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Unidade Curricular

HISTÓRIA I
2016 / 2017

António Magalhães 1
HISTÓRIA I
Aula nº 4
SENHORIO E FEUDALIDADE NAS SOCIEDADES EUROPEIAS ENTRE OS
SÉCULOS IX E XIII

• Da crise do Império Romano, às grandes migrações.

• O Império Carolíngio e as transformações do Ocidente.

• Uma estrutura social original: o feudalismo.

• Particularismos do caso português.

• Bibliografia:
• CARPENTIER, Jean, LEBRUN, François (dir.) – História da Europa, Lisboa: Editorial
Estampa, 1996. p. 153-163.
• DUBY, Georges – Guerreiros e camponeses, Lisboa: Editorial Estampa, 1980. p. 173-
193.
• FOURQUIN, Guy – Senhorio e feudalidade na Idade Média, Lisboa: Edições 70, 1987.
p. 63-94, 111-144.
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António Magalhães
OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM
 Identificar alguns constrangimentos potenciadores do declínio
do modelo imperial de Roma.

 Identificar possíveis causas e consequências das migrações


para os domínios do Império Romano do Ocidente.

 Caracterizar o feudalismo enquanto sistema social e político


na Europa do ano mil.

 Explicar a importância da teoria das três ordens na estrutura


feudal.

 Enquadrar o caso português, num tempo de apogeu do


modelo feudal na Europa. 3
António Magalhães
SENHORIO E FEUDALIDADE NAS SOCIEDADES EUROPEIAS ENTRE OS
SÉCULOS IX E XIII
CONCEITOS
BAN
CARTA DE FORAL
CONCELHO
CONSELHO DO REI
COUTO
CÚRIA
FEUDALISMO
HONRA
IMUNIDADE
MONARQUIA FEUDAL
RECONQUISTA
REINO
SENHORIO
SOCIEDADE FEUDAL
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VASSALIDADE António Magalhães
RELEMBRANDO

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António Magalhães
RELEMBRANDO

 Contrariamente à Grécia Antiga, o Império Romano constituía um


Estado único.
 Roma era a grande urbe para onde tudo convergia.
 «Uma
Uma vasta federação de cidades com os seus territórios e com um
governo central em Roma
Roma.» (M. Rostovtzef)
 Após o período da monarquia etrusca, Roma foi governada por um
sistema republicano entre os séculos VI a.C. a I a.C.
 Durante a República foram criadas as principais instituições de
governo:
 Senado,
 Comícios,
 Magistrados.
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António Magalhães
RELEMBRANDO
 O período imperial iniciou-se com Otávio.
 Seguiu uma política hábil no sentido de conseguir o apoio das
instituições tradicionais.
 Assim, foram-lhe concedidos dois títulos:
 civitatis o primeiro dos cidadãos, conseguindo
Princeps civitatis:
acumular várias magistraturas, detendo o imperium, ou seja, o
poder de comandar os exércitos, convocar o Senado e
administrar a justiça.
 Augusto: o divino.
Augusto
 Após a sua morte (ano 14) foi considerado um Deus,
instituindo-se o culto imperial, mais tarde alargado a todo o
Império.
 A divinização do Imperador reforçou os laços entre todos os
habitantes do Império, funcionando como fator de coesão. 7
António Magalhães
RELEMBRANDO

 O pragmatismo romano manifestou-se igualmente no direito,


visando a administração do Império.

 Inicialmente não havia leis escritas, sendo as disposições legais


baseadas na tradição e no costume: o Direito Consuetudinário.

 No século V a.C. houve uma transposição das normas orais para um


suporte escrito, sendo conhecida pela Lei das XII Tábuas
Tábuas.

 Além desta lei, foram produzidas outras disposições legais que


vieram a constituir o Direito Romano.

 O Direito Romano comportava já noções de Direito Privado e de


Direito Público.

 A codificação do Direito contribuiu para integrar os povos


dominados no Império Romano, funcionando como um fator de
união. 8
António Magalhães
RELEMBRANDO
 Ainda que alcançando uma enorme extensão, o Império Romano
dispunha de vários fatores de coesão:
 Cidades fundadas e administradas à imagem de Roma, atraíam as
Cidades:
populações indígenas e difundiam o modo de vida romano.
 Exército e imigração
imigração: os soldados eram portadores e difusores da
cultura romana. Na crise de Roma do século I a.C. vários elementos dos
grupos mais importantes da sociedade romana vieram para a Hispânia.
 Autoridades provinciais
provinciais: procuravam estabelecer um clima de paz,
confiança e tolerância entre os nativos. Fundaram escolas destinadas à
formação dos filhos das elites locais.
 Língua, religião e Direito:
Direito difusão do uso do latim entre os grupos mais
importantes da população indígena, bem como a adoção dos deuses do
panteão romano. O Direito permitia uma uniformização legal que
refletia a mentalidade romana.
 Rede viária
viária: essencial para a administração do território, criando pela
primeira vez na História um espaço económico à escala europeia.
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António Magalhães
RELEMBRANDO
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE

Uma possível resposta:


Cícero, filósofo, orador, jurista e político, viveu entre 106 e 43 a.C., e apresenta
neste texto uma visão muito próxima do entendimento que os gregos tinham
da superioridade do seu modelo de vida.
Na verdade, também Cícero defende a excelência do modelo judicial romano,
considerando-o superior a toda a produção legislativa dos gregos. A esse
respeito elege as Doze Tábuas, a primeira compilação de leis romanas não
escritas, como sendo o elemento destacado dessa superioridade.
Igualmente destaca a “clarividência” das leis romanas, acentuando a
importância do seu direito civil. Cícero teria em vista as grandes características
do direito romano, ou seja, a lucidez dos princípios gerais, o seu pragmatismo e
a abrangência, bem como a separação entre os domínios do direito público e
do direito privado. 10
António Magalhães
RELEMBRANDO
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE - A PROPOSTA DE UMA ALUNA

Cícero foi um político da república romana, eleito cônsul em 63 a.C. com Caio António
Híbrida. Nasceu numa rica família municipal de Roma, de ordem equestre, e foi um
dos maiores oradores e escritores em prosa da Roma antiga. Para ele a lei é o laço de
toda a sociedade, e cuidar daquilo que imprime unidade a determinado grupo social,
deve ser um dos objetivos primordiais do Estado.
Ao nível das leis, os gregos estavam a complicar aquilo que do seu ponto de vista era
simples. Possuíam bibliotecas repletas de filósofos, bem como inúmeras obras para
transmitir aquilo que Cícero conseguiu difundir num “só livrinho”. Como é referido no
texto: “As bibliotecas de todos os filósofos, ultrapassa-as, por Hércules, em meu
entender, um só livrinho, o das Doze Tábuas, fonte e cabeça das nossas leis. (…).”
A lei das Doze Tábuas constituía uma antiga legislação que está na origem do direito
romano. Formava o cerne da constituição da república romana e do mos maiorum
(antigas leis não escritas e regras de conduta). Foi uma das primeiras leis que ditavam
normas eliminando diferenças de classes, atribuindo a tais um grande valor, uma vez
que as ações da lei, apresentando assim, de forma evidente, o seu caráter tipicamente
romano (imediatista, prático e objetivo).
Assim, para Cícero, o conhecimento do direito era fundamental e considerava rude e
ridículo o direito civil dos outros povos. Como é citado no texto: “É inacreditável como
todo o direito civil para além do nosso é rude e quase ridículo.”. 11
António Magalhães
RELEMBRANDO
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE

• Indique alguns aspetos da aculturação dos povos indígenas.


Entendendo-se a aculturação como a assimilação de uma cultura por outra, os povos
que ficaram sob a dominação romana integraram, em diferente grau, alguns dos aspetos
mais marcantes do modelo de sociedade romana. Essas mudanças verificaram-se tanto
nas marcas materiais, como nas culturais.
A construção de equipamentos tendo por matriz o modelo romano, como seja o caso
dos teatros, termas, fóruns, estradas, pontes e outras obras de arte, perdurou no tempo
e ainda hoje se identifica.
A construção desses equipamentos influenciou de forma significativa o dia a dia dos
povos indígenas, visível, por exemplo, na adoção do modelo de vestuário romano.
Finalmente, e não menos importante, deve também ter-se presente a difusão da língua
latina, aquele que constituiu, sem dúvida, o mais duradouro dos legados da civilização
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romana. António Magalhães
SENHORIO E FEUDALIDADE NAS SOCIEDADES
EUROPEIAS ENTRE OS SÉCULOS IX E XIII

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António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

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António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

• A partir da segunda metade do século II, a crise do Império


Romano começou a tornar-se mais evidente.

• Após a morte do imperador Cómodo, em 192, o império


dividiu-se em fações que se guerreavam.

• Surgiu uma epidemia de peste trazida do Oriente pelos


exércitos de Marco Aurélio.

• No século III, reacenderam-se as invasões germânicas.

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António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

• Estas invasões provocaram devastações e um forte clima de


insegurança.

• Muitos proprietários procuravam entesourar os seus


rendimentos, tentando salvar parte do seu património.

• As trocas comerciais diminuíram, a produção dos artifícies


baixou, a população rural tentou proteger-se nas cidades.

• No século III, o cristianismo começa a recompor-se das


perseguições afirmando-se gradualmente dentro do Império.

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António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES
CRISE DO
Resulta de Resulta de
IMPÉRIO
ROMANO
Crise Instabilidade
<
Tem como consequência
económica política

Necessidade
de dinheiro
V

Pressão dos
Corrupção
Produtividade Impostos bárbaros

V V
Crise urbana Ruralização
Crise do > >
Inflação
esclavagismo

V V
Crise Auto
Subida de > comercial > abastecimento
Colonato
preços ^

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António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

• Inicialmente desprezada e perseguida, a religião cristã obtém


liberdade de culto pelo Édito de Milão, em 313.

• Com o imperador Teodósio o cristianismo alcança o estatuto de


religião oficial do império.
• Proibiu os cultos pagãos, destruiu os seus templos e perseguiu os
crentes.

• O mesmo imperador concedeu aos bispos, terras e poderes


semelhantes aos magistrados imperiais.

• Com a destruição do poder imperial, foi o poder da Igreja que


conferiu unidade aos diferentes povos do Ocidente. 18
António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

• A Igreja assumiu na época a defesa e guarda dos valores


clássicos para as gerações vindouras.

• No final do século IV, em 395, por morte do imperador


Teodósio, o império dividiu-se em dois:
• a Ocidente,
Ocidente com a sede do poder em Milão ou Ravena;
• a Oriente,
Oriente com a sede do poder em Constantinopla.

• No século V, Alanos, Vândalos e Suevos, penetram na Península


Ibérica.

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António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

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António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

• Entre os séculos VI e X, a Europa assistiu a grandes movimentos


migratórios de populações que haveriam de originar os diversos
estados europeus.

• No século XI (1054), a Igreja, que tinha sido a grande força


unificadora dos diferentes povos europeus, entrou num processo de
cisão.

• Surge então a Igreja Católica Apostólica Romana, a Ocidente,


enquanto a Oriente, se afirma a Igreja Católica Apostólica Ortodoxa.

• Na margem sul do Mediterrâneo, afirma-se o poder islâmico.

• Muitos dos habitantes das regiões conquistadas foram convertidos


ao Islão, alargando a influência do mundo muçulmano.

• No início do século VIII, os muçulmanos entraram na Península


Ibérica. 21
António Magalhães
DA CRISE DO IMPÉRIO ROMANO, ÀS GRANDES MIGRAÇÕES

• Os primeiros estados bárbaros eram monarquias que, apesar de


manterem mais ou menos presente o Direito romano, tiveram
dificuldades em afirmar o seu poder.
• O poder desses monarcas assentava na capacidade de conduzirem a
guerra, um poder pessoal, com escassa legitimidade institucional.
• Em muitos povos a sucessão oscilava entre a hereditariedade e a
eleição, potenciando o surgimento de querelas e lutas pelo poder.
• Essas disputas favoreciam o desmembramento de reinos e
instabilidade nas fronteiras.
• As fronteiras não tinham a aceção que hoje lhe damos, enquanto
limite territorial de um Estado.
• Nessa época, uma fronteira representava o limite territorial da
suserania de um determinado monarca, variando ao sabor das
heranças, das conquistas e dos conflitos internos.
internos
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António Magalhães
O IMPÉRIO CAROLÍNGIO E AS TRANSFORMAÇÕES DO OCIDENTE

• No início do século IX houve uma primeira tentativa de


restauração do Império Romano do Ocidente.

• A unificação resultou dos esforços da dinastia carolíngia,


originária do nordeste do Reino Franco.
Franco

• Carlos Martel,
Martel o primeiro grande impulsionador dessa tentativa
de reunificação, enfrentou os invasores muçulmanos,
derrotando-os em Poitiers.

• Em 25 de Dezembro de 800, Carlos Magno foi coroado


imperador, em Roma.
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António Magalhães
O IMPÉRIO CAROLÍNGIO E AS TRANSFORMAÇÕES DO OCIDENTE

• Após a morte do seu sucessor, Luís, o Piedoso,


Piedoso em 840, os
sucessores não conseguiram manter a unidade do Império,
procedendo a uma nova partilha do território e do poder.

• Uma nova vaga de invasões, vikings e muçulmanos,


acompanhada do reforço das aristocracias, abafaram a
revitalização do poder público verificado durante o império
carolíngio.

• Um novo período de instabilidade estava iniciado.

• No século X houve uma nova tentativa de reunificação cristã a


partir da Germânia, mas sem grande sucesso. 24
António Magalhães
O IMPÉRIO CAROLÍNGIO E AS TRANSFORMAÇÕES DO OCIDENTE

• O enfraquecimento do poder central contribuiu para a transferência dos


poderes públicos para a esfera dos grandes senhores locais.
• O poder estava cada vez mais fragmentado.
• A necessidade de organizar uma sociedade que se construíra em tempo de
guerra, sem mecanismos de ligação entre o poder soberano e as populações,
potenciou o surgimento de novas formas de poder.
• Os principais senhores locais dispunham dos seus exércitos privados,
garantindo a segurança das suas propriedades e disponibilizando proteção
aos que se localizavam nas imediações.
• Os grandes senhores locais garantiam proteção e as suas dependências,
refúgio em caso de ataques.
• Verifica-se a existência de dois grandes poderes que, ora cooperavam, ora
se afrontavam: o poder do Estado, exercido por um monarca ou por um
imperador, e a nível local, o poder dos grandes senhores.
senhores.
• Este poder local era exercido tanto pelos nobres, como pelos eclesiásticos.
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António Magalhães
UMA ESTRUTURA SOCIAL ORIGINAL: O FEUDALISMO

• O ano mil na Europa tem como traço característico da sua organização


social e política, a afirmação do feudalismo.
• O feudalismo é um termo ambíguo porquanto refere-se a todo o
sistema social e político, como a própria classe social que dominava
esse sistema com todos os ritos que lhe eram peculiares.
• Basicamente a relação feudal estabelecia-se a partir da concessão de
um feudo por um senhor a um vassalo.
• A cerimónia que formalizava essa operação consistia na investidura,
estando-lhe subjacente uma promessa de serviços e fidelidade do
vassalo ao senhor, através da homenagem.
• Todo este cerimonial tinha por cenários os valores profundos da
sociedade feudal: os laços pessoais e a terra.
• A grande propriedade, a autoridade sobre os homens e a
privatização dos poderes, potenciaram o surgimento dos grandes
senhores feudais. 26
António Magalhães
UMA ESTRUTURA SOCIAL ORIGINAL: O FEUDALISMO
• A necessidade de manter exércitos disponíveis para entrar em guerra,
forçou os monarcas a cederem parte do seu poder e territórios a
grandes senhores que financiavam e sustentavam pequenos exércitos.
• O mesmo procedimento era seguido por esses grandes senhores
relativamente a outros colocados num escalão inferior de poder e
domínio.
• Estas cedências eram formalizadas por cerimónias que garantiam a
fidelidade aos acordos estabelecidos e criavam laços de solidariedade
entre os diferentes níveis de poder.
• O enfraquecimento do poder central pela concessão de parte do seu
património, impossibilitava a extensão da soberania, aumentava o
poder dos grandes senhores.
• Enormes territórios passavam a ser administrados e governados com
as mesmas prerrogativas de um poder público central ausente.
• Os grandes senhores passaram a beneficiar de poderes anteriormente 27
António Magalhães
exclusivos dos reis.
UMA ESTRUTURA SOCIAL ORIGINAL: O FEUDALISMO
• O feudalismo assentava num modelo de exploração da terra e de
enquadramento dos homens, o senhorio rural.
rural.
• O grande proprietário concedia terras aos camponeses, parcelas de terreno,
pelas quais ficavam obrigados à prestação de jornadas de trabalho,
pagamentos em espécie e prestações em dinheiro.
• O grande proprietário, possuidor das terras, do castelo que garantia defesa e
proteção, bem como de exércitos privados, podia reivindicar a posse de
poderes públicos, impondo desse modo o seu domínio.
• Esse domínio, classificado como ban, garantia o poder de julgar e punir, tanto
sobre os que trabalhavam as suas terras, como outros senhores menos
poderosos na órbita dos seus domínios.
• Em troca desse domínio e proteção, os senhores recebiam os direitos banais,
resultantes da utilização pelos camponeses dos equipamentos agrícolas do
senhor: lagar, moinhos, forno, ou mesmo equipamentos agrícolas.
• O senhorio cobrava igualmente taxas sobre a circulação de mercadorias, bem
como direitos de passagem sobre pontes ou mesmo em certas vias.
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António Magalhães
UMA ESTRUTURA SOCIAL ORIGINAL: O FEUDALISMO
• O senhorio rural era a base do feudalismo, tanto na sua componente
fundiária, como na componente banal.
• Esta realidade feudal decorria da visão dos pensadores do tempo, sobretudo
da Igreja, justificando que todos ocupavam na terra um determinado estatuto
decorrente da vontade divina.
• A sociedade organizava-se então segundo um modelo assente em três
ordens:
• Clérigos;
• Guerreiros;
• Camponeses e outros trabalhadores.
• Ordem religiosa:
• Composta por clérigos e monges, asseguravam pelo culto e pela oração, a
necessária relação com Deus, ligando a Terra e o Céu.
• A Igreja aumentou a sua influência na sociedade através de grandes reformas
monásticas e religiosas.
• Fundação dos grandes mosteiros: Cluny, em 910 e Cister, em 1098.
• Fundação de ordens mendicantes por S. Domingos (1170-1221) e S. Francisco (1182-
1226). 29
António Magalhães
UMA ESTRUTURA SOCIAL ORIGINAL: O FEUDALISMO
• Ordem guerreira:
• O funcionamento harmónico da sociedade necessitava da presença dos que
garantissem a ordem e a paz.
• A Igreja procurou amenizar a violência do mundo dos guerreiros através do
incentivo à figura do cavaleiro – cavalheiro, os heróis dos romances de cavalaria.
• Ordem dos camponeses e outros trabalhadores:
• Garantiam a sobrevivência da ordem religiosa e da ordem guerreira, trabalhando
a terra no âmbito da aldeia, do senhorio e da paróquia rural.
• Após o desaparecimento da escravidão, por altura do ano 1000, o seu estatuto
jurídico assumia múltiplas variações, entre a servidão e a liberdade.
• Em termos económicos havia enorme diferença entre o mísero jornaleiro,
dependente do trabalho na terra, e o lavrador possuidor de arado e animais que
a puxavam.
• Independentemente do estatuto social e económico, estavam na base da escala,
ao serviço dos senhores de quem dependiam por completo.

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António Magalhães
SENHORIO E FEUDALIDADE NAS SOCIEDADES
EUROPEIAS ENTRE OS SÉCULOS IX E XIII

PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

A península
Ibérica em
meados do
século XII

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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• No século XII, num contexto marcado pela expansão


demográfica europeia, o Condado Portucalense serviu de base
à formação do Reino de Portugal.

• No início do século VIII, os invasores muçulmanos provenientes


do Norte de África, entraram na Península Ibérica, derrotando
os exércitos visigodos, em 711 na batalha de Guadalete.

• Ocuparam praticamente todo o território, à exceção de uma


pequena faixa montanhosa no norte, atual região das Astúrias.

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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• Ainda no primeiro quartel do século VIII, as forças cristãs


iniciaram o processo de reconquista.

• Este movimento teve avanços e recuos, até que em 1249 as


forças portuguesas expulsaram os muçulmanos do Algarve.

• Em 1492, caiu o último reino muçulmano na Península Ibérica


com o fim do Reino de Granada.

• Em resultado do processo de reconquista formaram-se vários


reinos cristãos: Leão, Castela, Navarra e Aragão.

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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS
• No território onde se formou o Reino de Portugal, a
reconquista iniciou-se com D. Afonso Henriques.

• Em 1147, as conquistas de Santarém e Lisboa levaram as


fronteiras até ao rio Tejo.

• O rei seguinte, D. Sancho I, conseguiu estender o território,


chegando a conquistar Silves, embora os muçulmanos tenham
retomado esses territórios, graças à ajuda dos Almóadas, uma
forte dinastia do norte de África.

• No reinado de D. Afonso II, a ajuda de cruzados permite um


novo surto de expansão, conquistando-se Alcácer do Sal.
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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS
• No reinado de D. Sancho II, a ação conjunta dos reis de Leão e
Castela, cortou o apoio às fortalezas muçulmanas do Alentejo e
Algarve, facilitando um novo movimento de reconquista.

• No reinado de D. Afonso III, conseguiu-se a conquista definitiva


do Algarve e a fixação de fronteiras próximas da atualidade.

• Pelo Tratado de Badajoz, em 1267, entre Castela e Portugal, os


primeiros desistiam das pretensões sobre o Algarve, ao passo
que Portugal tinha idêntico procedimento relativamente a
territórios da margem esquerda do Guadiana.

• Em 1297, o Tratado de Alcanises, marcou o fim definitivo das


disputas entre os dois reinos. 36
António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS
• A necessidade de concentrar esforços na Reconquista, não
favoreceu, em Portugal, a formação de um ambiente com
fortes traços de feudalidade.
feudalidade

• Todos os esforços estavam concentrados numa primeira fase


em garantir autonomia, face ao reino de Leão, seguindo-se a
reconquista do território.
• A luta contra os muçulmanos permitiu aos reis legitimar a sua
supremacia interna, mas, não menos importante, obter
vantagens junto do Papa.
• O aumento dos territórios da Reconquista permitia a
distribuição de terras pela nobreza, levando-as a aderir a causa
régia. 37
António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• Por outro lado, as contribuições dos concelhos, tanto em dinheiro


como no auxílio dos cavaleiros vilãos, permitia à Coroa lutar contra
os abusos dos senhorios.
senhorios.

• Dos novos territórios conquistados o rei reservava para si 1/5 dos


terrenos e dos saques obtidos, tornando-se mais ricos perante os
senhores.

• A superioridade do rei manifestava-se igualmente na manutenção da


paz e da justiça, arbitrando conflitos entre nobres.

• Porém, a monarquia portuguesa tinha marcas feudais porquanto o


poder do rei era um poder pessoal, exercendo-
exercendo-o como resultado da
sua linhagem.
linhagem.
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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• Nos dois séculos em que mais se desenvolveram os sucessivos


lances de alargamento do território, a organização política e social
do reino, assentou na figura do concelho e do senhorio.
• Os concelhos eram comunidades que apresentavam grande
diversidade, sendo caracterizadas, em termos de modelo geral,
pela faculdade de se auto governarem elegendo os seus próprios
magistrados, detentores de maior ou menor autonomia.
• A formação de concelhos acompanhou a conquista do território,
favorecendo o povoamento e desenvolvimento económico.
• A carta de foral constituía o documento instituidor de um
concelho, estando aí inscritos os direitos e deveres dos habitantes.
• O rei era o senhor máximo do concelho, pelo que os seus
habitantes procuravam impedir o estabelecimento do domínio
senhorial. 39
António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• A administração do concelho estava geralmente confiada aos


chamados cavaleiros vilãos,
vilãos progressivamente conhecidos por
homens bons,
bons cabendo-lhes o exercício dos cargos e das
magistraturas judiciais.

• Na zona norte do território português houve uma menor


concentração de concelhos, o que se compreende porque era essa a
região de onde partiu o movimento de independência e posterior
reconquista.

• Com a reconquista, o regime senhorial também ganhou expressão


nos novos territórios, devido à necessidade de o rei favorecer alguns
dos grandes senhores que mais ativamente participavam no esforço
40
de guerra. António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• Os novos domínios assumiam a natureza de honras e coutos,


sendo concedidas à nobreza laica e à eclesiástica.

• Estes senhorios dispunham de alguma independência face ao


poder central, inibindo os oficiais régios de penetrarem nos
seus domínios.

• As funções administrativas e judiciais eram exercidas por


funcionários dependentes do senhor local.

• Geralmente, os habitantes de um senhorio estavam isentos da


função militar a não ser junto do respetivo senhor.
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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• Na segunda metade do século XIII e seguinte, a Coroa


portuguesa desenvolveu iniciativas de fortalecimento do seu
poder.

• Iniciadas ainda no tempo de D. Afonso II, continuaram com D.


Sancho II, reinado em que se verificaram violentos confrontos
entre os dois modelos instalados na sociedade portuguesa.

• Os funcionários da Chancelaria régia defendiam a primazia real.

• Os grandes senhores contestavam-na porque viam nela uma


forma de verem cerceados alguns dos seus poderes.
42
António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• Concluído o esforço de guerra, o objetivo prioritário passou a


ser a administração do território, ensaiando-se diferentes
medidas que procuravam limitar os diferentes poderes locais.

• Gradualmente o poder régio sobrepôs-se aos diferentes


poderes regionais.

• Essas tentativas de regulamentação atingiam não só os


domínios senhoriais, como os próprios concelhos.

• As medidas de centralização do poder verificaram-se ao nível


do exercício da justiça, da fiscalidade e da defesa.
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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS

• D. Afonso III reorganizou a justiça, passando a Cúria Régia a


funcionar como tribunal e instância de recurso.

• Os seus juízes atuavam em representação do rei, resolvendo as


apelações provenientes dos juízes concelhios e senhoriais.

• Foi também reorganizada a Fazenda, dividindo-se o território


em almoxarifados, circunscrições territoriais que facilitavam a
cobrança de impostos.

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António Magalhães
PARTICULARISMOS DO CASO PORTUGUÊS
• No reinado de D. Diniz foi prosseguido o esforço de
centralização, sendo criada a figura do besteiro do conto
conto.
• Tratava-se de homens destinados ao exercício de funções
militares, armados à custa dos concelhos e colocados perante o
comando do rei.
• A Coroa passava a contar com um corpo de soldados mais fiéis
e preparados, diminuindo a sua dependência das hostes dos
grandes senhores.
• As novas elites letradas urbanas foram auxiliares da Coroa
neste movimento de redução da autonomia local.
• O desenvolvimento urbano contribuiu para a instalação de uma
nova mentalidade mais aberta a novas regras de sociabilidade.
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António Magalhães
RESUMINDO

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António Magalhães
RESUMINDO
 A partir da segunda metade do século II, a crise do Império Romano,
tornou-se mais evidente.

 A existência de várias fações que se guerreavam, aumentou a


insegurança e potenciou as invasões bárbaras.

 A partir do século III, o cristianismo assumiu o papel de unificador


das diferentes populações do Império Romano.

 No final do século IV o Império Romano dividiu-se em dois: um a


Ocidente, outro a Oriente.

 No século V, Alano, Vândalos e Suevos penetraram na Península


Ibérica.

 No século VIII, a margem sul do Mediterrâneo estava dominada por


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António Magalhães
um novo poder: o poder islâmico.
RESUMINDO

 As monarquias bárbaras, dado o perfil dos soberanos, não


favoreciam a centralização do poder.

 No início do século IX, a dinastia carolíngia, comandada pelo


Imperador Carlos Magno, conseguiu um primeiro renascer do antigo
Império Romano.

 Uma nova vaga de invasões, vikings e muçulmanos, fez esboroar o


que restava do império carolíngio.

 A fragmentação do poder central contribuiu para a transferência dos


poderes públicos para a esfera dos grandes senhores locais.

 A necessidade de organizar uma sociedade que se construíra em


tempo de guerra, sem mecanismos de ligação entre o poder
soberano e as populações, potenciou o surgimento de novas formas
de poder.
48
António Magalhães
RESUMINDO
 O feudalismo foi a resposta a um tempo de insegurança e
atomização do poder.

 Basicamente, a relação feudal estabelecia-se a partir da


concessão de um feudo por um senhor a um vassalo.

 O feudalismo assentava num modelo de exploração da terra e


de enquadramento dos homens, o senhorio rural.

 A sociedade organizava-se então segundo um modelo assente


em três ordens:
Clérigos,
Guerreiros,
49
Camponeses e outros trabalhadores. António Magalhães
RESUMINDO

 No século XII, num contexto marcado pela expansão


demográfica europeia, o Condado Portucalense serviu de base
à formação do Reino de Portugal.

 A necessidade de concentrar esforços na Reconquista, não


favoreceu, em Portugal, a formação de um ambiente com
fortes traços de feudalidade.

 Porém, a monarquia portuguesa tinha marcas feudais


porquanto o poder do rei era um poder pessoal, exercendo-o
como resultado da sua linhagem. 50
António Magalhães
RESUMINDO

 Concluído o esforço de guerra, o objetivo prioritário passou a


ser a administração do território, ensaiando-se diferentes
medidas que procuravam limitar os diferentes poderes locais.

 Nos dois séculos em que mais se desenvolveram os sucessivos


lances de alargamento do território, a organização política e
social do reino assentou na figura do concelho e do senhorio.

 A administração do concelho estava geralmente confiada aos


chamados cavaleiros vilãos, progressivamente conhecidos por
homens bons, cabendo-lhes o exercício dos cargos e das
magistraturas judiciais. 51
António Magalhães
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE

A partir do texto, identifique cada uma das três ordens e justifique a sua importância no
52
funcionamento da estrutura feudal. António Magalhães
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE

Explique as particularidades do caso português, num tempo de apogeu53do


António Magalhães
modelo feudal na Europa.
Fim

Até à
semana!
Obrigado!

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