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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE

CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

CURSO DE PSICOLOGIA

BEATRIZ PARREIRAS - TIA: 31825966

CECÍLIA FRANCO - TIA: 41924770

LAURA CAPRETZ DUTRA - TIA: 41903048

MARIA CAROLINA PALLIS DA SILVA - TIA: 41904427

MARIANA JACOB - TIA: 41905326

PEDRO ALMEIDA SILVA DE THOMAZ - TIA: 41918991

RAQUEL HLEAP - TIA: 31937081

SOFIA STIFELMAN - TIA: 41914996

POLÍTICAS PÚBLICAS: POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

SÃO PAULO - SP

2023/1°
BEATRIZ PARREIRAS

CECÍLIA FRANCO

LAURA CAPRETZ DUTRA

MARIA CAROLINA PALLIS DA SILVA

MARIANA JACOB

PEDRO ALMEIDA SILVA DE THOMAZ

RAQUEL HLEAP

SOFIA STIFELMAN

POLÍTICAS PÚBLICAS: POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA

PSICOLOGIA E POLÍTICAS PÚBLICAS

Versão original

Trabalho apresentado ao curso de psicologia,


na Universidade Presbiteriana Mackenzie,
como parte dos requisitos para a disciplina de
Psicologia e Políticas Públicas.

Prof. Bruna Praxedes Yamamoto de Freitas

SÃO PAULO

1º/2023

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO………………………………………………………………………3

2. DESCRIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS…..………………………………….3

2.1. Municipal - “Autonomia em Foco”……………………………………………..3

2.2. Estadual - “Programa Bom prato”…………………...………………………...4

2.3. Federal - “Centro POP”..............………………………………………………..5

3. ANÁLISE CRÍTICA…………………………………………………………………6

4. DISCUSSÃO…….……………………………………………………………………9

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS…………………………………………….11

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1. INTRODUÇÃO

O problema emergente da população em situação de rua é uma questão complexa e


multifacetada que envolve não só questões sociais, mas também de saúde, habitação,
oportunidades de trabalho e inserção na comunidade.

A população em situação de rua é formada por pessoas inclusas num quadro


de risco e vulnerabilidade social, vítimas de um processo socioeconômico
excludente e da violência urbana que, na luta pela sobrevivência,
concentram-se nos grandes centros urbanos do país em busca de alternativas.
(SANTOS, 2011, p. 9)

De acordo com Iracilda Braga (2018), a história das políticas públicas voltadas para
essa população foi tornando-se viável através da Constituição Federal de 1988 com o decreto
de que todos os cidadãos são iguais perante a lei. Com o crescimento das cidades e a
industrialização o número de pessoas em situação de rua cresceu, e a partir de 2004 foram
estabelecidas diversas leis que incluíram a população em situação de rua em suas
considerações, como no caso do SUAS. Durante muito tempo, a abordagem predominante da
população em situação de rua foi a repressão e a criminalização, com ações de policiamento e
limpeza urbana voltadas exclusivamente para a retirada das pessoas das ruas, o que apenas as
deslocou para outra área da cidade, como ainda se vê hoje no contexto da Cracolândia. No
entanto, há uma tentativa de mudança de paradigma nas políticas públicas, com a adoção de
abordagens mais humanitárias e inclusivas.
Um passo importante nesse processo foi a criação da Política Nacional da População
em Situação de Rua, em 2009, que estabeleceu diretrizes e ações para promover os direitos
dessa população. A política reconhece a situação de vulnerabilidade e exclusão social a que
estão submetidas estas pessoas e visa garantir o acesso a serviços públicos como saúde,
educação, habitação e trabalho, visando dar a estas pessoas caminhos para a sua
independência: “Logo, pode-se depreender que para que uma transformação social tenha
início e seja possível, a população em situação de rua deve sentir-se credora de direitos, ter
consciência de que eles estão sendo violados”. (BRAGA, 2018)
As políticas públicas para pessoas em situação de rua evoluíram para além do
atendimento emergencial, buscando também promover a inclusão social e a autonomia dessas
pessoas. Isso inclui ações como a oferta de cursos de formação e inserção no mercado de
trabalho, bem como a criação de abrigos temporários e alojamentos transitórios.

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Apesar dos avanços nas políticas públicas, muitos desafios ainda precisam ser
vencidos no que diz respeito à população em situação de rua. É preciso garantir uma
abordagem integral e multidisciplinar, que considere não só apenas as necessidades imediatas
de atendimento, mas também as causas estruturais da exclusão social e a promoção de
políticas públicas mais amplas que possam prevenir a situação de rua: “Sendo assim, compete
ao Estado e à sociedade o dever de lutar pela participação e pelo desenvolvimento do ser
social, capacitando-o por meio de sua potencialidade, lutando pela sua emancipação e
autonomia”. (BRAGA, 2018, p. 11)

2. DESCRIÇÃO DAS POLÍTICAS PÚBLICAS

2.1. Municipal - “Autonomia em Foco”

O programa Autonomia em Foco é uma política pública que atua no município de São
Paulo realizada por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social.
Fundada em setembro de 2014, tem como objetivo oferecer moradia e dignidade às pessoas
em situação de vulnerabilidade que desejam viver com seus companheiros ou evoluir no
processo de independência pessoal. O programa conta com um sistema colaborativo de
limpeza entre os moradores e possui uma grade de atividades socioeducativas, roda de
conversas e mediação de conflitos. Além disso, os moradores fazem suas próprias refeições e
lavam suas roupas na cozinha e lavanderia comunitárias.
Em relação à gama de beneficiados pelo programa, são 150 pessoas, entre famílias,
crianças e solteiros, e funciona 24 horas por dia com um quadro de 30 funcionários, entre
orientadores socioeducativos, operacionais, assistentes sociais e gerente. Uma estratégia de
fortalecimento de vínculos se trata das recorrentes celebrações de datas comemorativas, estas
são uma oportunidade para fortalecer os vínculos familiares, interpessoais e comunitários, por
meio de atividades coletivas, como almoços, oficinas e decorações temáticas.
Autonomia em Foco é um ponto de referência para os moradores, um lugar onde
sempre têm para onde voltar, ao contrário da vida nas ruas. Os moradores têm vontade de
estudar e trabalhar, e o programa incentiva a cidadania e o respeito ao próximo por meio da
grade de atividades mensais com temas diferentes, como saúde e cidadania. O ingresso ao
programa é feito via CREAS (Centro de Referência Especializado de Assistência Social).
Trata-se de uma importante política pública que busca fortalecer os laços familiares e

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comunitários, além de oferecer moradia e dignidade às pessoas em situação de
vulnerabilidade.
No entanto, é importante ressaltar que esta política depende fortemente do
financiamento público, o que torna sua continuidade incerta. Sem o financiamento adequado,
o programa pode ser descontinuado, deixando muitas famílias vulneráveis sem assistência.
Portanto, é necessário que seja continuamente aprimorada para que se ofereça recursos mais
abrangentes aos usuários deste serviço, e garanta sua sustentabilidade a longo prazo.

.2.2. Estadual - “Programa Bom prato”

O programa “Bom Prato” foi criado pelo Governo do Estado de São Paulo em
Dezembro de 2000 e é coordenado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social.
Teve seu primeiro restaurante inaugurado em Janeiro de 2001 pelo então governador Mario
Covas. O programa consiste em distribuir restaurantes pelo estado que ofereçam refeições
saudáveis e de qualidade por um valor acessível, sendo que almoço e jantar estão no valor de
R$1,00 e sem custo para crianças de até 6 anos de idade. Além disso, desde 2011 também
oferecem café da manhã no valor de R$0,50. Para o governo a estimativa média de
investimento para o Bom Prato é de R$59,2 milhões, considerando implantação e
revitalização das unidades, além do custeio das refeições, considerando que o subsídio
governamental é de R$6,10 para adultos e R$7,10 para as crianças.
Os pratos para almoço e jantar contam com arroz, feijão, salada, legumes, uma
proteína e sobremesa, normalmente uma fruta. Já o café da manhã é composto por café com
leite, achocolatado ou iogurte, pão com margarina, requeijão ou frios e uma fruta. Hoje
existem 100 unidades de restaurantes espalhadas por São Paulo, sendo 73 fixas e 27 móveis.
Os restaurantes fixos são distribuídos em 24 unidades na Capital, 21 no interior, 19 na Região
Metropolitana de São Paulo e 9 no Litoral. O governador atual, Tarcísio de Freitas, alega que
o objetivo é implantar mais 30 unidades em 2023 e outras 30 em 2024.
O Bom Prato Móvel foi implantado mais recentemente, em Março de 2022 após um
projeto piloto realizado no final de 2021. Foi criado pensando em atender a parcela da
população que não tem condições de se locomover até as unidades fixas e, para isso, funciona
em caminhões do tipo VUC e distribui refeições que são preparadas nas unidades fixas em
regiões que concentram uma grande densidade populacional e com altos índices de
vulnerabilidade social e insegurança alimentar. No entanto, o Bom Prato Móvel serve apenas
almoço e permanece cerca de 3 meses em cada endereço.

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A quantidade de refeições oferecidas por dia variam de acordo com as unidades. O
Bom Prato Centro de Mogi das Cruzes serve 1400 almoços diariamente, sendo 300
destinados ao Bom Prato Móvel, além de 500 cafés da manhã e 300 jantares, que não são
servidas no local, mas sim distribuídas como marmitas. Já o Bom Prato 25 de Março serve
2.100 refeições por dia, sendo 300 cafés da manhã, 1500 almoços e 300 jantares.

2.3. Federal - “Centro POP”

O Centro POP (Centro de Referência Especializado para População em Situação de


Rua) foi criado no governo do atual presidente Luiz Inácio da Silva em seu primeiro
mandato, em 2004. Como o próprio nome diz, é uma unidade pública voltada para o
atendimento da população em situação de rua. O Centro unifica vários serviços vinculados à
Secretaria de Assistência Social e os disponibiliza de forma gratuita, como banho, refeição,
lavanderia, sanitários, emissão de documentos e atendimentos psicossociais, além de
trabalhar na identificação de pessoas em situação de rua para planejar as atividades e
inseri-las no CadÚnico, caso sejam elegíveis para algum dos programas sociais do Governo
Federal. O Centro POP deve obrigatoriamente ofertar o Serviço Especializado para Pessoas
em Situação de Rua e, opcionalmente, o Serviço Especializado em Abordagem Social.
O objetivo do Serviço Especializado para Pessoas em Situação de Rua é de viabilizar
a autonomia do indivíduo e, se for do seu interesse, reinseri-lo no ambiente familiar e social.
A equipe analisa a complexidade do caso de cada indivíduo, buscando identificar as
vulnerabilidades e os encaminhamentos necessários para transpor o desemprego, fome e falta
de acesso à moradia. Também são disponibilizadas oficinas e encontros para propor a
reflexão e convívio social entre os indivíduos. Já o Serviço Especializado em Abordagem
Social trata de iniciar um processo de saída da rua integrando o acesso aos benefícios
socioassistenciais e reinserção social. A estratégia é desenhada através de um Plano
Individual de Atendimento (PIA).
O acesso ao Centro POP pode ocorrer de forma espontânea ou a partir de
encaminhamentos do Serviço Especializado em Abordagem Social ou outros serviços
socioassistenciais, outras políticas públicas ou outros órgãos do Sistema de Garantia de
Direitos. Hoje existem 611 Centros POP em todo o Brasil, distribuídos em 361 municípios.

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3. ANÁLISE CRÍTICA

O programa de acolhimento “Autonomia em Foco” foi desenvolvido visando


possibilitar a autonomia plena de pessoas e famílias em situação de rua que já possuem uma
renda fixa. Através da assistência do projeto torna-se possível que essa população adquira
uma moradia e um espaço de convivência que permita o desenvolvimento da independência.
Uma característica presente no contexto social dessa população é a invisibilidade de sua
existência, fato que engloba diversos fatores sociais de risco a quem se encontra nessa
situação. Portanto, a criação de uma política que viabilize a inserção social dessas pessoas é
de extrema relevância, uma vez que, como coloca Hannah Arendt em seu livro “A Condição
Humana”, há uma forte relação histórica entre o domínio das esferas públicas e o poder
privado: “A privatividade era como que o outro lado escuro e oculto da esfera pública; ser
político significava atingir a mais alta possibilidade da existência humana; mas não possuir
um lugar próprio e privado (como no caso do escravo) significava deixar de ser humano.”
(ARENDT, 2007, p. 74), ter uma moradia, um endereço, é uma forma de assegurar a
existência e a participação popular, assim a cidadania transforma-se em um privilégio, quem
possui renda e propriedade, possui poder político.

A riqueza privada, portanto, tornou-se condição para admissão à vida pública


não pelo fato do seu dono estar empenhado em acumulá-la, mas, ao contrário,
porque garantia com razoável certeza que ele não teria que prover para si
mesmo os meios do uso e do consumo, e estava livre para exercer a atividade
política. (ARENDT, 2007, p. 74)

A bibliografia encontrada na internet a respeito do programa “Autonomia em Foco”


demonstra dados apenas positivos a respeito da política, tanto na mídia, por reportagens,
quanto através de veículos de comunicação do governo, como o site da Prefeitura da Cidade
de São Paulo, que inclui relatos de moradores agradecendo a existência do projeto. Fabiano
Fonseca discorre, em “Dimensões críticas das políticas públicas”, sobre cuidados da
“armadilha das ‘políticas públicas’ supostamente ‘consensuais’ e ‘generosas’” (FONSECA,
2013, p. 405), o escritor traz essa reflexão ao citar o caráter de conflito de interesses
envolvidos nas dimensões da criação de uma nova política pública, que ao mesmo tempo que
visa solucionar alguma questão social emergente também veta e facilita, em uma esfera
política, a perpeuação de desigualdades e vulnerabilidades recorrentes a um determinado
grupo.

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Dessa forma, a suposta “unanimidade” das “políticas públicas”, uma vez que
objetivaria o referido “bem comum”, encobre, no chamado “ciclo das
políticas públicas”, seu caráter conflitivo quanto aos interesses em disputa e
os vetos, por meios distintos, advindos dos grupos sociais que se sentem, real
ou imaginariamente, prejudicados. Tais conflitos podem assumir conotações
de embate de classes sociais, por mais que conceituar classes e seus embates
implique novo esforço analítico. (ARENDT, 2007, p. 74)

Por essa razão, a construção de uma nova política pública deveria estar sempre
relacionada com demandas e envolvimento popular, como no caso de políticas cidadãs, onde
a sociedade prevalece o Estado e tem uma movimentação ativa no momento de implementar
uma nova forma de combater certas desigualdades ou falta de direitos, sendo essas mesmas
pessoas que as vivenciam no cotidiano.
Em 2004 foi aprovada a Resolução nº 145, decorrente de decisões do Ministério do
Desenvolvimento Social e Combate à Fome, com o objetivo de prover serviços, programas,
projetos e benefícios, considerando as desigualdades socioterritoriais, visando seu
enfrentamento, à garantia dos mínimos sociais, ao provimento de condições para atender
contingências sociais e à universalização dos direitos sociais. Assim, entendemos a
importância da criação e manutenção do “Programa Bom Prato”, uma vez que ele garante a
segurança alimentar para pessoas em situação de vulnerabilidade. Nessa perspectiva,
entende-se que, para muitas pessoas, a impossibilidade de uma alimentação mínima agrava
ainda mais a realidade de abandono e invisibilidade social.

Um homem, no estado de necessidade, está degradado quanto ao seu


potencial humano. Um homem no estado de necessidade está
absolutamente condicionado a ter que prover os meios da sua subsistência.
Isso é tudo o que ele consegue fazer. Enquanto ele não conseguir prover os
meios da sua subsistência, a sua liberdade não é exercida. Ele não exerce a
sua liberdade de cidadão, não exerce a sua liberdade criativa e não exerce
a sua liberdade política, porque só tem uma tarefa que o escraviza, ainda
que ninguém o esteja escravizando diretamente: a necessidade de comer,
de se abrigar e de prover a sobrevivência dos seus. (KEHL, 2004, p. 2)

Pensando nesse conceito exposto por Arendt, conseguimos entender como essas
políticas assistencialistas subsidiam muito mais do que os valores nutricionais e a segurança
alimentar para as pessoas que se utilizam dela. O estado de necessidade vulnerabiliza a

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existência humana e coloca barreiras que dizem respeito a liberdade de ser e existir como
pertencente a uma sociedade, fazendo com que esse homem se limite a ações mecânicas e às
vezes alienadas, para garantir sua sobrevivência mínima. Ainda nesse raciocínio, entende-se
que o Programa Bom Prato colabora para que, de certa forma, parte dessa liberdade possa ser
garantida, já que o homem tem a possibilidade de comer com dignidade por um valor -
praticamente - simbólico, R$ 2,50 o dia, contando três refeições diárias (café da manhã,
almoço e jantar). E, desenvolvendo a questão do preço, deve-se considerar que, mesmo sendo
um valor mínimo, ainda sim existem pessoas que não conseguem arcar com isso,
permanecendo escravizadas, como propõe a autora.
A Política Pública Centro POP, busca apoiar e reverter o quadro de vulnerabilidade
que as pessoas em situação de rua se encontram. A equipe do equipamento, busca promover
um ambiente que estimule os usuários a organizarem suas vidas, a fim de resgatar sua
autoestima, exercício da cidadania, participação e reintegração social, bem como a
recuperação de seus direitos sociais e políticos. Além disso, a equipe realiza
encaminhamentos para outros serviços da Rede de Assistência Social e demais políticas
públicas setoriais, bem como para órgãos do Sistema de Garantia de Direitos. (PINHEIRO E
POSSAS, 2018, p. 40).
De acordo com Hannah Arendt (1958), o espaço público é aquele em que as pessoas
se reúnem para participar da vida política, discutir questões públicas e tomar decisões que
afetam a comunidade como um todo, é tudo o que pode ser visto e ouvido por todos. Por
outro lado, o espaço privado é aquele em que as pessoas exercem sua vida privada, realizam
suas atividades cotidianas e convivem em um ambiente íntimo e familiar.

Significa, em primeiro lugar, que tudo o que vem a público pode ser visto e
ouvido por todos e tem a maior divulgação possível. Para nós, a aparência -
aquilo que é visto e ouvido pelos outros e por nós mesmos constitui a
realidade. Em comparação com a realidade que decorre do fato de que algo é
visto e escutado, até mesmo as maiores forças da vida íntima - as paixões do
coração, os pensamentos da mente, os deleites dos sentidos - vivem uma
espécie de existência incerta e obscura, a não ser que, e até que, sejam
transformadas, desprivatizadas e desindividualizadas, por assim dizer, de
modo a se tornarem adequadas à aparição pública. (ARENDT, 1958, p. 59)

No entanto, as pessoas em situação de rua não têm acesso a nenhum desses espaços.
Eles são excluídos do espaço público, poorque não têm voz ou representação política, e são

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marginalizados pela sociedade. Além disso, também não têm acesso ao espaço privado,
porque muitas vezes não têm um lar ou uma casa para chamar de sua. Dessa forma, a situação
das pessoas em situação de rua, pode ser vista como uma negação dos conceitos de espaço
público e espaço privado de Hannah Arendt. Desse modo, a política pública Centro POP
surge a fim de oferecer um espaço público para as pessoas em situação de rua, onde eles
possam se reunir e ter acesso a serviços básicos e atendimento social. Essa iniciativa pode ser
vista como uma tentativa de resgatar o direito desses indivíduos ao espaço público e,
consequentemente, contribuir para a promoção de sua inclusão social. Dessa forma, as
políticas públicas vigentes hoje para a população em situação de rua, busca uma maior
garantia de direitos, tanto sociais quanto de subsistência.

4. DISCUSSÃO

A relação entre políticas públicas e a Psicologia é essencial para a eficácia de projetos


públicos, bem como para o psicólogo compreender o ponto de vista e a posição social de
populações em diferentes contextos. Há anos a psicologia já vem se fazendo presente em
implementações e ações políticas, como por exemplo, na defesa de direitos na Constituição
de 1988, e na criação do Estatuto da Criança e do Adolescente.
A ação da Psicologia nas políticas públicas é fundamental, pois ela contribui com uma
abordagem questionadora, ao destacar a presença do sujeito e da subjetividade envolvida nos
fenômenos das políticas públicas. A psicologia consegue integrar as diferentes áreas do ser
humano, sua história, suas particularidades e suas necessidades, e por esse motivo, consegue
acrescentar positivamente nas ações públicas, pois as torna mais eficazes com o olhar para as
necessidades, desejos e demandas dos sujeitos.
Visto isso, fica claro que a psicologia consegue atuar na defesa dos direitos humanos
de uma forma completa que respeita e entende as posições sociais, as consequências e
benefícios que o sujeito traz para si a respeito disso. Como aponta Gonçalves, Maria da Graça
M.: "Os psicólogos se deparam com espaços em que se colocam questões relacionadas aos
direitos humanos quando discutem e defendem políticas públicas". (GONÇALVES, 2010
p.101)
Uma pergunta fundamental surge frente a este lugar questionador em que o psicólogo
se vê ao adentrar em reflexões sobre políticas públicas, direitos humanos, sistemas de
governo e sistemas econômicos. Como acolher, sem estagnar o sujeito que está sendo
cuidado? E outras questões relacionadas ao papel do Estado como agente cuidador. A

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ambiguidade do cuidado é muito bem explicado por Luís Claudio Figueiredo em seu texto “A
Metapsicologia do cuidado”:

Quando poder e domínio passam a predominar (...), dois efeitos ocorrem: a)


gera-se uma profunda ambivalência no objeto do cuidado, que se sente ao
mesmo tempo muito cuidado e muito descuidado, muito tratado e muito
maltratado, aprisionado; b) suas potencialidades auto-eróticas criativas não
são acionadas. Esse sujeito, travado pela ambivalência e pela impotência,
não poderá ser atravessado pelas introjeções criativas. (FIGUEIREDO, 2007
pg. 23)

Os conceitos de Moral e Ética surgiram através dos primeiros pensadores da


humanidade, na Grécia Antiga, a partir da formação do conceito de Cidades-Estado, 500 a
400 a.C. (NICHOLSON, 1992 p.4). Pode-se observar um extenso conflito moral entre os
humanos dos últimos séculos perante a ideia de Estado e Direitos, englobando discórdias
sobre qual é o papel do Estado e quais seriam os Direitos universais, em prol de uma
civilização ideal. Estas dificuldades podem ser compartilhadas com a psicologia, uma vez que
o conflito moral do cuidado também está extremamente presente dentro das terapias de cada
um. O quanto presente e interventivo um psicólogo deve ser dentro da terapia de um
paciente? Como não provocar uma dependência dentro da psicoterapia? Por este motivo
existem diversas abordagens psicológicas de atendimento, para que o agente cuidador possa
escolher o que mais lhe faz sentido.
É possível introduzir um carácter de esperança dentro desta confusão de
possibilidades de cuidados que parecem todas levar a um mesmo lugar não eficaz, frente a
frase de Jean Laplanche, psicanalista francês: “O outro cuidador deve ser também uma fonte
de questões e enigmas” (LAPLANCHE, 1992), uma vez que, mesmo sem o objetivo, os
agentes cuidadores tem sido fonte de muita reflexão, é um propósito claro dentro das
psicoterapias, e algo naturalmente exercido pelo povo desde o início das civilizações, apesar
das inúmeras tentativas de controle. Não é conveniente ao Estado produzir um povo
questionador, já que este exercício seria o equivalente a produzir uma ameaça constante a
qualquer homogeneidade de ideias entre os humanos.

5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Acessar o Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro
POP). Governo Federal, 2023. Disponível em:
<https://www.gov.br/pt-br/servicos/acessar-centro-pop-centro-de-referencia-especializado-par
a-populacao-em-situacao-de-rua>. Acesso em 01 abr. 2023.

ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007, p.


61-83.

BRAGA, Iracilda Alves; SOUZA, Ana Caroline. POPULAÇÃO EM SITUAÇÃO DE RUA


E AS POLÍTICAS PÚBLICAS PARA ESTE SEGMENTO: uma trajetória constituída por
desafios, avanços e perspectivas. Programa de Pós-Graduação em Políticas Públicas -
UFPI - Teresina, Piauí, 2018. Disponível em:
https://sinespp.ufpi.br/2018/upload/anais/Mjk=.pdf?023338#:~:text=2009%20Decreto%20n
%C2%B0%207.053,Monitoramento%2C%20no%20%C3%A2mbito%20do%20SUAS.

Bom Prato de Mogi das Cruzes completa 17 anos com mais de 6,5 milhões de refeições
servidas. Secretaria de Assistência Social, 2023. Disponível em:
<https://www.mogidascruzes.sp.gov.br/noticia/bom-prato-de-mogi-das-cruzes-completa-17-a
nos-com-mais-de-65-milhoes-de-refeicoes-servidas#:~:text=Atualmente%2C%20o%20Bom
%20 Prato%20 Centro,sob%20a%20forma%20de%20 marmitas.> Acesso em 01 abr. 2023.

FIGUEREDO, L. C. A Metapsicologia do cuidado. Psychê Ano XI N.21. São Paulo, jul./dez.


2007 p. 13-30.

FONSECA, F. Dimensões críticas das políticas públicas. Cadernos EBAPE.BR, v. 11, n. 3,


artigo 5, Rio de Janeiro, set./nov. 2013, p. 402-418.

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Editora Cortez.

Governador Tarcísio de Freitas comemora aniversário de São Paulo com almoço no Bom
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<https://www.desenvolvimentosocial.sp.gov.br/governador-tarcisio-de-freitas-comemora-aniv
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2023.

12
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13
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