Dentre os vários questionamentos acerca das responsabilidades que um Estado tem, um
sempre ganha espaço em debates: o direito à moradia. Esse questionamento é muito frequente por se tratar de um direito básico, sem uma habitação não há condição mínima de sobrevivência e sabe-se que, principalmente com a pandemia gerada pelo Corona vírus e a grande diminuição de vagas de empregos, o número de moradores de rua tem aumentado em uma escala preocupante. Os projetos governamentais que, em tese, são voltados para a população de renda mais baixa existem há anos, porém a realidade tende a ser decepcionante por ações desumanas de corrupção entranhadas em toda cadeia do Estado. A moradia como um direito social fundamental foi aprovada em emenda apenas em 2000. No início do século, em 1920, quase 90% da população residente na cidade de São Paulo era inquilina, inexistindo qualquer mecanismo de financiamento para aquisição da casa própria, foi quando a Primeira Lei do Inquilinato foi criada e sua ineficácia logo veio à tona, então foram surgindo intervenções mais tímidas em alguns estados e assim foram surgindo as vilas operárias. Essas vilas eram um conjunto de casas construídas pelos donos de indústria para serem alugadas a baixos aluguéis ou mesmo serem oferecidas “gratuitamente” aos seus trabalhadores, mas acabaram possibilitando o controle ideológico, político e moral dos trabalhadores. Um banco, fixação de correção monetária e sistema normativo centralizado unido são inovações trazidas pelo modelo do BNH, composto por financiamento, construção e comercialização. A extinção do Banco Nacional de Habitação veio com o Decreto-Lei nº 2.291, de 21/11/1986, com a transferência de seus direitos e deveres à Caixa Econômica Federal, incluindo a gestão do FGTS. Foi só no governo Lula que foi criado o Ministério das cidades para gerir programas sociais de habitação Aprovação PNH, além da criação do Sistema Nacional de Habitação e o programa Minha Casa, Minha Vida (2009). Então é construída uma noção da habitação como um serviço público a ser provido pelo Estado na forma de promoção da casa própria em lugar do aluguel. No início o governo tinha a intenção de produzir moradias confortáveis e econômicas, contando com a atuação dos arquitetos modernistas que traziam inovações a baixo custo, mas o governo não conseguiu suprir as necessidades da população, a intervenção estatal pela sua ausência acaba passando sua responsabilidade de autoconstrução à população. As habitações sociais são jogadas para a periferia, longe do trabalho, isolando e segregando, elevando os custos dos centros urbanos e os tornando inacessíveis, aumentando os gastos com transporte, deixando os locais sem identidade (casas iguais e padronizadas) como se não fizessem parte da cidade, além de não contar com equipamentos urbanos que promovam cidadania. Um marco fundamental na mudança frente aos assentamentos informais foram as ZEIS, instituídas na década de 1980, em Recife, Belo Horizonte e Diadema (SP), onde assentamentos informais foram incluídos na legislação e planejamento urbano pela primeira vez. Essa abordagem só foi consolidada em âmbito federal no ano de 2001, incluída no Estatuto da Cidade. Ao logo da década de 90, apesar dos poucos recursos, houveram vários projetos inovadores nas favelas. Novos avanços na política nacional, surgidos na década de 2000, tais como o Estatuto da Cidade (2001), criação do MCidades (2003) criou quatro secretarias nacionais: habitação, saneamento, mobilidade urbana e programas urbanos. Em certa medida, essas políticas foram “atropeladas” pelos programas do governo federal no final desta década, quando foram lançados o PAC (2007) e MCMV (2008), cuja ênfase era o crescimento econômico ATHIS (2008). O que se deve entender é que o Estado não deve proporcionar apenas uma moradia, mas sim condições de habitação para os seus habitantes.