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PATRÍCIA CAYE BRANCO

ART NOUVEAU, DESIGN DE SUPERFÍCIE E MODA: coleção de moda baseada


no movimento artístico com enfoque nas superfícies dos produtos

Trabalho de conclusão de curso apresentado


à Faculdade de Design de Moda do Centro
Universitário Ritter dos Reis, como requisito
parcial para obtenção do título de Bacharel
em Design de Moda.

Orientadores: Prof. M. Márlon Calza, Profª.


Dra. Fabiane Wolff, Profª. M. Camila Konradt
e Profª. Esp. Marioara Feijó.

PORTO ALEGRE

2013
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5 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A fundamentação teórica desta pesquisa é dividida em dois capítulos. O


primeiro capítulo refere-se ao movimento artístico Art Nouveau. Dessa forma, sua
subdivisão compreende as suas características, contexto histórico e contexto social,
bem como a moda e o seu sistema durante esse período e os têxteis e padronagens
produzidos nessa época. O segundo capítulo destina-se ao design de superfície
como um todo e também sua articulação ao campo da moda. Por conseguinte, este
é subdivido em subcapítulos que contemplam a definição, os conceitos, o histórico,
os princípios básicos e a metodologia do design de superfície e ainda a sua relação
com o campo da moda, ou seja, o design têxtil.

5.1 O ART NOUVEAU

O movimento Art Nouveau é conhecido por pertencer ao final do século XIX e


início do século XX. Começa a se formar por volta das décadas de 1880 e 1890,
entretanto o seu auge é durante a Exposição Universal de Paris de 1900. O nome
Art Nouveau surge do francês que é traduzido para “arte nova” em português.
Porém, por ser um movimento internacional, há variações de sua nomenclatura de
acordo com o lugar em que se situa (DUNCAN, 1998). Por exemplo, na Alemanha,
era chamado de Jugendstil, na Hungria e na Áustria era conhecido como
Sezessionstil (estilo da secessão). Na Itália, sua nomenclatura se dá pelo nome da
loja londrina Liberty’s1, então o movimento era La Stile Liberty. Muitos chamam de
estilo modernista, como em Barcelona, por exemplo (DUNCAN, 1994). O Art
Nouveau não só se espalhou por todo a Europa, mas também por todo o mundo e,
de acordo com Escritt (2000), era um movimento ao mesmo tempo imperialista e
nacionalista.

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Liberty’s é uma loja de departamentos mundialmente reconhecida fundada em 1875 por Arthur
Lasenby Liberty. A loja vendia artigos de luxo como mobiliários, objetos de decoração, joias e roupas.
Teve papel importante na disseminação do movimento Art Nouveau ao comercializar os seus
produtos (ESCRITT, 2000).
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Voltando para a sua nomenclatura, muitos pensam que surgiu na França;


entretanto, foi na Bélgica por volta de 1880 que o termo foi usado pela primeira vez.
Naquela época, existia um grupo de artistas que se chamavam “Les Vignt”, também
conhecidos como “Les XX” e “The Ewenty” (que pode ser traduzindo para o
português como “Os Vinte”), e este grupo tinha como objetivo reformar tanto as
artes, como também a sociedade. Em um revista da época intitulada “L’Art
moderne”, o editor escreveu sobre esses artistas como os seguidores do art
nouveau em 1884. Entretanto, foi em 1895 que o nome se consagrou a partir de
uma exposição em Paris na galeria de Siegfrid Bing direcionada para esse novo
estilo e a intitulou de “L’Art Nouveau”. A galeria reunia todo o tipo de arte nova e
design de todas as regiões da Europa as quais não mais representavam
reinterpretações do passado como dizia o manifesto (ESCRITT, 2000).

As formas orgânicas, as linhas sinuosas e o misticismo são características do


estilo Art Nouveau e criam a nova forma de linguagem decorativa. De acordo com
Escritt (2000) e Duncan (1998), os artistas e designers buscavam nas ricas formas
da natureza a inspiração para os seus trabalhos. Escritt (2000) cita uma frase escrita
pelo arquiteto e designer August Endell (1871-1925) que exemplifica muito bem a
ideia do que seria essa nova arte e principalmente a evocação de emoções que
conseguia nas pessoas com suas formas curvilíneas:

Pessoas intelectuais veem claramente que nós estamos não apenas no


início de um novo período estilístico, mas também no princípio de uma arte
inteiramente nova – a arte de usar formas que, apesar de não significarem
nada, representarem nada e revogar nada, consegue mover a alma humana
tão profundamente e irresistivelmente, quanto somente os sons das músicas
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tem sido capazes de fazer. (1898 apud ENDELL; ESCRITT, 2000, p.20,
tradução da autora).

A frase de Endell (1898) consegue transmitir essa ideia de movimento que a


estética do Art Nouveau traz. As linhas curvas como as formas da natureza
entrelaçadas que seguem infinitas direções provocam um certo tipo de ritmo na
mente humana que a leva a movimentar-se seguindo essas linhas. O autor Alastair

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“Knowledgeable people see quite clearly that we stand not only at the beginning of a new stylistic
period, but at the inception of na entirely new art – the art of using forms that, although they signify
nothing, represent nothing and recall nothing, can move the human soul as profoundly and irresistibly
as only the sounds of music have been able to do it.” (1898 apud ENDELL; ESCRITT, 2000, p.20)
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Duncan (1998) afirma que as formas curvilíneas nas obras que parecem estar em
movimento entram em contraste com o fundo estático da imagem criando o efeito
“trompe l’oeil” – técnica artística que cria uma ilusão ótica no observador – que
evidencia esse efeito de ritmo e movimento. Como exemplo disso esta a escadaria
do Hotel Tassel em Bruxelas criada por Victor Horta ilustrada na figura 2.
Encontramos tanto na parede, como na escadaria trabalhada em ferro, linhas com
formas orgânicas que se se sobrepõem umas às outras que dão a impressão de
estarem em movimento.

Figura 2 – Hotel Tassel, 1893-1895

Fonte: Tumblr. Disponível em: <http://www.tumblr.com/tagged/victor-horta?before=1348193293>.


Acesso em: 24 out. 2012.

Uma das obras mais reconhecidas do Art Nouveau e da Exposição Universal


de 1900 foram as estruturas desenvolvidas para o novo metro de Paris da época. A
“Compagnie Générale des Transports” da França, concedeu permissão para a
construção de linhas de transporte a baixo da terra – ou seja, um metro – em vista
de que o trânsito de Paris estava em uma situação caótica e era necessário bons
meios de transporte público para organizar a cidade. Então, planos para se construir
um metro começou por volta de 1895 e foi o arquiteto Jean-Louis-Charles-Garnier
que ficou encarregado de projetá-lo. Entretanto, foi o arquiteto Hector Guimard
(1867-1942) o autor dos projetos, estes sendo de estruturas leves baseadas em
linhas sinuosas e orgânicas trabalhadas em ferro e vidro que caracterizavam esse
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novo estilo decorativo, como mostra a figura 3 da estação Porte Dauphine de 1900.
O projeto de Guimard foi escolhido devido a motivos de menor custo e de mais
praticidade e fácil construção (ESCRITT, 2000).

Figura 3 – Estação Porte Dauphine do Paris Métro, 1900

Fonte: L’Art Nouveau em France. Disponível em: < http://lartnouveauenfrance.files.wordpress.com/


2011/03/la_station_art_nouveau_de_la_porte_dauphine_hector_guimard-1899.jpg>. Acesso em: 24
out. 2012.

O reconhecimento do movimento Art Nouveau se dá através da sua


preocupação com a natureza (DUNCAN, 1998, p. 63). As formas e as cores
orgânicas eram predominantemente temas e fontes de inspiração de artistas,
designers e arquitetos no fim do século XIX e início do século XX. Stephen Escritt
(2000) afirma que o uso da natureza foi em consequência da nova vida agitada,
urbana e industrial a que a Europa vivia, uma vez que as formas orgânicas traziam
ideias de tranquilidade e beleza. Com isso, os motivos de flores e linhas curvilíneas
que se movimentam em um ritmo através das obras são relacionados ao movimento
art nouveau (COLE, 2003, p. 225). Além disso, o movimento sofreu grande influência
da arte japonesa – em decorrência da ligação entre o Japão e os Estados Unidos
com a assinatura do Tratado de Kanagwa e do Tratado de Amizade e Comércio de
1858 que trouxe o Japão para a cena atual da época deixando de ser excluído pelos
países da Europa – as quais também tinham como principal temática a natureza em
suas padronagens de estamparia de superfícies planas (DUNCAN, 1994).
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Diferenciando-se dos estilos artísticos anteriores, o Art Nouveau se


preocupava com todos os tipos de arte, como a arte decorativa, a arquitetura, o
design, o design de interiores, o design têxtil, o design de joias, a cerâmica e até
mesmo cartazes publicitários, ou seja, todo e qualquer objeto poderia ser utilizado,
seja objetos de decoração e domésticos – como cadeiras, papéis de parede, mesas
maçanetas –, joias, entre outros, e não englobava somente a pintura e a escultura
(ESCRITT, 2000). As figuras 4 e 5, o vaso de Emile Gallé e o peitoral de René
Lalique, ilustram essa integração dos vários tipos de artes. Assim sendo, o Art
Nouveau ficou conhecido como um movimento variado e versátil.

Figura 4 – Coupe Libellule de Emile Gallé, 1903

Fonte: L’Art Nouveau em France. Disponível em: <http://lartnouveauenfrance.files.wordpress.com/


2011/03/0000001097_11.jpg>. Acesso em: 24 out. 2012.

Figura 5 – Peitoral Pavão de René Lalique, 1900

Fonte: Museu Calouste Gulbenkian. Disponível em: <http://www.museu.gulbenkian.pt/open.asp?num


=1134&lang=pt>. Acesso em: 24 out. 2012.
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Uma das áreas das artes gráficas bem desenvolvidas durante o período do
Art Nouveau foi a criação de cartazes, embalagens e anúncios, isto é, artistas
apropriavam-se de objetos do cotidiano para difundir a sua arte. Com isso, foi uma
época de grande produção de cartazes e pôsteres que, por conseguinte, trouxe
melhorias para a comunicação em massa (MEGGS, Philip B.; PURVIS, Alston W.,
2009). Um fator importante para a decorrência disso foi o desenvolvimento de
inovações técnicas nos processos de produção e reprodução gráficas através das
impressoras litográficas. Com isso, artistas, designers e ilustradores conseguiam
desenhar suas próprias fontes para textos publicitários ao invés de usarem fontes
tipográficas previamente definidas (HOLLIS, 2001). A litografia inventada por Aloys
Senefelder em 1796 é um processo de impressão gráfica no qual uma imagem é
impressa em uma superfície plana. Para isso, utiliza-se do princípio químico de que
água e óleo não se misturam. A imagem a ser impressa é desenhada com algum
material de base oleosa sobre uma superfície plana e é espalhado sobre ela água. A
água só afetará aquelas regiões que não foram desenhadas devido ao óleo do
material utilizado. O passo a seguir é passar uma tinta oleosa com o rolo sobre toda
a superfície. Assim, a tinta se adere à imagem e não às regiões molhadas pela água.
Por fim, coloca-se uma folha de papel sobre a superfície e, através de uma prensa, a
imagem é transferida para o papel (MEGGS, Philip B.; PURVIS, Alston W., 2009). A
figura 6 apresenta um cartaz do artista Henri Toulouse-Lautrec intitulado de “La
Goulue au Moulin Rouge” realizado para o famoso cabaré francês Moulin Rouge.

Figura 6 – La Goulue au Moulin Rouge de Toulouse-Lautrec, 1891

Fonte: The Burns Archive. Disponível em: <http://theburnsarchive.blogspot.com.br/2010/10/la-goulue-


glutton-lautrecs-muse-fallen.html>. Acesso em: 5 mar. 2012.
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Os arquitetos, designers e artistas do Art Nouveau procuravam criar um estilo


que era apropriado à época em que viviam, já que foi um período de grande avanço
industrial e tecnológico. Esta foi a era do crescimento da industrialização e
principalmente da produção industrial, além de ser o período do cinema, do telefone
e do automóvel. Em contrapartida, existiam aqueles artistas e designers mais
conservadores que queriam voltar ao período pré-industrial, adotanto o artesanato
como ponto de partida e repudiavam o processo industrial. Os anos de 1900 também
foi o período intitulado de “belle époque” francesa que antecedeu a Primeira Guerra
Mundial. Era uma época de grande efervescência e prosperidade da classe-média e
da busca pelo prazer (DUNCAN 1994). Escritt (2000) afirma que o estilo “incorpora
todas as tensões dentro de arte, de design e da sociedade na virada do século” e
compreendia características paradoxais, pois era ao mesmo tempo elitista e
populista, privado e público, conservador e radical, tradicional e moderno, opulento e
simples, decadente e progressista, industrial e artesanal.

O período do final do século XIX e início do século XX foi chamado de “fin de


siècle”, final do século em francês. Para a Europa, foi um tempo marcado pela
industrialização, pelo avanço tecnológico e pelo grande aumento das cidades
urbanas. Tais mudanças influenciaram a economia e a política vivida na época, sem
mencionar a ligação direta com as artes. Nesse período, também houve bastante
desenvolvimento dos campos da sociologia, da psicologia e da ciência. Esse foi o
momento em que o feminismo ganhou força e a busca pelos direitos das mulheres
tanto na educação, quanto na política, era amplamente discutida e questionada.
Tudo isso possui relação direta com o Art Nouveau, já que foi um movimento que ao
mesmo tempo era moderno, mas também guardava antigos valores e temas
decorativos tradicionais (ESCRITT, 2000).

A figura da mulher nas obras constituintes do movimento Art Nouveau são


reflexos do atual feminismo da época. As mulheres, naquela época, conseguiram
ganhar espaço na sociedade francesa, tendo acesso à educação e à universidades.
Em 1885, as mulheres formadas em medicina ganharam o direito de exercer a sua
profissão em hospitais públicos. Dessa maneira, grandes conquistas foram
concedidas às mulheres que lutavam por seus direitos e mantinham o avanço,
apesar de lento, do feminismo na França. Essas novas mulheres que estudavam,
trabalhavam e não mais ficavam em casa tomando conta da casa, da família e dos
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afazeres domésticos foram chamadas de “femme nouvelle”, que significa “novas


mulheres” em português. Os conservadores estavam horrorizados com toda essa
mudança que chegavam a culpar esse novo comportamento feminino pela baixa da
taxa de natalidade francesa e, ainda, biólogos e antropologistas buscavam
justificativas científicas e comprovadas que a mulher deveria ficar em casa com suas
atividades domésticas (DUNCAN, 1994).

Em contrapartida, a figura da mulher representada no Art Nouveau era de


ninfas, de seres mitológicos de extrema beleza, doçura e sensualidade, de seres
perfeitos com cabelos longos e corpos delicados, ao contrário do que as “femme
nouvelle” realmente eram (ESCRITT, 2000). Estas que, para a sociedade do início
do século XX, eram consideradas feias, grosseiras e até mesmo eram comparadas
com meninos, já que não cumpriam o seu dever de inspirar os homens. As ativistas
feministas repudiavam o tipo de imagem encontrada nas obras do Art Nouveau, já
que elas não queriam mais que as mulheres fossem obrigadas a corresponderem a
um tipo de padrão imposto a elas. Portanto, a mulher real da década de 1900 era
muito diferente daquela representada nas artes, como afirma o autor: “Com os
cabelos flutuantes, longos mantos e corpos delicados, as mulheres retratadas pelos
artistas do art nouveau na França geralmente proporcionavam um contraste
reacionário com as femme nouvelle.”3 (ESCRITT, 2000, tradução da autora). A figura
7 mostra a obra “Dance” da série “The Arts” do artista Alphonse Mucha de 1898 que
ilustra a imagem representada das mulheres pelos artistas do Art Nouveau.

3
“With their floating hair, long robes and delicate bodies, the women portrayed by Art Nouveau artists
in France generally provided a reactionary contrast to the femme nouvelle.
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Figura 7 – “Dance”, 1898

Fonte: Mucha Foundation. Disponível em: <http://www.muchafoundation.org/gallery/browse-


works/object/94>. Acesso em: 25 out. 2012.

5.1.1 Raízes do Movimento

De acordo com Duncan (1994), as raízes do movimento Art Nouveau podem


ser facilmente reconhecidas, já que este se origina a partir dos estilos e movimentos
artísticos tais quais o neo-rococó, o neogótico ou o revitalismo gótico, o movimento
Arts and Crafts, o Esteticismo e o Simbolismo. Através do neo-rococó do século XIX
– que foi marcado pela revitalização do estilo rococó francês, pela ornamentação,
pelas formas orgânicas assimétricas e também pela utilização de materiais luxuosos
– o art nouveau trouxe de inspiração o interesse pela natureza, as formas orgânicas
e a linguagem decorativa. Com o revitalismo gótico do iníco de século XIX, que se
caracterizava pela releitura e pela restauração do design e da arquitetura gótica no
período medieval, o Art Nouveau compartilha do estilo curvilíneo das formas e da
decoração orgânica. O movimento inglês Arts and Crafts, se não a principal
influência para o Art Nouveau, ficou conhecido pelos trabalhos de William Morris,
John Ruskin e seus seguidores. Este movimento surgiu na Inglaterra por volta da
década de 1860 através das artes decorativas e da arquitetura que se espalhou por
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toda a Europa. O Arts and Crafts tinha como objetivo resgatar as antigas técnicas de
produção artesanal, que tinham se perdido da revolução industrial da época, e
também valorizar o artesão e seu trabalho. Assim, o papel das artes era ornamentar
os objetos do cotidiano das pessoas através de motivos da natureza e linhas
curvilíneas e sinuosas, como mostra a figura 8 com uma padronagem criada por
William Morris. Não apenas isso, o Arts and Crafts trouxe para o Art Nouveau a ideia
de englobar todos os tipos de artes, seja pintura e escultura, mas também as artes
decorativas, gráficas, aplicadas, entre outras (ESCRITT, 2000).

Figura 8 – Têxtil de William Morris

Fonte: Jane Heiress. Disponível em: <http://janeheiress.blogspot.com.br/2012/02/arts-crafts-


movement.html>. Acesso em: 10 jun. 2013

Em relação ao estilo esteticista, movimento artístico e literário das décadas de


1870 e 1880, este contribuiu com o Art Nouveau, pois enfatizava os valores
estéticos, a supremacia da beleza e a filosofia da “arte pela arte”. O Esteticismo
também tinha um interesse maior pelas artes decorativas principalmente nas formas
e decorações japonesas, característica também herdada pelo Art Nouveau. Por
último, o Simbolismo, conhecido por seu misticismo, pela fantasia e pelo seu estilo
erótico, sensual e decadente, além do interesse por figuras mitológicas e religiosas,
como mostra a obra de Gustav Klimt na figura 9. Com isso, o Simbolismo traz para o
Art Nouveau esse interesse em um mundo dos sonhos, um mundo mitológico
(DUNCAN, 1994). Entretanto, Escritt (2000) afirma em seu livro que o movimento Art
Nouveau na verdade não foi uma revolução, mas sim uma síntese de todos esses
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movimento e estilos artísticos. Em contraponto, o autor diz que o movimento foi sim
inovador, pois foi através dessas ricas origens que possibilitou a diversidade e a
versatilidade da criação nas artes.

Figura 9 – “O beijo”, Gustav Klimt

Fonte: Wikipedia. Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Gustav_Klimt_016.jpg>. Acesso


em: 10 jun. 2013

Como podemos perceber, o Art Nouveau nunca foi um movimento


homogêneo, recebendo vários tipos de referências e influências de diversos estilos
e, ainda por cima, incorporava características culturais da região a que se
encontrava. Dessa maneira, Stephen Escritt (2000) divide o movimento por regiões
exemplificando como era em cada uma delas relacionando ao contexto econômico,
político e cultural a que pertenciam. O autor dá maior enfoque às regiões da Bélgica,
França e Alemanha, já que foram lugares onde houveram maior manifestações da
nova arte. Todavia, o autor também cita e separa o movimento através das cidades
de Viena e Glasgow; dos países Finlândia, Rússia e da região da Catalunha; e do
continente Americano. Na Bélgica, os artistas e designers sofreram bastante
influência do design inglês e do movimento Arts and Crafts, já que a cena política
nesta região estava sendo dominada por socialistas do partido “Belgian Worker’s
Party”, também conhecido por “Belgian Labour Party” e, em holandês, por “Belgische
Werkliedenpartij”. Partindo de filosofias de política liberais e também sendo contra o
governo dominado pela Igreja Católica, o partido encorajava as artes e possuía um
programa de educação cultural. Logo, é de fácil compreensão que muitos artistas,
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arquitetos e designers na Bélgica aliaram-se ao socialismo. O Art Nouveau, portanto,


foi caracterizado por se uma expressão gráfica dessa cena política.

A França, em 1900, estava perdendo todo o seu poder pela Europa, devido a
sua derrota na Guerra Franco-Prussiana e o sangrento episódio da Comuna de
Paris. Os franceses procuravam formar uma nova identidade nacional moderna e, ao
mesmo tempo, guardavam recordações nostálgicas do passado. Foi um período de
grande avanço nas ciências – psicologia, medicina, antropologia, biologia –, como os
estudos de Pierre e Marie Curie em radioatividade e o desenvolvimento de novas
vacinas contra doenças como a raiva. Além disso, era a época da “belle époque”, a
era dourada, de grande efervescência intelectual e cultural. Era representada por
uma cultura urbana, em que as pessoas buscavam por divertimento e prazer nas
ruas de Paris e em estabelecimentos como os cabarés e os cinemas. A França
também estava dominada pelo avanço do feminismo e, decorrente disto, por
incansáveis discussões sobre o papel da mulher na sociedade. Consequentemente,
o movimento Art Nouveau francês era marcado pela utilização da figura feminina
representada como seres mitológicos, pelo interesse no mundo do inconsciente do
Simbolismo e pela exploração das formas da natureza como mostra a obra de
Alphonse Mucha da figura 10 (DUNCAN, 1994).

Figura 10 – “Woman with Daisies”, Alphonse Mucha

Fonte: About.com. Disponível em: <http://arthistory.about.com/od/from_exhibitions/ig/mucha_


belvedere/alphonse_vienna_09_06.htm>. Acesso em: 10 jun. 2013
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A Alemanha, por outro lado, apresentava um cenário diferente da França.


Como obteve vitória na Guerra Franco-Prussiana e, decorrente disto, conseguiu
realizar a sua unificação e formando Império Alemão – “Deutsches Reich”, ou
“Kaiserlich Deutsches Reich” em alemão –, a Alemanha estava em um clima de
união e otimismo. Além disso, o país estava ganhando muito poder e se tornava uma
potência não somente na Europa, mas também no mundo, com sua grande
expansão naval. Logo, este contexto foi o que proporcionou novos tipos de
expressões nas artes e no design. O Art Nouveau alemão era chamado de
“Jugendstill” que, traduzindo para a língua portuguesa, significa “estilo novo”;
entretanto, também é traduzido como “estilo da juventude”. Portanto, o movimento
retratava a liberdade e energia da juventude, juntamente com a pureza racial, o
misticismo e o uso de motivos da natureza (ESCRITT, 2000).

Nas cidades de Viena e Glasgow, na Áustria e na Escócia respectivamente, o


Art Nouveau se manifestou de maneira completamente diferente à da França. Em
primeiro lugar, o movimento teve maior amplitude nas áreas de arquitetura e de
design de interiores. Em segundo lugar, se não o principal diferencial do movimento
nestes locais, as formas orgânicas da natureza e as linhas sinuosas e curvilíneas
foram substituídas por formas e decorações geométricas. No entanto, apesar de
serem estéticas diferentes e contrastantes, as duas faziam parte do mesmo
movimento, o Art Nouveau. Na Finlândia, na Rússia e na região da Catalunha, a arte
nova foi influenciada pelos manifestos nacionalistas. Tanto na Finlândia, quanto na
Catalunha, o movimento refletia a busca pela liberdade e o desejo de demarcar uma
autentica identidade cultural nacional. Na Rússia, o Art Nouveau ainda incorporou as
contradições e confusões que eram encontradas na vida social e política do país.
Por fim, o Art Nouveau alcançou o continente americano, mais especificamente os
países dos Estados Unidos, Argentina e Porto Rico. Apesar de conterem estilos
completamente diferentes do movimento e situados em épocas também diversas, só
pelo simples fato deste chegar nesses países é que se dá uma das maiores
características do Art Nouveau: a sua diversidade e internacionalização. Os estilos
demarcavam o caráter pós-colonial desses países, mas ainda com influências
europeias (DUNCAN, 1994).

A disseminação do movimento Art Nouveau deve muito a loja de


departamentos londrina Liberty & Co. A loja foi fundada por Arthur Lasenby Liberty
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em 1875 na East India Houe, sede da British East India Company, onde vendia
cerâmicas orientais importadas, tapetes, móveis, tecidos e entre outros objetos. Com
o passar do tempo, o sucesso da loja só aumentou fazendo com que a empresa
decidisse produzir suas próprias peças de mobiliário. Esses produtos na verdade
eram releituras de obras de artistas e designers famosos da época, entretanto com
preços mais acessíveis (ESCRITT, 2000). Dessa maneira, o sucesso da loja ganhou
dimensões extraordinárias, já que combinava a estética e a funcionalidade de
designers renomados, ao mesmo tempo em que garantia preços baixos. Assim, a
Liberty & Co conseguia atingir consumidores de classes a que esses artistas e
designers da época não alcançavam: a classe média. A expansão da empresa
continuou chegando, em 1890, ao abrir uma loja na 38 avenue de l’Opéra em Paris,
o que levou os seus produtos a serem dispostos e espalhados por toda a Europa.
Os tecidos, inclusive os tecidos de decoração, vendidos nas lojas eram
extremamente cobiçados, chegando a um ponto de símbolo de status da elite
europeia. Consequentemente, tanto a expansão e o sucesso da empresa, como
também a propagação e a internacionalização do movimento Art Nouveau
aumentava (DUNCAN, 1998, p.72).

Arquitetura, arte, design e design de interiores são grandes exemplos dos


campos atingidos pelo movimento Art Nouveau, mas não há somente esses, a moda
também foi influenciada por essa nova arte, apesar de não ser tão intensa como nos
outros. Isso deve-se ao fato que os tecidos utilizados na confecção de roupas não
eram estampados, uma vez que eram preferidos os lisos ornamentados com rendas,
crochês e bordados. Na Exposição Universal de Paris de 1900, foi apresentada uma
mostra de trabalhos das vinte maiores casas de moda chamada de: “Les Toilettes de
la Collectivité de la Couture” preparada pela Chambre Syndicale de la Confection
pour Dames et Enfants. Dessa maneira, os estilistas parisienses também queriam
fazer parte da cena cultural da época, além de serem reconhecidos como
profissionais criativos, apresentar ao mundo suas criações e revelar a importância da
indústria da moda (MENDES; HAYE, 2003).

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