Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Arquitetura
Introdução
Em meio às transformações trazidas pela Revolução Industrial, nasce
na Europa o ecletismo, movimento estético pautado na utilização e
na combinação de elementos característicos de momentos históricos
anteriores. No Brasil, o espírito eclético aporta no final do século XIX
e se difunde em meio a outras expressões da arquitetura até meados
do século XX.
Neste capítulo, você vai conhecer melhor o período de transição
entre os séculos XIX e XX, assim como as características da arquitetura
eclética. Além disso, vai ver algumas das principais obras internacionais
e nacionais do ecletismo.
Para saber mais sobre a história do edifício do Parlamento de Londres, acesse o link
a seguir.
https://qrgo.page.link/Nx4bK
Arquitetura eclética 3
Até aqui, você viu obras do historicismo, período que pode ser confundido
com o ecletismo. O primeiro tanto reproduzia os modelos do passado e recriava
a história como revitalizava as produções arquitetônicas. Já no segundo, há
mistura de estilos do passado. Para Pedone (2005, p. 130), “O historicismo
teve seu lugar no espírito eclético, pois a idealização do passado e da natureza
possibilitou escolher elementos dos mais variados repertórios, abrindo caminho
para a expressão do Ecletismo em Arquitetura [...]”. Assim, a nova concepção
da arquitetura — a eclética — busca na história a sua fonte de inspiração, mas
rejeita “imitações superficiais de formas do passado”.
4 Arquitetura eclética
[...] o ecletismo dos arquitetos do século XIX não foi uma forma, entre
outras, de historicismo, pois enquanto o historicismo buscou reviver um
passado e construiu representações da história inscrevendo a arquitetura
moderna em um estilo antigo, o ecletismo usou elementos e sistemas
da história para inventar uma arquitetura adaptada aos novos tempos
[...] (PEDONE, 2002, p .8).
O termo “eclético” vem do grego ekleltikós e se refere àquele que escolhe e “[...] ca-
racteriza a seleção entre as diversas opções das quais se tem conhecimento, sem
observância de uma linha rígida de pensamento [...]” (PEDONE, 2002, p. 8). O ecletismo
fundamenta-se na reunião de elementos de sistemas que foram propostos ao longo
da história em uma unidade nova e criativa.
Se, por um lado, já havia o ecletismo de base medieval, por outro, no sé-
culo XIX, surge o ecletismo de inspiração clássica, ou melhor, renascentista,
carregado de elementos de origem italiana e francesa. Com os nomes “estilo
segundo império” e “estilo beaux-arts”, adotado mais tarde, esse movimento
domina o mundo ocidental durante as últimas décadas do século XIX.
O ecletismo se manifestou por toda a Europa em grandes monumentos, tais
como o Parlamento de Londres, de Charles Barry (1836), o Palácio da Justiça
de Bruxelas, de Joseph Poelaert (1861), a Galeria Vitor-Emanuel, de Giuseppe
Mengoni, em Milão (1865), a Ópera de Dresden, de Gottfried Semper (1871),
os edifícios do Ring de Viena (1872) e o Parlamento de Budapeste (1882), de
Imre Steindl (PEDONE, 2002).
6 Arquitetura eclética
Figura 3. Teatro da Ópera de Paris, paradigma do ecletismo do século XIX: corte longitudinal
esquemático e planta baixa do pavimento principal.
Fonte: Pereira (2010, p. 200).
[...] as forças sociais encontrarão sua melhor expressão nas formas ecléticas
dos anos finais do século XIX — inclusive até o início do século XX — como
estilo oficial dos edifícios públicos e de todos aqueles que pretendem ter uma
representatividade na cidade, usando esse ecletismo orgulhoso e chamativo
para consolidar a imagem das capitais europeias e americanas.
Arquitetura eclética 7
Acesse o link a seguir para saber mais sobre as exposições internacionais que marcaram
o final do século XIX.
https://qrgo.page.link/F6Gt2
Como você viu, o ecletismo foi uma cultura arquitetônica que refletiu os
valores da classe burguesa em um momento histórico de ostentação. Esse
movimento representava, por meio de uma arquitetura de caráter simbólico,
o poder burguês em ascensão e o anseio pela modernidade.
8 Arquitetura eclética
O ecletismo no Brasil
No Brasil, o ecletismo surge em conexão com um desejo implícito de moder-
nização, a partir da apropriação da iconografia europeia. Se, por um lado, o
ecletismo se desenvolve na Europa a partir da aceitação da tradição adaptada
ao novo paradigma socioeconômico, em território nacional, ele acompanha a
necessidade de se desvencilhar do passado colonial, ainda recente.
Entre os fatores que contribuíram para que as bases do ecletismo fossem
lançadas em terras brasileiras no início do século XIX, destacam-se: a abertura
dos portos e as consequentes trocas com outras nações, sem interferência por-
tuguesa e favorecendo a assimilação massiva da cultura francesa; a atuação da
Missão Artística Francesa e do engenheiro Louis Léger Vauthier; e a expansão
do uso de materiais como o ferro e o vidro, considerados marcos da produção
industrial (LUZ, 2018). Após a Proclamação da República (1889), o País se viu
imerso em ideais de busca por progresso, industrialização e modernização. A
elite tinha o intuito de reproduzir modelos europeus e romper com o passado co-
lonial, incorporando, nas palavras de Fabris (1993), o “desejo de ser estrangeiro”.
Assim, o ecletismo se inseriu no Brasil no fim do século XIX e perdurou até
o século XX, incentivado pelo governo republicano como forma de modernizar
o País. Sobre esse período, Souza (2003, documento on-line) afirma o seguinte:
Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a arquitetura eclética recebeu influência direta da Missão
Artística Francesa e da criação posterior da Escola de Belas Artes. Nesse
contexto, se destaca a figura de Grandjean de Montigny, que não somente
disseminou o uso do ferro e do vidro como abriu espaço para a estética e os
pensamentos historicistas. Na Figura 4, a seguir, você pode ver a Avenida
Central do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século XX.
Arquitetura eclética 9
São Paulo
A arquitetura pautada em referências históricas europeias, que na capital
carioca foi implantada desde a primeira metade do século XIX, em São Paulo
se insere tardiamente. O aspecto colonial da cidade foi se modificando com a
construção de obras de grande porte — Grande Hotel Paulista (Figura 6), cuja
construção foi iniciada em 1878, Monumento à Independência (atual Museu
Paulista da Universidade de São Paulo) e Museu do Ipiranga, inaugurado em
1895. Segundo Luz (2018, p. 78), essas obras “[...] rompem com a tradição local
e inserem no quadro arquitetônico os elementos típicos da notória arquitetura
ornamental solidificada no Rio [...]”.
Arquitetura eclética 11
Belo Horizonte
Belo Horizonte é um caso particular, já que foi uma “[...] capital encomendada
sob o signo da modernidade arquitetônica, via modelos europeus do século XIX
[...]” (SALGUEIRO, 1987, p. 107). Nesse contexto, se destacam os edifícios pú-
blicos, “casas-tipo”, residências, bem como o estilo neogótico. Após a Primeira
Guerra, Belo Horizonte “[...] recupera o dinamismo dos primeiros tempos e os
palacetes-comércio explicitam a sobrecarga ostentatória do ornamento [...]”
(SALGUEIRO, 1987, p. 107). Para o projeto da nova capital, se buscou referências
do que havia de mais moderno, a partir dos princípios da École des Beaux-Arts
e do conhecimento dos diferentes programas e suas tipologias arquitetônicas.
Entre os edifícios ecléticos de Belo Horizonte, destaca-se o Palácio da
Liberdade (Figura 8), projetado pelo arquiteto José de Magalhães. Segundo
Salgueiro (1987, p. 120), na “[...] concepção geral do Palácio da Liberdade
reconhece-se o estilo de Garnier, além da transcrição de estilemas análogos aos
teatros do século XIX europeu [...]”. Observando a Figura 8, você pode notar
características como: a loggia no pavimento superior e as arcadas no térreo,
o frontão interrompido ao centro por um busto que alegoriza a Liberdade e os
corpos laterais formando a simetria da composição, com torreões redondos
com tetos de zinco trabalhado, entre outras.
Considerações finais
O ecletismo materializa a mentalidade própria do século XIX, entendendo
que as formas deveriam ser representativas e que o exterior das edifica-
ções deveria evidenciar o status de seu ocupante. Nesse contexto, é dada
importância à fachada da edificação e aos ornamentos empregados nela.
Além disso, o movimento busca conceber o espaço urbano com base na
“[...] magnificência, expressividade, monumentalidade, com a intenção de
glorificar uma ideologia ou uma classe [...]” (FABRIS 1987 apud LUZ, 2015,
p. 5), como você pôde ver a partir da análise de algumas obras.
Para o historiador da arte britânico Pevsner (1970 apud LUZ, 2018, p. 15),
“[...] o Ecletismo é consequência da Revolução Industrial, e suas bases estão
assentadas na ascensão de uma classe burguesa em busca da legitimação de
seu poder intelectual [...]”. Já para o historiador da arquitetura Curtis (apud
PEDONE, 2002, p. 157), “[...] o Ecletismo foi um poderoso instrumento para
extrair lições da história [...]”. Assim, o ecletismo foi um procedimento que
buscou inventar uma nova arquitetura, pautada na seleção de elementos e
sistemas históricos, com o objetivo de criar composições e adaptá-las aos
novos tempos.
Arquitetura eclética 15
BICCA, P. Arquiteto Theo Wiederspahn: um eclético no sul do Brasil. Letras de Hoje, Porto
Alegre, v. 45, n. 4, p. 48-53, out./dez. 2010. Disponível em: revistaseletronicas.pucrs.br/
ojs/index.php/fale/article/download/8553/6067. Acesso em: 07 jul. 2019.
FABRIS, A. Arquitetura eclética no Brasil: o cenário da modernização. Anais Do
Museu Paulista: História E Cultura Material, São Paulo, v. 1, n. 1, p. 131-143, 1993.
Disponível em: http://www.revistas.usp.br/anaismp/article/view/5279/6809. Acesso
em: 07 jul. 2019.
LUZ, J. K. F. A face popular da arquitetura do espetáculo: o Ecletismo como símbolo de
transformações sociais no Cabo de Santo Agostinho/PE (1900-1935). 2015. Disponível
em: http://portal.iphan.gov.br/uploads/publicacao/151023_John_Kennedy_Ferreira_
da_Luz.pdf. Acesso em: 07 jul. 2019.
LUZ, John Kennedy Ferreira da. A face popular da arquitetura historicista: o Ecletismo
vernáculo no Centro do Cabo de Santo Agostinho (1890-1940). 2018. Dissertação
(Mestrado em História) – Mestrado em História Social da Cultura Regional, Programa
de Pós-Graduação em História, Departamento de História, Universidade Federal Rural
de Pernambuco, Recife, 2018. Disponível em: http://www.tede2.ufrpe.br:8080/tede2/
bitstream/tede2/7810/2/John%20Kennedy%20Ferreira%20da%20Luz.pdf. Acesso em:
07 jul. 2019.
MARTINS, A. P. R. S. D. O patrimônio eclético no Rio de Janeiro e a sua preservação. 2009.
Dissertação (Mestrado em Ciências em Arquitetura) – Programa de Pós-graduação
em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009. Disponível em: http://livros01.livrosgratis.com.br/
cp135681.pdf. Acesso em: 07 jul. 2019.
PEDONE, J. V. C. O espírito eclético. 2002. Dissertação (Mestrado em Arquitetura) –
Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura,
Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2002. Disponível em: https://
lume.ufrgs.br/handle/10183/2373. Acesso em: 07 jul. 2019.
PEDONE, J. V. C. O espírito eclético na arquitetura. ARQTEXTO, Porto Alegre, n. 6,
2005. Disponível em: https://www.ufrgs.br/propar/publicacoes/ARQtextos/PDFs_re-
vista_6/11_Jaqueline%20Viel%20Caberlon%20Pedone.pdf. Acesso em: 07 jul. 2019.
PEREIRA, J. R. A. Introdução à história da arquitetura: das origens ao século XXI. Porto
Alegre: Bookman, 2010.
SALGUEIRO, H. A. O ecletismo em Minas Gerais: Belo Horizonte 1894-1930. In: FABRIS,
A. et al. (org.). Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: Nobel, 1987, p. 105-145.
Disponível em: https://aprender.ead.unb.br/pluginfile.php/577381/mod_resource/
content/0/343706656-Ecletismo-Na-Arquitetura-Brasileira.pdf. Acesso em: 07 jul. 2019.
16 Arquitetura eclética
SHÄFFER, B. Porto Alegre, arquitetura e estilo – 1880 a 1930. 2011. Dissertação (Mestrado
em Arquitetura e Urbanismo) – Programa de Pesquisa e Pós-graduação em Arquitetura,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,
Porto Alegre, 2011. Disponível em: https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/49939.
Acesso em: 07 jul. 2019.
SOUZA, A. L. F. Estilo eclético na arquitetura de Juiz de Fora (MG) – um debate his-
toriográfico. In: ANPUH – SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 22., 2003, João Pessoa.
Anais [...]. João Pessoa: [s. n.], 2003. Disponível em: https://anpuh.org.br/uploads/anais-
-simposios/pdf/2019-01/1548177544_d16588058c36ac8e20cf960e2b3019e9.pdf. Acesso
em: 07 jul. 2019.
Leituras recomendadas
BENEVOLO, L. História da arquitetura moderna. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
BRUAND, Y. Arquitetura contemporânea no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.
DANTAS, A. D. Os pavilhões brasileiros nas exposições internacionais. 2010. Dissertação
(Mestrado em Arquitetura e Urbanismo) – Faculdade de Arquitetura e Urbanismo,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2010.
FABRIS, A. et al. (org.). Ecletismo na arquitetura brasileira. São Paulo: Nobel, 1987.
FIEDERER, L. Clássicos da arquitetura: palácio de Westminster. 2017. Disponível em: https://
www.archdaily.com.br/br/879375/classicos-da-arquitetura-palacio-de-westminster-
-charles-barry-e-augustus-pugin. Acesso em: 07 jul. 2019.
FREYRE, G. Casas de residência no Brasil. Revista do Patrimônio Histórico e Artístico Na-
cional, Rio de Janeiro, n. 26, p. 224-238, 1997.
PESAVENTO, S. J. Exposições universais: espetáculos da modernidade do século XIX.
São Paulo: Hucitec, 1997.
PESAVENTO, S. J. O imaginário da cidade: visões literárias do urbano: Paris, Rio de Janeiro,
Porto Alegre. 2. ed. Porto Alegre: UFRGS, 2002.