Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Arquitetura
Introdução
Os acontecimentos do século XX, combinados aos avanços tecnológicos
na construção civil (marcados pelo uso do aço e do concreto armado)
deram uma nova visão às cidades como um local para abrigar indústrias
e sistemas modernos de transporte. Pensando-se ainda na questão da
saúde física e mental, caracterizaram nesse contexto o surgimento das
arquiteturas modernista e, mais tarde, pós-modernista. Neste capítulo,
você verá a descrição dos movimentos da arquitetura contemporânea
pós-ecletismo, a partir da identificação de suas características e principais
obras e artistas.
Arquitetura modernista
Durante o período de transição da Revolução Industrial até nossa contempo-
raneidade, surgem novos problemas e, com isso, repostas diferentes e únicas,
a partir de um leque de novas experimentações. Para Pereira (2010, p. 227),
esses novos problemas levaram “[...] a uma desagregação dos nexos morfoló-
gicos tradicionais em todos os campos”. O século XX traz consigo mudanças
culturais e científicas importantes. Tais mudanças e as novas descobertas
2 Arquiteturas modernista e pós-modernista
O futurismo e o construtivismo
O futurismo italiano e o construtivismo russo foram dois movimentos que
influenciaram o desenvolvimento do modernismo europeu, apesar de terem
sido relativamente breves.
Filippo Marinetti (1876–1944) foi o principal responsável por apresentar
os ideais futuristas, publicando um manifesto, em 1909, para sua fundação,
mesmo ano em que Frank Lloyd Wright seguia para a Europa após abandonar
os Estados Unidos. Marinetti acreditava piamente que a paisagem italiana,
assim como sua arquitetura, deveria sofrer uma mudança radical. Segundo
Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 483), ele “[...] louvava a velocidade, o
perigo, a audácia e até mesmo a guerra como meio de limpar a sociedade;
também anunciou o fim das noções tradicionais de tempo e espaço”. Para
Marinetti (apud CHING; JARZOMBEK; PRAKASH, 2019, p. 708), “[...] a arte
não pode ser nada além de violência, crueldade e injustiça”. Ao redor dessa
retórica agressiva, estavam artistas e escultores, ainda sem meios gráficos
para se expressarem.
O arquiteto mais conhecido do movimento foi Antonio Sant’Elia (1888–
1916). A arquitetura futurista perdeu muita força após a sua morte. Sant’Elia
ficou conhecido a partir da exposição de 1914, Città Nuova (Cidade Nova)
e da publicação que a acompanhou, Messagio (Mensagem), que se tornou o
manifesto da arquitetura futurista. Sua técnica envolvia perspectivas exube-
rantes, projetos para hangares de aeronaves, blocos de apartamentos, centro
de transporte, entre outros. Os projetos se caracterizavam por “[...] fortes
volumes sem ornamentação, verticalidade, paredes inclinadas ou escalonadas,
múltiplos níveis de circulação horizontal, elevadores externos e equipamentos
de geração de energia aparentes”, como como ser visto na Figura 2 (FAZIO;
MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 484).
4 Arquiteturas modernista e pós-modernista
A Art Déco
A Art Déco abrange uma linguagem diversificada de projeto, incluindo de
gráficos a móveis, de arquitetura a cerâmicas. Suas artes decorativas — tam-
bém conhecidas como l’art moderne — floresceram na França em meados
de 1910, ao passo que sua arquitetura seguiu popular nos Estados Unidos ao
longo da década de 1930, particularmente em arranha-céus e teatros. Como
estilo, a Art Déco só foi reconhecida na década de 1960 (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011, p. 492).
8 Arquiteturas modernista e pós-modernista
Além dos edifícios altos Art Déco que se destacam em Nova Iorque, há um
conjunto particularmente rico em Miami Beach, Flórida, “[...] onde a linguagem
internacional se misturou com uma paleta de cores local e se adaptou ao clima
subtropical” (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011, p. 495). São edifícios
10 Arquiteturas modernista e pós-modernista
de escala modesta, mas pintados com tons fortes. Em geral, apresentam brises
e balcões que enfatizam a horizontalidade do conjunto, sendo pontuados por
elementos marcadamente verticais, como entradas e torres de escada. Sua
decoração é marcada por motivos da Art Déco, como raios de sol, motivos
da fauna e flora locais, incluindo as tradicionais palmeiras e flamingos de
Miami (Figura 7), como ressaltam os autores citados.
O De Stijl
As origens do movimento holandês De Stijl remontam às obras do pintor Piet
Mondrian (1872–1944) e do arquiteto H. P. Berlage (também comentado no ex-
pressionismo holandês) e possuem duas fases, ambas coordenadas por Theo Van
Doesburg — pintor, projetista, tipógrafo, crítico, escritor e agitador de multidões.
Os dois artistas que marcam o início do movimento buscavam em sua obra uma
maneira moderna de se expressar. Os projetos de De Stijl são marcados pela
ultrarracionalidade e por serem abstratos e mecânicos, diferentemente dos ex-
pressionistas holandeses, que tendiam ao figurativismo, sintonizados com o meio
artesanal de produzir edificações (FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).
Arquiteturas modernista e pós-modernista 11
O estilo internacional
A Deutscher Werkbund — em português, “Associação Alemã de Artesãos” —
foi uma organização cultural alemã formada por Peter Behrens, Walter Gropius
e Mies Van der Rohe, entre outros arquitetos e designers, fundada em 1907,
com o objetivo de valorizar o design alemão — apresentou uma proposta, em
1925, de uma exposição (1927) para mostrar as últimas tendências em projetos de
moradias, acessórios de interiores e técnicas de construção (FAZIO; MOFFETT;
WODEHOUSE, 2011). Para a exposição, foram disponibilizados pela prefeitura
de Stuttgart terrenos e verba para a construção de 33 edificações permanentes,
localizadas em uma colina no subúrbio da cidade (Figura 10).
que muito nos revela, de Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 525) sobre
os modernistas, que, por meio da arquitetura, acreditavam na mudança de
mentalidade do povo:
Não faltaram novas ideias: Adolf Loos e seu ataque contra a ornamentação
“decadente” e o desenvolvimento do Raumplan; Frank Lloyd Wright e a
decisão de inventar uma tipologia doméstica norte-americana única (o que
fez com as casas no Estilo dos Prados), além de inovações técnicas como o
condicionamento de ar central no Edifício Larkin e o concreto moldado in
loco no Templo Unitário; e a experiência alemã, na qual Peter Behrens e ou-
tros com ideias similares fundaram a Deustcher Werkbund, tentando elevar a
qualidade geral dos produtos manufaturados, e Walter Groupius desenvolveu
um novo sistema de ensino de arquitetura na Bahaus – primeiro em Weimar,
depois em Dessau, até a escola ser fechada pelos nazistas. Some a essa fértil
mistura as propostas radicais – desenhadas com frequência, mas construídas
como frequência menor – de dinamismo feitas pelos futuristas italianos, de
modulações de espaço infinito pelos projetistas do De Stijl e de composições
radicais de materiais pelos construtivistas russos. No final, o espaço se tornou
a especialidade do Modernismo.
Arquitetura pós-modernista
A organização conhecida como CIAM (Congresso Internacional de Arquitetura
Moderna), em 1928, deu início à promoção da arquitetura moderna e à aborda-
16 Arquiteturas modernista e pós-modernista
O Team-X era formado pelo casal Peter (1923–2003) e Alison (1928–1993), Smitshon
e Ralph Erskine (1914–2005), ingleses, e o holandês Aldo Van Eyck (1918–99), que
pensavam de maneira diferente dos modernistas convencionais, pois voltavam-se
mais para os problemas pós-guerra e para as questões dos contextos regional e local
(FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE, 2011).
Roberti Venturi
O modernismo estava ameaçado após a Segunda Guerra Mundial. Como
vimos, membros do Team-X percebiam que o campo da arquitetura estava
mudando. Assim, arquitetos como Alvar Aalto, Saarinem e Louis Kahn bus-
caram novas direções.
A partir da década de 1960, deu-se início ao pós-modernismo, marcado
pela publicação do tratado Complexidade e Contradição em Arquitetura
(1966), de Robert Venturi (1925), que defendia uma arquitetura multivalente
e subjetiva. No livro, Venturi (apud FAZIO; MOFFETT; WODEHOUSE,
2011, p. 538) descartava: “[...] o caráter ordenadamente puro e imaculado do
Modernismo em favor de obras populistas plurais, frequentemente anônimas
e eminentemente práticas”, transformando o “menos é mais” (less is more)
de Mies, para “menos é um tédio” (less is a bore). Entre as obras de Venturi,
antes da publicação do livro, destaca-se a casa feita para sua mãe, Vanna, em
1962, na Pensilvânia (Figura 11).
Arquiteturas modernista e pós-modernista 17
Figura 11. Robert Venturi, Casa Vanna Venturi, Chestnut Hill, Pen-
silvânia, 1962. Robert Venturi construiu esta casa para sua mãe. A
modesta edificação é rica em alusões à arquitetura do passado, desde
a moldura semelhante a um arco acima da entrada até a volumetria
em forma de frontão partido do bloco inteiro.
Fonte: Fazio, Moffett e Wodehouse (2011, p. 538).
Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras
(Continua)
18 Arquiteturas modernista e pós-modernista
(Continuação)
Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras
A desconstrução
O pós-modernismo também inclui obras descritas como desconstrutivistas
— obras que enfatizam a fragmentação e dissociação em vez da unidade e
síntese tradicionais (Quadro 2).
Quadro 2. A desconstrução
Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras
(Continua)
20 Arquiteturas modernista e pós-modernista
(Continuação)
Quadro 2. A desconstrução
Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras
O regionalismo moderno
O Quadro 3 apresenta arquitetos que seguiram o caminho aberto pelo Team-X,
baseando-se em valores locais, tradições de construção e linguagens formais,
sensíveis ao terreno em conjuntos com as novas tecnologias.
Uma de
Arquiteto Obra Descrição
suas obras
Leituras recomendadas
CURTIS, W. J. R. Arquitetura moderna desde 1900. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2008.
HADID, Z. Zaha Hadid: 1983-1995. Madrid: El Escorial, 2000.
HARVEY, D. Condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992.
MAHFUZ, E. C. Quem tem medo do pós-modernismo. Revista Projeto, n. 111, 1989.
ROSSI, A. A arquitetura da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995.
RUUSUVUORI, A.; PALLASMAA, J. Alvar Aalto: 1898-1976. 3. ed. Lisboa: Helsinki, 1981.
SIZA, Á. Alvaro Siza: 1986-1995. Lisboa: Blau, 1995.