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caderno do

PROFESSOR

filosofia
ensino médio
1a SÉRIE
volume 1 - 2009
Coordenação do Desenvolvimento dos Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,
Professores Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e
Ghisleine Trigo Silveira Sayonara Pereira

AUTORES Educação Física: Adalberto dos Santos Souza,


Jocimar Daolio, Luciana Venâncio, Luiz Sanches
Ciências Humanas e suas Tecnologias Neto, Mauro Betti e Sérgio Roberto Silveira
Filosofia: Paulo Miceli, Luiza Christov, Adilton LEM – Inglês: Adriana Ranelli Weigel Borges, Alzira
Luís Martins e Renê José Trentin Silveira da Silva Shimoura, Lívia de Araújo Donnini Rodrigues,
Geografia: Angela Corrêa da Silva, Jaime Priscila Mayumi Hayama e Sueli Salles Fidalgo
Tadeu Oliva, Raul Borges Guimarães, Regina Língua Portuguesa: Alice Vieira, Débora Mallet
Araujo, Regina Célia Bega dos Santos e Pezarim de Angelo, Eliane Aparecida de Aguiar,
Sérgio Adas José Luís Marques López Landeira e João Henrique
História: Paulo Miceli, Diego López Silva, Nogueira Mateos
Governador Glaydson José da Silva, Mônica Lungov Bugelli e Matemática
José Serra Raquel dos Santos Funari
Matemática: Nílson José Machado, Carlos
Sociologia: Heloisa Helena Teixeira de Souza Eduardo de Souza Campos Granja, José Luiz Pastore
Martins, Marcelo Santos Masset Lacombe, Mello, Roberto Perides Moisés, Rogério Ferreira da
Vice-Governador Melissa de Mattos Pimenta e Stella Christina Fonseca, Ruy César Pietropaolo e Walter Spinelli
Alberto Goldman Schrijnemaekers
Caderno do Gestor
Secretária da Educação Ciências da Natureza e suas Tecnologias
Maria Helena Guimarães de Castro Lino de Macedo, Maria Eliza Fini e Zuleika de Felice
Biologia: Ghisleine Trigo Silveira, Fabíola Bovo Murrie
Secretária-Adjunta Mendonça, Felipe Bandoni de Oliveira, Lucilene
Iara Gloria Areias Prado Aparecida Esperante Limp, Maria Augusta Equipe de Produção
Querubim Rodrigues Pereira, Olga Aguilar Coordenação Executiva: Beatriz Scavazza
Chefe de Gabinete Santana, Paulo Roberto da Cunha, Rodrigo
Fernando Padula Venturoso Mendes da Silveira e Solange Soares Assessores: Alex Barros, Antonio Carlos Carvalho,
de Camargo Beatriz Blay, Carla de Meira Leite, Eliane Yambanis,
Coordenadora de Estudos e Normas Ciências: Ghisleine Trigo Silveira, Cristina Heloisa Amaral Dias de Oliveira, José Carlos
Pedagógicas Leite, João Carlos Miguel Tomaz Micheletti Neto, Augusto, Luiza Christov, Maria Eloisa Pires Tavares,
Valéria de Souza Julio Cézar Foschini Lisbôa, Lucilene Aparecida Paulo Eduardo Mendes, Paulo Roberto da Cunha,
Esperante Limp, Maíra Batistoni e Silva, Maria Pepita Prata, Renata Elsa Stark, Solange Wagner
Coordenador de Ensino da Região Augusta Querubim Rodrigues Pereira, Paulo Locatelli e Vanessa Dias Moretti
Metropolitana da Grande São Paulo Rogério Miranda Correia, Renata Alves Ribeiro, Equipe Editorial
José Benedito de Oliveira Ricardo Rechi Aguiar, Rosana dos Santos Jordão,
Coordenação Executiva: Angela Sprenger
Simone Jaconetti Ydi e Yassuko Hosoume
Coordenadora de Ensino do Interior Assessores: Denise Blanes e Luis Márcio Barbosa
Aparecida Edna de Matos Física: Luis Carlos de Menezes, Sonia Salem,
Estevam Rouxinol, Guilherme Brockington, Ivã Projeto Editorial: Zuleika de Felice Murrie
Presidente da Fundação para o Gurgel, Luís Paulo de Carvalho Piassi, Marcelo de
Edição e Produção Editorial: Conexão Editorial,
Desenvolvimento da Educação – FDE Carvalho Bonetti, Maurício Pietrocola Pinto de
Buscato Informação Corporativa, Verba Editorial e
Fábio Bonini Simões de Lima Oliveira, Maxwell Roger da Purificação Siqueira e
Occy Design (projeto gráfico)
Yassuko Hosoume
Química: Denilse Morais Zambom, Fabio APOIO
Luiz de Souza, Hebe Ribeiro da Cruz Peixoto, FDE – Fundação para o Desenvolvimento da
Isis Valença de Sousa Santos, Luciane Hiromi Educação
Akahoshi, Maria Eunice Ribeiro Marcondes,
EXECUÇÃO Maria Fernanda Penteado Lamas e Yvone CTP, Impressão e Acabamento
Mussa Esperidião Imprensa Oficial do Estado de São Paulo
Coordenação Geral
Maria Inês Fini
Concepção
Guiomar Namo de Mello A Secretaria da Educação do Estado de São Paulo autoriza a reprodução do conteúdo do material de sua titularidade pelas demais
Lino de Macedo secretarias de educação do país, desde que mantida a integridade da obra e dos créditos, ressaltando que direitos autorais protegi-
Luis Carlos de Menezes dos* deverão ser diretamente negociados com seus próprios titulares, sob pena de infração aos artigos da Lei no 9.610/98.
Maria Inês Fini
* Constituem “direitos autorais protegidos” todas e quaisquer obras de terceiros reproduzidas no material da SEE-SP que não
Ruy Berger
estejam em domínio público nos termos do artigo 41 da Lei de Direitos Autorais.

GESTÃO
Fundação Carlos Alberto Vanzolini Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas

Presidente do Conselho Curador: São Paulo (Estado) Secretaria da Educação.


Antonio Rafael Namur Muscat S239c Caderno do professor: filosofia, ensino médio - 1a série, volume 1 /
Presidente da Diretoria Executiva:
Secretaria da Educação; coordenação geral, Maria Inês Fini; equipe, Adilton
Mauro Zilbovicius Luís Martins, Luiza Christov, Paulo Miceli, Renê José Trentin Silveira. – São
Paulo : SEE, 2009.
Diretor de Gestão de Tecnologias
aplicadas à Educação: ISBN 978-85-7849-189-5
Guilherme Ary Plonski

Coordenadoras Executivas de Projetos:


1. Filosofia 2. Ensino Médio 3. Estudo e ensino I. Fini, Maria Inês. II. Martins,
Beatriz Scavazza e Angela Sprenger Adilton Luís. III. Christov, Luiza. IV. Miceli, Paulo. V. Silveira, Renê José Trentin.
VI. Título.
COORDENAÇÃO TÉCNICA
CDU: 373.5:101
CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas
Prezado(a) professor(a),

Dando continuidade ao trabalho iniciado em 2008 para atender a uma das


prioridades da área de Educação neste governo – o ensino de qualidade –, enca-
minhamos a você o material preparado para o ano letivo de 2009.

As orientações aqui contidas incorporaram as sugestões e ajustes sugeridos


pelos professores, advindos da experiência e da implementação da nova pro-
posta em sala de aula no ano passado.

Reafirmamos a importância de seu trabalho. O alcance desta meta é concre-


tizado essencialmente na sala de aula, pelo professor e pelos alunos.

O Caderno do Professor foi elaborado por competentes especialistas na área


de Educação. Com o conteúdo organizado por disciplina, oferece orientação
para o desenvolvimento das Situações de Aprendizagem propostas.

Esperamos que você aproveite e implemente as orientações didático-peda-


gógicas aqui contidas. Estaremos atentos e prontos para esclarecer dúvidas ou
dificuldades, assim como para promover ajustes ou adaptações que aumentem
a eficácia deste trabalho.

Aqui está nosso novo desafio. Com determinação e competência, certamen-


te iremos vencê-lo!

Contamos com você.

Maria Helena Guimarães de Castro


Secretária da Educação do Estado de São Paulo
Sumário
São Paulo faz escola – Uma Proposta Curricular para o Estado 5
Ficha do Caderno 7
Orientação sobre os conteúdos do bimestre 8
Tema 1 – Por que estudar Filosofia? Linhas teóricas da proposta 10
Situação de Aprendizagem 1 – Criando uma imagem crítica da Filosofia 12
Situação de Aprendizagem 2 – Como funciona o intelecto? Introdução ao
empirismo e ao criticismo 20
Tema 2 – As áreas da Filosofia 27
Situação de Aprendizagem 3 – Instrumentos de pesquisa em História da Filosofia 27
Situação de Aprendizagem 4 – Áreas da Filosofia 31
SãO PAUL O FAz ESCOLA – UMA PrOPOSTA
CUrriCULAr PArA O ESTAdO

Prezado(a) professor(a),

É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos
do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5a a 8a séries do Ensino
Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão
também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas
durante a primeira fase de implantação da proposta.

Os Cadernos foram lidos, analisados e aplicados, e a nova versão tem agora a


medida das práticas de nossas salas de aula. Sabemos que o material causou excelente
impacto na Rede Estadual de Ensino como um todo. Não houve discriminação.
Críticas e sugestões surgiram, mas em nenhum momento se considerou que os
Cadernos não deveriam ser produzidos. Ao contrário, as indicações vieram no sentido
de aperfeiçoá-los.

A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição.
Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de
significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas
e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre
o que estava sendo proposto.

Os Cadernos dialogaram com seu público-alvo e geraram indicações preciosas


para o processo de ensino-aprendizagem nas escolas e para a Secretaria, que gerencia
esse processo.

Esta nova versão considera o “tempo de discussão”, fundamental à implantação


da Proposta Curricular. Esse “tempo” foi compreendido como um momento único,
gerador de novos significados e de mudanças de ideias e atitudes.

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Os ajustes nos Cadernos levaram em conta o apoio a movimentos inovadores, no
contexto das escolas, apostando na possibilidade de desenvolvimento da autonomia
escolar, com indicações permanentes sobre a avaliação dos critérios de qualidade da
aprendizagem e de seus resultados.

Sempre é oportuno relembrar que os Cadernos espelharam-se, de forma objetiva, na


Proposta Curricular, referência comum a todas as escolas da Rede Estadual, revelando
uma maneira inédita de relacionar teoria e prática e integrando as disciplinas e as
séries em um projeto interdisciplinar por meio de um enfoque filosófico de Educação
que definiu conteúdos, competências e habilidades, metodologias, avaliação e recursos
didáticos.

Esta nova versão dá continuidade ao projeto político-educacional do Governo de


São Paulo, para cumprir as 10 metas do Plano Estadual de Educação, e faz parte das
ações propostas para a construção de uma escola melhor.

O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que
acreditaram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a
em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será
apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo
foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram
dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.

Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para
que possamos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo
este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma
que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de
qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é
possível antever esse sucesso, que também é de vocês.

Bom ano letivo de trabalho a todos!

Maria inês Fini


Coordenadora Geral
Projeto São Paulo Faz Escola

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FiCHA dO CAdErnO
nome da disciplina: Filosofia

área: Ciências Humanas e suas Tecnologias

Etapa da educação básica: Ensino Médio

Série: 1a

Período letivo: 1o bimestre de 2009

Temas e conteúdos: Por que estudar Filosofia?

As áreas da Filosofia

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OriEnTAÇãO SOBrE OS COnTEÚdOS dO BiMESTrE
As sugestões contidas neste Caderno de- para quem não associa as ideias desse autor
vem ser avaliadas por você e consideradas, ao seu cansaço e ao de seus pais? Que sentido
sempre, em função da experiência adquirida pode ter Hannah Arendt se não a associamos
na convivência com os alunos nos ambientes às violências que caracterizam – e comprome-
em que são desenvolvidas suas atividades do- tem – a condição humana? Que sentido tem
centes. John locke quando dissociado da corrupção
que nos agride todos os dias?
Como problema inicial, propomos uma
questão didático-metodológica própria à Para favorecer essa produção de sentidos,
Filosofia: ensinar Filosofia ou ensinar a fi- propõe-se uma abordagem dialógica: ouvir os
losofar? alunos e ser ouvido por eles; dialogar a partir
do que se ouve na sala de aula e se lê nos textos
Como você bem sabe ambas são perguntas filosóficos; ler com os alunos e promover ou
de difícil resposta e implicam escolhas que vão provocar a leitura investigativa; refletir e fazer
orientar todo o desenvolvimento do trabalho com que os alunos coloquem suas vidas em
docente. A resposta não deve ser procurada meio à discussão filosófica; finalmente, escre-
nos debates eruditos sobre Filosofia, nem no ver, como forma de expressão dessa reflexão.
ato de filosofar sobre tudo, mas respondida
considerando, principalmente, nosso públi-
co-alvo: os estudantes da escola pública.

O que parece certo, porém – e esta é a nossa


escolha –, é que precisamos chegar à história
da Filosofia a partir de questões presentes, e
não o inverso, como é hábito acontecer. As-
sim, nossos adolescentes podem chegar a uma
melhor compreensão dos problemas apresen-
tados pela vida. Sem isso, nenhum filósofo ou
conceito filosófico terá sentido para eles. O Neste Caderno, as Situações de Aprendiza-
primeiro conceito filosófico para se trabalhar gem estão agrupadas em dois temas principais.
em sala de aula é a vida das pessoas que ali O primeiro deles, “Por que estudar Filosofia”,
estão – do professor ao aluno. tem como objetivo apresentar o objeto da Fi-
losofia; e o segundo, “As áreas da Filoso-
É claro que, para bem trabalhar essa ques- fia”, apresenta aos alunos uma visão geral das
tão, temos de recorrer aos conhecimentos e às áreas da disciplina, indispensável à realização
estratégias sugeridas pelos filósofos, encon- de pesquisas.
trados na história da Filosofia e que devem
ser utilizados para desenvolver o pensamento Aqui, você vai encontrar exemplos de ati-
crítico, indispensável à promoção da dignida- vidades e Situações de Aprendizagem que já
de humana. Que sentido pode ter Karl Marx foram aplicadas em escolas públicas e que

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Filosofia – 1a série, 1o bimestre

trouxeram valiosos resultados para elevar os f recorrer aos conhecimentos desenvolvidos


padrões da relação ensino-aprendizagem. na escola para a elaboração de propostas
de intervenção solidária na realidade, res-
As competências e habilidades que se pre- peitando os valores humanos e consideran-
tende desenvolver com as Situações de Apren- do a diversidade sociocultural.
dizagem deste Caderno, extraídas da matriz
do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), Em relação à avaliação, recomendamos
são as seguintes: três análises:

f dominar a norma culta da língua portu- f participação em sala de aula, por meio de
guesa e fazer uso das linguagens matemá- anotações a respeito do aluno;
tica, artística e científica; f trabalho de pesquisa e de escrita;
f construir e aplicar conceitos das várias áre- f provas escritas.
as do conhecimento para a compreensão
de fenômenos naturais, de processos histó- Em muitas de nossas reuniões de professo-
rico-geográficos, da produção tecnológica res, é comum ouvir que “a sala de aula é o espa-
e das manifestações artísticas; ço onde tudo pode acontecer”. Esperamos que
f selecionar, organizar, relacionar e interpre- este Caderno possa ajudar a fazer com que, na
tar dados e informações, representados de sala de aula, o que aconteça seja o desenvolvi-
diferentes formas, para tomar decisões e mento do pensamento crítico, no qual se assen-
enfrentar situações-problema; tam as bases fundamentais da cidadania.
f relacionar informações, representadas de
diferentes formas, e conhecimentos, dispo- Entretanto, seu desenvolvimento estará
níveis em diferentes situações para cons- sempre condicionado à realidade em que você,
truir argumentação consistente; professor, atua.

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TEMA 1 – POr qUE ESTUdAr FiLOSOFiA?
LinHAS TEóriCAS dA PrOPOSTA

Para trabalhar esta questão, você pode nos a perceber o sentido cultural e político
dividi-la em duas partes; na primeira, orien- da Filosofia e a importância de seu ensino
te uma discussão sobre o que é Filosofia. Na para a formação deles. Em resumo, fazer
segunda, diretamente relacionada ao cotidia- com que percebam que estudar Filosofia,
no da escola, proponha aos alunos um debate mais do que obrigação escolar, é um direito
sobre a importância da disciplina no currí- e uma conquista.
culo escolar: para que serve o estudo da Fi-
losofia. Como você sabe, há várias respostas Como ponto de partida, orientamos as Si-
para essas questões, pois, para cada grande tuações de Aprendizagem propostas neste Ca-
filósofo, a Filosofia é algo diferente. Por isso, derno pelas seguintes definições:
a fim de evitar a construção de um mosaico
de definições, nossa proposta será orientada
pelas indicações dos Parâmetros Curriculares
Nacionais para o Ensino Médio (PCN-EM) A Filosofia é “uma reflexão crítica a res-
para o ensino de Filosofia. peito do conhecimento e da ação, a partir da
análise dos pressupostos do pensar e do agir
O que é Filosofia? e, portanto, como fundamentação teórica e
crítica dos conhecimentos e das práticas”.
Uma discussão sobre o que é Filosofia pre-
cisa, de início, considerar que seu estudo no Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio), p. 44
Ensino Médio difere muito daquele que é de- – Ciências Humanas e suas tecnologias – complementos.
senvolvido na universidade, de caráter essen- Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/
cialmente acadêmico. pdf/CienciasHumanas.pdf>. Acesso em: 17 out. 2008.

Nas faculdades de Filosofia, ouve-se com


frequência que existem várias filosofias e que
elas nem sempre convivem de forma harmôni-
ca, como, por exemplo, o platonismo, o aris- A partir daí, é possível pensar na segunda
totelismo, o racionalismo, a hermenêutica, o parte de nosso problema inicial, para avaliar-
marxismo, a dialética, o realismo, o estrutu- mos – professores e alunos – qual é a importân-
ralismo, o pós-modernismo e outras. Em um cia de se estudar Filosofia no Ensino Médio.
curso de graduação, justifica-se o aprofunda-
mento em uma ou em outra filosofia, segundo Para que serve o estudo da Filosofia?
os autores ou problemas que mais sensibili-
zam os estudantes – o que, muitas vezes, se Esta é uma pergunta de difícil resposta, pois
deve às influências exercidas pelos próprios pressupõe que tudo tem de ter uma utilidade,
professores. um uso prático, como, por exemplo, estudar
Matemática apenas para não ser enganado no
As questões que abrem nossa proposta momento do troco. Em geral, essa questão não
possuem como objetivo básico levar os alu- parte de uma discussão filosófica; ela procede

10
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

das necessidades imediatas da ordem merca- tura restrita e utilitarista, vamos destacar a
dológica. De qualquer forma, a questão existe importância do ensino da Filosofia no Ensino
e pode ser uma ponte para o diálogo. Médio para a formação do cidadão na pro-
funda dimensão ético-política, o que pode ser
Em vez de expormos, aqui, o histórico do amparado nos próprios argumentos contidos
conceito e a crítica a uma concepção de cul- nos PCN, nos quais se afirma:

“A nova legislação educacional brasileira parece reconhecer, afinal, o próprio sentido histórico da
atividade filosófica e, por esse motivo, enfatiza a competência da Filosofia para promover, sistematica-
mente, condições indispensáveis para a formação de cidadania plena.”

Parâmetros Curriculares Nacionais (Ensino Médio) parte IV, p. 45. Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/
cienciah.pdf>. Acesso em: 17 out. 2008.

crítica sustentada pela Filosofia (o instru-


Por que estudar Filosofia? mento) visa a auxiliar o adolescente (conhe-
cimento/ação) no processo de formação da
A partir das considerações até aqui apre- cidadania (objetivo), o que pode ser assim
sentadas, é possível afirmar que a reflexão esquematizado:

instrumento Reflexão crítica

Objetos Conhecimento Ação

Objetos Produção da cidadania

Em resumo, o objetivo de se estudar Filo- Os objetos de trabalho são o conhecimento


sofia é o conhecimento de seu instrumento, ou e a ação. A reflexão crítica deve considerar a
seja, a reflexão crítica, que consiste em fazer o produção teórica da Filosofia, seus textos, seus
problemas e seus métodos. Ao mesmo tempo,
pensamento voltar-se sobre si mesmo e sobre
deve tratar de questões da ação humana sobre
o mundo, apropriando-se de experiências e se seus conhecimentos e sobre o mundo. Peda-
engajando numa transformação da própria gogicamente, divididos ou unidos, os objetos
vida. devem ser alvo constante de crítica reflexiva.

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SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 1
CRIANDO UMA IMAGEM CRíTICA DA FIlOSOFIA

Como os alunos têm grande necessidade de Aquino; por fim, é hora de promover o diá-
de imagens e dificuldade de pensar de forma logo com base nesses textos.
abstrata, é possível incentivá-los a desenvolver
essa capacidade a partir da construção de uma Todas essas sugestões, entretanto, devem
imagem crítica da disciplina. Inicialmente, va- ser avaliadas por você, professor, que conhece
mos ouvi-los sobre o que pensam da Filosofia melhor os limites e as possibilidades de suas
em relação a outras disciplinas; em seguida, condições de trabalho. É possível, por exem-
cabe dialogar com eles a respeito do concei- plo, dilatar ou reduzir o tempo dedicado a
to de Filosofia; depois, podemos apresentar cada atividade, bem como acrescentar ou mo-
o conceito de reflexão a partir da análise do dificar procedimentos. Enfim, faça as adapta-
espelho; na sequência, temos a leitura de tre- ções que julgar necessárias para atingir seus
chos de Sócrates, Platão, Aristóteles e Tomás objetivos docentes.

Tempo previsto: 5 aulas.

Conteúdos e temas: desenvolvimento dos conceitos básicos de Filosofia, reflexão e reconhecimento do


intelecto.

Competências e habilidades: dominar diferentes linguagens e compreender diferentes fenômenos do co-


nhecimento. A proposta procura incentivar as competências que possibilitam reconhecer manifestações
histórico-sociais do pensamento, além de incentivar as práticas do trabalho em equipe, da pesquisa, da
sistematização e apresentação de conceitos e informações e da exposição oral e escrita. Na sua reali-
zação, os alunos podem ser incentivados a selecionar, organizar e identificar informações, bem como
desenvolver a capacidade de produção de textos, associando questões atuais a referências extraídas da
história da Filosofia.

Estratégias: além das aulas expositivas, você deve orientar o trabalho em grupos, a realização da pesqui-
sa, a coleta e a sistematização das informações. Do momento de ouvir os alunos até que eles possam es-
crever, o acompanhamento questionador e investigativo é fundamental. O exercício constante de propor
questões e ajudar os alunos a responder é uma das chaves da investigação filosófica.

recursos: um espelho de tamanho médio e alguns textos selecionados.

Avaliação: registros sobre a participação nas discussões. A leitura do texto produzido pelos alunos e a
sua reescrita devem ser considerados.

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Filosofia – 1a série, 1o bimestre

Sondagem e sensibilização 3”, pois seria melhor responder “Matemática


lembra números e cálculos”.
Ouvir
Depois de observar as anotações feitas
Inicialmente, você pode pedir aos alunos nos cadernos dos alunos, você deve preencher
que preencham o quadro a seguir. Oriente-os a o mesmo quadro na lousa, lembrando que o
evitar respostas que possam causar constran- mais importante nele são as indicações sobre
gimento a outras pessoas, como “Arte lembra Filosofia, pois a intenção é investigar o que os
a professora chata”, ou respostas muito espe- alunos pensam da disciplina.
cíficas, como “Matemática lembra o número

O que lembra o quê?

Matemática

Inglês

História

Geografia

Biologia

língua Portuguesa

Educação Física

Arte

Filosofia

dialogar 3. Vocês conhecem ou já ouviram falar de al-


gum filósofo? Quem? Por que essa pessoa
De posse das respostas dos alunos sobre se tornou filósofo?
o que pensam a respeito da Filosofia, faça à
classe algumas perguntas, de maneira que to- A seguir, apresentamos algumas respostas
dos possam responder oralmente; você pode obtidas em nossas experiências de aulas de Fi-
modificar ou acrescentar outras questões. losofia com alunos do Ensino Médio.

1. O que vocês pensam a respeito da Filoso- f “Um conhecimento inútil, não serve para
fia? trabalhar ou arrumar emprego e não dá di-
nheiro.” A esta ideia, bastante recorrente,
2. Como vocês imaginam que é o trabalho de é possível opor argumentos contra o re-
um filósofo? ducionismo da vida humana ao trabalho,

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lembrando que somos mais do que o di- ela busca superar as visões superficiais que,
nheiro pode pagar. Além disso, lembrando por exemplo, classificam as pessoas como
que a Filosofia é importante manifestação boas e honestas só por irem diariamente à
da cultura, você pode questionar a classe igreja ou ao templo, sem considerar suas
a respeito de sua subordinação mecânica à atitudes cotidianas. Mais ainda: a Filoso-
utilidade mercadológica. fia se permite refletir sobre uma explicação
f “Um conhecimento profundo demais e que divina para as injustiças sociais, como a
não somos capazes de entender.” Com cer- fome e a violência, o que pode ser esten-
teza, a Filosofia é um conhecimento profun- dido, também, ao campo da moral: por
do, mas, desde que se dê o primeiro passo, exemplo, devemos julgar os outros sem sa-
é possível caminhar longas distâncias. ber o que acontece com eles de verdade? É
f “Um curso para passar o tempo, pois não possível ignorar que uma pessoa conside-
reprova.” Aqui, você pode lembrar que rada honesta e boa na frente dos amigos
exercitar o pensamento é uma ótima opor- e da família, por trás, possa ter atitudes
tunidade para se desenvolver. Mas, como vergonhosas, desonestas, maldosas e, con-
está em jogo também como se passa o tem- sequentemente, condenáveis?
po, é possível pedir aos alunos que avaliem f “Um conhecimento que ajuda a gente a ser
o que é melhor: viver a vida como uma pe- feliz, uma terapia de grupo.” Não é difícil
dra, apenas sofrendo a erosão do tempo, encontrar na Filosofia consolo e reflexão,
como um animal selvagem, procurando que podem nos animar, estimular e forta-
somente o que serve de imediato, ou como lecer. Mas é preciso informar que, às ve-
um ser humano, capaz de crescer e se de- zes, a Filosofia trata de questões difíceis,
senvolver conscientemente. principalmente quando descobrimos que
f “Um conhecimento alienado, incapaz de temos responsabilidades maiores. O lado
dialogar com a realidade.” Esta é uma ideia terapêutico da Filosofia existe; no entanto,
muito comum, mas não é difícil mostrar ela é também exigência de trabalho e enga-
que a Filosofia se preocupa, sim, com a re- jamento por um mundo melhor. Ela deve
alidade, pois fazem parte de suas preocu- fazer bem ao indivíduo e ao grupo, mas
pações questões muito importantes como isso nem sempre é prazeroso.
o aborto, a eutanásia, ou como deve ser a f “Uma lição de moral, já que o padre e o
justiça para lutar contra as injustiças, como pastor não podem vir à escola.” A reflexão
deve ser um bom político, como identificar ética não é um exercício normativo; a ima-
a corrupção moral ou como avaliar, etica- gem da Filosofia moralista normativa deve
mente, as aplicações da ciência. ser colocada em questão por imperativos
f “Um conhecimento de gente revoltada, éticos. Por exemplo, é uma norma moral
que não gosta de religião, moral ou das respeitar e obedecer ao pai e à mãe. Entre-
coisas como elas deveriam ser.” Sobre isso, tanto, o que deve ser feito quando o filho é
reconhecido o direito das pessoas de serem colocado em uma situação de violência por
agnósticas ou ateias, é importante dizer parte dos pais? Ou o irmão por outro ir-
que a Filosofia não pode ser identificada mão? O cidadão de que a sociedade precisa
como revolta contra as religiões ou contra para tornar-se melhor deve ser capaz de fa-
a religiosidade. A Filosofia é crítica, sim, zer um discernimento ético sobre questões
na medida em que procura pensar todos os como essas, não reduzir-se a um incons-
lados de uma questão. No caso da religião, ciente cumpridor de preceitos morais.

14
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

f “Um jeito de viver.” Você deve se lembrar Comentários sobre as questões


de que, na faculdade, muitos colegas se
decepcionaram porque não encontraram Com o espelho na mão e com o conheci-
na Filosofia uma solução para as suas mento das respostas dos alunos, você pode dis-
vidas. Apesar de termos filósofos muito cutir as questões:
religiosos, a Filosofia não é uma espécie
de religião; ela é uma reflexão. Quando Como um espelho funciona?
ouvimos uma pessoa falar “a minha fi-
losofia de vida”, ela está se referindo ao Um espelho funciona da seguinte forma: a luz
seu jeito de encarar as coisas e não à Fi- branca, que contém todas as cores, parte de sua
losofia mesmo, que é uma reflexão crítica fonte, por exemplo, Sol ou lâmpada, e atinge os
e metódica. objetos. Os objetos absorvem a luz, que é com-
posta das cores do arco-íris; se o objeto aparece
Ver e Ouvir – O espelho com a cor amarela, por exemplo, é porque absor-
veu os raios de todas as outras cores e refletiu a
Preparação amarela; a mesma coisa acontece com as outras
cores. Se o objeto aparece preto, é porque absor-
Para esta aula, é necessário que você dis- veu todas as cores, e se aparece branco é porque
ponha de um espelho de tamanho médio para não absorveu nenhuma cor. Seria interessante
usar em sala. mostrar o conceito com as cores da sala: a cami-
seta verde, o boné azul, o batom vermelho etc.
questões para investigação
Então, quando vemos a cor, na verdade, o
Durante a aula, procure dividir a classe, no que vemos é a reflexão da luz, em diferentes
máximo, em cinco grupos. Assim que os gru- partes que correspondem às cores. É verdade
pos estiverem formados, escreva na lousa as que o físico explicaria isso com mais detalhes,
seguintes perguntas: a partir das leis da óptica; afinal, a Filosofia
sempre aprendeu muito com a Física e com as
f Como um espelho funciona? outras ciências.
f O que um espelho não pode refletir?
f Como e para que o espelho é utilizado? Onde O espelho não deixa a luz atravessá-lo, pois
nós o encontramos? possui um revestimento opaco. Como a luz não
pode passar, ela vai e volta, integralmente. É bom
Passe o espelho para cada grupo e peça que lembrar que o olho vê apenas a luz que toca os
anotem as questões e as respostas. Depois, objetos. Se o espelho reflete ou “rejeita” toda a
solicite que cada grupo entregue uma folha luz, mostra todas as cores, e é por isso que, quan-
com as respostas. Sugerimos que as respostas do olhamos para ele, vemos a imagem completa.
sejam apresentadas por meio de tópicos. Por A este fenômeno damos o nome de reflexo.
exemplo, para a questão “Como e para que o
espelho é utillizado?”: O que um espelho não pode refletir?

f Ver se o cabelo está penteado. Um espelho não pode mostrar os objetos


f Ver se temos espinhas no rosto. que a luz não atinge. Por isso, não existe reflexo

15
no escuro. Ele também não pode mostrar o que
não está à sua frente ou o que está escondido, “Por toda parte eu vou persuadindo a to-
nem os seres invisíveis a olho nu, como o ar e dos, jovens e velhos, a não se preocuparem
os micróbios. Ele não pode refletir a si mesmo. exclusivamente, e nem tão ardentemente,
E também não pode mostrar o passado nem o com o corpo e com as riquezas, como devem
futuro; ele só mostra o presente. preocupar-se com a alma, para que ela seja
quanto possível melhor, e vou dizendo que a
O que podemos fazer com o espelho, além de ver virtude não nasce da riqueza, mas da virtude
o nosso reflexo? vem, aos homens, as riquezas e todos os ou-
tros bens, tanto públicos como privados.”
Somente o uso da imaginação pode res-
ponder o que mais podemos fazer com o es- PlATãO. Apologia de Sócrates. Tradução Maria la-
pelho. Devemos incentivar a imaginação. No cerda de Souza. Disponível em: <http://www.dominio
entanto, trata-se de um excelente momento publico.gov.br/download/texto/cv000065.pdf>. Acesso
para pensar o espelho do ponto de vista estéti- em: 17 out. 2008.
co. E por que não usar o espelho para ensinar
a refletir?

Ler “Ao considerar o conhecimento como


se encontrando entre as coisas mais belas e
Preparação dignas do maior valor, sendo umas mais pe-
nosas do que outras, quer em virtude do seu
Prepare biografias curtas de Sócrates, Pla- rigor, quer em virtude de dizer respeito a coi-
tão, Aristóteles e Tomás de Aquino. Apresente sas mais belas e elevadas, decidimos, devido a
aos alunos os dados relevantes. Você pode sa- essas duas mesmas causas, considerar toda
lientar algumas curiosidades, pois isso cativa a investigação respeitante à alma como sen-
a atenção e pode levá-los a se identificar com do de importância fundamental. Além disso,
o filósofo, despertando-lhes a curiosidade e a parece esta investigação também constituir
vontade de aprofundar o estudo. Esta prática uma contribuição especial para todo o conhe-
pode, também, aproximar os alunos da histó- cimento da verdade, particularmente para o
ria da Filosofia, fazendo-os chegar até ela a estudo da natureza – a alma é, com efeito,
partir de exemplos, e não pela memorização o princípio de todos os seres vivos. Por isso
de nomes, datas e sínteses esquemáticas. procuramos, ao investigar, examinar a natu-
reza e a essência da alma em primeiro lugar e,
O mais importante, porém, é destacar que depois, os seus atributos fundamentais.”
esses filósofos podem ajudar a pensar a capa-
cidade reflexiva dos seres humanos. ARISTÓTElES. Da alma. Tradução Carlos Humberto
Gomes. lisboa: Edições 70, 2001. p. 23.
Apresente os textos selecionados a seguir
para os alunos. Caso julgue necessário, acres-
cente outros textos que considere importantes, Comentário sobre os textos
extraindo-os, por exemplo, de seu material di-
dático. É fundamental que os alunos tenham Como estamos iniciando o estudo da Filo-
contato com estes excertos. sofia por meio do conceito de reflexão e vimos

16
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

que o espelho não mostra tudo o que acontece Como argumentamos que existe a alma e as
em termos de vida natural e da cultura huma- virtudes como solidariedade e justiça, e como
na, você pode chamar a atenção dos alunos argumentamos que existe a nossa capacidade de
para o fato de que Platão e Aristóteles trazem pensar e de conhecer o mundo no qual vivemos?
em seus textos a preocupação com a alma,
com a virtude, com a capacidade de conheci- Uma conversa com os alunos sobre essas
mento, ou seja, com palavras ou conceitos que questões pode ajudar a problematizar a dife-
fazem parte da experiência humana e exigem rença entre a reflexão do espelho e a reflexão
esforço de reflexão que se distingue da refle- intelectual.
xão constatada com a ajuda do espelho.
As respostas dos estudantes podem ser re-
f Como podemos afirmar que existem a gistradas para aprofundamento posterior à
alma, a virtude, a capacidade de conheci- atividade que se segue.
mento?
f O que fazemos para refletir sobre esses Escrever
conceitos?
A partir daqui, pode-se propor uma com-
Sabemos, também, que, em diferentes cul- paração entre os conceitos de reflexão intelec-
turas e diferentes momentos históricos, a hu- tual e reflexão no espelho. Uma boa estratégia
manidade formula entendimentos distintos é retomar as questões propostas na atividade
sobre virtude, alma e conhecimento. com o espelho, comparando, agora, o que
ocorre na reflexão do espelho com o que ocor-
f O que os estudantes do Ensino Médio, pre- re na reflexão intelectual.
sentes em nossa aula, entendem por alma?
f Onde formularam suas representações so- O quadro seguinte pode ser um exercício
bre alma, sobre virtude? Nas igrejas, na fa- prático para realização em sala de aula. Con-
mília, na escola? Com a ajuda do cinema? vém preenchê-lo por etapas, discutindo-se o
Da televisão? seu conteúdo.

reflexão do espelho reflexão intelectual

A reflexão do espelho necessita somente de A reflexão intelectual precisa de ideias e


luz. conhecimento.
O intelecto pode refletir sobre coisas
Apenas reflete o que está à sua frente. escondidas ou ausentes, assim como pessoas
que moram longe e de quem gostamos.
Reflete sobre coisas do passado e pensa o
futuro. Em relação ao presente, ela trata dos
Apenas reflete as imagens presentes. sentidos, dos valores e das interpretações que
fazemos do que podemos ver e do que apenas
percebemos da realidade.
Reflete sobre coisas “invisíveis”, ou abstratas,
Apenas reflete o que é visível. como o amor, a saudade ou as ideias, sem
esquecer, obviamente, a Filosofia.

17
reflexão do espelho reflexão intelectual

Caso não funcione direito, pode-se descartar o É possível melhorá-la a partir do


espelho. conhecimento.
Não pode refletir a si mesmo. Pode refletir sobre si mesma.

Ao completar o quadro, peça aos alunos relações que produziram tais situações, as-
que destaquem uma das afirmações no ca- sim como hipóteses sobre desfechos e solu-
derno e, abaixo dela, redijam um texto de 15 ções possivelmente encontradas.
linhas, tentando explicá-la para um interlocu-
tor imaginário, que deve ser identificado no 2. Vimos que a Filosofia é uma reflexão crí-
texto. Assim, pensando no destinatário, eles tica a respeito do conhecimento e da ação.
poderão expressar-se com mais clareza. Como Destaque um conteúdo que você estudou
são poucas linhas, a tarefa deve terminar na na 8a série, em qualquer uma das discipli-
própria aula. A cada texto entregue, leia-o nas, e elabore uma ou duas perguntas para
com o aluno, corrigindo a ortografia e a gra- reflexão sobre esse conteúdo.
mática; caso encontre problemas de conteúdo,
faça suas orientações e peça que o texto seja Espera-se que o aluno registre perguntas
reescrito. que permitam o questionamento sobre ori-
gens, finalidades ou sentidos relativos aos
Avaliação da Situação de conteúdos destacados.
Aprendizagem
3. Releia o seguinte texto:
Observe as produções do aluno e a cor-
reção dos textos escritos com o objetivo de
verificar a capacidade de organização para o “Por toda parte eu vou persuadindo a to-
estudo; verifique se todas as atividades foram dos, jovens e velhos, a não se preocuparem
concluídas. exclusivamente, e nem tão ardentemente,
com o corpo e com as riquezas, como devem
Propostas de questões para avaliação preocupar-se com a alma, para que ela seja
quanto possível melhor, e vou dizendo que a
1. Registre uma situação do dia-a-dia na qual virtude não nasce da riqueza, mas da virtude
um jovem precise realizar uma reflexão. vêm, aos homens, as riquezas e todos os ou-
Pode ser uma situação real, recuperada tros bens, tanto públicos como privados.”
com a ajuda da memória, ou uma situação
fictícia, inventada para este exercício. PlATãO. Apologia de Sócrates. Tradução Maria la-
cerda de Souza. Disponível em: <http://www.dominio
publico.gov.br/download/texto/cv000065.pdf>. Acesso
Espera-se que o aluno elabore situações co- em: 17 out. 2008.
tidianas cujos personagens reflitam sobre

18
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

Agora, apresente um argumento a favor da Proposta de Situação de


afirmação de Platão e um argumento para recuperação
questionar essa mesma afirmação.
Oriente os estudantes em recuperação a re-
Espera-se que o aluno demonstre capaci- tomarem o quadro comparativo entre reflexão
dade de distinguir a ideia central defen- com a ajuda do espelho e reflexão intelectual.
dida por Platão, a saber, que a riqueza Solicite que selecionem um dos temas apresen-
pode derivar da virtude e que a virtude tados como exemplo para a reflexão intelec-
não deriva da riqueza, argumentando em tual: amor e saudade. Em seguida, eles deverão
defesa dessa ideia, e que revele, também, apresentar argumentos que demonstrem a exis-
capacidade de problematizar essa afir- tência desse tema. Para muitos alunos, refletir
mação com questões que relativizem essa sobre a existência de um tema de sua experiência
assertiva. de vida poderá facilitar a aprendizagem traba-
lhada nesta Situação de Aprendizagem.
4. Considerando a conversa que mantiveram
em classe sobre os argumentos que, em recursos para ampliar a perspectiva
geral, utilizamos para defender a ideia de do professor e do aluno para a
que a alma existe, elabore seu argumento compreensão do tema
particular em relação a essa ideia, fazendo
referências às suas experiências familiares, Livros
escolares ou religiosas que, na sua história
de vida, favoreceram essa elaboração. lORIERI, Marcos. Filosofia: fundamentos e
métodos. São Paulo: Cortez, 2002. livro que
Espera-se que o aluno recupere experiências permite uma visão ampla do trabalho do pro-
coerentes com a necessidade de apresentar fessor, com várias indicações metodológicas.
argumentos favoráveis à ideia de que a alma
existe. MATOS, Olgária. Filosofia: a polifonia da ra-
zão. São Paulo: Scipione, 1997. livro que dia-
5. Selecione um problema social atual, viven- loga com a tradição filosófica e o objetivo da
ciado por determinados grupos de jovens formação cidadã.
brasileiros, e apresente questões para uma
reflexão crítica sobre esse problema. Site

Espera-se que o aluno elabore questões que Globo Vídeos. Disponível em: <http://www.
permitam a contextualização e as diversas video.globo.com>. Acesso em: 17 out. 2008.
perspectivas que cercam o problema sele- Oferece um conjunto de vídeos sobre Filosofia,
cionado. realizados por Viviane Mosé, alguns gratuitos.

19
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 2
COMO FUNCIONA O INTElECTO?
INTRODUçãO AO EMPIRISMO E AO CRITICISMO

A primeira Situação de Aprendizagem que pode ser entendido. Para alcançar esse
tratou do reconhecimento do intelecto. A objetivo, na primeira aula, vamos abordar
segunda pretende aprofundar esse reconhe- o empirismo a partir do funcionamento de
cimento, apresentando-o em sua operação aparelhos de rádio ou televisão; na segun-
de conhecer. O objetivo geral desta Situa- da aula, leremos o texto de John locke; na
ção de Aprendizagem é que o aluno compre- terceira, o foco é o texto de Kant sobre os
enda o intelecto como um objeto de estudo, conhecimentos apriorísticos.

Tempo previsto: 3 aulas.

Conteúdo e temas: os conceitos básicos são Filosofia, reflexão e reconhecimento do intelecto, empirismo,
tipos de conhecimento e criticismo.

Competências e habilidades: o objetivo desta Situação de Aprendizagem é estimular o exercício e o desen-


volvimento de habilidades como a compreensão da dinâmica da aprendizagem e a leitura da ordem dos
argumentos de um texto filosófico. Por meio dessa proposta, procura-se incentivar o desenvolvimento de
competências relacionadas à sistematização de ideias e sua diferenciação. Na realização das atividades,
os alunos podem organizar os argumentos de um texto filosófico e associar questões atuais a referências
extraídas da história da Filosofia.

Estratégias: além das aulas expositivas, você deve orientar o trabalho de leitura a partir da visualização
do equipamento de comunicação – rádio ou televisão. A leitura contínua dos textos como exercício da
descoberta de uma ordem argumentativa é uma boa estratégia.

recursos: serão necessários um aparelho de televisão ou de rádio e os textos selecionados.

Avaliação: como toda a tarefa é realizada em sala de aula, a observação e as anotações a respeito da par-
ticipação são fundamentais. A ordenação de argumentos deve ser considerada como espaço de visuali-
zação das capacidades de leitura e escrita do aluno. Em relação às competências e habilidades, espera-se
que o aluno seja capaz de ler um texto filosófico, compreender sua estrutura e ordenar suas ideias.

Sondagem e sensibilização rádio ou de televisão, de preferência quebra-


dos para que se possa observar o seu interior.
Ouvir e dialogar – O rádio e a televisão
Como introdução, apresente uma pequena
Para desenvolver esta Situação de Apren- biografia intelectual de John locke. Em segui-
dizagem, você precisará de um aparelho de da, após mostrar o rádio ou a televisão aos

20
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

alunos, pergunte-lhes para que serve e como onde vivem outras pessoas. Por exemplo, se
funciona esse aparelho, procurando enfatizar está calor e minha pele está sentindo o Sol,
o seu funcionamento graças à captação (via eu posso fazer esse comentário para outra
satélite, por exemplo) de sinais externos, por pessoa e ela pode confirmar. São as expe-
meio de antenas e cabos. lembre-se de que o riências interpretadas pelos seres humanos
aparelho decodifica os sinais, transforman- que dizem o que é verdadeiro ou não. A isso
do-os em som e/ou imagens. Finalmente, per- damos o nome de empirismo, porque nossa
gunte-lhes o que acontece quando removemos inteligência, ou nosso intelecto, necessita da
a antena do rádio ou da televisão. experiência para entender o mundo.

Depois dessa discussão, proponha as ques- f É possível saber como a nossa inteligência
tões a seguir, procurando sempre comparar o funciona, do mesmo modo que o técnico
funcionamento do aparelho ao da inteligência conhece o funcionamento de um aparelho
humana. É importante, nas discussões, consi- de rádio ou de televisão?
derar a proposta teórica do empirismo, assim
como as questões já trabalhadas sobre o co- Sim, é possível saber como nossa inteli-
nhecimento do intelecto, ou da alma intelecti- gência funciona e como ela aprende. Para
va, a partir dos textos filosóficos anteriores. isso existe a reflexão, que consiste em fa-
zer a inteligência olhar para si mesma. Ao
f Como a inteligência humana, ou o intelec- olharmos para nós mesmos, conseguimos
to, capta os sinais do mundo? perceber os componentes de nossa manei-
ra de pensar, pois existem várias peças (ou
A inteligência humana capta os sinais do partes) em nós, assim como na televisão.
mundo não por antenas, mas sim pelos ór-
gãos dos sentidos: ouvidos, olhos, língua, O técnico deve aprender como funciona cada
pele e nariz. Quando sentimos o mundo, nós uma das peças do rádio ou da televisão para
o captamos. Os cheiros, os sons, os sabores, perceber onde serão necessários os ajustes.
as cores e as temperaturas, tudo é interpre- Do mesmo modo, ao refletir, podemos apren-
tado pela inteligência. der o funcionamento de cada “peça” da
nossa inteligência, ajustá-la se necessário e,
Além disso, podemos partilhar o que capta- assim, desenvolver nossa inteligência.
mos com os outros. Assim, a interpretação
não se reduz a uma atividade da mente iso- Podemos comparar o rádio e a televisão
lada e entra em contato com o mundo real, com o intelecto:

A televisão ou o rádio A inteligência ou o intelecto

Capta o mundo pela antena ou pelo cabo. Capta o mundo pelos cinco sentidos.

Analisa e interpreta o sinal. Analisa e interpreta as experiências.


Depois de interpretar, transforma o sinal em Depois de interpretá-las, transforma as
imagem ou som. experiências em ideias.
Interpreta tudo o que aparece aos sentidos e
Só interpreta o sinal dos canais.
pode experimentar outras coisas.

21
A televisão ou o rádio A inteligência ou o intelecto

Aprende ou pode aprender com tudo o que


Não aprende nada com o que capta.
capta.
Pode refletir sobre o que consegue captar e,
Não pode refletir sobre o que capta. inclusive, transmitir para outras pessoas os
conhecimentos.

Ler – parte 1
O trabalho do filósofo é parecido com o Prepare uma pequena biografia de John
do técnico que conserta aparelhos de televi- locke, com dados básicos sobre o autor, sem
são ou rádio. Comparativamente, o filósofo deixar de oferecer informações importantes. Du-
tem de conhecer as partes para poder melho- rante a aula, apresente o texto a seguir para os
rar o funcionamento da inteligência, isto é, alunos. Caso julgue necessário, acrescente ou-
a Filosofia pode nos auxiliar a desenvolver tros textos que considerar importantes, extrain-
ideias mais claras e a sintonizar melhor nos- do-os, por exemplo, de seu material didático. É
sas ideias. fundamental que os alunos tenham esse texto.

Suponhamos, pois, que a mente é, como dissemos, um papel branco, desprovida de todos os caracteres,
sem quaisquer idéias; como ela será suprida? De onde lhe provém este vasto estoque, que a ativa e que a
ilimitada fantasia do homem pintou nela com uma variedade quase infinita? De onde apreende todos os
materiais da razão e do conhecimento? A isso respondo, numa palavra: da experiência. Todo o nosso co-
nhecimento está nela fundado, e dela deriva fundamentalmente o próprio conhecimento. Empregada tan-
to nos objetos sensíveis externos como nas operações internas de nossas mentes, que são por nós mesmos
percebidas e refletidas, nossa observação supre nosso entendimento com todos os materiais do pensamen-
to. Dessas duas fontes de conhecimento jorram todas as nossas idéias, ou as que possivelmente teremos.
Primeiro, nossos sentidos, familiarizados com os objetos sensíveis particulares, levam para a mente
várias e distintas percepções das coisas, segundo os vários meios pelos quais aqueles objetos a impres-
sionaram. Recebemos, assim, as idéias de amarelo, branco, quente, frio, mole, duro, amargo, doce e to-
das as idéias que denominamos qualidades sensíveis. Quando digo que os sentidos levam para a mente,
entendo com isso que eles retiram dos objetos externos para a mente o que produziu estas percepções.
A esta grande fonte da maioria de nossas idéias, bastante dependente de nossos sentidos, dos quais se
encaminham para o entendimento denomino sensação.
A outra fonte pela qual a experiência supre o entendimento com idéias é a percepção das operações
de nossa própria mente, que se ocupa das idéias que já lhe pertencem. Tais operações, quando a alma
começa a refletir e a considerar, suprem o entendimento com outra série de idéias que não poderia
ser obtida das coisas externas, tais como a percepção, o pensamento, o duvidar, o crer, o raciocinar, o
conhecer, o querer e todos os diferentes atos de nossas próprias mentes.
[...] Mas, como denomino a outra de sensação, denomino esta de reflexão: idéias que se dão ao luxo
de serem tais apenas quando a mente reflete sobre as próprias operações.

lOCKE, John. Ensaio acerca do entendimento humano. Tradução Anoar Aiex e E. Jacy Monteiro. São Paulo: Editora Nova
Cultural, 1983. (Os Pensadores). p. 159-160.

22
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

Depois da leitura, organize grupos de cinco f argumento 4: porque é agradável de assistir;


alunos. Coloque os tópicos a seguir na lousa, f argumento 5: porque atribui a homens e mu-
para que possam ser copiados, e faça um sor- lheres valores semelhantes quanto às ex-
teio para distribuí-los entre os grupos. pectativas sociais (não reduz os homens à
riqueza nem as mulheres à beleza);
1. A mente é vazia de ideias. f argumento 6: porque foi comentado por vá-
rios autores importantes ao longo de mui-
2. Como se adquire conhecimento? tos anos e pode ser discutido com pessoas
interessantes pela internet.
3. A experiência é o fundamento de todos os
conhecimentos. Todos os argumentos, ou motivos, ou por-
quês, estão aí para defender a ideia central.
4. Como a experiência pode ensinar? lembre-se de que todo texto é uma defesa de
uma ou mais ideias. A ideia central do texto que
5. Os sentidos fazem com que as ideias en- apresentamos pode ser resumida nesta frase:
trem na mente. “Nascemos sem conhecimento algum e vamos
aprendendo pelas análises das experiências”.
6. Tipos de experiências dos sentidos: branco,
amarelo, quente, frio, duro, amargo. Uma vez que cada grupo tenha a sua frase,
peça que procurem no texto trechos que com-
7. A mente percebe as suas operações pela re- binem com a frase em questão. Cada uma das
flexão. frases recebidas resume argumentos que estão
no texto. Quando os alunos encontrarem no
8. Tipos de percepções: pensar, duvidar, crer, texto algo semelhante à frase que possuem,
raciocinar. eles encontrarão o argumento. Você pode pe-
dir, então, que ordenem as frases segundo o
Agora, há condições de explicar que os tex- texto. Assim, eles poderão perceber a constru-
tos, de modo geral, procuram defender uma ção de um raciocínio textual.
ideia. Para isso, cria-se um raciocínio. Os ra-
ciocínios são feitos de argumentos, que mos- Ler – parte 2
tram ideias que defendem uma ideia central.
Esta aula deve se basear na leitura e com-
Por exemplo: preensão do texto a seguir. Caso os alunos
não entendam alguma palavra, expressão ou
f ideia central: aquele filme é ótimo; símbolo, é uma boa oportunidade para você
f argumento 1: porque tem ideias interessantes; introduzir ideias. Recomendamos a apresen-
f argumento 2: porque é fácil de compreender; tação inicial de uma pequena biografia de
f argumento 3: porque estabelece relações com Immanuel Kant, nos moldes das sugeridas
outros filmes e ideias importantes para mim; anteriormente.

23
da distinção entre o conhecimento puro e o empírico
“Não se pode duvidar de que todos os nossos conhecimentos começam com a experiência, porque,
com efeito, como haveria de exercitar-se a faculdade de se conhecer, se não fosse pelos objetos que,
excitando os nossos sentidos, de uma parte, produzem por si mesmo representações e de outra parte
impulsionam a nossa inteligência a compará-los entre si, a reuni-los ou separá-los, e, deste modo, à
elaboração da matéria informe das impressões sensíveis para esse conhecimento das coisas que se de-
nomina experiência?
No tempo, pois, nenhum conhecimento precede a experiência, todos começam por ela.
Mas se é verdade que os conhecimentos derivam da experiência, alguns há, no entanto, que não têm
essa origem exclusiva, pois poderemos admitir que o nosso conhecimento empírico seja um composto
daquilo que recebemos das impressões e daquilo que a nossa faculdade cognoscitiva lhe adiciona (esti-
mulada somente pelas impressões dos sentidos); aditamento que propriamente não distinguimos senão
mediante uma longa prática que nos habilite a separar esses dois elementos.
Surge desse modo uma questão que não se pode resolver à primeira vista: será possível um conhe-
cimento independente da experiência e das impressões dos sentidos?
Tais conhecimentos são denominados a priori e são distintos dos empíricos, cuja origem é a poste-
riori, isto é, da experiência.”

KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. Tradução J. Rodrigues de Merege. Edição Acrópolis. Versão para eBook: eBooksBrasil.
Disponível em: <http://www.ebooksbrasil.org/elibris/critica.html#2>. Acesso em: 17 out. 2008.

Comentário sobre o texto tei? Eu sei porque minha inteligência já viu


outros objetos caírem e, por comparação, sei
Nesse trecho, Kant nos mostra como a Filo- que este também vai cair.
sofia é importante para entender o funciona-
mento da nossa inteligência. Afinal, como po- Quando pensamos sobre o funcionamento
demos melhorar algo que não sabemos como da nossa inteligência, fazemos uma reflexão
funciona? Ninguém aprende a dirigir bem um crítica. Agora, podemos entender um pou-
carro sem ter alguma noção de como ele fun- co mais o conceito de Filosofia como “uma
ciona. Assim é com a televisão e com a nossa reflexão crítica a respeito do conhecimento e
inteligência. Kant explica que o conhecimento da ação, a partir da análise dos pressupostos
que temos pode ser posterior à experiência (co- do pensar e do agir e, portanto, como funda-
nhecimento a posteriori) ou anterior a ela mentação teórica e crítica dos conhecimentos
(conhecimento a priori). e das práticas”.

O conhecimento a priori nos ajuda a prever Traduzindo para uma linguagem mais sim-
as coisas. Por exemplo, se eu soltar um lápis, ples, podemos dizer que Filosofia consiste em
ele vai cair. Como sei se ainda não experimen- analisar como nós pensamos a respeito do co-

24
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

nhecimento e da ação. Nossa inteligência está Proposta de questões para avaliação


bem equipada para pensar os conhecimentos?
Nossa inteligência está bem equipada para 1. Destaque o nome de um filme ou programa
pensar as ações? de televisão que você considera bom e argu-
mente a respeito de sua qualidade. Analise
Exercício os seus argumentos e responda: quais são
os critérios que você tem como referência
Após essas discussões, peça aos alunos que para afirmar que um filme ou um progra-
desenhem um robô que tenha peças com as se- ma tem qualidade.
guintes funções externas: capturar sons, ima-
gens, temperatura, tipo de superfície (áspera, Espera-se que o aluno reflita sobre os pró-
lisa, mole, dura), cheiros e sabores. prios argumentos, identificando critérios de
qualidade de um filme ou de um programa
Em seguida, oriente-os para que desenhem de televisão. O professor deve estar atento
componentes para o computador desse robô, para o fato de que essa questão exige dois
lembrando que cada peça deve ter uma função movimentos do aluno: elaborar argumentos
interna correspondente às seguintes funções ex- e identificar critérios de qualidade.
ternas: analisar a quantidade, analisar a quali-
dade, analisar as relações e julgar os valores. 2. Para Kant, o que é conhecimento a priori e
conhecimento a posteriori?
Avaliação da Situação de
Aprendizagem O aluno deve ser capaz de responder de
forma clara e concisa que a priori é o co-
Você pode avaliar a Situação de Aprendi- nhecimento adquirido sem a necessidade da
zagem com base na participação em aula e ve- experiência e a posteriori é o conhecimento
rificando o caderno dos alunos. ao qual se chega depois da experiência.

Com o objetivo de alcançar as habilidades 3. Destaque a diferença central entre as ideias


de reflexão e organização do pensamento, a apresentadas no texto de locke e de Kant.
partir do conhecimento do próprio intelec-
to, procure observar, como na Situação de Espera-se que o aluno não apenas identi-
Aprendizagem anterior, se os alunos fizeram fique as ideias centrais nos textos de cada
todos os exercícios e se os textos propostos um dos autores, mas também seja capaz de
estão registrados no caderno. O caderno deve compará-las.
ser a organização do estudo filosófico do alu-
no. No caso da redação, a avaliação consiste 4. Apresente uma relação de conhecimentos
em aferir a capacidade de leitura, reflexão e que você já elaborou sobre uma de suas ati-
escrita. vidades antes mesmo de tê-la vivenciado.

25
Espera-se que o aluno selecione uma ati- as deficiências conceituais e forneça uma ex-
vidade do seu cotidiano, como um espor- plicação mais detalhada para os conceitos que
te, uma atividade artística, um trabalho não foram bem apreendidos. Além da leitura,
voluntário ou profissional, uma tarefa do- pode-se pedir aos alunos que tentem explicar
méstica, e identifique conhecimentos aprio- os excertos, escrevendo pequenos textos sobre
rísticos, ou seja, conhecimentos que foram eles – e reescrevendo, quando necessário.
acionados e que já haviam sido elaborados
antes mesmo de ele vivenciar a atividade recursos para ampliar a perspectiva
selecionada. do professor e do aluno para a
compreensão do tema
Proposta de Situação de Site
recuperação
Domínio Público. Disponível em: <http://
Como na Situação de Aprendizagem ante- www.dominiopublico.gov.br>. Acesso em:
rior, releia com os alunos os textos filosóficos 17 out. 2008. Este site oferece para download
que apresentaram dificuldade de compreensão. obras filosóficas integrais, dentre elas as duas
Essa leitura possibilitará que você identifique que usamos nesta Situação de Aprendizagem.

26
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

TEMA 2 – AS árEAS dA FiLOSOFiA


SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 3
INSTRUMENTOS DE PESQUISA EM HISTÓRIA DA FIlOSOFIA

A Filosofia é dividida em áreas específicas, a mera cópia de textos de qualidade duvidosa,


segundo os principais focos do conhecimento principalmente pelo mau uso dos recursos da
filosófico. Neste tópico, vamos discutir algu- internet. Então, o que fazer? Como a pesquisa
mas áreas visando a oferecer aos alunos uma é fundamental para o desenvolvimento autô-
visão mais abrangente. Pretende-se oferecer nomo do educando, sugerimos que se possa
ao aluno elementos que lhe permitam fazer dar a ele algumas ferramentas de pesquisa em
pequenas pesquisas para a construção de tex- História da Filosofia, de modo especial a par-
tos filosóficos. Para este fim, selecionamos os tir da elaboração de biografias.
seguintes tópicos: Elementos de História da
Filosofia, Epistemologia, Teoria do Conheci- As biografias aqui sugeridas partem da
mento, Ética, Política e Estética. consideração de que, ao se estudar História
da Filosofia, deve-se colocar a Filosofia na his-
A construção de textos depende sempre tória, isto é, compreender que a Filosofia está
da pesquisa como forma de estímulo para a intimamente ligada a uma tradição, que tem
curiosidade, a leitura e a reflexão crítica. No objetos e problemas próprios, mas, ao mesmo
entanto, é comum a pesquisa escolar reduzir-se tempo, está inserida em épocas e lugares.

Tempo previsto: 2 aulas.

Conteúdos e temas: os conceitos básicos a ser desenvolvidos são: História da Filosofia, história, biogra-
fia, características da Filosofia Antiga, características da Filosofia Medieval, características da Filosofia
Moderna, características da Filosofia Contemporânea.

Competências e habilidades: o objetivo desta Situação de Aprendizagem é o de estimular o exercício e o


desenvolvimento de habilidades como a compreensão e a leitura de um texto filosófico. Por meio desta
proposta, procura-se incentivar o desenvolvimento de competências relacionadas à sistematização de
ideias e sua diferenciação.

Estratégias: além das aulas expositivas, é importante orientar o trabalho de pesquisa passo a passo.

recursos: caso se opte por fazer a pesquisa em sala de aula, serão necessários livros didáticos de Filoso-
fia, com títulos variados, enciclopédias, dicionários de Filosofia e, se possível, acesso à internet.

Avaliação: se a tarefa for realizada em sala de aula, a observação e as anotações a respeito da partici-
pação oral são fundamentais. Para o exercício de pesquisa, o foco é a leitura investigativa e o debate
esclarecedor. Em relação às competências e habilidades, espera-se que os alunos sejam capazes de ler
diversos textos filosóficos de modo investigativo.

27
Sondagem e sensibilização É necessário, portanto, dar aos alunos uma
visão geral sobre cada uma dessas divisões, ex-
Proponha algumas questões, como por plicadas nas sínteses a seguir.
exemplo: Você conhece alguma pessoa com
sabedoria? Como ela fala e procura resolver as Filosofia Antiga
coisas que acontecem?
Trata-se do início da Filosofia, da identi-
O importante, aqui, é que os alunos perce- ficação de seus primeiros problemas. A Filo-
bam a íntima ligação entre pessoas sábias e a sofia Antiga abrange um período que vai do
tentativa de resolver problemas existentes em final do século VI a.C. até o século VII d.C.
sua vida cotidiana. Tendo como espaços iniciais as cidades-Esta-
do da Grécia, seu desenvolvimento atingiu vá-
roteiro para aplicação da Situação rias cidades do Império Romano, inclusive no
de Aprendizagem norte da África. Os escritos da época foram
produzidos, em geral, em grego e latim, mas
Nestas duas aulas, vamos trabalhar com a os espaços culturais onde a Filosofia Antiga
pesquisa biográfica, como forma de introduzir se desenvolveu eram bastante heterogêneos.
os alunos no estudo da História da Filosofia. Muitos textos desses pensadores acabaram se
A pesquisa de biografias pode ser orientada a perdendo, restando-nos apenas alguns livros e
partir das questões: fragmentos, como veremos no desenvolvimen-
to da Situação de Aprendizagem.
1. Quais as principais preocupações do filó-
sofo? (Identifique os principais elementos de Filosofia Medieval
seu pensamento.)
A Filosofia Medieval desenvolveu-se no
2. Quando e onde ele viveu? Quais foram suas período que vai do século VIII ao século XIV.
influências e a quem ele inspirou? Seus espaços foram, principalmente, os mos-
teiros e ordens religiosas europeias, onde a
A seguir, aprofundaremos o tratamento de Igreja Católica tinha hegemonia.
cada uma dessas questões.
Entretanto, houve manifestações filosó-
Períodos da História da Filosofia ficas fora do mundo cristão, em especial no
mundo árabe e judeu. A Filosofia desse pe-
Para trabalhar a questão de quando viveu ríodo foi uma das responsáveis pela criação
um filósofo, deve ser considerada a sua posi- das universidades. Sua principal discussão: a
ção na clássica divisão da História da Fi- relação entre fé e razão, ou seja, a tentativa de
losofia: Filosofia Antiga, Filosofia Medieval, separar o que pertenceria a Deus (a teologia)
Filosofia Moderna e Filosofia Contemporâ- e o que pertenceria aos homens.
nea. Além disso, mesmo respeitando essa tra-
dição, convém considerar a especificidade de Filosofia Moderna
cada autor, evitando generalizações. Importa,
aqui, levar em conta o contexto histórico-so- Iniciada no século XIV, a Filosofia Moder-
cial em que viveu o pensador. na se entende até o final do século XVIII, no

28
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

continente europeu. Nessa época, a Europa foi Espera-se, como resultado da pesquisa,
palco do desenvolvimento do capitalismo, da que o autor seja apresentado em relação à
formação dos Estados Nacionais, das grandes tradição filosófica. Por exemplo, a escola
navegações e dos processos de colonização e filosófica da qual o pensador participou e
formação dos impérios. A Igreja Católica per- quais foram as influências recebidas ou exer-
deu a hegemonia para o protestantismo e para cidas por ele. Quando for o caso, registrar
as ideias que incentivavam a liberdade do ho- seus oponentes, além de filósofos e pessoas
mem frente à religião. Sua principal caracte- importantes que foram inspirados por ele.
rística: a preocupação com o homem racional Respondidas essas questões, o aluno conse-
e livre, com as mudanças na política e com a guirá situar o filósofo em questão em meio à
esperança nas ciências empíricas. tradição filosófica.

Filosofia Contemporânea roteiro de aplicação da Situação de


Aprendizagem
A Filosofia Contemporânea estende-se do
final do século XVIII até os nossos dias. É pos- Após a explicação inicial sobre as divi-
sível dizer que seus problemas inspiram-se na sões da História da Filosofia e a pesquisa,
Revolução Francesa e na Revolução Industrial, você pode pedir aos alunos que se dividam
com a crescente desumanização do processo em grupos, sorteando entre eles o nome de
social de produção. Seu espaço central ainda é um filósofo, cuja biografia deverão pesquisar.
a Europa, mas cada vez mais atinge outros es- Não se esqueça de incluir nomes como Platão,
paços, como, por exemplo, os Estados Unidos. Aristóteles, Santo Agostinho, René Descartes,
Espinosa, David Hume, Voltaire, Hegel,
Retomando as questões propostas para a Nietzsche, Karl Marx, Kant, Martin Heidegger,
pesquisa de biografias: Sartre, Hannah Arendt e outros que conside-
rar fundamentais. Procure contar aos alunos
1. Quais as principais preocupações do filó- algumas curiosidades sobre a vida desses filó-
sofo “X”? (Identifique os principais ele- sofos para estimular a curiosidade deles.
mentos de seu pensamento.)
Em seguida, oriente os alunos sobre as fon-
Esta é a questão fundamental para conhe- tes de pesquisa, enfatizando a importância de
cer o pensamento de um autor. É importante consultar boas enciclopédias, dicionários de fi-
dizer com o que o filósofo mais se ocupou a losofia, livros didáticos e paradidáticos, além
partir das áreas da Filosofia, tais como ética, de revistas especializadas. Caso seja possível
política, metafísica, epistemologia, teoria do em sua escola, recomende o uso da internet,
conhecimento, religião, lógica e outras. Em se- mas assegure-se de que suas orientações serão
guida, é necessário apresentar, resumidamen- seguidas, especialmente para evitar a cópia
te, como se caracterizam essas preocupações e pura e simples de conteúdos não entendidos.
como ele tentou respondê-las.
Finalmente, oriente-os sobre a elaboração
2. Quando e onde ele viveu? Quais foram suas do texto escrito, para o qual sugerimos duas
influências e a quem ele inspirou? páginas, contemplando as questões indicadas.

29
Avaliação da Situação de Os alunos devem associar adequadamente
Aprendizagem umas das ideias do filósofo selecionado e
justificar coerentemente sua seleção.
Avalie a Situação de Aprendizagem por
meio do trabalho de pesquisa dos alunos. 4. Complete as lacunas do texto a seguir,
utilizando as seguintes palavras: tradição,
Procure observar a presença e a dedicação tempo, história, cultura e pensamento.
de cada aluno na elaboração da pesquisa e do
texto. A história da Filosofia não pode ser feita sem
considerarmos a história de uma maneira
Propostas de questões para avaliação geral. O lugar onde vive o filósofo, sua cultura
e os problemas do seu tempo, somados ao
1. Quais são as principais características da conhecimento da tradição filosófica ajudam
Filosofia Antiga? a criar um novo pensamento filosófico.

O aluno deve considerar que se trata do


princípio da Filosofia, que seus espaços ini- Proposta de Situação de
ciais foram as cidades-Estado da Grécia, recuperação
mas sua influência se espalhou por várias
cidades do Império Romano. Foi escrita em Caso os alunos não tenham apresentado
grego e latim antigos e muitos dos seus tex- um bom desenvolvimento, sugerimos que fa-
tos se perderam no tempo. Além disso, os çam uma pesquisa sobre as características de
espaços culturais nos quais se desenvolveu cada período da divisão clássica da Filosofia.
eram muito heterogêneos.
recursos para ampliar a perspectiva
2. Por que a técnica, ou evolução da tecnolo- do professor e do aluno na
gia, é um problema da Filosofia Contem- compreensão do tema
porânea?
Livro
Uma possível resposta pode considerar
a desumanização gerada pela técnica ou JAPIASSU, Hilton; MARCONDES, Danilo.
ainda a liberação do homem com respeito Dicionário básico de Filosofia. 5. ed. Rio de Ja-
a tarefas mecânicas. Problematizar essa neiro: Jorge zahar, 2008. Um dicionário para
evolução pode abarcar reflexões sobre seus o leitor não especializado, com linguagem
aspectos positivos e negativos para a hu- acessível e conceitos claros; no entanto, não
manidade. apresenta problematizações.

3. Escolha um dos filósofos estudados duran- Sites


te a pesquisa realizada nesta Situação de
Aprendizagem e destaque uma das preocu- Consciência. Disponível em: <http://www.cons
pações centrais de sua filosofia. Justifique ciencia.org>. Acesso em: 17 out. 2008. Site com
sua escolha. diversos conteúdos sobre a história da Filosofia.

30
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

Filosofia.pro.br. Disponível em: <http://www. Mundo dos filósofos. Disponível em: <http://
filosofia.pro.br>. Acesso em: 17 out. 2008. www.mundodosfilosofos.com.br>. Acesso em:
Site com textos e vídeo, com conteúdo claro, 17 out. 2008. Site com conteúdo simples, obje-
avaliado por doutores em Filosofia. Há vários tivo e claro. Um bom lugar para se pesquisar a
textos indicados para professores. história da Filosofia.

SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 4
ÁREAS DA FIlOSOFIA

Esta Situação de Aprendizagem tem como amplo e, em seguida, a metafísica de Aris-


objetivo oferecer recursos para que os alunos tóteles. Nos dois casos, a estratégia con-
possam iniciar pesquisas sobre Filosofia e siste no desenvolvimento de exercícios,
capacitá-los para que possam construir textos elaborados para que o aluno desenvolva a
filosóficos. escrita e o raciocínio filosófico. As últimas
aulas serão dedicadas a uma introdução à
Com base nesses dois pontos, serão lógica, igualmente desenvolvidas a partir
abordadas as áreas de Filosofia de modo de exercícios.

Tempo previsto: 5 aulas.

Conteúdos e temas: os conceitos básicos a ser desenvolvidos são: áreas da Filosofia, metafísica, lógica,
ética, epistemologia, teoria do conhecimento, estética, filosofia da história e política.

Competências e habilidades: esta Situação de Aprendizagem visa a estimular o desenvolvimento de diver-


sas habilidades, como selecionar, organizar, relacionar e interpretar dados e informações, representados
de diferentes formas. O que se procura com esta proposta é incentivar as competências que possibilitem
reconhecer manifestações ordenadas do pensamento e dos problemas da Filosofia. Durante a realiza-
ção, pode-se incentivar os alunos no desenvolvimento das estruturas lógicas do pensamento e a promo-
ver a descrição sistemática e reflexiva dos objetos e do mundo circundante.

Estratégias: aulas expositivas e exercícios em sala de aula.

recursos: como se trata de aulas expositivas, utilize a lousa para colocar apontamentos e exercícios.

Avaliação: como toda a tarefa é realizada em sala de aula, a observação e as anotações a respeito da
participação oral são fundamentais. Os exercícios sobre metafísica e lógica são o centro desta Situação
de Aprendizagem e podem ajudar os alunos a desenvolver o raciocínio e a criação de textos.

Sondagem e sensibilização futebol? Qual é a melhor maneira de se namo-


rar? Qual é a melhor maneira de pensar?
Para o início desta Situação de Aprendi-
zagem, você pode propor algumas questões O importante é que os alunos percebam
como: Qual é a melhor maneira de se jogar que o pensamento exige treino e habilidade,

31
cabendo também à Filosofia ajudar a treinar d) A ciência tem limites? Quais?
o exercício de se pensar.
Os limites da ciência são os conhecimentos
roteiro para aplicação da Situação racionais e experimentais (empíricos), pois,
de Aprendizagem fora deles, a ciência não pode afirmar nada.

Propomos uma aula expositiva, com o ob- 2. Proposta de conceito de epistemologia


jetivo de dar aos alunos uma visão mais ampla
da Filosofia.
“Epistemologia (também chamada Teo-
Para desenvolver esta aula, apresentamos, ria da Ciência) é uma parte da Filosofia da
para cada área da Filosofia, algumas pergun- Ciência que concerne à natureza do conhe-
tas introdutórias, sugestões de resposta, uma cimento científico e seus grandes problemas:
proposta de conceito da área em questão e um como e em que condições é possível conhe-
excerto filosófico. cer? Existe a certeza absoluta do conheci-
mento? Se existe, como, e em que condições?
Epistemologia Quais são as características do conhecimen-
to dentre as Ciências Naturais, as Ciências
1. questões introdutórias Humanas e as Ciências Formais?”

a) Nós devemos confiar na ciência? Centro de lógica, Epistemologia e História da Ciên-


cia – Unicamp. Disponível em: <www.cle.unicamp.br/
A ciência não explica tudo. Ela tem limites, FAQs.htm>. Acesso em: 27 out. 2007.
mas é o conhecimento mais adequado de-
senvolvido pela razão humana para tentar
resolver os seus problemas. Só é científico o 3. Texto de apoio
conhecimento que garante a sua validade.

b) Quem faz a ciência? “Antes de tudo, é preciso saber colocar pro-


blemas. O que quer que se diga da vida cien-
A ciência é produzida por pesquisadores tífica, os problemas não se colocam por si. É
em diferentes campos do conhecimento. No precisamente esse sentido do problema que dá a
Brasil, a produção científica é predominan- marca do verdadeiro espírito científico. Para um
temente produzida nas universidades e em espírito científico, todo o conhecimento é uma
centros de pesquisas associados a indústrias. resposta a uma questão. Se não houve questão,
não pode haver conhecimento científico.”
c) A ciência é importante?
BACHElARD, Gaston. A formação do espírito científico.
A produção científica é importante quando 2. ed. Rio de Janeiro: Contraponto, 1996.
beneficia a humanidade. A Filosofia discu-
te, inclusive, duas questões diretamente as-
sociadas à importância da ciência: uma diz Teoria do conhecimento
respeito ao acesso desigual aos benefícios
da ciência e a outra refere-se ao fato de que 1. questões introdutórias
nem toda a produção científica resulta favo-
rável à humanidade. a) O que é conhecer?

32
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

Criar uma representação, a mais próxima a nossa reflexão racional, pois há situações
possível, da realidade. nas quais uma atitude mal-pensada pode
trazer prejuízo para nós e para muitas ou-
b) Como podemos conhecer? tras pessoas.

Podemos conhecer quando realizamos ati- b) Qual é a importância de se fazer o bem?


vidades intelectuais sobre nossas sensações
e sobre as ideias que nos informam. O bem é algo a ser construído para podermos
enfrentar os problemas que encontramos na
2. Proposta de conceito de teoria do sociedade ou em nós mesmos. Pensar em
conhecimento boas atitudes é lutar contra os sofrimentos
que, em geral, temos. É certo que fazer o bem
é, às vezes, algo difícil, mas fazê-lo melhora
A Teoria do Conhecimento é uma investi- nossas relações de convivência.
gação sobre as diversas maneiras pelas quais
podemos conhecer as coisas e as relações 2. Proposta de conceito de ética
que os conhecimentos podem estabelecer ou
estabelecem. Por exemplo, memória, experi-
ências dos sentidos, analogias, reflexão, rea- Ética é uma investigação sobre os prin-
lidade, imaginação e outros. O seu problema cípios que motivam, justificam ou orientam
principal é como o sujeito se relaciona com o as ações humanas, refletindo sobre os funda-
objeto de conhecimento. mentos dos valores sociais e historicamente
construídos. Desta forma, não se reduz à mo-
ral, mas procura compreender seus princípios
3. Texto de apoio e analisar relações sociais que resultam das
variações morais elaboradas ao longo da his-
tória da humanidade por diferentes culturas.
“Conhecer uma realidade é, no sentido usual
da palavra ‘conhecer’, tomar conceitos já feitos,
dosá-los, e combiná-los em conjunto até que se 3. Texto de apoio
encontre um equivalente prático do real.”

BERGSON, Henri. O pensamento e o movente. São “Ora, parece que a felicidade, acima de
Paulo: Martins Fontes, 2006. qualquer outra coisa, é considerada como
esse sumo bem. Ela é buscada sempre por
si e nunca no interesse de uma outra coisa;
Ética enquanto a honra, o prazer, a razão, e todas
as demais virtudes, ainda que as escolhamos
1. questões introdutórias por si mesmas, fazemos isso no interesse da
felicidade, pensando que por meio dela sere-
a) Como saber qual é a melhor atitude a ser mos felizes.”
tomada?
ARISTÓTElES. Ética a Nicômacos. Tradução Mário
Existem várias maneiras de se tentar fa- da Gama Kury. 4. ed. Brasília: Editora da Universidade
zer o bem, mas para encontrar a maneira de Brasília, 2001. p. 23. 1097a.
mais adequada precisamos, sempre, treinar

33
Política Filosofia da História

1. questões introdutórias 1. questões introdutórias

a) Quais são as melhores leis? a) O que é o tempo?

As melhores leis são aquelas que bene- Responder o que é o tempo é uma das ques-
ficiam todos, permitem a construção da tões mais difíceis do nosso intelecto e da pró-
liberdade no convívio com o outro e são pria Filosofia. Em geral, dizemos que tempo
conhecidas por todos. Cada lei deve le- é o meio no qual se desenrolam os aconteci-
var em consideração as necessidades das mentos e o lugar das possibilidades.
pessoas.
b) O que é história humana?
b) Como podemos conviver com as outras
pessoas sem violência? A história humana pode ter vários significa-
dos. Em geral, ela é pensada como passado,
Podemos conviver com outras pessoas sem desejo de futuro, tradições, compreensão
violência agindo de maneira sensata em to- das relações sociais no tempo e no espaço e
das as dimensões. A maneira sensata de agir como objeto de investigação da história.
é, em primeiro lugar, escolher os governan-
tes que se preocupem, sinceramente, com a 2. Proposta de conceito de Filosofia da História
educação e que demonstrem sensibilidade
em relação às necessidades das pessoas e à
qualidade de vida em geral. Filosofia da História é uma área de inves-
tigação da Filosofia, que se preocupa com a
relação dos homens com o tempo, com seus
2. Proposta de conceito de política
processos culturais e sociais. Além disso,
preocupa-se com o significado do desenvol-
vimento das sociedades e da racionalidade.
Política é a investigação filosófica sobre
qual é o melhor governo, o que é justiça e
como deve ser o comportamento das pessoas 3. Texto de apoio
em suas relações de convivência.

Não houve, portanto, um tempo em que


3. Texto para reflexão você não tenha criado nada, porque você
criou o tempo em si mesmo. E não existe tem-
po que seja igualmente eterno a você, porque
“A Cidade é a forma mais elevada de co- você viverá para sempre; mas se houver tempo
munidade e tem como objetivo o bem mais suficiente, então não será o tempo. Pois o que
elevado.” é o tempo? Quem pode explicá-lo de maneira
fácil e resumida? Quem pode sequer compre-
ARISTÓTElES. Política. Tradução Pedro Constantin
Tolens. livro I. São Paulo: Martin Claret, 2007. p. 35.
endê-lo em pensamento e dar a resposta em
palavras? Ainda assim, não é verdade que em
conversas, não há nada mais familiar ou co-

34
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

nhecido a que nos referimos como o tempo? da, por isso, não se pode falar em um único
E certamente nós o compreendemos quan- padrão válido para toda a humanidade.
do falamos dele; também o compreendemos
quando outros falam dele. Então, o que é o 2. Proposta de conceito de estética
tempo? Se ninguém me perguntar, eu sei o que
ele é. Se desejar explicar para aquele que me
pergunta, eu não sei. Ainda assim digo com A estética tem como temas o estudo dos
confiança que sei que se nada morresse, não critérios e problemas sobre processos de
haveria tempo passado; e se nada estivesse criação artística. Problematiza os valores es-
por vir, não haveria o tempo futuro; e se não téticos e as relações entre forma e conteúdo,
houvesse nada, não haveria tempo presente. bem como a importância da arte para as so-
Mas, então, como é possível haver dois ciedades humanas.
tempos, passado e futuro, quando mesmo o
passado já não existe mais e o futuro ainda
não existe? Mas se o presente fosse sempre 3. Texto de apoio
presente e não se tornasse passado, é óbvio
que não seria o tempo, mas sim a eternidade.
Se então, o tempo presente – se for o “Pode-se também pensar em uma per-
tempo – chega a existir apenas porque ele se feição estética, que contenha o fundamento
torna tempo passado, como podemos dizer de uma satisfação subjetivamente universal,
“isto é” uma vez que a razão de sua existên- isto é, a beleza: o que agrada os sentidos na
cia é o fato de que deixará de ser? Então, não intuição e, precisamente por isso, pode ser o
podemos dizer na verdade que o tempo só é objeto de uma satisfação universal.”
à medida que tende a não ser?
KANT, Immanuel. Manual dos cursos de lógica geral.
SANTO AGOSTINHO. Confissões. p. 162. Tradução Tradução Fausto Castilho. Campinas/São Paulo: Uni-
Maria do Carmo Martins Fontes-Davis. Disponível em: camp/IFCH, 1998.
<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/
cc000016.pdf>.

Ouvir e dialogar – Metafísica de


Estética Aristóteles

1. Sugestão de questões introdutórias Pensando sempre nas habilidades que, em


Filosofia, seriam importantes desenvolver nos
a) Quais os critérios para identificarmos uma alunos, vamos trabalhar o desenvolvimento
obra de arte? da capacidade de escrita através da metafísica.
Com base nisso, podemos retomar a primeira
Os critérios são historicamente definidos, biografia de Aristóteles, feita para a aula do
isto é, cada cultura valida critérios para a tema anterior, e pedir aos alunos que conju-
sua produção artística. guem o verbo “ser” no presente do indicativo,
escrevendo-o na lousa.
b) Existe um padrão de beleza universal válido
para todas as culturas? Em seguida, os alunos devem formular fra-
ses com o verbo conjugado em todas as pesso-
Assim como a arte, a beleza depende de va- as. Por exemplo: Eu sou o Vítor; tu és a Flávia;
lores culturais e históricos para ser defini- Ivan é meu amigo; nós somos estudantes; vós

35
sois o futuro do Brasil; os estudantes são a ra- da à escola de um alienígena com quem come-
zão de ser da escola. Quando as frases forem çam a conversar. Minutos depois, o alienígena
apresentadas, mostre aos alunos que tudo “é” olha para a mesa e mostra-se curioso para saber
alguma coisa, que para todas as coisas pode- o que é um lápis. Cada um tenta explicar, mas
mos aplicar o verbo “ser” (que, aliás, não é ele não consegue entender. Então, o alienígena
apenas um verbo; é a primeira e fundamental volta-se para o computador e pede que respon-
característica de tudo o que existe). dam segundo o programa Meta_Aristóteles,
que serve para responder o que são as coisas.
Depois que os alunos perceberem a pertinên-
cia do “ser”, sugerimos que você proponha um Para ilustrar o exercício, apresente o qua-
exercício, pedindo a eles que imaginem a chega- dro a seguir.

quadro do programa Meta_Aristóteles

O que você quer saber? O que é? lápis.


qual é a causa material? (de que é
O lápis é feito de madeira e grafite.
feito o lápis?)
qual a causa formal? (qual a O lápis é cilíndrico e é pontiagudo
As quatro causas
forma dele?) em uma das extremidades.
ou os fundamentos
qual é a causa eficiente ou quem une O operador da máquina de fazer
a forma com a matéria? (quem fez?) lápis.
qual é a causa final? (Por que foi Para escrever e poder apagar depois,
feito?) se for necessário.

Depois de conhecer as quatro causas, ou fun- aos alunos que repitam o exercício, aplicando-o
damentos, o ET superinteligente conseguiu en- na explicação de outras coisas, como: eu mes-
tender o que era um lápis, o que não conseguiria mo, o amor ou o estudo, conforme o quadro
apenas vendo um ou ouvindo você falar sobre a seguir, que poderá ser utilizado para outros
sua utilidade, ou forma ou matéria. Agora, peça exemplos em razão de sua própria experiência.

quadro do programa Meta_Aristóteles

O que você quer saber? Eu mesmo O amor O estudo


ou os fundamentos
As quatro causas

leituras, exercícios,
qual é a causa Carne, Gestos, carinho,
dedicação,
material? (de que é ossos, compreensão,
descobertas,
feito?) sangue... amizade, ajuda...
paciência...
Desejo de estar
qual é a causa formal?
Alma junto e fazer o Desenvolvimento
(qual a sua forma?)
outro feliz.

36
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

quadro do programa Meta_Aristóteles

O que você quer saber? Eu mesmo O amor O estudo


qual é a causa
ou os fundamentos
As quatro causas

eficiente, ou quem une Meu pai e O conhecimento


O estudante.
a forma com a matéria? minha mãe. do outro.
(quem fez?)
Fui feito Para aprender e
qual é a causa final? para me Para ajudar o crescer, como ser
(Por que foi feito?) desenvolver outro a ser feliz. humano, em busca
e ser feliz. da felicidade.

Com certeza, há muito para se falar da meta- Fazendo uma ligação com a aula ante-
física de Aristóteles, mas temos de fazer um cor- rior, continue a hipotética narrativa da
te adequado ao perfil do curso, por isso, vamos visita do ET. Ele decidiu escrever uma men-
tomar como critério o desenvolvimento das ha- sagem para seu planeta, contando o que
bilidades indicadas no início deste Caderno. era um lápis. Entretanto, faltava preencher
Para alcançar essas habilidades, você pode infor- alguns itens a fim de explicar melhor aos
mar aos alunos que as “quatro causas” são o seus conterrâneos o que era um lápis. Ve-
começo para dizer o que é o ser de alguma coisa. jamos:

lápis (madeira e grafite, em forma


Substância Mistura de matéria e forma.
de cilindro).
O lápis é vermelho e bonito, mas é
São as qualidades e os difícil de apontar, porque a grafite
qualidade
defeitos. não está bem centralizada e a ponta
quebra a cada tentativa.
quantidade Quantos? Muito ou pouco? Pouco: apenas um.
Ele é mais comprido que a borracha
Como ele é em relação às
relação e escreve menos forte do que a
outras coisas?
caneta.
Serve para os seres humanos fazer
Ação O que ele faz? desenhos ou escrever e apagar
palavras e números.
Como ele se desgasta? Ele se desgasta sendo apontado,
Passividade pelo uso e pela umidade que o
apodrece.

37
Onde ele está? Em que lugar Ele está na sala de aula, mas em
Onde fica, em geral, ou onde está geral podemos encontrá-lo em
agora? papelarias e escritórios.
Tempo Quando e quanto tempo? Hoje.
Posse O que ele possui? Possui borracha na extremidade.
Posição Como ele está ou fica? Deitado.

Relembrando o exercício anterior, você pode Os princípios da lógica


pedir aos alunos que completem este segundo
quadro agora utilizando as substâncias: eu mes- Agora que temos em mãos as categorias
mo, o amor e o estudo. Do exercício de raciocínio dos seres, podemos pensar a lógica. Aqui tra-
com o quadro, podemos ensaiar a construção de taremos da lógica apenas como ordenação
um texto com parâmetros filosóficos. Para isso, do pensamento. A abordagem é meramente
peça aos alunos que escrevam uma redação uti- introdutória, mas, com o desenvolvimento do
lizando as categorias de Aristóteles, aplicando curso, outras questões de lógica poderão ser
uma delas em cada parágrafo. Isso ajudará a trabalhadas. Por hora, você pode apresentar
construção da redação filosófica. um conceito de lógica, como o seguinte:

“lógica é o estudo sistemático do pensamento dedutivo, que permite construir argumentos corre-
tos nas ciências naturais, nas ciências humanas e nas ciências formais, e que possibilita distinguir os
argumentos corretos dos incorretos.”

Centro de lógica, Epistemologia e História da Ciência – Unicamp. Disponível em: <www.cle.unicamp.br/FAQs.htm>. Acesso
em: 9 dez. 2008.

Algo muito eficiente para a aquisição de Com os dois quadros de categorias escritos
competências é o exercício constante de ra- na lousa, abre-se a oportunidade para explicar
ciocínios. Saber os conceitos não quer dizer o primeiro princípio da razão, que é o princí-
adquirir habilidades. Para que isso seja efeti- pio da identidade, segundo o qual um ser é
vado, você pode insistir no exercício do lápis, sempre idêntico a ele mesmo. O primeiro lá-
apresentando um à sua turma e preenchendo pis só é igual a ele mesmo, não é lógico? O lápis
na lousa, juntamente com os alunos, o quadro em questão só pode ser o lápis em questão.
de categorias de Aristóteles.
Para exemplificar e, valendo-se da plura-
Para estabelecer o diálogo reflexivo, pegue lidade, induzir ao conceito, tome vários ele-
outro lápis, o mais diferente possível do pri- mentos que têm o mesmo nome (por exemplo,
meiro, e pergunte se os dois são iguais. Para canecas, pedaços de giz, apontadores, prende-
definir as diferenças, compare-os, usando o dores de cabelo, cadeiras etc.) e compare-os.
quadro das categorias de Aristóteles. A partir disso, apresente o segundo princípio

38
Filosofia – 1a série, 1o bimestre

da razão, o princípio da não-contradição: “é” aquilo que afirmamos ou se ele “não é”


os seres não podem “ser” e “não ser” sob as aquilo que afirmamos. Não há outra respos-
mesmas condições. No caso do lápis, pode-se ta: o que nós falamos sobre o lápis, em cada
dizer que, se afirmarmos uma coisa sobre ele, uma das categorias, é ou não é; não há outra
não podemos dizer o contrário. Não podemos saída.
negar uma categoria que foi falada sobre o
lápis. Por exemplo, se dissemos que o lápis é identificar as contradições
amarelo, ele pode ser tudo e até ter outras co-
res, mas – para não haver contradições – não Para permitir a visualização do conteúdo,
podemos dizer que ele não é amarelo. você pode desenhar na lousa figuras simples,
evitando os desenhos geométricos.
Finalmente, o último princípio é o do ter-
ceiro excluído: uma vez que afirmamos algu- Neste exercício, os alunos deverão identifi-
ma coisa sobre um ser, só podemos dizer se ele car as contradições.

Quando afirmamos algo, nós dizemos uma acima têm cinco pontas”. A partir dessa premis-
premissa – no caso, “todas as estrelas do quadro sa, assinale a relação com as outras premissas:

Princípio da Princípio do terceiro


Princípio da identidade
não-contradição excluído
Todas as estrelas do
quadro acima não têm X
cinco pontas.
Todas as estrelas do
quadro acima têm e X
não têm cinco pontas.
Todas as estrelas do
quadro acima não são X
iguais a elas mesmas.

Dando sequência aos exercícios para in- e consoantes, mas desenhe coisas simples). Em
troduzir conceitos e fundamentos da lógica, seguida, coloque uma cadeira no centro da sala
desenhe na lousa o quadro a seguir (as ima- e ponha sobre ela alguns objetos como três ca-
gens podem ser substituídas por letras, vogais netas e dois tubos de corretivo de texto.

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Enquanto os alunos observam o quadro c) ( X ) Três figuras do quadro anterior não
ou a cadeira com os objetos, você tem a opor- têm a forma de estrela.
tunidade de explicar que a lógica não trata
de realidades, mas sim de afirmações. A preo- d) ( X ) As figuras do mundo inteiro não
cupação dela é fazer com que nossas falas não têm a forma de estrela.
contenham contradições. Por isso, é preciso
dissociar a realidade das palavras. Se alguém e) ( X ) Todas as estrelas são figuras deste
afirmar que “todas as figuras do quadro têm quadro.
a forma de estrela”, a preocupação da lógica
será com a afirmação e não com a realidade. f) ( ) No quadro anterior não deve haver
Mas, por que isso? A lógica tem de ajudar a figuras que não tenham forma de estrela.
organizar o pensamento. Assim, quando um
cientista descobre algo, ele tem de falar sobre g) ( X ) Não existem figuras em forma de
sua descoberta de forma racional e clara; do estrela fora do quadro.
contrário, será impossível compreendê-lo.
h) ( X ) Todas as figuras do quadro abaixo
Exercício têm a forma de estrela.

Você pode propor este exercício aos alunos. a) Esta resposta deve ser assinalada porque
a premissa não fala sobre figuras do mundo,
A partir da afirmação “todas as figuras do mas apenas das que estão no quadro.
quadro anterior têm a forma de estrela”, assi-
nale as afirmações ou premissas que nada têm b) Esta não deve ser assinalada porque esta
a ver com ela: premissa concorda com a anterior.

a) ( X ) Todas os figuras do mundo têm a c) A terceira deve ser assinalada porque, ape-
forma de estrela. sar de termos várias figuras no quadro que não
têm a forma de estrela, a premissa diz que
b) ( ) Só há figuras em forma de estrela todas as figuras têm essa forma. O que vale
no quadro anterior. para a lógica é a premissa e não a realidade.

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Filosofia – 1a série, 1o bimestre

d) A quarta resposta deve ser assinalada Propostas de questões para avaliação


porque as figuras que estão no quadro fa-
zem parte do grupo de todas as figuras que 1. Escreva o nome das áreas da Filosofia e
têm a forma de estrela. seus respectivos problemas.

e) Esta resposta deve ser assinalada porque Epistemologia: como analisar as ciências?
não se trata de estrelas, mas de figuras que
têm a forma de estrelas. Teoria do conhecimento: o que é conhecer?

f) Esta não deve ser assinalada porque nem Ética: o que é o bem?
todas as figuras do quadro têm a forma de
estrelas e, por isso, não existem figuras que Política: como conviver?
tenham outras formas.
Filosofia da História: como o homem se re-
g) Esta resposta deve ser assinalada porque laciona com o tempo e o espaço social?
não se pode saber nada sobre o que está fora
do quadro, partindo apenas da premissa. Estética: o que é beleza; o que é arte?

h) A oitava e última resposta deve ser assi- Metafísica: o que são os princípios da rea-
nalada porque não se pode saber nada sobre lidade?
o quadro abaixo. A premissa fala apenas do
quadro acima. Lógica: quais as regras do pensamento?

Espera-se que os alunos saibam os princi-


Avaliação da Situação de pais objetos da investigação filosófica, inse-
Aprendizagem rindo-os em áreas específicas.

Avalie os alunos por meio da participação 2. Escreva as quatro causas da metafísica de


e da observação do caderno deles. Aristóteles e explique o que significam.

O objetivo da Situação de Aprendizagem é Espera-se que os alunos conheçam as qua-


o de fornecer instrumentos para desenvolver tro causas da metafísica de Aristóteles e
habilidades de pesquisa, raciocínio lógico e possa explicá-las com suas palavras. A
capacidade de escrita. Portanto, propõe-se ob- causa material identifica com que é feito
servar, no caderno, a resolução de exercícios e o ente; a causa formal identifica a forma
a construção de texto. do ente; a causa eficiente estabelece quem

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une a forma com a matéria, quem fez; a 3. Relacione as colunas, preenchendo os espaços
causa final estabelece por que razão o ente vazios da segunda coluna com as letras que
foi feito. acompanham as palavras da primeira coluna.

(a) Lógica (c) Tempo

(b) Epistemologia (b) Ciência

(c) Filosofia da História (d) O bem

(d) Ética (a) Regras do pensamento

4. Escolha um objeto qualquer da sala de


aula e preencha o quadro abaixo:

Substância Mistura de matéria e forma

São as qualidades e os
Qualidade
defeitos?

Quantidade Quantos? Muito ou pouco?

Como ele é com as outras


Relação
coisas?

Ação O que ele faz?

Passividade Como ele se desgasta?

Onde ele está? Em que lugar


Onde fica em geral ou onde está
agora?

Tempo Quando e quanto tempo?

Posse O que ele possui?

Posição Como ele está ou fica?

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Filosofia – 1a série, 1o bimestre

A correção desta questão deve seguir os d) Que não há setas fora do quadro.
princípios e o modelo das aulas sobre a
metafísica, de Aristóteles. Em síntese, o e) Que as setas são verdes.
aluno deve tomar um objeto qualquer da
sala de aula e responder, com o mínimo de Assim como a questão 5, é um trabalho ló-
palavras possível, adequadamente a uma gico.
das ideias do filósofo por ele seleciona-
do e justificar coerentemente sua seleção
de questões das categorias de Aristóteles. Proposta de Situação de
Por exemplo, se o objeto escolhido for a recuperação
borracha, temos substância: látex; for-
ma: quadrada; quantidade: uma; relação: Se a recuperação for necessária, pode cen-
ela é mais macia do que o lápis e menos trar-se nas categorias aristotélicas e no uso da
comprida do que a caneta etc. lógica. Esses dois conteúdos embasam a habi-
lidade de organização do pensamento. Nossa
5. Dada a seguinte premissa: “No quadro recomendação é que os alunos refaçam todos
a seguir, todas as setas estão apontadas os exercícios referentes às quatro causas aristo-
para baixo”, o que não é permitido dedu- télicas e ao quadro das categorias, no tocante à
zir disso? lógica e aos exercícios com os desenhos.

recursos para ampliar a perspectiva


do professor e do aluno para a
compreensão do tema
Livros

ARENDT, Hannah. O que é Política. Rio de Ja-


neiro: Bertrand Brasil, 1998. Neste livro, a filóso-
fa defende a política como espaço da liberdade.

ARISTÓTElES. Metafísica. São Paulo: Abril


Cultural, 1973. (Os Pensadores). O livro exa-
mina o que pode ser afirmado sobre qualquer
coisa que existe por causa de sua existência e
a) Que não há setas apontadas para o lado não por causa de uma qualidade especial.
direito.
NIETzSCHE, Friedrich. Além do bem e do
b) Que não há setas apontadas para cima. mal. Tradução Paulo Cesar de Souza. São
Paulo: Companhia das letras, 2001. Um tex-
c) Que pode ser que haja apenas uma seta to da maturidade de Nietzsche que aponta para
apontada para a esquerda. uma visão mais ampla de sua filosofia.

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