hprc,,
parcccu hi~toricamcnte - 1
o ''m11ndo colonli'.11~ - ~::h~istein:s• pTozluto soc.ial t!a revolt,~o bt~riuesa na Europa. P<1ra t;LH: n
tirucional e funr::onalmenre. ai nd,1 qne de formn variável e <k- e o Esl~tlo nacie>nalput..~;~\ preenci>er cerras funções
:::--Jaçii<)
s1tna1, ronfor.me os níveis de oc~.aniz9çâoda vid11huma:,,1 que ..g~ul!natlva,, e in1egra1ivas. impresdn<lh-eis pa.r~ o Jesenvolvi-
se considerem. Ele vi,e, \>Ois,em qoo;e mdo qoe é essem:i"1 m<!lltv do c.,pitaF,mo, c=a pre..-iso fomen:a: ma ideologia taJ.>a,
para o capitalismo JepenJeme: llil poss<: da terc,1, na o.rganii-B<;li<> de at:cn<kr a interesses díspares f ?Or ve-,es inronóliá,•eis j. eni
cúnflito :i.b::.tto na 50dcdadc. Daí rcs1.Út:aram cútlce,.,,ões,no t~r-
Ja agric-dtur-a, na autocracia dos poder0:;os, na expo!i:>.çifosiste-
r<.:nodas idcu!ogiils. que auncntttta:n progtcs!:h·am~l·e à 1ne-
mát'.<:ae 11:i. margjn:rli.zaçã,,dus poh=es, no parücufarismo e no
di~a q:1c o~ g::-:.rp:...-,s
e ~s c!a:ssc..-s
atcndic!c.."S
aéqu_irfammaiores
fa::isafamodas cfacs, na apatia ou 0.1 confusão das massas opri·
núdas e, prh,cipalmcn:e. nos !)adrõcs de rcbçõcs étn:cas e raciais, garn=tias so.::isis e ampliavam rua posição & barganha po~tica. O
poi- natureza ilcgícjrnos, c:!{ttacristãms e antidcm0tráticos. ponto de 1-..i.rciê:Icc1onis\ e ~5 fur.çõe.shistóricas dcscmpei::haú.ls
pela emancipa,~ n2e:ion.?Ino privilegiJ,,mcnto dos inte:esscs e de
pensamento oonSer\,'ll~ore; nas Américas - e ;ob muitos asptc10;
(2) F. Fa·nsndes, .:-1ln:e~ar-4o da ~iel{,ro,;a So~etf6..-Ul.e Classes, o Sul dos Estados Uniéos ruia difere e;seooalmente da Amétirn
S. Paulo, Dcm:nus E~:toro e Ed:t0:.t da Uni.-c,sêdade de Sfo Pmllo, 1%5, Lst:i;:,1 <!$~111::ob e porti.lguesa - int:oduiem 5érias difarcn~.o,
•;ol. 2, P9· 389 e 391. com re:~ção à E;iroj.xl. A;x:sar da ,,pnen:e f1;,1rq11irt e do mn
260 2Gl
e;d !ibitsm da li!>erdade pessoal, as formas patrimoniais e des- sLn~res.
no cenário cutopi:u o-~ nâo proc!uL'i~mco.,seqi'1ênch,~
pótkns <le doUÚl'13Çâonão entram pn~cocemen1e nas transações • O lihcrolismc, cra wn bstru:oc:1io ck ad.ipta,;20 d:i icko!o,gis.s,,
~ a1fapta_õc, r<:ciprocas de ca:egori~ SO('i<tisdesiguais. O poder nhorial à dominação colenial i:idircta e nio contribu!3 p,m, fo.
poliriCú c:q,dmc muito mais UnlSl confluêochl ,la ,·ontac!e cb ari.s- mentar qc,lqucr tcndêccia radical de tevolusio dc=tro da otdt::n.
tocraáa que cm crrsnjo ot1 acomo<la,ão <la,uisrocracia com os O< denv.ii; setore; sociais, por sun vez, nâQ d!spunhom d~ bas:!
d~m:tis gru!)O, soc:a:;. eco.nôroica, soei,,1 ~ política polra dcscnr.~lc:.Lrs=lha:11:c p:o-
Poc is:;o, ll:ls clíforenc~.s rejltóes <la Ainérka Latina a cman• <'CSso. O "etbos-dernocrádco" ( ou o sen eq~ivalentc, nos ·v.ir:o;s
cipação nacion.al e a orga.niwç~o <le Ltn Esrndo nacional se dio tipos de o!igaxquin) circunscrevia-seà \io,iu,h ord.:tn civil, em
eu1 ut:1 <:on:aco 1)0 quAf a <lesagt~,gãÇâo do sistem2 colo:1[2l tomo <l.aqual gravitavam, em foz~1o io; ilre~ss<?; oJig.írquico~,
apenas se rn11.s1:ma;\O nfvd ;urídiarpolftico ( e, assim mesrno, o, Esudo, nacionais. Ela era, de fato, o ,,o.iconúcleo .!e;sa socie-
no que :s<:refer~ à subordii:ação dir(."tn às metrópoles e à estm• dade n<:ocolooiale:n que h,wfa 1.!I'1l3 soci.dizaçã<Jpolítica en:re
ruraç1o do Ern,do inécpcw=ntc, p<>iso a.nti?,o sistema l~,tl pet· igu:iis. Essa siruaçã<l crn mús cxiocma e: drást:ca no Br::s:l, t)Ot•
durrá por □uito rc□po). A e.s,nltl:ra wk>nia\ <la economia e da que a pasisténc:ia d:, esc:ravidiio <--riaracondi~-ões para a pr.:se=-
S<lcicdadc nl:o s.: oltemn senão superiicfal.rotnte, pois ela era vaçio em bloco elas estr1n11,-.i.~ ecc=ôrr:icase sodcis c,>!onfa1s
1
seja p::,ra li p~serva('lio <lo htAen:onfod,is C.UJ1:1das
Ol'CL'ss:í.ria se- reduzindo as pro;,orçôcs e os dc:cos da de;;:oloru2:tção.
nhoriais, seja para a i:1corporaçãn dos países da ;\ mé.rica T.nrin::i As L-voluçõcsposteriores, ao longo do sécJlo )(l:X e capri-
a uma forma indirctll. àc dominação t-co:iômica e cnltm:a] de tipo meira 111eradcdo século XX. trazem cou~igo utn,t nítida 1endi11cia
ru!unial, tan:b6n ro!l1andada pelo capitalisino euC(lJ>eu. A emàll• à couso!id:ação do Gtpita1isl:lotnode.t:JlO, do 1•~:me de d.·ts$c,; e du
ci?ação nat:iooaI !:tcino.amc:-ican~1 tipk;1 é, port~nro, um {~nô- Estado nadom l. Não obstante. permanece 111:l!l i11v,ciávd pclari-
político ( ou, como se dii, Ulll'J "revolução
::ue:..oc:sp<.·dficam<=ire zaçio elitista, q.ie resul1a da c,ap11ci,~~d~ de,~ ~tra~os sociais do-
política"). Por ;1arndo'.'<al
gue isso 1.101S>1
1,arecer, lllll:l. revolu,;ão 1ninm1les de manter e de forralecer os seus priv:Mgios. ablvl-s
dL·ssa~péde nno $e opn11ha ao llnligo ;:,isternacolonial como tilll
d:is várias mmstorm,;.ções da ordem e.ronô11'ça,soda! e política.
mdo. Ao ço:itrário, da de,:,en<lilda continuidade das c,m,rura~ f.s~e fcnôn1cn<,.ainda m;il i'.!ves:.igaoot pouro conl:ecido socie>
econômicas e soei ai~, montadas sob o $-ÍStema colonial, par,1 ter •
logicamcn.:t.·, •• p el,¼ nlQno,o 1•
pa:L--cc.txJ?-fC"cit-se N
~)d 'ai e.o
17...aÇAo J •
pvcer
êxito { :10 ?fano cm qne a emancipaçãouoadonal'• fui co::icebida polúicc, e do aparato es1:i1,J por :lqutles est·,l!'os. Ü> ,~cmais
<: visada ?Cb créstc,.rn_i;1). r'. tanto isso é ve.uadeiru, <JU<:é no
L~tntosda ,ociedm!~ fo=,unJ.muic1101<cJ1 te exc:u~-ic,~ ,io po,k-r polf-
pcnudo ;:iós-nacio11J1! que o regime eStamenLal ( ou de c-dstas e tico instirucion~Hzado- aesroo quanJo ,1 pllrtic:pnçã.,cl:c:ga::;;:;~
~tfüne:ito:;, t:1!1 algun!;<.-s.:io:;}ati.~ge o ::.cu a;:,n_~ct1hi1tórioo. l.>ois
a ser admiácb - e nt:nca logc,.nu:1qunl')t:~c ch.!int·eêc ;\mCí!Çt'I
foi !Faç,c; à rcvolu;;ão pol:ác3 -qne os· estamemos senhoriais lo- o status q,w "atra,és àa orc!em·•. Es;t pa<.lüo ·i~id(I e ,no11olí-
giararn autor:,>mÍllsuficiente l'Xll'il transformar o potler econômico tico ck du1:ninacic ~uiocrárics res1~nde às crigências da s:tllildi;)
1: social de que dispunham ~m r,oder !>O!Íticoe es;,11al, prolllo-
hisa)ric..v-sodal.A p~si~1ênd;.\!S<•bvária~ ~nrma~,da ,1ornittm.i10
vmdo s.c a >"-'3 :nt:ep.raçiío hom.onrnl ao nh·el <lao:ga.iiliação do cxtcl'oa ( 3 ) <: a c:xr••n<iini:iterna <loc.tpil'.11.lisf:JO impõcei a con-
ixdcr csped:i01menre J)Qlit',o {o que equivale a drzcr quc: se tinuidac!cde n1oc!.elosven.la<.!eirameri te colcnfaic::de apr,>ptit~1o e
tomaram. assim, ~;1-iunencósbegeillÕll.ÍCOs ). Por aí se vê que,
de expropriação cconôwka, aos qu,i"s <leve corre,pondcr, ncc;;s-
inidalmetitP. 1 a de$COConh:açikl
sigitlf:t:011 m1.1ito pouco na Arcérica
saris.eicntc, t:n'.Jl c:1trcma rnncen1n1,;,ío perr-,,1nente da dqu<z.t,
rJ1tin.1:uma mudanc-;1no c,uátc.Tdos li:.nx:s de dcpcndênchl ex- no :o-pe, e o 1J:Ç{lpacífrcn ou v.:i,!i:.nlu Ci: t~nkas a1..1tocrát":-ú?sd::
do podcr politim por cscamen!l\s que ~
terna; e lllOOOpoli.t<1ç,;,o
m~:1opo.D:2.v21na riqocza. o prcst:'gio social e es fo,•m9s ro.rres-
ponden:e-;de podl-r ( com suas inpli01ções políticas, co11si<kr.íveis
ao nível local). (}) Cf. F. l'ctNode<, "Prnctr.s o' Eili:n2'. Dctn:ru.,ion lo l.:ni:t
An.\CY'i~,.io F. Fcrm.00,::s,
Thc l.t1tin ,.m-:r!!'r.:;ü: Re-a.:iit1i:.e
Lte:u.res_,
Groç,tS a e,5'\S ciro.uls,!'iuáas, os l'Ontlitos que eclodiram To,oo·o, UJi«::rs't, ef T01onto, 1%9-í.970, p;:,. 3-23 ( on& ll1!r.bán.se
11es;et~clf'.ldotão tumultuooo ou nãn tinhnm o mesmo sentido que c;.cc,1:ra1m10hlb!iotrofi.a).
263
Oi>Tc<são e de rC!)ressíio( • ). Os din3mismos de classe só se tor- Aind,1 é preciso que se re,enham três pontos, que são cru-
nam efetivos para as classes que i'>Odemutilizar livremente os ciais para a presentediscussoo. Primeiro,as ideologias e as utopias
tec\trsos institocioaaliz:ic!osde luta çolltíca (,; ). Aínda assim, u oficids, .cessas 50cie,fac!es,
possuem pouco ,;alor para se conhecer
coocrole político conse!"':ador,na st,a essência sempre fundamcn- sociolõgieamente sua sitoeção C(.)ncreta( crr.bo:a ~eja:n deveras
rn!mente voltado pa~ a defesa intransigente e o forta!ecimcn,o importantes para se conhecer sociologiCc'lmcntc sua reilida~e polí-
do pri~;Jégío, te:n imposto tiloto a co-optsçiio quanto o osrracisroo tica e• natureza do pensamento conservador ne.5saposição-limite).
ou a elimiDa1tÇão 20s setores divergeates que chegassema ameaç.,r O prh,;Jéj;ío é tão "j1mo" e "11ecessoirio",r,aro as camadas domi-
:i estabilidade (13 ordem. Nessas coodições, o uso "lcgfamo" do na·ues. e também para as s:.:as elites C1Jln:rai5, que as formas
co:iflito faz parte do privilégio e, com o poder polítlco instituc:o mais duras de desigll.:lldadce de crueldade são representadascooo
nn.li=lo, os sccores di:-íg<:nt~ das dassés dominante; detêl!l o algo nt:Juraf e, 2ré. democrático. Est,í nessa c1regoriao mito da
monopólio da violência. na v~ão conservadora do mcndo
dernoc.raciaraciaJ, cilo e:ntr<1n.'1,,,Jo
Essa eJposição é sucinta, roas revefa o essencial. O con:lito no Brasil O qt.-ede.fineuma democracia racial? Pouco importa.
axiológico, ~o importante pm. explicar a ?cttepçiio crítica e as O qce i1:1portaé que o mito sei• aceiro " que se propague que
vJrias fomias de restrição ou de opos:ção ao privilégio ( atra,-.?s não eiós:e, no montlo, "outro exemplo de democracia racial".
das conhecidas crises do ltbcrilismo e da evolução do socialismo), Segtmdo,a ideologiae a utopia 'oficiãis comam-se e.,mcmam::nte
niío encontrou meio prop!cio de florescimento no contei.."tohistó- perigosas. Elas fozem parte exum ritual; mas, es~e ritual é t:do
rico-social latino-americai,o, No fundo. o controle pol(tico con- romo s:igrado. Se a}guém - uma pesm~ ou grupo de pessoas
servador não admite alternativa - ou· a perpen.iaçiioautocrática - se opuser a elas, então tem de arrostllt os ciscos da infração.
da ordem <>ua revolução conrra a ordem. Emende-se que, nesse Os fo!.tuxiys funcionam como se fossem mores, em grande parte
limite histórico, o gi:au de falsidade,de mistificaçãoou de racfo- por causa da intolerância e da inseg-cra:1çados controles autocrá-
nalliação, inerente às ideologias, atinge o clímax. Ao mesmo tiros do poder cor..se;;;•ador.O dissiden:e é focalizadocomo cfü•er-
tempo, a íc!eología toma-se ineficaz, pois, em última instâo.c:a, i;ente sistemécico e, de i:roa m:mcim ou de outra, acabará rec:e·
eh não é "a imagem im•errida da realidade". Ela é uma simples bendo o :roco, amt\"és de trotam.encos e."1:ee1pl11sres. Terceiro, a
roásClira,em um jogo no qual ela pode ser posta e tirada ao sab~r exposição inten.""-e durad0'.1r.?a .ais ideologia e utopia oficiaiJ,
das conveniências ou das imposições tidas como "ineluráveis". sob as mencionadas condiçõzs de controle soc:etário, acaba crian-
Kão há outra via à perpetuação de pad=ões pré<ap:talista; e anti- do socializações profon<.¼se distorções ct6nicas :ia percepção e
nacionais de privilégio, em socieoodes que são capitalistas. si :na explicação da :-eali6de. O q= é rna! conhecido e entendi~o
organizam rucionalroeme e estão subc:1etic,1sa wn estado "demo- ~~ba por rajl.1st~-~eà r~prt3enta.ção;cm CO.:lseqüência_, mesmo :1s
cráticoº. vitima; cfus represcnt:,ções tendem a admitir que elas contêm
"a!g,:m gt$u de verdadt"_ compartilhndo c!aconfusão e desorie:t-
tando-se. ~o exem!;)loevocado: não caberia ao "negro" e ao
. (4) Veis-se Comisi<\n Económica p.,ra América Lacin.1,"La Dimi•
"rnu!ato" 11.dagsrse o mito c:!a"demcc..--adaracial" visa a ajudar
bnaóc dei I~rcso c::nAmér:i,._-a Utir.a", JJO:e:ir.: F.oo~ó,,:ko~ ✓1,JJ.éri«t ou a impedir a ~emocr2tizaçlio das rcl11<;õcs r:,ciais no Brasil ( ")?
La!i'kt, XII-2. 1967, pp. 152-175; sobre o B:as:l e at impEceçõesdo uc;:es- Se úarcos :?S devidas condusões, parece óbvio que o di-
cit~nt::>económico oc::lcrado'-- ?<II':o~ sclores pob:es éa pO?lÜaçêo: M.
C. TaPr:s e J. Sczn, M~s .AJ!add EsJt::1;camien!.o: Ur.~ Discusi6:, s~br:: (.! forua soci!ll se projeta, no comc~to hi>t6rico-coltut81 descrito,
Es:ilo deJ Des(l"olfoR.a:i~:teá~ Brasil!San~go .. Flacso, 1972, pp. 6S-7l. em wna área de acomodaçõesanestesi:adoras. As "mencit14 con-
Q1.1at1c:o poli~>tos:J. Gtet.-:.ar:::,a,
oos rirobk:m.,s Pc;::er; Cases S~i~les et: e.t vencioooi.s'' e "as inconsistências de valores,, podem ser retra.ta...
D~rro/io de /,.,,1áb: L:ti,,::, 1:1,:cno,Aires.. r.ditorfal P.üdó,, 1967.
{5) Cf. F. FE-rnacde,;,So,cJedadeâ~ Cf.ane1 t! S«bdertnco!:,i,1;.e.,:ttJ
Rlo de .far..efro,Zl!har ü!:to.es, 1968, c:-ip.1: e: especi:ilir.c:nte:~Los Pr.:J~ (6) E~ pcnt:> foi icsSJJ~o an:o nu 3.r:.álises d.e Costa Phto
d.e lr1sa"lte..sS<;eisks e,: l:vnérica Utl1:~ hté.~
b!.er.,nsa.e C1Jtx:ep~.v.tkaci6,, qU11'l!O de Fe::iu.:ld.es:cl. 1:1cin1~. nca; 1 :: 2. Pata t::m. t:náHse<.!o1,:to
l<ico, Iacltu:o de lo,-e,1igac:onesSocialr:s c'.c b 'Gnh=-iclad !\odonal Autó da denlOC~ :oci~I :i~e se:1tido.d. F. f,.;:rn.1.~~~ _,A ()e.estio Radal",
noma de México.. 1971, ed.. tni~n..,pP~ 14-104. o Tt"tJ/..~ ~ "i .l.lo<fJJ,llsbo:-:,N." !'O,esp. l>P·-ro-4.
264
das roo algum reli!tivismo iotcinseco onde o regime de c~aF-scs O, cfriws & Abolkão não for.uu os roes.tros pam os ex•
t:.,ndona mni mc,1
a plenicude. A ,,ropria divcrgêncio do; inte- -escra~--QSe seus ck:sccndctlles e para os que e,q::!or~am o tta..
r=<=• em cen~o ooxllhl e ptotég,: as m:uru,,staçõ~ ele mi rcb- l:xilhoc.scr.lvo.na c~'Unom:a r.:rnl uu na urban~. .-')de$thuiçiio elo
ti\.~mo. O roe~:110 não a~tecc e!!l sc..x:k-dadcs
de eles~ depe~ escravo ;e proccs;oi: no Brasil de forn:a tão du.r8, q-ce ela roo<e•
dentei: e subtle;e,11.-olvkfas.Kcfas. as "=ntiras conveneiooílis"' sentou a éltimo expoliaçio que de ocfr-.:u, rn,ao
:Il.11$que uma
e as "jr:cocsistêndas de valntcs'! c5tão tffo enredaC~ com o des- dádiva o:, um o;,o1·.,111ic,ide
coocrcu. Não se to:nuu nenhuma
h:tamento <le ptii..-ilég:os,que toc.or nelas é o me.-mo que íecir ecd:da .,.at• .tm~J-.k, na [are de L-an,:Ç2,1 e nada se fez p,tta
ditt:aruetllc o privilégio. Ilias nno são, ;x,rl8Jll0, fadlmentc ro- ajusc~fo oo sisle:na de trab:iJho li'>'te {opesar dos r.rniros projetos
rea<las :>ar si m{:~.rrrn::. e absmuamente. Elas roncrn.iz..tm. e.a cruc forare \o!hhora<lc-sou sasdlados .;.ntetit:-\'mence.. enq:::nto a
algum grau, os efeitos d:is :t«,es ou das atividad=s a q,.;,,"' i~'ci.tfro privada e o E,hido temiam pela eS<".,s;.a da ofcrta de
ugn:gam por refer&lcia. Too,r ..-ela, cq:1ivalc a fav.:r a crítica (kl5 tr:ibalhoi. ,\ ,ümn<lã::cía.de mão-de-<>!:::-a. (':lp,ll<l~ inrer1,so1eme
Ú.~,;.enfos da orde1n t:·:-:.i!iten:e!
f;m ... !550 expli01; segi~ndo _penss- ( num:t escah1 que não seria !m:agin~vd sob a escra\"klio) Otl
mos, tanto a hiper•sénsibilibd:: c:o pm.<a11nen te conservnuore sua aL-avésJs i.tnig.r?.Ç\10{ na é;,oca, c,;pcáa!m<.'tll.!da Euro;.,~).crion
mim.-Jede P<iniro e <lc :nscg,:L=ç• diante ce ol~J:\'OCÕ:::S crfü~ ema reali6l.de no.-~, õda ,do u "má forrar.a" d<>chamad,, r,r;!fO
freqtienrem~te !:,11Jais.quamo <:> padrslo ceoo;erv,\Jor <le reaçãa se,g,·o. "·-
n.ao o b stanre, os e~-sen:'\Orcs
, re prot..5'-'="2.me~! -..·.u1os
..
~n<:i~t:!.tioà foctliiaciioliverP,r.n.~, em reg;.\lm::ito •:iolento,obsti- m,~os. Tiven.m de are.ir com o 1~rcj11fao :ncrcn:c aus invesl:•
nado e intoler.otc í c:n:nose f.osse impositivo ou pre$..::r~'\'2-.fa
ou mcntos realizados nas J?=OSS êos ex-e;cravos ( pois a A;,~[i~,,
<l=cre<litá-k pnt .neio da estii,rna:i,:1çfo). málgr,ldoas p.ressõe~senhoria.i5~ seu•
re fez !=;en::n&nizn..:OC!:i,
rido contr:írio}, oas obtivi::ramCOlll~JlS,)v--ÕCS 1ltl'8V~S da poJ1t.:.ça
<l~sm?Aro flnancciro
t~e~!1Míciiooficial d2 Liligr..t.;io,c!i:n:e"'li<les
de <.mcrgêuda e ,fa prop:fa rede Je solidatic,fadc partxu!ar, que
a iniciativa privada po<li.i,nobi\iz2.c.F.Q'lcor.s.:qüénda, a re,upe-
U:n grupo ou rntcgo::ia S<ld.e.lr-o<'evar-ar barreiras dessa
rnç..~o
do 5i!-teo1J1ê.c r,rodt!ção~oi rápid.l ( na verdade, só em caso~
ordem e t<:atar impor sua p:-óp.tia v•,ão da rcalid«cc Se es
demais c<mcliçõc::;pennanece!'em a~ rucs112a~ou só ~e n·nns!o!"-
isol900S e em termos clc variação local O<'Nrw o contdciu). O
nmrcm muito pouco, l,)Orém,a,, cuias uiio se •Iterarão simples- faror princip:;J do cqu:!íb::io ,scooômico cootinuou ~ ser n posição
do c~fé no rnctc:2.duex-tetuo e a evohlÇ)iú lntcma d.a::,s,lÚ':t~.
rr:cntc por i!isn: a i<le1>logiae :1 i:.:rop!aofid~iJ·conti:mari'o a ter
c!dt:ndicim com ma:ot 7.do. Bá
vi!'f.ncis e ser.ão pr<.w<!,,dm-!i.t-.!
A rempcraçoo do atr-igo agente <lo crnb.,lboescr,,,,,, foi dillcU,
um ei.em.pl<'e.~ gnndc i.nttrc~,c t"tll?irico e rcó,'ico: 01 ,no,;:. le:,t,1 e ~~11i11 ur.u, ttajt-n:íria COII!pJ.ic1da.As cscolh:,s tb,sriois
. . de p=oh:stü t2c1'ai qi:c se r,cs::nca.tx:am;11
mentos 5(1Ctais ' _,_ nc .• .
· fllêK> !>e ~,u,:,hnmen.re 12ru..hmcr,ão tm econon~ d€ s,1m,i~têt1cia ou i
1
negro êe São Paulo. cr:trc cs f:us da céat<la de 20 e ,:,s 11.,--eadc,s to~en!r.açâo ~, grandes cid,1cks.,11nl~1$ ewolvendo to:-n1ases,,t.·
da ·dll<:adacc 40, que já ,~c.,:r::vemos e ~n•lis,mx>;es.teo;,1:necct cíHc:3Sck m.h-ciual~;.tcãoC' de autc-el:chu.ão niai-scu 1nw.os ço--::..
• - • l• • ,.. •
tl!l trabalho anterior { ~). E.<.~c5n)("f\"êrnentos roe-..recemt~ ,~tenção ae.ntes. ;\s c-s~o!has tnten:neo1ár,-1.~,
como a pcnnan~cr.a oo a
porq,ic pl'omn;-cran ,_:m:,e$ten.;a :1gi1.a;:ilo, dal.,0111,.--,U!l
a prindra miurac;.ío~u rire.?.5rcla6·am,:utc éS1sgo"'<las.
ofereciam melhores
sisren,áli,;o do 11L'iuda d::mocracin
t<:ntat:va ele desm11...-:~r;ime11to 1 ~t«'I t~~5 · à c1uta do sacrilicio· de qu,a.lquer((:<leal
~11e'Cintes
I de libetd.,,Lle"( 1una cx;,rc,síio
cOtllp:e.-<8. <>,1cesso
q-r,e dcsig11a1.-11
racial brasileira e cci.t1.s.trdr.Hnuma çoni.ra-:dL-c)k,i!!.a rx!91. C(}C-
renie co.:nos fund,c:n,;moskgais da urdem dcmoc.-r~àcobutg::ct:t. z. tudo ,:ue o n~gro rifo p<.1clia
tcr e 2U qui:: ele niío poc\ia kgiti-
mim:cnk aspirar 11i1cond.içâo de esc~:vo ou d~ lib:rto). En"-
suma, a A.bu!kão e as ieodêncfa; de desenvol.-imcnto do sistemíl
( 7) O. 1110\"imia.tnsJõ()(.is:i. no meio nc~m fur:1m 1:nb:naidn:-2 uo de ttabalhu lh•rc e~"OJ.far,uno cle:'71Cll0 negro cm uma crise
dludo de CIS{) o-pt!C:3.1.
cbb.,r.,dv poc J~10 Jru:di.mMot..;:n, C)C1 ~ irrenãHávcl ée supcrnção tn~to difícil.
wl~•~'io_ de ,]OW. Co:-r~ l.êr<',.tHn ~~ ira.$ ~~mincnrcs _!'rlcrcsco
J:)c'tlodo de ta:s lr'-"i":rocc:~~ é :C:1J~ per F. ~-~de;,,
~;1r.sb::o. A .i.n:i.E.cç ,\ imensa maioria da p<>;m!açãoneg-ra oo mdata brasildra
,:;: SW1rftJit t~ Cl~;es, oy. d:., ap. -t.
A foltlf'lf!ÍÍO do .._."-g:o ~ essa trágica $Ít1.1.1ção.
se adaptou í"'Ssiv~1n.?1rn, Todavfo. os
2(,6
negros e os mularos que se concentraram nas cidades grandes se apresentava na mtlidadc. Por isso, os uioviincncc,s socinls do
tinham de romper, de uma forma 011 de mura, com os padrões "mei<>negro" guardam ccrn1plet~autonomia de condicionamentos
tradicionalistas de acomodaçi!o p,tssiva. Muitos deles conseguiram cradiciorui.is, que poderiam reduzir o seu ímpeto ou a soa ideoti-
cert:1 instrução e, o que é dever-as :mportante, tornaram-se letra- ficnçlio e,ccbslva coro a "causa do negro·•; e, "º oc-sroo t~.ropo,
dos de um tipo especial, çue F..âo haviam sido sociali,.ados ( ou superam os ismos atuantes rm socie(fode inclusiva, embora cxmús-
en_~o real haviam sido co:tlormedos) por meio da educação se:m de alguns de!cs SU8 for.e orieoração libertácia, igualicárfo
of,?al. Doutro l<><lo,a comu:ucaçíío enue indivíduos e grupos e fundarcentalmente populista. Seu alvo espccífim consistia na
fazn com que es.--as me.-itcs esclarecidas se vissem expostas às redução progressiva e r:o d~aparecimento ftn,J, ambos suposcos
ideologias revolucionárias, que eclodiam abertamente, pda pri- a c"1"to prv.o, da distància econômka, sócio-cultural e ;,olíticn
meira vez, no ceoátio urbano-industrial Isso facilitou a transição cxisrcnte entre o "bra1xo" e o "negro". i.'\ão se valtavan1 conrra
da "indiferença" ao "radicalismo" na perccpç.'ío da questão racial: :1 ordem existente em b!o...-o( pois cst:1 i::.ãoera questio:1ada roll!<.>
comtíuúram-se pequenos grupos, empenhados em descobrir "o e enquanto tal), 1ruiscontra o modo pclo qWJI o ordem ex.isreme
porquê da sitoaçio do negro" e dispostos a acabar com o sai retinha e agr2vava a desigualdade racial, com suas terríveis con-
"emparedamenro". Tal evolução desenhou-se entre o fim da pri- seqüências. Nesse sentido, eram movimentos raciais despojados
meira Guerra .\fondiru. e a c:tÍ$e de 1929 e parece ter sido ;,m de conteúdos ou pretensões rac:sms. Q-.ieriam II mesma cois,1
com intensidade variávcl, cm
processo freqüente, pois a,......_,:-ece, que os liberais-radicais ou progressistas brancos, com a diferença
várills cidades brasileir-o.s. Em São Paulo da foi particularmente qce estes eram indiferentes à nccessicfode de mobilização do negro
intensa, presu1niveln:ente porque a extrema concentração de imi- para atingir tal objetivo e 20s ritmos hiscóricos de s:,a co.--icreti-
gnmes, o rápido e desordenado desenvokimento urbano-industrial 2ação. Queriam-na, portanto, com 1.-,gência e ce maneira ,oral,
e a ampla mobilidade social ascendcme estabeleceram, nes~ ci- o que os compelia a tttolocat o proble!lhl da liberdade e da igual-
dade, um quadro de refe.rêocia c.hocame })'Jra quem qui~esse fazer dade em cenncs raciais.
comparações objetivas. Posta, em regra, abaLxo dos últimos de- Essa ótica não era, como mu:tos obser"adores d~ esquerda
graus da economia e da sociedade, a "população negra" via-se 3inda boje supõem, int.-inscC1meme oportunista e capiru.lac:ooista.
excluída do que parecia ser a prosperidade geral, sentindo-se Ela continha ( e ainda conteria, se se reproduzisse historicamctite)
irremediavelmente rondenada ao desemprego, ao pauperismo, à um :-eal avanço revolucionário. Para se admitir tal conclu~o é
c!.esorganiza.çãosocial, à vergonha coletiva e à impotência. Ela preciso que se atente para a natureza e ~ varied2Cle c!e ba=reit2S,
part:cipava do clima, tumultuoso de ilusões, que imperava na ci- que o negro e o mulato venceram para chegar até aL Na épo~,
dade, e das inquie!açõcs revoludoruú-ias da plebe urbana, na épo..ra os brincos mais e:;çl~~idos e,tplicavam " supcr,to. 6el<:çiiodemo-
mu~m forres em São Pa:1!0, m:as sem grandes esperanças, indi- gráfica negativa elo negro através de sua incapacidade p<1ra se
viduais ou coleri,·as. Os letrados e sem:letrados radicais do "meio ajustar ao plan,,lto e às condições de vida impostas por u t;ta
negro" captat<trn ess,e esudo de frustração, convertendo o desa- sociedade urbano-industrial. Doutro lado, os brancos ei,;.iroiaro-se
j,:rnunenro sisterrultico e uma ioqu.ietação amorfa no substrato de qualquer responsabilidac!e pela situação (!çsumaoo existenre
do proteNo negro, erravés do qual lançam e difundem o apelo à no "meio negro", fazendo largo uso, consciente e in.<:onsciente,
Scgm1dallbwifirJ. de um rico estoquede cstc:rcóáposnqiarivos,pelos quais pen,
Os vários jo=.ús e m"nifostações, que tt:tdll2irarn as tomadas savam explicar suas taxas an.oroais de mis.ért:1, de deseo:p:egq,
de pos'ções desses imc!ecn,ais negros e mulatos, atestam qt?e eles, de mííes solteiras, de menores abandonados, de alooo5smo, de
de futo, preteuéiam organizar e levar a ca!-.o n= autêntica te· prostiruiçno, de ruf.ianisoco, wiga.bundagcme ccimiruúidace etc.
beliro dentro da ordem. Eles se Ís<.Jlaramno "meio negro" por Por se sobrepor a unl8 pl'essâo psfool6giaJ. cnerna. tio cer[1lda,
motivos pnitkas: não só n:io tinham acesso aos mcios de comu- libertando-se ao me.$:110 ten:po dos cfoicos inibidores da est:i@lllll·
nicação comrofaclos pelo, b(n:-icos; os divttS(,s rnovime11cos polí- tização e do monopólio da liderança intelectcal o:; polílica dos
tic<l.,, de ceutro ou de esquerda, qcc se opunham à República brattas, aquela ótica possuía wn calibre n:volucionário int.,foseoo.
Velha, não da•:sm acolbic!:: à qixstõo racial, ignorando como cb Pois trazia consigo uma d:,p'.,i liber.-:ção: diante ,la ideologia racial
268 269
Jomin:mte e Jfante. da tulcia do branm. E definia uma tbic:a O dcsmasc:1ranten,o da sitU(IÇ:iontc:al icz-sc em diforcntcs
proposição políuc,: ~ conqcis"' ( e ono s conces.slio)dn libercade planos. Apes,ir da insuf.iciêocfo Je r«u,-sos imdcctuai.s, os 1,.
e da igl1al6de pclo pr6pdo i:egro, per rneio de sua auto-afo:ma,.io deres dos 01ovi01.e11cos soei.a.is buscaram explicações que iam do
individua! e coleti\lana sociedade:is.cioual..Analistldasoc'olo1tiC1- pus;~o ao presente e que ap,lnbavan, neste, o econô,n:co, o
menle, aquela ótic.t vcéeria ser 'ng~1ua ( e é surpree::<leotememe social, o psicológico e o polfüco {e!lum=içõcs que surgem, com
?Ouco rc,-olucionária, em termo; él>')Jecificxneme :,1ó1:;, o;uru1do ma:oc o:, menor latiruc!e em diversos documentos). Em conse-
à 1ebe:i,iouegra oos Enados
comparada a o:mas óticas, i::ete111e,, qi:;ê,1cfo,a focaUzação crflíca da realidade ( omitindo-se ouu·os
Unidos da época e ao mo,•imemo da neg:tit·.:de). ~âs, examinaca a.sps--.:rosi:l.asituação do negro o.: do sistcn,;i de rel..tçõesraciais
dentro do é-011tcxw hist6:ico, él.ecu esp-,cifican1ct1tc re;,óluc:o- qu,, não ;ão rele\·aotes aqui) abre-se- cm !eque: a -.,;são negra
,.. , •. ,,-.tu; on:e1P. o=
~2r!a e 11:tt,;tar.,at! r~vmuço~ rucr:,.•.,
'b. .:lY!J p,tr(i'
da história brasileir~; a natureza do mundo esci-a,,ista e as defor-
â,,u1. mações que ele im;,la.n:ou :10 negro. no bram:o, 110 mulato e ca
Essa ót!ca permitia focalizar. s.imul.wnerm1c:nte,ranto cs pr6;,r'4l sociedade br.lsi!eín1; o preco11eeitode cor, em suas três
proWfmas sociais ( que o negro oomp!;rtilh;rva com outros $CtOrt:s po:adzoções { como precoixeito propzi~,,enre dito, discriminação
pobres ou marginclizsêos da pcp!llação i.>ra<ilcira},quanto o dile- com base oa cor e segregação social i, e como instrumento de
ma racial hrasileiro ( decorte:1te da cren~ de que existe um~ do:ninaçiio racial e de sup:er:rncia da raça brar.ca; o; mecaoisnos
democtacia r.icbl no Brasil, ,1 qual esC1moteia a desiguakbde ra- de ••~tentação dos privilégios e de monopolizeção do poder pelos
cial da arena polí.ic:a e cria uma sirna~o única, que só .161@~- bro.ncosou, inversamente, de ms.rgi,-ialização, e~dcsão ou subalter-
o negro) ( ª }. Ka ve.n:lade. a massa que acolh:.i aqucles t:JOVÍ· ni2açiiodo negro; o "ron:p!cxo" como forrr-'1çiiopsiccdinâml<.-ae
mentes ( éecconstraodo a fertilidac~ do "meio negro" par3 os sociodinâm:ca reaóv:a, por meio da qual o branco in,.-,,de a per-
mesmos) exa roais sensível /, primeira couribuição que à sq;u:,d:,. so::t2lidade proft:nda êo negro e debilita o seu egufübcio psíquico,
No rnomeoto, indivíduos e famíl:as e..,1 cr:;e esravern em busca a seu C;J..ní:er: e a sua \.--ontad.e.No css:::.ncial,
o desm'llScarame::ito
de orientação e de assistéocfa. No eotanlo, a seguncb mA--:ênàil conduz a ur.1 :cetraco alternativo da situaçâo :-ac:al brasileira,
era bsubStitoível e tbha co:iseqüências mais prol:un~s- Pela segundo o q::al a personi.idade den:ocr2tica e o tomportame:nco
pr.meira vez o negro não só enfrem:a.-ao bra.'lco: passava a d:s- de:no,.·-:ráticorepreseornm a exceção { e nro • regra); a tolerância
~tir aber;ame.oteo preconçeitóde cor, C:\rptess:io sincrética com é superficial e asL-cciosa( como norma); o preconceito de cor se
que desigcavam ( e ainda designam: o padrão vige:ite de refações conjuga com a exploração do negro pelo bl1lnco ( econômica, sexual
e socialnemc); e a o,:-dern soeia! legítima ;ó 1em vigência par:1
~-
raciais
. assimétrica;,
. . co_ro.uas
. conéiwes e efeitos preconceituoso; ,
01s.:nmmat:",'QS e segregam-os. Aqueles mov:mentes declôn3rant os :irancos, funcionazdo para os oegros e os rnukros como uma
ée vigor e foram S11pricico,.como se desapa:-ecei;semde UJll 11-.0- versão atenul!da da autocracia senhorial. Em dois oontos fonce-
:ncmo p:ira outro. A sua ü:fh:ênôe para o z"1t'g!lmemo do ho.ê- menceis{ embora menores"t- taobém são focalizados·
1
oiticaroente;
zonte cultural do negro subsis-e e con;tinú, aÍ/lda hoje, o único o ºbrangu~Amen.to:i(rocitit OY rccial, qua::do en\~olve miscege-
ponto de rderêocüi coletivo, a ser oposto a outra ~rte~a, reitera- naç5oj, ,,isto como um processo pelo qual o "negro transfoga"
damente afir.nada e coofirroada pelo b:,ioco, de c;ue "o negro comercializa eccoômic-a, soc:al e política.mente sua subse,:-.,:ência
:1iio tem problellJas" de nnturez,1racial e c!e que, no Bras:l, não do pre::ooceito c:c
e tr,,csferência de lealdade; a c;_utst1io cor eo,~
há nem preconceito ::iem dim:faüna.çiio ::1ci;iis. os imigraates e seus êcsccndenre~, percebida com oscilações ( pois
alg-.:ns acham que já traziam o precooceitoem sua herança cultural,
enqt:ai!o a mnior'..a a5rrna que o abson-cram ·,e.71 contato com
(S) A ;,cb:-tza nít> é p~l».r ao ne;;1~ t a.o r:::uhto+~ cntros familias wulic:onais b1'11si:eiras),mas posta na bsse do processo
~tore;: th popllaç:ior,ob::cb.::9s:lcint !Ião :::nút::uarn as ~~.u d:lk-;.1lcb6:s
&0$ ;:roo:1.osd~ cb,~iflQ!(;f:o e de :nojili~:ldc ioc::nlv.:r1ic,1J, J)O!~n.o pdo qual o esn,meeiro ..., ,amb6n •orncurou e'S11Iorsr o nC!!ro
... e
ld?: d: c.r:~r.:ar h=reirns u..::it:S'"<"kdas a~ a ~-~tk9$ tmciu:.:.o.ativc.s 1
t-.:nrou.-a.cwjzar-.sesocialm~r.tc.
d.e:x>t:e-r.~:,.C'=. f. F.:T,ardcs,73cycnd Powrty: The Xegro mld :he 1v1.u-
l.at-~ú: B:tr.lll,Jo.ar.-:.Z
C.ei...:Sm::itl de; ilwé•ric!!!,';!;es.Ptci-s,To:.neLV!Il, Ap~•• d,1airplimdc e cn1·d11tiva1-.:ofundi<l,1êe do desroa;.-
1%9. µ_:,. 121-1}7. carunenro, a n,xiío de li.llcrdade J1ãofoi manej:1daatf o pomo em
27() 271
que o nei;to de.feode~se su.i auionc,nia cic ser u:u br~ileir:, difo- caus3 de ,irias fatores intOJ11rolávei~{c-omo?, úill.uêncilldo
renre c!os out.tos (port,«lor de sua visão elo mundo e & sua "coo1pk,c0" Ili! confo.s.~perce;içiioda rcalidack: mci3l; as ~nsc-
cultuta) e a noção de ig=aldadc ficou wnt:da deotto d°" limites qüência.s cnfraqueceélorusdo apego ela 1r.1.ss:i nel1,-.1
ao tradic,ona-
de iclcritliic-açao
co1n " ordem social csfabekci<la ( o q::e implic.t lismo· :1 deb;li<lnde cmnômic,1,social e polít:l'll do "meio 11egro";
uma ccn"icção e:eroentar: que ela pode corrigir a des.lgu:ilckdc a n~sidade de conr:ll"de w1temãocom uma solidariedade racial
racial ou pclo menos e.liminar su:1s arcsms Hma.i.sinjustas~',prc>-
a ser forjada no processo de lu1.;1.;3 falm de dcstre'ta e o medo
\=evelrnenteherdadas êo período esc1'a-\•js1~l;. Ue1a inte!":')tetRglo do "negro" em. enfrenrnr abertame0te_o "branco" cm ~SS\lotos
sociológic:i sup,.1.ficíal pennitíria arribuir e.Sá contenção à i11fl~n- prot"biêosetc.). 1'ooavia, rada disso ate.a\'!! o que nos mteressa
cia de eleme:.ilús cr.<:noa, coJoo os anseios de das,Jncaçio socfol aqui: o p:idrôo de dem1a.sca.rum~to racial ine.--eme. àqueles movi-
cu o car,íteramhfguo da ..'d..ts.seméei.a Jc cor)?co p1cnagestação mento;, êo in!<:ioaté Sll3 estcrifu._:ão e de;nJ),1rccimcmo. ~ssa.s
( ou 5ej::.lJ
e1n outras pa1a\r-ras., □ais cu menos ;n:roos-
a <'Oncessões nzões, quando muiro, explicam o 11:od? ée J-.Õr cm prá'..iCll o
cicntcs}, 'l'oda\1 ia, e:nborn seEd.:lante condicic,,"lamento pussa s-:.:;
evocado ( est,ecif1lmen1e,lOnfrd p,:s.<od dos ajustamentos rnci,Ü3;,
ª.
referido pooríio de desmsS01rnmcni0 racial. m~ sus natu~eza,
o,; seus contt-údos e a forma .-:gund<, a qual obieuvnva as ch'ver-
de não pare::e sei responsável pelo efeito npon:ado. '.Pelo fato gêndas estnmJtJIÍ~. Para .chegat-se ~ c:st":' ,'lSJ>C<'t?s, é pr~o
éc se opC\1em à ideologia e à t:to;,i2 1·::~da-is dominantestor~t-se- coasiderar como a íc!colc,gra e a m:op1a moais doimo,tn ;:es soc1a•
•iamo nc~.roe o mulato i:nutx:..~ is sua.e;i.:-,Auênci~s
mais p.r:úiun- lizam ~ visão do mundo e d,i re~lid<,dc das etnia5 e• c,,,csorias
• ,~ • ,; • !--'
das ( e, porveJl.ttlra,m,is Íiisidiosas)? Nõodevemos nos esquecer -raciaisdominadas ( que nem semp:e con~ttucm mu:onas etn1cas
que a rebeli:ío .tadal mal eclodia e que o éian tcvolucionúio e "minorias rnci-aisn. cspedalmenre em escala local e ,:nc5:tno
não exigia o repúdio total da ordem exi~ente. O borhon:e <:1·(. regional). O fulcro da questão está num efeito espedf.co: a id<;o-
tico foi tntballutdo ,;,c!o dã de liberdade e de iguald;,de raciais. logi,, e utopia raciais dominante;; j.'npii~ a todas_ as catcgonas
Mas,e!e o fol também pelo ideal pur-.itocntcburguês de l:"berdsde éuicas raciais oo nacionais submetida.e; a .,'t:prem:Jt.,"'$i.
!,rç;zca~sem
e de ígu..:dack,e, num cerro .sei:rido, ao se to,n.it· o pal2.liao dC5se =ct.-c;ã~, uma fotte pn:ssã? _assimí~oo.,·~, que ,ião d~a a)tc"'=a-
iL~al, o rdxldc neiiro e mulato como que se RlJr-remhr,tnqt<c· tiv"" etn problemas c:ssce?Ctats,Je s,gmf1c,ado ou com 1rophcaçues
co-n. Não pxe1eode1:1(,s s-.:gerit gue o protesto neg;-ofosse uma políticas. Essa pressão é intransigente e monolít'ca, embora qua-
simples n."àção de tipo corupeti;a1.ório. Porém dcix,ar pste.-Jre se scttiPte se juStlfiq112cm nome tla ''integração r1aciooa1., ou da
cercas c<lncx-õc.s1,roftm.da;,que esclarecem os fatos. A ruu.tu-eza ••c1..,,~r.1da r-acfal"e da "deme>cracia ct1!tural". Ela úz !):!ftc da
do d~sn1asl-atrunento foi ,unplatncmcafetada pela sinie.ção do (X)Jnplcraheraoçs do rnt:ll® roloni,1\ ( pois nasceu e foi apcrfci-
negro que, n20 podia s,1lh1:de c!cnn:ode s:i;,ropiio e convetter-,;e, çoad.t no trato com o índio, com os escravc':nêgr~s 7 com !llS
c-m.111" Mi100, 11~ .uegaçãode si mcsr,10 .. Assim, ss limita;;i>csda ra~íço, cm condições nas qU11isel~ coru;ótulllmm,uor>AS h<!stis,
t·espostado negro à p.rcepçõo c.ríriC>I e ao repúdio d2 realidade firmnnd,;_sccomo Wll "pcrig1, público" p~l"!la ordem escr!lvLga)
procedem de!;;próprio, •= no CflSú ele surge como um medi,1dor: e foi aperfeiçoada posrctiormente, 110c imptis.i_õei dos nm-qs
oo íntimo, echa-se a St1't scdalizaçâo por essa ~ociedade ruulti- comir,gcntcs n~cionaís, mmdos com a ímigruçoo, e <los váric_s
•J'ar.i,tl"democcitica", cm que ele vive, e o q\ltllllO de incorporou cleslooimcnros internos de populações mestiç.1s( •). O, ,novt•
da ideologiaracialoficial. ruenros sociais do "meio negro" :acolheram po.ith•smente ~s:i
Ilavcrla crutro prisma p-.tra chegar-se a esse resulhtdo inter• p,esslio étnica, forjando divergências que negav,;m a orl!ero ~1al
prctativu: as expectativas de ín-~ompreensão, de Ílltolctuncia e de ~.s:~te, mas para afirmar ~ai<)r im~.g,.'flÇ<io rocial, e«>oom:cz,
repr,e.;são - r,u:ro llll!is Ío=ks e c011scientcs quan.to msis os .líJeres culnn:al, sncial e política r,o tuturo. No fundo, o que se atacnu
,:adia1is negros " lll:llatos co11.1c:ciampor e,q,eriência amarga o
rerreno em que písavam - i::rroduzia,n r.aw~ol moder,;ção na
eictecio.rizaçoo de sws ori~:.tações crflicas e de sw dis;,o:si<;io
de: acd::ir o ronfli.o .c1c'~!sem agravá-lo cem provocações inúteis.
F.ssa moderaçi!o, clout=o lnd<,, rc,ndia a cre;,er for.ilrcente, por
272 18 2i3
e xepudiou foi o modo uni\.\teral com que :1 pressão =íntiladora desdobt<1men:o político. M<is. is,c nã..i ocorttu. :Vl.ilgr,1dosua
define os ideais a scrc-m atingidos, o qual tem redun<llido em
c,,;<k:,'1te .imponência para a i oreg:ração racial cm esc;ila nacíor.al
monopólio &I jguald2de, da liberdade e do poder pelos brar,cos
- uma nacão rr.nlci-racial não pode con.;iclerar-se :niesrada sol,
dos ei,;:ratosdoruinanrns..:-.Iãoé difícil perceber-se
qUé 6 nel\l'O o padrão de concentração racinl <la .cndn, do prestígio social e
e o maiato não tinh~rn ( como ai.ncfa niío têtn) condições p:u-a
do poder vigcnte no füasil - esse eam:1lho de de,integ~ação
desencadmr outro tipo de negação e de oposição. Além disso,
revolucionária das estruturas raciais existentes " de formação àe
parece (ibvio quc, seguindo essa linllll, o desmascarruncnto racial
novas estruturas raciais pelo menos oom;_,aiíveis com ,l univcrsa-
e o p1·oteslo vegro acumulavam v:ítias vantagens psicológicas e liZDçãoda deiigualr.!ade cspecificarl!cnu, cap.italista, não vingo::,.
políticas, desarmando ,i rc,iç('(o conservadora e tornando pclo
menos mais inteligível o que entell<Üam corno Segunda Alroliçãa Interessa-nos dcsc,-e,,•erpelo me.no, dois nspec:os dn situação
( co:no que esta representaria, se levmfa a cabo, _l)lltao desenvol- oue se criou, pois eles. ensiuam como uma u'.raca dom!naote",
vimento de -.crcla<lciras estruturas nacionais de poder). Kão obs- ,tlánele infiltrar sua i<leología e Sllll u1opia .tllciais no pensa•
tante, o fato de quererem isso ( e de se empen.barem por isso}, menco re\·olucioruírio dos antagonistas, énvenenando-0 nu esterili-
punl,a aquelas movimentos no mesmo barco em que escavam os zando-o. pode tatnbén.1 inibir ou comer, 11-0romros meios, as
setorei:dominant~!<la"tnça branc:, ••, deix.'lndo-0s ine,mravelmen:cc proporções,a propag:1ç.ãoe :i ciieiícfados n10~mc::nirude .rebeldia.
à mercê das de1~minações ímuhimeotais da ideologia e da utopia No cnso, esre desdob.tllmcnto au!odcfe_,.,si.,.,,era de fácil cons ...~
raciais desse; setores. l'ara atacar a desigualdade mdal. com a m,tÇão, na medida que os movin.1em.osde prot<1slanegro nasceram
ordem rndal que a engendrava ( oculta e mistific:adapor detrás da e se m~fltiveram segregados oo "meio Jltgro", sem qualquer su-
ordem existtnt<e), e assim deS11lascru:a;o branco e sua dominação porte nos demal, eHnHOs da popula~o. Doutto lado, embor:1 nii?
racial autocrática, foi consagrado um camioho que não climi- e.>dsta, pnrn a estrutura econômica dn socied:ide de classes brasr-
n2va por eompleto o controle ideológico e múpico detido pela leir-J, gu11lquer imetesse cm evoluir para o ~drão sistcm,friro de
• raça dominante.. Portanto, o ne2ro e u multto tinhrun de pro- p.rcronceito e de discrimin8ção r.><:iois( como o que existe nos
jetar sua pc:rcepçiio crítica, e inchisive SU2 vont.1dcrevolucio:::uíria, .E.'tad0$ Unidos 0\1 .na Afrie;1 úo Sul), o tipo elecapital.ismo dc-
como se fossem supcd,raocos, e tinham de afirmar, oo processo pendcn te e suhdesenvolvido imperante não roJ~ prescindir da
de rcl.,d.ião,o que c,;t;tçamnegando. concentraç,ío meia! éa ternb e do poder ( e, t'Ul conseqüência,
É claro que scmelhalltc &itua("!o traduz a precária situação das fon~,s J:n-éou subcapitafüt:is dee,q,lora.çíio e ele expropriaçãn
polítict de wu;,os rebeldes dcstituicos de poder e de meios pnra cconôinie.,, e de d0tn.inaçâo polítim qt1c ela em·ulvc). Por isso,
cof\au:stá-!o de modo m.'lis ou meJtos rápido. O ponto de pa:rv.oo apC$at do apregoado ,pego à dmmcr,;ciu rad,;!, os Ciiffa:os "cscfa.
mod~·ruc!o, no entanto, taU1hém 2eab<t tt11do o seu preço: essa reciclo~" tios dflsse• nlt~ ou médios, qnc detinham o controle d<)3
estralqf..a depende muito, parn coroar-seeficaz, do v.-:1uck an11ên- meios de cornut1Í<."a<;aoe com freqüência se 11.'<lstravnmacess-fveisàs
cia ou de consentimento potencial que os donos do poder poss.-'1ru diferentes modalid:.tdes de nacionalismo refonnísta, evitaram asso-
ilimerrtru: diante oos causas dos rd,cloo. Em outras palavr;1s, ciar-se ao protesto t1e/l,ro.A sua t-oni.,-,i.ic!colog:ade Jesma=ra-
resta saber como fl dh"<-Tgênciacolcti\"a é n:-cchlJa por setores mento racial e a sns contra-utopi:t ck uu::a SeJ!.utl(fa11boli(iío
que detêm, ao mesmo tempo. o contrcle ideológko e utó:,ico emravam e1I1 conflito real com os "ideais ckmocráricos" de tais
tht sinnção e seu contxolc instiluci<msl e polfüco-est.ital. Se ele., classes, que vêem tlll persistêndn de {l2dróc:; arcaicos de relações
se mos:tnun abcrcosà arciração tolerante d.t di,..,r,!\ênda e i, i111ro- r-.1dafaum cômodo succd.áneo rJopreconceito e da discri~1inação
dução de mudanças para suped-!as, a rebdião ati.!lge sru alvo e raciais sistemáticos. Por 0011seguinre. não havia COino constituir-
se in:cfa um processo mais amolo ,le reforma social ( com &e- ·Sc uma "opini1fo pública" favorável aos movimentos de protert~
qüê.ucb sob conrrole conservador}. Ko c;,so gne descrevemos negro fora e aciJna dos pequenos setores mais ou menos radi-
tal rc,st1\tado só seria viável se as mesmas manifestações se repe- calizáveis da p1:óprla "popul.u;ão de cor".
ris~m em outrns cidades brasilci:as corn a mt!Srua inkn.~idade O primeiro <?.5pectordationa-,c com o n1odo pelo qual os
e se ,-.íríos estr,uos c:llisidentes t!a !)Opuhção hrn11ca:tdetl;sem 2iferentcs es.l!ato5 do ºmeio bra,a>" re.tgiram aos movimentos
à contra-utopia oo s~gunda Abo!ifi:o. Esta poderia merecer tal de p;ot,,sto negro ou il e.;clências prárlc:.:s de sua contra-ideologia
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275
e contr~-utopia. Na-se muito, ~o discutir-se a sitt.'<lçãodos po,·os o conflito, cm fins volr,,dos pa:a a dc!csa, o c~ntrole cu a tram-
subdesenvolvi<!os, na "ap<1tia" das massas. No entanto, até onde fcwmt\Çâoda ordem socfa! existente. constituem prer..-rogati-.:as po-
essa apatia é om produto <!e exclosões, de controles e de opres- líticns cios brancos; e que, qoondo se torM:n instituciona!m~cte
sões famemente estabelecidos, insli:ttcionalmente ou não, e utili- acc:ssfvcis à "massa", b~nca 011 negr8. só afetam matérias de
zadas com nicionali<lade pelo poder "utocráticu? Isso parece rotina. As c'.emais condições manti~s iguais, a mudança imposts\
oot6rio no Cl!SO em apre,-o. Vá.:ios lídc:rcs dos movimentos sociais de baixo para cima l: invhlvel. Como não se põe a :ilternativa
tenratrun angariar ô apoio d,t impte:iS.ae d.a rádio; muitos tam- da mudw;a vir espontaneamente corco ucrn lnki:1tiva.d.e:cim,a
bém fuenl.Li Sc:tiose~fo=ços para tirar sua causa do isolamento para baixo, temos: l.") que ,is estrunras de poder 520 cegas aos
político e do confinamcm<> ao "a:cio negro". Todavia, não obt.i- "problem3sdas lllSls.sn~u~ 2.0 ) que tais C!>l:-utnrasoperam de m()do
vern.rnsimpztia e apoio: 211t~.s; obtinham-:ios e os pei:diamJassjm re.pressi'7o ( inclusive por mcios discretos) quando as massas
que revdav-am sc.."US propósitos autônomos e seus desígnios libe.r- questionam os "dilemas soci~is" ( o que parete. criar ameaças in-
tátiús e ÍbTUalitários.Ka :i~rência, o "meio btsnco,. reagiu con1 control.íveis ao c:miter s,,crossanto e à c-stabilid~de <lo st,:!!IY
~távd indifcr<.:nç,1, como se se i1'3r~sse <le un1a sgita~o estéril quo). Isso transpareC'emais claramente nos 1:1ovimento;; Je pm-
lfü inútil. Ao intcrpret.ar-::eesse padriio<le reação societária, em :csto rada! que em outras numifestnçõcs dn populisno, porque
bloco, percebe-se qUlll era a Sll!l ft:nçiõo: impedir que os setores fie-a evidente que o negro foi tolhido ns medida cm que r.âu te,,~
<!csciru/dos de poder encontl'Jssem ressoooncia, lo.mando-se aptos liberdade para ura; Q conflito rGCit'.1 e,11 fins cvletisc;s próprio:!.
2 fazer pressões políticos ele baixo para cima. Alélll disso, em C'..omo o branco possui a liberdade oposta, de usar o conflito
ol~uns nfn~i.c dt1c dti-s.~ médias e alrn51 como tatttbém ern olgua:; 1-aüal yai..i i-,rex.rvai: ~ ,o("Cem cxi~t.cnb: - anbcra i~~ pcr-
círculos imelectuais e políticos Jessas classes, os movimentos fi- manoca dissimulado, pois o c:onflito é ern?tcgada sob a forma <lc
carsm msis conl,ecidos, qt1a~e sempre coroo efeito de rnsos coo- violência: organizada insritucionalrnente~ar;r-avésdessa mesma
eretos ( empregadils que pllss;ivam a discutir cotn as p-dtroas; ordem - ele pocJeequaàoni!r~ estiRn,atizare rcprinir o ªpe.ti~o
avaliações de .uitudes, disposiçõe, Je comportamento ou co:n- do rndsrno negro'\ sem que o Ae~o po~::;z,lcgit:it.:.1amente> des-
?Jrtame--itos de negros e de molaros, envolvidos nos movimentos, mgscarar o miro da "dernocrná11 racial" e p=opor, em seo h1r,;a:,
como rnanifest~tçóesostensivas e intole.r-J.veisde "atrcvllnento" dn.< cstruttuas raci.1:s da ;odedndc
Utll;Iautêntica <lemoc1·stí7.açã,;,
e ele "ódio racial"; discussão etnocêotrica dos objetivos liber- brasilei01. O que res1tlrn,dai, nlío é ,1penas a impot::i:cia polJ:ica"
'.ários e igualitários dos movit::!emos r-.ldais). Colocada à prova, do negro e do muh110. :e íl neuu:11
l;-,~o do "meio negro" como
essa diLe bntnca filtroduzfo o cumpottan:ento autocráúco cm sua coletividade ou c-Jtegcrianicial psra qualquer proccs;o dotado
reaçª<>, '-!l!C' passa<:·aa ser host:! 1 n'Oiminando a ((intolerância de real eficácia política. No fundo, o 'iue s.: passou pode ser
du neg.-u" e rt-;,udümdo o seu "rnri!.rno"! de-sento, socioJogicamcnt::1
wco uma cou.te,rçãoeJe:iv-; dtJ :a.Jf.
O S<-gu:t..-loaspecto diz =<-~-pdtoa processos latentes de auto- ,:o/im,o negro pda ordem soci41 inctusitla ( embora de ficasse nos
dc~esa da ord"m racial que se e&:ondc:m por trás da o=dc-m csta- limite.< do "legítimo" e cefeíld~.sse n conrin11id~de des;n 1J1es,ro
bdcdd:t { e.~, ?LJtt2nto, ~ 21.1roc:bf<Sa do ?:id.rio 2ss.imét=Ít.:o de ordem social). Prlndo de: <o.n..:Üçõe$par-~ ab~o1ver as esu1,,tl\Tta'i
relação racial, da dcsigualchde racial e da mor:opolização racial de poder que seriam necessári~ pam que elo::pudc$:ie equaci,;,oa1·
do poder pelo branc..'O). Aparcntcmcntc► o u:mcio negro" Dao <.-on- e resolver (ou conUibuiri..xuaequac:on,ue 1ewlver) ,e,~~ prv-
tinha pm:encfalidades para imp:-imir m3ior ímpeto, continuid:idc <: bfemas sociais e o dilema ra<:i:tl brasileiro, o "=io u~gm" l'OmO
eficicia aos seus movimentos de pmtesto. 'Todavia, foi ~tJ?cnte- um toe.lo estava condenado :1 não poder tomar-se ag,;;i:rc de se«
i.i~ que ocorreu ns. renl:dsàe? Se se e:x-am.1na.m hem as coisas, destino, em todos os nfrds da história.
vcrifics.-se que a impotência do "meio n...-gro'-',t--m parte produto
de ~n-:1situação cccmômic..."3,
sócio<1.1l:urale política, tambC:mresul-
tava ele modo clirc10 ela estnm,1:,i racial da sociedade brasilein1, A Dcmacrccia Racid seg:;nJo a "lt-:ç_~Ôp;i:n:da ··
que concentra,º. poécr polí~co n~ tope (~ms seto~ domi~tes
elas cl2sses méd,as e altas, ,sto e, nas maos dcls elites da raça Seri~1ingênuo penst1r-seq1.1eo cfüem1lsocbl. em ~: e pcw si
dominante"). E.s;a concentração p,;essupõe que a competição e mesmot pos~ converter-se em foco de. rrc:-e5sosrevoh.:don.trio~
276 277
de rrar:sfonnzção da ordem. Contudo, sua análise é sociologica-
Essa dinâmica fortalece o poder ée controle ideológico e u1ópico
• ~ente un;,orm:itc, porqtre desvendacomo as ideologias e as uto- da socitxhde pelas classes domiir..ntes, e corrompe pela_ba.sc qual-
pias podem ser ndap1adass privilégios e a interesses de classes quer espécie de "ide.tlismu deJ:llO';rát:co" que el~ s<: ~!quem,
e categoriassoci~is,e1:1. cn:atégicas de poder, e como,
_po;jçQ($ cm 1ermos oonscrvadores, reforrn1s1asou r<:Volnoonarios.
de outro bêo._ ele estimula o aparecimento de coorr-a-ideologi:,s, As coisas se apresentam, na situação br,1si1eira, de modo mais
de rontra-utop,as e de contr.1-clites. ::-Jaçerdade, o avanço radial complic-.ido. Como a "revoluçíío nacional" aiod~ não conduziu ii
de ideologias e utopias iotais - difundidas por classes domi• completa descolonização. há margem p~r:t que gru;,os, setores de
:iantcs e ma;s ou me.ru,,. romp:,rtilhedas pelas demáis classes de classes ou categorias r:.?Ciais fixem tl3. "integr-açãonncicnal"a via
uma m=5ma50C:iedadeancio:1nl- ocorceem períodos de ~•ande pela qual se poderia oor.sumar pelo ~oos a dimirulção ~e for1IIas
cmulaçao ooleuva. nos quais o idealismo re,.,okciorufr:o facilita arcakss de Je,sjgualdade, rcptesentat!vas do a,,t;go ,·tz,me. Por
concessões ou acorcodações de teor libertário igualitário ou buma- c,,usa de sua fraqucia econômic:a, sóci<><ulrurnl e pollúc.t, eles
rJtárioque são. não obst::tn:e,incompatív-eis'coma ordem interm ,êm de p,irtir forcosamente, de "crft:<:asmorais da ordem", isto
ce wna socieclace csttwficada í mesmo gu<>ela seja uma "ordem é, de fa;.,r o~içâo ostentattdo Ull1 :zelo real_ ou simul:ido diante
social aberta", como a sociedadede classes moderna). Passados dos valores CeJJtrais d,1s ideologias e das utopias da,; dasses dorru-
os pedodos ele efo.-vesoêoci.te de confraternização revolucionária., naotes consagrados oficialn:ente pela ordetn e:,dstcnte. Os con-
o idealismo re,,•olucioniriodesaparece,D'.nsficam as ideologias e flitos 'axiológicossão, assim, engrandecidos pelos di,•erg~mes,
;is uto,:ias forjadas ~u redifinidas sob seu impacto, Então, as servindo de fundamento ao ide:tlismo crírico e a seus desoobra-
:deologtas e as u~plas convertem-se em máscaras, mesmo que mcntos práticos, reformistas ou "revolucion:írios". Por sua vez,
mantenham conccudos d<:moétá:icose impulsões revolucionárias. es classese as categori:ls sociaisdominamcsvêem-r.edian;~ 93
As classes e as categorias sociais C-0minantes, que 2.s utilizam, desigualdade arra,·és de duas polarizações: o forte processo de
émpcnbnm-se mais na =lid:,ç:io do podere cm mudanças so- rcvitalizaçoo de privilégios mais ou menos :,.rc,iioos;.e o pr~,so
CllUS que somente concorrem p,,ra s eswilidadc do stdlus quo. ainda mais importante dos interesses de classe proprt:i.mcnte ditos,
P!'r conseguinte, suprimem os relações das ideologias e das uto- resultanteS da expansão interna do capitalismo moderno. Eles
P"'' com qualquer praxis revolucioruú:ia e com freqüência com podem explorar a mística da ªsociedade aberta:', m3S só em sen-
s:1a p=ópti.l pclrica soéal quotidiana: a~un-se. assim, ao 'signi- riclo não,exemplar e com muito ruidedo ( :11ais verbalista que
ficado abstr~to-formalda idcologja e da utopia, segregand~ real e de qualquer maneira, nio no terreno político). Queiram
de moco mais ou menos completo daquilo que são compelidas a ou cão,' sio compelidm a 11 corear a nuven1 por Juno" e, o que e,
faz.er, em \'Íitudc dé seus i.ntecesscse relações de classe. Con- pior, a obrigar as _outn.s classese categorias s~i_s a !azercm o
seguem estabelecer uma e;:l)écie de conexão de sentido absoluta mesmo. Em conseqüêocia, não só segregam as ob!etr•açoes ~bstra-
pora suas ideo!ogw e ucop:as, ée grande utilidade como funda- to-formais dos valores centrais de suas idcolog1ase utop:as da
rcento de um tipo especial de dualidade éticc, que permite uatar pnític,i correspondente quotidiana; projetam nessas objeti~ações
as demais desses como se fossem "esrra.nhos", Hmem.brosde um significado absolutista, maniqueísta e towitário, ~~o se eJa_s
o_utr.tssuciedades" ou 2té como "inimigos". "Esta função socictá- fossem em si mesmas o co:icreto, o dado real, e n p!':IUCaquotl•
na da ?~~lidade étic,i é ~cilmente c1™.imuladae mascarada, graças diar,a um elemento contingente, inelcrante e rn1.'1Sit6rio.Com
ao artif,c10 <la scg?Cgaçno entre o formsl-,1bstrato e o concreto, isso, pretendem proteger-se de ri.«:os pot<:ncuis, rongdando politi-
que opera como um fa,or de obnubilamento da consciência social camente a crftica moral e a rcbelfüo dentro da ordem. e impondo
de classe e de tnitigação do significa,Jo social das inconsistências de maneira autocrática soa visão do mundo e s.ui imagea, do
i::lstitudon:ús e dos conflitos axfológicos de uma civilização. A Brasil.
contradição entre esses dois ní,;cl.:;.; por sua vez, não .o-eraPôt si Tudo isso colaça " tdlexoo so::iol~:ca crítka êbnte de uaa
mcs1112 reações<lescollfort,í.c:s
nu calllstró{ic-as. Especi:tlnu:ntcse confusa realid~de. Como pens:;.r sociolog:carncntc .;s "saídas f'OS·
~ clas.5es,preteridas ou ptt:udicadas e.speram<:úmpartilhsr((no ~fveis" é inerente à prÕ?rÜ~
1 se a cir<.1.1larid::1dc or~niz.?ção .. n::..
tu";'r!>", c:e nl~n modo, da rr.v:roliz::çforecorrente de privilégios cíc,,.1,l" d.• soc:cdade brnsilei~•? Se m<:5moem São Paulo, pouco
soaars ct: de mte=scs de d~ss.-;seme..rgentc,se cm crescimento.
27(/
279
tempo de;x,is <loqi:c desci:eve1Ds).õ ccim:t. o próp:io "meio 1:cgro" democr.1!:it,ição :.ic:'.llda riquC?.a, c:o pcdct e Jo prestíl,'i<Jsocial.
voltou ns co5tas à rebelião cofoti\."2.proc~rando e:i.plorar,h: forma fu53s altcrnçõe; oegativas :orn1 rompcns.:das por outt'>!S mu-
individualist.1, cgoíst~ e ,ué d:cis,.~ as nova:; 01,onucidades de danç~ parnlclns, ç:ue "lcgamm a iru:id~:ch ces.:tna pcrcep:;ão
sociais (bem in,üo=es ntualmenre que
&..ssific.çíio e de ascc:ns.Ji'o c.."Íl:.C:?d3 dcslguald,tde ncial ernre !:.raix:osde :odas llS classes
ruis cifradas de 20. JO ou 40), o 4uc rest.:, ao sociólogo, por maior sociais e facilitam o a~tecimcmo de part:ci;izção mi.bante dc,sse;
que seja sua ident::iq1çfo com ci il(ualit2r:s:no? /\. que~-rão -, cfrru;o~ t.m prol <'o ioconfor,nismo negro, desde qne ele se con-
ainda mais complicada, pois as análise~ r~umida~ na segi:n.!<1 c?t:t:ize ei,, torno cle objetivos cl•1amer:te definidos, Sob esse
par-te deste a?tigo ii'ILlicam
q~,e ctna aucênt:c.t democratização mais
aspccco, a m: tolo1~iaofidal, do Brn;il como "paraíso racial" c):1
ou in~nos rápida das relações méafa cont.:nua a rcprcsenuir uoa de que "enm, nós o l'!e.gron1ío<e.o>prcblcmss" est,I em crise no
"improbab:Jicladehisrór:<a", quer se focalize a s::tll3~0 racial br-.1-
~ilC:r:1do ingdo do ''broncou. quer do ºneg.con ou do ,:ln\.iliHO,!. "munclo dos bnu::cos". A mudança de rneotalidace,, n:1 sucessão
de i;craçõei, tem 2b-.ilacop=e>fuudameote as forma; aicda predomi-
Supomos, portm, g\Je h~ margem para se ,1panhar pro,pecli- nantes de hipocrisia rgdal e, em part:cular, tende a s1.:.citarsim•
,-ame1.m,pelo ir.enos alguoas linhas des;e aml:!guo ,'Ír-a-ser. Pri- p3tia efeli\-a por um r..&aliso:o igualitáxio na csfcrn das relações
rceiro, a no~a orientação predominante oo ,;~io negron; mais roei.ais.
indi.:dualist2, utilitarisUs e p:>1gmá:lc:a- e por isst) tão c.'-ioca.tlte
Se O! difa,re:1tes estracos da popclação negra e mulata de:
e emípátia1 - p2rcce comer alta dose de aceno {pondo-se de São Pado p.:derern mohiliiar-se de alguma m!!oeira, pua apro-
lac!o a miti!icacão do "nevo bGmem ,:?~o"). N'essa orientação - veitar suas novas possib:.lídades de aoio✓.1.fümação, os problemas
e não no ancig<>prote.1:0 colerivo, que J:<lS é tõo caro - é que
polít.:cos qL-ese colôC:lmdizem respeito ao 9ue fazer com a l,erançs
o negro e o mulato estão usa:ido as am1asdos próprios brancos. dos c1ovi:nentos anteriore,. Um hiato saía lameotávcl, pois se
Eles es,ão e.levandoas po:encialidace; ecor:6micas. rocio-cu.lrnrais perderia todc o conl:ecimmro critico arumul11do- sabre a rea-
e pol:iicasdo "meio negro" e. po.risso, estilo se p:eparmdo para lid-ace racial brasl.leira e sobr<: a ?OSição que o oeg,.-o deveria e
um novo rÍJ>O de embatt ( no qual será inafa c!ilicilalijá-los de
pode ter em nossa sociedade, Toda\'ia, as mmsfomlllÇÕ~ foram
todas as formas de competição e de conflito, na luta pela absorção profundas e definere. uma linha de conduta: não se trata mais
e co::trole das e~trururas de poder;. Seguodo, houve abandono
de recuper.tr pac!rões de reação rs.c:al Óo passado, m.s de criar
nrernaturo dos !nO\'Í.mentossoci.lise difundiu-se u:na rea,aÜação outros novos. Toda 3 estratégia eles il:<:tigos.movimentosde "pro-
~gati'nst3. contra <piclquer forma de "protesto negro" coletivo. ..esto negro" :oi supe.-aca. E:a 1~pondi• a um estado extremo
Mas, os movimentos pod>-.,m ser retol))3dos- e ~ quase certo que c!e desesp<:rv, de isofo:rcento e de in,stração que praticamente
o serão, opo:tunamente, re2dinidos em s::as fo:mas, est~atégia,
"cegou" o negro dí:i11teêo q:i.:-lhe seria mai~ acessível e r<!Cional
objeri,•os e funções - pois eles cotistitueo uma "exigência da faze:, para atlnglr, ~radualmcnte ou a mb:lio e a largo prazo, os
S!tU!lç::ío".Co,n a e.x;,eriê1!cia acumulaéa no mundo ur!:.ano-lndus-
objeth·os visados de "iguakfade perante os br;:ncos mais iguais".
trial, é Juv:doso qce o ncf""o ,olte a <'Cn<ralizarseu esforço etítiro Rá pouco interesse em re?('tir ho;e os obsess.isos" o.'te,,sos c!e-
e .uas a;pirações cc!ctivas 110 rombace :10 dilema mci3l, que
bates sobre a e~st~ncia ( ou não} c!o preconceito de cor oo Bri!Sil
cicigitia, para ser cor,scqüenr<', <:011dicões
h:stó.riro-sociaispnra uma
e de rolo01r taota ê:nfo,c nos re<;uis:cosideais ( cemo se definem
"revoluçã..,rncíal de baixo pJ1a cimr,', O :ie-groe o 1n11lato, atual- legaJ.,,1ccte)tia igualc!ade n1cial crn u,;1,;oulém b11r,,.u~sa
demo-
mente, prcfezem 1:1::<lnnças<:irc-Jnso:itas,pot"'.:rncom;,en""dc1rns, crática, Parece cvide11;e aue os no,,o, debat,:s de,•erão centra
i1-:tevers!veis
e n~J~ e~e ~~ l6gicastg""ündo
de ca~c-a'tz. a qual Jizar-se na COlll"Cntraçãor,Ídal da renda e do p:x\er ( ce>msrus
,l <1ut=,1'º.t(;t~-ciro. O "'!lleio b-ranco", apesar
"uina t.:mclançal,)ll.l<U múlti!)los e nuniilcsdo; efeitos) e nas mt:d:dns que pode111set
de suas variadas e pro:m:d:is clivirucs, co11ti.nuatão lndiferen1c ao
a&otad?,;p;w~tl:ffil.zi);011 ellminaras piáticas descriminativa1que
dr,:m<l d1; '1e6r!> <Juanto o foi há algumas décadas ;más. Houve
prcjodicam o ncgTO e o muL-lco,prescrva.,do inc!dinidm:nenre a
OJJl forte e desp;rnporcional fortaledmcmo de posiç&s comer- dcsigu,1ldadcracial e a supremacia da raça branca. Dc,ctro l•do,
vznti~::a~,reaciorufriase autt:-ccitk~s, Centro dele... P.Cl F=ej:.:fao ns movimcDt<>~ êe,·erão VÍ$:U-, em hloCXJ.rn~nos a intcj\ridade
, rc..np.tc,;,:n~o
d e 11matnc1:"'Or ,. <J;.tS v-.-..nr~c::1se d a noc~!>tc.·.a
- ' de r..t:.
'
( ou a falta ie i.11egri6d~: do, boncos, que si.tas p<isiç.ões1h\s
280
18'/
e,;ttu:u:as é.e poder. Isso requer que se proc!uzaum radicilismo imperantes no "mu:,do dcs br,u1<:os .. - uma t<:ndência ruui•o
racial rnois cocrente e efic,,,, a,~z de forjar solidariedade racial - cwrc:·ará o ri;,:x;, <.!eimolant~r
forre à q1U1lJliio se tem o.1,--os10
e lealdade racial nuoa eS<:aLlincor.-ce!:,ívelno pas.sado, par1 per- der.uo de ~i mes:no o q~e mais ~<..m<1'-lui~o, a e.1n11uro-iníqua
r:11tíra su;,craçüc tanto <lo facciosismo, d:i csopismo, do opor- de um rei:11nede chl;se ddormant,, e del·or.m~do. Nessa hip<,-
t:m:;::110.do tn<:I"cenarisrr-0
- aue sola'.)>!r;im t3o n:ndamcntc o tese, ter:Í?JlJOs 1
ne:tto" e do
uma ,.~ers5obrasilcin~ r1.o' C{p:h~lisn::o
"prorest~ negro" ::m passado ~ quant;, e!,,.insicios., :nfluência "eliti~lllO neg:-o", como conttapartià:i à <!<lroioaçãoa':icocrática
psic-o!ógiC'fl on polkica da iéco(ogt·1e da utopia raciais dom:Jlantcs c!o b.raoco" <: está for:i de d(widi1 que ~melhantc proccsc-o serfo
ce
{cu sejo, coroo di,.em 2lgt:ns líderes negros. :lo "c,w:tlo Troia =is noch·o no Br.,_,iJdo que ren sido nns Est:1d.o;Unidos ou
branco·•}. Conrudo, a nrienroção polítle2 gcal dos movimentos na _.{frica do Sul ( '°).
de ºprotesto 11~.rou e:a cor:-cta. Primci:o. el~ eratn po,:m/.istas
Estas propcéçõcs podem parecer tendencío,,1.s. Por que
no sentido mais puro e preciso, e iazh!m éa das!iíicação de e,- •
~r 1:0s _omhJvS do_ negro ,e éo mulato res:pon;abili<l,tdesque
toqu('S raciais m.ari:i~li7.<1do< 0:1 "ittlu!d<,s um problem,t de igu:Jl-
dade econômica, SÓCÍO-<'ulrucal e polidc2. Segunêo. eles defendiam uao sao ip.ualrnentellllin~taaas ~o brarn:o? Porque o negro e o
1r.1Jlatocoi:s11tuemo p,vo da revo)oç&l racial ( den.t=<> <faordem
a revolução racial ( embora definic!,i como uma rcvo:uçã<>dentco
ou cc.·1tra ,1 ordem} no Brasil. Essa revolução nm:ca se consu-
da ordein), como =a revoh:ç;io democrn,ic:,, d:: ba:.xo pur,1cima,
in1;:,nnindo novo seaticlo à imagem do Ilra.sil co:110 nacão multi- m~ráde modo pleno'.' :otal sem (Jl,'e o negro e o mulato a deseje.'Tl
-racial ckmocrátka. .CSS<I orienrnç:fo polítirn gemi 1:1erece ser ardcnr<:mcntce n purtfiquern de modo pcrm,mcntl!,con-ç-ertendo-se
retid;,. e aperfeiçoada, em .unbos os pontD'-, po:s da é ~$SCllCial, cm suas forç.as de radicalizaciiocrc:sccn;e. P8J-a t'reecd,er esse
oindn hoje. p:m, defini: ,1 Dlo!oíia pollt.i.::afll<lbaldo r.egro e do papel hist6rico, é óbYiO<J.t:Celes prcocisnmV:Vetessa revol.uciio
mulato na l,ru, pelo poder, pd1t igu,1!d-t<le e, cs;,ecific2:n:cnte,
pels antecipada e integramente entre si, par.. rransferi-la e iliíund.i-!:i
democroefa r,cial. dcpoi~ ao re;to e.lasociedade hrMileira. K«i se trar.a c!e oensar
Mais social:z~do pclo meio Uibano-indu~trial ambiente, o o n.egro e o CJ.ulato sepru-ados do branco: m'1.Sern um todo no
"mek> n",'lm" é m..-nossuscetível aru.wiente no monolitismo uue CJ'!~o i~ ~l!imo da Jemocrncfa r:acj,,_Jccvcní re:=vlr<1rJa
há qu~tro décad?.s arrá.c;;. O próprio 11 1:1eiobrg,ooo>:é meno.-:: nlo- .iL;v:dadc hrs,onca do oge11te realn:cntc rcvolucioo:írio. Em
nolílico - embora possa dar u□:i irnpressiio opo$ln (rois a re- outms palavras, eoc?.rat!a dts't'.t pcr,;pcc:tiva, a t!eruocn1ci, racial
{ ,: ~n f\1turo d.esenvo!vin::c.:ntci) nio d~enJe ~pe:i~& d(, ''êxito''
prcss:'ioao radictlisll!o e.m ~ral e ao radicalismo das "r;iç~s opri-
:nhlas'', em pa.rtkufar, é pmduto da dtllll!tlâ,;ão ,uitocdtics dos ' net.ro e do ruwato
oo ' no " rnnn do dos brancos" ··- ou seja:
sc= ' .
.....,rcs001nm.mtes d~~s e·1l1S-'5e~ ,J•
m-::a.1as 1
c- ~t-as ()~, em ourras pn.- c m.~\la lu~~cow ? branco pela ituoklade en rigt"?-" e poder.
brtas, das elites dirigen.e, ela rn~11 b~x:<.:a). í: imp,vt.1nre que- maclepen..e t:mbcm,_cprcw,ivelme,u:et'!ll l'St:ala ml!:or, do êxito
0
brarom-,e "uni<la<.!ts''fictíci"-~,tanto no "ndo 11q1ro", <)llânt.ono <lo negro e co 1nclaro c~, supe,-.1ro br~n:::o c cm ...-er,cerseu
'·1:1c-iobranco'". Qu11.-ito rm1s dEc,-,,1:ciaézfor a ~ama ele posições ~or.ip:reen.sivoanseio, tJllC ãlimeibll~m ro paS"Sat!o e ainda é tão
~1x: o ucgro ?)SSa romar, ry1aior~c:ráo impa;:to d~ neves movi- torce, de se <'ônvertcrcm ell" r.rot6tipos do 51q,e,•hr,"c,,. Pois
mentos de "protesto negro". Se essa d.':crr:nd.aç-ãopuder ~e.r nma \:-enladejr..t r:acia!
t,;.--vo!uç:-ãn L-n1 noss:1.era, só
de:tLX'lctática,
rnotda :,os limites em que :epresen:cm, cfcth-arn.en:e, inte.res;es pode ,h1r-sc sob -uma rondiçiio: o nei,>r<> e o mnh10 precisam
divergentes fu:lda.-ne::tais deotro da csttat:fic.."açâudo "meio o ,uis pu.r.om<l:calismo
torna:-se _o ,m!tbra11co,;,~ra eaC11.r::ar:.:m
r:qiro" e sc os rrovímentos put?e..-em
ligar entre si os grupos resul- tlet1-.ocrático
e mostrar aos brnnro, o .-crrl.edeirosemitlo da revo-
wntcs, 110 plano mais amolo da luw ,o,nvn1 ,:oeladcmocratizaç-:ío lução democtáticn dn per,;c.:1aliddc,~. se>ciecfa<le e da c-~ltura.
r,.:ial da r:qu<.-u e do poder, a Segw,,J4il!>r.liçlodeixará rapida-
mente ~e :::cr t:ma conira·utopia :-t?areotemenre vA:i:.a. O tiue
o "meio negro" precisa rq,elir, a todo o custo. vem a ser a
"repetição da h:q6ri3" em cm s<.'.llti<lo c:;:ue.ico( ou s~ja. remo-
dta.ir no presen:e o l1S.i:;,s3c!o
remoto l."".l rececte de c.·neio h~u-
co"). Se o ·'ro:io 11e;-.n,:-' ah;;orvcros padrõ~ ~u.1,ocrátlcos
282 283
1NDICE
l'lTMH,,\ l'àll'h
Ar &m·d.ril, d."1VJr
-\)>Gp,mlo JJ-- Aq,ec1~s w Qu,,6.-, R:!e;al ................. . 2\
~ Copítulu @- Mobilidade Sodel e R<la;,õcsRaciois: O lmun•
do N~ro e &i Mulato cm um., Socicdodc cm
sw~'ND•
P.1ltl'.l,
O 1rr.p,:.sse
Raci,tl "ºB1t:.!ililfoda,,o
• {':,pía;lo IV - A PtrsiStbc:ia do Pa!Slld<>.................. . 8,
·C"'..2;,ím1of- \1~ Im¾;::açiioe R::loçõcsRaciais ................. . 109
• Üpíru!o VI - O ~~-o i:rn SiioPattlo ..................... . 1.29
Qu!..STA P.,~J'E
&liffeo e 'Foldcre
Capítulo X - C'.o!c:tivnsobre o Kcgro: O N~i:ro
Rq,rcsC"!lt.1çiio;
na Tradiç.fo Or\11 .......................... . 201
C".ai,ítulo XI - Cúntril:mição po,:• o 1:!,;n,doJe urr, L!dcr Caris-
n1:át:r.o....... , ......................•...... 217
C'.apítt1lo XII - C.on;:o<bs~ furuqu=> =Sc,:o.,.t,,1 ....•.•..•.•. 2}9
j!:·Gt.isad,: Ccu!t1sâv
~, ....p(tulo XIII/ t\!pOC'IDt Politic:o, do Dilam R.icial Brasileiro •. 2.5-5
~
2R5