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Em Peru: Classes e Nação, em especial o final do capítulo um e início do seguinte, Julio

Cotler inicia a discussão, neste trecho, acerca da fragilidade que se encontrava a América
espanhola após ocupação napoleônica e, por consequência, o enfraquecimento das
políticas metropolitanas em relação às colônias. A fim de diminuir os efeitos de tal vazio
político, a então criada Junta Central na Espanha, com o objetivo de arraigar apoio nas
colônias, favoreceu a criação de Juntas Provinciais na América, em troca da concessão de
direitos a criollos e peninsulares. Isso resultou em uma permanência de apoio a Fernando
VII, o que não se configurou em Lima, por exemplo, a única que não optou por se tornar
uma junta provincial, assim, dando espaço para uma dualidade de poderes. O poder
expoente dessa região foi o dos criollos, esses que exigiam da metrópole a continuidade de
e renovação de seus postos perdidos durante as reformas bourbônicas, ou seja, desejavam
limitar as mudanças dentro da lógica colonial. Todavia, a dualidade de poderes em Lima era
algo intermitente. Visto isso, havia um medo de que a uma possível independência levasse a
uma equiparação em relação a igualdade de direitos políticos, entre os criollos aristocráticos
e os outros criollos e índios.

Com Fernando VII deposto em 1814 juntamente com seu ordenamento absolutista, a
Constituição de 1812 foi anulada e as forças liberais suprimidas, o que na América significou
o fortalecimento do aparelho militar (guarnições) em prol do redirecionamento dos
mecanismos de espoliação, no caso, os indígenas que não pagavam mais tributos desde o
levante de Tupac Amaru. Entretanto, esse cenário sofreu um abalo pela chegada de San
Martín ao Peru, que juntamente com suas tropas, colocaram em cheque alguns setores da
aristocracia criolla e para se protegerem junto com seus interesses, apoiaram o movimento
de independência, isto é, foi contra-revolucionário. Havia uma oposição, também criolla, mas
não se pensava em uma erradicação da organização colonial, apenas um aspiração a
centralização política. Contudo, o projeto de San Martín e dos aristocratas falhou, seja por
conta de uma tentativa de paz com as autoridades espanholas ou recusa em aglutinar
mobilização popular. Por outro lado, Bolívar, com tropas da Grã Colômbia, conseguiram
aplicar uma campanha militar mais incisiva.

Quando, em 1814 e num contexto de tentativa régia em reaver algumas das anteriores
reformas dos Bourbon (bem como suprimir o ímpeto liberal), se fortaleceu o mecanismo
militar para minar as pulsantes tendências liberais expropriadoras. De forma que, apesar dos
ânimos populares e da revolta liderada por Pumacahua, alguns setores (peruanos) da
camada criolla buscaram refrear a causa da Independência ao unirem-se ao poderio da
Coroa; dada a insurgente ameaça – indígena – à estrutura social e econômica estabelecida.
Fortaleceram, então, a autoridade espanhola, ao ratificarem seu conservadorismo político;
se denota, assim, que o imobilismo e a ambivalência se alternaram para definir a conduta
política do estrato criollo dominante. Este, portanto, se inclina à Independência apenas após
os palpitantes fenômenos da chegada de San Martín ao Peru e da concomitante rebelião
liberal na Espanha (acompanhada de uma nova onda de intensa atuação militar e do
esvaziamento populacional nos territórios espanhóis na América), havendo se posicionado,
frente à interesses, em prol da manutenção da dominação colonial que eles mesmos
aplicavam à população e tendo em vista o panorama vivido, naquele momento, na
metrópole.

Em relação ao posterior rompimento de laços com a metrópole, a aristocracia criolla não


pôde servir como elemento de substituição e de estabilidade, como alguns haviam
idealizado. Destruídos o núcleo patrimonial metropolitano e a aristocracia colonial,
organizadora e impulsionadora da organização da sociedade e da política, se fragmenta o
“corpo” social, segmentando-se em partes regidas por grupos senhoriais que exibiam uma
importante autonomia na decisão da sorte das respectivas jurisdições. Ao romper-se o pacto
colonial, então, a tensão patrimonial permanente entre a metrópole e os grupos oligárquicos
locais resolveu-se com a “feudalização política”; à considerar-se que, desde aí, a direção
política do país caiu em domínio dos chefes militares da campanha da Independência.
Estes, porém, sem o suficiente poder econômico para constituir um novo centro hegemônico
de poder, precisaram valer-se de alianças transitórias com diferentes oligarquias regionais e
com políticos capazes de exprimir ideologicamente os interesses de tais alianças.

Assim, partindo da Independência, o Peru sofreu uma fragmentação política que originou
profunda instabilidade, a qual, com diferentes intervalos, durou até o fim do século XIX. Já
com a eliminação do estrato colonial dominante e a desarticulação das massas populares,
criou-se um vácuo de poder que nem os chefes militares, nem as facções oligárquicas
puderam preencher, pela incapacidade de integrar-se politicamente e, consequentemente,
de agregar a população dominada.

Adentrando um novo capítulo da obra, Cotler trata da desintegração da ordem patrimonial,


bem como o rompimento do comércio colonial e suas resultantes de processo de
“feudalização” política e de retração econômica generalizada. A perda de legitimidade
política do estrato criollo dominante e a destruição do aparato produtivo abriram margem
para que os grupos de poderios localizado se encontrassem em situação de autonomia, em
detrimento de qualquer intentado centro “nacional”. Assim, os chefes militares e o seu
séquito de favorecidos ascenderam ao primeiro plano da vida política, pois, para ostentar a
patente de coronel, bastava contar com algum dinheiro (geralmente proporcionado por um
proprietário) destinado a cobrir o custo de armar um número indeterminado de homens. Por
isso, durante todo o século XIX, houve uma relação fluida entre oligarquia e caudilhos, o que
definiu o perfil político-social da república nascente, devido à falta de diferenciação e de
participação política autônoma da população dominada. Além disso, os grandes partidos
subdividiram-se em uma série de seitas políticas, que, por sua vez, desentendendo-se entre
si, só deixam subsistir homens e representações, enquanto a ideia, o partido e a seita se
personificam no Chefe; simultaneamente, então, havia um forte ponto de tensão social em
todos os setores que, durante o período do Vice-Reinado, haviam experimentado um
bloqueio imposto às suas aspirações emergentes. Mesmo assim, dada a eliminação da
burocracia colonial e suas transformações, surgiu a possibilidade de que criollos e castas,
que tinham uma posição intermediária na sociedade colonial, ocupassem as posições vagas
e aquelas que as novas condições viabilizavam.

Além disso, a desocupação provocada pela destruição do sistema de produção levou essa
população a buscar na atividade político-militar a solução para a sua situação pessoal, ao
mesmo beat em que os chefes militares buscavam aproximar-se desse povo que, pelo seu
alto potencial político, lhes permitia ampliar a sua base de apoio social e geográfica. Se vê,
nesse panorama, pelo descontentamento, com a espera de mudança do cenário conflituoso,
não por aspirarem à melhoria das instituições, mas porque a aquisição de fortuna não é a
esperada com a Independência; e é muito fácil que essa classe de homens avance para
mudar tudo, basta que falte a autoridade pertinente e atuante que saiba fazer-se respeitar.
Muitos acontecimentos ocorreram que afetaram o lucro do guano e o foram diluindo, como:
dívidas geradas por conflitos; tributações sobre os indígenas; pagamento de indenizações
para os proprietários de escravos libertos; manter o exército; consumo de produtos
importados etc. Visto isso, por conta do modo como se desenvolveu o comércio do guano, o
governo peruano gastava mais do que ganhava. Isso gerou uma reação por parte de alguns
comerciantes do produto, que promoveram a campanha La Revista de Lima, a qual tinha por
objetivo que o Estado deveria solucionar o problema de desarticulação do país, expresso
nas dificuldades de transporte e comercialização. A solução encontrada foi um um contrato
com a Casa Dreyfus, que se comprometeu em custear o serviço da dívida externa e aliviar
as dívidas adquiridas com consignatários. Com a limitação desse sistema e assinatura do
acordo, o acesso ao crédito internacional foi facilitado, o que facilitou a implementação do
plano ferroviário. Esse, por sua vez, não obteve nenhuma das expectativas ( diversificar as
exportações agrícolas e minerais), pelo contrário, favoreceu a importação interna e a
exploração indígena nas obras. Ou seja, foi um desperdício de receita.

Essa situação favoreceu o processo de eleições no país, com a liderança do Partido Civil.
Sua vitória favoreceu a implantação do projeto estatal da burguesia comercial e a dissolução
do Exército em uma Guarda Nacional, aos moldes de uma guarda pretoriana. Além disso,
tentou-se cancelar o contrato Dreyfus, mas sem sucesso, ao mesmo tempo que as obras
das ferrovias foram paralisadas e o guano se esgotava. Tentaram substituir com outro
fertilizante, o salitre, mas esse não conseguiu preencher o vazio deixado pelo anterior,
assim, tornando difícil a sustentação do Estado e de sua dívida externa, em conjunto com o
aumento da inflação por conta da inflação causada pela fraca moeda. Os ânimos de
insatisfação generalizada, seja pela burguesia, proprietários regionais ou a população
urbana, revelaram a falência da economia do país. Além disso, houve o conflito com o Chile
e assinou um contrato com a Bolívia por causa do salitre.

Por isso, houve a implantação de uma ditadura por Pérola, mas foi impedida por uma
ocupação chilena de Lima, mas houve uma resistência por parte do General Andrés Avelino
Cáceres, contra os chilenos e a classe latifundiária. Paralelo a isso o povo se rebelou e
começou a saquear a cidade, contra qualquer tipo de dominação, fosse ela peruana ou
chilena.

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