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O Serviço Federal de

Habitação e Urbanismo
(Serfhau) e a reconfiguração
do campo profissional
do urbanista

Sarah Feldman
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 101

(Re)interpretando o Serfhau

O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) foi criado em 1964, alguns


meses após o afastamento do presidente João Goulart e a tomada do poder pelos
militares. Nesse contexto de ruptura do quadro jurídico-institucional, de suspen-
são das liberdades e dos direitos individuais, de censura e repressão policial que
atingiram movimentos sociais, intelectuais e todas as organizações da sociedade
civil contrárias ao regime, o general Humberto de Alencar Castello Branco assu-
me a presidência e se instala no Brasil a primeira instituição federal que associou
habitação e urbanismo1.

Tentativas anteriores de inclusão de aspectos sociais, econômicos e de infraestru-


tura para enfrentar o problema da habitação não chegaram a se concretizar. Em
1946, no governo de Eurico Gaspar Dutra, houve a criação da Fundação da Casa
Popular (FCP), primeiro órgão federal de habitação. Suas atribuições de “pro-
moção de habitações destinadas a trabalhadores” foram ampliadas por decreto,
incluindo “o financiamento de obras de instalação de redes de água, esgoto e
energia, de assistência social e outras, visando a melhoria das condições de vida
da população operária”2.

Em 1961, no governo de Jânio Quadros, também por decreto, foi criado o Con-
selho Nacional de Planejamento de Habitação Popular para exercer, entre outras
funções, “a coordenação entre a União e os Municípios, visando à orientação de
uma política nacional concernente ao problema da habitação das classes menos
favorecidas” (Decreto n. 50.488, art. 2º)3. Ainda no governo Jânio foi elaborado
um projeto de lei para criação de um Instituto Brasileiro de Habitação, com atri-
buições que incluíam a condução da política habitacional e a liderança nos as-
suntos urbanos. Sua atuação previa tanto o financiamento e a execução de obras
urbanísticas e de desenvolvimento regional quanto a realização de investimentos
imobiliários vinculados aos planos habitacionais (ANDRADE; AZEVEDO, 1982).

No governo de João Goulart (1961-1964), quando mudanças estruturais foram


previstas no Plano Trienal de Desenvolvimento Econômico e Social elaborado

1
Neste texto, a análise do Serfhau como órgão que associa habitação e urbanismo revê e atualiza
interpretações que elaborei em textos anteriores, sobretudo em Feldman (2005; 2010).
2
A FCP foi criada pelo Decreto n. 9.218, de 01 de maio de 1946. Suas atribuições foram ampliadas pelo
Decreto n. 9.777, de 06 de setembro de 1946.
3
Decreto n. 50.488, de 25 de abril de 1961. De acordo com o art. 3º desse decreto, o Conselho seria
composto por 12 membros, indicados pelas seguintes entidades: Ministério da Fazenda, da Saúde; da
Viação e Obras Públicas; Instituto dos Arquitetos do Brasil; Conselho Federal de Engenharia e Arqui-
tetura; Associação Brasileira de Agronomia; Conselho Nacional de Geografia; Associação Brasileira
de Municípios; Institutos de Previdência Social; Conselho Nacional de Economia; Caixa Econômica
Federal; Fundação da Casa Popular.
102 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

por Celso Furtado, então Ministro Extraordinário do Planejamento, a superação


da crise habitacional esteve entre as prioridades a serem enfrentadas. A reforma
urbana foi incorporada entre as reformas de base a partir de ampla mobilização
de vários segmentos da sociedade.

Exatos 16 dias antes de sua deposição, o presidente, acompanhado do Chefe da


Casa Civil, Darcy Ribeiro, entregou a “Mensagem ao Congresso Nacional”. Nes-
se documento as ações referentes ao problema da habitação – colocado como o
que apresenta “aspectos da maior gravidade que podem ser traduzidos em um
déficit crônico de caráter quantitativo e qualitativo” – foram destacadas:
Não obstante os sérios entraves opostos à atuação do Governo, fo-
›Š–ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’˜œȱŽ–ȱ˜˜ȱ˜ȱŠÇœǰȱž›Š—Žȱ˜ȱŽ¡Ž›ŒÇŒ’˜ȱꗊ—ŒŽ’›˜ȱŽȱ
1963, por intermédio dos órgãos vinculados à administração pública
federal, atividades dignas de nota, não apenas referentes ao estudo
da crise habitacional sob seus vários ângulos, mas, também, no campo
da construção de moradias, quer por execução direta das entidades,
šžŽ›ȱ™˜›ȱ–Ž’˜ȱŽȱꗊ—Œ’Š–Ž—˜œȱǻ ǰȱŗşŜŚǰȱ™ǯȱŗşŜȬŘŖřǼǯ

Para as diretrizes de uma política habitacional, as conclusões do Seminário de


Habitação e Reforma Urbana (s.HRu), realizado em 1963, foram citadas como
referência:
˜ȱšžŽȱ’£ȱ›Žœ™Ž’˜ȱŠ˜ȱŽ¡Š–Žȱ˜ȱ™›˜‹•Ž–Šȱ™Š›ŠȱŠȱŽę—’³¨˜ȱŽȱ™›’—-
cípios que deverão orientar a ação do poder público no âmbito nacio-
nal, cumpre citar o Seminário de Habitação e Reforma Urbana leva-
do a efeito sob os auspícios do Instituto de Previdência e Assistência
aos Servidores do Estado (IPASE), com a colaboração do Instituto de
Arquitetos do Brasil (IAB), cujas conclusões constituíram subsídio
ŸŠ•’˜œ˜ȱ™Š›ŠȱŠȱę¡Š³¨˜ȱ˜œȱ›ž–˜œȱšžŽȱ˜ȱ ˜ŸŽ›—˜ȱ™›ŽŽ—Žȱ’–™›’–’›ȱ
ŠȱŽœœŽȱœŽ˜›ȱǻ ǰȱŗşŜŚǰȱ™ǯȱŗşŜȬŘŖřǼǯ

E foram anunciados estudos para a criação de um Conselho de Política Urbana:


Reconhecendo, ainda, que a existência, na administração pública fe-
deral, de várias entidades desligadas de uma ação coordenadora de
cúpula, tornaria inexequível qualquer política habitacional, o Governo
julgou necessário efetuar estudos para a criação do Conselho de Polí-
tica Urbana (COPURB), órgão subordinado diretamente à Presidência
da República, ao qual incumbirão funções coordenadoras, além de ou-
›ŠœȱŠȱ–Š’œȱŠ•Šȱ’–™˜›¦—Œ’Šȱǻ ǰȱŗşŜŚǰȱ™ǯȱŗşŜȬŘŖřǼǯ

Tanto a referência ao s.HRu como a criação do Copurb dão a medida do prota-


gonismo assumido pelos arquitetos através de sua entidade – o IAB. Realizado
em julho de 1963 em Petrópolis e São Paulo, o s.HRu teve por objetivo “o estudo
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e o debate de problemas de habitação e dos aglomerados humanos brasileiros,


procurando equacioná-los em um conjunto de medidas capazes de constituírem
a base de uma política nacional de habitação e planejamento urbano” (S.HRU,
1963a, Capítulo 1).

Além de arquitetos, o seminário reuniu sociólogos, advogados, engenheiros,


assistentes sociais, entidades e lideranças sindicais e estudantis. No documento
final a habitação foi reconhecida como um dos direitos fundamentais do homem
e da família, cuja plena realização exigia limitações ao direito de propriedade e
do uso do solo que se consubstanciariam numa reforma urbana. A política ha-
bitacional deveria se concretizar através de planos nacionais, territoriais e de
habitação, integrados num planejamento global nos níveis nacional, regional,
estadual e municipal. Para disciplinar e coordenar a solução do problema habi-
tacional e estabelecer normas para o planejamento territorial, em todos os níveis
de governo, foi proposta a criação de um “órgão central federal”, com autonomia
financeira (S.HRU, 1963b, p. 4).

Muito aquém do estatuto de um órgão central federal com autonomia financei-


ra, o Serfhau foi criado como autarquia vinculada ao Ministério do Interior e
œž‹˜›’—Š˜ȱ Š˜ȱ Š—Œ˜ȱ ŠŒ’˜—Š•ȱ Žȱ
Š‹’Š³¨˜ȱ ǻ
Ǽǰȱ ™Ž•Šȱ Ž’ȱ —ǯȱ ŚǯřŞŖǰȱ Žȱ Řŗȱ
de agosto de 1964. As sucessivas mudanças em suas atribuições confirmam a
fragilidade do lugar que ocupou. Em 1964, a maior parte de suas funções eram
associadas a pesquisas e estudos relativos ao problema habitacional. Cabia ao
Conselho de Administração do BNH a nomeação do seu superintendente, assim
como a aprovação da composição da Comissão Consultiva. Em 1966, o Serfhau
passou a ter como atribuições coordenar o Sistema Nacional de Planejamento do
ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ ˜ŒŠ•ȱ —Ž›Š˜ȱ ǻ Ǽȱ Žȱ Ž›’›ȱ ˜ȱ ž—˜ȱ Žȱ ’—Š—Œ’Š–Ž—˜ȱ
Žȱ •Š—˜œȱ Žȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ ˜ŒŠ•ȱ —Ž›Š˜ȱ ǻ’™•Š—Ǽǰȱ Œ›’Š˜œȱ ™Ž•˜ȱ ˜ŸŽ›—˜ȱ
federal. Os financiamentos concedidos tinham de ser submetidos e aprovados
pela diretoria do BNH. Em 1970, suas atribuições foram novamente redefinidas:
˜ȱ Ž›‘Šžȱ ™Ž›Žžȱ Šȱ ž—³¨˜ȱ Žȱ Œ˜˜›Ž—Š˜›ȱ ˜ȱ  ǰȱ ’—Œ˜›™˜›˜žȱ Š›’‹ž’³äŽœȱ
do Serviço Nacional dos Municípios (Senam)4 e teve ampliada a sua função
de articular a elaboração e a implantação de planos de desenvolvimento local
integrado, de acordo com o planejamento nacional e regional. Incluíam-se nessa
função colaborar com os governos municipais na execução do planejamento lo-
cal, inclusive na organização e operação de serviços municipais, e assisti-los em
assuntos de seu interesse5.

4
O Senam foi criado em 1961, junto ao gabinete do presidente Jânio Quadros, para prestar assistência
em assuntos administrativos, jurídicos, econômico e financeiros às autoridades municipais e pro-
mover reuniões e congressos de prefeitos e vereadores para o debate dos problemas locais. Em 1963
foram introduzidas atribuições relacionadas ao planejamento urbano (Decreto n. 50.334, de 11 de
março de 1961, e Decreto n. 52.102, de 11 de junho de 1963).
5
Decreto n. 59.917, de 30 de dezembro de 1966, e Decreto n. 66.882, de 16 de julho de 1970.
104 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

Em 1974, a criação da Comissão Nacional de Regiões Metropolitanas e Política


Urbana (CNPU) anunciou a extinção do Serfhau, oficializada no ano seguinte6.
Além de acompanhar a implantação do sistema das regiões metropolitanas,
definidas em 19737, a CNPU tinha a atribuição de propor as diretrizes, estraté-
gias e instrumentos da Política Nacional de Desenvolvimento Urbano. A CNPU
adquiriu estatuto mais elevado que o Serfhau: era vinculada à Secretaria de
Planejamento da Presidência da República e constituída por representantes dos
Ministérios da Fazenda, Indústria e Comércio, Transportes e Interior8.

Ainda que o Serfhau venha sendo abordado em uma ampla gama de estudos
desde a década de 1970, o seu significado permanece nebuloso na historiografia
do urbanismo e do planejamento no Brasil. Conferir uma temporalidade a essa
produção se faz necessário. Os contextos políticos e culturais, em especial da
cultura urbanística, e os lugares ocupados por seus autores, permitem entender
variações, movimentos e diferentes olhares sobre um mesmo objeto.

Um conjunto de estudos foi elaborado por profissionais que fizeram parte dos
quadros do Serfhau ou dele estiveram muito próximos. Entre estes se destacam
quatro trabalhos que têm em comum o exercício de avaliação da atuação do Ser-
fhau: os de Azevedo (1976); Francisconi e Souza (1976); Cintra (1978) e Oliveira
(1993). O trabalho de Francisconi e Souza (1976) se diferencia dos demais, uma
vez que foi elaborado por meio de contrato com o Ipea, visando preparar um do-
cumento sobre a Política Nacional de Desenvolvimento Urbano (PNDU) e uma
estrutura institucional.

Escritos por atores do processo, esses trabalhos são movidos pela memória, no
sentido que lhe atribui Pierre Nora (1993) em seu belo texto “Entre memória e
história: a problemática dos lugares”, como “um fenômeno sempre atual”, “um
elo vivido no eterno presente sempre” (NORA, 1993, p. 9). A partir dessa vivên-
cia, ao apontarem as contradições na estrutura, na atuação e nos resultados ime-
diatos do Serfhau, os autores oferecem pistas sobre os embates que marcaram o
cotidiano de sua curta existência.

Azevedo (1976) sinaliza as polarizações nas mudanças das atribuições do


Serfhau como fruto de disputas. Segundo o autor, no conjunto das atribui-
ções estabelecidas pela lei de criação do Serfhau, a ênfase foi dada à habitação,

6
O Serfhau foi extinto pelo ŽŒ›Ž˜ȱ—ǯȱŝŜǯŗŚşǰȱŽȱŘŘȱŽȱŠ˜œ˜ȱŽȱŗşŝśǰȱ–ŠœǰȱŽ–ȱŗşŝŚǰȱ™Ž•ŠȱŽ’ȱ—ǯȱŗŜŚǰȱ
de 06 de dezembro de 1974, já havia se estabelecido a transferência da propriedade de seus bens
imóveis.
7
Em 1973 foram estabelecidas as regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Porto Alegre,
ŽŒ’ŽǰȱŠ•ŸŠ˜›ǰȱž›’’‹ŠǰȱŽ•·–ȱŽȱ˜›Š•Ž£Šǯȱ˜ȱŠ—˜ȱœŽž’—Žȱ˜’ȱ’—Œ•žÇŠȱŠȱ˜ȱ’˜ȱŽȱ Š—Ž’›˜ȱǻŽ’ȱ
Complementar nǯȱŗŚǰȱŽȱŞȱŽȱ“ž—‘˜ȱŽȱŗşŝřǰȱŽȱŽ’ȱ˜–™•Ž–Ž—Š›ȱ—ǯȱŘŖǰȱŽȱŗȱŽȱ“ž•‘˜ȱŽȱŗşŝŚǼǯ
8
Decreto n. 74.156, de 6 de junho de 1974.
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 105

o que colocou o planejamento urbano numa posição claramente secundária: “o


plano diretor apoia-se na habitação, e não o contrário” (AZEVEDO, 1976, p. 76-
77). Por outro lado, ocorreram mudanças radicais no perfil do Serfhau, dadas
pela regulamentação em 1966, quando o serviço passou a assumir a função de
coordenador das atuações de diferentes ministérios e órgãos regionais. O Ser-
fhau, então, “foi concebido como um órgão staff da Presidência da República ou
uma equipe interministerial da mais alta hierarquia” (AZEVEDO, 1976, p. 76-77).
Essa segunda formulação foi, de acordo com o autor, a resposta aos meios liga-
dos ao planejamento urbano, especialmente os arquitetos, que reivindicaram a
institucionalização do planejamento urbano integrado no governo federal.

O papel dos arquitetos foi também destacado por Cintra (1978, p. 203), para
quem o Serfhau foi fruto da atuação dos “vendedores e agitadores da temática
urbana, em sua maioria arquitetos-planejadores”, um “grupo articulado e ativo”,
fazendo constante pressão pela política de planejamento e ocupando cargos es-
tratégicos nos próprios órgãos governamentais.

A falta de autonomia e de capacidade de decisão é argumento consensual para


explicar as dificuldades de efetiva atuação do Serfhau, seja devido à administra-
ção pública setorizada e desintegrada (FRANCISCONI; SOUZA, 1976), seja pela
–Š—’žŽȱ Šȱ Š›ŽŠȱ ǻ  ǰȱ ŗşşřǼǯȱ
¤ȱ Œ˜—œŽ—œ˜ȱ Š–‹·–ȱ —Šȱ ŠŸŠ•’Š³¨˜ȱ Žȱ
que os projetos resultantes dos planos executados foram pouco significativos. Se-
gundo Cintra (1978), não passaram de “adornos de estantes” porque não foram
referência para os programas setoriais, “nem mesmo para o BNH”. A subordina-
ção ao BNH foi, segundo o autor, um “golpe mortal” do qual o Serfhau nunca se
recuperaria (CINTRA, 1978, p. 204 -209).

Na avaliação realizada por Francisconi e Souza (1976, p. 136), o saldo positivo do


período foi a criação de uma mentalidade de planejamento e de um sistema de
planejamento. Os autores recomendaram o aproveitamento da experiência e co-
nhecimentos acumulados pelo Serfhau em sua atividade “especificamente ligada
ao planejamento” dentro de um Sistema de Planejamento Nacional. Sinalizando
para resultados mais concretos, Azevedo (1976) mostra, através de sua pesqui-
sa sobre planos elaborados no estado de São Paulo, que esses planos desempe-
nharam papel didático tanto para as prefeituras como para os profissionais das
empresas de consultoria. O Serfhau atuou, segundo o autor, como um veículo de
assistência técnica.

Na segunda metade dos anos 1970, os processos de urbanização na lógica capi-


talista, a precarização das condições de moradia, as práticas sociais e os agentes
de produção de loteamentos clandestinos, favelas, cortiços, como solução de mo-
radia para os trabalhadores, e a produção do BNH foram objetos de pesquisas
envolvendo sociólogos, economistas, arquitetos e cientistas políticos. Três pu-
blicações foram fundamentais para o desvendamento das especificidades da
106 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

metrópole brasileira no panorama latino-americano, a saber, “São Paulo 1975:


Crescimento e pobreza” (CAMARGO et al., 1976), “A produção capitalista da
casa (e da cidade) no Brasil industrial” (MARICATO, 1979) e “Espoliação urba-
na” (KOWARICK, 1979).

No contexto de redemocratização dos anos 1980 e de retomada da mobilização


pela reforma urbana no processo constituinte, a distância desta “cidade real”
desvendada, a visão tecnocrática dos planos e sua não efetividade compuseram o
trinômio que se impôs como discurso hegemônico sobre a atuação e produção do
Serfhau. Enquanto bandeira política, essa interpretação cumpriu, por um lado,
seu papel como suporte para legitimar um novo marco regulatório para o plane-
jamento; por outro, disseminou uma visão do Serfhau como expressão exclusiva
do regime autoritário, cujos únicos vestígios seriam os (inefetivos) planos locais
de desenvolvimento integrado.

A partir dos anos 1990, o significado da primeira instituição federal voltada para
habitação e urbanismo no Brasil começa timidamente a ser iluminado. Pesquisas
como as de Serra (1991) e Vizioli (1998) talvez sejam as primeiras a recorrer a fon-
tes documentais e mostrar um leque de atividades desenvolvidas pelo Serfhau
em todo o território do país, indo muito além dos planos diretores municipais.
Nas décadas seguintes, os trabalhos de Mota (2004), Chiquito (2006), Ferreira
ǻŘŖŖŝǼǰȱŽ›Ž’›ŠȱǻŘŖŖśǼȱŽȱžŒŒ‘ŽœŽȱǻŘŖŗŚǼǰȱŽ—›Žȱ˜ž›˜œǰȱŠ˜ȱŠ‹˜›Š›Ž–ȱŠȱŽ¡™Ž›’¹—Œ’Šȱ
do Serfhau e estabelecerem relações entre planos, profissionais e instituições in-
ternas e externas às administrações, colaboram para superar as generalizações e
a dualidade entre efetividade e não efetividade que marcam fortemente o campo
do urbanismo e do planejamento urbano.

Embora focados em situações e agentes específicos, o conjunto desses estudos


constitui passo importante para reconhecer a complexidade do período. Há traba-
lhos que mostram municípios nos quais a constituição do setor de planejamento e
a formação de quadros técnicos foram muito além de mera criação de uma men-
talidade. Outro aspecto que se revela é o campo do planejamento como refúgio de
profissionais perseguidos pelo regime militar durante o período do Serfhau, como
mostra Ferreira (2007) em sua pesquisa sobre o plano elaborado para Franca (SP)
pelo Grupo de Planejamento Integrado (GPI). Nem tecnocrático, nem distante da
realidade, o plano se tornou agenda de várias administrações municipais.

Neste texto, em uma perspectiva histórica que o distanciamento de mais de meio


século torna possível, abordo os onze anos de existência do Serfhau durante a di-
tadura civil-militar como momento particular do ciclo de institucionalização do
urbanismo e do planejamento urbano no Brasil entre as décadas de 1930 e 1970.
Nesse ciclo, marcado pela visão do Estado como principal agente do planejamen-
to e pela urbanização movida pela industrialização, que constitui a metrópole
conurbada e concentrada, a crise habitacional se impôs e persistiu como questão
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 107

crucial. Interpreto o Serfhau a partir de um aspecto ainda não explorado: como


parte do processo de construção da associação entre habitação e urbanismo, que
se sustenta na interpretação do problema da moradia como inerente ao padrão
de urbanização. Sempre se atualizando, essa formulação subsistiu inconteste às
oscilações da conjuntura política que marcaram de forma profunda o século XX
no Brasil: a instalação do governo provisório de Getúlio Vargas em 1930 e da di-
tadura durante o Estado Novo (1937-1945); depois, um período democrático que
durou menos de 20 anos, de 1946 a 1964; ao que se seguiu a ditadura civil-militar,
que perdurou 21 anos.

–ȱœŽžȱŽ¡˜ȱȃȂ’—œ’ž’˜—ȱŽȱ•Žȱœ˜Œ’Š•Ȅǰȱ˜ȱ‘’œ˜›’Š˜›ȱ ŠŒšžŽœȱŽŸŽ•ȱǻŗşşśǼȱ’œ-
cute a indissociabilidade entre as instituições e a configuração do jogo social e
das ações que nele são possíveis. As normas que as instituições produzem não
são, segundo Revel, exteriores ao campo social. Nessa perspectiva, interessa-me
entender o Serfhau como parte constitutiva dos embates e dos limites colocados
pela política e pela sociedade ao longo dos anos 1960a e 1970. Pela origem do
urbanismo como disciplina com duplo vínculo – à reflexão e à prática profissio-
nal – , as instituições podem ser entendidas como espaços de intermediação entre
ideias e práticas, em que se acomodam interesses e condições políticas conjuntu-
rais, como espaços em que convivem posições e concepções conflitantes.

O que se efetivou a partir da experiência do Serfhau? Esta é a pergunta de fundo


que orientou este texto. Sem negar a brusca mudança no quadro político, me
distancio de uma identificação a priori entre o regime político e a produção do
ŒŠ–™˜ȱ˜ȱž›‹Š—’œ–˜ǯȱŠ›Š›ŠœŽŠ—˜ȱŽ™Ž’ȱǻŗşşřǼǰȱ’Ž’Šœǰȱ™›¤’ŒŠœȱž›‹Š—Çœ’ŒŠœǰȱ
assim como os atores envolvidos na construção de instituições, configuram cro-
nologias diversas que não necessariamente se confundem com as temporalida-
des de oscilações políticas. Nesse sentido, o entendimento de como se constrói
e se consolida no Brasil o vínculo entre habitação e urbanismo – o aspecto mais
atingido pela mudança de regime – é de fundamental importância.

Uma conjunção de movimentos que denomino “trama latino-americana” está na


base da concepção de um órgão federal de habitação e urbanismo. É a partir da
década de 1940 que se realiza a convergência entre a reflexão e trabalhos de-
senvolvidos no âmbito da provisão de habitação social e das ideias e práticas
urbanísticas alavancadas na era Vargas. Propostas elaboradas pelo “grupo de
reformadores sociais do Ministério do Trabalho, defensores da intervenção do
Estado no setor habitacional” (BONDUKI, 1998, p. 73, p. 134) e uma concepção
alargada do urbanismo para enfrentar o acelerado processo de urbanização en-
volveram pesquisadores e profissionais brasileiros e estrangeiros de diferentes
campos disciplinares. Ancorado nas formulações de desenvolvimento durante
os embates da Guerra Fria, o ideário do planejamento se tornou indissociável
108 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

das estratégias de desenvolvimento. Foi sobretudo em instituições de urbanismo


externas à administração pública que planos e estudos exploraram diferentes
escalas de planejamento no Brasil para superar a concentração metropolitana –
causa e motor das desigualdades regionais9.

Nos anos 1950 e 1960, a inserção do Brasil no circuito dos experts internacionais,
Š›ŠŸ·œȱ˜œȱ™›˜›Š–ŠœȱŽȱŒ˜˜™Ž›Š³¨˜ȱ·Œ—’ŒŠȱŒ˜–ȱ˜œȱ™ŠÇœŽœȱŠȱ–·›’ŒŠȱŠ’—Šǰȱ
colocou em evidência a problematização da metrópole latino-americana enraiza-
da na questão da habitação.

No estudo do repertório construído nos quase vinte anos de democracia, das for-
mas pelas quais se acomodou e/ou se transformou entre 1964 e 1975, da crescen-
te participação dos arquitetos, revela-se a reconfiguração do campo de atuação
profissional do urbanista10. Subproduto do divórcio entre habitação e urbanismo,
as mudanças efetivadas na formação e atuação dos urbanistas expõem embates
entre diferentes concepções e interesses que estão no cerne da criação do Serfhau.

Um órgão federal de habitação e urbanismo: arquitetos e urbanistas na trama


latino-americana

Em 1958, foi realizado em Bogotá o Seminario de Técnicos y Funcionarios en


Planeamiento Urbano, no qual, ao longo de 25 dias, foram discutidas e definidas
estratégias de planejamento e habitação profundamente enraizadas na realidade
das metrópoles latino-americanas. As conclusões do Seminário geraram um do-
Œž–Ž—˜ȱŠœœž–’˜ȱ™˜›ȱ›Ž™›ŽœŽ—Š—ŽœȱŽȱ™ŠÇœŽœȱŠȱ–·›’ŒŠȱŠ’—ŠȱŽ—˜–’—Š˜ȱ
“Carta de los Andes”.

Dirigida “A los pueblos de America” a carta reafirmou a crença no planejamento


como instrumento a ser conduzido pelo Estado, dentro do mais alto sentido de-
mocrático, para superar as grandes dificuldades em consequência do baixo nível
de desenvolvimento econômico, político, social e cultural:
˜—œŒ’Ž—Žœȱ Žȱ •Šœȱ ›Š—Žœȱ ’ęŒž•ŠŽœȱ ™˜›ȱ •Šœȱ šžŽȱ Š›ŠŸ’ŽœŠ—ȱ
los pueblos de América como consecuencia de sus bajos niveles

9
Destacam-se estudos desenvolvidos pela Sociedade de Análise Gráfica e Mecanográfica Aplicada
aos Complexos Sociais (Sagmacs) para os estados de São Paulo e de Pernambuco; pelo Centro de
Pesquisas e Estudos Urbanísticos (Cepeu/FAU-USP) para São Paulo; e pela Comissão Interestadual
da Bacia Paraná-Uruguai (CIBPU), que articulou seis governos estaduais.
10
A ideia de campo de atuação profissional dos urbanistas tem como referência a ideia de campo
social de Pierre Bourdieu: o campo é entendido como um campo de forças, em que os agentes sociais
estão dispostos em diferentes posições, cada qual com suas estratégias (BOURDIEU, 1983).
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 109

de desarrollo en los órdenes económico, político, social y cultural,


Œ˜—œ’Ž›Š–˜œȱ šžŽȱ •Šȱ ™•Š—’ęŒŠŒ’à—ȱ Œ˜—œ’ž¢Žȱ Ž•ȱ ’—œ›ž–Ž—˜ȱ –¤œȱ
adecuado para realizar los anhelos de superación y encausar el des-
tino de América por senderos que conduzcan hacia la autenticidad
histórica, hacia la paz, hacia el respeto por la dignidad humana, ha-
cia el progreso y hacia la libertad (OEA, 1958).

Constaram no documento a necessidade de controle da especulação da terra, a


reserva de terras por entidades governamentais para desenvolver programas de
habitação social e a tributação de lotes que se mantêm injustificadamente sem
uso. Além disso, o planejamento metropolitano foi incluído como uma escala de
planejamento além da nacional, regional e municipal. Com relação aos morado-
res de favelas, foi proposta a criação de sistemas de ajuda própria ou mútua, com
assistência técnica, econômica e social das municipalidades ou de instituições de
habitação de interesse social (OEA, 1958).

A carta foi assinada por cerca de quarenta participantes, entre os quais o enge-
—‘Ž’›˜ȱ—˜—’˜ȱŽ£Ž››ŠȱŠ•Š›ȱŽȱ˜œȱŠ›šž’Ž˜œȱŽ ˜—ȱŽȱ•’ŸŽ’›ŠȱŽȱŠ›’˜ȱŠ›Š—-
geira de Mendonça, que integraram a delegação brasileira.

O seminário em Bogotá foi um momento decisivo do processo de construção de


uma perspectiva de planejamento territorial indissociável da política habitacio-
nal com foco na metrópole latino-americana, que estaria presente nas resoluções
do s.HRu, realizado cinco anos depois. Esse processo teve início no Primer Con-
greso Panamericano de la Vivienda Popular, organizado pela Unión Panamerica-
na (UP) e pelo governo argentino em 1939, em Buenos Aires, no qual a habitação
foi reconhecida como um problema comum e um dos maiores que afetavam os
™ŠÇœŽœȱŠ–Ž›’ŒŠ—˜œȱǻDzȱ ǰȱŗşśŖǰȱ™ǯȱŚǼǯȱ˜ȱ•˜—˜ȱŠœȱ·ŒŠŠœȱŽȱŗşŚŖȱ
e 1950, as Conferências Interamericanas – órgão supremo da OEA (Organização
dos Estados Americanos) – foram os fóruns em que esse problema tomou forma
em conteúdo e em estrutura institucional.

Em 1943 Francis Violich, da University of California, Berkeley, foi contratado


como Housing and City Planning Specialist pela Unión Panamericana para diri-
gir um programa permanente de pesquisa e informação. Dirigiu o programa até
1947, quando foi substituído por Anatole A. Solow, da University of Pittsburg.

Em 1949 foi criada uma División de Vivienda y Planeamiento no Departamento


Económico y Social da UP. Nesse mesmo ano, no contexto da Guerra Fria, quando
os países subdesenvolvidos entraram na mira dos estadunidenses e europeus para
troca de conhecimento técnico e de experiência, o presidente dos Estados Unidos,
110 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

Harry Truman, anunciou o Point Four Program. Esse programa foi a porta de entra-
Šǰȱ—˜ȱ›Šœ’•ȱŽȱŽ–ȱ˜ž›˜œȱ™ŠÇœŽœȱŠȱ–·›’ŒŠȱŠ’—Šǰȱ™Š›Šȱ˜œȱŒ˜—œž•˜›ŽœȱŠȱǰȱǰȱ
Fundação Ford, entre outras instituições internacionais. Sob esse arranjo institucio-
nal, nos anos 1950, a reflexão sobre a realidade latino-americana foi impulsionada.

Em 1951, atividades de assistência em habitação, arquitetura, planejamento, fo-


ram realizadas a partir da criação do Centro Interamericano de la Vivienda y
Planeamiento11 (Cinva), em Bogotá, vinculado à Universidade Nacional da Co-
lômbia, através de um Programa de Cooperação Técnica da OEA. Além disso,
foram desenvolvidas atividades de ensino, pesquisa, intercâmbio e um curso de
pós-graduação foi criado (RESTREPO, 2003).

No Cinva foram reunidos experts internacionais e técnicos de países da América


Š’—ŠȱŽȱŽ—›Š•ǯȱ·˜˜œȱŽȱ™›˜ž³¨˜ǰȱŒ˜—œ›ž³¨˜ȱŽȱ’—Š—Œ’Š–Ž—˜ǰȱ’—ŸŽ—¤›’˜ȱ
e definição de eliminação do déficit, reabilitação de bairros insalubres, planeja-
mento, padrões de urbanização etc., foram objetos de encontros em todo o conti-
nente. Dessa estratégia resultou, em 1956, a Primera Reunión Técnica Interame-
ricana de Vivienda y Planeamiento, em Bogotá, e, dois anos depois, na mesma
cidade, o Seminario de Técnicos y Funcionarios en Planeamiento Urbano, que
teve como resultado a “Carta de los Andes”.

A participação do Brasil nos encontros da UP, embora episódica, teve repercus-


sões importantes. No Congreso de 1939, os engenheiros Plinio Reis Catanhede
e Paulo Acioli de Sá e o arquiteto Rubens Porto integraram a delegação oficial
do Ministério do Trabalho, enquanto o engenheiro Francisco Baptista de Olivei-
ra, figura atuante no debate urbanístico, foi indicado pelo Sindicato Nacional
de Engenheiros e pelo Club de Engenharia. Tanto no I Congresso Brasileiro de
Urbanismo, no Rio de Janeiro, como nas Jornadas de Habitação Econômica, em
São Paulo e no Rio de Janeiro, ambos realizados em 1941, tiveram ressonância
as resoluções do Congresso de 1939. Os arquitetos que integraram a delegação
brasileira no Seminário de 1958 e assinaram a “Carta de los Andes” estavam vin-
culados a instituições com forte presença no debate urbanístico no Brasil. Baltar,
˜ȱŽŒ’ŽǰȱŽȱŠ›Š—Ž’›ŠȱŽȱŽ—˜—³ŠǰȱŽȱ¨˜ȱŠž•˜ǰȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’Š–ȱ›Š‹Š•‘˜œȱ—Šȱ
Sagmacs, e Oliveira, de Salvador, que atuava na elaboração de planos, assumiu
a presidência do IAB-Bahia de 1959 a 1961. A “Carta de los Andes” foi publicada
em português em 1960 e se tornou referência para profissionais e estudantes de
arquitetura12.

11
A denominação inicial do Cinva foi Centro Interamericano de Vivienda. Em 1954 foi alterada para
Centro Interamericano de Vivienda y Planeamiento.
12
Sobre os participantes brasileiros e a repercussão do Primer Congreso e da “Carta de los Andes” no
Brasil, cf. Feldman (2014).
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 111

A inserção do IAB nessa trama latino-americana se deu de forma decisiva atra-


vés dos Congresos Panamericanos de Arquitectos, fórum de discussão sobre as
atribuições e os campos de atuação dos arquitetos desde sua origem, em 1920.
No IV Congreso, realizado no Rio de Janeiro em 1930 e presidido por Nestor
Egydeo de Figueiredo, além da criação de cursos de urbanismo nas escolas de
arquitetura, foi deliberado que o urbanismo constituísse tema obrigatório dos fu-
turos congressos. O V Congreso, em 1940, no Uruguai, dedicou grande parte de
suas discussões à questão do crescimento das cidades e da resolução dos déficits
habitacionais (ATIQUE, 2005, p. 6).

Como diretor do Cinva, Anatole Solow teve papel fundamental no estreitamento


das relações entre os arquitetos e a UP. Em 1950, no VII Congreso Panamericano
de Arquitectos, realizado em Havana, foi definida a participação de um repre-
sentante do Comitté Permanente de los Congresos de Arquitectos nos seminários
promovidos pela División de Vivienda y Planeamiento da UP. Nessa edição do
congresso foi aprovada também a criação da Federación Panamericana de Asso-
ciaciones de Arquitectos (FPAA), visando reunir formalmente os arquitetos de
˜˜œȱ ˜œȱ ™ŠÇœŽœȱ Š–Ž›’ŒŠ—˜œȱ ǻDzȱ  ǰȱ ŗşśŖǼǯȱ ˜’œȱ Š—˜œȱ Ž™˜’œǰȱ —˜ȱ  ȱ
Congreso Panamericano de Arquitectos, no México, Solow apresentou as “bases
para un Programa de Cooperación Interamericana” para enfrentar a crise da ha-
‹’Š³¨˜ȱ—Šȱ–·›’ŒŠȱŠ’—ŠȱŽȱŒ˜—Œ•Š–˜žȱ˜œȱŠ›šž’Ž˜œȱŠȱȃŒ˜—›’‹ž’›ȱ™Š›Šȱž–ŠȱŠ³¨˜ȱ
conjunta de grupos profissionais” ultrapassando os limites do projeto:
O problema é essencialmente social e entre as diferentes atividades
envolvidas, a responsabilidade do arquiteto para a ordem social é
enorme e deve superar o desempenho dentro dos limites de concep-
³¨˜ȱŽȱŒ˜—œ›ž³¨˜ȱǻDzȱǰȱŗşśŘǰȱ™ǯȱŞǼǯ

Durante as comemorações do IV Centenário de São Paulo, em 1954, o IAB-SP se-


diou a reunião do Conselho Geral da FPAA, em que foi definido o tema “A função
social do arquiteto” para a nona edição do Congreso Panamericano, a ser realizado
no ano seguinte em Caracas. Estiveram presentes na reunião representantes da
Venezuela, Cuba, Argentina, Colômbia e Uruguai. Os arquitetos Nestor Egydeo de
Figueiredo, Marcial Fleury, Eduardo Kneese de Mello, Icaro de Castro Mello, Rino
ŽŸ¢ǰȱŽ—›Žȱ˜ž›˜œǰȱ›Ž™›ŽœŽ—Š›Š–ȱ˜ȱ ȬȱŽȱ˜ȱ Ȭ ȱǻ ȬǰȱŗşśŚǼǯȱ

Nesse mesmo ano, no IV Congresso Brasileiro de Arquitetos realizado em São Paulo,


pela primeira vez foi feita referência a um órgão federal de Habitação e Urbanismo.
Nestor de Figueiredo propôs e o plenário aprovou a solicitação aos poderes Execu-
’Ÿ˜ȱŽȱŽ’œ•Š’Ÿ˜ȱŽŽ›Š•ȱŽȱŒ›’Š³¨˜ȱ˜ȱ’—’œ·›’˜ȱ˜ȱŽ–ȬœŠ›ȱ˜Œ’Š•ǰȱ
Š‹’Š³¨˜ȱ
e Urbanismo, “como primeira fase de um futuro desdobramento em dois ministé-
rios, no qual o de Habitação e Urbanismo será autônomo” (SERRAN, 1976, p. 29).
112 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

A inserção da categoria no campo do urbanismo também ampliava seu espaço na


pauta dos Congressos Brasileiros de Arquitetos. No III Congresso, realizado em
Belo Horizonte, em 1953, uma das conclusões foi a necessidade de preparação da
classe de arquitetos e urbanistas para exercer influência nos órgãos diretivos de
™•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱǻXǰȱŗşśřǼǯȱ˜ȱȱ˜—›Žœœ˜ǰȱ›ŽŠ•’£Š˜ȱ—˜ȱŽŒ’ŽȱŽ–ȱŗşśŝǰȱ
o temário do urbanismo se voltou para a institucionalização de um sistema de
planejamento (IAB-SP, 1957).

A partir do final do governo Juscelino Kubitschek, o IAB assumiu protagonismo


crescente em relação ao problema da habitação. Em 1959 propôs ao presidente uma
lei da Casa Própria que, nas eleições de 1960, foi encaminhada aos candidatos. Ao
presidente eleito, Jânio Quadros, propôs a criação de um Conselho Nacional de
Habitação e Planejamento Territorial. Com a ascensão de Jango à presidência, o
IAB esteve entre as entidades que, juntamente com movimentos sociais, deram
sustentação às reformas de base, como mostra Fridman (2014, p. 111). Em 1962,
numa manifestação do IAB-Guanabara de crítica ao encaminhamento da questão
habitacional pelo governo, foi proposta a criação de um órgão federal responsável
pela adoção de uma política nacional de planejamento físico e da habitação, com
representação de entidades profissionais, dentre as quais o IAB. O arquiteto foi
destacado “por formação específica e sensibilidade para o problema [...]” entre os
profissionais “realmente habilitados para atuar na solução e execução de quaisquer
medidas tendentes a resolver a crise habitacional” (IAB, 1962 apud SERRAN, 1976).

Em 1963, o IAB teve o respaldo do governo federal para realização do s.HRu, no


qual a solução da crise habitacional foi associada a mudanças estruturais no pro-
cesso de urbanização – à reforma urbana. Essa reforma foi definida no documento
final do seminário como “o conjunto de medidas estatais, visando à justa utiliza-
ção do solo urbano, à ordenação e ao equipamento das aglomerações urbanas e ao
fornecimento de habitação condigna a todas as famílias” (S.HRU, 1963b, p. 2). A
solução do problema habitacional e da reforma urbana deveria se vincular à política
de desenvolvimento econômico e social – inclusive a reforma agrária – por meio da
qual poderia “ser elevado o padrão de vida do povo brasileiro”(S.HRU, 1963b, p. 2).

Nesse mesmo ano, pela primeira vez, o International Union of Architects (UIA)
˜›•ȱ˜—›Žœœȱ˜’ȱœŽ’Š˜ȱ—Šȱ–·›’ŒŠȱŠ’—Šǯȱȱœ·’–ŠȱŽ’³¨˜ȱ˜’ȱ›ŽŠ•’£ŠŠȱŽ–ȱ

ŠŸŠ—Šǰȱ˜—ŽȱŠȱŽ’ȱŠȱŽ˜›–Šȱ›‹Š—Š13 havia sido declarada parte da Consti-


tuição, um ano após a Revolução Cubana. Entre as medidas imediatas destaca-
vam-se a transferência das moradias de aluguel a seus moradores na condição de
futuros proprietários, a eliminação do instituto legal de aluguel de moradias e a
proibição de todas as formas de aluguel entre particulares.

ȱŽ¢ȱŽȱŽ˜›–Šȱ›‹Š—ŠǰȱŽȱŗŚȱŽȱ˜Œž‹›ŽȱŽȱŗşŜŖǯȱ
13
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 113

A edição em Havana teve como tema “Architecture in Developing Countries”


e a distinção entre países “altamente desenvolvidos” e “subdesenvolvidos” foi
incorporada nas resoluções. Foi colocado de forma enfática o objetivo do desen-
volvimento de superar “através de profundas mudanças da estrutura econômica
e social, as causas do subdesenvolvimento – que são, principalmente, a estrutura
Š›¤›’Šȱ œŽ–’ŽžŠ•ȱ Žȱ ˜Šȱ Šȱ ˜›–Šȱ Žȱ Ž™Ž—¹—Œ’ŠȄȱ ǻ 
 ǰȱ ŗşŜřǰȱ ™ǯȱ řŜşǼǯȱ
Por outro lado, a expertise e a autonomia do arquiteto sobre a realidade em que
atuava na condição do subdesenvolvimento foram valorizadas. Para tanto, foi
destacada a necessidade de formação de arquitetos “dotados de profundo conhe-
cimento da realidade nacional” para que possam atuar na elaboração de planos,
ȃœŽ–ȱŽ›ȱšžŽȱ˜œȱ’–™˜›Š›Ȅȱǻ 
 ǰȱŗşŜřǰȱ™ǯȱřŜşǼǯ

E, numa clara alusão à interferência das agências internacionais14, constou das


decisões do congresso que:
a assistência técnica dos países altamente desenvolvidos deve contri-
buir para a formação de quadros técnicos, mas que cada país tenha
o direito de determinar a assistência que necessita e coordenar essa
ajuda, que deve sempre visar ao fortalecimento das bases industriais
ǻ 
 ǰȱŗşŜřǰȱ™ǯȱřŜşǼ.

Ao inaugurar a realização do UIA World Congressȱ —Šȱ –·›’ŒŠȱ Š’—Šǰȱ Œ˜–ȱ Šȱ


edição em Havana, a problemática do desenvolvimento dos países fora do mun-
do ocidental foi introduzida nos congressos internacionais de arquitetos. Desde
a criação em 1948, os congressos do UIA World tiveram como foco a questão da
reconstrução no pós-guerra.

O Brasil participou do UIA World Congress com uma delegação de 62 membros,


–Ž—˜›ȱŠ™Ž—ŠœȱšžŽȱŠœȱŽ•ŽŠ³äŽœȱŠȱ›Š—³ŠȱŽȱŠȱøœœ’Šȱǻ 
 ǰȱŗşŜřǰȱ™ǯȱřŜŝǼǯȱ
Realizado apenas alguns meses após o s.HRu, os arquitetos brasileiros levaram
na bagagem as resoluções do Seminário, no qual a especificidade da realidade da
–·›’ŒŠȱŠ’—Šȱ˜’ȱ›Š’’ŒŠŠȱ—˜ȱ™Š›¤›Šfo de abertura do documento:
ǽǯǯǯǾȱ˜ȱ™›˜‹•Ž–Šȱ‘Š‹’ŠŒ’˜—Š•ȱ—Šȱ–·›’ŒŠȱŠ’—Šȱ—¨˜ȱœŽȱŒŠ›ŠŒŽ›’£Šȱ
como uma situação de emergência, por não decorrer de fatos in-
controláveis que tenham destruído bruscamente os equipamentos
urbanos e a disponibilidade habitacional, mas é o resultado dos
processos espoliativos a que se acham submetidos os países latino-
-americanos no decorrer dos séculos, retardando o seu desenvolvi-
mento sócio-econômico (S.HRU, 1963b, p.1).

14
Gorelik (2017) aborda a crítica que emerge nos anos 1950 e 1960 sobre a utilização de expressões por
estrangeiros que, implicitamente, convertiam as cidades latino-americanas em anomalias em relação
aos padrões ocidentais de urbanização.
114 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

A efetividade em meio a embates: formação e atuação interdisciplinar dos urbanistas

As profundas mudanças da estrutura econômica e social para superar as causas


do subdesenvolvimento que embasaram a longa construção de um órgão federal
de habitação e urbanismo foram nocauteadas pelo golpe militar. O BNH, órgão
responsável pela produção de habitação, foi concebido por sua primeira presi-
dente, Sandra Cavalcanti (1964-1965), no Instituto de Pesquisa e Estudos Sociais
(Ipes), junto com empresários do Rio de Janeiro organizados no Sindicato da
Indústria da Construção Civil do Rio de Janeiro (CAMPOS, 2015, p. 327). O BNH
foi criado como um banco, a habitação de baixo custo não constituiu prioridade
nem foi reconhecida como um direito.

A partir do momento em que o BNH passou a ser responsável pela adminis-


tração do Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS), viabilizou-se sua
autonomia para aplicação de recursos na provisão de elementos estruturadores
do território. Ao abrigar o que Campos denomina “complexo BNH”, composto
pelo Serfhau, pelo Sistema Financeiro de Habitação, pelas agências estaduais e
municipais, “todas implicadas pelo Plano Nacional de Habitação elaborado no
governo de Castello Branco” (CAMPOS, 2015, p. 325-328), o Ministério do In-
terior se tornou a terceira pasta de atuação privilegiada dos empreiteiros, atrás
apenas das pastas de transportes e de energia. Em 1974, essa autonomia se con-
sumou: o BNH criou a carteira de desenvolvimento urbano15, congregando as
coordenações de planejamento urbano, desenvolvimento urbano e transporte
de massa, e assumiu a gestão do Fiplan (FERNANDES; GUIMARÃES, 1974, p. 3).

Contradições nas atribuições e na atuação do Serfhau se evidenciam ao longo de


toda a sua existência. Esvaziada a possibilidade de atuar diretamente na habita-
ção, a criação de um sistema nacional de planejamento envolvendo municípios
e regiões como suporte para uma política nacional de desenvolvimento urbano
persistiu como estratégia para conter a autonomia do BNH. Desde o governo
do marechal Castelo Branco, quando foi elaborado um Plano Decenal de De-
senvolvimento Econômico e Social, a perspectiva de uma política nacional de
desenvolvimento urbano que levasse em consideração as disparidades regionais
esteve presente. Estudos sobre a rede urbana brasileira, sobre os níveis de desen-
volvimento por sistema de cidades, tamanho, hierarquia, foram desenvolvidos
no Escritório de Pesquisa Econômica Aplicada (Epea), e no Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), por consultores estrangeiros, técnicos do Serfhau
e da OEA16.

15
Além de remeter ao debate sobre desenvolvimento dos anos 1950 e 1960, cabe destacar que o termo
desenvolvimento urbano foi assumido pelas agências internacionais, principalmente a partir dos anos
1960, quando se ampliaram seus investimentos no financiamento da assistência técnica.
16
Sobre o percurso da formulação de uma política nacional de desenvolvimento urbano desde o
governo Castelo Branco até a extinção do Serfhau, cf. Francisconi e Souza (1976).
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 115

Figura 1 – MINTER/SERFHAU. Boletim Figura 2 – MINTER/SERFHAU. Boletim


Informativo do Serfhau, v. 5, n. 43, out. 1971. Informativo do Serfhau, v. 7, n. 68, nov. 1973.

As figuras do arquiteto Harry James Cole e do engenheiro Rubens de Mat-


tos Pereira são representativas da presença de diferentes concepções e interes-
ses no Serfhau. São também representativas da geração de profissionais que
atuaram no planejamento durante o período da ditadura. Ambos se inseriram,
ainda recém-formados, nas práticas de planejamento durante o período demo-
crático, quando tiveram contato com experiências referenciadas nos ideários
europeus e estadunidenses. Num momento de mobilização de profissionais de
diferentes campos disciplinares e de crença e difusão do planejamento regional,
as experiências dos Estados Unidos e da Inglaterra fizeram parte da formação
de urbanistas no Brasil.

Formado pela Faculdade de Arquitetura da Universidade do Brasil, no Rio de


Š—Ž’›˜ǰȱŽ–ȱŗşśŚǰȱ˜•Žȱ’—’Œ’˜žȱŽœž˜œȱŽȱ˜ —ȱ•Š——’—ȱ—Šȱ—’ŸŽ›œ’¢ȱ˜—˜—ȱ
˜••ŽŽȱ Žȱ ›Š‹Š•‘˜žȱ —˜ȱ ˜—˜—ȱ ˜ž—¢ȱ ˜ž—Œ’•ǯȱ ˜–ȱ ž–Šȱ ‹˜•œŠȱ Œ˜—ŒŽ’Šȱ
pela ONU, entrou em contato com projetos arquitetônicos e experiências de
planejamento em vários países. De 1958 a 1961 trabalhou na Divisão de Urba-
nismo da Novacap e em escritório particular realizando projetos e consultorias
em planejamento urbano, inclusive no Recife, pela proximidade com o prefeito.
Participou, inclusive, do Plano Recife Metropolitano quando Miguel Arraes era
˜ŸŽ›—Š˜›ȱǻ
 ǰȱŘŖŗŚǰȱ™ǯȱŘřŗȬŘřşǼǯ
116 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

Mattos Pereira se formou engenheiro civil pela Universidade Mackenzie de São


Paulo em 1955 e, entre 1956 e 1961, atuou na coordenação e colaboração no
planejamento de municípios paulistas desenvolvido pelo Cepeu. Participou do
Congresso da UIA em Havana. Fez pós-graduação na Universidade da Califór-
nia, em Berkeley. Foi membro do Centro de Estudos e Planejamento (Ceplan)
criado em 1964 na Universidade Presbiteriana Mackenzie e, no início da década
de 1970, assumiu o cargo de Coordenador Regional da OEA.

Os caminhos de Harry James Cole e Mattos Pereira se cruzaram entre 1965 e


1969 no Ministério Extraordinário de Planejamento e Coordenação Econômica,
como assessores de Roberto Campos no Epea/Ipea e no Serfhau. Se, por um
lado, em seus discursos podem ser identificados pontos em comum em rela-
ção a concepções de planejamento difundidas no período – sejam as inglesas,
sejam as estadunidenses –, por outro lado, essa aproximação não ultrapassava
os enunciados genéricos. As formas de apropriação dessas referências para a
realidade brasileira expõem diferenças substantivas. Da mesma forma, suas
trajetórias profissionais e o nível de compromisso com o poder instaurado com
o golpe civil-militar de 1964 ecoam em formas distintas de atuação no Serfhau17.

Cole foi introduzido na esfera federal em 1965, em sua primeira experiência na


administração pública pelas mãos do Ministro Extraordinário de Planejamen-
to e Coordenação Econômica, Roberto Campos, devido à proximidade de seu
sogro com o ministro. Nos anos 1960 se distanciou do IAB por “discordar das
posições mais à esquerda que este ia tomando”18. Assumiu o cargo de Superin-
tendente do Serfhau de 1967 a 1968, ano em que encerrou sua participação no
governo federal e criou a empresa H. J. Cole + Associados S/A – Planejamento
e Empreendimentos.

Mattos Pereira coordenou o Estudo de Desenvolvimento Urbano do Epea entre


1964 e 1968 e, de 1967 a 1971, foi membro do Conselho do Serfhau. Em 1971
assumiu a Coordenação da Região III (Peru, Venezuela, Colômbia, Equador e
Bolívia) do Projeto de Urbanização do Departamento de Assuntos Sociais da
ǰȱŒ˜–ȱœŽŽȱŽ–ȱ’–Šȱǻȱ Dzȱ  ǰȱŗşŝŗǰȱ™ǯȱŘǼǯ

Ambos participaram da reestruturação do Serfhau, elaborada por um grupo


de trabalho coordenado por Mattos Pereira, que resultou no Decreto de 196619

17
Apesar de apontar as diferenças nas trajetórias dos dois profissionais, as formas de apropriação das
›ŽŽ›¹—Œ’Šœȱ—¨˜ȱœ¨˜ȱŒ˜—œ’Ž›ŠŠœȱ™˜›ȱžŒŒ‘Žœ’ȱǻŘŖŗŚǼǯ
18
ȱ˜—˜›–ŽȱŽ™˜’–Ž—˜ȱŠȱŽœ™˜œŠȱŽȱ˜•Žȱ
 ǰȱŘŖŗŚǰȱ™ǯȱŘřŗǼǯ
19
Decreto n. 59.917, de 30 de dezembro de 1966.
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 117

ǻȱ Dzȱ  ǰȱŗşŝŗǰȱ™ǯȱŘǼǯȱ˜•ŽȱŽŽ—ŽžȱŠȱŠ‹Ž›ž›ŠȱŠȱŽ•Š‹˜›Š-


ção de planos para escritórios privados e profissionais liberais. No documento do
Minter/Serfhau (1971) sobre as programações executadas de 1967 a 1970, período
em que esteve à frente do Serfhau, além do objetivo de “fortalecer o mercado de
trabalho em planejamento urbano, virtualmente inexistente até 1967”, a partici-
pação da iniciativa privada foi considerada fundamental para o implemento da
política local, devido à “relativa ausência de técnicos especializados no campo,
principalmente junto às administrações municipais” (MINTER/SERFHAU, 1971,
p. 5, 27). Os argumentos de Cole variaram da consideração da administração “atu-
lhada com funcionários ineficientes” à necessidade de “criar na iniciativa privada
o lobby a favor de instituições que tivessem no Serfhau uma fonte de financiamen-
to” (, 1966; NOVAES, 2005 apud 
 , 2014, p. 282-283).

De fato, como mostram Andrade e Azevedo (1982, p. 41-42), abrir oportuni-


dades para escritórios de engenharia, arquitetura e planejamento e dar traba-
lho às firmas de construção civil e à indústria da construção estavam entre as
estratégias de ativação da economia do BNH. Essas estratégias eram, segundo os
autores, “mais importante[s] que casa”.

Numa direção bastante diversa, o fortalecimento da estrutura municipal foi uma


das marcas da trajetória de Mattos Pereira, que se iniciou no Cpeu (Centro de
Pesquisa e Estudos Urbanísticos). Em 1961, foi premiado no concurso de mono-
grafias do Ibam com o trabalho “Organização para o Planejamento Municipal”,
no qual desenvolveu uma proposta que abrangia a criação de um Conselho de
Desenvolvimento do Município, um Escritório Técnico de Planejamento, órgão de
cadastro e de aprovação de plantas (MATTOS PEREIRA, 1961). Em 1965, no texto
“Integração do planejamento físico no planejamento governamental”, publicado
na Revista de Administração Municipal, defendeu a organização de uma estrutura
de planejamento descentralizada, na qual “o governo federal tomasse a iniciativa
de organizar escritórios regionais, em coordenação e com a colaboração dos go-
vernos estaduais, para dar assistência àqueles municípios que desejam preparar
planos locais de desenvolvimento” (MATTOS PEREIRA, 1965, p. 96-97). Nesse
texto, o autor também destacou a experiência da Secretaria de Viação e Obras Pú-
blicas do Estado do Rio Grande do Sul como uma exceção no Brasil. A Secretaria
contava já havia dez anos com uma Diretoria de Urbanismo, que tinha a função
de prestar assistência técnica ao planejamento físico dos municípios gaúchos con-
juntamente com órgãos que atuavam no âmbito do planejamento regional. No
que se refere à iniciativa privada, a posição de Mattos Pereira era de “incentivar
e sistematizar” a sua participação no processo geral de planejamento, porém de
forma localizada “através da criação de conselhos de desenvolvimento, fundos ou
autarquias” para execução de obras-chave (MATTOS PEREIRA, 1965, p. 96-97).
118 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

Tanto na regulamentação do Serfhau, em 1966, como em sua reestruturação, em


1970, pode-se detectar a acomodação das posições manifestadas através de Cole
e de Mattos Pereira. Não as assumo como posições pessoais, mas sim como re-
presentativas de técnicos, grupos e interesses atuantes dentro e fora do órgão.

No Decreto de 1966 foram formalizadas as condições para criação de instituições


estaduais, metropolitanas e municipais voltadas para o planejamento. A ativida-
de de assistência técnica aos municípios se institucionalizou em nível federal e
estadual. Além disso, para serem beneficiárias do Fiplan, as regiões e municipa-
lidades se obrigavam a criar órgãos permanentes de planejamento e desenvolvi-
mento local. A concessão de recursos ficava condicionada, também, à aceitação
da assistência técnica que o Serfhau julgasse necessária aos órgãos de planeja-
mento, o que passaria a fazer parte do pedido de financiamento.

Ao mesmo tempo em que foi contemplado esse conjunto de ações voltadas para
o fortalecimento da atividade de planejamento no interior da administração pú-
blica em várias esferas de governo, foram oferecidas as condições para introduzir
as empresas de engenharia consultiva na elaboração de planos e na assistência
à organização administrativa dos municípios. Segundo o artigo 27 do Decreto
de 1966, poderiam ser beneficiários do Fiplan “os órgãos e entidades regionais,
interestaduais, estaduais, intermunicipais e municipais que queiram contratar a
elaboração de planos e estudos de desenvolvimento local integrado”.

Enquanto Cole esteve na direção do Serfhau, prevaleceu o financiamento de pla-


nos municipais isolados, “apoiando-se na capacidade que tem o setor empresa-
rial de consultoria especializada, em vender seus serviços, que no caso eram os
™•Š—˜œȱ–ž—’Œ’™Š’œȄȱǻȱ Dzȱ  ǰȱŗşŝŗǰȱ™ǯȱŝǼǯ

Esse período inicial foi fundamental para a organização das empresas e para a
estruturação do campo de atuação de profissionais de diferentes formações em
equipes interdisciplinares, o que era parte das diretrizes do Serfhau para a elabo-
ração de planos. Um amplo leque de empresas e técnicos foram disponibilizados
para serem contratados pelas prefeituras através de um cadastro organizado por
formação profissional e setor de atuação na categoria “desenvolvimento urbano”.

De 1967 até o início de 1971, 2.412 técnicos e 257 firmas foram cadastradas pelo
Serfhau para serem disponibilizados para as prefeituras. Quase 60% dos técnicos
se incluíam no chamado “setor físico”, que congregava arquitetos, engenheiros,
geólogos, geógrafos e agrônomos; 15,5% no setor econômico, com economistas
e estatísticos; quase 12% no setor institucional, com advogados e técnicos de ad-
ministração; 5,8% no setor social, com sociólogos e assistentes sociais e os demais
8% de outras categorias (MINTER/SERFHAU, 1971).
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 119

Das empresas cadastradas na Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) nos


anos 1970, apenas 20% haviam se constituído antes da criação do BNH e do Ser-
fhau. A maioria delas se constituiu como empresas de engenharia no eixo Rio-
-São Paulo que atuavam em diversas especialidades (FINEP, 1972; 1974-1976).

1ȱ˜ȱŒŠœ˜ǰȱ™˜›ȱŽ¡Ž–™•˜ǰȱŠȱ
’›˜œŽ›Ÿ’ŒŽȱ—Ž—‘Š›’ŠȱŽȱ›˜“Ž˜œȱŠǯǰȱŒ›’ŠŠȱŽ–ȱ
1958 pelo engenheiro Henry Maksoud, formado pela Universidade Mackenzie,
com pós-graduação na Iowa University; do Consórcio Nacional de Engenheiros
Consultores S.A. (Cnec), criado em 1959 por professores da Escola Politécnica
da Universidade de São Paulo (USP), e que em 1969 admitiu a Camargo Corrêa
na sociedade e, na sequência, agregou a Topp, a Brasconsult, a Caeel e a Milder
Kaiser, da Serete S.A. Engenharia, criada em 1959, que contava com um quadro
fixo de 180 técnicos, com sede em São Paulo e filiais no Rio de Janeiro, Curitiba
ŽȱŽ•˜ȱ
˜›’£˜—ŽȱŽȱŠȱœœŽœœ˜›’ŠȱŽȱ•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱǯǯȱŠǯȱǻœ™•Š—ǼǰȱŒ›’ŠŠ no
Œ˜–Ž³˜ȱŠȱ·ŒŠŠȱŽȱŗşŜŖȱŽ–ȱ¨˜ȱŠž•˜ȱ™Ž•˜ȱŽ—Ž—‘Ž’›˜ȱŠ›’˜ȱŠ›Š—Ž’›ŠȱŽȱ
Mendonça, egresso da Sagmacs20.

Essas grandes empresas desenvolviam projetos de saneamento, transporte ferro-


viário, rodoviário, metroviário, abastecimento de água, hidrelétricas etc. Os pla-
nos diretores entraram na mira dessas empresas devido à expectativa de que as
obras a serem realizadas deveriam estar vinculadas aos planos. A Hidroservice
criou um Departamento de Planejamento Territorial e Urbano, onde trabalharam
˜œȱž›‹Š—’œŠœȱ•ŠŸ’˜ȱ’••Š³ŠȱŽȱž’œȱŠ›•˜œȱ˜œŠȱŽȱ˜ȱŽŒ˜—˜–’œŠȱŠž•ȱ’—Ž›ǯȱȱ
Asplan – que já havia atuado como empresa subcontratada na CIBPU em 1962 e
havia se associado a empresas estadunidenses para o desenvolvimento do Pla-
no Urbanístico Básico de São Paulo em 1967, com financiamento da Finep e da
United States Agency for International Development (Usaid) – elaborou planos
e estudos financiados pelo Serfhau. De sua equipe de planejamento urbano fize-
ram parte, dentre outros, Domingos Teodoro de Azevedo, Helio Modesto, Celso
Š–™Š›Ž••’ǰȱ—˜—’˜ȱ•¤ž’˜ȱ˜›Ž’›ŠȱŽȱ˜›Ž’›ŠȱŽȱ ˜Ššž’–ȱ žŽŽœǯȱ˜˜œȱŽœœŽœȱ
™›˜’œœ’˜—Š’œǰȱ Šœœ’–ȱ Œ˜–˜ȱ ž’œȱ Š›•˜œȱ ˜œŠǰȱ ŠžŠ›Š–ȱ —Šȱ Š–ŠŒœǰȱ Ž¡’—Šȱ Ž–ȱ
1964 com o golpe civil-militar21.

Após a regulamentação do Serfhau, empresas de menor porte se disseminaram


por várias regiões do país, como a Sociplan (Sociedade Civil de Planejamento
ŠǯǼǰȱ Ž–ȱ ¨˜ȱ Šž•˜ȱ ǻŗşŜŝǼDzȱ Šȱ ˜™•an (Construções Planejamento S.A.), que

20
ȱ —˜›–Š³äŽœȱ œ˜‹›Žȱ Šȱ
’›˜œŽ›Ÿ’ŒŽǰȱ Œǯȱ ŠœŠ˜ȱ ǻŘŖŗŗǼDzȱ œ˜‹›Žȱ ˜ȱ —ŽŒǰȱ Œǯȱ Š—’–ȱ ǻŘŖŗŖǼDzȱ Žȱ œ˜‹›Žȱ Šȱ
inserção da Asplan na CIBPU, cf. Chiquito (2017).
21
Depoimentos dos urbanistas Flavio Villaça, Domingos Teodoro Azevedo, Antonio Cláudio Moreira
Žȱž’œȱŠ›•˜œȱ˜œŠǰȱŒ˜—ŒŽ’˜œȱ—˜ȱ¦–‹’˜ȱ˜ȱ™›˜“Ž˜ȱŽȱ™Žœšž’œŠȱȃ•Š—Ž“Š˜›Žœȱž›‹Š—˜œȱ™Šž•’œŠœDZȱ
formação e prática de uma geração” (CNPq, 2017), do qual participei como pesquisadora colabora-
dora e consultora científica.
120 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

recebeu, em 1967, o primeiro financiamento da Fiplan para o plano de Feira de


Santana; o Grupo Planejamento Integrado (GPI), em São Paulo (1967); a Hidrasa
Engenharia e Consultoria, em Belo Horizonte (1969); a Planisul (Planejamento e
Projetos S.A.), em Porto Alegre (1971); o Consórcio Internacional de Consultoria
e Planejamento (Icoplan), no Rio de Janeiro (1973)22.

Além de alavancar a criação de novas empresas, outro efeito da abertura de fi-


nanciamento para as prefeituras contratarem serviços de consultoria foi a asso-
ciação entre empresas que, desde os anos de 1950, atuavam na assistência aos
municípios. O GPI, por exemplo, estruturou-se pela fusão da Planorg (Plane-
“Š–Ž—˜ȱ Žȱ ›Š—’£Š³¨˜ȱ ŠǯǼǰȱ šžŽȱ “¤ȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’Šȱ Žœž˜œȱ ’—œ’žŒ’˜—Š’œȱ Œ˜–ȱ
Šȱ Œ™•Š—ȱ ǻŒ˜—˜–’œŠœȱ Žȱ •Š—Ž“Š˜›Žœȱ ŠǯǼǰȱ šžŽȱ ŠžŠŸŠȱ Ž–ȱ Ž–˜›Š’Šȱ Žȱ
estudos econômicos e sociais. O planejamento físico-territorial era desen-
volvido por Heitor Ferreira dos Santos, que também fez parte da sociedade
(FERREIRA, 2008).

Ao mesmo tempo, a subdivisão em setores de atividade para o cadastramen-


to permitiu a criação de empresas de consultoria especializadas. É o caso dos
escritórios de arquitetura que se constituíram como empresas de planejamen-
to ou de consultoria, como Wit-Olaf Prochnik Arquitetura e Planejamento So-
Œ’ŽŠŽȱ’–’ŠŠȱǻŗşŜŜǼȱŽȱ ˜›Žȱ’•‘Ž’–ȱ˜—œž•˜›Žœȱœœ˜Œ’Š˜œǯȱžŠŸŠ–ȱ—˜ȱ
planejamento físico e desenvolveram planos como contratados ou associados às
grandes empresas de engenharia consultiva, como foi o caso da Jorge Wilheim
Consultores Associados, que se vinculou à Serete Engenharia S.A. (MOTA, 2004).
É o caso também do Ibam, que foi contratado para estudos de organização da
administração municipal por prefeituras em todo o país.

A partir de 1969, uma mudança substantiva ocorreu com a criação do Programa


de Ação Concentrada (PAC) pelo Ministério do Interior, quando foi priorizado o
atendimento a um número limitado de municípios selecionados com base no estu-
do sobre microrregiões homogêneas realizado pelo IBGE. Reconhecendo a diversi-
dade e desigualdade da rede urbana do país, objetivava-se implantar processos de
planejamento nas várias escalas de agregação de municípios e estabelecer o vínculo
entre os planos, o financiamento e a execução de projetos setoriais e obras definidos
pelo BNH (MINTER, 1970). Foram financiados planos metropolitanos23, planos mi-
crorregionais originados pela associação de municípios e planos municipais.

22
Os nomes dessas empresas foram retirados do acervo de planos diretores da Biblioteca da Pós-Gra-
duação da FAU-USP.
23
Planos metropolitanos começaram a ser financiados pelo Serfhau a partir de 1967, quando a Consti-
tuição Federal de 1967 estabeleceu, mediante lei complementar, que a União poderia instituir regiões
metropolitanas no país.
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 121

Nesse período, o Serfhau recebeu maior volume de recursos, totalizando 83%


˜œȱ™•Š—˜œȱ’—Š—Œ’Š˜œȱ™Ž•˜ȱ’™•Š—ȱǻ  ǰȱŗşşřǼǯȱȱ™Žœšž’œŠȱ›ŽŠ•’£ŠŠȱ™˜›ȱ
Azevedo (1976, p. 53) em mais de cem municípios paulistas com planos diretores
no ano de 1975, mostra que 91% desses municípios tiveram seus planos realiza-
dos após a regulamentação do Serfhau e que 75,9% dos planos analisados foram
realizados fora dos órgãos de planejamento das administrações municipais. A
maioria absoluta dos planos (54%) foi elaborada por empresas especializadas
(43,7%) ou consultores individuais (10,3%). As entidades públicas e universitá-
rias foram responsáveis por 21,8% dos planos.

Ou seja, foi fora da administração municipal e, sobretudo, através das empresas


de consultoria, que se efetivou a elaboração de planos com equipes interdisci-
plinares. Em São Paulo há que se destacar a presença do Centro de Estudos e
Pesquisas de Administração Municipal (Cepam), órgão estadual criado em 1967,
e do Cpeu, que desde 1957 desenvolvia planos diretores para prefeituras. As enti-
dades públicas e universitárias também tiveram papel importante em São Paulo.
Nesse sentido, pode-se afirmar que se efetivou o projeto defendido por Cole de
fortalecer o mercado de trabalho em planejamento urbano com a participação da
iniciativa privada.

Há que se considerar que, paralelamente ao financiamento de planos, a formação


de profissionais para o planejamento foi atividade persistente no Serfhau, que
envolveu a administração pública, as universidades, experts internacionais e as
empresas privadas de consultoria. De 1967 a 1970 foram promovidos pequenos
cursos de planejamento voltados para conhecer as experiências estrangeiras. Nes-
se período, o Serfhau trouxe para o Brasil professores dos Estados Unidos, Fran-
³ŠȱŽȱ —•ŠŽ››ŠǰȱŽ—›Žȱ˜œȱšžŠ’œȱœŽȱŽœŠŒŠ–ȱ ŽŠ—ȱŠ‹ŠœœŽǰȱ’Ž››Žȱ˜Œ‘Ž˜›ǰȱ ˜‘—ȱ
ž›—Ž›ǰȱ ˜‘—ȱ›’Ž–Š—ǰȱ›¢Š—ȱŽ››¢ȱŽȱŠ¡ȱ˜Œ”ȱǻ Ȧ
ǰȱŗşŝŗǰȱ™ǯȱŘŝǼǯȱ

Mas, a partir de 1971, com a criação do Departamento de Estudos e Pesquisas


do Serfhau e o estabelecimento de uma missão da OEA no Rio de Janeiro, a ati-
vidade de formação ganhou novos contornos. O Brasil se inseriu no Programa
de Capacitação de Recursos Humanos da OEA, voltado para a capacitação dos
Estados membros para a formulação e execução de políticas nacionais de desen-
Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱž›‹Š—˜ȱǻȱ Dzȱ  ǰȱŗşŝŗǰȱ™ǯȱŗŜǼǯȱ˜’ȱŒ˜—œ’žÇ˜ȱ
um grupo técnico dentro do Serfhau, o Núcleo de Aperfeiçoamento de Recur-
œ˜œȱ
ž–Š—˜œȱ™Š›Šȱ˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ›‹Š—˜ȱŽȱ˜ŒŠ•ȱŽȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱž—’Œ’-
pal, como o embrião de um futuro Centro Nacional de Capacitação de Recursos

ž–Š—˜œȱ™Š›Šȱ˜ȱŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ›‹Š—˜ȱŽȱ˜ŒŠ•ȱŽȱ–’—’œ›Š³¨˜ȱž—’Œ’™Š•ȱ
(MINTER/SERFHAU, 1972a).
122 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

Foi implantado um sistema nacional de treinamento visando à formação de


técnicos em planejamento em todos os níveis. Um programa criado para o triê-
nio 1972-1974 englobou a “preparação especializada” e a “reciclagem de quadros
técnicos” por meio de cursos intensivos destinados a técnicos seniores do serviço
público em geral, a autoridades e a servidores municipais, agenciados por deze-
nas de municípios. Esses cursos aconteceram em escolas permanentes e itineran-
tes e Centros Regionais de Treinamento em Administração Municipal instalados
em todo país. O temário desses cursos envolveu capacitação em serviços urba-
nos, administração pública, controle do uso do solo e planejamento em todas
as escalas: local, metropolitana, micro e regional (MINTER/SERFHAU, 1971, p.
28-30). Foram realizados também seminários voltados para a formulação de uma
política de desenvolvimento urbano e para o planejamento metropolitano, como
˜ȱ ȱ Žȱ ȱ Ž–’—¤›’˜ȱ Žȱ ŽœŽ—Ÿ˜•Ÿ’–Ž—˜ȱ ›‹Š—˜ȱ Žȱ ˜ŒŠ•ǰȱ ›ŽŠ•’£Š˜œȱ Ž–ȱ ›ŠœÇ•’Šȱ
em 1971 e 1972, e o Seminário Internacional de Planejamento Metropolitano, em
São Paulo, em 1972. Este último era parte da estratégia de criação de um Cen-
tro de Planejamento Metropolitano pelo Serfhau, que teria por objetivos prestar
assistência técnica às regiões metropolitanas e desenvolver estudos e pesquisas
que levassem à formulação de uma política de desenvolvimento metropolitano
(MINTER/SERFHAU, 1972a).

A amplitude do processo de formação de recursos humanos e os escopos dire-


cionados para técnicos em planejamento em vários níveis levam a supor que a
qualificação de profissionais extrapolou o universo das empresas de consultoria.

Nesse sentido, dois aspectos merecem destaque, pois sinalizam a formação de


uma nova geração de profissionais no território nacional. Em primeiro lugar, a
capilaridade territorial desse processo, que utilizou a estrutura regionalizada do
Senam; os municípios-escola fixos e itinerantes, que desde 1967 começaram a
ser implantados; as superintendências regionais, como a Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste (Sudene); órgãos de planejamento locais, como
o Grupo Executivo da Grande São Paulo (Gegran); e a Coordenação Geral de
Planejamento (Cogep) da Prefeitura de São Paulo; além da estrutura de entida-
des profissionais, como o Instituto de Engenharia e o Instituto de Arquitetos do
Brasil, que já tinha seus departamentos estaduais; e também o Projeto Rondon,
que envolveu estudantes. Em segundo lugar, a formação direcionada a técnicos
de diferentes campos disciplinares de órgãos públicos municipais, regionais e
metropolitanos, e a funcionários do próprio Serfhau, na esfera federal.

Além disso, foram realizadas atividades com instituições de ensino superior,


como a Universidade Federal do Rio de Janeiro, a Universidade de Brasília e a
Universidade Federal do Recife. Se consideramos que entre 1966 e 1971 foram
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 123

criadas catorze universidades federais, houve ampliação de cursos das áreas de


conhecimento envolvidas no planejamento. No caso de cursos de Arquitetura
e Urbanismo, por exemplo, em 1974 constavam dezenove cursos no Boletim da
Associação Brasileira de Escolas de Arquitetura (Boletim 1, junho de 1974).

A formação para o planejamento em nível de pós-graduação constituiu outro


foco central para o aperfeiçoamento dos recursos humanos. Em 1967 iniciou-
-se a concessão de bolsas de estudo de mestrado e doutorado no exterior. Na
–·›’ŒŠȱŠ’—ŠǰȱŠ›ŠŸ·œȱ˜ȱ›˜›Š–Šȱ —Ž›Š–Ž›’ŒŠ—˜ȱŽȱ•Š—Ž“Š–Ž—˜ȱ›‹Š—˜ȱ
Žȱ Ž’˜—Š•ȱ ǻ’Š™ž›Ǽȱ Ž–ȱ ’–Šǰȱ Ž›žDzȱ —˜œȱ œŠ˜œȱ —’˜œǰȱ Š›ŠŸ·œȱ Šȱ Dzȱ —Šȱ
Universidade de Edinburgo, Escócia, através de convênio entre o Serfhau e o
governo britânico (MINTER/SERFHAU, 1971).

Como parte das mudanças implantadas a partir de 1970, foi concebido um curso
de pós-graduação na área de planejamento urbano e regional, com grau de mes-
tre em Ciências. Financiado pelo Serfhau, o curso foi criado em 1971 na Coorde-
nação dos Programas de Pós-graduação em Engenharia (Coppe), subordinado
à área de Engenharia da Produção, na Universidade Federal do Rio de Janeiro.
De sua estruturação participaram técnicos do Serfhau, professores da Coppe,
consultores da OEA e da Universidade de Edimburgo. Através de um convê-
nio, coube à Coppe a realização do curso e ao Serfhau complementar recursos,
conceder bolsas de estudo e providenciar uma equipe de assessores estrangei-
ros (COPPE/UFRJ, 1971; NUNES; SOUZA; SCHWARTZMAN, 1982).

O corpo docente era composto por professores titulares e assistentes, profes-


sores visitantes e professores conferencistas – a maioria com títulos de Master
e PHD em universidades estadunidenses, como Berkeley, Harvard, Pennsyl-
vania – além de professores com títulos obtidos em universidades francesas,
inglesas, canadenses e peruanas (COPPE/UFRJ, 1971)24. Candidataram-se para
a primeira seleção cerca de 180 técnicos, sendo selecionados 45. Desses, 25 con-
taram com bolsas de estudo financiadas pelo Serfhau (MINTER/ SERFHAU,
1972b).

O curso de Planejamento Urbano e Regional na Coppe realizou, de forma ra-


dical, a formação de quadros para atuar na realidade latino-americana, privi-
legiando o aspecto que, de forma mais acabada, se efetiva ao longo do período
do Serfhau: a perspectiva interdisciplinar do planejamento.

24
Os vínculos com universidades dos Estados Unidos deveram-se, sem dúvida, aos vínculos da Co-
ppe, não apenas com as universidades, mas também com a OEA e com o Point Four Program, que já
estavam envolvidos, desde 1961, na formulação do primeiro curso de pós-graduação em Engenharia
Química e Mecânica da UFRJ, implantado em 1963.
124 • Urbanismo e política no Brasil dos anos 1960

O curso se diferenciou em sua concepção de outros já existentes e dos que pos-


teriormente foram criados. Em primeiro lugar, por agregar aos conhecimentos
de Matemática, Estatística, Economia, Sociologia, Demografia todo um conjunto
de disciplinas teóricas e, também, práticas, referentes a aspectos econômicos, fí-
sico-territoriais, sociais e administrativo-institucionais de planejamento. Em se-
gundo lugar, por ter privilegiado dois níveis de atuação profissional: o sistema
nacional urbano-regional e o nível intra-urbano-metropolitano. E, finalmente,
por abranger um corpo de conhecimentos que visava à preparação de quadros
técnicos para a formulação de políticas, criação de métodos e avaliação de estu-
dos aplicados (COPPE/UFRJ, 1975).

A reconfiguração do campo de atuação profissional do urbanista, que se efetivou


ao longo dos onze anos de existência do Serfhau, pode ser interpretada como
subproduto do divórcio entre habitação e urbanismo decorrente da criação do
Serfhau como órgão subordinado ao BNH. O efeito imediato dessa condição foi
o embate no interior da administração federal sobre o papel a ser assumido pelas
empresas privadas de consultoria no processo de elaboração de planos. Entre
uma atuação localizada das empresas privadas junto à administração municipal
para execução de obras-chave e uma atuação irrestrita visando abrir oportunida-
des de trabalho nas empresas como estratégia de ativação da economia do BNH,
a segunda opção foi vitoriosa.

Diante da potencial fragilização da administração municipal no processo de pla-


nejamento que essa opção representou, a implantação de um sistema de trei-
namento capilarizado no território nacional assumiu papel fundamental na
formação de técnicos em planejamento em todos os níveis. A mobilização de
funcionários de órgãos federais, regionais, estaduais e municipais, assim como
de profissionais de diferentes áreas que atuavam nas empresas de consultoria,
colocou a interdisciplinaridade como componente do perfil do profissional para
atuar no planejamento.

A criação do curso de pós-graduação da Coppe coroou o processo de definição


de um novo perfil de profissional, o planejador. Por meio da formação teórica e
prática, da definição de campos de atuação em diferentes escalas de planejamen-
to, com foco em políticas públicas, o curso atuou, até o final da década de 1970,
como veículo de formação de uma elite técnica.

A interdisciplinaridade na formação e atuação do urbanista efetivou-se durante


o período do Serfhau com as mudanças na organização dos profissionais pelas
empresas privadas de consultoria, a partir de campos de conhecimento especiali-
zados, com a formação de técnicos nos cursos promovidos pelo Serfhau e com a
formação em nível de pós-graduação no curso da Coppe.
O Serviço Federal de Habitação e Urbanismo (Serfhau) e a reconfiguração do campo profissional do urbanista • 125

Referências

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