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Aluna: Luana Martinez Amaral

Disciplina: Política Urbana Constitucional


Professora: Camila Bottaro Sales Coelho (email: bottarosales@gmail.com)

FICHAMENTO/RESUMO

DADOS DO ARTIGO

Autor: Edésio Fernandes


Título: Política Urbana na Constituição Federal de 1988 e além: Implementando a Agenda da Reforma Urbana
no Brasil
Palavra- chave: Processo de urbanização, Reorganização sócio-econômica e territorial,Constituição Federal
(1988), Nova ordem jurídico-urbanística (1990), Estatuto da Cidade (2001), Ministério das Cidades.

Pág. Tópicos Resumo


01 Introdução Desde a década de 1980, um importante processo de reforma urbana tem sido
promovido de forma gradual, mas consistente, no país. Assim como aconteceu em
outros países de renda média e/ou em transição, o Brasil se encontra na
desconfortável posição de ter que “trocar os pneus enquanto o carro está andando”.
A promoção da reforma urbana leva tempo e requer continuidade e respostas
adequadas e sistemáticas em todos os níveis de governo. Apesar dos avanços, o
Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer e há muitos obstáculos a serem
superados para que os efeitos da reforma legal e institucional possam ser vistos com
mais clareza. Acima de tudo, a experiência brasileira demonstra claramente que a
reforma urbana requer uma combinação precisa, embora muitas vezes elusiva, de
mobilização social renovada, reforma jurídica e mudança institucional.
Este artigo descreve os principais aspectos do processo de reforma urbana no Brasil.
Discute o novo ordenamento jurídico urbano que foi criado com a Constituição
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Federal de 1988. O artigo descreverá então o novo aparato institucional resultante da


criação do Ministério da Cidade e do Conselho Nacional das Cidades em 2003.
02 Antecedentes O Brasil passou por um dos mais drásticos processos de reorganização
socioeconômica e territorial do mundo em desenvolvimento. 83% da população total
vive em áreas urbanas, com enorme concentração populacional e de atividades
econômicas em uma pequena porção do território nacional. O crescente défice
habitacional está estimado em 7,9 milhões de unidades, com outros 15 milhões de
famílias a viver em condições inadequadas.
A margem de intervenção pública na ordem da propriedade imobiliária privada
através do planeamento territorial e urbano era muito limitada, especialmente a nível
municipal. Isto foi ainda agravado pelas condições de exclusão política decorrentes
do sistema jurídico vigente até a promulgação da Constituição Federal de 1988. Outro
factor fundamental na criação e reprodução deste processo excludente foi certamente
a prevalência de uma ordem jurídica obsoleta e proibitiva.
As primeiras tentativas de democratização da gestão urbana em nível municipal
podem ser identificadas em meados da década de 1970. Nesse período surgiu um
Movimento Nacional de Reforma Urbana, envolvendo parte dos movimentos sociais,
sindicatos e organizações acadêmicas existentes. Com o fortalecimento gradual de
um novo pacto sociopoliticamente, houve um amplo reconhecimento da necessidade
de promover reformas políticas e jurídicas mais profundas.
A Constituinte O processo de urbanização começou no Brasil na década de 1930 e atingiu seu ápice
04 Federal de 1988 na década de 1970. Até a entrada em vigor da Constituição Federal de 1988, não
existiam disposições constitucionais específicas para orientar o processo de
desenvolvimento territorial e de gestão urbana. Foi o capítulo original introduzido pela
Constituição de 1988 que estabeleceu as bases jurídico-políticas para promover a
reforma urbana.
Quase todas as demandas sociais encaminhadas através da Emenda da Reforma
Urbana Popular foram aprovadas até certo ponto. O direito à regularização dos
assentamentos informais consolidados foi promovido através da aprovação de novos
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instrumentos jurídicos. O princípio da gestão democrática das cidades foi


integralmente referendado pela Constituição Federal de 1988, através de uma série
de instrumentos jurídico-políticos.
A Constituição de 1988 não se posicionou adequadamente sobre a questão
fundamental da gestão metropolitana. Naquela época não havia condições políticas
para a aprovação do direito social à moradia. O Movimento Nacional de Reforma
Urbana decidiu então aproveitar ao máximo esta situação e ‘subverter’ a utilização
das disposições constitucionais aprovadas.
06 A nova ordem Toda uma nova ordem jurídico-urbanística foi inaugurada com a promulgação da
jurídico- Constituição Federal de 1988. Muitos municípios aprovaram novas leis urbanas e
urbanística na ambientais, incluindo alguns planos diretores. Desde então, municípios como Porto
década de 1990 Alegre, Santo André, Diadema, Recife e Belo Horizonte conquistaram amplo
reconhecimento internacional.
O Fórum Nacional da Reforma Urbana (FNRU) foi criado no início da década de
1990. O FNRU tem sido fundamental na promoção da bandeira e da agenda da
reforma urbana a nível nacional. Três de seus principais objetivos à época de sua
criação eram a incorporação do direito social à moradia na Constituição Federal de
1988 e a aprovação de uma lei federal que regulamentou o capítulo constitucional
sobre política urbana.
Um longo processo de mobilização social e de disputa política competitiva ocorreu ao
longo da década de 1990 e no novo século, dentro e fora do Congresso Nacional. Em
1999, uma nova lei federal regulamentou a atuação das organizações da sociedade
civil de interesse público, de forma a permitir-lhes o recebimento de recursos
públicos. O direito social à moradia foi finalmente aprovado por emenda constitucional
em 2000, e a lei federal que criou o FNHIS foi aprovada em 2005.
O Estatuto da O Estatuto da Cidade de 2001 regulamentou e ampliou os dispositivos constitucionais
07 Cidade de 2001 acima mencionados sobre política urbana, além de reconhecer explicitamente o
“direito à cidade” no Brasil. Essa lei federal resultou de um intenso processo de
negociação dentro e fora do Congresso Nacional e confirmou e ampliou o papel dos
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municípios na formulação das diretrizes de planejamento urbano.


O Estatuto criou ou renovou uma série de instrumentos jurídicos, urbanísticos e
fiscais que podem ser utilizados pelas administrações municipais, especialmente no
âmbito dos seus planos diretores. Com a nova lei, os municípios ganharam maior
margem para interferir (e possivelmente reverter até certo ponto os seus efeitos) no
padrão e na dinâmica dos mercados imobiliários formais e informais.
O Estatuto da Cidade indicou diversos processos para os municípios integrarem
planejamento, gestão e legislação urbanística. A nova lei enfatizou a importância de
estabelecer novas relações entre o sector estatal, o sector privado e o sector
comunitário. A lei também melhorou a ordem jurídica no que diz respeito à
regularização de assentamentos informais consolidados em áreas urbanas públicas e
privadas.
Desde então, o Estatuto da Cidade foi complementado por importantes novas leis
federais, nomeadamente as que regulam as parcerias público-privadas e os
consórcios intermunicipais. A Lei nº 11.481, de 2007 foi aprovada com o objetivo de
facilitar os processos de regularização fundiária dos municípios em assentamentos
informais consolidados em terras da União. Um significativo processo de mudança
institucional, no qual merece destaque a criação do Ministério das Cidades em 2003.
O Ministério das A falta de uma política urbana nacional durante o governo do Presidente Fernando
10 Cidades Henrique Cardoso foi particularmente frustrante. Somente com a eleição do
presidente Lula, em 2003, foi tomada a decisão de criar o Ministério das Cidades. O
novo ministério é composto por um secretariado executivo, que coordena quatro
secretarias nacionais, nomeadamente habitação, saneamento ambiental, transportes
e mobilidade e programas urbanos.O Programa Nacional de Apoio à Regularização
Fundiária Sustentável em Áreas Urbanas tem crescido em recursos e impacto. O
Programa combina estratégias de intervenção, articulação e mobilização – jurídica,
financeira, urbanística e político-institucional. Ênfase especial tem sido dada à
definição de critérios para regularização de assentamentos que ocupam terras
públicas da União.
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Curso virtual sobre regularização fundiária voltado para 900 pessoas de diferentes
perfis profissionais e cargos institucionais. Os participantes incluíram autoridades
municipais, estaduais e federais de diversos ministérios, cartórios, advogados, juízes,
promotores e defensores públicos. O curso será repetido em 2008, desta vez em
conjunto com a discussão dos planos diretores municipais.A aprovação dos PDM era
uma obrigação legal imposta a cerca de 1.600 municípios. A qualidade política e a
consistência deste processo dariam concretude à noção de “função social da
propriedade”. Mais de 1.400 municípios já aprovaram ou estão em processo de
aprovação dos seus PDMs.O Ministério das Cidades ganhou credibilidade
institucional, legitimidade social e influência política. Contudo, o Ministério ainda
enfrenta sérios problemas, sendo os mais imediatos a sua precária organização
institucional, equipa reduzida e recursos orçamentais limitados. O projeto de lei
fundamental da política nacional de saneamento urbano ficou muito tempo parado no
Congresso Nacional.
O FNRU criticou o fato de apenas R$ 458 milhões terem sido reservados ao FNHIS
no orçamento de 2007. As famílias mais pobres – que correspondem a 93% do défice
habitacional – ainda não receberam tratamento prioritário. O primeiro Ministro e
Secretário Executivo nomeados, de um partido de esquerda, foram substituídos por
pessoas nomeadas por um partido populista conservador.
Em Abril de 2003, o Presidente Lula apelou a uma mobilização nacional para discutir
uma lista de objectivos de política urbana e habitacional. Mais de 3.000 municípios já
o fizeram, assim como todos os 27 estados. Uma parte essencial deste processo é a
estreita ligação entre o Ministério das Cidades e o Conselho Nacional das Cidades.
Mais de 2.500 delegados discutiram as diretrizes da política de desenvolvimento
urbano na conferência nacional. Todos votaram na lista final de princípios que
deveriam orientar a formulação de políticas pelo Ministério das Cidades. O Conselho
Nacional das Cidades é composto por 86 membros, sendo 49 representantes de
segmentos da sociedade civil e 37 representantes das administrações federal,
estadual e municipal.
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O Conselho Nacional das Cidades reuniu-se em diversas ocasiões e foi gradualmente


reconhecido como um importante fórum sociopolítico. O Conselho deve ser
plenamente reconhecido pelo governo federal como um todo, especialmente no que
diz respeito à aceitação de suas resoluções. Também é fundamental que o Conselho
seja fortalecido para controlar o próprio Ministério das Cidades.
O Plano de Aceleração do Crescimento – PAC, lançado pelo presidente Lula em
janeiro de 2007, poderá ter impacto no avanço da reforma urbana e na consolidação
do aparato institucional federal. Ainda é muito cedo para fazer uma avaliação
consistente e justa do impacto do PAC, mas já existem muitos sinais preocupantes de
que uma parte significativa destes recursos está a ser desperdiçada.
15 Considerações O papel dos municípios é crucial para reverter o padrão excludente de
finais desenvolvimento urbano no Brasil. O Estatuto da Cidade tem sido objeto de diversas
propostas de modificação enviadas ao Congresso Nacional, muitas das quais, se
aprovadas, poderão reduzir seu potencial. Até agora, a discussão destes projetos de
lei tem sido evitada na Comissão de Desenvolvimento Urbano.
A existência do Ministério tem sido questionada, principalmente por quem gostaria de
vê-lo fundido com outros ministérios. A plena concretização da agenda de reforma
urbana pelo Ministério das Cidades dependerá de como o governo federal como um
todo entende a centralidade das questões urbanas. A aprovação de uma política
habitacional abrangente dirigida aos grupos mais pobres é de extrema importância.
A definição de uma política nacional de utilização dos bens fundiários e imobiliários
da União é particularmente necessária. As parcerias existentes devem ser reforçadas
e novas parcerias criadas. Mais ênfase deve ser dada às tentativas de compatibilizar
as agendas ambientais “verdes” e “marrons” no país.

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