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Nos territórios norte ocidentais do Império Romano - Itália, Gália, Germânia e


Bretanha, que depois do século V são ocupados pelos reinos bárbaros e depois do século VII
resistem às conquistas dos árabes, mas se acham isolados à margem do antigo mundo
civilizado - a vida das cidades diminui e, em muitos casos, se interrompe. Mais tarde, depois
do ano 1000, nesta área - que se torna a Europa moderna - forma-se uma nova vida
econômica e civil, e as cidades voltam a se desenvolver: mas aqui, diferentemente do que
ocorre nas outras zonas do Mediterrâneo, a crise intermédia criou uma fratura entre os dois
períodos de desenvolvimento.
Em muitos casos, a nova cidade cresce sobre o traçado da antiga, mas com um
caráter social e uma organização de construção diversos, que pelo contrário se ligam, sem
interrupção, ao caráter e ao cenário da cidade contemporânea. O que fica da cidade antiga é
uma série de ruínas, que se estudam e se visitam mas não funcionam mais como parte da
cidade atual. Ao contrário, as cidades medievais - mesmo as que permaneceram
substancialmente intactas como Viterbo, Siena, Gubbio, ou Chartres, Bruges - ainda são
habitadas e conservam muitas das tradições originais. Algumas cresceram e se tornaram
grandes metrópoles modernas - Paris e Londres - e o conjunto habitacional da Idade Média
é, apenas, um pequeno núcleo central; mas alguns caracteres estabelecidos na Idade Média
influenciam ainda, de modo surpreendente, o organismo muito maior da cidade
contemporânea. Basta considerar a divisão de Paris em três partes: a cité na ilha, a ville na
margem direita do Sena, a université na margem esquerda; e a divisão de Londres em duas
partes: a city, sede do poder econômico, e Westminster, sede do poder político.
Da relação com o presente nasce o interesse, e também a dificuldade do estudo da
cidade medieval. O que se deve estudar não é uma cidade morta, mas uma cidade ainda viva
em parte, no interior da cidade atual. Por outro lado, uma cidade morta como Priene, Óstia
antiga, Pompeia, Timgad, pode ser escavada e reconstruída com grande exatidão uma
ciência especial, a arqueologia, trabalha há dois séculos para isso; ao contrário, uma cidade
viva como Siena ou San Gimignano não pode ser desobstruída para deixar o campo livre aos
estudiosos: as casas foram modificadas umas cem vezes, para adaptá-las às necessidades
dos habitantes, nas várias épocas, e nunca se pensou
- ou somente se começa a fazê-lo - em estudar e a traçar com precisão suas estradas e seus
edifícios. Em muitos casos se conhecem e se estudam somente os "monumentos": as
catedrais, os palácios. Bairros medievais inteiros foram demolidos nos últimos cem anos, sem
ao menos conservar seus desenhos ou fotografias.
Devemos utilizar, pois, uma documentação mais incerta e mais limitada, mas estas
insuficiências podem ser corrigidas com a experiência direta: pode-se

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passear pela Praça do Campo em Siena, ao redor da Catedral de Chartres, pelas ruas de
Perugia, de Assis, de Orvieto, e encontrar os descendentes dos cidadãos de então, que
moram por vezes nas mesmas casas e trabalham nas mesmas oficinas.
O efeito mais evidente da crise econômica e política, nos primeiros cinco séculos
depois da queda do império romano, é a ruína das cidades e a dispersão dos habitantes pelos
campos, onde podem extrair da terra seu sustento.
O campo é dividido em grandes propriedades (de 5.000 hectares em média, ou
maiores), que compreendem várias centenas de quintas. Ao centro se encontra a residência
habitual do proprietário - a catedral. a abadia, o castelo - mas as possessões são muitas
vezes espalhadas a grandes distâncias, e cada porção é governada por uma "corte" (cour na
França, Hof na Alemanha, manor na Inglaterra); aqui são agrupados os celeiros, os estábulos,
as habitações do pessoal e do administrador (major), responsável perante o proprietário. O
território que depende de cada corte é dividido em três partes: as terras reservadas ao senhor,
as divididas em fazendas entre as famílias dos camponeses dependentes do senhor, e as
zonas não cultivadas (communia, isto é, bosques, pântanos, pradarias), onde todos podem
catar lenha, apascentar o gado, colher as frutas selvagens.
Nesta sociedade rural, que forma a base da organização política feudal, as cidades
têm um lugar

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marginal: não funcionam mais como centros administrativos, e em mínima parte como
centros de produção e de troca. Mas as estruturas físicas das cidades romanas ainda estão
de pé, e se tornam locais de refúgio; os grandes edifícios públicos da Antiguidade - termas.
teatros, anfiteatros - se transformam em fortalezas; os muros são mantidos com eficiência ou
são reduzidos para defender uma parte limitada da cidade, ligando entre si as bases
fortificadas mais importantes. As igrejas cristãs surgem muitas vezes no exterior, perto das
tumbas dos santos, que pelas leis romanas não podiam ser sepultadas na cidade - e também
as sedes dos bispos, nos primeiros tempos, ficam fora do recinto da cidade (Figs. 537-541).

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Enquanto desaparece a diferença jurídica entre cidade e campo, também a diferença


física entre os dois ambientes se torna cada vez menor. A disposição das amenidades
urbanas, menores e mais pobres, nas estruturas demasiado amplas das cidades romanas e
a formação das aldeias rurais nos lugares propícios do ambiente natural - no topo de uma
colina, na confluência de dois rios - se desenvolve de modo muito semelhante.
Em ambos os casos é preciso notar o caráter espontâneo, despreocupado e
infinitamente variável da construção e do urbanismo; este caráter depende da Escassez dos
meios, da raridade dos técnicos especialistas, da falta de uma cultura artística organizada, da
urgência das necessidades de defesa e de sobrevivência, mas também de um novo espírito
de liberdade e de confiança. As novas instalações se adaptam com segurança ao ambiente
natural e entre as ruínas do ambiente construído antigo, não respeitam nenhuma regra
preconcebida, seguem com indiferença as formas irregulares do terreno e as formas
regulares dos manufaturados romanos; enfim, apagam toda diferença entre natureza e
geometria, isto é, deformam com pequenas irregularidades as linhas precisas dos
monumentos e das estradas antigas e simplificam as formas imprecisas da paisagem,
marcando as linhas gerais dos dorsos montanhosos, das enseadas, dos cursos de
água.

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No final do século X. começa o renascimento econômico da Europa. A população


aumenta (de cerca de 22 milhões em 950 para cerca de 55 milhões em 1350), a produção
agrícola aumenta, a indústria e o comércio adquirem nova importância.
Os historiadores evidenciam várias ordens de causas, dependentes entre si:
-a estabilização dos últimos povos invasores, os árabes, os vikings e os húngaros;
- as inovações técnicas na agricultura: a rotação trienal das culturas, os novos sistemas de
encangar o cavalo e o boi, a difusão dos moinhos de água;
- a influência das cidades marinhas (Veneza, Gênova. Pisa. Amalfi) que mantiveram os
contatos com o comércio internacional do Mediterrâneo, e incentivam o renascimento das
outras cidades como centros comerciais.
Esta transformação muda radicalmente o sistema das possessões, seja na cidade
seja no campo. Iremos descrevê-los separadamente nos dois próximos parágrafos.

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1. O DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES.ESTADO

Uma parte da nova população, que não encontra trabalho nos campos, refugia-se nas
cidades: cresce assim a massa dos artesãos e dos mercadores, que vivem à margem da
organização feudal.
A cidade fortificada da Alta Idade Média - da qual se adapta bem o nome de burgo - é
por demais pequena para acolhê-los; formam-se, assim, diante das portas outros
estabelecimentos, que se chamam subúrbios e em breve se tornam maiores que o núcleo
original. É necessário construir um novo cinturão de muros, incluindo os subúrbios e as outras
instalações (igrejas, abadias, castelos) fora do velho recinto. A nova cidade assim formada
continua a crescer da mesma forma, e constrói outros cinturões de muros cada vez mais
amplos.
Nesta cidade, a população artesã e mercantil - a burguesia, como será chamada -
está em maioria desde o início; pretende, pois, se subtrair ao sistema político feudal, e garantir
as condições para sua atividade econômica: a liberdade pessoal, a autonomia judiciária, a
autonomia administrativa, um sistema de taxas proporcionais as rendas e destinadas a obras
de utilidade pública (entre os quais, em primeiro lugar, as da defesa: as fortificações e os
armamentos).

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A nova organização surge, num primeiro tempo, como associação privada, depois se
embate com os bispos e os príncipes feudais, e se torna um poder público: nasce a comuna,
isto é, um Estado com uma lei própria, superior as prerrogativas das pessoas e dos grupos,
embora respeitando os privilégios econômicos.
Os órgãos do governo da cidade são:
1) um conselho maior, formado pelos representantes das famílias mais importantes;
2) um conselho menor, que funciona como junta executiva;
3) um certo número de magistrados eleitos ou sorteados: os consoli na Itália, os jurés na
França, os échevins em Flandres.
A eles se contrapõem às associações que representam uma parte dos cidadãos: as
corporações (arti na Itália, gilds na Inglaterra, Zünfte na Alemanha) e as companhias do povo
armado, que nomeiam um seu magistrado, o capitão do povo. Subsiste então, ao lado do
poder civil, o poder religioso dos bispos e das ordens monásticas, que têm igualmente sua
sede na cidade. Como árbitro entre os conflitos dos corpos políticos das classes é chamado,
em certos casos, um magistrado forasteiro, o potestade.
A cidade Estado medieval depende do campo para o abastecimento de víveres, e
controla de fato um território mais ou menos grande; mas, diferentemente da cidade grega,
não concede paridade de direitos aos habitantes dos campos. Permanece uma "cidade
fechada" (como foi definida): suas relações econômicas e políticas podem ser estendidas à
escala nacional ou mundial, mas sua política permanece guiada pelos interesses restritos da
população urbana. Também esta população, por sua vez, não é um corpo unitário que possa
pronunciar-se em comum, como a assembléia nas cidades democráticas gregas; a classe
dominante representada nos conselhos se amplia progressivamente, mas não chega a
compreender os trabalhadores assalariados; quando estes entram em luta pelo poder
- durante a crise econômica da segunda metade do século XIV - são derrotados em toda parte
e o governo cai em mãos de um grupo de famílias aristocráticas ou de uma única família: da
comuna se evolui para senhoria.

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2. A COLONIZAÇÃO DO TERRITÓRIO AGRÍCOLA

O desenvolvimento das cidades promove e acelera as mudanças nos campos. A


cidade mercantil importa víveres e matérias-primas e exporta os produtos da indústria e do
comércio. Os campos - pelas exigências destas trocas e pelo crescimento geral da população
- devem aumentar a produção agrícola: colonizar novas terras, e aproveitar, de modo mais
racional, as já cultivadas.
A antiga organização das cortes não se adapta a estas tarefas, ao contrário, entra em
crise porque se baseia sobre uma economia auto-suficiente: cada empresa cultiva todos os
produtos agrícolas e produz os instrumentos necessários ao seu consumo. As cortes
hospedam agora um número crescente de trabalhadores livres, vindos de fora, e os
proprietários fundam para eles as cidades novas, nos terrenos livres a serem melhorados e
cultivados.
Embora constituídas pelos proprietários das cortes, as cidades novas não reproduzem
a mesma organização: garantem a liberdade pessoal dos trabalhadores, têm um governo
autônomo e são administradas por um magistrado eleito, quase sempre, pelos próprios
habitantes. Imitam a organização municipal das cidades Estado, mesmo que fiquem sujeitas
a lei feudal no campo político e judiciário.

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Outras cidades novas são fundadas na periferia do mundo europeu, por motivos econômicos
ou militares:
1) as bastides na França Meridional, por iniciativa dos reis e dos feudatários franceses e
ingleses que se combatem na Guerra dos Cem Anos;
2) as poblaciones na Espanha, nos territórios que os príncipes cristãos tomam pouco a pouco
dos muçul-manos;
3) as cidades de colonização na Alemanha Oriental, conquistadas aos Eslavos pelos
cavaleiros da ordem Teutônica (Fig. 554).
O desenvolvimento das cidades-Estado e a fundação das cidades novas nos campos
se interrompe por volta da metade do século XIV, devido a uma brusca diminuição da
população - por causa de uma série de epidemias, e sobretudo devido à grande peste de
1348-49 - e ao declínio da atividade econômica. Veremos os sinais desta interrupção no
organismo físico das cidades.

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A orientação da cultura medieval, que não tende a estabelecer modelos formais como
a cultura antiga, torna impossível uma descrição geral da forma da cidade. As cidades
medievais têm todas as formas possíveis, e se adaptam livremente a todas as circunstâncias
históricas e geográficas, como já havíamos notado.
Podem-se porém catalogar alguns caracteres gerais, a relacionar com os caracteres
políticos e econômicos descritos anteriormente.

(1) As cidades medievais têm uma rede de ruas não menos irregular que a das cidades
muçulmanas. Porém, as ruas são organizadas de modo a formar um espaço unitário, no qual
sempre é possível orientar-se e ter uma idéia geral do bairro ou da cidade. As ruas não são
todas iguais, mas existe uma gradação contínua de artérias principais e secundárias, as
praças não são recintos independentes das ruas, mas largos ligados estreitamente às ruas
que para elas convergem. Somente as ruas secundárias são simples passagens: todas as
outras se prestam a vários usos: ao tráfego, a parada, ao comércio, às reuniões. As casas,
quase sempre de muitos andares, se abrem para o espaço público e têm uma fachada que
contribui para formar o ambiente da rua ou da praça (Fig. 572).
Os espaços públicos e privados não formam, pois, zonas contíguas e separadas,
como na cidade antiga: existe um espaço público comum, complexo e unitário, que se espalha
por toda a cidade e no qual se apresentam todos os edifícios públicos e privados, com seus
eventuais espaços internos, pátios ou jardins.
Este novo equilíbrio entre os dois espaços depende do compromisso entre a lei
pública e os interesses privados. De fato, os estatutos comunais regulam minuciosamente os
pontos de contato entre o espaço público e os edifícios privados, e as zonas em que os dois
interesses se sobrepõem: as saliências das casas que cobrem uma parte da rua, os pórticos,
as escadas externas, etc.

2) O espaço público da cidade tem uma estrutura complexa, porque deve dar lugar a diversos
poderes: o episcopado, o governo municipal, as ordens religiosas, as corporações. Assim,
uma cidade bastante grande nunca tem um único centro: tem um centro religioso (com a
catedral e o palácio episcopal), um centro civil (com o palácio municipal), um ou mais centros
comerciais com as loias e os palácios das associações mercantis. Estas zonas podem ser
sobrepostas em parte, mas a contraposição entre o poder civil e religioso - que não existe na
Antiguidade - é sempre mais ou menos acentuada.
Cada cidade é dividida em bairros, que têm sua fisionomia individual, seus símbolos
e muitas vezes também sua organização política. No século XIII, quando as cidades se
tornam maiores, formam-se nos bairros periféricos alguns centros secundários: são os
conventos das novas ordens religiosas - os franciscanos, os dominicanos, os servitas - com
suas igrejas e suas praças.

3) A cidade medieval é um corpo político privilegiado, e a burguesia da cidade é uma minoria


da população total, que cresce rápida e continuamente desde o início do século XI até a
metade do século XIV. Portanto, a concentração é sua lei fundamental: o centro da cidade é
o local mais procurado as classes mais abastadas moram no centro, as mais pobres na
periferia; no centro se constroem algumas estruturas muito altas - a torre do palácio municipal
o campanário ou os

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zimbórios da catedral - que assinalam o ponto culminante do perfil da cidade e unificam o seu
cenário também na terceira dimensão.
Toda cidade deve ter um cinturão de muros para se defender do mundo exterior, e
enquanto cresce deve construir muitos cinturões concêntricos; estes muros, que são a obra
pública mais cara, têm quase sempre um traçado irregular e arredondado, o mais breve
possível para circundar uma dada superfície (Fig. 550).
A construção de um novo cinturão é adiada até que no velho não haja espaço
disponível; portanto, os bairros medievais são compactos, e as casas se desenvolvem em
altura. Somente os grandes muros construídos em fins do século XIII e no início do século
XIV - em Florença, em Siena, em Bolonha, em Pádua, em Gand - se revelaram demasiado
grandes quando a população, no século XIV, deixou de crescer ou diminuiu. Em seu interior
ficaram grandes espaços verdes, que foram ocupados somente no século XIX (Fig. 574).

4) As cidades medievais que conhecemos receberam uma forma definitiva nos séculos
seguintes, do século XV ao século XVIII, quando seu tamanho e sua aparelhagem já estavam
estabilizados.
Nos séculos precedentes, quando estavam em pleno crescimento, seu aspecto devia
ser muito mais desordenado. As igrejas e os palácios mais importantes eram canteiros
cobertos de tapumes, cada nova obra era uma adição surpreendente. A unidade era garantida
pela coerência do estilo, isto é, pela confiança no futuro, não pela memória de uma imagem
passada. O gótico é justamente o estilo internacional que unifica os métodos de construção
e de acabamento dos edifícios em toda a Europa, da metade do século XII em diante (Figs,
575595).
É o quadro descrito de maneira feliz por Le Corbusier em seu livro de 1937, Quando
as Catedrais eram Brancas:
Quando as catedrais eram brancas, a Europa havia organizado as atividades
produtivas segundo as exigências imperativas de uma técnica nova, prodigiosa, loucamente
temerária, cujo emprego conduzia a sistemas de formas inesperadas - formas com um
espírito que desdenhava as regras de mil anos de tradição, e não hesitava em projetar a
civilização numa aventura desconhecida. Uma língua internacional favorecia a troca de idéias,
um estilo internacional era difundido do Ocidente para o Oriente, do Norte para o Sul
As catedrais eram brancas porque eram novas. As cidades eram novas: eram
construídas de todas as medidas, ordenadas, regulares, geométricas, segundo um plano (..).
Sobre todas as cidades e todos os burgos cercados de novos muros, o arranha-céu de Deus
dominava a paisagem. Tinha sido feito mais alto do que se podia, extraordinariamente alto.
Era uma desproporção no conjunto; mas não, era um ato de otimismo, um gesto de altivez,
uma prova de mestria.
O novo mundo começava. Branco, límpido, jovial, polido, nítido e sem retornos, o novo
mundo se abria como uma flor nas ruínas. tinham sido deixados para trás todos os usos
reconhecidos, tinha-se dado as costas ao passado. Em cem anos o prodígio foi levado a
termo, e a Europa foi mudada.

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Os primeiros três caracteres - a continuidade, a complexidade, a concentração - ficam
estáveis no tempo e definem a natureza essencial das cidades européias; o quarto, ao
contrário - que podemos chamar a capacidade de renovar-se - não sobrevive depois da crise
da segunda metade do século XIV. O momento criativo mais importante passou; daí por
diante olha-se para trás, para este passado, para tomar qualquer nova decisão.
Para compreender a cidade antiga, é suficiente uma descrição completa de poucas
cidades dominantes: Atenas, Roma, Constantinopla. Ao contrário, na Idade Média não existe
nenhuma supercidade, mas um grande número de cidades médias, entre as quais uma dúzia
nos séculos XIII e XIV alcançam mais ou menos o mesmo tamanho: dos 300 aos 600 hectares
de superfície e dos 50.000 a 150.000 habitantes.
Damos a relação das principais cidades da Baixa Idade Média, com as superfícies alcançadas
no último cinturão de muros.

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Os dados sobre a população são incertos, e não é possível deduzi-los pelas


superfícies, visto que a densidade das construções nos últimos cinturões varia bastante. As
cidades mais populosas - Milão e Paris - alcançaram talvez 200.000 habitantes, Veneza,
150.000; Florença, 100.000; Gand e Bruges, 80.000; Siena, 50.000. Nenhuma superou as
capitais dos reinos árabes na Europa (Palermo com 300.000 habitantes, Córdova com mais
de meio milhão) e ficam, naturalmente, longe das grandes metrópoles orientais,
Constantinopla e Bagdá, com um milhão e mais de habitantes.
Não é possível, num livro generalizado como es te, descrever uma a uma as cidades
da lista anterior. iremos nos restringir a cinco cidades - Veneza, Bruges, Bolonha, Nuremberg,
Florença - que não são as mais importantes, porém as mais adequadas a mostrar a variedade
e a riqueza da casuística dos organismos urbanos medievais: um grande empório marítimo
colocado entre o Oriente eo Ocidente, uma cidade mercante da costa flamenga, uma cidade
do Vale do Pó que se desenvolveu ao redor de um núcleo romano, uma cidade mercantil e
manufatureira da Alemanha central, uma cidade industrial e banqueira da Itália central.

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