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História da

Arquitetura

Jana Cândida Castro dos Santos


Arquitetura eclética
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Explicar o período histórico em que o ecletismo surgiu.


 Apontar as características da arquitetura eclética.
 Listar obras internacionais e nacionais do período.

Introdução
Em meio às transformações trazidas pela Revolução Industrial, nasce
na Europa o ecletismo, movimento estético pautado na utilização e
na combinação de elementos característicos de momentos históricos
anteriores. No Brasil, o espírito eclético aporta no final do século XIX
e se difunde em meio a outras expressões da arquitetura até meados
do século XX.
Neste capítulo, você vai conhecer melhor o período de transição
entre os séculos XIX e XX, assim como as características da arquitetura
eclética. Além disso, vai ver algumas das principais obras internacionais
e nacionais do ecletismo.

Historicismos do século XIX


Durante o século XIX, ocorre a dissociação entre a linguagem e a com-
posição arquitetônica. Nesse período, o conceito de estilo, antes tido como
algo quase universal, passa a ser considerado, como afirma Pereira (2010,
p. 195), “[...] como uma mera forma decorativa que se aplica a um esqueleto
portante genérico [...]”. Para compreender isso melhor, observe, na Figura 1, o
projeto do Parlamento de Londres (1836–1867), concebido por Charles Barry
(1795–1860) e Augustos W. N. Pugin (1812–1852). Esse projeto é considerado
um dos melhores e mais acadêmicos exemplares britânicos e foi resultado de
um concurso.
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Figura 1. Parlamento de Londres, planta baixa e corte.


Fonte: Pereira (2010, p. 196).

A linguagem clássica do edifício se apresenta por meio da organização com-


positiva dos espaços internos, volumes e massas. Já externamente, o edifício é
revestido por formas neogóticas. Para Pereira (2010), além de um dos exemplos
mais típicos de historicismo medieval no século XIX, esse edifício também é
um ótimo exemplo de composição clássica romântica. Isso evidencia a clara
separação entre composição e estilo, marca da arquitetura do século XIX.
Entre as características mais representativas da arquitetura do referido
século está a cultura historicista, que se apropria de diferentes arquiteturas,
histórica e geograficamente dispersas. Nesse caso, a incorporação do conheci-
mento histórico aos projetos abre um leque de possibilidades, cuja linguagem
varia conforme o país e o momento.

Para saber mais sobre a história do edifício do Parlamento de Londres, acesse o link
a seguir.

https://qrgo.page.link/Nx4bK
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Todo esse repertório historicista, urbano e burguês tem no Ring de Viena,


construído a partir de 1859, uma grande realização (Figura 2). O conjunto de
edifícios gregos, góticos e renascentistas movimenta-se quase pelo ecletismo.
Os edifícios abrigam, entre outros, o parlamento, a prefeitura, a ópera, os
museus de história natural e também de belas-artes, além da ampliação do
Palácio Imperial — obras de Semper.
Como destaca Pereira (2010, p. 199), essa obra se configura “[...] como
um anel urbano concebido como assento das principais amenidades e
equipamentos da capital da Áustria e paradigma da arquitetura historicista
europeia [...]”.

Figura 2. Ring de Viena.


Fonte: Pereira (2010, p. 199).

Até aqui, você viu obras do historicismo, período que pode ser confundido
com o ecletismo. O primeiro tanto reproduzia os modelos do passado e recriava
a história como revitalizava as produções arquitetônicas. Já no segundo, há
mistura de estilos do passado. Para Pedone (2005, p. 130), “O historicismo
teve seu lugar no espírito eclético, pois a idealização do passado e da natureza
possibilitou escolher elementos dos mais variados repertórios, abrindo caminho
para a expressão do Ecletismo em Arquitetura [...]”. Assim, a nova concepção
da arquitetura — a eclética — busca na história a sua fonte de inspiração, mas
rejeita “imitações superficiais de formas do passado”.
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Você deve atentar às diferenças entre ecletismo e historicismo:

[...] o ecletismo dos arquitetos do século XIX não foi uma forma, entre
outras, de historicismo, pois enquanto o historicismo buscou reviver um
passado e construiu representações da história inscrevendo a arquitetura
moderna em um estilo antigo, o ecletismo usou elementos e sistemas
da história para inventar uma arquitetura adaptada aos novos tempos
[...] (PEDONE, 2002, p .8).

A paisagem cultural do século XIX


A paisagem cultural do século XIX foi marcada pela reutilização de dife-
rentes elementos do passado, com a intenção de criar e propagar instituições
totalmente novas. A Revolução Industrial trouxe uma situação inédita e, com
isso, uma multiplicidade de novos temas edilícios. Com a industrialização,
proliferaram novos empreendimentos de construção, a partir da adoção de
novos programas e da criação de novos tipos de edificações, sem as convenções
antes instituídas. Veja o que afirma Pedone (2002, p. 86):

Os temas principais como a igreja e o palácio perderam sua importância,


sendo substituídos por instituições novas como museus, bibliotecas, teatros,
bancos, cassinos, prisões, palácios de exposições, e por novos instrumentos de
comércio como a fábrica, o moinho, a estação ferroviária, o mercado público,
a loja de departamentos e o edifício de escritórios.

As formas do passado, integradas e hierárquicas, são substituídas por


um “pluralismo de significados”, interagindo de diferentes formas, com o
surgimento de tantos temas novos. Nesse contexto, como afirma Luz (2018),
deu-se destaque também à residência, entre outras tipologias que condiziam
com a nova situação instaurada. Além dos novos programas, na segunda
metade do século XIX, deu-se início à difusão do uso do ferro e do vidro na
construção de grandes edifícios — centros de exposições, estações de trem,
lojas de departamentos, mercados e fábricas (LUZ, 2018).
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O ecletismo do século XIX


No último terço do século XIX, o uso da história da arquitetura como um
instrumento para projetar e a recuperação de estilos passados unem-se ao
ecletismo. Essa conjunção mostra que são infinitas as possibilidades do uso
livre de linguagens e formas históricas diversas. Desse modo, em vez da
“unidade do gosto” dá-se espaço à “[...] possibilidade de que várias linguagens
convirjam em uma mesma arquitetura, o que, definitivamente, transforma essa
mesma variedade em uma nova linguagem [...]” (PEREIRA, 2010, p. 199).
O ecletismo em arquitetura designa a postura dos arquitetos do século XIX,
que adotaram elementos de diferentes períodos históricos de modo a produzir uma
nova arquitetura, que não rompesse com a história. Para Pedone (2002, p. 8), o
espírito eclético dos arquitetos buscou romper com a tradição e dessa forma adotou
“[...] um procedimento moderno em suas concepções [...]”. A autora explica que,
por isso, é possível apontar o ecletismo como a expressão de uma etapa relevante
e também necessária para o processo de modernização da arquitetura.

O termo “eclético” vem do grego ekleltikós e se refere àquele que escolhe e “[...] ca-
racteriza a seleção entre as diversas opções das quais se tem conhecimento, sem
observância de uma linha rígida de pensamento [...]” (PEDONE, 2002, p. 8). O ecletismo
fundamenta-se na reunião de elementos de sistemas que foram propostos ao longo
da história em uma unidade nova e criativa.

Se, por um lado, já havia o ecletismo de base medieval, por outro, no sé-
culo XIX, surge o ecletismo de inspiração clássica, ou melhor, renascentista,
carregado de elementos de origem italiana e francesa. Com os nomes “estilo
segundo império” e “estilo beaux-arts”, adotado mais tarde, esse movimento
domina o mundo ocidental durante as últimas décadas do século XIX.
O ecletismo se manifestou por toda a Europa em grandes monumentos, tais
como o Parlamento de Londres, de Charles Barry (1836), o Palácio da Justiça
de Bruxelas, de Joseph Poelaert (1861), a Galeria Vitor-Emanuel, de Giuseppe
Mengoni, em Milão (1865), a Ópera de Dresden, de Gottfried Semper (1871),
os edifícios do Ring de Viena (1872) e o Parlamento de Budapeste (1882), de
Imre Steindl (PEDONE, 2002).
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A Ópera de Paris (1861–1875) se destaca como uma obra simbólica do


ecletismo do século XIX. Ela foi projetada por Charles Garnier (1825–1898) e
é tida como “corporificação esplêndida” do segundo império francês. Segundo
Pereira (2010), o edifício une um marco para a ópera com um marco para a
exibição social, ao passo que a sala ocupa somente 10% de sua superfície
total, como você pode ver na planta baixa (Figura 3). Por sua vez, as áreas de
convívio e exibição — tais como os salões, o foyer e a escada principal —
prevalecem tanto simbólica como fisicamente sobre o conjunto, de forma a
alcançar níveis teatrais característicos do barroco.

Figura 3. Teatro da Ópera de Paris, paradigma do ecletismo do século XIX: corte longitudinal
esquemático e planta baixa do pavimento principal.
Fonte: Pereira (2010, p. 200).

Em termos de implantação, a Ópera apresenta-se como o foco perspectivo de


uma grande avenida, que foi especialmente aberta para cortar o tecido histórico
parisiense. Revela-se, dessa forma, a intenção de conceber cada edifício, seja
público ou privado, como algo de valor monumental e contemplável, o que
vai ao encontro da seguinte afirmação de Pereira (2010, p. 200):

[...] as forças sociais encontrarão sua melhor expressão nas formas ecléticas
dos anos finais do século XIX — inclusive até o início do século XX — como
estilo oficial dos edifícios públicos e de todos aqueles que pretendem ter uma
representatividade na cidade, usando esse ecletismo orgulhoso e chamativo
para consolidar a imagem das capitais europeias e americanas.
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A partir da análise do edifício da Ópera de Paris, é possível evidenciar


algumas das características importantes da arquitetura eclética (PEDONE,
2002). Veja a seguir.

 Ornamentação: no ecletismo, a ornamentação deveria integrar-se ao


edifício, e não somente ser acrescentada a ele. O ornamento deveria ser
pensado em conjunto com a estrutura, que acabou se tornando a base
do significado arquitetônico.
 Composição: os arquitetos ecléticos buscavam compor com equilíbrio e
harmonia para que o projeto se estruturasse como um conjunto coerente,
seguindo os princípios de simetria e axialidade.
 Unidade: é a relação dos elementos do edifício com o todo. Para os
arquitetos do ecletismo, a unidade era resultado do respeito às condições
de programa em todas as combinações exigidas.
 Relação com o contexto: o edifício eclético, mesmo concebido como
um todo, deveria dialogar também com o seu entorno.

O ecletismo teve o seu apogeu marcado pela Exposição Universal reali-


zada em Paris em 1889. Esse ano pode ser entendido também como o próprio
apogeu do século XIX, que terá mais tarde seus fundamentos postos em crise.
É aí que as experiências dentro do campo historicista ou eclético chegam ao
esgotamento, dando lugar à introdução e à divulgação de modelos e formas
exóticas, cosmopolitas e modernistas (PEREIRA, 2010).

Acesse o link a seguir para saber mais sobre as exposições internacionais que marcaram
o final do século XIX.

https://qrgo.page.link/F6Gt2

Como você viu, o ecletismo foi uma cultura arquitetônica que refletiu os
valores da classe burguesa em um momento histórico de ostentação. Esse
movimento representava, por meio de uma arquitetura de caráter simbólico,
o poder burguês em ascensão e o anseio pela modernidade.
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O ecletismo no Brasil
No Brasil, o ecletismo surge em conexão com um desejo implícito de moder-
nização, a partir da apropriação da iconografia europeia. Se, por um lado, o
ecletismo se desenvolve na Europa a partir da aceitação da tradição adaptada
ao novo paradigma socioeconômico, em território nacional, ele acompanha a
necessidade de se desvencilhar do passado colonial, ainda recente.
Entre os fatores que contribuíram para que as bases do ecletismo fossem
lançadas em terras brasileiras no início do século XIX, destacam-se: a abertura
dos portos e as consequentes trocas com outras nações, sem interferência por-
tuguesa e favorecendo a assimilação massiva da cultura francesa; a atuação da
Missão Artística Francesa e do engenheiro Louis Léger Vauthier; e a expansão
do uso de materiais como o ferro e o vidro, considerados marcos da produção
industrial (LUZ, 2018). Após a Proclamação da República (1889), o País se viu
imerso em ideais de busca por progresso, industrialização e modernização. A
elite tinha o intuito de reproduzir modelos europeus e romper com o passado co-
lonial, incorporando, nas palavras de Fabris (1993), o “desejo de ser estrangeiro”.
Assim, o ecletismo se inseriu no Brasil no fim do século XIX e perdurou até
o século XX, incentivado pelo governo republicano como forma de modernizar
o País. Sobre esse período, Souza (2003, documento on-line) afirma o seguinte:

[...] centros urbanos foram criados ou remodelados, no Brasil, buscando mo-


delos opostos aos coloniais. O navio a vapor e as estradas de ferro possibili-
taram a chegada de novos produtos em diversos pontos do país. Com maior
possibilidade de locomoção, fazendeiros e pessoas de destaque das diversas
localidades interioranas passaram a buscar na vida urbana satisfazer melhor
suas novas necessidades socioeconômicas e culturais.

Rio de Janeiro
No Rio de Janeiro, a arquitetura eclética recebeu influência direta da Missão
Artística Francesa e da criação posterior da Escola de Belas Artes. Nesse
contexto, se destaca a figura de Grandjean de Montigny, que não somente
disseminou o uso do ferro e do vidro como abriu espaço para a estética e os
pensamentos historicistas. Na Figura 4, a seguir, você pode ver a Avenida
Central do Rio de Janeiro nos primeiros anos do século XX.
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Figura 4. Vista geral da Avenida Central, Rio de Janeiro,


1903–1906.
Fonte: Martins (2009, p. 11).

Sobre a arquitetura eclética carioca, Pereira (2008 apud MARTINS, 2009,


p. 25) revela:

No Rio de Janeiro, após a demolição de grande parte do casario colonial


na parte central da cidade, a arquitetura eclética se instala nos prédios
comerciais e nos prédios públicos, derivada em geral de protótipos pari-
sienses, como no Museu Nacional de Belas Artes, na Biblioteca Nacional,
no Teatro Municipal.
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Na Figura 5, a seguir, veja o Museu Nacional de Belas Artes.

Figura 5. Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, 1906–1908.


Fonte: Martins (2009, p. 31).

O ecletismo carioca adotou como tipologias os chalets suíços, os quiosques


franceses, o estilo neogótico ou neomanuelino — para edificações públicas
—, assim como o classicismo, além do neomourisco, do neobarroco e da art
nouveau. As edificações públicas eram configuradas como edificações de
grande porte, de modo a revelar a sua tipologia (MARTINS, 2009).

São Paulo
A arquitetura pautada em referências históricas europeias, que na capital
carioca foi implantada desde a primeira metade do século XIX, em São Paulo
se insere tardiamente. O aspecto colonial da cidade foi se modificando com a
construção de obras de grande porte — Grande Hotel Paulista (Figura 6), cuja
construção foi iniciada em 1878, Monumento à Independência (atual Museu
Paulista da Universidade de São Paulo) e Museu do Ipiranga, inaugurado em
1895. Segundo Luz (2018, p. 78), essas obras “[...] rompem com a tradição local
e inserem no quadro arquitetônico os elementos típicos da notória arquitetura
ornamental solidificada no Rio [...]”.
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Figura 6. Edifício do Grande Hotel Paulista, ao fundo à esquerda.


Fonte: Luz (2018, p. 78).

Enquanto o Rio de Janeiro adota modelos arquitetônicos pautados na ex-


periência francesa, na capital paulista floresce uma arquitetura historicista de
forte inspiração italiana (LUZ, 2018). Essa influência italiana é decorrente do
grande número de imigrantes e arquitetos e engenheiros de formação peninsular.
Na Figura 7, a seguir, veja o edifício do Museu Paulista. Os traços da
arquitetura historicista podem ser percebidos no grande frontão triangular que
marca o corpo central do edifício, bem como nas colinas de ordem coríntia e
nas arcadas formadas pelas janelas em arco pleno.

Figura 7. Atual sede do Museu Paulista.


Fonte: Luz (2018, p. 79).
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O ecletismo teve manifestações diversas em todo o território nacional. Con-


tudo, alguns locais abrigaram manifestações mais simples e com uma linguagem
própria. Até aqui, você conheceu um pouco da produção carioca e paulista. A
seguir, vai ver as produções ecléticas em Belo Horizonte e no sul do País.

Belo Horizonte
Belo Horizonte é um caso particular, já que foi uma “[...] capital encomendada
sob o signo da modernidade arquitetônica, via modelos europeus do século XIX
[...]” (SALGUEIRO, 1987, p. 107). Nesse contexto, se destacam os edifícios pú-
blicos, “casas-tipo”, residências, bem como o estilo neogótico. Após a Primeira
Guerra, Belo Horizonte “[...] recupera o dinamismo dos primeiros tempos e os
palacetes-comércio explicitam a sobrecarga ostentatória do ornamento [...]”
(SALGUEIRO, 1987, p. 107). Para o projeto da nova capital, se buscou referências
do que havia de mais moderno, a partir dos princípios da École des Beaux-Arts
e do conhecimento dos diferentes programas e suas tipologias arquitetônicas.
Entre os edifícios ecléticos de Belo Horizonte, destaca-se o Palácio da
Liberdade (Figura 8), projetado pelo arquiteto José de Magalhães. Segundo
Salgueiro (1987, p. 120), na “[...] concepção geral do Palácio da Liberdade
reconhece-se o estilo de Garnier, além da transcrição de estilemas análogos aos
teatros do século XIX europeu [...]”. Observando a Figura 8, você pode notar
características como: a loggia no pavimento superior e as arcadas no térreo,
o frontão interrompido ao centro por um busto que alegoriza a Liberdade e os
corpos laterais formando a simetria da composição, com torreões redondos
com tetos de zinco trabalhado, entre outras.

Figura 8. Fachada do Palácio da Liberdade (1896–1898).


Fonte: Salgueiro (1987, p. 120).
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Rio Grande do Sul


Na produção eclética do Rio Grande do Sul, destaca-se, entre os arquitetos
da primeira metade do século XX, Theo Wiederspahn, cuja obra foi relegada
com a ascensão do modernismo (BICCA, 2010). Na obra de Wiederspahn,
encontram-se marcas classicizantes e barrocas, assim como elementos do
jugenstill alemão e do secession austríaco. O arquiteto alemão chegou ao
Brasil por volta de 1908, período em que “[...] o ecletismo arquitetônico
não era nele apenas dominante, mas correspondia ao período de maior
esplendor e riqueza arquitetônicas até então produzidos [...]”, como revela
Bicca (2010, documento on-line).
Em Porto Alegre, destacam-se as seguintes obras: o prédio do Hotel Ma-
jestic, a antiga sede da Agência Central dos Correios e Telégrafos, o edifício
Ely, a antiga Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS), entre outras que se somam a várias residências, palacetes e
prédios comerciais, além das obras no interior do estado, que ao todo somam
480 projetos da autoria de Wiederspahn. Na Figura 9, a seguir, veja duas das
obras do alemão em Porto Alegre.

Figura 9. Prédios da Receita Federal e dos Correios e Telégrafos, atuais Museu


de Arte do Rio Grande do Sul e Memorial do Rio Grande do Sul, ambos de
Wiederspahn.
Fonte: Bicca (2010, p. 51).
14 Arquitetura eclética

Após a Proclamação da República (1889), houve uma importante mudança


no contexto arquitetônico nacional. Em Porto Alegre, aparecem o Palácio
Provincial (1896), projeto de Affonso Hebert, e o Paço Municipal (1898), de
João Carrara Colfoso, ambos ecléticos com características da arquitetura
clássica. Já no início do século XX, nota-se o surgimento de uma arquitetura
com características marcadas, principalmente na obra de Theo Wiederspahn
(SHÄFFER, 2011).
Como você viu, a partir de meados do século XIX, pequenas cidades ou
capitais respondem em sincronia relativa às mudanças políticas (a República),
sociais (a imigração e o afluxo urbano) e econômicas (o café, a indústria e a
estrada de ferro) do País. Esses fatores, segundo Salgueiro (1987), moder-
nizam não apenas a habitação como também o cotidiano e a mentalidade
das populações. Tal modernização vem à tona não somente por meio da
mistura de estilos do passado, mas possui um arranjo próprio, um arranjo
novo — o brasileiro —, prontamente conjugado ao movimento eclético.

Considerações finais
O ecletismo materializa a mentalidade própria do século XIX, entendendo
que as formas deveriam ser representativas e que o exterior das edifica-
ções deveria evidenciar o status de seu ocupante. Nesse contexto, é dada
importância à fachada da edificação e aos ornamentos empregados nela.
Além disso, o movimento busca conceber o espaço urbano com base na
“[...] magnificência, expressividade, monumentalidade, com a intenção de
glorificar uma ideologia ou uma classe [...]” (FABRIS 1987 apud LUZ, 2015,
p. 5), como você pôde ver a partir da análise de algumas obras.
Para o historiador da arte britânico Pevsner (1970 apud LUZ, 2018, p. 15),
“[...] o Ecletismo é consequência da Revolução Industrial, e suas bases estão
assentadas na ascensão de uma classe burguesa em busca da legitimação de
seu poder intelectual [...]”. Já para o historiador da arquitetura Curtis (apud
PEDONE, 2002, p. 157), “[...] o Ecletismo foi um poderoso instrumento para
extrair lições da história [...]”. Assim, o ecletismo foi um procedimento que
buscou inventar uma nova arquitetura, pautada na seleção de elementos e
sistemas históricos, com o objetivo de criar composições e adaptá-las aos
novos tempos.
Arquitetura eclética 15

BICCA, P. Arquiteto Theo Wiederspahn: um eclético no sul do Brasil. Letras de Hoje, Porto
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16 Arquitetura eclética

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Leituras recomendadas
BENEVOLO, L. História da arquitetura moderna. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004.
BRUAND, Y. Arquitetura contemporânea no Brasil. 5. ed. São Paulo: Perspectiva, 2010.
DANTAS, A. D. Os pavilhões brasileiros nas exposições internacionais. 2010. Dissertação
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