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POLÍTICA HABITACIONAL DO BRASIL: ANTECEDENTES HISTÓRICOS E

ANÁLISE DA POLITICA (2003-2010)


Mariana Garcia de Abreu 1
João Mário de Arruda Adrião2
Humberto da Silva Metello3

RESUMO

O Brasil apresentou no decorrer histórico uma Política Habitacional marcada pelo fracasso de
programas habitacionais isolados. Os altos índices de déficit habitacional no país são resultados da
inadequação dessa política de habitação, onde os índices alcançam quase oito milhões de moradias. O
trabalho tem como objetivo descrever a política habitacional no Brasil e analisar a política (2003 –
2010). Relatar sobre os programas propostos e desenvolvidos, investimentos e realizações. O estudo
apóia-se estritamente na literatura existente sobre o tema e conclui sob uma visão imparcial o cenário
existente no país sobre a questão habitacional. A partir da análise conceitual da política foram
contrapostas as opiniões dos especialistas da área. Com isso, foi possível contextualizar a real situação
da Política Habitacional no Brasil e indagar sobe os aspectos positivos e negativos sobre a mesma.

Palavras-chave: Política habitacional; programas habitacionais, habitação de interesse social.

1 Arquiteta e Urbanista, Mestranda em Engenharia de Edificações e Ambiental - PPGEA/UFMT, Professora da Faculdade de


Arquitetura e Urbanismo e Coordenadora Adjunta do Laboratório de Habitação e Urbanismo da Universidade de Cuiabá –
UNIC marianagdeabreu@gmail.com
2 Arquiteto, Mestrando em Engenharia de Edificações e Ambiental - PPGEA/UFMT, Professor da Faculdade de Arquitetura

e Urbanismo e Coordenador do Laboratório de Habitação e Urbanismo da Universidade de Cuiabá – UNIC


joaomarioarquiteto@gmail.com
3 Doutor em Engenharia Civil, Professor Associado III da Faculdade de Arquitetura, Engenharia e Tecnologia, Universidade

Federal de Mato Grosso, Av. Fernando Correa, s/n., FAET, Bloco C, Sala 12, CEP 78060-900, Cuiabá-MT, E-mail:
hmetello@ gmail.com
1. INTRODUÇÃO
1.1 Política habitacional do higienismo
A questão habitacional começou a ser discutida no país quando as cidades começaram a crescer em
meados da década de 1880, a população urbana buscou a melhoria de qualidade de vida e trabalho
assalariado. O êxodo rural foi incentivado perante as ofertas de emprego da indústria. A necessidade
de mão – de - obra quantitativa atraiu para os centros urbanos não somente os trabalhadores rurais,
mas também os imigrantes e os escravos libertos.
No período entre 1886 e 1900 que as grandes cidades, como São Paulo, explodem, desencadeando a
primeira crise habitacional do país segundo Rolnik apud Bonduki (2004). Com este novo contingente
de habitantes a cidade passou a exigir mais infra - estrutura urbana, como transportes mais rápidos,
redes de distribuição de água e de coleta de esgotos, pois ambos cresciam num ritmo que não supria
toda a população.

(a) (b)
Figura 1: São Paulo em 1900 : (a) Colocação de trilhos de bonde na Rua Direita com
Rua São Bento; (b) Inauguração da linha de bondes Bom Retiro. Fonte
(http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/1900.php )

Com as condições urbanas deterioradas e o aumento extraordinário da taxa de ocupação das moradias
veio à tona o risco à saúde publica. Há pouca literatura que relata sobre as habitações populares neste
período, os únicos indícios são referentes ao tema segundo ao perigo que causavam para as condições
sanitárias da cidade.

(a) (b)
Figura 2: Fotos publicadas no livro A Campanha Sanitária de Santos: (a) Condições
precárias do Largo do Rosário em 1908; (b) Inundação da Rua Santo Antonio em 1905.
Fonte (http://www.novomilenio.inf.br/santos/h0353e.htm )

Bonduki (2004) relata que no final do século XIX o problema habitacional passa ser o comitante aos
primeiros indícios de segregação espacial nos centros urbanos. E como resposta espontânea deste
cenário desenvolveu-se a “habitação evolutiva”, e por ela entendia-se aquela que num mesmo terreno
ou sob mesmo teto abriga famílias distintas que se constituíam em unidades independentes. Coelho
(2002) classificou dentro desta categoria os cortiços, as estalagens, as avenidas, as casas cômodos, as
vilas operarias e as vilas populares.

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As habitações coletivas, solução espontânea para moradia dos trabalhadores urbanos, passa a ser um
problema para toda sociedade e os higienistas lideram a luta para extinguir este tipo de habitação. Com
isso a classe operaria afasta-se dos bairros centrais e seus moradores são obrigados a procurar
alternativa de habitação.

O Poder Público passa a intervir, sob pressão dos higienistas e perante a deteriorização da vida na
cidade, através de uma legislação regulamentadora do setor habitacional. O Estado liberal (1889 -
1930) relutava o máximo para não interferir nos interesses da sociedade, porém na esfera habitacional
foi impossível manter-se inerente. A questão sanitária passa ser o foco do Estado sob a justificativa de
controle do espaço urbano e moradia dos trabalhadores.

O processo de higienismo impôs novas regras como a demolição dos cortiços, mas a realidade urbana
não cumpriu ao pé da letra a legislação, já que era impossível desabrigar inúmeros moradores. Houve
a demolição de uma enorme quantidade de imóveis situados, principalmente, no centro da cidade. Para
barrar o crescimento de habitações insalubres o Governo estimulou as indústrias à construção de vilas
operarias com condições mínimas e higiênicas. O sucesso do modelo proposto comprometeu-se, pois a
casa coletiva passou a ser vista pelos operários como uma forma de prisão junto ao emprego, um tipo
de servidão temporária.

“... a produção rentista propiciou o surgimento de varias modalidades de moradia para o


aluguel. Uma delas foi a vila operaria, sob a forma de pequena moradias unifamiliares
construídas em serie... Existiam duas modalidade muito diversas de vilas operarias: uma, o
assentamento habitacional promovida por empresas destinadas a seus funcionários, outra
aquela produzida por investidores privados e destinados ao mercado da locação” (BONDUKI,
2004.)

A partir de 1930 as intervenções do Estado no setor habitacional passam a ser mais expressivas.
Bonduki (2004) afirma que entre 1930 – 1945 o tema da habitação social foi colocado com uma força
jamais vista anteriormente. A questão sanitária passa ser segundo plano, já que a habitação é condição
básica da força de trabalho. Surge, a partir de então, o ideal pela casa própria.

“As intervenções no setor habitacional ficaram na maior parte limitadas a algumas


experiências implementadas pelo higienismo até o inicio dos anos 30, depois pelas novas
propostas modernistas nos anos 40 e 50, mas não pertenciam estas novas idéias a uma ação
abrangente que tivesse como fim a solução, mesmo que em longo prazo, do problema
habitacional...” (COELHO, 2002.)

Como ações do Governo criaram-se as Carteiras Prediais de Aposentadoria e Pensões (IAP) que
substituíram as Caixas de Pensão. O foco da política populista de Vargas foi à criação do Ministério
do Trabalho, Indústria e Comercio e para regular o mercado imobiliário rentista a Lei do Inquilinato.
Em 1946 fundou-se a Fundação da Casa Popular (COELHO, 2002), órgão especifico para tratar dos
problemas habitacionais – base para criação do BNH, depois de duas décadas.

A Fundação da Casa Popular, no entanto, foi uma tentativa frustrada da política habitacional de 1940,
segundo Bonduki (2004), mesmo que a instituição tenha produzido cerca de 140 conjuntos com
18.132 unidades habitacionais ficou evidente neste órgão as contradições do populismo brasileiro e as
limitações no setor habitacional. Os grupos sociais que seriam os beneficiados com as ações da
instituição não agiram junto ao governo deixando que os especuladores econômicos ou políticos
agissem de forma para desestruturar a Fundação.

A crise habitacional atingiu seu apogeu no período da Segunda guerra mundial e nos anos seguintes. A
falta de moradia causou o descontentamento da população que atingiu a imprensa e passou a ser tema
indispensável nos discursos políticos. Em síntese, Bonduki (2004), durante quase vinte anos de intensa

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urbanização e agravamento do problema habitacional, sucessivos governos revelarem-se incapazes de
formular uma proposta que e atendesse as necessidades habitacionais, cada vez mais diversificadas.

1.2.Banco Nacional de Habitação (BNH)

Na década de 50, os programas de habitação decaíram e ficaram inviáveis aos Institutos e a FCP, face
ao mau emprego dos recursos, às medidas de congelamento dos aluguéis e à inflação. Em 1961, surgiu
o Plano de Assistência Habitacional, que tinha como inovação a fixação da prestação máxima do
financiamento em 20% do salário mínimo. Para participar do programa era necessária a estabilidade
no emprego e tempo de residência no mesmo local.

Após 1964 houve mais mudanças em relação à política habitacional e foram criados o Sistema
Financeiro de Habitação (SFH) e o Banco Nacional de Habitação (BNH), que tinham como metas
produzir habitação em massa. O surgimento do BNH caracterizou-se pela preocupação de incentivar a
indústria da construção civil, na crença de que seus efeitos refletissem positivamente nos demais
setores da economia, que se encontravam bastante estagnados.

(b)
(a)
Figura 4: Conjunto Residencial do Pedregulho, 1952, Affonso Eduardo Reidy, marco da habitação popular:
(a) Implantação; (b) Caráter monumental do Bloco A. Fonte (BONDUKI, Nabil (org.). Affonso Eduardo
Reidy)

O BNH agrupou num sistema único todas as instituições públicas e privadas e passou a centralizar a
política habitacional do país, o seu capital vinha principalmente da arrecadação do FGTS, criado em
1966. Na mesma época criou-se o Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) com a
finalidade de aumentar a captação de recursos através da poupança privada.

Ao final da década de 1960, os índices de inadimplência já eram significativos e o BNH passou a fazer
transferências para os seus agentes dos recursos financeiros e as cobranças das dívidas dos
financiamentos. Foram retomados pelo BNH programas voltados para a habitação popular, como as
Companhias Habitacionais (COHABs), o Plano de Habitação Popular (PLANHAP) e o Sistema
Financeiro de Habitação Popular (SIFHAP).

O modelo institucional montado para a execução da política habitacional no Brasil pós – 64


visava atender a demanda de forma abrangente e contemplava os interesses imobiliários,
principalmente da construção civil e das grandes empreiteiras, que superestimavam o Ocorre,
assim, uma progressiva transferência de atribuições para os Estados e Municípios, tendo-se
como marco a Constituição de 1988, que tornou a habitação uma atribuição concorrente dos
três níveis de governo (BONDUKI, 2004)

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Em 1986 com a crise econômica no país enfraquece SFH e leva ao fim do BNH, ocasionando o
agravamento da situação habitacional principalmente da população de baixa renda, ao mesmo tempo
em que as condições de vida da população brasileira eram afetadas pelos mais altos índices de inflação
que o país já teve. Bonduki (2008) descreve que com a extinção do BNH perdeu-se uma estrutura de
caráter nacional que, mal ou bem, tinha acumulado enorme experiência na área, formado técnicos e
financiado a maior produção habitacional da história do país e com isso, transferiram todas suas
funções para a CAIXA ECONOMICA FEDERAL.

1.3. Política habitacional Pós - BNH

No período entre o fim do BNH (1986) e a criação do Ministério das Cidades (2003), o setor do
governo federal responsável pela gestão da política habitacional esteve subordinado a sete ministérios
ou estruturas administrativas diferentes, caracterizando descontinuidade e ausência de estratégia para
enfrentar o problema. (BONDUKI, 2008).

A crise econômica nas décadas de 80 e 90 acarretou, segundo Bonduki (2008), o enfraquecimento dos
financiamentos, o agravamento dos problemas de moradia da população urbana, conseqüência do
empobrecimento. Esta fase pode ser caracterizada como um período de transição, momento em que
deixou de existir uma estratégia nacional para enfrentar a questão da habitação, vazio que foi ocupado
de forma fragmentária, mas criativa, por Municípios e Estados.

O marco na questão habitacional no país foi a Constituição de 1988, que inseriu a habitação como
direito de todo cidadão e legalizou a responsabilidade sobre ela aos, de qualquer nível. Essa imposição
remete a uma nova postura dos municípios sobre o problema habitacional.
Bonduki (2008) relata que a retomada dos financiamentos com base no FGTS, depois de vários anos
de paralisação, acontece no inicio do Governo Fernando Henrique Cardoso, 1995. Em 1996 a gestora
do setor habitacional passa ser Secretaria de Política Urbana, que divulgou o documento da Política
Nacional de Habitação. Criou-se também um Programa voltado para o poder público, focado na
urbanização de áreas de áreas precárias (Pró-Moradia), paralisado em 1998, e teve um desempenho
pífio. Já em 1999, foi instituído o Programa de Arrendamento Residencial – PAR –, programa
inovador voltado à produção de unidades novas para arrendamento que utiliza um mix de recursos
formado pelo FGTS e recursos de origem fiscal. No entanto, os investimentos votados para o setor
habitacional sofreram com ajuste fiscal e somente no governo de Luiz Inácio da Silva que foi possível
superar este obstáculo e colocar em prática a nova política habitacional, de acordo com o proposto no
Projeto Moradia.

2. OBJETIVOS

Descrever a política habitacional no Brasil e analisar a política (2003 – 2010). Relatar sobre os
programas propostos e desenvolvidos, investimentos e realizações.

3. METODOLOGIA
Revisão bibliográfica da literatura existente sobre a questão habitacional no país, seguindo as etapas:
1- Livros; 2- Periódicos e artigos no Portal da Capes; 3 – Informações e dados nos sites do Governo
Federal.

4. POLITICA HABITACIONAL 2003-2010

O governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) teve como uma das suas principais conquista a
formulação de um novo paradigma para estruturar a Política Nacional de Habitação através do órgão
coordenador, gestor e formulador – o Ministério das Cidades - instituído em janeiro de 2003. Essa

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construção foi inspirada, segundo Maricato (2010), na tese desenvolvida no Projeto Moradia,
elaborada no ano de 2000. A estrutura do projeto é relativamente simples: ampliar o mercado privado
para atender a classe média e concentrar os recursos financeiros que estão sob gestão federal nas faixas
de renda abaixo dos 5 salários mínimos, onde se concentra 92% do déficit habitacional e a grande
maioria da população brasileira.

O principal programa que impulsionou o setor habitacional nos primeiros anos de governo Lula foi o
Projeto Moradia. Projeto deu continuidade às linhas do governo anterior. Outro marco do setor
habitacional foi, em 2005, a criação do FNHIS - Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social e a
aprovação da Resolução 460 pelo Conselho Curador do FGTS favorecendo o direcionamento dos
recursos em detrimento das classes mais carentes do país. O Conselho do Fundo, que tem a
participação da sociedade civil, relata Maricato (2006), tomou posse em 2006 e começa a trabalhar
para criar um novo tempo na política habitacional e urbana a partir da organização do Sistema
Nacional de Habitação de Interesse Social. A prioridade, de acordo com a lei, é a população de baixa
renda.

4.1 Definição

O Ministério das Cidades definiu a nova Política Nacional de Habitação como um recurso para a
retomada do processo de planejamento do setor habitacional com o função de garantir novas condições
institucional para promover o acesso à moradia digna a todos os segmentos da população. A política,
em vigor, foi elaborada durante o ano de 2004 e contou com a contribuição de diversos atores que
participaram de vários seminários.
4.1.1 Princípios
A nova política habitacional é regida por uma lista de princípios que estão descritos na Tabela 1. A
moradia digna e a função social da propriedade têm com o intuito de cumprir as suas reais funções,
deixando de ser apenas parte de uma legislação. A integração de todo o processo de implantação da
política é inquestionável. Em resumo, a meta desse artifício institucional é colocar a habitação como
fundamento das políticas publicas e que esse processo tenha a participação de toda a sociedade.
Tabela 1 – Princípios da Política Nacional de Habitação
Área de atuação
1- Direito à moradia, enquanto um direito humano, individual e coletivo;
Moradia digna como inclusão social garantindo padrão mínimo de habitabilidade, infra-estrutura, saneamento
2-
ambiental, mobilidade, transporte coletivo, equipamentos, serviços urbanos e sociais;
Função social da propriedade urbana buscando implementar instrumentos de reforma urbana e forma a combater a
3-
retenção especulativa e garantir acesso à terra urbanizada;
Questão habitacional como uma política de Estado, o poder público é agente indispensável na regulação urbana e do
4-
mercado imobiliário, na provisão da moradia e na regularização de assentamentos precários;
Gestão democrática com participação dos diferentes segmentos da sociedade, possibilitando controle social e
5-
transparência nas decisões e procedimentos;
6- Articulação das ações de habitação à política urbana de modo integrado com as demais políticas sociais e ambientais.
Fonte (CIDADES, 2004)

4.1.2 Objetivos
Os objetivos traçados pelo Governo Federal são síntese (ver Tabela 2) de uma grande discussão em
prol da habitação de interesse social no país. Seguindo os mesmo conceitos dos princípios, já

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descritos, a política pretende colocar a questão habitacional como foco nacional, alem de promover
ações em diversos setores para gerar moradias. Foi indispensável colocar como item primordial da
política a qualidade da produção habitacional, assim como promover outros aspectos sociais e
explicitando o Estado como mantenedor de todo este processo.
Tabela 2 – Objetivos da Política Nacional de Habitação
Área de atuação
1- Universalizar o acesso à moradia digna, prazo a ser definido no Plano Nacional de Habitação;
2- Promover a urbanização, regularização e inserção dos assentamentos precários à cidade;
3- Fortalecer o papel do Estado na gestão da Política e na regulação dos agentes privados;
4- Tornar a questão habitacional uma prioridade nacional;
5- Democratizar o acesso à terra urbanizada e ao mercado secundário de imóveis;
6- Ampliar a produtividade e melhorar a qualidade na produção habitacional;
7- Incentivar a geração de empregos e renda dinamizando a economia.
Fonte (CIDADES, 2004)

4.1.3 Diretrizes
Para direcionar a Política Nacional de Habitação foram traçadas algumas diretrizes. A Tabela 3
especifica apenas as principais áreas de atuação do programa, pois cada item citado é complementado
por outras diretrizes no escopo original da política. Os segmentos que regem a política são desde o
desenvolvimento institucional, a forma de captação de recursos á integração das políticas publicas.
Tabela 3 – Diretrizes da Política Nacional de Habitação
Área de atuação
1- Desenvolvimento institucional
2- Mobilização de recursos, identificação da demanda e gestão de subsídio
3- Qualidade e produtividade da produção habitacional
4- O Sistema de Informação, Avaliação e Monitoramento da Habitação
5- Urbanização de assentamentos precários e produção da habitação
6- Integração da política habitacional à política de desenvolvimento urbano
Fonte (CIDADES, 2004)

4.2 Implantação
4.2.1 Programas e ações
A política de habitação popular atual continua tendo como objetivo principal viabilizar a aquisição da
casa própria, mesmo com as mudanças institucionais ocorridas nos últimos anos e tendo o FGTS e o
Orçamento Geral da União (OGU) como fontes principais de recursos. O Ipea (2007) relata que esses
recursos são, ainda, insuficientes para atender a demanda corrente e reduzir o déficit de moradias.
Os principais programas habitacionais representam iniciativas do governo federal e foram criados na
segunda metade da década de 1990. Esses programas se caracterizam por financiar, primeiro, a casa
própria para o mutuário final e, segundo, promover algum tipo de parceria com os governos estaduais
e municipais. Com relação à distribuição geográfica dos recursos, dados do Ipea (2007), é feita por
Unidades da Federação de acordo com o déficit habitacional, tamanho da população e arrecadação do
FGTS, com exceção dos recursos das Operações Especiais e do Programa de Arrendamento
Residencial (PAR).

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Para promover habitações de interesse social o Governo ampliou os recursos e os subsídios desafiando
a camisa de força do forte contingenciamento nos gastos federais. Maricato (2010) descreve que em
2005 o governo federal dispôs de mais de R$ 10 bi, o maior orçamento desde início dos anos 80, para
financiamento habitacional. Essa ação se deu por meio de várias fontes (OGU, FAT, FAR, FDS,
Tesouro Nacional), mas em especial por meio do FGTS. Atualmente, os programas promovidos pelo
governo (Tabela 4) continuam sendo realizados através das diversas fontes de recursos, seguindo o
mesmo percurso, tendo o FGTS como principal fonte.
Tabela 4 – Programas e ações da Política Nacional de Habitação
Recurso Programa
Programa Urbanização, Regularização e Integração de Assentamentos Precários
Habitação de Interesse Social - HIS
FNHIS
Ação Provisão Habitacional de Interesse Social
Fundo nacional de Habitação
Ação Provisão Habitacional de Interesse Social - Modalidade: Assistência Técnica
de Interesse Social
Ação Apoio à elaboração de Planos Habitacionais de Interesse Social – PLHIS
Ação de Apoio à Produção Social da Moradia
Habitar Brasil BID - HBB
OGU Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat - PBQP-H
Orçamento geral da União Programa de Subsídio à Habitação de Interesse Social - PSH
Projetos Prioritários de Investimentos - PPI (Intervenções em Favelas)
FGTS Carta de Crédito Individual
Fundo de garantia do tempo Carta de Crédito Associativo
de serviço Programa de Atendimento Habitacional através do Poder Público - Pró-Moradia
FAR
Fundo de arrendamento Programa de Arrendamento Residencial - PAR
residencial
FDS
Fundo de desenvolvimento Programa Crédito Solidário
social
FAT
Fundo de amparo ao PMI - Projetos Multissetoriais Integrados
trabalhador
Fonte (CIDADES, 2010)

4.2.1.1. Programa Minha Casa, Minha Vida

“A meta é ambiciosa: construir um milhão de habitações, priorizando famílias com renda de


até R$ 1.395,00, mas que também abrange famílias com renda de até R$ 4.900,00. Isto só será
possível com uma ampla parceria entre União, estados, municípios, empreendedores e
movimentos sociais. Trata-se de um esforço inédito em nosso país, mas necessário e viável.”
(CAIXA, 2009.)

O Ministério das Cidades afirma que o programa habitacional popular que está em voga é o Minha
Casa Minha Vida. Um programa que tem como objetivo atender as necessidades de habitação da
população de baixa renda nas áreas urbanas, garantindo o acesso à moradia digna com padrões
mínimos de habitabiliadade.

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Em síntese, o programa funciona por meio da concessão de financiamentos a beneficiários
organizados de forma associativa por uma Entidade Organizadora – EO (Associações, Cooperativas,
Sindicatos e outros), com recursos provenientes do Orçamento Geral da União – OGU, aportados ao
Fundo de Desenvolvimento Social – FDS.

Tabela 5 – Minha Casa Minha Vida R$ 34bilhões

*Além dos R$ 4,5 bilhões previsto no FGTS para linhas já existentes.


Fonte (CIDADES, 2009)

Alem da meta de cumprir um índice quantitativo de moradias o Governo desenvolveu o programa com
o intuito de viabilizar e simplificar o processo de para a aquisição de um imóvel. Outro diferencial do
programa é a grande divulgação do governo, promovendo desde cartilhas explicativas até a forte
propaganda nos meios de comunicação, com o objetivo de divulgar e alcançar a população alvo (zero a
três salários mínimos).

A distribuição dos recursos foi determinada segundo os dados do déficit habitacional do país. O maior
déficit habitacional, segundo Ministérios das Cidades, está em 90,9% na população que recebe entre
zero e três salários mínimos, justificando a população alvo do programa. A concentração desses dados
está 36,4% na região Sudeste e 34,3% na Nordeste, explicado o direcionamento proporcional dos
recursos. Através do programa, o Governo, pretende reduzir o índice do déficit habitacional em 14%
no país.

Tabela 6 – Distribuição por Unidade de Federação respeita o déficit habitacional.

Fonte (CIDADES, 2009)

5. ANÁLISE DA POLÍTICA HABITACIONAL (2003-2010)

A Política Habitacional (2003-2010) compreende desde a criação do Ministério das Cidades até as
ultimas iniciativas do governo Lula no setor habitacional, como o Programa Minha Casa, Minha Vida.
Através do Ministério foi possível articular as reivindicações históricas dos movimentos sociais com
aquelas do setor da construção, definir prioridades e, finalmente, dotar o país de uma efetiva Política
Nacional de Habitação. Além deste marco houve segundo Mattos (2006), importantes mudanças que
foram introduzidas na CAIXA – principal agente público para a habitação - com a criação de novos

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produtos, redução dos juros, aumento de prazos, aperfeiçoamento dos sistemas de risco, simplificação
dos processos de contratação, aumento do volume de recursos próprios para a habitação e a realização
dos “Feirões da Casa Própria”, agora também realizados no setor privado

O empenho do governo esteve explicito através dos métodos de implantação da nova Política
Habitacional. No entanto a fragilidade do Ministério é que, em tese, ele é o responsável pela gestão da
política, mas na prática a CAIXA, por estar presente em todas as cidades, é responsável pela
aprovação dos financiamentos e acompanhamento das obras.

5.1. Análise dos investimentos

Maricato (2006) descreve que os investimentos no setor habitacional giraram entre 2003 à 2006
entorno de R$ 28 bilhões com recursos do FGTS, OGU, FAT, FAR, FDS e Caixa Econômica Federal
(Gráfico 1) atendendo mais de 1.6 milhões de famílias sendo 70 % com renda mensal de até cinco
salários mínimos. Além destes recursos, medidas adotadas pelo CMN – Conselho Monetário Nacional
- para o direcionamento da poupança resultaram na disponibilidade de mais R$ 8,7 bilhões para o
atendimento da classe média.

Gráfico 1 – Fontes de recursos: FGTS, Subsidio FGTS, FAR, FDS, OGU, FAT, CAIXA. Fonte (MARICATO,
2008)

A partir de 2005, Bonduki (2008) relata que ocorreram alterações relevantes na área de financiamento
habitacional, tanto no que se refere ao subsistema de habitação de mercado quanto no de interesse
social. Houve uma elevação dos investimentos, de todas as fontes de recursos, ampliação do subsídio,
foco mais dirigido para a população de baixa renda. Houve neste período a retomada do SBPE –
Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo - e a abertura do capital do setor imobiliário
significaram um crescimento inusitado do crédito para a produção habitacional.

Bonduki (2008) descreve que o grande avanço no Subsistema de Interesse Social foi através da
aprovação da Resolução 460 do Conselho Curador do FGTS, que estabeleceu diretrizes para a
aplicação dos recursos e a elaboração das propostas orçamentárias do FGTS, no período de 2005 a
2008. Com isso acontece uma massiva aplicação de recursos deste em subsídios habitacionais. Com
este subsídio e com outras alterações nos programas existentes, foi possível ampliar o atendimento na
faixa de renda mais baixa, onde o déficit se concentra.

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(a) (b)
Gráfico 2 – (a) Evolução do número de unidade financiada com recursos do SBPE. Brasil (2002-2007); (b)
Crédito para habitação por fontes de recursos 2006-2007 – em R$ bi. Fonte (BONDUKI, 2008)

Gráfico 3 - Carta Crédito FGTS - individual na planta – atendimentos / unidades, através das faixas de salário.
Fonte (BONDUKI, 2008)

5.2.Análise do programa Minha Casa Minha Vida

Como estratégia para que o setor privado produzir moradias para as classes mais baixas, camada que
concentra o déficit habitacional do país, o governo do presidente Luiz Inácio Lula da silva lançou o
Programa Minha Casa e Minha Vida. A um ano de seu lançamento o programa ainda está longe de sua
meta de contratar 1 milhão de casas para as famílias com rendimento mensal de até R$ 4.650. Segundo
número obtido por Simão (2010), 367 mil unidades habitacionais foram contratadas, o que representa
35,6% do compromisso assumido pelo governo. As razões são inúmeras, Chap (2010) coloca que boa
parte delas até justificáveis, como o tempo médio de aprovação de empreendimentos, os óbices criados
por legislações (notadamente de ordem ambiental), a velocidade das prefeituras na oferta de áreas para
habitações na faixa de zero a três salários mínimos.

O governo afirma que ainda é muito cedo para fazer um balaço do programa já que o prazo médio de
construção é de um ano a um ano e meio. Assim, a partir de junho de 2010 os resultados começaram a
serem vistos. Ao final de junho, portanto, será possível obter uma visão mais palatável da efetividade
do programa.

Outra questão levantada por críticos é que as metas do programa preconizam os índices quantitativos
das habitações, deixando muitas vezes a desejar na qualidade dessas construções. Rolnik (2010)
acredita que a produção deve ser de uma moradia adequada que segundo ela não é só a casa com
parede, teto, banheiro com azulejo. A moradia adequada é um lugar a partir do qual o cidadão passa a
ter satisfeitas as necessidades básicas e fundamentais de subsistência nas cidades com dignidade. Isso

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significa estar em um lugar que permita ter espaço público, lazer, escola, saúde, empregos e, também,
que permita andar livremente e com segurança.

“Minha Casa Minha Vida tem outra natureza. É um programa que exerce uma
função fundamental do Estado, que é subsidiar quem não tem acesso via mercado a
um bem. Acho que os elementos mais complicados no pacote não são o de ter um
resultado eleitoral, mas é o problema como ele se relaciona com a questão urbana
como um todo. Se todo investimento para a baixa renda for considerado populismo,
não vai haver mais nada para os pobres.” (ROLNIK, 2010)

Portanto, cabe ao governo criar algum método de avaliação para verificar qual é a qualidade do
produto resultante do programa Minha Casa Minha Vida. Pois, a Caixa, o órgão mais atuante neste
processo, não tem recursos estruturais para aderir a mais essa função. Vale ressaltar, mesmo que o
programa não atinja todas as suas metas, ele é a marca que está impulsionando o setor habitacional,
principalmente beneficiando as classes de baixa renda do país. Por fim, independe das distorções e
lacunas, o programa deu mais um passo no sentido de construir políticas publicas para garantir o
direito à habitação.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

“Desde o início dos anos 80, nunca as perspectivas foram tão boas para o enfrentamento em
larga escala do problema habitacional, inclusive para a baixa renda. No entanto, se não forem
tomadas as medidas necessárias no âmbito do planejamento habitacional, da regulação
urbana, da cadeia produtiva da construção civil e da capacitação institucional, o crédito farto
poderá gerar um boom imobiliário, mas, novamente, os setores de baixa renda poderão ficar
de fora, reproduzindo-se o tradicional processo de exclusão territorial.” (BONDUKI, 2008).

O Brasil apresentou no decorrer histórico uma Política Habitacional marcada pelo fracasso de
programas habitacionais isolados. Os altos índices de déficit habitacional no país são resultados da
inadequação dessa política de habitação no Brasil, quase 8 milhões de moradias.

Tabela 7 – Brasil - Déficit habitacional, por situação de domicílios (2005)

O problema habitacional no país não se resolverá apenas com programas habitacionais, pois eles não
atingem o segmento de pessoas excluídas não só do mercado habitacional, mas também de qualquer
processo econômico e social. Estas pessoas vivem nas ruas das grandes cidades, sob viadutos, sob
árvores e constituem os verdadeiros sem-teto da sociedade brasileira.

E vale à pena ressaltar que para qualquer que seja a política publica, o seu sucesso depende da atenção
e participação por parte do conjunto da sociedade. Afinal, as políticas públicas preconizam ações
coletivas voltadas para a garantia dos direitos sociais, e no caso estudado a habitação.

REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

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de Habitação de Interesse Social, Sinop/MT
BONDUKI, Nabil (org). Affonso Eduardo Reidy. Textos de Nabil Georges Bonduki e Carmen Portinho. Série
Arquitetos Brasileiros. São Paulo, Instituto Lina Bo e P. M. Bardi / Editorial Blau, 1999

BONDUKI, Nabil. Origens da habitação social no Brasil. 4. Ed. São Paulo: Editora Liberdade, 2004.

_______. Política habitacional e inclusão social no Brasil: revisão histórica e novas perspectivas no governo
Lula. Revista eletrônica de Arquitetura e Urbanismo. Artigos. Nº1-2008.

CAIXA ECONOMICA FEDERAL. Minha casa minha vida. (Cartilha). Brasília, 2009. Disponível em :
http://downloads.caixa.gov.br/_arquivos/habita/mcmv/CARTILHACOMPLETA.PDF . Acessado em: 20 maio
de 2010.

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http://www.aecweb.com.br/aec-news/materia/2621/o-primeiro-balanco-do-minha-casa-minha-vida.html (acesso
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http://www.imprensa.planalto.gov.br/ (acesso em 21 maio 2010)

CIDADES, Ministério das. Política nacional de habitação 4. Cadernos MCidades. Habitação. Brasília 2004.

COELHO, Will Robson. Déficit das moradias: instrumento para avaliação e aplicação de programas
habitacionais. 2002. Dissertação (Mestrado) – Escola de Engenharia de São Carlos – Universidade de São
Paulo, São Carlos, 2002.

SIMÃO, Edna. Economia - Com 1 ano, 'Minha Casa, Minha Vida' está longe da meta. Publicado jornal
eletrônico Estadão. Brasília, 2010. Disponível em:
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100413/not_imp537552,0.php (acesso 18abril 2010)

IPEA. Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Políticas sociais − acompanhamento e análise. Edição nº 14.,
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MARICATO, Ermínia. A nova Política Nacional de Habitação. Disponível em:


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MATTOSO, Jorge; MUNIZ, Suely. Habitação - A Habitação no Governo Lula. Publicado em Fundação
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por-jorge-mattoso-e-suely-muniz (acesso 23 abril de 2010)

ROLNIK, R. Estamos perdendo a chance de mudar o paradigma da política habitacional. Diponivel em:
http://raquelrolnik.wordpress.com/2009/05/20/%E2%80%9Cestamos-perdendo-a-chance-de-mudar-o-
paradigma-da-politica-habitacional%E2%80%9D/ (acesso 20 maio de 2010).AGRADECIMENTOS

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