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História da

Arquitetura

Paula Bem Olivo


Arquitetura gótica
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Sintetizar o período histórico.


 Listar as características da arquitetura gótica.
 Reconhecer as principais obras góticas.

Introdução
No início do século V, chega ao fim o Império Romano, iniciando-se,
então, a Idade Média. Neste contexto, as mudanças sociais e políticas
são muito fortes. À medida que o feudalismo se consolida, as cidades
se dissolvem. Por volta do século XI, a burguesia emergente impulsiona
mudanças sociais, e as cidades começam a se desenvolver. A arquitetura
acompanha essas transformações e estabelece diversas mudanças, e a
arquitetura gótica, especificamente, desenvolve suas particularidades e
novos elementos, consolidando-se como estilo.
Neste capítulo, você entenderá o contexto em que a arquitetura gótica
se desenvolveu, bem como conhecerá suas principais características e
as principais obras do estilo gótico.

A Idade Média
A Idade média foi o período em que se desenvolveu a arquitetura gótica.
Considera-se que teve início com a queda do Império Romano, no século V, e
terminou com o Renascimento, no século XV. É um período conhecido como
“Idade das Trevas”, pois foi considerado que houve um retrocesso artístico,
intelectual, filosófico e institucional em relação aos períodos anteriores. Pode
ser dividida entre Alta Idade Média e Baixa Idade Média.
A Alta Idade Média se estende até o século IX. É um período de bastante
instabilidade, marcado pela presença de invasões bárbaras. Os povos bárbaros
eram assim chamados pelos romanos porque não falavam latim, a língua oficial
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do império. Eram povos que viviam na região da Germânia e se subdividiam em


vários povos, como burgúndios, vândalos, francos, saxões, anglos, lombardos,
godos e outros. Esse movimento acabou mudando muito o mapa demográfico
da Europa, que acabou tendo migrações e povos em diferentes territórios. Dessa
forma, ao longo dos anos, foram se distinguindo as línguas latinas, como francês,
espanhol, português e italiano. O Império Romano seguiu existindo em suas
novas fronteiras por meio do Império Bizantino, e sua capital era a Constantino-
pla. As invasões bárbaras modificaram as rotas de comércio dentro da Europa
e acabaram com as exportações. Algumas cidades portuárias ainda recebiam
alguns produtos, porém foi priorizada a produção local e itens que pudessem
ser transportados a pequenas distâncias. A perda das rotas e do domínio do
mediterrâneo fez as igrejas começarem a se diferenciar, com a Ortodoxa fixada
em Constantinopla, e a Católica, em Roma. A diferença acabou se tornando tão
evidente que as duas igrejas se dividiram em Igreja Católica Romana e Igreja
Ortodoxa Oriental, processo conhecido como a Grande Cisma do Oriente.
A vida nas cidades diminuiu muito com a queda do Império Romano.
Cidades como Roma, que tinham centenas de milhares de habitantes, passaram
a ter pouco mais de 30 mil. Além disso, a nova organização econômica gerou
um sistema de propriedade diferente do que estava sendo utilizado, o que
modificou as configurações sociais e de território em voga. Essas mudanças
acabam gerando um sistema político, econômico e social, chamado de feuda-
lismo. O feudalismo se consolida no século IX, quando se consegue perceber
a clara distinção entre três classes: o clero, a nobreza e os servos. O clero era
representado pela Igreja Católica e tinha função religiosa, porém exercia grande
poder político, de forma que se torna quase impossível distinguir entre religião
e política. Os membros do clero usavam sua palavra divina para imprimir
regras e justificativas de exigências de certos comportamentos. Os nobres
eram os donos das terras, visto que recebiam território do rei, com o objetivo
de protegê-lo, porém fugiram dos centros urbanos, com medo das invasões
bárbaras. Os servos, por sua vez, eram os camponeses que acompanharam seu
patrão na transferência para o feudo. Eles trabalhavam sob intensa exploração,
em troca do direito de usar a terra e ter proteção militar. A relação de trabalho
era entre vassalos e suseranos. Os servos eram os vassalos, que juravam fide-
lidade e trabalho aos patrões, os suseranos. O feudo se tornou uma unidade
baseada na economia agrária autossuficiente, que pagava impostos ao rei. Dessa
forma, a circulação monetária, ou comércio, era muito escassa. Da mesma
forma, os servos não se sentiam estimulados a melhorar sua produtividade ou
desenvolver novas técnicas, já que o senhor feudal ficava com a maior parte
da produção. Assim, os avanços tecnológicos foram muito poucos durante o
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período da Idade Média. Em termos espaciais, o feudo era uma fortificação,


a qual dividia o espaço em propriedades privadas autossuficientes que não
se relacionavam entre si, criando uma dinâmica muito diferente das cidades,
onde não havia interação comunitária nem espaços de uso comum.
Então, inicia-se a Baixa Idade Média. O sistema de governo desse período
era monárquico, a economia era organizada por meio de feudos, e a Igreja
tinha muito poder político. As terras eram hereditárias, portanto, não havia
muitas possibilidades de ascensão ou mudança de classe. O aumento dos
servos e a introdução de novas técnicas de cultivo acabaram gerando muito
excedente de produtividade. Dessa forma, o comércio teve início. Surgiram
novas formas de comprar, com gerenciamento de riscos e créditos. Assim, as
cidades começam a prosperar, gerando modificações nas configurações feudais.
Surgem as cidades-estados, como Veneza, Florença e Pisa. Assim, a sociedade
começava a se estruturar de outra forma, consolidando-se o conceito de Estado
Nacional, unificado pela língua e pela cultura. Monarquias, principalmente
a inglesa e a francesa, iniciam, então, o processo de centralização do poder.
Nesse período, ocorrem as Cruzadas, um movimento militar cristão da
Europa Ocidental que buscava conquistar a Terra Santa (atuais Israel, Pales-
tina, Líbano e Síria) e libertá-la do domínio muçulmano. Apesar do fracasso
e de aumentar a hostilidade entre islã e cristianismo, as cruzadas deixaram
alguns legados positivos. O movimento estimulou o comércio e contatos
culturais entre a Europa e a Ásia Menor, introduzindo novos produtos, como
algodão e açúcar. Dessa forma, essa sociedade tornou-se mais dinâmica,
progressivamente urbana.
O crescimento das cidades fez a burguesia, antes uma classe à parte dos
feudos, crescer e se desenvolver urbanamente. Nesse mesmo cenário, surgem
as Corporações de Ofício. Estas são organizações de artesãos que ensinavam
suas técnicas e conhecimentos a aprendizes, bem como estabeleciam regras
para a prática de um ofício e ajudavam as famílias de seus associados.

O crescimento rápido das cidades, aliado à falta de saneamento, incitou a proliferação


de uma das maiores pandemias da história: a peste negra. Estima-se que um terço
da população da Europa tenha sido devastada por essa doença entre os anos de
1346 e 1353.
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Surgem, então, as universidades: a primeira em Bolonha, na Itália, em 1158,


e, depois, em 1200, em Paris, na França. Eram instituições ligadas à Igreja, e
seus membros eram clérigos. Ensinavam a filosofia escolástica, um método de
especulação teológica e filosófica, o qual tinha muita influência de Aristóteles,
ou seja, fazia um esforço para tentar harmonizar razão e fé. Baseia-se também
na obra de São Tomás de Aquino (1225–1274), que busca conciliar lógica e
pensamento cristão. Surge, desse modo, a tensão dialética entre fé e razão.
Todavia, nesse contexto, bispos e burgueses ricos começam a ter um objetivo
em comum: a construção de grandes catedrais. Os bispos queriam difundir a
fé, e os burgueses queriam ostentar a riqueza da cidade. Dessa forma, o período
do fim da Idade Média é repleto de construções de novas catedrais.

O culto à Virgem Maria cresce muito durante a Baixa Idade Média. A maioria das
catedrais francesas foi construída em homenagem à Virgem Maria. Um exemplo muito
conhecido é a Catedral de Notre-Dame de Paris.

O termo gótico surge apenas no Renascimento, para designar uma arte e


arquitetura de “bárbaros” (relativo a godos, um dos povos bárbaros que invadiram
o Império Romano). Com o tempo, o termo perdeu sua carga pejorativa e passou
a ser utilizado para designar a arquitetura desenvolvida no fim da Idade Média,
surgida principalmente na França e caracterizada pelos arcos e as abóbadas ogivais.

A arquitetura gótica
O aumento da população e o crescimento das cidades fez surgir a necessidade
de novas variedades de edificações. Surgem, então, novas ordens religiosas nos
séculos XII e XIII, como os cistercienses, os franciscanos e os dominicanos, que
formaram grandes organizações internacionais e unificaram seus métodos. Dessa
forma, a exigência para a unificação de um repertório arquitetônico passa a surgir.
O movimento gótico estabelece uma homogeneidade para a cultura arquitetônica
europeia da época. O gótico não questiona ou vai contra o românico, mas fornece
uma padronização da extensão e da rapidez das transformações (BENEVOLO,
1972). Sobre nascimento do gótico, Gozzoli (1984, p. 6) afirma que:
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Não existem, na história europeia dos séculos XI e XII, uma data ou aconteci-
mento determinantes para o nascimento do gótico, mas podemos considera-lo,
sem dúvida, produto de uma sociedade dinâmica, em evolução, que despeda-
çara as grilhetas do feudalismo.

O desenvolvimento da escolástica permite que surja o pensamento de que é


possível ascender aos céus não só pela fé, mas também pela razão. Dessa forma,
as catedrais góticas servem para inspirar esse desejo e, por isso, enfatizam a
verticalidade. Essa característica possibilitou o desenvolvimento de muitos
elementos técnicos característicos do período gótico, como os arcos ogivais,
as abóbadas ogivais, o arcobotante e os contrafortes.
O uso desses novos elementos muda muito a forma de construção. Os arcos e
as abóbadas ogivais permitem a decomposição da distribuição de forças, tornando
a estrutura mais leve. As cargas verticais são transmitidas aos pilares, ao passo
que as horizontais são descarregadas sobre os arcobotantes (arcos aéreos de um
quarto de círculo). Os arcobotantes, por sua vez, se apoiam nos contrafortes.
São posicionados pináculos em cima dos contrafortes, a fim de aumentar o peso
para baixo e ajudar a firmá-los contra o empuxo lateral. A Figura 1 apresenta
uma demonstração desses novos elementos de construção góticos.

Figura 1. Demonstração em corte dos elementos de construção


góticos.
Fonte: TTaylor (2007, documento on-line).
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A construção utilizando a abóbada ogival permitiu uma grande elevação


da altura. No interior da igreja, é possível ver a nervura em forma de “X”,
que configura esse sistema. Entretanto, os arcobotantes e os contrafortes,
elementos essenciais para a sustentação desse tipo de estrutura, ficam do
lado de fora da igreja, de forma que, no interior, se tem a sensação de uma
estrutura milagrosa. As abóbadas ogivais normalmente são sexpartidas
(divididas em seis partes) ou quadripartidas (divididas em quatro partes).
O uso desses elementos construtivos permite uma forma de estrutura
independente, como um esqueleto. As paredes não são mais necessárias
para receber as cargas da cobertura, servindo apenas para o fechamento
da volumetria. Dessa forma, como as paredes deixaram de ser elementos
de sustentação, pode-se substituir a pedra pelo vidro. Nesse período,
portanto, são utilizados muitos vitrais coloridos, que deixam o interior
das igrejas mais iluminado e com cor. Procura-se uma difusão uniforme
da luz, atenuando contrastes. Dessa modo, elimina-se as janelas lineares
e introduz-se as extensas vidraças.
As plantas das catedrais góticas são muito parecidas com as plantas das
catedrais românicas. Possuem a forma básica em cruz latina, a princípio
orientada para o leste (o altar devia estar na extremidade leste da igreja,
voltado para o oriente, na direção de Jerusalém) (Figura 2). Normalmente,
possui três naves, podendo conter até cinco. A nave central é a mais alta e
larga. Em geral é onde a população assiste à missa. A Catedral de Notre-
-Dame de Paris, por exemplo, tem uma nave central de 35 m de altura e
uma proporção entre altura e largura da nave central de 1:2,75 (GOZZOLI,
1984). As naves centrais eram separadas das naves laterais por arcadas
ogivais, que se apoiavam em esbeltos pilares. Normalmente, as naves late-
rais aparecem na fachada em forma de torres, ao passo que a extremidade
ocidental da nave central marca a entrada principal. Na outra extremidade,
encontra-se o coro e, depois, a abside. O coro é o prolongamento da nave
central, já a abside é um espaço semicircular reservado para o altar-mor.
Nas igrejas góticas, o coro se desenvolve de uma maneira muito particular:
a nave lateral se prolonga ao redor do coro, circundando ele e a abside e
criando um corredor, chamado deambulatório. A partir desse corredor,
são dispostas radialmente as capelas radiantes, onde ficam guardadas
as relíquias. Entre a nave e o coro, cruza o transepto, que é, por sua vez,
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dividido também em três naves. O transepto é pouco saliente em relação


ao corpo da igreja. Entretanto, as igrejas góticas têm a característica de
compor grandes fachadas nos transeptos, inclusive com suas próprias
torres, como na fachada principal.

Figura 2. Planta da Catedral de Aimens, na França. Possui uma nave central, duas naves
laterais, coro, abside, deambulatório, transepto com naves central e lateral.
Fonte: Viollet-le-Duc (1853, documento on-line).

O alçado interno (ou elevação das paredes da nave central) conta com gran-
des arcadas no térreo, dividindo a nave central da lateral (Figura 3). Acima das
naves laterais, existem as tribunas, galerias que se abrem para a nave central
por meio de arcadas menores, acima das arcadas do térreo. Acima das tribunas
fica o trifório, galeria da espessura da parede que se abre para a nave central.
Com o desenvolvimento do gótico, o trifório tende a substituir a tribuna, um
elemento de herança românica. Acima do trifório fica o clerestório, janelas
altas que iluminam a nave central através de vitrais coloridos. Na terminação
ocidental e nas terminações do transepto, existem janelas em arcos ogivais
e, acima destas, uma rosácea. As rosáceas são janelas de composições radial
montadas com vitrais coloridos que tendem a representar Cristo — quando
fazem referência ao Sol — ou Maria — quando fazem referência à rosa.
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Figura 3. Alçado interno da Catedral de Aimens, na França, que


possui arcada, tribuna, trifório e clerestório.
Fonte: Nilsen (2017, documento on-line).

No exterior, a edificação gótica é facilmente reconhecível, pois possui a


presença marcante de contrafortes e arcobotantes, acentuando a verticalidade.
Para isso, ainda aparecem torres, pináculos, flechas (ou agulhas), telhado alto
sobre a nave central e decoração verticalizada. Normalmente, possuem duas
torres na fachada principal, com grandes portais com tímpanos, colunata
esculpida e rosáceas.
A arquitetura gótica sempre teve estreita relação com a escultura. As
fachadas possuem figuras em alto e baixo relevos, os tímpanos e as colunatas
são fortemente esculpidos e o interior possui figuras de passagens bíblicas. Ou
seja, escultura faz parte da arquitetura gótica. Um elemento muito conhecido
é a gárgula, utilizada para escoar a água da chuva e afastá-la da parede. Na
arquitetura gótica, esse elemento vem normalmente esculpido como uma
figura monstruosa, animalesca ou humana.
A arquitetura gótica se desenvolveu certamente mais na construção de
edificações relacionadas à Igreja, apesar de aparecer em alguns castelos com
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características parecidas. Em termos de urbanismo, não houve muita mudança


na configuração das cidades.

Principais obras da arquitetura gótica


Pode-se dizer que a arquitetura gótica surgiu durante os séculos XI e XII,
fruto de um amadurecimento da sociedade, um crescente afastamento do
feudalismo e uma burguesia emergente. A França foi o berço desse novo estilo.
Os franceses construíram muitas catedrais e castelos góticos. Posteriormente,
esse estilo se espalhou para países como Inglaterra e Alemanha, até atingir
toda a Europa. De acordo com Benevolo (1972, p. 117):

Em meados do século XIII toda a Europa fala, com diversas inflexões, uma
mesma linguagem arquitetônica. Isto não significa que as diferenças de uma
localidade para outra sejam abolidas, mas que, desde este momento, não
existe mais uma cultura exclusivamente francesa, alemã ou lombarda; ao
lado e acima destas tradições existe uma cultura europeia, com relação a qual
deverá novamente ser qualificada cada experiência local.

Pode-se dizer que uma das primeiras catedrais construídas em estilo gótico
foi a de Notre-Dame, em Chartres, na França (Figura 4). Sua construção teve
início em 1145 e terminou em 1221. A obra é atribuída ao Bispo Fulberto de
Chartres. A catedral possui todas as características do gótico: é verticalizada,
possui arcos e abobadas ogivais, possui contrafortes e arcobotantes, tem be-
líssimos vitrais e rosáceas, tanto na entrada principal quanto nas do transepto.
Sua planta é tradicional, com uma nave central de 37 m de altura, duas naves
laterais, transepto e deambulatório. Entretanto, sofreu um grande incêndio, em
1194, o que fez algumas partes precisarem ser reconstruídas. Nesse momento,
houve o acréscimo da torre noroeste, chamada Clocher Neuf, que é diferente
da outra. Esta acaba sendo uma característica marcante, já que sua fachada
tem duas torres diferentes. A igreja também possui uma vasta coleção de
vitrais, que representam muitas histórias bíblicas. No total, são 175 janelas,
que correspondem a 2.600 m 2 de vitrais. Sua coleção de esculturas também é
muito ampla, com aproximadamente 3.500 estátuas. Apesar de algumas terem
sido destruídas ao longo do tempo e em eventos como a Revolução Francesa,
boa parte ainda está conservada. As fachadas dos transeptos são dedicadas
ao Novo e ao Velho testamento (GOZZOLI, 1984).
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Figura 4. Catedral de Notre-Dame de Chartres.


Fonte: Dima Moroz/Shutterstock.com.

A Catedral de Notre-Dame de Paris é uma das mais importantes e conhe-


cidas catedrais góticas (Figura 5). No seu local de implantação, havia uma
catedral românica, porém, em 1160, o Bispo Maurice de Sully considerou que
ela não representava os novos valores, ordenando que fosse demolida para que
fosse reconstruída em estilo gótico. Em 1163, foi iniciada a construção, que
durou até o século XIV, contando com a participação de vários arquitetos, o
que explica algumas diferenças estilísticas em alguns pontos. A igreja sofreu
muitos danos durante a Revolução Francesa, virando armazém de alimentos
nessa época. Em 1844, o arquiteto Eugene Viollet-le-Duc inicia as obras de
recuperação da igreja. Os estudos e procedimentos realizados por ele podem
ser considerados as primeiras referências de restauração. A fachada da catebral
é muito peculiar, pois as duas torres principais não foram completamente
reconstituídas durante as obras comandadas por Viollet-le-Duc, portanto, ela
não tem o aspecto externo verticalizado que a maioria das outras catedrais
apresenta. Em 2019, sofreu um grande incêndio, que atingiu parte do telhado,
destruindo a torre central, implementada por Viollet-le-Duc.
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Figura 5. Catedral de Notre-Dame de Paris.


Fonte: O Globo (2019, documento on-line).

A Catedral de Notre-Dame de Reims, na França, também é uma das mais


importantes. Seu local de implantação é onde antes ficava a igreja da comunidade
produtora de vinho. Em 1211, o Arcebispo Aubrey de Humbert lança a pedra
fundamental. A catedral demorou 300 anos para ficar pronta, contando com a
participação de muitos arquitetos, como Jean d'Orbais, Jean le Loup e Robert de
Coucy. O projeto original previa sete torres: duas na fachada principal, duas em
cada fachada do transepto e uma central, porém apenas as da fachada principal
foram construídas. Sofreu grandes danos durante a Primeira Guerra Mundial.
As obras de recuperação foram concluídas em 1937, pagas principalmente por
doações privadas, como a da família Rockfeller. Foi reconstruída com uma estru-
tura mais leve de concreto e com alguns vitrais, desenhados por Marc Chagall.
A Catedral de Notre-Dame de Aimens, também na França, é outro exemplar
muito importante. Tem uma das naves centrais mais altas, medindo 42,30 m. A
construção foi iniciada em 1220 pelo Bispo Evrard de Fouilly. Muitos arquitetos
participaram dessa obra, como Robert de Luzarches, Thomas de Cormont
e seu filho Renaud de Cormont. Possui a peculiaridade de ter uma galeria
aberta acima da rosácea, na fachada principal, algo incomum no estilo gótico.
Fora da França, um dos principais exemplares é a Catedral de Colônia, na
Alemanha (Figura 6). A igreja foi construída para abrigar a suposta ossatura
dos três reis magos, saqueadas de Milão pelo imperador alemão. A construção
começou em 1248 e demorou 600 anos para ficar pronta. É, até hoje, uma das
igrejas mais altas do mundo. Sofreu danos durante a Segunda Guerra Mundial
e teve reparos que ficaram evidentes até a década de 1990, quando se decidiu
reformá-la para seu estado original.
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Figura 6. Catedral de Colônia.


Fonte: IndustryAndTravel/Shutterstock.com.

Portanto, o período gótico se expressa, majoritariamente, em catedrais.


Observa-se alguns palácios e castelos nesse estilo, porém a tipologia mais
explorada é, sem dúvidas, a igreja. Isso ocorreu pelo fato de que o clero ainda
tinha muita influência social, e havia a necessidade de explorar a fé por meio
da monumentalidade. Dessa forma, é natural que essa seja a tipologia mais
desenvolvida.
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BENEVOLO, L. Introdução à arquitetura. São Paulo: Mestre Jou, 1972.


GOZZOLI, M. C. Como reconhecer a arte gótica. São Paulo: Martins Fontes, 1984.
O GLOBO. Entenda a importância histórica da Catedral de Notre-Dame de Paris. 2019.
Disponível em: https://oglobo.globo.com/mundo/entenda-importancia-historica-da-
-catedral-de-notre-dame-de-paris-23601019. Acesso em: 12 ago. 2019.
NILSEN, R. Cathedrals of northern France part 3: Amiens and Beauvais. 2017. Disponível
em: https://richardnilsen.com/2017/03/15/cathedrals-of-norther-france-part-3-amiens-
-and-beauvais/. Acesso em: 12 ago. 2019.
TTAYLOR. Basilica (arquitetura). 2007. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/
wiki/File:Basilica_(arquitetura)_PT.svg. Acesso em: 12 ago. 2019.
VIOLLET-LE-DUC, E. Floor plan. 1853. Disponível em: https://commons.wikimedia.org/
wiki/Cath%C3%A9drale_Notre-Dame_d%27Amiens#/media/File:Plan.cathedrale.
Amiens.png. Acesso em: 12 ago. 2019.

Leitura recomendada
FARRELLY, L. Fundamentos de arquitetura. 2. ed. Porto Alegre: Bookman, 2014.
MONTANER, J. M. Arquitetura e crítica. Barcelona: Gustavo Gili, 2007.

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