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O Planejamento Urbano em Roma

- Havia um contraste radical entre o crescimento caótico e orgânico da cidade de Roma e a


configuração formal e regular da grande maioria das cidades das províncias romanas.

- Para impor e manter a autoridade em todo o vasto Império, os romanos edificaram vários
acampamentos legionários fortificados (acampamentos militares) denominados castra, cuja
maioria serviu de base para as cidades permanentes. O perímetro das castras era quadrado ou
retangular, com as ruas principais em forma de cruz, formando a base da estrutura viária: o
cardo e o decumanus. Ruas secundárias completam o traçado e formam o bloco de casas
chamadas insulae.

A zona do fórum, o equivalente romano da ágora grega, está situada em uma das esquinas
formadas pela interseção do cardo e do decumanus. O templo maior, o teatro e os banhos
públicos também se encontram próximos ao fórum, no centro da cidade. O anfiteatro estava
edificado fora da cidade. No início, dispensava-se as fortificações por causa das poderosas
defesas fronteiriças que protegiam o Império, mas tais fortificações se fizeram necessárias e
fases posteriores e mais instáveis da história destas cidades.

A população autóctone devia ser integrada ao Império sob condições vantajosas, isto
aconteceu equiparando a romanização a urbanização. Os núcleos tribais foram urbanizados
como cidades romanas de diversas categorias e os membros mais importantes das tribos eram
convidados a compartilhar das vantagens da cultura urbana romana e de suas perspectivas
comerciais. Outras cidades também foram fundadas por motivos econômicos e políticos; sua
população estavam formadas por legionários licenciados ou colonos procedentes de Roma e
de outras cidades antigas. As cidades imperiais mais importantes estavam diretamente
conectadas através do magnífico sistema de estradas principais que facilitava a comunicação
militar, estratégica e comercial.

3 classes principais de populações do Império:

- COLONIAE: assentamentos de recente fundação ou núcleo de população autóctone aliada a


Roma com status e privilégios romanos plenos;

- MUNICIPIA: centros tribais importantes, que assumiam oficialmente um status foral e cujos
habitantes disfrutavam em parte da cidadania romana

- CIVITATES: capitais de mercado e centros administrativos dos distritos tribais, que se


mantinham em forma romanizada.

No Império, o status urbano não era necessariamente consequência do tamanho da cidade. O


status tampouco tinha efeito significativo sobre a forma urbana. A urbanização romana
supunha, invariavelmente, a adoção de traçados retos tanto nas cidades novas, como nas
reconstruídas.

A função dos acampamentos romanos era mais ofensiva do que defensiva. A facilidade do
acesso era um requisito primordial para sua localização. Os romanos escolheram os leitos dos
rios e cruzamento de estradas. As cidades desenvolvidas a partir das castras, situadas em
localizações favoráveis, são as que com maior frequência sobreviveram aos primeiros séculos
da Alta Idade Média ou, quando foram abandonadas, tiveram as maiores probabilidades de
ressurgir, estimuladas pela revitalização comercial no início da Baixa Idade Média.
ROMA

As necessidades básicas das comunidades primitivas das colinas diferiam radicalmente das de
uma grande metrópole. Desde a época em que os três primeiros assentamentos (no Palatino,
no Capitolio e no Quirinal) se estenderam pelas ladeiras das colinas até a planície para se
fundirem numa área urbana contínua, até os urbanistas romanos atuais, os arquitetos e
engenheiros têm travado uma continua batalha para superar as dificuldades intrínsecas do
lugar. Além de problemas naturais, também há limitações urbanísticas devido as tentativas
levadas a cabo por gerações precedentes para os superar. Então reestruturar por completo a
Roma antiga era quase impossível, o que se podia aspirar era “remendar” a cidade de maneira
fragmentada.

O incêndio de Nero (64 d.C) serviu para eliminar os piores excessos devidos a elevada
densidade, aos edifícios de má qualidade e às ruas totalmente inadequadas, possibilitando
uma reconstrução completa de que, por outra forma, não teria ocorrido.

Durante a Idade do Ouro de Roma, no século II d.C, a cidade se enriqueceu com magníficas
construções, se multiplicaram os edifícios, mercados, casas de banhos, templos, estátuas e
outros monumentos, que fizeram de Roma uma autêntica maravilha do mundo.

- Componentes da forma urbana

Roma foi fortificada em 7 ocasiões, ficando rodeada por 7 perímetros amuralhados.

- Habitação

Existiam 2 tipos básicos de habitação: a domus – alojamento unifamiliar para famílias


privilegiadas - e a insula – bloco de habitações dividido em uma série de pisos ou cenacula
(andares superiores). As insulae continham cada uma 5 habitações ocupadas por umas 5 ou 6
pessoas no mínimo. Roma foi uma cidade em que predominavam os inquilinos de andares,
contendo edifícios que, no século III a.C, alcançavam 3 andares. Apenas os muito ricos podiam
ter um domus, cuja planta consistia em uma sequência de quartos que se abriam à pátios. As
domus tinham um certo grau de intimidade que contrastava com as insulae, sempre abertas ao
exterior. O fogo era um risco onipresente, as construções eram, em grande medida, de
madeira e a iluminação utilizada era a base de chamas expostas ao ar.

Do ponto de vista espacial, Roma foi essencialmente uma cidade igualitária. A exceção dos
palácios dos imperadores, construídos na colina do Palatino, e possivelmente os bairros
operários isolados, ricos e pobres, patrícios e plebeus se conviviam sem entrar em conflito.

- Mercado

Na margem direita do porto fluvial, haviam as docas, em que cada uma se destinava a um tipo
de comércio determinado: mármore, vinho, azeite, cerâmica, etc. Os armazéns (horrea)
relacionados com os portos ocupavam a margem esquerda assim como uma parte da margem
direita. Alguns destes armazéns, sobretudo os de grãos, que eram propriedade governamental,
se especializavam em um produto. Mesmo que a maioria dos armazéns constituíam uma
espécie de armazém geral onde tinham todos os tipos de mercadoria.

Além dos armazéns – supermercados da época – Roma era uma cidade que contava com uma
infinidade de pequenas tendas, a grande maioria dos quais comerciavam em estabelecimentos
térreos situados nas insulae. Os suprimentos necessários para o consumo diário se distribuíam
em mercados especializados: holitorium – hortaliças, vinarium – vinho, piscarium – peixe.
Alguns comércios foram se estabelecendo paulatinamente em bairros e ruas próprias.

- Centro da Cidade

As origens do Forum Romanum Magnun foram de caráter comercial. Durante o período


monárquico (até 509 a.C), o fórum em estado embrionário foi tomando a forma retangular de
um paralelogramo que se conservou até o final do Império. No início tinha um caráter
multifuncional, abarcando desde atividades mercantis e públicas até manifestações políticas.
Mas esta situação primária não podia se prolongar: de servir a uma população de centenas de
pessoas para servir as necessidades de mais de um milhão de habitantes. Como expoente do
caráter de crescimento orgânico de Roma, o centro nunca foi inteiramente planeado, as novas
funções se agregavam a medida que surgiam as necessidades.

No século I a.C, uma enorme congestão na zona do fórum forçou o início de um programa de
ampliação e remodelação urbanística que iria durar uns 150 anos. Como primeira medida, as
peixarias foram mudadas para seu mercado próprio, o fórum piscatorium. Vários imperadores
construíram seus fóruns imperiais: Forum Julium, Forum Augusti, Forum Traianí (que
representa o triunfo definitivo do conceito espacial romano baseado na axialidade e simetria
absolutas).

- Espaço para o ócio

Um terço ou talvez até metade da população da cidade vivia se caridade pública. Além de
alimentar a plebe, as autoridades também deviam proporcionar diversão durante os dias
festivos (159 dias no tempo de Claudio que chegaram a 200 no século III d.C). O maior centro
de entretenimento foi o Circus Maximus. O centro mais conhecido foi o Coliseo. Além disso, as
casas de banho (Termas de Cacaralla = Termas de Antonio) também permitiam qualquer
banho que se possa imaginar, além de dispor de tendas, estádios, salas de descanso,
bibliotecas, museus e numerosas instalações adicionais.

Cidades Medievais

O ressurgimento comercial começou a ganhar forma de modo gradual na medida em que o


clima político passou a ser relativamente mais estável, durante as primeiras décadas do século
X. Voltaram a se abrir por toda a Europa Ocidental rotas comerciais de largas distâncias.

A Igreja que havia preservado uma aparência de vida civilizada durante a Idade Média, não só
formou o núcleo de muitas das primeiras cidades medievais, como também utilizou sua
influência onipresente e persuasiva para conter os impulsos que sempre estiveram tão perto
da superfície. Ademais, a proteção das cidades episcopais amuralhadas e os mosteiros
poderosamente defendidos, numerosos burgos, estabelecidos na Europa como centro
administrativos e militares fortemente fortificados, serviram também para promover o
ressurgimento do comércio no século X.

Em toda a Europa, estas cidades, estimuladas pelo comércio a larga distância, fomentaram o
comércio local mediante um sistema de cidades de mercado que se desenvolveram de forma
natural a partir de núcleos aldeões, ou se criaram de “planta nova” em localizações mais
favoráveis.
A expansão urbana continuou rapidamente durante os séculos XII e XIII, e nem a Peste Negra,
que assolou a Europa entre 1348 e 1378, causou mais do que um revés transitório. As
consequências da epidemia foram mais graves nas populações rurais. As possibilidades de
sobreviver no campo eram maiores, mas, por outro lado, as vantagens comerciais de viver na
cidade seguiam sendo muito atrativas. Assim, existia uma tendência de se mudar para as
cidades, acelerando deste modo os problemas derivados do despovoamento do meio rural.

- O Feudalismo

O sistema feudal fomentou poucas melhores nas técnicas de cultivo, mas estas foram
sumariamente importantes, colocando o aumento do excedente agrícola a disposição dos
assentamentos urbanos, cuja população era composta, em uma proporção cada vez maior, de
profissionais não vinculados ao meio rural. Os habitantes das nascentes cidades estavam
também sujeitos a um senhor feudal ou ao rei, entretanto “algumas são apenas comunidades
de servos meio emancipados, em outras, os burgueses disfrutam de uma condição de
pequenos proprietários de feudos francos e em uma minoria dos casos, mas uma minoria
crescente, os burgueses tinham estabelecido o direito de tratar coletivamente com o senhor
feudal e a ser considerados como comunas ou cidades livres.

- A forma urbana medieval

As partes que compõem a cidade medieval são, normalmente, a muralha, com suas torres e
portas; as ruas e espaços destinados a circulação; o mercado, alojado, às vezes, no interior de
um edifício e dotado de outros estabelecimentos comerciais; a Igreja, que, em geral,
ascendiam em seu próprio espaço urbano; e a grande massa de edifícios da cidade e os
espaços destinados a jardins privados conectados a eles.

- A muralha

Na Europa (a exceção da Inglaterra), a muralha manteve sua função militar, além do seu uso
como barreira de pedágio (?). Durante o período renascentista, as muralhas iriam adotar
características complexas e custosas, até o ponto em que a defesa da cidade chegou a ser,
provavelmente, o principal condicionante da forma urbana. Dado que as populosas e
prósperas cidades da Europa consideraram essencial a conservação das suas sólidas muralhas,
o crescimento horizontal não pode ser um processo contínuo, e se viu obrigado a se
desenvolver em etapas, cada uma delas precedida da construção de uma nova muralha, ainda
quando esta incorporava com frequência os subúrbios anteriormente indefesos.

- As ruas

Todas as cidades medievais dispunham de um espaço, senão de vários, donde teria lugar o
mercado.

A existência dos espaços especializados dedicados ao comércio mostrava que toda a cidade
medieval era um mercado. O comércio e a produção tinham lugar em todas as partes da
cidade: em espaços abertos e espaços fechados; em espaços públicos e nos privados. Como
consequência, as principais vias públicas que uniam o centro com as portas da cidade, ainda
com frequência eram pouco mais que becos estreitos e irregulares nas cidades de crescimento
orgânicos, constituíam tanto extensões lineares do mercado como rotas de comunicação. A
fachada que se abria na rua tinha, portanto, um valor comercial notável, especialmente nas
proximidades das portas e do mercado, e seu desenvolvimento de forma contínua foi o
normal.
Os deslocamentos nas cidades medievais eram feitos a pé e o transporte de mercadorias se
realizava com animais de carga. A pavimentação das ruas começou no início do período (Paris
– século XII).

Ao longo de toda a Idade Média se manifestava a tendência dos edifícios invadirem cada vez
mais as ruas e os espaços públicos abertos. As tentativas de regulação a este estrangulamento
gradual tiveram pouco efeito. Os andares superiores foram aumentando sobre a rua, até o
extremo que chegou a ser literalmente possível estender a mão de uma janela ao vizinho da
frente.

Uma das falsas ideias mais comumente relacionadas às cidades medievais é a suposição de
que intramuros a situação era de superpopulação e desordem. Mas a típica cidade medieval
estava mais próxima de uma aldeia ou de uma população rural que a uma moderna e
abarrotada aglomeração urbana comercial. Muitas das cidades medievais que se expandiram
antes do século XIX ainda apresentavam jardins e hortas no coração do município. A conceção
medieval de uma cidade de negócios, com sua nobre praça no centro, seu grupo de edifícios
públicos, entre os quais, se figura a catedral, uma grande igreja urbana, a prefeitura, os
tribunais, etc, suas casas alinhadas ao longo das ruas com continuidade, aproveitando
economicamente cada metro de fachada, mas providas de amplos jardins na sua parte
traseira.

A superpopulação nas cidades da Europa ocorreu, normalmente, durante a Baixa Idade Média
e o Renascimento ao estar limitado seu crescimento aos inflexíveis sistemas de fortificação. Na
Inglaterra, essa situação ocorreu de modo especial durante a Revolução Industrial: os jardins
existentes se urbanizaram para criar alojamentos destinados aos operários que, pela falta de
transporte público de massa, tinham que estar próximos do trabalho. Devemos recordar que
práticas que resultam absolutamente inofensivas em uma pequena população rodeada de
campo aberto suficiente se convertem em insalubres quando o mesmo número de pessoas se
apinha em uma só rua…com toda probabilidade da aldeia ou da cidade do início da Idade
Média, apesar da rudimentariedade das instalações sanitárias dentro e fora de casa, disfrutava
de condições mais salubres do que suas sucessoras mais prósperas do século XVI.

- O mercado

A comercialização dos produtos tinham lugar de vários modos. Dos tipos mais comuns tanto
nas cidades de crescimento orgânico quanto nas planejadas: o primeiro, aquele que o mercado
ocupa uma praça destinada a este fim, situada normalmente no centro urbana ou em suas
imediações; o segundo, em que aquele se situa no alargamento da rua principal. Outros tipos
de mercado nos povoamentos de crescimento urbano: as ampliações laterais da rua principal,
as praças e as portas de entrada da cidade. Nas planejadas, a praça do mercado era mais
frequente.

É característico que a maioria das praças tinham mercados cobertos, as vezes de dois andares,
mas, em troca, são raros os exemplos em que a Igreja estivesse à frente da praça do mercado.
A rua do mercado se incorporava com muito menos frequência nas cidades planejadas e nunca
nas bastides.

Em povoações sem planejamento, a praça e a rua do mercado desafiavam qualquer descrição:


não havia traçados iguais, cada um tinham seu próprio caráter espacial distinto. Normalmente,
a situação central do mercado resulta da sua localização original no interior da aldeia a partir
da qual foi se desenvolvendo a cidade. Na maioria das vezes, a praça do mercado era uma
figura irregular, triangular algumas vezes, poligonal ou ovalada em outras, porque as
necessidades dos edifícios que a circundavam eram prioritárias e determinavam a disposição
do espaço aberto.

Nas cidades que evoluíram de forma natural a partir de aldeias, postos comerciais, etc, a via
pública principal se converte automaticamente na localização do mercado, já que o tráfego é o
elemento vital no crescimento da cidade. Na área imediata na parte interna da porta era outro
lugar lógico para o desenvolvimento de atividades comerciais. Nesse lugar, os camponeses
com produtos que querem vender conseguem atingir seu objetivo. Está dentro da cidade, no
mercado, seu carrinho pesado, por que iria se incomodar para arrastar mais longe?

- A praça da Igreja

O espaço situado na frente da Igreja – parvis medieval – era onde os fiéis de reuniam antes e
depois dos ofícios divinos, onde escutavam os sermões ao ar livre e onde viam passar as
procissões. Era nesse lugar onde se representavam os mistérios e era também onde se
construíam estábulos para colocar os cavalos. Apesar disto, nunca se pretendeu que a parvis
entrasse em competição com a praça do mercado. Como o espaço da parvis era adjacente à
praça do mercado, a existência de um núcleo bipartido era uma característica típica das
cidades medievais.

- Cidades de crescimento orgânico

 Cidades de origem romana: apesar de poucas exceções, a estrutura original romana no


traçado se perdeu durante as décadas, ou com frequência, durante os séculos em que
a cidade permaneceu abandonada ou sua ocupação esteve limitada a uma pequena
parte do que era antes. Quando eventualmente teve lugar uma reconstrução, esta se
baseava no crescimento orgânico.
 Burgos: a anarquia do século IX, forçou os bispos a reinstaurar as muralhas em suas
civitates romanas e a converter mosteiros em cidadelas religiosas, teve também
consequências diretas na aparição de um novo género de assentamento urbano. No
século IX e início do século X, duques, condes e marqueses mandaram construir
inúmeros burgos para se proteger contra os vikings, eslavos, etc.
Ainda que a maior parte dos burgos fossem essencialmente centros militares e
administrativos, com insignificante atividade comercial, e, portanto, dificilmente seria
concedido um status urbano, constituíam interessantes núcleos “pré-urbanos” em
torno dos quais de desenvolveram muitas cidades. A presença militar fez com que se
estabelecesse um mercado de produtos para satisfazer as necessidades cotidianas,
tanto da elite militar como da comunidade dos servos. As comunidades comerciais
civis que se estabeleceram fora das muralhas dos burgos eram denominadas fau-
bourgs ou subúrbios. A medida que se consolidava, chegavam a rodear
completamente o burgo e, por isso, necessitavam de sua própria muralha de defesa.
 Assentamentos aldeãs: por definição, as cidades de crescimento orgânico da Idade
Média se desenvolveram a partir de assentamentos aldeães ou se basearam neles. A
localização dessas cidades e sua forma urbana tiveram determinadas pelo processo
precedente, lento e acumulativo, que caracteriza os assentamentos de aldeia.

Origens urbanas: Em que momento da Idade Média uma aldeia alcançou o status de cidade?
Quando adquiria a função secundária de centro do comércio local e, provavelmente também,
ao desenvolver algum tipo de indústria especializada de pequenas dimensões. A medida que a
“cidade” adquiria uma importância maior desenvolvendo o comércio e fazendo frente a
demanda por seus produtos, a proporção de especialistas não agrícolas aumentava e a relação
deles com a agricultura diminuía. Até final da Idade Média, um bom número de cidades não
era muito maior do que suas aldeias vizinhas.

Paul Hofer: a cidade medieval é resultado da interligação de 6 fatores: estrutura econômica


(mercado, artesanato, comercio); estrutura social (artesãos, comerciantes, clérigos,
aristocratas); estrutura física (traçado urbano, edifícios públicos, fortificações); personalidade
legal (constituição, organismos legais, etc); situação geográfica (comunicação terrestre e
fluvial, pontes); vitalidade política. Uma cidade forte e vital se constitui em um momento em
que os 6 se dão simultaneamente e com um nível de desenvolvimento similar.

- Cidades Novas: cidade de planta nova / bastide

Todas as bastides seguiram 3 princípios fundamentais: (i) fundações novas iniciadas com
formas de planejamento pré-determinadas; (ii) sistema reticular de subdivisão retilínea das
parcelas do seu traçado; (iii) incentivo para estabelecer nelas constituíam numa doação de um
terreno edificável dentro da cidade, ademais de terras de cultivo nos arredores junto com
outros privilégios económicos.

Nem todas as bastides foram erguidas sobre localizações novas, muitas se baseavam em
assentamentos de aldeias já existentes, reestruturados com diretrizes planejadas. As bastides
foram antes de tudo comunidades agrícolas, apenas uma pequena parte de seus habitantes
ocupava um caráter exclusivamente não agrícola. A imensa maioria das bastides foram
construídas pela autoridade central real, tanto para se impor sobre as partes dissidentes de
seu território, quanto para estender seus domínios. Normalmente, era essa autoridade que
financiava e organizava as muralhas das bastides e também quem controlada o traçado da
urbe. Em geral, as terras eram cedidas a novos habitantes diretamente pela Coroa, em troca
do status de homem livre e outros privilégios, estes também se comprometiam em prestar
alguma forma de serviço militar a tempo parcial.

Ademais de sua importância como guarnição militar fortificada, a bastide francesa era também
uma fonte primária de produção agrícola e o centro local de mercado para o comércio.

O Renascimento

Na história do urbanismo, se entende o período renascentista como aquele que se estende


desde o século XV, na Itália, até o final do século XVIII. O urbanismo renascentista se difunde
lentamente desde Itália até outros países europeus, demorando uns 75 anos para chegar a
França e outros 85 para se estabelecer na Inglaterra.

A terminação Renascimento significa, literalmente, voltar a nascer: a ressureição do interesse


pelas formas de arte clássica da antiga Roma e Grécia e sua utilização como motivo de
inspiração para o urbanismo europeu.

A história da arquitetura costuma distinguir as seguintes fases: Primeiro Renascimento (1420-


1500), Renascimento tardio (1500-1600), Barroco (1600-1765) e Rococó ou Neoclássico (1750-
1900). Dentre estas fases, o Barroco é o único com especial relevância na história da forma
urbana.

- O urbanismo do Renascimento
O Renascimento coincidiu com um aumento significativo da extensão e da população das
cidades europeias. Existem cinco amplos campos no planejamento urbano do Renascimento:
sistemas de fortificação generalização das zonas da cidade mediante a criação de novos
espaços públicos e ruas conectadas a eles; reestruturação de cidades existentes mediante a
abertura de uma nova rede de ruas principais que, estendendo-se pelas estradas municipais
(?), gerariam frequentemente mais processos de urbanização; anexação de muitos bairros
novos normalmente com fins residenciais; e o traçado de um número limitado de novas
cidades.

Pode considerar-se que os urbanistas do Renascimento dispunham de 3 principais elementos


de desenho: primeiro a rua principal retilínea; segundo, os bairros baseados em um traçado
ortogonal; terceiro os recintos especiais (praças). Estes elementos se fundiam as vezes para
dar lugar a um plano composto, mas, mais frequentemente, se aplicavam de um modo
desconexo, como se o desenhista estivesse submetido hora a uma influência, hora a outra.

- Renascimento e Barroco

Desde o século XV, o desenho arquitetônico, as teorias estéticas e os princípios do


planejamento urbano estavam governados por ideias idênticas, sendo a principal dentre estar
o desenho de disciplina e ordem, em contraste com a relativa irregularidade e dispersão do
espaço gótico. A informalidade característica do espaço medieval, inclusive quando se
desenvolvia a partir de uma planta regular resulta em um efeito pitoresco dos volumes
assimétricos próprios da arquitetura gótica, as silhuetas interrompidas e os detalhes
frequentemente intrincados. A arquitetura do Renascimento, pelo contrário, rechaça a
informalidade assimétrica e traz um clássico sentido de equilíbrio e regularidade: a ênfase se
situa na horizontal em lugar da vertical.

A organização espacial do Primeiro Renascimento aspirava um sossegado equilíbrio, completo


em si mesmo: o resultado é um espaço essencialmente limitado e em repouso. Em
comparação, o urbanismo barroco trabalhava para conseguir uma ilusão de espaço infinito
quando está contido dentro de limites de pequena escala. As perspectivas “infinitas” e a
grande escala do Barroco foram bem-sucedidas apenas como resultado dos imensos e
centralizados poderes autocráticos que iam recair nos dirigentes de certos estados europeus.

Durante todo o período renascentista várias considerações dominantes do desenho


determinaram a atitude geral com respeito aos processos de urbanização nos países. Em
primeiro lugar, existia uma preocupação com a simetria, com a distribuição das partes de um
programa de planejamento para conseguir uma composição equilibrada. Em segundo lugar, se
concedia uma grande importância a conclusão das perspectivas mediante uma cuidadosa
localização dos edifícios monumentais, obeliscos ou estatuas adequadamente imponente nos
extremos das largas e retas ruas. Em terceiro lugar, os edifícios individuais foram integrados a
um único e coerente conjunto arquitetônico preferencialmente por meio da repetição de um
desenho básico de fachadas. Em quarto lugar, a teoria da perspectiva foi “um dos feitos
constituintes na história da arte, o cânone incontestado ao qual tinha que se ajustar toda
representação artística”.

- A rua principal retilínea

A rua principal retilínea é uma inovação do Renascimento. Na maioria dos casos servia de
acesso às diferentes edificações e frequentemente manteve conexão direta com as estradas
regionais de comunicação, mas sua função principal era facilitar a mobilidade entre as partes
da cidade, que modo crescente se estabelecia com a ajuda de carruagens.

O Renascimento introduziu também o conceito da rua concebida como um todo arquitetônico.


Para Alberti, as ruas podem ser consideradas como agregação de elevações de edifícios
individuais – melhor apreciados de um trecho curvo da rua –, a medida que avançava o
período da uniformidade arquitetônica se convertia em um elemento de rigor.

Claridade estrutural – leis e normas concretas controlavam os limites de espaço e de volume.

- O traçado ortogonal

3 principais usos do plano ortogonal: primeiro e mais difundido, como base de bairros
residenciais agregados a áreas urbanas existentes; segundo, como traçado completo de um
número limitado de novas cidades; terceiro, em combinação com uma rede de ruas primárias,
como base do traçado de outras novas áreas urbanas.

- Lugares espaciais

Atendendo as funções do tráfego, os espaços urbanos renascentistas puderam classificar-se


em 3 grandes grupos: primeiro, espaços destinados ao tráfego, formando parte da rede
principal de estradas urbanas e usado tanto por pedestres como por veículos de tração animal;
segundo, espaços residenciais, pensados apenas para o acesso do tráfego local e com
predomínio de propósitos recreativos, destinados aos pedestres; terceiro, espaços pedestres
em que se excluía o trânsito. Ademais dos usos físicos descritos, os espaços renascentistas
serviam frequentemente a fins estéticos e simbólicos, como a localização de uma estátua ou
um monumento, como também o pátio da frente de um edifício importante.

- Lugares: espaços destinados ao tráfego

Antes do aumento do tráfego urbano do século XIX são escassos os exemplos de espaços
formalmente desenhados nas interseções das ruas principais. O objetivo principal deste
espaço consistia em proporcionar um marco físico adequado a estátua do rei. Ex: Praça da
Concórdia – onde tinha uma estátua de Luís XV.

- Lugares: espaços pedestres

Um bom número de lugares de extrema importância foram ou completamente fechados ao


trânsito, ou ordenados de tal modo que os pedestres não se viam afetados em excesso por ele.

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