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Módulo 2 – A Cultura do Senado

1. A lei e a ordem do Império


1.1. As origens da Roma Republicana

Segundo a lenda, Roma foi fundada em 753 a. C. pelos ​Latinos​,​ povo que

habitava a Península Itálica em meados do século VIII a. C. Este povo de


agricultores e pastores que ocupava a planície do Lácio, libertou-se
gradualmente do domínio dos Etruscos ( povo que ocupava esta região ), tendo
formado um povoado junto ao rio Tibre que deu origem à cidade de Roma.

Quando em 510 a. C. foi proclamada a República, a população de Roma era

composta por Latinos, Sabinos e Etruscos, organizada em instituições como o


Patriciado, o Senado e a Assembleia Curial.

Durante este período republicano, Roma tinha um governo de representação

popular, formado por delegados eleitos pelo povo com o propósito de


defender os seus interesses. Porém, os plebeus ( comerciantes, artesãos e
agricultores ) não tinham acesso a estes lugares.
A República era um sistema político em que a administração da cidade e do
território se fundava no ​Senado​, ao qual se juntavam os magistrados e o
exército. O Senado que exercia o ​poder legislativo​, era o órgão mais
importante. A este só tinham acesso os cidadãos ricos- os ​patrícios.

Beneficiando de uma excelente localização geográfica que fazia da cidade um

local de passagem das rotas comerciais do Mediterrâneo, Roma


desenvolveu-se e ganhou progressivamente poder, levando a cabo, graças à
ação de um exército numeroso, bem preparado, equipado e disciplinado, uma
imensa expansão territorial que se estendeu ao longo das margens do mar
Mediterrâneo, que os romanos designaram de “ mare nostrum “ ( nosso mar ).
Roma construiu assim um vasto Império, dominando e integrando diversos

povos e regiões. A ​Romanização ​dos povos conquistados, isto é, a assimilação


da cultura romana, foi assegurada pelo ​exército​ disciplinado que impunha a
soberania e a pax romana dentro das fronteiras do Império. Também os
mercadores ​e os ​colonos ​davam a conhecer os costumes e a cultura romanos.
Outros fatores contribuíram ainda para a romanização e para conferir unidade
ao mundo romano: a imposição de uma língua comum- o ​latim​; o ​direito​; a
administração​; a excelente ​rede de estradas e pontes​; a ​construção de obras
públicas​; o ​direito de cidadania concedido a todos os homens livres do
Império; o ​poder centralizado​, divino e autocrático dos seus Imperadores.

O encontro destes povos produziu interinfluências que perduraram até aos

nossos dias. Os povos romanizados mostraram-se muito permeáveis à


introdução de usos e costumes dos romanos. Ainda hoje, por exemplo,
persistem sinais da presença romana e da sua influência cultural na Península
Ibérica, visíveis no património histórico, na utilização de expressões latinas, etc.

A sociedade romana

A sociedade romana era hierarquizada, sendo marcada por grandes diferenças

entre ricos e pobres, entre classes privilegiadas e classes sem nenhuns


privilégios. A família de origem e a fortuna pessoal é que ditavam estas
desigualdades sociais.

Esta sociedade era composta por:

● Patrícios
Era o grupo social mais privilegiado, composto por cidadãos de Roma
descendentes de famílias ricas. Estavam isentos de impostos. Eram os
únicos a terem acesso ao Senado e a desempenhar altas funções na
administração pública, na justiça, no exército e na religião. Dominavam
toda a cena política e eram proprietários de terras, de rebanhos, de
escravos e de casas na cidade e no campo, as villae, onde passavam os
tempos de lazer e ócio.

● Clientela
Formada por plebeus que trabalhavam para os patrícios, recebendo
destes proteção, apoio jurídico e terras para cultivar. Eram livres, mas
fiéis aos seus patronos, estando dependentes da sua proteção e ajuda
económica, votando sob a sua orientação.

● Plebeus
Constituíam​ ​a maioria da população. Eram homens e mulheres livres
que se dedicavam ao comércio, artesanato e trabalhos agrícolas.
Pagavam impostos e prestavam serviços militares, mas não tinham
privilégios, nem direitos políticos.

● Libertos
Escravos que adquiriram o estatuto de independência, sendo-lhes
concedida a liberdade pelo seu patrono.

● Escravos
Eram sobretudo prisioneiros de guerra, vendidos na praça pública aos
patrícios, para quem realizavam as mais diversas atividades. Os escravos
mais cultos, sobretudo gregos, podiam ser pedagogos e utilizados na
educação dos filhos dos patrícios.
As grandiosas obras públicas construídas por todo o Império, bem como
a luxuosa vida social que os romanos desfrutavam nas cidades, foram
conseguidos à custa de uma enorme legião de escravos.
1.2. O séc. I a. C. / d. C.- O século de Augusto

A partir do século II a. C. e após a derrota de Cartago nas Guerras Púnicas ( que

opuseram Roma a Cartago na luta pelo domínio do mar Mediterrâneo ), a


expansão territorial passou a ser a prioridade da República romana, marcando
as suas formas de vida durante três séculos. A hegemonia do Império romano
sobre todo o Mediterrâneo, trouxeram para Roma ​produtos, riquezas e
recursos materiais​ que a tornaram o centro do mundo.

O fim da ditadura de Sila deu lugar a um período atormentado por lutas

internas, rivalidades e guerras civis sangrentas até à ascensão de Júlio César. Na


sua magistratura, César reformou o regime político de Roma, regularizou o seu
traçado urbanístico e deu uma dimensão monumental à cidade.

Mas foi sob a orientação de Otávio César Augusto que Roma iniciou a

construção de um dos maiores impérios da história da humanidade, ficando o


período da sua governação conhecido como o “ século de Augusto “, a ​Idade do
Ouro​ da civilização romana.

Apesar de manter as aparências republicanas, Augusto exerceu um ​poder

imperial absoluto​, sobrepondo-se a todas as instituições políticas, militares e


religiosas e retirando às assembleias as suas funções tradicionais: assumiu o
supremo ​comando militar​, garantiu o ​poder absoluto​ sobre o Senado e
tornou-se ​máximo pontífice​, a autoridade absoluta sobre a religião e todas as
práticas religiosas do Estado. Também o título de ​pai da pátria​ que recebeu do
Senado acentuou a sua autoridade sobre toda a sociedade romana,
reafirmando o ​carácter divino do Imperador​ que deu lugar ao culto imperial.
O culto imperial expandiu-se rapidamente por todo o Império, tendo-se
convertido na mais plena forma de domínio político, social e religioso e
desempenhando um papel fundamental no processo de ​centralização do poder
e ​coesão política​ do Império.

O “ século de Augusto “ foi um período de grande expansão territorial, de

otimismo, progresso e estabilidade ( pax romana ), mas também foi uma época
de intensa atividade construtiva, com o propósito de tornar o seu poder sólido
e visível. A sua vontade em restabelecer a ordem romana impôs-se a nível
político e militar, mas também no plano cultural, com o incremento das
atividades artísticas e literárias​.

Para além da intervenção que fez no Fórum, a obra mais emblemática de

todo o programa monumental e propagandístico que Augusto realizou em


Roma foi o ​Ara Pacis​, onde se materializou a expressão do sagrado e do poder.

O Ara Pacis ( altar da paz )

O Ara Pacis constituiu uma autêntica alegoria à paz romana. Para festejar o

regresso vitorioso de Augusto das Gálias e da Península Ibérica, o Senado


aprovou no ano 13 a. C. a construção de um monumento que consagrasse a
prosperidade que o Império vivia no tempo de Augusto.

Este monumento apresenta uma forma retangular, com duas portas

monumentais e um altar no centro. No exterior, a sua decoração encontra-se


distribuída por dois níveis: no inferior, existe uma decoração com motivos
vegetais; no nível superior ( mais helenístico ), encontramos dois frisos
figurados nos lados mais compridos, com duas procissões, numa das quais
aparece Augusto com a família, com um tratamento realista.
Esta obra expressa o poder imperial sacralizado. Nela está patente a mensagem

política de Augusto que pretende apresentar-se como protagonista da Idade do


Ouro.

A obra de Augusto: o Império

O Império constituiu uma solução para a crise político-militar que se vinha

verificando na sociedade romana durante grande parte do século I a. C. ,


solução essa que procurava conciliar os interesses dos patrícios e dos plebeus.

Durante a governação de Augusto, este empreendeu um vasto conjunto de

medidas:

● obras públicas
- construção de estradas e pontes que uniram as províncias do império;
- construção de cidades pelas várias províncias do Império;
- construção de equipamentos públicos em todas as províncias: escolas,
bibliotecas, termas, banhos públicos, basílicas, templos, teatros, circos e
monumentos comemorativos;
- desenvolvimento de Roma, com a criação de uma rede de esgotos e
abastecimento de água, construção do fórum, aquedutos, vários
equipamentos públicos e monumentos comemorativos ( estátuas, arcos de
triunfo, colunas triunfais ).

● plano económico
- desenvolvimento dos campos, visando o crescimento da agricultura;
- criação de indústrias de conservas, vinho, azeite, sal.

● plano social
- restabelecimento da paz e da igualdade de todos os cidadãos livres
perante a lei;
- criação do censo ( imposto obrigatório ) que dava direito à eleição de
qualquer cidadão para o Senado ou para cargos públicos.

● plano político
- reforço dos poderes do Imperador;
- reforma da administração central e provincial;
- redução dos poderes do Senado e das magistraturas.

● plano militar
- restabelecimento da ordem e da disciplina, após o período de anarquia e
de instabilidade vivido durante a República;
- aumento da extensão do Império;
- pacificação das províncias;
- estabelecimento da pax romana.

● plano cultural
- financiamento de artistas, poetas, escritores e intelectuais ( prática do
mecenato; este termo deriva do nome Mecenas, influente conselheiro de
Augusto que formou um conjunto de intelectuais e poetas, sustentando a
sua produção artística ).

● plano religioso
- reforma da religião tradicional, ligando-a ao culto do Imperador.
1.3. Roma- o modelo urbano do Império

Desde a sua fundação ( 753 a. C. ) até à sua queda ( 476 d. C. ), a história de

Roma é a história da própria civilização romana. Dominando todo o


Mediterrâneo ( mare nostrum ), Roma era o centro das rotas marítimas e
terrestres que ligavam todos os pontos do Império. A ​funcionalidade e a
extensão da rede viária​ ligava a cidade a todos os pontos do Império,
constituindo um ​fator de desenvolvimento económico, social e cultural​, pois
permitiu a circulação de bens, pessoas e ideias, aproximando cidades e povos e
simultaneamente um ​meio eficaz de defesa e segurança​, facilitando a
deslocação dos exércitos para os pontos mais distantes do Império.

Desde o período da República, Roma ( a urbes ) foi dotada de infraestruturas,

equipamentos e edifícios públicos adequados à sua importância. Mas foi no


tempo de Augusto que Roma adquiriu a ​grandiosidade​, a ​monumentalidade​ e
o ​prestígio​ que fazia da cidade a capital de um imenso Império. As obras de
reorganização, reestruturação e restauração que empreendeu na cidade foram
um instrumento político que utilizou como meio de afirmação e consolidação
do seu poder e soberania sobre todo o mundo mediterrânico.

Em termos urbanísticos, Augusto dotou Roma de uma nova divisão da cidade

em novas zonas e bairros que concorreu para o aperfeiçoamento da


administração da cidade, como também facilitou o sistema de circulação, a
segurança, a movimentação dos exércitos ou o combate a incêndios.
Em Roma foi adotada uma ​rede ortogonal hipodâmica ( de Hipódamo de
Mileto ), ou seja, um traçado em retícula, das ruas e dos quarteirões,
atravessados por duas vias principais que seguiam a direção dos pontos
cardeais- o ​cardo ( sentido norte- sul ) e o ​decumano ( sentido este- oeste ) que
se cruzavam perpendicularmente no ​fórum​, grande praça que constituía o
centro da cidade.

Este traçado urbanístico foi depois replicado em muitas outras cidades do

Império. Roma foi, portanto, o ​paradigma para as novas cidades​ por todo o
Império e inspirou as reformas e melhoramentos nas cidades que já existiam.

2. O Senado: os senadores e o cursus honorum

O Senado foi a mais velha instituição do Estado romano, tendo existido desde a

monarquia até finais do Império.


O Senado romano era uma ​assembleia de cidadãos notáveis​ eleitos entre os
patrícios ( ricos e latifundiários ) que, durante o tempo da República, foi o
principal órgão de decisão da vida política romana. Os senadores começaram
por ser 300, mas Sila duplicou este número e Júlio Cesar triplicou-o.

O Senado era a mais alta autoridade do estado e o verdadeiro centro do

governo, dominando todos os assuntos da vida pública. Assim, tinha como


funções ordinárias ( regulares ) decidir sobre a política externa, a guerra e a
paz, a justiça, a administração das finanças, a gestão das festividades, as
questões religiosas e a resolução de todos os problemas de ordem pública.
Como funções extraordinárias, podia intervir no governo das províncias,
suspender os tribunais, na gestão do exército, declarar o estado de sítio. Para
além do poder normativo e executivo em toda a administração pública, o
Senado deliberava também sobre todos os aspetos da política externa.
Em síntese, competia ao Senado zelar pelas boas práticas do governo que era

formado por várias magistraturas ( cargos públicos ), integradas no cursus


honorum ( carreira das honras ). Só os patrícios podiam aceder ao cursos
honorum, mas estava dependente da ​idade, das qualidades pessoais e do
censo​ ( quantidade de bens e propriedades que possuíam ). As magistraturas
podiam ser de natureza administrativa, judiciária e militar e, normalmente,
eram constituídas por dois elementos cada e estavam hierarquizadas. Os mais
importantes eram os ​cônsules​, que comandavam o exército, convocavam o
Senado e presidiam aos cultos públicos. Abaixo destes, estavam os ​pretores
que exerciam funções judiciárias. Seguiam-se os censores que recenseavam os
cidadãos e fiscalizavam a sua conduta moral pública. Depois os ​questores,
encarregados da administração das finanças. Em seguida, os ​senadores,
magistrados pertencentes ao Senado que desempenhavam as funções já
referidas e designavam os cônsules.
Existiam também magistraturas plebeias como os ​edis​, responsáveis pela
manutenção da ordem pública e abastecimento da cidade e os ​tribunos da
plebe​ que atuavam junto do Senado em defesa dos direitos e dos interesses da
plebe.

O Senado entrou em decadência durante o período do Império. Em 18 a. C. ,

Augusto reduziu drasticamente o número dos seus elementos, fez depender a


sua nomeação da escolha do Imperador e retirou-lhe parte dos seus poderes.
Contudo, os seus pareceres legislativos continuaram a ter força de lei e eram os
senadores que detinham a administração local em Roma, no resto da Itália e
em algumas províncias pacificadas.

Notas:
Estado de sítio- ​estado de exceção, instaurado como uma medida provisória de
proteção do Estado, quando este está sob uma determinada ameaça, como
uma guerra ou uma calamidade.
A Lei: da República ao Império

Desde a República, a centralização política usou como um dos instrumentos de

coesão do Estado a ​Lei Romana​, um conjunto de normas de Direito


superiormente definidas que, aplicadas igualmente no mundo romano,
uniformizaram os procedimentos da justiça e dos tribunais, sobrepondo-se à
diversidade dos direitos locais.

A superioridade das leis romanas residia na​ ​racionalidade​ e na​ lucidez​ dos

princípios gerais que enunciavam; no ​pragmatismo​ e na ​experiência​ que


colocavam na análise das situações do quotidiano; na ​complexidade das
situações que contemplavam​ e que eram as vividas a todos os níveis (
económico, social, familiar, étnico, político ).

O Direito Romano, reconhecido como um dos principais legados desta

civilização, resultou da recolha e compilação de várias fontes jurídicas usadas


pelos romanos como: a ​Lei das Doze Tábuas​, a principal e mais antiga
compilação escrita das leis consuetudinárias ( baseadas nos costumes e
tradições ) do povo romano; as leis promulgadas pelos orgãos políticos da
República com poder legislativo, como as emanadas do Senado e as
proclamadas pelos comícios; e as leis promulgadas pelos Imperadores.

Durante o Império, os Imperadores tornaram-se os supremos legisladores. O

seu trabalho legislativo foi apoiado por juristas especializados, os


jurisconsultos, escolhidos entre a aristocracia intelectual. Cabia também aos
Imperadores a chefia dos tribunais, o que lhes permitiu controlar o poder
judicial.
O direito de apelação, reconhecido a todos os cidadãos, só podia ser resolvido

nos tribunais presididos pelo Senado ou pelo Imperador e a este pertenciam


todos os casos de última instância.

Notas:
Comícios- assembleias que se encarregavam da eleição dos magistrados e da
votação das leis.

A Retórica

Retórica significa “ a arte de bem falar “, ou seja, a arte de comunicar de forma

eficaz, assertiva e persuasiva.


No Senado, onde as ideias eram debatidas até à exaustão, esta arte de
argumentação era um recurso importante de que o senador dispunha para
convencer os seus opositores. A retórica era determinante no sucesso dos
oradores e na condução das discussões e votações.

Os romanos começaram por usar a retórica grega, conhecida desde o século V

a. C. e teorizada por Górgias e pelos sofistas que a incluíram na formação dos


jovens.

Em Roma, Cícero foi o maior dos oradores e pensadores políticos.

Considerando que o objetivo do orador era agradar, provar e comover, Cícero


tratou os fundamentos da retórica nas suas obras “ De Oratore e “ Orator “,
elevando a retórica à categoria de ciência. Os seus discursos ficaram célebres
pela eloquência e habilidade na dialética.
3. A língua latina: do latim erudito ao latim do limes

O latim é uma língua de origem indo-europeia que chegou à Península Itálica

entre os séculos IX e VIII a. C., trazido pelos Latinos que se fixaram na região do
Lácio, nas margens do rio Tibre, onde viria a ser fundada a cidade de Roma.
Inicialmente o latim só era falado em Roma, mas durante a República
expandiu-se por toda a Península Itálica, recebendo influências das línguas e
dialetos que ali predominavam, entre os quais o etrusco, o grego, o gálico e o
venético.

O latim atingiu o seu apogeu no século I a. C., o século de Augusto. Neste

período destaca-se um conjunto de personalidades cultas e eruditas, tais como


Ovídio, Horácio, Tito Lívio, Virgílio, Cícero que elevaram esta língua a ​modelo
de civilização​. O latim acabou por se tornar a língua oficial do Império, um dos
principais fatores de coesão entre todos os povos.
Para além de se converter na principal língua da Antiguidade, o latim foi

igualmente um dos fatores mais importantes da ​Romanização​ ( assimilação da


cultura romana pelos povos conquistados ). Além do culto do Imperador e das
leis romanas, a ​adoção do latim como língua oficial​ comum em todas as
províncias, contribuiu para a assimilação cultural de Roma por parte dos povos
ocupados.

Porém, durante o período do Império e devido ao contacto com outras línguas

e dialetos dos povos conquistados, a língua latina sofreu transformações.


Enquanto entre a elite ( políticos, filósofos, poetas ) a língua se refinava ( latim
erudito ), entre a plebe e no quotidiano do Império, em contacto com outros
povos e idiomas, o latim era contaminado pelos falares locais ( latim do limes ).
Esta clivagem foi cada vez maior à medida que o Império se alargava e ia
admitindo nas suas fronteiras maior número de povos e falares. Assim, o latim
do limes ( isto é, das zonas periféricas ) era um latim adulterado, espécie de
vulgarização do latim erudito. Este era cada vez mais restrito a uma pequena
elite de sábios e só verdadeiramente encontrado na versão escrita.

A partir do século III d. C., a decadência intelectual e cultural em que o Império

romano caiu, aprofundou a cisão entre a língua erudita e a língua falada pelas
populações comuns. Enquanto a primeira se restringia aos livros e passou a ser
a língua adotada pela Igreja Católica, a segunda vingou, dando origem à
formação das línguas românicas europeias atuais, tais como o português, o
italiano, o castelhano, o francês, o romeno e o catalão.

O latim de Cícero

Cícero foi o maior dos oradores e pensadores políticos romanos. Recebeu uma

educação clássica, era grande conhecedor das leis romanas e das instituições
políticas.
Cícero cumpriu o serviço militar, condição necessária para participar na vida
política. Os seus interesses centraram-se na retórica e na arte da oratória.

Foi o primeiro romano a desempenhar cargos de governação, graças à sua

eloquência e ao mérito com que exerceu as funções de magistrado civil.

Dirigiu vários casos com sucesso, relacionados com a justiça civil. Esteve exilado

na Grécia, onde concluiu a sua formação filosófica e retórica.


Regressado a Roma, iniciou a sua carreira política.

Cícero foi a suprema expressão do génio latino, constatada não só na retórica,

mas também na escrita.

Notas:
Venético- ​língua indo-europeia que era falada na atual região italiana do
Vênato, por volta do século VI a. C.

4. O ócio: os tempos do lúdico; a preocupação com as


artes

No século de Augusto, a pax romana, a prosperidade económica

proporcionadas pelas conquistas possibilitaram aos romanos o usufruto do


ócio​, isto é, do tempo livre, do ​lazer​ e da ​diversão​.
O século I d. C. foi o século do ​pão e circo​ para a plebe que significa “ comida e
divertimento “ para o povo, tratando-se de uma expressão muito utilizada na
Roma Antiga, numa época em que os cidadãos só pediam trigo no fórum e
espetáculos no circo ( lutas de gladiadores com feras ).

Contudo, as conquistas e a dilatação do Império, alteraram os velhos costumes

romanos. Roma foi invadida por gentes de todas as partes do Império, com
diversas culturas. De todos, os mais influentes na alteração dos hábitos e
costumes romanos, foram os gregos que, como escravos de luxo ou imigrantes
convidados, afluíram a Roma. Os romanos apreciaram-lhes o falar elegante, os
conhecimentos e a cultura refinada e copiaram- os: a língua grega, falada e
escrita, foi adotada pelas elites cultas como uma segunda língua-mãe; o
interesse pela filosofia, música e artes dominaram os meios intelectuais.

Em Roma abundavam os alimentos ( muitas vezes, distribuídos gratuitamente )

e os espetáculos gratuitos nas arenas e nos circos, mantendo-se assim o povo


satisfeito e tranquilo.

No ​Circo Máximo​ popularizavam-se as corridas de cavalo. No ​Coliseu ​assistia-se

a combates entre feras, mais tarde, entre feras e homens( na época de Nero, os
cristãos perseguidos eram obrigados a lutar contra as feras ). Mas as lutas mais
célebres e que atraíam multidões eram as lutas entre gladiadores, cujo destino
final ( vida ou morte ) estava nas mãos do Imperador.

Eram também tradicionais em Roma as ​representações teatrais​ que tiveram

origem nas Grandes Procissões( durante as quais grupos de bailarinos


mascarados representavam, em frente às estátuas dos deuses, pequenos
mimos ou peças curtas do género farsa, com poucas personagens ). Foi
juntando esta tradição à influência do teatro grego que nasceu o teatro
romano. Este preferiu as comédias às tragédias.
Porém, entre as classes mais cultas, estas práticas citadinas não eram muito

apreciadas. Na esfera privada dos patrícios, nos seus lares, instalou-se o luxo, o
conforto e o requinte. Depois de passarem o dia pelo ​fórum​ ( onde discutiam
sobre política e jogos ), pela ​basílica​ ( edifício com funções políticas, comerciais
e sociais ), pelas ​termas ​( onde relaxavam o corpo e conviviam ), pelo ​templo​ (
onde prestavam culto ao Imperador ) ou tratavam dos seus negócios, estas
elites da sociedade romana organizavam nas suas habitações ​banquetes e
salões culturais​. Acompanhados de música, dança e recitações de poesia, estes
banquetes reuniam filósofos, poetas, músicos e artistas.
Também a aristocracia provinciana preferia o refúgio nas suas villae ( casas de
campo ), rodeadas de conforto, onde os prazeres simples do campo se
associavam aos da leitura, da música, da filosofia ou das artes.

7. A arquitetura romana entre o belo e o útil

7.1. O carácter da arquitetura romana: utilidade e


grandiosidade
Um dos maiores legados que a civilização romana deixou às que se lhe

sucederam foi a ​arquitetura​. A arquitetura romana é aquela que melhor reflete


e testemunha o carácter de um povo e de uma civilização.
Pragmatismo, racionalismo, funcionalismo e utilitarismo​ são os principais
pilares em que a arquitetura romana assenta. Estradas, pontes, aquedutos,
basílicas, termas, templos, teatros e circos espalhados por todo o Império
foram não só um forte ​veículo de difusão de toda uma cultura​, como também
um precioso instrumento político de afirmação da ​grandiosidade ​e da
soberania ​do Império.

A cultura romana foi a primeira da história a sistematizar todo o processo de

construção civil, através do trabalho de Vitrúvio, arquiteto romano que viveu


no tempo de Augusto ( século I a. C. ). No seu tratado “ De Architectura “
( Os Dez Livros de Arquitetura ), Vitrúvio estabeleceu as condições essenciais
para que uma construção se inscreva no domínio da arquitetura: ​solidez​,
utilidade, beleza e decoro​ ( imponência e respeito pelas ordens arquitetónicas
).

Um dos maiores valores da arquitetura romana foi a ​utilidade​, devendo as

construções e o urbanismo estar ao serviço do bem comum, mas também a


grandiosidade​, devendo a arquitetura enaltecer e manifestar o prestígio do
Império.

A síntese romana dos patrimónios arquitetónicos etrusco e grego


A arquitetura romana resultou de uma assimilação de elementos etruscos e

gregos.

Dos Etruscos, os romanos herdaram o emprego do arco de volta perfeita e da

abóbada, bem como o tipo de templo, elevado sobre um pódio e apresentando


um cella como espaço único e aberto.
Foram também os Etruscos que transmitiram aos romanos a grande capacidade
construtiva e as técnicas de construção grandiosas, tais como estradas, pontes,
aquedutos e fortificações, como é o caso da grande Muralha Serviana.

Mas foi a cultura grega que, pela sua sobriedade, racionalidade e harmonia,

mais influenciou os romanos. Após a conquista da Grécia ( século II a. C. ),


Roma assimilou a mitologia, filosofia, democracia, a arte e a arquitetura gregas.
A principal herança grega na arquitetura reflete-se na apropriação das ordens
arquitetónicas, com preferência para a ordem ​coríntia​, mais ornamentada e
com a criação de duas novas ordens: a ​toscana​ ( uma evolução da ordem
dórica, mas sem estrias no fuste ) e a ​compósita ​( uma fusão da ordem jónica
com a coríntia ).
Para além dos templos, também a casa grega deu origem à domus, a ágora
originou o fórum e a acrópole influenciou a criação do Capitólio.
7.2. O fórum como síntese da arquitetura e da civilização
romana

O fórum era o centro da urbe. Tal como a ágora grega, também o fórum

romano converteu-se numa autêntica ​praça pública​, tornando-se o centro da


vida política, económica, social e cultural. Era neste espaço que se realizavam
os mercados, procissões triunfais, reuniões políticas ou encontros sociais. No
entanto, dado o ​carácter monumental e propagandístico​ da arquitetura
romana, afirmando-se como um instrumento de glorificação e difusão da
soberania de Roma, o fórum adquiriu um significado político, impondo-se como
o verdadeiro centro do Império.

O fórum converte-se numa ​área monumental​, autêntica ​representação do

poder imperial​. Foi no fórum que os Imperadores deixaram a marca do êxito


do seu governo, do sucesso das suas campanhas militares e perpetuaram a sua
glória. Assim se explica as consecutivas obras de ampliação e a construção de
novos edifícios ( templos, monumentos e estátuas ) efetuadas no fórum, com o
propósito de refletir a prosperidade e prestígio desta civilização, mas também
de exaltar a cultura romana. O fórum é, pois, uma síntese da arquitetura e da
civilização romana.

Localizado no vale entre os Montes Palatino e Capitolino, o ​fórum de Roma​, no

século VIII a. C. tinha funções essencialmente religiosas, recebendo templos e


santuários. No período republicano, passou a acolher também os edifícios
administrativos ( casa do Senado, tribunais, basílicas, edifícios governamentais
), juntando-se então às funções religiosas, sociais e comerciais que
o fórum já tinha, as funções políticas.
No século de Augusto ( século I d. C. ), o fórum adquire um ​carácter
monumental​. Construído para comemorar a vitória dos romanos em Cartago e
para venerar Marte ( deus da guerra ), o Imperador reorganizou a sua estrutura
e regularizou o seu traçado.
Roma possuiu vários fóruns, que se sucederam no tempo, não só porque os

primeiros envelheceram ou ficaram desajustados em relação ao crescimento da


cidade, mas também porque quase todos os Imperadores quiseram deixar uma
marca pessoal, que simbolizasse e eternizasse a sua glória, imagem e poder.
Assim, às intervenções efetuadas no fórum por Augusto, seguiram-se as de
Vespasiano, de Domiciano e o Fórum de Trajano, o mais monumental,
imponente e grandioso.

O fórum era atravessado pela Via Sacra, artéria principal por onde passavam os

cortejos triunfais até ao Capitólio. Aqui situavam-se o Templo de Vesta, a


Basílica Júlia, o Templo de Vénus e Roma ( o mais imponente ), a Cúria Júlia (
Senado ) e o Comitium ( assembleia popular ).
7.3. Arquitetura e obras públicas: os avanços tecnológicos

A principal manifestação do poder, da ​ambição​, da ​grandeza​, da autoridade e

do domínio territorial do Império romano exprimiu-se na ​arquitetura​ e nas


obras públicas​ por si empreendidas. À medida que os exércitos romanos
procediam ao alargamento do território, ia- se levando a cabo um intenso
programa de desenvolvimento das províncias incorporadas no Império, com a
construção de novas cidades​, a ​criação de infraestruturas​ e a ​execução de
uma rede de estradas​ que ligou as províncias a Roma.

Esta política de obras públicas e de desenvolvimento do território foi

responsável pelo aumento demográfico, desenvolvimento da economia,


dinamização da agricultura, das pescas e das indústrias conserveiras e pela
expansão do comércio. Para além da construção de ​estradas​, ​pontes​ e
aquedutos​ que aproximaram os povos e permitiram o abastecimento de água
às cidades, estas também foram enriquecidas com ​equipamentos​ ( basílicas,
termas, anfiteatros e monumentos ) que melhoraram a qualidade de vida das
populações.

Herdeira dos etruscos, onde foram “ buscar “ o seu sentido prático e funcional

e dos gregos, tendo utilizada a sua linguagem clássica e adotado as plantas dos
templos retangulares e circulares, a arquitetura romana regista, no entanto,
diferenças/ particularidades, visíveis ao nível dos ​materiais,​ ​técnicas
construtivas​ e ​tipologias arquitetónicas​ empregues.

Ao nível dos ​materiais​, os romanos usaram os materiais tradicionais ( pedra,

mármore, tijolo, madeira ), mas também outros, mais económicos em meios e


mão-de-obra. O mais importante foi o ​opus caementicium​, espécie de
argamassa, formada por areia, cal, cascalho e água que era depois introduzida
numa cofragem ( molde ), de modo a formar os muros ou outros elementos
construtivos mais complexos ( construção de paredes arredondadas,
coberturas em abóbada e cúpulas ), sendo posteriormente revestidos com
pedra, peças de cerâmica ou gesso.

Existiam diversos tipos de revestimento com que as paredes eram acabadas

nas suas superfícies ( revestimento de pedras irregulares- opus incertum;


revestimento de tijolos assentes regularmente- opus latericium; revestimento
de pedras regulares, alternadas com bandas de tijolo na horizontal- opus
vittatum ). Estes revestimentos que deviam proteger as paredes, dando-lhes
maior resistência e durabilidade, tiveram também um papel decorativo e
ornamental.

Em termos de ​técnicas construtivas​, é no uso sistemático do ​arco de volta

perfeita ​e das construções que dele derivaram, a ​abóbada de berço​ e a ​cúpula


que reside a grande inovação em relação à arquitetura grega.
Embora já conhecido por outros povos, nos romanos o arco adquire um valor
simbólico, sendo a expressão do poder imperial.
À estrutura-base formada por arcos, era sobreposta uma outra constituída por
arquitraves e colunas adossadas. Estes sistemas construtivos trouxeram maior
arrojo às construções que passaram a ser mais grandiosas e funcionais.

Quanto às ordens arquitetónicas, embora inspiradas nas ordens gregas, na

arquitetura romana estas vão adquirir um carácter mais decorativo e sem a


preocupação pela forma, pela medida e pelas proporções, reveladas pelos
gregos. Assim se explica a preferência dos romanos pela ​ordem coríntia​, devido
ao seu carácter mais ornamental, mas também a criação de duas novas ordens:
a ​ordem toscana​, a partir da ordem dórica, mas mais simples e com o fuste liso;
e a ​ordem compósita​, que resulta da fusão da ordem jónica com a ordem
coríntia, inserindo as volutas da jónica com as folhas de acanto da coríntia.
Esta foi a primeira civilização a racionalizar ​meios​, ​materiais​, ​mão-de-obra​,

numa economia de ​recursos​ e de ​estandardização ​da construção.

Relativamente às ​tipologias arquitetónicas​, temos:

A arquitetura religiosa

A ​arquitetura religiosa​ merece uma referência especial, tendo desempenhado

funções religiosas, mas também políticas ou sociais. Assumindo um valor


simbólico, ​templos​, ​santuários ​e ​altares​ ( ou aras ) são dedicados, quer ao
culto imperial​, quer a divindades locais, protetoras das cidades e das
populações. Nestes edifícios está patente a fusão das influências etruscas,
gregas e regionais.

O modelo mais comum do ​templo romano​, marcado por influências etruscas e

gregas, apresentava as seguintes características:

● planta retangular, geralmente com uma só cella fechada;


● erguia-se sobre um podium ( plataforma ) que possuía um único acesso
frontal ( assinalado pelo pórtico e escadaria de acesso );
● em regra, não tinha peristilo, sendo as colunas adossadas ou embebidas
nas paredes exteriores;
● as colunas e o entablamento tinham uma função meramente decorativa.

Foi no Alto Império ( séc. II ) que surgiram os templos mais sumptuosos e

monumentais, como o ​Panteão de Roma​.

As grandes dimensões do Panteão fazem dele o espaço mais amplo de toda a

arquitetura clássica. Este efeito é acentuado pelos caixotões da cúpula


semiesférica que vão reduzindo de dimensão à medida que se elevam em
altura, mas também pelo oculus da iluminação zenital, única abertura do
edifício que produz um efeito de leveza, como se a cúpula flutuasse no espaço.
A maior inovação deste edifício reside na sua cúpula, a maior que se fez até ao
séc. XIX. Os romanos construíram espessas paredes para receber as cargas da
cúpula. Esta, por sua vez, foi construída com materiais mais leves, adelgaçando
a sua espessura à medida que se eleva até ao topo.

A arquitetura comemorativa

Também a ​arquitetura comemorativa​ desempenhou um papel importante na

demonstração da grandeza e do poder de Roma. Dentro deste género de


arquitetura foram construídas ​colunas triunfais​ que eram monumentos com
um carácter descritivo, erguidos para comemorar e evocar os heróis do Império
e as suas façanhas militares nas campanhas de expansão do Império, tendo
portanto, também um carácter ​político​ e ​propagandístico​. É o caso da coluna
de Trajano e da coluna de Marco Aurélio.
Também neste género de arquitetura enquadram-se os ​arcos de triunfo​ que
apresentavam um ou três vãos e que eram ornamentados com esculturas e
relevos historiados.

Autênticos emblemas do Império, os arcos de triunfo começaram por ser

construídos em madeira pintada, celebrando o regresso do exército vitorioso.


Mais tarde, adquirem uma forma monumental e passam a ser construídos em
pedra, servindo de suporte a um conjunto de relevos alegóricos com uma
função comemorativa.
Podiam aparecer às portas da cidade ou isolados no próprio local onde se
pretendia celebrar um determinado acontecimento.
O Arco de Triunfo de Orange ( um dos primeiros a ser construído ) foi erguido
para comemorar a vitória dos romanos sobre um chefe gaulês. Todas as suas
fachadas estão decoradas com baixos-relevos, representando cenas de
batalhas entre romanos e gauleses.

A arquitetura funerária

Esta arquitetura assumiu uma dimensão importante no domínio da ​arquitetura

comemorativa​, apresentando uma grande diversidade: túmulos em forma de


torre, de tumulus, de capelas, de sepulturas subterrâneas.

Os túmulos em forma de torre apresentam uma forma muito original,

consistindo geralmente na sobreposição de três corpos quadrangulares,


coroados por uma pirâmide no topo.

Os três níveis em que normalmente os mausoléus são subdivididos devem

representar os três estádios do percurso da alma: o nível inferior representa a


vida terrena; o nível intermédio simboliza a entrada no “ outro mundo “; e o
nível superior refere-se ao estádio celestial ou à eternidade.

A arquitetura pública

As construções públicas também traduziram o desejo de poder e de grandeza

do Estado romano, pelo seu sentido monumental e comemorativo.


Salientam-se principalmente as grandes obras de engenharia civil, com carácter
prático e utilitário: as ​estradas,​ ​pontes​ e ​aquedutos.
Durante o período do Império, deu-se ênfase a construções mais grandiosas e

imponentes. Entre elas destacam-se:


● as ​basílicas​, grandes salas retangulares, divididas em três ou cinco
naves. Eram construções multifuncionais, pois podiam albergar
tribunais e cúrias que ladeavam os fóruns ou fazerem parte de termas,
mercados e palácios imperiais. A partir do séc. IV, no Baixo Império, os
bispos cristãos adotaram-nas como modelos para as suas primeiras
igrejas, por serem espaços amplos e não relacionados com os templos
pagãos.
● as ​construções de lazer​ como…

- os ​teatros​, com formas semelhantes às do teatro grego; porém, os


teatros romanos suportavam-se a si próprios, graças aos complexos
sistemas de abóbadas que sustentavam as bancadas, podendo assim
serem erguidos em qualquer ponto das cidades. As bancadas
elevavam-se à altura da cena e ligavam-se a ela, fechando o recinto.

- as​ termas​ ou balneários públicos, que foram importantes locais de


encontro e de convívio social. Frequentadas por ambos os sexos, mas
em áreas separadas, continham piscinas, vestiários, saunas, ginásios,
estádios, hipódromos, salas de reunião, bibliotecas, lojas e escritórios,
amplos espaços verdes, onde se podia apanhar sol e assistir a debates,
concertos e recitais. As termas foram notáveis pela harmonia e simetria
das suas plantas, pela funcionalidade do seu espaço interior, pelas
arrojadas coberturas com abóbadas ou cúpulas e pela articulação entre
interiores e exteriores. Ostentavam ricas decorações com revestimentos
em mármore, belas composições de mosaicos e muita estatuária.

- os ​anfiteatros​, talvez os mais populares da arquitetura romana de


lazer, pela sua função sociorecreativa com a realização dos “ jogos
circenses “. De planta circular ou elítica, erguiam-se à altura de três ou
quatro andares, sendo descobertos. Sob a arena, existiam várias
dependências que poderemos considerar como os bastidores destas
extraordinárias “ salas de espetáculo “.
Ex: o Coliseu de Roma ou Anfiteatro Flávio (consultar p.100, do Manual )
Ligados aos anfiteatros, podemos também considerar os​ circos​, onde se
realizavam as corridas de cavalos.

A arquitetura doméstica ( ou privada )

Neste tipo de arquitetura, incluímos as:

● domus ​que eram as típicas casas urbanas e individuais dos patrícios.


Distribuíam-se pelas colinas, evitando o barulho da cidade. Eram
geralmente baixas e de um só piso e tinham um telhado ligeiramente
inclinado para o interior, coberto com telhas de cerâmica. Tinham
poucas aberturas para o exterior. Estavam, por isso, viradas para si
próprias e as várias dependências organizavam-se em t orno de um ou
dois pátios interiores ( atrium e peristilo ), através dos quais se fazia a
circulação das pessoas, a ventilação e a iluminação. Dispunham de
aquecimento e de água canalizada. A decoração interior era feita com
pavimentos de mármore ou de mosaicos e as paredes das divisões
nobres ( sala de jantar e escritório ) eram decoradas com frescos.
● villae​ que eram construídas fora das cidades, em aprazíveis locais junto
ao mar ou em espaços rurais, sendo rodeadas de grandes e belos
jardins. Apresentavam uma decoração interior e uma estrutura
semelhante à domus, mas dispunham ainda de bibliotecas, banhos,
piscinas e até anfiteatros.
● insulae​, destinadas à plebe. Tinham, em geral, três a quatro andares,
mas na época de Augusto chegavam a atingir seis andares. O
rés-do-chão, normalmente recuado, era destinado ao comércio com
lojas viradas para a rua. Os andares superiores tinham uma
multiplicidade de pequenos apartamentos. Verdadeiras colmeias
humanas, as insulae, eram construídas em materiais mais pobres- tijolo,
madeira, taipa- faltando-lhes abastecimento direto de água e esgotos.
Estavam sujeitas a incêndios, difíceis de combater, porque os acessos
eram estreitos e impediam uma evacuação rápida. Os pés-direitos de
pouca altura e o exagerado número de andares, associados à estreiteza
das ruas, prejudicavam o arejamento e a exposição solar.

8. A escultura: o Homem enquanto indivíduo.


8.1. O carácter da escultura romana: individualismo, realismo e
idealização.

A escultura desempenhou um papel muito importante na sociedade romana

que privilegiava o ​individualismo​ e o ​culto da personalidade​ ( de imperadores,


chefes militares, senadores, patrícios, deuses ).
A escultura romana glorificou os imperadores e chefes militares e políticos,
sendo portanto um importante suporte da ​afirmação do poder imperial​ e da
sacralização​ dos seus protagonistas.

A escultura romana revelou, desde sempre, características realistas, centradas

na personalidade do indivíduo, o que decorre das suas raízes etruscas. Mas a


influência grega também se fez sentir, sobretudo da época helenística,
conferindo à escultura romana um maior realismo emocional. Aliás, a
admiração que a arte helenística desencadeou, originou uma importação
maciça de obras gregas para Roma e também a cópia e imitação de originais
gregos. A paixão pela arte grega, o gosto por decorações sofisticadas das
habitações e o embelezamento das cidades conferiram grande popularidade à
escultura romana, sobretudo no período do Alto Império ( as oficinas romanas
produziram obras em série que se disseminaram por todo o Império ).

Enquadrada na escultura ​celebrativa/ comemorativa​ temos

● as ​estátuas​ erguidas em lugares públicos, cuja intencionalidade era


fazer a ​glorificação dos chefes políticos e militares​ e onde se registam
as influências etruscas e gregas.
Exemplos:
- a estátua “ O Orador “, onde são mais notórias as influências etruscas;
- a estátua “ Augusto de Primaporta “, que combina a ​idealização​ e a
beleza formal​ da escultura grega com a preferência pela ​representação
realista​ dos traços fisionómicos e expressivos do modelo que
caracterizou a arte romana.
● as ​estátuas equestres​ que constituem o género escultórico que melhor
reflete a glorificação e a divinização do Imperador, aqui representado
como um herói.
Exemplo:
- a “ Estátua Equestre de Marco Aurélio “, consagrado como herói
iluminado, com traços naturalistas e com uma expressão idealista.
● relevos decorativos​ que constituem narrativas históricas ou com cenas
mitológicas e que decoraram arcos de triunfo, colunas triunfais, frisos,
sarcófagos, altares, estelas funerárias.

A herança etrusca

As primeiras esculturas realizadas em Roma têm traços etruscos e datam do

séc. VI a. C. Exemplo disso é o “ Apolo de Veios “, onde se privilegia o realismo


da representação e do movimento e o naturalismo expressivo, em detrimento
da idealização, característica da arte grega.
É também no gosto por determinados géneros escultóricos que melhor

encontramos as influências etruscas. A escultura etrusca servia principalmente


fins religiosos e decorativos da vida privada, sendo portanto na estatuária
fúnebre, nos sarcófagos ou na representação de cenas da vida comum nas
paredes dos túmulos que encontramos a maior originalidade da escultura
etrusca.

A obra etrusca “ Esposos de Cerveteri “ inspirou as esculturas romanas que

seguiram uma tendência mais realista na representação e que se preocuparam


com os traços psicológicos do indivíduo.

Também a técnica do bronze fundido, muito desenvolvida pelos Etruscos, teve

continuidade na estatuária equestre praticada em Roma.

8. 2. O retrato enquanto género

A produção escultórica mais característica da arte romana foi o ​retrato​ que

nasceu de um costume romano, mas com claras influências etruscas. Quando


morria o chefe de família, o seu rosto era reproduzido em cera e colocado nos
altares, destinados ao culto doméstico. Esta tradição religiosa só se verificava
nas famílias patrícias de Roma e tinha raízes nas sociedades primitivas.

Na origem do retrato romano encontramos os seguintes elementos:

● a tradição etrusca;
● o retrato fisionómico grego do período helenístico;
● o costume romano do culto dos antepassados.

A partir da época de Otávio, o retrato aparece associado a uma função política:

glorificar o indivíduo, eternizar a sua memória e exprimir o seu poder​. É o


caso do “ Retrato de Alexandre Magno “, de Lisipo, onde ainda se reflete a
influência da arte grega. Porém, nesta obra, a expressão de poder sobrepõe-se
à busca de beleza que a arte grega se propunha atingir. Agora, glorificar as
proezas militares dos imperadores era uma prioridade.

Portanto, à antiga idealização do corpo humano ( patente na escultura grega )

sobrepõe-se o interesse pela ​personalidade do indivíduo​, abrindo-se caminho


à ​representação realista​. No retrato, os romanos preferiram o realismo dos
traços fisionómicos e a expressão do carácter do indivíduo, por vezes
acentuando-se impiedosamente os “ defeitos “ e características fisionómicas (
olhos, sobrancelhas, boca, barba e cabelo, bem como as marcas do tempo e do
sofrimento humano ). Este efeito era realçado pela pintura que cobria todas as
peças.
Em suma, no retrato romano, privilegiou-se a representação naturalista e
expressiva, em detrimento da representação idealista, procurando-se
reproduzir com realismo, os traços psicológicos e enaltecer o carácter, honra e
glória dos homens.

9. A pintura e o mosaico: a vida enquanto forma de arte


9.1. A construção da ilusão arquitetónica

A pintura e o mosaico são as expressões artísticas que melhor refletem os

padrões de vida​ e o ​quotidiano​ dos romanos. Associados à arquitetura, mais


concretamente às habitações romanas, ambas desempenharam funções
diversas. Tanto a pintura como o mosaico assumiram ​funções simbólicas​,
alegóricas​ ou ​decorativas​.

A pintura e o mosaico tiveram aspetos em comum. Ambos destinavam-se a:

● a enriquecer cenograficamente os ambientes interiores;


● a ampliar os espaços, através de efeitos ilusionistas de perspetiva, que
davam a perceção de um espaço tridimensional sobre a superfície das
paredes;
● a animar a arquitetura, através de composições fantasistas, expressivas
e criativas.

As principais técnicas utilizadas na pintura romana foram:

● a ​pintura a fresco​- aplicação de pigmentos ( cores ) diluídos em água


sobre a parede revestida com gesso ainda húmido.
● a ​encáustica- ​utilizada sobretudo em suportes de madeira e que
consistia na diluição dos pigmentos em cera derretida, conferindo uma
maior conservação à pintura.

Os principais temas abordados na pintura romana eram:

● as cenas mitológicas;
● temas históricos ( episódios épicos, batalhas, façanhas militares )
● paisagens
● naturezas-mortas
● retratos, materializando o individualismo e o “ culto dos antepassados “.

Estas temáticas são também encontradas nos mosaicos romanos. Estes

apresentavam composições complexas de padrões geométricos com motivos


figurativos, resultando de combinações de pequenos ladrilhos de cerâmica,
vidro ou mármore. Estes mosaicos revestiram pavimentos e paredes, criando
painéis de grande riqueza cromática e plástica.

9. 2. A representação perspetivada do espaço: os


primeiros ensaios

O mais importante conjunto de pintura de toda a Antiguidade que

conhecemos é proveniente de Pompeia e Herculanum. Tratam-se de pinturas


murais que foram produzidas desde os últimos anos do séc. I a. C. até à data da
erupção do Vesúvio em 79 d. C.

Este conjunto de pinturas trazido à luz do dia pelas escavações arqueológicas

de 1748, encontram-se enquadrados em quatro estilos, correspondendo os


dois primeiros à época republicana:

● O ​Primeiro Estilo
Apresenta características helenísticas. Neste período, aparecem painéis
de estuque pintado, imitando o revestimento de mármore colorido,
conferindo maior requinte aos espaços interiores das villae.
● O ​Segundo Estilo
Nesta fase, são criados efeitos ilusórios nas paredes, através da
representação de elementos arquitetónicos em perspetiva que
prolongam o espaço arquitetónico. Criavam-se os chamados “ efeitos de
janela “, com paisagens e outras figurações que pretendiam criar a
sensação de profundidade.

● O ​Terceiro Estilo ou “ estilo ornamental “


Neste período privilegiou-se o tratamento da superfície da parede, em
detrimento dos efeitos ilusionistas do estilo anterior. As cenas
figurativas são representadas como se fossem quadros pendurados nas
paredes. Trata-se de um estilo mais ornamental e os elementos
arquitetónicos representados assumem também um papel decorativo.
São utilizados motivos vegetalistas de inspiração oriental e africana,
dando um carácter ornamental e exótico a este estilo.
● O ​Quarto Estilo ou “ estilo compósito“
Resultando da fusão dos estilos anteriores, este foi o mais complexo.
Utilizou as imitações de mármore, as perspetivas arquitetónicas, cenas
mitológicas e paisagens ilusionísticas, construindo espaços irreais onde
o pitoresco e a fantasia contribuem para criar um ambiente de grande
exuberância e fantasia.

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