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LAGOA DA CONCEIÇÃO:
DESASTRE URBANO E SOCIOAMBIENTAL ANUNCIADO

Manoel Arriaga Andrade1


Lino Fernando Bragança Peres2

A Lagoa da Conceição, um distrito da cidade de Florianópolis, capital do


Estado de Santa Catarina, está em risco de se transformar em um dos maiores
desastres urbanos e socioambientais do Brasil em poucos anos. A sede da
Lagoa da Conceição localiza-se na divisão entre as duas partes da lagoa de
mesmo nome e foi criada pela Provisão Régia de 7 de junho de 1750 (Figuras 1,
2, 3, 4, 5 e 6).

Figuras 1, 2, 3, 4, 5 e 6: Localização da Lagoa da Conceição e de seus espaços


protegidos

1 Arquiteto Urbanista formado em 1976 na FAU-USP. Mudou-se para Florianópolis, onde trabalhou na
ETUSC/ UFSC desde 1977 na área de projeto e planejamento do campus universitário. Ajudou a criar o
GEMURB/ARQ/UFSC (Grupo da Mobilidade Urbana Sustentável), do qual foi representante no Núcleo
Gestor do Plano Diretor Participativo de Florianópolis. Elaborou projetos e coordenou o Plano Diretor da
UFSC. Foi membro da coordenação do Fórum da Cidade. Membro do Instituto Cidade e Território
(ITCidades) no GT da Mobilidade |Urbana e Acessibilidade. Aposentado da UFSC desde 2012.
2 Arquiteto formado pela Faculdade de Arquitetura da UFRGS em 1977. Mestre em Arquitetura em 1986 e
Doutor em Urbanismo, em 1994, pela DEP/FA/UNAM, México. Professor aposentado pelo ARQ/UFSC
(1978-2015), vereador de Florianópolis (2013-2016/2017-2020), coordenador do GEMURB/ARQ/UFSC,
membro da Coordenação Colegiada do Fórum da Cidade de Florianópolis, do BR Cidades/SC e do IBDU.
Presidente do Instituto Cidade e Território (ITCidades).

*Agradecemos a contribuição de conteúdo do pesquisador Valcionir Corrêa e a revisão da jornalista Míriam


Santini de Abreu.
2

Mapa dos espaços de natureza protegida na Ilha de


Santa Catarina. Modificado de FERRETI, 2013,

Não há quem não veja a Lagoa da Conceição (LC) como uma das belas
obras da natureza. Ela tem uma idade geológica de mais de 180 milhões de anos
(SCHEIBE, 2021) em uma área aproximada de 20 Km2. Acolheu, inicialmente,
uma população nativa de indígenas Sambaquis, Itararés e Carijós. Após a
colonização, recebeu também moradores de origem açoriana na beira da laguna
em toda a sua extensão, pescadores artesanais e quilombolas. Mais tarde,
estabeleceram-se os comerciantes, os florianopolitanos construíram casas de
veraneio, vieram os turistas paulistanos, gaúchos e fluminenses, aposentados,
3

adeptos dos esportes terrestres, aéreos, lacustres e marítimos. Vieram também,


de todos os cantos do mundo, os apreciadores das paisagens, da sua fauna e
flora, das dunas, das praias, das florestas, do sol, da vida pacata, da
gastronomia, enfim, das mais variadas riquezas desta maravilhosa natureza que
é a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição, um ecossistema único, de valor
ambiental, histórico, científico, econômico e paisagístico inestimável.
Perder este patrimônio nacional e toda esta riqueza natural, social e
cultural é um desserviço aos esforços nacionais e mundiais pela preservação
climática e humana e que pode contribuir para evitar um futuro colapso ambiental
do planeta. Os governos do Município de Florianópolis e do Estado de Santa
Catarina têm responsabilidade direta sobre a preservação ou destruição deste
patrimônio.
É urgente mudar, radicalmente, a percepção tradicional e corrente de que
é possível extrair, intensiva e permanentemente, seja de forma individualizada,
seja por ação do Estado ou empresarial, os recursos que a Bacia hidrográfica do
Distrito da Lagoa da Conceição nos oferece. Os recursos são frágeis e finitos!
A preocupação com a preservação, todavia, vem tomando conta de parte
da população, moradores ou não da Lagoa da Conceição. Entidades e
associações comunitárias têm organizado diversas manifestações em defesa
deste rico patrimônio3. Diversos trabalhos acadêmicos elaborados ao longo das
quatro últimas décadas vêm demonstrando, científica e detalhadamente, os
enormes riscos que estão se apresentando nos últimos anos. Nos meios
políticos, na Assembleia Legislativa de Santa Catarina e na Câmara de
Vereadores, ouvem-se vozes denunciando atividades e eventos predatórios4.

3A Lagoa tem sido tema de defesa de preservação ambiental há muitos anos e o mais recente foi o protesto
dos moradores contra o rompimento da ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) em 25 de janeiro de 2021,
como se pode ver na reportagem com o titulo "Vídeo: Moradores da Lagoa da Conceição protestam contra degradação
ambiental”. Disponível em https://ndmais.com.br/cidadania/video-moradores-da-lagoa-da-conceicao-
protestam-contra-degradacao-ambiental/. Acesso em: 25 jun. 23.
4Podemos citar os mais recentes estudos sobre os impactos de obras na LC como os desenvolvidos pelo
biólogo, professor e pesquisador da UFSC Paulo Horta, do grupo de pesquisa Ecoando, do Departamento
de Biologia da UFSC, a respeito do desastre ambiental ocasionado pelo rompimento da Estação de
Tratamento de Esgoto (ETE) na LC em 25 de janeiro de 2021. Veja a reportagem sob o titulo “UFSC na
mídia: Lagoa da Conceição tem ´zona morta´ após desastre ambiental, diz pesquisador da UFSC”.
Disponível em https://ndmais.com.br/meio-ambiente/lagoa-zona-morta-desastre-
ambiental/?utm_source=whatsapp&utm_campaign=wp-florianopolis&utm_medium=wp-grupos. Acesso
em: 25 jun. 23. Citamos também os autores Luisa Botelho Matte, Marina Hinterholz Lauschner e Bruna
Luiza Gama Correia no artigo “Desastre na Lagoa da Conceição: o que podemos aprender sobre
governança e accountability?”, disponível em https://politeiacoproducao.com.br/desastre-na-lagoa-da-
conceicao-o-que-podemos-aprender-sobre-governanca-e-accountability/. Acesso em: 25 jun. 23. Um
estudo mais geral e de avaliação sobre a LC está em Jennyfer Silva Vieira e Jairo Afonso Henkes no artigo
4

Por outro lado, ainda hoje, gestores e órgãos oficiais do Município


insistem em desconsiderar as manifestações de alerta. Os riscos sequer foram
considerados no processo de “Revisão do Plano Diretor”5 que poderia ter
apresentado, minimamente, o desenvolvimento de um “Plano Municipal de
Preservação da Lagoa da Conceição”, uma reivindicação antiga da
população, ainda que durante as 13 audiências públicas distritais e uma
municipal, realizadas no segundo semestre de 2022, a maioria dos participantes
protestou contra a falta de capacidade de suporte para um expansão edificatória
do município sem se preservarem os ecossistemas e atender a infraestrutura e
serviços adequados. Assim, se hoje estamos falando sobre a gravidade e os
riscos de sobrevivência da LC, é porque não nos faltam estudos, protestos e
manifestações de desaprovação com as ações político-administrativas dos
governos que deveriam estar tratando, com urgência, de medidas para salvar a
LC.

Mobilidade Urbana – uma das principais ameaças ao ecossistema social,


ambiental, econômico e cultural da Lagoa da Conceição existente hoje

Um aspecto dos estudos e protestos sobre a gravidade da situação na LC


que ainda não foi abordado de forma central, como um determinante para
garantir ou não a sustentabilidade deste território, é a política do governo
municipal para a Mobilidade Urbana da cidade e, particularmente, do
Distrito da LC.
Sabemos que a Prefeitura Municipal de Florianópolis (PMF) não tem uma
política pública estruturante de mobilidade e acessibilidade urbana, e sim apenas
alguns poucos e pontuais projetos de mobilidade urbana que, no entendimento

“Uma análise nos impactos ambientais causados na Lagoa da Conceição pelo despejo de efluentes”,
disponível em
file:///C:/Users/2274/Downloads/admin,+UMA+ANALISE+NOS+IMPACTOS+AMBIENTAIS+CAUSADOS+
NA+LAGOA+DA+CONCEI%C3%87%C3%83O+PELO+DESPEJO+DE+EFLUENTES.pdf . Acesso em: 25
jun. 23.
5A revisão do plano diretor foi feita e aprovada em duas sessões na Câmara Municipal em abril e maio de
2023, com a sanção posterior na Lei 739/23. Apesar de toda a mobilização desde 2021 e da elaboração de
um substitutivo global ao então Projeto de Lei Complementar 1911/22, que tramitou na Câmara, o PLC foi
aprovado sem emendas, as quais foram derrubadas nas comissões de mérito e no plenário, tanto da
bancada de oposição, constituída pelos partidos PT e PSOL, como dos vereadores da situação, que
retiraram as emendas.
5

dos gestores públicos, vão “desafogar o trânsito”. A partir daí, acionam toda a
mídia tradicional para divulgar estes “projetos”.
O esperado “Plano Diretor de Mobilidade Urbana” está sendo
protelado pelo governo há mais de 10 anos, de forma totalmente ilegal,
desrespeitando toda a legislação federal pertinente, sujeito, inclusive, a
processos administrativos e judiciais6. Lembramos que este plano de
Florianópolis, dentro dos planos específicos da extinta Lei 482/14, não foi
desenvolvido e ultrapassou os prazos estipulados à época. Pois bem, a nosso
ver, um Plano de Mobilidade Urbana da Capital pode se apresentar hoje como
principal determinante de soluções sustentáveis e garantias de preservação,
e a falta dele, por outro lado, pode se apresentar como a principal responsável
pela rápida degradação de todo o ecossistema da LC.
Estamos diante de uma situação muito grave, a de permitir ou não o fim
do sistema socioambiental existente hoje na LC. Se permitirmos a implantação
dos “projetos de mobilidade” apresentados pela PMF sem um Plano maior,
teremos brevemente não um sistema socioambiental sustentável, e sim a
destruição do ecossistema existente, pelo crescimento das demandas e
necessidades da população, poluição e contaminação das águas, do ar e do
subsolo, tráfego de veículos terrestres e lacustres intensos, incremento da
impermeabilização do solo por pavimentação viária em todos os recantos da
Lagoa, abertura de grandes avenidas e, principalmente, a repetição da tragédia
da segregação e exclusão socioespacial que já acontece em todo território da
Grande Florianópolis com a elitização ou processo de gentrificação7 social e
espacial da LC.

6 Relação de municípios obrigados à elaboração do Plano – Ministério da Integração e do Desenvolvimento


Regional: https://www.gov.br/cidades/pt-br/acesso-a-informacao/acoes-e-programas/mobilidade-
urbana/sistema-de-apoio-a-elaboracao-de-planos-de-mobilidade-urbana/levantamento-sobre-a-situacao-
dos-planos-de-mobilidade-urbana. Acesso em: 25 jun. 23. A Política Nacional de Mobilidade Urbana –
PNMU (Lei Federal nº 12.587, de 3 de janeiro de 2012, alterada pela Lei nº 14.000, de 2020), determina
que devem apresentar seu Plano de Mobilidade Urbana como condição para receber recursos
orçamentários federais destinados à mobilidade urbana os municípios com mais de 20 mil habitantes; os
integrantes de regiões metropolitanas, regiões integradas de desenvolvimento econômico e aglomerações
urbanas com população total superior a um milhão de habitantes; e os integrantes de áreas de interesse
turístico, incluídas cidades litorâneas que têm sua dinâmica de mobilidade normalmente alterada nos finais
de semana, feriados e períodos de férias, em função do aporte de turistas, conforme critérios a serem
estabelecidos pelo Poder Executivo. A Lei estabelece que o Plano de Mobilidade Urbana deve ser
elaborado e aprovado nos seguintes prazos: I - até 12 de abril de 2022, para Municípios com mais de 250
mil habitantes; II - até 12 de abril de 2023, para Municípios com até 250 mil habitantes.
7 “A gentrificação é um processo caracterizado pela valorização de determinada área urbana. Essa
valorização ocorre por meio de ações diversas, como reformas urbanas, que implicam o aumento do custo
de vida na região. Portanto, há uma mudança no perfil dos moradores dessas localidades, no geral marcado
6

Como as atuais práticas e projetos de mobilidade urbana da PMF e do


Estado de SC podem levar ao colapso da Lagoa da Conceição

Apresentamos quatro principais obras de porte em mobilidade urbana


“projetadas” (não planejadas de forma estruturante e participativa) pela PMF que
deverão impactar de maneira decisiva, e negativamente, todo o território da
Bacia Hidrográfica da LC:

1 - Abertura de uma Via Expressa para acesso à Lagoa da Conceição pela


SC-404 no Itacorubi e abertura de um Túnel sob o Morro da Lagoa (Figura
7)

Figura 7: Localização da via a ser duplicada no Bairro do Itacorubi

Localização da SC-404 – trecho de duplicação

2 - Construção de uma nova Ponte de Travessia da Lagoa junto ao


Centrinho, exigindo diversas obras secundárias de acesso

pela chegada de pessoas com maior poder aquisitivo. A gentrificação tem como grande consequência o
crescimento da desigualdade socioespacial nas cidades. Assim, esse é um processo urbano bastante
criticado, especialmente em razão do seu caráter elitista”. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/geografia/gentrificacao.htm#:~:text=Gentrifica%C3%A7%C3%A3o%20%C3
%A9%20um%20processo%20de,a%20expuls%C3%A3o%20de%20antigos%20moradores. Acesso em:
26 jun. 23.
7

A ponte terá largura ampliada em relação à atual ponte e altura elevada


para permitir o aumento do calado das embarcações, indicando claramente a
falta de planejamento e estudos ambientais preventivos, o que revela a
despreocupação com o futuro da LC.

3 - Aumento significativo do tráfego de veículos automotores na Avenida


das Rendeiras e previsão de alargamentos das vias públicas

Já foi iniciado o processo com a atual obra de construção do binário da


Avenida das Rendeiras. O tráfego criado irá exigir obras de acesso á Barra da
Lagoa, Rio Vermelho e outras praias, bem como a todo o Norte da Ilha, e obras
de acesso ao Sul da Ilha (Rio Tavares, Campeche), com tendência à duplicação
de toda a Avenida das Rendeiras.

4 - Criação de Marinas desde o canal da Barra da Lagoa e crescimento do


tráfego de embarcações em todas as localidades, inclusive na Lagoa de
Dentro

Trata-se da liberação para barcos de maior calado e iates, velho sonho


dos grupos dominantes locais desde o projeto da Marina Porto da Barra8. Irão
retomar este projeto e outros de congestionar a LC com barcos de luxo, o que a
contaminará, mais ainda, com produtos residuais da lavagem dos barcos e óleo.
Todos estes “projetos de mobilidade urbana” existem na agenda dos
gestores da cidade com um único objetivo: abrir as portas da Lagoa da
Conceição ao capital nacional e internacional de turismo, com a
disponibilização de oportunidades de investimentos ao capital imobiliário, ao
capital turístico-hoteleiro, aos grandes investimentos comerciais, às
imobiliárias, aos empreendimentos de lazer marítimo de elite e, ao mesmo
tempo, buscando perpetuar os poderes dos grupos político-administrativos
hegemônicos do Município de Florianópolis.

8O MPF foi vitorioso e barrou aquela Marina no canal da Barra da Lagoa, com Estudo de Impacto Ambiental
e de Vizinhança. Seria um impacto brutal de 300 barcos e iates e o tráfego de veículos correspondente ao
acréscimo de população. Abordaremos, mais adiante, este empreendimento.
8

Se estes “projetos de mobilidade urbana” prevalecerem, o destino da


Lagoa da Conceição estará traçado e, em pouco tempo, não poderemos mais
desfrutar deste magnífico ecossistema, desta paisagem deslumbrante e dos
recursos naturais, sociais e culturais enquanto bens de toda a sociedade.
Vejamos, a seguir, mais detalhadamente, cada uma das ameaças.

A primeira ameaça: abertura de uma Via Expressa para acesso à LC pela


SC-404 no Itacorubi e abertura de um Túnel sob o Morro da Lagoa

As configurações espaciais estarão todas transformadas pelas avenidas,


invadidas e entupidas por automóveis poluentes, a começar pelo bairro do
Itacorubi com o alargamento da SC-404 (Rodovia Admar Gonzaga), ou seja,
a abertura de uma Via Expressa para acesso à LC pela SC-404 e a
construção do Túnel sob o Morro da Lagoa (Figura 8).

Figura 8: Localização da obra

Estes projetos já serão os primeiros convites aos motoristas que,


orientados pela PMF, em mais um daqueles sistemas binários mal projetados,
9

sem consulta às comunidades, serão “jogados”, com muito mais “fluidez”,


diretamente, na antiga Freguesia da Lagoa ou no atual, mas ainda o pacato,
“Centrinho da Lagoa”9
Em uma tentativa de ludibriar a população, a PMF chegou a informar que
o valor da obra seria de 150 milhões. Logo foi desmentida pelos cálculos do
orçamento contratado, quando foi corrigido para mais de 670 milhões de reais10.
A execução da obra, da mesma forma enganosa, foi prevista para acontecer em
dois anos, mas sabe-se que, por exemplo, a duplicação da Rua Antônio Edu
Vieira, no Pantanal, uma obra a céu aberto, com terrenos que foram doados pela
UFSC, demorou 10 anos para ser entregue, ainda assim parcialmente, com
grandes transtornos aos moradores da região e da cidade.
É preciso lembrar que a duplicação da SC-404 precisará contar ainda com
amplas alças de acesso próximas ao túnel e, talvez, até um viaduto para
travessia dos veículos11. Há estudos sendo elaborados pelo Grupo de Trabalho
Território e Ambiente do Instituto Cidade e Território (ITCidades).

A segunda ameaça: construção de uma nova ponte de travessia da Lagoa


da Conceição

Chegar ao “Centrinho da Lagoa” não bastará para satisfazer os turistas.


Orientado pela PMF, nem mesmo o turista local estará satisfeito em chegar
apenas ao “Centrinho da Lagoa”, e o que se pode esperar do turista brasileiro ou
internacional, que virá em grande número, desfilando em veículos particulares e
ônibus, ávido por se apropriar do que a riqueza da natureza e da paisagem

9 Túnel vai interligar Lagoa da Conceição ao Itacorubi, em Florianópolis. Disponível em:


https://floripamanha.org/2021/09/tunel-vai-interligar-lagoa-da-conceicao-ao-itacorubi-em-florianopolis/.
Acesso em: 18 jul. 2023.
10Ver notícia “Prefeitura de Florianópolis toma decisão sobre o projeto do túnel da Lagoa”. Disponível em:
https://floripamanha.org/2023/06/prefeitura-de-florianopolis-toma-decisao-sobre-o-projeto-do-tunel-da-
lagoa/. Acesso em: 18 jul. 2023. Trecho: “A Prefeitura de Florianópolis desistiu do polêmico projeto do túnel
do morro da Lagoa da Conceição. O principal motivo é o custo da obra. O entendimento, com base num
levantamento preliminar, é de que o investimento seria muito alto – entre R$ 400 milhões e R$ 672 milhões
– e desproporcional em relação aos benefícios da obra para a mobilidade urbana. Em publicação feita no
Diário Oficial desta terça-feira (6), a Secretaria de Transportes e Mobilidade formalizou a paralisação do
contrato assinado com uma empresa de consultoria para realização de estudos sobre a viabilidade de
construção um túnel com extensão de 1.340 metros e acessos de 1.160 metros”.
11Dados da secretaria apontam que no verão o trânsito pelo Morro da Lagoa tem média de 58 mil veículos
por dia, enquanto fora da alta temporada esse número é de 43 mil (Coluna do jornalista Anderson Silva,
NSC, 31/08/2021).
10

podem oferecer, gratuitamente, registrando tudo que for possível em milhares de


selfies que vão percorrer o mundo?
O desejo será de ver mais, além do Centrinho, como, por exemplo,
adentrar pela não menos famosa Avenida das Rendeiras para conhecer de perto
as águas da Lagoa da Conceição. Para isso, precisarão de uma nova ponte que
facilite este adentramento sem riscos e desconfortos. Logicamente não
encontrarão mais as mulheres rendeiras de outros tempos, não poderão mais
banhar-se nas águas da Lagoa, nem mesmo molhar os pés, pois a contaminação
impedirá o desfrute. Porém, a Lagoa ainda oferecerá aos mais abastados alguns
ruidosos esportes náuticos ou os silenciosos passeios de escuna. Ao longo da
Avenida das Rendeiras, uma variedade imensa de restaurantes cada vez mais
elitizados brigará para oferecer produtos gastronômicos comparáveis aos dos
grandes centros urbanos. Chegar à Avenida das Rendeiras, portanto, irá exigir,
do ponto de vista da PMF, além da “nova ponte”, muito mais “melhorias” em
mobilidade urbana (duplicações, pavimentações, estacionamentos, sinalizações
etc.).
Com a chegada do fluxo de veículos pelo futuro Túnel sob o Morro da
Lagoa e o sistema binário anunciados pelo prefeito Topázio Neto, o sistema
viário oferecerá aos visitantes o descortinamento de uma das paisagens mais
belas do Brasil. Considerando as projeções subestimadas da prefeitura (ver nota
9) do fluxo diário, o acesso de veículos à LC deve, pelo menos, dobrar nos
próximos anos fora de temporada e quadruplicar na temporada, potencializando
em muito os efeitos sobre as condições climáticas e ambientais e,
principalmente, a Capacidade de Suporte12 de todo o ecossistema da LC e do
sistema social existente.
Com base na previsão desta enxurrada de veículos a ser recebida pela
LC diariamente, a PMF já se adiantou na análise de que a atual Ponte da Lagoa
não atenderá mais a “demanda” de veículos que circularão entre o Centrinho e
a Avenida das Rendeiras.

12 Entendido como a capacidade do ambiente em dar conta do crescimento populacional que gera
necessidades de habitações, de sistema de esgoto, sistema de energia elétrica e comunicação,
atendimento à saúde, educação, transporte, coleta de resíduos, vias públicas, segurança pública etc. em
um determinado ecossistema.
11

O quadro está dado para que se anuncie a segunda ameaça ao meio


ambiente. Já podemos perceber que as principais ameaças à vida urbana
chegam, quase sempre, via sistema viário e via modos privados de locomoção.
Para este roteiro de acesso aos encantos da LC, a PMF preparou então mais
uma “necessária e inteligente” obra de infraestrutura urbana para o Distrito da
LC: a “Nova Ponte da Lagoa da Conceição e a adaptação de toda a
infraestrutura viária para os novos acessos” à Avenida das Rendeiras e ao
Túnel. Quanto custará esta ponte em termos físicos? Qual é o prazo de término?
Somente o tempo dirá, porque nem mesmo o “projeto” é totalmente conhecido.
Caberá à sociedade mobilizada buscar essas informações, com a mediação do
Ministério Público e Defensoria Pública.
Perguntamos ainda: como a construção desta ponte afetará o movimento
das águas entre a Lagoa de Dentro e a Lagoa de Fora? Como interferira na
composição biológica das águas? Que poluição irá gerar nas águas e no ar e
como a abertura para embarcações maiores afetará todo o ambiente? Como
serão as adaptações em atracadouros e marinas. São perguntas sem respostas
consistentes. Há pesquisas científicas elaboradas nas universidades13, porém
desconsideradas pela PMF.
Por determinação do juiz Marcelo Krás Borges, liminar na Justiça Federal
embargou o início das obras da nova ponte na LC14, no entendimento de que
seria necessária realização de Estudo de Impacto Ambiental (EIA) antes de
qualquer intervenção no local, sob pena de ocorrência de danos ambientais de
difícil ou impossível reparação.
A PMF recorreu ao TRF-4 e conseguiu suspender a liminar, que foi
novamente acolhida, mas, em 11 de agosto, o presidente do Tribunal,
desembargador Fernando Quadros da Silva, decidiu, de forma monocrática e
sem passar pelo pleno dos desembargadores do Tribunal, decidiu pelo
licenciamento regular da obra, sendo esta a terceira decisão do TRF415.

13 Ver a nota 2.
14Ver a notícia intitulada “Justiça, por liminar, voltou a suspender novamente a obra da nova Ponte da
Lagoa”, disponível em https://www.guararemanews.com.br/justica-volta-a-suspender-obra-da-nova-ponte-
da-lagoa/. Acesso em: 25 jun. 2023. Esta obra iniciou em 10 de abril, tendo a primeira paralisação de 12 a
28 de abril, a segunda de 9 a 18 de maio e a terceira de 26 de julho até o momento.
15Disponível em: http://www.portaldailha.com.br/noticias/lernoticia.php?id=60323. Acesso em: 12 ago.
2023. Segundo o presidente do TRF-4: “o gargalo na confluência das ruas e avenidas próximas afeta não
apenas o deslocamento na região, mas restringe a própria mobilidade urbana da cidade, uma vez que se
12

A nota elaborada pelo Ecoando Sustentabilidade, da UFSC, do qual


participa o professor Paulo Horta, apontou que “qualquer intervenção na Lagoa
da Conceição seja precedida de estudos de impacto ambiental detalhados e
abrangentes, discutindo estressores, alternativas ao empreendimento, assim
como eventuais planos de contingência. É fundamental que o referido estudo
tenha papel determinante na tomada de decisões e contribua para a busca por
um planejamento urbano que busque o efetivo desenvolvimento sustentável
considerando como prioritárias as questões ambientais representadas
especialmente pelos Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável (ODS) 13
(Ação Climática) e 14 (Vida na água), considerando a indispensável leitura
hierárquica dos ODSs conforme recomendado pelo Stockholm Resilience Centre
(2016)16”.
Caberá à sociedade organizada e aos movimentos ambientalistas e
sociais mobilizarem-se para que se reverta a terceira decisão do TRF-4,
considerando os estudos técnicos e os riscos iminentes assinalados.
O conjunto de impactos ambientais e urbanísticos que a ponte sobre a LC
pode ocasionar assemelha-se ao que ocorreu com a Marina Porto da Barra17,
um projeto residencial e comercial com recepção de barcos a motor e à vela e
outras modalidades menores náuticas e propunha uma ponte elevada para a
Lagoa da Conceição com a recepção de trezentos barcos que desaguariam na
LC, ocasionando enormes impactos na biota da Lagoa, sendo também um polo

encontra em um eixo, na passagem entre o sul da ilha e sua zona central”. Disponível em:
https://www.nsctotal.com.br/colunistas/anderson-silva/obra-da-ponte-da-lagoa-e-liberada-pelo-trf4. Acesso
em: 10 ago. 2023. O parecer do presidente do TRF-4 faz uma análise técnica na área do tráfego viário que
deveria ser fundamentada. Perguntamos: com base em quais critérios técnicos se sustenta a afirmação
exposta?
16 Disponível em: https://www.trf4.jus.br/trf4/controlador.php?acao=noticia_visualizar&id_noticia=27002.
Acesso em: Acesso em: 12 ago. 2023. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, editada pela
Organização das Nações Unidas em setembro de 2015, consolida o que há de mais avançado em
sustentabilidade, fixando 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), a serem concretizados por
países desenvolvidos e em desenvolvimento. Como signatário da Agenda 2030, o Estado brasileiro assumiu
o compromisso de formular e efetivar políticas públicas que garantam o cumprimento dos 17 ODS em todos
os níveis apropriados. O Programa Cidades Globais do IEA/USP, assim como seu Ciclo de Seminários
UrbanSus, que propiciaram as reflexões que compõem este artigo, são bons exemplos do apoio que a
universidade pode dar aos estudos e discussões sobre a sustentabilidade.
17 Esta Marina era um conjunto residencial e comercial-turístico com atracadouros para barcos a motor e à
vela. Tratava-se de uma marina destinada ao incremento do turismo de um setor específico da população
turística, que poderia pagar por este tipo de serviço. O “eixo principal de acesso” ao conjunto era anunciado
por um pórtico, que buscava efetuar a transição/integração entre a comunidade da Barra da Lagoa e o
centro de animação principal do empreendimento, a praça do mercado (FERREIRA, F. A. C.; PERES, L. F.
B.; SILVEIRA, L. R.; SOUZA. J. C. 1996).
13

gerador de tráfego pela demanda de veículos de usuários da Marinha. Em


Ferreira, Souza, Peres e Silveira (1996)18 são analisados os vários fatores de
ordem urbanística e de engenharia com a construção e uso desta Marina, com
outros pareceres técnicos da área da biologia apreciados pelo Ministério Público
Federal que abriu inquérito e, ao final, embargou o empreendimento.
Um dos aspectos centrais dos pareceres ligados aos estudos de impacto
ambiental, e destacado também em Ferreira et ali (1996), era o destino de uso
das águas do canal em função da intensificação do lazer náutico motorizado
promovido pela implantação do empreendimento. Destacava-se que era “de
conhecimento público que a Lagoa da Conceição ainda não dispõe de um Plano
Diretor das Águas, apesar do aumento indiscriminado da infraestrutura náutica
na região. Soma-se a esta deficiência a ausência de política ambiental do
município e do estado, destinada a estabelecer o controle ambiental sobre a
exploração dos recursos naturais da eco região da Lagoa da Conceição”
(FERREIRA et ali, 1996).
Este empreendimento e seu impedimento geraram uma espécie de
jurisprudência que pode auxiliar na análise da construção da segunda ponte na
LC e o sistema viário extensivo pela Avenida das Rendeiras, cujos elementos ou
fatores de impacto guardam semelhanças com o projeto Marina Porto da Barra.
Aliás, pode-se deduzir que o conjunto aqui denominando de “ameaças” traz
aspectos estruturantes próximos aos que poderiam ser provocados pela
construção da Marina Porto da Barra, tanto no tráfego náutico gerando no canal
e na Lagoa quanto na movimentação veicular resultante.

18Sobre o projeto Marina Porto da Barra, consultar FERREIRA, F. A.C.; PERES, L.F.B.; SILVEIRA,
L.R.M.da; SOUZA, J.C. de. Parecer sobre o EIA/RIMA do Projeto Porto da Barra. 1996. Disponível em:
http://www.arq.ufsc.br/viewArtigo.php?artigoID=27. Parecer encaminhado ao Ministério Público Federal
para integrar Ação Civil Pública (Processo nº 97.0000001-0). Acesso em: 5 jul. 2023. O Parecer destaca
alguns aspectos entre os quais: a Marina poderia gerar um polo gerador de impacto que exigiria estudos
mais amplos de impacto do sistema viário e que não foram feitos. Além disso, não se previam “condições
de moradia, transporte e trabalhistas para os 600 empregos de implantação da obra. O aumento de fluxo
de transporte diário de operários em caso de não residirem no local de trabalho, ou, ao contrário, construção
de galpões provisórios de moradia, são iniciativas que não estão devidamente previstas e pensadas. Por
se tratar de uma área localizada no interior da Ilha, com dificuldades de transporte, e considerando a
magnitude de mão-de-obra para este caso, exige a previsão em planta de uma infraestrutura mínima e em
condições humanas adequadas para o quadro de pessoal da obra”. Com esta análise de impacto viário,
assinalam-se os impactos imobiliários com aquela obra, que causaria aumento do preço dos terrenos e
imóveis, pela natureza elitista do empreendimento, tendendo a expulsar os moradores nativos de baixa
renda da região. Uma análise sobre esta Marina é feita por Lopes, Carioni e Vaz em “Legislação Ambiental
e Urbanística no Brasil: o caso Porto da Barra em Florianópolis”, Disponível em:
https://www.redalyc.org/pdf/3517/351732218006.pdf. Consultado em: 5 jul 23.
14

A terceira ameaça: aumento significativo do tráfego de veículos


automotores na Avenida das Rendeiras

Como em um filme já visto, os turistas, após conhecerem as belezas do


Centrinho e da Avenida das Rendeiras, já começam a sentir o desejo de
permanecer aqui usufruindo disso tudo. Pensam em como adquirir uma casa,
um apartamento, um imóvel em um condomínio de maneira que tenham
possibilidade de descobrir todos os benefícios de uma vida saudável e todos os
recantos da Lagoa e da Ilha de Santa Catarina (Figura 9).

Figura 9: Vista da Lagoa da Conceição

Crédito: Míriam Santini de Abreu – Arquivo do ITCidades

Assim, os “projetos viários” da PMF, como dissemos, irão cumprir à risca


o seu principal objetivo, “abrir as portas para a plena realização do capital
investidor”, através da obtenção de altos lucros, proporcionados pela PMF
“empreendedora”.
Mas outros caminhos ainda precisarão ser “desbravados” para que os
investidores também cheguem aos recantos da Praia da Joaquina, às dunas da
Joaquina, à Praia Mole e à Galheta, a um desfilar de paisagens que se
15

apresentam no trajeto até a Barra da Lagoa para conhecerem o frágil canal que,
até pouco tempo atrás, propiciava uma diversidade de vida à Lagoa da
Conceição.
Finalmente, vão descobrir o bairro do Rio Vermelho, que, “esquecido” até
pouco tempo atrás por causa das distâncias em relação ao Centro da cidade ou
mesmo ao Centrinho da Lagoa, guardou belos terrenos próximos à Praia de
Moçambique, prontos para receberem grandes empreendimentos imobiliários
como condomínios verticais ao modelo de Balneário Camboriú. Cabe aqui
destacar o processo de titulação do Quilombo Vidal Martins, que vem há anos
lutando pela certificação19, obtida recentemente via Incra, e titulação de suas
terras ancestrais, parte delas no Parque do Rio Vermelho. O processo final de
titulação se dá junto ao governo do estado de Santa Catarina com intermediação
do Ministério da Igualdade Racial e da Fundação Palmares. Esta comunidade
negra reivindica um plano de manejo, atualmente em elaboração, que parte,
além das premissas legais e constitucionais da Resolução 169, da OIT, de
pressupostos de preservação ambiental da região, cultivo agroflorestal e turismo
de base comunitária. O projeto certamente será impactado pela expansão
urbano-turística do fluxo veicular e imobiliário em direção à região.
A dominação de todos estes recantos que a natureza apresenta hoje será
proporcionada, assim, pela abertura de espaçosas avenidas, com acessos às
praias do Norte da Ilha, ao gosto dos “projetos” da PMF, as tais “duplicações”
que “irão desafogar o trânsito”, como dizem os “gestores” da cidade.
E assim, passo a passo, toda a Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição
estará enquadrada nos planos de investimento do capital. Desta forma, os
gestores da PMF têm administrado a cidade, através de seus “projetos viários”
equivocados, sem qualquer consulta à sociedade.
Sim, a LC estará enquadrada, mas não será mais a mesma. Será a Lagoa
degradada, uma Lagoa já decadente em suas diversas características naturais,
sociais e culturais, como a conhecemos atualmente em 2023.

19 Trata-se de uma comunidade que demanda por uma área de 961 hectares localizada ao Leste da Ilha
de Santa Catarina, sendo reconhecida pelo Incra como terras da comunidade quilombola Vidal Martins,
através da Portaria nº 1.511, publicada no Diário Oficial da União de 25 de julho de 2022. Disponível em:
https://www.gov.br/incra/pt-br/assuntos/noticias/portaria-reconhece-territorio-quilombola-em-florianopolis-
sc, Acesso em: 23 ago 23. Para saber mais sobre essa comunidade, que é o único quilombo de Florianópolis
e um dos poucos quilombos urbanos do país, ver a reportagem do Portal Catarinas em
https://catarinas.info/quilombo-de-floripa-luta-por-titulacao-ha-1-decada/ . Acesso em: 23 ago 23.
16

A quarta ameaça: criação de Marinas desde o canal da Barra da Lagoa e


crescimento do tráfego de embarcações em todas as localidades, inclusive
na Lagoa de Dentro

Esta ameaça expressa-se concretamente, de forma indireta, em impactos


sobre todo ecossistema da região da LC, agravando sobremaneira os outros
fatores que contribuem para a degradação ambiental das águas da LC.
Citamos alguns desses fatores impactantes:
- Crescimento da circulação de veículos aquáticos motorizados (veículos de
moradores, veículos de turistas, veículos que cruzam em direção ao Rio
Vermelho; Norte da Ilha; Rio Tavares, Campeche e Sul da Ilha). O impacto sobre
a qualidade da água é previsível. A poluição deverá ser agravada pelo aumento
das embarcações.
- Inexistência de um plano diretor específico para a Bacia Hidrográfica da
Lagoa da Conceição.
- Implementação do Plano Diretor de Florianópolis, aprovado em maio deste
ano e cuja Lei 739/23 permite o avanço imobiliário nas áreas alagáveis, nos
topos de morro, como os da LC, adensamento e verticalização por outorga
onerosa, significando acréscimo de população, além dos visitantes e turistas
atraídos pela expansão do sistema viário via SC-404, túnel e ponte sobre a LC20.
- Ameaças ambientais permanentes sobre Áreas Protegidas, Parques, lagoas
de infiltração nas dunas; esgoto direto na Bacia hidrográfica da Lagoa da
Conceição; poluição de óleo e metais; marés; obras na Barra da Lagoa;
desmatamento.
- Inexistência de um Plano de Mobilidade Urbana para a cidade e específico
da Lagoa da Conceição (Plano de Transporte Público; Plano de Conservação
Ambiental; Plano de Capacidade de Suporte de Infraestrutura, Plano de

20 Sobre um estudo mais detalhado do anteprojeto 1911/22 de Plano Diretor da Prefeitura, que passou a
ser a Lei 739/23, formou-se um grupo técnico constituído por acadêmicos e lideranças comunitárias, que
trabalharam mais de três meses em estudo comparado entre a Lei 482/14, o anteprojeto 1911/22 e uma
nova proposta de plano diretor a partir das demandas populares. O trabalho resultou em um Substitutivo
Global que foi entregue às vereadoras e vereadores da Câmara Municipal de Florianópolis e que,
infelizmente, não foi aprovado nas comissões de mérito. Os estudos identificaram 26 inconstitucionalidades,
entre outras infrações, em que o anteprojeto da Prefeitura incorria, transformado depois na Lei 739/23.
Estes estudos e propostas estão disponíveis em:
https://planodiretor.libertar.org/s/planodiretorpopular/page/apresentacao. Acesso em: 23 ago. 23.
17

Saneamento). Inexistente em planos diretores anteriores, o Plano de Mobilidade


Urbana, entre seis planos específicos, foi e é exigência na Lei 482/14, ainda
parcialmente vigente, não cumprida e sendo vencido o prazo de criação e de
implementação.
Este conjunto de aspectos mostra a interdependência das ações do poder
público com os fatores de ordem econômica decorrentes da atuação do Estado
ou da própria lógica especulativa imobiliária e turística.

Isso não é um exercício de futurologia

Os cenários de transformação do Distrito da Lagoa da Conceição aqui


apontados não são meros exercícios de futurologia e sim possibilidades do que
poderá acontecer, visto que os “projetos” viários da PMF para a LC não são
únicos e nem novidades. Ideias semelhantes já foram aplicadas em importantes
cidades do Brasil e trazidos para cá, mostrando as consequências para os
modos de vida da sociedade.
A previsão de degradação do território da LC já faz parte de inúmeros
trabalhos científicos e provocou inúmeras manifestações comunitárias na
tentativa de impedir a superexploração dos recursos naturais locais, na busca da
preservação ambiental, social e cultural da LC. Não há, portanto, nenhuma
novidade nisso, os dados estão aí e só não vê quem não quer.
Mas aqui queremos apresentar a possibilidade de uma nova visão
concreta sobre o futuro da Lagoa, a visão de um futuro sustentável, não
somente para os moradores tradicionais da LC, mas para toda a sociedade,
incluindo os moradores locais da Grande Florianópolis e os visitantes e turistas
nacionais e internacionais. O quadro atual é muito grave. A Lagoa da Conceição,
como ambiente natural, está doente e minguando pela poluição e pela
contaminação das águas, pelo esgoto urbano, pelas construções sem controle,
e, principalmente, por estar se tornando passagem de veículos com tráfego
intenso acumulado em períodos de férias, tanto no sentido Norte quanto Sul. Se
permanecer esta tendência, reforçada pelos “projetos viários” da PMF, a LC não
poderá resistir por muito tempo. A LC, um sistema ecológico frágil, precisa ser
tratada com os remédios corretos e não com mais “projetos viários” como os que
estão sendo propostos, como este modelo rodoviarista que desde os anos 1960
18

vem se reproduzindo em todo o estado. Aliás, o Plano Diretor de 1976 definiu o


sistema e rede viária hoje expandida, fundamentando a circulação veicular
particular, baseado em um modelo rodoviarista ou carrocêntrico21.
Temos um quadro socioambiental em que predominam as mais variadas
marcas urbanas, ambientais e culturais, desde algumas riquezas econômicas
tradicionais, históricas, que ainda permanecem, como os sítios arqueológicos e
os sambaquis dos povos indígenas ancestrais que viveram neste território, como
a pesca artesanal que ainda sobrevive como pesca de subsistência das colônias
de pescadores e cuja atividade econômica já foi a mais importante do município,
como algumas lavouras de fundo de quintal, como a produção familiar da renda
de bilros e a produção de objetos cerâmicos que hoje sobrevivem apenas para
atender alguma demanda turística, Alguns costumes herdados dos açorianos,
como a pesca artesanal com tarrafas e a renda de bilro, as histórias de bruxas,
feiticeiras, lobisomem, ainda continuam fazendo parte da tradição de muitos
nativos. O Terno de Reis, a Ratoeira, a Cantoria do Divino, o Pau de Fita e o Boi-
de-Mamão são algumas das manifestações culturais da comunidade local que

21 Florianópolis já superou sua capacidade de suporte em sistema viário e volume de veículos. Notícia
mostra que, em média, foram 35 novos moradores por dia nos últimos 12 anos:
https://www.nsctotal.com.br/noticias/com-populacao-36-maior-mobilidade-e-desafio-para-
florianopolis#:~:text=Mudan%C3%A7a%20de%20cultura%20na%20mobilidade&text=Isso%20nos%20lev
a%20a%20uma,para%20cada%20carro%20em%20Florian%C3%B3polis . Acesso em: 23 ago. 23. A
capital catarinense foi a segunda capital do país que mais carros tinha na proporção carro/habitante e,
recentemente, em 2019, ainda ocupa o primeiro lugar. Ver em: https://ndmais.com.br/transito/florianopolis-
e-a-capital-que-mais-usa-veiculos-individuais-para-deslocamentos-diarios/ . Acesso em: 23 ago. 23.
Florianópolis tem a pior rodovia do Brasil e 70% das principais vias em más condições, apontou pesquisa,
conforme reportagem de 2022: https://www.nsctotal.com.br/noticias/sc-tem-a-pior-rodovia-do-brasil-e-70-
das-principais-vias-em-mas-condicoes-aponta-pesquisa Acesso em: 23 ago. 23. Segundo estudos do
pesquisador da Universidade de Brasília (UnB) Valério Medeiros, Florianópolis tem o segundo pior índice
de mobilidade do mundo e o deslocamento mais complicado entre 21 das principais capitais brasileiras. A
conclusão está em https://urbanidades.arq.br/2009/09/08/florianopolis-com-a-pior-mobilidade-urbana/.
Consultado em: 23 ago. 23.
19

sobrevivem graças às atividades de grupos de jovens, idosos e outros (como os


colégios) preocupados com o resgate e a preservação da cultura açoriana22.
Hoje, é possível dizer que a LC ainda guarda um quadro em que se
reconhece uma relativa preservação de características ambientais, naturais e
culturais, ou seja, uma apropriação em bases sustentáveis ainda frágeis do
território da LC. No entanto, esta apropriação encontra-se no limite e este texto
vem no sentido de alertar para este quadro limite de exploração de seus recursos
naturais e ambientais, antes que os “projetos viários” da PMF deem o golpe final.

Algumas alternativas para o problema conjuntural e estrutural do sistema


viário e de mobilidade da LC

Considerando que temos que repensar com urgência este modelo


rodoviarista que Florianópolis adota desde os anos 1930 e, principalmente,
após o Plano Diretor de 1976 e de todos os posteriores, apontamos algumas
diretrizes de resolução da problemática dos impactos ambientais deste modelo
e, no caso focado pelo presente artigo, todo o sistema viário e os meios de
transporte limitados da Lagoa da Conceição.
No sentido de debater com a população da Grande Florianópolis e
buscando alternativas a longo prazo para um planejamento sólido de
preservação de toda o ecossistema da LC, é necessário que se discutam alguns
Modelos de Mobilidade que podem ser aplicados na Grande Florianópolis,
distritos e bairros:

 Transporte rodoviário público ou privado tipo ônibus, micro-ônibus, BRT


(Bus Rapid Transit, um sistema de ônibus de alta capacidade que provê

22 Sobre a cultura açoriana, há várias fontes e autores, como o historiador Joi Cletison, diretor do Núcleo de
Estudos Açorianos da Universidade Federal de Santa Catarina, em seu artigo sobre os 30 anos deste
Núcleo (1984-2014), disponível em https://nea.ufsc.br/artigos/artigos-joi-cletison-2/, e também o site
EducaSC, disponível em https://educasc.com.br/educacao/estudo-na-pratica-4-lugares-para-estudar-a-
cultura-acoriana-em-florianopolis. Acesso em: 25 jun. 23. Há também o livro “Sul do Sul: memória,
patrimônio e identidade”, que investiga a historiografia rio-grandense e luso-açoriana, observando-as
criticamente. Organizada por Carmem Schiavon, Adriana Senna e Rita de Cássia Portela. Disponível em:
https://www.resenhacritica.com.br/todas-as-categorias/sul-do-sul-memoria-patrimonio-e-identidade-
carmem-schiavon-adriana-k-senna-e-rita-de-cassia-p-silva/. Acesso em: 25 jun. 23. Há também debates
sobre o açorianismo que busca exclusividade desta cultura em detrimento de outras matrizes, como a
indígena e africana.
20

um serviço rápido, confiável e eficiente; ou metrobus. como adotado em


Curitiba, Rio de Janeiro ou Bogotá)
 Transporte sobre trilhos local ou intermunicipal tipo VLT (Veículo Leve
sobre Trilhos), utilizado, por exemplo, no Rio de Janeiro, metrô, funicular
 Transporte sob cabos tipo teleférico
 Transporte marítimo ou lacustre
 Transporte não motorizado

Qualquer que seja o modelo adotado ou a combinação de modelos, é


preciso que sejam seguidas algumas diretrizes básicas23:

 Respeito à legislação:
o Estatuto da Metrópole (Lei 13.089, de 12 de janeiro de 2015), que
seria a base para um Plano Metropolitano de Mobilidade
Urbana
o Estatuto da Cidade (Lei 10.257/2001)
o Política Nacional de Mobilidade Urbana (LEI nº 12.587 / 2012)
o Normas de Acessibilidade (NBR 9050 / 1994)
o Legislação Municipal, articulando um Plano Diretor Sustentável
com um Plano Municipal de Mobilidade Urbana

 Integração regional (Região Metropolitana)


 Preservação ambiental e cultural
 Sustentabilidade

23 Estas diretrizes baseiam-se na análise de Peres e Andrade Jr. no artigo “Para além da retórica oficial, o
que realmente é formulado?” (2013, p. 203-238.) e em grande parte no que o GEMURB (Grupo de Estudos
da Mobilidade Urbana Sustentável), do Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, realizou entre
os anos de 2013 e 2015, desenvolvendo estudo (diretrizes e desenho) de transporte público para a Região
Metropolitana, denominado SIMTP (Sistema Metropolitano de Transporte Público), fazendo uma proposta
metropolitana de mobilidade urbana para a região conurbada da Grande Florianópolis, que se pode
consultar na página do GEMURB: https://gemurb.wordpress.com/2014/11/05/projeto-simpt/ . Acesso em:
30 mai. 23. O GEMURB, de certa forma, se antecipou e foi inédito ao que o PLAMUS (Plano da Mobilidade
Urbana Sustentável para a Grande Florianópolis) divulgou em termos de resultados de estudos logo em
seguida, em dezembro de 2014, e que está disponível em
https://observatoriodamobilidadeurbana.ufsc.br/wp-content/uploads/2019/03/PLAMUS_Produto-12-
Diretrizes-e-Metas.pdf. Acesso em: 01 jun. 23. Os estudos do GEMURB já vinham sendo desenvolvidos
dois antes. Portanto, a presente proposta para a Lagoa da Conceição se insere na concepção que o
GEMURB já apontava, observando que compúnhamos, com Hélio de Carvalho Júnior e outros membros, a
equipe técnica daquele grupo de pesquisa e extensão.
21

 Respeito às diretrizes comunitárias e garantia da ampla participação da


população nas cidades
 Prioridade aos pedestres e ciclistas
 Transporte público de qualidade

Assim, seria possível implementar em toda a LC, prévia e


experimentalmente, um sistema de transporte público em forma de uma Rede
de Circulares-Tarifa Zero, com veículos micro-ônibus equipados com ar
condicionado, suporte e espaço para cadeirantes, sinalizados para deficientes
visuais e idosos, adaptados para carregar pranchas e bicicletas, que atendam
os visitantes a partir de bolsões estratégicos de estacionamento.
Desta forma, o tráfego e o acesso de veículos ficariam restritos à
permissão de circulação dos veículos de moradores do distrito, ao transporte
público circular (micro-ônibus adaptados com boa frequência e confortáveis),
e aos veículos de serviços e de atendimento público de emergência.
Poderia ser ampliado o sistema de transporte lagunar como
complemento ao sistema de transporte público circular, bem como com um
sistema teleférico a ser implantado, unindo os bolsões de estacionamento
de um extremo a outro da LC.
Neste sentido, o atual sistema viário, como o da Avenida das Rendeiras,
deveria contemplar apenas o corredor de micro-ônibus com horários frequentes
na temporada, mas mantendo a cobertura da demanda nas outras estações.
Vejam que, ainda que experimentalmente, como se propõe acima, com
um bom planejamento e projetos sustentáveis, é possível até mesmo baratear
todo o sistema de mobilidade urbana e, ao mesmo tempo, garantir a preservação
ambiental da LC. Mais a longo prazo, este investimento público sustentável se
conectaria com outros investimentos em Mobilidade Urbana de toda a Região
Metropolitana. Chamamos a atenção de que, mesmo com a implementação de
um plano de mobilidade urbana, no âmbito metropolitano e/ou municipal, deve-
se ter em conta uma visão estrutural geral do processo de urbanização
metropolitana e regional, tendo em vista os planos diretores municipais e um
plano metropolitano de uso do solo, baseado no Estatuto da Metrópole, pois se
deve examinar sempre e de forma prévia o diagnóstico do uso do solo e fluxos
dos investimentos públicos e privados e sua dinâmica de localização, para se
22

evitar a alta concentração de atividades econômicas ou não em determinadas


regiões. Historicamente, Florianópolis concentra a maior parte dos
equipamentos públicos e privados (SUGAI, 2002), assim como infraestrutura
regional, ocasionando um desequilíbrio de mobilidade em direção à capital
catarinense, que diminui a capacidade de resolução de planos de mobilidades
municipais com tal concentração. Como método e como premissa, um plano de
urbanização (uso do solo) precede o plano de mobilidade urbana.

Articulação da Resistência Popular da cidade em defesa de um Território


Nacional de Patrimônio Ambiental e Cultural da Humanidade

Entendemos que estamos vivendo um importante momento político,


econômico e social no Brasil. Pensamos que é preciso aproveitar este momento
para juntar todas as forças sociais em defesa dos recursos naturais, sociais e
culturais da Bacia Hidrográfica da Lagoa da Conceição. Este é um patrimônio
público importantíssimo para o Brasil e um patrimônio ambiental importantíssimo
para a humanidade. Esta riqueza natural e urbana não pode se perder, precisa
ser reforçada com a criação de um “Território Nacional de Patrimônio
Ambiental e Cultural da Humanidade”.
A resistência à superexploração e degradação da LC, e contra seu uso
para atender os objetivos lucrativos de uma parcela pequena da sociedade,
precisa ser acionada com as mais variadas atividades, a começar pela
informação da população sobre as ameaças em pauta, com manifestações de
instituições públicas, com reuniões e debates com pesquisadores
especializados, com a apresentação de propostas alternativas e sustentáveis de
mobilidade urbana, com a mobilização estudantil e popular, com as denúncias
nos meios de comunicação, enfim, com a criação de um movimento popular
de defesa da LC, independentemente das políticas oficiais.
Para isso, algumas alternativas de mobilização são fundamentais, como
atos públicos e audiências públicas que debatam os impactos ambientais e
urbanísticos decorrentes da implantação dos projetos oficiais tais como a
construção da nova ponte da LC.
Grande parte dos megaprojetos em Florianópolis e região conurbada
foram barrados graças à intensa mobilização popular, como foram as
23

mobilizações contra o projeto da Marina da Barra da Lagoa, contra o projeto do


Estaleiro OLX, contra o projeto da venda da Penitenciária para a iniciativa
privada, contra o projeto do Porto para escoamento da produção da Fosfateira
de Anitápolis em Biguaçu, contra um megaprojeto imobiliário na parte continental
de Florianópolis, junto à Ponte Hercílio Luz, na primeira década do ano 2000,
com engordamento da orla, contra o hotel cinco estrelas na Ponta do Coral,
assim como as discussões em torno dos planos diretores nas Leis 1/97, 482/14
e a recente aprovação da 739/23.
Infelizmente, as forças econômicas locais e regionais sempre atuaram
com megaprojetos pontuais, sem conexão com a malha urbana e ambiental e
sem estudo e diagnóstico socioambiental sérios, contando com a força de uma
mídia conivente e trabalhando com fatos consumados e sistematicamente sem
prévia e ampla consulta à sociedade organizada.
Em face disto, resta então à população a resistência política e social.

À título de conclusão

Para preservar a Lagoa da Conceição, é necessário e fundamental a


mobilização da sociedade organizada com suas instituições civis (entidades e
associações), universidades e órgãos de pesquisa, como se verificou com as
ações de pesquisadores da UFSC e dos moradores da LC junto ao Ministério
Público Federal e Justiça Federal, para que não nos lastimemos no futuro.
O modelo rodoviarista implantado em Florianópolis desde os anos 1960 e
1970 precisa urgentemente ser revertido e não faltam saídas já apontadas no
país, para além da experiência de Curitiba.
O desastre ambiental sem precedentes com o rompimento da ETE
da LC em janeiro de 2021, assim como o embargo do empreendimento da
Marina do Porto da Barra pela Justiça Federal no final dos anos de 1990, são
precedentes importantes da aplicação de legislação protetiva ambiental da LC,
conformando jurisprudência, que nos levam a lutar contra o projeto da Segunda
Ponte do Centrinho da LC. Os antecedentes de construção de
empreendimentos na LC, e em outras regiões de Florianópolis, já demonstraram
os impactos que poderão ocorrer e que já ocorreram com a liberação de outros
empreendimentos ou obras de forma irregular.
24

Este artigo pretende apontar as possíveis ameaças trazidas pela via que
começa na Rodovia Admar Gonzaga, com seus impactos urbanísticos locais,
principalmente viários, passando pelo túnel de acesso à LC, e a segunda ponte
na região e todo um sistema viário decorrente que vai se estender pela Avenida
das Rendeiras. Mostra-se aqui que, por trás destas obras, há um projeto
imobiliário de acesso de um turismo seletivo e de alta renda que traz junto o
tráfego intenso de veículos particulares, cujo impacto viário ficará mais intenso
diante da ausência de um planejamento estruturante da mobilidade urbana para
a região. O artigo resulta de um esforço intelectual também baseado na atuação
e vivência com os problemas urbanos e sociais que se arrastam há décadas,
para alertar, de forma preventiva, e sob a égide do princípio da precaução, sobre
o projeto e as obras analisadas aqui que poderão ocasionar impactos
ambientais, urbanísticos e sociais irreversíveis a curto (impacto das obras da
nova ponte, se forem liberadas), a médio e a longo prazo.

Referências

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