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História da

Arquitetura

Jana Cândida Castro dos Santos


Arquiteturas modernista
e pós-modernista
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Descrever os movimentos da arquitetura contemporânea pós-ecletismo.


 Identificar as características da arquitetura contemporânea.
 Reconhecer as principais obras e os artistas da arquitetura modernista
e pós-modernista.

Introdução
Os acontecimentos do século XX, combinados aos avanços tecnológicos
na construção civil (marcados pelo uso do aço e do concreto armado)
deram uma nova visão às cidades como um local para abrigar indústrias
e sistemas modernos de transporte. Pensando-se ainda na questão da
saúde física e mental, caracterizaram nesse contexto o surgimento das
arquiteturas modernista e, mais tarde, pós-modernista. Neste capítulo,
você verá a descrição dos movimentos da arquitetura contemporânea
pós-ecletismo, a partir da identificação de suas características e principais
obras e artistas.

Arquitetura modernista
Durante o período de transição da Revolução Industrial até nossa contempo-
raneidade, surgem novos problemas e, com isso, repostas diferentes e únicas,
a partir de um leque de novas experimentações. Para Pereira (2010, p. 227),
esses novos problemas levaram “[...] a uma desagregação dos nexos morfoló-
gicos tradicionais em todos os campos”. O século XX traz consigo mudanças
culturais e científicas importantes. Tais mudanças e as novas descobertas
2 Arquiteturas modernista e pós-modernista

levaram a teorias que abalaram a sensação “típica do século XIX de progresso


infinito”, abrindo caminho para uma nova etapa cultural e arquitetônica. A
nova etapa cultural é marcada pelo modernismo, do qual fazem parte outros
tantos movimentos, como será visto a seguir. O percurso será iniciado pela
explicação sobre o abandono do ornamento na arquitetura modernista.
Adolf Loos (1870–1933) deu início à sua carreira associada à Sezession de
Viena, mas logo se afastou. Após entrar em contato com os textos de Louis
Sullivan, começou a opor-se ao uso de ornamentos na arquitetura. E, assim,
dedicou-se a explorar, criando um novo método de composição espacial, cha-
mado de Raumplan. Um de seus textos mais famosos foi publicado em 1908,
o Ornamento e crime, seguindo a sugestão de abandonar a ornamentação na
arquitetura, como já sugerido por Sullivan, e adotando como resultado “formas
vernaculares simples”, construções funcionais e desadornadas, adequadas, a
seu ver, para a era das máquinas (Figura 1).

Figura 1. Casa Moller, Viena, 1927–1928.


Fonte: Ching, Jarzombek e Prakash (2019. p. 703).

A Casa Moller se mostra como um projeto paradigmático de Loos, visto


que sua fachada é simples e “[...] um tanto opressora” (CHING; JARZOMBEK;
PRAKASH, 2019, p. 703). E se, por um lado, o exterior da casa é simples, os
Arquiteturas modernista e pós-modernista 3

ambientes internos, por outro, “[...] são ricamente revestidos de lâminas de


madeira clara nas paredes e de tapetes orientais no piso, criando uma sensação
de suntuosa elegância”, como colocam Ching, Jarzombek e Prakash (2019, p.
703). Embora Loos seja considerado como um dos precursores do modernismo,
nesse caso, ele apresenta uma aproximação com o ideal do movimento das
artes e ofícios, em razão do tratamento do interior e seu intimismo.

O futurismo e o construtivismo
O futurismo italiano e o construtivismo russo foram dois movimentos que
influenciaram o desenvolvimento do modernismo europeu, apesar de terem
sido relativamente breves.
Filippo Marinetti (1876–1944) foi o principal responsável por apresentar
os ideais futuristas, publicando um manifesto, em 1909, para sua fundação,
mesmo ano em que Frank Lloyd Wright seguia para a Europa após abandonar
os Estados Unidos. Marinetti acreditava piamente que a paisagem italiana,
assim como sua arquitetura, deveria sofrer uma mudança radical. Segundo
Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 483), ele “[...] louvava a velocidade, o
perigo, a audácia e até mesmo a guerra como meio de limpar a sociedade;
também anunciou o fim das noções tradicionais de tempo e espaço”. Para
Marinetti (apud CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019, p. 708), “[...] a arte
não pode ser nada além de violência, crueldade e injustiça”. Ao redor dessa
retórica agressiva, estavam artistas e escultores, ainda sem meios gráficos
para se expressarem.
O arquiteto mais conhecido do movimento foi Antonio Sant’Elia (1888–
1916). A arquitetura futurista perdeu muita força após a sua morte. Sant’Elia
ficou conhecido a partir da exposição de 1914, Città Nuova (Cidade Nova)
e da publicação que a acompanhou, Messagio (Mensagem), que se tornou o
manifesto da arquitetura futurista. Sua técnica envolvia perspectivas exube-
rantes, projetos para hangares de aeronaves, blocos de apartamentos, centro
de transporte, entre outros. Os projetos se caracterizavam por “[...] fortes
volumes sem ornamentação, verticalidade, paredes inclinadas ou escalonadas,
múltiplos níveis de circulação horizontal, elevadores externos e equipamentos
de geração de energia aparentes”, como como ser visto na Figura 2 (FAZIO;
MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 484).
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Figura 2. Antonio Sant’Elia, detalhe de La


Città Nuova, 1914. Sant’Elia explorou as pos-
sibilidades de uma cidade dinâmica domi-
nada por múltiplos meios de transporte.
As altas torres de elevadores conectadas
às laterais dos prédios por passarelas são
especialmente impressionantes.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011. p. 484).

Assim como os futuristas, os construtivistas também eram muito ra-


dicais na Rússia revolucionária, ainda que determinados a desaparecer, em
vista do classicismo de Stalin. O construtivismo idealizava uma República
Soviética cuja arquitetura fosse impulsionada pelas forças da industrialização.
No entanto, muitas dessas ideias construtivistas transpunham o cenário rural
e o estado de confusão total que caracterizava o país. Propunham o uso de
materiais de construção modernos, como aço e o concreto, e grandes áreas de
vidro. Entre seus projetos, destaca-se o Pavilhão Soviético para a Exposition
des Arts Décoratifs, de 1925, projeto de Konstantin Melnikov (1890–1974),
com “volumes romboides e estrutura em balanço” enfatizando o dinamismo,
ao passo que “[...] os espaços interconectados expressavam a agenda ainda
em aberta do Comunismo Soviético” (Figura 3) (FAZIO; MOFFETT; WO-
DEHOUSE, 2011, p. 485).
Arquiteturas modernista e pós-modernista 5

Figura 3. Konstantin Melnikov, Pavilhão


Soviético, Exposition des Arts Décoratifs,
Paris, 1925. Para criar esta forma dinâmica,
Melnikov usou um grelha de planejamento
interseccionada por uma escadaria diagonal.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 485).

O expressionismo holandês e alemão


Os pintores dos grupos alemães Brucke (Ponte) e Blauer Reiter (Cavaleiro
Azul), entre 1900 e 1914, revoltaram-se contra o naturalismo acadêmico,
passando a expressar suas emoções, pensamentos e sentimentos diretamente
na pintura. No período pós-guerra, os artistas e arquitetos europeus viam-
-se emocionados em relação à barbárie da guerra enquanto a sociedade se
recuperava da devastação.
Os membros do expressionismo holandês, trabalhando em Amsterdã,
deviam muito à obra de H. P. Berlage (1856–1934). Em suas obras, buscavam
ressaltar o processo artesanal da construção, revelar a estrutura e um alto nível
de detalhes. Um dos prédios pelo qual Berlage ficou conhecido é o da Bolsa
de Valores de Amsterdã (1897–1903). O edifício apresenta paredes portantes
de tijolo e pedra com inspiração medieval, cobertura de treliças de ferro e
claraboias acima do grande salão (Figura 4).
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Figura 4. H. P. Berlage, Bolsa de Valores de Amsterdã, Amsterdã,


1907–1903 (exterior e interior do edifício).
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 487).

Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 487) revelam que:

Berlage se inspirou na longa tradição holandesa de construção com tijolos.


A alvenaria de tijolo da Bolsa de Valores fica ainda mais rica pelo uso de
pedras policromáticas tanto no interior quanto no exterior. No interior não
há apenas tijolo e pedra, mas ferro na forma de arcos treliçados. O material
que antigamente era considerado apropriado apenas para edificações como
estufas e estações ferroviárias passou a ser aceito em edifícios institucionais.

Diferentemente do holandês, o expressionismo alemão se mostrou muito


mais diversificado, pois se preocupava tanto com a forma como com a utopia.
Foram fundamentais para o movimento os escritos de Paul Scheerbart, que
enxergava na arquitetura de vidro e cristalina um modo de amenizar a opaci-
dade “opressora” a seu ver, característica da cultura moderna.
Dentre as obras do expressionismo alemão, um monumento bastante di-
vulgado é o da Caixa d’Água, de Posen (atual Poznan, na Polônia), projeto de
Hans Poelzig, o qual juntou funções aparentemente heterogêneas com uma
estética industrial, com um aspecto “quase alucinógeno” (Figura 5). Sobre
essa obra, Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 491) afirmam que:

[...] vedações externas da edificação são facetadas e extremamente texturiza-


das, incluindo alvenaria variada e padrões de vidraça. No interior, inserido em
uma estrutura independente [...] e sob o reservatório de água. Poelzig projetou
um espaço de exibição que pretendia transformar em mercado público. A
edificação é um impressionante amálgama de função e fantasia.
Arquiteturas modernista e pós-modernista 7

Figura 5. Hans Poelzig, Caixa d’Água de Posen, Posen, 1911. Hans


Poelzig era um membro muito respeitado da Werkbund; atualmente
seria descrito como um corporativista. Mesmo assim, não encontrou
dificuldades para produzir este projeto evocativo baseado em painéis
policromados facetados. Alguns panos de tijolo externos se refletem
no interior, entre a estrutura independente de pilares treliçados.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 491).

A Art Déco
A Art Déco abrange uma linguagem diversificada de projeto, incluindo de
gráficos a móveis, de arquitetura a cerâmicas. Suas artes decorativas — tam-
bém conhecidas como l’art moderne — floresceram na França em meados
de 1910, ao passo que sua arquitetura seguiu popular nos Estados Unidos ao
longo da década de 1930, particularmente em arranha-céus e teatros. Como
estilo, a Art Déco só foi reconhecida na década de 1960 (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011, p. 492).
8 Arquiteturas modernista e pós-modernista

Um exemplo do movimento Art Déco é o Cristo Redentor, do Rio de Janeiro, estátua


localizada no alto do morro do Corcovado, cuja construção teve início em 1926. Para
Giumbelli (2008, p. 88):

[...] o Cristo Redentor participa e testemunha a própria consolidação de


um estilo que pretendia encarnar os índices da suprema modernidade.
No quadro da arquitetura brasileira e carioca, a estátua figura como
uma das obras pioneiras do Art Déco.

O movimento Art Déco, assim como a Art Nouveau e as demais experiências


modernistas, buscou a inovação em um novo século, mas suas inspirações
eram extremamente ecléticas. Além das inspirações que serão citadas a se-
guir, o movimento também trouxe inspirações do Egito Antigo, da África,
do Oriente e de outros locais, utilizando flores estilizadas, formas vegetais
onduladas, formas geométricas facetadas e figuras humanas estilizadas,
idealizadas e heroicas.

 Inspirações do cubismo: formas sobrepostas e facetadas.


 Inspirações do construtivismo russo: linguagem da mecanização.
 Inspirações do futurismo: o fascínio pelo movimento.

O movimento Déco, ainda que abraçasse a estética da máquina, apresentava


um modo de celebrar tanto a arte como a tecnologia. Dentro de sua produção
arquitetônica, destaca-se um famoso arranha-céu, o Edifício Chrysler (1928),
situado em Nova Iorque e projetado por William Van Alen (1883–1954). Como
vemos na Figura 6 e segundo Fazio e colaboradores (2011, pp. 492–493), o
edifício, com sua “cúpula em forma de coroa feita de aço inoxidável, com
sucessivos arcos preenchidos com raios de sol e coroada com uma flecha”, se
tornou um marco na paisagem urbana. Ainda se destacam “suas gárgulas de
águias e o famoso acrotério com motivos radiais e friso adjacente com rodas
de veículos abstratas”.
Arquiteturas modernista e pós-modernista 9

Figura 6. William Van Alen, Edifício Chrysler, Nova Iorque,


1928. A silhueta mais característica na linha do horizonte de
Nova Iorque ainda é a coroa de aço inoxidável do Edifício
Chrysler. Ignorado por muito tempo pelos modernistas,
este ornamento para edifícios altos ressurgiu quase como
um fetiche nas décadas de 1970 e 1980.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 492).

Além dos edifícios altos Art Déco que se destacam em Nova Iorque, há um
conjunto particularmente rico em Miami Beach, Flórida, “[...] onde a linguagem
internacional se misturou com uma paleta de cores local e se adaptou ao clima
subtropical” (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 495). São edifícios
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de escala modesta, mas pintados com tons fortes. Em geral, apresentam brises
e balcões que enfatizam a horizontalidade do conjunto, sendo pontuados por
elementos marcadamente verticais, como entradas e torres de escada. Sua
decoração é marcada por motivos da Art Déco, como raios de sol, motivos
da fauna e flora locais, incluindo as tradicionais palmeiras e flamingos de
Miami (Figura 7), como ressaltam os autores citados.

Figura 7. Anton Skislewicz, The Breakwater, Miami


Beach, Flórida, 1939. As volumetrias mais populares
entre os edifícios da Art Déco em Miami combinam
vários pavimentos horizontais com um alto elemento
central — neste caso, um letreiro de hotel e uma
caixa de escada.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 496).

O De Stijl
As origens do movimento holandês De Stijl remontam às obras do pintor Piet
Mondrian (1872–1944) e do arquiteto H. P. Berlage (também comentado no ex-
pressionismo holandês) e possuem duas fases, ambas coordenadas por Theo Van
Doesburg — pintor, projetista, tipógrafo, crítico, escritor e agitador de multidões.
Os dois artistas que marcam o início do movimento buscavam em sua obra uma
maneira moderna de se expressar. Os projetos de De Stijl são marcados pela
ultrarracionalidade e por serem abstratos e mecânicos, diferentemente dos ex-
pressionistas holandeses, que tendiam ao figurativismo, sintonizados com o meio
artesanal de produzir edificações (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).
Arquiteturas modernista e pós-modernista 11

 Primeira fase do De Stijl: tem início em 1921 e inclui como parti-


cipantes Mondrian, vários outros pintores holandeses e os arquitetos
Rob van t’Hoff (1887–1979) e J. J. P. Oud (1890–1963), que defendiam
a criação de formas universais espacialmente ilimitadas e em sintonia
com a tecnologia moderna.
 Segunda fase do De Stijl: de 1921 a 1922, mudaram os participantes,
e o movimento ganhou um perfil mais internacional, sem Mondrian
e com a permanência de Van Doesburg. Temos a entrada dos russos
construtivistas El Lissitzky (1890–1941), Friedrich Kiesler (1890–
1965), do Grupo Berlim G (que incluía o jovem Mies va der Rohe), o
planejador Cor Van Eesteren (1897–1988) e o arquiteto e desenhista
de móveis holandês Gerrit Rietveld (1888–1964). Nessa fase, as obra
do De Stijl continuaram abstratas e com caráter tecnicista, porém se
tornaram mais construtivistas e radicais em relação à exploração do
espaço tridimensional.

Dessa produção, podemos dar destaque, entre os desenhos de móveis, à


Cadeira Vermelha e Azul (1917–18) de Rietveld, até hoje produzida (Figura 8).

Figura 8. Gerrit Rietveld, Cadeira Vermelha e Azul, 1917–


1918. Essa cadeira, nas cores primárias características do
estilo, ainda é produzida. A construção com elementos
aparentemente independentes mostra por que Rietveld
descreveu sua obra como “elementarismo”.
Fonte: Picturepartners/Shutterstock.com.
12 Arquiteturas modernista e pós-modernista

Gerrit Rietveld desenvolveu uma linguagem chamada de elementarismo, na qual reunia


os elementos individuais, de modo a manter sua integridade; o conjunto completo
evidenciava todo o processo de construção (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).

Da produção arquitetônica, pode-se destacar a Casa Schröder (1924),


projeto de Rietveld em Utrecht, que costuma ser apontada e conhecida como
umas das principais obras do De Stijl. A casa possui exterior similar ao de
outras composições residenciais de Van Eesteren e Van Doesburg, a partir
de planos com diferentes orientações ortogonais que se interseccionam e se
conectam através de perfis de aço lineares (Figura 9) (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011).

Figura 9. Gerrit Rietveld, Casa Schröder, Utrecht, 1924. Não é difícil


imaginar o susto dos vizinhos, que moravam em casas de tijolos
tradicionais, quando esta composição estranha apareceu na rua.
Fazia 20 anos que Adolf Loos havia despojado uma casa com a
aplicação de ornamentos pela primeira vez.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 498).
Arquiteturas modernista e pós-modernista 13

O estilo internacional
A Deutscher Werkbund — em português, “Associação Alemã de Artesãos” —
foi uma organização cultural alemã formada por Peter Behrens, Walter Gropius
e Mies Van der Rohe, entre outros arquitetos e designers, fundada em 1907,
com o objetivo de valorizar o design alemão — apresentou uma proposta, em
1925, de uma exposição (1927) para mostrar as últimas tendências em projetos de
moradias, acessórios de interiores e técnicas de construção (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011). Para a exposição, foram disponibilizados pela prefeitura
de Stuttgart terrenos e verba para a construção de 33 edificações permanentes,
localizadas em uma colina no subúrbio da cidade (Figura 10).

Figura 10. Ludwig Mies van der Rohe, Edifícios de apartamentos do


Weissenhof Siedlung, Stuttgart, 1927. Mies desenvolveu a implanta-
ção desta exposição e construiu este edifício de apartamentos na
parte mais alta do terreno. Observe as janelas pré-fabricadas e os
balcões com guarda-corpos tubulares similares aos que Adolf Loos
usara 20 anos antes.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 511).

O empreendimento ficou a cargo de Mies van der Rohe, responsável pelo


plano diretor e um dos projetos, um edifício de apartamentos. Além disso, Mies
convidou 16 dos principais arquitetos da Europa para projetar as edificações,
entre elas casas isoladas, casas geminadas e casas em fita. As edificações ficaram
conhecidas como Weissenhof Siedlung (ou Conjunto Habitacional Modelo de
Weissenhof). Embora tenham se adotado no conjunto diversas abordagens, os
elementos comuns entre os projetos foram determinantes para o desenvolvimento
do modernismo. Sobre as características das edificações, ressalta-se a colocação:
14 Arquiteturas modernista e pós-modernista

Todas as edificações foram pintadas de branco; tinham janelas “funcionais”


que enfatizam a horizontalidade; e quase todas tinham coberturas planas,
algumas com terraços-jardim. O aspecto industrial foi expresso nos perfis
tubulares dos guarda-corpos dos balcões, os quais eram o principal elemento
decorativo no exterior. As guarnições de janela eram mínimas e não havia
cornijas (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 511).

No fim, observou-se uma aparência parecida nas edificações, mesmo que


projetadas por arquitetos alemães e de outros países. Tanto essa afinidade
estética quanto o livro Internacionale Architektur (1925), de Walter Groupius,
contribuíram para que a arquitetura moderna do final da década de 1920 fosse
intitulada de estilo internacional. Estilo este caracterizado, segundo Barr (apud
FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 512), por dar:

[...] ênfase no volume — espaços vedados por planos e superfícies finas


em vez de simetrias ou outros tipos de equilíbrio evidente; e, finalmente, a
dependência com relação à elegância intrínseca dos materiais, sua perfeição
e belas proporções, em vez da aplicação de ornamentos.

Poucas mulheres entraram para o seleto grupo do modernismo europeu, dominado


por homens. Lilly Reich trabalhou com Ludwig Mies van der Rohe em seus interiores,
mas apenas Eileen Gray (1878–1976) produziu casas no estilo internacional por conta
própria. No projeto de sua casa, em Roquebrune, França (1926–1929), é interessante
observar como as paredes brancas desadornadas são bastante consistentes com
a arquitetura tradicional do litoral e das ilhas do Mediterrâneo (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011).

Conclusões sobre a arquitetura modernista


Após a Primeira Guerra Mundial, muitos arquitetos europeus enxergaram
na arquitetura um possível instrumento de transformação social. Em meio a
um cenário caótico de destruição e emergência de habitações, elegeram-se
como principais preocupações a utilidade, a eficiência e a mecanização ligada
à indústria, combinadas às avançadas concepções espaciais em voga nesse
momento nas artes visuais. E, como apanhado desse contexto e período de
inúmeras experiências e de desenvolvimento do modernismo, temos o trecho,
Arquiteturas modernista e pós-modernista 15

que muito nos revela, de Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 525) sobre
os modernistas, que, por meio da arquitetura, acreditavam na mudança de
mentalidade do povo:

Não faltaram novas ideias: Adolf Loos e seu ataque contra a ornamentação
“decadente” e o desenvolvimento do Raumplan; Frank Lloyd Wright e a
decisão de inventar uma tipologia doméstica norte-americana única (o que
fez com as casas no Estilo dos Prados), além de inovações técnicas como o
condicionamento de ar central no Edifício Larkin e o concreto moldado in
loco no Templo Unitário; e a experiência alemã, na qual Peter Behrens e ou-
tros com ideias similares fundaram a Deustcher Werkbund, tentando elevar a
qualidade geral dos produtos manufaturados, e Walter Groupius desenvolveu
um novo sistema de ensino de arquitetura na Bahaus – primeiro em Weimar,
depois em Dessau, até a escola ser fechada pelos nazistas. Some a essa fértil
mistura as propostas radicais – desenhadas com frequência, mas construídas
como frequência menor – de dinamismo feitas pelos futuristas italianos, de
modulações de espaço infinito pelos projetistas do De Stijl e de composições
radicais de materiais pelos construtivistas russos. No final, o espaço se tornou
a especialidade do Modernismo.

E, logo, vemos essa espacialidade muito bem trabalhada pelos “mestres do


modernismo” — Le Corbusier, Walter Groupius, Mies van der Rohe e Frank
Lloyd Wright — em suas obras, desenvolvidas ao longo de diferentes fases de
suas carreiras, deixando um legado importante para a arquitetura e sua história.
Devem-se ressaltar ainda, para além de todos esses acontecimentos, os
avanços tecnológicos na construção civil — marcados pelo uso do aço e do
concreto armado —, e as novas visões da cidade, sendo esta vista como um
local para abrigar indústrias e sistemas modernos de transporte, assim como a
questão da saúde física e mental e os ideais utópicos. Lembre-se, ainda, de que,
em número total de edificações construídas, tinham destaque “[...] as formas
alternativas do Expressionismo holandês e alemão, as formas híbridas da Art
Déco e as formas latentes do ecletismo”, e não as que seguiam as prescrições
modernistas (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p.525). Em vista
disso tudo, a situação se tornou ainda mais complexa e indefinida no final do
século XX, como veremos a seguir.

Arquitetura pós-modernista
A organização conhecida como CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna), em 1928, deu início à promoção da arquitetura moderna e à aborda-
16 Arquiteturas modernista e pós-modernista

gem de questões urgentes de projetos de edificações e planejamentos urbanos.


Le Corbusier foi considerado como sua figura de destaque, no entanto, outros
modernistas também participaram do CIAM, como Walter Groupius e Alvar
Aalto. Após a Segunda Guerra Mundial, a organização buscou reformular
suas metas, mas logo ficou claro que os novos projetistas se direcionavam para
outros horizontes. Em 1953, um grupo recém-formado e que se denominava
Team-X ficou responsável por organizar a próxima edição, ocasionando o
término dos CIAMs.

O Team-X era formado pelo casal Peter (1923–2003) e Alison (1928–1993), Smitshon
e Ralph Erskine (1914–2005), ingleses, e o holandês Aldo Van Eyck (1918–99), que
pensavam de maneira diferente dos modernistas convencionais, pois voltavam-se
mais para os problemas pós-guerra e para as questões dos contextos regional e local
(FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).

Roberti Venturi
O modernismo estava ameaçado após a Segunda Guerra Mundial. Como
vimos, membros do Team-X percebiam que o campo da arquitetura estava
mudando. Assim, arquitetos como Alvar Aalto, Saarinem e Louis Kahn bus-
caram novas direções.
A partir da década de 1960, deu-se início ao pós-modernismo, marcado
pela publicação do tratado Complexidade e Contradição em Arquitetura
(1966), de Robert Venturi (1925), que defendia uma arquitetura multivalente
e subjetiva. No livro, Venturi (apud FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE,
2011, p. 538) descartava: “[...] o caráter ordenadamente puro e imaculado do
Modernismo em favor de obras populistas plurais, frequentemente anônimas
e eminentemente práticas”, transformando o “menos é mais” (less is more)
de Mies, para “menos é um tédio” (less is a bore). Entre as obras de Venturi,
antes da publicação do livro, destaca-se a casa feita para sua mãe, Vanna, em
1962, na Pensilvânia (Figura 11).
Arquiteturas modernista e pós-modernista 17

Figura 11. Robert Venturi, Casa Vanna Venturi, Chestnut Hill, Pen-
silvânia, 1962. Robert Venturi construiu esta casa para sua mãe. A
modesta edificação é rica em alusões à arquitetura do passado, desde
a moldura semelhante a um arco acima da entrada até a volumetria
em forma de frontão partido do bloco inteiro.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 538).

É importante ressaltar que o termo “pós-modernismo” foi criado para identificar


as novas direções surgidas dentro do campo da arquitetura após o modernismo.
Não descrevia que novas direções seriam estas, somente aquilo que elas não
eram. Segundo Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 539), depois da introdução
do termo no contexto da arquitetura, “[...] ele assumiu um contrassignificado na
cultura de maneira geral, sugerindo uma fragmentação pós estruturalista e uma
desconfiança em relação a qualquer tentativa de construir sistemas de pensamento
sobre bases firmes”. O Quadro 1, a seguir, aponta alguns dos personagens que se
destacam dentro da produção pós-moderna e dentro de suas vertentes.

Quadro 1. Uma vertente pós-modernista

Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras

Philip Johnson Sede da Com este edifício e as


(1906–2000) American referências aos estilos
Telephone do passado, Philip
and Telegraph, Johnson rompeu com
Nova Iorque, a tradição miesiana.
1984

(Continua)
18 Arquiteturas modernista e pós-modernista

(Continuação)

Quadro 1. Uma vertente pós-modernista

Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras

Charles Moore Piazza d’Itália, A obra de Moore assu-


(1925–1993) Nova Orleans, miu um aspecto quase
Louisiana, carnavalesco com
1975–1979 projetos como este,
uma fonte com pano
de fundo para um
espaço público criado
em Nova Orleans.

Michael Dolphin Hotel, Aqui, Graves trouxe


Graves Disney World, Boullée para um
(nascido Orlando, ambiente de parque
em 1934) Flórida, 1987 temático. Embora os
apartamentos sejam
modestos, o contexto,
projetado com água,
passarelas, cabanas
e esplanada ladeada
por palmeiras, anima o
conjunto.

Robert A. M. Casa Lang, Esta casa de campo


Stern Washington, tem uma fachada à
(nascido Connecticut, maneira de loja do
em 1939) 1973–1974 faroeste norte-ame-
ricano, na qual foram
aplicadas molduras
similares a glacê de
bolo. São os primei-
ros passos de Stern
na chamada alusão
clássica.

Fonte: Adaptado de Fazio, Moffett e Wodehouse (2011).


Arquiteturas modernista e pós-modernista 19

A desconstrução
O pós-modernismo também inclui obras descritas como desconstrutivistas
— obras que enfatizam a fragmentação e dissociação em vez da unidade e
síntese tradicionais (Quadro 2).

Quadro 2. A desconstrução

Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras

Berbard Folie, Parc de la O Parc de la Villette foi


Tschumi Villette, Paris, criado como centro
(nascido 1982–1985 cultural ao ar livre, com
em 1944) espaço para oficinas,
academia de ginástica,
equipamentos de ba-
nho, parques infantis,
exposições, concertos
e muito mais. Cada fo-
lie é um objeto neutro
e indiferente na paisa-
gem, onde podem ser
realizadas as atividades
designadas.

Peter Casa III, Na década de 1960,


Eisenman Lakeville, Peter Eisenman explo-
(nascido Connecticut, rou as possibilidades
em 1932) 1969–1971 abstratas das grelhas
rotadas. Os espaços se
tornavam um efeito
causado pela manipu-
lação de elementos se-
lecionados de acordo
com um conjunto de
regras.

(Continua)
20 Arquiteturas modernista e pós-modernista

(Continuação)

Quadro 2. A desconstrução

Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras

Zaha Hadid Rampa para Nesta época em que


(nascido Prática de as mulheres ganham
em 1950) Esqui de Bergi- cada vez mais des-
sel, Innsbruck, taque no cenário da
Aústria, 2002 arquitetura internacio-
nal, ninguém é mais
famosa que a iraniana
Zaha Hadid. Ao proje-
tar a rampa de esqui,
ela pôde explorar seu
interesse pela veloci-
dade, a mudança e os
ângulos relacionados
dos volumes.

Frank Gehry Museu Gug- Este foi o edifício


(nascido genheim de recente que mais
em 1929) Bilbao, Bilbao, chamou a atenção da
1997 imprensa e atraiu pere-
grinos da arquitetura.
Os visitantes adoram
tocar a pele brilhante
de titânio.

Rem Biblioteca Algumas pessoas


Koolhaas Central de Se- questionam se sua
(nascido attle, Washing- preocupação com as
em 1944) ton, 2004 montagens de mate-
riais e sistemas é com-
patível com sua queda
pela conceitualização.

Fonte: Adaptado de Fazio, Moffett e Wodehouse (2011).


Arquiteturas modernista e pós-modernista 21

O regionalismo moderno
O Quadro 3 apresenta arquitetos que seguiram o caminho aberto pelo Team-X,
baseando-se em valores locais, tradições de construção e linguagens formais,
sensíveis ao terreno em conjuntos com as novas tecnologias.

Quadro 3. O regionalismo moderno

Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras

Luís El Bebedero A água é um bem


Barragán (bebedouro precioso em lugares
(1902–1988) e fonte), Las áridos, como em grande
Arboledas, parte do México, e
Cidade do está associada à vida,
México, ao renascimento e à
1959–1962 renovação; isso significa
que, embora tenha
sido concebido como
um “bebedouro”, este
espelho de água e o
jardim que o cerca
tornaram-se uma
paisagem introspectiva.

Mario Casa 1973, Brotta respondeu ao


Brotta Monte San contexto espetacular
(nascido Giorgio, inserindo no terreno
em 1943) Suíça, 1973 íngreme a geometria
elementar de um cubo,
acessado por uma
delicada passarela
em esqueleto.

Álvaro Siza Centro Galego Primeiramente, Siza


(nascido de Arte relacionou o edifício com
em 1933) Contemporânea, a estrada; em seguida,
Santiago de uniu o convento, o
Compostela, claustro e a igreja antigos
Espanha, com o novo museu
1985–1992 por meio de paisagens
compartilhadas.

Fonte: Adaptado de Fazio, Moffett e Wodehouse (2011).


22 Arquiteturas modernista e pós-modernista

Destacam-se, ainda, as vertentes: o modernismo no Japão, com os arqui-


tetos Kenzo Tange (1913–2005), Fumihiko Maki (nascido em 1928), Arata
Isozaki (nascido em 1931), Tadao Ando (nascido em 1941); o formalismo nos
Estados Unidos, com os edifícios a Prefeitura de Boston (1968), o Memorial
aos Veteranos do Vietnã (1982), o United States Holocaust Memorial Museum
(1993) e alguns edifícios altos da cidade de Nova Iorque; e o trabalho dos
arquitetos Richard Meier (nascido em 1934), Antoine Predock (nascido em
1936), Steven Holl (nascido em 1947), da firma Morphosis; além do formalismo
em outros locais, como Jorn Utzon, vencedor do projeto Casa de Ópera de
Sydney, na Austrália (1957); o trabalho de alguns arquitetos europeus — como
o de Renzo Piano (nascido em 1937), Santiago Calatrava (nascido em 1951),
Jean Nouvel (nascido em 1949), Norman Foster (nascido em 1935) e Nicholas
Grimshaw (nascido em 1939).

Conclusões sobre a arquitetura pós-modernista


Pode-se concluir que, definitivamente, não há uma única vertente no projeto
de edificações no início deste século. O movimento pós-moderno chegou e já
se foi, e o desconstrutivismo revelou-se mais como um “rótulo”. Não há como
negar que a cultura arquitetônica, de modo geral, apresenta-se plural, em que
há novas forças, sendo o computador, provavelmente, uma das mais evidentes.
Como coloca Pereira (2010, p. 311) sobre a arquitetura contemporânea:

A arquitetura atual é cruzada por diversas linhas transversais, é uma arquite-


tura mestiça: de formação cosmopolita e atuação planetária. Distanciada dos
experimentos radicais, não é uma arquitetura de ideias, e sim um arquitetura
de experiências: é pouco programática e peculiar a cada situação.
Arquiteturas modernista e pós-modernista 23

CHING, F. D. K.; JARZOMBEK, M. M.; PRAKASH, V. História global da arquitetura. 3. ed.


Porto Alegre: Bookman, 2019.
FAZIO, M.; MOFFETT, M.; WODEHOUSE, L. A história da arquitetura mundial. 3. ed. Porto
Alegre: AMGH, 2011.
GIUMBELLI, E. A modernidade do Cristo Redentor. DADOS Revista de Ciências Sociais,
v. 51, n. 1, 2008. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/dados/v51n1/a03v51n1.pdf.
Acesso em: 16 jul. 2019.
PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura: das origens ao Século XXI. Porto
Alegre: Bookman, 2010.

Leituras recomendadas
CURTIS, W. J. R. Arquitetura moderna desde 1900. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.
HADID, Z. Zaha Hadid: 1983-1995. Madrid: El Escorial, 2000.
HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
MAHFUZ, E. C. Quem tem medo do pós-modernismo. Revista Projeto, n. 111, 1989.
ROSSI, A. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
RUUSUVUORI, A.; PALLASMAA, J. Alvar Aalto: 1898-1976. 3. ed. Lisboa: Helsinki, 1981.
SIZA, Á. Alvaro Siza: 1986-1995. Lisboa: Blau, 1995.

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