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Unidade Curricular

HISTÓRIA I
2016 / 2017

António Magalhães 1
HISTÓRIA I
Aula nº 3
A CIDADE NO MUNDO MEDITERRÂNICO ANTIGO: ESPAÇO POLÍTICO E ESPAÇO CULTURAL
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
• A afirmação imperial de uma cultura urbana pragmática.
• Roma, cidade ordenadora de um império urbano.
• A institucionalização do poder imperial. A unidade política, militar e
administrativa do mundo imperial. A diversidade da administração local
e a progressiva extensão da cidadania.
• A codificação do direito.
• A romanização da Península Ibérica e a integração no universo imperial.

• Bibliografia:
• CARPENTIER, Jean, LEBRUN, François (dir.) – História da Europa, Lisboa: Editorial
Estampa, 1996. p. 75-81, 95-121.
• GRIMBERG, Carl – História Universal. O império romano, Lisboa: Publicações Europa
- América, 1966. p. 9-17.
• http://www.vox.com/2014/8/19/5942585/40-maps-that-explain-the-roman-empire 2
António Magalhães
OBJETIVOS DA APRENDIZAGEM

• Compreender a utilidade de um aparelho administrativo


complexo e orientado por leis racionais e pragmáticas.

• Reconhecer a importância das cidades enquanto unidade base


da organização administrativa do império.

• Explicar a importância do Direito romano.

• Identificar e explicar algumas das marcas de influência do


modelo romano na Península Ibérica.

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António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
• Conceitos:
• Conventus
• Culto imperial
• Direito de cidade
• Fórum
• Império

• Município

• Magistraturas

• Pax romana

• República
• Romanização
• Senado
• Triunvirato
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António Magalhães
RELEMBRANDO

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António Magalhães
RELEMBRANDO

• O modelo de vida dos atenienses representava a existência de


um homem livre e responsável, privilegiando uma cultura e
educação que valorizassem o homem e as suas capacidades.

• «A pólis são os cidadãos e não as muralhas nem os barcos


viúvos de homens.
homens.» Teucídides (cª 460 – 400 a.C.).

• A democracia em Atenas assentava no princípio da soberania


popular através da importância conferida à eclésia.

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António Magalhães
RELEMBRANDO
• O recurso ao sorteio para o exercício de funções permitia que
mesmo um humilde cidadão pudesse ascender ao exercício de
funções de responsabilidade.

• O caráter transitório e rotativo dos cargos permitia que muitos


cidadãos fossem chamados à governação e constrangia a
apropriação do poder.

• As leis, aprovadas pela assembleia, refletiam a vontade da


maioria.

• Porém, o modelo ateniense continha imperfeições graves, à luz


dos dias de hoje. 7
António Magalhães
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE

Vejamos quantos elementos são indispensáveis à existência da cidade


[…]:
Em primeiro lugar, as subsistências; depois as artes, indispensáveis à vida,
que precisam de muitos instrumentos; a seguir as armas, sem as quais não se
concebe a associação, para ajudar a autoridade pública no interior contra
facções, e para destruir os inimigos que, do exterior, possa atacar; em quarto
lugar, certa abundância de riquezas, tanto para atender às necessidades
interiores como para a guerra; em quinto lugar, que poderíamos ter posto no
início, o culto divino, ou como costuma ser designado, o sacerdócio;
finalmente, e este é o objecto mais importante, a decisão dos assuntos de
interesse geral e os processos individuais […]
Se um dos elementos numerados faltar, torna-se impossível que a
associação se baste a si mesma.
Aristóteles, A Política

1 - Identifique, segundo Aristóteles, os elementos constituintes da pólis.


2 - Explique o ideal de autarcia da pólis. 8
António Magalhães
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE
Proposta de realização:
1 – Segundo Aristóteles, uma pólis que pretendesse alcançar um modelo de funcionamento
sustentável, tinha de conter um certo número de elementos.
Assim, em primeiro lugar, essa comunidade deveria dispor de “subsistências” ou seja, os alimentos
indispensáveis ao sustento dos habitantes. As “artes”, isto é os diferentes ofícios que permitiam
satisfazer as necessidades da população, também deviam estar bem representados. Igualmente
lembrava a importância de a pólis dispor de elementos de defesa, naquilo que classificava como
sendo as “armas”, fosse para a defesa interna, fosse para fazer face aos inimigos externos.
Importante também era a capacidade de a pólis dispor de “riquezas”, fundamentais para o
financiamento da defesa.
Aristóteles lembra ainda a importância do culto divino, chamando a atenção para o facto de o ter
indicado em quinto lugar mas que poderia ser colocado no topo da lista. Este facto serve para nos
chamar a atenção que, segundo Aristóteles, não há uma hierarquia rígida de elementos, dado que
todos são importantes. Porém, lembrava que, acima de tudo, o elemento fundamental de uma pólis
era a capacidade dessa comunidade em conseguir dar uma resposta satisfatória aos interesses gerais,
sem descurar os interesses de cada cidadão.
Para este filósofo, a ausência de qualquer um destes elementos, tornaria impossível a sobrevivência
da pólis.
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António Magalhães
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE

Elementos Constituintes da pólis


Aristóteles defendia a existência de seis elementos fundamentais para
um funcionamento em pleno da pólis, e que eram considerados
indispensáveis à sua existência. Assim, Aristóteles defendia que era
indispensável a existência de subsistências, ou seja, alimentos; as artes,
nomeadamente os ofícios; as armas, ou por outras palavras, o exército; as
riquezas, ou seja, a capacidade de financiamento; o culto divino
manifestado através da religião e a decisão dos assuntos de interesse
geral e dos processos individuais, isto é, a administração da cidade.
Para Aristóteles, todos estes elementos têm de estar presentes na pólis,
todos são importantes, independentemente da sua hierarquia, e sem eles,
não existe pólis.
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António Magalhães
PROPOSTA DE TRABALHO EM CONTEXTO DE TRABALHO INDEPENDENTE
Proposta de realização:

2 – No entendimento expresso pelo texto de Aristóteles, o ideal de


autarcia desenvolvido pela pólis, deveria conduzi-la a não ter
necessidade de socorrer-se de outras póleis para acorrer às
necessidades fundamentais dos seus habitantes.
Ainda que as póleis gregas mantivessem contactos comerciais com
outras comunidades, isso nunca deveria limitar a sua capacidade de
viverem de forma autónoma, evitando depender da ajuda externa.
Nesse sentido, é defendida a necessidade de cada uma das póleis
desenvolver um conjunto de atividades que lhes permitissem
desenvolver-se autonomamente. 11
António Magalhães
O MODELO ROMANO:
CIDADE E IMPÉRIO

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António Magalhães
Conquista
romana da
Península
Itálica

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António Magalhães
A AFIRMAÇÃO IMPERIAL DE UMA CULTURA URBANA PRAGMÁTICA
A origem de Roma: lenda e arqueologia

• A tradição lendária situa o nascimento de Roma com a


chegada de Eneias, fugido de Troia, e que teria procurado
abrigo no Lácio, em Itália.
• Noutra versão mitológica, a cidade teria sido fundada em 753
a.C., por Rómulo, um descendente de Eneias, sendo coroado
como o seu primeiro rei.
• O conhecimento desses primeiros tempos é trazido pelas
narrativas lendárias.
• A arqueologia documenta a existência de um povoado por
volta do século VIII a.C.
• Do século VIII ao século VI a.C., Roma foi governada por reis.
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António Magalhães
A AFIRMAÇÃO IMPERIAL DE UMA CULTURA URBANA PRAGMÁTICA
A origem de Roma: lenda e arqueologia

• Com a instalação dos Etruscos, surgem as primeiras formas


urbanas.

• A sociedade romana repartia-se entre grandes famílias que


constituíam o patriciado e o resto da população livre, a plebs.

• O poder político estava apenas nas mãos do patriciado.

• O rei Sérvio Túlio, criou novas tribos, a exemplo de Atenas,


desmantelando a organização dos patrícios.

• Em 509 a.C. dá-se a passagem ao regime republicano.


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António Magalhães
A AFIRMAÇÃO IMPERIAL DE UMA CULTURA URBANA PRAGMÁTICA

• Uma cultura pragmática e utilitária.


• A cultura romana impôs-se pela inteligência prática, vocacionada
sobretudo para a resolução dos problemas concretos da vida.
• Forte empenho na atividade política mas com tendência para a
ordem, a disciplina e o poder
ordem poder.
• Gosto pela monumentalidade e opulência no urbanismo e na
arquitetura.
• Hábitos de luxo na sociedade da época imperial.
• Forte influência da cultura helénica.
• As mais importantes criações culturais seguiam o modelo helénico.
• A religião integrou e relacionou deuses gregos no panteão romano.
• Influência na arquitetura. 16
António Magalhães
A AFIRMAÇÃO IMPERIAL DE UMA CULTURA URBANA PRAGMÁTICA

• Uma rede escolar urbana e uniformizada.

• Embora mais programática e oficial, a educação da juventude,


seguia o modelo grego.

• Projeto que visava uma educação que atingisse os planos físico e


intelectual.

• Eclética e humanista.

• A educação iniciava-se em contexto doméstico, recorrendo-se


também a escravos pedagogos, geralmente gregos.

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António Magalhães
A AFIRMAÇÃO IMPERIAL DE UMA CULTURA URBANA PRAGMÁTICA

• A partir dos 7 anos frequentavam a escola pública.

• O “corpo de pedagogos” era composto por três tipos:

• Litterator: ensinava a ler e a escrever.

• Grammaticus: aprofundavam os estudos anteriores,


acrescentando o cálculo e a geometria.

• Rhetor: Completava a formação anterior, acrescentando a


oratória e a retórica, bem como o ensino da língua grega e dos
grandes pensadores helénicos.

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António Magalhães
A AFIRMAÇÃO IMPERIAL DE UMA CULTURA URBANA PRAGMÁTICA

• Os mais dotados e de maiores posses aprofundavam os estudos


com grandes filósofos e matemáticos da época.

• Alguns desses centros de ensino localizavam-se em cidades gregas


ou helenísticas: Atenas, Pérgamo, Rodes, Alexandria.

• Os exercícios físicos eram também muito valorizados, visando


preparar os jovens para a vida militar.

• A partir de Augusto, generalizou-se a existência de ginásios que


disponibilizavam a componente do ensino físico e prática
desportiva.

• Em geral, as raparigas apenas faziam o primeiro patamar dos


estudos, o litterator.
• Algumas, raras, faziam ainda a aprendizagem com o grammaticus.
• Contudo, o mais habitual era fazerem-no em contexto doméstico. 19
António Magalhães
ROMA: CIDADE ORDENADORA DE UM IMPÉRIO URBANO
• A expansão grega materializou-se essencialmente através do
comércio e da colonização cultural.
• A expansão grega foi essencialmente pacífica.
• Os romanos alargaram a sua influência sobretudo através da
guerra..
guerra
• Durante a República (509 a.C. a 27 a.C.) Roma dominou toda a
Península Itálica.
• Desde o século III a.C. e o final do século I, uma sucessão de guerras
e campanhas, permitiu a construção de um dos maiores impérios
da história.
• Os novos territórios eram mantidos em união dentro do império,
graças a um Estado forte e coeso, apoiado numa máquina
administrativa complexa, mas eficaz
eficaz..
• A cidade romana constituía o modelo que favorecia o consolidar
das conquistas das armas. 20
António Magalhães
ROMA: CIDADE ORDENADORA DE UM IMPÉRIO URBANO

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António Magalhães
ROMA: CIDADE ORDENADORA DE UM IMPÉRIO URBANO

• A CONSTRUÇÃO DO IMPÉRIO APOIOU-SE NUM CONJUNTO DE FATORES:


• Exército bem organizado, disciplinado, bem equipado e servindo-se de
uma boa estratégia.
• Excelente gestão dos recursos económicos:
• Desenvolvimento do comércio entre as diferentes regiões;
• Excelente rede rodoviária;
• Rotas marítimas disponíveis para a marinha mercante.
• Organização política e administrativa:
• Replicada nas províncias conquistadas, governadas à imagem de Roma;
• Adoção da língua oficial do conquistador, o latim;
• Aplicação do direito romano escrito;
• Extensão da pax romana a todos os territórios;
• Concessão progressiva da cidadania a todos os habitantes do Império.
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António Magalhães
ROMA: CIDADE ORDENADORA DE UM IMPÉRIO URBANO
• O culto ao Imperador constituía igualmente um fator de coesão.
coesão.
• A excelência da rede de comunicações foi um instrumento
fundamental na consolidação do modelo de poder romano.
romano.

• Facilitava a circulação dos exércitos;

• Permitia a rápida deslocação de magistrados, políticos, artistas,


escritores, que levavam a todo o lado o modelo de sociedade romano;

• Potenciava a deslocação e intercâmbio de gentes, produtos, notícias e


ideias, consolidando a união entre regiões;

• Fazia afluir a Roma todas as riquezas do Império, bem como a cobrança


de impostos e tributos;

• A expressão: “Todos os caminhos vão dar a Roma”, encontra aqui plena


23
justificação. António Magalhães
ROMA: CIDADE ORDENADORA DE UM IMPÉRIO URBANO

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Fonte: PINTO, Ana Lídia, CARVALHO, Maria Manuela, NEVES, Pedro Almiro (coord.) – Cadernos de História, Porto: Porto Editora, 2007. p. 73.:
António Magalhães
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER IMPERIAL

• Contrariamente a Atenas, Roma orientou-


orientou-se para a criação de
um Estado forte e unificado, fazendo reunir numa única
pessoa todos os poderes.
poderes.
• Num primeiro tempo, as instituições da República
aristocrática favoreceram a concentração de poderes.
• O Senado era um órgão deliberativo e consultivo, cuja origem
remontava ao período da monarquia.
• Nesse órgão estavam representadas as mais ilustres famílias
romanas.
• Em situações excecionais admitia-se que o Senado e os
cônsules pudessem nomear um ditador temporário, por um
período não superior a seis meses.
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António Magalhães
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER IMPERIAL

Fonte: PINTO, Ana Lídia, CARVALHO, Maria Manuela, NEVES, Pedro Almiro (coord.) – Cadernos de História, Porto: Porto Editora, 2007. p. 73. 26
António Magalhães
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER IMPERIAL

• Em 27 a.C. ascende ao poder Octávio César Augusto


Augusto.

• Dotado de extraordinárias capacidades políticas como


administrador e reformador.

• No início das suas funções públicas, defendia as antigas leis, o


mos maiorum e identificava-se com a República.

• Percurso de enorme calculismo que lhe permitiu sobrepor-se


aos ideais da República e adquirir poder.

27
António Magalhães
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER IMPERIAL

• Entre 40 e 38 a.C. Octávio conseguiu do Senado uma série de


poderes sobre toda a Itália e o título de Imperador.

• Em 31 a.C. viu os poderes reforçados, detendo o poder de


veto, ou o direito de intercessio, a supremacia sobre o poder
legislativo e o cumprimento das leis.

• Em 27 a.C. o Senado concedeu-lhe o poder de nomear


senadores e outorgou-lhe o título de Augustus.

• Em 12 a.C. recebe o título de Pontifex Maximus, detendo o


poder de fiscalizar os sacerdotes e o culto, bem como a
interpretação da vontade dos deuses.
28
António Magalhães
A INSTITUCIONALIZAÇÃO DO PODER IMPERIAL

• A contradição entre a República e o poder imperial.


imperial.
• A autoridade absoluta de Augusto conferia-lhe um poder quase
divino.

• O culto imperial espalhou-se pelas províncias, funcionando


igualmente como fator de coesão.

• O cargo de imperador, embora por delegação do povo romano,


permitia-lhe nomear o sucessor, fosse familiar direto ou um
protegido por adoção, originando uma sucessão dinástica.

• Contudo, essa faculdade nunca foi reconhecida na lei.

• O Estado imperial, embora formalmente republicano, era uma


monarquia imperial.
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António Magalhães
A UNIDADE POLÍTICA, MILITAR E ADMINISTRATIVA DO MUNDO IMPERIAL
• A partir do Império, estabeleceu-
estabeleceu-se uma organização
administrativa muito eficaz.
eficaz.
• Uma complexa rede de instituições e funcionários.
• O comando e a fiscalização fazia-se a partir de Roma.
• Prevalência do poder pessoal e suprarregional do Imperador.
• O Imperador superintendia os órgãos da administração central:
Senado, Comícios e Magistraturas.

• Senado:
Senado
• Viu diminuídos os poderes e o número de membros.
• Mantinham a força de lei nos pareceres legislativos.
• Administrava localmente Roma, o resto da Itália e províncias
pacificadas.
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António Magalhães
A UNIDADE POLÍTICA, MILITAR E ADMINISTRATIVA DO MUNDO IMPERIAL
• Comícios:
Comícios
• Só funcionavam em Roma e restante Península Itálica.
• Passaram a reunir apenas para a investidura do novo
imperador.
• Conferiam ao novo imperador a tribunícia potestas, ou seja, o
poder tribunício.

• Magistraturas:
• Meros cargos públicos devendo obediência ao Imperador.
• Dependendo do cargo, possuíam dois tipos de autoridade: a
potestas e o imperium.
• Os pretores tinham igualmente o jurisdictio.

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António Magalhães
A UNIDADE POLÍTICA, MILITAR E ADMINISTRATIVA DO MUNDO IMPERIAL

• Novos órgãos do poder imperial na administração central:


central
• Conselho Imperial: órgão deliberativo e consultivo, composto
por senadores e magistrados escolhidos pelo imperador.

• Novo corpo de funcionários recrutados pelo imperador, sendo os


mais importantes, os prefeitos e os legados.
• Prefeito: Responsabiliza-se por vários departamentos da
administração urbana.

• Legado: representante imperial nas províncias.

• Guarda pretoriana: corpo militar privativo do imperador, com


funções de protecção pessoal e defesa da ordem pública em
Roma. 32
António Magalhães
A DIVERSIDADE DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL E A PROGRESSIVA EXTENSÃO
DA CIDADANIA.

Fonte: PINTO, Ana Lídia, CARVALHO, Maria Manuela, NEVES, Pedro Almiro (coord.) – Cadernos de História, Porto: Porto Editora, 2007. p. 81.

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António Magalhães
A DIVERSIDADE DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL E A PROGRESSIVA EXTENSÃO
DA CIDADANIA.

• A administração local, embora subordinada ao modelo


imposto por Roma, assumia diferentes configurações
configurações..

• Roma e Península Itálica: administrada diretamente pelo Senado


e supervisionada por funcionários imperiais.

• Províncias Senatoriais: administradas por procônsules nomeados


pelo Senado.

• Províncias Imperiais: as de mais recente conquista ou que


ofereciam especiais dificuldades de integração eram governadas
por legados. 34
António Magalhães
A DIVERSIDADE DA ADMINISTRAÇÃO LOCAL E A PROGRESSIVA EXTENSÃO
DA CIDADANIA.
• As cidades seguiam, no geral, o modelo organizativo de Roma.
Roma.
• As cidades do império, localizadas fora da Península Itálica, possuíam
estatutos de autonomia diferentes, dependendo do estatuto jurídico
dos seus habitantes e das relações que estabeleciam com Roma.
• Colónias cidades fundadas e povoadas por cidadãos romanos,
Colónias:
soldados, veteranos de guerra ou funcionários provinciais beneficiados
com lotes de terra.
• Os habitantes gozavam de plena cidadania.
• Constituíam, à escala, réplicas de Roma.
• Municípios: cidades provinciais habitadas por indígenas.
Municípios
• Podiam dispor dos mesmos direitos civis dos cidadãos de Roma, podiam
eleger mas não ser eleitos.
• Alguns dos municípios gozavam de todos os direitos de cidadania.
• Cidades povoadas por não cidadãos:
cidadãos podiam ter um estatuto de
absoluta sujeição a Roma, ou beneficiar de alguma autonomia
administrativa. 35
António Magalhães
A CODIFICAÇÃO DO DIREITO

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António Magalhães
A CODIFICAÇÃO DO DIREITO

• A centralização política durante o Império resultou em grande


parte da adoção da Lei Romana.
• Conjunto de normas aplicáveis em todo o mundo romano.
• Progressiva uniformização dos procedimentos judiciais e dos
tribunais.
• Sobrepunha-se aos diversos direitos locais.
• O direito romano compreendia já o direito público e o direito
privado.
• Principais características da Lei Romana:
• Racionalidade: lucidez dos princípios gerais.
• Pragmatismo: resposta a situações concretas do quotidiano.
• Abrangência: dava resposta a situações complexas a todos os
níveis. 37
António Magalhães
A CODIFICAÇÃO DO DIREITO

• O Direito Romano resultou da compilação e aperfeiçoamento de


diferentes fontes jurídicas utilizadas pelos romanos ao longo dos
tempos.
• Lei das Doze Tábuas: a principal e mais antiga compilação, foi redigida
em 450 a.C., durante a República.

• A administração da justiça acompanhava a tendência centralizadora


do Estado romano, sobretudo durante o Império.
• A administração da justiça estava tendencialmente atribuída a
funcionários imperiais.

• Era reconhecido o direito de apelação perante os tribunais


presididos pelo Senado.

• Ao Imperador cabia o último recurso.

• O Imperador era o Juiz Supremo, centralizando todo o poder


judicial. 38
António Magalhães
A CODIFICAÇÃO DO DIREITO
• O direito de cidade era inicialmente uma prerrogativa de habitantes
de Roma
Roma..
• No século I a.C. foi estendido a todos os habitantes da Península Itálica.
• Gradualmente foi alargado a estrangeiros que se distinguissem por atos
de bravura e serviços ao Império.
• Em 212, o Imperador Caracala estendeu a cidadania a todos os
habitantes livres do Império.
• A extensão da cidadania foi um processo lento que visava
visava:
• Abolir as distinções do nascimento conferindo igualdade legal a todos
os cidadãos romanos.
• Facultar o acesso ao Senado e às magistraturas aos cidadãos livres que
tivessem posses para esse desempenho.
• Obrigar todos os cidadãos ao recenseamento civil e fiscal.
• Fazer depender do montante do imposto pago, a possibilidade de ser
eleito para cargos públicos e políticos.
• Estabelecia-se uma nova estratificação social baseada na fortuna pessoal.
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António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA
PENÍNSULA IBÉRICA E A
INTEGRAÇÃO NO UNIVERSO
IMPERIAL

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António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA E A INTEGRAÇÃO NO UNIVERSO IMPERIAL

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António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA E A INTEGRAÇÃO NO
UNIVERSO IMPERIAL

• O domínio sobre os territórios conquistados resultou de um


regime administrativo que mantinha uma estrutura comum
em centros urbanos erigidos à imagem de Roma
Roma..

• A pax romana, as leis do Império e a língua comum, o latim,


favoreciam a integração das províncias.

• Militares, mercadores, colonos, vindos de Roma e de outras


partes de Itália, aceleravam o processo de romanização.

42
António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA E A INTEGRAÇÃO NO
UNIVERSO IMPERIAL

• A conquista da Península Ibérica iniciou-se no final do século


III a.C., tendo sido concluído apenas no século I a.C., com o
domínio das Astúrias.

• Tal como no restante Império, o território foi dividido em três


províncias, subdivididas em conventus.

• Fundaram colónias, ou seja, cidades habitadas por romanos, e


villae, povoações rústicas.

43
António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA E A INTEGRAÇÃO NO
UNIVERSO IMPERIAL

• O atual território de Portugal estava dividido em duas


províncias: Lusitânia e Galécia.

• Nestas havia três conventus: Pacensis, com sede em Pax Julia,


actual Beja, Scalabitanus, com sede em Scalabis, atual
Santarém e Bracarum, em Bracara Augusta, a atual cidade de
Braga.

• Na segunda metade do século I, fundam-se novas cidades,


como Aquae Flaviae, Chaves.

44
António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA E A INTEGRAÇÃO NO
UNIVERSO IMPERIAL
• Em muitas cidades portuguesas há vestígios da ocupação
romana:

• Ebora ou Felicitas Julia, a atual cidade


de Évora, com um templo dedicado ao
culto ao Imperador, vulgarmente
conhecido pelo Templo de Diana.
• Em Chaves, a ponte mandada construir por Trajano e que ainda se
mantém.

• As ruínas de Caetobriga, na zona de Tróia.


• Muitas outras marcas de norte a sul. 45
António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA E A INTEGRAÇÃO NO
UNIVERSO IMPERIAL

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António Magalhães
A ROMANIZAÇÃO DA PENÍNSULA IBÉRICA E A INTEGRAÇÃO NO
UNIVERSO IMPERIAL
• A romanização implicou uma profunda transformação cultural
e material
material..
• Alteração do regime de propriedade ---» de comunitária a
individual.
• Novas culturas: oliveira e vinha.
• Economia comercial e monetária --» visível na grande
quantidade de moedas encontradas.
• Desenvolvimento de atividades mineiras, em Jales na zona de
Vila Pouca de Aguiar, e S. Brás de Alportel, no Algarve.
• Desenvolvimento da pesca e atividade conserveira.
• Um novo estilo de vida decalcado dos romanos, visível nos
vestígios de teatros, termas, balneários.
• Difusão do latim, falado e escrito, o mais duradouro dos
47
legados. António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
O MODELO ROMANO

UNIDADE POLÍTICA IMPÉRIO ROMANO UNIDADE CULTURAL


Século I a.C. - V

IMPERADOR ROMA ROMANIZAÇÃO

* Glorificação do Imperador
Otávio Augusto apoiado por: Províncias imperiais da Ibéria:
* Exército e imigração
* Senado * Lusitânia
* Tarraconensis
* Urbanismo padronizado
* Comícios * Baetica
* Língua latina

* Direito - Lei da XII Tábuas


Autoridades Provinciais: Cidade imperiais:
* Rede viária
* Governadores de província * Colónias
* Sistema de ensino público
* Municípios
* Magistrados urbanos * Cidades estipendiárias
* Religião (politeísta / cristã)
48
António Magalhães
RESUMINDO

49
António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
RESUMINDO

• Representando uma diferença significativa quando


comparada com a civilização grega, a civilização romana
apresentou desde os primeiros tempos, um forte sinal de
unificação, características imperialistas e mesmo totalitárias.

• Desde o surgimento, crê-se no século VIII a.C., Roma foi


crescendo até atingir uma posição hegemónica no mundo
conhecido da época, marcando o Mar Mediterrâneo o seu
eixo central.

50
António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
RESUMINDO

• Roma alcançou a independência dos reis etruscos em 527 a.C.,


instalando a República que durará até 27 a.C.

• A partir dessa data dá-se a evolução para um poder imperial,


ainda que dentro da legalidade republicana.

• A incapacidade do Senado e dos seus cônsules em manterem


a ordem política e social num espaço geográfico plurifacetado
e alargado, potenciou o surgimento do poder imperial.

51
António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
RESUMINDO

• A autoridade imperial surge com Octávio César Augusto,


afirmando-se como autocrática, absoluta e de carácter dinástico.

• Igualmente conseguiu reunir poderes que lhe deram uma


configuração quase divina, acabando por originar o culto do
imperador.

• A pacificação e fiscalização dos territórios conquistados realizou-


se graças a uma permanente vigilância militar, um aparelho
administrativo organizado e centralizado, o recurso ao Direito
Romano e a progressiva extensão do “direito de cidade”. 52
António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
RESUMINDO

• Em todo o império as cidades eram os centros administrativos,


assumindo diferentes estatutos.

• As cidades do império foram criadas à imagem e semelhança


de Roma, sobretudo os municípios, possuindo a mesma
organização e o mesmo tipo de equipamentos: fóruns,
tribunais, escolas, bibliotecas, ginásios, teatros, circos, termas
e aquedutos.

53
António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
RESUMINDO

• O domínio sobre os territórios conquistados resultou de um


regime administrativo que mantinha uma estrutura comum em
centros urbanos erigidos à imagem de Roma.

• Na Península Ibérica, e em muitas cidades portuguesas, há


vestígios materiais da ocupação romana.

• A romanização implicou uma profunda transformação cultural


e material, chegando algumas dessas marcas até aos nossos
dias, sendo a mais evidente, a origem latina da língua
portuguesa. 54
António Magalhães
PROPOSTAS DE TRABALHO EM
CONTEXTO DE TRABALHO
INDEPENDENTE

55
António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
PROPOSTA DE TRABALHO

Analise o texto e responda.

• Q

• Qual a opinião de Cícero sobre as leis romanas? Justifique.

56
António Magalhães
O MODELO ROMANO: CIDADE E IMPÉRIO
PROPOSTA DE TRABALHO
Analise o texto e responda.

• Qual foi a importância dos governadores de província na romanização?


• Indique alguns aspetos da aculturação dos povos indígenas. 57
António Magalhães
Fim

Até à semana!

Obrigado!

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