Você está na página 1de 43

HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 3

A Igreja Cristã na Antiguidade

A partir da perspectiva do saber fazer, neste capítulo você terá os


seguintes Objetivos de aprendizagem:

� Conhecer a igreja na Antiguidade (de 30 a 476 d. C.).


� Conhecer sobre a expansão do Império Romano.
� Estudar o crescimento da Igreja Cristã.
� Conhecer os Concílios de Niceia, Constantinopla e Calcedônia.
� Entender as causas da queda de Constantinopla.
� Promover uma análise crítica da Igreja Cristã na Antiguidade Clássica.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 4

Contextualização

O objetivo deste é realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja


Cristã na Antiguidade, período que compreende de 30 depois de Cristo até 476.
Precisamos entender a expansão da Igreja Cristã neste contexto histórico e
geográfico, bem como compreender o crescimento do Império Romano.
Também vamos analisar os três grandes concílios que ocorreram naquela
época, que foram relevantes para a história da civilização e da igreja, são eles:
Niceia, Constantinopla e Calcedônia. Por fim, vamos procurar entender as
causas da queda de Constantinopla.
Temos também como tarefa conhecer um pouco do “período sombrio” que
afetou a Igreja Cristã, ou seja, como se deram as perseguições neste período e
como estas prejudicaram a igreja, bem como vieram a contribuir. Também vamos
conhecer o que se denomina por Cristianismo Primitivo.
Esta obra tem caráter de introdução, já que temos quase cinco séculos de
história sendo apontados em poucas páginas. Destacamos, entretanto, que cabe
ao aluno o desafio de seguir adiante, motivado com o espírito crítico e
acadêmico, buscando por novas informações e conhecimentos, pois esta é a
dinâmica do meio acadêmico e teológico.
A Expansão do Império Romano Segundo Le Roux (2013), o Império
Romano nasceu oficialmente em 27 a.C. e terminou – dependendo do ponto de
vista – com a conquista de Roma pelos godos, chefiados por Alarico, em 410
d.C., ou em 476 d.C., data da queda do último imperador do Ocidente, em
consequência dos repetidos assaltos dos povos germânicos.
Para Le Roux (2013), o Império Romano designa um período histórico
marcado pela ampla dominação da potência romana, sob a direção de seus
césares. Considerado isoladamente, o Império Romano representava uma forma
institucional e territorial do exercício de um poder monárquico, mas ao qual eram
associados os valores aristocráticos tradicionais, o direito público como fonte de
legitimidade e uma dimensão religiosa que correspondia ao ponto de vista
ideológico e à forma como raciocinavam as7 elites romanas e as de suas
províncias.
O Império Romano nasceu oficialmente em 27 a.C. e terminou
dependendo do ponto de vista com a conquista de Roma pelos godos, chefiados
por Alarico, em 410 d.C., ou em 476 d.C.
Devido a sua geografia, o Império Romano agrupava um
conglomerado de cidades e de comunidades locais que,
até certo ponto, estavam integradas a uma rede de
relacionamentos sociais que copiavam as estruturas da
sociedade romana. Contudo, cada uma delas era
constituída por suas próprias sociedades individuais,
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 5

hierarquizadas e culturalmente mescladas, obedecendo


em parte a tradições locais que revelavam os aspectos
mais variados (LE ROUX, 2013, p. 8).

Le Roux (2013) destaca que o conceito corresponde, para os não


especialistas, a uma forma ou outra de expansão da cidadania romana e de
florescimento de uma civilização portadora dos valores nobres proclamados
pelos literatos e filósofos latinos, mas caracterizada também pelos combates de
gladiadores e outros espetáculos desumanos dos circos e anfiteatros, e pela
perpetuação da escravatura, sem esquecer a grosseria de uma soldadesca
indisciplinada e de mentalidade estreita, que se manifestava sem reservas no
7momento em que deixava os campos de batalha.
Roma se solidificou como o maior império que já existiu, sendo híbrida em
sua formação, ou seja, composta de várias culturas, devido às conquistas
territoriais ao longo dos tempos realizadas em suas guerras. Os romanos
conquistaram grande parte do Oriente e todo o Ocidente durante os dois últimos
séculos antes da Era Cristã e também na guerra civil interna, onde venceu Júlio
César, em 100 a.C. – 44 a.C.
A partir desse momento, com a paz sedimentada, Otávio Augusto (63 a.C.
– 14 d.C.), o primeiro imperador romano, reorganizou o estado, delimitou as
fronteiras, abriu estradas (85 mil quilômetros), promoveu construções por
toda a extensão do império, de quase cinco milhões de quilômetros quadrados
(divididos hoje entre 30 nações). Com isso, assegurou um período inédito de
estabilidade em toda a região ao redor do mar Mediterrâneo (PIOPPI, 2012).
A pax romana facilitou, durante décadas, até mesmo nas regiões mais
expostas do Império, o desenvolvimento de formas políticas, sociais e culturais
que se contavam entre as mais “modernas”, segundo consideravam os antigos.
À medida que seu poderio se expandia, os cidadãos romanos foram se
envolvendo com a exploração e o controle dos territórios submetidos (LE ROUX,
2013).
Na metade ocidental, o idioma utilizado era o latim, e na região do
Mediterrâneo oriental e no Oriente Próximo era o grego. O Império Romano
tornou-se um governo pacífico e próspero, suas cidades estavam em progresso
e viajar não era mais difícil, pois muitas estradas foram construídas.
A pax romana facilitou, o desenvolvimento de formas políticas, sociais e
culturais que se contavam entre as mais “modernas”.
Segundo Le Roux (2013), foi Otávio Augusto quem estabeleceu
inicialmente a imagem de um universo centrado em Roma. A cidade
conquistadora e senhora do mundo era a única capital, a sede do império.
Dotada de uma aparência monumental, sem equivalente no mundo inteiro,
obtida através de uma série contínua de programas de desenvolvimento
arquitetônico determinados pelos imperadores, Roma foi escolhida
unanimemente como o modelo do urbanismo, mesmo antes de se tornar
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 6

legalmente a pátria comum. Cosmopolita, ela vivia em simbiose com o restante


do império, não esquecendo nunca, contudo, que além de capital, também era
uma cidade.
Após sua morte, Otávio Augusto foi sucedido pelos imperadores Tibério
(42 a.C. – 37 d.C.), Caio (12-41), Cláudio (10 a.C. – 54 d.C.) e Nero (37-68). Com
o suicídio de Nero, seguiu-se novo período de guerra civil, conhecido como o
ano dos quatro imperadores (69). Ao final desse ano, o comandante das forças
militares romanas em combate na primeira guerra judaico-romana, Vespasiano
(9-79), foi aclamado o novo imperador.
Posteriormente a ele seguiram seus filhos, Tito (39-81) e Domiciano (51-
96), cujo assassinato inaugurou o período de outros imperadores: Nerva (30-98),
Trajano (53-117), Adriano (76-138), Antonino Pio (86-161) e Marco Aurélio (121-
180). Nessa época, o Império Romano atingiu sua expansão máxima,
estabelecendo-se, assim, a paz romana, também conhecida como pax romana.
Todavia, ao fim desse período, Cômodo (161-192) se tornou imperador,
iniciando um longo período de instabilidades políticas (PIOPPI, 2012).
O Crescimento da Igreja Cristã Na perseguição iniciada com a morte de
Estevão, a igreja em Jerusalém dispersou-se por toda a Terra. Alguns chegaram
até Damasco e outros até Antioquia. Por qual motivo sobrevieram então as
perseguições? Marcos 16:15: E disse-lhes: “Ide por todo o mundo, pregai o
evangelho a toda criatura”. A partir desta perseguição, os cristãos fugiam, porém,
pregavam o evangelho e testemunhavam das maravilhas que Jesus operava.
Segundo o renomado pesquisador da história da igreja, Carlo Pioppi
(2012), a partir do século I, o cristianismo iniciou a sua expansão “territorial”, sob
a orientação de São Pedro e dos apóstolos, tendo um rápido crescimento no
Império Romano, nos primeiros séculos, difundindo assim uma nova religião e,
consequentemente, uma nova perspectiva de vida religiosa.
A Palestina, onde o cristianismo deu seus primeiros passos, tinha uma
posição geográfica privilegiada, pois ocupava uma área onde era a encruzilhada
das grandes rotas comerciais que uniam o Egito à Mesopotâmia, e a Arábia com
a Ásia Menor. Por isso vemos, na história descrita no Velho Testamento, esta
área tão cobiçada sendo invadida por vários impérios.
Jesus nasceu dentro deste contexto que biblicamente se conhece como
"plenitude dos tempos" (Gl: 4:4-5). A igreja, respondendo às ansiedades da
época com a revelação de Deus em Jesus, conseguiu rapidamente conquistar o
império.
Pioppi (2012) destaca que o poder político romano viu no cristianismo um
perigo, pelo fato de reclamar um âmbito de liberdade na consciência das pessoas
a respeito da autoridade estatal, assim, os seguidores de Jesus Cristo tiveram
que suportar numerosas perseguições, que conduziram muitos ao martírio.
Segundo Pioppi (2012), no ano 313 o imperador Constantino I foi favorável
à nova religião, concedeu aos cristãos a liberdade de professarem a fé, e iniciou
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 7

uma política favorável para com eles. Com o imperador Teodósio I (379-395), o
cristianismo converteu-se na religião oficial do Império Romano, e no final do
século IV, os cristãos já eram a maioria da população do império.
Pioppi (2012) destaca que no século IV a igreja teve que enfrentar uma
forte crise interna: trata-se da questão ariana. Ário, presbítero de Alexandria, no
Egito, defendia teorias heterodoxas, pelas quais negava a divindade do Filho,
que seria, assim, a primeira das criaturas, embora superior às outras. A
divindade do Espírito Santo era também negada pelos arianos.
O arianismo foi condenado pelo Concílio de Niceia, mas a disputa
teológica sobre a divindade de Cristo não terminou e continuou sendo objeto, no
Oriente e no Ocidente, de diferentes orientações doutrinárias. Com o apoio do
imperador Constantino, interessado numa solução política para a unificação da
igreja oriental e ocidental, a decisão de Niceia foi aplicada e o arianismo foi
banido como heresia, e seus adeptos, desacreditados.
A crise doutrinal, com que se encruzilharam frequentemente intervenções
políticas dos imperadores, perturbou a igreja durante mais de 60 anos; foi
resolvida graças aos dois primeiros concílios ecumênicos, o primeiro de Niceia
em 325 e o segundo de Constantinopla em 381, concílio em que se condenou o
arianismo, se proclamou solenemente a divindade do Filho (consubstantialis
Patri, em grego homoousios) e do Espírito Santo, e se compôs o símbolo niceno
constantinopolitano (o Credo).
O arianismo sobreviveu até o século VII, porque os missionários arianos
conseguiram converter a sua crença muitos povos germânicos, que só pouco a
pouco passaram ao catolicismo. Destaca-se ainda que no princípio a igreja
também é vista ou considerada como uma seita do judaísmo, como consta no
Ato dos Apóstolos (At: 24:5; 28:22).
Entretanto, o pesquisador Pioppi (2012) nos lembra que no século V
houve duas heresias cristológicas, que tiveram o efeito positivo de obrigar a
igreja a aprofundar no dogma, para formulá-lo de modo mais preciso.
A primeira heresia é o nestorianismo, doutrina que, na prática, afirma a
existência em Cristo de duas pessoas, além de duas naturezas. Foi condenada
pelo Concílio de Éfeso em 431, que reafirmou a unicidade da pessoa de Cristo.
Dos nestorianos derivam as igrejas siro-orientais e malabares, ainda separadas
de Roma.
O nestorianismo afirmava a existência da natureza humana completa em
Jesus, os teólogos puderam estudar mais detidamente o modo como
humanidade e divindade se relacionaram em Cristo.
Antes, porém, de entrar em particulares, devemos mencionar as duas
principais escolas teológicas da Antiguidade: a Alexandrina e a Antioquena, que
muito influíram na elaboração da Cristologia.
A Escola Alexandrina era herdeira de forte tendência mística; procurava
exaltar o divino e o transcendental nos artigos da fé. Interpretava a Sagrada
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 8

Escritura em sentido alegórico, tentando desvendar os mistérios divinos contidos


nas sagradas letras. Em assuntos cristológicos, portanto, era inclinada a realçar
o divino, com detrimento do humano. Ao contrário, a Escola Antioquena era mais
dada à filosofia e à razão: voltava-se mais para o humano, sem negar o divino.
Interpretava a Sagrada Escritura em sentido literal e tendia a salientar em Jesus
os predicados humanos mais do que os atributos divinos. Era mais racional, ao
passo que a de Alexandria era mais mística.
Dito isto, voltemos à história do dogma cristológico. A primeira tentativa
de solução foi encabeçada por Nestório, elevado à cátedra episcopal de
Constantinopla em 428. Afirmava que o Lógos habitava na humanidade de Jesus
como um homem se acha num templo ou numa veste; haveria duas pessoas,
em Jesus – uma divina e outra humana – unidas entre si por um vínculo afetivo
ou moral. Por conseguinte, Maria não seria a Mãe de Deus (Theotókos), como
diziam os antigos, mas apenas Mãe de Cristo (Christokós); ela teria gerado o
homem Jesus, ao qual se uniu a segunda pessoa da SS.
Trindade com a sua divindade.
Nestório propunha suas ideias em pregações ao povo, nas quais
substituía o título “Mãe de Deus” por “Mãe de Cristo”. As suas concepções
suscitaram reação não só em Constantinopla, mas em outras regiões também,
especialmente em Alexandria, onde S. Cirilo era bispo ardoroso. Este escreveu
em 429 aos bispos e aos monges do Egito, condenando a doutrina de Nestório.
As duas correntes se dirigiram ao Papa Celestino I, que rejeitou a doutrina
de Nestório num sínodo de 430. Deu ordem a S. Cirilo para que intimasse
Nestório a retirar suas teorias no prazo de dez dias, sob pena de exílio; Cirilo
enviou ao patriarca de Constantinopla uma lista de 12 anatematismos que
condenavam o nestorianismo. Nestório não se quis dobrar, de mais a mais que
podia contar com o apoio do imperador; além do mais, tinha muitos seguidores
na Escola Antioquena, entre os quais o próprio bispo João de Antioquia.
Em 431, o Imperador Teodósio II, instado por Nestório, convocou para
Éfeso o terceiro Concílio Ecumênico a fim de solucionar a questão discutida. S.
Cirilo, como representante do Papa CelestinoI, abriu a assembleia diante de 153
bispos. Logo na primeira sessão foram apresentados os argumentos da literatura
antiga favoráveis ao título Theotókos, que acabou sendo solenemente
proclamado; daí se seguia que em Jesus havia uma só pessoa (a Divina); Maria
se tornara Mãe de Deus pelo fato de que Deus quisera assumir a natureza
humana no seu seio. Quatro dias após esta sessão, isto é, a 26/06/431, chegou
a Éfeso o patriarca Jogo de Antioquia, com 43 bispos seus seguidores, todos
favoráveis a Nestório; não quiseram unir-se ao concílio presidido por S. Cirilo,
representante do papa; por isto formaram um conciliábulo, o qual depôs Cirilo.
O imperador acompanhava tudo de perto e sentia-se indeciso. S. Cirilo
então mobilizou todos os seus recursos para mover Teodósio II em favor da reta
doutrina; nisto foi ajudado por Pulquéria, piedosa e influente irmã mais velha do
imperador. Este finalmente apoiou a sentença de Cirilo e exilou Nestório. Todavia
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 9

os antioquenos não se renderam de imediato; acusavam Cirilo de arianismo a


apolinarismo.
Após dois anos de litígio, em 433 puseram-se de acordo sobre uma
fórmula de fé que professava um só Cristo e Maria como Theotókos.
O nestorianismo, porém, não se extinguiu. Os seus adeptos, expulsos do
Império Bizantino, foram procurar refúgio na Pérsia, onde fundaram a Igreja
Nestoriana.
Esta teve notável expansão até a China e a Índia Meridional; mas do
século XIV em diante foi definhando por causa das incursões dos mongóis; em
grande parte, os nestorianos voltaram à comunhão da Igreja Universal (são hoje
os cristãos caldeus e os cristãos de São Tomé). Em nossos dias, muitos
estudiosos têm procurado reabilitar a pessoa e a obra de Nestório, que parece
ser autor de uma apologia intitulada “Tratado de Heraclides de Damasco”: pode-
se crer que tenha tido reta intenção, mas certamente sustentou posições
errôneas por se ter apegado demasiadamente à Escola Antioquena.
A outra heresia foi o monofisismo, que defendia, na prática, a existência
em Cristo de uma só natureza, a divina; o Concílio de Calcedônia em 451
condenou o monofisismo e afirmou que em Cristo há duas naturezas, a divina e
a humana, unidas na pessoa do Verbo. Dos monofisitas derivam as igrejas
coptas, siro-ocidentais, armênias e da Etiópia, separadas da Igreja Católica
(FRÖLICH, 1987).
O monofisismo seria a luta contra o nestorianismo, que admitia em Jesus
duas naturezas e duas pessoas, deu ocasião ao surto do extremo oposto, que é
o monofisismo ou monofisitismo (“em Jesus há uma só natureza e uma só
pessoa: a divina”). O primeiro arauto desta tese foi Eutiques, arquimandrita de
Constantinopla: reconhecia que Jesus constava originariamente da natureza
divina e da humana, mas afirmava que a natureza divina absorveu a humana,
divinizando-a; após a Encarnação, só se poderia falar de uma natureza em
Jesus: a divina.
Esta doutrina tornou-se a heresia mais popular e mais poderosa da
antiguidade, pois, para os orientais, a divinização da humanidade em Cristo era
o modelo do que deve acontecer com cada cristão. Eutiques foi condenado como
herege no Sínodo de Constantinopla em 448, sob o patriarca Flaviano. Todavia
não cedeu e reclamou contra uma pretensa injustiça, pois tencionava combater
o nestorianismo. Conseguiu assim ganhar os favores da corte.
Solicitado pelo patriarca Dióscoro de Alexandria, o imperador Teodósio II
convocou em 449 novo Concílio Ecumênico para Éfeso, confiando a presidência
do mesmo a Dióscoro, que era partidário de Eutiques. Dióscoro, tendo aberto o
concílio, negou a presidência aos legados papais; não permitiu que fosse lida a
Carta do Papa S.Leão Magno, que propunha a reta doutrina: as duas naturezas
em Cristo não se misturam nem confundem, mas cada qual exerce a sua
atividade própria em comunhão com a outra; assim, Cristo teve realmente fome,
sede e cansaço, como homem, e pôde ressuscitar mortos como Deus. Esse
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 10

Concílio de Éfeso proclamou a ortodoxia de Eutiques; depôs Flaviano, patriarca


de Constantinopla, e outros bispos contrários à tese monofisita. Todavia os seus
decretos foram de curta duração.
Os bispos de diversas regiões o repudiaram como ilegítimo ou, segundo
a expressão do Papa São Leão Magno, como “latrocínio de Éfeso”; pediam novo
concílio, que de fato foi convocado após a morte de Teodósio II pela imperatriz
Pulquéria (irmã de Teodósio) e pelo general Marcião, que em 450 foi feito
imperador e se casou com Pulquéria.
O novo concílio, desta vez legítimo, reuniu-se em Caledônia, diante de
Constantinopla, em 451; foi o mais concorrido da Antiguidade, pois dele
participaram mais de 600 membros, entre os quais três legados papais.
A assembleia rejeitou o “latrocínio de Éfeso”; depôs Dióscoro e aclamou
solenemente a Epístola Dogmática do Papa São Leão a Flaviano; esta serviu de
base a uma confissão de fé, que rejeitava os extremos do nestorianismo e do
monofisismo, propondo em Cristo uma só pessoa e duas naturezas: “Ensinamos
e professamos um Único e idêntico Cristo... em duas naturezas, não confusas e
não transformadas, não divididas, não separadas, pois a união das naturezas
não suprimiu as diferenças; antes, cada uma das naturezas conservou as suas
propriedades e se uniu com a outra numa Única pessoa e numa Única
hipóstase”.
Assim terminou a fase principal das disputas cristológicas: em Cristo não
há duas naturezas e duas pessoas, pois isto destruiria a realidade da
Encarnação e da obra redentora de Cristo; mas também não há uma só natureza
e uma só pessoa, pois Cristo agiu como verdadeiro homem, sujeito à dor e à
morte para transfigurar estas nossas realidades. Havia, pois, uma só pessoa (um
só eu) divina, que, além de dispor da natureza divina desde toda a eternidade,
assumiu a natureza humana no seio de Maria Virgem e viveu na Terra agindo
ora como Deus, ora como homem, mas sempre e somente com o seu eu divino.
O encerramento do Concílio de Calcedônia não significou a extinção do
monofisismo. Além da atração que esta doutrina exercia sobre os fiéis
(especialmente os monges), propondo-lhes a humanidade divinizada de Cristo
como modelo, motivos políticos explicam essa persistência da heresia; com
efeito, na Síria e no Egito certos cristãos viam no monofisismo a expressão de
suas tendências nacionalistas, opostas ao helenismo e à dominação bizantina.
Por isto os monofisitas continuaram a lutar contra o imperador, que havia
exilado Dióscoro e Eutiques e ameaçado de punição os adeptos destes:
ocuparam sedes episcopais; inclusive a de Jerusalém (ao menos
temporariamente).
No século VII a situação se agravou, pois os muçulmanos ocuparam a
Palestina, a Síria e o Egito, impedindo a ação de Bizâncio em prol da ortodoxia
nesses países. Em consequência, os monofisitas foram constituindo igrejas
nacionais: a armena, a síria, a mesopotâmica, a egípcia e a etíope, que
subsistem até hoje com cerca de 10 milhões de fiéis. No Egito, os monofisitas
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 11

tomaram o nome de coptas, nome que guarda as três consoantes da palavra


grega Aigyptos (g ou k, p, t ); são os antigos egípcios. Os ortodoxos se chamam
melquitas (de Melek, imperador), pois guardam a doutrina ortodoxa patrocinada
pelo imperador em Calcedônia. Há coptas que se uniram a Roma em 1742,
enquanto os outros permanecem monofisitas, mas professam quase o mesmo
credo que os católicos.
Na Abissínia os monofisitas também são chamados coptas, pois
receberam forte influência do Egito. “Dentre os melquitas, grande parte aderiu
ao cisma bizantino, separando-se de Roma em 1054; certos grupos, porém,
estão hoje unidos à Igreja Universal. Na Síria e nos países vizinhos, os
monofisitas foram chamados jacobitas, nome derivado de um dos seus primeiros
chefes: Jacó Baradai (= o homem da coberta de cavalo, alusão as suas vestes
maltrapilhas).
Jacó, bispo de Edessa (541-578), trabalhou com zelo e êxito para
consolidar as comunidades monofisitas, às quais deu por cabeça o patriarca
Sérgio de Antioquia.
Pioppi (2012) nos apresenta que nos primeiros séculos da história do
cristianismo assiste-se a um grande florescimento da literatura cristã, homilética,
teológica e espiritual: são as obras dos padres da igreja, de grande importância
na reconstrução da tradição; os mais relevantes foram Santo Ireneu de Leão,
Santo Hilário de Poitiers, Santo Ambrósio de Milão, São Jerônimo e Santo
Agostinho, no Ocidente; Santo Atanásio, São Basílio, São Gregório Nacianceno,
São Gregório de Nissa, São João Crisóstomo, São Cirilo de Alexandria e São
Cirilo de Jerusalém, no Oriente.
Paulo não foi o único missionário trabalhando fora da Palestina. A história
nos apresenta que os primeiros agentes da expansão missionária provavelmente
foram os convertidos do dia de Pentecostes (At: 2:9-11), que levaram o
evangelho consigo quando voltaram para casa.
Os outros missionários foram aqueles que foram espalhados por toda
parte na perseguição que se seguiu ao martírio de Estevão (At: 8:4). Estes foram
pregando na Fenícia, no Chipre e na Antioquia, mas sempre aos helenistas.
Um dos convertidos de Chipre e de Cirene (Líbia) pregou aos helenos
(gregos) em Antioquia.

A EXPANSÃO DO CRISTIANISMO NO IMPÉRIO ROMANO


Expansão no Império Romano Leste: na Fenícia a fé logo cedo parece ter
sido mais forte do que na própria Palestina. Entretanto é provável que aqui, como
em quase todo o império, o cristianismo era um fenômeno urbano,
desenvolvendo-se especialmente nas cidades costeiras. Tiro possuía uma igreja
muito forte.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 12

Na Síria se desenvolveram duas comunidades cristãs: a de fala grega,


que teve seu início em Antioquia e que se expandiu nas cidades comerciais de
língua grega na Síria. Embora a igreja de Antioquia possa ter sido bilíngue desde
cedo, a comunidade de fala siríaca teve seu núcleo principal ao Leste na cidade
de Edessa.
A força da igreja na Síria pode ser constatada pela presença de 20 bispos
seus no Concílio de Niceia em 325.
Na Ásia Menor, área de trabalho de pelo menos dois apóstolos, Paulo e
João, o cristianismo tinha sido adotado mais largamente do que qualquer outra
região grande do império até o fim do III século.
Seu crescimento maior parece ter sido nas cidades onde a cultura local
estava desintegrando-se diante do impacto da cultura que chegava, a greco-
romana.
Nas cidades helênicas era menor, e nas cidades onde a educação
helenista era desconhecida, era quase inexistente. A carta de Plínio ao
imperador Trajano na segunda década do II século atesta a larga expansão do
cristianismo nas cidades e até no quadro rural de Bitínia.
Expansão no Império Romano Africano: quanto ao Egito, a tradição faz de
Marcos o missionário que lá plantou o evangelho.
Sabemos que Apolo era de Alexandria, mas não sabemos converteu-se
lá ou se voltou para lá após sua conversão. Até o fim do segundo século a igreja
já estava forte. Já incluía várias linhas teológicas, das quais uma das mais fortes
foi o gnosticismo.
Em Alexandria se desenvolveu muito cedo a famosa Escola Catequética
em que teve entre seus professores Clemente e Orígenes. Já neste período,
traduções de porções das Escrituras foram feitas em línguas indígenas, dando
condições para o desenvolvimento da Igreja Copta.
Na costa do Norte da África o cristianismo se alastrou cedo,
especialmente nas regiões da Líbia, Tunísia e Algéria. O progresso do
cristianismo nesta região parece ter sido muito rápido, especialmente no século
III. É de aqui que surgiu Tertuliano, Cipriano e, mais tarde, Agostinho. A igreja
parece ter sido mais forte nas cidades e entre a população que falava latim.
Expansão no Império Romano Europeu: na Itália, o evangelho chegou a
Roma antes de Paulo, mas talvez não muito antes da agitação que resultou na
expulsão dos judeus sob Cláudio (41-54) por causa dum certo Chrestus. Cf. At:
18:1-3. Até 250 a igreja em Roma cresceu sobremaneira. Uns calculam 30.000
membros; outros acham que foram muitos mais. Até meados do século III na
Itália havia cerca de 100 bispos.
Com a expansão rápida do cristianismo que ocorreu nas últimas décadas
daquele século, calcula-se que quase toda a cidade no Centro-Sul e na Sicília
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 13

tinham um núcleo de cristãos. A penetração do Norte da Itália foi bem mais lenta
e veio da Dalmácia e regiões ao Leste.
A Espanha, embora romanizada antes da África, foi muito mais lenta em
receber o Evangelho. Cedo, no III século, o cristianismo parece firmemente
estabelecido no Sul, nas cidades costeiras.
O avanço do cristianismo ao Leste além dos limites do Império Romano:
a tradição indica que Tomé foi aos Partos e à Índia; Mateus à Etiópia; Bartolomeu
à Índia e André aos Citos.
Edessa estava localizada nas grandes rotas comerciais que corriam entre
as montanhas da Armênia, ao Norte, e os desertos da Síria, ao Sul. Até o fim do
II século estava fora do Império Romano e dentro da esfera da influência dos
Partos. A sucessão de bispos remonta a fins do II século. Embora centro de
cultura grega, o cristianismo de Edessa era siríaco.
No início do III século, poucas cidades continham mais crentes que
Edessa. Até o fim do século parece que ela estava predominantemente cristã.
Edessa parece ter sido o ponto donde o evangelho penetrou mais na
Mesopotâmia e até aos limites da Pérsia.
As antigas religiões da Babilônia e da Assíria estavam em desintegração
e não ofereceram muita oposição ao cristianismo. A oposição surgiu
principalmente do zoroastrismo, que mais tarde se tornou a religião do estado
persa (meados do III século). Os primeiros convertidos aparecem cerca de 100
a.D. Até o fim do primeiro quartel do III século havia mais de 20 dioceses na
Mesopotâmia.
No Leste, o cristianismo não só não teve os mesmos êxitos que conseguiu
no império, como também eventualmente quase desapareceu. Isto
possivelmente se deva a três razões: a política religiosa dos Sassanidas (dinastia
persa) que favoreceu o zoroastrismo; a forte hierarquia deste com o apoio da
monarquia levantou uma forte resistência ao cristianismo. Também o próprio
êxito do cristianismo no império, após sua adoção por Constantino, o tornou a
religião do inimigo principal dos persas; e por último, a forma herética com que
o cristianismo foi pregado.

O CRISTIANISMO PRIMITIVO

A denominação ‘cristianismo primitivo’ compreende o período que se


estende da morte de Jesus em 33 a.D. até a chamada “conversão de
Constantino” (306-337), ocorrida ao que parece no ano de 337d.C. Este período
pode ser dividido em três fases:
a) a primeira fase está situada entre a época da vida de Jesus até o ano
100, data em que a maioria dos contemporâneos de Jesus já havia falecido;
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 14

b) a segunda fase vai do ano 100 ao ano de 250, no momento em que o


cristianismo se propagava fora da Palestina, principalmente nas províncias
romanas mais antigas (Síria, Ásia Menor, Egito e, é claro, pela Itália,
especialmente em Roma), sem, no entanto, constituir uma religião universal; e
c) o terceiro momento abrange a época em que o cristianismo foi mais
intensamente perseguido pelo estado romano (entre 250 e 311) até sua
aceitação como religião do estado imperial romano a partir de 391 (FRÖLICH,
1987).
A primeira fase é marcada por uma série de disputas doutrinais, a
começar pelos apóstolos companheiros de Jesus (em especial, Paulo e Pedro);
disputas essas menos em razão da condução das comunidades do que em razão
da linha de interpretação da ‘palavra’ adotada; tratava-se, pois, de responder às
questões fundamentais, tais como as contribuições do judaísmo ao advento do
cristianismo e a subsequente transmissão da ‘boa nova’ para fora das fronteiras
do mundo judeu. Ainda nessa época, a comunidade primitiva cristã entra em
conflito direto com a autoridade judaica hierosolimita, e grande parte dos judeus
passou a se distanciar do cristianismo, recusando-o e acusando-o de ser uma
seita.
Na segunda fase, as diferentes comunidades passam a estabelecer
normas gerais, buscando um entendimento comum sobre as normas e os direitos
das mesmas; aparece com mais firmeza o credo em uma ‘Lei’ universal que deve
ser observada em todo o cosmos, e em um Deus que representa o princípio da
justiça e do amor para todos os homens; além disso, as comunidades então
estabelecidas passaram a praticar o ideal do “amor ao próximo”.
Não obstante, as disputas do primeiro período causaram as primeiras
crises internas, produzindo movimentos intelectuais considerados divergentes
da doutrina oficial (Gnosticismo, Marcionismo e Montanismo) e compelindo os
seguidores cristãos ao reconhecimento e acolhimento em nível institucional de
uma única nova fé (regula fidei). No bojo dessas transformações, a igreja
constituiu sua hierarquia, baseada em especial na sucessão episcopal (PIOPPI,
2012).
Na terceira fase, principalmente a partir do século IV, o cânon dos escritos
cristãos é mais firmemente estabelecido, isto é, desde então dá-se especial
relevo às questões sobre quais escritos deveriam fazer ou não parte do corpus
bíblico, quais seriam ou não considerados heréticos, como se constituiria o culto
e quais seriam seus verdadeiros crentes.
Além dessas divisões no tempo e no modo de agir, o cristianismo primitivo
deve ser também distintamente considerado do ponto de vista geopolítico, isto
é, devemos levar em conta a formação de duas comunidades diferentes em
relação ao poder central romano: a primeira com seu berço na Palestina e
posteriormente na Síria e no Egito, e a segunda em sua igreja em Roma.
Ao que consta, a comunidade primitiva cristã em Roma parece ter nascido
sob o signo da perseguição e da oposição ao império, enquanto na Palestina
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 15

tratava-se de uma luta fundamentalmente entre cristãos e judeus. Essa divisão


marcou profundamente toda a trajetória da igreja nos primeiros tempos,
norteando sua composição política, social e cultural, dividida entre o mundo
greco-romano e a herança vétero-testamentária judaica (PIOPPI, 2012).

UM PERÍODO SOMBRIO: AS PERSEGUIÇÕES

O último período do primeiro século, que vai do ano 60 ao 100 d.C.,


denominamos de “Período Sombrio", em razão das perseguições que ocorriam
sobre a Igreja Cristã. O cristianismo considerava todos os homens iguais. Não
havia distinção entre seus membros, nem em suas reuniões, por isso foram
considerados como "niveladores da sociedade", portanto anarquistas,
perturbadores da ordem social. O paganismo, em suas práticas, aceitava as
novas formas e objetos de adoração que iam surgindo, enquanto o cristianismo
rejeitava qualquer forma ou objeto de adoração.
As reuniões secretas dos cristãos despertaram suspeitas de praticarem
atos imorais e criminosos, durante a celebração da Santa Ceia, eram vetada a
entrada dos estranhos, a adoração aos ídolos estava entrelaçada com todos os
aspectos da vida.
Nero chegou ao poder em 54, todos os que se opunham à sua vontade,
ou morriam ou recebiam ordens de se suicidar. Assim estavam as coisas quando
em 64 a.D. aconteceu o incêndio em Roma.
Diz-se que foi Nero quem ateou fogo à cidade, contudo essa acusação
ainda é discutível. Entretanto, a opinião pública responsabilizou Nero por esse
crime. A fim de escapar dessa responsabilidade, Nero apontou os cristãos como
culpados do incêndio de Roma, e moveu contra eles tremenda perseguição.
O fogo durou seis dias e sete noites e depois voltou a se acender em
diversos lugares por mais três dias. Milhares de cristãos foram torturados e
mortos, muitos serviram de iluminação para a cidade, amarrados em postes e
sendo-lhes ateado fogo, muitos foram vestidos com peles de animais e jogados
para os cães.
Nesta época morreram: Pedro, que foi crucificado em 67; Paulo, que foi
decapitado em 68, e Tiago, que foi apedrejado depois de ser jogado do alto do
templo. Além de serem torturados e mortos, serviram de diversão para o povo,
promovendo a velha política da Antiguidade, “pão e circo”.
No ano 81, Domiciano sucedeu ao imperador Tito, que invadira e destruíra
Jerusalém no ano 70. Com a destruição de Jerusalém, Domiciano ordenou que
todos os judeus deviam enviar a Roma as ofertas anuais, que eram enviadas a
Jerusalém; estes, por sua vez, não obedeceram, o que desencadeou a segunda
perseguição, não somente aos judeus, mas também aos cristãos.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 16

Durante esses dias, milhares de cristãos foram mortos, especialmente em


Roma e em toda a Itália. Nesta época, o apóstolo João, que vivia em Éfeso, foi
preso e exilado na ilha de Patmos, foi quando recebeu a revelação do
Apocalipse.
No início do segundo século, os cristãos já estavam radicados em quase
todas as nações, e alguns creem que a comunidade cristã se estendia até a
Espanha e Inglaterra. O número de membros da comunidade cristã subia a
muitos milhões.
A famosa Carta de Plínio (governador da Bitínia – hoje Turquia) ao
imperador Trajano declara que os templos dos deuses estavam quase
abandonados, enquanto os cristãos em toda parte formavam uma multidão, e
pertenciam a todas as classes, desde a dos nobres até a dos escravos (PIOPPI,
2012).
O fato de maior destaque na História da Igreja neste período foram, sem
dúvida, as perseguições realizadas pelos imperadores romanos. Estas
perseguições duraram até o ano 313 d. C., quando Constantino, o primeiro
imperador romano "cristão", fez cessar todos os propósitos de destruir a igreja
(PIOPPI, 2012). Os principais mártires desse Período Sombrio são:
• Inácio: provável discípulo de João, bispo em Antioquia, foi condenado
no ano 107 d.C. por não adorar a outros deuses. Foi morto como mártir, lançado
para as feras no anfiteatro romano, no ano 108 ou 110, enquanto o povo
festejava. Ele estava disposto a ser martirizado, pois durante a viagem para
Roma escreveu cartas às igrejas manifestando o desejo de não perder a honra
de morrer por seu Senhor.
• Policarpo: bispo em Esmirna, na Ásia Menor, morreu no ano 155. Ao ser
levado perante o governador, e instado para abandonar a fé e negar o nome de
Jesus, assim respondeu: "Oitenta e seis anos o servi, e somente bens recebi
durante todo o tempo, como poderia eu agora negar ao meu Salvador?”
Policarpo foi queimado vivo.
• Justino Mártir: era um dos homens mais competentes de seu tempo, e
um dos principais defensores da fé. Seus livros, que ainda existem, oferecem
valiosas informações acerca da vida da igreja nos meados do segundo século.
Seu martírio deu-se em Roma, no ano 166.
Entretanto, esse período de perseguições, denominado de sombrio,
trouxe outros efeitos para a Igreja Cristã, que foram por sinal extremamente
positivos e relevantes para a sua estrutura interna:
• As perseguições produziram uma igreja pura, pois conservava afastados
todos aqueles que não eram sinceros em sua confissão de fé.
• A igreja multiplicava-se. Apesar das perseguições ou talvez por causa
delas, a igreja crescia com rapidez assombrosa.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 17

• Os escritos do Novo Testamento foram terminados, embora a formação


do Novo Testamento com os livros que o compõem, como cânon, não foi
imediata. Algumas igrejas aceitavam somente alguns livros como inspirados, e
outras igrejas, livros diferentes.
• O crescimento e a expansão da igreja foram consequência da
organização e da disciplina. A perseguição aproximou as igrejas e exerceu
influência para que elas se unissem e se organizassem.
• O desenvolvimento da doutrina. Na era apostólica a fé era do coração,
uma entrega pessoal à vontade de Cristo. Entretanto, no período que agora
focalizamos, a fé gradativamente passara a ser mental, era uma fé do intelecto,
fé que acreditava em um sistema rigoroso e inflexível de doutrinas.
Nesta época surgiram três escolas teológicas. Uma em Alexandria, outra
na Ásia Menor e outra na África. Os maiores vultos da história do cristianismo
passaram por essas escolas: Orígenes, Tertulianao e Cipriano (PIOPPI, 2012).

A FORMAÇÃO DOS MONASTÉRIOS

A Idade Média compreendeu o período em que ocorreu a queda do


Império Romano, séculos V ao XV, ou seja, são dez séculos ou 1.000 anos de
história em que se consolidou o feudalismo com a nobreza no poder; período
marcado pela força espiritual e política da Igreja Católica.
O conhecimento estava restrito aos mosteiros e a grande questão
discutida era a relação entre a fé e a razão, entre filosofia e teologia. O Império
Romano do Ocidente foi invadido pelos povos germânicos (arianos, pagãos
eslavos, escandinavos e magiares) no ano de 476, e desde então, o trabalho da
Igreja passou a ser o de evangelizar e contribuir para civilizar estes povos
(PIOPPI, 2012).
Segundo o pesquisador, no século VI nasceu o monarquismo beneditino,
que garantiu o aparecimento da prosperidade e o retorno dos mosteiros. No
século VII foi de grande importância a ação missionária em todo o continente dos
monges irlandeses e escoceses; no século VIII, a dos beneditinos ingleses,
quando também terminou a etapa da Patrística, com os últimos dois padres da
Igreja, São João Damasceno, no Oriente e São Beda, o venerável, no Ocidente.
Com o passar do tempo, houve o desenvolvimento da vida monástica, que
foi crescendo durante a Idade Média, com as congregações femininas ou
masculinas, trazendo resultados positivos e negativos para a Igreja e para a
sociedade. Com o crescimento dessas comunidades, tornava-se necessária
alguma forma de organização, de modo que nesse período surgiram quatro
grandes ordens.
Para Pioppi (2012) nos séculos XIII e XIV houve a Alta Escolástica com
grandes realizações teológicas e filosóficas: Santo Alberto Magno, São Tomás
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 18

de Aquino, São Boaventura, o Beato Duns Scoto. No que se refere à vida


religiosa, é de grande relevância a aparição, no início do século XIII, das ordens
mendicantes (franciscanos e dominicanos).
De acordo com importantes estudiosos, tanto de historiadores como de
teólogos, a aliança entre os conhecimentos da fé e da razão foi uma
característica do pensamento que permeou toda a Idade Média. Muito além de
uma questão puramente religiosa, a Igreja propôs à sociedade um ideal de
formação humana.
A Igreja Católica, por meio dos monastérios, propôs superar as
diferenças, a instabilidade e o caos instaurado no convívio social após a falência
do Império Romano do Ocidente, que significava a continuidade da vida; uma
busca pelo fim do medo, da insegurança, da pobreza, das pestes e da destruição
das instituições e do pensamento reflexivo (PIERINI, 1997).
Os mosteiros, por meio da mística de São Bento, passaram a ser
retomados e revigorados a partir do ano 529. Os chamados ermitões passam a
se organizar em pequenos grupos. São Bento elaborou uma regra, dando nova
forma à vida monástica, a qual passou a ser um exemplo para outros mosteiros
(SANTOS, 2012).
Eremita é um indivíduo que, usualmente por penitência, religiosidade e
amor à natureza, vive em lugar deserto, isolado. Esse local é denominado de
eremitério. Os eremitas se espelham no surgimento da espiritualidade dos
Padres do Deserto, que buscavam através de um estilo de vida austero e
contemplativo à união com Deus no deserto do Egito. Eles atraíam muitos
seguidores para seus retiros, prestavam direção espiritual e conselhos; e são
concentrados na raiz do monarquismo oriental.
Santos (2012) expõe que a atividade diária de um monge é dividida entre
oração e trabalho (ora et labora), que possui sete momentos de oração em que
se dedica exclusivamente à vida espiritual; e no restante do tempo, ao trabalho
que é entendido como via, como meio de conversão.
A seguir, algumas ordens religiosas com seus respectivos fundadores e
carismas:
a) Ordem dos Beneditinos Fundada por São Bento em 529, em Monte
Cassino. Essa ordem se tornou a maior de todas as ordens monásticas da
Europa.
Suas regras exigiam obediência ao superior do mosteiro; a renúncia a
todos os bens materiais; e a castidade pessoal. Cortava bosques, secava e
saneava pântanos, lavrava os campos e ensinava ao povo muitos ofícios úteis.
b) Ordem dos Cistercienses Surgiram em 1098, com objetivo de fortalecer
a disciplina dos beneditinos, que se dispersava. Seu nome deve-se à cidade
francesa de Citeaux, fundada por São Roberto, Alberico e Estevão. Esta ordem,
que teve também como representante São Bernardo, deu ênfase às artes, à
arquitetura e especialmente à literatura, copiando e escrevendo livros.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 19

c) Ordem dos Franciscanos Fundada em 1209, por São Francisco de


Assis, tornou-se a mais numerosa de todas as ordens. Por causa da cor que
usavam, tornaram-se conhecido como os "frades cinzentos".
d) Ordem dos Dominicanos Ordem espanhola fundada por São
Domingos, em 1215. Os dominicanos e os franciscanos diferenciavam-se das
outras ordens, pois eram pregadores, buscavam por toda parte o fortalecimento
da fé dos crentes.
No início, cada Ordem Monástica era um benefício para a sociedade.
A seguir, alguns resultados positivos:
• Os mosteiros hospedavam os viajantes, os enfermos e os pobres.
Serviam de abrigo e proteção aos indefesos, principalmente, às mulheres e às
crianças.
• Guardavam em suas bibliotecas muitas obras da literatura clássica e
cristã. Sem as obras escritas nos mosteiros, a Idade Média não teria registro.
• Os monges serviram como missionários na expansão do evangelho, até
mesmo entre os bárbaros (PIERINI, 1997). Como podemos observar, ao longo
da Idade Média, os mosteiros tiveram grande papel e relevância junto à teologia,
além de preservam as escrituras sagradas, tornam-se refúgio, guardaram as
obras de arte e cultura, deram forma ao monasticismo medieval.
OS PADRES DA IGREJA
Os padres da Igreja, entre eles Santo Agostinho, Justino (século II),
Clemente de Alexandria (séculos II e III) e Orígenes (século III), inauguraram
uma maneira de pensar o Cristianismo e buscaram instrumentos para justificar
a fé e defender a doutrina cristã. Para isso, utilizaram-se da filosofia grega e do
pensamento helênico, formulando, então, a Filosofia Patrística.
Santos (2012) possui uma visão panorâmica e linear sobre os Padres da
Igreja, apresentando não só a sua relevância, como também a ousadia desses
ao propor uma teologia e mística para aquela época em que o pensamento era
predominantemente filosófico. O teólogo destaca que os tempos de ouro da
Patrística foram os séculos IV e V, embora alguns historiadores entendam que o
término foi no século VII com a chamada "Idade dos Padres".
Por Patrística, entende-se o período do pensamento cristão que seguiu
na época do novo testamento e chega até ao começo da Escolástica, isto é,
contempla os séculos II ao VIII. Este período da cultura cristã representa o
pensamento dos Padres da Igreja, que são os construtores da teologia católica,
guias e mestres da doutrina crista.
A Patrística designa o período do pensamento teológico próprio dos
primeiros séculos do cristianismo. “Ela apresenta a síntese da filosofia grega
clássica com a religião cristã”, que buscava defender o cristianismo dos ataques
das heresias pagãs.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 20

A Patrística é contemporânea do último período do pensamento grego, o


período religioso; é também contemporâneo do Império Romano, com o qual
polemiza, e que terminará por se cristianizar depois de Constantino. Santo
Agostinho é o principal pensador desse período, promovendo uma síntese genial
e inédita entre a doutrina cristã e o pensamento de Platão. Santo Agostinho
contribuiu de forma decisiva para a aproximação entre a fé cristã e a filosofia
grega.

A Patrística tem três períodos: antes de Agostinho, no tempo de Agostinho


e depois de Agostinho:
• No período antes de Agostinho, os padres defendiam o cristianismo
contra o paganismo, os padres começam a defender a fé e a deixar de lado a
razão grega como demonstrava a filosofia helênica. Antes de Agostinho, havia
três correntes filosóficas: platonismo judaico, platonismo cristão ou patrística e o
platonismo pagão ou neoplatonismo.
O platonismo cristão defendia a fé como ponto essencial e fundamental
para a vivência da pessoa. Enquanto o platonismo judaico defendia a fé na
realidade dos antepassados e a razão na realidade em que viviam e o platonismo
pagão, defendia somente a razão. Neste período existiram muitos filósofos, eis
alguns: Fílon, platonismo judaico; Clemente de Alexandria, platonismo cristão;
Orígenes, platonismo cristão; Plotino, platonismo pagão.
• No período de Agostinho houve um crescimento, que será visto adiante
com o estudo de Agostinho. O crescimento do pensamento aconteceu pela
causa de que é possível fazer filosofia com fé.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 21

No período pós-Agostinho existiu Anselmo de Aosta e seus


contemporâneos, e começou uma batalha muito forte na defesa da fé e da razão.
Dizia-se: precisamos crer para entender? E a primeira necessidade da fé para o
conhecimento é a verdade religiosa e moral, daqui a importância do credo. Em
segundo lugar, a necessidade de usar a razão para que a adesão à fé não seja
cega e meramente passiva: eis a importância da inteligência. Eles diziam que as
verdades religiosas não podem ser compreendidas a não ser pela fé.
O que existe na realidade é maior ou mais perfeito do que o que existe só
no intelecto. Afirmar que não existe na esfera da realidade algo maior do que
não se pode pensar, nada implica uma contradição, porque significa admitir e ao
mesmo tempo não admitir que se possa pensar em outro maior do que ele, isto
é, existente na realidade (PIERINI, 1997).
Os principais pais do Oriente foram: Eusébio de Cesareia, Santo Atanásio,
Basílio de Cesareia, Gregório de Nisa, Gregório Nazianzo, São João Crisóstomo
e São Cirilo de Alexandria. Os principais padres do Ocidente foram: Santo
Agostinho, autor das "Confissões", obra-prima da literatura universal e Santo
Ambrósio; Eusébio Jerônimo Dalmata, conhecido como São Jerônimo que
traduziu a Bíblia diretamente do hebraico, aramaico e grego para o latim.
Esta versão é a celebre Vulgata, cuja autenticidade foi declara pelo
Concílio de Trento. Outros pais que se destacaram foram São Leão Magno e
Gregório Magno, um romano com vistas para a Idade Média, as suas obras "Os
morais e os diálogos" serão lidas pelos intelectuais da Idade Média, e o canto
"gregoriano" permanece até os dias atuais. Santo Isidoro de Sevilha, falecido em
636, foi considerado o último dos grandes padres ocidentais.

OS CONCÍLIOS

Antes de adentrarmos nos concílios da Igreja Cristã da Antiguidade


propriamente, entendemos que se faz necessária uma rápida conceituação do
que vem a ser um concílio em primeiro momento, bem com apresentar quantos
concílios tivemos ao longo da história da Igreja Cristã.
Um Concílio Geral consiste numa reunião formal de representantes da
igreja, junto ao papa, para tomar decisões dogmáticas e pastorais que possam
ajudar no crescimento da igreja, na eliminação dos erros e na difusão das
verdades da fé.
Ao longo de dois mil anos de existência, a Igreja Cristã reconhece 21
Concílios Gerais e ainda acrescenta o chamado “Concílio de Jerusalém”, reunião
narrada nos Atos dos Apóstolos (At 15,1-40), como parte da tradição da igreja e
dos seus ensinamentos.
Pedagogicamente, podemos dividir esses 21 Concílios Gerais da igreja
em quatro períodos. Os concílios ficaram conhecidos pelos nomes das cidades
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 22

onde o papa, bispos e outros representantes da igreja se reuniam para discutir


os assuntos de fé e doutrina (ALBERIGO, 1997).
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 23

OS PRINCIPAIS CONCÍLIOS

Concílios do Primeiro Milênio:


• Niceia I (325)
• Constantinopla I (381)
• Éfeso (431)
• Calcedônia (451)
• Constantinopla II (553)
• Constantinopla III (680-681)
• Niceia II (787)
• Constantinopla IV (869-870

Concílios Medievais:

• Latrão I (1123)
• Latrão II (1139)
• Latrão III (1179)
• Latrão IV (1215)
• Lyon I (1245)
• Lyon II (1274)
• Vienne (1311-1312)

Concílios da Reforma:

• Constança (1414-1418)
• Basileia-Ferrara-Florença-Roma (1431-1445)
• Latrão V (1512-1517)
• Trento (1545-1548/1551-1552/1562-1563)
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 24

Concílios da Idade Moderna:


• Vaticano I (1869-1870)
• Vaticano II (1962-1965)

Na sequência, vamos apresentar os três maiores concílios que ocorreram


na Igreja Cristã durante a Antiguidade.

O CONCÍLIO DE NICEIA I

Considerado como o primeiro dos três concílios fundadores da Igreja


Católica, o Concílio de Niceia I foi a primeira conferência de bispos ecumênica
da Igreja cristã, foi realizado de 20 de maio de 325 a 19 de junho de 325, em
Niceia (hoje İznik), cidade da Anatólia (hoje parte da Turquia).
Foi convocado pelo imperador Constantino e abordou questões
levantadas sobre a natureza ariana de Jesus Cristo: se uma pessoa com duas
naturezas (humana e divina), como zelava até então a ortodoxia, ou uma pessoa
com apenas a natureza humana (ALBERIGO, 1997).
O Concílio de Niceia I reuniu 318 bispos por um período de dois meses
para resolver as diferenças entre Alexandre e Ário. Bispos de todas as províncias
foram chamados ao primeiro concílio ecumênico em Niceia: um lugar facilmente
acessível à maioria dos bispos, especialmente aos da Ásia, Síria, Palestina,
Egito, Grécia, Trácia e Egrisi.
A religião cristã nesses tempos era majoritária unicamente no Oriente. No
Ocidente era ainda minoritária. Portanto, os bispos orientais estavam em
maioria; na primeira linha de influência hierárquica estavam três arcebispos:
Alexandre de Alexandria, Eustáquio de Antioquia, e Macário de Jerusalém, bem
como Eusébio de Nicomédia e Eusébio de Cesareia. Entre os bispos
encontravam-se Stratofilus, bispo de Pitiunt (Bichvinta, reino de Egrisi).
O Ocidente enviou não mais de cinco representantes na proporção
relativa das províncias: Marcus de Calábria de Itália, Cecilian de Cartago de
África, Osio de Córdoba (Espanha), Nicasius de Dijon, na França, e Domnus de
Stridon da província do Danúbio.
O papa em exercício na época, Silvestre I, não compareceu ao concílio.
A causa de seu não comparecimento é motivo de discussões: uns falam que
recusou o convite do imperador esperando que sua ausência representasse um
protesto contra a convocação do sínodo pelo imperador; outros dizem que
Silvestre já era ancião e estava impossibilitado, portanto, de comparecer.
Silvestre já fora informado da condenação de Ário ocorrida no Sínodo de
Alexandria (320 a 321) e para o Concílio de Niceia enviou dois representantes,
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 25

Vito e Vicente (presbíteros romanos) (ALBERIGO, 1997). Os pontos discutidos


no sínodo eram:
• A celebração da Páscoa;
• A questão ariana;
• O cisma de Milécio;
• O batismo de heréticos;
• O estatuto dos prisioneiros na perseguição de Licínio;
• Estabelecimento da ordem de dignidade dos Patriarcados: Roma,
Alexandria, Antioquia, Jerusalém.
Foi no Concílio de Niceia I que se decidiu então resolver a questão,
estabelecendo que a Páscoa dos cristãos seria sempre celebrada no domingo
seguinte ao plenilúnio após o equinócio da primavera. Apesar de todo esse
esforço, as diferenças de calendário entre Ocidente e Oriente fizeram com que
esta vontade de festejar a Páscoa em toda a parte no mesmo dia continuasse
até os dias de hoje.
Segundo Ário, presbítero de Alexandria, somente Deus Pai seria eterno
não gerado. O Logos, o Cristo preexistente, seria mera criatura. Criado a partir
do nada, nem sempre existiria. O Cristo existiria num tempo anterior a nossa
existência temporal, mas não era eterno.
Por outro lado, estavam Alexandre e o jovem Atanásio, que afirmava que
o Logos era eterno e era o próprio Deus que apareceu em Jesus. Deus é Pai
apenas porque é o Pai do Filho. Assim o Filho não teria tido começo e o Pai
estaria com o Filho eternamente. Portanto, o Filho seria o filho eterno do Pai, e
o Pai, o Pai eterno do Filho.
A cristologia de Ário foi rejeitada pelo Concílio de Niceia, afirmando que a
igreja acreditava em: "um só Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus; gerado do Pai,
unigênito da essência do Pai, Deus de Deus, Luz de Luz, verdadeiro Deus de
verdadeiro Deus, gerado não criado consubstancial com o Pai, por quem todas
as coisas foram feitas no céu e na terra; o qual, por nós homens e pela nossa
salvação desceu do céu e encarnou e foi feito homem", "todos os que dizem que
houve um tempo em que ele não existiu, ou que não existiu antes de ser feito, e
que foi feito do nada ou de alguma outra substância ou coisa, ou que o Filho de
Deus é criado ou mutável, ou alterável, são condenados pela Igreja Católica".
OS CÂNONES DO CONCÍLIO DE NICEIA
O Concílio de Niceia I estabeleceu 20 cânones, os quais darão sequência
ao Credo:
• Cânon I - Eunucos podem ser recebidos entre os clérigos, mas não serão
aceitos aqueles que se castram.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 26

• Cânon II - Referente a não promoção imediata ao presbiterato daqueles


que provieram do paganismo.
• Cânon III - Nenhum deles deverá ter uma mulher em sua causa, exceto
sua mãe, irmã e pessoas totalmente acima de suspeita.
• Cânon IV - Relativo à escolha dos bispos.
• Cânon V - Relativo à excomunhão.
• Cânon VI – Relativo aos patriarcas e sua jurisdição.
• Cânon VII - O bispo de Jerusalém seja honorificado, preservando-se
intactos os direitos da Metrópole.
• Cânon VIII - Refere-se aos novacianos.
• Cânon IX - Quem quer que for ordenado sem exame deverá ser deposto,
se depois vier a ser descoberto que foi culpado de crime.
• Cânon X - Alguém que apostatou deve ser deposto, tivessem ou não
consciência de sua culpa os que o ordenaram.
• Cânon XI – Penitência que deve ser imposta aos apóstatas na
perseguição de Licínio.
• Cânon XII - Penitência que deve ser feita àqueles que apoiaram Licínio
na sua guerra contra os cristãos.
• Cânon XIII - Indulgência que deve ser dada aos moribundos.
• Cânon XIV – Penitência que deve ser imposta aos catecúmenos que
caíram em apostasia.
• Cânon XV - Bispos, presbíteros e diáconos não se transferirão de cidade
para cidade, mas deverão ser reconduzidos, se tentarem fazê-lo, para a igreja
para a qual foram ordenados.
• Cânon XVI - Os presbíteros ou diáconos que desertarem de sua própria
igreja não devem ser admitidos em outra, mas devem ser devolvidos a sua
própria diocese. A ordenação deve ser cancelada se algum bispo ordenar
alguém que pertence à outra igreja, sem consentimento do bispo dessa igreja.
• Cânon XVII - Se alguém do clero praticar usura deve ser excluído e
deposto.
• Cânon XVIII - Os diáconos devem permanecer dentro de suas
atribuições. Não devem administrar a Eucaristia a presbíteros, nem tomá-la
antes deles, nem sentar-se entre os presbíteros, pois que tudo isso é contrário
ao cânon e à correta ordem.
• Cânon XIX – As regras a se seguir a respeito dos partidários de Paulo
de Samósata que desejam retornar à igreja.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 27

• Cânon XX - Nos dias do Senhor [refere-se aos domingos] e de


Pentecostes, todos devem rezar de pé e não ajoelhados.

O CONCÍLIO DE CONSTANTINOPLA I
O Concílio de Constantinopla I ocorreu de maio a junho de 381 depois de
Cristo, durante o pontificado do Papa Dâmaso I (366-384), naquela época era
imperador Teodósio Magno.
O Segundo Concílio Ecumênico condenou o falso ensino dos
denominados pneumatômacos (“adversários do espírito”), cujo principal
representante foi Macedônio, arcebispo de Constantinopla.
Este considerava o Espírito Santo como um servo de Deus e cumpridor
de Sua vontade, em algo próximo de como se considera os anjos. Daí que esta
heresia não reconhecia o Espírito Santo como uma hipóstase (pessoa) da
Santíssima Trindade. A Santa Igreja exerceu posição firme para proteger a
pureza da doutrina e fé ortodoxa, estabelecendo as verdades básicas da doutrina
cristã preservadas no Credo, que é um guia constante para todos os cristãos
ortodoxos em sua vida espiritual.
A doutrina da divindade do Espírito Santo e a condenação de Macedônio,
patriarca que era contra essa doutrina: “Cremos no Espírito Santo, Senhor e
fonte de vida, que procede do Pai, que é adorado e glorificado com o Pai e o
Filho e que falou pelos profetas”. “Com o Pai e o Filho ele recebe a mesma
adoração e a mesma glória”.
A sede de Constantinopla, ou Bizâncio “segunda Roma”, recebeu uma
preeminência sobre as sedes de Jerusalém, Alexandria e Antioquia. Desses dois
concílios anteriores surge o símbolo (Creio – Profissão de Fé) niceno-
constantinopolitano. O símbolo denominado niceno-constantinopolitano tem sua
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 28

grande autoridade no fato de ter resultado dos dois primeiros concílios


ecumênicos (325 e 381). Ainda hoje ele é comum a todas as grandes igrejas do
Oriente e do Ocidente (CIC§ 195) (ALBERIGO, 1997).
O Credo Niceno-Constantinopolitano ou Símbolo Niceno-
Constantinopolitano é uma declaração de fé cristã que é aceita pela Igreja
Católica e pela Igreja Ortodoxa. O nome está relacionado com o Primeiro
Concílio de Niceia (325), no qual foi adotado, e com o Primeiro Concílio de
Constantinopla (381), onde foi aceita uma versão revista.
Por esse motivo, ele pode ser referido especificamente como o Credo
Niceno-Constantinopolitano para o distinguir tanto da versão de 325 como de
versões posteriores que incluem a cláusula filioque.
Houve vários outros credos elaborados em reação a doutrinas que
apareceram posteriormente como heresias, mas este, na sua revisão de 381, foi
o último em que as comunhões católica e ortodoxa conseguiram concordar em
todos os pontos. O Credo está dividido em 12 partes, das quais sete foram
formuladas no Primeiro Concílio Ecumênico, e as outras cinco no Segundo.
CREDO
Ressuscitou ao terceiro dia,
conforme as escrituras;
Creio em um só Deus, Pai
todo-poderoso, Criador do céu e da E subiu aos céus, onde está
terra, de todas as coisas visíveis e sentado à direita do Pai.
invisíveis.
E de novo há de vir, em sua
Creio em um só Senhor, glória, para julgar os vivos e os
Jesus Cristo, Filho Unigênito de mortos; e o seu reino não terá fim.
Deus, nascido do Pai antes de Creio no Espírito Santo, Senhor que
todos os séculos: Deus de Deus, luz dá a vida, e procede do Pai; e com
da luz, Deus verdadeiro de Deus o Pai e o Filho é adorado e
verdadeiro, gerado não criado, glorificado:
consubstancial ao Pai.
Ele que falou pelos profetas.
Por Ele todas as coisas foram feitas. Creio na Igreja una, santa, católica
e apostólica.
E, por nós, homens, e para a
nossa salvação, desceu dos céus: e Professo um só batismo para
encarnou pelo Espírito Santo, no remissão dos pecados.
seio da Virgem Maria, e se fez
Espero a ressurreição dos
homem.
mortos; E a vida do mundo que há
Também por nós foi de vir.
crucificado sob Pôncio Pilatos;
Amém.
padeceu e foi sepultado.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 29

O Concílio de Calcedônia

O Concílio de Calcedônia inicia em 8 de outubro de 451 e termina em 1o


de novembro de 451, durante o pontificado do Papa Leão I, no império de
Marciano.
O presente Concílio reafirma a cristologia do concílio anterior:
Um só e mesmo Cristo, Senhor, Filho Único que devemos reconhecer em
duas naturezas, sem confusão, sem mudanças, sem divisão, sem separação. A
diferença das naturezas não é de modo algum suprimida pela sua união, mas
antes as propriedades de cada uma são salvaguardadas e reunidas em uma só
pessoa (uma só hipóstase).
Definiu a cristologia afirmando que Jesus Cristo era: "perfeito em
divindade e perfeito em humanidade, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, de
alma racional e corpo, da mesma substância com o Pai segundo a divindade; e
da mesma substância conosco segundo a humanidade, semelhante a nós em
todos os aspectos, sem pecado, gerado do Pai antes de todos os tempos
segundo a divindade".
Em suma, reafirma a cristologia do concílio anterior: “na linha dos santos
padres, ensinamos unanimemente a confessar um só e mesmo Filho, Nosso
Senhor Jesus Cristo, o mesmo perfeito em divindade e perfeito em humanidade,
o mesmo verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, composto de uma
alma racional e de um corpo, consubstancial ao Pai, segundo a divindade,
consubstancial a nós segundo a humanidade, ‘semelhante a nós em tudo com
exceção do pecado’ (Hb 4,15); gerado do Pai antes de todos os séculos segundo
a divindade, e nesses últimos dias, para nós e para nossa salvação, nascido da
Virgem Maria, Mãe de Deus, segundo a humanidade”.
Entretanto, a questão do relacionamento entre o Filho e o Pai resolvida
em Niceia gerou novos questionamentos, agora em torno do relacionamento
entre as naturezas humana e divina de Cristo. Em geral, os teólogos ligados a
Alexandria salientaram a divindade de Cristo, enquanto que os relacionados a
Antioquia, a sua humanidade, às expensas de sua deidade (ALBERIGO, 1997).
A controvérsia se iniciou no ensino de Paulo de Samósata, bispo de
Antioquia. Este ensinava o que se chama de adocionismo ou monarquismo
dinâmico. Jesus era um homem "energizado" pelo Espírito no batismo e assim
exaltado à dignidade divina. Apolinário de Laodiceia foi o primeiro a negar
formalmente que Jesus teve uma alma racional. No seu lugar estava o divino
Logos.
O presente concílio também propôs a condenação da simonia, dos
casamentos mistos e das ordenações absolutas (realizadas sem que o novo
clérigo tivesse determinada função pastoral) (ALBERIGO, 1997).
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 30

OS DEMAIS CONCÍLIOS DA IGREJA CRISTÃ NA ANTIGUIDADE

Segue um quadro com informações mais resumidas sobre os demais


concílios realizados no primeiro milênio:
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 31

A QUEDA DO IMPÉRIO ROMANO

A partir do século III d.C., uma profunda crise se abateu sobre o Império
Romano, levando-o ao enfraquecimento. O comércio enfraqueceu, a falta de
moedas em circulação fez com que o comércio se tornasse difícil devido às
diferenças econômicas entre as províncias orientais e ocidentais.
As dificuldades em proteger e administrar o vastíssimo império, as
crescentes revoltas populares, a falta de escravos nesse período e o fim das
conquistas impossibilitavam o acúmulo de riquezas, levando Roma a uma
situação insustentável. Diante desse quadro, houve uma reforma política e Roma
passou a ter quatro imperadores por um tempo, formando uma tetrarquia.
O imperador Constantino suspendeu a tetrarquia e reformou o governo,
assinou o Édito de Milão (permissão para os cristãos professarem sua fé) e
transferiu a capital do império de Roma para Bizâncio (antiga colônia grega), a
qual passou a se chamar Constantinopla.
Alguns anos mais tarde, o Imperador Teodósio aboliu o culto aos antigos
deuses romanos e tornou o cristianismo a religião oficial de Roma, através do
Édito de Tessalônica em 380, o que significou o nascimento da Igreja Católica
Apostólica Romana ou Igreja Romana.
A respeito da fundação de Constantinopla, o imperador Constantino
compreendeu que a cidade de Roma estava intimamente ligada à adoração
pagã, cheia de templos e estátuas pagãs. Ele desejava uma capital sob os
auspícios da nova religião. Na nova capital, a igreja era honrada e considerada,
não havia templos pagãos.
Logo depois da fundação da nova capital, deu-se a divisão do império. As
fronteiras eram tão grandes que um imperador sozinho não podia defender seu
vastíssimo território. Início da Reforma religiosa.
No ano 395 o império foi definitivamente dividido em dois: Império
Romano do Ocidente, com sede em Roma, e Império Romano do Oriente com
sede em Constantinopla (atual Istambul, Turquia), também conhecido como
Império Bizantino. Roma teria dois imperadores.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 32

Devido à falta de mão de obra escrava e à fragilidade das fronteiras, os


germânicos, que viviam nas fronteiras do império, ingressaram em terras
romanas para trabalharem de forma pacífica. Com o passar do tempo e
percebendo a fragilidade do Império, um grupo de tribos germânicas iniciou um
processo de conquista do império.
Sobre o desenvolvimento do poder na Igreja Romana, Roma reclamava
para si autoridade apostólica. A igreja de Roma era a única que declarava poder
mencionar o nome de dois apóstolos como fundadores, isto é, Pedro e Paulo. A
organização da igreja de Roma e bem assim seus dirigentes defendiam
fortemente estas afirmações. Neste ponto há um contraste notável entre Roma
e Constantinopla.
Roma havia feito os imperadores, ao passo que os imperadores fizeram
Constantinopla. Além disso, Roma apresentava um cristianismo prático.
Nenhuma outra igreja a sobrepujava no cuidado para com os pobres, não
somente com os seus membros, mas também entre os pagãos. Foi assim que
em todo o Ocidente o bispo de Roma começou a ser considerado como
autoridade principal de toda a igreja (LE ROUX, 2013).

ALGUMAS CONSIDERAÇÕES

Como já havia sido apresentado na introdução deste capítulo, nosso


objetivo é realizar um pequeno estudo sobre a história da Igreja Cristã na
Antiguidade, tarefa difícil e complexa, dado o amplo período histórico que temos,
pois são quase cinco séculos de história, fatos e acontecimentos para serem
apresentados em poucas páginas.
Mesmo assim, procuramos da melhor forma possível apresentar ao nobre
leitor os fatos mais relevantes da história da Igreja Cristã na Antiguidade,
procurando desde os fatos históricos e geográficos, bem como a expansão desta
igreja junto ao Império Romano. Apresentamos também a Igreja Cristã diante
das perseguições, período sombrio, mas que também serviu de fortalecimento
interno.
Entendemos que seria oportuno promover um estudo acerca dos três
grandes concílios que ocorreram naquela época, que foram extremamente
relevantes para a história da civilização e da igreja, são eles: Niceia,
Constantinopla e Calcedônia. Por fim, procuramos um rápido estudo sobre as
causas da queda de Constantinopla, a fim de entendê-la.
Não temos aqui a intenção de esgotar o assunto, até porque, como já foi
dito, a presente obra é de caráter de introdução. Aproveitamos e desejamos ao
nobre leitor uma boa leitura, assim como sucesso em seus estudos e reflexões
sobre a história da Igreja Cristã, bem como da Teologia de forma geral.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 33

O PODER PAPAL

Foi com o Papa Gregório I, o Grande, que houve um período de


crescimento do poder papal e que teve o apogeu no tempo de Gregório VII, mais
conhecido por Hildebrando.
Hildebrando reformou o clero, que se havia corrompido, elevou as normas
de moralidade desse clero, exigiu celibato dos sacerdotes, libertou a igreja da
influência do estado, pondo fim à nomeação de papas pelos reis e imperadores.
Hildebrando impôs a supremacia da igreja sobre o Estado. O período de
882 a 903 se caracterizou pela torpe degradação do poder papal, o qual
enfraqueceu notadamente.
Estevão VI, foi aprisionado e morto. Posteriormente, foi eleito o Papa
Marino, cujo pontificado durou apenas alguns meses. João X, feito papa,
procurou ab-rogar os atos de Estevão, e de fato ab-rogou muitos deles. Leão V,
depois de um breve pontificado, foi morto por seu próprio capelão seu sucessor
(PIOPPI, 2012).
No período de 903 a 963, com Sergio III começa a influência perniciosa
de uma aventureira de alta linhagem sobre o governo papal. De 936 a 956 o
papado esteve sob influência de Alberico, que nomeou quatro papas. Um filho
dele, sob o nome de João XIII, assumiu o ofício papal sendo o seu pontificado
havido como um dos mais imorais e licenciosos. Este papa morreu assassinado.
Otão, o Grande, fez sentir a sua interferência no papado em 983, com a
convocação de um sínodo para depor o imoral João XIII e substituí-lo por Leão
VIII. Durante este período, até 1073, foram nomeados vários papas e os
imperadores ficaram no direito de nomear e controlá-los para evitar a dissolução
completa do clero (PIOPPI, 2012).
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 34

As Cruzadas
Podem-se definir as Cruzadas como expedições “militares” e religiosas
organizadas na Europa Ocidental com o objetivo de libertar a Terra Santa dos
muçulmanos, objetivo este que tinha o Papa Urbano II. Com as Cruzadas, o papa
esperava conquistar não só Jerusalém e o Santo Sepulcro, onde Jesus teria sido
sepultado, mas também a liderança da cristandade, tanto do Ocidente, quanto
do Oriente, sobre o imperador e a Igreja bizantina que estava afastada da Igreja
de Roma desde o Cisma do Oriente de 1054 (PIOPPI, 2012).
Com outras palavras, as Cruzadas nada mais eram que um grande
movimento da Idade Média, sob a inspiração e mandado da Igreja, que se
iniciaram no fim do século XI. Conforme Pioppi (2012), ocorreram oito cruzadas:
• A Primeira Cruzada foi anunciada pelo Papa Urbano II, que era composta
de 275.000 dos melhores guerreiros, para combater os sarracenos que tinham
invadido Jerusalém. Após grande batalha, Jerusalém foi reconquistada.
• A Segunda Cruzada foi convocada em virtude das invasões dos
sarracenos às províncias adjacentes ao reino de Jerusalém. Sob a influência de
Luiz VII, da França e Conrado III, da Alemanha, um grande exército foi conduzido
para socorrer os lugares reconhecidos como santos. Enfrentara grandes
dificuldades, mas obtiveram vitória.
• A Terceira Cruzada foi dirigida por Ricardo I, " Coração de Leão", da
Inglaterra e outros como Frederico Barbarroxa, Filipe Augusto. Barbarroxa
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 35

morreu afogado e Filipe desentendeu-se com Ricardo I e voltou para França. A


coragem de Ricardo I, sozinho, não foi suficiente para conduzir seu exército para
Jerusalém. Contudo fez um acordo para que os cristãos tivessem direito a visitar
o santo sepulcro.
• A Quarta Cruzada foi um completo fracasso porque causou grande
prejuízo à Igreja Cristã. Os cruzados afastaram-se do propósito de conquistar a
Terra Santa e fizeram guerra à Constantinopla, conquistaram-na e saquearam-
na. Constantinopla ficou, posteriormente, à mercê dos inimigos.
• Na Quinta Cruzada, Frederico II conduziu um exército até a Palestina e
conseguiu um tratado no qual as cidades de Jerusalém, Haifa, Belém e Nazaré,
eram cedidas aos cristãos, porém 16 anos depois, a cidade de Jerusalém foi
tomada pelos maometanos.
• A Sexta Cruzada foi empreendida por São Luiz. Invadiu a Palestina
através do Egito, mas não obteve êxito, foi derrotado pelos maometanos e
libertado por uma grande soma.
• A Sétima Cruzada teve também a direção de São Luiz, juntamente com
Eduardo I. A rota escolhida foi novamente a África, porém, São Luiz morreu e
Eduardo I voltou para ocupar o trono na Inglaterra e a cruzada teve um fracasso
total.
• A Oitava Cruzada aconteceu no ano de 1270, liderada pelo reinado
francês, o qual chegou até a região do Egito, dominado pelos maometanos.
Entretanto, antes da luta entre estes e os cruzados iniciar, uma peste assolou o
exército cristão, dizimando-o, forçando assim, um acordo de paz.
Cinco grandes movimentos de reformas surgiram na Igreja; contudo, o
mundo não estava preparado para recebê-los, de modo que foram reprimidos
com sangrentas perseguições.
Os albigenses "puritanos" surgiram em 1170, no sul da França, e
rejeitavam a autoridade da tradição, distribuíam o Novo Testamento e se
opunham às doutrinas romanas do purgatório, à adoração de imagens e às
pretensões sacerdotais. O Papa Inocêncio III promoveu uma grande perseguição
contra eles, e a seita foi dissolvida com o assassinato de quase toda a população
da região.
Os valdenses apareceram, ao mesmo tempo, em 1170 com Pedro Valdo
que lia, explicava e distribuía as Escrituras, as quais contrariavam os costumes
e as doutrinas dos católicos romanos. Foram cruelmente perseguidos e expulsos
da França, e apesar das perseguições, permaneceram firmes, e atualmente
constituem uma parte do pequeno grupo de protestantes na Itália (PIOPPI,
2012).
João Wyclif, nascido em 1324, recusava-se a reconhecer a autoridade do
papa. Era contra a doutrina da transubstanciação, considerando o pão e o vinho
meros símbolos. Traduziu o Novo Testamento para a língua inglesa e seus
seguidores foram exterminados por Henrique V.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 36

REFORMA PROTESTANTE

A Reforma Protestante significa o fim da unidade católica, uma ruptura


dessa unidade e o surgimento de novas religiões cristãs dentro da Europa
Ocidental. A Igreja Católica, única unidade religiosa que vinha com grande poder
até o início da idade moderna, fragmentou-se em seu núcleo e em seu seio.
Em 1517, houve a Reforma Protestante, quando na mesma data Martinho
Lutero publicou as 95 teses, criticando o comportamento da Igreja Católica frente
à indulgências, bem como apresentou a tese da livre interpretação da Bíblia.
Esses fatos permitiram o surgimento de novas igrejas, a serem vistos a
seguir. Foi o movimento que rompeu a unidade do Cristianismo centrado pela
Igreja de Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações
econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e
XVI, ou seja, já na Idade Moderna (PIERINI, 1997).

O protestantismo tem como fonte de sua fé a bíblia. Martinho Lutero


condenou imagens dos santos, celibato, latim nas celebrações, entretanto,
manteve o batismo e a eucaristia. Com essas reformas, deu origem ao chamado
Protestantismo Histórico, o qual, além dos luteranos, há também as seguintes
igrejas: Calvinista, Anglicana, Presbiteriana, Batista e a Metodista.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 37

OS CINCO PILARES DA REFORMA PROTESTANTE


• Sola Fide (somente a fé): é pela fé se alcança a salvação. Para os
reformistas, as boas obras são apenas a expressão da crença e não uma
condição para a justificação, que é considerada ato de Deus e fruto da graça.
• Sola Scriptura (somente a Escritura): a Sagrada Escritura era a única
fonte de revelação. Neste sentido, ela é o fundamento doutrinal, quando
interpretada a partir de si mesma.
• Solus Christus (somente Cristo): existe apenas um único mediador,
Jesus Cristo. Os reformistas rejeitam qualquer doutrina que estabelecesse a
intermediação entre Deus e a humanidade, seja ela relacionada à Virgem Maria,
aos santos ou a alguns dos sacramentos.
• Sola Gratia (somente a Graça): a salvação é um dom proveniente da
graça de Deus que foi concedida por meio de Cristo, e não fruto do mérito ou
das obras humanas.
• Soli Deo Gloria (glória somente a Deus): toda glória e louvor deveriam
ser dadas somente a Deus, fonte de toda graça e salvação. Nenhum gesto
correspondente a estas atitudes deveria ser relacionado a seres humanos,
mesmo que tivessem tido uma vida de devoção.
A cisão iniciou-se pelos maus hábitos da Igreja Católica, como a venda de
cargos eclesiásticos. Ao invés de preparar seu clero, a igreja vendeu os cargos
para obtenção de recursos financeiros, permanecendo o clero despreparado
para lidar com a população extremamente carente e teocêntrica (PIERINI, 1997).
A REFORMA RELIGIOSA PROTESTANTE
Antes de adentrarmos na Reforma Religiosa Protestante propriamente,
se faz necessário destacar que tivemos outras tentativas de reformas anteriores
a esta, que, segundo Ferraz (2010), são movimentos que surgiram no interior da
própria Igreja, entretanto, nem a Igreja e nem o mundo estavam preparados para
recebê-los, de modo que foram reprimidos com sangrentas perseguições. Um
exemplo se dá em 1054, onde temos Miguel Keroularios, que rompeu com o
papa, e o início da Igreja Ortodoxa.
A seguir, apresentamos outros reformistas anteriores à Reforma Religiosa
Protestante, com suas respectivas reivindicações, presentes tanto na Idade
Média como no período Renascentista. É importante destacar que as reformas
luteranas, calvinistas e anglicanas foram um rompimento político com Roma e
não apenas religioso.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 38

Segundo Santos (2012), a Reforma Religiosa Protestante foi o movimento


que rompeu a unidade do cristianismo centralizado pela Igreja Católica
Apostólica de Roma. Esse movimento é parte das grandes transformações
econômicas, sociais, culturais e políticas ocorridas na Europa nos séculos XV e
XVI, que enfraqueceram a Igreja, permitindo o surgimento de novas doutrinas
religiosas, embora cada qual tenha sua identidade e interesses.
No início do século XVI, a Igreja Católica revelava diversos problemas e
vícios, pois estava envolvida em uma grave crise interna e mundana, a burguesia
vinha crescendo, o nacionalismo desenvolvia-se nos estados modernos e o
Renascimento Cultural despertava a liberdade de crítica na sociedade. No
entender de Lima (2012), durante a Idade Média, a Igreja Católica foi objeto de
diversos movimentos que se propunham a reformar suas estruturas, procurando
corrigir esses problemas e vícios e voltando a viver de acordo com os ideais do
cristianismo dos primeiros séculos, mas isso não foi possível e a crise
institucional só se agravou cada vez mais.
A invenção da imprensa veio a ser um aliado da Reforma Religiosa
Protestante, que possibilitou a socialização das Escrituras por vários idiomas na
Europa. O Novo Testamento tinha sido traduzido por Martinho Lutero durante o
período em que permaneceu preso. As pessoas que liam a Bíblia se convenciam
de que a Igreja papal estava muito distanciada do ideal do Novo Testamento.
Para Ferraz (2010), uma das forças que conduziram à Reforma foi a
Renascença, levando a Europa para novos interesses: literatura, artes, filosofia,
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 39

racionalismo, ciência, dentre outros. Em outras palavras, tivemos uma mudança


de paradigmas e métodos conceituais significativos que mudaram os rumos do
pensamento europeu, do teocentrismo para o antropocentrismo. Segundo Ferraz
(2010), existiam ainda outras causas e fatos que originaram a Reforma Religiosa,
os primeiros questionamentos são referentes a:
• As Indulgências (documentos assinados pelo papa, que absolviam o
comprador de alguns pecados cometidos, diminuindo o tempo de sua pena no
purgatório, era um comércio em vista da salvação).
• A Simonia, comercialização de coisas sagradas (cargos eclesiásticos,
cobrança por sacramentos, objetos).
• O celibato, culto às imagens, excesso de sacramentos, atitude mundana
do alto clero, dentre outras.
• A Igreja era excessivamente rica e estava demasiado ligada ao poder
político.
• Existia corrupção e imoralidade entre alguns membros da igreja.
• O ideal de pobreza evangélico não era cumprido por muitos religiosos,
que viviam no luxo e na ostentação.
• Os papas e bispos eram escolhidos entre as famílias mais ricas e não
entre os religiosos mais honestos e competentes.
• Existia o alto clero (papas, cardeais, arcebispos, bispos e abades), cujos
representantes vinham quase que só da nobreza, e o baixo clero (padres
paroquiais), integrado por indivíduos das camadas inferiores da sociedade.
• Muitos padres não respeitavam o celibato sacerdotal, viviam como
casados.
• Muitos religiosos tinham uma reduzida formação cultural e intelectual,
assumiam o sacerdócio sem nenhuma preparação prévia.
• O espírito crítico do Renascimento levantou dúvidas sobre certas ideias
da igreja.
• Alguns membros da Igreja ocupavam vários cargos eclesiásticos
simultaneamente.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 40

Segundo Ferraz (2010), a data exata apontada pelos historiadores como


início da Reforma Religiosa foi registrada como 31 de outubro de 1517. Na
manhã desse dia, Martinho Lutero teria afixado na porta da Catedral de
Wittenberg um pergaminho que continha as “noventa e cinco teses”, em que
apresentava seu protesto contra vários pontos da doutrina católica, propondo
uma Reforma na Igreja Católica.
Evidentemente que teve um preço: Lutero foi excomungado por uma bula
do Papa Leão X, no mês de junho de 1520. Pediram então ao eleitor Frederico
da Saxônia que entregasse preso Lutero, a fim de ser julgado e castigado.
Entretanto, em vez de entregar Lutero, Frederico deu-lhe ampla proteção, pois
simpatizava com suas ideias. Martinho Lutero recebeu a excomunhão como um
desafio, classificando-a de "bula execrável do anticristo".
No dia 10 de dezembro, Lutero queimou a bula, em reunião pública, à
porta de Wittenberg, diante de uma assembleia de professores, estudantes e do
povo. Juntamente com a bula, Lutero queimou também cópias dos cânones ou
leis estabelecidas por autoridades romanas. Esse ato constituiu a renúncia
definitiva de Lutero à Igreja Católica Romana (FERRAZ, 2010, p. 27).
A maior divulgação da Bíblia e de outras obras religiosas contribuiu para
a formação de uma vontade mais pessoal da população em conhecer Deus e
atender a Sua vontade, sem a intermediação dos padres e da Igreja, o que levou,
por sua vez, a uma interpretação pessoal da Bíblia.
Os princípios fundamentais da Reforma Protestante são conhecidos como
as Cinco Solas:
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 41

A Reforma Luterana Segundo Lima (2012), a Reforma Religiosa Luterana


foi proposta por Martinho Lutero (1483-1546), que nasceu em Eisleben, na
Saxônia, no dia 10 de novembro de 1483. Lutero era filho de um empreiteiro de
minas que atingiu certa prosperidade econômica. Influenciado pelo pai,
ingressou em 1501 na Universidade de Erfurt, para estudar Direito, mas seu perfil
era para a vida religiosa. Em 1505, após quase ter morrido em uma violenta
tempestade, ingressou na Ordem dos Monges Agostinianos.
Estudioso, metódico e aplicado, Lutero conquistou prestígio intelectual,
tornou-se professor da Universidade de Wittenberg em 1508. Esteve em Roma,
onde conviveu com o alto clero e lá se decepcionou. Aprofundou seus estudos
teológicos a ponto de fundamentar uma nova doutrina religiosa.
Sua inquietação com a corrupção da Igreja da época persistiu, até que
conseguiu formular para o seu drama interior uma teoria da salvação da alma
com base nas epístolas de São Paulo, nas quais encontrou o que procurava em
afirmações como esta: "Nós sustentamos que o homem é justificado pela fé, sem
as obras da lei".
Concluiu Lutero que o homem, corrompido em razão do pecado original,
só poderia salvar-se pela fé incondicional em Deus, "o justo se salvará pela fé".
Somente a fé seria capaz de justificar os pecados e de conduzir à salvação,
graças à misericórdia divina. Dando-se a salvação pela fé e não sendo possível
alguém ter fé em lugar de outrem, a salvação convertia-se numa questão
particular, que dizia respeito apenas a cada um.
Assim, não havia necessidade de padres ou santos, dispensando todos
os intermediários entre Deus e os fiéis e, por isso, foi tida como uma heresia pela
Igreja Católica, como um pecado contra os dogmas da Igreja (LIMA, 2012).
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 42

As ideias de Lutero estariam de acordo com os preceitos do cristianismo


primitivo, o que agradou a muitos nobres do Sacro-Império que, devido às
disputas com o imperador, passaram a confiscar terras da Igreja. Lutero defendia
que o homem estaria sempre condenado em virtude da gravidade que
representou o pecado original, porém, apesar de saber que estava condenado,
o fiel poderia manter a sua fé e com isso salvar a própria alma.
A REFORMA CALVINISTA
Influenciado pelas ideias de Lutero, o francês João Calvino passou a
divulgar uma nova doutrina religiosa em Genebra, na Suíça. Segundo ele, todos
os homens estavam sujeitos à vontade de Deus, sendo apenas alguns os
predestinados à salvação (teoria da predestinação de Santo Agostinho). O sinal
da graça divina estaria em uma vida cheia de virtudes, dentre as quais, o trabalho
diligente, a sobriedade e a parcimônia em relação aos bens materiais.
A Bíblia era a base da doutrina, não sendo necessário um clero regular
para interpretá-la. Na opinião de Calvino, quanto mais sucesso a pessoa possuía
nos negócios, mais próximo da graça de Deus.
• Na França, os calvinistas eram chamados de Huguenotes (calvinistas
confederados).
• Na Inglaterra, eram denominados de Puritanos (protestantes calvinistas
radicais que buscavam a essência das escrituras, defensores da pureza do
indivíduo, da Igreja e dos valores da burguesia).
• Na Escócia, eram os Presbiterianos, termo que advém da palavra grega
presbyteros, que significa ancião, utilizada na entrada das igrejas protestantes
calvinistas da Escócia após a difusão das novas ideias religiosas por John Knox,
antigo aluno de Calvino. O sinal da graça divina estaria em uma vida cheia de
virtudes.
Uma ética religiosa bem recebida pela burguesia da época, bastante
aproximada da ética do capitalismo emergente, buscando inclusive desenvolver
esta ética cristã, primando pela honestidade nos negócios.
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 43

REFERÊNCIAS

ALBERIGO, G. História dos Concílios Ecumênicos. São Paulo: Paulus, 1997.


BETTENCOURT, D. Estevão. As Heresias Cristológicas e Trinitárias. [s.d.].
Disponível em: <http://www.clerus.org/clerus/dati/2009-01/02-
13/As_Heresias_Cristologicas_e_Trinitarias.html>. Acesso em: 28 ago. 2017.
BIHLMEYER, Karl; TUECHLE, Hermann. História da Igreja. V. 2: a Idade Média.
São Paulo: Paulinas, 1964.
COMBY, J. Para ler a história da Igreja I - Das origens ao século XV. São Paulo:
Loyola, 1996.
DREHER, Martin N. A Igreja no Império Romano (Coleção História da Igreja).
São Leopoldo: Sinodal, 1993.
FRÖLICH, Roland. Curso básico de história da Igreja. 4. ed. São Paulo: Paulus,
1987.
HURLBUT, Jesse Lyman. História da Igreja Cristã. São Paulo: Vida, 1979.
LENZENWEGER, J.; STOCKMEIER, P.; AMON, K. História da IgrejaCatólica.
São Paulo: Loyola, 2006.
LE ROUX, Patrick. Império Romano. Tradução de William Lagos. Porto Alegre:
L&PM, 2013.
MATOS, Henrique Cristiano José. Introdução à história da Igreja. V. 1. Belo
Horizonte: O Lutador, 1997.
MONDIN, Battista. Os Grandes Teólogos do Século Vinte. V. 1 e 2. São Paulo:
Paulinas, 1980.
ORLANDIS, J. História Breve do Cristianismo. Rei dos Livros, 1993.
PIERINI, Franco. A Idade Média: curso de história da Igreja. V. 2. São Paulo:
Paulus, 1997.
PIOPPI, Carlo. História da Igreja. Tema 14. MTA-PPKE: Vaticano, 2012.
POTESTÀ, G. L; VIAN, G. História do Cristianismo. São Paulo: Loyola, 2013.
ROGIER, L. J; AUBERT, R; KNOWLES, M. D. Nova história da Igreja. V. 1 e 2.
Petrópolis: Vozes, 1976.
ROMAG, Dagoberto. Compêndio de história da Igreja. V. 2: a Idade Média.
Petrópolis: Vozes, 1950.
STOCKMANN, Luis Henrique. A Sã Doutrina Bíblica. Tabernáculo Evangélico A
HISTORIA DA IGREJA I – Profº Felipe Rodrigues 44

Voz De Deus. Arianismo. [s.d.]. Disponível em: <palavracriativa.org.br/site/wp-


content/uploads/2015/06/ARIANISMO1.pdf>. Acesso em: 24 nov. 2017.
TILLICH, Paul. História do Pensamento Cristão. São Paulo: ASTE, 1988.
WILLIANS, Terri. Cronologia da História Eclesiástica. São Paulo: Vida
Nova,1993.

Você também pode gostar