Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Abstract: In “On Revolution” (2006), Hannah Arendt indicates two aspects of the
phenomenon of revolution: what was lost and what was generated with it. This
phenomenon is linked to the human capacity to act and so, revolution is about
action and creation. In the political sphere, this refers to reworking the structure
of society's political body. In this, the use of organizations such as councils are
understood as a model open to the rotations and transformations of time that
concomitantly aim to deal with them durably, to provide stability to the political
body. These grassroots organizations played an essential role within modern
revolutions and are their treasure. However, the revolutionary spirit that leads to
the action of creating something new was lost in the course of the
phenomenon. Therefore, we’re going to reflect on the lost treasure of
revolutions and its relationship with the creation and durability of new political
bodies.
Keywords: Action. Politics. Revolution.
1
O artigo é fruto da pesquisa de mestrado finalizada em 2022 no Programa de Pós-Graduação
em Filosofia da Universidade Federal de São João del-Rei, com suporte financeiro da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES), sob orientação do prof.
Dr. José Luiz de Oliveira, intitulada “Hannah Arendt e as revoluções: A fundação dos corpos
políticos nos dois lados do Atlântico”.
2
Universidade Federal de São João del Rei. E-mail: analuisagrein@gmail.com.
1
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
Introdução
2
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
4
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
nunca foi resolvida” (Arendt, 2006, p. 127, tradução nossa)4. No caso desta
revolução, depreende-se que o direito à igualdade também passou a significar
que “todos os homens devem viver subordinados a um governo constitucional
‘limitado’” (2006, p. 140, tradução nossa). O que se passou a admirar, foi na
verdade “as bênçãos do ‘governo brando’ (mild government)” (2006, p. 138,
tradução nossa) e, a partir de então, seu desenvolvimento orgânico à parte da
história britânica. É possível identificar, a partir desse contexto, que apesar da
participação em maior escala da população, o processo de criação das leis
passou a ser realizado majoritariamente por especialistas.
Diante disso, a revolução pode ter até permitido o acesso à liberdade para
uma maior parte da população, mas “falhara em fornecer um espaço onde se
pudesse exercer essa liberdade” (Arendt, 2006, p. 230). Por esta razão, apenas os
representantes do povo e não eles propriamente estavam inseridos nas práticas
que condizem à liberdade política, que se traduz na expressão, discussão e
liberdade de fazer parte das decisões. Seguiu-se que o defeito da Confederação
era que não houve uma real divisão entre o poder do governo geral e os locais,
de modo que tal partição funcionava como um ponto central de ação da
aliança, e não como um modo de efetuar o governo. Além disso:
4
De certo modo, o que alguns homens da revolução como Jefferson e Adams temiam
aconteceu. Devido a esse fato, Arendt acaba por afirmar que “pode-se até concluir que havia
menos oportunidade para o exercício da liberdade pública e o gozo da felicidade pública na
república dos Estados Unidos do que existira antes nas colônias da América Britânica” (Arendt,
2006, p. 230).
5
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
7
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
8
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
9
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
Sobre os órgãos de gestão própria, Arendt (2006) também menciona o caso dos
sovietes, bem como de Lênin, de sua capacidade em reconhecer o poder aos
sovietes. Mas, ao mesmo tempo, ele não reorientou suas formulações para
abarcar outros órgãos a não ser o que ideologicamente estava de acordo com
suas formulações. Em outras palavras, não foi almejada uma real pluralidade na
política.
Apesar disso, um ponto crucial para Arendt é que as organizações
populares de caráter espontâneo foram uma realidade insurgente nas duas
revoluções do século XVIII. Dessa maneira, nos dois lados do Atlântico, a
experiência da emergência dos órgãos populares trouxe à tona a possibilidade
de se criar uma estrutura política nova. Esses organismos de base surgidos no
contexto das Treze Colônias e da França naquele período tiveram forte
influência nas revoluções dos séculos XIX e XX. O plano de Jefferson dos
conselhos elementares, as sociétés revolutionaires e as comunas municipais são
considerados por Arendt como um prenúncio do que viria a aparecer nos
fenômenos considerados como genuínas revoluções ao longo dos séculos
seguintes. A esse respeito, salienta a pensadora:
10
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
Esse momento é crucial pois seria a partir dele que poderia se perceber as
pessoas mais dispostas a “[...] apresentar nossos pontos de vista diante do
conselho” (Arendt, 2015, p. 200). No que tange a essas escolhas sobre as
maneiras de participação, elas seriam “de tal forma que os que não desejam
participar dos assuntos públicos não são forçados a fazê-lo. Essa elite se
distribuiria pelas fileiras das mais diversas instâncias federativas, sempre através
da auto escolha” (Duarte, 2003, p. 312). Essa tópica é assim esmiuçada:
5
“Aqui podemos ver, já desde o início do sistema partidário como um sistema pluripartidário veio
a dar origem a uma ditadura monopartidária” (Arendt, 2006, p. 239).
11
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
Para Arendt, são várias as razões para que os sistema de conselhos, que
desempenharam papel decisivo nas revoluções, não tenham ainda se
convertido em uma nova forma de governo consolidada: o falso
antagonismo entre representação e participação; o eventual conflito dos
13
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
14
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
6
Sobre essa revolução, ver: Arendt, Hannah. Imperialismo totalitário: reflexões sobre a Revolução
Húngara. In: Arendt, Hannah. Ação e a Busca da Felicidade. Tradução Virginia Starling. Rio de
Janeiro: Bazar do Tempo, 2018a.
15
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
16
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
17
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
18
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
19
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
20
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
22
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
23
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
24
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
25
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
Considerações finais
26
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
Referências bibliográficas
A MARSELHESA. Direção: Jean Renoir. 1938. 1 DVD (135 mim). Título original: La
Marseillaise.
ARENDT, Hannah. Ação e a busca da felicidade. Trad. Virginia Starling. Rio de
Janeiro: Bazar do tempo, 2018.
ARENDT, Hannah. A Condição Humana. Trad. Roberto Raposo. Revisão e
apresentação Adriano Côrrea. Rio de Janeiro: Editora Forense, 2019.
ARENDT, Hannah. Entre o passado e o futuro. New York: The Viking Press, 2011.
ARENDT, Hannah. Origins of Totalitarianism. New York: Harcourt Brace &
Company, 1989.
ARENDT, Hannah. On Revolution. New York: Penguin, 2006.
BERNSTEIN, Richard. Por que ler Hannah Arendt hoje? Tradução Adriano Correia
e Nádia Junqueira Ribeiro. 1. ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2021.
BIGNOTTO, Newton; MORAES, Eduardo Jardim (Org.). Hannah Arendt: diálogos,
reflexões e memórias. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.
BIGNOTTO, Newton. Hannah Arendt e a Revolução Francesa. Rev. O que nos faz
pensar, Rio de Janeiro, v. 20, n. 29, 2011, p. 41- 58.
BRITO, Carlos Fernando Silva. A relação entre revolução e Estado: crítica de
Hannah Arendt ao modelo atual. Griot: Revista de Filosofia, Amargosa, v. 21, n. 3,
p. 121-133, 2021a.
BRITO, Carlos Fernando Silva. Hannah Arendt: da ação nas tragédias gregas aos
conselhos revolucionários. Revista Perspectivas, v. 6, n. 2, p. 118-131, 2021b.
OLIVEIRA, José Luiz. A fundação do corpo político no pensamento de Hannah
Arendt. Tese (Doutorado) - Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas.
Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2007.
FURET, François. Pensando a Revolução Francesa. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1989.
KOSELLECK, Reinhart. Futuro Passado: contribuição à semântica dos tempos
históricos. Rio de Janeiro: PUC Rio, 2006.
RUBIANO, Mariana de Mattos. Governo em Hannah Arendt: Estrutura política,
espaço público e atividades humanas. Revista Reflexões, Fortaleza-CE - Ano 11, n.
21, jul. /dez. 2022, p. 76-93.
27
Artigos
A pluralidade da pesquisa em Hannah Arendt
Revista de Ciências Humanas | v. 4, n. 23 | Dossiê Especial
28