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Caracterização e estudos de intervenção urbanística no Córrego Três

Barras, Cuiabá /MT


Mariana Garcia de Abreu (1) João Mário de Arruda Adrião (2), Juliana Demartini (3) José
Manuel Henriques de Jesus (4)
(1) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, UFMT. E-mail:
marianagdeabreu@gmail.com
(2) Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Edificações e Ambiental, UFMT, Brasil. E-mail:
joaomarioarqtuiteto@gmail.br
(3) Universidade de Cuiabá, Unic. E-mail: julianademartini@hotmail.com
(4) Departamento de Engenharia Civil – FAET, UFMT, Brasil. E-mail: henrique@cpd.ufmt.br

Resumo: A cidade de Cuiabá é privilegiada por possuir uma extensa rede hidrográfica, isso favoreceu a
ocupação do sitio urbano, que a partir da década de 60 tornou-se mais veloz, impulsionado pelo
planejamento do governo militar central. O incentivo à urbanização motivou o êxodo rural, e também a
imigração interestadual. Esses imigrantes muitas vezes procuraram se instalar em locais de fácil acesso,
como às margens dos rios, que ao longo dos anos tornou-se cenário de inúmeras favelas, comodatos ou
ainda de áreas de plantio de hortigranjeiros para abastecer a cidade. O trabalho procura enfatizar os
assentamentos informais nas áreas de preservação permanete (APP’s), definindo-as, apresentando suas
restrições legais de uso e ocupação do solo, destacando suas possíveis intervenções e as propostas de
readequação do uso das áreas desocupadas. Objetivo: Caracterizar a situação atual das margens do
córrego Três Barras, localizada na cidade de Cuiabá /MT e desenvolver estudos urbanísticos para o
local em estudo. Método/Abordagens: Têm-se como proposta metodológica as seguintes estratégias
gerais previstas: 1-Revisão bibliográfica pertinente ao tema; 2-Levantamento da situação atual da
região proposta junto aos orgãos Municipais responsaveis.; 3-Entrevista com os usuários e a
identificação dos problemas existentes; 4-Proposição de alternativas e soluções. Resultados: Estudar as
possíveis soluções para readequar o uso das áreas de preservação permante que foram desocupadas
mediante intervenções em assentamentos informais e desenvolver uma proposta urbanística que
enquadre todos os parâmetros relacionados e propor o planejamento sustentável junto à área de
intervenção. Contribuições/Originalidade:Através do panorama da cidade de Cuiabá, onde há uma
extensa rede hidrográfica e por consequencia altos indices de assentamentos subnormais, é explicita a
necessidade de se pensar em soluções que dêem vida e um uso adequado ao solo em questão, evitando
que novas invasões aconteçam
Palavras-chave: Área de preservação permanete; Assentamento informal; Áreas degradadas.

Abstract: The city of Cuiabá has the privilege of having an extended hydrographic network, that has
favored the occupation of urban farms, and faster from 1960’s, driven by the military central govern
planning. The incentive to the urbanization has caused the a rural exodus, and as well interstate
immigration. These immigrants usually prefer to live in easy access places, close to a river, which during
years have become a place with a considerable number of slums, lending and plantation areas of
horticulture to supply the city. This paper emphasizes the squatter settlements on preservation areas
(APP’s), defining them, showing their legal restrictions of usage and soil occupation, highlighting
eventual interventions and proposals for re-planning the usage for the unoccupied areas. Objective:
Characterize the actual situation of the “Três Barras” stream margins, located in the city of Cuiabá/MT
and to develop urbanism studies for the studied area. Method/approaches: The methodological
proposal has the following global strategies: 1- Relevant reviewing of the subject’s literature; 2-Studied
area survey gathering information at the local council; 3-Interviewing users and defining the existent
problems; 4-Alternative Proposals and Solutions. Results: Studying possible solutions for the re-usage of
the preservation areas which were unoccupied after interventions at squatter settlements and to develop
the sustainability planning along with the intervention area. Contributions/Originality: Through the
panorama of the city of Cuiabá, where there’s an extended hydrographic network and therefore the high
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index of illegal occupation, it’s clear the need for solutions for a suitable usage of this areas, avoiding
new illegal occupations.
Key-words: Permanent preservation area; squatter settlements; degraded areas.

1. INTRODUÇÃO
As cidades brasileiras, atualmente, são resultado da estrutura social, caracterizada por diferentes
condições de vida e de acesso a serviços e equipamentos urbanos. Historicamente, segundo Bueno (2003),
o ambiente construído apresenta uma urbanização incompleta, como bairros sem pavimentação e com
erosão, causando assoreamentos dos cursos d’água e dificuldades de acesso aos sistemas de transporte e
outros serviços, lançamento de esgotos nos cursos d’água pelos próprios sistemas oficiais de afastamento
de esgotos domésticos, coleta de lixo parcial e com disposição final inadequada, escassez de moradia
digna e economicamente acessível, com a formação de assentamentos precários e irregulares.
A falta de integração dos assentamentos populares, segundo Paiva (2003), resulta em desintegração social
e urbana crônicas. Como elemento determinante das relações sociais, a falta de integração urbana pode
ser considerada um fenômeno mundial. Já em relação aos programas de intervenções urbanas, a
informalidade continua sendo uma opção de vida para grande parcela da população, e determinando o
crescimento e a sustentabilidade das cidades.De acordo com Hardoy et. al. apud Barros (2005) uma
grande parcela dos assentamentos informais urbanos está localizada em áreas de perigo, tanto devido aos
riscos naturais quanto aos riscos conseqüentes das atividades humanas, ou a combinação dos dois. Os
assentamentos em áreas de riscos naturais podem estar localizados em encostas, áreas de fundo de vale,
áreas alagadiças (como é o caso das palafitas), áreas desérticas, entre outros. Áreas como, margens de
leitos fluviais, são preferencialmente escolhidas para assentamentos informais por terem uma boa
localização na malha urbana, conseqüentemente são privilegiadas com os equipamentos urbanos, como
transporte e serviços.
Através do panorama estabelecido da cidade de Cuiabá, onde há uma extensa rede hidrográfica e por
conseqüência altos índices de assentamentos subnormais, é explicita a necessidade de se pensar em
soluções que dêem vida e um uso adequado ao solo em questão, evitando que novas invasões aconteçam.
Pois segundo Paiva (2003), onde o estado mostra sua incapacidade de prover as necessidades básicas da
população - a informalidade atua.

2. OBJETIVO
Caracterizar a situação atual das margens do córrego Três Barras, localizada na cidade de
Cuiabá/MT e desenvolver estudos urbanísticos para o local em estudo.

3. METODOLOGIA
Para a presente pesquisa têm-se como proposta metodológica as seguintes estratégias gerais
previstas: 1- Revisão bibliográfica pertinente ao tema; 2-Levantamento da situação atual da
região proposta junto aos órgãos Municipais responsáveis; 3-Entrevista com os usuários e a
identificação dos problemas existentes; 4- Proposição de alternativas e soluções.

4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

4.1. Problemas da informalidade


A informalidade representa, atualmente, segundo Arantes (2008), de 40% a 70% do território das grandes
cidades dos países subdesenvolvidos, os quais, muitas vezes, não são sequer representados nos mapas.
Neles mora mais de um bilhão de pessoas, sobre áreas geologicamente frágeis, encostas, alagados,
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mananciais urbanos, áreas de preservação ambiental, florestas, desertos ou mesmo em barcos e palafitas
nos rios e mares. Já no Brasil, segundo dados de Bueno (2007), os números giram em torno de 10 milhões
de assentamentos precários de interesse social.O conceito de assentamentos informais é definido por
Barros (2005) como assentamentos humanos caracterizados por ocuparem áreas que não são compradas
legalmente, tanto domínio público como privado, com edificações precárias, ilegais, do ponto de vista da
legislação urbanística e do código de edificações.
A exclusão social decorrente do não reconhecimento do direito de posse da terra e a permanência da
precariedade da moradia conseguida, geralmente, com muito trabalho são uns dos muitos problemas
gerados pelas ocupações irregulares. Nessas ocupações, as taxas de saneamento e drenagem tendem a
zero, o abastecimento de água e luz, quando existe, é precário e irregular. Este cenário propicia o
crescimento da violência, o tráfico, a desnutrição, além de doenças. É fácil sintetizar que todos os
problemas que os assentamentos informais geram são diretamente ligados aos fatores socioeconômicos,
pois qualquer que seja fator o responsável, ele sempre cairá sobre o habitante deste local, que com certeza
é o mais prejudicado com todo este cenário.
Para Bueno (2008), nas áreas urbanas consolidadas os assentamentos precários, especialmente junto aos
cursos d’água, têm como conseqüências para os moradores destas comunidades, e também para toda a
sociedade moradora do meio urbano:
TABELA 1 – Conseqüências dos assentamentos precários junto aos cursos d’água.
1- Os moradores destas áreas ficam expostos ao contato 5- Em muitos casos, a disposição do lixo criou áreas de
direto com esgotos e outros vetores de doenças; risco por deslizamento, além de contaminação
2- Há maior ocorrência de inundações, colocando a 6- Há dificuldades e mesmo impossibilidade de limpeza
população do entorno em contato com água e manutenção periódica de córrego e outros dispositivos
contaminada; de drenagem, sem remoção de moradores;
3-; Há disposição de lixo das encostas e córregos, 7- Há dificuldade e mesmo impossibilidade de
inclusive com contaminantes químicos de produtos instalação de coletores - tronco de esgotos para
como pilhas, restos de produtos de limpeza e higiene; complementar o sistema e conduzir os esgotos urbanos
até a ETEs, sem remoção de moradores
4- Há lançamento de esgotos na rede de drenagem
Fonte: BUENO, 2008.
Outra questão relacionada a essa complexidade de conseqüências, é a questão geotécnica, a qual agrava as
condições de risco de vida, quando há solos muito suscetíveis à erosão, através da deposição de lixo e
aterros simplesmente lançados, já que todo ano, após as chuvas, as margens, e de seus afluentes e
nascentes, erodem e solapam. Portanto, a necessidade de obras de estabilização das margens do córrego,
drenagem e pavimentação são indispensáveis, tendo ou não a presença de habitação.
Assentamentos precários geram, também, conflitos com a legislação urbanística, como o caso da posse do
terreno, em relação ao parcelamento e edificação em terrenos de uso proibidos e em relação à própria
edificação. Já no que diz respeito às edificações geradas nesses assentamentos, a habitabilidade é conceito
inexistente, já que existem condições precárias de estrutura e de qualquer outro tipo de conforto. O abrigo
familiar torna-se um dos maiores riscos no cotidiano dessas famílias que buscam alternativas de
sobrevivência na informalidade.
Portanto, para resolver os diversos problemas da informalidade, deve-se primeiro tentar solucioná-la,
através da sua integração ao sistema urbano e sua regularização, a qual deve ser entendida tanto pelo o
interesse social quanto o interesse público.

4.1.1. Habitação precária


O Estado foi, desde o pós- guerra, o pressuposto da circulação do moderno setor construtivo habitacional
até 1964, de forma errante e não sistemática, mas, com a criação do Sistema Financeiro da Habitação, o
Brasil se assemelha aos países desenvolvidos. A dinâmica construtiva passa a contar com um sistema de
crédito regulado pelo Estado que amortece amplamente a demanda. Do conjunto das unidades construídas
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entre 1964 a 1986, conforme Ribeiro (1996), cerca de 26% contaram com o financiamento do BNH.Ao
longo dos anos, foi intensa a construção sustentada pelo Estado, e, contudo, a crise habitacional persiste
como uma das principais características das nossas grandes cidades. O déficit de moradias é elevado,
reaparecem no cenário urbano brasileiro cortiços, favelas centrais se adensam e surgem novas nas
periferias. Esta situação mostra a incapacidade do moderno mercado capitalista de moradia em resposta à
demanda da maior parte da população urbana.
As criticas envolvem outros âmbitos, além da falta de moradia no país, como também a qualidade delas.
Vê-se um sistema, na maioria das vezes, segundo Arantes (2008), regrado por políticas públicas, com
programas de urbanização de favelas, de regularização fundiária e de produção de lotes urbanizados.
Onde há participação (em geral cosmética) dos usuários, atuam freqüentemente como trabalhadores
gratuitos, construindo habitações evolutivas (para serem ampliadas futuramente), conceituada como
habitação “padrão econômico” e chegam a ter menor área por habitante do que celas prisionais.Já na
visão de Maricato (1979), além da problemática do sistema geminado, a ameaça é maior quando se trata
da ocupação ilegal do solo, onde a autoconstrução se sobressai como forma de produção de moradia. A
autoconstrução atende aos anseios pela apropriação de um pedaço de terra, mesmo que situado distante
das áreas urbanizadas, em área de topografia bastante acidentada.
Á crítica sobre, o que atualmente se denominou habitação de interesse social (HIS) é, segundo
Tramontano (1995), o desenho dos espaços continuarem imutáveis, após décadas, sob a alegação de que
se chegou a um resultado projetual economicamente viável, que atende às necessidades básicas de seus
moradores, resumindo uma a habitação, que está inerte, enquanto o perfil dessas famílias se difere a cada
vez mais.Por fim, segundo Guerra (2008) construir habitações econômicas é fazer, ao mesmo tempo e
necessariamente, urbanismo. Portanto, unificar o desenho das habitações com seu entorno e tentar obter
melhores resultados de projeto é o caminho para integrar o cidadão no meio urbano, sem deixar explícita
a classe social a que ele pertence.

4.2. A questão ambiental


A questão ambiental tem seus princípios estabelecidos no Brasil a partir da Constituição de 1988. Já
internacionalmente, tem-se como referência a este tema, a Agenda 21, aprovada na Eco 92, desdobrada
em Agenda 21 Local. Embora o documento tenha estabelecido inúmeros conceitos, desafios e metas,
poucas ações foram concretizadas em duas décadas.
Segundo Mota (2003), para compreender a relação entre a urbanização e o meio ambiente é necessário
estabelecer que o meio urbano é formado por dois sistemas intimamente interelacionados, o “sistema
natural”, composto do meio físico e biológico e o “sistema antrópico” representando o homem e de suas
atividades. Enfatiza que a cidade é um sistema aberto, pois o homem, muitas vezes, não encontra tudo que
precisa, e funciona dependente de outras partes do meio em geral. Assim alterações introduzidas pelo
homem são procedidas de forma rápida e variada, não permitindo, na maioria das vezes, que haja a
recuperação da Natureza. Um dos exemplos explícitos desta situação é o caso do assentamento humano
em áreas de mananciais, degradando e interferindo no ecossistema urbano.
No entanto, o que freqüentemente acontece nas cidades é a falta de articulação entre os projetos urbanos e
ambientais, isso inviabiliza soluções qualificadas. A não integração dos temas impede ações mitigadoras,
como a instalação de infra-estrutura básica de saneamento, para evitar assim, que áreas juntamente com
suas respectivas populações, fiquem ao acaso do abandono e agravamento progressivo da degradação
ambiental.

4.2.1. O porquê das ocupações em APP


Bueno (2008) relata que no Brasil, a partir dos anos 40, para tentar solucionar grande crescimento
populacional e urbano, surgiram loteamentos populares, onde vendiam somente a terra nua e a promessa
de um serviço de transporte público. Esses loteadores deixaram como áreas públicas (para uso

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institucional, de lazer ou como área verde) as faixas à beira de córregos, as várzeas e encostas íngremes,
que antes serviram de bota-fora para as obras de abertura das ruas. Além do fato histórico, tem também a
questão da ocupação irregular em áreas públicas ou privadas de preservação permanente em muitas
cidades brasileiras, principalmente de médio e grande porte, pelo fato dessas áreas estarem, muitas vezes
abandonadas, pois são áreas non aedificandi. O Poder Público planeja obras institucionais, já as áreas de
domínio privado não têm investimentos por não serem áreas com valores imobiliários.
Para Barros (2005), diferente do que acontece nos grandes conjuntos habitacionais, construídos pelo
Poder Público, para realocação de assentamentos informais, é que as áreas preservação permanente
apresentam-se como sendo áreas preferenciais para ocupação por parcela significativa da população pelo
fato de estarem situadas próximas aos serviços e aos pontos de transporte coletivo, o que normalmente
não acontece nos conjuntos habitacionais. É certo também, para Bueno (2008), que nas áreas de
preservação permanente urbanas, quando se consegue impedir o lançamento de esgotos domésticos e
mantê-los livres, os mesmos tornam-se valorizados para o uso humano.
Desta forma, áreas de preservação permanente, serão sempre uma das opções mais viáveis para aqueles
que não dispõem de um teto para morar, já que essas áreas, quase sempre, estão sem uso definido e estão
em regiões estratégicas do meio urbano, pois as maiorias das cidades se desenvolveram ao longo dos rios
e córregos, fato desde as civilizações pré – históricas.

5. A SITUAÇÃO EM CUIABÁ

5.1. Rede hidrográfica


Cuiabá possui uma extensa rede hidrográfica que pertence a bacia do Rio Cuiabá. Essa característica
hidrográfica é condicionante direta da evolução urbana da cidade. Há recursos hídricos em todo o
perímetro urbano da cidade, tendo a região Norte 1 ribeirão e 6 Córregos, a Sul é cortada pelo Rio
Cuiabá, Coxipó e 12 córregos, a Leste, sendo a de maior potencial através do Rio Cuiabá, Coxipó e outros
6 córregos e a Oeste também privilegiada pelo Rio Cuiabá, 1 ribeirão e 6 córregos.

5.2. Áreas de risco


O acelerado crescimento urbano e o serviço de saneamento, não acompanhando o crescimento da cidade,
provocam o despejo de lixo doméstico e efluente industriais sem tratamento nas águas, comprometendo a
qualidade dos principais rios e córregos da cidade.O desmatamento das matas ciliares que ocorre pelo
aumento da densidade populacional sem controle planejado, provoca hoje, o assoreamento das margens
de rios e córregos e a degradação desse importante ecossistema. As principais áreas de risco da cidade
ocorrem ás margens desses recursos hídricos, repetindo a mesma situação em todas as regiões da cidade.

5.3. Porque uma área de preservação permanente

A cidade de Cuiabá é privilegiada por possuir uma extensa rede hidrográfica, isso favoreceu a ocupação
do sitio urbano, que a partir da década de 60 tornou-se mais veloz, impulsionado pelo planejamento do
governo militar central. O incentivo à urbanização motivou o êxodo rural, e também a imigração
interestadual, esses imigrantes muitas vezes procuraram se instalar em locais de fácil acesso, como às
margens dos rios, que ao longo dos anos tornou-se cenário de inúmeras favelas, comodatos ou ainda de
áreas de plantio de hortigranjeiros para abastecer a cidade.
Ao longo dos anos, o Poder Público mostrou-se cada vez mais preocupado com as áreas ambientais da
cidade, e atualmente o que rege essas áreas é a Lei complementar Nº 007 DE 27/08/93 - Plano Diretor de
Desenvolvimento Urbano. Plano Diretor, que segue as referencias do Estatuto da Cidade, define as
ZEIA’s. (Zonas Especial de Interesse Ambiental). Atualmente outro fator que está impulsionando os
projetos nas ZEIA’s é o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), promovido pelo Governo

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Federal, que prevê milhões de reais para o Estado do Mato Grosso. Com isso, é visível a necessidade de
estudos especiais para projetos futuros nas ZEIA’s, A partir da análise das de preservação permanente na
cidade viu-se que a maioria delas é de domínio público e pelo fato de serem áreas non aedificandi
acarretam a banalização do uso ocasionando o baixo valor imobiliário. Essas áreas são as que compõem,
muitas vezes, os vazios urbanos da cidade, por isso são os primeiros lugares que a habitação informal
recorre ou mesmo o Poder Público as utilizam como vias de acesso.
Assim, com o investimento do Poder Público e com a problemática da habitação informal, que envolve as
áreas de risco é explicito a necessidade de ações mitigatórias, como o desenvolvimento de políticas
públicas que visam projetos de requalificação ambiental, que preserve a flora, fauna e corpos d’água e
ainda ofereça à comunidade um espaço de lazer e contato direto com a natureza.

6. ANÁLISE DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

A proposta de intervenção urbanística foi desenvolvida nas áreas de preservação permanente do córrego
Três Barras na cidade de Cuiabá – MT. A área está localizada na Região Administrativa Norte, localizada
no extremo norte da cidade. A delimitação do local compreende a grande extensão do Córrego Três
Barras, que por sua vez possui vários efluentes. Pela sua territoriedade o Córrego é parte de diversos
bairros da cidade. Para caracterizar a população local analisou-se o perfil sobre a classe de renda.
Contatou-se que a maior parte dos bairros que compreendem o entorno do Córrego Três Barras são de
renda baixa.

FIGURA 1: (a) Extensão do Córrego Três Barras.Fonte: Defesa Civil; (b) Esquema da intervenção urbanistica geral
com ênfase no parque linear proposto. Fonte: AUTORES, 2010.

6.1. Programa Habitar Brasil / BID

O Programa Habitar Brasil / BID nasceu de uma saudável mudança em relação às antigas políticas
habitacionais promovidas pelo governo, que se restringiam unicamente à produção de conjuntos
habitacionais. O Programa promove o resgate da cidadania a partir da integração de todo um grupo coeso
de intervenções que interagem entre si em favor da comunidade beneficiada.
No ano de 2001, segundo dados Perfil Sócio Econômico de Cuiabá (2009), construíram oitocentas casa
com recursos federais, no valor de R$ 5,6.milhões, para o atendimento aos desabrigados do temporal
ocorrido neste ano. Foram previstos para o ano de 2002 o recebimento de R$ 9,8 milhoes do Programa
Habitar Brasil/BID para melhoria das condições de habitabilidade das populações que moravam em áreas
de risco. Contratou-se, por esse programa, a construção de 755 unidades habitacionais, com a respectiva

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infra-estrutura, visando a remoção das famílias residentes em áreas de rico, priorizando-se os ocupantes
de áreas às margens do córrego Três Barras. Das unidades habitacionais contratadas, construiu-se 186
unidades no Jardim Umuarama II, 405 no Jardim das Aroeiras e 163 no Jardim Paraná, entregues no ano
de 2007. No âmbito do Programa Habitar Brasil/BID foram desenvolvidos diversos projetos, tais como o
Projeto de Remanejamento de Assentamentos Subnormais; o Projeto de regularização fundiária e o Plano
de recuperação de área degradada.

6.2. Análise da situação atual

6.2.1 Córrego Três Barras


Para comprender toda a esfera que circunta o as áreas de preservação permantes do Córrego Três Barras
foram feitas visitas in loco. Constatou-se que algumas informações repassadas pela Prefeitura Municipal
de Cuibá, como a existência de intervenções urbanisticas ao longo do córrego, supostamente feita por
construtoras para quitar dívidas com o órgão público, são inexistentes. Vale à pena ressaltar que por toda
extensão da área, a maior parte dos bairros, pertence à classe de renda baixa. Essa caracteristica reflete
diretamente nos altos indices de invasão das APP’s no local.
A realidade do local é alarmante. Existe diversos cenarios ao longo do córrego, já que ele é parte de
inumeros bairros da cidade. No entanto, a degradação ambiental e consequentemente a visual está
explicita por toda região. Há lixo por toda extensão do leito, a falta de intervenção pública transfere ao
local o menosprezo da população. Outro fato preocupante são as condições de habitabilidade das
edificações locais. As casas que estão em APP’s são as mais deteriorizadas dos bairros e as ligações de
esgoto são visivelmente precarias e inadequadas.

FIGURA 2: Registros de habitações precárias no limite entre os bairros Novo Horizonte e Dr. Fábio Leite. Fonte:
AUTORES, 2010.

6.2.2 Jardim das Aroeiras e Jardim Umuarama II


Para compreender quais foram os resultados do Projeto Habitar Brasil BID realizado na bacia do Córrego
Três Barras, foram caracterizadas as realidades locais, na atualidade. Os loteamentos Jardim das Aroeiras
e Jardim Umuarama II foram produtos do Projeto, que em sua minuta eram oferecidos toda a infra-
estrutura urbana. No entanto, ainda hoje, não foram implantados os equipamentos institucionais, as áreas
de lazer são apenas imensos campos verdes. Verificou-se que muitas ruas não possuem pavimentação, ou
mesmo as que possuem estão em péssimas condições. Em conversa com moradores locais foi possível
constatar que muitos que receberam a habitação para retirar-se das APP’s voltaram ao local de origem,
fato que se deve a inúmeros fatores. A preferência pelas APP´s foi relatada de diferentes formas pela
população. A localização do córrego perante a cidade, ou mesmo a proximidade ao locais de costumes de
quem morava na anos na região, a ambição pelo valor de troca que a HIS gerou, a inexistência de ações
públicas nas APP’s caracteriza a terra como “terra de ninguém” , entre outros.
Enfim, as habitações foram entregues, os moradores iniciais foram retirados de uma parte do Córrego,
pois o projeto não seria capaz de atingir a todos, já que a população, segundo a Prefeitura Municipal de
Cuiabá, girava em torno de duas mil famílias. A parecela que aceitou a mudança não garantiu o sucesso
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do Projeto Habitar Brasil BID, já que as diretrizes de intervenção urbanística ao longo do Três Barras não
foi concretizada.

FIGURA 3: Habitação como foi entregue ao beficiário, sem interveçõesno Bairro Jardim Aroeira. Residência típica
encontrada no Bairro Umuarama II.Fonte: AUTORES, 2010.

7. A PROPOSTA URBANÍSTICA

A proposta de intervenção urbanística tem como principal objetivo criar um novo conceito de vida aos
moradores que estão no entorno do Córrego Três Barras e seus afluentes. Uma abordagem diferente entre
o conceito de morar e conviver intensamente com a presença de um leito natural. Criar novos costumes é
meta do projeto e é também sinônimo de melhor a qualidade de vida de cada cidadão lá residente e aos
novos que serão atraídos para o mesmo.
A partir da análise da área proposta é possível identificar a viabilidade e a necessidade que os bairros têm
de uma intervenção urbanística, devido à precariedade da infra estrutura, a falta de equipamentos
públicos, a irregularidade fundiária e a ocupação existe em Áreas de Preservação Permanente, que tendem
a aumentar com o crescimento que é visível em seu entorno.

7.1. Artifícios de Urbanismo

Com o intuito de recuperar as margens do Córrego Três Barras a proposta urbanística faz uso dos
conceitos de sustentabilidade, onde o principal agente é envolvimento da população local em todo o
processo. Como instrumento urbanístico foram traçadas diretrizes projetuais, tais como:
TABELA 2 - Diretrizes projetuais
1- Promover a manutenção das encostas, da mata ciliar 10- Recuperar áreas degradadas, transformando - as em
e da qualidade da água; Parque Linear;
2- Fazer o replantio de mudas de árvores nativas 11- Promover a requalificação urbanística e a
diversas para garantir vitalidade da mata ciliar, já que a regularização fundiária dos assentamentos habitacionais
mata tem papel fundamental no ecossistema. Ações que precários, irregulares, e aos que não forem removidas
garantam não somente a recuperação das áreas de em sua plena inserção nos serviços de manutenção
nascentes e faixas ciliares, mas também a sua urbanos comum e melhorias habitacionais das famílias;
preservação futura;
3- Corrigir o solo e adubar, pois a área encontra-se 12- Promover no Parque eventos culturais, esportivos e
muito degradada e empobrecida em algumas regiões; de lazer;
4- Garantir a manutenção para limpeza das áreas, 13- Remover as famílias das áreas de risco;
catação de lixo e entulhos para combate a focos de
incêndios;
5- Gerar medidas preventivas, controle na ocupação das 14- Realizar de obras de caráter estrutural, como
várzeas e sistemas de alerta da defesa civil; hidráulicas, com diques, barragens e canalizações;
6- Promover Programa de Educação Ambiental com a 15- Promover o planejamento da reestruturação
população e crianças residentes nos bairros; habitacional nessas áreas;
7- Oportunizar a população hábitos de preservação 16- Coibir, novas ocupações por assentamentos
ambiental; habitacionais irregulares em áreas inadequadas;

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8- Recuperar as áreas de preservação permanete na sua 17- Garantir, em casos de necessidade de remoção de
área de influência, respeitando e protegendo planícies famílias em áreas de riso, ou por necessidade de
de inundação naturais; urbanização, o atendimento habitacional das famílias a
serem removidas, com a participação dessas no processo
de decisão;
9- Controlar inundações em áreas habitadas; 18-Garantir a participação efetiva da população na
preservação;
Fonte: AUTORES, 2010.

7.2. Soluções projetuais


O desenvolvimento da proposta caracterizou-se em tentar melhorar a qualidade de vida dos moradores
locais com o mínimo de intervenção possível. Por consequencia da vasta extensão do Córrego Três Barras
o estudo aponta diretrizes projetuais e localiza quais os principais pontos a serem desenvolvidas
intervenções urbanísticas prioritárias.
Os pontos denominados para intervenção foram definidos segundo as principais vias de acesso dos
bairros envolventes. E por serem pontos de intersecção com alguns afluentes do Córrego Três Barras.
Esses locais foram criados para que em estudo futuros desenvolvam-se parques lineares, com o intuito de
revitalizar as áreas degradas e seja o instrumento para impedir novas ocupações em APP”s. Já no presente
estudo foi projetado apenas um dos três parques propostos para a intervenção local.

7.2.1. Traçado urbano

No traçado urbano, conforme FIGURA 5(a), foram abertas algumas ruas coletoras para facilitar o fluxo
entre os bairros. Isso se deve ao fato de criar-se um grande parque linear que será ponto de referencia
local. Para suprir as necessidades do público freqüentador do parque era indispensável desenhar ruas que
favorecessem o fácil acesso ao mesmo e permitisse a travessia entre os bairros.

FIGURA 4: (a)Traçado urbano existente/proposto; (b) Esquema da setorização do parque linear proposto. Fonte:
AUTORES, 2010.

7.2.2. Parque Linear

Um grandioso parque traduz muitas diretrizes propostas. O Parque Linear tem como finalidade principal
aguçar todos os sentidos dos usuários, através de cada ambiente destinado a um uso diferente. Nele há
também a geração de trabalho e renda através do pomar e horta, a educação ambiental ensinada no centro
comunitário, que será também um centro para oficinas profissionalizantes e ainda é contemplado por uma

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grandiosa praça de esculturas, onde haverá o incentivo a arte local e o contato direto com a cultura,
FIGURA 4 (b). Todo projeto foi desenvolvido seguindo as legislações ambientais e favorecendo a
reconciliação da mata ciliar.

8. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O estudo visa fornecer uma introdução quanto ao tema habitação adaptável e evolutiva, mostrando através
deste trabalho foi possível estabelecer que há uma diversidade imensa em critérios de urbanização de
áreas de preservação permanente. O mesmo contribuirá para a concretização do tema e a eterna discussão
sobre como estão sendo produzidas as habitações de interesse social no país.
É possível também evidenciar que para analisar um tema tão abrangente como este, deve-se fazer uso de
uma multidisciplinaridade de áreas, não apenas arquitetônica mais também sociológica, econômica e
outras, pois a questão não é apenas de como aquele ser humano está vivendo naquele determinado habitat,
mas sim como ele se relaciona com o mesmo, quais as condições o levaram até este meio de ocupação
irregular. Com isso há inúmeras decisões que podem ser continuadas através desta pesquisa e completar o
assunto que no país e principalmente no estado não é muito difundido.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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MARICATO, Ermínia. A produção capitalista da casa e da cidade no Brasil industrial. São Paulo:
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TRAMONTANO, Marcelo. O espaço da habitação social no Brasil: possíveis critérios de um
necessário redesenho. São Carlos: Editora Usp, 1995.

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