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Discente: Tiago Araujo Oliveira Nazário

Docente: Marionilde Dias

Fichamento do texto de Hannah Arendt – Direitos Humanos

Referência Bibliográfica: ARENDT, Hannah. Que é autoridade? 2º Edição. São Paulo:


Editora Perspectiva S.A.1979.

Hannah Arendt é uma filósofa judia e alemã. Presenciou a ascensão do nacional-


socialismo na Alemanha e se mudou para os Estados Unidos assim que os direitos dos judeus
começaram ser ameaçados no país. Ela se tornou apátrida por ter sua cidadania retirada pelo
regime nazista, até ela conseguir cidadania americana. Estudou nas universidades de Marbug
e Albert Ludwig, além disso, terminou seu doutorado em filosofia na universidade de
Heidelberg. É hoje considerada uma das filósofas políticas mais notáveis do Século XX,
principalmente devido às suas ideias acerca do totalitarismo.

No texto “Que é autoridade”, Arendt começa afirmando a sua intenção em considerar


historicamente o que é, e o que foi a autoridade. Pois no mundo moderno, a autoridade não
mais tem uma essência única. Para a autora, a autoridade na modernidade está perdida.

A autora comenta, também, sobre a dificuldade dos autores liberais, desde o Século
XIX de falar de maneira correta acerca da autoridade, pois não distinguem, da maneira
correta, governos tiranos de governos autoritários, de acordo com Hannah Arendt, esse último
ainda segue algum código de leis específicos, mesmo que algo divino, ou platônico, enquanto
uma ditadura segue apenas o que o líder acha que deve ser feito. Segundo a autora, isso se dá
pela ideia absurda de liberdade que os liberais e conservadores discutem como verdade, pois
de acordo com eles, qualquer forma de poder resultaria na perda de direitos, ou seja, uma
perda de liberdade.

A autora também fala sobre a autoridade ser necessária para o estabelecimento da


sociedade civil organizada, contudo, ela não repreende a ausência da autoridade, comenta que
a ausência dela não impediria a população de construir e manter a sociedade mesmo assim.

Após isso, Arendt faz a distinção entre três formas de poder, do governo autoritário,
tirânico e totalitário através de imagens. Ela propõe a imagem de uma pirâmide para
representar o governo autoritário, pois significa que apesar de o topo e as bases estarem
interligadas e se relacionarem de alguma forma, o topo exerce uma força de poder muito
maior do que o restante da pirâmide. Em relação aos governos tirânicos, a autora se mantém
na imagem da pirâmide, entretanto, pede para que se imagine que o topo esteja separado do
restante e esteja “suspenso, apoiado apenas pelas proverbiais baionetas, sobre uma massa de
indivíduos cuidadosamente isolados, desintegrados e completamente iguais” (pp. 136). Isso,
pois, de acordo com Arendt o tirano governa de maneira austera igualmente contra todos,
independente de em qual nível da pirâmide ele poderia se encaixar em um governo autoritário.
Por fim, para representar o governo totalitário, Hannah Arendt decide usar a imagem de uma
cebola, pois diferente dos outros dois tipos de governos citados, no totalitarismo o líder não
faz suas decisões de cima, ou de fora, e sim do centro.

Arendt também comenta acerca do liberalismo e conservadorismo, que são as duas


correntes que, de acordo com ela, deixaram a definição de autoridade muito mais confusa. A
autora cita que as duas formas de pensamento surgiram na mesma época, em total oposição
uma com a outra, embora, porém, ambas fossem duas faces da mesma moeda, devido a sua
radicalidade.

“Desse ponto de vista, o liberalismo e o conservadorismo apresentam-se como as filosofias


políticas que correspondem à Filosofia da História muito mais geral e abrangente do século
XX. [...] Sua incapacidade para distinguir, justificada teoricamente pelos conceitos de
história e de processo, de progresso ou decadência, atesta uma época na qual certas noções,
claras em sua distinção para todos os séculos anteriores começaram a perder sua clareza e
plausibilidade...” (pp. 139)
Portanto, Hannah Arendt aponta que ambos, liberais e conservadores, não fazem
distinções o suficiente para definir autoridade, já que para os liberais buscam uma liberdade
total sem nenhuma forma de controle e os conservadores acreditam que quaisquer formas de
regimes mais liberais são inaceitáveis.

Por fim, para concluir a primeira seção, ela realiza 4 perguntas, que serão os assuntos
abordados em cada uma das seções seguintes do ensaio, respectivamente.

“É à luz dessa situação atual que me proponho a levantar as seguintes questões: Quais
foram as experiências políticas que corresponderam ao conceito de autoridade e das quais
ele brotou? Qual é a natureza de um mundo público-político constituído pela autoridade? É
verdade que a afirmação platônico-aristotélica de que toda comunidade bem ordenada é
constituída por aqueles que governam e aqueles que são governados sempre foi válida,
anteriormente à época moderna? Ou, para colocá-lo de outra forma, que espécie de mundo
chegou a um fim após a época moderna ter não apenas desafiado uma ou outra forma de
autoridade em diferentes esferas da vida, mas feito com que todo o conceito de autoridade
perdesse completamente sua validade?” (pp. 142)

Para responder a primeira pergunta, Hannah Arendt fala sobre os gregos e romanos. Ela
comenta que os romanos foram os primeiros povos a terem a concepção de autoridade, mas
que eles só desenvolveram esse pensamento em relação aos gregos e em contraposição à
relação de democracia que existia na Grécia. Contudo os gregos em si não tinham uma ideia
de autoridade, e o mais próximo que chegaram de algo parecido foi com A Republica de
Platão na criação do conceito de verdade política. Portanto, para Platão, seria necessário ter
um governo mais aberto para com a sociedade, as decisões e intenções dos líderes deveriam
estar sempre claras, pois o filósofo já não acreditava mais na persuasão dos líderes após a
morte de Sócrates. Além disso, Arendt também fala sobre Aristóteles, que também tentava
responder à pergunta “como exercer autoridade sem coerção?” e ele chega à conclusão de que
a resposta está na educação.

Entretanto, para a autora, confundir autoridade política com educação é um erro, pois
com isso poderia se iniciar um processo de lavagem cerebral, o que só poderia ser aproveitado
caso a educação estivesse fortemente ligada à tradição, algo que a autora vai comentar ao
responder a segunda pergunta e ao falar sobre a política romana.

Já em relação à segunda pergunta, a autora mostra que a resposta está na política


romana, pois nessa cidade a ideia de uma fundação histórica providenciou autoridade. Isso
significa que a tradição da autoridade dos ancestrais são sempre consideradas, portanto a
autoridade presente viria de um entendimento e da valorização dos ensinamentos dos
ancestrais da civilização em questão. Segundo Arendt, isso acontece pois, em Roma, o centro
da autoridade era o senado, e os senadores eram tratados como reencarnações dos fundadores
de Roma, portanto todas as decisões que fossem tomadas no presente seriam como os
fundadores as teriam feito no tempo presente.

Posteriormente, na seção 5 para responder à pergunta de como fazer política mesmo


depois da autoridade não ter mais a mesma relevância, a autora faz uma referência ao mito do
inferno, que foi utilizado por séculos, de formas diferentes, para manter as pessoas com medo
e sob o domínio de uma autoridade “maior”. Contudo, Arendt comenta que esse medo do
inferno não poderia mais ser trazido de volta, pois na sociedade moderna ele já não teria mais
a mesma efetividade. Portanto, para Hannah Arendt, não só a autoridade está morta, mas a
religião, que ajudava essa autoridade a se manter, também morreu.

Na sexta, e última, seção a autora responde se existe uma forma de reimaginar um tipo
de autoridade política após a morte da autoridade, da religião e da tradição no mundo
moderno, ela chega à conclusão que apenas por meio da experiência da revolução. De acordo
com Hannah Arendt, todas as revoluções desde a revolução francesa falharam em recriar a
autoridade, exceto pela revolução americana, todavia, a maior parte das revoluções tomou
maior inspiração da revolução francesa, o que a autora considera uma falha.

“Dessas tentativas, somente uma, a Revolução Americana, foi bem sucedida: os pais
fundadores, como– o que é bem peculiar– podemos ainda chamá-los, fundaram um
organismo político inteiramente novo prescindindo da violência e com o auxílio de uma
Constituição. E tal organismo durou pelo menos até o dia de hoje, a despeito do fato de em
nenhum outro local o caráter especificamente moderno do mundo atual produzir expressões
tão extremas em todas as esferas não políticas da vida como nos Estados Unidos.” (pp. 185)

Em conclusão, a autora por falar que o conceito de autoridade ficou desgastado no


Século XX, mas não completamente, e essa ideia de autoridade é o que ela imagina que possa
ser recriada no mundo moderno, não na base das tradições e formas de autoridade passadas,
mas pela experiência da revolução que as pessoas abracem a ideia de recriar uma nova
autoridade, uma nova esperança.

“A autoridade tal como a conhecemos outrora, e que se desenvolveu a partir da experiência


romana e foi entendida à luz da Filosofia Política grega, não se restabeleceu em lugar
nenhum, quer por meio de revoluções ou pelos meios ainda menos promissores da
restauração, e muito menos através do clima e tendências conservadores que vez por outra se
apossam da opinião pública. Pois viver em uma esfera política sem autoridade nem a
consciência concomitante de que a fonte desta transcende o poder e os que o detêm, significa
ser confrontado de novo, sem a confiança religiosa em um começo sagrado e sem a proteção
de padrões de conduta tradicionais e, portanto, autoevidentes, com os problemas elementares
da convivência humana.” (pp. 186-187)

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