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avanços e desafios.
ATHIS: dimensão interdisciplinar, saber
técnico e popular.
ASSENTAMENTOS URBANOS DE BAIXA RENDA I – ATHIS
UFSC 2019.1
1964/2008
1977 O QUE ESTAVA ACONTECENDO EM NOSSO PAÍS?
“Com o golpe militar, em 1964, a FCP foi extinta, sendo criado o Plano Nacional de Habitação, o primeiro
grande plano do governo militar. Para além das ações diretamente relacionadas à habitação, o Plano buscava
a dinamização da economia, o desenvolvimento do país (geração de empregos, fortalecimento do setor da
construção civil etc.) e, sobretudo, controlar as massas, garantindo a estabilidade social.
No que tange à concepção de política urbana do governo militar, o planejamento era a solução para o “caos”
urbano e para controlar o crescimento das favelas e ocupações irregulares. Prolifera-se, então, a elaboração
e a implementação de planos diretores, que, todavia, ignoravam as necessidades e problemas da cidade real
(que incluía a cidade informal). Portanto, a política da habitação desse período centrou-se na produção de
moradias e obras de infra-estrutura na cidade legal (formal) (MARICATO, 2000). Assim, a partir de 1964, as
ações públicas voltadas para as vilas e favelas são sufocadas; os movimentos sociais e as associações são
reprimidos, lançados na ilegalidade e impedidos de atuar; os favelados, bem como suas ocupações e
associações, passam novamente a ser tratados como problema de polícia.
Para concretizar essa concepção de cidade e de política para habitação, o Banco Nacional de Habitação (BNH)
se torna o principal órgão da política habitacional e urbana do país. “
“A trajetória do SFH e do BNH não foi linear e pode ser dividida em três fases. A primeira delas, de 1964 a
1969, foi a de implantação e expansão do BNH e das COHABs6 , com um considerável financiamento de
moradias para o “mercado popular” (40% dos investimentos), convergindo com o objetivo do governo de se
legitimar junto às massas. A segunda fase, de 1970 a 1974, consistiu em um esvaziamento e uma crise do
SFH, sobretudo devido à perda do dinamismo das COHABs, que se tornavam financeiramente frágeis devido
à inadimplência causada, principalmente, pela perda do poder de compra do salário mínimo, situação que
atingia seus principais mutuários, oriundos das camadas pobres. Isso fez com que os financiamentos
passassem a ser, cada vez mais, destinados às famílias de classe média, uma vez que os juros para essa
camada eram mais altos e o índice de inadimplência, se comparado com o das classes mais pobres, era
menor. Inicia-se, então, a terceira fase do SFH (1975 a 1980), caracterizada pela reestruturação e pelo
revigoramento das COHABs, com aumento do número de moradias produzidas, a grande maioria destinada
à classe média.
Desse modo, as alternativas encontradas pelas famílias pobres eram as favelas e os loteamentos
clandestinos das periferias das capitais e das cidades das regiões metropolitanas. Consequentemente,
houve, na década de 1970, um grande crescimento dos loteamentos clandestinos nas periferias, pois a
possibilidade de acesso à moradia na cidade consistia na combinação entre compra de lotes ilegais ou
irregulares (que eram mais baratos) e autoconstrução.”
OS CONFLITOS OS TIPOS DE
URBANOS E O LUTA DESSE
DIREITO À MOVIMENTO
CIDADE
“O primeiro tipo de luta refere-se à reivindicação do direito de permanência e acesso à moradia. Nas
lutas por acesso à moradia, as estratégias utilizadas pelos movimentos são diversas e vão desde
“diálogos” com secretarias de habitação (nacionais e estaduais) para construção de habitações
populares e para criação (ou expansão) de linhas de crédito até ocupações de terrenos ou prédios
abandonados. Em relação à permanência, destacam-se os movimentos de comunidades de favelas para
regularização fundiária e as resistências contra remoções (em favelas, loteamentos clandestinos, áreas
ou prédios ocupados).
O segundo tipo de luta diz respeito a questões de infraestrutura e, de modo geral, ocorrem em bairros
de periferia e em favelas, onde os moradores reivindicam implantação e/ou melhorias do sistema de
saneamento (redes de abastecimento de água eficientes, redes coletoras de 9 Muitas vezes os
processos de tentativa de remoção ou de remoção contam com grande aparato policial e não prevêem
reassentamento digno. esgoto, canalização e recuperação de córregos devido a enchentes constantes);
dos transportes (asfaltamento e abertura de vias, implantação ou melhoria de linhas de ônibus); da
instalação de rede elétrica, por exemplo
O terceiro tipo de conflitos são aqueles motivados por obras de urbanização, geralmente realizadas pelo
poder público, que implicam em mudanças no modo de vida ou em remoções. Nesses casos as lutas
centram-se na resistência aos processos de remoção compulsória devido a obras, na reivindicação de
melhores critérios e valores de indenização aos removidos e nas mudanças nas formas de condução dos
processos de implementação das obras.”
O PONTO DE PARTIDA DA
ATHIS: ATME NO RIO
GRANDE DO SUL
UM PROGRAMA DO SINDICATO, IAB E OAB EM PORTO ALEGRE
1977
O PROGRAMA ATME foi fruto de intensos debates que ocorreram em dois Seminários realizados em 1977: o
primeiro em agosto e outubro daquele ano, mais de 100 arquitetos se envolveram com a discussão além dos
presidentes dos Sindicatos do RIO – Jorge Moreira e de São Paulo – Alfredo Paesani.
Houve debate no Conselho Superior do IAB DN; no Seminário de Relações de Trabalho em São Paulo; no
Encontro Nacional de Sindicatos de Arquitetos em Recife e ainda no 1. Seminário de Habitação Social em Porto
Alegre, tudo em 1977.
O BENEFICÁRIO FINAL
Nível de renda até 5 salários mínimos ( exigido pelo BNH na época para a baixa renda)
Não beneficiário de outros programas sociais de habitação
Regularidade do imóvel
OS CONVÊNIOS
Prefeituras municipais, COHABs ou assemelhados, cooperativas habitacionais
OS SERVIÇOS
Assistência Integral, do projeto à obra.
OS RECURSOS
BNH, FAS, Institutos de Previdência, etc.
A LUTA PELA REFORMA
URBANA
Um novo recomeço com as administrações municipais populares
O I FÓRUM SOCIAL
MUNDIAL EM PORTO
ALEGRE
2005
Um balanço nacional
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o Esta Lei assegura o direito das famílias de baixa renda à assistência técnica pública e gratuita para o projeto
e a construção de habitação de interesse social, como parte integrante do direito social à moradia previsto
no art. 6o da Constituição Federal, e consoante o especificado
na alínea r do inciso V do caput do art. 4o da Lei no 10.257, de 10 de julho de 2001,
que regulamenta os arts. 182 e 183 da Constituição Federal, estabelece diretrizes gerais da política urbana e dá outras
providências.
Art. 2o As famílias com renda mensal de até 3 (três) salários mínimos, residentes em áreas urbanas ou rurais,
têm o direito à assistência técnica pública e gratuita para o projeto e a construção de habitação de interesse social para sua
própria moradia.
§ 1o O direito à assistência técnica previsto no caput deste artigo abrange todos os trabalhos de projeto,
acompanhamento e execução da obra a cargo dos profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia
necessários para a edificação, reforma, ampliação ou regularização fundiária da habitação.
§ 2o Além de assegurar o direito à moradia, a assistência técnica de que trata este artigo objetiva:
I - otimizar e qualificar o uso e o aproveitamento racional do espaço edificado e de seu entorno, bem como dos recursos
humanos,
técnicos e econômicos empregados no projeto e na construção da habitação;
II - formalizar o processo de edificação, reforma ou ampliação da habitação perante o poder público municipal e outros
órgãos públicos;
III - evitar a ocupação de áreas de risco e de interesse ambiental;
IV - propiciar e qualificar a ocupação do sítio urbano em consonância com a legislação urbanística e ambiental.
Art. 3o A garantia do direito previsto no art. 2o desta Lei deve ser efetivada mediante o apoio financeiro da União
aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios para a execução de serviços permanentes e gratuitos de
assistência técnica nas áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia.
§ 1o A assistência técnica pode ser oferecida diretamente às famílias ou a cooperativas, associações de moradores
ou outros grupos organizados que as representem.
§ 2o Os serviços de assistência técnica devem priorizar as iniciativas a serem implantadas:
I - sob regime de mutirão;
II - em zonas habitacionais declaradas por lei como de interesse social.
§ 3o As ações da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios para o atendimento do disposto
no caput deste artigo devem ser planejadas e implementadas de forma coordenada e sistêmica, a fim de evitar
sobreposições e otimizar resultados.
§ 4o A seleção dos beneficiários finais dos serviços de assistência técnica e o atendimento direto a eles devem
ocorrer por meio de sistemas de atendimento implantados por órgãos colegiados municipais com composição
paritária entre representantes do poder público e da sociedade civil.
Art. 4o Os serviços de assistência técnica objeto de convênio ou termo de parceria com União, Estado, Distrito
Federal ou Município devem ser prestados por profissionais das áreas de arquitetura, urbanismo e engenharia que
atuem como:
I - servidores públicos da União, dos Estados, do Distrito Federal ou dos Municípios;
II - integrantes de equipes de organizações não-governamentais sem fins lucrativos;
III - profissionais inscritos em programas de residência acadêmica em arquitetura, urbanismo ou engenharia ou em
programas de extensão universitária, por meio de escritórios-modelos ou escritórios públicos com atuação na área;
IV - profissionais autônomos ou integrantes de equipes de pessoas jurídicas, previamente credenciados,
selecionados e contratados pela União, Estado, Distrito Federal ou Município.
§ 1o Na seleção e contratação dos profissionais na forma do inciso IV do caput deste artigo, deve ser garantida a
participação das entidades profissionais de arquitetos e engenheiros, mediante convênio ou termo de parceria com
o ente público responsável.
§ 2o Em qualquer das modalidades de atuação previstas no caput deste artigo deve ser assegurada a devida
anotação de responsabilidade técnica.
Art. 5o Com o objetivo de capacitar os profissionais e a comunidade usuária para a prestação dos serviços de
assistência técnica previstos por esta Lei, podem ser firmados convênios ou termos de parceria entre o ente público
responsável e as entidades promotoras de programas de capacitação profissional, residência ou extensão
universitária nas áreas de arquitetura, urbanismo ou engenharia.
Parágrafo único. Os convênios ou termos de parceria previstos no caput deste artigo devem prever a busca de
inovação tecnológica, a formulação de metodologias de caráter participativo e a democratização do conhecimento.
Art. 6o Os serviços de assistência técnica previstos por esta Lei devem ser custeados por recursos de fundos
federais direcionados à habitação de interesse social, por recursos públicos orçamentários ou por recursos
privados.
Art. 7o O art. 11 da Lei no 11.124, de 16 de junho de 2005, que dispõe sobre o Sistema Nacional de
Habitação de Interesse Social - SNHIS, cria o Fundo Nacional de Habitação de Interesse Social - FNHIS
e
institui o Conselho Gestor do FNHIS, passa a vigorar acrescido do seguinte § 3 o:
“Art. 11. ...................................................................................
..........................................................................................................
§ 3º Na forma definida pelo Conselho Gestor, será assegurado que os programas de habitação de
interesse social beneficiados com recursos do FNHIS envolvam a assistência técnica gratuita nas áreas
de arquitetura, urbanismo e engenharia, respeitadas as disponibilidades orçamentárias e financeiras
do FNHIS fixadas em cada exercício financeiro para a finalidade a que se refere este parágrafo.” (NR)
Art. 8o Esta Lei entra em vigor após decorridos 180 (cento e oitenta) dias de sua publicação.
Brasília, 24 de dezembro de 2008; 187o da Independência e 120o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Guido Mantega
Paulo Bernardo Silva
Patrus Ananias
Márcio Fortes de Almeida
Apresentação
A moradia é um direito do cidadão previsto na Constituição federal.
A assistência técnica para fazer a moradia é um direito do cidadão previsto
na Lei federal 11.888/2008. Decorridos 10 anos após a lei ser promulgada,
podemos fazer um balanço do que ocorreu nesse tempo e pensarmos
soluções para a sua real implementação. Afinal, são direitos do cidadão,
especialmente o de menor renda (até 3 salários-mínimos tem direito total
aos serviços públicos e gratuitos em assistência técnica), que não estão
sendo cumpridos pelo Poder Público. Esse trabalho tenta explicar os motivos
pelos quais a Lei Zezéu “ainda não pegou” e o que pode está faltando para
que a população receba os serviços públicos para a realização do seu sonho
pela moradia.
Balanço
Decorridos 10 anos de sua promulgação como direito em lei federal e
mais de 40 anos de existência em diversos locais do país, a Assistência Técnica
para a Habitação de Interesse Social ainda não foi implantada no país. Diversos
motivos podem ser apontados, oriundos de vários lados da mesma moeda:
DOS ÓRGÃOS DE JUSTIÇA – MPF e DPF não atuam exigindo das prefeituras o
fornecimento desse serviço gratuito para a população que deve receber nem exigem da
União federal a disponibilização de recursos a serem destinados às ações de ATHIS;
2. UMA AÇÃO EM CADA ESTADO – o MPF precisa ser acionado pelas entidades
nacionais, especialmente a FNA, o IAB e os Movimentos Sociais, solicitando que
seja aberta uma ação civil de responsabilidade para cada Prefeito que não
cumprir o que determina a Constituição federal – DIREITO À MORADIA -, e da
Lei 11.888/2008 – DIREITO À ASSISTÊNCIA TÉCNICA;
3. UMA AÇÃO EM CADA MUNICÍPIO – as entidades estaduais precisam discutir e
aprovar o REGULAMENTO da Lei 11.888/2008, naquilo que é importante para cada
cidade e que não contempla na lei federal, na forma de um DECRETO MUNICIPAL ou de
uma LEI MUNICIPAL, o que for mais fácil de fazer (ver Minuta em Anexo),
contemplando os seguintes quesitos:
a) a área total da edificação – nova ou a ser reformada ou ampliada – até o limite
prudente de 70 m², para ter direito à isenção do INSS para a obra, por conta da Lei
8.212/91 com redação dada pela Lei 9.476/97 e regulamentos e pela Resolução INSS
971 de 2009 em seu artigo 370 que diz: I – o proprietário do imóvel ou dono da obra
seja pessoa física, não possua outro imóvel e a construção seja: a) residencial e
unifamiliar; b) com área total não superior a 70m2 (setenta metros quadrados); c)
destinada a uso próprio; d) do tipo econômico ou popular; e) executada sem mão-de-
obra remunerada;.
b) as famílias a serem atendidas devem comprovar ser seu único lote, usado como
residência da família há pelo menos 2 (anos) anos;
c) cada família tem direito aos serviços públicos de ATHIS apenas uma vez a cada 5 anos,
para nova obra, ampliação ou reforma ou regularização fundiária;
d) a família deve receber o projeto aprovado pela municipalidade que se encarrega de
formalizar o processo, resolver a autoria de projeto e responsabilidade técnica, tudo
gratuito, lhe entregando o Alvará de Construção. Se o lote ou a edificação for irregular o
município providenciará a regularização;
e) terreno com área máxima de 360,00m².
f) altura máxima da edificação em 7 metros;
g) é admissível uso misto ocupando no máximo 50% da área total;
h) no caso de ampliação da edificação é admissível até 100,00m²
i) imóveis inseridos em ZEIS do Plano Diretor tem absoluta prioridade;
j) imóveis para reforma ou ampliação devem sofrer avaliação prévia da
construção para avaliar possíveis problemas estruturais ou construtivos. Esse
laudo mínimo deve ser elaborado por profissional habilitado, para dar início aos
trabalhos de ATHIS;