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CARD I OLO G I A P RÁ TI C A
Volume 30 • N. 2 • Abril/Junho 2020
Edição Especial
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Insuficiência Cardíaca
Editor Chefe
Marcelo Franken
Editores convidados
Dirceu Rodrigues Almeida
Fernando Bacal
www.socesp.org.br
ISSN 0103-8559
Indexada em:
LILACS – Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (www.bireme.br)
Latindex – Sistema Regional de Información em Línea para Revistas Científicas de América Latina, El Caribe, España y Portugal
(www.latindex.unam.mx)
Editor Chefe: Marcelo Franken
Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
Conselho Editorial
Alfredo José Mansur Fernando Bacal Marcelo Luiz Campos Vieira
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Álvaro Avezum Fernando Nobre Marcus Vinicius Simões
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo- Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto - Universidade de São Paulo, Ribeirão
Amanda G. M. R. Sousa HCFMUSP, Ribeirão Preto, SP, Brasil Preto, SP - Brasil
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Flavio Tarasoutchi Maria Cristina Oliveira Izar
Angelo Amato V. de Paola Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP,
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil São Paulo, SP, Brasil
Paulo - Unifesp São Paulo, SP, Brasil Francisco A. Helfenstein Fonseca Maria Teresa Nogueira Bombig
Antonio Augusto Lopes Escola Paulista de Medicina - Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP,
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina SP, Brasil São Paulo, SP, Brasil
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Francisco Rafael Martins Laurindo Maria Virgínia Tavares Santana
Antonio Carlos Pereira-Barretto Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Mauricio Ibrahim Scanavacca
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Henry Abensur Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
Antonio de Pádua Mansur Beneficência Portuguesa de São Paulo - Setor de ensino, São Paulo, SP, Brasil da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Ibraim Masciarelli F. Pinto Max Grinberg
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
Ieda Biscegli Jatene da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Ari Timerman
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Hospital do Coração - HCOR São Paulo, SP, Brasil Miguel Antonio Moretti
João Fernando Monteiro Ferreira Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
Benedito Carlos Maciel
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto,SP,Brasil Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Nelson Kasinsky
Bráulio Luna Filho Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP,
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de João Manoel Rossi Neto
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil São Paulo, SP, Brasil
São Paulo/Hospital Brasil, ABC São Paulo, SP, Brasil
João Nelson R. Branco Orlando Campos Filho
Bruno Caramelli
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo -UNIFESP, Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo
São Paulo, SP, Brasil -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Otavio Rizzi Coelho
Carlos Alberto Buchpiguel Jorge Eduardo Assef
Disciplina de Cardiologia do Departamento de Clinica Médica da FCM UNI-
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
CAMP, São Paulo, SP, Brasil
(Vinculação Acadêmica) São Paulo, SP, Brasil José Carlos Nicolau
Paola Emanuela Poggio Smanio
Carlos Costa Magalhães Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil
Cardioclin - Clinica e Emergência Cardiologica da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Paulo Andrade Lotufo
São José dos Campos, SP, Brasil. José Carlos Pachón Mateos
Faculdade de Medicina e Centro de Pesquisa Clínica
Carlos Eduardo Rochitte Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, Universidade de São Paulo - USP,
Epidemiológica da USP, São Paulo, SP, Brasil
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Me- Hospital do Coração, Hospital Edmundo Vasconcelos, São Paulo, SP, Brasil
Paulo J. F. Tucci
dicina da Universidade de São Paulo-HCFMUSP/Hospital do Coração, HCOR/ José Francisco Kerr Saraiva
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de
Associação do Sanatório Sírio, São Paulo, SP, Brasil Hospital e Maternidade Celso Pierro, São Paulo, SP, Brasil São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil
Carlos V. Serrano Jr. José Henrique Andrade Vila Paulo M. Pêgo Fernandes
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Hospital de Beneficência Portuguesa, São Paulo, SP, Brasil Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil José L. Andrade da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Celso Amodeo Instituto de Radiologia (InRad) - Hospital das Clínicas - Faculdade de Medicina- Pedro Silvio Farsky
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil USP, São Paulo, SP, Brasil Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil
Dalmo Antonio R. Moreira José Soares Jr. Raul Dias Dos Santos Filho
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Daniel Born da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Renato Azevedo Jr
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de Katashi Okoshi Hospital Samaritano São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
São Paulo - UNIFESP São Paulo, SP, Brasil Faculdade de Medicina de Botucatu, UNESP, Botucatu, SP, Brasil
Ricardo Ribeiro Dias
Dirceu Rodrigues Almeida Kleber G. Franchini Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP, Departamento de Clínica Médica UNICAMP - Universidade da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
São Paulo, SP, Brasil Estadual de Campinas, Campinas, SP, Brasil
Romeu Sérgio Meneghelo
Edson Stefanini Leopoldo Soares Piegas Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia/Hospital Israelita
Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Albert Einstein, São Paulo, SP, Brasil
São Paulo -UNIFESP, São Paulo, SP, Brasil Lilia Nigro Maia Rui Póvoa
Expedito E. Ribeiro Faculdade de Medicina de Rio Preto (FAMERP)/Hospital de Base Universidade Federal de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina São José do Rio Preto, SP, Brasil
Ulisses Alexandre Croti
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Luiz Aparecido Bortolotto Hospital da Criança e Maternidade de São José do Rio Preto (FUNFARME)/
Fabio B. Jatene Instituto do Coração / INCOR. São Paulo, SP, Brasil Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (FAMERP), São José do
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Luiz Mastrocola Rio Preto, SP, Brasil
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Valdir Ambrosio Moises
Fausto Feres Luiz Felipe P. Moreira Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP/
Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia São Paulo, SP, Brasil Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Fleury Medicina e Saúde, São Paulo, SP, Brasil
Felix J. A. Ramires da Universidade de São Paulo-HCFMUSP São Paulo, SP, Brasil Valter C. Lima
Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina Marcelo Jatene Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP,
da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina São Paulo, SP, Brasil
Fernanda Marciano Consolim-Colombo da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil William Azem Chalela
Instituto do Coração / INCOR, Faculdade de Medicina da Universidade de São Marcelo Chiara Bertolami Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina
Paulo, SP, Brasil Instituto Dante Pazzanese de Cardiologia, São Paulo, SP, Brasil da Universidade de São Paulo-HCFMUSP, São Paulo, SP, Brasil
Educação Física e Esporte Leiliane Rodrigues Marcatto Paulo Sérgio Silva Santos
Tiago Fernandes Instituto do Coração /Incor/Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Faculdade de Odontologia de Bauru- FOB/USP, SP, Brasil
Universidade de São Paulo. Escola de Educação Física e Esporte. São Paulo, São Paulo, SP, Brasil. Psicologia
SP, Brasil. Fisioterapia Rafael Trevizoli Neves
Larissa Ferreira dos Santos Solange Guizilini Hospital do Coração – HCOR. São Paulo, SP, Brasil.
Instituto do Coração /Incor/Faculdade de Medicina da Universidade de Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. São Paulo, SP, Brasil. Suzana Garcia Pacheco Avezum
São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Vera Lúcia dos Santos Departamento de Psicologia da Sociedade de Cardiologia do Estado de
Enfermagem Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo. SP, Brasil São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
Ana Carolina Queiroz Godoy Daniel Nutrição Serviço Social
Hospital Israelita Albert Eistein. São Paulo, SP, Brasil. Juliana Tieko Kato Elaine Fonseca Amaral da Silva
Rafaela Batista dos Santos Pedrosa Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. São Paulo, SP, Brasil. Instituto do Coração /Incor/Faculdade de Medicina da Universidade de
Universidade Estadual de Campinas. SP, Brasil João Henrique Motarelli São Paulo. São Paulo, SP, Brasil.
Farmacologia Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP. São Paulo, SP, Brasil. Elaine Cristina Dalcin Seviero
Alessandra Santos Menegon Odontologia Departamento de Serviço Social da Sociedade de Cardiologia do Estado
Instituto do Coração /Incor/Faculdade de Medicina da Universidade de Frederico Buhatem Medeiros de São Paulo, São Paulo, SP, Brasil.
São Paulo. São Paulo, SP, Brasil. Hospital Samaritano. São Paulo, SP, Brasil.
DIRETORIA DA SOCIEDADE DE CARDIOLOGIA DO ESTADO DE SÃO PAULO/Biênio 2020 - 2021
Presidente Diretor de Publicações Diretora de Promoção e Pesquisa Coordenadores do Projeto Infarto
João Fernando Monteiro Ferreira Marcelo Franken Maria Cristina de Oliveira Izar Luciano Moreira Baracioli
Vice-Presidente Diretora de Qualidade Assistencial Diretor do Centro de Treinamento em Emergências Antonio Claudio do Amaral Baruzzi
Renato Azevedo Júnior Lilia Nigro Maia Edson Stefanini Coordenador dos cursos de Emergencias do AHA
1º Secretário Diretor Científico Coordenador de Estudos Populacionais Agnaldo Piscopo
Otávio Rizzi Coelho Filho Luciano Ferreira Drager Otavio Berwanger Coordenadora do Projeto Cardiointensivismo
2º Secretário Diretor de Comunicação Coordenadores do Centro de Memórias Ludhmila Abrahão Hajjar
Álvaro Avezum Ricardo Pavanello Alberto Francisco Piccolotto Naccarato
1º Tesoureiro Diretor de Relações Institucionais e Governamentais Ronaldo Fernandes Rosa
Marcos Valério Coimbra de Resende Henry Abensur Coordenadores do Projeto Insuficiência Cardíaca
2º Tesoureiro Diretor de Regionais Dirceu Rodrigues Almeida
Rogério Krakauer Jorge Zarur Neto Múcio Tavares de Oliveira Junior
A Revista da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (ISSN impresso: 0103-8559 e ISSN on line: 2595-4644)
é Órgão Oficial da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo, editada trimestralmente pela Diretoria de Publicações da SOCESP.
Avenida Paulista, 2073 – Horsa I, 15° andar Conjunto 1512 – Cerqueira Cesar – São Paulo,SP CEP 01311-940/ Tel: (11) 3181-7429
E–mail: socio@socesp.org.br/ Website: www.socesp.org.br
As mudanças de endereço, a solicitação de números atrasados e as cartas ao Editor deverão ser dirigidas à sede da SOCESP.
É proibida a reprodução total ou parcial de quaisquer textos constantes desta edição
sem autorização formal e expressa de seus editores.
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do Estado de São Paulo / Diretoria de Publicações
Tel: (11) 3181–7429 / E-mail: socio@socesp.org.br
O Suplemento da Revista Sociedade de Cardiologia RESUMO: Os resumos devem ser enviados em português
do Estado de São Paulo é parte integrante da Revista da e inglês, não devendo ultrapassar 250 palavras cada.
Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo e publica DESCRITORES: Devem conter no mínimo três e no máximo
artigos nas áreas de saúde como enfermagem, fisioterapia, cinco palavras-chaves baseadas nos Descritores de Ciências
educação física, nutrição, odontologia, psicologia, serviço da Saúde (DeCS) -http://decs.bireme.br.
social, farmácia. REFERÊNCIAS: Incluir até 50 referências relevantes. Nu-
Cada edição do Suplemento conterá um ou dois temas merar as referências de forma consecutiva de acordo com
centrais, a critério do Diretor de Publicações. a ordem em que forem mencionadas pela primeira vez no
A Revista da SOCESP está indexada no LILACS texto, utilizando-se números arábicos sobrescritos. Incluir
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da os seis primeiros autores seguidos de et al.
Saúde) e no Latindex (Sistema Regional de Información Os títulos de periódicos deverão ser abreviados de acor-
en Línea para Revistas Científicas de América Latina, el do com o Index Medicus.
Caribe, España y Portugal). a) Artigos: Autor(es). Título do artigo. Título do Periódico.
Os manuscritos enviados deverão estar em padrão PC ano; volume: página inicial - final
com arquivos TXT ou DOC. Ex.: Campbell CJ. The healing of cartilage deffects. Clin
O autor poderá enriquecer o conteúdo de sua publica- Orthop Relat Res. 1969;(64):45-63.
ção com o envio de vídeos comentando o artigo, imagens, b) Livros: Autor(es) ou editor(es). Título do livro. Edição, se não
gráficos animados, podcasts, dentre outros, possibilitando for a primeira. Tradutor(es), se for o caso. Local de publicação:
ao leitor uma experiencia mais interativa com todo o con- editora; ano. Ex.: Diener HC, Wilkinson M, editors. Drug-
teúdo da revista. induced headache. 2nd ed. New York: Spriger-Verlag; 1996.
Os conceitos e declarações contidos nos trabalhos são c) Capítulos de livros: Autor(es) do capítulo. Título do capítulo
de total responsabilidade dos autores. Editor(es) do livro e demais dados sobre este, conforme o
O Suplemento da Revista da Sociedade de Cardiologia item anterior.Ex.: Chapman MW, Olson SA. Open fractures.
do Estado de São Paulo segue na íntegra a tendência inter- In: Rockwood CA, Green DP. Fractures in adults. 4th ed.
nacional do estilo Vancouver, disponível (www.icmje.org.br). Philadelphia: Lippincott-Raven; 1996. p.305-52.
ORGANIZAÇÃO DO ARQUIVO ELETRÔNICO: O artigo d) Resumos: Autor(es). Título, seguido de [abstract]. Perió-
deverá ter até 20 páginas, digitadas em fonte Times New dico ano; volume (suplemento e seu número, se for o caso):
Roman, tamanho 10, espaçamento entre linhas de 1,5, página(s) Ex.: Enzensberger W, Fisher PA. Metronome in
incluindo-se as referências bibliográficas. Poderá incluir Parkinson’s
até 5 ilustrações (figuras, fotografias, gráficos e/ou tabelas) disease [abstract]. Lancet. 1996;34:1337.
e conter até 50 referências. e) Comunicações pessoais só devem ser mencionadas no
Todas as partes do manuscrito devem ser incluídas em texto entre parênteses.
um único arquivo. O mesmo deverá ser organizado com f) Tese: Autor, título nível (mestrado, doutorado etc.), cidade:
a página de rosto, em primeiro lugar, o texto, referências instituição; ano. Ex.: Kaplan SJ.Post-hospital home health
seguidas pelas figuras (com legendas) e ao final, as tabelas care: the elderley’s access and utilization [dissertation]. St.
(com legendas). Louis:
PÁGINA DE ROSTO: A página de rosto deve conter: Washington Univ.; 1995.
a) o título completo conciso e informativo em português e g) Material eletrônico: Título do documento, endereço na
inglês; internet, data do acesso. Ex: Morse SS. Factors in the emer-
b) o nome completo de cada autor (sem abreviações); e a gence of infectious diseases. Emerg Infect Dis. [online] 1995
instituição a que pertence cada um deles; Jan-Mar [cited 1996 Jun 5];1(1):[24 screens]. Available from:
c) nome, endereço, telefone e e-mail do autor responsável URL: http://www.cdc.gov/ncidod/EID/eid.htm
para correspondência. TABELAS: As tabelas devem ser numeradas por ordem de
aparecimento no texto com números arábicos. Cada tabela publicadas, deverão vir acompanhadas de autorização por
deve ter um título e, se necessário, uma legenda explicati- escrito do autor ou editor, constando a fonte de referência
va. As tabelas deverão ser enviadas através dos arquivos onde foi publicada.
originais (p.e. Excel). CONFLITO DE INTERESSES: Conforme exigências do
FIGURAS (FOTOGRAFIAS E ILUSTRAÇÕES): As figuras Comitê Internacional de Editores de Diários Médicos (ICM-
devem ser apresentadas e numeradas sequencialmente, JE), grupo Vancouver e resolução do Conselho Federal de
em algarismos arábicos, conforme a ordem de apareci- Medicina nº 1595/2000 os autores têm a responsabilidade
mento no texto. Para evitar problemas que comprometam de reconhecer e declarar conflitos de interesse financeiros
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seguintes parâmetros: todas as figuras, fotografias e ilus- desenvolvimento do trabalho apresentado para publicação.
trações devem ter qualidade gráfica adequada (300 dpi de Devem declarar e podem agradecer no manuscrito todo o
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figuras incluem todas as ilustrações, tais como fotografias, por e-mail, para o autor responsável pelo artigo. Os autores
desenhos, mapas, gráficos, etc, e devem ser numeradas deverão devolver, também por e-mail, a prova gráfica com
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que é especialmente concebida para este fim, que capta o submetidos deverão assinar um Termo de Transferência de
conteúdo do artigo para os leitores em um único olhar. As Direitos Autorais, que entrará em vigor a partir da data de
figuras incluem todas as ilustrações, tais como fotografias, aceite do trabalho.
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resumo do conteúdo do manuscrito.
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acompanhando as respectivas figuras (gráficos, fotogra-
fias e ilustrações). Cada legenda deve ser numerada em
algarismos arábicos, correspondendo a cada figura, e na
ordem em que foram citadas no trabalho. Abreviaturas e
Siglas: Devem ser precedidas do nome completo quando Caso ocorra a necessidade de esclarecimentos adi-
citadas pela primeira vez no texto. No rodapé das figuras cionais, favor entrar em contato com a Atha Comunica-
e tabelas deve ser discriminado o significado das abrevia- ção e Editora - Rua Machado Bittencourt, 190 – 4º andar -
turas, símbolos, outros sinais e informada fonte: local onde CEP: 04044-903 – São Paulo/SP, Brasil Tel: +55 11 5087-9502 /
a pesquisa foi realizada. Se as ilustrações já tiverem sido Fax: +55 11 5579 5308.
SUMÁRIO/CONTENTS
EDUCAÇÃO FÍSICA
MIOPATIA MUSCULAR ESQUELÉTICA INDUZIDA PELA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA DE ETIOLOGIA HIPERTENSIVA:
PAPEL TERAPÊUTICO DO TREINAMENTO FÍSICO AERÓBIO............................................................................. 239
HYPERTENSIVE HEART FAILURE-INDUCED SKELETAL MUSCLE MYOPATHY: THERAPEUTIC ROLE OF AEROBIC EXERCISE TRAINING
Bruno Rocha de Avila Pelozin, Larissa Ferreira-Santos, Luis Felipe Rodrigues, Edilamar Menezes de Oliveira, Tiago Fernandes
http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20203002239-47
ENFERMAGEM
PRÁTICAS NÃO FARMACOLÓGICAS NO MANEJO DA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA...................................................... 248
NONPHARMACOLOGICAL PRACTICES IN THE MANAGEMENT OF HEART FAILURE
Mayara Rocha Siqueira Sudré, Ana Carolina Queiroz Daniel, Graciano Almeida Sudré, Suellen Rodrigues de Oliveira Maier, Eugenia Velludo Veiga
http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20203002248-56
FARMACOLOGIA
POTENCIAL USO DE INIBIDORES DE SGLT2 NO TRATAMENTO DE INSUFICIÊNCIA CARDÍACA PARA PACIENTES
DIABÉTICOS E NÃO DIABÉTICOS........................................................................................................... 257
POTENTIAL USE OF SGLT2 INHIBITORS IN THE TREATMENT OF HEART FAILURE FOR PATIENTS WITH OR WITHOUT DIABETES
Danúbia Silva dos Santos, Letícia de Barros Sene, Bruno Caramelli, Adriana Castello Costa Girardi
http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20203002257-263
FISIOTERAPIA
REABILITAÇÃO CARDIOVASCULAR BASEADA EM EXERCÍCIO FÍSICO NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA- FASE HOSPITALAR
E AMBULATORIAL............................................................................................................................ 264
EXERCISE-BASED CARDIOVASCULAR REHABILITATION FOR HEART FAILURE PATIENTS - IN-HOSPITAL AND OUTPATIENT CARE
Valéria Papa, Solange Guizilini, Caroline B. Bublitz, Isadora S. Rocco, Camila Bertini, Vivian Bertoni Xavier, Rodrigo Boemio Jaenisch,
Eliana Viera Moderno, Vanessa Mendez, Vera Lucia dos Santos Alves, Michel Silva Reis
http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20203002264-72
NUTRIÇÃO
OTIMIZAÇÃO DAS ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS AOS PACIENTES COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA APÓS INTERNAÇÃO
HOSPITALAR: UMA AÇÃO PARA REDUZIR REHOSPITALIZAÇÃO E COMPLICAÇÕES CLÍNICAS EM IDOSOS......................... 273
OPTIMIZATION OF NUTRITIONAL GUIDELINES FOR PATIENTS WITH HEART FAILURE AFTER HOSPITALIZATION AS AN ACTION TO REDUCE
REHOSPITALIZATION AND CLINICAL COMPLICATIONS IN THE ELDERLY
Mariana Volante Gengo
http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20203002273-78
ODONTOLOGIA
INTERDISCIPLINARIDADE ENTRE ODONTOLOGIA E CARDIOLOGIA NO SUPORTE AO INDIVÍDUO
COM INSUFICIÊNCIA CARDÍACA............................................................................................................ 279
INTERDISCIPLINARITY BETWEEN DENTISTRY AND CARDIOLOGY IN SUPPORTING INDIVIDUALS WITH HEART FAILURE
Raquel D’Aquino Garcia Caminha, Gabriel de Toledo Telles Araújo, Dayanne Simões Ferreira Santos, Patrícia Sanches Kerges Bueno,
Frederico Buhatem Medeiros, Edmir José Sia Filho, Paulo Sérgio da Silva Santos
http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20203002279-84
PSICOLOGIA
A INSUFICIÊNCIA DO CORAÇÃO E DO AFETO: APRENDENDO A SER CUIDADO....................................................... 285
HEART FAILURE AND AFFECTION: LEARNING TO BE CARED FOR
Valéria Lima Frediani, Adriana Aparecida Fregonese, Sílvia Maria Cury Ismael
http://dx.doi.org/10.29381/0103-8559/20203002285-7
REVISÃO/REVIEW
ABSTRACT
Heart failure (HF) is the common final route of most cardiac diseases. Among the known risk
Acesse o
Podcast factors, arterial hypertension (AH) is the disease most often associated with HF. Characterized by
exercise intolerance, HF promotes cardiac dysfunction and intrinsic muscle changes involved
in reduced physical capacity. Various skeletal muscle abnormalities have been described in
patients and animals with HF, including atrophy, fibrosis, changes in the composition of fiber
types, microvascular rarefaction and reduced oxidation capacity. On the other hand, aerobic
exercise training (AET) has been used as an important non-pharmacological therapy for the
prevention and treatment of HF, partly because it improves endothelial function and coronary
perfusion, decreases peripheral resistance and induces remodeling of cardiac and skeletal
muscle cells, leading to increased oxygen uptake and resistance to fatigue. The mechanisms
and intracellular signaling pathways involved in muscle abnormalities induced by HF are not
fully understood. MiRNAs have gained an important role for regulating the post-transcriptional
expression of their target genes (mRNAs) and for participating in the development of several
pathological and physiological processes, contributing to the repression/activation of biologically
important genes. This review aims to elucidate the main evidence on skeletal muscle myopathy
induced by HF of hypertensive etiology and the potential role of microRNAs in these peripheral
changes, and to demonstrate the beneficial effects of TFA on muscle damage present in HF.
muscular esquelética induzida pela IC de etiologia hiperten- considerado como hipertensão espontânea entre a 7a e a 14a
siva e o potencial papel dos microRNAs nestas alterações semanas, atingindo um platô entre a 20ª e 24a semanas, não
periféricas, com maior relevância no estudo do TFA. havendo influência sexual nesse desenvolvimento.32
A hipertensão do SHR adulto está associada a um au-
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA mento da resistência periférica total, sendo o débito cardíaco
A IC é uma síndrome clínica de mau prognóstico carac- normal.33 Com o desenvolvimento da HA, o SHR desenvolve
terizada por disfunção cardíaca associada à intolerância aos uma progressiva hipertrofia cardíaca.34 O débito cardíaco per-
esforços, retenção de fluido, redução da longevidade e que manece em níveis normais com o progresso da hipertensão,
atinge mais de 23 milhões de pessoas no mundo, com taxa até que nos estágios finais a função cardíaca começa a ser
de sobrevida de cinco anos após o diagnóstico.7 Só nos comprometida, quando, então, o débito cardíaco começa a
EUA, a doença atinge cerca de seis milhões de cidadãos, reduzir-se em função de uma IC congestiva.35 Desse modo,
levando a um milhão de hospitalizações e uma a cada nove a função sistólica cardíaca é preservada nesses animais
mortes nos principais estados do país.29 As associações até um ano de idade, mas falha com o passar do tempo. A
brasileiras, americanas e europeias de cardiologia classifi- progressão da doença em SHR parece ser um modelo ideal
cam em suas diretrizes a IC perante sua fração de ejeção. para mimetizar a IC de etiologia hipertensiva em humanos
devido às alterações nos parâmetros cardíacos, hemodinâ-
Pacientes diagnosticados com IC podem ter suas frações
micos e neuro-humorais relevantes durante a transição da
de ejeção reduzida (ICFEr), apresentando fração ≤40%, ou
hipertrofia compensada para a IC. Outra vantagem é que esse
preservada (ICFEp), ≥50%. Também, é possível encontrar
modelo não requer intervenções técnicas e não é acometido
pacientes na zona cinzenta, chamados de intermediários,
pela elevada taxa de mortalidade por cirurgia ou intervenção
possuindo suas frações entre 40-50%.6,18
medicamentosa. Entanto, esse modelo é limitado pela longa
Na associação de diversos fatores de risco e DCV com
duração até o desenvolvimento da IC.36
a IC, a HA é a mais importante causa de ICFEp com 60%
a 80% dos casos.4–6 Números maiores são encontrados no
estudo de Framingham, em que uma coorte acompanhou ALTERAÇÕES MUSCULARES ESQUELÉTI-
5.143 pacientes mostrando que 91% dos casos de IC eram CAS NA INSUFICIÊNCIA CARDÍACA
de pacientes hipertensos,30 chegando a um valor de risco A IC causa modificações estruturais e funcionais ao
duas vezes maior em homens e três vezes em mulheres de coração ocasionadas pelo aumento hemodinâmico da
desenvolver IC.5 Porém, a maior incidência ainda é em idosos pós-carga, evoluindo à hipertrofia ventricular. A hipertrofia
e mulheres com histórico de HA.6 cardíaca progride para disfunção com perda de função e
Sozinha, a HA é reconhecida por aumentar todas as cau- redução da fração de ejeção e/ou aumento da pressão in- 241
sas de morte independente do fator de risco,5 representando tracardíaca no repouso ou em exercício. Essas alterações
dentre as DCV a com maior número de hospitalizações.4 são manifestadas principalmente com fadiga e dispneia aos
Atualmente, mesmo com o tratamento medicamentoso, a pequenos esforços, o que limita a tolerância ao exercício e
taxa de doentes continua aumentando. Sua alta prevalência prejudica a qualidade de vida dos pacientes.4,6,18 (Figura 1)
somada à alta incidência de desenvolvimento de IC se torna Essas alterações ocorrem mesmo em pacientes estáveis,
um caso de preocupação para a saúde pública. que utilizam a terapia medicamentosa, e pode ocorrer nos
Do ponto de vista clínico, a doença cardíaca hipertensiva diferentes estágios de IC, com ou sem fração de ejeção
pode ser dividida em quatro categorias ascendentes, com reduzida e nas diversas classes funcionais.37
base no impacto fisiopatológico e clínico da hipertensão no Na IC, a miopatia esquelética afeta músculos grandes e
coração:31 Grau I: Disfunção diastólica isolada do ventrículo pequenos envolvidos na postura, locomoção e respiração.
esquerdo (VE) sem hipertrofia do VE, Grau II: Disfunção Por meio de biopsia muscular e estudos utilizando marca-
diastólica do VE com hipertrofia concêntrica do VE, Grau dores celulares, foi possível encontrar inúmeras modifica-
III: IC clínica (dispneia e edema pulmonar com fração de ções musculares esqueléticas nos pacientes com IC o que
ejeção preservada) e Grau IV: Cardiomiopatia dilatada com justificaria a fadiga e a intolerância ao exercício. Algumas
IC e fração de ejeção reduzida. As categorias indicam que a dessas alterações são: (1) diminuição da massa muscular;
disfunção diastólica é uma complicação muito mais comum (2) mudança no perfil dos tipos de fibra muscular do tipo I
da hipertensão crônica do que a disfunção sistólica. Pacientes para o tipo II; (3) disfunção mitocondrial; (4) diminuição da
com ICFEp têm mais hipertrofia do VE, lesões epicárdicas circulação periférica acompanhada pela redução da rede
da artéria coronária, rarefação microvascular coronariana e microvascular; (5) e redução do VO2 pico. Além disso, alte-
fibrose miocárdica do que os indivíduos controles.31 rações no acoplamento excitação-contração também está
Já no modelo experimental, os animais espontaneamente associada à disfunção muscular e à redução da força.12
hipertensos (SHR) têm sido os mais utilizados para entender Em 2016, a diretriz europeia de cardiologia começou a
a progressão da doença cardiovascular de etiologia hiper- considerar a redução da massa muscular como uma co-
tensiva. Desde o desenvolvimento da cepa de SHR, por morbidade relevante na IC. A redução da massa muscular é
Okamoto e Aoki em 1963, o modelo genético de hipertensão representada pela diminuição da área de secção transversa
é o mais estudado na literatura e a sua importância tem do músculo associada a um desequilíbrio do balanço de
sido creditada à similaridade da sua fisiopatogenia com síntese/ degradação proteica, evidenciada em pacientes com
a hipertensão essencial (primária) em humanos. Os SHR IC comparado a indivíduos saudáveis.22,38,39 Dessa forma,
nascem normotensos e começam a desenvolver HA com vem sendo proposto que a atrofia muscular seja um preditor
cinco semanas de vida, já apresentando um nível de pressão independente de mortalidade em portadores de IC grave em
modelo patológico. Dessa forma, o TFA na IC é amplamente tem rendido importantes insights sobre a função dos dife-
recomendado pela diretriz norte americana (American Heart rentes tecidos, assim como a identificação de marcadores
Association), com nível de evidência Classe 1A, sendo uma sistêmicos sob diversas condições patológicas. A descoberta
atividade segura e efetiva para melhora dos pacientes.5 de pequenos RNAs, incluindo miRNAs e outros ncRNAs,
Diversas são as evidências sobre os benefícios do TFA na proporcionou um avanço técnico e científico para a genética
IC, demonstrando que o mesmo é uma importante estratégia em sistemas biológicos.
não farmacológica coadjuvante no tratamento da IC, não
somente por promover importantes adaptações no controle MICRORNAS
neuro-hormonal29 e na função cardíaca,12 mas também por
Os miRNAs são moléculas de ácido ribonucleico (RNA)
propiciar diferentes adaptações bioquímicas, estruturais e
de fita simples, com um tamanho de aproximadamente 22
funcionais na musculatura esquelética10,11,41 melhorando a
nucleotídeos, não codificadores de proteínas, atuando princi-
tolerância aos esforços físicos, a qualidade de vida, dimi-
palmente na repressão da tradução de proteínas em plantas
nuindo as hospitalizações e a mortalidade desses pacientes.9
e animais. Os miRNAs regulam a atividade de até ~50%
O TFA atua de maneira significativa na redução da perda
do genoma humano46 e foram descritos por participarem
de massa muscular na IC. Ele promove melhoras significativas
na vasodilatação dependente do endotélio45 e aumento da de um amplo espectro de doenças humanas.17 Desde sua
densidade capilar na IC, além de aumentar a densidade descoberta em 1993, novos miRNAs tem sido identificados.
mitocondrial, a atividade de enzimas oxidativas, e promover A versão mais recente do banco de dados miRBase (v22,
adaptações importantes na regulação da massa muscular onde são catalogados todos os miRNAs descobertos) contém
na doença.9–11,41 38.589 entradas representando miRNAs precursores em
Em animais, observam-se níveis reduzidos de noradrena- hairpin de 271 organismos. Isso representa um aumento
lina muscular e estresse oxidativo associados à melhora da nas sequências de mais de um terço em relação à versão
capacidade de exercício e restabelecimento da troficidade anterior. Esses precursores em hairpin produzem um total
muscular.11 Essas melhoras são reconhecidas em diversas de 48.860 diferentes sequências maduras de miRNA. Os
etiologias da IC, tais como, infarto do miocárdio, transgênicos genomas de vertebrados contêm milhares de miRNAs, sendo
com hiperatividade simpática e estenose aórtica.10,12 Os be- que o genoma humano contém 1.917 precursores em hairpin
nefícios do treinamento podem ser visualizados na Figura 2. confirmados e 2.654 sequências maduras.47
Apesar desse importante papel do exercício na prevenção Os miRNAs são inicialmente transcritos como miRNAs
e no tratamento das DCV, os mecanismos envolvidos nestas primários (pri-miRNA) que serão clivados por uma enzima
alterações musculares não são totalmente compreendidos. endonuclease do tipo 3 conhecida como drosha, definindo
Além disso, muitos aspectos do desenvolvimento da HA na uma das extremidades do miRNA maduro, e formando o miR- 243
transição para a IC no nível molecular ainda são desconhe- NA precursor (pré-miRNA), que será transportado do núcleo
cidos. O advento do perfil transcricional usando microarrays para o citoplasma pela Exportina-5. Seguindo o transporte
de RNAs mensageiros (mRNA) e RNA-seq (RNA sequencing) para o citoplasma, os miRNAs são processados por outra
pelo aumento dos fatores de regulação miogênica como desenvolvimento da IC, e que o TFA promove um papel
MyoD, e desse modo, promoveriam o remodelamento da fundamental como terapia não farmacológica para estes
lesão ocasionado pela sessão de treinamento.52,58 pacientes e que as terapias gênicas com miRNAs podem
Por outro lado, o efeito crônico do exercício levou a uma representar novas estratégias no combate ao desenvolvi-
diminuição na expressão do miRNA-1 associada à hipertrofia mento e/ ou progressão da IC, se faz necessário aprofundar
muscular em favorecimento à expressão de genes importantes os estudos para adquirir mais conhecimento sobre quais
no crescimento muscular, como, c-Met, HGF e IGF-I.59 Além miRNAs são induzidos pelo TFA e quais estão relacionados
disso, o treinamento resistido com a ingestão de aminoáci- à proteção do sistema cardiovascular. Mais importante
dos também diminuiu a expressão do miRNA-1 em homens esses estudos podem orientar os cientistas em futuras
jovens.60 O IGF-I é um alvo do miRNA-1, o que pode explicar, terapias gênicas para o tratamento da IC, uma vez que
em parte, o fenótipo hipertrófico durante as respostas iniciais estes pacientes ainda apresentam um prognóstico ruim em
de sobrecarga advindas do treinamento físico.59 longo prazo. Embora sejam diversas as evidências sobre
Recentemente, nosso grupo tem investigado os efeitos os benefícios do TFA na IC, não somente por promover
do TFA sobre as alterações vasculares e musculares es- importantes adaptações na função e estrutura cardíaca,
queléticas induzidas pela IC de etiologia hipertensiva.27,28 mas também na musculatura, melhorando a tolerância aos
Observamos uma redução no VO2 pico acompanhada de esforços físicos, a qualidade de vida e a mortalidade desses
atrofia do músculo sóleo em SHR com nove meses de idade pacientes; poucos estudos foram publicados investigan-
e fração de ejeção preservada. A função vascular da artéria do o efeito do TFA na expressão de miRNAs no músculo
femoral foi semelhante em SHR e controles, no entanto, a esquelético em DCV. Esclarecer o papel do TFA como um
relação parede / lúmen aumentou na artéria femoral e na regulador de miRNAs em modelos de atrofia e disfunção
arteríola muscular acompanhada de rarefação capilar. Em metabólica muscular pode trazer novas respostas no que
contraste, o TFA promoveu redução da pressão arterial em concerne aos mecanismos chave da função, trofismo e
animais treinados. Além disso, o TFA corrigiu a redução do regeneração muscular. Desse modo, a identificação de perfis
VO2 pico, a perda de massa muscular e o remodelamento de miRNAs específicos para determinada patologia e em
microvascular nos animais com IC de etiologia hipertensiva tecido específico abre perspectivas para estudos futuros,
em direção aos níveis de controle. O TFA reduziu a expressão utilizando miRNAs como biomarcadores de diagnóstico
de 8 miRNAs (-96, -205, -182, -146b-5p, -140, -328a, -665, -1) clínico e como agentes terapêuticos.
e aumentou a expressão de 3 (-499, -208b e -99b) em SHR trei-
nados quando comparado com SHR sedentários. (Figura 3) AGRADECIMENTOS
O estudo de bioinformática para análise funcional dos ge- Os pesquisadores foram apoiados pela Fundação de
nes-alvo previstos para os 11 miRNAs restaurados pelo TFA Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - FAPESP 245
demonstrou enriquecimento de diferentes vias de sinalização, (2015/22814-5, 2015/17275-8 e 2017/24605-0), USP/PRP-
incluindo morte celular (valor de p <0,001) e desenvolvimento -NAPmiR, Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
vascular (valor de p <0,001).27,28 Assim, alvos envolvidos na e Tecnológico- CNPq (307591/2009-3 e 15982/2011-6) e
angiogênese e integridade vascular pela via VEGF (fator de Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
crescimento endotelial vascular) foram prejudicados na IC e Superior- Programas de Excelência Acadêmica (CAPES-
corrigidos pelo TFA. Os resultados corroboram a hipótese de -PROEX: 88887.484856/2020-00).
que as mudanças estruturais decorrentes da progressão da
HA podem ser reguladas por um conjunto de miRNAs e genes
alvo; e o TFA participa da restauração do remodelamento
vascular e muscular.
CONFLITOS DE INTERESSE
CONCLUSÃO Os autores declaram não possuir conflitos de interesse
Considerando que a HA afeta bilhões de pessoas em na realização deste trabalho.
todo o mundo, sendo a principal patologia associada ao
Figura 3. Impacto do treinamento físico aeróbio nos miRNAs em animais com IC hipertensiva.27,28
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Além disso, podem ter significativo comprometimento da Todos os artigos foram disponibilizados em inglês, 25%
qualidade de vida (QV) e experimentar sintomas associados foram publicados no ano de 2018 e 2019, 15% no ano de
à angústia psicológica, ansiedade, depressão, isolamento 2017 e 2020, e 10% no ano 2015 e 2016 cada. Dentre os
social e medo da morte.8,9 locais de publicação, houve destaque para Ásia e a América
Uma meta importante do tratamento da IC é preservar ou do Norte com 40% das publicações cada, seguido do con-
melhorar a QV, controlar os sintomas associados à doença e tinente Europeu com 15% e o continente Africano com 5%
promover atividades de vida útil. As medidas não farmacoló- das publicações. Quanto ao método, 83,3% eram ensaios
gicas podem favorecer o entendimento do paciente sobre o clínicos randomizados, sendo os demais em estudos quase
processo saúde-doença, a adaptação nas atividades da vida experimentais (16,7%).
diária, a melhora às medidas farmacológicas, assim como o Após a leitura e análise, os dados foram sintetizados e
desempenho físico e mental no manejo da IC.10-13 distribuídos em cinco categorias: 1) Uso da educação em
Nesta perspectiva, surgiu a seguinte questão norteadora saúde no manejo da IC (conversas terapêuticas, entrevis-
para este estudo: Quais práticas não farmacológicas vêm tas motivacionais, diálogo entre pacientes e enfermeiros);
sendo realizadas para auxiliar no manejo da IC? 2) Educação em saúde com auxílio da tecnologia (Teleenfer-
Diante do exposto, o objetivo deste estudo foi identificar magem, telemonitoramento, telefonemas, SMS, aplicativos
e analisar artigos científicos publicados nos últimos cinco educacionais interativos); 3) Gestão do cuidado e as Práticas
anos sobre as práticas não farmacológicas no manejo da Avançadas de Enfermagem; 4) Psicointervenções (espiri-
insuficiência cardíaca. tualidade, religiosidade, terapia cognitivo comportamental);
5) Cuidados Paliativos para IC.
MATERIAL E MÉTODO
Categoria 1: Uso da educação em saúde no
Trata-se de uma revisão narrativa da literatura, que possui
manejo da IC
a finalidade de reunir conhecimentos sobre determinado
assunto, além de sintetizar e resumir publicações científicas, A partir da descrição dos resultados e categorização
proporcionando aos leitores a compreensão atual sobre a proposta no método foram destacados sete estudos para a
temática sob o ponto de vista teórico ou contextual.14 análise do aspecto educacional no que concerne ao manejo
O levantamento dos artigos científicos foi realizado nas não farmacológico da IC. (Tabela 1)
bases de dados EBSCO, CINAHL, EMBASE, PUBMED, CO- Cada vez mais estudos tem abordado a importância da
CHRANE, WEB OF SCIENCE e LILACS, a partir da seguinte educação em saúde no manejo de doenças crônicas, o que
questão norteadora: Quais práticas não farmacológicas vêm favorece o autocuidado e as pesquisas demonstram que
sendo realizadas para auxiliar no manejo da IC? as orientações realizadas pelos enfermeiros são práticas
frequentes para pacientes com IC, tanto no ambiente hospi-
249
O acesso às bases de dados ocorreu entre os dias 01 e
talar, desde a internação no momento da admissão até a alta
04 de maio de 2020. Os descritores “heart failure”, “nursing
oferecendo orientações ao paciente e familiares, assim como
care” e “quality of life” foram utilizados para o levantamento
nas visitas domiciliares auxiliando e favorecendo a adesão
dos artigos e selecionados de acordo com os Descritores
ao tratamento não farmacológico para IC.16,17
em Ciências da Saúde (DECS) e no Medical Subject Heading
Um ensaio clínico randomizado (ECR) dinamarquês com
(MeSH). Foram incluídos trabalhos publicados entre os anos
o objetivo de verificar o efeito das conversas terapêuticas
de 2015 a 2020, disponíveis em bases eletrônicas de aces-
de enfermagem nas questões relacionadas à saúde, QV,
so público, com acesso gratuito e na íntegra, nos idiomas
autocuidado e depressão em 347 pacientes, mostrou eficácia
português e inglês. Artigos de revisão, teses, dissertações,
da terapêutica na melhora da QV, autocuidado e depressão.
editoriais, debates e resenhas foram excluídos do estudo.
Todavia, os autores enfatizaram que a intervenção reduziu o
Após aplicados os critérios de exclusão, foram realizadas
número de casos novos de hospitalização por IC.18
leituras dos títulos e resumos dos artigos a fim de refiná-los
Um estudo chinês para avaliar o efeito de uma inter-
para a composição final da amostra. Foram excluídos os
venção de enfermagem embasada em teorias de mudança
artigos duplicados e aqueles que não se relacionavam à
comportamental com relação a autoeficácia e autogestão,
temática. Visando a descrição do processo de busca, utili-
dividiu 86 pacientes com IC em grupo controle e grupo
zou-se o fluxograma Preferred Reporting Items for Systematic
intervenção, sendo que este último recebeu a educação
Review and Meta-Analyses (PRISMA) de forma adaptada neste
em saúde com base em teorias de mudança compor-
estudo, para a nortear a seleção dos estudos15. (Figura 1)
tamental aliada à intervenção de enfermagem rotineira,
Posteriormente os vinte artigos selecionados foram lidos
pautada no conhecimento da doença, autogestão diária,
na íntegra, analisados quanto ao ano, objetivos, metodologias, orientações e exercícios físicos. Os resultados mostraram
resultados e conclusão. Foram organizados em quadros de que a educação em saúde baseada em teorias de mu-
acordo com a temática principal abordada por categoria e dança comportamental pôde aliviar os sintomas de IC,
distribuídos segundo título, ano, objetivo e aspectos-chave. melhorar o nível de autoeficácia, capacidade de autoge-
renciamento e satisfação do paciente, de modo a refletir
RESULTADOS E DISCUSSÃO a melhora da QV dos pacientes do grupo intervenção
Buscando responder à pergunta norteadora do presente após oito semanas.19
estudo: quais práticas não farmacológicas vêm sendo reali- Quanto maior índice de conhecimento do paciente sobre
zadas para auxiliar no manejo da IC, um total de 20 artigos a IC melhor será a adesão ao tratamento medicamentoso e
foram incluídos no estudo e analisados na íntegra. o manejo não farmacológico. Deste modo, a baixa literária
WEB OF
EBSCO CINAHL EMBASE PUBMED COCHRANE LILACS
SCIENCE
131 37 769 218 398 03
109
Resultados Resultados Resultados Resultados Resultados Resultados
Resultados
Duplicatas removidas
(N = 206 artigos)
Triagem
Figura 1. Fluxograma de seleção dos estudos. Ribeirão Preto (SP), Brasil, 2020.
(conhecimento insuficiente) sobre a doença pode ser com baixo conhecimento, como a utilização de vocabulário
relacionada com maior índice de mortalidade e internações adequado aos níveis de conhecimento, comunicação visual
hospitalares por descompensação da IC.20 e feedback contínuo.22
O enfermeiro possui importante papel nesse contexto,
pois, por meio de estratégias educativas, pode estabele- Categoria 2: Educação e abordagens em saúde
cer intervenções adequadas ao tratamento, favorecendo com auxílio da tecnologia
a compreensão da doença, maior adesão terapêutica e A educação em saúde realizada por meio de tecnologias
autocuidado em relação à IC.17 O principal objetivo da edu- foi abordada por seis estudos como uma alternativa no manejo
cação em saúde ao paciente com IC é que ele compreenda a não farmacológico da IC. (Tabela 2).
importância da adesão ao tratamento e os sinais e sintomas Atividades como telefonemas, mensagens de texto por
da descompensação.21 SMS, telemonitoramento, teleenfermagem, suporte telefônico
Portanto a educação em saúde pode impactar de ma- e uso de aplicativos interativos para acompanhamento de
neira positiva à adesão ao tratamento da IC para pacientes sintomas surgiram como medidas que favoreceram a redução
Tabela 1. Distribuição dos artigos que abordaram o uso da educação em saúde no manejo da insuficiência cardíaca, segundo título,
autores, ano, objetivo e aspectos-chave, 2020.
Categoria 1: uso da educação em saúde no manejo da IC
Título, autores e ano Objetivo Aspectos-chave
The effect on patient outcomes of a
O programa de assistência educacional
nursing care and follow-up program Investigar os efeitos de um programa de assistência
de enfermagem foi recomendado para
for patients with heart failure: A educacional de enfermagem sobre fadiga e
aliviar a fadiga e melhorar a qualidade
randomized controlled trial qualidade de vida em pacientes com insuficiência
de vida em pacientes com insuficiência
Sezgin D, Mert H, Ozpelit E, Akdeniz B cardíaca
cardíaca.
Ano: 2017
Effect of family nursing therapeutic
conversations on health-related
quality of life, self-care and
Avaliar os efeitos a curto prazo (três meses) Abordar o impacto da IC na família,
depression among outpatients with
das conversas terapêuticas de enfermagem pode melhorar a auto-eficácia,
heart failure: A randomized multi-
da família na qualidade de vida relacionada à limitação social e carga de sintomas em
centre trial
saúde, autocuidado e depressão em pacientes pacientes com insuficiência cardíaca.
Ostergaard B, Mahrer-Imhof R,
ambulatoriais com insuficiência cardíaca (IC).
Wagner L, Barington T, Videbæk L,
Lauridsen J
Ano: 2018
Effect of Health Education Based
on Behavioral Change Theories on A educação em saúde baseada em
Explorar o efeito da educação em
Self-Efficacy and Self-Management teorias de mudança comportamental
saúde e do modelo de intervenção
Behaviors in Patients with Chronic pode aliviar os sintomas de ICC e
de enfermagem baseado em teorias de mudança
Heart Failure melhorar o nível de autoeficácia,
comportamental sobre comportamentos de
Yu H, Zhang P, Wang X, Wang Y, capacidade de autogerenciamento e
autoeficácia e autogestão em pacientes com ICC
Zhang B satisfação do paciente.
Ano: 2019
Os pacientes que receberam a
intervenção de entrevista motivacional
tiveram significante e clinicamente 251
Motivational interviewing to
significativa melhorias na manutenção
improve self-care for patients
Testar a eficácia de uma entrevista motivacional sob do autocuidado da IC em mais de 90
with chronic heart failure: MITI-HF
medida intervenção versus cuidados usuais para dias;
randomized controlled trial
melhorar os comportamentos de autocuidado da
Masterson Creber R, Patey M, Lee
IC, sintomas físicos da IC e qualidade da vida. Implicações da prática: Esses dados
CS, Kuan A, Jurgens C, Riegel B
apoiam o uso de uma intervenção
Ano: 2016
de Entrevista motivacional liderada
por uma enfermeira para melhorar o
autocuidado da IC.
Os diálogos entre enfermeiros e
Dialogues between nurses, patients Descrever a documentação dos enfermeiros sobre o pacientes com IC descreveram que,
with heart failure and their partners conteúdo em uma intervenção psicoeducacional durante as sessões, adquiriram maior
during a dyadic psychoeducational inspirada no modelo de Stuifbergen, abordando conhecimento e maior confiança
intervention: a qualitative study as necessidades cognitivas, de suporte e para lidar com a situação da vida e
Maria L, Susanna A, Tiny J, Anna S comportamentais das díades parceiro-paciente expressaram que precisavam de apoio
Ano: 2017 afetadas por IC psicoeducacional durante toda a
trajetória da doença.
Usefulness of a Nurse-Led Program Determinar se um programa de cuidados
of Care for Management of Patients conduzido por enfermeiros pode melhorar a adesão Mostrou-se uma abordagem
with Chronic Heart Failure à medicação, qualidade de vida (QV), as taxas de re- econômica e viável para o
You J, Wang S, Li J, Luo Y. hospitalização e mortalidade por qualquer causa manejo de pacientes com IC na China.
Ano: 2020 em pacientes com IC
Application of self-care based on
full-course individualized health
A intervenção com base em
education in patients with chronic Investigar a aplicação do autocuidado com base em
autocuidado e educação em saúde
heart failure and its influencing estudos individualizados educação em saúde e seus
melhorou o comportamento de
factors fatores de influência em pacientes com doenças
autocuidado e a função cardíaca em
Jing S, Zhi-Wei Z, Yue-Xian M, Wei crônicas insuficiência cardíaca (ICC).
pacientes com ICC.
L, Chun-Ying W
Ano: 2019
em dias de internações, consequente diminuição dos custos O uso de tablets, por exemplo, pode ser capaz de reduzir
com os serviços de saúde, melhoria do conhecimento sobre os dias de internação por complicações de IC, melhorar a
IC, melhoria no comportamento de autocuidado e QV dos QV e a função física relacionada à IC. Já o uso do telemo-
portadores de IC.23,24 nitoramento em domicílio pode proporcionar aumento dos
Os aplicativos de saúde para smartphones estão sendo
cuidados de saúde e satisfação do cliente durante e após
cada vez mais usados para auxiliar pacientes no autoge-
contatos telefônicos realizados por enfermeiros.26
renciamento de doenças crônicas. O uso destes aplicativos
tem atraído interesse considerável de pacientes e gestores Um número crescente de pacientes com insuficiência
de saúde como forma de promover um autogerenciamento cardíaca crônica (ICC) que vive em áreas remotas, longe dos
mais eficaz de doenças crônicas, proporcionando melhores grandes centros, tem exigido o desenvolvimento de sistemas
resultados para a saúde.25 de atendimento eficazes e convenientes. Os modelos de
telessaúde abarcam esta ideia e são capazes de aproximar (caseload), autonomia para referenciar e contrareferenciar
o paciente do profissional de saúde por atendimento virtual.27 usuários com doenças indiferenciadas e/ou condições
Em um estudo realizado em Montreal no Canadá, usando crônicas estabelecidas. Essas atividades requerem amplo
um aplicativo denominado “CardioHF”, um dispositivo móvel debate no contexto nacional, visto que no Brasil ainda existe
disponível por meio de uma plataforma de comunicação com a necessidade de amparo jurídico e formativo que viabilize a
inteligência artificial, quantificou pacientes com IC de maneira licença, certificação e registro para que o profissional possa
eficiente e precisa, de acordo com a gravidade dos sintomas, desempenhar essas atividades clínicas.30
o que melhorou a QV, adesão a medicamentos, autogestão Dentre essas atividades, no contexto da IC, torna-se
e reduziu hospitalizações por complicações de IC.28 imprescindível que o enfermeiro seja o primeiro ponto de
Outro estudo que teve como objetivo identificar aplicativos referência e se responsabilize por um conjunto de indivíduos
de IC e avaliar se eles cumpriam os critérios para o auto- com essa condição.31
cuidado mostrou a deficiência dessa tecnologia no ensino Em um estudo realizado em um hospital Tailandês, con-
de idosos. Dos 74 aplicativos avaliados, apenas 21 foram cluiu que os participantes com IC que receberam um progra-
listados como sendo específicos para IC e autocuidado.29 ma de cuidados continuados conduzidos por prática avan-
No Brasil, intervenções baseadas em tecnologias digitais, çada de enfermagem obtiveram resultados estatisticamente
como uso de aplicativos, telemonitoramento e atenção básica melhores, referente ao estado funcional e a QV, melhoria nos
via ligações telefônicas, têm sido apontadas como estratégias cuidados de maneira geral, redução da sintomatologia. O
úteis para acompanhar a adesão do paciente ao tratamento estudo comprovou também aumento significativamente maior
e ao autocuidado como uma abordagem de tratamento não da satisfação do paciente com os cuidados de enfermagem
farmacológica dentro dos programas multidisciplinares de
no grupo de intervenção e redução do tempo de hospitali-
cuidados aos pacientes com IC.1
zação e custos com a internação.32
Categoria 3: Gestão do Cuidado e as Práticas No manejo da IC requer do enfermeiro, não só a apro-
priação dos aspectos biológicos que interferem no cuidado,
Avançadas de Enfermagem
como: fisiopatologia, mecanismo de ação dos medicamentos
A gestão do cuidado e as práticas avançadas de enfer- e curso natural da doença,31 Requer também o domínio
magem foram identificadas em um único estudo conforme dos aspectos psicossociais que permeiam o contexto dos
a Tabela 3. indivíduos acometidos e suas famílias, além da apropriação
As práticas avançadas de enfermagem surgem como dos mecanismos de regulação presentes na rede de atenção
novas possibilidades ao cuidado de enfermagem prestado
à essa condição crônica.
ao paciente com IC. A aplicação dessa metodologia requer
A prática avançada de enfermagem deve permear por
o desenvolvimento de competências de gestão do cuidado 253
aquisição de competências relacionadas à prática clínica;
que aperfeiçoem a condução de projetos terapêuticos e
formação; pesquisa e desenvolvimento profissional e or-
assistenciais. Para tal, o enfermeiro deve apresentar habili-
ganizacional.33 Estratégias que reafirmam a necessidade
dades cognitivas, psicomotoras e atitudinais que possibilitem
de investimentos para a aquisição das habilidades para
a autonomia do cuidado, a tomada de decisão e a corres-
o desenvolvimento de ações de enfermagem que visam
ponsabilidade com a equipe multiprofissional no processo
o manejo de condições complexas, como no caso da IC.
de avaliação, diagnóstico, prescrição e implementação de
ações e planos assistenciais.30
Categoria 4: Psicointervenções, espiritualidade e
Para o desenvolvimento das práticas avançadas de en-
fermagem é necessário a implementação de sete atividades
religiosidade, terapia cognitivo comportamental
clínicas, que não estão usualmente relacionadas com aquelas Cinco estudos apontaram as seções de relaxamento
já existentes, específicas da prática cotidiana da enfermagem, muscular, uso de sons da natureza, práticas voltadas para
estas atividades incluem: a autonomia para prescrever (exceto o fortalecimento da espiritualidade e religiosidade assim
a prescrição de medicamentos ou dispositivos de venda livre), como o uso da terapia cognitivo comportamental (TCC)
autonomia para solicitar exames médicos e dispositivos, como práticas não farmacológicas que auxiliaram na redução
autonomia para realizar diagnóstico ou avaliação avançada dos dias de internação hospitalar, melhora nos sintomas de
na saúde, autonomia para indicar tratamentos médicos e fadiga, na forma de lidar com a IC, aceitação da condição e
terapias, responsabilidade sobre um conjunto de usuários promoção da QV. (Tabela 4)
Tabela 3. Distribuição do artigo que aborda a gestão do cuidado e as práticas avançadas de enfermagem, segundo título, autores, ano,
objetivo e aspectos-chave, 2020.
Categoria 3: gestão do cuidado e as práticas avançadas de enfermagem
Título, autores e ano Objetivo Aspectos-chave
Outcomes of an Advanced Practice
Nurse-Led Continuing Care Program in
Comparar os resultados de pessoas com IC O Programa de Cuidados Continuados
People with Heart Failure
que receberam o Programa de Cuidados Conduzidos por Enfermeiros de Prática
Continuados, liderado por enfermeiros de Avançada foi promissor para melhorar
Jittawadee R, Porntip M, Supreeda M,
prática avançada e aqueles que receberam os os resultados de cuidados baseados na
Kathleen M, Chukiat V, Srun K
cuidados habituais população para pessoas com IC.
Ano: 2019
Fonte: dados da pesquisa 2020.
Um estudo observacional realizado em regime ambu- de uma construção holística de atenção à saúde envolvendo
latorial demonstrou diminuição do estresse e da incidência pacientes com doença cardiovascular.37,38
de eventos cardiovasculares, melhora na quantidade e qua- Em um estudo de revisão que buscou examinar a asso-
lidade dos exercícios, redução da frequência cardíaca, da ciação entre a religiosidade e a espiritualidade com a QV em
pressão arterial, do peso, da circunferência abdominal, do pacientes com doença cardiovascular, verificou associação
número de hospitalizações recorrentes, da incidência de positiva e significativa, com maior bem-estar espiritual e
arritmias cardíacas e da mortalidade cardiovascular entre positivamente relacionado ao bem-estar mental e emocional
pacientes que receberam terapias alternativas baseadas em nos pacientes que tinham maior frequência aos encontros
meditação e yoga. O estudo concluiu que as terapias não religiosos. O estudo conclui também que a TCC é um método
farmacológicas aliadas ao aconselhamento de dieta saudável alternativo não farmacológico de tratamento para depressão
e gestão do estresse têm papel fundamental na prevenção em pacientes com IC, tendo em vista que a depressão é uma
de complicações da IC.34 comorbidade comum apresentada em pacientes com IC.39
Outro estudo randomizado indiano concluiu que a adição
de yoga aos cuidados médicos farmacológicos para pacientes Categoria 5: Cuidados paliativos para insuficiência
com IC melhoraram significativamente a QV dos pacientes. cardíaca
Neste estudo, os pacientes com IC praticaram yoga uma Um estudo abordou a importância dos CP no manejo
hora por dia, durante 12 semanas.35 da IC. (Tabela 5).
Reconhecer o bem-estar espiritual em pacientes com IC Os CP são cuidados são reservados para pacientes
pode aliviar o sofrimento e levar a uma QV melhorada, além com expectativa de vida de seis meses ou menos podem
da redução na utilização de recursos de saúde.36 Atualmente ser fornecidos a qualquer paciente com uma doença que
tem-se destacado a importância de incluir os aspectos es- limita a vida e combina assistência médica, controle da dor
pirituais, religiosos e culturais na vida das pessoas, dentro e apoio emocional e espiritual. Concentra-se no conforto e
Tabela 5. Distribuição do artigo que aborda os cuidados paliativos, segundo título, autores, ano, objetivo e aspectos-chave, 2020.
Categoria 5: Cuidados paliativos para ic
Título, autores e ano Objetivo Aspectos-chave
In patient Palliative Care for Patients
with Acute Heart Failure: Outcomes from Avaliar se CP para pacientes internados com Um modelo de CP hospitalar para
a Randomized Trial IC esteve associado a melhorias na carga de pacientes com IC aguda está associado
Sidebottom AC, Jorgenson A, Richards H, sintomas, sintomas depressivos, QV ou uso à melhora em curto prazo da carga de
Kirven J, Sillah A diferencial dos serviços. sintomas, QV e sintomas depressivos.
Ano: 2015
Fonte: Dados da pesquisa 2020.
na QV quando a cura não é mais possível. É um modelo de ao autocuidado e adesão ao tratamento, acarretando em
atendimento centrado no paciente e baseado em cuidados redução das taxas de readmissão hospitalar.
prestados pela equipe multiprofissional. Sua eficácia é com- As práticas avançadas de enfermagem surgiram ainda
provada em pacientes com IC, reduzindo a carga de sintomas, como método, ao desenvolvimento de competências de gestão
principalmente dor e depressão, e melhorando a QV.40,41 do cuidado, capazes de otimizar o manejo da IC acarretando
Um estudo que procurou avaliar a necessidade de CP em melhorias nos resultados de cuidados. Intervenções não
em pacientes com ICC avançada, internados em uma enfer- convencionais, tais como psicoterapias e yoga, podem con-
maria cardiológica de um hospital terciário, concluiu que 55% tribuir com a prevenção de agravos da doença. Em relação
dos pacientes portadores de IC classes III-IV, que possuem aos cuidados paliativos, sua eficácia é comprovada por meio
limitações moderadas a graves à esforços, teriam indicação da redução da carga de sintomas de IC e melhora da QV.
de CP para o alívio do sofrimento provocado pela doença.42 Por fim, os resultados do presente estudo mostraram que
Diretrizes internacionais de prática clínica também reco- a literatura científica dispõe de diversas evidências sobre as
mendam que os pacientes com IC recebam CP em tempo abordagens não farmacológicas para o manejo da IC entre
hábil e de alta qualidade,43 entretanto os CP ainda enfren- pacientes adultos e idosos.
tam barreiras na IC devido as características específicas da Tais achados demonstraram que práticas voltadas para a
doença, tais como fadiga, intolerância aos esforços, falta de educação em saúde, uso das tecnologias, gestão de enferma-
ar ao deitar, inchaço dos membros inferiores ou abdome.44 gem, prática avançada de enfermagem, psicointerevenções e
cuidados paliativos podem ser estratégias eficazes no manejo
CONSIDERAÇÕES FINAIS da IC. Responderam completamente à pergunta de pesquisa,
O manejo da IC envolve uma rede interdisciplinar de que por sua vez, poderá contribuir para a melhoria no manejo 255
cuidados, além da continuidade das terapêuticas farmacoló- não farmacológico à IC, melhora da QV, redução dos gastos
gicas e da implementação de estratégias não farmacológicas públicos em saúde, redução das taxas de hospitalização e
para a promoção da QV e da manutenção das atividades mortalidade por complicações da IC.
de vida diária. Dentre as abordagens não farmacológicas,
a educação em saúde pode impactar de maneira positiva à
adesão ao tratamento da IC e melhorar o nível de autoeficácia
e capacidade de autogerenciamento da doença. No processo CONFLITOS DE INTERESSE
educativo, as tecnologias em saúde foram abordadas como Os autores declaram não possuir conflitos de interesse
alternativa promissora no manejo não farmacológico da na realização deste trabalho.
doença, com destaque para as intervenções associadas
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SAVOR-TIMI 53
Saxagliptina
n = 16.492
Inibidores da DPP4
PIONEER HARMONY
Semaglutida Outcomes
Inibidores de SGLT2 n = 3.176 Albiglutida
n = 9.400
Agonistas dos receptores
de GLP-1
Insulina DPP4 - dipeptidil peptidase 4; GLP-1 - peptídeo 1 semelhante ao glucagon; SGLT2 - co-transportador
de sódio-glicose do tipo 2. Adaptado de Cefalu et al. 2018 (17).
Figura 1. CVOTs concluídos e em andamento dos novos medicamentos hipoglicemiantes em pacientes diabéticos ou não diabéticos.
259
Inicialmente, os estudos que suportam as diretrizes de também foram observados no estudo SUSTAIN-6 (Trial do
tratamento se concentraram em avaliar a incidência de even- Evaluate Cardiovascular and Other Long-term Outcomes With
tos cardiovasculares adversos maiores (MACE, do inglês Semaglutide in Subjects With Type 2 Diabetes), após adminis-
Major Adverse Cardiovascular Events), como o infarto do tração do GLP-1RA semaglutida em pacientes com DM2.26
miocárdio não-fatal, o acidente vascular cerebral (AVC) e No entanto, a administração da liraglutida em pacientes
a morte de causa cardiovascular.17 No entanto, haja vista a hospitalizados com IC avançada e FEVE reduzida (~25%)
alta ocorrência, os eventos de IC também passaram a ser foi associada à efeitos neutros sobre morte cardiovascular e
avaliados nos CVOTs.18 Embora o efeito cardiovascular da taxas de reinternação em comparação ao placebo.27
insulina basal ainda não esteja claro, há preocupações em Diferente dos estudos descritos acima, os inibidores de
relação ao agravamento da IC em pacientes diabéticos.19,20 SGLT2 são a primeira classe de medicamentos hipoglicemian-
tes a mostrar reduções significativas de morte cardiovascular
Já os estudos SAVOR-TIMI 53 (Saxagliptin and Cardiovascular
e de hospitalização por IC nos CVOTs.7-9,28,29 O estudo EMPA-
Outcomes in Patients with Type 2 Diabetes Mellitus),21 EXAMINE
-REG OUTCOME (Empagliflozin Cardiovascular Outcome Event
(Examination of Cardiovascular Outcomes with Alogliptin Versus
Trial in Type 2 Diabetes Mellitus Patients) randomizou 7.020
Standard of Care in Patients with Type 2 Diabetes Mellitus
pacientes com DM2 e doença cardiovascular (~10% com IC
and Acute Coronary Syndrome),22 TECOS (Trial Evaluating
estabelecida) a 10 ou 25 mg de empagliflozina versus place-
Cardiovascular Outcomes with Sitagliptin)23 e CARMELINA bo. Em comparação com o placebo, os pacientes tratados
(Cardiovascular and Renal Microvascular Outcome Study com empagliflozina apresentaram redução de MACE de três
With Linagliptin in Patients With Type 2 Diabetes Mellitus)24 pontos [HR 0,86 (IC 95%, de 0,74-0,99)] e de 35% no risco de
demonstraram que os inibidores da DPP4 não apresentaram hospitalização por IC. Esses resultados foram observados nos
efeitos cardiovasculares benéficos nos pacientes com DM2 três primeiros meses após a randomização e se mantiveram
quando comparados ao grupo controle. Além disso, a sa- até o final do estudo (duração média de 3,1 anos). Cabe
xagliptina e a alogliptina foram associadas ao aumento do ressaltar que a redução do risco de hospitalização por IC foi
risco de hospitalização por IC.21,22 semelhante entre os pacientes com ou sem histórico de IC;7
Em contraste, o estudo LEADER (Liraglutide Effect and no entanto, a maioria dos pacientes não apresentavam IC
Action in Diabetes: Evaluation of Cardiovascular Outcome no início do estudo, sugerindo que o resultado observado é
Results) demonstrou que a administração do GLP-1RA lira- atribuído ao efeito primário de prevenção da IC.
glutida reduziu os eventos cardiovasculares em 13% e não O segundo estudo que demonstrou efeitos cardiovas-
aumentou o risco de hospitalização por IC de pacientes com culares benéficos dos inibidores de SGLT2 foi o CANVAS
DM2 e risco cardiovascular aumentado.25 Efeitos favoráveis Program [CANVAS (Canagliflozin Cardiovascular Assessment
↓ Volume
↑Autofagia extracelular
das células ↓ Pressão
cardíacas e arterial
renais
Inibição
do NHE1
no coração ↓ Rigidez
↓ Sódio e cálcio arterial
intracelular
↑ Formação
de corpos ↑ Ang 1-7
cetônicos Ativação de
↑ substrato AT2
energético
Inibição do
↓ Hipertrofia
NHE3
do VE
↓ reabsorção de
↓ Fibrose
sódio no TP
261
Ang 1-7 - angiotensina 1-7; AT2 - receptores de angiotensina II do tipo 2; NHE - trocador de sódio-hidrogênio;TP - túbulo proximal; VE - ventrículo esquerdo.
Figura 2. Potenciais mecanismos dos inibidores de co-transportador de sódio-glicose do tipo 2 (SGLT2) na insuficiência cardíaca.
A inibição do SGLT2 também está associada à diminuição no túbulo proximal induzida pela inibição do trocador de
da pressão arterial sistólica (~4 a 6 mmHg) e diastólica sódio-hidrogênio 3 (NHE3).35 Estudo prévio do nosso grupo
(~1 a 2 mmHg) e, consequentemente, redução da pós-carga forneceu a primeira evidência de que o SGLT2 e o NHE3
cardíaca, aumentando o fluxo sanguíneo coronariano e a podem interagir funcional e fisicamente.36 Além disso, nós
contratilidade.11,32 Ademais, foi demonstrado que os inibidores demonstramos que a expressão e a atividade do NHE3
de SGLT2 reduzem a rigidez arterial, diminuindo a pós-carga e estão aumentadas em ratos com IC.37 Resultados similares
aumentando do fluxo sanguíneo do miocárdio.32 Em conjunto, foram observados em modelos experimentais de diabe-
esses efeitos contribuem para melhoria do desempenho tes.38,39 Portanto, acreditamos que a regulação negativa do
cardíaco e, por fim, redução de eventos de IC.11 NHE3 pelos inibidores de SGLT2 pode prevenir a retenção
A contração do volume extracelular também pode au- de sal, a expansão do volume extracelular e o aumento da
mentar a atividade sistêmica do sistema renina angiotensina pressão arterial em pacientes com IC, com ou sem DM2,
(SRA), que poderia agravar as doenças cardiovasculares contribuindo para redução da mortalidade cardiovascular e
devido à ativação dos receptores de angiotensina II do tipo hospitalização por IC.
1 (AT1).33 No entanto, nos estudos EMPA-REG OUTCOME e A inibição do SGLT2 também está associada aos efei-
CANVAS Program, a maioria dos pacientes foi tratada com tos benéficos no remodelamento cardíaco. No modelo de
os inibidores da enzima conversora de angiotensina (ECA) ratos não diabéticos com ICFEp, a empagliflozina reduziu a
ou bloqueadores dos receptores AT1.7,8 Assim, a hipótese é massa ventricular esquerda, melhorou a função diastólica e
de que os inibidores de SGLT2 atuam por meio das vias não aumentou hematócrito.40 Já no modelo de camundongos com
clássicas do SRA, ativando os receptores de angiotensina sobrecarga de pressão, a dapagliflozina melhorou a função
II do tipo 2 (AT2) e estimulando a via da angiotensina.1-7 sistólica e diminuiu a fibrose do miocárdio.41 Recentemente,
Essas respostas podem levar à vasodilatação e aos efeitos o estudo EMPA-HEART (Effects of Empagliflozin on Cardiac
inotrópicos positivos, anti-arrítmicos e anti-inflamatórios,34 Structure in Patients with Type 2 Diabetes) demonstrou que
que podem contribuir para a melhora da função cardíaca e a administração de 10 mg empagliflozina por seis meses
redução de morte súbita. diminuiu a massa do ventrículo esquerdo de pacientes com
Recentemente, nós postulamos a hipótese de que o DM2 e doença arterial coronariana. É importante ressaltar que
mecanismo pelo qual a inibição do SGLT2 medeia a contra- a diminuição da massa foi mais acentuada em pacientes com
ção volêmica é devido à redução da reabsorção de sódio maior grau de hipertrofia cardíaca no início do tratamento.42
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ambulatorial com supervisão continuada, por profissional Evidências atuais demonstram que a RCV baseada em
especializado (fisioterapeuta e/ou educador físico).5 Atende exercícios intra-hospitalar deve ser iniciada 12 a 24 horas em
imediatamente os pacientes liberados da fase II, mas pode pacientes com doença cardiovascular, desde que o paciente
ser iniciada em qualquer etapa da evolução da doença, não esteja estável do ponto de vista hemodinâmico e elétrico.11
sendo obrigatoriamente sequência das fases anteriores. O atraso de uma semana no início do programa de RCV
Este artigo tem como objetivo abordar as diferentes fases exige um mês adicional de treinamento para alcançar os
da RCV baseada em exercício físico e suas particularidades mesmos resultados.12 Dessa forma, é importante diminuir
em pacientes com insuficiência cardíaca (IC). as barreiras de acesso ao início da mobilização precoce e
início seguro da RCV fase I (intra-hospitalar). Segundo as
FASE I / INTRA-HOSPITALAR recomendações do American College of Sports Medicine,13
A fase I, ou fase intra-hospitalar, compreende um pro- a prescrição de exercício na reabilitação cardiovascular fase
grama de intervenção que inclui o exercício físico, e deve ser I deve ser individualizada, independente do paciente com
iniciada imediatamente após o paciente ter sido considerado IC ser clinico ou cirúrgico, devendo ser monitorizado com
clinicamente compensado, como decorrência do tratamento relação sinais vitais e intolerância ao exercício.14-17 (Tabela 1)
clínico e/ou intervencionista.5 Nesta fase objetiva-se: reduzir O programa de exercício físico supervisionado realizado
os efeitos deletérios do repouso no leito, melhorar as condi- durante a fase de internação deve ser imediatamente inter-
ções físicas e psicológicas, orientação quanto a necessidade rompido na presença de sinais de intolerância ao exercício,
de mudança de estilo de vida saudável e prática de exercício baixo débito cardíaco (cianose, palidez, náuseas), bradicardia,
físico, restaurando capacidade funcional com consequente uma queda na pressão arterial sistólica> 15 mmHg, em com-
redução na mortalidade hospitalar. Recente Diretriz Brasileira paração à linha de base, um aumento excessivo na pressão
de Reabilitação Cardiovascular5 propõe-se que a equipe de arterial sistólica definida como> 200 mmHg, aumento da
atendimento deve ser composta por, pelo menos, médico, pressão arterial diastólica durante o exercício> 110 mmHg),
fisioterapeuta e enfermeiro, capacitados para atuar em RCV. dor no peito, fadiga nominal ≥ 6/10 na percepção do esforço
percebido de Borg, e / ou sinais eletrocardiográficos de
Insuficiência cardíaca: particularidades na isquemia cardíaca ou arritmias ventriculares.11,16,17
prescrição do exercício físico Apesar de fortes evidências para RCV baseada em exer-
cício físico em pacientes com IC avançada, a maioria das
Pacientes com insuficiência cardíaca (IC) apresentam
pesquisas até hoje se concentrou em modelos de reabilitação
dispneia e fadiga como principais manifestações clínicas
ambulatorial.1,18 A literatura disponível permanece limitada,
da doença, o que gera substancial intolerância ao exercício
pouco foi investigado sobre a RCV baseada em exercício de
físico e prejuízos na capacidade funcional. Além do com- 265
pacientes hospitalizados na fase aguda. Arena et al.,19 reali-
prometimento cardiovascular, esta síndrome clínica envolve
zaram um dos primeiros estudos envolvendo RCV baseado
também os sistemas neuro-hormonal, musculoesquelético e
em exercício em pacientes com IC hospitalizado a espera de
imunológico.6 Diversos fatores estão envolvidos nesta fisio-
transplante cardíaco utilizando suporte inotrópico positivo;
patologia, dentre eles: hipoperfusão periférica, redistribuição
demonstraram em um estudo de caso que o exercício físico
do fluxo sanguíneo, acentuada resposta vasoconstritora,
foi seguro e efetivo no pré-operatório de transplante cardíaco.
desequilíbrio simpato-vagal, estresse oxidativo, aporte nutri-
cional deficitário, estado inflamatório persistente, excessivo Tabela 1. Prescrição de exercício físico na fase hospitalar do programa
recrutamento ventilatório e disfunção muscular periférica.7,8 de RCV para pacientes com insuficiência cardíaca.
Apesar de o exercício físico ser amplamente estabelecido Exercícios globais: caminhada,
e recomendado para pacientes com IC,9 na prática clínica subir escadas, bicicleta
a implementação da reabilitação cardiovascular baseada Programa de Exercícios : estacionária.
em exercícios durante a internação hospitalar, torna-se um Incremento progressivo.
desafio, principalmente para aqueles pacientes em que o Tempo total: 20 minutos
surgimento de dispneia e fadiga muscular precoce se tornam
Forma intermitente: 3 a 5 min de
as principais barreiras para a prática do mesmo. Duração: exercício e 1 a 2 min de descanso
Na literatura, sabe-se que o imobilismo prolongado no
Monitorização: PA, FC, IPE, ECG,
leito está associado à fraqueza e atrofia muscular, o que afeta SatO2
em longo prazo a capacidade funcional, qualidade de vida e
Frequência: 2 x ao dia
sobrevivência do indivíduo hospitalizado. O imobilismo pode
2 Mets inicial/progressivo
intensificar os prejuízos a fisiopatologia da IC, potencializando Gasto energético
atingir 3 a 4 Mets
a liberação de marcadores inflamatórios, aumentando a
Manter entre 4 e 5 (escala de 0-10)
degradação de proteínas (fibras musculares) o que implica
Intensidade moderada
em piora do status funcional do paciente. O exercício físico (Devido a utilização de
estabelecido precocemente é clinicamente relevante du- IPE/Borg betabloqueadores que interferem
rante a hospitalização, neutraliza os efeitos da imobilidade, na FC, recomenda-se que a
com melhora do status funcional após alta. Dessa forma intensidade seja monitorado
esforços devem ser realizados na busca de estratégias que usando o IPE)
possibilitem que o indivíduo realize o exercício físico ainda IPE: Índice de percepção de esforço de Borg; Mets: Equivalentes metabólicos; PA: Pressão
arterial; FC: Frequência cardíaca; ECG: eletrocardiograma; RCV: Reabilitação cardiovascular;
na fase hospitalar.10 SatO2:Saturação de Oxigênio.
possibilidade de incremento de débito cardíaco, acontece a envolvessem esforço muscular. Neste contexto, a eletroes-
redistribuição do fluxo sanguíneo da musculatura periférica timulação muscular periférica (EMP) tem sido usada como
para a musculatura respiratória.8 Com isso, há hipoperfusão uma modalidade alternativa de exercício em pacientes com
periférica e acúmulo de metabólitos, com aparecimento preco- IC.33 Revisões sistemáticas já extensivamente investigaram
ce da fadiga muscular. Diante deste panorama, estudos apon- e demonstram os efeitos benéficos da EMP em pacientes
tam que o uso da ventilação mecânica não invasiva (VMNI) com IC crônica (avançada), na fase ambulatorial, entre eles:
pode melhorar a tolerância ao exercício durante a prática de melhora na força muscular de membros inferiores, aumento
exercício físico, e pode ser uma alternativa complementar do VO2 e da distância percorrida no TC6 com melhora qua-
viável para o indivíduo com IC durante hospitalização.28,29 lidade de vida.34,35
A VMNI pode auxiliar na melhora da tolerância ao exercício Dentro do contexto intra-hospitalar, os pacientes se en-
por diferentes vias: 1) por propiciar efeitos hemodinâmicos; contram ainda mais frágeis e debilitados pela IC agudizada
2) por propiciar efeitos respiratórios. Quanto aos efeitos ou descompensada, a literatura já é capaz de demonstrar
hemodinâmicos, a VMNI tem a capacidade de diminuir a os benefícios da EMP.10
pré-carga cardíaca, diminuir a pós-carga de VE por meio Groehs et al.,36 investigaram os efeitos da EMP em pa-
da diminuição da resistência vascular sistêmica e, portan- cientes com IC ainda instáveis, momento em que o exercício
to, melhorar o desempenho do VE, por meio do aumento físico seria contra-indicado e observaram que a EMP me-
da pressão intratorácica que diminui a pressão transmural lhorou a atividade neural simpática muscular, a tolerância
de VE, diminuindo o raio do coração de acordo com a lei ao exercício, força muscular e a qualidade de vida. Forestiei
de Laplace e aumentando sua força sistólica.28,30 Khayat et al.,37 demonstraram que a EPM, realizada em musculatura
et al.,28 em estudo randomizado sugere que a aplicação VMNI de quadríceps femoral e gastrocnêmio, melhorou a tolerância
com dois níveis pressóricos é superior ao CPAP (um nível ao exercício e reduziu a necessidade do uso de suporte
pressórico) em melhorar a FEVE em paciente com IC e DVE. inotrópico em pacientes com IC avançada admitidos por
A VMNI por melhorar o desempenho cardíaco pode ser descompensação clínica. Contudo a EMP pode ser uma
capaz de influenciar a perfusão tecidual em pacientes com alternativa viável segura de exercício ativo para pacientes
IC e disfunção ventricular esquerda após cirurgia de revas-
com IC, que apresentam intolerância ao exercício físico con-
cularização miocárdica. Marcondes et al,.31 desmontaram
vencional durante a hospitalização.
que a aplicação aguda da VMNI (dois níveis pressóricos)
melhorou a saturação venosa de oxigênio e diminuiu lactato Treinamento muscular inspiratório em pacientes
arterial em indivíduos com disfunção ventricular esquerda
com IC candidatos à CC
no pós-operatório precoce de cirurgia cardíaca. Quanto aos
efeitos respiratórios, a VMNI (binível) diminui o esforço inspi- O ato cirúrgico em pacientes com doenças cardiovas- 267
ratório, e evita uma resposta exagerada da ventilação minuto culares promove o prejuízo do sistema respiratório. Dentre
do paciente com IC, e, portanto, ao diminuir o recrutamento os efeitos deletérios oriundos da cirurgia cardíaca (CC),
ventilatório, possibilita maior aporte de fluxo sanguíneo para observa-se a redução dos volumes e capacidades pulmo-
a musculatura periférica.8 nares, a diminuição da complacência pulmonar e da força
Estudos atuais demonstram, portanto, que a somatória muscular ventilatória. Dessa forma, estratégias terapêuticas
dos efeitos hemodinâmicos e respiratórios do uso da VMNI não farmacológicas são utilizadas no período perioperatório
em pacientes com IC hospitalizados levam a melhora de de pacientes que realizam CC. Recomenda-se o treinamento
desfechos clínicos: redução dos índices de dispneia com muscular inspiratório (TMI) em pacientes submetidos à CC,
melhora da tolerância ao exercício, melhora no desempenho tanto no período pré-operatório quanto no pós-operatório,
do TC6’, e menor tempo de internação hospitalar.29,32 devido aos seus benefícios sobre a função ventilatória e a
Dessa forma, a VMNI deve ser considerada uma ferramen- melhora em desfechos clínicos.38-42
ta coadjuvante nos programas de reabilitação baseada em TMI no pré-operatório de CC: No pré-operatório de CC,
exercícios durante a fase intra-hospitalar de pacientes com IC, deve-se utilizar, preferencialmente, cargas entre 30% e 60%
especialmente para aqueles que apresentam dificuldade para da pressão inspiratória máxima (PImáx), de 15 a 30 minutos
realizar exercício por apresentar sinais clínicos de dispneia diários e carga ajustada pelo terapeuta semanalmente. O
e fadiga de membros inferiores. Os principais mecanismos protocolo de TMI, nesta fase, deve ser iniciado pelo menos
envolvidos no aumento da tolerância ao exercício são cau- duas semanas prévias à CC. Dessa forma, estudos demons-
sados pela diminuição do esforço inspiratório, somados a traram que o TMI foi capaz de melhorar a capacidade vital
melhora do inotropismo e da perfusão tecidual.31 forçada (CVF), aumentar o pico de fluxo expiratório (PFE)
e a força muscular inspiratória, com consequente redução
Insuficiência cardíaca e eletroestimulação das complicações pulmonares e do tempo de internação
muscular periférica hospitalar.38-41
Convencionalmente o exercício aeróbio, em modalidades TMI no pós-operatório de CC: Alguns estudos demonstra-
contínuas ou intervaladas, é considerado o padrão ouro de ram que, o TMI no pós-operatório de pacientes submetidos
treinamento para indivíduos com IC. Entretanto, não é raro à CC, no período intra-hospitalar, promoveu o aumento da
que pacientes com IC estejam limitados, tanto por dispneia, CVF, do PFE e a da força muscular inspiratória. Entretanto,
quando por fadiga de membros inferiores, e por isso ficam os protocolos utilizados, nesta fase, foram desenvolvidos de
incapazes de realizar modalidade de exercício ativo. Portanto, forma heterogênea, o que não permite definir, até o momento,
se tornou necessária a busca de novos recursos que não um protocolo ideal a ser prescrito para esses pacientes.41,42
Quadro 1. IMC: Índice de massa corpórea; AVD: atividades de vida diária; WHOQOL100: World health organization instrument to evaluate
quality of life; WHOQOL-bref: instrumento abreviado do WHOQOL100.
Avaliação Fisioterapêutica – Fase Ambulatorial
-Avaliar o encaminhamento médico, queixa principal, história clínica pregressa e da doença atual, histórico
dos sintomas/sinais atuais, presença de doenças coexistentes e associadas, histórico de hospitalização
ou cirurgias, problemas ortopédicos, presença de sinais de comprometimento neurológico, hábitos de
Anamnese
vida (alimentação, atividade física, tabagismo, etilismo, sono, uso de anticoncepcionais, drogas etc.),
presença e nível de estresse e histórico familiar (principalmente de doenças cardiovasculares), exames
complementares.
- Avaliação dos sinais vitais - temperatura corporal, pressão arterial (sistólica, média e diastólica)
e frequência cardíaca (em supino, sentado e em pé), regularidade do pulso, frequências e padrão
respiratório).
- Antropometria - massa corporal, estatura, índice de massa corpórea (IMC), cálculo da
Exame físico composição corporal (massa gorda e magra).
- Perimetria: trofismo e edema nos membros
- Ausculta: cardíaca e pulmonar
- Inspeção e palpação – observar detalhes de locomoção, detalhes de simetrias, trofismo, cor e textura da
pele, higiene, presença de hematomas.
Flexibilidade - Avaliação estática e dinâmica da amplitude de movimento – goniometria, flexiometro, flexiteste46
- Podendo ser avaliada por meio de instrumentos de avaliação do equilíbrio e marcha – Escala de
Marcha e equilíbrio
equilíbrio de Berg, teste time up and go
Avaliação funcional - Avaliar as habilidades para executar atividades de vida diária (AVD).
- Avaliar por instrumentos já validados como o SF-36 (Medical Outcome Survey Short Form 36) e o
Qualidade de vida
WHOQOL100 e o WHOQOL-bref.
3. Avaliação da capacidade funcional – a avaliação da capa- Dessa forma, adicionalmente ao exercício aeróbio e ao
cidade funcional é fundamental na fisioterapia cardiovascular exercício resistido, o treinamento muscular inspiratório (TMI)
dos pacientes com IC crônica porque permite conhecer a deve ser incluído no protocolo de RC em pacientes com
limitação funcional e correlacioná-la a gravidade da doença IC. O TMI é uma modalidade de exercício que promove o
e, essencialmente, para a prescrição do exercício aeróbio. aumento da força e da resistência dos músculos ventilató-
Nessa perspectiva, se o fisioterapeuta tiver acesso ao teste rios, reduz o a exacerbação do metaborreflexo muscular
cardiopulmonar, os parâmetros que refletem principalmente a diafragmático, assim como aumenta a capacidade funcional
capacidade aeróbia (limiar de anaerobiose ou primeiro limiar desses pacientes.52,53 Toda a mudança morfofuncional que
ventilatório) pode ser reveladores da limitação funcional e úteis pode ser creditada ao TMI tem impacto positivo sobre as
para a prescrição de exercício.49 Por outro lado, na ausência características primordiais da fisiopatologia da IC, onde há
do teste, desde que devidamente monitorizado e seguro, o o acometimento cardíaco, musculoesquelético e pulmonar,
fisioterapeuta pode avaliar a capacidade funcional dos pa- em um ciclo vicioso, que interfere na qualidade de vida e nas
cientes pela aplicação do teste de caminha de seis minutos. atividades de vida diária onde a dispneia e fadiga crônica são
Adicionalmente, certo da segurança, outros testes de campo os sintomas mais citados e limitantes para os pacientes.52,54,55
podem ser considerados (teste de degrau, teste de escada...). O TMI pode ser realizado no ambulatório com resistores
lineares e sessões de treino sendo supervisionadas pelo fisio-
Prescrição de exercício físico na Fase Ambulatorial terapeuta com resultados positivos entre seis a 12 semanas
da Reabilitação Cardiovascular de uso da técnica.53 Em ambiente domiciliar os pacientes
Não existe uma prescrição de exercício única, a prescrição podem realizar o treino orientados a distância com o apoio da
deve ser individualizada levando em conta a capacidade telereabilitação. Sua utilização ainda segue sendo estudada
física, características individuais e preferências. O treina- para observação das formas de se prescrever a atividade
mento aeróbico contínuo moderado já é bem estabelecido e realizar o incremento de carga, ou ainda, questões como
como modalidade de treinamento eficaz e segura, como a frequência de treino semanal e a adesão dos pacientes.
demonstrado no estudo HF-ACTION, que observou redu- Com isso, essa forma de treino, muitas vezes, segue sendo
ção moderada dos sintomas, melhora da capacidade de reservada a pacientes estáveis e com um bom entendimento
exercício e redução de readmissões hospitalares por IC.44 de sua doença, limitações e consciência corporal.56 Quando o
Uma abordagem baseada no treinamento físico combinado TMI é combinado a uma outra atividade indicada para a rotina
(aeróbico e resistido) mostra efeitos adicionais, com melhora de reabilitação, tal qual o exercício aeróbio ou combinado, há
do VO2 pico em comparação com o treinamento aeróbico evidência de maior incremento na força muscular respiratória
isolado. Além de ser uma modalidade eficiente, é seguro e e na qualidade de vida dos pacientes acompanhados.53,54 A 269
bem tolerado em pacientes com IC. (Quadro 2). IC é uma doença limitante por si só e pode ainda adicionar
Pacientes com IC frequentemente apresentam fraqueza da níveis de incapacidade em pacientes que tenham caracteri-
musculatura ventilatória, representada pela redução da força zada a fragilidade. Nesses casos, a prescrição do TMI pode
e/ou da resistência, o que promove a redução da capacidade ser ainda mais relevante já que essa associação de doenças
funcional e pior prognóstico (VO2pico).50,51 está diretamente relacionada à mortalidade.4
Quadro 2. Prescrição de exercício físico na fase ambulatorial para pacientes com IC crônica.
Tipo de exercício Recomendações
Aeróbico - 3 a 5 dias por semana;
- Com TCEP: zona entre os limiares ventilatórios (geralmente ao redor do limiar anaeróbico); ou 60 a 80%
da FC pico ou 50 a 70% da FC reserva do Teste ergométrico; sem teste ou presença de fibrilação atrial,
usar IPE de Borg de 11 a 14 na escala original de 6 a 20;
- Pode-se começar com poucos minutos, aumentar progressivamente até 30 minutos por dia, tentando
chegar a 60 minutos por dia;
- Pode-se utilizar ergômetro de braço, bicicletas estacionárias, esteira ergométrica, caminhada ao livre.
Resistido - 1 a 2 dias por semana (não consecutivos);
- De 40 a 60% de 1 RM, incialmente com % menor e ir subindo gradualmente conforme paciente tolerar;
- 1 a 3 séries, 8 a 15 repetições em cada série, 8 a 10 tipos diferentes de exercícios com foco nos grandes
grupos musculares;
- Escolher equipamentos seguros e confortáveis para cada pacientes, podendo ser halteres, caneleiras,
bandas elásticas, máquinas de musculação.
Treinamento Muscular - Diariamente;
inspiratório - 30% da pressão inspiratória máxima;
- 30 minutos de sessão com exercício contínuo ou em séries com repetições que variam de 10 a 30;
- A carga deve ser avaliada semanalmente para incremento ou manutenção de em média, 30% da
pressão inspiratória máxima para o treino;
Flexibilidade - 2 a 3 dias por semana, diariamente é o ideal;
- Alongamento até o ponto de estiramento muscular ou leve desconforto;
- Manter de 10 a 30 segundos para alongamento estático, 2 a 4 repetições cada exercício;
- Alongamentos estáticos e dinâmicos com foco nas principais articulações dos membros e tronco.
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ABSTRACT
Rehospitalizations in elderly people with HF are frequent and, within 90 days, 50%
of patients return after discharge. Even with therapeutic advances, the mortality rate is
increasing and the long-term prognosis is poor, which can be aggravated with each new
hospitalization. The purpose of this narrative review is to highlight the importance of monito-
ring and nutritional advice after hospital discharge in order to prevent new hospitalizations.
Development: HF influences the patients’ nutritional status due to the complex interaction of
catabolic hormonal systems, malabsorption, nutritional deficiencies, and other factors, such
as disease progression and metabolic dysfunction. Of elderly patients with HF, 30% to 45%
are admitted with nutritional risk and, in these patients, it is possible to verify that malnutrition
will lead to a vicious cycle. The main factors for readmissions are lack of pharmacological
and non-pharmacological adherence, and it is essential that the elderly develop self-care
through a healthy lifestyle and control of cardiovascular risk factors. Dietary sodium intake
is still a controversial issue as it is related to low food acceptance. Hypercaloric diets are
indicated in situations of nutritional risk, and also for the elderly, regardless of their nutritional
status, as they are related to lower mortality and reduced complications. In cardiac cachexia,
estado nutricional dos pacientes já está muito comprome- bem descrita, sendo o risco aumentado para complicações
tido, e a terapia nutricional se torna um desafio a mais no não cardíacas, infecções e efeitos deletérios na estrutura e
tratamento do paciente.11,14,15 na função do músculo esquelético e menor tolerância ao
A IC em estágios avançados se torna uma doença alta- exercício fruto desta associação.14,20 A não tratativa destes
mente catabólica, onde todos os compartimentos do corpo aspectos pode contribuir para uma piora do paciente a curto
são afetados, incluindo músculos por perda de proteínas, e a longo prazo.18,21-24
diminuição da reserva de energia e massa óssea (osteopo-
rose), agravando ainda mais a condição dos pacientes. O ORIENTAÇÕES DE ALTA E PREVENÇÃO
estado inflamatório caracterizado por altas concentrações
DE REINTERNAÇÕES HOSPITALARES EM IC
plasmáticas de diversas citocinas pró-inflamatórias são seme-
lhantes ao observado em pacientes com doenças neoplásicas Pacientes idosos com disfunção cardíaca podem agravar
e autoimunes. Está resposta inflamatória crônica favorece o suas comorbidades a cada internação,2 sendo a diminuição
risco de desnutrição através de um aumento significativo no da capacidade funcional para realização das atividades diárias
gasto de energia e uma diminuição no apetite que leva a uma e piora significativa da qualidade de vida, os fatores prepon-
diminuição na ingestão calórica. Algumas medicações, como derantes que elevam o risco de internação e/ou mortalidade.25
os betabloqueadores, contribuem significativamente para Os fatores que contribuem para as novas readmissões
esse estado hipercatabólico. Pacientes com predominância são, a falta de adesão à terapêutica proposta (principalmente
de congestão visceral, podem ainda apresentar diminuição da relacionada aos medicamentos), questões relacionadas a
absorção de nutrientes causada pelo edema das vilosidades higiene do indivíduo e a terapêutica nutricional. Ainda, obser-
intestinais, afetando principalmente a absorção de proteínas. va-se que os quadros de pneumonia, infecção do trato urinário
Em indivíduos com IC avançada, sintomas digestivos pós- e arritmias ou fibrilações atriais 2,10 se mostraram como com-
-prandiais, como dor abdominal e sensação de plenitude plicações frequentes em pacientes idosos responsáveis pela
precoce também podem limitar o consumo alimentar.14,15 sua rehospitaliação. No quesito baixa adesão a terapêutica
Em associação ao quadro clínico, é comum o paciente proposta, destaca-se: o isolamento social desencadeado por
referir “Não saber o que comer” devido as restrições em demência, depressão ou abandono, inadequações familiares,
sua alimentação, redução da palatabilidade dos alimentos e falta de apoio social e condições socioeconômicas.26,27 Além,
diminuição das opções de escolha, com consequente inges- dá-se destaque a não compreensão das orientações, tida
tão calórica e proteica inadequada, levando ao aumento do como a principal causa de reinternação em 30 dias.28
risco de desnutrição.14 Parte da restrição alimentar, pode ser É sugerida pela literatura científica a avaliação do risco
advinda das comorbidades associadas à IC, com orientações dos pacientes antes da alta hospitalar para ajudar na identi-
quanto a necessidade de redução da ingestão de sal e água, ficação precoce de pacientes com alto risco de readmissão, 275
alimentos ricos em gorduras animais (para pacientes com e estabelecer um plano pós-alta hospitalar com objetivo de
hipercolesterolemia ou doença cardíaca coronária), alimentos educação do paciente e/ou cuidador quanto ao tratamento,
ricos em potássio (para pacientes com tendência à hiperca- medicações, cuidados nutricionais, melhora da higiene e exer-
lemia) e/ou ricos em vitamina K (apesar de ser estabelecido cícios físicos, potencial de progressão clínica e a importância
na literatura quanto a regularidade do consumo, ainda é do autocuidado diário (peso, uso regular dos medicamentos,
orientado por alguns médicos, que evitem o consumo dos monitorização dos sinais e sintomas de descompensação,
alimentos fontes quando usarem varfarina).14,15 Desta forma, como piora do cansaço, flutuações de peso e limitação
diversos pacientes possuem fatores adicionais para a baixa funcional). O acompanhamento é essencial para o sucesso
aceitação alimentar e complicações nutricionais. no tratamento, e esclarecimento de dúvidas, entrega de
material escrito, intervenções domiciliares ou via contato
INTERNAÇÃO HOSPITALAR E COMPLI- telefônico (telemonitorização), vacinação contra a gripe,
entre outros, confirmam que o seguimento pós-alta pode
CAÇÕES NUTRICIONAIS manter os pacientes estáveis e livre de novas internações.26-29
A desnutrição hospitalar se mostra com alta prevalência
no atual cenário, tendo diversos fatores que influenciam ORIENTAÇÕES NUTRICIONAIS PRÉ ALTA
este quadro tais como: o tempo de internação (em especial
ao ultrapassar quinze dias ) e idade uma vez que idosos HOSPITALAR
se mostram mais vulneráveis a deficiências nutricionais e As orientações da alta hospitalar começam quando o
quadros de desnutrição quando comparados com indivíduos paciente já está clinicamente apto a deixar o hospital, mas
de outras faixas etárias.16-19 educar os pacientes necessita de organização, e a falta deste
A avaliação do estado nutricional na admissão se faz planejamento de alta poderá levar a readmissões e custos
importante, uma vez que é estimado pela literatura científica mais elevados com a saúde do paciente.30,31
que que 30% a 45% dos pacientes idosos com IC já possuem O objetivo das orientações na alta é dar continuidade aos
risco nutricional no momento da admissão. Vale ressaltar que cuidados do paciente no domicílio. Conforme Toledo et al.,30
este indivíduo é portador de maior risco para desnutrição e para sucesso do processo da desospitalização, a equipe
agravo de seu quadro clinico2,3 e, portanto devem ser consi- deve: reconhecer barreiras do aprendizado e comunicação:
derados em permanente risco nutricional e necessária maior visual, auditiva, fala, outras (cultural, religiosa, psicomoto-
atenção diante deste quadro necessária.14 A associação entre ra, emocional); identificar a pessoa envolvida no processo
desnutrição e maior permanência hospitalar, mortalidade e educacional, engajando-a (paciente, parente, cuidador ou
a readmissão antes de 30 dias após a alta hospitalar já é equipe de home-care); iniciar a orientação durante o período
Quando o estado nutricional está comprometido, princi- aumento da carga da IC, piora do estado nutricional e maior
palmente quando a caquexia cardíaca está instalada, a terapia risco para mortalidade.
não farmacológica, como suporte nutricional e exercício A influencia da IC no estado nutricional dos pacientes
físico, é considerada a base para a prevenção e tratamento ocorre devido ao estado catabólico, má absorção dos nu-
do paciente com IC. E mesmo que ainda existam muitas trientes e deficiências nutricionais. A nutrição é um importante
dúvidas em relação a reversão da caquexia e recuperação componente para manter a saúde e qualidade de vida dos
das massas magra e óssea, a terapia nutricional deve ser idosos. A adesão as orientações nutricionais devem ser
sempre indicada nesses pacientes.38,45 incentivadas após a alta hospitalar, tanto quanto a terapêutica
Não existem recomendações específicas para oferta ca- farmacológica e demais tratamentos não-farmacológicos.
lórica e proteica na caquexia associada à IC. Heymsfield e Em relação a dietoterapia, devem ser estimulados o
Casper recomendaram, em 1989, que a ingestão de 35 kcal/ consumo controlado de sal e líquidos, e se necessário, de
kg/dia era segura e eficaz no aumento da massa magra nesses acordo com os sintomas apresentados pelos pacientes,
pacientes. Nos últimos anos, diversos autores afirmam que poderão ser realizados ajustes mais precisos sob a quanti-
devem ser evitados excessos de energia, contradizendo os dade de ingestão de determinados nutrientes pelo indivíduo.
dados anteriores devido ao aumento do estresse fisiológico, A quantidade de calorias deve atender as necessidades
com consequente aumento nas concentrações plasmáticas de mínimas para realização das atividades diárias e o consumo
catecolaminas, insulina e disfunção hepática. Especificamente de proteínas deve ser suficiente para não desenvolver e/ou
o aumento nos níveis de insulina induz a reabsorção renal de prevenir a progressão da diminuição da massa muscular. É
sódio e água, podendo descompensar a IC.38 necessário ainda, orientar e ou reforçar as orientações para
Desta forma, o suporte nutricional deve ser iniciado com as morbidades associadas, como diabetes, dislipidemias,
pequenas quantidades e aumentado lentamente até atingir o hipertensão arterial, etc.
peso corporal desejado, respeitando a tolerância e sintomas A todos os pacientes desnutridos, bem como em pa-
do paciente. A oferta proteica recomendada aos idosos com cientes idosos com agravo do estado nutricional e risco de
IC são de 1,2 à 1,5g/kg/dia, e exercícios físicos deverão ser desenvolver caquexia cardíaca, a suplementação nutricional
estimulado sempre que os pacientes possuírem condições se faz necessária e deve ser realizada conforme a condição
de realiza-los. A suplementação oral calórica e/ou proteica clínica do paciente.
é essencial para o tratamento dos pacientes e deve ser A principal ferramenta para o sucesso no tratamento do
realizada individualmente. Nos casos de impossibilidade de paciente com IC antes da alta hospitalar, é o fornecimento
alimentação via oral, a terapia nutricional enteral deverá ser de orientações multidisciplinares adequadas aos pacientes/
indicada para o suprimento das necessidades nutricionais acompanhantes, com explicações sobre a doença e sinto-
mínimas, sendo também utilizada de forma complementar nos mas, e esclarecimento de dúvidas, a fim de proporcionar a 277
casos de recusa alimentar e/ou inapetência,45 cujo objetivo de automonitorização e incentivar o autocuidado. O acompa-
atingir as necessidades calóricas e proteicas adequadas para nhamento do paciente, incluindo o atendimento nutricional
o bom funcionamento do organismo do paciente, e tentativa presencial ou a distância é indicado, sempre que possível
de recuperação do estado nutricional.38, 46-50 dada a sua efetividade.
CONCLUSÃO
A IC é uma doença complexa de caráter sistêmico, que
está relacionada ao grande prejuízo da morbimortalidade, CONFLITOS DE INTERESSE
principalmente em pacientes idosos. Dentre estes, estima-se Os autores declaram não possuir conflitos de interesse
que 50% retornem ao hospital dentro de seis meses. A cada na realização deste trabalho.
reinternação é possível verificar piora da qualidade de vida,
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284
ABSTRACT
Introduction: Heart failure (HF) is a chronic, irreversible pathology that requires several
behavioral changes, involving physical and psychological pain. The way the concept of
care and self-care is interpreted directly interferes with treatment adherence. Objective:
To identify psychological issues that can act as facilitators for the development of self-care
in hospitalization. Method: Case study carried out through psychological assessment and
monitoring in a private hospital in the state of São Paulo for a patient hospitalized due to
HF decompensation and difficulty adhering to treatment. Results: It was identified that J.,
male, 53 years old, with HF, diabetes and kidney disease, had a life history based on lack of
care, so psychological monitoring was directed towards understanding this dynamics and
repercussion in adult life. Treatment improvements were encouraged, such as physical activity
and, by working on the concept of care, the patient started to accept the presence of family
members during hospitalization as a mobilization of affection. Conclusion: Psychological
monitoring was essential for understanding the impact of illness and emotional factors that
interfered with adherence to treatment, enabling the redefinition of concepts and favoring
engagement to promote self-care and quality of life.
MÉTODO DISCUSSÃO
Estudo de caso realizado através de avaliação e acom- É possível analisar que o ambiente no qual J. se desenvol-
panhamento psicológico a paciente portador de insuficiên- veu foi extremamente punitivo em sua infância. Neste contexto,
cia cardíaca. Solicitada avaliação psicológica pela equipe a ausência de cuidado em condições de negligência familiar
multidisciplinar para paciente internado por quadro de des- e pobreza podem provocar importantes consequências em
compensação cardíaca devido à dificuldade de adesão fases posteriores do desenvolvimento, sobretudo, na vida
286 ao tratamento não medicamentoso. O acompanhamento adulta, como déficits de autocontrole e de habilidade para
psicológico ocorreu por um período de aproximadamente dez lidar com os sentimentos, o que pode levar a diversos com-
dias, durante internação em hospital privado de cardiologia no portamentos autodestrutivos como ausência de autocuidado.6
estado de São Paulo. A teoria analítico-comportamental foi a Durante a internação a psicoterapia foi essencial para
abordagem psicológica utilizada para a análise, da dinâmica auxiliar paciente e equipe a compreenderem a dinâmica
apresentada e intervenções acerca da mesma. psíquica em questão, através de uma abordagem que se
baseia nas ciências do comportamento, traduzindo desta
RESULTADOS forma, como seu repertório de comportamentos aprendidos
A avaliação psicológica e posterior acompanhamento ou não, repercutiram em suas vivências atuais e como estes
foram realizados ao paciente J., gênero masculino, separado, poderiam se modificar, além de oferecer um ambiente seguro,
53 anos, portador de IC, diabetes e doença renal crônica não isto é, não punitivo e que permitiu respostas mais adaptativas
dialítica.em virtude da dificuldade de adesão ao tratamento. ao contexto do adoecimento.7
Neste período os principais conteúdos trazidos pelo paciente A dificuldade de aceitar os cuidados da família, ou mesmo
tinham relação com a dificuldade de adesão ao tratamento de reconhecer o comportamento da equipe como a oferta de
não medicamentoso e ausência de cuidado ao longo da vida. um cuidado, pode trazer prejuízos de adesão ao tratamento.
Estes dois cenários foram essenciais para compreender o A literatura elucida que os pacientes que apresentam pou-
que permeava sua relação com a doença e os cuidados co suporte familiar ou social tendem a apresentar maiores
necessários para lidar com o processo de adoecimento. dificuldades para manter comportamentos que promovam
A ausência de cuidado teve início nos primeiros anos de o cuidado com a saúde e qualidade de vida.8 Desta forma,
vida, quando J. e seus irmãos mais velhos perderam a mãe e ter a presença da família durante a hospitalização e rever
passaram a ser criados pela tia materna. Da infância à ado- demandas emocionais que interferiam nos comportamen-
lescência houve o predomínio de violência física e psicológica tos atuais foi fundamental para a elaboração de questões
envolvendo todos os membros da família, sendo ofertado relacionadas a ausência do cuidado.
ao paciente somente o essencial: alimentação e vestimentas
básicas. O paciente não conheceu o pai e não teve alguém CONCLUSÃO
que ao longo de sua história, pudesse ocupar o modelo de A psicoterapia se mostrou importante recurso de enfrenta-
uma figura protetora como se configura a imagem dos pais. mento para o paciente diante de fragilidades observadas em
Após completar a maior idade, houve um processo de seu repertório de comportamentos apresentados em período
mudança do ambiente interno e externo do paciente que pas- de internação, a partir da compreensão das consequências da
sou a trabalhar na área da saúde ofertando cuidado àqueles ausência do cuidado, foi possível aumentar as respostas de
287
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