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RESUMO
O Brasil apresentou no decorrer histórico uma Política Habitacional marcada pelo fracasso de
programas habitacionais isolados. Os altos índices de déficit habitacional no país são resultados da
inadequação dessa política de habitação, onde os índices alcançam quase oito milhões de moradias. O
trabalho tem como objetivo descrever a política habitacional no Brasil e analisar a política (2003 –
2010). Relatar sobre os programas propostos e desenvolvidos, investimentos e realizações. O estudo
apóia-se estritamente na literatura existente sobre o tema e conclui sob uma visão imparcial o cenário
existente no país sobre a questão habitacional. A partir da análise conceitual da política foram
contrapostas as opiniões dos especialistas da área. Com isso, foi possível contextualizar a real situação
da Política Habitacional no Brasil e indagar sobe os aspectos positivos e negativos sobre a mesma.
Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, s/n., FAET, Bloco C, Sala 12, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail:
hmetello@ gmail.com
1. INTRODUÇÃO
1.1 Política habitacional do higienismo
A questão habitacional começou a ser discutida no país quando as cidades começaram a crescer em
meados da década de 1880, a população urbana buscou a melhoria de qualidade de vida e trabalho
assalariado. O êxodo rural foi incentivado perante as ofertas de emprego da indústria. A necessidade
de mão – de - obra quantitativa atraiu para os centros urbanos não somente os trabalhadores rurais,
mas também os imigrantes e os escravos libertos.
No período entre 1886 e 1900 que as grandes cidades, como São Paulo, explodem, desencadeando a
primeira crise habitacional do país segundo Rolnik apud Bonduki (2004). Com este novo contingente
de habitantes a cidade passou a exigir mais infra - estrutura urbana, como transportes mais rápidos,
redes de distribuição de água e de coleta de esgotos, pois ambos cresciam num ritmo que não supria
toda a população.
(a) (b)
Figura 1: São Paulo em 1900 : (a) Colocação de trilhos de bonde na Rua Direita com
Rua São Bento; (b) Inauguração da linha de bondes Bom Retiro. Fonte
(http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/1900.php )
Com as condições urbanas deterioradas e o aumento extraordinário da taxa de ocupação das moradias
veio à tona o risco à saúde publica. Há pouca literatura que relata sobre as habitações populares neste
período, os únicos indícios são referentes ao tema segundo ao perigo que causavam para as condições
sanitárias da cidade.
(a) (b)
Figura 2: Fotos publicadas no livro A Campanha Sanitária de Santos: (a) Condições
precárias do Largo do Rosário em 1908; (b) Inundação da Rua Santo Antonio em 1905.
Fonte (http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0353e.htm )
Bonduki (2004) relata que no final do século XIX o problema habitacional passa ser o comitante aos
primeiros indícios de segregação espacial nos centros urbanos. E como resposta espontânea deste
cenário desenvolveu-se a “habitação evolutiva”, e por ela entendia-se aquela que num mesmo terreno
ou sob mesmo teto abriga famílias distintas que se constituíam em unidades independentes. Coelho
(2002) classificou dentro desta categoria os cortiços, as estalagens, as avenidas, as casas cômodos, as
vilas operarias e as vilas populares.
O Poder Público passa a intervir, sob pressão dos higienistas e perante a deteriorização da vida na
cidade, através de uma legislação regulamentadora do setor habitacional. O Estado liberal (1889 -
1930) relutava o máximo para não interferir nos interesses da sociedade, porém na esfera habitacional
foi impossível manter-se inerente. A questão sanitária passa ser o foco do Estado sob a justificativa de
controle do espaço urbano e moradia dos trabalhadores.
O processo de higienismo impôs novas regras como a demolição dos cortiços, mas a realidade urbana
não cumpriu ao pé da letra a legislação, já que era impossível desabrigar inúmeros moradores. Houve
a demolição de uma enorme quantidade de imóveis situados, principalmente, no centro da cidade. Para
barrar o crescimento de habitações insalubres o Governo estimulou as indústrias à construção de vilas
operarias com condições mínimas e higiênicas. O sucesso do modelo proposto comprometeu-se, pois a
casa coletiva passou a ser vista pelos operários como uma forma de prisão junto ao emprego, um tipo
de servidão temporária.
A partir de 1930 as intervenções do Estado no setor habitacional passam a ser mais expressivas.
Bonduki (2004) afirma que entre 1930 – 1945 o tema da habitação social foi colocado com uma força
jamais vista anteriormente. A questão sanitária passa ser segundo plano, já que a habitação é condição
básica da força de trabalho. Surge, a partir de então, o ideal pela casa própria.
Como ações do Governo criaram-se as Carteiras Prediais de Aposentadoria e Pensões (IAP) que
substituíram as Caixas de Pensão. O foco da política populista de Vargas foi à criação do Ministério
do Trabalho, Indústria e Comercio e para regular o mercado imobiliário rentista a Lei do Inquilinato.
Em 1946 fundou-se a Fundação da Casa Popular (COELHO, 2002), órgão especifico para tratar dos
problemas habitacionais – base para criação do BNH, depois de duas décadas.
A Fundação da Casa Popular, no entanto, foi uma tentativa frustrada da política habitacional de 1940,
segundo Bonduki (2004), mesmo que a instituição tenha produzido cerca de 140 conjuntos com
18.132 unidades habitacionais ficou evidente neste órgão as contradições do populismo brasileiro e as
limitações no setor habitacional. Os grupos sociais que seriam os beneficiados com as ações da
instituição não agiram junto ao governo deixando que os especuladores econômicos ou políticos
agissem de forma para desestruturar a Fundação.
A crise habitacional atingiu seu apogeu no período da Segunda guerra mundial e nos anos seguintes. A
falta de moradia causou o descontentamento da população que atingiu a imprensa e passou a ser tema
indispensável nos discursos políticos. Em síntese, Bonduki (2004), durante quase vinte anos de intensa
Na década de 50, os programas de habitação decaíram e ficaram inviáveis aos Institutos e a FCP, face
ao mau emprego dos recursos, às medidas de congelamento dos aluguéis e à inflação. Em 1961, surgiu
o Plano de Assistência Habitacional, que tinha como inovação a fixação da prestação máxima do
financiamento em 20% do salário mínimo. Para participar do programa era necessária a estabilidade
no emprego e tempo de residência no mesmo local.
Após 1964 houve mais mudanças em relação à política habitacional e foram criados o Sistema
Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH), que tinham como metas
produzir habitação em massa. O surgimento do BNH caracterizou-se pela preocupação de incentivar a
indústria da construção civil, na crença de que seus efeitos refletissem positivamente nos demais
setores da economia, que se encontravam bastante estagnados.
(b)
(a)
Figura 4: Conjunto Residencial do Pedregulho, 1952, Affonso Eduardo Reidy, marco da habitação popular:
(a) Implantação; (b) Caráter monumental do Bloco A. Fonte (BONDUKI, Nabil (org.). Affonso Eduardo
Reidy)
O BNH agrupou num sistema único todas as instituições públicas e privadas e passou a centralizar a
política habitacional do país, o seu capital vinha principalmente da arrecadação do FGTS, criado em
1966. Na mesma época criou-se o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) com a
finalidade de aumentar a captação de recursos através da poupança privada.
Ao final da década de 1960, os índices de inadimplência já eram significativos e o BNH passou a fazer
transferências para os seus agentes dos recursos financeiros e as cobranças das dívidas dos
financiamentos. Foram retomados pelo BNH programas voltados para a habitação popular, como as
Companhias Habitacionais (COHABs), o Plano de Habitação Popular (PLANHAP) e o Sistema
Financeiro de Habitação Popular (SIFHAP).
No período entre o fim do BNH (1986) e a criação do Ministério das Cidades (2003), o setor do
governo federal responsável pela gestão da política habitacional esteve subordinado a sete ministérios
ou estruturas administrativas diferentes, caracterizando descontinuidade e ausência de estratégia para
enfrentar o problema. (BONDUKI, 2008).
A crise econômica nas décadas de 80 e 90 acarretou, segundo Bonduki (2008), o enfraquecimento dos
financiamentos, o agravamento dos problemas de moradia da população urbana, conseqüência do
empobrecimento. Esta fase pode ser caracterizada como um período de transição, momento em que
deixou de existir uma estratégia nacional para enfrentar a questão da habitação, vazio que foi ocupado
de forma fragmentária, mas criativa, por Municípios e Estados.
O marco na questão habitacional no país foi a Constituição de 1988, que inseriu a habitação como
direito de todo cidadão e legalizou a responsabilidade sobre ela aos, de qualquer nível. Essa imposição
remete a uma nova postura dos municípios sobre o problema habitacional.
Bonduki (2008) relata que a retomada dos financiamentos com base no FGTS, depois de vários anos
de paralisação, acontece no inicio do Governo Fernando Henrique Cardoso, 1995. Em 1996 a gestora
do setor habitacional passa ser Secretaria de Política Urbana, que divulgou o documento da Política
Nacional de Habitação. Criou-se também um Programa voltado para o poder público, focado na
urbanização de áreas de áreas precárias (Pró-Moradia), paralisado em 1998, e teve um desempenho
pífio. Já em 1999, foi instituído o Programa de Arrendamento Residencial – PAR –, programa
inovador voltado à produção de unidades novas para arrendamento que utiliza um mix de recursos
formado pelo FGTS e recursos de origem fiscal. No entanto, os investimentos votados para o setor
habitacional sofreram com ajuste fiscal e somente no governo de Luiz Inácio da Silva que foi possível
superar este obstáculo e colocar em prática a nova política habitacional, de acordo com o proposto no
Projeto Moradia.
2. OBJETIVOS
Descrever a política habitacional no Brasil e analisar a política (2003 – 2010). Relatar sobre os
programas propostos e desenvolvidos, investimentos e realizações.
3. METODOLOGIA
Revisão bibliográfica da literatura existente sobre a questão habitacional no país, seguindo as etapas:
1- Livros; 2- Periódicos e artigos no Portal da Capes; 3 – Informações e dados nos sites do Governo
Federal.
O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) teve como uma das suas principais conquista a
formulação de um novo paradigma para estruturar a Política Nacional de Habitação através do órgão
coordenador, gestor e formulador – o Ministério das Cidades - instituído em janeiro de 2003. Essa
O principal programa que impulsionou o setor habitacional nos primeiros anos de governo Lula foi o
Projeto Moradia. Projeto deu continuidade às linhas do governo anterior. Outro marco do setor
habitacional foi, em 2005, a criação do FNHIS - Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e a
aprovação da Resolução 460 pelo Conselho Curador do FGTS favorecendo o direcionamento dos
recursos em detrimento das classes mais carentes do país. O Conselho do Fundo, que tem a
participação da sociedade civil, relata Maricato (2006), tomou posse em 2006 e começa a trabalhar
para criar um novo tempo na política habitacional e urbana a partir da organização do Sistema
Nacional de Habitação de Interesse Social. A prioridade, de acordo com a lei, é a população de baixa
renda.
4.1 Definição
O Ministério das Cidades definiu a nova Política Nacional de Habitação como um recurso para a
retomada do processo de planejamento do setor habitacional com o função de garantir novas condições
institucional para promover o acesso à moradia digna a todos os segmentos da população. A política,
em vigor, foi elaborada durante o ano de 2004 e contou com a contribuição de diversos atores que
participaram de vários seminários.
4.1.1 Princípios
A nova política habitacional é regida por uma lista de princípios que estão descritos na Tabela 1. A
moradia digna e a função social da propriedade têm com o intuito de cumprir as suas reais funções,
deixando de ser apenas parte de uma legislação. A integração de todo o processo de implantação da
política é inquestionável. Em resumo, a meta desse artifício institucional é colocar a habitação como
fundamento das políticas publicas e que esse processo tenha a participação de toda a sociedade.
Tabela 1 – Princípios da Política Nacional de Habitação
Área de atuação
1- Direito à moradia, enquanto um direito humano, individual e coletivo;
Moradia digna como inclusão social garantindo padrão mínimo de habitabilidade, infra-estrutura, saneamento
2-
ambiental, mobilidade, transporte coletivo, equipamentos, serviços urbanos e sociais;
Função social da propriedade urbana buscando implementar instrumentos de reforma urbana e forma a combater a
3-
retenção especulativa e garantir acesso à terra urbanizada;
Questão habitacional como uma política de Estado, o poder público é agente indispensável na regulação urbana e do
4-
mercado imobiliário, na provisão da moradia e na regularização de assentamentos precários;
Gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade, possibilitando controle social e
5-
transparência nas decisões e procedimentos;
6- Articulação das ações de habitação à política urbana de modo integrado com as demais políticas sociais e ambientais.
Fonte (CIDADES, 2004)
4.1.2 Objetivos
Os objetivos traçados pelo Governo Federal são síntese (ver Tabela 2) de uma grande discussão em
prol da habitação de interesse social no país. Seguindo os mesmo conceitos dos princípios, já
4.1.3 Diretrizes
Para direcionar a Política Nacional de Habitação foram traçadas algumas diretrizes. A Tabela 3
especifica apenas as principais áreas de atuação do programa, pois cada item citado é complementado
por outras diretrizes no escopo original da política. Os segmentos que regem a política são desde o
desenvolvimento institucional, a forma de captação de recursos á integração das políticas publicas.
Tabela 3 – Diretrizes da Política Nacional de Habitação
Área de atuação
1- Desenvolvimento institucional
2- Mobilização de recursos, identificação da demanda e gestão de subsídio
3- Qualidade e produtividade da produção habitacional
4- O Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento da Habitação
5- Urbanização de assentamentos precários e produção da habitação
6- Integração da política habitacional à política de desenvolvimento urbano
Fonte (CIDADES, 2004)
4.2 Implantação
4.2.1 Programas e ações
A política de habitação popular atual continua tendo como objetivo principal viabilizar a aquisição da
casa própria, mesmo com as mudanças institucionais ocorridas nos últimos anos e tendo o FGTS e o
Orçamento Geral da União (OGU) como fontes principais de recursos. O Ipea (2007) relata que esses
recursos são, ainda, insuficientes para atender a demanda corrente e reduzir o déficit de moradias.
Os principais programas habitacionais representam iniciativas do governo federal e foram criados na
segunda metade da década de 1990. Esses programas se caracterizam por financiar, primeiro, a casa
própria para o mutuário final e, segundo, promover algum tipo de parceria com os governos estaduais
e municipais. Com relação à distribuição geográfica dos recursos, dados do Ipea (2007), é feita por
Unidades da Federação de acordo com o déficit habitacional, tamanho da população e arrecadação do
FGTS, com exceção dos recursos das Operações Especiais e do Programa de Arrendamento
Residencial (PAR).
O Ministério das Cidades afirma que o programa habitacional popular que está em voga é o Minha
Casa Minha Vida. Um programa que tem como objetivo atender as necessidades de habitação da
população de baixa renda nas áreas urbanas, garantindo o acesso à moradia digna com padrões
mínimos de habitabiliadade.
Alem da meta de cumprir um índice quantitativo de moradias o Governo desenvolveu o programa com
o intuito de viabilizar e simplificar o processo de para a aquisição de um imóvel. Outro diferencial do
programa é a grande divulgação do governo, promovendo desde cartilhas explicativas até a forte
propaganda nos meios de comunicação, com o objetivo de divulgar e alcançar a população alvo (zero a
três salários mínimos).
A distribuição dos recursos foi determinada segundo os dados do déficit habitacional do país. O maior
déficit habitacional, segundo Ministérios das Cidades, está em 90,9% na população que recebe entre
zero e três salários mínimos, justificando a população alvo do programa. A concentração desses dados
está 36,4% na região Sudeste e 34,3% na Nordeste, explicado o direcionamento proporcional dos
recursos. Através do programa, o Governo, pretende reduzir o índice do déficit habitacional em 14%
no país.
A Política Habitacional (2003-2010) compreende desde a criação do Ministério das Cidades até as
ultimas iniciativas do governo Lula no setor habitacional, como o Programa Minha Casa, Minha Vida.
Através do Ministério foi possível articular as reivindicações históricas dos movimentos sociais com
aquelas do setor da construção, definir prioridades e, finalmente, dotar o país de uma efetiva Política
Nacional de Habitação. Além deste marco houve segundo Mattos (2006), importantes mudanças que
foram introduzidas na CAIXA – principal agente público para a habitação - com a criação de novos
O empenho do governo esteve explicito através dos métodos de implantação da nova Política
Habitacional. No entanto a fragilidade do Ministério é que, em tese, ele é o responsável pela gestão da
política, mas na prática a CAIXA, por estar presente em todas as cidades, é responsável pela
aprovação dos financiamentos e acompanhamento das obras.
Maricato (2006) descreve que os investimentos no setor habitacional giraram entre 2003 à 2006
entorno de R$ 28 bilhões com recursos do FGTS, OGU, FAT, FAR, FDS e Caixa Econômica Federal
(Gráfico 1) atendendo mais de 1.6 milhões de famílias sendo 70 % com renda mensal de até cinco
salários mínimos. Além destes recursos, medidas adotadas pelo CMN – Conselho Monetário Nacional
- para o direcionamento da poupança resultaram na disponibilidade de mais R$ 8,7 bilhões para o
atendimento da classe média.
Gráfico 1 – Fontes de recursos: FGTS, Subsidio FGTS, FAR, FDS, OGU, FAT, CAIXA. Fonte (MARICATO,
2008)
A partir de 2005, Bonduki (2008) relata que ocorreram alterações relevantes na área de financiamento
habitacional, tanto no que se refere ao subsistema de habitação de mercado quanto no de interesse
social. Houve uma elevação dos investimentos, de todas as fontes de recursos, ampliação do subsídio,
foco mais dirigido para a população de baixa renda. Houve neste período a retomada do SBPE –
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo - e a abertura do capital do setor imobiliário
significaram um crescimento inusitado do crédito para a produção habitacional.
Bonduki (2008) descreve que o grande avanço no Subsistema de Interesse Social foi através da
aprovação da Resolução 460 do Conselho Curador do FGTS, que estabeleceu diretrizes para a
aplicação dos recursos e a elaboração das propostas orçamentárias do FGTS, no período de 2005 a
2008. Com isso acontece uma massiva aplicação de recursos deste em subsídios habitacionais. Com
este subsídio e com outras alterações nos programas existentes, foi possível ampliar o atendimento na
faixa de renda mais baixa, onde o déficit se concentra.
Gráfico 3 - Carta Crédito FGTS - individual na planta – atendimentos / unidades, através das faixas de salário.
Fonte (BONDUKI, 2008)
Como estratégia para que o setor privado produzir moradias para as classes mais baixas, camada que
concentra o déficit habitacional do país, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da silva lançou o
Programa Minha Casa e Minha Vida. A um ano de seu lançamento o programa ainda está longe de sua
meta de contratar 1 milhão de casas para as famílias com rendimento mensal de até R$ 4.650. Segundo
número obtido por Simão (2010), 367 mil unidades habitacionais foram contratadas, o que representa
35,6% do compromisso assumido pelo governo. As razões são inúmeras, Chap (2010) coloca que boa
parte delas até justificáveis, como o tempo médio de aprovação de empreendimentos, os óbices criados
por legislações (notadamente de ordem ambiental), a velocidade das prefeituras na oferta de áreas para
habitações na faixa de zero a três salários mínimos.
O governo afirma que ainda é muito cedo para fazer um balaço do programa já que o prazo médio de
construção é de um ano a um ano e meio. Assim, a partir de junho de 2010 os resultados começaram a
serem vistos. Ao final de junho, portanto, será possível obter uma visão mais palatável da efetividade
do programa.
Outra questão levantada por críticos é que as metas do programa preconizam os índices quantitativos
das habitações, deixando muitas vezes a desejar na qualidade dessas construções. Rolnik (2010)
acredita que a produção deve ser de uma moradia adequada que segundo ela não é só a casa com
parede, teto, banheiro com azulejo. A moradia adequada é um lugar a partir do qual o cidadão passa a
ter satisfeitas as necessidades básicas e fundamentais de subsistência nas cidades com dignidade. Isso
“Minha Casa Minha Vida tem outra natureza. É um programa que exerce uma
função fundamental do Estado, que é subsidiar quem não tem acesso via mercado a
um bem. Acho que os elementos mais complicados no pacote não são o de ter um
resultado eleitoral, mas é o problema como ele se relaciona com a questão urbana
como um todo. Se todo investimento para a baixa renda for considerado populismo,
não vai haver mais nada para os pobres.” (ROLNIK, 2010)
Portanto, cabe ao governo criar algum método de avaliação para verificar qual é a qualidade do
produto resultante do programa Minha Casa Minha Vida. Pois, a Caixa, o órgão mais atuante neste
processo, não tem recursos estruturais para aderir a mais essa função. Vale ressaltar, mesmo que o
programa não atinja todas as suas metas, ele é a marca que está impulsionando o setor habitacional,
principalmente beneficiando as classes de baixa renda do país. Por fim, independe das distorções e
lacunas, o programa deu mais um passo no sentido de construir políticas publicas para garantir o
direito à habitação.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
“Desde o início dos anos 80, nunca as perspectivas foram tão boas para o enfrentamento em
larga escala do problema habitacional, inclusive para a baixa renda. No entanto, se não forem
tomadas as medidas necessárias no âmbito do planejamento habitacional, da regulação
urbana, da cadeia produtiva da construção civil e da capacitação institucional, o crédito farto
poderá gerar um boom imobiliário, mas, novamente, os setores de baixa renda poderão ficar
de fora, reproduzindo-se o tradicional processo de exclusão territorial.” (BONDUKI, 2008).
O Brasil apresentou no decorrer histórico uma Política Habitacional marcada pelo fracasso de
programas habitacionais isolados. Os altos índices de déficit habitacional no país são resultados da
inadequação dessa política de habitação no Brasil, quase 8 milhões de moradias.
O problema habitacional no país não se resolverá apenas com programas habitacionais, pois eles não
atingem o segmento de pessoas excluídas não só do mercado habitacional, mas também de qualquer
processo econômico e social. Estas pessoas vivem nas ruas das grandes cidades, sob viadutos, sob
árvores e constituem os verdadeiros sem-teto da sociedade brasileira.
E vale à pena ressaltar que para qualquer que seja a política publica, o seu sucesso depende da atenção
e participação por parte do conjunto da sociedade. Afinal, as políticas públicas preconizam ações
coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, e no caso estudado a habitação.
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