Você está na página 1de 2

Era um dia comum. Tardezinha. A moça, sobrevivente, pôs-se a pensar.

A premissa: cada
dia em que estamos vivos é mais um dia de sobrevivência. Naquela ocasião, teve a
oportunidade de tomar com calma a xícara de chá e por incrível que pareça ficou até o
amanhecer sem fazer nada que não fosse pensar. Um privilégio, é verdade. A vida tem
dessas coisas. Às vezes, se tem a oportunidade de parar ... e pensar.

Dois pontos de partida tomaram seu tempo e suas reflexões. Primeiro, refletiu sobre as
encruzilhadas da vida. Com o dedo da mão direita, desenhou na toalha de mesa e em seu
imaginário, aquele ponto central entre dois caminhos, a plaquinha indicando para a
esquerda um rumo, para a direita, outro e ela bem ali, no meio. Sem saber para onde ir.
Sem saber para qual direção caminhar. É uma situação poética.

A vida tem dessas coisas. A encruzilhada, pelo olhar da moça naquele momento de
descontração era uma metáfora. Mas na verdade, sentido na pele o desafio da escolha pelo
caminho a perseguir, só conseguia perceber um nó. E a moça, naquele meio distante de um
real ponto de equilíbrio, sentia que precisava tomar uma decisão. Só não sabia qual.

A vida tem dessas coisas. E nossa, como é difícil! Aquela velha frase de que cada escolha
implica em renúncias é uma verdade sentida no âmago do ser. Há quem viva de olhar pra
trás e se arrepender de ter ido pela direita ao invés da esquerda. Há quem olhe para frente
e vislumbre um horizonte único que será perseguido em qualquer caminho, desde que se
continue a andar adiante.

Às vezes, até mesmo o ponto nevrálgico da dúvida e da decisão pode merecer uma
desconstrução. Pode ser que o tamanho do nó, o embaçamento da visão, o peso preso aos
pés e a necessidade de opinião do outro tenham muito a ver com nossas expectativas.
Desconstruir barreiras também é um processo. E seguir em frente sem medo de se
arrepender pelo que deveria ter sido e não foi é uma baita evolução. Essa foi a segunda
reflexão.

A moça percebeu que deveria desconstruir de alguma maneira esse medo de dar errado e o
temor de escolher o pior caminho e entender que o processo é assim mesmo e que quanto
maior for seu autoconhecimento, maior a probabilidade de celebrar opções que tenham
nexo com seus valores e sua trajetória. Percebeu que as questões da vida não vêm com
gabarito. E que a encruzilhada não é um enunciado com resposta pronta. Percebeu que
mesmo que depois venha a se reconhecer em outro direcionamento na trajetória da vida,
aquilo tudo que um dia foi construído, de alguma maneira se permanecerá de pé.

Perdoem-me dizer, mas nem todo relacionamento que vivemos é pra vida toda. Amigos de
infância, do colégio, parentes, pessoas que acreditamos que estarão sempre por perto,
podem acabar se distanciando por inúmeros motivos. Uma mudança de endereço, de ideias
e convicções, de preferências, de estado civil, de estilo de vida... enfim, tanta coisa pode
mudar e aquela pessoa que te conhecia até melhor do que você mesmo pode se tornar um
desconhecido. A vida tem dessas coisas.

Ainda era criança quando li um texto muito famoso sobre isso e nunca esqueci:
“Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, pois cada pessoa é única e nenhuma
substitui outra. Cada um que passa em nossa vida passa sozinho, mas não vai só nem nos
deixa sós. Leva um pouco de nós mesmos, deixa um pouco de si mesmo. Há os que levam
muito, mas não há os que não levam nada. Essa é a maior responsabilidade de nossa vida
e a prova de que duas almas não se encontram por acaso.” (Antoine de Saint-Exupéry)

O autor de O pequeno príncipe me ensinou isso há muito tempo, mas nem por isso fiquei
imune às frustrações e decepções que vem junto com as separações que a vida provoca. A
vida tem dessas coisas.

Isso sem falar na saudade! Saudade de quando a correria do dia-a-dia não impedia os
encontros. De quando o tempo junto das pessoas queridas nunca era o suficiente (sabe
aquelas pessoas que mesmo passando o dia inteiro perto, ainda há assunto para
telefonemas e mensagens?!).

Às vezes o melhor é se abrir para novas amizades e se dispor a compartilhar, ensinar e


aprender com as pessoas que a vida colocar no caminho. Se os amigos solteiros se
distanciaram depois do seu casamento, o negócio é fazer amizade com outras pessoas
comprometidas. Se você tem filhos, provavelmente os amigos de antes que ainda não
chegaram nessa fase não vão entender e curtir falar sobre amamentação e promoção de
fralda descartável. Aí aquele velho provérbio que diz que “pássaros de mesma plumagem
voam juntos” vira realidade. A vida tem dessas coisas.

Pro papo não ficar muito “deprê”, vale citar que estamos em tempos onde as tecnologias
são grandes aliadas para os reencontros. Pelo menos eu acho o máximo manter contato
pelo Facebook com pessoas que estudaram comigo há mais de 10 anos (ui, me senti
velha!) e com parentes que moram longe. É como foi dito no texto da imagem lá no início:
“outras permanecerão mesmo sem estar perto”. Pode ser que eu não encontre mais
algumas dessas pessoas “fisicamente”, mas online podemos saber que permanece um
carinho, lembranças de bons momentos, um interesse pelo bem-estar do outro, o que
estreita laços e diminui a distância! Adoro isso! E a vida tem dessas coisas!

Você também pode gostar