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HISTÓRIA DO

URBANISMO

Vanessa Guerini Scopell


Conceito de urbanismo
e de cidade
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Definir urbe, urbanismo e urbanização.


 Sintetizar a evolução histórica das cidades.
 Reconhecer a importância do planejamento urbano.

Introdução
As primeiras aglomerações urbanas surgiram ainda na Antiguidade e, aos
poucos, por meio do desenvolvimento da sociedade, foram evoluindo e
se configurando como espaços urbanos. A partir disso, houve avanços
com relação à organização das cidades, dos serviços oferecidos e das
edificações. Com isso, percebeu-se a necessidade de estudar melhor esses
centros urbanos, a fim de planejar seus futuros, melhorando suas realidades.
Neste capítulo, você vai estudar sobre os conceitos relacionados à
cidade e ao urbanismo, entendendo a evolução histórica das aglomera-
ções urbanas e as cidades que mais se destacaram ao longo do tempo.
Além disso, você vai compreender a importância e a necessidade da
atividade de planejar as cidades.

Definições e conceitos
As cidades são um sistema complexo, composto por diversos elementos, que
precisam de organização e de planejamento para se tornarem cada vez mais
adequadas à vida em sociedade. Para compreendê-las da melhor maneira, é
importante entender alguns conceitos relacionados a esse tema.
Nas discussões sobre urbanismo e cidade, a palavra urbe aparece com
bastante frequência, e era mais usada nos séculos passados, em diferentes
civilizações, como, por exemplo, nas cidades romanas. Urbe é um sinô-
2 Conceito de urbanismo e de cidade

nimo de cidade, uma palavra que advém do latim. Seu radical urb está
em outras palavras relacionadas a esse tema, como, por exemplo, urbano,
urbanismo, urbanização, entre outros. Segundo o site Significados, urbe se
refere a “um aglomerado populacional onde ocorrem uma série de trocas
sociais, comerciais, culturais, administrativas, educacionais, entre outras,
localizado em determinado espaço geográfico” (URBE, 2016, documento
on-line). O Dicionário Priberam acrescenta que a palavra urbe, antigamente,
significava “uma povoação que corresponde a uma categoria adminis-
trativa, geralmente, caracterizada por um número elevado de habitantes,
por relevada densidade populacional e por determinadas infraestruturas,
cuja maioria da população trabalha na indústria ou nos serviços” (URBE,
[2019?], documento on-line). Silva (2018, documento on-line) ressalta ainda
que a ideia de “urbe”, utilizada na civilização romana, refere-se a uma
cidade mais voltada para a “materialidade da cidade: seus equipamentos,
seus serviços e suas construções físicas”, que eram as características mais
marcantes dos romanos. Assim, o conceito de urbe, na realidade, refere-se
ao modelo de cidade da antiguidade, com ainda poucos sistemas e menor
complexidade se comparada às cidades atuais. Veja, a seguir, na Figura 1,
um exemplo de urbe romana.

Figura 1. Urbe romana.


Conceito de urbanismo e de cidade 3

Outra definição de cidade, que surgiu na civilização grega, antes ainda


da romana, foi a pólis. Esse termo se referia às cidades-estado. Segundo o
site Significados (PÓLIS, 2013, documento on-line), “na Grécia Antiga, a
pólis era um pequeno território localizado geograficamente no ponto mais
alto da região, e cujas características eram equivalentes a uma cidade. O
surgimento da pólis foi um dos mais importantes aspectos no desenvolvi-
mento da civilização grega”. A pólis, assim como a urbe, referia-se a um
aglomerado proporcional à civilização da época, ou seja, menor do que as
cidades atuais. Esse aglomerado abrangia toda a vida pública e era geralmente
protegido por uma fortaleza.

As pólis foram criadas a partir da desagregação da sociedade homérica, que


era constituída pelos genos — comunidades compostas por pessoas com
antepassado comum e chefiadas por um pater (chefe patriarca de cada co-
munidade). As pólis se encontravam já nas primeiras comunidades urbanas
da Mesopotâmia e, à medida que aumentavam, podiam chegar a constituir
nações ou impérios. A pólis era uma organização social constituída por ci-
dadãos livres, que discutiam e elaboravam as leis relativas à cidade. Dentro
dos limites de uma pólis ficavam a Ágora e a Acrópole, além dos espaços
urbano e rural. A agricultura era a base da economia da pólis (PÓLIS, 2013,
documento on-line).

Silva (2018), destaca que a urbe e a pólis estão associadas à cidade de


uma forma distinta, e que essas diferenças ajudam a entender a cidade con-
temporânea. Enquanto a urbe era mais material, a pólis, segundo o autor, era
mais voltada às relações sociais, “às formas de contato e de ação comum no
espaço público, às relações de cooperação e solidariedade, enfim, às relações
comunitárias” (SILVA, 2018, documento on-line).
Assim, é possível compreender que a urbe e a pólis foram as primeiras
definições de cidade e deram vazão às aglomerações urbanas atuais. Atual-
mente, as aglomerações são mais complexas do que no tempo dos romanos
e gregos, portanto, adquiriram o nome de cidade e passaram a contemplar
diversos outros sistemas, políticas e diretrizes, que não existiam na época.
O termo urbe originou outras palavras, como, por exemplo, urbanização.
A urbanização é um termo que se refere ao crescimento dessas urbes,
ou, no caso atual, das nossas cidades, e está relacionada ao processo de
industrialização.
4 Conceito de urbanismo e de cidade

A grande expansão urbana, como elemento fundamental de mudanças sociais,


foi causada, dentre outros fatores, pelo êxodo rural — ocasionado pela mo-
dernização conservadora do campo e reforçado pela atratividade das cidades,
com oferta de emprego na indústria e em serviços, e pela expectativa de
melhoria da qualidade de vida — e pelo crescimento demográfico vegetativo
(RIBEIRO; VARGAS, 2015, documento on-line).

No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2016),


são consideradas urbanas cidades ou distritos que contemplam mais de dois
mil habitantes. A urbanização também é um processo que está relacionado
não somente ao aumento da população, mas à implementação de infraestru-
tura nos locais das cidades, assim, conforme ressalta Ribeiro e Vargas (2015,
documento on-line), “a urbanização está relacionada a migrações internas
entre regiões, das mais pobres para as mais industrializadas”.
Diante da formação das cidades e dos processos de urbanização, surgiu o
urbanismo, que, segundo Pinhal (2009, documento on-line), “é uma técnica
de organizar as cidades com o objetivo de criar condições satisfatórias de vida
nos centros urbanos”. Essa organização se dá a partir de uma visão global,
considerando as quadras, os bairros, os loteamentos, as ruas, os sistemas de
saneamento básico, as praças, os parques, dentre outros equipamentos, e tem
o intuito de criar condições satisfatórias de vida.
Segundo Vicente (1966), a palavra urbanismo surgiu pelo engenheiro
Ildefonso Cerdá. Foi ele que, por meio do seu plano de urbanização para
Barcelona, na década de 1850, usou o termo para determinar essas ações de
organização dos centros urbanos. O engenheiro publicou diversos estudos, para
as cidades de Barcelona e Madri, que tratavam de questões técnicas e também
teóricas. Após, Cerdá publicou a Teoria Geral da Urbanização, retratando a
importância e incentivando ainda mais esses estudos urbanos.
Pinhal (2009), afirma que o urbanismo está relacionado não somente com
a organização das cidades, mas engloba também o estudo, o controle, a regu-
lação e o planejamento dos centros urbanos, tornando-se bastante complexo
e necessário. “Costuma-se diferenciá-lo da simples ação urbanizadora por
parte do homem, de forma que o urbanismo esteja associado à ideia de que as
cidades são objetos a serem estudados, mais do que simplesmente trabalhados”
(PINHAL, 2009, documento on-line). Assim, a cidade, evolução da urbe e da
pólis, surge por processos de urbanização, e, conforme sua evolução, necessita
do urbanismo para aprofundar e melhorar seus sistemas, organizando-os e
possibilitando uma melhor qualidade de vida.
Conceito de urbanismo e de cidade 5

Evolução das cidades


A urbanização das cidades foi acompanhando e evoluindo conforme a evo-
lução da própria sociedade. As comunidades, ao passar dos anos, a partir de
suas necessidades de organizar os espaços adequados para as suas funções
de descanso, de alimentação e de higiene, foram percebendo e aprimorando
técnicas construtivas e ideias que resultaram em diversos tipos e estilos de
cidades. Ou seja, na medida em que a sociedade evoluía, ocorria também a
urbanização e o aumento das cidades.
Assim, o urbanismo foi se desenvolvendo por meio da ordenação das
cidades, dos sistemas de esgoto e abastecimento de água, da organização das
quadras e da delimitação de vias de circulação. “Os mais antigos registros
arqueológicos encontrados de ruínas de cidades remontam à Revolução Neolí-
tica, por volta de 4.000 a 3.000 a.C. A constituição das cidades na Antiguidade
tinha por objetivo ser centro de comércio e também como fortificações de
guerra contra inimigos” (PINTO, [2019?], documento on-line).
As primeiras cidades que se destacaram foram as cidades gregas e as
romanas. As cidades gregas surgiram a partir da expansão demográfica e das
relações comerciais. Essas cidades, segundo Pereira (2010), eram ao mesmo
tempo cidades e estados, organizadas politicamente. Os principais locais
dessas cidades eram a acrópole, entendida como o ponto mais alto da cidade,
composto por palácios e templos, e a ágora, uma espécie de praça principal,
local onde aconteciam feiras, atos públicos, manifestações e rituais religiosos.
Os gregos se voltavam bastante para a questão estética, elaborando detalhes para
suas construções. Os materiais mais utilizados na realização de construções
gregas eram pedras, mármore, madeira e calcário. Conforme Pereira (2010,
p. 70), pode-se afirmar que:

[...] a civilização grega se expressa sempre ao ar livre: nos recintos sagrados,


nas acrópoles, nos teatros ao ar livre, fora dos espaços interiores, das habita-
ções humanas e também dos templos sagrados, cujos ritos se desenvolviam
no exterior. Portanto, pode-se dizer que a história da arquitetura grega foi
essencialmente uma história do urbanismo.
6 Conceito de urbanismo e de cidade

Veja, a seguir, na Figura 2, um exemplo de arquitetura grega.

Figura 2. Parthenon em Atenas (Grécia).

Já os romanos eram mais práticos e técnicos, e suas cidades apresentavam


sistemas de abastecimento de água e de esgoto, desenvolvidos por eles pró-
prios. Além disso, suas cidades eram planejadas de forma ortogonal, ligadas
às vias pavimentadas.

Apoiando-se na tradição clássica e helenística, os romanos adotam e pro-


pagam as ideias urbanísticas da Grécia. Mas enquanto os gregos se sentem
motivados por uma sensação de finitude, em suas cidades e edifícios, as
motivações dos romanos são a organização e o poder político, e para suas
cidades optam por módulos abstratos que relacionem as diferentes partes da
cidade. Se o módulo urbano grego é a habitação, o módulo urbano romano
é a rua: a via urbana, cujo traçado geral determina a trama e a forma da
cidade (PEREIRA, 2010, p. 87).

Os romanos, por serem bastante técnicos e práticos, organizavam suas


cidades por meio de um traçado reticular e ortogonal, com quadras simétricas
e ruas mais largas, como é ilustrado, a seguir, na Figura 3.
Conceito de urbanismo e de cidade 7

Figura 3. Traçado da cidade Romana.


Fonte: A Cidade Romana 1 (2016, documento on-line).

O fórum como elemento definidor da urbe romana


A urbe romana era caracterizada por alguns elementos, sendo o fórum um dos princi-
pais. O fórum se tornou para a urbe romana um organizador da cidade, isso porque ele
era localizado em um ponto central e o restante dos elementos iam se conformando
a partir dele. Esse elemento tinha também a função de praça pública, sendo rodeado
por outros edifícios importantes, como, por exemplo, a Basílica, que servia como um
tribunal e um local para reuniões, a Cúria, que era o senado da época, e os templos.
Conforme a cidade romana foi se desenvolvendo, houve a necessidade de incorporar
a essa área novas edificações, que contemplavam bibliotecas, termas e também banhos
públicos. Por serem um ponto importante para a cidade, apresentavam bastante deta-
lhes, como revestimentos em mosaicos e estátuas decoradas. É importante ressaltar que
algumas cidades possuíam mais de um fórum (A URBE… ([2010?], documento on-line).
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Outras cidades que se destacam na evolução do urbanismo são as cidades


medievais, desenvolvidas entre os séculos V e XV. Essas cidades apresentaram
diferentes características, ao passar dos séculos, e, em um primeiro momento,
surgiram em virtude da fragmentação do Império.

Efeito mais evidente da crise econômica e política que se seguiu à queda do


Império Romano havia sido a ruína das cidades e a dispersão de seus habi-
tantes. A vida urbana se interrompeu e somente posteriormente, no ano 1000,
surge uma nova vida civil, as cidades voltam a se desenvolver e aumenta sua
população, sua indústria e seu comércio. Tudo isso muda de maneira radical
o sistema urbano (PEREIRA, 2010, p. 95).

Segundo Pereira (2010), o aumento da atividade comercial permitiu a


criação de bairros novos e, assim, das cidades medievais. Essas cidades eram
ainda bastante fechadas, com traçado radiocêntrico, que foi definido ou pelo
desenvolvimento das estruturas da cidade romana, ou pelo surgimento de
novas cidades romanas no Ocidente. Elas passaram por um longo período de
invasões e de destruições. Em virtude disso, muitas pessoas se abrigaram nas
zonas rurais. Veja, a seguir, na Figura 4, a ilustração de uma cidade medieval
com traçado radiocêntrico.

Figura 4. Exemplo de traçado de uma cidade medieval.


Fonte: Oliveira (2016, documento on-line).

Aos poucos, os espaços foram se reconstituindo e se desenvolvendo. So-


mente a partir do século XI que surgiram inovações técnicas que permitiram
o desenvolvimento agrário e o aumento populacional. Com isso, a rede urbana
foi se ampliando, facilitando as relações comerciais. Os principais estilos
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desse período foram o gótico, o visigótico, o paleocristão, o moçárabe, o


mourisco, o bizantino e o românico. Nesse momento, as edificações que mais
se sobressaíam eram os castelos, as igrejas e os mosteiros.
Com o renascimento das cidades e as relações de comércio estabelecidas,
o feudalismo passou a ser substituído pelo capitalismo e isso provocou
mudanças enormes nas cidades. A Revolução Industrial foi um dos marcos
do urbanismo, pois por meio dela a população das cidades aumentou consi-
deravelmente, o que resultou em diversos problemas urbanos. Esse momento,
que ocorreu ao final do século XVIII, ocasionou mudanças, primeiramente,
na Europa e, depois, nas cidades de outras regiões do mundo, resultando,
segundo Pereira (2010, p. 181), em uma revolução demográfica e urbana,
que ocasionou:

[…] o amadurecimento dos temas sociais, a diversificação dos programas


de edificações, os novos sistemas técnicos e construtivos, entre outros, são
problemas novos. [...] Essa revolução científica leva a uma série de profundas
mudanças relativas aos pressupostos, métodos e conteúdo dos conhecimentos.

A partir desse momento, houve diversas inovações nas cidades, que pre-
cisaram se adequar para atender às grandes populações. Com isso, começou
a se pensar sobre urbanismo e planejamento das cidades, a fim de estudar
e melhorar os centros urbanos, para que pudessem atender com qualidade
os habitantes.
Após esses acontecimentos, surgiram diversos planos urbanísticos, que
serviriam como referência para uma cidade ideal. Nenhum deles, naquele
momento, consolidou-se como a solução para todos os problemas, mas eles
serviram para demonstrar como o urbanismo era importante para o desenvolvi-
mento das cidades. Assim, surgiu a cidade modernista, muito mais racionalista,
que introduziu o traçado ortogonal, a necessidade dos recuos para garantir
insolação e ventilação das edificações, além da criação de vias e de setores
nas cidades. Esse modelo foi aplicado em algumas cidades do mundo, mas
também foi bastante criticado por alguns estudiosos e urbanistas.
Já a cidade da contemporaneidade é uma mistura de estilos e influências,
mas que tem como conceito principal ser voltada às pessoas, ou seja, à qua-
lidade de vida. Nesse sentido, defende-se a ideia de que a cidade deve estar
acessível e adequada para que todas as pessoas experimentem o espaço urbano,
assim como os serviços estejam disponíveis de forma igualitária e por todas
as regiões da cidade, e que ela seja um organismo vivo e saudável, levando
em consideração a sustentabilidade e a preservação dos recursos naturais.
10 Conceito de urbanismo e de cidade

Importância do planejamento urbano


Diante da nova realidade das cidades, ocasionada pela Revolução Industrial,
viu-se a necessidade de, além de começar a estudar as cidades, pensar elas
de forma organizada, por meio do planejamento urbano. O planejamento
urbano é um instrumento de organização das cidades, seja no âmbito físico-
-territorial, social, ambiental ou habitacional. Ele tem sua preocupação em
analisar, sob diversos aspectos, a realidade das cidades a fi m de melhorar
seu funcionamento.
“O planejamento urbano se propõe a coordenar a organização das cida-
des, de forma a garantir as melhores condições de habitabilidade possíveis
para a população” (RIBEIRO, 2012, documento on-line). Segundo o autor, o
planejamento é uma atividade realizada pelo urbanista, que estuda e analisa
a questão do uso e da ocupação do solo, do controle e do desenvolvimento da
cidade, orientando sua urbanização. Esse termo é tão complexo que vai muito
além de planejar as cidades, sendo fundamental estudar, analisar e pesquisar
todos os aspectos e setores da sociedade a fim de propor projetos específicos e
integrados, que atendam às necessidades das comunidades. A ação de planejar
requer o conhecimento e a contribuição de outros setores, como a geografia,
o direito, a história, a biologia, dentre outros.
Nesse sentido, pode-se dizer que o planejamento urbano tem um caráter
multidisciplinar, que se insere em contextos diferentes e próprios. Ele está em
constante desenvolvimento, pois deve atender às demandas e problemas urbanos
que vão surgindo e que têm relação com o momento em que a sociedade vive,
com os problemas sociais, com a questão ambiental e com diversos outros
fatores que influenciam diretamente essa área.
Planejar o território é algo imprescindível, na nossa atualidade, tanto no
âmbito local quanto global, justamente para que essa atividade possa prognos-
ticar alguns problemas que podem ocorrer, caso a realidade não seja mudada a
tempo. O objetivo do planejamento é satisfazer aos anseios das comunidades,
envolvendo diversos atores de áreas políticas, sociais, econômicas e ambientais,
todos em prol de interesses comuns. Porém, a maioria das cidades brasileiras
não foram planejadas. Alguns exemplos de cidades não planejadas, no Brasil,
e que tiveram uma ocupação espontânea, são as cidades históricas de Minas
Gerais. Essas cidades foram surgindo conforme a ocupação da população,
portanto, elas não apresentam ruas largas e adequadas para grandes veículos,
recuos e outros elementos de planejamento urbano e ocupação do solo. Veja,
a seguir, na Figura 5, um exemplo de cidade brasileira não planejada.
Conceito de urbanismo e de cidade 11

Figura 5. Cidades brasileiras não planejadas.


Fonte: Fred S. Pinheiro/Shutterstock.com.

Já um exemplo de cidade planejada brasileira é a capital federal, Brasília.


Segundo Carvalho (2017), o projeto para essa cidade surgiu por um concurso
de ideias, sendo o arquiteto Lúcio Costa o ganhador. O urbanista elaborou um
plano piloto que dividiu a cidade em zonas e em eixos. Além disso, Brasília
foi projetada para ter vias de alta velocidade e superquadras, como pode ser
observado, a seguir, na Figura 6.

Figura 6. Cidade brasileira planejada: Brasília.


Fonte: evenfh/Shutterstock.com.
12 Conceito de urbanismo e de cidade

O Plano Piloto nasceu de dois eixos se cruzando em um ângulo reto, como


se fosse um sinal de cruz. Após isso, o urbanista foi realizando o desenho
tendo em vista a topografia e o escoamento das águas. Ao longo do processo,
foram sendo definidas zonas e áreas através desses eixos, formando, no final,
o desenho de um avião, por isso o nome do Plano. Veja, a seguir, na Figura 7,
o desenho do Plano Piloto.

Figura 7. Desenho do Plano Piloto de Brasília.


Fonte: Cronologia do Pensamento Urbanístico (1956, documento
on-line).

Assim, é possível perceber como o processo de planejamento é complexo


e deve considerar diversos aspectos e áreas para ser proposto e aplicado. Ele
também precisa ser compatível com as realidades de cada região, no sentido
de que haja também um envolvimento dos cidadãos com as decisões locais.
É preciso ter uma visão estratégica, propor intervenções, selecionar as ações
e perceber os limites e as situações impostas por cada porção do território.
O Brasil, por ser um país com grande área territorial e com variedade de
povos, de raças e de culturas, deve ser tratado, organizado e planejado a partir
das características de cada microporção do território. Isso porque não existe um
planejamento universal que se encaixe adequadamente em qualquer realidade.
As problemáticas brasileiras envolvem diversas questões, desde ambientais
até patrimoniais. Portanto, o sistema de planejamento deve ajudar a organizar
Conceito de urbanismo e de cidade 13

e a canalizar as ações dos órgãos públicos, convergindo em um espaço local


qualificado e com oportunidades para todos, a partir de suas especificidades.
Considerando que cada estado é dividido em regiões e cada região é com-
posta por vários municípios, os instrumentos de planejamento se dão por meio
de variados planos, pensados para cada um dos objetivos e para cada área
específica, destacando suas principais características e problemas, a fim de
resolvê-los de maneira eficaz e comprometida.
No Brasil, por meio dos ministérios, existem diversos setores de planejamento,
que vão desde os âmbitos ambiental-urbano, de desenvolvimento rural, de educação
ambiental e de gestão territorial, até patrimônio genético, segurança e governança.
Para cada um desses setores, existem propostas específicas direcionadas para as
diferentes regiões do país. Conforme o Ministério do Meio Ambiente:

O planejamento das cidades no Brasil é prerrogativa constitucional da gestão


municipal que responde, inclusive, pela delimitação oficial da zona urbana, rural
e demais territórios para onde são direcionados os instrumentos de planejamento
ambiental. No âmbito do meio ambiente urbano, os principais instrumentos de
planejamento ambiental são o Zoneamento Ecológico-Econômico - ZEE, o Plano
Diretor Municipal, o Plano de Bacia Hidrográfica, o Plano Ambiental Municipal,
a Agenda 21 Local, e o Plano de Gestão Integrada da Orla. No entanto, todos os
planos setoriais ligados à qualidade de vida no processo de urbanização, como
saneamento básico, moradia, transporte e mobilidade, também constituem
instrumentos de planejamento ambiental (BRASIL, [2019?], documento on-line).

O planejamento urbano também é responsável pela produção do espaço. O


processo de produção do espaço urbano é fragmentado e articulado de acordo
com as necessidades, não sendo homogêneo. Da mesma forma, a produção
do espaço urbano é desigual, pois reflete as ações de cada grupo social em
detrimento a uma área. “[...] Cada sociedade produz e reproduz sua existência
de modo determinado, deixando no espaço as marcas de suas características
históricas específicas” (CARLOS, 1995, p. 26–33).
Segundo Carlos (1995), esses agentes, que interferem e produzem o espaço
urbano, possuem estratégias diferenciadas, de acordo com seus respectivos
interesses, podendo conflitar entre si ou se unir, em algumas situações, para
agir a fim de um mesmo interesse. Portanto, a apropriação do solo, dos espaços
da cidade, das áreas e das terras, torna-se um objeto de conflito, disputado
por esses agentes. É nesse sentido que o planejamento urbano deve entrar e se
impor, a fim de organizar as políticas, de analisar situações e de viabilizar o
que for do interesse de todos, ou da grande maioria, afinal, o espaço público
é um bem comum da sociedade.
14 Conceito de urbanismo e de cidade

Essa desigualdade fica expressa na paisagem urbana. Basta observar diferentes


áreas das cidades para entender quais são aquelas áreas privilegiadas e superva-
lorizadas e quais são os pontos que foram quase esquecidos pelos investidores e
pelos planos. Conforme Ribeiro (2000, p. 27), “a segregação social expressa na
paisagem urbana reflete também a distribuição do poder social na sociedade”.
Isso é resultado das ações dos diferentes agentes junto ao Estado e da capacidade
diferenciada de algumas classes na obtenção de recursos e de investimentos.
Nota-se, com isso, que o planejamento urbano está diretamente relacionado
à produção do seu espaço, tendo a atividade de planejar o poder de induzir, de
limitar e de direcionar investimentos, de maneira a evitar o máximo possível as
desigualdades sociais, muitas vezes intensificadas pela influência dos agentes
nos órgãos públicos e na sociedade em geral.

Conheça melhor o Plano Cerdá, aplicado em Barcelona em 1860.

https://qrgo.page.link/8LbBD

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