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17/02/2024, 11:28 UNINTER

ARTES VISUAIS, HISTÓRIA E


SOCIEDADE
AULA 4

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Profª Danielly Sandy

CONVERSA INICIAL

Esta aula apresenta um recorte com destaque em alguns movimentos e tendências estéticas do

século XIX e seus desdobramentos no início do século XX. A intenção é situar o leitor nas principais

características correlatas aos temas dos tópicos aqui abordados. Dessa forma, iniciamos com o

movimento da Nova Arte, com início em Paris e conhecido como Art Nouveau. Passaremos pelo

Impressionismo, destacaremos alguns dos artistas pós-impressionistas para, em seguida, tratarmos do

Expressionismo e finalizarmos com o Cubismo. Seguindo essa ordem temporal, o intuito é

compreender acerca desses períodos a partir da produção artística que era realizada. Para tanto,

seguimos a seguinte sequência nos assuntos:

1. Art Nouveau;

2. O impressionismo;

3. Pós-impressionismo;

4. Expressionismo;

5. Cubismo.

CONTEXTUALIZANDO

O século XIX apresenta muitas transformações em diferentes áreas e, no campo das artes,
passamos a ter vários ismos para nomear os diferentes movimentos e estilos artísticos. Um fato que

revolucionou as artes visuais durante esse período foi o surgimento da máquina fotográfica, em 1839,
com a possibilidade de registrar fidedignamente os momentos e transformá-los em imagens. Se por

um lado alguns artistas se viram praticamente tendo que competir com a máquina fotográfica no que
se refere à representação e rapidez em sua produção, por outro, muitos artistas compreenderam que
não deveriam tentar competir com uma máquina e que a sensibilidade de seu olhar era o que, de

fato, fazia de sua pintura algo realmente elevado e significativo.

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Essa questão fica ainda mais evidente a partir dos artistas impressionistas que se dedicaram a

captar as impressões das coisas abrindo mão da representação fiel da realidade. Naturalmente, após
esse fato, podemos compreender o quanto a arte saltou em relação ao seu desenvolvimento como

uma possibilidade do artista explorar a sua alma na forma de ver e sentir o mundo. Com isso, o

ensino acadêmico de arte passou a ser questionado, juntamente com as exigências dos salões e tudo

o mais que cobrasse do artista a reprodução fiel do que poderia ser visto por seus sentidos, sem

passar pelo filtro de suas emoções.

Outro ponto a ser aqui destacado, fruto de discussões acerca do período, é o embate entre arte e

sociedade industrial. Sabemos que a Revolução Industrial trouxe grandes mudanças, sobretudo na

forma como as coisas passaram a ser produzidas, causando perplexidade e assombro a todos aqueles
que defendiam o sentido e a essência dos processos artesanais. Isso porque alguns artistas e críticos

acreditavam que as indústrias e suas produções em série esvaziavam as coisas de sentido e por isso

era necessário levar a arte também para tais produções. Assim, temos o surgimento do estilo

conhecido como Art Nouveau e o início das artes e ofícios.

TEMA 1 – ART NOUVEAU

O Art Nouveau foi uma tendência estética que se difundiu pela Europa e Estados Unidos na

década de 1880 e esteve em voga até o início da Primeira Grande Guerra Mundial, em 1914. A

intenção era criar uma arte realmente moderna e que estivesse presente não apenas nos quadros,

mas também na arquitetura, objetos, rótulos de produtos e mais. Essa intenção, de praticamente
democratizar a nova arte, não foi totalmente satisfatória, considerando que a maior parte das pessoas

que consumia os produtos e tinha condições de investir nos objetos de mescla entre o artesanal e o
industrial era de boa situação financeira.

Assim, encontramos objetos diversos do uso cotidiano e decorativos com as características do Art
Nouveau decorando o interior das casas e estabelecimentos da época. O reconhecimento de tais

objetos como sendo desse período não é uma tarefa complexa, pois os efeitos florais e inspiração nas
formas orgânicas e sinuosas da natureza são bastante claros e facilmente identificáveis.

Figura 1 – Luminária no estilo Art Nouveau, do século XIX

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Créditos: KarlK/Shutterstock.

Uma das intenções mais fortes e presentes no Art Nouveau era estreitar os laços entre as belas

artes e as artes aplicadas ou artes e ofícios.

As origens do Art Nouveau podem ser encontradas no movimento inglês Arts and Crafts, que

abarcava todas as artes e principalmente nas ideias de William Morris (Dempsey, 2003). Embora o

movimento aspirasse por uma nova arte, as inspirações eram diversas e nem sempre tão novas assim,

tal como as iluminuras, a arquitetura gótica, as gravuras japoneses e mais. Assim, o fator decorativo
dessa arte tomou grande proporção e influência sobre a sua produção. De acordo com Gombrich,

sobre a nova arte,

a palavra de louvor mais usada nesse período do Art Nouveau era decorativo. Pinturas e gravuras

deviam exibir um padrão agradável ao olho muito antes de se poder ver o que representavam.
Lentamente, mas com firmeza, essa tendência de estilo para o decorativo pavimentou assim o

caminho para uma nova abordagem à arte. (Gombrich, 1999, p. 536)

No entanto as linhas orgânicas, muito presentes no Art Nouveau juntamente com a inspiração

nas formas da natureza, contavam com um elemento bastante moderno na época — a ciência. Assim,
“com o impacto das descobertas científicas, sobretudo as de Charles Darwin, o emprego de formas

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naturais já não era mais visto como algo romântico e escapista, mas moderno e progressista”

(Dempsey, 2003, p. 35).

Dentre as principais características do Art Nouveau, podemos destacar primeiramente a

inspiração nas ideias de Willian Morris e John Ruskin, as formas e linhas orgânicas, consideradas
graciosas e exuberantes, a representação da natureza com enfoque na sinuosidade das formas com

valorização do estilo floral, o uso de arabescos e curvas assimétricas. Contudo, observamos o retorno
à artesania frente às mudanças originadas na sociedade industrial.

Um artista de notável destaque desse período foi o checo Alfons Mucha (1860-1939), que

despontou na pintura, gravura, ilustração e design de interiores. “A obra de Alfons Mucha é arte de

sedução. Com as suas graciosas figuras femininas, cores encantadoras e os cenários perfeitos, o artista

corteja o observador” (Ulmer, 2006, p. 5).

Figura 2 – Ilustração do Zodíaco de Mucha

Créditos: HstrongART/Shutterstock.

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Outro artista que evidenciamos desse período é o austríaco Gustav Klimt (1862-1918), que ainda

se destacou como pintor simbolista. De acordo com o historiador e crítico de Arte Julio Argan (1992,

p. 213), Klimt “desenvolve os ritmos melódicos de um linearismo que acaba sempre por voltar ao

ponto de partida e se fechar sobre si mesmo”. Klimt foi fundador da Associação Austríaca de Artistas
Figurativos em contraponto às ideias e ao conservadorismo da Sociedade dos Artistas Vienenses.

Figura 3 – Retrato de mulher

Créditos: Julia-Bogdanova/Shutterstock.

Na arquitetura, também identificamos as mesmas características da ornamentação presente nos


objetos e nas formas das pinturas. Isso se reproduz em fachadas de construções diversas como

também no interior, desde o papel de parede ao corrimão das escadas, lustres, luminárias, objetos de
banheiro, papel de parede, janelas, vidraças e mais. Dentre os arquitetos que comungaram dessa

fascinante tendência estética, evidenciamos o belga Victor Horta (1861-1947) que deu início a esse
movimento na arquitetura, e o espanhol Antoni Gaudí (1852-1926), que traz em sua obra

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características próprias, mesclando muitas cores e fazendo uso de elementos como vidro, cerâmica,

ferro fundido e mais.

Figura 4 – Fachada de Edifício em Paris no estilo Art Nouveau

Créditos: Yana Fefelova/Shutterstock.

TEMA 2 – O IMPRESSIONISMO

A arte impressionista se despontou como um evento inesperado e ao mesmo tempo


revolucionário frente aos padrões pictóricos e escultóricos presentes na época. Mas perante aos

críticos, a sensação de pintura “inacabada” foi motivo de escárnio, curiosidade e confusão frente ao
que realmente se propunha como arte nos salões oficiais. O termo impressionista, a priori, surge de

forma pejorativa, querendo mostrar que os artistas dessa tendência não sabiam, de fato, pintar;
todavia, conseguiam captar as impressões da realidade e imagens das coisas. Isso também se deve à

pintura de Claude Monet, intitulada Impressão, sol nascente, exibida na famosa exposição de 1874,
reconhecida como um marco para o início do movimento impressionista.

Dempsey (2003, p. 14) especifica que o início do impressionismo foi realmente em abril de 1874,
“quando um grupo de jovens artistas de Paris, frustrados com a contínua exclusão de suas obras dos

salões oficiais, reuniu-se com o objetivo de realizar as próprias exposições no estúdio do fotógrafo

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Félix Nadar”. Dentre os artistas, encontramos Claude Monet (1840-1926), Auguste Renoir (1841-1919),

Edgar Degas (1834-1917), Camille Pissarro (1830-1903), Alfred Sisley (1839-1899), Berthe Morisot

(1841-1895), Paul Cézanne (1839-1906). Mas, de acordo com o que menciona Argan,

o Impressionismo nasce com a ligação de Monet e Renoir, que, entre 1869 e 1874, frequentemente

trabalham juntos às margens do Sena, en plein-air, decididos a acabar com as regras de ateliê
(perspectiva, composição, chiaroscuro, tema histórico) e a descobrir uma pintura que representasse a

“impressão” visual na sua imediaticidade e flagrante. (Argan, 1992, p. 102)

O grupo todo seria formado por algo em torno de 30 artistas que se encontravam exauridos

frente às inúmeras recusas de seus trabalhos pelos críticos de arte nos salões oficiais. Mediante a isso,
buscaram se reunir com o intuito de apresentarem a sua própria exposição ao público contra o que

consideravam um monopólio por parte dos críticos sobre o que poderia ou não ser exposto

(Dempsey, 2003).

Porém, em 1863, já havia sido realizado o Salão dos Recusados, em Paris, inclusive com a exibição
da famosa obra Almoço na relva, de Édouard Manet, a qual foi interpretada pelos críticos da época

como uma verdadeira afronta em diversos sentidos. Primeiramente, essa obra foi submetida à análise

dos críticos para entrar no São de Paris, mas foi rechaçada em diferentes sentidos, destacando que

esta apresenta uma cena com dois cavalheiros vestidos juntamente com uma mulher nua em um

possível piquenique e com mais uma figura feminina ao fundo. E isso em um período quando a arte

realista ainda tentava se firmar e, portanto, “talvez o significado da tela esteja nessa negação da

plausibilidade, pois a cena não se adapta nem ao plano da experiência cotidiana nem ao da alegoria”
(Janson; Janson, 1996, p. 330).

Sendo assim, observamos que havia um forte movimento se despontando em oposição aos
padrões estabelecidos pelas academias, unindo vários artistas com suas produções. Ademais, o intuito

era que fosse reconhecido que a máquina fotográfica havia tomado o espaço do artistas totalmente
fiel à realidade, mas que não tomaria o espaço do artista fiel aos seus próprios sentimentos e forma

de interpretar e sentir o mundo.

No que se refere à resolução pictórica, “os impressionistas tinham renunciado à mistura de

pigmentos na paleta e passaram a aplicá-los separadamente na tela em pequenas pinceladas que


reproduziam os reflexos oscilantes de uma cena ao ‘ar livre’” (Gombrich, 1999, p. 539). E é justamente

essa uma das características mais marcantes dos artistas impressionistas — a pintura ao ar livre.
Assim, o artista sai de seu atelier e vai in loco para produzir e, em decorrência disso, se volta à pintura
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alla prima, que significa “de primeira”, pois exclui as velaturas de sua pintura passando a resolver o

seu quadro de imediato frente ao tema ou cena escolhidos.

A técnica da velatura consiste na diluição da tinta para que possa ser feita uma fina camada de

tinta diluída, como um véu, sobre a camada anterior já seca. Para isso, o artista precisa de tempo em
seu atelier, podendo obter áreas de luz e sombra a partir da aplicação de velaturas. Não obstante, a

pintura alla prima descarta essa técnica, permitindo ao artista a finalização de uma obra em poucas
horas e, por isso, resultando no efeito da pintura impressionista, a qual recebeu críticas por se parecer

com um esboço ou pintura inacabada.

Em oposição a isso, dentre os artistas impressionistas, vale destacar Edgar Degas, que muito bem

se expressou a partir da pintura de bailarinas no interior de estúdios de balé. Ele se manteve

parcialmente distante dos demais impressionistas, embora compartilhasse de seus mesmos ideais

(Gombrich, 1999). “Não lhe interessa o que está além, e sim o que está dentro da sensação, sua

estrutura interna. Seu grande achado é ter justamente descoberto que a sensação visual não é um

fenômeno de superfície, mas uma verdadeira estrutura do pensamento” (Argan, 1992, p. 106).

Figura 5 – Ensaio de balé no palco, Edgar Degas (1874); pastel seco sobre papel

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

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Assim, verificamos entre as características do Impressionismo a captação e representação da

luminosidade do momento através das cores. Os artistas impressionistas também pouco faziam uso

de cores como o sépia para resolver as áreas de sombra, preferindo a aplicação de cores

complementares e propondo sombras coloridas e luminosas. Para o filósofo Merleau-Ponty:

O impressionismo queria imprimir na pintura a maneira como os objetos impressionam nossa visão

e atacam nossos sentidos. Representava-os na atmosfera em que a percepção instantânea no-los


oferece, se, contornos absolutos, ligados entre si pela luz e o ar. Para produzir esse invólucro

luminoso, era preciso excluir as cores terrosas, os ocres, os pretos, e utilizar apenas as sete cores do
prisma. (Merleau-Ponty, 2004, p. 126)

Além disso, percebemos grande espontaneidade nas pinceladas, inspiração em cenas do

cotidiano, resolução pictórica a partir da qual as pinceladas se fundem harmoniosamente e sem a

presença de linhas para separar os planos.

Figura 6 – Duas jovens meninas no piano, Auguste Renoir (1892); pintura a óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Figura 7 – Ponte sobre uma lagoa de lírios de água, Claude Monet (1899); pintura a óleo sobre tela. No

verão de 1899, Monet completou 12 telas da passarela de madeira sobre a lagoa de lírios em Giverny,

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na Normandia, região histórica da França

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Na escultura, sem os apelos cromáticos para as resoluções pictóricas, mas nem por isso sem as

suas impressões mais sensíveis como resultado, temos o francês Auguste Rodin (1840-1917), que

“desprezava o aspecto externo de “acabamento”. Tal como eles, preferia deixar algo para imaginação

do observador”. (Gombrich, 1999, p. 528). Rodin possui uma obra sensível e ao mesmo tempo

turbulenta; ele não ousou abolir as técnicas do passado, mas ao mesmo tempo abriu caminhos para a

escultura moderna.

Figura 8 – O pensador, Rodin (1904); escultura em bronze

Créditos: Yuliia Myroniuk/Shutterstock.

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TEMA 3 – O PÓS-IMPRESSIONISMO

Podemos considerar o pós-Impressionismo como uma tendência estética espontânea que

abarcou vários artistas com estilos distintos no interregno entre o impressionismo e o expressionismo.

Cada artista, de acordo com sua sensibilidade e busca pessoal na arte, ousou descobrir seu caminho

através das cores, composição, pinceladas e mais. Com isso, podemos observar vários artistas pós-

impressionistas com características próprias, tendo em suas obras a marca de sua criação de tal forma

que podemos identificá-la por seu estilo marcante.

Mas embora possamos encontrar características distintas na obra de cada artista, a aplicação de

cores fortes é uma das características mais marcantes do pós-Impressionismo, bem como o uso de

linhas para a sugestão de um contorno. Vale destacar que isso não era usado pelos artistas

impressionistas que fundiam em suas pinceladas soltas, figura e fundo.

Com origem na França, o pós-Impressionismo tem origem após a exposição dos impressionistas

em 1886 e permaneceu entre o final do século XIX e início do século XX. Para Janson e Janson (1996,

p. 342):

Esse título insípido designa um grupo de artistas que estavam insatisfeitos com as limitações do
Impressionismo e o extrapolam em várias direções. É difícil chegar a um termo que os descreva

melhor, já que não compartilhavam um objetivo comum. Em todo caso, eles não eram anti-
impressionistas.

A liberdade com que os artistas pós-impressionistas empregam as suas técnicas e habilidades é,


de fato, surpreendentemente instigante e mostra a espontaneidade de uma vanguarda com

segurança suficiente para seguir pelo caminho das experimentações. Por não haver um grupo ou
escola oficializados e os artistas criarem isoladamente, os pós-impressionistas foram ainda menos
aceitos que os artistas impressionistas. Por um lado, isso pode ter o seu valor no sentido de que cada

um foi livre para seguir seus instintos e subjetividade na arte investigando os diferentes aspectos da
pintura.

O mais velho dos artistas pós-impressionistas de destaque foi o francês Paul Cézanne (1839-

1906), que anteriormente fora um artista impressionista, até se isolar em busca de sua maturidade
pictórica, a partir de 1882, quando passou a reproduzir insistentemente o Mont Sainte-Victoire, perto

de sua cidade natal. Merleau Ponty, no livro O olho e o espírito, descreve que

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Sua pintura seria um paradoxo: buscar a realidade sem abandonar a sensação, sem tomar outro guia

senão a natureza na impressão imediata, sem delimitar os contornos, sem enquadrar a cor pelo
desenho, sem compor a perspectiva nem o quadro. (Merleau-Ponty, 2004, p. 127)

E a obra de Cézanne, embora malvista pelos críticos de arte de sua época, se torna inspiração

para artistas de períodos e tendências estéticas posteriores como o cubismo no início do século
seguinte.

Figura 9 – Chateau Noir, Paul Cézanne (1800-04); pintura a óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Dentre os artistas pós-impressionistas, podemos citar o holandês Vincent Van Gogh (1853-1890),
que deixou sua marca indelével na história da arte com as suas fortes e intensas pinceladas, contornos

coloridos, uso deliberado de cores complementares, composições instigantes com uma resolução
bastante peculiar da perspectiva e temas realistas como naturezas mortas, retratos, paisagens, cenas

de gênero. Van Gogh gostava de pintar ao ar livre, não teve reconhecimento durante a sua vida e foi
sustentado pelo irmão mais novo Theo Van Gogh a quem confiava seus segredos de pintura e

experiências dramáticas e realmente passionais na vida e na arte.

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Figura 10 – Os girassóis, Vincent Van Gogh (1888); óleo sobre tela

Créditos: Vovalis/Shutterstock.

Outros artistas que podemos destacar são Paul Gauguin (1848-1903), Georges Seurat (1859-

1891), Paul Signac (1863-1935) e Henri de Toulouse-Lautrec (1864-1901), sendo este último com suas

famosas cenas inspiradas no interior de cabarés, sobretudo do famoso Moulin Rouge.

Figura 11 – Atriz dançando bolero, Toulouse-Lautrec (1895-96); óleo sobre tela

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Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Desses, Georges Seurat e Paul Signac desenvolveram um estilo de pintura que veio a ser

chamado de pontilhismo, ou divisionismo, cuja intenção era resolver a pintura por meio de pontos
que, a certa distância, formariam a figura desejada. No entanto, mesmo a certa distância, o que

podemos muitas vezes perceber é uma imagem talvez representada como se fosse feita a partir de
um mosaico (Janson; Janson, 1996). Assim, o pontilhismo apresenta ainda menos espontaneidade que

os impressionismo pois precisa, através de pontos de tinta sobre a tela, reproduzir uma imagem.

Figura 12 – Domingo na grande Jatte, Georges Seurat (1884); óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

TEMA 4 – O EXPRESSIONISMO

Os experimentos pessoais dos artistas pós-impressionistas resultaram em diferentes efeitos


estéticos. Seguindo por esse caminho, chegamos ao expressionismo na arte com origem na

Alemanha, no início do século XX. O expressionismo como grupo de vanguarda trouxe diferentes
reflexões acerca do que havia sido produzido na arte até então, buscando a “expressão de

sentimentos por cores e linhas” (Gombrich, 1999, p. 569).

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O expressionismo foi muito além das artes visuais se tornando presente no cinema, na música, na

literatura, no teatro, na dança e na arquitetura do início do século XX. “Quando os nazistas chegaram

ao poder em 1933, a arte moderna foi banida, e os grandes líderes do movimento foram exilados ou

proibidos de trabalhar” (Gombrich, 1999, p. 567). Tal tendência estética foi execrada pelos nazistas,

pois estes compactuavam de uma outra estética completamente totalitária, usada sobretudo para

manipular a população. Assim, a arte expressionista, bem como de outros movimentos de vanguarda

modernista, for considerada pelos nazistas como arte degenerada de comunistas e doentes mentais.

Em meio à livre expressão desses artistas modernistas, eram apresentadas as suas angústias,

medos, entre outros aspectos irracionais e instintivos que mostravam muitas vezes as debilidades
humanas. Toda essa realidade bastante dramática, em conjunto com os desafios e novos caminhos

propostos pelo início de um século em que muitas coisas começavam a se agitar, as expressões

artísticas buscavam transcender de alguma forma aspectos relacionados à pintura convencional

passando a apresentar deformações variadas. De acordo com Giulio Carlo Argan (1992, p. 227),

O expressionismo, na verdade, é um fenômeno europeu com dois centros distintos: o movimento

francês dos fauves (“feras”) e o movimento alemão Die Brücke (“a ponte”). Os dois movimentos se
formaram quase simultaneamente em 1905 e desembocam respectivamente no Cubismo na França

(1908) e na corrente Der blaue Reiter (“o cavaleiro azul”) na Alemanha (1911).

Para Dempsey (2003, p. 70), “como o fauvismo, o expressionismo se caracteriza pelo uso das

cores simbólicas e da imagística exagerada, embora as manifestações alemãs apresentem geralmente

uma visão mais sombria da humanidade do que a dos franceses”. Dentre as principais características
do expressionismo, podemos evidenciar a forte expressão por meio das cores vibrantes e das formas
distorcidas, a subjetividade nos temas e formas de representá-los, a livre expressão do estado

psicológico do artista e de questões internas irracionais, a dramaticidade e destaque nos aspectos


trágicos dos temas.

Há muitos artistas expressionistas que podemos destacar, mas alguns seguiram por outros

caminhos após se envolverem com essa tendência estética. Dos inúmeros artistas expressionistas,
citamos alguns como Edvard Munch (1863-1944), Ernst Ludwig Kirchner (1880-1938), Wassily

Kandinsky (1866- 1944), Franz Marc (1880-1916), Egon Schiele (1890- 1918), Emil Nolde (1867- 1956),
Paul Klee (1879- 1940), Otto Dix (1891-1969) e Käthe Kollwitz (1867-1945).

Figura 13 – O grito, Edvard Munch (1895); litografia


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Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Figura 14 – Casas em Dresden, Ernst Ludwig Kirchner (1909-10); óleo sobre tela

Créditos: Everett Collection/Shutterstock.

Já o fauvismo teve início em Paris no ano de 1905, com o Salão de Outono, quando artistas
chocaram a crítica e o público com a aplicação de cores puras, “fortes e ousadas, aplicadas com

espontaneidade e aspereza” (Dempsey, 2003, p. 66). Com isso, esses artistas foram chamados de
fauves pelo crítico Louis Vauxcelles, cujo significado é “fera selvagem", considerando que esses artistas

eram selvagens com as cores. Assim como os expressionistas alemães, os artistas fauvistas faziam uso

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ousadas distorções e foram considerados como o primeiro grupo de vanguarda do século XX a

exercer influência na arte.

Dentre as características do fauvismo, destacamos o uso de cores puras e sem regras para a sua

aplicação, as formas simples para a representação sem preocupação com a realidade, a influência da
arte primitiva e busca por maior liberdade na expressão através das cores e formas. Dos artistas

fauvistas destacamos André Derain (1880-1954), Georges Braque (1882-1963), Maurice de Vlaminck
(1876-1958), Amedeo Modigliani (1884-1920) e, sobretudo, o mais velho e mais conhecido dos

fauvistas, sendo considerado o “rei das feras” - Henry Matisse (1869-1954).

Figura 15 – Selo da cidade de Milão, Itália, com reprodução da obra A dança, de Henri Matisse

Créditos: spatuletail/Shutterstock.

TEMA 5 – O CUBISMO

O cubismo foi um movimento de vanguarda na arte que surgiu em meados do século XX, mais
precisamente a partir da criação da famosa pintura Les Demoiselles D'Avignon, pelo artista espanhol
Pablo Picasso (1881-1973), no ano de 1907. Para a criação dessa pintura, Picasso se inspirou nas

esculturas africanas e também na obra de Paul Cézanne, permitindo unir elementos que se tornariam

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a base para a investigação no campo das ideias voltado às experimentações cubistas. No entanto, vale

destacar que ele também apresentou outras fases em sua pintura, considerando a fase azul e a fase

rosa, mas foi no cubismo que sua arte se tornou forte expressão vanguardista.

Figura 16 – Les Demoiselles D'Avignon no Museum of Modern Art, em Nova York

Créditos: Oscity/Shutterstock.

Para melhor compreendermos a estética proposta por Picasso, precisamos lembrar que havia
certa rivalidade entre ele e o artista fauve Matisse, a qual é descrita e justificada por Argan:

A visão de Matisse fundava-se no princípio da harmonia universal, entendido como princípio

fundamental da natureza; a visão de Picasso funda-se no princípio da contradição, entendido como


princípio fundamental da história. É exatamente este o ponto de divergência: para Matisse, a arte

ainda é contemplação da natureza; para Picasso, é intervenção resoluta na realidade histórica.


(Argan, 1992, p. 424)

No cubismo, temos outros artistas além de Pablo Picasso, tal como George Braque (1882-1963),
Juan Gris (1887-1927), Fernand Léger (1881-1955), Robert Delaunay (1885-1941). Destes, o artista que

trabalhou juntamente com Picasso nessa investigação da estética cubista foi o francês George Braque,
até o ano de 1914. Braque também integrou o grupo dos artistas fauve, mas, assim como outros

cubistas, encontrou em Cézanne inspiração para um ponto de partida na busca por uma arte de

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vanguarda para a época. “Braque elimina a distinção entre os volumes sólidos e o fundo. Desmonta

pacientemente a volumetria dos objetos, reduz as formas planas justapostas” (Argan, 1992, p. 426).

Assim, “o objetivo da pesquisa conjunta é, pois, conciliar Cézanne e os negros, o que,

evidentemente, significava resolver dialeticamente as antíteses da história da arte” (Argan, 1992, p.


426). Sobre a inspiração de Braque a partir da obra de Cézanne, conforme aponta Dempsey:

Braque se interessava particularmente pelo método de Cézanne de retratar três dimensões

recorrendo a múltiplas perspectivas, e pelo modo como construía formas a partir de diferentes
planos, que pareciam deslizar ou passar através dos outros. Essa técnica (passage, em francês)

conduz o olhar a diferentes áreas da pintura, e ao mesmo tempo que cria um sentido de
profundidade, chama a atenção para a superfície da tela e projeta-se no espaço do observador, uma

das principais características do cubismo. (Dempsey, 2003, p. 84)

Logo, no cubismo, podemos compreender que “Picasso representa a força de ruptura e Braque o

rigor do método” (Argan, 1992, p. 426) e ambos compartilham da mesma base para as estruturas de

suas investigações na arte e concepção do cubismo. Durante os anos de 1907 e 1914, tais

investigações e experimentações resultaram em três fases do cubismo consideradas como as

principais. Na primeira fase, conhecida como fase cezanniana ou pré-analítica, entre os anos de 1907

e 1909, os artistas buscaram por maior inspiração na análise das obras do artista Cézanne e de como

esse resolvia as pinturas com a sensação de vários ângulos propostos simultaneamente e as

pinceladas organizadas de forma geométrica.

Na fase seguinte, que é a fase conhecida como analítica ou hermética, entre os anos de 1909 e
1912, os artistas Picasso e Braque buscaram decompor as formas no plano bidimensional de forma a

sugerir que a partir da bidimensionalidade de uma estrutura com apenas altura e largura, o
observador pudesse ver o objeto representado em seus diversos ângulos. E na terceira e última fase,
chamada de sintética e realizada entre os anos de 1912 e 1914, Picasso e Braque começaram a incluir

elementos diversos como madeira, papel e outros resultando em colagens sobre superfícies
bidimensionais.

Figura 17 – Selo com representação da obra Garrafa e jornal, de George Braque, da fase analítica do
cubismo

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Créditos: svic/Shutterstock.

Dentre as características do cubismo, evidenciamos a geometrização e fragmentação das formas,

resolução das formas diversas em cubos, cones e outros elementos geométricos, uso da monocromia,
pinturas escultóricas e colagens sobretudo da fase sintética, captação da ideia abstrata e conceitual

do objeto a ser reproduzido. Ademais, a composição analítica é exercida como uma forma de
exercício mental e a inspiração para a arte cubista, conforme anteriormente mencionado, vem a partir

de Cézanne e também na arte africana.

Figura 18 – Visitantes observando a obra Os três músicos, exposta no Museum of Modern Art em
Nova York
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Créditos: Bumble Dee/Shutterstock.

NA PRÁTICA

A partir dos conteúdos dessa aula, escolha um objeto qualquer e reproduza-o várias vezes,

conforme as características dos movimentos e estilos artísticos aqui abordados A técnica utilizada

pode ser tinta de têmpera guache sobre papel de gramatura 200g/m² tamanho A4 (210x297mm).

Você também pode se focar no estilo de cada um dos artistas pós-Impressionistas. Lembre-se de

observar as principais características como paleta cromática, composição, linhas, deformação das
figuras, pinceladas etc.

Por fim, observe com qual estilo você teve mais afinidade e procure refletir sobre o motivo.

FINALIZANDO

Nesta aula, começamos com o Art Nouveau e suas principais características como o estilo floral,
as linhas orgânicas e sinuosas e mais. Isso para compreendermos a sua origem que se deu a partir das

ideias de Willian Morris e John Ruskin em oposição à produção em grande escala da sociedade

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industrial. Com isso, temos uma busca pelo retorno à artesania. Em seguida, tratamos sobre a arte

impressionista, dando destaque a artistas como Renoir, Monet e Degas.

Após a apresentação desses, o foco foi mostrar os artistas pós-impressionistas com suas

particularidades em seus estilos, tal como Van Gogh, Cézanne, Seurat e Lautrec.

O tópico abordado adiante foi a arte expressionista, inclusive o fauvismo com suas forte

expressão tonal como uma fera selvagem. Por fim, aprendemos sobre o cubismo: sua origem,
singularidades e principais artistas.

REFERÊNCIAS

ARGAN, G. C. Arte moderna. São Paulo: Companhia das Letras, 2006.

DEMPSEY, A. Estilos, escolas e movimentos. São Paulo: Cosac e Naify, 2003.

FRIEDLAENDER, W. De David a Delacroix. São Paulo: Cosac Naify, 2001.

GOMBRICH, E. H. A história da arte. Rio de Janeiro: LTC Editora, 1999.

HAUSER, A. História social da arte e literatura. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

JANSON, H. W; JANSON, A. F. Iniciação à história da arte. São Paulo, Martins Fontes, 1996.

MERLEAU-PONTY, M. O olho e o espírito. São Paulo: Cosac e Naify, 2004.

ULMER, R. Alfons Mucha: O início da nova arte. Lisboa: Taschen, 2006.

WÖLFFLIN, H. Conceitos fundamentais da história da arte. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

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