Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PROFESSOR
HISTÓRIA
ensino médio
3a SÉRIE
volume 1 - 2009
Coordenação do Desenvolvimento dos Linguagens, Códigos e suas Tecnologias
Conteúdos Programáticos e dos Cadernos dos Arte: Geraldo de Oliveira Suzigan, Gisa Picosque,
Professores Jéssica Mami Makino, Mirian Celeste Martins e
Ghisleine Trigo Silveira Sayonara Pereira
GESTÃO
Fundação Carlos Alberto Vanzolini Catalogação na Fonte: Centro de Referência em Educação Mario Covas
Bibliografia 40
SãO PAUlO FAz ESCOlA – UMA PrOPOStA
CUrriCUlAr PArA O EStAdO
Prezado(a) professor(a),
É com muita satisfação que apresento a todos a versão revista dos Cadernos
do Professor, parte integrante da Proposta Curricular de 5a a 8a séries do Ensino
Fundamental – Ciclo II e do Ensino Médio do Estado de São Paulo. Esta nova versão
também tem a sua autoria, uma vez que inclui suas sugestões e críticas, apresentadas
durante a primeira fase de implantação da proposta.
A Proposta Curricular não foi comunicada como dogma ou aceite sem restrição.
Foi vivida nos Cadernos do Professor e compreendida como um texto repleto de
significados, mas em construção. Isso provocou ajustes que incorporaram as práticas
e consideraram os problemas da implantação, por meio de um intenso diálogo sobre
o que estava sendo proposto.
5
Os ajustes nos Cadernos levaram em conta o apoio a movimentos inovadores, no
contexto das escolas, apostando na possibilidade de desenvolvimento da autonomia
escolar, com indicações permanentes sobre a avaliação dos critérios de qualidade da
aprendizagem e de seus resultados.
O uso dos Cadernos em sala de aula foi um sucesso! Estão de parabéns todos os que
acreditaram na possibilidade de mudar os rumos da escola pública, transformando-a
em um espaço, por excelência, de aprendizagem. O objetivo dos Cadernos sempre será
apoiar os professores em suas práticas de sala de aula. Posso dizer que esse objetivo
foi alcançado, porque os docentes da Rede Pública do Estado de São Paulo fizeram
dos Cadernos um instrumento pedagógico com vida e resultados.
Conto mais uma vez com o entusiasmo e a dedicação de todos os professores, para
que possamos marcar a História da Educação do Estado de São Paulo como sendo
este um período em que buscamos e conseguimos, com sucesso, reverter o estigma
que pesou sobre a escola pública nos últimos anos e oferecer educação básica de
qualidade a todas as crianças e jovens de nossa Rede. Para nós, da Secretaria, já é
possível antever esse sucesso, que também é de vocês.
6
FiCHA dO CAdErnO
nome da disciplina: História
Série: 3a
Revolução Russa
7
OriEntAçãO SOBrE OS COntEúdOS dO BiMEStrE
Os temas estudados na 3a série do Ensino e os regimes nazifascistas, que despertam mui-
Médio relacionam-se ao século XX, estando to interesse nos estudantes, e sobre os quais
bastante próximos do contexto atual. Alguns há grande quantidade de revistas, filmes, sites,
deles não estão presentes somente no vocabulá- documentários e livros. Há tanto material que
rio de especialistas e estudiosos, aparecem ain- a tarefa do professor, nesse caso, é mais orien-
da nas notícias de jornais. Várias pessoas com tar e selecionar as fontes para seus alunos do
as quais convivemos viveram a ditadura mili- que ir atrás delas e fazer longas explanações
tar no Brasil e acompanharam a derrocada da sobre os assuntos em pauta.
União Soviética e a queda do muro de Berlim,
assim como os mais velhos escutaram no rádio Por tudo isso, as sugestões de Situações de
notícias sobre a Segunda Guerra Mundial. Por Aprendizagem aqui colocadas – todas visan-
isso, uma das mais curiosas sensações de um do a auxiliar sua realização em sala de aula –
professor de História é quando comenta os te- foram assim estruturadas: em primeiro lugar,
mas que aparecem nos livros didáticos, tendo apresentamos os conhecimentos que devem
vivenciado fatos relacionados a eles, principal- ser priorizados, as competências e habilidades
mente os estudados no final da 3a série. Nessa focadas, as metodologias que podem ser utili-
hora, é difícil não se render à nostalgia e falar zadas e, por último, as sugestões de avaliação
“eu estive lá...”. para ser aplicada ao final de cada atividade ou
nas provas realizadas no bimestre. Entretan-
No 1o bimestre, isso ainda não vai aconte- to, é fundamental que você se sinta à vontade
cer com tanta frequência, pois teremos de em- para adaptar todas as sugestões ao seu con-
basar o “breve século XX” – na concepção de texto escolar, à suas necessidades e carências,
Hobsbawm – partindo do imperialismo ou neo- assim como ao perfil de seus alunos.
colonialismo do final do século XIX e início
do XX, chegando às décadas de 1930 e 1940, Conhecimentos priorizados
quando da ascensão dos regimes totalitários.
Neste 1o bimestre, serão priorizados os
A virada do século XIX para o XX, por si acontecimentos da primeira metade do sécu-
só, já foi extremamente densa e marcante para lo XX da história europeia. O imperialismo,
a humanidade, com o surgimento da teoria ou neocolonialismo, provocado pela corrida
da relatividade, da psicanálise freudiana, do industrial competitiva e nacionalista, iniciada
expressionismo alemão, do cinema, do avião, no século anterior, será a base dos conflitos
da filosofia nietzschiana, do impressionismo entre as principais potências formadas desse
etc. Enfim, ocorreu um turbilhão de aconteci- processo, que gerou uma infinidade de con-
mentos e transformações que seriam tema de sequências, dentre as quais podemos citar:
interesse e fôlego para um ano inteiro ou mais, a dominação europeia de regiões considera-
razão pela qual se recomendam cautela e sele- das, pelo pensamento da época, atrasadas
tividade, para o professor conseguir adequar e habitadas por populações hostis e pouco
esses conteúdos à disponibilidade de tempo e desenvolvidas; a alteração do equilíbrio tri-
à atenção dos alunos. O mesmo vale para a bal e domínios estabelecidos nessas regiões,
Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa bem como o desenvolvimento de meios de
8
História – 3a série, 1o bimestre
transporte mais rápidos e eficazes, capazes de Guerra Mundial, a Guerra Fria, as Revolu-
integrar uma nova faceta do capitalismo in- ções Cubana e Chinesa, as ditaduras militares
dustrial, na qual a competitividade tecnológi- na América Latina, a divisão da Alemanha, do
ca e as disputas por matéria-prima e mercado Vietnã e das Coreias estão diretamente ligadas
consumidor englobavam grandes corporações à Revolução Russa, o que a torna um dos mais
e potências nacionais. importantes marcos da história do século XX.
Esses acontecimentos deixaram marcas evi- Finalmente, trataremos dos regimes nazi-
dentes na atualidade de países da Ásia, África fascistas, que se fortaleceram nas décadas de
e Oceania, como os conflitos locais, as divisões 1930 e 1940. O século das guerras, do socia-
territoriais e influências culturais. Trata-se de lismo, também será o século das massas. As
uma etapa importante na constituição de uma ideologias totalitárias, como o nazismo, o fas-
“aldeia global” interligada e marcada pelos cismo e o stalinismo, difundiram-se por meio
conflitos gerados por interesses externos, por da propaganda de massas, que utilizou o rá-
motivos econômicos e étnicos. dio, a imprensa escrita e uma grandiosida-
de teatral em seus desfiles e paradas, capazes de
A Primeira Guerra Mundial marcou uma angariar os “carrascos voluntários de Hitler”
revolução na história das guerras, foi um cho- e sustentar regimes políticos no mundo todo,
que para a dita “civilização” europeia encarar inclusive no Brasil, à época de Getúlio Vargas.
o massacre de aproximadamente dez milhões O nazismo, por exemplo, é uma lembrança
de pessoas, ao passo que outras guerras, como tão forte que uma cruz suástica rabiscada nas
a da Península da Crimeia, matou 500 mil pes- carteiras e paredes das escolas ainda causa
soas. Muitos acreditaram que essa seria a úl- preocupação, aumentada quando vemos que
tima guerra, não faltando promessas de uma grupos xenofóbicos e homofóbicos, ditos neo-
paz duradoura, após o término dos conflitos. A nazistas, estão nos noticiários.
partir daí, o século XX, segundo Hobsbawm,
viveu sob a perspectiva da guerra mundial, Como se verá, há unidade ideológica nos
mesmo em tempos de paz. Mas quais teriam temas que serão estudados no bimestre. O
sido as mudanças que incentivaram esse salto nacionalismo, por exemplo, foi marcante no
no número de vítimas? Seria somente fruto do imperialismo, na Primeira Guerra Mundial e
avanço tecnológico? Essas são questões fun- nos regimes totalitários. Da mesma forma, os
damentais sobre esse século. avanços tecnológicos, alcançados no final do
século XIX, transmitiram um ideário de po-
Além da marca das guerras, o século XX der e domínio convertido em armas cada vez
acompanhou a construção de um regime so- mais mortíferas e eficazes, bem como em teo-
cialista, nem utópico, nem científico, mas rias racistas que defendiam a superioridade
pragmático. A formação da União Soviética, do europeu branco sobre os povos da Ásia,
a partir da Revolução de 1917, embalou uma África e Oceania.
nova série de conflitos, de sonhos e mobilizou
pessoas em busca da expansão ou contenção Competências e habilidades
de um projeto encantador ou perigoso, de-
pendendo do ponto de vista, que ainda hoje As competências priorizadas neste bimes-
provoca acaloradas discussões. A Segunda tre, extraídas da matriz do Enem1 e que ser-
1
Matriz de competências do Enem. Disponível em: <http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&
id=39<emid=73>. Acesso em: 10 dez. 2008.
9
virão de guia para o desenvolvimento das elementos cotidianos que foram veiculados na
Situações de Aprendizagem, são: mídia ou que são de domínio comum e estão
em filmes, programas de televisão e revistas.
f valorizar a diversidade dos patrimônios Como já foi lembrado, você deve conduzir
etnoculturais e artísticos, identificando-a o aluno em meio a essa vasta quantidade de
em suas manifestações e representações em informações, direcionando-o para fontes con-
diferentes sociedades, épocas e lugares; fiáveis.
f construir e aplicar conceitos das várias
áreas do conhecimento para a compreen- As aulas anteriores às atividades podem ser
são de fenômenos naturais, processos his- realizadas da maneira que você desejar: con-
tórico-geográficos, produção tecnológica e tudo, está indicada no início de cada Situação
manifestações artísticas; de Aprendizagem uma relação de conteúdos
f relacionar informações, representadas em fundamentais para o seu melhor desenvolvi-
diferentes formas, e conhecimentos dispo- mento.
níveis em situações concretas para cons-
truir argumentação consistente. Avaliação
As habilidades estão relacionadas no início É importante que você analise, com liber-
de cada Situação de Aprendizagem. dade, a proposta de avaliação aqui apresenta-
da, reformulando-a quando achar necessário,
Metodologia e estratégias em razão da experiência adquirida em seu
convívio cotidiano com os alunos e com a es-
As Situações de Aprendizagem são, ao cola onde seu trabalho docente estiver sendo
mesmo tempo, lúdicas e práticas, podem ser desenvolvido. Em resumo, ela foi formulada
aplicadas em curto espaço de tempo e envol- para uma realidade de ensino coletivo, com
vem análise de imagens e textos. A análise do- o objetivo de estabelecer parâmetros para o
cumental é um importante recurso didático. processo de ensino-aprendizagem e para o en-
Por isso, partindo do princípio de que a so- volvimento dos alunos na aquisição de novas
ciedade forma um todo e engloba os aspectos posturas, conhecimentos e competências.
políticos, econômicos e culturais, os alunos
devem ser levados a construir uma discus- Com base no pressuposto de Philippe
são que considere o documento no contexto Perrenoud (2000)2, de que o professor “deve
em que foi produzido, inclusive levantando trabalhar a partir das representações dos alu-
questões sobre a importância de que ele seja nos”, as atividades que sugerimos, além de
discutido e trabalhado atualmente, séculos valorizar os conhecimentos dos alunos, não
depois. Por que dar voz a tal documento? O originam deles para corrigi-los ou desvalori-
que o torna especial para aquele momento e zá-los, afirmando sua suposta inferioridade.
para o presente? Quais perguntas devemos fa- Pelo contrário, elas caminham aproximando
zer a ele? os conhecimentos pré-adquiridos dos concei-
tos que serão trabalhados. Os erros eventuais
Considerando que os alunos devem ser são considerados parte do processo de apren-
estimulados a participar ativamente da cons- dizagem e assim devem ser compreendidos
trução dessas atividades, incite-os a buscar pelo professor.
2
PERRENOUD, Philippe. 10 competências para ensinar. Porto Alegre: Artmed, 2000.
10
História – 3a série, 1o bimestre
3
Matriz de competências do Enem. Disponível em: <http://www.enem.inep.gov.br/index.php?option=com_content&task=view&
id=39<emid=73>. Acesso em: 10 dez. 2008.
11
SitUAçÕES dE APrEndizAGEM
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 1
IMPERIALISMOS, GOBINEAU E O RACISMO
recursos: textos.
12
História – 3a série, 1o bimestre
13
Estado Original Agricultura Nômade Fazendas Interdependência Comercial
14
História – 3a série, 1o bimestre
e que nunca inventaste a maneira de o não do século XIX, que justificaram o domínio de
[seres áreas “menos desenvolvidas” e influenciaram o
Tu consegues ser cada vez mais besta aumento da imigração europeia para o Brasil,
e a este progresso chamas Civilização! [...]” conteúdo explorado na 2a série do Ensino Mé-
dio. Além disso, espera-se que o aluno tenha
NEGREIROS, José de Almada. Obra completa de uma postura de tolerância e saiba respeitar a
Almada Negreiros. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005. diversidade étnica brasileira, colocando em dú-
vida valores como os defendidos por Gobineau
e a superioridade de uma raça sobre outra. Con-
forme as matrizes de competências do Enem,
Para formalizar e aprofundar a análise do espera-se que os alunos consigam “valorizar a
poema, você pode propor aos alunos questões diversidade dos patrimônios etnoculturais e ar-
que estimulem o exercício intertextual, com- tísticos, identificando-a em suas manifestações
parando os discursos contidos nos textos do e representações em diferentes sociedades, épo-
conde de Gobineau e no poema de Almada cas e lugares”, seja pela produção textual, seja
Negreiros. Como sugestão, propomos as se- pela discussão em sala de aula.
guintes problematizações.
Propostas de questões para avaliação
f Que visões de colonizador os dois autores
constroem? Copie excertos que justifiquem 1. Era comum entre os defensores do neoco-
sua resposta. lonialismo o argumento da ignorância dos
f Podemos dizer que os dois autores têm povos nativos em relação às riquezas que
concepções diferentes do que seria civiliza- possuíam em suas terras. Justificava-se o do-
ção? Com base nos textos lidos, elabore a mínio europeu como uma atitude justa, por
sua explicação. que promovia a circulação das riquezas, as
quais esses povos não utilizavam nem para
Fica a seu critério decidir o melhor enca- o benefício próprio, muito menos para os
minhamento, mas como sugestão indicamos a demais. Ou ainda, nas palavras de Albert
possibilidade de solicitar aos alunos que ela- Sarrault, um defensor do poderio colonial
borem em casa, como tarefa, as respostas aos europeu: “Age-se, assim, para o bem de to-
problemas propostos, o que pode ser sociali- dos. A Europa não abandonará, absoluta-
zado na aula seguinte. mente, sua autoridade colonial. Ela está no
comando e no comando deve permanecer”
Depois de cumpridas essas etapas, você (SARRAULT, Albert. Grandeza y servi-
pode perguntar aos alunos quais seriam os dumbres coloniales, 1931. Apud BRUIT,
problemas gerados por nossa civilização. Hector. O imperialismo. São Paulo: Atual,
Questione sobre a poluição e a degradação 1994. p. 11.)
do meio ambiente ou ainda as atribulações
da “vida moderna”. Verifique e discuta qual o a) Como se justificava o poderio europeu
posicionamento deles sobre isso. nesse período?
15
b) Como percebemos, no texto, o discurso A colocação de seres humanos em escala
civilizatório? evolutiva indica uma influência do darwi-
nismo social.
Os “possuidores fracos” detêm recursos e
riquezas e não sabem seus benefícios; por- b) Existe algum tipo de preconceito seme-
tanto, os europeus estariam “agindo para lhante atualmente no Brasil? Justifique.
o bem de todos”, em nome do “direito de
viver da humanidade”. Aqueles que estão à Existem grupos racistas e xenofóbicos que
margem desses direitos deveriam ser domi- possuem julgamentos semelhantes em rela-
nados. ção a nordestinos, homossexuais, indígenas
e outros grupos.
c) Quais as considerações de ordem eco-
nômica apresentadas para justificar o 3. Leia o texto a seguir:
domínio europeu?
VERNE, Júlio. A Mulher do Capitão Branican, 1891. Sobre o pensamento de Gobineau, em re-
Apud COLONNA, Robert d’Istria. Terras selvagens. lação ao Brasil no século XIX, podemos
In: Scientific American Brasil: Exploradores do Futuro afirmar:
– Júlio Verne. São Paulo: Duetto, 2005. p. 77.
a) Está correto, ao dizer que o Brasil te-
ria muito a melhorar com a vinda de
a) Quais características do neocolonialis- imigrantes para cá, pois estaríamos fa-
mo europeu podemos identificar nessa dados ao fracasso pela pobreza racial
citação? anterior.
16
História – 3a série, 1o bimestre
a) Os ingleses possuíam interesses bem di- Sobre esse discurso, podemos afirmar:
versos em suas regiões dominadas, mas
em todas havia o de comprar produtos a) Expressa uma opinião de interesse eco-
industrializados. nômico e material, justificado pelo de-
senvolvimento industrial francês.
b) No caso do domínio da China, os ingle-
ses não enfrentaram resistência alguma b) Trata-se de um levantamento das rique-
por parte da população local. zas chinesas, um elogio, isento de inte-
resses econômicos.
c) Os indianos promoveram uma resistên-
cia pacífica, inspirada por Ghandi, des- c) Foi um discurso defendido somente pe-
de o princípio. los franceses no século em que foi escrito,
17
já que as outras potências ainda não ha- revisitar os registros de aula realizados no de-
viam se desenvolvido industrialmente. correr do processo dessa Situação de Apren-
dizagem, de forma a retomar o significado de
d) Evidencia os interesses dos países eu- alguns conceitos e expressões que foram abor-
ropeus em estabelecer um diálogo dados como convergentes dessa discussão,
comercial com os países ricos em ma- como: civilização, exploração, inferioridade,
téria-prima, como a China. superioridade, choque cultural, dependência,
exploração, seleção natural, etnocentrismo e
e) Não gerou grandes consequências para outros. Após essa retomada, os alunos deve-
o futuro histórico da China, uma vez rão escrever o texto solicitado. Chame a aten-
que esta se manteve independente du- ção para uma diretriz importante, relacionada
rante todo o século XIX. à produção textual: a linguagem deve ser for-
mal e conceitual.
A afirmativa a expressa as relações entre
imperialismo e industrialização, já que a Proposta 2
obtenção de matérias-primas era essencial
para o desenvolvimento industrial. Estimule os alunos a pesquisar sobre arte
africana e indígena. Com o resultado da pes-
quisa, inicie um diálogo com os alunos sobre os
Propostas de Situações de preconceitos que levaram os europeus a julgar o
recuperação modo de vida desses povos “pouco desenvolvi-
dos” e as bases da dita “civilização”. Compare
Para que as competências e habilidades também o desenvolvimento tecnológico euro-
propostas nessa Situação de Aprendizagem peu, africano e indígena e pergunte aos alunos
sejam desenvolvidas, devem ser rompidas vi- sobre a validade desse critério para julgar um
sões de preconceitos e discriminações cultu- povo como mais ou menos “evoluído”; ressalte
rais e étnicas. Considerando que essa Situação as alterações por eles realizadas no meio am-
de Aprendizagem questiona os conceitos civi- biente em que viviam, a pouca poluição gerada
lizatórios do século XIX, para os alunos que por algumas sociedades e a “descoberta” pelo
não atingirem o esperado na avaliação, enfati- Ocidente de medicinas alternativas, como a
ze as relações de superioridade que o europeu acupuntura, inspiradas em conhecimentos an-
impunha no processo de neocolonialismo. Há tes tidos como “não-científicos”.
várias maneiras de fazê-lo, como nas duas su-
gestões a seguir. recursos para ampliar a perspectiva
do professor e do aluno para a
Proposta 1 compreensão do tema
Em conjunto com os alunos, leia trechos livros
do poema de Rudyard Kipling intitulado “O
Fardo do Homem Branco” (Disponível em: BRUIT, Hector. O Imperialismo. São Paulo:
<http://pt.wikisource.org/wiki/O_fardo_do_ Atual, 1987. (Discutindo a História). Apre-
homem_branco>. Acesso em: 2 out. 2008) e senta um panorama geral sobre o assunto,
peça a eles que redijam um texto relacionando como a formação dos principais impérios
versos desse poema com o domínio europeu europeus. É uma interessante leitura para os
sobre a África, Ásia e Oceania. Oriente-os a alunos.
18
História – 3a série, 1o bimestre
HOBSBAWM, Eric. J. Era dos Impérios. Rio trataram de viagens a outros países e seus po-
de Janeiro: Paz e Terra, 1994. Excelente obra vos. Os livros de Júlio Verne são de fácil leitura
de referência para colher informações sobre o e instigam leitores mais jovens, podendo dar
período de formação dos impérios europeu e origem a um bom projeto interdisciplinar.
norte-americano.
Site
RAEDERS, Georges. O conde de Gobineau
no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997. Memória da África. Disponível em: <http://
Trata-se de obra bastante acessível, que narra memoria-africa.ua.pt>. Acesso em: 19 set.
a estada do conde no Brasil, sendo fartamente 2008. Site que possui grande quantidade de
recheada com trechos de cartas e escritos da documentos escritos e fotográficos, fruto das
época. Foi um dos materiais que inspirou esta relações entre África e Portugal, editados
Situação de Aprendizagem e é interessante lei- pela Universidade de Aveiro. Os livros de
tura para os alunos. retratos fotográficos estão muito bem digita-
lizados e as impressões saem com excelente
revista qualidade.
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 2
“AS BOMBAS INTELIGENTES”
Esta Situação de Aprendizagem tem o objeti- As Grandes Guerras levam para o cená-
vo de demonstrar ao aluno o forte vínculo entre rio bélico parte considerável da tecnologia
a mecanização das guerras e a “desumanização utilizada ainda hoje, como as metralhadoras
do inimigo”. As guerras tecnológicas colocaram leves de infantaria, os tanques, os aviões, os
as máquinas entre os homens. A eficiência que submarinos, as granadas, os morteiros e as
elas já haviam demonstrado na produção indus- armas químicas. Se alguns desses itens ainda
trial foi levada para o campo de batalha. estavam em caráter experimental na Primeira
Guerra Mundial, foram utilizados em larga
Inicialmente um homem era capaz de cau- escala na Segunda Guerra Mundial. A quan-
sar quantidade limitada de baixas às frentes tidade de civis mortos foi imensa, as transfor-
inimigas, mas, a partir do momento em que mações na cultura de guerra ocidental foram
esse soldado se arma com uma metralhado- radicais, a destruição provocada nos territó-
ra, as baixas provocadas passam a ser quase rios e nas populações dos países envolvidos
incalculáveis. foram inéditas.
19
tempo previsto: 2 aulas.
Avaliação: escrita.
20
História – 3a série, 1o bimestre
roteiro para aplicação da Situação mas existem vários outros motivos elencados
de Aprendizagem pela bibliografia sobre o assunto:
Retome com seus alunos a evolução dos f O nacionalismo envolvido nos conflitos,
equipamentos bélicos utilizados na Primeira que motivou o ódio não somente entre os
Guerra Mundial e enfatize o distanciamento exércitos, mas também entre os civis;
que eles causaram em relação ao combate ho- f A “Guerra Total”, motivada pelo naciona-
mem a homem. Você pode ir além e destacar os lismo e apoiada na percepção de que para
bombardeios da Segunda Guerra Mundial, o enfraquecer o inimigo eram essenciais a
suicídio de Santos Dummont, as bombas atô- destruição do seu território e a morte de
micas e os aparatos norte-americanos atuais. civis, que poderiam trabalhar produzindo
armas, suprimentos ou mesmo se alistar;
Após essa breve recapitulação e levanta- f O fato de que as guerras eram sem fron-
mento de informações sobre o tema, recorde teiras definidas, pois os limites geográficos
a elevada quantidade de mortos na Primeira eram mundiais, envolviam colônias e grande
Guerra Mundial. Quais os motivos disso? quantidade de países aliados, em decorrên-
cia dos laços coloniais e alianças anteriores.
Conflitos nos séculos XiX e XX e a relação Em seguida, leia e comente o trecho que
entre vítimas e tempo inspirou esta Situação de Aprendizagem, ex-
traído do livro de Eric Hobsbawm.
Anos Conflito no de mortos
1861-1865 Guerra de 620 mil5 (13.000
Secessão mortos/mês) “Outro motivo, porém, era a nova impes-
1864-1870 Guerra do 97 a 130 mil6 soalidade de guerra, que tornava o matar e o
Paraguai (1.300 ou 1.800 estropiar uma consequência remota de apertar
mortos/mês) um botão ou virar uma alavanca. A tecnologia
1854-1856 Guerra da 500 mil7 (20.000 tornava suas vítimas invisíveis, como não pode-
Crimeia mortos/mês) ria fazer com as pessoas evisceradas por baio-
1914-1918 Primeira 10 milhões8 (210 netas ou vistas pelas miras de armas de fogo.”
Guerra mil mortos/mês)
Mundial HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século
1939-1945 Segunda 50 milhões9 (700 XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
Guerra mil mortos/mês) 1995. p. 57.
Mundial
5
Segundo o texto de Martin (In Magnoli, 2008. p. 219-251).
6
Quanto aos mortos brasileiros, fala-se em 50 mil; paraguaios, segundo Vera Blinn Reber, de 24 mil a 58 mil; uruguaios e argentinos,
em torno de 23 mil (Doratioto, 2002, p. 483). REBER, Vera Blinn. The demographics of Paraguay: a reinterpretation of the great war
(1864-1870). Hispanic American Historical Review, vol. 68, no 2, maio 1988, pp. 289-319.
7
Cf. <http://www.crimeanwar.org>.
8
Araripe (In Magnoli, 2008. p. 319-353).
9
Diversos livros e sites informam o número de 50 milhões de vítimas ou mais.
21
identificando os pressupostos de cada inter-
“As maiores crueldades de nosso século pretação e analisando a validade dos argu-
foram as crueldades impessoais decididas mentos utilizados.”
a distância, de sistemas e rotina, sobretudo
quando podiam ser justificadas como lamen- O primeiro ponto de vista foi discutido
táveis necessidades operacionais.” em conjunto com o professor (o horror dos
ataques aéreos) e o contraponto foi dado
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século pela afirmação de Donald Rumsfeld sobre as
XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras, bombas inteligentes que atingem alvos esco-
1995. p. 57. lhidos.
10
Donald Rumsfeld (1932- ) foi secretário de Segurança dos EUA de 2001 a 2006 durante o governo de George W. Bush.
22
História – 3a série, 1o bimestre
“[A Convenção de Genebra de 1864] inau- c) A paz mundial era duradoura e forte
gura o que se convencionou chamar direito antes de 1914, não existindo conflitos.
humanitário, em matéria internacional; isto
é, o conjunto das leis e costumes da guerra, d) Uma visão crítica do processo de cons-
visando a minorar o sofrimento de soldados trução de paz na Europa.
doentes e feridos, bem como de populações
civis atingidas por um conflito bélico. [...] Em e) Um posicionamento pessoal do autor
1925, outra Convenção, igualmente assinada em relação ao ano de 1914.
23
A Primeira Guerra Mundial deu início a Proposta de Situação de
um período de violentos conflitos que du- recuperação
raria até 1945.
O aluno que atingir o esperado nesta Situa-
4. A Batalha do Somme foi uma das mais ção de Aprendizagem será capaz de “construir e
importantes da Primeira Guerra Mundial. aplicar conceitos de várias áreas do conhecimen-
Ao todo foram um milhão de mortos, por to para a compreensão de fenômenos naturais,
causa da tentativa dos ingleses de retomar de processos histórico-geográficos, da produ-
o vale do Rio Somme, no Norte da Fran- ção tecnológica e das manifestações artísticas”,
ça, dominado pelos alemães. As trinchei- o que explica o envolvimento da tecnologia de
ras eram verdadeiras máquinas de matar guerra nas discussões acerca da quantidade de
pessoas. Sobre a Primeira Grande Guerra, mortos na Primeira Guerra Mundial. No caso,
podemos afirmar: não se trata apenas de conhecimentos históri-
cos, em sentido estrito, havendo necessidade de
a) A guerra de trincheiras trouxe uma compreensão de como as tecnologias de guerra
nova fase bélica para a Primeira Guerra alteraram o número de vítimas e como isso, ain-
Mundial, introduzindo táticas do sécu- da hoje, faz parte dos discursos de políticos e
lo XIX, baseadas nos manuais napoleô- interessados em guerras mais “inteligentes”, os
nicos de guerra. quais alegam que, agora, operam para diminuir
a quantidade de mortos.
b) A guerra de trincheiras valorizou a luta
corpo a corpo, decidida pelas baionetas Para trabalhar com os alunos que não de-
nas áreas livres entre as frentes inimi- senvolveram essas habilidades, faça na lousa
gas. uma linha do tempo com as principais inven-
ções de armamentos para guerra do início do
c) As trincheiras favoreciam o avanço das século: metralhadora Lewis: 1911; granada de
tropas dentro de territórios inimigos, mão: 1915; morteiro Minenwerfer 7,58 cm:
formando corredores livres nos quais 1916; tanques: 1916. Em seguida, peça que os
transitavam exércitos. alunos comparem as datas com as alterações
no curso da Primeira Guerra Mundial, reto-
d) As trincheiras incentivavam a criação mando as explicações a respeito do conflito.
de novas técnicas e táticas para avançar Em seguida, peça que eles respondam as se-
nas linhas inimigas. guintes questões para avaliação:
24
História – 3a série, 1o bimestre
f De que forma podemos relacionar o desen- REMARQUE, Eric Maria. Nada de novo no
volvimento da indústria bélica ao desenvol- front. Porto Alegre: L&M Pocket, 2004. Essa
vimento capitalista no século XX? obra narra o dia-a-dia de um soldado que
f Podemos afirmar que o desfecho da Primei- serviu às forças alemãs durante a Primeira
ra Grande Guerra produziu novos conflitos? Guerra Mundial. O livro possui um discurso
Justifique a sua resposta com argumentos pacifista e foi muito vendido no pós-guerra,
históricos. tendo sido proibido pelos nazistas.
25
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 3
A REVOLUçãO RUSSA E O TRABALHO
A Revolução Russa ainda faz fervilhar dis- assumir um ponto de vista que possa ser defi-
cussões em salas de aula, salas de professores, nido como de direita ou esquerda, tem como
seminários acadêmicos e imprensa em geral. finalidade exaltar as diferenças sociais da Rús-
Como foi visto, do tratamento do tema dificil- sia pré-revolucionária, enfocando principal-
mente ficam de fora as tendências políticas mente a situação dos trabalhadores no início
dos envolvidos. E são esses compromissos que do século. Diferenças que conduziram a uma
acabam constituindo a “linha mestra” de au- transformação histórica importante, que ga-
las e atividades. rantisse os direitos de trabalhadores no mun-
Esta Situação de Aprendizagem, antes de do todo, mesmo nos países capitalistas.
26
História – 3a série, 1o bimestre
11
DELFINO, Daniel Menezes. A Rússia antes da Revolução. História Viva Grandes Temas: 90 anos de Revolução Russa. no 18.
São Paulo: Duetto. 2007. p. 24.
12
REIS FILHO, Daniel Aarão. Uma Revolução perdida: a história do socialismo soviético. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
1997. p. 36.
27
logo entrem no mercado de trabalho. Seriam A fábrica tinha devorado a jornada, as
reflexos do fracasso do projeto socialista e do máquinas tinham sugado dos músculos dos
recuo das manifestações desse caráter ou das homens todas as forças de que tiveram neces-
transformações geradas pela globalização, sidade. Um dia mais tinha sido riscado da vida
tecnologia e avanço do neoliberalismo? deles; os homens tinham dado mais um passo
para o túmulo, mas a doçura do repouso es-
Para encaminhar a aula e propor uma ati- tava muito próxima, com o prazer da taberna
vidade para os alunos, leia em voz alta esta enfumaçada, e eles estavam contentes.”
descrição feita por Máximo Górki, em 1907, GORKI, M. A Mãe. Tradução José Augusto/Edições
no romance A mãe. Ráduga. São Paulo: Editora Expressão Popular. p. 12.
28
História – 3a série, 1o bimestre
29
como “eu não gostaria de trabalhar”, celebrações do 1o de maio de 1919, reunindo
“gostaria de viver de renda”, “gostaria milhares de trabalhadores, indicam o grau de
de mandar em todos” que valorizam, mobilização do movimento operário.”
como meta de vida, a riqueza adquirida
e esbanjada. BATALHA, Cláudio. O movimento operário na primeira
República. Rio de Janeiro: Jorge zahar, 2000. p. 54.
O fechamento da Sitação de Aprendiza-
gem deve ser feito com base nesse último
item, em seus comentários sobre os projetos
de vida dos alunos, questionando-os sobre a Sobre o movimento operário no mundo
valorização irrefletida da “riqueza”, do “con- após 1917, responda:
sumo”, do “esbanjamento”, da “realização
profissional”, muitas vezes entendida apenas a) Quais as influências da Revolução
como recompensa material. Não esqueça de Russa sobre esse movimento e sua re-
que, embora todos os temas e conteúdos de- pressão?
vam ser trabalhados, tendo em vista a aqui-
sição e reforço dos valores da cidadania e da A Revolução Russa incentivou o movimento
intervenção solidária na sociedade, alguns operário no mundo todo, alimentando aca-
deles se encaixam mais perfeitamente nesses loradas discussões sobre o processo revolu-
objetivos. cionário e fazendo proliferar a bibliografia
que inspirou e foi inspirada por ela: os tex-
Assim, discutiremos o posicionamento de tos de Marx e Engels, Lênin, Trotski, Górki,
nossos alunos na sociedade e estimularemos Tolstói passaram a ser publicados em vários
a competência destacada da matriz do Enem: países e idiomas. Em contrapartida, outros
“recorrer aos conhecimentos desenvolvidos setores da economia e seus representantes
na escola para elaboração de propostas de in- passaram a combater, de maneira mais os-
tervenção solidária na realidade, respeitando tensiva e organizada, a difusão do bolche-
os valores humanos e considerando a diversi- vismo no mundo.
dade sociocultural”, bem como a habilidade
de “comparar processos de formação socioe- b) Como a então recém-formada União
conômica, relacionando-os com seu contexto das Repúblicas Socialistas Soviéticas
histórico e geográfico”. (URSS) pretendia agir em relação ao
proletariado do mundo todo?
Propostas de questões para avaliação
Havia um proposta de expansão da revo-
1. Leia o texto a seguir: lução (a chamada Revolução Permanente),
sustentada pela ala trotskista, sendo a
URSS o primeiro passo de uma revolução
sem fronteiras. Contudo, havia também
uma proposta de revolução concentrada em
“No ano seguinte, houve uma retomada um só país, defendida pela ala stalinista, vi-
dos movimentos grevistas, agora, porém, toriosa em 1924, após a morte de Lênin.
tendo que enfrentar um patronato mais or-
ganizado (com a criação de novas entidades 2. Sobre o filme A greve, de 1925, do diretor
patronais) e articulado com a repressão. As russo Sergei Eisenstein, Leandro Saraiva
afirmou que:
30
História – 3a série, 1o bimestre
31
barricadas com sacos de areia, sob os quais
viviam como – e com – ratos e piolhos. De “A Revolução de Outubro não era um
vez em quando seus generais procuravam golpe de Estado contra Nicolau II e sua
romper o impasse. Dias e mesmo semanas odiada esposa, até porque em outubro os
de incessante bombardeio de artilharia – que Romanov não estavam mais no poder. A re-
um escritor alemão chamou depois de ‘fura- volução era uma derrubada de toda a antiga
cões de aço’ (Ernest Jünger, 1921) – ‘amacia- maneira de pensar dos russos, especialmente
vam’ o inimigo e o mandavam para baixo da sua religião: a ortodoxa.”
terra, até no momento certo levas de homens
saíam por cima do parapeito.” KARNAL, Leandro. O martelo, a foice e a cruz. História
Viva Grandes Temas: 90 anos de Revolução Russa, n. 18,
HOBSBAWM, Eric J. Era dos Extremos: o breve sécu- São Paulo: Editora Duetto, 2007.
lo XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
1995. p. 33.
32
História – 3a série, 1o bimestre
33
SITUAçãO DE APRENDIzAGEM 4
ANTISSEMITISMO NAzISTA EM MEIN KAMPF
Tratar das teorias racistas defendidas du- construído sobre uma ferida ainda aberta,
rante o Terceiro Reich é quase uma demanda com base na premissa de que o totalitarismo
natural, exigida pelos alunos. Graças a toda não existe alheio ao terror, seja no nazifascis-
filmografia disponível, há curiosidade especial mo, seja no stalinismo. Logo no prefácio, uma
sobre o tema. Partindo dessa curiosidade, esta constatação basilar:
Situação de Aprendizagem vai além e bus-
ca embasar o sentimento xenofóbico racista
nazista no contexto alemão após a Primeira
Guerra Mundial. “É por isso que todos os esforços de es-
capar do horror do presente, refugiando-se
Como referência inicial, tomaremos uma
na nostalgia por um passado ainda eventual-
das obras de Hannah Arendt (ela própria ví-
mente intacto ou no antecipado oblívio de
tima da perseguição nazista) e que contribuiu
um futuro melhor, são vãos.”
sobremaneira para compreensão e estudo do
nazismo: Origens do totalitarismo, de 1951.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo:
Publicado poucos anos depois do fim da Se-
Companhia das Letras, 1989. p. 13.
gunda Guerra Mundial, o livro trata de um
tema extremamente vivo e contemporâneo,
Avaliação: escrita.
Pré-requisitos curriculares
Ao contrário das outras Situações de discurso nazista. Há um longo passado an-
Aprendizagem até agora sugeridas, esta deve tissemita na história europeia, remontando
ser realizada durante os próprios estudos so- ao Império Romano. Contudo, foi no Esta-
bre o nazismo, podendo, inclusive, ser utiliza- do nazista que se construiu um sistema lo-
da como roteiro de aula. gístico de grande proporção para aprisionar,
explorar e exterminar judeus. Em seguida,
Sondagem e sensibilização leia para os alunos o seguinte trecho do livro
Inicialmente, é interessante ressaltar aos Mein Kampf (Minha luta), escrito por Hitler,
alunos que o antissemitismo não nasceu no em 1924.
34
História – 3a série, 1o bimestre
Nacionalismo:
Construção de um f Construção de um novo mundo: o nazismo
novo mundo: buscava a construção de um mundo basea-
do na beleza inspirada pela arte clássica; as-
Superioridade do
sim, as vanguardas artísticas foram banidas
povo alemão:
do Terceiro Reich. Da mesma forma, pessoas
Racismo: com alguma deficiência física ou mental
deveriam ser eliminadas. O horror nazista
Antissemitismo: apoiava-se na justificativa de reconstrução
de um “mundo belo” para o povo alemão.
35
f Superioridade do povo alemão: pode ser atri- mento paralelo passou a ligar os judeus à
buída como reação ao revanchismo do Tra- nobreza e às monarquias, seja pelos títulos
tado de Versalhes, no qual a Alemanha fora recebidos, seja pelo envolvimento finan-
severamente punida pela participação na ceiro, razão pela qual também receberam
Primeira Guerra Mundial, levando o país à críticas dos iluministas, que condenavam
hiperinflação na década seguinte, a um sen- seu relacionamento com o Antigo Regime.
timento muito forte de que a nobreza euro- Depois, durante o período de formação
peia descendia dos povos nórdicos e arianos dos impérios no século XIX, a grande ca-
– a “raça dominante” durante séculos – e pacidade financeira dos Estados passou a
até mesmo às “teorias raciais francesas que atrair o capital burguês, passando o capi-
afirmavam sua superioridade em relação tal dos judeus a operar em outras esferas,
aos próprios compatriotas”13. como com a baixa burguesia.
f racismo: derivado das teorias imperialis- Os partidos antissemitas surgiram, assim,
tas estudas na Situação de Aprendizagem como uma oposição à organização política de
anterior, a “superioridade do homem bran- alguns Estados europeus no século XIX, bus-
co em relação a outros povos” foi enfati- cando uma causa supranacional e contando,
zada por Hitler no contexto alemão após inclusive, com o apoio de grupos camponeses
a Primeira Guerra Mundial, criando um (contra os judeus da corte, que possuíam ter-
ambiente xenofóbico muito forte. “Se a ras) e de grupos da baixa burguesia, sujeita a
máquina de guerra política dos nazistas já taxas de grupos financeiros judaicos.
funcionava muito antes de setembro de
Além dessas características, vale ressaltar
1939, quando os tanques alemães inicia-
o antimarxismo, antiliberalismo e o “espaço
ram a sua marcha destruidora invadindo
vital” defendidos pela ideologia nazista, que
a Polônia, é porque Hitler previa que na
não são evidentes na passagem selecionada. Os
guerra política o racismo seria um aliado
nazistas não possuíam um corpo de ideologias
mais forte na conquista de simpatizantes
muito fechado: “seu nacionalismo, seu antica-
do que qualquer agente pago ou organiza-
pitalismo, seu culto à tradição, suas concepções
ção secreta.”14
de política exterior e até seu racismo a antisse-
f Antissemitismo: o antissemitismo tem vá-
mitismo estavam sempre na dependência de um
rias explicações e origens. Para Hannah
oportunismo cínico, que nada respeitava, nada
Arendt, é possível identificar a atuação
temia, não tinha fé em nada e violava sem o me-
política e econômica dos judeus pelos
nor escrúpulo os juramentos mais sagrados”9.
empréstimos e aplicações financeiras que
realizavam desde a Idade Média, quando Depois da explicação, peça aos alunos que
os judeus passaram a financiar a nobreza trabalhem na tabela e selecionem os trechos
europeia, recebiam títulos (judeus da cor- do texto de Hitler que expressam claramente
te) e não atuavam como uma burguesia de alguma relação com os temas.
empreendimentos autônomos. Na Idade
Moderna, financiaram os Estados abso- Avaliação da Situação de
lutistas e mercantilistas, aproveitando sua Aprendizagem
transnacionalidade para negociar com di- O preenchimento do quadro deve ser seme-
versos reinos. A burguesia em desenvolvi- lhante ao que se segue:
13
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 194.
14
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. São Paulo: Companhia das Letras, 1989. p. 188.
15
FEST, Joachim. Hitler. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, v. 1, 2006. p. 251.
36
História – 3a série, 1o bimestre
Propostas de questões para avaliação gerou forte onda de reação da direita bur-
guesa, temerária de uma revolução social
1. Leia o texto a seguir: que destruísse as instituições capitalistas.
b) Quais as bases do pensamento da direi-
“A ascensão da direita radical após a Pri- ta radical após a Primeira Guerra Mun-
meira Guerra foi sem dúvida uma resposta dial?
ao perigo, na verdade à realidade, da revo-
lução social e do poder operário em geral. O pensamento da direita radical, após a
Sem esses, não teria havido fascismo algum, Primeira Guerra Mundial, foi fortemente
pois embora os demagógicos ultradireitistas embasado no antimarxismo, antiliberalis-
tivessem sido politicamente barulhentos e mo, intervencionismo estatal, centralização
agressivos em vários países europeus desde de poder e militarização. Existiram diver-
o fim do século XIX, quase sempre haviam sas variações regionais, influenciadas pelo
sido mantidos sob controle antes de 1914. contexto local; contudo, elas têm por base o
Sob esse aspecto, os apologetas do fascismo
pensamento fascista italiano.
provavelmente têm razão quando afirmam
que Lênin engendrou Mussolini e Hitler.” 2. Com base no texto a seguir, responda:
HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos: o breve século
Quais os caminhos defendidos pelos nazis-
XX – 1914-1991. São Paulo: Companhia das Letras,
tas para “despertar a Alemanha”?
1995. p. 127.
37
O desenvolvimento bélico e industrial, a re- de uma identidade nacional. Nele, as culturas
pressão aos movimentos de esquerda, a cen- populares, seguindo uma démarche inventada
tralização do poder, a expansão territorial, e instituída pelas diversas sensibilidades ro-
a eugenia. mânticas do século XIX, adquiriam um papel
fundador de ‘raízes’, que faziam dos países
3. As tendências racistas e eugênicas podiam seres com legitimidade ‘natural’ e, para além
ser notadas na direita e na esquerda até dela, com uma existência quase metafísica.”
meados da década de 1920.
COLI, Jorge. O Nacional e o outro. Disponível em:
Sobre a eugenia, ou higiene racial, na déca- <http://www.sescsp.org.br/sesc/hotsites/missao/textos/
da de 1920 na Europa, podemos afirmar: texto3.html>. Acesso em: 19 set. 2008.
38
História – 3a série, 1o bimestre
39
Filmes reção: Charles Chaplin, EUA, 1940. 124 min.
Comédia estrelada e dirigida com muito hu-
Arquitetura da Destruição (Undergagens
mor e sátira sobre o regime nazista e a figura
Arkitektur). Direção: Peter Cohen, Suécia, 1992.
121 min. Documentário sobre a visão artística de Hitler.
nazista e seus ideais de reconstrução do mundo O ladrão (Vor). Direção: Pavel Chukhrai. Rússia/
por uma ordem “renovadora” e eugênica. França, 1997. 97 min. O filme retrata a Rússia de
O Grande Ditador (The Great Dictator). Di- 1952, marcada pela ditadura stalinista.
COnSidErAçÕES FinAiS
Caro(a) professor(a), do século XIX e início do XX, para discutir as
Há uma grande disponibilidade de textos, teorias racistas do século XIX, que acabaram
filmes, mapas e outros materiais referentes influenciando o pensamento nazista, trabalhado
aos temas estudados neste primeiro bimestre. na última Situação de Aprendizagem.
A seleção apresentada neste Caderno é uma Finalmente, importa registrar que foi nos-
pequena amostra desse vasto material. Con- sa intenção aproveitar o interesse que esses
tudo, as Situações de Aprendizagem sugeridas temas, habitualmente, despertam nos jovens,
utilizam textos de grande difusão, facilitando para levá-los a refletir sobre a necessidade de
o seu trabalho em sala de aula. respeitar a diversidade sociocultural que ca-
Além disso, procuramos valorizar seu caráter racteriza a condição humana – individual e
de complementaridade, por exemplo, partindo coletivamente – além de valorizar posturas e
do imperialismo ou neocolonialismo do final compromissos de caráter pacifista.
BiBliOGrAFiA
ARARIPE, Luiz de Alencar. Primeira Guerra HOBSBAWM, Eric. J. Era dos Extremos:
Mundial. In: MAGNOLI, Demétrio (Org.). His- o breve século XX – 1914-1991. São Paulo:
tória das guerras. São Paulo: Contexto, 2007. Companhia das Letras, 1995.
ARENDT, Hannah. Origens do totalitarismo. MARTIN, André. Guerra de Secessão. In:
São Paulo: Companhia das Letras, 1989.
MAGNOLI, Demétrio (Org.). História das
DELFINO, Daniel Menezes. A Rússia antes guerras. São Paulo: Contexto, 2007.
da Revolução. História Viva Grandes Temas:
90 anos de Revolução Russa. n. 18, São Paulo: PERRENOUD, Philippe. 10 Competências
Duetto, 2007. para ensinar. Artmed: Porto Alegre, 2000.
DORATIOTO, F. Maldita guerra. São Paulo: RAEDERS, Georges. O conde de Gobineau
Companhia das Letras, 2002. no Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997.
DUBY, George. Magazine Littéraire, nov. 1982. REIS FILHO, Daniel Aarão. Uma revolução
FEST, Joachim. Hitler. Rio de Janeiro: Nova perdida. São Paulo: Fundação Perseu Abramo,
Fronteira, 2006. 2 v. 1997.
40