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Resenha sobre “Capítulo VII - O Movimento Moderno Antes de 1914”, Pevsner

Publicada na Inglaterra em 1936, ampliada em 1949 e parcialmente reescrita em 1974, uma


das obras mais clássicas do historiador e arquiteto Nikolaus Pevsner “Os Pioneiros do
Desenho Moderno: de William Morris a Walter Gropius” ganhou notoriedade por ser um dos
primeiros livros a mostrar a história do Movimento Moderno dentro da arquitetura para o
mundo.
No capítulo sete deste livro, Pevsner retrata como um grupo consideravelmente pequeno de
artistas e arquitetos de basicamente 4 países diferentes revolucionaram os ideais estéticos
e visuais da época e contribuíram para o progresso de uma nova Arquitetura: mais racional
e utilitária. O autor detalha obras e artistas pioneiros de 1900 e tenta evidenciar que o novo
estilo já estava desenvolvido por volta de 1914 expondo características marcantes que irão
influenciar futuros arquitetos durante o século XX.
Mesmo após a Revolução Industrial inglesa – processo no qual foi capaz de mudar
drasticamente a estrutura da sociedade da época -, alguns costumes e conceitos, ainda
assim, permaneceram presentes no âmbito arquitetônico, tal qual o “vício” de ornamentos
presentes na maioria dos edifícios da época que fizeram com que a arquitetura do século
XIX perdesse a essência da funcionalidade e passasse a ser um mero capricho. Este fato
se dá com base na “teoria estética de 1800” que o próprio Prevsner cita em seu livro no
Capítulo 1 e confirma que o advento da indústria permitiu “produzir milhares de artigos
baratos no mesmo período de tempo e ao mesmo preço anteriormente necessários para um
único objeto bem-trabalhado” (1936, p. 3). Essa reprodução em massa de inutilidades levou
artistas e arquitetos como John Ruskin e William Morris a se tornarem um dos primeiros
idealizadores de uma Nova Era para a Arquitetura.
Notam-se entre a maioria dos pioneiros do movimento moderno o desprezo pela decoração
excessiva das construções do período e a necessidade de uma arquitetura que se
adequasse ao novo estilo de vida industrial, à época do aço e do vapor. A partir do
surgimento da civilização moderna, evidencia-se uma mudança na maneira de enxergar a
cidade e suas

necessidades arquitetônicas. Um arquiteto e escritor americano que está de acordo com


esse viés é Russel Sturgis que escreve para o Architectural Record (1898-9): “Os estilos
antigos simplesmente não se adaptam a nós, e temos de pô-los de lado”, ele ainda
comentou que só seria possível o surgimento de “um novo e admirável” estilo se os
arquitetos passassem a recorrer ao uso dos materiais, ao edifício e à construção como
“fontes de efeito arquitetônico”.
Nesse contexto, destacam-se 4 países que presidem o pioneirismo do movimento durante
os 15 anos antecedentes a Primeira Guerra Mundial: França, Estados Unidos, Áustria e
Alemanha. A primeira contribuiu com o Movimento Moderno a partir de dois arquitetos,
Auguste Perret e Tony Garnier, cuja grande inovação destes foi o uso do “concreto no
exterior e no interior de seus edifícios” (1936, p. 179), sem ocultá-lo muito menos adaptá-lo
aos antigos estilos. Nas obras de Perret há uma utilização de edifícios nus, esbeltos e
plenos em sua espacialização, enquanto Tony Garnier destaca-se a partir do projeto
revolucionário para uma Cidade Industrial (1901-4) no qual ele defende um “plano linear”,
assim como “um agrupamento racional da indústria, da administração e das residências, e
número suficiente de espaços abertos” (PEVSNER apud GARNIER, 1936, p. 181). Esses
dois arquitetos inovaram o uso de materiais que se tornariam popularmente conhecidos e
trouxeram inúmeras tendências para o início do século XX.
Adentrando a influência da América no desenvolvimento do estilo modernista, um arquiteto
que se sobressai é Frank Lloyd Wright que foi discípulo e precursor de outro pioneiro do
movimento: Louis Sullivan – cuja revolução estética entre seus arranha-céus foi o Carson
Pirie Scott Store (1899), em Chicago. Porém, apesar de Wright ser muito adepto às ideias
de Sullivan, ele pretendeu revolucionar o conceito de “casa particular”. Um desses maiores
preceitos revolucionários já concretizados em seus projetos foi para o Yahara Boat Club, de
Madison em 1902 no qual suas características arquitetônicas representam nitidamente as
novas exigências da época.
O final do capítulo é inteiramente dedicado aos outros dois países Alemanha e Áustria nos
quais Pevsner cita múltiplos arquitetos que influenciaram drasticamente na revolução
estética de 1900, porém dois deles se destacam: os alemães Peter Behrens e seu maior
discípulo Walter Gropius. O primeiro foi capaz de trazer criatividade para a arquitetura
industrial antes da Primeira Guerra e se sobressaiu na melhoria de objetos cotidianos, tais
quais a chaleira elétrica (1910) e as luminárias de rua (1907-8) para a A.E.G.
Porém, um dos maiores nomes e referências para o Movimento Moderno antes de 1914 foi,
definitivamente, Walter Gropius. Ele, quem construiu a Fábrica Fagus (1911), foi

capaz de mudar todo o tratamento que a estrutura recebia quando “fundiu” o ambiente
externo com o interno sem aparentar uma distinção clara. Gropius foi quem concretizou o
que todos os outros artistas vinham propondo e trouxe um novo caráter e modo de projetar
que a Arquitetura do século XX tanto clamava. A partir dele, fica claro o quanto sua
expressão pessoal em seus projetos tem sido imitada e efetuada com sucesso nos anos
posteriores.
A partir da análise do capítulo sete do livro em seu contexto histórico conclui-se que o
Movimento Moderno, claramente, não foi constituído somente depois de 1914. Foi, na
verdade, um processo – lento e pouco difundido – construído a partir da base feita por
William Morris e finalmente concretizado por Walter Gropius. Percebe-se, ainda, a fluidez do
Movimento Moderno que, apesar de apresentar uma universalidade cada país possui um
caráter único e independente de viver o estilo modernista. Em suma, cabe destacar o
quanto a falta de panfletagem dificultou a disseminação do movimento e a publicação deste
livro foi necessária para entender toda a influência que o pioneirismo moderno trouxe para
as décadas de 1900 e à contemporaneidade.

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