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21/03/2024, 08:51 UNINTER

ORGANIZAÇÃO MUNICIPAL E
POLÍTICA URBANA
AULA 1

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21/03/2024, 08:51 UNINTER

Prof. Hélio Rubens Godoy Lechinewski

CONVERSA INICIAL

Esta abordagem tem como foco central a organização dos municípios no Brasil. Aqui,

apresentaremos tópicos relevantes relacionados a essa organização com o objetivo de proporcionar

uma compreensão de sua importância para a estruturação e o funcionamento da gestão municipal no

país. A primeira temática contempla o surgimento dos municípios no Brasil, apresentando sua

evolução histórica, desde sua origem colonial até os dias atuais, destacando as mudanças ocorridas

ao longo do tempo e o papel desempenhado por eles na organização político-administrativa do

Brasil.

Em seguida, o município é analisado segundo a legislação urbana brasileira, considerando os

principais marcos legais relacionados à criação de novos municípios e as diretrizes legais para sua

organização e funcionamento. Outro ponto importante a ser discutido é a autonomia municipal,

condição prevista na Constituição Federal de 1988 (CF), suas principais características e limitações.

Prosseguindo com a análise da temática, são caracterizados os bens municipais, destacando sua

classificação, formas de uso e os princípios que norteiam sua administração.

Os tópicos aqui abordados contribuem para a compreensão da evolução histórica da


organização municipal e sua relação com a legislação urbana. O estudo sobre a organização dos

municípios no Brasil é de grande relevância, pois permite que se tenha uma perspectiva adequada do
funcionamento do sistema federativo e da gestão pública municipal brasileira, fatores fundamentais

para aqueles que atuam ou pretendem atuar na administração pública ou mesmo para os cidadãos
interessados em compreender o papel dos municípios na estruturação do país.

TEMA 1 – O SURGIMENTO DOS MUNICÍPIOS NO BRASIL[1]

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A história da formação dos municípios no Brasil é rica em eventos que marcaram o

desenvolvimento político e territorial do país. Segundo Bernardi (2012), o surgimento dos municípios
no Brasil pode ser rastreado desde a época do descobrimento, passando pelo período de colonização

portuguesa até o início do século XIX. No período de colonização portuguesa, a fundação de vilas e

cidades limitava-se praticamente ao litoral, onde se encontravam as áreas de exploração e

colonização mais importantes. As primeiras vilas fundadas pelos portugueses foram Salvador, Olinda,

São Vicente e Rio de Janeiro. A partir daí, outras vilas e cidades foram surgindo com o objetivo de
consolidar o domínio português sobre o território brasileiro.

A dispersão dos municípios no Brasil era muito restrita e a maioria deles encontrava-se em

regiões próximas à costa. No entanto, a fundação de cidades no interior do país começou a se


intensificar a partir do século XVIII, com a descoberta de ouro em Minas Gerais e a consequente

expansão do território brasileiro para o interior. O processo de formação dos municípios no Brasil

também esteve ligado à expansão da fronteira agrícola e pecuária. A ocupação do território brasileiro

pelo povoamento rural e a exploração de recursos naturais, como madeira e minério, foram alguns

dos fatores que impulsionaram a criação de novos municípios.

Devido às peculiaridades do período colonial, a organização dos municípios era baseada em um

sistema de governo absolutista, que concentrava o poder nas mãos do governador geral. A partir do

século XVIII, com a criação do Conselho Ultramarino por Portugal, foi possível descentralizar o poder
político e administrativo no Brasil Colônia, o que contribuiu para o desenvolvimento dos municípios.

Mas é somente no século XIX que se observa uma intensa transformação política, social e econômica

no Brasil, reflexo da vinda da corte portuguesa em 1808 e da Independência em 1822. Nesse período

surgiram novos municípios, que se tornaram importantes polos de concentração populacional e


contribuíram para o incremento da infraestrutura nacional.

Com o Brasil tornando-se autônomo de Portugal, foi necessário reformular a organização


municipal do país, que havia sido estabelecida durante o período colonial, sendo criado o sistema de

governo imperial, com a organização dos municípios e províncias. Nesse contexto, as câmaras
municipais foram responsáveis pela administração dos municípios, atuando como representantes dos

interesses da população local. No Brasil Império, a formação de municípios foi influenciada


principalmente pela abertura de novas fronteiras agrícolas, associada à migração de europeus para o

país. Os novos municípios criados nesse período contribuíram para o incremento da infraestrutura

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nacional, uma vez que a instalação de serviços públicos, como transporte e saneamento, tornou-se

necessária para atender às demandas da população.

Já no início do século XX, houve um aumento expressivo no número de municípios brasileiros,

resultado de uma política de descentralização administrativa. Esse processo de multiplicação de


municípios ocorreu principalmente direcionado para o interior do país, impulsionado pela

necessidade de atender a demandas locais e pela busca de maior autonomia política. A partir das
décadas de 1930 e 1940, a industrialização dos grandes centros urbanos, como São Paulo e Rio de

Janeiro, impulsionou o processo de urbanização do país. A criação de indústrias e a concentração de

empregos nas cidades atraíram uma grande quantidade de pessoas do campo para as áreas urbanas,

acarretando um intenso êxodo rural. Esse processo contribuiu para o crescimento acelerado e
desorganizado de grandes centros e para o surgimento de novas demandas por infraestrutura

urbana.

Entre as décadas de 1960 e 1990, ocorreu um novo processo de transformação da realidade

urbana do país: a metropolização. Esse fenômeno foi marcado pelo surgimento de grandes

aglomerações urbanas, as regiões metropolitanas, que reuniam vários municípios em torno de uma

cidade central. Com a metropolização, houve um crescente desafio na gestão das cidades e na

integração de políticas públicas em um nível mais amplo. Já no início do século XXI, os municípios

brasileiros começaram a se inserir no contexto internacional e global, buscando parcerias com outras
localidades do exterior e participando de redes internacionais de cidades. Essa inserção no contexto

global se dá em diferentes áreas, desde a cultura até a economia, e tem implicações importantes na

gestão e na política urbana dos municípios.

TEMA 2 – O MUNICÍPIO E A LEGISLAÇÃO URBANA BRASILEIRA

O município é um ente federativo, assim como a União, os Estados e o Distrito Federal, conforme
o art. 18 da CF. Dessa forma, tem autonomia política, administrativa e financeira dentro dos limites

constitucionais, sendo responsável pela gestão de assuntos de interesse local. A relação entre os
entes federados é mediada principalmente por meio dos diferentes graus da federação. Eles

caracterizam-se pela divisão do poder político em diferentes níveis de governo; a União; os Estados e
o Distrito; Federal; os municípios. Cada um desses níveis de governo tem as próprias atribuições e

competências, definidas na CF e em outras leis.

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No caso dos municípios, a CF estabelece que cabe a eles a gestão dos serviços públicos de

interesse local, como zoneamento urbano, transporte e limpeza urbana, entre outros. Além disso, os

municípios também têm competência para legislar sobre assuntos locais, desde que não contrariem

as normas federais e estaduais. Portanto, a autonomia dos municípios é relativa; eles devem respeitar
as leis federais e estaduais, assim como a CF. Além disso, a União e os Estados têm competências que

se sobrepõem às dos municípios em determinados assuntos, como é o caso da saúde, da educação e

da política nacional de desenvolvimento urbano.

O processo de criação de municípios é uma prerrogativa de competência estadual. Esse processo

pode ocorrer por meio de três modalidades: desmembramento, incorporação e fusão (parágrafo 4º

do art. 18 da CF). Na primeira, parte do território de um município é destacada para se tornar um


novo município autônomo. Já na incorporação, um município é extinto e seu território é anexado a

outro município existente. No caso de fusão, dois ou mais municípios são extintos e um novo

município é criado pela união de seus territórios. Em todos os casos de criação de municípios, é

necessária a aprovação por lei estadual e pela população dos municípios envolvidos. É importante

destacar que, em todos os casos, é preciso atender a critérios estabelecidos em lei, como a viabilidade

econômica e a população mínima exigida. Além disso, é fundamental garantir a participação da

população afetada, por meio de consulta popular, para que a criação de novos municípios seja feita

de forma democrática e com transparência.

Um dos aspectos fundamentais para a criação de um novo município no Brasil é o estudo de

viabilidade municipal, que consiste em uma análise minuciosa das condições econômicas, sociais,

culturais e políticas da região em questão. Esse estudo deve ser realizado por um órgão técnico

especializado e apresentar informações precisas e detalhadas sobre a população, a economia, a


infraestrutura e outros aspectos relevantes para a criação do novo município. Sobre a consulta à

população, ela deve ser feita por meio de um plebiscito, que é um mecanismo de consulta direta à
população previsto na CF e regulamentado por lei específica (Lei n. 9.709, de 18 de novembro de

1998). O processo de realização do plebiscito é regulamentado pela legislação eleitoral e deve seguir
uma série de etapas específicas, incluindo a publicação do edital de convocação, a definição da data e
do local de votação, a elaboração de urnas e cédulas específicas e a apuração dos votos. É importante

ressaltar que o resultado do plebiscito é vinculativo e deve ser respeitado pelas autoridades
envolvidas no processo de criação do novo município.

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TEMA 3 – A AUTONOMIA MUNICIPAL

No Brasil a autonomia dos municípios é relativa, uma vez que eles têm competências específicas

e competências comuns com os demais entes da federação. As competências municipais exclusivas


são poucas e mais associadas ao que é estritamente de interesse local, enquanto as competências

comuns são mais amplas, de interesse geral e de responsabilidade compartilhada com o Estado e a

União. As competências específicas dos municípios versam sobre a gestão do território municipal, a

promoção do desenvolvimento urbano e a prestação de serviços públicos essenciais, como o


transporte público e o serviço de coleta de lixo. Já as competências comuns dos municípios, Estado e

União estão previstas na CF (art. 23) e incluem, por exemplo, a proteção dos bens públicos, a proteção

do meio ambiente e o combate à pobreza.

Portanto, é importante destacar que a autonomia dos municípios no Brasil não é absoluta, pois

está condicionada a uma série de limitações e competências compartilhadas com os demais entes da

federação. No entanto, essa autonomia é fundamental para garantir a gestão eficiente dos interesses

locais, promovendo o desenvolvimento sustentável e a qualidade de vida da população.

Existem três tipos de autonomia municipal fundamentais para o exercício pleno da gestão local: a

política, a administrativa e a financeira. A autonomia política dos municípios refere-se à capacidade de

gerir seus próprios interesses políticos, com a emancipação dos poderes legislativo e executivo. Isso

significa que o município tem liberdade para elaborar e aprovar leis municipais e exercer a própria

governança. Essa autonomia é fundamental para que o município possa gerir suas questões de forma

independente e atender às demandas da população de modo mais ágil e eficiente.

Já a autonomia administrativa refere-se à liberdade para organizar a administração municipal,


visando a melhor forma de estruturar os serviços públicos a serem prestados à comunidade. Isso

significa que o município pode definir quais serviços públicos serão prestados, como eles serão
organizados e qual será o regime jurídico do quadro de servidores municipais. Quanto à autonomia

financeira, ela consiste na competência municipal de arrecadar recursos, receber receitas e aplicar os
recursos nas destinações previstas em orçamento. Isso significa que o município tem liberdade para
gerir seus próprios recursos financeiros, sem interferência indevida dos governos estadual e federal.

Para garantir a autonomia municipal e sua eficácia, é necessária a elaboração da lei orgânica

municipal. Esse é o documento que estabelece as bases da organização política e administrativa local.
Ele precisa contemplar as temáticas de atribuição do Poder Executivo e do Poder Legislativo,

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especificando as diretrizes legais de âmbito municipal de forma a garantir que o município possa gerir

seus próprios interesses, sem interferência indevida das demais esferas de poder estadual e federal.
Além disso, é fundamental que a lei orgânica municipal esteja em consonância com as expectativas

dos munícipes, de forma a garantir que a população possa participar ativamente da gestão de seus
interesses. A elaboração da lei orgânica municipal precisa ser realizada segundo as diretrizes da Lei

Complementar n. 95/1998, que estabelece as normas gerais para a elaboração de leis no país. Essa

legislação garante que a lei orgânica municipal seja clara, objetiva e de fácil compreensão, facilitando

sua aplicação e sua interpretação.

TEMA 4 – OS BENS MUNICIPAIS

Os bens municipais são aqueles que pertencem ao município e são destinados ao atendimento

das necessidades da comunidade. A caracterização e o uso desses bens são regidos por conceitos

originados no direito romano clássico, tais como o Res nullius, o Res Communes, o Res Publicae e o

Res Private. O primeiro refere-se a algo sem um dono conhecido, determinado. Essa categoria de bem

é importante para a definição do que pode ser considerado patrimônio público, pois a falta de um

dono específico permite que o bem seja apropriado pela coletividade.

O conceito de Res Communes indica a condição coletiva dos bens municipais, o fato de

pertencerem a todos, como as águas, o ar, as estradas e as praças. Esses bens são considerados

imprescindíveis para o exercício da vida em sociedade, sendo, portanto, de uso comum a todos. Res

Publicae contempla o conjunto de bens que pertencem ao Estado e são de uso público, incluindo
aqueles destinados ao uso da administração pública, como os prédios de órgãos governamentais e as

escolas públicas. Esses bens são considerados de interesse público e devem ser utilizados em prol da
coletividade. Já o conceito de Res Private diz respeito aos bens que pertencem a particulares, como as

casas e os terrenos particulares. Apesar de não fazerem parte do patrimônio público, esses bens
podem ser objeto de regulamentação por parte do poder municipal, de forma a garantir o interesse e

o bem-estar da comunidade.

Sendo os municípios entidades políticas autônomas, eles possuem a prerrogativa de possuir um

patrimônio próprio. Essas propriedades são denominadas bens municipais. A natureza desses bens é
dividida em duas principais categorias: os bens corpóreos ou materiais e os bens incorpóreos ou

imateriais. Os bens corpóreos ou materiais são aqueles que possuem existência física, sendo tangíveis

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e perceptíveis pelos sentidos humanos. Incluem, por exemplo, prédios públicos, vias urbanas, praças,

parques, equipamentos e mobiliários urbanos, veículos e maquinários, entre outros. São bens que, em

sua grande maioria, possuem finalidade pública e atendem às necessidades da população.

Os bens incorpóreos ou imateriais, por sua vez, são aqueles que não possuem existência física,
sendo intangíveis e não perceptíveis pelos sentidos humanos. Incluem, por exemplo, direitos autorais,

marcas e patentes, domínio público, concessões de uso, entre outros. São bens que, em sua grande
maioria, possuem finalidade econômica e atendem às necessidades do próprio município. A distinção

entre as duas categorias é importante para a administração dos bens municipais, pois os bens

corpóreos exigem uma gestão mais complexa, com manutenção e conservação, enquanto os bens
incorpóreos exigem proteção e exploração econômica de seu valor. Além disso, a gestão dos bens

municipais deve considerar sempre sua finalidade pública e o interesse da população, garantindo o

uso adequado e eficiente desses bens.

Outro importante aspecto relacionado aos bens municipais é a definição do âmbito da

propriedade e do uso do bem municipal. De acordo com o art. 98 da Lei n. 10.406 (Código Civil), de

10 de janeiro de 2002, os bens pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno, como é o

caso dos municípios, são de domínio público. Ou seja, os bens de domínio público municipal

pertencem ao município, sendo destinados ao uso comum do povo, como praças, parques, ruas e

avenidas. Os bens particulares do município são aqueles destinados a atender suas necessidades
específicas, como imóveis utilizados para a prestação de serviços públicos, escolas, postos de saúde,

prédios administrativos, entre outros.

De acordo com o art. 99 do Código Civil, os bens públicos municipais podem ser classificados em

três categorias. Na primeira categoria encontram-se os bens de uso comum do povo; são aqueles que
podem ser utilizados livremente pela população, sem qualquer tipo de restrição ou impedimento. São

exemplos desses bens praças, ruas, calçadas, parques e jardins públicos. Nesse caso, a utilização dos
bens deve ocorrer de forma compatível com sua destinação, sem prejudicar o direito de outras

pessoas ao seu uso.

Na segunda categoria de bens municipais temos os de uso especial; são aqueles que têm uma

destinação específica e são utilizados para o desempenho das atividades administrativas municipais.
São exemplos desses bens prédios públicos, escolas, hospitais, delegacias e postos de saúde. Nesse

caso, a destinação dos bens é restrita aos órgãos e entidades públicas municipais responsáveis por

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sua administração e manutenção. O terceiro tipo de bens municipais são os da categoria dominical,

aqueles que não têm uma destinação específica e podem ser utilizados para qualquer finalidade,
inclusive para a venda. São exemplos desses bens os insumos pertencentes ao poder público, os

terrenos baldios, imóveis desocupados ou em estado de abandono, entre outros. Nesse caso, o
município tem o direito de alienar esses bens mediante autorização legislativa, observadas as

condições previstas em lei.

As prefeituras têm a responsabilidade de gerenciar os bens municipais e promover o

desenvolvimento urbano. Nesse processo, sua autonomia para dispor desse patrimônio é limitada,

pois elas precisam atentar para as restrições referentes aos bens municipais. Por exemplo, a

inalienabilidade é uma restrição que impede a venda ou a transferência de propriedade dos bens

municipais para terceiros. De acordo com o art. 100 do Código Civil, os bens públicos são inalienáveis,

ou seja, não podem ser objeto de transação comercial ou transferência de propriedade. Essa restrição

é aplicável a todos os bens municipais, sejam eles de uso comum, como praças e parques, sejam de

uso especial, como prédios públicos.

Outra restrição importante é a imprescritibilidade, que se refere ao fato de que os bens públicos

não podem ser adquiridos por usucapião. O art. 183, parágrafo 3º, e o art. 191, parágrafo único da CF

estabelecem que os bens públicos não podem ser adquiridos por prescrição aquisitiva, ou seja, não

podem ser obtidos por meio da posse prolongada e ininterrupta. É necessário considerar ainda a
impenhorabilidade, que impede que os bens municipais sejam penhorados em ações judiciais. Isso
significa que os bens públicos não podem ser dados em garantia em processos de execução, sendo

protegidos pelo princípio da indisponibilidade do patrimônio público.

Os bens de domínio público são inalienáveis, isto é, não podem ser vendidos ou transferidos para
terceiros. Por outro lado, os bens particulares do município podem ser alienados, podendo ser

vendidos ou transferidos, desde que seja comprovada sua falta de necessidade para o município. A
administração dos bens municipais é de responsabilidade da prefeitura, que deve zelar por sua

preservação e garantir seu uso adequado em benefício da comunidade. A utilização indevida dos
bens municipais pode acarretar sanções administrativas e até mesmo penais.

TEMA 5 – ADMINISTRAÇÃO DOS BENS MUNICIPAIS

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A administração dos bens municipais é uma competência da administração do município,

conforme previsto na CF e na própria lei orgânica municipal. Essa responsabilidade inclui a

manutenção, o uso e a cessão dos bens públicos que estão sob sua responsabilidade. A gestão

adequada desses bens é fundamental para garantir sua conservação, utilização e valorização em favor

da população. Para isso, é importante que a administração do município tenha uma política de

manutenção desses bens, de forma a garantir sua durabilidade e funcionalidade. Nesse sentido, a

administração pública municipal possui uma variada gama de dispositivos que são comumente
utilizados para o gerenciamento de terrenos e prédios públicos.

As prefeituras podem ceder o uso de seus bens, por meio de ato administrativo próprio e de
finalidade exclusiva. Existem diferentes tipos de cessão de bens municipais, cada um com suas

características e finalidades. A autorização de uso, por exemplo, é o ato administrativo pelo qual o

poder público permite o uso de bem público por prazo determinado, sem a cobrança de qualquer

contraprestação pecuniária.

A permissão de uso, por sua vez, é a forma de cessão de uso em que o poder público autoriza a

utilização de bem público, podendo ser de forma gratuita ou mediante o pagamento de uma

contraprestação pecuniária. Nesse caso, a permissão é concedida por prazo determinado e pode ser

renovada.

Já a concessão de uso é o ato pelo qual o poder público transfere o uso de bem público a

particular, mediante licitação, com exclusividade e finalidade específica, por prazo determinado e
mediante pagamento de contraprestação pecuniária. Nesse caso, é estabelecido um contrato de
concessão, que define as obrigações e direitos do concedente e do concessionário.

Outro dispositivo utilizado pela administração para ceder a utilização de seus bens é a cessão de

uso. Nesse caso o poder público transfere o uso do bem público a outro órgão público ou entidade,
sem ônus para o cessionário. Essa cessão é realizada por prazo determinado e pode ser renovada.

E há ainda a concessão de direito real de uso, que pode ser considerada a forma mais completa
de cessão de bens públicos, na qual o poder público transfere a posse do bem público a particular,

mediante a realização de uma atividade específica, com o objetivo de trazer algum benefício social ou
econômico para o município. Nesse caso, o concessionário tem algumas obrigações, como a

realização de benfeitorias. No entanto, caso fique caracterizado que os investimentos não foram

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realizados ou que os objetivos esperados não se efetivaram, o poder municipal pode requerer

novamente a posse do bem.

Além dos dispositivos de cessão, os municípios dispõem de mecanismos para a alienação de seus

bens. Eles precisam estar de acordo com a Lei n. 8.666/1993, conhecida como Lei de Licitações,
particularmente com seu art. 17, que estabelece as diretrizes para a alienação onerosa ou não dos

bens públicos. Dentre os dispositivos administrativos de alienação existentes, a venda é a forma mais
comum. Ela consiste na transferência da propriedade do bem para outra pessoa ou entidade,

mediante pagamento. A venda deve ser realizada por meio de licitação, observando-se os requisitos

legais e os princípios da administração pública.

Outro ato bastante comum é a doação. Nesse tipo de ação o poder público transfere a

propriedade do bem a outra pessoa ou entidade sem a exigência de pagamento. A doação deve ser

realizada por meio de lei autorizatória, observando-se os requisitos legais e os princípios da

administração pública.

Por sua vez, a dação em pagamento é a forma de alienação de bens públicos em que o poder

público utiliza o bem como forma de pagamento de uma dívida, sendo necessário que o bem tenha

valor compatível com o valor da dívida, e a alienação deve ser realizada por meio de processo

administrativo. Já na permuta, o poder público troca um bem por outro de valor equivalente. Nesse

caso, a alienação deve ser realizada por meio de licitação, observando-se os requisitos legais e os

princípios da administração pública.

Utilizadas com menos frequência que as anteriores, para a alienação de seus bens o município

pode fazer uso ainda da investidura e da legitimação de posse. A primeira é a forma de alienação na
qual o poder público transfere a propriedade do bem a particular para fins específicos, como a

realização de obras públicas, por exemplo. No caso da legitimação da posse, a administração


municipal reconhece a posse de particular sobre o bem, desde que essa posse seja justa e de boa-fé.

Para tanto, a alienação deve ser realizada por meio de processo administrativo e observar as normas
legais aplicáveis.

Segundo a Lei de Licitações, a administração pública municipal, em sua atividade de gerenciar o


patrimônio público, também pode adquirir bens de acordo com uma gama bastante variada de

dispositivos, que se diferenciam de acordo com a origem do bem incorporado ou com o processo de
aquisição utilizado. O dispositivo mais comum é a compra, seja por meio de licitação, seja por

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dispensa, desde que observados os procedimentos legais. Já a desapropriação, por sua vez, é a

aquisição forçada de propriedade particular pelo poder público, com base em interesse público ou

utilidade social, devendo ser precedida de justa indenização.

A arrematação e a adjudicação ocorrem em leilões ou hasta pública, em que o município pode


arrematar o bem ou ter o direito de adjudicá-lo caso não haja licitantes. A doação é uma forma de

aquisição gratuita, mas deve ser precedida de autorização legislativa e de ato administrativo que
justifique sua conveniência e oportunidade. A dação em pagamento, por sua vez, consiste na entrega

de um bem para pagamento de dívida. O poder público pode receber um bem também por meio de

herança, quando alguém destina parte de seu patrimônio ao município após sua morte ou, ainda, por
meio de resgate, quando o município recupera um bem que havia sido cedido a terceiros, mas que

não estava sendo utilizado de forma adequada, segundo o estabelecido em contrato.

Há ainda a incorporação de bens pelo município utilizando os dispositivos do usucapião, da

investidura, do desmembramento e loteamentos e da reversão. O primeiro é a forma de aquisição

originária de propriedade pela posse prolongada (15 anos para bens imóveis), pacífica e ininterrupta

do bem, com intenção de tê-lo como seu. Já a investidura é a forma pela qual o município passa a ter

a posse do bem por força de lei, sem que haja necessidade de aquisição formal. Quanto ao

desmembramento e loteamentos, eles ocorrem quando o município adquire a propriedade de uma

área maior e a divide em lotes para venda ou utilização de interesse público. Já a reversão é a
aquisição do bem pelo município em razão do descumprimento de encargos ou condições

estabelecidos na lei ou no contrato.

A administração dos bens municipais é uma responsabilidade que exige a implementação de

medidas que visem à preservação do patrimônio público, bem como sua utilização de forma
estratégica, de modo a atender às demandas da população. Nesse sentido, é necessário que haja uma

atenção especial à cessão de bens imóveis, que deve ser conduzida de forma criteriosa, respeitando a
legislação pertinente e garantindo sua regularidade.

Pode-se destacar a Lei n. 9.636, de 15 de maio de 1998, que dispõe sobre a regularização,
administração, aforamento e alienação de bens imóveis de domínio da União, estabelecendo os

procedimentos a serem adotados em relação aos bens públicos; a Lei n. 10.257, de 2001, conhecida
como Estatuto da Cidade, que estabelece as diretrizes da política urbana e orienta a gestão dos bens

imóveis municipais; a Lei n. 11.952, de 2009, que trata da regularização fundiária das ocupações em

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terras da União, estabelecendo as normas para a titulação de imóveis rurais e urbanos em áreas

federais; e a Lei n. 13.465, de 11 de julho de 2017, que instituiu o regime de afetação de patrimônio

de afetação, que permite a utilização de bens imóveis como garantia em operações financeiras.

É fundamental, que a administração dos bens municipais, além de atentar para o que consta na
Lei Orgânica do Município, seja conduzida com base nessas leis federais, de modo a garantir sua

regularização e a preservação do patrimônio público. É necessário que haja uma gestão transparente,
com o cumprimento de todas as exigências legais, para que a cessão e a incorporação de bens

imóveis sejam feitas de forma adequada.

NA PRÁTICA

Circunstâncias de intervenção municipal

A CF estabelece, em seu art. 35, as condições em que a União pode intervir em um município.

São elas:

o não pagamento da dívida fundada por dois anos consecutivos sem motivo de força maior;

a não prestação de contas devidas;

a não aplicação do mínimo exigido da receita municipal na manutenção e no desenvolvimento

do ensino e nas ações e serviços públicos de saúde;

a determinação do Tribunal de Justiça para assegurar a observância de princípios constitucionais


ou para prover a execução de lei, ordem ou decisão judicial;
a omissão ou desídia na defesa do patrimônio público ou na promoção dos valores culturais,

educacionais e históricos do município.

Caso uma dessas condições seja atendida, a União pode intervir no município, o que significa que
o poder executivo municipal será destituído e será nomeado um interventor federal para assumir o
controle da administração municipal. A autonomia do município é, portanto, suspensa, e a gestão de

seus assuntos passa a ser de responsabilidade do interventor federal, gerando implicações


significativas para a autonomia do município, sua administração e sua população.

FINALIZANDO

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A caracterização dos municípios na legislação brasileira é essencial para que sejam definidos os

limites de sua autonomia, garantindo que a gestão dos seus assuntos esteja de acordo com as leis

vigentes. A autonomia dos municípios é um tema relevante, pois assegura a participação dos

cidadãos na gestão de seus interesses e na definição das políticas públicas locais. É por meio da
autonomia que os municípios podem tomar decisões que atendam às necessidades específicas de sua

população, bem como fomentar o desenvolvimento local. A administração dos bens municipais

também é de grande importância, uma vez que esses recursos são patrimônio da população e devem
ser utilizados em benefício de todos. É fundamental que haja uma gestão transparente e responsável

desses bens, garantindo que sejam preservados e utilizados de forma eficiente. O estudo desses

temas contribui para o exercício da cidadania, pois possibilita que os cidadãos conheçam seus direitos

e deveres e compreendam a importância da participação ativa na gestão pública local.

REFERÊNCIAS

BERNARDI, J. A organização municipal e a política urbana. Curitiba: Intersaberes, 2012.

BRASIL. Constituição (1988). Diário Oficial da União, Brasília, DF, 5 out. 1988. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm>. Acesso em: 13 jun. 2023.

_______. Lei n. 8.666, de 21 de junho de 1993. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,

DF, 22 jun. 1993. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8666cons.htm>. Acesso

em: 13 jun. 2023.

_______. Lei n. 9.636, de 15 de maio de 1998. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,

DF, 18 maio 1998. Disponível em: <https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9636.htm>. Acesso em:


13 jun. 2023.

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_______. Lei n. 10.257, de 10 de julho de 2001. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,

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Acesso em: 13 jun. 2023.

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21/03/2024, 08:51 UNINTER

_______. Lei n. 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Diário Oficial da União, Poder Legislativo,

Brasília, DF, 11 jan. 2002. Disponível em:

<https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm>. Acesso em: 13 jun. 2023.

_______. Lei n.13.465, de 11 de julho de 2017. Diário Oficial da União, Poder Legislativo, Brasília,
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LOURENÇO, N. V. Administração pública: modelos, conceitos, reformas e avanços para uma

nova gestão. Curitiba: Intersaberes, 2016.

[1] Este conteúdo tem como referência a obra A organização municipal e a política urbana, do

professor Jorge Bernardi, especificamente o capítulo 1, que trata da organização política dos

municípios.

https://univirtus.uninter.com/ava/web/roa/ 15/15

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