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módulo 5

OS RISCOS DO RACIONALISMO NA
POLÍTICA SEGUNDO MICHAEL OAKESHOTT

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aula 1
O racionalismo na política
como uma forma de cegueira

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Aula 1
Racionalismo na política como uma forma de cegueira
Neste módulo, nós analisaremos alguns elementos básicos do olhar de
Michael Oakeshott (1901-1990), filósofo e teórico político inglês.

Em relação ao pensamento de Oakeshott, o racionalismo se destaca por


ser uma espécie de grande “guarda-chuva”, sobre o qual faremos uma
discussão do problema do racionalismo na política.

Sendo assim, qual é a crítica que poderíamos fazer ao racionalismo na


política?

O primeiro passo será apresentar o que seria o racionalismo na políti-


ca, já o considerando muito devedor tanto de Edmund Burke (1729-1797)
quanto de Russell Kirk (1918-1994) na análise da tradição conservadora.

Nós ainda vamos discutir também aquela que é considerada uma das
ideias mais famosas de Oakeshott: a chamada “disposição conservado-
ra”, que também pode ser chamada de “sensibilidade conservadora” ou
mesmo de “atitude conservadora”.

Essa série de sinônimos serve, acima de tudo, para transcender concei-


tualmente a noção de que a posição conservadora seja apenas uma
“ideia”. Ou mesmo de que a posição conservadora pode ser reduzida a
uma simples ideologia e visão de mundo.

Michael Oakeshott também foi ainda autor de diversos ensaios e obras


que tratam desse racionalismo na política. Dentre eles, o livro que mais
se destaca é “Rationalism in politics and other essays”, publicado postu-
mamente em 1991 e ainda sem tradução para o português.

Nestes ensaios, podem ser encontradas mais definições acerca da mente


conservadora, ou mesmo da já citada disposição conservadora. Tam-
bém faz parte desta coletânea a reflexão sobre como seria um líder que
tivesse mais a ver com o pensamento conservador, seja esse líder um
presidente da República ou um primeiro-ministro.

De toda forma, a obra se inicia com o ensaio que está presente no seu
título: “Racionalismo na política”.

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Nele, Oakeshott coloca o seu programa filosófico ou conceitual acerca
do que seria a posição conservadora. Desta forma, a posição conserva-
dora é apresentada como sendo uma posição exterior ao racionalismo
na política.

Antes de nos aprofundarmos mais no conceito, é bom deixar claro que


o racionalismo não significa uma recusa da ideia de razoabilidade, ou a
ideia de ser racional no sentido de identificar causa e efeito nos fenôme-
nos sociais.

Portanto, a compreensão acerca do que é “racionalismo” pode se dividir


em quatro fatores:

1° - O uso excessivo da razão;

2° - A crença de que pode fazer projetos racionalistas sobre o futuro;

3° - A ideia de que pode montar uma visão geométrica do ser humano;

4° - A noção de que pode administrar a sociedade a partir de certos pro-


jetos, ou a partir daquilo que Burke já chamava de “teorias de gabinete”.

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aula 2
A disposição conservadora: ceticismo
político, relativismo moral e respeito
aos hábitos

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Aula 2
A disposição conservadora: ceticismo político, relativismo moral
e respeito aos hábitos
Com relação ao racionalismo na política, introduzido na aula anterior,
seu grande equívoco é entender que a realidade política e moral pode
ser passada com uma régua.

Sendo assim, é como se fosse possível realizar um “urbanismo político”,


visto que o urbanismo é uma das profissões mais racionalistas que exis-
tem. Contudo, para Michael Oakeshott (1901-1990), este racionalismo
apresenta uma espécie de “cegueira filósófica”.

A produção desta cegueira, no caso, está vinculada à crença excessiva


na possibilidade da razão entender tudo, ou de que a realidade é um
objeto da função absoluta da razão. Pessoas que assim compreendem
a política teriam, no caso, mais dificuldade cognitiva e epistêmica de
compreender o que se passa à sua volta.

O oposto do racionalismo, portanto, está mais perto de posições como a


ideia de “heterogeneidade misteriosa da humanidade e da história hu-
mana”. Há ainda a ideia de que é necessário se levar em conta questões
ancestrais, mesmo que você não seja um adepto de costumes ancestrais.
É típico da crítica ao racionalismo, então, apontar a falta de “cuidado
com a religião”.

O racionalismo, entretanto, também pode se apresentar em crenças es-


pirituais. Exemplos claros disso são as crenças de que o espiritismo seria
uma ciência, de que nós somos princípios inteligentes e imateriais, e de
que poderíamos reduzir o espírito, por exemplo, a uma energia.

Este último conceito, apesar de ser antigo, atualmente se vincula à física


para tentar dizer que “a alma é científica”, além de representar a apli-
cação do racionalismo ao âmbito da crença na vida após a morte, que é
uma crença bastante antiga.

Tratando agora da já citada “disposição conservadora” de Michael Oake-


shott, é possível trabalhar com ela através de três frentes.

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Começando pela própria noção de disposição, talvez uma das formas de
melhor entendê-la seja pensá-la ao contrário. Neste caso, pense então
no significado de “indisposição”.

Esta indisposição pode se relacionar com a saúde do indivíduo ou com


a própria indisposição em relação à uma ideia. Quando você então fala
que tem disposição para tal coisa, isto representa uma atitude positiva.

Desta forma, a palavra “disposição” carrega consigo algo muito maior


do que simplesmente o modo de pensar. Trata-se também, no fim das
contas, de um modo de se sentir no mundo, ou de enfrentar um certo
conjunto de fatores.

A percepção do conceito de disposição é algo que demanda uma certa


experiência de vida, e não leva em consideração, portanto, jovens de 18
anos que pensam compreender absolutamente tudo.

Uma disposição conservadora seria, então, uma certa atitude diante da


vida que carrega um conjunto de elementos da tradição conservadora.

É possível, inclusive, elencar dois desses elementos:

1° - O olhar cético sobre a realidade, que já confronta frontalmente (a re-


dundância é proposital) uma crença excessiva na capacidade da razão
entender a realidade. Trata-se, então, de um certo temperamento que
tende a se posicionar de forma cética diante dos acontecimentos.

2° - A disposição conservadora tende à prudência, visto que ela apresen-


ta uma dúvida em relação às atitudes humanas e uma certa lentidão na
tomada de decisões.

Neste caso, é válido então dizer que o ceticismo e a prudência levam a


uma característica muito típica do pensamento conservador: o ceticismo
em política.

Este ceticismo representa uma dúvida em relação a quaisquer planos


mirabolantes de mudanças radicais, e tal dúvida pode ser ainda mais
evidenciada em uma frase já mencionada no curso: “Mudança só no va-
rejo, nunca no atacado”.

Ou seja, a verdadeira mudança deve vir apenas como uma solução para
problemas extremamente concretos.

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aula 3
políticas de fé e
políticas do ceticismo

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Aula 3
Políticas de fé e políticas do ceticismo
Retomando a frase que concluiu a aula anterior, a desmedida da “vaida-
de” está no fato de acharmos que podemos criar um mundo que nunca
existiu, ou um modo de viver que ninguém jamais havia pensado antes.

Por sua vez, a “nêmesis” das políticas de ceticismo está no risco de você
ser tão cético em relação à capacidade do ser humano de resolver pro-
blemas e criar soluções, que você pode acabar mergulhando em uma
inércia absoluta e total.

Este problema é tão significativo que uma das críticas mais consistentes
feitas ao conservadorismo vem do economista, filósofo e liberal austríaco
Friedrich Hayek (1899-1992), que disse: “Os conservadores só acreditam
na razão para trás, nunca para frente”.

Ou seja, segundo a crítica de Hayek, os conservadores pecam pelo ex-


cesso de ceticismo em relação à razão e à capacidade humana de iden-
tificar problemas e criar soluções.

Tal crítica é endossada por Oakeshott, que vai classificar isto como um
“nêmesis” das políticas do ceticismo.

Agora, buscando responder a pergunta que dá nome a aula, é válido


explicar qual é a visão de Michael Oakeshott em relação a um governo
conservador. Na ótica dele, portanto, um governo conservador é aquele
que se vê como uma “caixa de ferramentas”. As ferramentas presentes
nessa caixa, no caso, seriam as instituições e políticas públicas possíveis
de serem realizadas.

Mas o que exatamente isso significa?

Significa que é um governo que entende a função do governante como


alguém que tem uma caixa de ferramentas na mão para um certo con-
junto de problemas concretos a serem resolvidos.

Esta compreensão sobre o governo conservador está muito ligada à uma


ideia já citada neste curso, que surge com Edmund Burke e passa até
mesmo por Russel Kirk: a ideia de que mudanças devem acontecer só no
varejo e nunca no atacado.

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É possível associar esta ideia a uma frase que simplifica a versão de
Oakeshott sobre o governante conservador: “Um líder conservador é um
líder que não tem visão de mundo.”

Eu reconheço que tal frase pode causar um choque, mas o fato desse lí-
der não ter visão de mundo não significa que ele seja burro. Na verdade,
a ideia de não ter visão de mundo se encaixa no sentido de que o go-
vernante conservador não possui, em sua cabeça, uma visão de mundo
ideal.

O líder conservador, então, não tem ideia de como o mundo deveria ser,
e nem o que deveríamos fazer para que o mundo se tornasse o que al-
guns idealizam. Trata-se de alguém, portanto, que apenas quer resolver
problemas concretos e se manter longe do abstracionismo político.

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aula 4
Como identificar um líder
conservador?

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Aula 4
Como identificar um líder conservador?
Retomando a frase que concluiu a aula anterior, a desmedida da “vaida-
de” está no fato de acharmos que podemos criar um mundo que nunca
existiu, ou um modo de viver que ninguém jamais havia pensado antes.

Por sua vez, a “nêmesis” das políticas de ceticismo está no risco de você
ser tão cético em relação à capacidade do ser humano de resolver pro-
blemas e criar soluções, que você pode acabar mergulhando em uma
inércia absoluta e total.

Este problema é tão significativo que uma das críticas mais consistentes
feitas ao conservadorismo vem do economista, filósofo e liberal austríaco
Friedrich Hayek (1899-1992), que disse: “Os conservadores só acreditam
na razão para trás, nunca para frente”.

Ou seja, segundo a crítica de Hayek, os conservadores pecam pelo ex-


cesso de ceticismo em relação à razão e à capacidade humana de iden-
tificar problemas e criar soluções.

Tal crítica é endossada por Oakeshott, que vai classificar isto como um
“nêmesis” das políticas do ceticismo.

Agora, buscando responder a pergunta que dá nome a aula, é válido


explicar qual é a visão de Michael Oakeshott em relação a um governo
conservador. Na ótica dele, portanto, um governo conservador é aquele
que se vê como uma “caixa de ferramentas”. As ferramentas presentes
nessa caixa, no caso, seriam as instituições e políticas públicas possíveis
de serem realizadas.

Mas o que exatamente isso significa?

Significa que é um governo que entende a função do governante como


alguém que tem uma caixa de ferramentas na mão para um certo con-
junto de problemas concretos a serem resolvidos.

Esta compreensão sobre o governo conservador está muito ligada à uma


ideia já citada neste curso, que surge com Edmund Burke e passa até
mesmo por Russel Kirk: a ideia de que mudanças devem acontecer só no
varejo e nunca no atacado.

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É possível associar esta ideia a uma frase que simplifica a versão de
Oakeshott sobre o governante conservador: “Um líder conservador é um
líder que não tem visão de mundo.”

Eu reconheço que tal frase pode causar um choque, mas o fato desse lí-
der não ter visão de mundo não significa que ele seja burro. Na verdade,
a ideia de não ter visão de mundo se encaixa no sentido de que o go-
vernante conservador não possui, em sua cabeça, uma visão de mundo
ideal.

O líder conservador, então, não tem ideia de como o mundo deveria ser,
e nem o que deveríamos fazer para que o mundo se tornasse o que al-
guns idealizam. Trata-se de alguém, portanto, que apenas quer resolver
problemas concretos e se manter longe do abstracionismo político.

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Citações e bibliografias:

Michael Oakeshott (1901-1990) - filósofo e teórico político inglês.

Russell Kirk (1918-1994) - filósofo político e historiador norte-americano.

Edmund Burke (1729-1797) - filósofo, teórico político e orador irlandês, ampla-


mente reconhecido como o fundador do conservadorismo moderno.

Livro “Rationalism in politics and other essays”, de Michael Oakeshott.

Livro “A política da fé e a política do ceticismo”, de Michael Oakeshott.

Susan Pinker (1957) - psicóloga e escritora canadense.

Friedrich Hayek (1899-1992) - economista e filósofo austríaco, posteriormente


naturalizado britânico.

Ludwig Von Mises (1881-1973) - economista teórico austríaco.

John Locke (1632-1704) - filósofo inglês conhecido como o “pai do liberalismo”.

Fonte: Wikipédia

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