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Universidade Federal da Paraíba

Centro de Tecnologia

Departamento deArquitetura e Urbanismo

Professor Ivan Cavalcanti

1
Seminário apresentado ao Curso de
Graduação de Arquitetura e Urbanismo da
Universidade Federal da Paraíba – UFPB,
como requisito a adição na avaliação da
disciplina de Historia da Arquitetura e
Urbanismo II, sob orientação do Professor
PHD Ivan Cavalcanti.

Clarissa Rodrigues – 11021015

Lorena Pontes – 11021413

Maria Luiza Vigó - 11011821

SUMÁRIO

2
1. Introdução_________________________________________________________
_3

2. Contexto
Histórico___________________________________________________4

3. As fases e pensadores que dividiram o


movimento__________________________8

3.1 Henry Cole e seu Grupo______________________________________8

3.2 John Ruskin e William Morris_________________________________9

4. Características gerais do Arts and Craft_________________________________16

5. Representantes e manifestações do Arts and Crafts________________________17

6. Interiores e Mobiliário_______________________________________________43

7. Contribuições do Movimento_________________________________________57

8. Conclusão________________________________________________________58

9. Referencias_______________________________________________________59

3
1. INTRODUÇÃO

Nosso trabalho visa aprofundar conhecimentos acerca do movimento Arts


& Crafts, Movimento para a Revolução das Artes Aplicadas, que se iniciou na Europa
num período próximo á segunda metade do século XIX. Devido ao seu diversificado e
forte embasamento teórico, que inclui discussões de grandes nomes como William Morris
e John Ruskin, os ideais desse movimento repercutiram pelo mundo, com destaque na
Grã-Bretanha e nos Estados Unidos.
Profundamente ligado a uma questão social, o “Arts & Crafts” questionava os
rumos da indústria na sociedade em sentidos materiais e concretos – a industrialização,
que trazendo o ferro e os modos de produção em série, acabava por diminuir a qualidade
4
dos produtos e a identidade das construções. Os teóricos criticavam a artificialidade e a
frieza conferida pelos edifícios e objetos produzidos em série, sem o devido apreço a cada
um. Questionavam onde estavam os objetos que expressavam as realidades e a cultura das
pessoas.
Apesar do curto período de duração, o movimento reformista, com seus
questionamentos acerca da produção artística da época, plantou a ideia da busca pelo
equilíbrio entre indústria e homem, tanto no que se refere à arte, à arquitetura, ao design, e
a sociedade como um todo.

2. CONTEXTO HISTÓRICO
Arts and Crafts é um movimento estético e social inglês, que surgiu na
Grã-Bretanha em meados de 1850 e foi até 1900, este defende o artesanato criativo como
alternativa à mecanização e à produção em massa alem de buscar revalorização do
trabalho manual e recuperar a dimensão estética dos objetos produzidos industrialmente
para uso cotidiano. A expressão "artes e ofícios" - incorporado em inglês ao vocabulário
geral - deriva da Sociedade para Exposições de Artes e Ofícios, fundada em 1888. As
ideias do crítico de arte John Ruskin (1819 - 1900) e do medievalista Augustus W.
Northmore Pugin (1812 - 1852) são fundamentais para a consolidação da base teórica do
movimento.

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A partir da segunda metade do século XIX a Europa passava pelo período
denominado de Segunda Revolução Industrial, que envolveu uma série de
desenvolvimentos dentro da indústria em geral, resultando na padronização da produção
em massa. Com a estandardização do design e o consequente fácil acesso aos produtos
pela população, o sistema industrial se desenvolvia cada vez mais e se vinculava a todas
as instâncias da vida social, provocando mudanças em todas as áreas.
Ainda nesse período a população urbana superou o contingente
populacional do campo, fazendo crescer a importância das cidades, o que deu força aos
movimentos revivalistas em que os arquitetos do período viam na cópia da arquitetura do
passado e no estudo de seus cânones e tratados uma linguagem estética legítima de ser
trabalhada. Enquanto tudo isso ocorre encontra-se um novo ponto de aplicação, uma vez
que a desordem e a vulgaridade da produção industrial reflete-se agora em toda a cena da
vida associativa, nela incluido os objetos de uso comum. Nasce assim, um movimento
para melhorar a forma e o caráter de tais objetos- móveis, utensílios, tecido, roupas
objetos de todo gênero - e esse movimento possui a função de ponta de lança no debate
cultural da segunda metade do século XIX, até que graças a Morris, torna-se possível a
identidade entre essa linha de pensamento. O conceito de “artes aplicadas” e sua
separação das artes maiores é uma das consequências da Revolução Industrial e da cultura
historicista que visava a reforma global nas artes, buscando uma linguagem única na
arquitetura, pintura e escultura.

Com a Exposição Universal de 1851(Figura 1), Cole pode fazer um


balanço da produção industrial nos países europeus, chegando à conclusão de que a arte
decorativa da Europa encontrava-se em completa decadência quando comparada a
produção oriental ou americana de arte e objetos de uso. Pensadores e críticos se
rebelaram contra a decoração superficial dos objetos industriais. Estes estavam, em sua
maioria, influenciados pela Irmandade Pré-Rafaelita, um grupo de pintores ingleses
constituído em 1848(Figura 2), a partir de uma discussão entre os artistas Holman Hunt e
John Everett Millais. Eles intencionavam romper com a rigidez das técnicas acadêmicas e
mecânicas, a fim de libertar o artista para produzir de maneira mais autêntica. A
irmandade era uma reação e uma provocação contra a arte padrão do academicismo na
Inglaterra, pois acreditavam que o excesso de rigor das técnicas ensinadas na Academia
conduzia os pintores para uma artificialidade.
A reação foi eminente. Intelectuais e críticos, se rebelaram contra a
decoração superficial dos objetos industriais. Diante deste quadro, de insatisfação com o
6
nível de arte aplicada aos objetos industrializados e do revivalismo que abria espaço para
a simulação em detrimento do real, se destacam críticos que vão divulgar seus
pensamentos em favor de uma reforma, que unisse as convicções de Cole a uma condição
muito mais profunda de arte, valorizando o trabalho criativo. Estes vão, então, iniciar e
alavancar o movimento do Arts & Crafts.

7
Figura 1 - Exposição Universal de 1851, Palácio de Cristal, Londres.

Fonte: http://www.moderna-contemp.uerj.br/outros_materiais/imagens/outros_xix.htm

8
9
Figura 2 - Cristo na casa de seus pais, por John Everett Millais, 1850

Fonte: http://nineteenthcenturystuff.com/the-pre-raphaelites/

Figura 3 - Ilustração de peça exposta no Palácio de


Cristal, Londres, 1851. Retirada do catálogo da
exposição.

10
Figura 4 - Ilustração da tapeçaria exposta no Palácio de Cristal. Retirada do catálogo da exposição.

Fonte:http://www.designemartigos.com.br/wp-ontent/uploads/2010/10/Raquel_Forma_Klafke_e_Mariana_Izukawa.pdf

3. AS FASES E PENSADORES QUE DIVIDIRAM O MOVIMENTO

Podem-se distinguir aproximadamente três fases que marcaram o Arts and


Crafts: a primeira, entre 1830 e 1860, possui uma íntima conexão com a “reorganização”
11
e tem por protagonistas Henry Cole e seu grupo. A segunda
depende dos ensinamentos de Ruskin e Morris, e possui forte marca
ideológica e literária; na terceira agem os discípulos de Morris –
Crane, Ashbee, Shaw, Voysey etc. – e tornam-se mais nítidas as
relações com arquitetura.
3.1 Henry Cole e seu Grupo

Henry Cole estava profundamente convicto de que o baixo


nível da produção corrente devia-se à separação entre arte e indústria, e que, portanto,
pode ser melhorado agindo-se no plano de organização e canalização a obra dos artistas
para o industrial design.
Entre 1849 e 1852, Cole editou o Journal of Design, onde reproduz e
critica modelos dos mais variados ramos da indústria. Em 1850, consegue permissão para
Figura 5 - Henry Cole
organizar a primeira Exposição Universal, e para isso, Fonte:
http://www.thebirdtree.co.uk/showmedia.php
foi projetado o Crystal Palace, por Joseph Paxton. ?mediaID=64

Com a Exposição de 1851, Cole pode fazer um balanço da produção


industrial nos países europeus, chegando à conclusão de que a arte decorativa da Europa
encontrava-se em completa decadência quando comparada a produção oriental ou a
americana de arte e objetos de uso.

Nos seus últimos anos, dedicou-se principalmente aos problemas didáticos,


e, ao seu redor, reúne-se um grupo de artistas que trazem uma contribuição direta à
melhora das artes aplicadas. O mais conhecido é o pintor Owen Jones (1806 – 1889), que
durante uma viagem pela Itália, pelo Oriente e pela Espanha é atingido pelo senso
decorativo perfeito da arte muçulmana. Ele participou da Exposição de 1851 pintando em
cores a estrutura metálica do Palácio de Cristal.

Richard Redgrave (1804 – 1888), teórico do grupo que desenvolve o


conceito de funcionalidade como fundamento primário da arte aplicada e faz com que se
veja que a ele podem ser reconduzidas todas as exigências da cultura artística.
A característica positiva mais importante na ação de H. Cole e seus colegas
é a confiança no mundo da indústria. Sua limitação, por outro lado, consiste
numa simplificação excessiva do problema.
Figura 6 - Richard Redgrave
A arte e a indústria trilham dois caminhos diversos e Fonte:
http://myweb.tiscali.co.uk/speel/paint/redgrav
devem se encontrar; mas o grupo se limitava a apresentar e.htm
12
exemplos de bom desenho decorativo, tomados do passado ou de lugares distantes, a fim
de estimular a produção de artistas contemporâneos, e acreditam que somente uma falta
de conhecimento impede um bom projeto no campo da arte aplicada.

3.2 John Ruskin e William Morris

Morris (1834 – 1896) e sua geração têm John Ruskin (1819 – 1900) como
mestre, este jamais chega a dedicar-se diretamente ao problema da arte aplicada, contudo
seus ensinamentos – nos aspectos positivos e negativos – são
determinantes para todo o curso sucessivo do movimento e devem
ser considerados antes de se falar de Morris e seus seguidores.

a. John Ruskin (Londres, 1819-1900)


John Ruskin é um personagem muito diferente muito
diferente de Cole e dos reformadores da época. Estes são pessoas
positivas e empenhadas em agir em contato com a realidade. J.
Figura 7 – John Ruskin.
Ruskin, pelo contrario é um literato e seu interesse estende-se
Fonte:
teoricamente à realidade inteira, pois ele tratou de temas como http://www.visitcumbria.com/j
Política, Economia, Arte, Geografia, Geologia e Botânica. ohn-ruskin.htm

Ele percebe que a arte é um fenômeno muito mais complexo do que parece
a seus contemporâneos. Também observa a desintegração da cultura artística e percebe
que as causas devem ser procuradas não no campo da própria arte, mas sim nas condições
econômicas e sociais em que a arte é exercida. Ruskin condenou totalmente o conceito
abstrato de indústria, e ao ver que a harmonia dos processos de produção foi realizada
com sucesso em certas épocas do passado – como na Idade Média –, ele sustenta que se
deve retornar às formas do século XIII.
No ensaio Seven Lamps of Architecture de 1849, Ruskin inicia uma crítica
à falsidade contida na produção contemporânea e nela, distingue três gêneros:
1 – A sugestão de um tipo de estrutura real ou de sustentação diferente do real.
Nesse ponto critica, sobretudo, as estruturas de ferro e conclui que o ferro “pode ser usado
somente como ligação, não como sustentação”.
2 – O revestimento da superfície como o objetivo de imitar materiais diversos dos
reais, ou a representação mentirosa, sobre essa superfície, de ornamentos esculpidos.
Nessa questão aponta uma série de exceções, como recobrir os materiais de reboco e o
reboco de afrescos e a douração dos metais menos preciosos porque o uso transformou
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essas utilizações em costumeiras. A regra seria, então, evitar enganar o observador, e isso
estaria em função dos hábitos do espectador.
3 - O emprego de ornamentos de toda espécie feitos à máquina. Para ele, a
produção mecânica falsifica o senso do trabalho humano e da atenção que foram
despendidos ao fabricá-lo e, por conseguinte, introduz uma mentira e um engano.

Figura 8 - Placa VIII: Janela do Ca' Foscari em


Veneza, Itália. Ruskin foi um dos primeiros
críticos a utilizar a fotografia para ajudar na
precisão de suas ilustrações.
Fonte:
http://en.wikipedia.org/wiki/File:Lamps_-
_Plate08.jpg

Em 1853, com “The Stones of Venice”, descreveu sua


devoção às construções do passado, pregando o total e absoluto
respeito à matéria original das edificações. Como viveu em uma
época de dicotomia entre os antigos costumes sociais e os
emergentes decorrentes da Revolução Industrial, lutou contra os
efeitos nocivos da industrialização e revelou sua forte ligação com a
cultura tradicional. Ruskin acreditava na conservação da arquitetura
do passado, como expressão de arte e cultura, que nos permitiria Figura 9 - A Natureza do Gótico,
primeira página do texto, com as
entender a relação existente entre os estilos arquitetônicos e as bordas ornamentadas.

técnicas construtivas, utilizando-se da história dessas construções Fonte:


http://en.wikipedia.org/wiki/The_S
como o meio de comunicação dos processos de desenvolvimento tones_of_Venice_(book)
cultural. Ou seja, ele entendia a Arquitetura como uma expressão
forte e duradoura capaz de se eternizar carregando em si uma enorme carga de valor
histórico e cultural. Por isso, defendia a idéia de que as edificações deveriam atravessar os
séculos de maneira intocada envelhecendo segundo seu destino, lhe admitindo a morte se
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fosse o caso. Com algumas exceções permitia pequenos trabalhos de intervenção que
evitassem a queda prematura das edificações, mas de maneira nenhuma admitia
imitações, cópias e acréscimos.
Na vasta produção escrita de Ruskin, ele critica não só a “falta de arte” nos
produtos, como também a situação de trabalho deplorável dos operários. A Era das
Máquinas, argumentou ele, havia criado uma divisão de trabalho em que foi impossível
para as pessoas encontrarem satisfação no trabalho. Mas ele nao era contra a
industrialização, e dizia que a vida sem ela seria um atraso, mas a indústria sem a arte era
uma brutalidade. Por isso, criticou a Exposição Universal de 1851, afirmando a carência
de arte aos produtos industriais. Esta “arte” não se refere apenas ao desenho do produto,
mas a relação deste com a organização do trabalho o processo produtivo.

b. William Morris
Nascido na Inglaterra, William Morris foi o
principal líder do movimento Arts and Crafts e era, além de
escritor, pintor, socialista e militante, designer
reconhecido. Foi dele a iniciativa de transformar a teoria
em plano prático, fazendo a tentativa de combinar as teses de
Figura 10 - William Morris:
John Ruskin às de Karl Marx na defesa da arte “feita pelo personagem fundamental para o
povo e para o povo”. Ou seja, ele via no design um modo “Arts & Crafts”. Fonte:
http://pimentanegra.blogspot.com
de integrar arte com reforma social. Basicamente, essa /2007/07/utopia-ecolgica-de-
william-morris.html
ideia era como uma adaptação à indústria dos
pressupostos de Ruskin, os quais afirmavam que a beleza da arquitetura gótica era
garantida pela satisfação, pela crença religiosa e pela consciência do processo construtivo
por parte dos construtores. Outra influência de Ruskin em Morris foi relativa à verdade
dos materiais, pois Morris também pregava que o artesão deveria conhecer os materiais
que utilizava: suas limitações, efeitos, qualidades e defeitos, para então empregá-los de
forma aparente e natural. Como exemplo, temos as diversas estampas florais típicas do
Arts & Crafts que em nenhum momento tentam ser realistas e tridimensionais, mas pelo
contrário, aceitam a condição de serem apenas representações da natureza estilizadas.
Morris rechaça o conceito de belas-artes em nome do ideal das guildas
medievais, tanto no que diz respeito ao modelo organizacional e processual quanto
também à estética dos produtos, que era preferencialmente gótica. A espiritualização
deveria fazer parte do design, ou seja, a criação do objeto deveria vir do criador, originar-
se de uma ideia criativa e não moldar-se à ideia de reprodução em massa, que, segundo
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ele, traria um progresso vazio e alienante. Tudo era feito com base em referências e
inspirações e defendia que o design influenciava o modo de vida das pessoas.
A aplicação desses ideais pode ser vista na Casa Vermelha, obra de
arquitetura em parceria com Phillip Webb, que será abordada mais a frente, e nos móveis
e peças de decoração de interior produzidas na firma Morris, Marshall e Faulkner & Co.,
que tempo a frente tornou-se apenas Morris & Co., um dos maiores símbolos de aplicação
dessa ideologia.
Inicialmente, em 1862, a firma foi formada por Burne Jones, Rossetti,
Webb, Brown, Faulkner e Marshall e em 1865, transfere-se para Londres. A empresa
produzia tapetes, tecidos, papel ornamentado, móveis e vidros. Com a ideia de provocar
uma “arte do povo, para o povo”, assim como Ruskin, ele recusa a fabricação mecânica e
seus produtos resultam ser custosos, então, a pretensão de criar objetos belos e baratos,
tornando a arte acessível a todos, não ocorreu na prática, pois suas produções quase
sempre se tornavam objetos caros e acessíveis apenas às classes dominantes. Poucos
exemplos, como a cadeira ‘Sussex’, eram mais baratos, mas ao mesmo tempo, eram
produzidos com tecnologia mais avançada.

Figura 11 - Ilustração da tapeçaria de lã produzida por Pardoe e criticada por Pevsner exposta no
Palácio de Cristal. Retirada do catálogo da exposição.

16
Figura 12 - Honeysuckle, 1883, de William Morris. Retirada do livro William Morris: selected
writings and designs.

17
Figura 13 - Papel de parede de "Alcachofra", de John Henry Dearle para William Morris & Co.,
1897 (Victoria and Albert Museum). Fonte: http://mol-tagge.blogspot.com/2009/05/conheca-o-
movimento-arts-and-crafts.html

Figura 14 - Peacock and Dragon, material decorativo, Morris and Co., 1878.
Fonte: http://mol-tagge.blogspot.com/2009/05/conheca-o-movimento-arts-and-crafts.htm

Figura 15- ‘Sussex Chair’,


1865.Fonte: http://www.achome.co.uk/
pictorial/wilmo86.htm

Em 1875, a sociedade foi desfeita por não atingir e desenvolver o


seu objetivo principal, que era influenciar a produção contemporânea em seu conjunto,
fazendo de Morris o único proprietário dos laboratórios. Nesse ponto começa o período
18
de atividade mais intensa e variada; Morris convence-se cada vez mais da vinculação
entre artes e estruturas sociais e, desenvolvendo corretamente os princípios de Ruskin,
sente o dever de agir, paralelamente, no campo político.
Além de sua empresa, Morris também criara, por volta de 1890, a editora
Kelmscott Press em Londres. Através dos livros e suas ilustrações, por muitas vezes feitas
em parceria com Crane e Burne-Jones, outros dois grandes nomes para o Arts & Crafts,
ele buscava difundir as formas naturais, a antiga impressão gráfica e toda a estética
defendida pelo movimento.

Figura 16 Edward Burne-Jones, The Wood


Beyond the World, Frontispiece, Kelmscott.

Figura 17 The Well at the World's End, Kelmscott Edition,


1896.
Fonte: ttp://www.morrissociety.org/designs.htm#paintings

4. CARACTERÍSTICAS GERAIS DO ARTS AND CRAFTS


O Arts & Crafts incorporou uma grande variedade de artistas, escritores,
artesãos e arquitetos de uma forma tão ampla que se torna difícil definir o movimento
com precisão. Até mesmo seus precursores foram divergentes, uns foram profundamente
conservadores e lançaram um olhar de volta a um passado medieval, enquanto outros
foram socialistas e reformistas ardentes. Ainda assim, é possível traçar uma série de
características comuns ao movimento:
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• Valorização do artesanato;
• Simplicidade e funcionalidade dos objetos;
• Honestidade da decoração, ou seja, esta deveria surgir juntamente com o processo
de criação dos objetos, não sendo aplicada sem sentido;
• Inspiração em modelos medievais e orientais;
• Aplicação de métodos de construção tradicionais;
• Perfeição e profundo conhecimento dos materiais e das técnicas;
• Criação de uma arte para o povo;

Todas as peças produzidas nos estúdios do Arts and Crafts seguiam os princípios
estabelecidos por Morris:
• Considerar o material quanto a qualidade e a nobreza;
• Considerar seu uso/função;
• Levar em consideração seu design/construção;
• Considerar a técnica como foi produzido.

5. REPRESENTANTES E MANIFESTAÇÕES ARQUITETÔNICAS DO


ARTS & CRAFTS

A obra de William Morris não consegue influenciar com vigor a produção


inglesa, devido ao seu preconceito contra a indústria, e permanece restrita a elite
aristocrática. Todavia, através do Art Workers Guild¹e, sobretudo, através das exposições
de Arts and Crafts iniciadas em 1888, Morris atrai um bom número de artesãos e

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empresários ingleses. Nos últimos quinze anos de sua vida, podemos considerá-lo como o
inspirador de um vasto movimento.
(¹ Art Workers Guild: Organização criada em 1884 por um grupo de arquitetos
britânicos associados com as idéias de Morris e do movimento Arts and Crafts. A guilda
promoveu a unidade de todas as artes e se opôs à profissionalização da arquitetura).
Concomitantemente, abre-se caminho para outra ideia fundamental de W. Morris,
o espírito de associação, e cada artista que entra no movimento não se fecha em sua
experiência, mas preocupa-se em difundi-la e transmiti-la por meio de organizações
apropriadas. Dessa forma diversas associações e comunidades artesanais, inspiradas nas
guildas mediévicas, se formaram. Cerca de cento e trinta organizações de Arts & Crafts
são criadas na Grã-Bretanha, a maioria delas entre 1895 e 1905.
Dentre os continuadores de Morris, as figuras mais importantes são Walter Crane,
Charles Robert Ashbee, William Robert Lethaby e Charles A. Voysey, os quais se
ocupam também de arquitetura. Richard Norman Shaw não possui relações de trabalho
com Morris e seus seguidores, mas segue a mesma inspiração cultural e é a figura
dominante na arquitetura inglesa nas últimas décadas do século XIX.
5.1 Phillip Speakman Webb (1831 – 1915)

Philip Webb foi um arquiteto e designer inglês, algumas vezes chamado de pai da
arquitetura do “Arts and Crafts”. Quando se mudou para Londres, a fim de completar sua
formação e trabalhar como assistente júnior de George Edmund Street, ele conheceu
William Morris, e os dois tornaram-se amigos.
Depois da parceria do projeto da Casa Vermelha, Morris idealizou fundar um
Figura 18: Phillip Speakman Webb
laboratório de arte decorativa, http://goldenagepaintings.blogspot.co
m/2011/06/great-british-architects-
que entra para o comércio em 1862 com o nome phillip-webb.html

de Morris, Marshall, Faulkner & Co. Muitos artistas


ligados ao movimento fizeram parte desta corporação,
inclusive Webb.
Destaca-se na arquitetura o seu gosto pela tipologia
doméstica, sobressaltando-se as casas de campo. Webb
buscava a reflexão honesta dos materiais utilizados e uma
cuidadosa relação com a paisagem, preocupando-se em
respeitar as características de cada região e as necessidades do usuário.

a) Casa Vermelha (Red House, Bexleyheath, Kent, Inglaterra,1859)

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Em 1859, quando se casou, William Morris decide construir uma casa de atendesse aos
seus ideais artísticos, assim surgiu a Red House (Figura 19, 20 e 21), um ícone que dá
início à arquitetura no movimento “Arts & Crafts”. Ela foi projetada por Phillip Webb e
mobiliada e decorada por Morris, e o próprio Webb, seguindo os preceitos pregados no
movimento (Figura 22).
A construção em tijolos vermelhos, sem nenhum revestimento, era ousada, pois ao
mesmo tempo em que sua arquitetura orienta-se pelas linhas rurais ou doméstica inglesa
do século XIX, também exibe elementos góticos como arcos em ogiva e telhados
inclinados. Outro aspecto ousado é a exposição de tijolos vermelhos sem qualquer
revestimento (daí o nome da casa), e o planejamento de dentro para fora, considerando
secundariamente as fachadas e mostrando abertamente a construção do interior.
No interior é visível a simplicidade de Morris, expressando-se em todo o
mobiliário, nos estofados e em papéis de parede, manualmente feitos e com a utilização
de materiais não tratados, tendo como finalidade a questão da função e do contraste destes
com o estilo da época.
A lareira foi um elemento bastante recorrente na arquitetura do Arts & Crafts
(Figura 23), e aparece nessa casa com um caráter verdadeiramente revolucionário,
segundo afirma Nikolaus Pevsner. Sem fazer alusão a qualquer estilo, a lareira é
completamente funcional, dispondo os tijolos em camadas horizontais onde a lenha é
colocada e, verticalmente, onde a fumaça sobe.
Conclui-se que o motivo pelo qual a Casa Vermelha foi construída com os tijolos
à mostra foi pelo fato de William Morris querer retornar às formas construtivas da Idade
Média, pois acreditava que naquela época a arquitetura era pensada por todos os homens
comuns, que trabalhavam com prazer e diariamente criavam arte para todos,
contrariamente ao que acontecia na época de Morris, em que a arquitetura era centralizada
nas mãos de alguns que faziam especializações e manipulavam os gostos alheios, fazendo
com que todos fossem obrigados a apreciar algo que nem sabiam como foi pensado e
construído. A partir de meados do séc XIX, surge a imitação de materiais que substituem
a madeira maciça, por exemplo, e outros que também eram muito utilizados na Idade
Média, e introduzem novas técnicas que além de imitar, tendem a ser usadas para omitir e
cobrir outros materiais que foram utilizados na construção e na estruturação do todo
arquitetônico causando uma falsa ilusão.

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Figura 19:Red House
Fonte:http://designdeinteriores03.blogspot.com/

23
Imagem 20: Detalhe para os arcos ogivais e os telhados inclinados
Fonte: http://designdeinteriores03.blogspot.com/

Figura 21: A Casa Vermelha de Morris (P. Webb, 1859; desenho de G. H. Crow, William Morris
Designer, 1934).

24
Imagem 22: Interior da Casa Vermelha, por P. Webb.
Fonte: http://thaa2.files.wordpress.com/2009/07/figura-5-red-house.jpg

25
Figura 23: Lareira da Casa Vermelha
Fonte: PEVSNER, Origens da Arquitetura Moderna e do Design

Figura 24: Vitral da Casa Vermelha


Fonte: Fonte: http://mobeinteriores.blogspot.com/

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b) Palace Green (Kensington Palace Gardens, Londres, Inglaterra, 1868)

Figura 25: Palace Green, por Phillip Webb


Fonte: http://www.victorianweb.org/art/architecture/webb/8.html

Esta edificação exemplifica sua produção para além das casas de campo. Um
elemento que aparece nessa casa é a baywindow, que é bem característica e recorrente no
Arts & Crafts. A baywindow era como uma janela sacada, que ampliava o espaço da sala
e permitia maior entrada de luz.

5.2 Mackmurdo (1851- 1942)

Arquiteto inglês e reformador social,


Arthur Mackmurdo foi uma fugura importante no
Movimento Arts & Crafts. Ele foi muito
influenciado por John Ruskin, particularmente
em questões sociais e econômicas. Além da
Figura 26: Arthur Heygate
arquitetura, ele aprendeu por conta própria a Mackmurdo(1851-1942)
realizar trabalhos em metal, esculturas, http://www.essexrcc.org.uk/80years-
bordados e confecção de móveis.
mackmurdo.asp
Mackmurdo acreditava que seu trabalho deve ser socialmente, bem como
artisticamente, significativo. No projeto, ele valorizava a tradição, mas buscou uma
relevância contemporânea e promoveu a unidade das artes, com a arquitetura como a
disciplina central. . Estabeleceu a Century Guild em 1882 por influência de Ruskin, que
era seu professor, cuja proposta era acomodar os mais variados artesãos para unir as
27
disciplinas separadas da arquitetura, design de interiores e decoração, e foi uma das
corporações mais bem sucedidas dessa época. Diferentemente da Morris & Co. a Century
Guild tendia para um estilo muito mais eclético, como pode ser percebido nos móveis
produzidos pela companhia:

Figura 27: Century Guild Dinning Chair, por A. Mackmurdo, 1882.


Fonte: http://www.portaleureka.com/accesible/arte/104-art-nouveau-1890-1905

28
Figura 28: Oak Writing Desk, por A. Mackmurdo, 1886.
Fonte: http://quizlet.com/4688026/english-arts-and-crafts-flash

Figura 29: Century Guild Side Table, por A. Mackmurdo, 1890.


Fonte: http://www.paulreeveslondon.com/acatalog/Archive__Museum___Private.html

29
Em 1884, ele se afastou do revivalismo gótico e adotou um uso eclético de fontes
renascentistas. Mackmurdo admirava a renascença italiana e até a arquitetura barroca e
usou esses estilos nos seus designs para muitas casas, incluindo a sua, Great Ruffins, no
Essex. Outras casas arquitetadas por Mackmurdo incluem a 8 Private Road, Enfield,
London (1887), e a 25 Cadogan Gardens, Londres (1899). Esta última é uma casa luxuosa
de tijolos vermelhos para o pintor Menpes Mortimer.

Figura 30: Cadogan House, 1889, Londres, por Arthur Mackmurdo.


Fonte: http://www.victorianweb.org/art/architecture/homes/4.html

Figura 31: Porta do salão de entrada. 25 Cadogan Gardens, 1899, Londres, por A. Mackmurdo.

30
Alguns de seus projetos são descritos como “proto – Art Nouveau” e são pensados
como uma influencia para o surgimento deste estilo na arquitetura e nas artes aplicadas na
Grã-Bretanha e na Europa na década de 1890 e 1900.

5.3 Richard Norman Shaw (1831 – 1912)

De acordo com Benévolo, Norman Shaw não abandona


substancialmente o princípio da imitação estilística, mas escolhe
no repertório da tradição os estilos mais simples, onde o aparato
decorativo esteja reduzido ao mínimo e a referência histórica
seja menos evidente. Shaw usa por vezes o estilo Queen Anne (o
estilo Queen Anne, 1860-1900, foi baseado na arquitetura
inglesa e holandesa do início do século XVIII).

Shaw exerce, depois, importante influência na formação


Figura 32: Richard Norman Shaw
da geração de arquitetos mais jovens, muitos dos quais passam http://www.guardian.co.uk/books/2008
/mar/29/biography.architecture
por seu estúdio como aprendizes, como foi o caso de Lethaby.

a) New Zealand Chambers (Londres, 1872)

O edifício New Zealand Chambers foi destruído durante a Segunda Guerra


Mundial. As janelas com sacadas do térreo são particularmente notáveis, sua função
principal era permitir que o máximo de luz solar entrasse nos escritórios.

Figura 33: Richard Norman Shaw RA, Design for New Zealand Chambers, 1872.
Fonte: http://www.royalacademy.org.uk/print/exhibitions/the-tennant-gallery/artful-practice-architectural-
drawings-by-richard-norman-shaw-ra-1831-1912,158,RAL.html

31
b) Old Swan House (Chelsea, Inglaterra, 1876)

Na Swan House, os vários elementos usados podem ser localizados


historicamente, mas a combinação de todos tem uma elegância que é sem dúvida uma
característica de Shaw.

As janelas do primeiro andar são de um motivo inglês favorito no ano de 1675, no


segundo andar, as janelas sacadas alternam-se com janelas planas e estreitas do estilo
Queen Anne. Essas variações e arranjos incomuns tornam esta edificação um exemplar,
apesar de original e graciosa.

Figuras 34 e 35: Fachada e entrada da ‘Old Swan House’, 1876, por R. N. Shaw.
Fonte: http://www.victorianweb.org/art/architecture/normanshaw/12.html

Figura 36: Interior da atual ‘Old Swan House’.


Fonte: http://www.forbes.com/2006/07/21/cx_sc_0724homeslide_eu_4.html?thisSpeed=6000

32
5.4 William Richard Lethaby (1857 – 1931)

Arquiteto inglês começou aprendendo arquitetura


rural, da fazenda. No início da carreira suas ideias
pareciam ser contraditórias: por um lado admirava a
arquitetura medieval e a tradição, e também era ativo na
Society for Protection of Ancient Buildings. Mas por
outro lado, seguia uma estética funcionalista traduzida
pela sua frase: “well doing of what needs doing”. Dessa
forma ele cultivava o respeito pelo passado, mas também
Figura 37: William Richard
o reconhecimento das demandas Lethabyhttp://ayamerdivenkurduk.biz/?
p=4478
e necessidades do presente. A chave que permitia a Lethaby essas duas abordagens do
passado e presente era sua percepção da construção na história. Segundo ele, o edifício
era uma parte orgânica do ambiente cultural, pela qual se espalha e a arquitetura não
precisa ser considerada isoladamente como uma forma de reino de sensibilidade.

W. R. Lethaby aprendeu o ofício de arquiteto exatamente no estúdio de Richard


Norman Shaw, entre 1880 e 1892, a fim de dedicar-se mais tarde ao ensino de desenho e
de História da Arquitetura. Lethaby conseguiu alcançar um ponto interessante entre o lado
romântico e impraticável do Movimento Art & crafts e a real integração da arte e
indústria que estava pra ocorrer com a Werkstätte, Werkbund e Bauhaus. Foi ativo na
Arts Worker’s Guild, de 1884 e também na guilda Kenton & Co. em 1890, e sempre
tentou ajudar a coexistência entre design e indústria.

33
Figuras 38 e 39 :  Melsetter House, 1900, por William Richard Lethaby.
Fonte: http://www.achome.co.uk/architecture/ac1.htm
 All Saints Church, 1902, Brockhampton, por William Richard Lethaby. Exemplo de uma abordagem
simples, com o uso do material moderno: concreto.
Fonte: http://www.brockhampton.com/church.htm

5.5 Charles A. Voysey (1857 – 1941)

Voysey foi um arquiteto e designer menos dedicado como teórico, mas o mais
dotado com temperamento artístico, segundo Benévolo. Em sua arquitetura, como nos
numerosos desenhos para móveis, tapeçarias, trabalho em metais, etc. existia um frescor,
uma liberdade das imitações estilísticas que se diferenciavam do estilo Queen Anne, de
Shaw, bem como do medievalismo de Webb e Morris.

Figura 40: Charles A. Voysey


http://www.probertencyclopaedia.com/cgi-
bin/res.pl?
keyword=Charles+Voysey&offset=0
34
Figura 41: Oak writing table, 1906, por Charles A. Voysey
Fonte: http://www.paulreeveslondon.com/acatalog/Archive__Museum___Private.html

Suas casas de campo simples, no estilo campestre, com linhas claras e superfícies
planas, forneciam uma alternativa para o pesado e ornamentado estilo vitoriano. Seus
trabalhos influenciaram estilos de designs posteriores, principalmente, o Art Nouveau, e
suas casas se tornaram modelo para as pequenas casas de subúrbio do século XX.

A minúcia gráfica desaparece dos desenhos de Voysey, que são precisos, simples
e sintéticos, em plano acordo com as inclinações do meio mecânico de reprodução.

a) 14 South Parade (Londres, 1891)

Esta casa foi projetada para o artista J. W. Foster. Entitulada por Nikolaus
Pevsner como "startling white house", foi a intenção do arquiteto protestar contra os
tijolos vermelhos usados nas construções vizinhas, influenciadas pela Red House.
Julgamentos mais tardios encontraram nesta casa um excelente exemplo para a arquitetura
do Arts and Crafts.

35
Figuras 42 e 43: 14 South Parade, 1891, por Voysey, e respectiva planta baixa.
Fonte: http://www.victorianweb.org/art/architecture/voysey/index.html

b) Estúdio (West Kensington, Londres, 1891)

No seu estúdio, já estão presentes o seu caráter simples, confortável e amplo, as


faixas de janelas sem moldura e de paredes nuas, as chaminés grandes e afuniladas. A
edificação possui um design racional desprovido de ornamentos. Percebem-se ainda o
reboco granulado, o largo beiral e os contrafortes, todas as marcas registradas de Voysey.
36
Figura 44: Estúdio, Londres, por C. A. Voysey.
Fonte: http://www.voysey.gotik-romanik.de/Studio,%20London%20Thumbnails/Thumbnails.html

37
5.6 Charles Robert Ashbee (1863 – 1942)

Charles Robert Ashbee, designer, arquiteto e


empresário, foi um seguidor das ideias do movimento Arts
and Crafts e toma para si os princípios ensinados por John
Ruskin, assim como compromete-se com os ideais de
socialismo e cooperativismo de William Morris.

Entre os anos de 1880 e 1890 a produção de Arts


& Crafts encontrava-se mais eclética, tanto em relação à Figura 45:Charles Robert Ashibee
http://arts.galeon.com/album1065142.
estética como também às intenções construtivas.
html

Nesse contexto, Ashbee criou em 1988 a ‘Guild


and School of Handicraft’, corporação que parecia retomar mais a fundo os princípios
Ruskinianos e a militância política a favor do socialismo. Seu objetivo era estabelecer
uma verdadeira comunidade de artesãos e artistas, permitindo total liberdade de ideias e
inspiração, mas encontra graves obstáculos econômicos e de organização; talvez em
consequência dessa experiência, a posição teórica de Ashbee é modificada e ele
reconhece, em primeiro lugar, que o movimento pelo renascimento das artes aplicadas
somente pode ter êxito abandonando-se a tentativa de ressuscitar o artesanato medieval.

Ashbee dizia que “A civilização moderna apoia-se na máquina, e não é possível


estimular e encorajar validamente o ensino artístico sem reconhecer essa verdade”, em
sua firma também se produziu peças de metal como joias e vasos inspirados na estética
medieval, adicionados de pedras semipreciosas que acabavam por remeter ao Art
Nouveau, mas ele via uma clara diferença entre a produção da sua guilda, voltada aos
ideais socialistas e artesanais, e a produção do A. Nouveau, justamente pela forma de
produção pela qual passavam os produtos.

38
Figura 46: Mesa de escritório, por C. R. Ashbee, Guild of Handicraft, 1900.
Fonte: http://www.victorianweb.org/art/design/ashbee/23.html

Figura 47: Lareira de ferro desenhada por Ashbee, 1898.


Fonte: http://www.victorianweb.org/art/design/ashbee/23.html

39
Figura 48: Peças de metal, por C. R. Ashbee
Fonte: http://www.victorianweb.org/art/design/ashbee/gallery1.html

40
Figura 49: Colar desenhado por Ashbee, 1899.
Fonte: http://www.victorianweb.org/art/design/ashbee/29.html

41
 Arts and Crafts nos Estados Unidos

Nos Estados Unidos, o Movimento Arts and Crafts apesar de possuir


embasamento nas teorias inglesas, na prática se diferencia devido à própria história
americana.

Enquanto que na Europa buscava-se a sinceridade e os valores construtivos


artesanais góticos, na América, a ausência de um passado medieval e de uma identidade
completamente consolidada contribuiu para diferentes abordagens das ‘Artes e Ofícios’.
Nos E.U.A., o passado que interessava aos americanos era o colonial, ao invés do
medieval. Os americanos tinham uma mentalidade mais progressista e a favor das
máquinas, ao passo que os produtos artesanais eram feitos com maior uso de tecnologia.
Neste ponto, a diferença histórica também foi um fator determinante, pois na Inglaterra, a
industrialização trouxe miséria e caos, já nos Estados Unidos, a mecanização surgiu
trazendo benefícios e dando mais força ao país.

O começo do movimento nos EUA é dificil de determinar, mas apenas após a


Centennial Exposition, em 1876, na Filadélfia, que os produtos seguindo a lógica de
fabricação artesanal ganharam mais destaque. Apesar do predomínio dos produtos
industrializados, pois o objetivo da exposição era mostar os avanços tecnológicos, viu-se
também alguns objetos que tentavam reavivar o passado colonial. A partir daí, empresas
como a Louis C. Tiffany & Associated Artists (1879), produzindo peças de vidro e tecidos,
ou a Rookwood Pottery (1880), ou ainda a Cincinnati Pottery Club (1876), que faziam
peças de cerâmicas, entre outras firmas, surgiram seguindo uma ideologia mais artesanal e
retomando o passado colonial. Contudo, essas firmas não tinham tanta rigidez e
consistência quanto a essa filosofia de produção. Apenas com os trabalhos de Gustav
Stickley, consolidou-se, nos EUA, a produção de ‘Artes e Ofícios’.

42
5.7 Gustav Sticlkey (1858 – 1942)

Gustav Stickley foi um designer de mobília dos


Estados Unidos, no início do século XX. Foi durante uma
viagem à Europa que ele viu os produtos do movimento
inglês ‘Arts & Crafts’ e do francês ‘Art Nouveau’, e
abraçou o movimento das Artes e Ofícios por este
promover o bem construído, feito a mão e o trabalho
honesto, e que também era contra o mau tratamento dos
Figura 50: Gustav Sticlkey.
trabalhadores nas fábricas urbanas. Fonte:
http://stickleymuseum.org/learn-
Em 1898, abriu a ‘United Crafts’, que refletia more/gustav-stickley.html

essa ideologia. O predomínio da madeira sobre os outros materiais era visível, assim com
as formas retilíneas e simples, e a textura natural dos materiais. Para Stickley, esses
conceitos tornavam as peças mais legíveis e para um público maior, faziam-nas mais
democráticas.
Mantendo o estilo inglês do Arts and Crafts, Stickley conseguiu realizar com
sucesso o ideal que Morris Jamais alcançou. Ele não foi tão radical e aproveitava o
processo industrial para construir peças básicas dos seus móveis, deixando para os
artesãos os detalhes e o acabamento. Isso reduzia muito o custo e aumentava a produção,
assim o resultado foi óbvio: G. Stickley fabricou um mobiliário resistente e prático, que
atendia às necessidades de uma classe média que recém entrava no mercado de consumo.
Sua empresa existe até hoje, reproduzindo com tecnologias atuais, todos os desenhos que
ele deixou.

43
Figura 51: “Morris Chair”, projetada por Gustav Stickley –
simplicidade e linearidade formal.
Fonte: http://news-antique.com/?id=784085

Figura 52: Abajur, por Gustav Stickley.


Fonte: http://www.treadwaygallery.com/ONLINECATALOGS/DEC2004/acWEB/0201.jpg
44
5.8 Greene & Greene

Figuras 53e 54: Charles e Henry Greene


Fonte: http://southcoastshingle.com/blog/archives/151

Greene & Greene foi uma firma americana de arquitetura estabelecida pelos
irmãos Charles Sumner Greene (1868–1957) e Henry Mather Greene (1870–1954).
Ativos principalmente na Califórnia, suas “casas – bangalôs” são os primeiros exemplares
da arquitetura representante do Movimento Arts & Crafts.

Entre 1902 e 1910 eles deram foque maior apenas na produção de residências,
mas desde 1903 que também trabalhavam com o design de interiores. São consagrados
por terem trazido um requinte à estética do Arts & Crafts Americano no início do século
20. Seus projetos apresentam uma forte influência oriental, seja nos telhados ou nas vigas
exposta e que se projetam além do beiral. Uma forte característica da arquitetura deles era
propiciar uma conexão entre os espaços construídos e os não construídos, entre o natural e
artificial, comumente através de grandes varandas e aberturas generosas de forma a
aproveitar o paisagismo.
Nos interiores geralmente percebe-se uma suavização das quinas das paredes e
móveis, que por vezes são embutidos. Assim, ficava bem clara a linha mais voltada para a
estética artesanal.

a) The Gamble House (1908)


A Gamble House também foi edificada para um casal aposentado. Nela se
verificou a maestria dos Greene em criar espaços que remetiam e expressavam a natureza,
satisfazendo os usuários, e uma tradicional influência da estética japonesa.

45
Figura 55: The Gamble House, por Greene & Greene. Fotografia do ano de 2005.
Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/File:GambleHouse-2005_edit1.jpg

Figura 56: Sala de estar da Gamble House, por Greene & Greene – cada móvel foi desenhado para ocupar
um lugar específico do espaço.
Fonte: http://www.gamblehouse.org/photos/int/fien-125-44.html

46
Figura 57 e 58: Planta baixa e Fachada da Gamble House
Fonte: http://www.gamblehouse.org/photos/int/fien-125-44.html

Figura 59 e 60: Detalhes da Gamble House


Fonte: http://www.gamblehouse.org/photos/int/fien-125-44.html

Figura 61: Interior


Fonte: http://www.gamblehouse.org/photos/int/fien-125-44.html

b) The Thorsen House

47
Foi uma das últimas casas de madeira projetada pelos irmãos. Ela possui uma
suave maior verticalização do que as outras residências projetadas por eles. Além disso,
outro diferencial foi a planta em L, escolhida para se criar um espaço de quintal mais
íntimo devido ao lote ser de esquina. Todo objeto do interior, considerando a lareira, os
móveis, as decorações, papéis de parede, entre tantos outros elementos, possui sua
peculiaridade.

Figura 62: The Thorsen House, por Greene & Greene


http://dpg.lib.berkeley.edu/webdb/ggva/search?
project=&sort=project&siteid=259&pageno=7&id=EDA.1959-1.III104.002

Figuras 63 e 64 : Quintal e planta baixa da Thorsen House.


http://dpg.lib.berkeley.edu/webdb/ggva/search?
project=&sort=project&siteid=259&pageno=4&id=GGUSC-Thorsen-6502g

6. INTERIORES MOBILIÁRIOS

48
O movimento Arts and Crafts foi muito rico em produções de
interiores, introduzindo o estilo medieval em ambientes modernos. Como era intencional
a formulação de ambientes aconchegantes e confortáveis, utilizaram-se muito móveis em
madeira.
O uso de lareiras nas salas de estar foi uma grande inovação da
época, esses elementos eram construídos em pedra, tijolos ou madeira aparentes que
conferiam ao local um ar de aconchego. A sala de visitas e de jantar eram separadas
geralmente por portas em estilo francês.
Os móveis embutidos foram muito utilizados, e sempre tomando o tom
rústico e artesanal dado pelo material que confere grande exaltação a natureza.O foco
natural pretendido na época é representado também pela presença de flores e plantas
ornamentais, estando em todos os cômodos da casa. Já a iluminação dos ambientes, como
não poderia deixar de ser, se valia da luz natural aliada à luz artificial.As estampas de
Morris serviam para o estofamento do mobiliário, tapeçarias e papeis de paredes que
tinham grande valor para o estilo, todos esse itens possuíam temas da fauna e flora.
Segue agora a análise de alguns ambientes da época:
Figuras 65 a 75: Interiores do Arts and Crafts
Fonte: http://mobeinteriores.blogspot.com/

Exemplo de lareira na sala de estar, confeccionada em madeira, com banco embutido ao


lado. Grande presença de plantas no ambiente.

49
Utilização da madeira.

50
51
Arranjo de flores para ornamentação.

52
Exemplo do uso de vitrais que pareciam verdadeiras obras de arte.

Conciliação entre iluminação natural e artificial. Utilização de cortina em


tom claro para amenizar a radiação. Presença de objetos artesanais como os potes,
caracteristicos da época.

53
Sala de estar com móveis em madeira estofados revestidos com tecido
estampado ao redor de uma lareira construída em pedra: ambiente típico do período Arts
and Crafts.

54
Móveis em madeira, cadeiras bem rústicas e ainda cristaleiras que eram
usadas para exibir a louça da casa que, assim como os outros utensílios, deveriam ser
feitas artesanalmente e com o máximo de detalhes possíveis.

Um armário embutido na sala de jantar, usado para guardar livros.

55
Um quarto que utilizou como divisão a porta no estilo francês. Pode se
observar o uso de cortinas para amenizar a incidência da luz.

Banheiro que também foi decorado com tons escuros, o que não era
comum na época. Observa-se também a presença de plantas em todos os ambientes.

Como foi visto nas fotos, os móveis desse período possuíam traços limpos,
sempre remetendo a manufatura artesanal, pois o movimento lutava contra as
características industriais de produção. Os designers levavam em conta o uso que cada
objeto iria ter, e a partir disso crivam um desenho buscando melhor anatomia. Eles
queriam romper com a produção massificada das indústrias e trazer a tona o valor das
guildas medievais.

56
Figura 76: CATALOGO DE CADEIRAS THONET
fonte: http://www.estagiodeartista.pro.br/artedu/histodesign/2_design_secxix.htm

57
Figura 77:CATALOGO DE CADEIRAS Morris & Co.
http://historiadomobiliario.blogspot.com/2010/03/o-movel-no-seculo-xix-neoclassicismo.html

Morris & Co.: A Evolução de uma empresa única Inglês

A empresa original de Morris, Marshall, Faulkner & Company foi fundada em 1861,
sendo os sócios fundadores:

Ford Madox Brown (1821 – 1893)


Dante Gabriel Rossetti (1828 – 1882)
Peter Paul Marshall (1830 – 1900)
Phillip Webb (1831 – 1915)
Charles James Faulkner (1833 – 1892)
Edward Burne – Jones (1833 – 1898)
William Morris (1834 – 1896)

O negócio inicialmente era concentrado na decoração eclesiástica incluindo


vitrais, escultura arquitetônica, tapeçarias, bordado e mobiliário. O primeiro endereço da
companhia foi na Red Lion Square de Londres, mas em 1865 a loja e as oficinas foram
transferidas para instalações maiores em Queens Square, Bloomsbury.

58
Figura 78: Vitral produzido pela Morris & Co para a igreja Rottingdean, com dedicatória para E. Burne-
Jones
Fonte: http://achome.co.uk/architecture/ac362.htm

A nova empresa foi reorganizada e criada em 1875 e 1878 com um novo


showroom inaugurado em Oxford Street.

Morris & Co. foi agora aceitando comissões para completar esquemas de
decoração interior, mas também vendeu uma vasta coleção de mobiliário para o publico
em geral. Entre alguns dos itens mais populares vendidos pela empresa foram os kits
bordados projetado predominantemente por William Morris, Philip Webb e Edward
Burne-Jones. Nesta altura, a linha de produtos havia crescido, e incluiu papéis de parede,
têxteis, cerâmica, vidro e azulejos.

Após a morte de Morris, em 1896, a fábrica em Merton Abbey continuou sob os


cuidados dos seus parceiros, Frank & Robert Smith, com John Henry Dearle promovido a
Diretor de Arte.

Em 1905, a Companhia foi rebatizada de Morris & Decoradores Co. Ltd., sob a
direção de Henry Marillier. Em 1925, a Companhia foi novamente renomeada, Morris &
Company Ltd. Artworkers.

A quantidade de pedidos encolheu e com o advento da Segunda Guerra Mundial, a


Companhia entrou em liquidação em 1940, altura em que Arthur Sanderson & Sons
comprou a empresa conhecida como Morris & Co Ltd Artworkers, juntamente com todos
os blocos de impressão, papel de parede, showroom e amostras de tecido. Os papéis de
parede de blocos impressos continuou a ser produzido na fábrica de Periperi Sanderson.
Em 1965, Sanderson relança a Morris & Co. papéis de parede e tecidos e, em
59
1985, a Morris & Co. e marcas Sanderson foram comercializadas sob suas identidades
separadas. Hoje as duas marcas continuam a crescer.

Figura 79: Desenho de John Dearle Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

60
Figura 80: Estampas da Jeffrey & Co. Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

Figura 81: Bloco de Impressão Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

61
Figura 82:Estampas Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

Estampas que são produzidas até hoje:

Trellis: um dos primeiros e mais reconhecidos desenhos de William Morris, registrado em


1864 e concebido para sua própria casa, a “Red House”

62
Figura 83: Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

Honeysuckle e Tulip: foi originalmente concebido por William Morris em 1876.

Figura 84: Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

Brer Rabbit: Foi o primeiro Registro de 1882.

63
Figura 85: Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

Mary Isobel: foi adaptado a partir de uma tela tripla projetada em 1890 por JH Dearle.

Figura 86: Fonte: http://www.william-morris.co.uk/

7. CONTRIBUIÇÕES DO MOVIMENTO
64
O Movimento Arts & Crafts durou relativamente pouco tempo, mas influenciou o
movimento francês Art Nouveau, ao atenuar as fronteiras entre belas-artes e artesanato
pela valorização dos ofícios e trabalhos manuais, e pela recuperação do ideal de produção
coletiva, segundo o modelo das guildas medievais. Por esta razão, que arquitetos e
decoradores do movimento em questão trabalharam simultaneamente como artistas do
Nouveau.

Um arquiteto do Art Nouveau que foi vastamente


influenciado pelo A&C, foi Charles Mackintosh (1868-
1928), que não se preocupa mais em reavivar obras do
passado, mas sim em criar novas formas.

O Arts and Crafts foi uma importante influência


para o surgimento posterior da Bauhaus, que assim como os
ingleses do século XIX, também acreditavam que o ensino Figura 87: Criações de C.
Mackintosh.
e a produção do design deveriam ser estruturados em
Fonte:
pequenas comunidades de artesãos-artistas, sob a http://historiadomobiliario.blogsp
ot.com/2010/04/art-nouveau.html
orientação de um ou mais mestres.

A Bauhaus desejou, assim, uma


produção de objetos feita por poucos e
adquirida por poucos, nos quais a
assinatura do artesão tem um valor
simbólico fundamental. De forma ampla,
a Bauhaus herda a reação gerada no
movimento de Morris contra a
Figura 88: Prédio sede da Bauhaus. produtividade anônima dos objetos da
Fonte:http://www.mitologica.com.br/jooml
a/index.php? revolução industrial.
option=com_content&task=view&id=65

8. CONCLUSÃO
65
O movimento Arts & Crafts, de um modo geral, era um tema completamente novo
para nós, e por meios de pesquisas e estudos buscamos aprofundar ao máximo acerca
deste assunto que nos instigou tanto interesse e curiosidade. Além da própria arquitetura,
informações e discussões de cunho social, histórico e artístico tiveram de ser abordados,
por serem questões ligadas à lógica que ocasionou o movimento.

Apesar do curto tempo de duração, o Arts and Crafts foi, sem dúvida, um
movimento de grande importância para a arquitetura e o design, uma vez que se propôs a
ir contra a produção em massa, causada pela industrialização vigente no período. Foi um
movimento que prezava pela qualidade dos artigos produzidos, mesmo na utilização de
materiais simples. Deixou um grande legado que influenciou vários movimentos
subsequentes a ele.

“Não se passa um dia em que nós arquitetos sejam instados a serem


originais e a inventarem um novo estilo... Nós não queremos um novo
estilo de arquitetura... Não interessa a mínima se temos uma arquitetura
nova ou velha... As formas de arquitetura já são suficientemente boas para
nós e muito melhores do que qualquer um de nós.”

William Morris

9. REFERÊNCIAS
66
Livros:

ARGAN, Giulio Carlo; Arte moderna, São Paulo: Cia das Letras, 1992

BENÉVOLO, Leonardo; História da arquitetura moderna, São Paulo: Perspectiva,


2004

MALDONADO, Tomás; Design industrial, Lisboa: Edições 70, 2006

ADAMS, Steven. The Arts & Crafts Movement. Londres: Grange Books, 1997.

PEVSNER, Nicolaus. Origens da arquitetura moderna e do design. São Paulo. Ed


Martins Fontes, 1981.

Sites:

<http://designdeinteriores03.blogspot.com/>

<http://www.multiarte.50megs.com/custom3.html>

<http://www.itaucultural.org.br/aplicExternas/enciclopedia_IC/index.cfm?
fuseaction=termos_texto&cd_verbete=4986>

<http://pt.wikipedia.org/wiki/Arts_and_Crafts>

<http://en.wikipedia.org/wiki/Red_House_(London)>

<http://experienciazora.blogspot.com/2007/10/movimento-arts-and-crafts.html>

<http://www.william-morris.co.uk/>

67

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