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Unidade II

Unidade II
5 DIRETRIZES GERAIS DA POLÍTICA URBANA

A Lei n. 11.124 (BRASIL, 2005b) dispõe sobre o SNHIS, cria o FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS.

5.1 O que é o SNHIS?

O SNHIS tem como objetivo principal implementar políticas e programas que promovam o acesso à
moradia digna para a população de baixa renda, que compõe a quase totalidade do déficit habitacional
do país. Além disso, esse sistema centraliza todos os programas e projetos destinados à habitação de
interesse social, sendo integrado pelos seguintes órgãos e entidades: MCidades, Conselho Gestor do FNHIS,
Caixa Econômica Federal, ConCidades, Conselhos, Órgãos e Instituições da Administração Pública direta
e indireta dos estados, Distrito Federal e municípios relacionados às questões urbanas e habitacionais,
entidades privadas que desempenham atividades na área habitacional e agentes financeiros autorizados
pelo Conselho Monetário Nacional (BRASIL, 2020a).

5.2 O que é o FNHIS?

A Lei n. 11.124 (BRASIL, 2005b) também instituiu o FNHIS, que em 2006 centralizou os recursos
orçamentários dos programas de Urbanização de Assentamentos Subnormais e de Habitação de
Interesse Social, inseridos no SNHIS. O Fundo é composto por recursos do Orçamento Geral da União
e do Fundo de Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), dotações, recursos de empréstimos externos e
internos, contribuições e doações de pessoas físicas ou jurídicas, entidades e organismos de cooperação
nacionais ou internacionais e receitas de operações realizadas com recursos do FNHIS. Esses recursos
têm aplicação definida pela Lei, como: aquisição, construção, conclusão, melhoria, reforma, locação
social e arrendamento de unidades habitacionais, produção de lotes urbanizados para fins habitacionais,
regularização fundiária e urbanística de áreas de interesse social ou implantação de saneamento básico,
infraestrutura e equipamentos urbanos, complementares aos programas de habitação de interesse social
(BRASIL, 2020a).

O SNHIS surgiu de um projeto de lei de iniciativa popular apresentado ao Congresso Nacional em


1992, com mais de um milhão de assinaturas, as quais foram recolhidas com o apoio das Comunidades
Eclesiais de Base, ligadas principalmente à Igreja Católica. Esse foi um dos quatro projetos de iniciativa
popular que se tornaram lei desde que a Constituição de 1988 reservou ao povo brasileiro a prerrogativa
de propor novas leis.

Esse projeto de lei de iniciativa popular foi elaborado com o auxílio do FNRU, com o intuito de criar
um fundo público para atender às demandas por moradia popular. Essa iniciativa surgiu no governo
Collor como uma ação propositiva de entidades da sociedade civil organizada. Entre os principais atores
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envolvidos, citamos a Confederação Nacional das Associações de Moradores, a Central de Movimentos


Populares, a União Nacional por Moradia Popular e o Movimento Nacional de Luta por Moradia (SAULE
JÚNIOR; UZZO, 2009).

A ementa original do Projeto de Lei n. 2.710 (BRASIL, 1992) estabelecia a criação do Fundo Nacional
de Moradia Popular e do Conselho Nacional de Moradia Popular, além de outras providências. A redação
final propôs alterações no projeto, e a nova ementa passou a dispor sobre o SNHIS, a criação do FNHIS e
seu Conselho Gestor. Após 13 anos de tramitação e muitos embates ideológicos, a Lei n. 11.124 (BRASIL,
2005b) foi sancionada e publicada no Diário Oficial da União (DOU).

Além disso, foram previstos mecanismos de controle social exercidos por meio do ConCidades e dos
Conselhos Estaduais e Municipais, com função de gerir fundos de habitação com recursos orçamentários
para subsidiar a baixa renda. Dessa maneira, para possibilitar o acesso à moradia pela população de baixa
renda, era necessária a aprovação do projeto de lei de iniciativa popular de criação do SNHIS e FNHIS,
que tramitava há 13 anos no Congresso Nacional (BONDUKI, 2009).

No entanto, houve uma mudança na conjuntura política em 2005 que forçou o Governo Federal
a negociar a ampliação da participação de partidos coligados no poder executivo. Entre as exigências
feitas pela coalizão, a chefia do MCidades era uma das prioridades. Para evitar que a crise política
se estendesse, o governo abdicou da proposta de desenvolvimento urbano integrado para as cidades
brasileiras, e o SNHIS foi cada vez mais enfraquecido por meio da limitada influência dos movimentos
sociais na discussão e deliberação de uso dos recursos do FNHIS (MARICATO, 2014). Portanto, não
podemos negar o jogo de interesses políticos existente em torno das políticas públicas no Brasil.

Observação

As legislações pertinentes ao financiamento habitacional e os


mecanismos de garantias habitacionais devem ser estudados e apropriados
pelo assistente social, a fim de que ele realize intervenções em âmbito
municipal, estadual e federal de projetos voltados à promoção social.

5.3 Política de Habitação de Interesse Social e Programa Minha Casa, Minha


Vida (PMCMV)

Na perspectiva de retomada dos principais instrumentos para o planejamento do setor habitacional,


o MCidades coordenou a elaboração da Política Nacional de Habitação (PNH). A PNH contou com
a contribuição de amplos setores sociais e foi aprovada pelo ConCidades em dezembro de 2004.
Para a sua implementação, a PNH contou com um conjunto de instrumentos, sendo o principal deles
o Sistema Nacional de Habitação (SNH). O SNH divide-se em dois subsistemas: o Sistema Nacional de
Mercado e o SNHIS (BRASIL, 2004c).

O Sistema Nacional de Mercado é composto por uma rede de agentes públicos e privados de produção
e de financiamento imobiliário sujeitos às dinâmicas de mercado e regulamentações específicas.
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O principal objetivo do Sistema Nacional de Mercado é intensificar e diversificar a participação dos


agentes privados, no sentido de promover a expansão da oferta de imóveis e crédito para a população
com capacidade de arcar com financiamento imobiliário (BRASIL, 2004c).

Para contribuir na ampliação da habitação de mercado, foi sancionada a Lei n. 10.931 (BRASIL,
2004d), que aprimora instrumentos como alienação fiduciária, patrimônio de afetação de incorporações
imobiliárias e pagamento do incontroverso, dando mais garantias jurídicas ao empreendedor e ao
comprador de imóvel. Em complementação, em 2005, o Governo Federal sancionou a Lei n. 11.196
(BRASIL, 2005c), que cria mecanismos de segurança para financiamentos imobiliários e incentivos fiscais
para os compradores de imóveis. Tais medidas somaram-se às alterações no direcionamento dos recursos
captados em caderneta de poupança, tomadas pelo Conselho Monetário Nacional. Além de impulsionar
a oferta de crédito dos agentes financeiros para a classe média, possibilitando contratações na ordem de
4,2 bilhões, essas medidas estimularam o setor da construção civil, a geração de empregos e o aumento
no número de atendimentos (BRASIL, 2004c).

O SNHIS é voltado prioritariamente para ações de promoção de moradia digna para a população
de baixa renda. Seu principal objetivo é equacionar o problema do déficit habitacional por meio de
programas e ações que invistam na melhoria das condições de habitabilidade, incorporando o saneamento
ambiental, a requalificação de áreas centrais infraestruturadas, subutilizadas ou vazias, o controle do
uso do solo, a urbanização e regularização fundiária de assentamentos precários (favelas e loteamentos
irregulares), bem como a provisão de serviços e equipamentos públicos, considerando as diretrizes do
plano diretor local (BRASIL, 2004c).

Em seu Art. 2º, fica instituído o SNHIS com o objetivo de:

I – viabilizar para a população de menor renda o acesso à terra urbanizada e


à habitação digna e sustentável;

II – implementar políticas e programas de investimentos e subsídios,


promovendo e viabilizando o acesso à habitação voltada à população
de menor renda; e

III – articular, compatibilizar, acompanhar e apoiar a atuação das instituições


e órgãos que desempenham funções no setor da habitação.

Art. 3º O SNHIS centralizará todos os programas e projetos destinados


à habitação de interesse social, observada a legislação específica
(BRASIL, 2005c).

É importante compreender que cada legislação possui também seus princípios, assim como traz a Lei:

Art. 4º A estruturação, a organização e a atuação do SNHIS devem observar:

I – os seguintes princípios:
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a) compatibilidade e integração das políticas habitacionais federal, estadual,


do Distrito Federal e municipal, bem como das demais políticas setoriais de
desenvolvimento urbano, ambientais e de inclusão social;

b) moradia digna como direito e vetor de inclusão social;

c) democratização, descentralização, controle social e transparência dos


procedimentos decisórios;

d) função social da propriedade urbana visando a garantir atuação


direcionada a coibir a especulação imobiliária e permitir o acesso à terra
urbana e ao pleno desenvolvimento das funções sociais da cidade e da
propriedade (BRASIL, 2005c).

Quanto às diretrizes da referente Lei, temos:

a) prioridade para planos, programas e projetos habitacionais para a


população de menor renda, articulados no âmbito federal, estadual, do
Distrito Federal e municipal;

b) utilização prioritária de incentivo ao aproveitamento de áreas dotadas de


infraestrutura não utilizadas ou subutilizadas, inseridas na malha urbana;

c) utilização prioritária de terrenos de propriedade do Poder Público para a


implantação de projetos habitacionais de interesse social;

d) sustentabilidade econômica, financeira e social dos programas e projetos


implementados;

e) incentivo à implementação dos diversos institutos jurídicos que regulamentam


o acesso à moradia;

f) incentivo à pesquisa, incorporação de desenvolvimento tecnológico e de


formas alternativas de produção habitacional;

g) adoção de mecanismos de acompanhamento e avaliação e de indicadores


de impacto social das políticas, planos e programas; e

h) estabelecer mecanismos de quotas para idosos, deficientes e famílias


chefiadas por mulheres dentre o grupo identificado como o de menor renda
da alínea “a” deste inciso (BRASIL, 2005c).

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Diante dos princípios e das diretrizes, podemos dizer que houve aprimoramentos na disponibilidade
em se construir uma política nacional de habitação, mas o que é oferecido como direito à moradia não
contempla a evolução das necessidades das famílias brasileiras, levando a um grande déficit habitacional.

Conforme mostrado pela Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios (PNAD) (IBGE, 2019), o novo
teto do problema foi atingido em 2017. Compreender o déficit nacional é recorrer à história, ainda
que não se aprenda com ela. Na cidade de São Paulo, entre os anos 2000 e 2010, o IBGE aponta que a
população cresceu 12,3%, enquanto o número de brasileiros vivendo em favelas subiu 70%. Entre 2008
e 2017, o salário mínimo variou 60%, enquanto os valores de aluguéis tiveram 100% de reajuste e os
imóveis foram valorizados em 230%. Isso nos assegura de que a maioria dos brasileiros não possui renda
para casa própria ou divide o mesmo teto com várias pessoas da família, conhecidos etc., pois não possui
condições econômicas de alugar um imóvel próprio.

Percebemos que, mesmo com todo o aparato legal existente nas legislações, estamos muito distantes
de sanar os problemas habitacionais no Brasil. De acordo com Bonduki (1998), diversas pesquisas
realizadas entre 1930 e 1940 apontaram que cerca de 20% dos orçamentos familiares eram gastos
com o aluguel.

Conforme mostrado na estatística a seguir, segundo os componentes do déficit, o único que


apresentou elevação no período foi o ônus excessivo (ou excedente) com aluguel, que passou de 1,756
milhão de domicílios em 2007 para 2,293 milhões em 2012 (aumento aproximado de 30% em cinco anos).
Ressalta-se, contudo, que o mercado de locação de imóveis urbanos pode ter sofrido da mesma alta que
foi observada no mercado de compra e venda de imóveis, o que explica uma maior parcela de famílias
ter comprometimento superior a 30% de sua renda familiar (KRAUSE; BALBIM; LIMA NETO, 2013).

A maior redução no período de 2007 a 2012 se deu no componente habitações precárias (30%),
seguida da coabitação familiar (26%). O último componente – adensamento excessivo em domicílios
locados – teve em 2012 uma leve redução se comparado com o valor obtido em 2007, mas transparece
sua estabilidade no período. A coabitação familiar é o fator individual que mais contribui para o déficit
habitacional, correspondendo a 2,2 milhões de domicílios, com 87% localizados em áreas urbanas
(KRAUSE; BALBIM; LIMA NETO, 2013).

É importante compreender a relação existente entre renda familiar, poder aquisitivo, déficit
habitacional, legislação e direito à moradia, pois são elementos que representam uma questão não
apenas no âmbito social, mas numa projeção holística de realidade urbana, a partir de uma organização
sociopolítica, socioeconômica e socioambiental que qualifica a complexidade das ações e necessidades
da nossa realidade profissional, na qual podemos contribuir com ações que minimizem a questão
habitacional da maioria das cidades brasileiras.

Conforme Monte-Mór (2006):

É nas cidades (e no campo, com articulação nas cidades) que se construíram


as forças socioculturais, econômicas e políticas que formaram o Brasil,
produziram seu espaço urbano-regional e ainda o fazem. Das cidades
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coloniais às metrópoles atuais, os referenciais teóricos foram sendo


redefinidos, adaptados, recriados para explicar processos socioespaciais e
informar projetos políticos de classes e grupos de interesse, dentro e fora
do Estado. De outra parte, os “lugares fora das ideias”, nas suas diversas
escalas das cidades ao espaço (incompletamente) urbanizado dos nossos
dias, realimentam também os modos de ver a produção do espaço urbano e
regional no Brasil e forjando assim nosso planejamento urbano e regional,
na relação dialética entre as teorias advindas do capitalismo avançado e sua
releitura entre nós.

Portanto, é preciso refletir sobre a função social das legislações existentes, que amparam a criação
e execução de programas habitacionais, mas também não deixar de compreender a formação da
geopolítica brasileira, uma vez que em diferentes momentos da história foram criadas diferentes visões
sobre a habitação no Brasil. Quando Monte-Mór fala das forças socioculturais, econômicas e políticas,
podemos compreender que a política de habitação sofreu construções e desconstruções nos diferentes
olhares dentro do espaço urbano brasileiro durante séculos.

Assim, é preciso resgatar a interpretação da dinâmica social e geográfica brasileira, considerando


diferentes influências nacionais e internacionais, mas atuar na realidade daqueles que necessitam, pois
as ideias impressas em documentos e legislações, se não ganham vida na sociedade, não transformam
uma realidade.

Segundo Monte-Mór (2006, p. 180):

O tecido urbano, formado por essa metamorfose, estende a forma e processo


socioespacial e as condições de produção para o espaço regional e nacional
como um todo. Contudo, a extensão do fenômeno urbano, sintetizado pelo
tecido urbano assim formado, dependerá da necessidade das indústrias
quanto às demandas de produção e da reprodução coletiva da força de
trabalho e de como o Estado tratará essas demandas no espaço urbano.

Cada governo inicia, dentro de suas expectativas políticas, as nomenclaturas e os programas


destinados à habitação, de forma a fazer cumprir o que diz o Artigo 6° da Constituição Federal de 1988:

São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho,


a moradia, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à
maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma
destaConstituição (BRASIL, 1988).

É importante ressaltar que nomenclaturas e diferentes nomes atribuídos aos diversos programas
habitacionais após a Revolução Industrial não trouxeram de fato uma solução eficaz ao déficit habitacional
brasileiro, mas comungamos que, desde a Constituição Federal de 1988, a habitação se apresenta como
reguladora do espaço urbano e se intensifica como direito social.

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Lembrete

O termo déficit habitacional é utilizado para se referir ao número


de famílias que vivem em condições de moradia precárias. Esse déficit
está associado às moradias que estão em risco e que necessitam de
nova construção, o que é diferente de moradias inadequadas, com falta
de recolhimento de esgoto, de acesso à água potável e energia elétrica, de
telefonia fixa, de recolhimento de lixo, entre outros fatores que interferem
na qualidade de vida da população.

O déficit habitacional se refere, portanto, à necessidade física de novas


moradias para a solução de problemas sociais e específicos de habitação e
é calculado a partir de quatro componentes, somados em sequência, para
que haja uma compreensão dos parâmetros que envolvem a necessidade
das novas habitações.

É fundamental que o assistente social estude os termos da política urbana, as legislações da


política habitacional em si, as formas com que elas se apresentam, as características, pois, além de ser
um direito social conquistado, há muito trabalho e intervenções profissionais a serem realizadas pelo
assistente social, principalmente como mediador de direitos e nos conflitos existentes nas políticas
públicas e sociais.

A partir da criação do SNHIS, instituído por lei e de iniciativa popular, que contou com intensa
discussão entre os atores envolvidos, esperava-se que a política habitacional tomasse o caminho
estabelecido para sua execução, algo que não ocorreu – isso se demonstra na dificuldade de a matéria
entrar com vinculação orçamentária por meio de Proposta de Emenda Constitucional (PEC). Nesse período,
o que se observou por parte do Governo Federal foi a adoção de uma alternativa no que se refere à
política habitacional desenhada pelo SNHIS, com a criação do PMCMV, um novo programa de habitação
concebido como forma de aquecer a economia para enfrentar a crise financeira mundial que tinha
repercussões no Brasil e assegurar um ganho político de curto prazo para a coalizão político‑partidária
do governo, que visava à continuidade de sua administração (FERREIRA et al., 2019).

O PMCMV tem como principal objetivo a redução do déficit habitacional ao criar mecanismos de
incentivo à produção e à aquisição de novas unidades habitacionais, à requalificação de imóveis urbanos
e à produção ou à reforma de habitações rurais para famílias com renda mensal de até dez salários
mínimos. Com essa iniciativa, o governo buscou garantir o acesso da população de baixa renda à casa
própria e influenciar o crescimento econômico com a geração de empregos (FERREIRA et al., 2019).

Entretanto, para criar o PMCMV, o Governo Federal necessitou fazer barganhas e articulações
políticas que permitiram que o processo tramitasse em regime de urgência e que a lei fosse aprovada com
celeridade. Devido às barganhas e negociações políticas, tanto o Plano Nacional de Desenvolvimento
Urbano quanto a PNH foram subjugados às negociações do mercado (FERREIRA et al., 2019).

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Como resposta à crise econômica mundial de 2008, que teve reflexos no crescimento econômico
brasileiro, e visando à eleição que se aproximava em 2010, o governo optou pela adoção de políticas com
resultados de curto prazo no que se refere ao aquecimento da economia, que incluíam a manutenção
do crédito, o atendimento aos setores mais atingidos pela recessão e a sustentação dos investimentos
públicos, principalmente na área de infraestrutura (FERREIRA et al., 2019).

Considerando o desenho adotado para o programa, baseado na participação do setor privado, o


PMCMV relegou ao segundo plano as premissas e os debates acumulados em torno do Plano Nacional de
Habitação de Interesse Social. Um dos impactos mais imediatos em relação aos programas desenvolvidos
no âmbito do FNHIS foi a redução dos repasses de recursos para as ações de provisão habitacional.
Desde o lançamento do PMCMV, o FNHIS passou a concentrar seus recursos nas ações de urbanização
de assentamentos precários e desenvolvimento institucional. Os recursos foram alocados em obras
complementares de projetos em andamento, financiados com recursos do PAC, demonstrando o caráter
subsidiário do FNHIS nas decisões de política habitacional (FERREIRA et al., 2019).

No entanto, a dinâmica do PMCMV nem sempre leva em consideração o déficit habitacional


para selecionar os municípios prioritários. Ao abdicar do papel de produtor direto de habitação
de interesse social, o poder público cede à iniciativa privada a relevante tarefa de decisão sobre
a localização dos conjuntos habitacionais. Na lógica de mercado, são priorizados os aspectos de
viabilidade econômica dos empreendimentos e são desprezados os aspectos de reforma urbana
e direito à cidade. Dessa forma, são deixados em segundo plano os instrumentos de indução do
desenvolvimento urbano, a regularização fundiária e a democratização da gestão urbana, conforme
previsto no Estatuto da Cidade (FERREIRA et al., 2019).

O PMCMV foi criado com a finalidade de gerar demanda habitacional e impulsionar o mercado
financeiro, sem propor solução para o problema da segregação socioespacial e da questão da terra, que
representam entraves da política urbana brasileira. Já o SNHIS foi formulado com o intuito de ser uma
política que busca discutir a reforma urbana e o direito à cidade, com diretrizes urbanas consolidadas,
participação social e distribuição de competências entre os entes federados, mas não chegou a ser
implementado na prática. Cada um desses períodos foi marcado por intensas relações de poder entre
diferentes grupos de atores, que foram mapeados e analisados por meio de coalizões de defesa. Além
disso, constatamos que a contribuição do PMCMV para reduzir o déficit habitacional no nível nacional
se mostrou limitada, devido à expansão da demanda no mesmo período. No entanto, se o número de
unidades habitacionais entregues pelo programa não resultou em redução efetiva do déficit, ao menos
foi suficiente para conter seu avanço (FERREIRA et al., 2019).

A prioridade de aplicação de recursos no PMCMV faz parte de uma estratégia de introduzir mecanismos
de mercado na gestão das políticas de desenvolvimento urbano. No entanto, a redução da política
ao discurso financeiro resulta em uma financeirização da política de habitação, acarretando prejuízo
em relação à universalização do acesso à moradia (ROYER, 2009). Dessa maneira, o aquecimento do
mercado proveniente da explosão nos preços dos imóveis no território brasileiro reafirma a segregação
e amplia as desigualdades sociais (FERREIRA et al., 2019).

Tendo em vista a mercantilização de direitos, o Estatuto da Cidade nos apresenta a obrigatoriedade


de o Estado promover o direito à moradia, tendo mecanismos suficientes para tal:

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Essa obrigação, na verdade, tem dois aspectos. Um, de caráter imediato,


que visa a impedir a regressividade do direito à moradia. Visa também
ao impedimento de medidas e ações que igualmente dificultem ou
impossibilitem o exercício do direito à moradia, como por exemplo, um
sistema e uma política habitacionais que acarretem a exclusão ou medidas
discriminatórias de impedimento de acesso ao direito à moradia para
uma grande parcela da população. Infelizmente, esse tem sido o papel do
sistema financeiro da habitação brasileiro, sendo obrigatória, portanto, a
reformulação desse sistema.

O outro aspecto da obrigação do Estado Brasileiro de promover e proteger o


direito à moradia refere-se à intervenção e regulamentação das atividades do
setor privado sobre a política habitacional, como a regulamentação do uso e
acesso à propriedade imobiliária, em especial, a urbana, de modo a atender
à sua função social, regulamentar o mercado de terra, dispor sobre sistemas
de financiamento de habitação de interesse social e promover programas de
urbanização e regularização fundiária nos assentamentos informais. Nesse
último caso, contribuindo para a integração social e territorial das comunidades
carentes que vivem nestes assentamentos (BRASIL, 2001).

Sinalizamos a fundamentação internacionalizada ao direito à moradia, conforme o Estatuto


da Cidade:

O direito à moradia é reconhecido como um direito humano em diversas


declarações e tratados internacionais de direitos humanos, nos quais o Estado
Brasileiro participa. Entre tantos, destaca-se os seguintes: a Declaração Universal
de Direitos Humanos de 1948 (artigo XXV, item 1), o Pacto Internacional de
Direitos Econômicos, Sociais e Culturais de 1966 (artigo 11),64 a Convenção
Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial
de 1965 (artigo V), a Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de
Discriminação Contra a Mulher de 1979 (artigo 14.2, item h), a Convenção
sobre os Direitos da Criança de 1989 (artigo 21, item 1), a Declaração sobre
Assentamentos Humanos de Vancouver, de 1976 (Seção III (8) e Capítulo II (A.3),
a Agenda 21 sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento de 1992 (Capítulo 7,
item 6) (BRASIL, 2001).

E também a fundamentação nacional prevista na Constituição de 1988:

Por meio da emenda constitucional n° 26, o direito à moradia está previsto


expressamente no artigo 6° da Constituição, que dispõe sobre os direitos
sociais. O Direito à moradia como integrante da categoria dos sociais, para
ter eficácia jurídica e social, pressupõe a ação positiva do Estado por meio
de execução de políticas públicas, no caso, em especial, da promoção da
política urbana e habitacional (BRASIL, 1988).
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POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

Podemos entender, portanto, que o PMCMV não é tratado como um programa para solução do
déficit habitacional por parte do governo àqueles que realmente estão morando em barracos de madeira
e lona, que não têm sequer um vínculo empregatício; não é um programa que remete a uma política
urbana pública de inclusão social, uma vez que está atrelado ao ambiente privado desde 2009, tornando
mercantilizada a política de direito.

Observação

Desde o dia 26 de agosto de 2020, as operações de financiamento


contratadas com recursos do FGTS integram o Programa Casa Verde e
Amarela, conforme a Lei n. 14.118/2021.

Saiba mais

Obtenha mais informações sobre o Programa Minha Casa, Minha Vida:


o que é, como funciona, público-alvo, diretrizes etc.:

CAIXA ECONÔMICA FEDERAL. Minha Casa Minha Vida. [s.d.]. Disponível


em: https://bit.ly/3977NX7. Acesso em: 22 mar. 2021.

5.4 Atuação do assistente social na política urbana

Para iniciarmos nosso estudo sobre políticas habitacionais, vamos compreender o significado de
habitação para traçar uma linha de raciocínio utilizada pelas funções da habitação.

A falta, as más condições de moradia, o inchaço das cidades, o crescimento desordenado dos bairros
e o surgimento das favelas são expressões da questão social, relacionadas à habitação; portanto,
caracteriza-se um dos novos espaços de atuação do assistente social.

O serviço social tem como matéria-prima do seu trabalho essas expressões da questão social. Assim,
cabe ao profissional o desafio de decifrar permanentemente as contradições postas na realidade e
construir práticas criativas, capazes de superar as dificuldades encontradas pela população em questões
como falta de moradia, ineficácia de políticas sociais, falta de equipamentos/serviços públicos, exposição
a áreas de risco, condições ambientais inadequadas e ausência de participação social na gestão e no
planejamento das políticas habitacionais (CFESS, 2016).

Os profissionais atuam de forma a contribuir no planejamento – gestão, execução, avaliação – com


ações em programas e projetos sociais e monitoramento, por meio de conselhos, órgãos públicos, ONGs
e outros espaços de luta. Além dessa atuação, a ação profissional está ligada ao desenvolvimento social
em programas de assentamento, regularização fundiária e remoções.

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Cabe destacar que os usuários do serviço social na área habitacional são sujeitos sociais e muitos
não têm acesso a uma moradia digna. Eles representam uma parcela significativa da classe trabalhadora
que possui renda familiar de até cinco salários mínimos. Nesse cenário, o assistente social, por meio das
dimensões éticopolíticas, teóricometodológicas e técnicooperativas do fazer profissional, tem o desafio
de contribuir no espaço institucionalizado com a defesa dos direitos (CFESS, 2016).

Para o desenvolvimento de suas atividades, o assistente social utiliza meios teóricos para contribuir
no planejamento da política de habitação e na elaboração de diagnósticos, pesquisas e projetos de
intervenções, compondo a equipe multiprofissional na instituição e entidades parceiras, realizando
trabalhos com as comunidades para o desenvolvimento socioeducativo, a inclusão social e a articulação
com a rede socioassistencial e órgãos públicos.

Podemos dizer que o serviço social atua em quatro etapas:

• Pesquisa de campo e estudo das realidades territoriais, para nortear a construção do projeto
habitacional e o plano diretor.

• Construção de instrumentos de planejamento.

• Implantação e execução dos projetos, diretamente ou indiretamente, ou seja, contato face a face
com os sujeitos. No caso de regularização ou remoção da população, esse vínculo se estende ao
conhecimento da realidade e da organização da comunidade envolvida nesse processo.

• Finalização do processo e acompanhamento pós-entrega dos conjuntos habitacionais ou do


processo de remoção.

Não podemos esquecer que a habitação engloba o seu entorno, visando à qualidade de vida dos
sujeitos. Portanto, cabe ao profissional articular os recursos nas proximidades para receber esses
novos moradores. Quanto aos recursos não existentes, cabe a ele propor e defender a construção
de equipamentos públicos para atendimento à população, como centros de saúde, centros de
referência de assistência social, escolas, meios de transporte e lazer, promovendo a participação
da comunidade nesse processo e na defesa dos seus direitos, por meio de conselhos municipais,
organizações e associações de moradores (CFESS, 2016).

O trabalho do assistente social deve ser compreendido no espaço da complexidade – por isso a
necessidade de se trabalhar de forma multidisciplinar. Precisamos compartilhar os saberes para
construir intervenções no coletivo pautadas na garantia dos direitos e na promoção da qualidade de
vida dos sujeitos.

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POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

Saiba mais

Para entender melhor o papel do assistente social na habitação, leia os


artigos a seguir:

CFESS. Atuação de assistentes sociais na política urbana: subsídios para


reflexão. Brasília, 2016. Disponível em: https://bit.ly/39249he. Acesso em:
12 mar. 2021.

REZENDE, C. J. S. et al. A atuação do assistente social na habitação sob


a ótica dos novos espaços sócio ocupacional. Cadernos de Graduação -
Ciências Humanas e Sociais - Unit, Aracaju, v. 1, n. 2, p. 137-146, mar. 2014.
Disponível em: https://bit.ly/3c9p9EI. Acesso em: 12 mar. 2021.

Diante da mundialização do capital (CHESNAIS, 1996), com seus impactos destrutivos no emprego,
nos salários e nos sistemas de proteção social, e dadas as formas particulares da crise do capitalismo
assumidas no contexto brasileiro, um dos mais importantes desafios do assistente social é analisar
e buscar explicações sobre a realidade social numa perspectiva de totalidade, identificando suas
múltiplas determinações e reconhecendo as contradições em tempos de concentração da riqueza e
intensa desigualdade social, para um agir profissional com ética, comprometido com as necessidades
dos trabalhadores (CFESS, 2016).

Na particularidade do capitalismo brasileiro, as emergências políticas e sociais se veem diante de


uma forma dependente de desenvolvimento que reestrutura o Estado, cujas ações intervencionistas se
voltam para o aprofundamento da acumulação capitalista e têm nas cidades o lócus das mais diversas
expressões da desigualdade social, econômica, política e ambiental (CFESS, 2016).

As cidades caóticas e marcadas pela pobreza do século XXI representam, na atualidade, “a mais acabada
materialização territorial e espacial das contradições do sistema produtor de mercadorias” (BURNETT,
2012, p. 101). No caso brasileiro, segundo Maricato (2011), a herança escravocrata e o desprestígio do
trabalho, o patriarcalismo e a privatização da esfera pública, o personalismo e a rejeição às relações
impessoais e profissionais, o clientelismo e a universalização da política do favor contrariamente ao
reconhecimento dos direitos, além da tradição autoritária negando a cidadania, estão presentes em
cada m² da cidade periférica (CFESS, 2016).

Para localizar o trabalho de assistentes sociais no contexto da política urbana, é fundamental


considerar a direção social dada pelo projeto ético-político profissional, cujos fundamentos históricos e
teórico-metodológicos, orientados por valores e princípios éticos numa perspectiva totalizante e crítica
(BARROCO, 2001), comparecem no conjunto das regulamentações profissionais, como a Lei n. 8.662, de
1993, de regulamentação da profissão (CFESS, 1993), o Código de Ética do Assistente Social, de 1993
(CFESS, 2012), as Diretrizes Curriculares para o Curso de Serviço Social da ABEPSS, de 1996, e a Política
Nacional de Estágio da ABEPSS, de 2009.
67
Unidade II

O espaço se define não a partir dos seus resultados finais mais imediatos e visíveis, tais como se
apresentam na paisagem urbana de nossas cidades; mas sim por meio da compreensão do seu processo
de produção social, que articula, concomitantemente, as dimensões material e simbólica das relações
sociais. Assim, o espaço supõe ao mesmo tempo diferentes dimensões e temporalidades contraditórias
da práxis social (CFESS, 2016).

Como afirma Lefebvre (2008, p. 40), o desafio da crítica marxista está na seguinte compreensão
dialética: “qual é a relação entre o espaço mental (percebido, concebido, representado) e o espaço social
(construído, produzido, projetado, portanto, notadamente o espaço urbano), isto é, entre o espaço da
representação e a representação do espaço?”

São muitos os mecanismos pelos quais a cidade reproduz a desigualdade social, explicitando a ausência
do direito à cidade, na apropriação desigual dos espaços na lógica entre legislação urbana, serviços
públicos e obras de infraestrutura (MARICATO, 2013). Os traços que desenham o perfil da sociedade
brasileira são definidos historicamente por uma estrutura fundiária que privilegia a concentração
de terra, de renda e de riqueza, em um processo que teve seu principal marco histórico na Lei de
Terras de 1850, que instituiu a propriedade fundiária no país.

Essa desigualdade social está presente nos condomínios fechados, alimentando uma sociabilidade
enclausurada que rejeita a vida pública, estabelecendo com a cidade a prática da segregação (CALDEIRA,
2000). Está nas cidades nas quais a classe trabalhadora se vê pressionada a construir suas moradias em
encostas inseguras, em áreas de preservação ambiental, ou a viver em conjuntos habitacionais edificados
em áreas periféricas, sem equipamentos sociais e sem infraestrutura urbana, em razão do preço da
terra mais barata. Está na separação que se faz entre campo e cidade, nos impactos pela expansão do
agronegócio, na construção de grandes obras, como as barragens, e na expansão das commodities, que
estabelecem o preço dos alimentos. Está na violação dos direitos humanos pelos despejos que sofrem
as populações que moram em favelas e loteamentos não reconhecidos pelo poder público, reféns de
uma dinâmica urbana definida pelo capital imobiliário e pela supervalorização do título de propriedade
(MULLER, 2012).

São, pois, transformações alimentadas por relações mercantis, em um mundo urbano no qual a
qualidade da vida está condicionada por um intenso individualismo, que determina “as formas espaciais
de nossas cidades, que consistem progressivamente em fragmentos fortificados, comunidades fechadas
e espaços públicos privatizados mantidos sob constante vigilância” (HARVEY, 2012, p. 81).

Em síntese, a ausência do direito à cidade resulta das consequências de profundas contradições


sociais presentes nos espaços urbanos, fomentadas pela sociabilidade do capital, cujos desdobramentos
configuram uma segregação espacial funcional ao sistema, alimentam a desinformação e desorganização
política dos subalternizados, disseminam a violência e provocam a omissão da política social, substituída
por uma polícia ostensiva e onipresente e um aparato penal (WACQUANT, 2001).

A luta pela cidade é a luta pela cidadania, pelo direito de todos ao trabalho, à educação, ao lazer, à
saúde, à habitação, à criação, à participação política, à cidade como fruição. Nesse sentido, a produção

68
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

do espaço é social e, portanto, pressupõe uma relação orgânica entre produção e reprodução de novas
relações sociais (CFESS, 2016).

Como afirma Harvey (2009), o direito à cidade significa o direito de todos nós a criarmos cidades que
satisfaçam as necessidades humanas, as nossas necessidades. O direito à cidade não é simplesmente o
direito ao que já existe na cidade, mas o direito de transformar a cidade em algo radicalmente diferente.

Diante de uma sociedade capitalista cada vez mais destituída de direitos, a implementação da política
urbana coloca-se como possibilidade de distribuição da riqueza socialmente produzida. Tal distribuição
se expressa na moradia adequada, na disponibilidade dos serviços de saneamento e infraestrutura, na
qualidade do transporte coletivo e na mobilidade, nos serviços e equipamentos urbanos, no uso da
cidade respondendo à diversidade da dinâmica societária, independentemente de etnia, idade, orientação
sexual, religião e capacidades (CFESS, 2016).

O trabalho social na política urbana, exercido por assistentes sociais sob a direção do projeto
ético‑político, deve estar orientado na perspectiva do direito à cidade (CFESS, 2016). Nesse sentido, o
desafio está na apropriação do “seu significado social no processo de reprodução das relações sociais,
ante às profundas transformações que se operam na organização e consumo do trabalho e nas relações
entre o Estado e a sociedade civil com a radicalização neoliberal” (IAMAMOTO, 2009, p. 368), refletidas
na questão urbana.

Tudo isso exige a apreensão das determinações políticas, econômicas e sociais que demarcam
as condições objetivas do trabalho do assistente social na sociedade brasileira contemporânea, para
qualificar a intervenção profissional na multidimensionalidade da problemática social que se revela no
espaço urbano, numa perspectiva de totalidade (CFESS, 2016).

Portanto, é na dinâmica da vida social, dadas as condições históricas e conjunturais, que devem estar
referenciados os elementos do trabalho social, tendo em vista sua relação com determinado projeto
profissional e a conexão com um projeto societário, “cujo eixo central vincula-se aos rumos da sociedade
como um todo” (TEIXEIRA; BRAZ, 2009, p. 189).

Conforme Guerra (2012), não há neutralidade na intervenção profissional, e a direção política do


trabalho social se baseia no compromisso assumido com o projeto ético-político da profissão, que é
qualificado por Netto (1999) como um conjunto de valores que a legitimam socialmente, delimitam
e priorizam seus objetivos e funções, formulam os requisitos (teóricos, institucionais e práticos) para
o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as balizas
de sua relação com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e
instituições sociais.

As referências históricas na construção desse projeto merecem ser permanentemente lembradas,


por serem resultado de lutas coletivas que possibilitaram saltos qualitativos na trajetória profissional e
respostas profissionais orientadas por questões teórico-metodológicas e ético-políticas (CFESS, 2016).

69
Unidade II

A apreensão das determinações e a visão histórico-processual da realidade são elementos que


contribuem para identificar os limites dados pela estrutura econômica capitalista e alimentar a convicção
de que tudo se move, se transforma, se desenvolve, porque são processos; mas só se tornam processos
pela ação dos indivíduos, sujeitos capazes de transformar a história (CFESS, 2016).

Nesse sentido, o trabalho social exercido pelo assistente social na política urbana demanda:

• Conhecimento teórico-metodológico que propicie aos profissionais a compreensão da realidade


social e o reconhecimento das demandas e possibilidades de ação profissional.

• Capacitação técnico-operacional que possibilite a construção e identificação de mediações, para


fortalecer as lutas dos movimentos sociais, com vistas a outra sociabilidade.

• Pressupostos ético-políticos no desenvolvimento de ações que se orientam em princípios e


valores ontológicos fundamentais, como liberdade, equidade, universalidade, socialização da
riqueza e emancipação, e nas formas de comportamento, como respeito à diversidade, defesa da
autonomia e da alteridade, recusa do arbítrio, do autoritarismo, da discriminação e do preconceito
(BARROCO, 2009).

Os subsídios para a atuação profissional na política urbana têm como fundamento a tese de
Iamamoto e Carvalho (1982), na qual a profissão é afirmada como uma especialização do trabalho
coletivo no quadro do desenvolvimento capitalista industrial e da expansão urbana (IAMAMOTO, 2007).
Por isso, são princípios e diretrizes do trabalho formular e desenvolver projetos de intervenção que
viabilizem o acesso de segmentos da classe trabalhadora aos direitos, pela mediação da política urbana
e dos diferentes programas das políticas setoriais, com a implementação de serviços com qualidade,
mobilizando e estimulando os sujeitos sociais em processos participativos e de organização popular
(CFESS, 2016).

Essa atuação ocorre sob dois grandes eixos: numa perspectiva coletiva, junto aos movimentos sociais,
nos processos de participação e organização popular; e numa perspectiva individual e/ou grupal, com
vistas a construir respostas às necessidades básicas dos sujeitos usuários da política urbana, no acesso
aos direitos, bens e equipamentos públicos.

Portanto, o trabalho do assistente social se fundamenta nas reflexões construídas sobre as funções
privativas profissionais (Art. 5º do Código de Ética do Assistente Social, de 1993), para a construção de:

[...] estratégias para fazer frente à questão social, [que] têm sido tensionadas
por projetos sociais distintos, que convivem em luta no seu interior, os quais
presidem a estruturação e a implementação das políticas sociais públicas e
dos serviços sociais atinentes aos direitos legais inerentes aos poderes do
Estado – legislativo, executivo e judiciário (IAMAMOTO, 2012, p. 54).

Essas reflexões permitem compreender que a inserção do serviço social na divisão sociotécnica do
trabalho define a forma e o conteúdo do trabalho do assistente social na política urbana. A partir dessa
70
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

inserção, as condições e relações de trabalho – existentes no âmbito específico dessa política e no


contexto mais amplo das transformações do trabalho – expressam situações concretas de subordinação
e/ou autonomia do assistente social como sujeito e força de trabalho. Logo, os processos de trabalho
desse profissional na política urbana são constituídos e mediados pelas contradições e determinações
sócio-históricas, advindas das relações sociais de produção e reprodução capitalistas (CFESS, 2016).

O assistente social está inserido como trabalhador, a partir das ações do capital, do Estado e da classe
trabalhadora na dinâmica contraditória de produção social do espaço (CFESS, 2016).

A política urbana não esgota o urbano, mas é uma das principais formas de regulação e produção do
espaço. Assim, torna-se necessário compreender o papel, os interesses e as formas de ação e organização
da cadeia produtiva imobiliária, do Estado e da classe trabalhadora frente à política urbana e à produção
do espaço (CFESS, 2016).

As ações profissionais na política urbana devem ser feitas no campo da intersetorialidade, o que
significa considerar conhecimentos e práticas de profissionais de outras áreas de conhecimento, os
quais, apoiados na dimensão da totalidade, possibilitam estabelecer uma interlocução necessária para
“superar a fragmentação dos saberes” e romper “com a naturalização, a psicologização e a moralização
das expressões da questão social” (ORTIZ, 2010, p. 333). Isso assegura as condições de acesso às políticas
e aos direitos, além de ajudar a fortalecer os sujeitos coletivos e estimular a apropriação do espaço
público de forma participativa (CFESS, 2016).

Nos processos participativos, a organização política das classes populares consolida espaços de
poder e permite a ampliação da visão de mundo, com o salto do senso comum para o senso crítico.
Espaços de participação são espaços de poder, de mudanças sociopolíticas, porque são espaços possíveis
de enfrentamento das contradições e dos conflitos de classe.

A partir do exposto, serão apresentadas as principais ações desenvolvidas pelo assistente social, sob
os pressupostos da autonomia profissional, que, ainda que relativa (IAMAMOTO, 2009), expressa uma
perspectiva de classe. As ações são:

• De caráter socioeducativo:

— Atuar na perspectiva da totalidade contra uma visão fragmentada da realidade social.

— Construir o perfil socioeconômico da população usuária da política urbana, evidenciando as


condições determinantes e os condicionantes da precarização do modo de vida, com vistas a
possibilitar a formulação de estratégias de intervenção e a produção de informação qualificada.

— Entender o cadastramento que é realizado com famílias e grupos sociais, usuários da política
urbana, como um importante instrumento de informações e identificação de demandas, que
possibilita a apreensão tanto de suas expressões culturais, políticas e econômicas quanto das
múltiplas faces da violência.

71
Unidade II

— Promover espaços de discussão com a população, problematizando a realidade, em um exercício


permanente de conhecimento e análise da realidade.

— Identificar as representações e problematizar as percepções que os grupos sociais têm sobre


sua realidade social.

— Garantir espaços e processos de reflexão contínua para propiciar o entendimento das instituições
públicas e seus vínculos sociais.

— Conhecer e mobilizar a rede de serviços, tendo por objetivo viabilizar os direitos sociais.

— Conhecer e articular a rede de sujeitos coletivos que atuam no espaço urbano.

— Democratizar as informações por meio de orientações, individuais e coletivas, tendo claras as


singularidades e particularidades das famílias e dos grupos sociais usuários da política urbana.

— Democratizar os encaminhamentos quanto aos direitos da população usuária da política urbana.

— Facilitar a socialização de experiências entre os sujeitos sociais, possibilitando o fortalecimento


de relações e vínculos sociais.

— Desenvolver metodologias de trabalho que contribuam para o fortalecimento das relações de


identidade e pertencimento no espaço urbano.

— Utilizar metodologias de trabalho que contribuam para a socialização do conhecimento das


áreas habitadas pela população, com vistas à apropriação das potencialidades dessas áreas.

— Elaborar e/ou divulgar materiais socioeducativos como folhetos, cartilhas, vídeos, cartazes e
outros que facilitem o conhecimento e o acesso dos sujeitos sociais aos serviços oferecidos
pela política urbana e aos direitos em geral.

— Fomentar ações que permitam uma compreensão abrangente das questões que afetam
a população envolvida em projetos e obras, com vistas ao entendimento mais profundo da
realidade e na busca de alternativas para agir sobre essa realidade.

— Incentivar a troca de experiências entre diferentes grupos sociais para que, num processo de
interação, formulem propostas e realizações de interesses comuns.

— Orientar a população envolvida em projetos e obras de urbanização a exigir tempo e condições


de participar de todo o processo, com vistas a minimizar os impactos das intervenções.

— Contribuir para que todas as informações sobre projetos e obras de urbanização estejam
facilmente acessíveis para a população envolvida com bastante antecedência.

72
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

— Exigir o cumprimento do direito à participação no planejamento das ações, nos casos de


desalojamento compulsório, remoção e reassentamento de famílias e grupos sociais, que
provocam impactos significativos na vida dos grupos sociais atingidos.

— Denunciar ao Ministério Público Estadual e Federal e à Defensoria Pública, em parceria com os


movimentos sociais e outras entidades comprometidas na luta pelos direitos, o não acesso às
informações das intervenções de desalojamento compulsório, remoção e reassentamento que
envolvem famílias e grupos sociais.

— Atuar junto a todos os envolvidos nos projetos e nas obras de urbanização, para que as
intervenções realizadas não signifiquem segregação ou discriminação contra a população.

— Valorizar e preservar a memória e a história social do lugar e de seus moradores como elemento
definidor das relações de uso do espaço urbano, na perspectiva do fortalecimento do direito à
diversidade cultural.

— Construir, na práxis cotidiana, a possibilidade de escolha ética diferente da barbárie, identificando


as possibilidades de enfrentamento das questões concretas de violação dos direitos.

— Fomentar debates para capacitar os grupos sociais usuários da política urbana e outros sujeitos
coletivos para a identificação da violação aos direitos.

— Debater e socializar, com os grupos sociais usuários da política urbana e outros sujeitos coletivos,
os PLHIS, as legislações, as políticas e programas sociais e os recursos dos empreendimentos e
obras, de forma a ampliar o escopo dos argumentos na defesa dos direitos.

— Estimular a busca de alternativas face às dificuldades que tendem a inviabilizar o acesso


aos direitos.

— Identificar os mecanismos que facilitam e/ou dificultam o acesso das famílias e dos grupos
sociais à política urbana.

— Promover reflexões críticas sobre as formas de classificação e nomeação do que se considera


impacto socioambiental decorrente de intervenções públicas e/ou privadas no espaço
urbano e/ou rural.

• De caráter organizativo e de mobilização popular:

— Planejar o trabalho profissional sob a perspectiva de articulação e fortalecimento dos


movimentos sociais da classe trabalhadora, para não restringir a ação político-profissional,
que, diante de exigências governamentais, pode assumir um caráter autoritário e controlador.

— Fomentar a participação de grupos sociais usuários da política urbana, no conhecimento crítico


da sua realidade, potencializando os sujeitos sociais para a construção de estratégias coletivas.
73
Unidade II

— Refletir, junto aos usuários da política urbana e outros sujeitos coletivos, sobre o significado do
levantamento de informações das áreas de intervenção.

— Mobilizar e incentivar os grupos sociais usuários da política urbana a participar do controle


democrático dos serviços que lhes são prestados.

— Contribuir para discussões democráticas e para a viabilização das decisões aprovadas nos
espaços de controle social.

— Incentivar e fomentar o compartilhamento de processos de decisão, privilegiando a


transparência das ações.

— Incentivar a atuação das lideranças, contribuindo para a sua legitimidade junto aos
sujeitos sociais.

— Respeitar as formas próprias de organização dos grupos sociais usuários da política urbana.

— Incentivar a organização dos sujeitos sociais para desenvolver processos de negociação com os
setores públicos.

— Identificar aspectos culturais que contribuam para fortalecer a identidade social da população
usuária da política.

— Promover ações que favoreçam a intersetorialidade das políticas, de forma a democratizar o


acesso dos grupos sociais usuários da política urbana.

— Orientar grupos sociais usuários da política urbana que sofrem os conflitos urbanos ambientais
sobre os seus direitos, com relação ao acesso aos serviços básicos e à segurança na posse,
porque significam direito à vida, à saúde e ao meio ambiente saudável.

— Fomentar a participação de grupos sociais usuários da política urbana e dos movimentos sociais,
com vistas a ampliar os espaços democráticos de decisão e construir formas de intervenção no
campo minado de tensões, lutas e contradições em que se movem indivíduos e instituições, sob
a regência do capital.

— Mediar a construção de respostas sociais e políticas para atender às necessidades sociais da


classe trabalhadora, que demanda direitos, bens e serviços necessários à reprodução de suas
vidas, com vistas a reafirmar permanente e cotidianamente os valores e princípios do projeto
ético-político profissional.

— Debater, com os grupos sociais usuários da política urbana e com os movimentos sociais,
as respostas que são construídas frente à questão urbana. Essas não devem se restringir à
construção de moradias ou de reassentamento de famílias, pois isso reproduz o isolamento de
grupos sociais, sem a perspectiva de desenvolvimento econômico-social.
74
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

— Debater, com os grupos sociais e os movimentos sociais, sobre a moradia como um direito
social e humano, o que remete ao acesso à cidade a partir de intervenções físicas, jurídicas e
sociais que garantam a segurança na posse e potencializem o enfrentamento da pobreza.

— Aprofundar o debate com os grupos sociais e os movimentos sociais, com vistas a buscar
mecanismos para exigir e consolidar os direitos, fazendo enfrentamento ao modelo
político‑econômico, que sobrepõe o econômico aos fins sociais.

— Mobilizar os grupos sociais usuários da política urbana em torno de um processo de


conhecimento recíproco e da articulação com formas de organizações já existentes no bairro
e no espaço urbano.

— Contribuir com o conhecimento técnico e ético-político na definição de pautas políticas e na


agenda de luta dos movimentos sociais.

— Trabalhar a inserção das famílias, dos grupos e movimentos sociais no espaço urbano,
apreendendo-o como parte da cidade, a partir do desenvolvimento de sua dimensão política e
de formas de resistência.

— Fomentar a construção de ações autônomas das famílias, dos grupos e movimentos sociais na
gestão das contradições advindas das relações sociais capitalistas.

• De assessoria, supervisão e formação:

— Desenvolver análises críticas das expressões da questão social na particularidade da questão


urbana, para identificar mediações que sejam capazes de fazer enfrentamentos às violações
dos direitos, recompondo-os e ampliando-os.

— Estimular a apreensão dos instrumentos jurídicos e urbanísticos explicitados no Estatuto da


Cidade, que definem que a terra e a cidade devem cumprir a função social.

— Debater e socializar informações sobre a efetivação dos instrumentos urbanísticos e jurídicos


para o acesso à justiça, nas demandas fundiárias e de ocupação do espaço.

— Contribuir para a instrumentalidade profissional, por meio de consultas bibliográficas, de


preparação de seminários sobre assuntos de interesse do trabalho, de leituras de arquivos,
bancos de dados e documentos.

— Desenvolver uma formação continuada, com vistas ao conhecimento da política urbana, para
o aperfeiçoamento na prestação dos serviços aos grupos sociais usuários da política urbana.

— Elaborar e desenvolver instrumentais e pedagogias participativas de intervenção, que


possibilitem identificar as potencialidades dos grupos sociais.

75
Unidade II

— Desenvolver metodologias e construir mediações que articulem e conectem a dimensão local


do trabalho social com as políticas, os planos, os projetos e as diretrizes mais gerais da cidade.

— Contribuir na apreensão de mecanismos que facilitem o estabelecimento e fortalecimento de


vínculos com as famílias e os grupos sociais usuários da política urbana.

— Reafirmar a importância do exercício profissional orientado por um plano de trabalho que


articule as dimensões teórico-metodológica, ético-política e técnico-operativa.

— Conhecer e buscar qualificar, permanentemente, as diferentes etapas do trabalho social, nos


diversos programas referidos à política urbana.

— Reconhecer que o trabalho social tem objetivos diferentes relativos à instituição, ao profissional
e à população e deve ser construído a partir de alianças com os grupos sociais usuários da
política urbana e com os movimentos sociais.

• De planejamento, gestão e coordenação:

— Subsidiar a equipe de trabalho profissional no entendimento de que a moradia é o cenário


do cotidiano de seu habitante, carregado de histórias, subjetividade, afetividades, desejos,
possibilidades objetivas e subjetivas e formas de ser e viver.

— Subsidiar a equipe de trabalho profissional com informações sociais, econômicas e culturais


sobre os grupos sociais usuários da política urbana e sobre os movimentos sociais.

— Desenvolver, junto com a equipe, um trabalho na perspectiva interdisciplinar, resguardadas as


especificidades profissionais, para superar dificuldades de entendimento da linguagem técnica
específica e fortalecer a integração.

— Construir, junto com a equipe, formas de articulação entre as políticas setoriais urbanas e com
as políticas sociais, na elaboração de projetos integrados e multidisciplinares de trabalho social.

— Assumir posicionamento em favor da equidade e justiça social, na perspectiva da


universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas urbanos, bem como a
sua gestão democrática.

— Fortalecer as lutas autônomas na defesa de interesses das classes trabalhadoras.

— Fortalecer a perspectiva da gestão democrática e participativa, com controle social.

— Conhecer e divulgar legislações, normativas e manuais que orientam o trabalho social.

— Identificar dificuldades de estrutura e gestão e atuar para a sua superação.

76
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

— Identificar os mecanismos que potencializam o trabalho social e os aspectos estruturais e


conjunturais que dificultam o processo.

— Afirmar a importância dos registros e da documentação das atividades desenvolvidas.

— Exigir o registro sistemático do desenvolvimento do trabalho social.

— Desenvolver metodologias de intervenção participativas nos diferentes espaços de atuação


profissional, tais como nas reuniões, nas visitas domiciliares e às áreas, no atendimento
individual e em grupos, nas oficinas etc.

— Socializar conhecimentos sobre a heterogeneidade do espaço urbano e a diversidade dos


grupos sociais que convivem no espaço.

— Elaborar e alimentar sistemas de informação participativos.

— Assegurar espaços de reflexão teórica e política sobre o trabalho social.

— Incentivar a formação de fóruns de debates, grupos de estudos interdisciplinares e diálogos


com a Academia.

— Garantir a transparência e a participação na definição das responsabilidades e atribuições da


coordenação e gestão de programas e projetos de intervenção urbanística e social.

— Acompanhar e supervisionar o uso dos recursos disponíveis, que viabilizem a execução dos
programas e da política urbana.

— Potencializar a formação de uma rede de serviços sociais para o fortalecimento do trabalho social.

— Criar condições para explicitar conflitos interdisciplinares e desenvolver metodologias de


caráter político-pedagógico para gerenciá-los.

— Atuar nos processos de monitoramento da política urbana, de forma a contribuir para sua
permanente avaliação frente às necessidades sociais e à dinâmica da realidade socioinstitucional.

— Elaborar formas de planejamento do trabalho social, articuladas com outros planejamentos,


como o Plano Nacional de Direitos Humanos, o Plano Local de Habitação de Interesse Social e
o Plano Diretor Participativo.

— Ocupar e qualificar profissionalmente os diversos espaços de planejamento da política urbana,


nas suas diferentes escalas municipais, estaduais e federal.

As cidades brasileiras, atravessadas pelos conflitos e contradições que tensionam os diferentes


sujeitos que nelas habitam, são espaços marcados pelo modelo neoliberal empreendedorista, que se
77
Unidade II

desenvolve sob a lógica das relações capitalistas, nos programas e projetos urbanísticos que reproduzem
a periferização, a segregação social, a violência urbana, a degradação ambiental, a precariedade das
moradias sem infraestrutura e distantes dos equipamentos sociais, com transportes coletivos também
precários (CFESS, 2016).

Os marcos liberais do capitalismo privilegiam um modelo político econômico que sobrepõe os fins
econômicos aos sociais, abrindo espaço para um processo de reestruturação urbana que alimenta a
especulação imobiliária e a disputa pelo acesso à terra e pelo controle do uso e da ocupação do solo
(CFESS, 2016).

As formas de ocupação e apropriação da terra no Brasil foram fundamentais para a consolidação do


Estado nacional e a formação das classes sociais. A consolidação da propriedade privada no Brasil tem
suas consequências até hoje, ao deixar intocada a questão da terra, concentrando riqueza e poder, e
tornando a classe trabalhadora refém dessa base econômica. São elementos fundamentais para entender
a dinâmica das cidades brasileiras sob a sociabilidade do capital e para impulsionar a retomada das
dimensões valorativas e emancipatórias presentes no ideário da reforma urbana, na defesa da função
social da propriedade e na luta por cidades que atendam às necessidades coletivas e garantam os
direitos de todos ao trabalho, à educação, ao lazer, à saúde, à habitação, à criação, à participação política
(CFESS, 2016).

O breve resgate das mudanças da política urbana no Brasil mostrou a forma como foi conduzida
a organização do espaço urbano (e sua relação com o campo), no processo de produção do capital.
São mudanças que revelam uma distância entre a realidade que se propõe a transformar, na defesa
da função social da propriedade e da cidade, e as normas jurídicas e os programas e projetos que são
desenvolvidos, incapazes de alterar as relações desiguais de acesso à terra e à cidade e de privilegiar
interesses coletivos que transformem a realidade social (CFESS, 2016).

No diálogo estabelecido entre o desenvolvimento da política urbana e o serviço social, buscou-se


registrar as características do exercício profissional e suas particularidades em contextos históricos e
políticos específicos (CFESS, 2016).

É, portanto, na dinâmica de uma sociedade em mudança que o trabalho social, desenvolvido pelos
assistentes sociais, afirma-se no campo da política urbana, configurando-se desde a necessidade de
respaldar o controle exercido pelas classes dominantes, até o estabelecimento de alianças com os
movimentos sociais e outros sujeitos coletivos, na perspectiva dos direitos e das conquistas emancipatórias
da classe trabalhadora (CFESS, 2016).

Diante da realidade social e sob esses parâmetros políticos, há muitos desafios na luta por cidades
justas e igualitárias, que exigem dos assistentes sociais a atuação pela ampliação da esfera pública,
pelo fortalecimento dos espaços democráticos de decisão e das instâncias de conquista do poder e pela
garantia do acesso aos direitos. Nessa direção, o conhecimento dos dispositivos desenhados pelo sistema
jurídico brasileiro, referidos ao desenho do espaço urbano (principalmente o Estatuto da Cidade), deve
subsidiar reflexões e debates na implantação de políticas de ocupação do solo, de forma a atender aos

78
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

interesses coletivos, na implementação dos marcos regulatórios da política urbana e no desenvolvimento


de projetos urbanísticos e sociais.

Assim, reconhecemos a moradia digna como direito social e como forma de possibilitar o acesso à
cidade, com segurança na posse e medidas de prevenção de despejos. Isso se traduz na defesa do direito
ao saneamento como política pública e estatal, “de estratégica importância na perspectiva da saúde
pública e do ambiente, considerando a universalização do acesso com qualidade aos serviços prestados
e o reconhecimento do saneamento nas suas interfaces com as políticas setoriais urbanas” (PEREIRA,
2013, p. 280), com prioridade de atendimento às famílias pobres, moradoras de áreas periféricas das
cidades (CFESS, 2016).

A defesa da mobilidade é um direito, e a prioridade do transporte coletivo um serviço público


essencial, a ser disponibilizado com qualidade e barateamento das tarifas, garantindo o direito de ir e
vir e de circular livremente nos espaços na cidade. É imprescindível, portanto, a defesa de uma gestão
democrática das cidades, de forma a articular o financiamento e a tomada de decisão sobre o uso e a
destinação dos recursos públicos e os instrumentos de intervenção, com participação popular e controle
social (CFESS, 2016).

Concluímos que os assistentes sociais têm como desafio, diante da realidade brasileira, assumir o
trabalho social como exercício de criação coletiva, alimentando as demandas populares por autonomia
e controle social e consolidando a luta pelo direito à cidade (CFESS, 2016).

6 MOBILIDADE URBANA

Por que é importante compreendermos a mobilidade urbana como matéria que influencia as
intervenções do assistente social? O espaço urbano onde vivemos, caminhamos, trabalhamos,
consumimos, estudamos etc., segundo Telles (2001, p. 13):

é uma consequência de uma sociedade que se fez moderna, ou seja, é uma


sociedade que se industrializou e se urbanizou, que gerou novas classes
e grupos sociais, novos padrões de mobilidade e conflito social [...] é uma
sociedade portadora de uma dinâmica associativa que fez emergir novos
atores, identidades, novos comportamentos, valores e demandas.

Assim, podemos afirmar que a mobilidade urbana está intrinsecamente relacionada à PNAS (BRASIL,
2005a), que define o princípio de territorialização e considera as desigualdades socioterritoriais como
elemento norteador dessa política pública. Consequentemente, o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS) se respalda na condição socioespacial para identificar as demandas do serviço social e elaborar
programas e projetos, respeitando a localização das demandas do serviço social e melhorando, assim, o
acesso dos usuários aos serviços prestados pela assistência social.

A Política Nacional de Mobilidade Urbana (PNMU) passou a exigir que os municípios com população
acima de 20 mil habitantes, além de outros, elaborem e apresentem um plano de mobilidade urbana,
com a intenção de planejar o crescimento das cidades de forma ordenada (BRASIL, 2016a).
79
Unidade II

Saiba mais

Para conhecer as orientações para a elaboração de um plano de mobilidade


urbana, cadastre-se no site a seguir e acesse “PlanMob - Caderno de Referência
para Elaboração de Plano de Mobilidade Urbana - Caderno de Referência”:

Disponível em: https://bit.ly/3fca9YC. Acesso em: 23 mar. 2021.

A Lei n. 12.587 (BRASIL, 2012) estabelece os princípios, as diretrizes e os objetivos da PNMU de forma
clara e objetiva, visando orientar a atuação tanto do Governo Federal quanto dos estados e municípios
em busca de um padrão de mobilidade urbana mais sustentável. É nas cidades onde as pessoas mais se
deslocam em suas atividades diárias, sendo necessária, portanto, uma atuação conjunta entre os vários
níveis de governo e a sociedade civil para garantir a construção de cidades mais saudáveis para todos
(BRASIL, 2016a).

A sustentabilidade é um termo muito utilizado nas últimas décadas. Esse termo surgiu no relatório
desenvolvido pela Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, apresentado em
1987, conhecido como Relatório de Brundtland ou Nosso Futuro Comum. O relatório traz a definição de
desenvolvimento sustentável como aquele que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a
capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades.

Sachs (2002 apud CAMOLESI, 2004) define oito critérios básicos para o conceito de sustentabilidade:

• Social: refere-se ao alcance de um patamar de homogeneidade social, distribuição de renda e


garantia de igualdade no acesso a serviços e recursos sociais.

• Cultural: convivência equilibrada entre inovação e tradição, condição de autonomia com


a elaboração de um projeto nacional com perfil endógeno e abertura para o mundo sem
comprometimento da autoconfiança interna.

• Ecológica: limitação de acesso a recursos não renováveis e preservação do potencial da natureza


na reprodução dos recursos renováveis.

• Ambiental: respeito à capacidade de autodepuração dos sistemas naturais.

• Territorial: alocações de investimentos públicos balanceados entre as áreas urbanas e rurais,


ecodesenvolvimento com conservação da biodiversidade e superação das disparidades
inter‑regionais.

80
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

• Econômico: segurança alimentar, promoção de um desenvolvimento econômico intersetorial


equilibrado, desenvolvimento da capacidade de modernização permanente dos instrumentos de
produção e soberania quanto à inserção internacional.

• Política (nacional): alcance de patamares de apropriação de direitos humanos como pressuposto


básico da democracia, desenvolvimento da capacidade do Estado em estabelecer uma rede de
parcerias na implementação de um projeto nacional e alcance de um nível razoável de coesão social.

• Política (internacional): eficiência da ONU nas medidas de prevenção de guerras, pactuação norte‑sul
sobre medidas de ecodesenvolvimento, controle internacional sobre o sistema internacional
financeiro e de negócios, gestão responsável sobre o meio ambiente e recursos naturais globais e
promoção de cooperação científica e tecnológica internacional, com flexibilização do caráter de
commodity dessas áreas, conferindo‑as como herança da humanidade.

A Lei de Mobilidade Urbana (BRASIL, 2012) traz também o papel da União, dos estados e municípios
na implantação da PNMU, ao esclarecer os direitos dos usuários dos sistemas de mobilidade e apontar as
diretrizes para a regulação dos serviços de transporte público coletivo e as diretrizes para o planejamento
e a gestão dos sistemas de mobilidade urbana (BRASIL, 2016a).

Com relação aos princípios, a PNMU trata de conceitos abrangentes que visam orientar a implantação
da política. Entre eles, destacam-se: a acessibilidade universal; o desenvolvimento sustentável; a
equidade no uso dos espaços públicos e no acesso aos sistemas de mobilidade; e a gestão democrática
no planejamento e na avaliação da política (BRASIL, 2016a).

As diretrizes, por sua vez, são orientações sobre os caminhos que devem ser seguidos para atingir os
objetivos da Lei. Assim, entre as dispostas na PNMU, destacam-se: a necessidade de integração entre as
políticas setoriais de desenvolvimento urbano; a priorização dos modos não motorizados e do transporte
público coletivo; a integração entre os vários modos de transporte; e a utilização de energias renováveis
e menos poluentes nos sistemas de mobilidade (BRASIL, 2016a).

Os objetivos definem a visão de futuro almejada para a mobilidade urbana das cidades brasileiras.
A PNMU visa interferir nas cidades para que ofereçam maior igualdade de acesso às oportunidades de
emprego, à saúde, à educação e ao lazer; para que trilhem o caminho de um desenvolvimento urbano
mais sustentável, economicamente equilibrado, menos agressor ao meio ambiente e socialmente
inclusivo; e, por fim, para que as condições de mobilidade das cidades possam evoluir continuamente,
com apoio e participação de toda a sociedade (BRASIL, 2016a).

De acordo com um estudo do BNDES, a maior parte dos problemas de deslocamento, que prejudicam
a qualidade da mobilidade nas cidades brasileiras, está concentrada em 15 regiões metropolitanas.
Enquanto o tempo médio de deslocamento nessas regiões no trecho casa-trabalho é de 43 minutos
(chegando a aproximadamente 50 minutos nas RMs de São Paulo e Rio de Janeiro), nas demais regiões
metropolitanas é de 27 minutos e, no restante do Brasil, de 23 minutos (BRASIL, 2016a).

81
Unidade II

Podemos compreender que ter qualidade de mobilidade e deslocamento nas grandes cidades se
tornou um desafio para os gestores do século XXI. Também é possível mencionar o quanto nossa saúde
é afetada não somente pela poluição dos veículos motorizados, mas pelos altos ruídos do próprio
movimento dinâmico das cidades. Assim, a interação entre mobilidade urbana e serviço social se pauta
nos direitos e deveres dos usuários nas cidades e também na compreensão dos fenômenos urbanos da
atualidade, que muitas vezes são recortados por leituras dispersas da verdadeira realidade de chão, a
qual o serviço social deve observar, conhecer e intervir.

Conforme nos aponta Gottdiener (2010, p. 127):

O espaço não pode ser reduzido apenas a uma localização ou às relações


sociais da posse da propriedade — ele representa uma multiplicidade de
preocupações sociomateriais. O espaço é uma localização física, uma
peça de bem imóvel, e ao mesmo tempo uma liberdade existencial e uma
expressão mental. O espaço é ao mesmo tempo o local geográfico da ação e
a possibilidade de engajar-se na ação.

Podemos citar situações cotidianas que ilustram a multiplicidade das questões sociomateriais dos
usuários da assistência social na dinâmica da mobilidade urbana. Por exemplo: muitos usuários agendam
uma consulta médica na UBS X, mas no dia da consulta não têm recurso para o seu transporte até a UBS.
O problema em si não pode ser considerado como ausência intencional à consulta médica; portanto,
não podemos considerar o problema como falta de acesso à saúde, mas é também uma questão de
renda familiar, pois se relaciona à falta de recurso material para o seu deslocamento. Também podemos
tratar essa questão como problema de transporte, pois há locais que não possuem acesso ao transporte
público para que o deslocamento do usuário possa ocorrer de forma efetiva.

Assim, a problemática se expande para além da ausência intencional à saúde, da renda, do


transporte, e se consolida como uma questão de liberdade existencial e de consequências
emocionais, devido a uma complexidade de arranjos socioterritoriais de mobilidade que precisam
ser estudados, compreendidos e conhecidos pelos assistentes sociais. Como o próprio Gottdiener
(2010, p. 127) menciona, “o espaço contém e está contido nas relações sociais, logo, o real é
historicamente construído, tendo como representação mental o urbano e a cidade como expressão
material desta representação”.

Com relação aos direitos dos usuários no transporte público, temos um tema muito abordado nas
questões de mobilidade urbana por várias categorias. O MCidades (BRASIL, 2013) nos esclarece que:

Os usuários devem ser informados sobre os padrões preestabelecidos de


qualidade e quantidade dos serviços ofertados, inclusive com informações
disponibilizadas nos pontos de embarque e desembarque como itinerários,
horários e tarifas.

82
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

E ainda define:

Mobilidade Urbana Sustentável - mecanismos para que os municípios


implementem os princípios e diretrizes e cumpram os objetivos estabelecidos
na Lei. Ressalta-se, principalmente, o controle da demanda por viagens de
automóveis e o estímulo ao uso de modos não motorizados e transporte
público coletivo. Aliado ao uso de instrumentos de controle de demanda
por viagens de automóveis é importante aumentar a oferta de serviços e
infraestruturas com qualidade, segurança, acessibilidade e modicidade
tarifária. Como exemplo, pode-se citar a oferta de rede cicloviária segura e
bem sinalizada, calçadas acessíveis, transporte público confortável, confiável,
acessível e com baixo custo aos usuários (BRASIL, 2013).

A mobilidade urbana e o serviço social são, sem dúvidas, matérias de aprofundamento constante
no que diz respeito a direitos e deveres. Retratam conflitos, contradições, diferentes interpretações, mas
acima de tudo são áreas de muitas possibilidades e intervenções, que podem ser efetivas se houver um
trabalho profissional com ética e conhecimento das legislações que amparam suas ações, suas relações
profissionais com gestores municipais e estaduais.

Conforme nos lembra Faleiros (1999), a prática profissional só deixará de ser repetitiva e pragmática
se os profissionais souberem vincular as intervenções no dia a dia a um processo de construção e
desconstrução permanente de categorias que permitam a crítica e autocrítica do conhecimento e da
intervenção. Trata-se, portanto, de interpretar o mundo na sua transformação e de transformá-lo na
sua interpretação.

Dessa forma, as intervenções do assistente social na mobilidade urbana demandam uma busca
constante de diferentes saberes e aprimoramentos para atingir o reconhecimento de sua importância
nos processos de mediações complexas. Como essa representação profissional ocupa diferentes áreas
e busca fazer a diferença na realidade, é necessário conhecer o chão do cotidiano, o qual exige uma
interação com novas e diferentes realidades. A diferença não deve ser apenas no discurso, nas ideologias,
mas em ações precisas, direcionadas, coordenadas, planejadas em função de um projeto de sociedade,
dignas de pluralidades sócio-humanas e de múltiplas configurações.

6.1 Saneamento básico e saúde

Para realizar intervenções efetivas no âmbito de direitos relacionados ao saneamento básico, é


preciso que os assistentes sociais conheçam os conceitos, os critérios, os objetivos, o planejamento e as
ações que amparam sua atuação profissional na área e sua interação direta com a saúde dos usuários
que atendem no dia a dia. Conforme o Plano Nacional de Saneamento Básico (PLANSAB) (BRASIL, 2008):

O saneamento básico envolve a atuação de múltiplos agentes numa


ampla rede institucional e está marcado por um grande déficit no acesso,
em termos de parcelas expressivas da sociedade e, principalmente, da
população de baixa renda.
83
Unidade II

Figura 19 – Lançamento de esgotos diretamente no córrego (São Paulo/SP)

O entorno da habitação e suas condições são fundamentais para garantir a sobrevivência e a


qualidade de vida. Imagine, por exemplo, se você vivesse em uma casa sem saneamento básico, em
que o esgoto corre a céu aberto e desemboca em um rio da sua cidade, única fonte de água para
consumir. Qual seria o impacto dessa falta de infraestrutura na sua vida? Todos os possíveis: haveria
insetos, bactérias e animais que transmitem doenças e contaminação da água e do solo, tornando‑o
improdutivo para o plantio e consumo, entre outros. Esse é o resultado da falta de saneamento básico,
muitas vezes imperceptível ao nosso olhar. Pensar em habitação significa considerar tudo, inclusive o
entorno, pois sem a adequada estrutura os resultados impactam diretamente na qualidade de vida, em
todos os sentidos – ambiental, social e econômico.

A Lei n. 11.445 (BRASIL, 2007c) estabelece as diretrizes nacionais da Política de Saneamento Básico;
determina o planejamento, a regulação, a fiscalização e o controle social como fundamentais para a
gestão dos serviços; estimula a solidariedade e a cooperação entre os entes federados; define as regras
gerais para a atuação dos prestadores de serviços – público e privado – e dos agentes reguladores; prevê
a obrigatoriedade da elaboração dos planos municipais, regionais e nacional de saneamento básico;
bem como estabelece mecanismos e procedimentos para a avaliação sistemática da eficiência e eficácia
das ações programadas para o Plano, em consonância com o Sistema Nacional de Informações em
Saneamento Básico (SINISA) (BRASIL, 2008).

Essa Lei define, entre outros, os princípios da universalização do acesso, da integralidade, da articulação
com outras políticas públicas, da eficiência e sustentabilidade econômica, da transparência das ações
e do controle social, da segurança, da qualidade e regularidade e da integração das infraestruturas e
serviços com gestão eficiente dos recursos hídricos. Estabelece, ainda, as diretrizes da Política Federal de
Saneamento Básico e prevê o PLANSAB.

84
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

Figura 20 – Pinguelas para acesso às moradias (São Paulo/SP)

Assim, a Lei Nacional do Saneamento Básico, entre outras definições, prevê o PLANSAB (BRASIL,
2008), o qual se propôs inicialmente por um Pacto Pelo Saneamento.

O Pacto pelo Saneamento Básico tem o propósito de buscar a adesão e o compromisso de toda a
sociedade por meio dos segmentos representados no Conselho das Cidades (Poder Público, empresários,
trabalhadores, movimentos sociais, ONGs e Academia e Pesquisa), bem como dos prestadores de serviços
e outros órgãos responsáveis pelo saneamento básico, em relação aos eixos, às estratégias e ao processo
de elaboração e implementação do PLANSAB.

O Pacto deve estabelecer um ambiente de confiança e compromisso, pautado na construção de


caminhos e soluções para a universalização do acesso ao saneamento básico e à inclusão social. Também
visa mobilizar os diversos segmentos da sociedade na construção do Plano (que ocorreu em 2009) e no
engajamento para o alcance dos objetivos e das metas do PLANSAB, conforme os cinco grandes eixos
(BRASIL, 2008) apresentados a seguir.

a) Metas para a universalização

O PLANSAB deve definir objetivos e metas nacionais e regionalizados e estabelecer o engajamento


de todos os entes federados pela universalização do saneamento básico nas áreas urbana e rural.

A universalização do saneamento básico – em abastecimento de água potável, esgotamento


sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais – deve garantir, independentemente
de classe social e capacidade de pagamento, qualidade, integralidade, continuidade, inclusão social
e, ainda, contribuir para a superação das diferentes formas de desigualdades sociais e regionais, em
especial desigualdades de gênero e étnico-raciais.

No compromisso com os objetivos de desenvolvimento do milênio, o PLANSAB deve identificar o real


impacto do saneamento básico, planejar o esforço do setor para o alcance dos oito objetivos propostos e
85
Unidade II

buscar os meios possíveis para que seja cumprida a meta de redução pela metade do número de pessoas
sem acesso, em 1990, ao abastecimento de água e ao esgotamento sanitário.

b) Participação e controle social

O controle social no saneamento básico envolve o direito à informação, à representação técnica e à


participação na formulação das políticas, no planejamento e na avaliação da prestação dos serviços de
saneamento básico, bem como nas atividades de regulação e fiscalização.

O PLANSAB deve disseminar e apoiar o desenvolvimento e a consolidação dos canais de informação


e espaços de representação, que garantam o efetivo direito ao controle social e à articulação com os
espaços de participação das políticas públicas de saúde, desenvolvimento urbano, recursos hídricos,
meio ambiente, educação, entre outros.

Ademais, o Plano deve definir os canais de participação e controle social sobre a Política Federal de
Saneamento Básico, garantindo o papel central do Conselho das Cidades.

c) Cooperação federativa

O PLANSAB deve buscar o equilíbrio e a integração dos interesses entre as esferas federal, estadual
e municipal com respeito ao pacto federativo da Constituição Federal de 1988.

Para tanto, deve definir canais de cooperação e identificar necessidades e potencialidades nos campos
do planejamento, da gestão, do desenvolvimento institucional, da capacitação e do investimento,
inclusive junto aos prestadores de serviço e demais segmentos do setor. E, ainda, identificar e desenhar
modelos de gestão que garantam esse equilíbrio.

d) Integração de políticas

O PLANSAB deve criar canais que promovam a integração dos diferentes órgãos que atuam no
saneamento básico, no desenvolvimento, na implementação de seus programas e ações e em todas as
modalidades relacionadas ao tema, incorporando as diretrizes da 3ª Conferência Nacional das Cidades
(BRASIL, 2007a). Deve também adotar estratégias e formular instrumentos de integração que considerem
os impactos e efeitos diretos e indiretos em relação às políticas de saúde, ao desenvolvimento urbano e
regional, aos recursos hídricos e ao meio ambiente.

Saiba mais

Para conhecer as diretrizes da 3ª Conferência Nacional das Cidades, leia:

BRASIL. Ministério das Cidades. 3ª Conferência Nacional das Cidades.


Desenvolvimento urbano com participação popular: avançando na gestão
democrática das cidades. Brasília, 2007a. Disponível em: https://bit.
ly/3smFxYm. Acesso em: 24 mar. 2021.

86
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

e) Gestão e sustentabilidade

O PLANSAB deve buscar o desenvolvimento de mecanismos de gestão dos serviços e incentivar o


desenvolvimento de modelos alternativos que permitam atingir níveis crescentes de eficiência e eficácia
e a sustentabilidade social, ambiental, econômica e financeira do saneamento básico, com vistas ao
alcance das metas de universalização.

Além disso, deve fomentar a cooperação e a assistência técnica para a melhoria da gestão por meio do
desenvolvimento institucional, da capacitação de técnicos, gestores e atores sociais, do monitoramento
e da avaliação do cumprimento das metas e dos impactos das ações e de novas tecnologias na
eficiência da gestão.

Podemos identificar possibilidades de atuação do serviço social nesses cinco eixos citados, pois
muitos relatos de usuários, através dos atendimentos no cotidiano, expõem a ausência de políticas de
saneamento básico (água potável e esgotamento sanitário), principalmente em áreas afastadas dos
centros urbanos, ocupações irregulares, precárias, favelas ou até mesmo nas consideradas zonas rurais.

A realidade é que muitos profissionais que atendem às demandas dessa questão social diariamente, na
maioria das vezes, não recorrem ao trabalho intersetorial e multidisciplinar necessário de planejamento
urbano da cidade onde atuam; ou ao setor de dotação orçamentária, de projetos urbanos, para participar
de conduções estratégicas dessas demandas.

Por isso, é necessário estender essas demandas, que são também da área da saúde, para ações
eficazes no âmbito da assistência social, pois o assistente social também é considerado um profissional
da saúde, segundo Art. 1º da Resolução CFESS n. 383/99 (CFESS, 1999).

Conforme apontamento da própria PNAS (BRASIL, 2005a):

Considerando a alta densidade populacional do País e, ao mesmo tempo, seu


alto grau de heterogeneidade e desigualdade socioterritorial presentes entre
os seus 5.561 Municípios, a vertente territorial faz-se urgente e necessária na
Política Nacional de Assistência Social. Ou seja, o princípio da homogeneidade
por segmentos na definição de prioridades de serviços, programas e projetos
torna-se insuficiente frente às demandas de uma realidade marcada pela
alta desigualdade social. Exige-se agregar ao conhecimento da realidade a
dinâmica demográfica associada à dinâmica socioterritorial em curso.

Isso nos mostra que a atuação do assistente social é amplamente pertinente na área da saúde, não
apenas nos encaminhamentos necessários, mas na busca por nivelamentos profissionais em diversas
áreas, muitas vezes não desbravadas. Como abordado nos eixos do saneamento básico, busca-se trabalhar
formas para a inclusão social, através da real compreensão das desigualdades sociais e regionais. Essa é
uma das características do SUAS, pois, conforme Koga (2003), os direcionamentos das políticas públicas
estão intrinsecamente vinculados à qualidade de vida dos cidadãos.

87
Unidade II

Portanto, temos como objeto da função social buscar a qualidade de vida da população, que perpassa
por diferentes setores das políticas públicas, pois as expressões da questão social são múltiplas. Devemos
buscar contatos, parcerias, dialogar com diferentes atores, uma vez que nossa categoria defende um
novo projeto de sociedade. Não podemos manter um discurso que nega as reais necessidades da
população. É preciso amplamente cultuar nossas bases profissionais, éticas e técnicas para que possamos
traduzir projetos de gaveta em ações concretas. Conforme apontado por Menicucci (2002) na PNAS
(BRASIL, 2005a):

O novo paradigma para a gestão pública articula descentralização e


intersetorialidade, uma vez que o objetivo visado é promover a inclusão social
ou melhorar a qualidade de vida, resolvendo os problemas concretos que
incidem sobre uma população em determinado território. Ou seja, ao invés
de metas setoriais a partir de demandas ou necessidades genéricas, trata-se
de identificar os problemas concretos, as potencialidades e as soluções, a
partir de recortes territoriais que identifiquem conjuntos populacionais em
situações similares, e intervir através das políticas públicas, com o objetivo de
alcançar resultados integrados e promover impacto positivo nas condições
de vida. O que Aldaíza Sposati tem chamado de atender à necessidade e
não o necessitado.

A atuação do assistente social no âmbito do saneamento básico é considerada uma ação intersetorial.
Para que possamos promover a inclusão social e melhorar a qualidade de vida da população nessa
política pública, temos que nos dispor a enxergar a realidade como ela se mostra no cotidiano para
promover ações coerentes e, acima de tudo, citando a afirmação de Aldaíza Sposati (2008), atender à
necessidade e não o necessitado.

Figura 21 – Palafitas (São Luís/MA)

Para que tenhamos a dimensão da atuação do assistente social na política de saneamento básico,
é necessário revisitar também os instrumentos/instrumentais utilizados pelo profissional, como

88
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

planejamento, relatórios, levantamento social, reconhecimento de área, diagnósticos, pareceres,


encaminhamentos, reuniões, organização de documentos, entre outros, pautando-se numa
instrumentalidade adequada às ações a serem realizadas. Outra necessidade é conhecer realmente
a realidade em si, não criá-la a partir de dogmas. Conforme bem lembra Menicucci (2002) na PNAS
(BRASIL, 2005a):

A proposta de planejamento e intervenções intersetoriais envolve mudanças


nas instituições sociais e suas práticas. Significa alterar a forma de articulação
das ações em segmentos, privilegiando a universalização da proteção
social em prejuízo da setorialização e da autonomização nos processos
de trabalho. Implica, também, em mudanças na cultura e nos valores da
rede socioassistencial, das organizações gestoras das políticas sociais e
das instâncias de participação. Torna-se necessário constituir uma forma
organizacional mais dinâmica, articulando as diversas instituições envolvidas.

Tendo em vista as intervenções intersetoriais e as mudanças nas formas como as políticas públicas e
sociais devem ser efetivadas no cotidiano, é possível verificar na Lei n. 11.445 (BRASIL, 2007c), artigo 48,
as diretrizes dessa política em torno de pontos que podem ampliar as expectativas do assistente social
enquanto profissional que pretende superar a fragmentação da sua prática e de velhos paradigmas:

• equidade social e territorial e desenvolvimento urbano e regional;

• qualidade de vida; condições ambientais e saúde pública;

• desenvolvimento sustentável, eficiência, eficácia e adequada regulação;

• planejamento com base em indicadores epidemiológicos e de


desenvolvimento social;

• adoção de critérios de renda e cobertura, urbanização, concentração


populacional, disponibilidade hídrica, riscos sanitários, epidemiológicos
e ambientais;

• garantia do atendimento à população rural;

• desenvolvimento científico;

• bacia hidrográfica como unidade de referência;

• estímulo à cooperação entre entes federados; e

• articulação com as políticas para o desenvolvimento urbano e regional,


habitação, combate e erradicação da pobreza, proteção ambiental,
promoção da saúde e outras de interesse social (BRASIL, 2008).
89
Unidade II

Já o artigo 49 estabelece os objetivos da Política Federal de Saneamento Básico, relacionados aos


seguintes aspectos:

• redução de desigualdades regionais, geração de emprego e renda e


inclusão social;

• priorizar áreas ocupadas por populações de baixa renda;

• salubridade ambiental dos povos indígenas e populações tradicionais


conforme suas características socioculturais; e das populações rurais
e núcleos urbanos isolados;

• maximização da relação benefício-custo e do retorno social;

• incentivar mecanismos de planejamento, regulação e fiscalização;

• promover alternativas de gestão com ênfase na cooperação federativa;

• promover o desenvolvimento institucional;

• minimizar os impactos ambientais e assegurar o atendimento às


normas relativas à proteção do meio ambiente, ao uso e ocupação do
solo e à saúde (BRASIL, 2008).

Percebemos que muitos dos objetivos e das diretrizes dessa política de saneamento apresentam
similaridades com alguns princípios que orientam o Código de Ética do Assistente Social (CFESS, 2012)
e podem ser trabalhados de forma conjunta no que se refere ao trabalho intersetorial e ao bem-estar
da população:

• Reconhecimento da liberdade como valor ético central e das demandas


políticas a ela inerentes - autonomia, emancipação e plena expansão
dos indivíduos sociais;

• Defesa intransigente dos direitos humanos e recusa do arbítrio e


do autoritarismo;

• Ampliação e consolidação da cidadania, considerada tarefa primordial


de toda sociedade, com vistas à garantia dos direitos civis sociais e
políticos das classes trabalhadoras;

• Defesa do aprofundamento da democracia, enquanto socialização da


participação política e da riqueza socialmente produzida;

90
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

• Posicionamento em favor da equidade e justiça social, que assegure


universalidade de acesso aos bens e serviços relativos aos programas
e políticas sociais, bem como sua gestão democrática;

• Empenho na eliminação de todas as formas de preconceito,


incentivando o respeito à diversidade, à participação de grupos
socialmente discriminados e à discussão das diferenças;

• Garantia do pluralismo, através do respeito às correntes profissionais


democráticas existentes e suas expressões teóricas, e compromisso
com o constante aprimoramento intelectual;

• Opção por um projeto profissional vinculado ao processo de


construção de uma nova ordem societária, sem dominação exploração
de classe, etnia e gênero;

• Articulação com os movimentos de outras categorias profissionais


que partilhem dos princípios deste Código e com a luta geral
dos trabalhadores;

• Compromisso com a qualidade dos serviços prestados à


população e com o aprimoramento intelectual, na perspectiva da
competência profissional;

• Exercício do Serviço Social sem ser discriminado, nem discriminar,


por questões de inserção de classe social, gênero, etnia, religião,
nacionalidade, opção sexual, idade e condição física (CFESS, 2012).

Quando mencionamos similaridades nos documentos anteriores analisados, é preciso compreender


que existe apenas um objetivo e uma função social comum entre objetivos, princípios e diretrizes dessas
políticas: o bem-estar do ser humano. Portanto, garantir direitos e construir propostas para o bem da
população demanda uma renovação de ideias acerca da concepção de política pública e social.

Para que o assistente social seja realmente atuante nas diversas áreas, com seu devido reconhecimento,
é preciso deixar de lado a velha ideologia que o põe como profissional excluído de políticas relevantes e
reagir às velhas práticas constituídas, de forma a atuar de fato como categoria profissional, e não como
classe política, o que destoa o seu verdadeiro significado social e profissional.

É preciso atentar para a saúde como uma grande consequência positiva ou negativa do saneamento
básico, ou seja: onde há saneamento básico, há indicadores de saúde melhores; em indicadores negativos,
as ausências se somam a outros fatores que ampliam as questões sociais existentes.

Segundo a World Health Organization (WHO, 2004):

91
Unidade II

Saneamento é o controle de todos os fatores do meio físico, que exercem ou


podem exercer efeitos nocivos sobre o seu bem estar físico, mental e social.
A própria OMS define saúde como o estado de completo bem-estar físico,
social e mental, e não apenas a ausência de doença.

Conforme Bovolato (2010), modernamente, a oferta de saneamento associa sistemas constituídos


por uma infraestrutura física (obras e equipamentos) e uma estrutura educacional, legal e institucional
que abrange os seguintes serviços:

• Abastecimento de água às populações, com qualidade compatível com a proteção de sua saúde e
quantidade suficiente para garantir condições básicas de conforto.

• Coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sanitariamente segura dos esgotos


sanitários, incluindo os rejeitos provenientes das atividades doméstica, comercial e de serviços,
industrial e pública.

• Coleta, tratamento e disposição ambientalmente adequada e sanitariamente segura dos resíduos


sólidos rejeitados pelas atividades citadas.

• Coleta de águas pluviais e controle de empoçamentos e inundações.

• Controle de vetores de doenças transmissíveis (insetos, roedores, moluscos etc.).

No Brasil e em países em desenvolvimento, temos muitos casos de doenças e falta de saúde, pois não
há um saneamento básico que consideravelmente atenda à maioria da população. Consequentemente,
convivemos com índices de saúde que desfavorecem a qualidade de vida de muitos.

Ainda conforme Bovolato (2010), se as condições de saneamento no Brasil fossem mais adequadas,
haveria uma substancial melhoria no quadro de saúde da população. Ademais, o país economizaria
com a construção e manutenção de hospitais e a compra de medicamentos. A Organização Mundial de
Saúde (OMS) define saneamento como o controle de todos os fatores do meio físico do homem, que
exercem ou podem exercer efeito deletério sobre seu bem-estar físico, mental e social. Pela sua própria
definição, o saneamento é indissociável do conceito de saúde.

Muitas doenças infecciosas e parasitárias têm no meio ambiente uma fase de seu ciclo de transmissão,
como é o caso de uma doença de veiculação hídrica, de transmissão feco-oral. A implantação de um
sistema de saneamento, nesse caso, significaria interferir no meio ambiente, de modo a interromper
o ciclo de transmissão da doença. Além da intervenção em saneamento e dos cuidados médicos,
esse controle da transmissão de doenças completa-se quando é promovida a educação sanitária,
adotando‑se hábitos higiênicos, como a utilização e manutenção adequadas das instalações sanitárias e a
melhoria da higiene pessoal, doméstica e de alimentos (BOVOLATO, 2010).

Não podemos nos esquecer de mencionar o Sistema Único de Saúde (SUS) como uma das políticas
de maior importância no país e que comunga de uma interação com os objetivos definidos na PNMU,
segundo o CFESS (2010).
92
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

Ao compreender o SUS como uma estratégia, o Projeto de Reforma Sanitária tem como base o
Estado democrático de direito, responsável pelas políticas sociais e, consequentemente, pela saúde.
Destacam-se como fundamentos dessa proposta: a democratização do acesso; a universalização das
ações; a melhoria da qualidade dos serviços, com a adoção de um novo modelo assistencial pautado
na integralidade e equidade das ações; a democratização das informações e transparência no uso de
recursos e ações do governo; a descentralização com controle social democrático e a interdisciplinaridade
nas ações. O projeto tem como premissa básica a defesa da saúde como direito de todos e dever do
Estado (BRAVO; MATOS, 2001).

Conforme Bovolato (2010, p. 15):

Os problemas ambientais e de saúde coletiva decorrentes da precariedade


da oferta dos serviços de saneamento básico é, antes de tudo, resultante de
processos fundamentalmente políticos e sociais. Na perspectiva da saúde
coletiva, para a qual os problemas de saúde da população resultam da forma
como se organiza a sociedade, em suas múltiplas dimensões, os programas
de promoção da saúde relacionados com os problemas ambientais devem
ser movimentos politicamente agressivos na perspectiva de uma equidade
social, política e econômica. É claro que a baixa cobertura dos serviços de
saneamento no Brasil implicam desdobramentos nefastos para a saúde das
pessoas, principalmente aquelas de mais baixa renda, além das consequências
negativas ao meio ambiente, considerando as inúmeras possibilidades de
agravo ao equilíbrio dos ecossistemas. A indissociabilidade entre saneamento
básico, qualidade de água e saúde coletiva, nos remete a uma reflexão sobre
a forma como este tema é tratado no Brasil e a aparente imobilidade da
sociedade em reivindicar um direito que, inclusive, é garantido em nossa
Constituição, que é o de prover a todos os cidadãos direito ao acesso à saúde
em todos os seus aspectos.

Temos que refletir sobre nossa atual condição profissional, sobre nossa capacidade de participação,
mudança, transformação e controle social, discursos tão presentes na literatura do assistente social
e que, numa dimensão prática, permanecem tímidos diante de tantas demandas da realidade da
população, principalmente no que diz respeito à nossa atuação na área da saúde. O CFESS apresenta a
seguinte reflexão:

Pode-se também observar a intrínseca relação do controle social com


os pressupostos contidos no Código de Ética, Lei da Regulamentação da
Profissão e o Projeto Ético-Político. O Código de Ética explícita essa vinculação
tanto através de seus princípios concernentes a ampliação e consolidação
da cidadania e à gestão democrática de serviços, programas e políticas
sociais, à defesa do aprofundamento da democracia enquanto socialização
da participação política, como em relação ao dever do assistente social
com os usuários de contribuir para a viabilização da participação efetiva da
população usuária nas decisões institucionais (CFESS, 1993).
93
Unidade II

Necessitamos nos debruçar sobre as avaliações constantes das ações realizadas no campo profissional,
os índices de eficácia e eficiência, além de compreender os indicadores socioambientais, de forma a
buscar onde se faz necessário intervir, dialogar, transformar, atuar, ampliando, assim, uma prática que
efetive o que se pretende enquanto categoria profissional. Tal reflexão nos traz possibilidades de pensar
em inovações no seio da profissão, em reformulações necessárias na formação profissional e, acima
de tudo, dar vida aos fundamentos, princípios, projetos, discursos que por si só não transformam a
qualidade de vida dos usuários.

Apontamos, a seguir, as considerações que o documento Pacto pelo Saneamento (BRASIL, 2008)
define como política de saúde atrelada ao saneamento básico:

- A Constituição Federal define que a saúde é direito de todos e


dever do Estado, garantido mediante políticas sociais e econômicas
que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção,
proteção e recuperação.

- A presença de patologias tais como cólera, febre tifoide, leptospirose,


malária e dengue, além da desnutrição infantil, está vinculada às
condições do ambiente, à deficiência no acesso ao Saneamento
Básico, às condições dos recursos hídricos e da habitação, de higiene
e extrema pobreza.

- A salubridade ambiental, como um direito de todos, é condição


indispensável à segurança sanitária e à melhoria da qualidade de
vida. O Saneamento Básico contribui diretamente na melhoria da
saúde da população, principalmente pela interface com as ações
de saúde pública, servindo como indicador de inclusão social e de
qualidade de vida.

- O acesso a serviços de Saneamento Básico de qualidade tem efeitos


diretos reconhecidos sobre a saúde da população. O Saneamento
Básico exerce importância fundamental no quadro epidemiológico.
Suas ações têm efeito imediato na redução das enfermidades
decorrentes da falta desses serviços.

Conhecendo a interlocução de objetivos em função da qualidade de vida do usuário das políticas


públicas e sociais tratadas nos nossos estudos, faz-se necessário esclarecer as competências que nos são
exigidas, apreendendo sua real dimensão no cotidiano, conforme nos confirma o CFESS (2010):

As competências e atribuições dos assistentes sociais com base na Lei


de Regulamentação da Profissão requisitam do profissional algumas
competências gerais que são fundamentais à compreensão do contexto
socio-histórico em que se situa sua intervenção, a saber:
94
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

- apreensão crítica dos processos sociais de produção e reprodução das


relações sociais numa perspectiva de totalidade;

- análise do movimento histórico da sociedade brasileira, apreendendo


as particularidades do desenvolvimento do capitalismo no país e as
particularidades regionais;

- compreensão do significado social da profissão e de seu


desenvolvimento socio-histórico, nos cenários internacional e
nacional, desvelando as possibilidades de ação contidas na realidade;

- identificação das demandas presentes na sociedade, visando formular


respostas profissionais para o enfrentamento da questão social,
considerando as novas articulações entre o público e o privado
(ABEPSS, 1996). São essas competências que permitem ao profissional
realizar a análise crítica da realidade, para, a partir daí, estruturar
seu trabalho e estabelecer as competências e atribuições específicas
necessárias ao enfrentamento das situações e demandas sociais que
se apresentam em seu cotidiano.

Ainda, a Lei de Regulamentação da Profissão n. 8.662 estabelece, no seu artigo 4º, como competências
do assistente social:

- elaborar, implementar, executar e avaliar políticas sociais junto


à órgãos da administração pública direta ou indireta, empresas,
entidades e organizações populares;

- elaborar, coordenar, executar e avaliar planos, programas e projetos


que sejam de âmbito de atuação do Serviço Social com participação
da sociedade civil;

- encaminhar providências e prestar orientação social a indivíduos,


grupos e à população;

- orientar indivíduos e grupos de diferentes segmentos sociais no sentido


de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e
na defesa de seus direitos;

- planejar, organizar e administrar benefícios e serviços sociais;

- planejar, executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para a


análise da realidade social e para subsidiar ações profissionais;

95
Unidade II

- prestar assessoria e consultoria a órgãos da administração pública


direta, indireta, empresas privadas e outras entidades;

- prestar assessoria e apoio aos movimentos sociais em matéria


relacionada às políticas sociais, no exercício e na defesa dos direitos
civis, políticos e sociais da coletividade;

- planejamento, organização e administração de serviços sociais e de


Unidade de Serviço Social;

- realizar estudos socioeconômicos com os usuários para fins de


benefícios e serviços sociais junto aos órgãos da administração pública
direta e indireta, empresas privadas e outras entidades (CFESS, 1993).

No artigo 5º, a Lei apresenta como atribuições privativas do assistente social:

- coordenar, planejar, executar, supervisionar e avaliar estudos,


pesquisas, planos, programas e projetos na área de Serviço Social;

- planejar, organizar e administrar programas e projetos em Unidade


de Serviço Social;

- assessoria e consultoria a órgãos da administração pública direta


e indireta, empresas privadas e outras entidades em matéria
de Serviço Social;

- realizar vistorias, perícias técnicas, laudos periciais, informações e


pareceres sobre a matéria de Serviço Social;

- assumir, no magistério de Serviço Social, tanto a nível de


graduação quanto pós-graduação, disciplinas e funções que exijam
conhecimentos próprios e adquiridos em curso de formação regular;

- treinamento, avaliação e supervisão direta de estagiários


de Serviço Social;

- dirigir e coordenar Unidades de Ensino e Cursos de Serviço Social, de


graduação e pós-graduação;

- dirigir e coordenar associações, núcleos, centros de estudo e de


pesquisa em Serviço Social;

- elaborar provas, presidir e compor bancas de exames e comissões


julgadoras de concursos e outras formas de seleção para assistentes
96
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

sociais, ou onde sejam aferidos conhecimentos inerentes ao


Serviço Social;

- coordenar seminários, encontros, congressos e eventos assemelhados


sobre assuntos de Serviço Social;

- fiscalizar o exercício profissional por meio dos Conselhos Federal


e Regionais;

- dirigir serviços técnicos de Serviço Social em entidades públicas


ou privadas;

- ocupar cargos e funções de direção e fiscalização da gestão


financeira em órgãos e entidades representativas da categoria
profissional (CFESS, 1993).

Acreditamos que há muitas bases legais para atuarmos de forma efetiva, amparados na legalidade
profissional. O que nos falta é ser mais propositivos e inovadores, conforme demanda a realidade social.

Foi sancionada em 2020 a Lei n. 14.026 (BRASIL, 2020b), concebida como o Marco Legal do
Saneamento Básico, considerando que hoje, no país, 35 milhões de pessoas não têm acesso à água
tratada e mais de cem milhões não contam com serviços de coleta de esgoto. A meta, com o Marco,
é garantir o atendimento de 99% da população com água potável e de 90% com tratamento e coleta
de esgoto até 31 de dezembro de 2033 (BRASIL, 2020a).

É importante trazer as definições elencadas pela legislação a título de informação e conhecimento


sobre o saneamento básico. A redação oficial da Lei dispõe que:

Art. 3º Para fins do disposto nesta Lei considera-se:

I - saneamento básico: conjunto de serviços públicos, infraestruturas e


instalações operacionais de:

a) abastecimento de água potável: constituído pelas atividades e pela


disponibilização e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais
necessárias ao abastecimento público de água potável, desde a captação até
as ligações prediais e seus instrumentos de medição;

b) esgotamento sanitário: constituído pelas atividades e pela disponibilização


e manutenção de infraestruturas e instalações operacionais necessárias
à coleta, ao transporte, ao tratamento e à disposição final adequados
dos esgotos sanitários, desde as ligações prediais até sua destinação final
para produção de água de reúso ou seu lançamento de forma adequada
no meio ambiente;
97
Unidade II

c) limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos: constituídos pelas


atividades e pela disponibilização e manutenção de infraestruturas e
instalações operacionais de coleta, varrição manual e mecanizada, asseio e
conservação urbana, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos domiciliares e dos resíduos
de limpeza urbana; e

d) drenagem e manejo das águas pluviais urbanas: constituídos pelas


atividades, pela infraestrutura e pelas instalações operacionais de drenagem
de águas pluviais, transporte, detenção ou retenção para o amortecimento de
vazões de cheias, tratamento e disposição final das águas pluviais drenadas,
contempladas a limpeza e a fiscalização preventiva das redes;

II - gestão associada: associação voluntária entre entes federativos, por


meio de consórcio público ou convênio de cooperação, conforme disposto
no art. 241 da Constituição Federal;

III - universalização: ampliação progressiva do acesso de todos os domicílios


ocupados ao saneamento básico, em todos os serviços previstos no inciso XIV
do caput deste artigo, incluídos o tratamento e a disposição final adequados
dos esgotos sanitários;

IV - controle social: conjunto de mecanismos e procedimentos que


garantem à sociedade informações, representações técnicas e participação
nos processos de formulação de políticas, de planejamento e de avaliação
relacionados com os serviços públicos de saneamento básico;

VI - prestação regionalizada: modalidade de prestação integrada de um


ou mais componentes dos serviços públicos de saneamento básico em
determinada região cujo território abranja mais de um Município, podendo
ser estruturada em:

a) região metropolitana, aglomeração urbana ou microrregião: unidade


instituída pelos Estados mediante lei complementar, de acordo com o § 3º
do art. 25 da Constituição Federal, composta de agrupamento de Municípios
limítrofes e instituída nos termos da Lei nº 13.089, de 12 de janeiro de 2015
(Estatuto da Metrópole);

b) unidade regional de saneamento básico: unidade instituída pelos Estados


mediante lei ordinária, constituída pelo agrupamento de Municípios não
necessariamente limítrofes, para atender adequadamente às exigências de
higiene e saúde pública, ou para dar viabilidade econômica e técnica aos
Municípios menos favorecidos;

98
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

c) bloco de referência: agrupamento de Municípios não necessariamente


limítrofes, estabelecido pela União nos termos do § 3º do art. 52 desta Lei e
formalmente criado por meio de gestão associada voluntária dos titulares;

VII - subsídios: instrumentos econômicos de política social que contribuem


para a universalização do acesso aos serviços públicos de saneamento básico
por parte de populações de baixa renda;

VIII - localidades de pequeno porte: vilas, aglomerados rurais, povoados,


núcleos, lugarejos e aldeias, assim definidos pela Fundação Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE);

IX - contratos regulares: aqueles que atendem aos dispositivos legais


pertinentes à prestação de serviços públicos de saneamento básico;

X - núcleo urbano: assentamento humano, com uso e características urbanas,


constituído por unidades imobiliárias com área inferior à fração mínima de
parcelamento prevista no art. 8º da Lei nº 5.868, de 12 de dezembro de 1972,
independentemente da propriedade do solo, ainda que situado em área
qualificada ou inscrita como rural;

XI - núcleo urbano informal: aquele clandestino, irregular ou no qual


não tenha sido possível realizar a titulação de seus ocupantes, ainda que
atendida a legislação vigente à época de sua implantação ou regularização;

XII - núcleo urbano informal consolidado: aquele de difícil reversão,


considerados o tempo da ocupação, a natureza das edificações, a localização
das vias de circulação e a presença de equipamentos públicos, entre outras
circunstâncias a serem avaliadas pelo Município ou pelo Distrito Federal;

XIII - operação regular: aquela que observa integralmente as disposições


constitucionais, legais e contratuais relativas ao exercício da titularidade e à
contratação, prestação e regulação dos serviços;

XIV - serviços públicos de saneamento básico de interesse comum: serviços


de saneamento básico prestados em regiões metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões instituídas por lei complementar estadual, em que se
verifique o compartilhamento de instalações operacionais de infraestrutura
de abastecimento de água e/ou de esgotamento sanitário entre 2 (dois)
ou mais Municípios, denotando a necessidade de organizá-los, planejá-
los, executá-los e operá-los de forma conjunta e integrada pelo Estado
e pelos Munícipios que compartilham, no todo ou em parte, as referidas
instalações operacionais;

99
Unidade II

XV - serviços públicos de saneamento básico de interesse local: funções


públicas e serviços cujas infraestruturas e instalações operacionais atendam
a um único Município;

XVI - sistema condominial: rede coletora de esgoto sanitário, assentada em


posição viável no interior dos lotes ou conjunto de habitações, interligada à
rede pública convencional em um único ponto ou à unidade de tratamento,
utilizada onde há dificuldades de execução de redes ou ligações prediais no
sistema convencional de esgotamento;

XVII - sistema individual alternativo de saneamento: ação de saneamento


básico ou de afastamento e destinação final dos esgotos, quando o local não
for atendido diretamente pela rede pública;

XVIII - sistema separador absoluto: conjunto de condutos, instalações e


equipamentos destinados a coletar, transportar, condicionar e encaminhar
exclusivamente esgoto sanitário;

XIX - sistema unitário: conjunto de condutos, instalações e equipamentos


destinados a coletar, transportar, condicionar e encaminhar conjuntamente
esgoto sanitário e águas pluviais (BRASIL, 2020b).

Podemos concluir que é necessária a retomada dos investimentos, além da melhoria na governança
das organizações do setor, um planejamento consistente dos recursos a serem investidos, para que o
quadro atual possa ser revertido em uma melhor qualidade do setor no país.

7 POLÍTICA DE REGULARIZAÇÃO FUNDIÁRIA NAS FAVELAS E NOS CORTIÇOS

Para compreendermos a funcionalidade da política de regularização fundiária e os assentamentos


precários no Brasil, faz-se necessário aprofundar o conhecimento das desigualdades urbanas e buscar
critérios que permitam a priorização das ações de urbanização, em função de informações precisas das
condições ambientais, das situações de risco, dos graus de precariedade, da violência urbana e dos níveis
de segregação social dos assentamentos (BRASIL, 2010).

Figura 22 – Edificações com diversos pavimentos (Rio de Janeiro/RJ)

100
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

A partir de 2003, a integração urbana dos assentamentos precários passou a se efetivar como um
dos eixos prioritários das políticas públicas habitacionais e urbanas, consolidando, no âmbito nacional,
uma orientação que já vinha sendo adotada por governos municipais e estaduais ao longo da década de
1990. Concorreram para tanto: a criação do MCidades e do Conselho das Cidades em 2003; a aprovação
da nova PNH em 2004; a institucionalização do SNHIS e do FNHIS em 2005; e, em especial, o lançamento
do PAC Urbanização de Favelas em 2007 (BRASIL, 2010).

O objetivo da política de integração urbana de assentamentos precários é a inclusão socioespacial


de importante parcela da população brasileira que vive, nas nossas cidades, em situações de risco,
insalubridade e insegurança relacionadas com a precariedade das suas condições de moradia. Para
alcançar esse objetivo, as intervenções compreendem medidas para a regularização fundiária dos
assentamentos, atendimento social às comunidades, melhorias habitacionais e adequação urbanística,
incluindo a implantação de infraestrutura, equipamentos e serviços urbanos.

A expressão assentamentos precários (BRASIL, 2010) foi adotada pela nova PNH de forma a englobar,
numa categoria de abrangência nacional, o conjunto de assentamentos urbanos inadequados ocupados
por moradores de baixa renda, incluindo as tipologias tradicionalmente utilizadas pelas políticas públicas
de habitação, tais como cortiços, loteamentos irregulares de periferia, favelas e assemelhados, bem
como conjuntos habitacionais degradados.

Os assentamentos precários são, portanto, porções do território urbano com dimensões e tipologias
variadas, que têm em comum:

• o fato de serem áreas predominantemente residenciais, habitadas por


famílias de baixa renda;

• a precariedade das condições de moradia, caracterizada por inúmeras


carências e inadequações, tais como: irregularidade fundiária; ausência
de infraestrutura de saneamento ambiental; localização em áreas mal
servidas por sistema de transporte e equipamentos sociais; terrenos
alagadiços e sujeitos a riscos geotécnicos; adensamento excessivo,
insalubridade e deficiências construtivas da unidade habitacional;

• a origem histórica, relacionada às diversas estratégias utilizadas


pela população de baixa renda para viabilizar, de modo autônomo,
solução para suas necessidades habitacionais, diante da insuficiência
e inadequação das iniciativas estatais dirigidas à questão, bem
como da incompatibilidade entre o nível de renda da maioria dos
trabalhadores e o preço das unidades residenciais produzidas pelo
mercado imobiliário formal (BRASIL, 2010, p. 9).

Conforme relata Silva (2002), a favela “é definida pelo que ela não é ou pelo que não tem”. Isso
significa que a favela é a manifestação popular ou de projetos estatais de reordenamento do espaço
urbano que alteram substancialmente a paisagem das cidades, mas também esbarram nas características
101
Unidade II

de um sonhado espaço formal. Ainda conforme Silva (2002), “a favela é apreendida como um espaço
destituído de infraestrutura urbana – água, luz, esgoto, coleta de lixo, sem arruamento, globalmente
miserável, sem ordem, sem lei, sem regras, sem moral, enfim, expressão do caos”.

Citamos Foucault (2014, p. 212), que ilustra bem o ordenamento do caos, conforme alguns
compreendem as favelas:

Seria preciso fazer uma “história dos espaços” – que seria o mesmo tempo
uma “história dos poderes” – que estudasse desde as grades estratégias da
geopolítica até as pequenas táticas do habitat, da arquitetura institucional,
da sala de aula ou da organização hospitalar, passando pelas implantações
econômicas-políticas. É surpreendente ver como o problema dos espaços
levou tanto tempo para aparecer como problema histórico-político.

Portanto, é possível afirmar que toda sociedade funciona por mecanismos de ordenamento
determinados, que são o arranjo de espaço (MOREIRA, 2002). Isso significa que, no caso específico
das favelas, é notória a ausência do Estado-nação desde o início da história na geografia das terras
brasileiras e, consequentemente, das favelas, pois os latifúndios, a economia e os monopólios eram
prioridades, não o ordenamento territorial.

Como já vimos, o espaço vai muito além do lugar onde se mora ou se abriga; o espaço se constitui
de uma dialética dinâmica da vida em sociedade, de um aspecto histórico-político-econômico dentro
do mundo geográfico intenso das divisas, que são determinantes das localizações, das distribuições
e dos valores de espaços. A localização das favelas se constitui como espaço legítimo a partir da
noção de apropriação, mas ao mesmo tempo não está regulada juridicamente devido à ausência de
documentação de posse, sendo considerada pelo próprio Estado como subnormal, conforme conceitua
o IBGE (2019, p. 8):

Aglomerado Subnormal é uma forma de ocupação irregular de terrenos de


propriedade alheia – públicos ou privados – para fins de habitação em áreas
urbanas e, em geral, caracterizados por um padrão urbanístico irregular,
carência de serviços públicos essenciais e localização em áreas com restrição
à ocupação. No Brasil, esses assentamentos irregulares são conhecidos por
diversos nomes como favelas, invasões, grotas, baixadas, comunidades,
vilas, ressacas, loteamentos irregulares, mocambos e palafitas, entre outros.
Enquanto referência básica para o conhecimento da condição de vida da
população brasileira em todos os municípios e nos recortes territoriais
intramunicipais – distritos, subdistritos, bairros e localidades –, o Censo
Demográfico aprimora a identificação dos aglomerados subnormais.

É importante ressaltar que o espaço é o lugar onde o sujeito reside, mora, convive, constituído pelo
sentimento de pertencer.

102
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

Figura 23 – Alta densidade e materiais permanentes (Rio de Janeiro/RJ)

O déficit e a precariedade habitacional que caracterizam as condições de vida de grande parte da


população urbana do Brasil têm suas raízes no processo de formação da sociedade brasileira. Em especial,
o problema começou a aparecer na segunda metade do século XIX, com a definição de garantias legais
para a propriedade privada da terra (1850), a abolição da escravidão (1888) e o início do primeiro
movimento migratório de trabalhadores rurais para as cidades, onde se concentravam as oportunidades
de trabalho assalariado.

Até 1930, na primeira etapa desse processo, predominava a ideia de que, numa economia de mercado,
a provisão habitacional deveria resolver-se no âmbito da iniciativa privada, e o cortiço surgiu como a
principal resposta da sociedade brasileira às demandas habitacionais do proletariado (VILLAÇA, 1986).

O cortiço tradicional é basicamente uma moradia alugada, estruturada como habitação coletiva,
constituída por cômodos resultantes da subdivisão de edificações antigas e deterioradas, com
instalações sanitárias de uso comum. O superadensamento e a insalubridade dos cortiços – entendidos
como ameaças de epidemias que conflitavam com os objetivos das intervenções de embelezamento
e remodelação urbana desenvolvidas no período – levaram às primeiras ações de remoção maciça de
moradias populares das áreas urbanas centrais (VILLAÇA, 1986).

As primeiras favelas surgiram, assim, associadas à destruição de um grande número de cortiços, por
volta de 1900, em cidades como Rio de Janeiro e Recife. De acordo com Abreu (2006), as favelas do Rio
de Janeiro têm sua origem relacionada à questão do alojamento de soldados, enfrentada pelo governo
durante os primeiros anos da República.

Em 1893, foi autorizada, no morro de Santo Antônio, a construção de alguns galpões de madeira
para alojamento, e, em 1897, soldados retornados da campanha militar de Canudos começaram a ocupar
o Morro da Providência, onde já havia um núcleo de barracos, construídos por famílias despejadas de
um cortiço. Por algum tipo de analogia entre o Morro da Providência e a paisagem de Canudos, esse
assentamento começou a ser chamado de Morro da Favela, fazendo referência a uma espécie de arbusto
da Caatinga, muito abundante no sertão de Canudos (ABREU, 2006).
103
Unidade II

A partir de 1920, o termo favela se generalizou especialmente no Sudeste, passando a designar


uma forma de habitação popular na qual a precariedade da casa se apresenta associada à precariedade
da posse da terra, decorrente da ocupação não consentida de terrenos públicos ou privados e de
áreas inadequadas à urbanização, como morros e mangues. No Nordeste e demais regiões do país,
tais assentamentos precários são conhecidos por outras denominações, como mocambos, ocupações,
invasões, palafitas etc. (ABREU, 2006).

Consideradas como solução provisória e ilegal, as favelas foram ignoradas pelas políticas urbanas da
Primeira República, mas, a partir de 1930, essa postura começou a ser questionada por diversos setores
da sociedade, que cobravam do governo uma política de construção de casas operárias higiênicas,
levando à aprovação de leis que proibiam a construção de novas moradias em favelas, bem como a
intervenções pontuais de erradicação de favelas e mocambos, associadas ou não à construção de vilas
operárias e a programas de assistência social (ABREU, 2006).

Na década de 1940, diante do crescimento das reivindicações pelo aumento da oferta de moradias,
o governo resolveu interferir no mercado de aluguéis por meio do tabelamento de preços e controle
dos despejos. Os efeitos imediatos dessas medidas foram o desaparecimento dos empreendimentos
privados destinados ao aluguel residencial e o agravamento da crise habitacional, ao mesmo tempo que
se afirmava o modelo da casa própria (LAGO; RIBEIRO, 1996).

No que diz respeito às famílias de baixa renda, esse modelo traduziu-se numa nova forma de
precariedade habitacional: os loteamentos irregulares de periferia, associados à autoconstrução
da casa própria. Os lotes baratos multiplicaram-se pelas periferias urbanas sem incorporar qualquer
infraestrutura, justamente para serem o mais barato possível – enquanto as prefeituras editavam leis
urbanísticas que não eram aplicadas nos assentamentos populares, e os governos estaduais e federal
fechavam os olhos para a questão (VILLAÇA, 1986).

Por trás da aparente benevolência do poder público, vigorava uma espécie de acordo, não explicitado,
entre o Estado e o capital industrial, por meio do qual se promoviam condições excepcionais para a
industrialização, retirando a parcela relacionada ao preço da moradia do custo de reprodução da mão
de obra (BONDUKI, 1998).

Paralelamente, e também como consequência das condições em que se dava a urbanização do país,
favelas, mocambos, palafitas e assemelhados se multiplicavam no Rio de Janeiro, em Recife, Salvador,
São Paulo, Porto Alegre, Belo Horizonte e demais cidades integradas ao processo de industrialização.
A atuação do poder público em relação à questão se mantinha errática, oscilando entre a permissividade
e a continuidade de alguns programas de erradicação e/ou assistência social (BONDUKI, 1998).

Apenas na década de 1950, quando a Igreja Católica começou a atuar de forma mais organizada junto
às favelas do Rio de Janeiro, surgiram as primeiras propostas de implantação de redes de infraestrutura
e de construção de novas moradias nesses núcleos, com a participação da população local. Pioneiras
no sentido de superar o binário tolerância-erradicação, tais propostas apontavam a alternativa de
urbanização das favelas, que foi institucionalizada pela primeira vez no Brasil em 1956, com a criação

104
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

do Serviço Especial de Recuperação das Favelas e Habitações Anti-Higiênicas (SERFHA) pelo governo do
Distrito Federal, sem produzir resultados concretos.

Na década seguinte, de 1950 a 1960, o trabalho do assistente social no campo urbano apresentou
particularidades sob influências que vão da perspectiva funcional, caracterizada pelas respostas
paliativas, paternalistas e burocratizadas do segundo período do governo Vargas, ao ideário da concepção
desenvolvimentista do governo Kubitschek, no atendimento individual no campo da previdência e
assistência social, ainda que, conforme Vieira (1983), houvesse orientações governamentais para buscar
respostas às famílias de trabalhadores com relação à moradia. A direção da intervenção pública, no início
da década de 1960, em tempos de intenso processo de urbanização e de pouca produção de moradias
para a classe trabalhadora, estava na repressão, no controle, na omissão e na exclusão (SILVA, 1989).

Não por acaso, os primeiros censos de favelas datam da mesma década, revelando as seguintes
totalizações: no Rio de Janeiro (1950), 58 favelas com 169,3 mil moradores; em Porto Alegre (1951),
56 favelas com 54,1 mil moradores; em Belo Horizonte (1955), 9,3 mil barracos com 36,4 mil moradores;
e, em São Paulo (1957), 141 favelas e 8,4 mil barracos com 50 mil moradores.

Em 1964, no início da ditadura militar, com a criação do Banco Nacional da Habitação (BNH) e
do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), surgiu a primeira iniciativa do governo brasileiro destinada
a enfrentar a questão habitacional por meio de uma política nacional, totalmente estruturada, com
objetivos, desenho institucional, instrumentos e recursos específicos. Naquele momento, a criação do
sistema BNH/SFH visava a dois objetivos: por um lado, oferecer respostas às reivindicações organizadas
e conquistar o apoio popular; por outro, criar uma política permanente de financiamento capaz de
estruturar o setor da construção civil habitacional em moldes capitalistas (BONDUKI, 2008).

O segundo objetivo acabou por prevalecer, em função dos vultosos recursos que foram disponibilizados
para o BNH/SFH, a partir da criação do FGTS em 1967. Apesar das muitas inovações, dos recursos
mobilizados para o setor e de uma significativa produção habitacional (ARRETCHE, 1990), o novo
sistema apresentou, em relação à moradia popular, problemas semelhantes aos do mercado imobiliário
privado: os financiamentos não alcançavam os grupos de menor renda, que continuavam promovendo
o crescimento das favelas e dos loteamentos precários nas periferias.

Além de insuficientes e inadequados em relação à demanda a que se propunham atender, os


programas populares financiados pelo BNH por meio das COHABs – criadas para atuar como agentes
promotores para o segmento de baixa renda – se caracterizaram pela produção de enormes conjuntos
nas periferias das grandes cidades, localizados em áreas rurais e não dotadas de infraestrutura urbana,
na tentativa de viabilizar soluções de mais baixo custo, dentro de um modelo que não previa o aporte
de subsídios orçamentários e se baseava num sistema bancário de financiamento (BRASIL, 2010).

Nesse sentido, a produção de habitações de interesse social, com recursos e instrumentos viabilizados
pela política estatal, acabou reproduzindo e ampliando a estratégia de localização dos loteamentos
clandestinos e irregulares de periferia, gerando novas situações de precariedade habitacional e urbana
(BRASIL, 2010).

105
Unidade II

O ano de 1979 constituiu um marco importante para a história dos loteamentos irregulares
(ou clandestinos) de periferia, em função da aprovação da Lei Federal n. 6.766 (BRASIL, 1979), que
disciplina o parcelamento do solo urbano. Além de criminalizar as atividades dos loteadores clandestinos,
a nova lei estabeleceu parâmetros urbanísticos para a aprovação dos novos parcelamentos do solo
urbano e agravou de modo significativo as exigências para a regularização desses empreendimentos
(BRASIL, 2010).

A prática que vigorava anteriormente, de anistia da irregularidade urbanística e de gradual


urbanização das áreas loteadas, em resposta às demandas dos moradores, foi substituída pela
necessidade de atendimento (para a regularização) das mesmas condições estabelecidas para
a aprovação de loteamentos urbanos: doação de áreas verdes ao poder público, reserva de faixa
não edificável de 15 metros junto aos córregos, elaboração e execução dos projetos completos de
infraestrutura urbana de drenagem, abastecimento de água, esgotamento sanitário, iluminação,
sistema viário etc. (BRASIL, 2010).

Considerando que, na maioria dos casos, o traçado urbano dos loteamentos irregulares populares
não atendia às exigências da nova lei, seus efeitos foram de prolongar a situação de precariedade
urbanística existente e contribuir para o crescimento das favelas, pois, com a criminalização dos
loteadores clandestinos, reduziu-se a oferta de loteamentos irregulares populares (BRASIL, 2010).

Na década de 1980, ocorreu o processo de redemocratização, num contexto de grande mobilização


popular. Em torno de 1984, teve início uma articulação nacional das lutas por moradia e direito à cidade,
que convergiu para a organização do Movimento Nacional de Reforma Urbana, mobilizado em função
do processo constituinte. Esse movimento reuniu milhares de assinaturas para a apresentação de um
projeto de Emenda Popular à Constituição, contemplando o direito de todos os cidadãos à moradia,
aos serviços e equipamentos urbanos, ao patrimônio cultural e ambiental e à gestão democrática da
cidade, bem como instrumentos jurídicos destinados a garantir esses direitos, por meio da exigência
do cumprimento da função social da propriedade urbana, da regularização fundiária, da urbanização
das favelas e dos assentamentos precários e da participação direta da população na elaboração e
implementação da política urbana (BRASIL, 2010).

Ao mesmo tempo, os problemas de moradia tornavam-se mais dramáticos, agravados pela crise
econômica e pelo empobrecimento da população, marcando as décadas de 1980 e 1990. Com a extinção
do BNH (1986) e a drástica limitação da oferta de recursos federais para programas habitacionais e
uranos, os governos municipais e estaduais começaram a buscar soluções alternativas, utilizando recursos
orçamentários próprios e assumindo contratos de financiamento junto a organismos internacionais.

Os programas de melhorias da infraestrutura de favelas – do tipo PRO-ÁGUA e PROLUZ –, que


tinham se disseminado a partir da criação do PROMORAR pelo BNH, evoluíram para intervenções mais
complexas de urbanização de favelas e de loteamentos irregulares de periferia, com aproveitamento e
valorização dos investimentos já realizados pelos moradores, na autoconstrução das moradias. Parceiros
internacionais, como o Banco Mundial, o BID, a União Europeia e a Cities Alliance, influenciaram a
formatação desses programas, com diretrizes para: recuperação de custos; redução da remoção de

106
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

famílias; participação da população; adoção de instrumentos de monitoramento e avaliação; critérios


de sustentabilidade ambiental; e exigência de regularização fundiária dos assentamentos (BRASIL, 2010).

A luta pela regularização fundiária de favelas e demais assentamentos precários, que integrava
a pauta do Movimento de Reforma Urbana, teve continuidade após a aprovação do Capítulo de
Política Urbana da Constituição Federal de 1988, pois a maior parte dos instrumentos aprovados exigia
regulamentação para serem aplicados.

Em 2001, a aprovação do Estatuto da Cidade e da Medida Provisória n. 2.220/01 definiu importantes


avanços de ordem legal para a institucionalização de uma política nacional de urbanização e regularização
fundiária dos assentamentos precários.

A partir de 2003, com a criação do Ministério das Cidades do Conselho das Cidades e a aprovação
do SNHIS e FNHIS, foi concluído o arcabouço legal e institucional necessário para a implementação da
nova PNH, aprovada em 2004.

O PLANHAB detalhou metas, instrumentos, articulação entre agentes, fontes de recursos, tipologias
de atendimento, grupos de demanda, linhas programáticas, formas de financiamento e de subsídio,
mecanismos de monitoramento, entre outros aspectos da política, a partir de um diagnóstico participativo
e abrangente.

Após mais de um século de urbanização acelerada marcada pelo crescimento dos assentamentos
precários como solução hegemônica de moradia popular, o desenho da PNH passou a incluir a necessidade
de subsídios públicos para viabilizar a moradia urbana da população de baixa renda, bem como a prioridade
para a integração urbana dos assentamentos precários, mediante o desenvolvimento de programas
articulados entre os três níveis de governo e participação da sociedade civil. Conhecer o universo dos
assentamentos precários para planejar e executar essa política tornou-se uma necessidade inadiável.

Em 26 de março de 2009, é publicada a IN 8, que regulamenta o trabalho social realizado em


intervenções de provisão habitacional e urbanização de assentamentos precários. Logo após a
publicação da IN 8, é divulgado pela Caixa, em novembro de 2010, e completado em março de 2011, o
Caderno de Orientação Técnico Social (COTS), com a finalidade de orientar as equipes técnicas para
o desenvolvimento do trabalho técnico social em programas operacionalizados pela instituição.

O COTS é reformulado em 2012, ampliando o escopo das normativas nas orientações dos
programas MCMV e do PAC, em pleno processo de reformulação da IN 8, finalizado em 2014, com
a publicação do Manual de Instruções do Trabalho Social nos Programas e Ações do Ministério das
Cidades, pela Portaria 21, de 22 de janeiro de 2014. O discurso de setores governamentais foi o de
atender aos desafios que o programa coloca, de qualificação do repertório de ação, sustentabilidade
e fortalecimento de capacidades institucionais, para a realização do trabalho social em escala. Com
a publicação do Manual de Instruções, alteram-se, assim, os valores dos recursos assegurados para o
trabalho social (CFESS, 2016).

107
Unidade II

Lembrete

O Pacto pelo Saneamento Básico tem o propósito de buscar a adesão e


o compromisso de toda a sociedade por meio dos segmentos representados
no Conselho das Cidades, bem como dos prestadores de serviços e outros
órgãos responsáveis pelo saneamento básico, em relação aos eixos, às
estratégias e ao processo de elaboração e implementação do PLANSAB.

8 SEGREGAÇÃO SOCIOESPACIAL E PRINCÍPIO DE TERRITORIALIZAÇÃO DO SUAS

Para dar início a essa temática, é importante definirmos alguns conceitos. Quando falamos de
segregação socioespacial, trazemos à tona a questão de intensas desigualdades socioespaciais,
econômicas e políticas.

Conforme Negri (2008, p. 129):

Pensar o urbano através da organização espacial das classes sociais nos reporta
a inúmeros problemas de ordem social, econômica, política e ideológica.
Dentre eles, destacam-se: pobreza, miséria, violência, degradação ambiental
e social, exclusão, desemprego, falta de moradia, favelização, periferização,
segregação, insuficiência de transporte adequado, entre outros.

Frequentemente, é um desafio para o assistente social não somente realizar uma abordagem pessoal
e/ou familiar efetiva, mas também utilizar uma interpretação socioespacial frente às expressões da
questão social, no que tange a condição do sujeito no território; ou seja, a complexidade da sociedade
atual face à questão da habitação leva-nos a buscar entender a produção e a separação entre as classes
sociais nas cidades, separação não só espacial, mas social (NEGRI, 2008).

Tal segregação se torna imperativa nas grandes e pequenas cidades através da renda, do tipo de
ocupação e do nível educacional, pois o espaço urbano é resultado da produção e reprodução da vida
no território. Por isso, acreditamos que:

cada vez mais a cidade é lugar de atuação dos agentes de produção do espaço.
Uma vez humanizados, esses espaços refletirão na sua arquitetura e na sua
organização o padrão de desenvolvimento da complexidade das relações
sociais. Este padrão ocorre por meio da segregação socioespacial, também
denominada de segregação residencial da sociedade, principalmente por
meio da diferenciação econômica (NEGRI, 2008, p. 130).

Para a PNAS (BRASIL, 2004a), compreender o espaço partindo da premissa de conhecer o território
onde as demandas se apresentam e assim construir ações e estratégias efetivas tem sentido porque

108
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

muitos dos resultados das ações da política de assistência social impactam em outras políticas sociais e
vice-versa. É imperioso construir ações territorialmente definidas juntamente com essas políticas.

À luz das ideias inovadoras de Milton Santos (1986) da importância da interdisciplinaridade, nota‑se,
por exemplo, um grande número de disciplinas sociais que investigam o mesmo objeto de estudo,
ignorando umas às outras, trabalhando com seus próprios métodos e criando sua própria metodologia,
muito distante de uma integração.

Entendemos que é indispensável a complementaridade dos diferentes conhecimentos e ciências,


propondo-se assumir posturas mais cooperativas e menos individualistas, para que possamos atravessar
novos caminhos de forma complexa, assim como a realidade se apresenta. Segundo nos lembra Morin
(2008), todo conhecimento opera por seleção e rejeição de dados significativos: separa (distingue ou
desune) e une (associa, identifica); hierarquiza (o principal, o secundário) e centraliza (em função de
um núcleo de noções mestras). Essas operações são norteadas por princípios lógicos de organização do
pensamento e princípios ocultos, na qual não se tem consciência e que governam a visão de mundo
de cada indivíduo. Por isso, somos desafiados a interagir com o novo para ampliar nossos horizontes
profissionais.

Diante do novo, identificamos que a segregação socioespacial ocorre porque a camada de mais
alta renda, ao consumir e valorizar de forma diferenciada o espaço urbano, produz a segregação
socioespacial. É preciso ressaltar que é a existência da segregação socioespacial que permite à classe
dominante continuar a dominar o espaço produzido segundo seus interesses. Somente a separação das
classes sociais no espaço pode agir como instrumento de poder para a classe alta (NEGRI, 2008).

Parafraseando Castells (1983), a segregação social visa, portanto, à reprodução das forças de trabalho, e
esses processos são sempre interligados e articulados com a estrutura social. Assim, a cidade torna‑se
expressão materializada da atuação da sociedade no espaço geográfico, através de um ambiente
físico construído.

Podemos identificar que os desenhos da segregação socioespacial se constituem a partir da forma


como ela ocorre e é definida: pela valorização dos espaços urbanos, dos investimentos do capital
imobiliário e das oportunidades fomentadas pelo capitalismo. A segregação também se dá também
pelo contra-espaço, ou seja, o espaço compreendido por Santos (1986) como o modo de construção
da sociedade. Já Moreira (2002) nos apresenta o contra-espaço que tem um caráter diverso em seu
conteúdo e suas formas. É contra-espaço o arranjo espacial de uma greve de operários, uma favela, uma
ocupação de terra com fim de assentamento, assim como um modo individualizado e recluso de morar,
por meio do qual põe em questão a ordem espacial como a forma hegemônica de espaço, determinado
pelos modos de vida, os que vivem embaixo e dentro dela.

Moreira (2002) afirma que a produção e reprodução do espaço não podem ser vistas apenas
como um ato dos dominantes, uma vez que os dominados têm também sua intervenção. Essa é a
característica maior da dinâmica espacial das sociedades: são os conflitos da sociedade civil – uma
totalidade diferenciada e contraditória – a força que responde pela modelagem do espaço.

109
Unidade II

Segundo Negri apud Marcuse (2004, p. 131), historicamente, existe um padrão geral de segregação
das classes sociais, que podemos dividir da seguinte maneira:

1. Divisão Cultural – realiza-se através da língua, da religião, das


características étnicas, estilo arquitetônico, por país ou nacionalidade;

2. Divisão Funcional – é resultado da lógica econômica, resultando


na divisão entre bairros residenciais e comerciais, áreas rurais e
indústrias. Ela pressupõe a divisão do espaço pela função exercida
para cada atividade.

3. Divisão por Diferença no Status Hierárquico – reflete e reproduz as


relações de poder na cidade. Pode ser representada, por exemplo, por
um enclave (condomínio fechado) ou pela distribuição dos serviços
públicos pelo Estado.

A reprodução desigual e combinada do processo de reprodução capitalista no espaço, como reafirma


Soja (1993) e Oliveira (2001), entre outros, tem promovido mudanças significativas nos espaços das
grandes cidades, que se apresentam como processos globais, mas que se realizam e se diferenciam nas
escalas locais e por suas particularidades, se articulam de modo desigual a uma rede de cidades, as
quais, hierarquicamente, fazem parte de uma rede de cidades chamadas de globais (SASSEN, 1998), que
comandam e gerenciam o processo de reprodução capitalista.

As divisões ocorridas nos territórios, a dinâmica socioespacial das moradias, dos grandes investimentos
de capitais e obras, a forma de apropriação do território e de lugar pela sociedade nos remetem ao
que se pode considerar segregação socioespacial. Há, nas considerações sobre segregação, os espaços
da ordem e os espaços da desordem das coisas, mas, conforme Maricato (2000), não é por falta de
planos urbanísticos que as cidades brasileiras apresentam problemas graves. Não é também devido à má
qualidade desses planos, mas porque seu crescimento se faz ao largo dos planos aprovados nas câmaras
municipais, que seguem interesses tradicionais da política local e grupos específicos ligados ao governo
de plantão. O resultado é: planejamento urbano para alguns, mercado para alguns, leis para alguns,
modernidade para alguns e cidadania para alguns. Isso nos faz compreender que, historicamente, as
cidades (espaços intra-urbanos), desde suas primeiras configurações, se desenvolveram num processo
de troca de favores e interesses particulares de muitos gestores públicos.

Para compreendermos melhor o conceito de segregação, é fundamental entendermos que as


fragmentações ocorrem não apenas em termos espaciais, territoriais, mas também sociais.

Quanto à fragmentação espacial, Negri apud Villaça (2007, p. 131) aponta o papel do Estado, sua
articulação e sua relação de subordinação com a classe dominante, e destaca três esferas de controle da
produção e consumo do espaço urbano por essa classe:

1. Esfera Econômica: através do controle do mercado imobiliário, que atende


os desejos de localização espacial da classe dominante.
110
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

2. Esfera Política: ocorre pelo controle do Estado, que se manifesta


de três maneiras:

• Controle sobre a localização da infraestrutura urbana.

• Controle da localização dos aparelhos do Estado.

• Controle da legislação de uso e ocupação do solo urbano.

3. Esfera Ideológica: através do desenvolvimento de ideias dominantes que


visa auxiliar, em determinados momentos, a dominação da sociedade e
aceitação por parte desta de seus ideais.

Quanto às fragmentações territoriais, explica Souza (1995), territórios existem e são construídos
(e desconstruídos) nas mais diversas escalas, da mais acanhada (uma rua, por exemplo) à internacional
(por exemplo, a área formada pelo conjunto dos territórios dos países-membros da OTAN); territórios são
construídos (e desconstruídos) dentro de escalas temporais as mais diferentes (séculos, décadas, anos,
meses ou dias); territórios podem ter um caráter permanente, mas também podem ter uma existência
periódica, cíclica. Isso nos permite analisar que o território é a concretização do espaço a partir das
relações sociais, econômicas e políticas. Portanto, conforme afirma Haesbaert (2009, p. 105):

o território se define mais estritamente a partir de uma abordagem


sobre o espaço que prioriza ou que coloca seu foco, no interior dessa
dimensão espacial, na “dimensão”, ou melhor, nas problemáticas de
caráter político ou que envolvem a manifestação/realização das relações
de poder, em suas múltiplas esferas.

Quanto às fragmentações sociais produzidas e reproduzidas em diferentes territórios e lugares,


Haesbaert (1997, p. 42) compreende que:

o território envolve sempre, ao mesmo tempo, mas em diferentes graus de


correspondência e intensidade, uma dimensão simbólico-cultural, através
de uma identidade territorial atribuída pelos grupos sociais como forma de
“controle simbólico” sobre o espaço onde vivem (sendo, portanto, uma
forma de apropriação) e uma dimensão mais concreta, de caráter político
disciplinar: o domínio do espaço pela definição de limites ou fronteiras
visando à disciplinarização dos indivíduos e o uso/controle dos recursos
aí presentes.

Souza (2009, p. 59) também comunga dessa concepção afirmando que:

o que “define” o território é, em primeiríssimo lugar, o poder – e, nesse


sentido, a dimensão política é aquela que, antes de qualquer outra, lhe
define o perfil. Isso não quer dizer, porém, que a cultura (o simbolismo, as
111
Unidade II

teias de significados, as identidades [...] e mesmo a economia (o trabalho, os


processos de produção e circulação de bens) não sejam relevantes ou não
estejam “contemplados” ao se lidar com o conceito.

Diante de nossas reflexões, podemos apontar que a segregação socioespacial está enraizada no
processo de divisão territorial, entendida como direito à propriedade de valor e usufruto da terra. Está
também relacionada com a exploração do território como oportunidade de grandes investimentos
e lucros. Ainda, está atrelada às configurações existentes nos espaços como apropriação de lugar.
A dinâmica socioespacial é criada pelo Estado, pelo capital imobiliário, mas também pela própria
sociedade em sua dinâmica de movimentos, pela geografia dos espaços e pela dinâmica da vida de cada
um. Por isso, o fenômeno de segregação socioespacial ocorrido nas cidades pode ser compreendido
como o chão concreto das políticas, a raiz dos números e a realidade da vida coletiva, como diz Koga
(2003). Para a autora:

No Brasil, as políticas públicas se defrontam com o desafio de intervir


para a democratização do poder público e a universalização dos direitos
sociais básicos, assim como para reduzir as desigualdades socioterritoriais,
sem perder os vínculos com as particularidades e diversidades locais. Tais
particularidades territoriais, sociais, econômicas e culturais se expressam
num imenso mosaico de lugares e contextos, habitados por pessoas
que não vivem as plenas condições de cidadania. A fatídica marca das
desigualdades entre moradores e cidadãos abreviam as potencialidades
dialógicas das diferenças. Enquanto os moradores povoam os lugares, os
cidadãos possuem condições e poder para interferir nas decisões coletivas
que dizem respeito ao destino desses lugares. No Brasil, alguns são cidadãos
e muitos são meros moradores. A contradição que se abre todos os dias
no país contrapõe a riqueza do mosaico de diferenças socioculturais
miscigenadas e as sutilezas/evidências dos matizes elitistas, patrimonialistas e
preconceituosos que obscurecem diferenças, aprofundam desigualdades
e ampliam assimetrias. Tal contradição termina apagando a diversidade e
dividindo a vida coletiva em dois mundos: o mundo dos direitos e o mundo
dos favores (KOGA, 2005, p. 68).

E qual é a dimensão territorial e regional nesse contraponto entre diferenças e desigualdades


sociais? É importante ressaltar que o território não é o mero receptáculo dos processos de constituição
dessas diferenças e desigualdades. O território brasileiro é constitutivo desses processos e atua na
potencialização ou não das diferenças, no aprofundamento ou não das desigualdades (KOGA, 2005).

O território é elemento que atua com outros agentes na produção social de realidades coletivas.
A grandiosidade do território pode constituir processos emancipatórios, mas pode atuar também na
mesquinhez de preconceitos e apartações sociais que provocam erosões nos padrões de civilidade
(KOGA, 2005).

112
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

Incorporar a perspectiva territorial na formulação, na implementação, no monitoramento, na


avaliação e na revisão de políticas públicas implica necessariamente manejar as potencialidades ativas
dos territórios na constituição de processos e relações sociais e de poder. O fato de ser criança, negro,
mulher, pessoa com deficiência ou idoso, associado à condição de pobreza, pode significar dupla
exclusão social do indivíduo, do grupo social e de suas respectivas territorialidades. Sobre esses grupos
e territórios recai a eterna suspeita de incapacidade para o bem ou de capacidade para o mal. Trata-se
de contrapontos socioterritoriais cotidianos vividos por essas populações país afora, nas mais de 5.560
cidades, independentemente de sua situação geográfica (KOGA, 2005).

Apesar das variações nos contextos culturais e ambientais e nos arranjos de relações entre agentes que
produzem esses contrapontos, as clivagens provocadas pelos processos de exclusão social persistem em
todas as cidades brasileiras, em maior ou menor grau. Esse fenômeno manifesta-se também em escalas
regionais. As definições dessas escalas compartimentalizam processos de territorialização que produzem
e transformam os lugares. Tais escalas são determinadas pela compartimentação das articulações
dinâmicas entre ações sociais e políticas, levadas a cabo por diversos sujeitos coletivos, que constituem
e são constituídos pelo território. As escalas não estabelecem tamanhos físicos. Estabelecem níveis de
complexidade produzidos por essas dinâmicas e interações entre sujeitos coletivos (KOGA, 2005).

A sociedade é permeada por problemas advindos da falta de acesso/garantia/inclusão aos direitos


sociais previstos na Constituição Federal de 1988, problemas causados por conflitos pessoais, familiares,
socioinstitucionais, estruturais, políticos, que consequentemente se apresentam num cotidiano
sintomático de desigualdade socioeconômica, vulnerabilidade, exclusão social e uma expressiva
segregação espacial.

Diante dos problemas gerados socialmente pelas ausências e pela reprodução de desigualdades,
o Estado, na sua concepção neoliberal, implanta políticas públicas muitas vezes paliativas para os
problemas que são pontuais e que demandam um trato eficaz na operacionalização e nos resultados
esperados pela população. Aqui, o Estado é entendido como o conjunto de instituições, suas relações
nacionais e internacionais, suas concepções, responsável pela condição social da população nacional.
Ademais, sabe-se que a ação regulatória do Estado tende a ser em prol das relações capitalistas e não
do bem comum nacional.

Entendemos, assim, que o processo de exclusão gerado pelo sistema capitalista é partilhado pelo
próprio Estado na sua função regulatória em todas as instâncias (estados e municípios). Assim, segundo
Zaluar (1997, p. 1), “a exclusão como manifestação de injustiça (distributiva) se revela quando as pessoas
são sistematicamente excluídas dos serviços, benesses e garantias oferecidos ou assegurados pelo Estado,
pensados, em geral, como direitos de cidadania”.

Com a exclusão dos direitos sociais, a assistência social se apresenta para amenizar as acirradas
desigualdades existentes disponibilizando mecanismos de reinserção através do SUAS por meio da
gestão compartilhada. Com o pacto federativo, em tese, cada município, estado e federação assume
sua responsabilidade e desempenha seu papel no intuito de amenizar as desigualdades geradas. Por
outro lado, na reflexão de Zaluar (1997), as políticas públicas deveriam se ocupar de prevenir a exclusão

113
Unidade II

mais do que reinserir os excluídos; de criar uma sociabilidade positiva mais do que remediar a negativa,
embora no quadro de crise atual o oposto tenha que ocorrer na política de reinserção.

Nessa arena conflitante, daquilo que deveria ser e do que realmente existe, a política social de
assistência social propõe mediar formas de inclusão social imbuída de significados e conceitos de fundo
social, histórico, político, ideológico, cultural e econômico. Esses conceitos são derivados de legislações,
normas, documentos pautados através de diferentes paradigmas, discussões, consensos e dissensos
acerca do processo de construção de uma política pública que promove o SUAS na sociedade brasileira
focado numa unidade de ação que concebe o território como elemento que agrega significados no
processo de planejamento e operacionalização da política de assistência social numa dimensão nacional
a partir da vida cotidiana local.

Ao tratarmos do significado do princípio de territorialização trazido pelo SUAS, iniciamos nossa


discussão acerca da assistência social como política pública reconhecida pela Constituição de 1988, pois
contribui para nosso entendimento acerca dos fundamentos jurídico-normativos que amparam a Lei
Orgânica da Assistência Social (LOAS), Lei n. 8.742/93 (BRASIL, 1993), o redesenho trazido pela PNAS em
2004 e a partir da NOB/SUAS de 2005, que disciplina a operacionalização do SUAS. Ainda foi criada
em 2006 a NOB/RH, que normatiza a relação entre os gestores e trabalhadores e os prestadores de
serviços socioassistenciais, os quais participam da implantação desse sistema.

Essas legislações propõem diretrizes para a efetivação da política de assistência social, pautada no
território como base de organização na oferta dos programas, projetos e benefícios sociais.

A proposta de descentralização político-administrativa que embasa a gestão dessa política ocorre


no sentido de levar às pessoas que necessitam os equipamentos sociais necessários, atendendo às suas
necessidades e emancipando aqueles que muitas vezes necessitam não somente de assistência, mas de
promoção e inclusão social em outras políticas básicas.

Nesse movimento de inclusão a outras políticas públicas, o SUAS traz a necessidade de estabelecer
parcerias e cooperação com profissionais que atuam em outras áreas/instituições/órgãos, numa
articulação intersetorial que também se configura a partir do trabalho de rede na complementaridade
das intervenções políticas e técnicas.

É importante considerarmos que a gestão da política de assistência decorre das possibilidades de


potencializar a gestão como instrumento de decisão, no sentido de descentralizar informações, partilhar
conhecimento e favorecer o processo de participação dos sujeitos sociais na construção de acessos,
um dos principais objetos do planejamento urbano; ou seja, a capacidade de pensar o espaço futuro
permeado pela dinâmica urbana existente nas cidades não apenas pela pujança do capital imobiliário, mas
também produzida por aqueles que vivem e convivem num determinado território, bairro, comunidade,
aglomerado e que apresentam talvez um dos principais significados que permeiam a produção social do
espaço: a exclusão social, a falta de acessibilidade, a falta de moradias, a falta de saneamento básico,
isto é, a ausência de acessos necessários que desafiam o planejamento urbano e a assistência social para
a redução real das desigualdades.

114
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

O SUAS trabalha na coleta de dados e na leitura desses dados existentes no território através do
sistema de gestão da informação, monitoramento e avaliação. Esse conteúdo será exemplificado nesse
estudo para que possamos entender a dimensão da coleta e dos subsídios que são gerados a partir
da retroalimentação desses dados pelos municípios onde há os Centros de Referência de Assistência
Social (CRAS), que são responsáveis, entre outras atribuições, por realizar diagnósticos socioespaciais
do território com a finalidade de identificação de demandas a serem trabalhadas. Esses diagnósticos
são realizados pelos CRAS para gerenciar e executar as ações de proteção social básica no território
referenciado de acordo com o porte do município, em áreas de maior vulnerabilidade social e conforme
os critérios estabelecidos da NOB/SUAS (2005).

A gestão dessas informações, que contempla o princípio de territorialização do SUAS, apresenta


diferentes padrões de diversidade encontrados em todo o território nacional e reforça a necessidade
de se respeitar as particularidades de cada localidade, sem desmerecer uma dinâmica urbana existente
entre os territórios. Os dados formatados podem agregar informações para se planejar um espaço mais
equânime de políticas que realmente atendam às demandas da população excluída, além de direcionar a
redução das desigualdades socioespaciais por meio da práxis. Sobretudo os dados nos permitem perceber
de que forma o território tem sido pensado e concebido pelas diferentes dimensões do pacto federativo.

Após a aprovação da PNAS e seu redesenho, tanto na implantação orgânica do SUAS, em 2004,
quanto nas concepções de se relevar o território como eixo estruturante da gestão dessa política,
precisamos entender de forma operacional o significado da territorialização para esse novo conceito de
política social e pública.

Segundo suas diretrizes, a territorialização se dá a partir da disponibilização dos equipamentos


sociais à população, o que sugere a concepção de território e o entendimento de que as desigualdades
sociais estão, por sua vez, relacionadas às desigualdades impressas em condições territoriais, não apenas
na concepção material-física, mas como âmbito concreto das relações sociais, políticas e econômicas.

Conforme Santos (2007, p. 13), “o território é o lugar onde desembocam todas as ações, todas
as paixões, todos os poderes, todas as forças, todas as fraquezas, isto é, onde a história do homem
plenamente se realiza a partir das manifestações da sua existência”.

Portanto, quando o SUAS menciona o princípio de territorialização como eixo estruturante de


sua gestão, é importante entender quais considerações fundamentam a ação de planejar, executar,
monitorar e avaliar as intervenções da assistência social, tendo o território como base dos serviços
socioassistenciais. Ainda conforme Santos (2007, p. 14), “o território não é apenas o conjunto dos sistemas
naturais e de sistemas de coisas sobrepostas; o território tem que ser entendido como o território usado,
não o território em si”. Então, podemos trazer aqui a concepção do território da assistência social como
o chão do cotidiano vivenciado por aqueles que demandam intervenções frente à ausência dos seus
direitos enquanto cidadãos.

A frase anterior usada por Santos ainda traz uma intensidade de vínculo do homem com o território,
quando afirma que “o território usado é o chão mais a identidade”. Isso nos ajuda a compreender que o
espaço natural e modificado das coisas perpassa pelo território em sua gênese natural e, principalmente,
115
Unidade II

pela apropriação e intervenção dinâmica do homem sobre ele. Portanto, “a identidade é o sentimento de
pertencer aquilo que nos pertence” (SANTOS, 2007, p. 14).

Vale a pena ressaltar que, para o planejamento e execução de intervenções da política de assistência
social, a NOB/SUAS (2012) apresenta, no item V, as seguintes orientações: “respeitar as diversidades
culturais, étnicas, religiosas, socioeconômicas, políticas e territoriais” (p. 16); e, no item VI: “reconhecer
as especificidades, iniquidades e desigualdades regionais e municipais no planejamento e execução das
ações” (p. 16).

É importante analisarmos o significado das desigualdades sociais quando nos reportamos ao território
como identidade. Também é necessário tratar o território como “fundamento do trabalho; o lugar da
residência; das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida”, conforme nos apresenta Santos
(2007, p. 14). A vida cotidiana se apresenta no âmbito da assistência social numa interpretação material
concebida por Winston Churchill: “Primeiro fazemos nossas casas, depois nossas casas nos fazem”.

Ressaltamos a necessidade de a assistência social se apropriar das composições densas e complexas


acerca dos diretos à habitação e moradia, a qual muitas vezes se impõe à sociedade como demanda de
casos de polícia e não de assistência social, ou seja, o direito à habitação é estabelecido como direito
social no artigo 6 da Constituição Federal: “São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o
trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e
à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição” (Redação dada pela Emenda
Constitucional n. 90, de 2015).

Podemos enfatizar que esse espaço de morada não significa apenas o espaço de propriedade de um
bem material, mas um espaço de relações cotidianas, de privacidade, direito atribuído a todo cidadão
brasileiro. Sem acesso ao espaço de moradia e às mínimas infraestruturas que a tornam adequada,
não há condição de existir a concepção de lar para estabelecer as relações sociais e familiares. Há, sim,
incertezas que permeiam até mesmo os mínimos direitos como ser humano.

Na identificação das necessidades sociais, tendo o território como base, a NOB/SUAS (2005, p. 17)
traz a seguinte referência:

O princípio de territorialização significa o reconhecimento da presença de


múltiplos fatores sociais e econômicos que levam o indivíduo e a família
em situação de vulnerabilidade, risco pessoal e social. O princípio de
territorialização possibilita orientar a proteção social de assistência social:
na perspectiva do alcance de universalidade de cobertura entre indivíduos e
famílias, sob situações similares de risco e vulnerabilidade; na aplicação do
princípio de prevenção e proteção proativa, nas ações de Assistência Social;
no planejamento da localização da rede de serviços, a partir dos territórios
de maior incidência de vulnerabilidade e riscos.

O conceito de território, na proposta do SUAS, envolve a descentralização dos equipamentos sociais


e sua eficácia a partir da sua localização e funcionalidade como política social por meio do acesso
116
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

disponibilizado no território. Esse acesso traz não a concepção de centralidade, mas a de referenciar as
desigualdades existentes num determinado território para um diagnóstico pertinente em localizar as
demandas existentes que possam ser alcançadas pela PNAS. Do contrário, novamente estaremos apenas
apresentando um discurso distante da realidade e de sua concretização no âmbito da assistência social.

Entende-se que a necessidade de aproximação dos equipamentos sociais e do diálogo multidisciplinar


para o atendimento social é condição sine qua non para reconhecer que “a vida de todos os dias não
pode ser recusada ou negada como fonte de conhecimento e prática social” (CARVALHO, 2000, p. 15).
A proposta de territorialização do SUAS considera que é fundamental a aproximação da política social
aos que demandam atendimento e intervenções. Isso nos faz considerar o lugar onde as pessoas vivem
e convivem e também a percepção, sua apropriação dessas com o mundo.

Segundo Brisola (2011, p. 8), o SUAS “exige do profissional a formação continuada, além de uma
prática com dimensão investigativa, no intuito de desvelar as formas de vida cotidiana das famílias para
desenvolvimento de uma prática interventiva qualificada, com vistas à sua autonomia e emancipação”.
Portanto, trabalhar a política social tendo como base o território demanda atividade profissional,
investigações e intervenções qualificadas, de modo que os profissionais possam potencializar suas
intervenções práticas no território, favorecendo as transformações necessárias para a inclusão social
como direito e, acima de tudo, a dignidade humana.

Ao se tratar do território como elemento que fundamenta a política de assistência social, leva-se
em consideração as condições de vida da população identificada num determinado território (cidade,
bairro, comunidade, região) por um processo de indicadores geográficos e sociais.

Assim, entende-se que é necessário compreender os significados da interpretação dessas demandas


que se apresentam no lugar onde vive essa população. É fundamental entendermos que as diferenças
estão nas formas de constituição do território, na apropriação do lugar e no processo complexo das
experiências vividas.

A prática social cotidiana torna-se fonte de indicadores fundamentais para o planejamento e


ordenamento territorial, de forma a compreender as relações estabelecidas entre os diversos atores
que convivem no espaço. Conforme Milton Santos, “o homem não vê o universo a partir do universo, o
homem vê o universo desde um lugar” (SANTOS apud KOGA, 2003, p. 26).

Segundo Koga (2005, p. 71), “cada cidade expressa concretamente, no seu cotidiano, as mais
diferentes desigualdades sociais. Estas desigualdades vão além da classificação dos municípios e das
cidades segundo os maiores e menores graus de pobreza e indigência de suas populações”. Koga ainda
enfatiza que:

Os direcionamentos das políticas públicas estão intrinsecamente vinculados


à própria qualidade de vida dos cidadãos. É no embate relacional da política
pública entre governo e sociedade que se dará a ratificação ou o combate
ao processo de exclusão social em curso. Pensar na política pública a partir
do território exige também um exercício de revista à história, ao cotidiano,
117
Unidade II

ao universo cultural da população que vive neste território [...]. A perspectiva


de totalidade, de integração entre os setores para uma efetiva ação pública,
vontade política de fazer valer a diversidade e a inter-relação das políticas
locais (KOGA, 2005, p. 71).

Entre outros aspectos abordados pela concepção de território do SUAS, os aspectos demográficos
são elementos que fundamentam a contribuição da territorialização para as intervenções. A PNAS
(BRASIL, 2004a, p. 11) traz referência de que:

A dinâmica populacional é um importante indicador para a política de


assistência social, pois ela está intimamente relacionada com o processo
econômico estrutural de valorização do solo em todo território nacional,
destacando-se a alta taxa de urbanização, especialmente nos municípios
de médio e grande porte e nas metrópoles. Estes últimos espaços urbanos
passaram a ser produtores e reprodutores de um intenso processo de
precarização das condições devida e de viver, da presença crescente do
desemprego e da informalidade, de violência, da fragilização dos vínculos
sociais e familiares, ou seja, da produção e reprodução da exclusão social,
expondo famílias e indivíduos a situações de risco e vulnerabilidade.

Portanto, pode-se entender que os fundamentos que estabelecem o território como estrutura
organizativa da materialização da política social buscam sedimentar que “a questão central a ser
considerada é que esse modelo de desigualdade do país ganha expressão concreta no cotidiano das
cidades, cujos territórios internos (bairros, distritos, áreas censitárias ou de planejamento) tendem a
apresentar condições de vida também desiguais” (BRASIL, 2004a, p. 13).

Pautando na questão das condições desiguais de vida, Santos (2007, p. 17) afirma que “o território
também pode ser definido nas suas desigualdades a partir da ideia de que a existência do dinheiro
no território não se dá da mesma forma”, ou seja, não é possível entender os recursos e as formas
de controle disponíveis para viabilizar os direitos sociais através da assistência social se não tivermos
uma compreensão apurada sobre questões da economia local/global, que consequentemente trazem
consequências cotidianas, geralmente aos que são menos favorecidos pelas políticas sociais de um
Estado mínimo e, na maioria das vezes, paliativo frente às questões sociais.

Muitas vezes, é comum olharmos o Estado de direitos como algo distante e abstrato do cotidiano
do serviço social, pois as macro decisões interferem no cotidiano da população: a ausência de uma
política fiscal que possa gerar um processo mais equânime de sociedade, a escassez de uma gestão
social adequada para os recursos das políticas sociais, entre tantas variáveis que necessitam de
aprimoramento. Considera-se também a pior de todas, que desconstrói a vida e a identidade de um
país: a corrupção institucionalizada, ou seja, o veneno que degrada a dignidade humana e a garantia
dos direitos sociais no país.

Assim, ainda conforme Santos (2007, p. 17), “o comando se dá a partir do dinheiro global. Esse fluído,
que também invisível, um dinheiro tornado praticamente abstrato, um dinheiro global e um dinheiro
118
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

despótico. [...]. É um dinheiro sustentado por um sistema ideológico”. Essa ideologia não é algo que está
para dispor sua funcionalidade para o bem de todos, mas justamente o contrário; torna-se o símbolo
que descaracteriza sua própria funcionalidade em benefício de alguns e catástrofe para a maioria.

As ações que embasam a política de assistência social na atualidade estão, portanto, atreladas a
uma complexidade de fatos, repercussões, diferentes realidades, diferentes estruturas, pensamentos
e, principalmente, ideologias. Como traz Morin (2008, p. 199), “pensar a complexidade [...] é o maior
desafio do pensamento contemporâneo, que necessita de uma reforma no nosso modo de pensar”. Não
apenas pensar no sentido cognitivo de fazê-lo, mas na necessidade de profundas reflexões e práticas
que alcancem os objetivos perdidos por excesso de vaidade, ego, ideologias vazias, como ainda explica
Morin (2008, p. 206):

O pensamento complexo é, pois, essencialmente o pensamento que trata


com a incerteza e que é capaz de conceber a organização. É o pensamento
capaz de reunir (complexus: aquilo que é tecido conjuntamente), de
contextualizar, de globalizar, mas, ao mesmo tempo, capaz de reconhecer o
singular, o individual, o concreto.

Acreditamos que é fundamental, no âmbito das políticas públicas, em específico se tratando da


assistência social, reconhecer a singularidade dos serviços prestados à população, dentro do contexto
global, não deixando de perseguir a realidade daquele que precisa de uma mediação profissional e expõe
ao profissional a sua particularidade e necessidade, muitas vezes amparadas sob diversos aspectos
de ausências.

Conforme nos apresenta o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA, 2013, p. 30), a questão
territorial está associada ao desenvolvimento e à redução significativa de desigualdades no território e
do território. Assim:

parece fazer ainda mais sentido pensar no ordenamento territorial como


forma de racionalização espacial da política pública, visando à minimização
das desigualdades regionais, com a integração de políticas setoriais e a
contraposição às ações de curto prazo, associadas em sua maior parte aos
interesses exclusivos das empresas e dos mercados.

Os estudos do Ipea (2013, p. 30) que abordam a temática da territorialização do desenvolvimento


brasileiro da última década ainda ressaltam que:

No caso das carências e dos limites, avultam-se entraves importantes,


tais como:

- pobreza estruturalmente associada às assimetrias de oportunidades,


em particular aquelas administradas pelo Estado;

119
Unidade II

- deficiências de infraestruturas físicas e bases de produção e difusão


de conhecimento;

- rigidez institucional das redes hierárquicas tradicionais embasadas


em poder econômico e político; e

- insuficiência do conhecimento da constituição e dinâmica dos diversos


ecossistemas nacionais.

Entendemos que se trata de uma complexidade que amplia as questões sociais a serem tratadas no
âmbito da assistência social, mas que, sem a parceria com outras políticas setoriais, sem o entendimento
de que o lugar das coisas são os lugares onde estão as pessoas, faremos em vão mudanças sem ação.
É necessário buscarmos por um nivelado tratamento de realmente fazer o caminho de reduzir na prática
tais desigualdades, ou então voltaremos a um discurso ideológico, sem efeitos no que deve ser feito
(e não apenas proposto).

Com vistas a estender nossa reflexão em torno da leitura do território a partir do SUAS, buscamos
interpretar as possibilidades de uma dinâmica socioterritorial, em que se encontram disponibilizados
os serviços a serem prestados por essa política pública, focada no princípio de territorialização, tratado
como eixo dessa discussão.

Conforme Milton Santos (2000, p. 122), “territorializar é construir e reconstruir sem cessar pelo
comportamento do ator social, materialmente e em suas representações: pelo indivíduo e seu grau
de poder ou de influência; para o indivíduo é uma alquimia entre o pessoal e o coletivo, onde nosso
aparelho cognitivo não pode inventar tudo”.

Um fator relevante a ser considerado pelos trabalhadores sociais é a análise de dados da aproximação
com a realidade. O estudo dos dados coletados pela assistência social em cada município deve ser
amplamente trabalhado, possibilitando um diagnóstico detalhado e preciso para o planejamento de
diversas ações intersetoriais e complementares. Isso demanda trabalhar uma nova postura profissional
no trato da integração de conhecimento e novo paradigma do trabalho em rede, trabalho em rede
entendido como a soma de atuações de diversas áreas para que as ações desenvolvidas busquem aportar
uma forma de adequação às demandas existentes, sem considerar a fragmentação das intervenções no
campo das políticas públicas, pois essas são intrinsecamente correlacionadas em sua existência.

No âmbito das relações sociais e da gestão dos serviços ofertados, entendemos que somente a partir
da prática das ações do SUAS em cada município é que podemos referenciar a região como espaço de
integração sociopolítica, pois “novas situações se acumulam ou se dispersam dentre os territórios que
compõem uma cidade, pelo próprio processo de especulação fundiária e de péssima redistribuição de
bens e serviços públicos” (KOGA, 2003, p. 30).

Completando a concepção de estabelecer o território como base para trabalhar a oferta de políticas
sociais, é importante considerar, conforme Campos (2005, p. 59), que, para o SUAS, “o território está
vinculado não apenas à noção de propriedade da terra, como a ideia de poder e posse podem sugerir,
120
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

mas à sua apropriação, associada ao controle por parte das instituições ou grupos sociais sobre um dado
segmento do espaço”. Isso significa uma apropriação considerada como múltiplas formas de ocupação
numa base geográfica da existência social nas diversas formas de expressão das relações entre cidadãos
e desses com o espaço vivido. Conforme Koga (2003, p. 30):

Olhar para além das condições de vida das populações significa considerar
também, suas potencialidades. Por entre imagens e mapas, medidas de
lugares e entre lugares se encontra o desafio de melhor conhecer as cidades
para melhor intervir no chão onde tudo acontece, onde se evidenciam
as necessidades e afloram as potencialidades, onde se dão as relações do
âmbito privado e público, onde os homens se encontram.

Para conduzir um banco de dados que seja adequado ao planejamento e à gestão da assistência,
o ordenamento de dados do SUAS e a própria gestão dessa política no território dependem do
aprimoramento dos sistemas criados ao longo desses anos e efetivados pela Secretaria de Avaliação e
Gestão da Informação (SAGI). Por isso, a gestão de informação, monitoramento e avaliação dos dados
para intervenção dos trabalhadores do SUAS conta com o sistema REDESUAS e SUASWEB.

O REDESUAS é responsável pela “construção e administração de ambiente informacional


georeferenciado das cidades brasileiras e estabelecimento de política de geoprocessamento de
informações em escala municipal envolvendo ações de assistência social e base de referência sócio
demográfica” (NOB/SUAS, 2005, p. 18). Já o SUASWEB funciona como um:

sistema compartilhado com estados e municípios [...] na informatização


na gestão de convênios de forma a padronizar e automatizar as rotinas
de financiamento de programas e projetos, e o [...] aperfeiçoamento e
disseminação dos instrumentos e técnicas de avaliação de resultados
e impacto das ações do SUAS sobre as condições de vida da população
realizado permanentemente pelos gestores e pelos respectivos conselhos de
assistência social, com base em informações sistematizadas e indicadores
próprios relativos provenientes de subsistemas e aplicativos: Relatório
Anual de Gestão; Planos dos municípios e estados habilitados no SUAS;
Relatório de Acompanhamento Físico/Financeiro; Planos de Ação e Orçamentos
Municipais (NOB/SUAS, 2005, p. 20).

Lembra-se de que cada um desses subsistemas e aplicativos têm seus conceitos, objetivos,
competências e são alimentados pelas informações obtidas no trabalho cotidiano dos municípios,
estados e monitorados pela instância federal.

Ademais, fundamentando a construção desse diagnóstico como possível instrumento de intervenção


para os estados e municípios, é importante considerar que o conhecimento instrumentaliza a política.
Portanto, compreendemos que, para qualquer intervenção em determinado território, é necessário
conhecermos sua história, sua diversidade, seus processos e estruturas constituídas, ou seja, as reais
informações acerca do espaço em que se pretende trabalhar, tanto como uma questão de informação
121
Unidade II

mais aproximada da realidade quanto como uma constante inovação de técnicas e estratégias para a
efetivação de uma ação.

A dimensão territorial no SUAS reconhece a presença de múltiplos fatores sociais, econômicos,


culturais e demográficos que expõem as famílias e os indivíduos a agravos, danos e vulnerabilidades
e riscos sociais e pessoais de diferentes naturezas e magnitudes. Portanto, essa diretriz deve orientar a
localização dos serviços a partir da lógica de proximidade do cidadão nos territórios com incidência de
vulnerabilidades e riscos sociais.

Nesse contexto, é fundamental considerar que:

dentro do sistema, torna-se relevante a questão da territorialidade, não


como espaço apenas geográfico de concentração da pobreza, mas como
espaço onde existe vida, contradições, resistências, passividade, que precisa
ser resgatado para que a assistência social identifique não só as carências
da população como também as formas de resistência por ela engendradas
(COUTO, 2009, p. 215).

Essa proposta do SUAS foi criada para superar os seguintes problemas:

• Insuficiente regulação na área no campo governamental e não governamental e imprecisão conceitual.

• Estruturação de serviços sem a devida integração em sistema, sem definição de referências e


contrarreferências, fluxos e procedimentos de recepção e intervenção social, gerando superposição
e/ou paralelismo de ações.

• Segmentação, superposição e/ou paralelismo das ações.

• Enfoque na relação convenial entre gestores, implicando burocracia, demora e atraso no repasse
de recursos, falta de autonomia na gestão por parte dos municípios e estados.

• Indefinição de atribuições/competências dos três níveis de governo quanto à gestão da política e


seu financiamento.

• Desenvolvimento de ações sem base de dados qualificada, dificultando o diagnóstico dos


problemas e das potencialidades sociais, assim como o monitoramento e avaliação.

• Insuficiente ação intersetorial entre as políticas sociais.

• Ausência de processos continuados de capacitação e de política de RH.

Mesmo havendo muito empenho em estabelecer um sistema de gestão que evidencie uma estrutura
regulatória das atividades e intervenções do SUAS, é preciso reconhecer que há necessidade de
corresponder às demandas que são produzidas pela ausência de outras políticas públicas, devendo-se
122
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

ampliar a agenda dos direitos sociais e evidenciá-los como norma, não como condicionalidade. Para
isso, é necessário fortalecer o pacto federativo nas intervenções políticas e técnicas da gestão partilhada
trazida pelo SUAS.

Nesse processo de normatização, a NOB/SUAS (2005, p. 6) prevê que a “providência essencial para a
regulamentação do novo modelo é precisamente a revisão das bases operacionais legais por meio das
quais se efetua o financiamento, o repasse de recursos, a gestão, o controle e as competências entre os
três entes federados”.

A política de assistência social, como direito e necessidade de justiça social, tem como finalidade
promover o bem-estar e a justiça social. É partilhada no artigo 6º da Constituição de 1988, que elenca
como direitos sociais “a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer, a segurança, a
previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados” (BRASIL, 1988).

Nos termos da Constituição de 1988, a dignidade humana constitui um de seus objetivos fundamentais,
enfatizada pelo artigo 3º, que dispõe como objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil:

I - construir uma sociedade livre, justa e solidária;

II - garantir o desenvolvimento nacional;

III - erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais e regionais;

IV - promover o bem de todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor,


idade e quaisquer outras formas de discriminação (BRASIL, 1988).

A assistência social, de acordo com a Constituição de 1988, passou a ser tratada como uma política
pública de direito, estabelecida no artigo 203:

A assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente


de contribuição à seguridade social, e tem por objetivos: I - a proteção à
família, à maternidade, à infância, à adolescência e à velhice; II - o amparo
às crianças e adolescentes carentes; III - a promoção da integração ao
mercado de trabalho; IV - a habilitação e reabilitação das pessoas portadoras
de deficiência e a promoção de sua integração à vida comunitária; V - a
garantia de um salário mínimo de benefício mensal à pessoa portadora
de deficiência e ao idoso que comprovem não possuir meios de prover à
própria manutenção ou de tê-la provida por sua família, conforme dispuser
a lei (BRASIL, 1988).

Pela Constituição de 1988, os direitos sociais se manifestam numa conjuntura regulamentada por
uma ordem jurídica, cultural, social e política, o que demanda a operacionalização e articulação de
políticas públicas para que esses direitos sejam realmente efetivados. Se assim podemos considerar,
123
Unidade II

a assistência social como política setorial será mediadora no acesso aos direitos sociais a partir
dos extratos da questão social como problemáticas particulares (o desemprego, a fome, a carência
habitacional, a falta de escolas, a incapacidade física etc.) (NETTO, 1992).

A Constituição Brasileira de 1988, portanto, fundamenta a assistência social como política pública,
ao admitir a necessidade de equacionar problemas socioassistenciais decorrentes da ordem econômica
capitalista, visando minimizar as desigualdades estruturais geradas pela ordem socioeconômica,
produzidas pela lógica do capital. No campo da assistência social, a partir de 1988, uma série de
mudanças conceituais desencadeia o aprimoramento de novas técnicas e a alteração nos métodos que
embasam sua atuação, a forma de financiamento e reestruturação dessa política atrelada ao regime da
seguridade social.

Quanto ao escopo da política de assistência social em pauta, inserida no tripé da seguridade social
(saúde, educação e assistência social), o conceito de universalidade pauta-se no artigo 194, inciso I da
Constituição Federal de 1988:

Art. 194. A seguridade social compreende um conjunto integrado de ações


de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social.

Parágrafo único. Compete ao poder público, nos termos da lei, organizar a


seguridade social, com base nos seguintes objetivos:  I - universalidade da
cobertura e do atendimento (BRASIL, 1988).

Para concretizar a cobertura de atendimento da assistência social junto às demais políticas, outro
pilar importante de estruturação da assistência social foi a LOAS (BRASIL, 1993), que regulamenta
esse aspecto da Constituição e estabelece normas e critérios para a organização da assistência social,
que é um direito e exige definição de leis, normas e critérios como em seu artigo 4º, inciso II – da
universalização dos direitos sociais, a fim de tornar o destinatário da ação assistencial alcançável pelas
demais políticas públicas.

Ressalta-se que a assistência social tem como objeto de intervenção a questão social trazida pelo
Estado de fundamentação neoliberal. É necessário entender que a questão social é o conjunto das
expressões das desigualdades da sociedade capitalista e que a assistência social, em muitos casos, é o
único caminho para alcançar a condição de dignidade, respaldada pelo Art. 3º da Constituição Federal.

A questão social advém do conflito capital-trabalho inserido na ampla questão da luta de classes
MERISSE; LEMOS, 2013). A questão social é justamente o aporte contraditório da política social do
Estado como garantidor de uma universalização da proteção social, ou seja:

Se a administração da desigualdade é a ótica da ação estatal para


as classes subalternizadas e excluídas, os serviços sociais em geral se
colocam como modalidade de acesso a recursos sociais e é assim que
se apresentam como reivindicação básica de movimentos dos subalternos

124
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

em seu processo de luta por direitos sociais. O social torna-se o campo de


lutas e de manifestação dos espoliados, o que não significa uma ruptura
com o padrão de dominação e clientelismo do Estado brasileiro no trato com
a questão social (YAZBEK, 1993, p. 21).

O sentido da universalidade, portanto, é utilizado para assegurar que a assistência social deve ser
prestada a todos que necessitarem dela, sem discriminação (princípio da universalidade) e sem exigência
de qualquer contrapartida ou contribuição por parte de seus usuários (princípio da não contributividade
ou da gratuidade).

É importante considerar que o conceito de universalização dessa política está atrelado a uma nova
característica de permitir acesso uniforme a todos que dela necessitarem e a responsabilidade estatal a
ela reconhecida. Portanto:

A inserção da Assistência Social na Seguridade Social aponta para seu caráter


de Política de Proteção Social articulada a outras políticas do campo social
voltadas à garantia de direitos e de condições dignas de vida. Desse modo,
a Assistência Social se configura como possibilidade de reconhecimento
público da legitimidade das demandas de seus usuários espaço de seu
protagonismo e exige que as provisões assistenciais sejam prioritariamente
pensadas no âmbito das garantias de cidadania sob vigilância do Estado,
cabendo a este a universalização da cobertura e garantia de direitos e
de acesso para serviços, programas e projetos sob sua responsabilidade
(YAZBEK, 2008, p. 15).

A LOAS, entre vários aspectos, permitiu a gestão compartilhada entre os três entes federados, União,
estados e municípios, reafirmando e readequando importantes instrumentos de gestão. Conforme
Bourguignon (2007, p. 47):

Em 1993, a regulamentação da Lei Orgânica de Assistência Social - LOAS


garante maioridade jurídica à assistência social, trazendo-a para o campo
do direito com responsabilização do Estado, e expressa a recusa da tradição
clientelista, assistencialista e tutelar presente, ainda, em suas ações. A
assistência social adquire estatuto de política pública e enfrenta desafios:
superar o caldo cultural marcado por essas características que, muitas
vezes, norteiam as ações do Estado e das entidades sem fins lucrativos,
atuantes nesta esfera da política pública; avançar em relação ao processo
de avaliação da gestão da política em suas diferentes instâncias; consolidar
um processo de controle social, com efetiva participação da sociedade civil.
Além disso, propõe-se a assegurar financiamento adequado à complexidade
das ações de enfrentamento à pobreza, da garantia dos mínimos sociais,
do desenvolvimento de ações de prevenção, de proteção e inclusão social e
de repensar as ações destinadas à família de baixa renda, que preconizam
o caráter intersetorial e o rompimento com a segmentação da família
em suas unidades.
125
Unidade II

Entendemos que o significado da gestão compartilhada trazida pela LOAS entre os entes
federados traduz não só a necessidade de cooperação política das instâncias de governo dentro de um
regimento estrutural, mas a cooperação entre diferentes instituições representativas no que se refere
ao planejamento, à execução, ao monitoramento e à avaliação da política de assistência social em
cada localidade onde são ofertados os serviços socioassistenciais – sobretudo porque a articulação
em diferentes instâncias pode representar uma forma de gestão mais eficaz tanto na prestação dos
serviços quanto no financiamento desses.

A LOAS avançou expressivamente, pois implementou os mecanismos propugnados em lei na garantia


de participação e gestão compartilhada. Implantou e deu voz aos conselhos municipais, estaduais e
nacional de assistência social; implantou igualmente o Fundo de Assistência Social nas três esferas
de governo; e avançou na construção e na aprovação de planos municipais, estaduais e nacional de
assistência social. As conferências municipais, estaduais e nacionais, por sua vez, se tornaram grandes
fóruns na formação de competências de gestão, consensos e avanços nessa política.

Ao tratar a assistência social como conteúdo da política pública, de responsabilidade do Estado, ao


desnaturalizar o princípio da subsidiariedade, pela qual a função da família e da sociedade antecedia
a do Estado, e por introduzir um novo campo em que se efetivam os direitos sociais (SPOSATI, 2008), a
LOAS pode ser considerada um grande avanço na política de promoção social.

A Constituição Federal de 1988 e a LOAS, ao definirem como diretrizes da política de assistência


social a descentralização político-administrativa, a participação da população e o comando único,
trouxeram para a cena do debate a necessidade do desencadeamento de negociações entre as
esferas de governo, para culminar em um efetivo pacto federativo (NOB/SUAS, 2005).

Nas legislações que embasam a política de assistência social, pode-se verificar que o pacto federativo
constitui-se como divisão de competências, não como característica cooperativa, mas de maneira
hierárquica, amparada pelo princípio da autonomia administrativa e fiscal dos entes federados. Assim:

O compartilhamento de poderes e responsabilidades em territórios


diferentes é premissa básica para a implantação do SUAS. Essa condição
pressupõe repartição de competências para o exercício e desenvolvimento
de sua atividade normativa, cabendo à União as matérias e questões de
interesse geral, nacional, aos Estados as matérias e assuntos de interesse
regional e intermunicipais e aos Municípios, os assuntos de interesse local
(NOB/SUAS, 2005, p. 9).

Após 5 anos da perpetuação da LOAS, aprovada em 1993 na construção da política de assistência


social e na defesa dos direitos do cidadão como responsabilidade do Estado, foi aprovada em 1998 a
primeira Política Nacional de Assistência Social pós-Lei Orgânica da Assistência Social, que ratificou os
caminhos trilhados até então e fortaleceu os processos de descentralização e municipalização da ação
da política. Vem dessa política um diagnóstico mais denso da gestão pública dessa área realizada pelos
municípios brasileiros, classificados em gestão plena, gestão básica e gestão inicial. Essa classificação
permitiu o melhor acompanhamento e fortalecimento de políticas e planos municipais e estaduais de
126
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

assistência social. A política nacional de 1998 criou condições para o salto que ocorreu com a política
nacional de 2004.

A Norma Operacional Básica (NOB) da Assistência Social de 1998 conceituou e definiu as


estratégias, os princípios e as diretrizes da LOAS sob termos característicos que demarcam um campo de
procedimentos para a operacionalização da política nacional de 1998, atendendo a seus pressupostos
(NOB/SUAS, 2005).

Somente em 2005 houve o lançamento oficial da NOB do SUAS por intermédio da Secretaria
Nacional de Assistência Social (SNAS), em cumprimento à Resolução n. 27, de 24 de fevereiro de 2005,
do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), para conhecimento e apreciação. Essa é
resultado de 11 anos de formulação e debate na área da assistência social, com foco no processo
de consolidação da PNAS sob a égide do Sistema Único em curso (NOB/SUAS, 2005).

Resumo

Nesta unidade, conhecemos a Lei n. 11.124 (BRASIL, 2005b), que dispõe


sobre o SNHIS, cria o FNHIS e institui o Conselho Gestor do FNHIS.

O SNHIS tem como objetivo principal implementar políticas e programas


que promovam o acesso à moradia digna para a população de baixa
renda, que compõe a quase totalidade do déficit habitacional do país. As
disponibilidades legais para trabalharmos e mediarmos direitos de acesso
são suficientes para acrescentarmos nos indicadores sociais e efetivarmos
a política de assistência social como complemento das demais.

A Lei n. 11.124 instituiu também o FNHIS, que em 2006 centralizou os


recursos orçamentários dos programas de Urbanização de Assentamentos
Subnormais e de Habitação de Interesse Social, inseridos no SNHIS. Esse
fundo é composto por recursos do Orçamento Geral da União e do Fundo de
Apoio ao Desenvolvimento Social (FAS), dotações, recursos de empréstimos
externos e internos, contribuições e doações de pessoas físicas ou jurídicas,
entidades e organismos de cooperação nacionais ou internacionais e
receitas de operações realizadas com recursos do FNHIS.

A Política Nacional de Habitação (PNH) contou com a contribuição de


amplos setores sociais e foi aprovada pelo Conselho Nacional das Cidades
em dezembro de 2004. Para a sua implementação, contou com um conjunto
de instrumentos, sendo o principal deles o SNH. O SNH divide-se em dois
subsistemas: o Sistema Nacional de Mercado e o SNHIS (BRASIL, 2004c).

Conhecemos melhor o Programa Minha Casa, Minha Vida (PMCMV),


que tem como principal objetivo a redução do déficit habitacional ao criar
127
Unidade II

mecanismos de incentivo à produção e à aquisição de novas unidades


habitacionais, à requalificação de imóveis urbanos e à produção ou à
reforma de habitações rurais para famílias com renda mensal de até dez
salários mínimos.

Vimos que a mobilidade urbana está intrinsecamente relacionada à


PNAS (BRASIL, 2005a), que define o princípio de territorialização e considera
as desigualdades socioterritoriais como elemento norteador dessa política
pública. Consequentemente, o Sistema Único de Assistência Social (SUAS)
se respalda na condição socioespacial para identificar as demandas do
serviço social e elaborar programas e projetos, respeitando a localização
das demandas do serviço social e melhorando, assim, o acesso dos usuários
aos serviços prestados pela assistência social.

O objetivo da política de integração urbana de assentamentos precários


é a inclusão socioespacial de importante parcela da população brasileira que
vive, nas nossas cidades, em situações de risco, insalubridade e insegurança
relacionadas com a precariedade das suas condições de moradia

Concluímos que a segregação socioespacial está enraizada no processo


de divisão territorial, entendida como direito à propriedade de valor e
usufruto da terra. Está também relacionada à exploração do território
como oportunidade de grandes investimentos e lucros e às configurações
existentes nos espaços como apropriação de lugar.

Diante da realidade brasileira, os assistentes sociais têm como desafio,


portanto, assumir o trabalho social como exercício de criação coletiva,
alimentando as demandas populares por autonomia e controle social
e consolidando a luta pelo direito à cidade (CFESS, 2016). É necessário
trabalharmos de forma multidisciplinar, compartilhando os saberes para
construir intervenções pautadas na garantia dos direitos e na promoção da
qualidade de vida dos sujeitos.

Nosso desafio é conduzir um direcionamento em busca da materialidade


dos discursos literários. Por isso, aprimorar e estar aberto a novos
conhecimentos faz parte do processo das complexidades cotidianas com
as quais nos deparamos e as quais merecem se tornar uma travessia, e não
paradas ultrapassadas do nosso alcance, pois o chão da realidade merece
nossa cooperação.

128
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

Exercícios

Questão 1. Considere o quadro a seguir.

Quadro 1

Aspectos correspondentes da atuação do


Conceitos elaborados por Milton Santos assistente social
O território pode ser considerado “o nome político para o Caso A: o assistente social pode atender a
espaço de um país”. O território é imutável em seus limites populações com características específicas e que
e é construído e desconstruído por relações de poder, tendo foram recentemente desalojadas do seu local de
como seu principal agente o Estado, mas não se limitando morada original, cujo significado era particular
a ele. O território não se confunde com o espaço, já que para a população deslocada. É o caso, por exemplo,
sua realidade vem de sua materialidade, enquanto o espaço de indígenas que são removidos de determinada
reúne a materialidade e a vida que a anima. Em outras localidade, que consideravam sagrada, para que seja
palavras, o território antecede o espaço. realizada obra pública.
A região é uma parcela do espaço geográfico, mais ou Caso B: o assistente social pode auxiliar o poder
menos delimitada de acordo com a verificação ou não público na elaboração de programa social ou de
de uma ou mais características comuns, de natureza política pública, que conterão diretrizes vinculantes,
física, política, cultural, ou econômica, podendo haver ou seja, cuja execução será obrigatória.
descontinuidades.
Caso C: o assistente social pode elaborar estudos
O lugar é a dimensão afetiva do espaço geográfico, ou seja, para entender as especificidades que o tratamento
contempla a relação que um indivíduo (ou determinado de determinada localidade demanda. Deve, para
grupo) nutre com partes da superfície terrestre. Está isso, especificar quais são as características que
relacionado a um sentimento de identidade. delimitam aquela localidade e que a diferenciam do
resto da superfície terrestre.
Caso D: o assistente social pode executar
diretamente bens e serviços a indivíduos, a grupos
O espaço é um conjunto de objetos e de relações que se ou a coletividade como um todo, na tentativa de
realizam sobre esses objetivos, não entre eles. O espaço promover uma sociedade mais igualitária e mais
resulta do casamento da sociedade com a paisagem e democrática, conforme descrito como seu dever
apresenta movimento, como um filme. A partir do uso do na Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993 (BRASIL,
território pelo povo, é criado o espaço. 1993), também conhecida como Código de Ética do
Assistente Social.

Assinale, das possibilidades de associação a seguir, a correta.

A) Território – caso D; região – caso B; lugar – caso C; espaço – caso A.

B) Território – caso C; região – caso A; lugar – caso D; espaço – caso B.

C) Território – caso A; região – caso D; lugar – caso B; espaço – caso C.

D) Território – caso B; região – caso C; lugar – caso A; espaço – caso D.

E) Território – caso B; região – caso C; lugar – caso A; espaço – não há caso associado.

Resposta correta: alternativa D.

129
Unidade II

Análise da questão

O conceito de território corresponde ao caso B, uma vez que o assistente social, ao participar da
elaboração de política pública ou programa social, está exercendo o poder do Estado no território sobre
o qual é soberano, determinando a sua materialidade.

A partir da materialidade conformada pela relação de poder exercida no território, nasce o espaço.
Concluímos, então, que o conceito de espaço corresponde ao caso D: quando o assistente social, a partir
da política pública elaborada, atua diretamente no território e relaciona-se com os demais agentes, ele
cria o território vivido, o espaço.

Ao se relacionar com o alvo da política pública elaborada, o assistente social deve levar em conta
as subjetividades do indivíduo amparado (ou do grupo), que tem relação pessoal e afetiva com o que
eles entendem como um lugar. Ou seja, o conceito de lugar corresponde ao caso A, no qual o grupo de
indígenas deslocados não necessariamente percebe o local da mesma forma que o assistente social, pois
houve o desenvolvimento de uma relação de natureza identitária.

Por fim, toda atuação do assistente social, de acordo a Lei n. 8.662, de 7 de junho de 1993, conhecida
como Código de Ética do Assistente Social, deve ser baseada em conhecimentos técnicos sólidos.
Portanto, ao atuar no espaço, o assistente social deve ser capaz de diferenciá-lo para melhor atender à
população residente. Nesse sentido, o conceito de região corresponde ao caso C, pelo qual o assistente
social constrói conhecimento técnico que lhe permite distinguir uma área de outra.

Questão 2. (Enade 2010) Os artigos 182 e 183 da Constituição Federal estabelecem parâmetros
para a política urbana, os quais estão regulamentados na Lei n. 10.257, de julho de 2001, o Estatuto da
Cidade. De acordo com essa lei, avalie se cada uma das afirmativas a seguir constitui uma diretriz para
a elaboração da política urbana.

I – Planejamento do desenvolvimento das cidades.

II – Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda.

III – Desapropriação de solo urbano para fins da constituição de zonas de interesse social.

IV – Instituição do imposto territorial progressivo para terrenos subtilizados nas zonas urbanas
centrais da cidade.

V – Integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o


desenvolvimento socioeconômico do município e do território sob sua área de influência.

130
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

São corretas apenas as afirmativas:

A) I, II e III.

B) I, II e V.

C) I, III e IV.

D) II, IV e V.

E) III, IV e V.

Resposta correta: alternativa B.

Análise da questão

A questão prevê a distinção entre diretriz e instrumento. As diretrizes oferecem a ampla ideia da
política (nesse caso, urbana), e os instrumentos definem os procedimentos a serem tomados pelos
órgãos públicos para efetivar as diretrizes ou os princípios dessa política, além de garantir os direitos
regidos pela Carta Magna.

A Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001, conhecida como Estatuto da Cidade, regulamentou os


artigos 182 e 183 da Constituição Federal de 1988, que compõem o capítulo relativo à política urbana.
Seus princípios básicos são o planejamento participativo e a função social da propriedade, garantindo
o bem-estar dos habitantes.

Partindo dessas definições, a lei atribui a tarefa de gerenciamento aos municípios. Oferece às cidades
um novo conjunto de instrumentos de intervenção e ordenamento de seus territórios, associados a uma
concepção de planejamento e gestão urbana e territorial.

O Estatuto é dividido em cinco capítulos, que contemplam os itens a seguir:

I. Diretrizes Gerais (artigos 1º a 3º).

II. Instrumentos da Política Urbana (artigos 4º a 38º).

III. Plano Diretor (artigos 39º a 42º).

IV. Gestão Democrática da Cidade (artigos 43º a 45º).

V. Disposições Gerais (artigos 46º a 58º).

O Estatuto estabelece um conjunto de princípios, diretrizes gerais e instrumentos que norteiam a


política urbana em todo o território nacional.
131
Unidade II

O conceito de diretriz está relacionado aos itens I, II e V da questão, como se explica a seguir.

• Planejamento do desenvolvimento das cidades, da distribuição espacial da população e das


atividades econômicas do município e do território sob sua área de influência, de modo a evitar
e corrigir as distorções do crescimento urbano e seus efeitos negativos sobre o meio ambiente.
O Estatuto da Cidade compreende o crescimento e o desenvolvimento urbano como um processo
que pressiona o equilíbrio social e ambiental. A prática do planejamento urbano, portanto, mais
do que estabelecer modelos ideais de funcionamento das cidades, deve contemplar os conflitos
e corrigir os desequilíbrios de todas as ordens que são causados pela urbanização. Nesse sentido,
deve haver a compreensão integrada do desenvolvimento urbano e econômico, incluindo as
relações entre as regiões urbanizadas e as áreas sob influência direta das cidades.

• Regularização fundiária e urbanização de áreas ocupadas por população de baixa renda mediante
o estabelecimento de normas especiais de urbanização, uso e ocupação do solo e edificação,
consideradas a situação socioeconômica da população e as normas ambientais. Essa diretriz
visa efetivar o direito à moradia de milhões de brasileiros que vivem em condições precárias e
sem nenhuma segurança jurídica de proteção ao direito de moradia nas cidades, em razão de
os assentamentos urbanos em que vivem serem considerados ilegais e irregulares pela ordem
legal urbana em vigor. Mediante essa diretriz, o Estatuto da Cidade aponta a necessidade da
constituição de um novo marco legal urbano que ofereça proteção legal ao direito à moradia para
as pessoas que vivem nas favelas, nos loteamentos populares, nas periferias e nos cortiços, a partir
da legalização e da urbanização das áreas urbanas ocupadas pela população considerada pobre.

• Integração e complementaridade entre as atividades urbanas e rurais, tendo em vista o


desenvolvimento socioeconômico do município e do território sob sua área de influência. Essa
diretriz afirma a responsabilidade do município em relação ao controle do solo das zonas rurais e
urbanas, na perspectiva do crescimento econômico e do desenvolvimento social, unindo ambas as
áreas. Também se deve levar em conta a relação de dependência entre as regiões urbanas e rurais,
estendendo as premissas do Estatuto para além da região urbanizada do município, integrando os
diferentes recursos que a cidade oferece.

Já os itens III e IV da questão, segundo o artigo 4º da Constituição Federal, da Lei n. 10.257/01, são
considerados instrumentos, como se explica a seguir.

• Desapropriação de solo urbano para fins da constituição de zonas de interesse social. O poder
público municipal pode efetuar essa desapropriação no caso de o proprietário deixar de cumprir
com a obrigação de conferir uma destinação social à sua propriedade urbana, nos termos e prazos
estabelecidos no plano urbanístico local, após o término do prazo máximo de cinco anos de
aplicação do imposto predial e territorial urbano progressivo no tempo. Segundo o art. 8º do
Estatuto da Cidade, a desapropriação para fins de reforma urbana poderá ser procedida pelo
município, quando transcorridos cinco anos do IPTU progressivo, sem que o proprietário tenha
cumprido a obrigação de cobrança, edificação ou utilização.

132
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

• Instituição do imposto territorial progressivo para terrenos subutilizados nas zonas urbanas
centrais da cidade. Esse imposto progressivo no tempo é uma sanção ao proprietário que não
destinou sua propriedade a uma função social. Seu objetivo é motivar a utilização devida da
propriedade urbana de modo a garantir, nos termos do Plano Diretor e do plano urbanístico local,
o cumprimento da função social da propriedade.

Existem outros instrumentos importantes da política urbana, como: o Plano Diretor da Cidade,
o Plano Plurianual, as Diretrizes Orçamentárias e o Orçamento Anual, os Planos de Habitação de
Interesse Social e as Conferências de Habitação e das Cidades.

A partir de 2005, a elaboração dos Planos de Habitação de Interesse Social passou a ser obrigatória
aos municípios com mais de 20 mil habitantes e aos estados que desejam fazer uso do Fundo Nacional
de Habitação de Interesse Social. Além desses planos, tanto os municípios quanto os estados deverão
definir os Conselhos Locais de Habitação de Interesse Social, bem como os Fundos de Habitação de
Interesse Social.

Assim, com o cumprimento do conjunto de diretrizes e instrumentos defendidos pelo Estatuto da


Cidade, efetiva-se a gestão das cidades, fazendo com que se tornem mais justas, equitativas, democráticas
e participativas.

O Estatuto da Cidade é uma legislação direcionada para a democratização do acesso à moradia.

Análise das afirmativas

I – Trata-se de uma diretriz do planejamento.

II – Trata-se de uma diretriz de Regulação Urbana de áreas ocupadas pela população de baixa renda.

III – Trata-se de um instrumento de desapropriação.

IV – Trata-se de um instrumento de aplicação de impostos específicos.

V – Trata-se de uma diretriz das atividades urbanas e rurais.

133
Unidade II

FIGURAS E ILUSTRAÇÕES

Figura 1

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Figura 9

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134
POLÍTICA SETORIAL - HABITAÇÃO

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https://bit.ly/3sqgiUO. Acesso em: 22 mar. 2021.

Figura 12

ARCHDAILY. Segregação urbana em 6 fotografias: desigualdade vista de cima. [s.d.]. Disponível em:
https://bit.ly/3sqgiUO. Acesso em: 22 mar. 2021.

Figura 13

ARCHDAILY. Segregação urbana em 6 fotografias: desigualdade vista de cima. [s.d.]. Disponível em:
https://bit.ly/3sqgiUO. Acesso em: 22 mar. 2021.

Figura 14

ARCHDAILY. Segregação urbana em 6 fotografias: desigualdade vista de cima. [s.d.]. Disponível em:
https://bit.ly/3sqgiUO. Acesso em: 22 mar. 2021.

Figura 15

ARCHDAILY. Segregação urbana em 6 fotografias: desigualdade vista de cima. [s.d.]. Disponível em:
https://bit.ly/3sqgiUO. Acesso em: 22 mar. 2021.

Figura 16

ARCHDAILY. Segregação urbana em 6 fotografias: desigualdade vista de cima. [s.d.]. Disponível em:
https://bit.ly/3sqgiUO. Acesso em: 22 mar. 2021.

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caracterização de assentamentos precários. Brasília: Ministério das Cidades, 2010. p. 46.

Figura 20

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Guia para o mapeamento e
caracterização de assentamentos precários. Brasília: Ministério das Cidades, 2010. p. 47.
135
Unidade II

Figura 21

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Guia para o mapeamento e
caracterização de assentamentos precários. Brasília: Ministério das Cidades, 2010. p. 47.

Figura 22

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Guia para o mapeamento e
caracterização de assentamentos precários. Brasília: Ministério das Cidades, 2010. p. 48.

Figura 23

BRASIL. Ministério das Cidades. Secretaria Nacional de Habitação. Guia para o mapeamento e
caracterização de assentamentos precários. Brasília: Ministério das Cidades, 2010. p. 48.

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o Regime Especial de Tributação para a Plataforma de Exportação de Serviços de Tecnologia da
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Exercícios

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Informações:
www.sepi.unip.br ou 0800 010 9000

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