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Exame História A 2023 Mariana Coelho

Roma, cidade ordenadora de um império urbano


A unidade do mundo imperial
Se, inicialmente, Roma considerou as províncias apenas como territórios a explorar
economicamente, a partir de meados do século I a.C., foi-se tornando evidente que tal política,
sem contrapartidas para os povos subjugados, tornaria impossível manter por muito tempo a
unidade do Império.
As contrapartidas que Roma levou aos povos conquistados traduziram-se na sua plena
integração no mundo civilizacional romano, através da padronização de um modelo de
cidades à imagem de Roma:
 da institucionalização do culto a Roma e ao Imperador;
 exercício de uma administração orientada por leis racionais e pragmáticas;
 extensão progressiva da cidadania romana a todos os habitantes livres do
império.
Com a aclamação de Octávio, em 27 a.C., institucionalizou-se o poder imperial. Tratou-
se de uma forma de poder monárquico não hereditário, em que o chefe do Estado detinha em
si todos os poderes.
Contudo, Octávio não eliminou os órgãos de governo republicanos e guardou,
serenamente, que fosse a mais importante dessas instituições, o Senado Romano, a conceder-
lhe os poderes que fariam dele o primeiro imperador de Roma.
Com amplos poderes pessoais, Octávio inaugurou uma nova etapa da história de
Roma: o Império.

O culto a Roma e ao Imperador


Todas as honras e poderes políticos foram acompanhados pela divinização do
imperador, ao ser-lhe concedido, pelas mãos dos Senadores, o título de Augusto, uma honra
antes apenas reservada aos deuses, e o de pai da pátria. Octávio César Augusto foi aceite como
protegido pelos deuses e predestinado a grandes feitos: conduzir Roma ao triunfo absoluto e
definitivo, traduzido na aceitação universal do poder imperial.
Octávio não aceitou o culto pessoal. Aceitou apenas a divinização das virtudes
imperiais traduzidas nos benefícios que o seu governo tinha trazido ao mundo romano:
 Vitória – Victória Augusta;
 Paz – Pax Augusta;
 Justiça – Justitia Augusta;
 Liberdade – Libertas Augusta.
Roma passou a ser divinizada e objeto de culto, ao ser propagandeada como origem de
todos os benefícios civilizacionais que os conquistadores romanos levam às comunidades
conquistadas.
O culto a Roma e ao imperador difundido pelas províncias mediante a edificação de
altares, templos e estátuas do imperador e da deusa Roma constituiu um elemento de união
política do Império, porque congregava na mesma devoção os diferentes povos submetidos à
soberania romana.
Exame História A 2023 Mariana Coelho

A codificação do Direito
O Direito Romano contribuiu para a unidade imperial.
Por «Direito» entende-se um conjunto de normas e leis que regulam a vida do
indivíduo em sociedade e a sua relação com Estado.
A codificação das leis romanas (codificação jurídica - ato de reunir todas as leis que
regem um dado assunto num único código) começa quando os plebeus exigiram o registo das
leis que passavam oralmente de geração em geração. Este primeiro código, conhecido como a
Lei das XII Tábuas, permitia aos cidadãos romanos contar com um corpo legislativo claro e
objetivo.
Quando se iniciou o período de reconquistas, os Romanos sentiram necessidade de
proceder a uma renovação constante do Direito. A autoridade romana saía de Roma e passava
a ser exercida em áreas geográficas cada vez mais dispersas e habitadas por populações cada
vez mais heterogéneas, que era necessário unificar e integrar, mediante o exercício de uma
administração eficaz. O exercício da justiça, de forma clara e uniforme, tendo em conta a
conjugação dos interesses do poder romano e a diversidade das leis locais revelar-se-ia um
poderoso instrumento ao serviço da administração do Império.

A Renovação do Direito Romano


Impunha-se a codificação das leis de forma pragmática e racional e a determinação do
que é legal e ilegal por juristas especializados. O Direito foi entendido como uma ciência,
edificada com compilação:
 Dos pareceres dos jurisconsultos, homens que se foram especializando no
conhecimento das leis e no processo da sua aplicação. A sua atividade consistia
em emitir pareceres jurídicos sobre questões práticas que lhe eram
apresentadas;
 Os éditos dos pretores, os magistrados responsáveis pela aplicação da justiça.
Como este cargo era anual, os sucessivos éditos foram originando um corpo
estratificado de regras, aceites e copiadas pelos pretores que se sucediam e
que foram codificadas;
 Dos pareceres do Senado;
 Dos decretos e das constituições imperiais.

A progressiva extensão do direito de cidadania


No início, apenas os romanos naturais da cidade e seus descendentes eram cidadãos.
Usufruíam dos direitos civis e políticos e eram obrigados a executar os deveres obrigados pelo
Estado.
Com o poder imperial, a extensão progressiva do direito de cidadania passou a ser
vista como uma maneira de pacificar e unificar o mundo romano, enquanto alargava o nº de
contribuintes fiscais e o campo de recrutamento para os exércitos.
Os povos conquistados passavam de uma situação de dependência para uma de
igualdade jurídica relativamente ao povo conquistador, podendo ser eleitos em cargos
públicos, incluindo a possibilidade de ascenderem à magistratura imperial.
 Direito à cidadania alarga-se às populações próximas a Roma (os que
aceitavam facilmente a autoridade imperial);
 49 a.C. – todos os cidadãos livres da Península Itálica eram cidadãos;
 Durante os séculos l e ll esta condição foi alargada a todos os espaços
conquistados.
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Os diferentes estatutos das cidades


Estatutos das cidades do Império:
 Cidades criadas de novo e povoadas por romanos de Roma que optavam por
viver nas províncias conquistadas – eram as colónias e usufruíam de privilégios
e de direitos plenamente iguais aos de Roma;
 Povoações já existentes antes da ocupação romana que aceitaram
pacificamente a autoridade de Roma – eram consideradas cidades aliadas ou
livres;
 As povoações que ofereciam maior resistência à ocupação romana eram
consideradas cidades confederadas e estipendiárias (pagavam um tributo-
stipendium).

A afirmação de uma cultura urbana e pragmática


A padronização do urbanismo
Padronização do urbanismo: reorganização das cidades existentes ou fundação de
novas à imagem de Roma.
Esta padronização ocorria para oriente, onde os Romanos se depararam com cidades já
edificadas, ou para ocidente, onde os avanços civilizacionais eram menos notados.
Roma e a cidade romana cresceram sob o signo do racionalismo no seu traçado e do
pragmatismo e da monumentalidade na sua edificação.

O racionalismo urbanístico
Cidades romanas:
 Plantas retilíneas- ruas perpendiculares
 Cardo – grande rua que atravessava a cidade de um extremo ao outro (orientação
norte-sul)
 Decúmano- outra rua que com
ele se cruzava numa grande
praça central – o fórum.
(orientação este-oeste)
 Fórum- centro da vida pública
das cidades romanas. Grande
praça em torno da qual se
erguem os edifícios religiosos e
administrativos mais
importantes. Entre eles,
templos, a Cúria (onde se
reunia o Senado) e a Basílica
(onde funcionava o tribunal e
se realizavam reuniões mais
importantes).
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O pragmatismo e a monumentalidade das cidades romanas


Pragmatismo- privilegia o sentido prático das coisas.
A cidade para os romanos deve proporcionar conforto e satisfação das necessidades
aos que nela habitam. Valorizam a utilidade e eficiência dos espaços e edificações.
 Aquedutos – para conduzir a água dos reservatórios naturais até aos fontanários
públicos e às casas particulares;
 Fontanários- públicos e domésticos;
 Complexos termais;
 Circos – onde se realizavam as corridas de cavalos e de carros;
 Anfiteatros – local de diversão, palco de lutas com animais selvagens e com
gladiadores; o mais conhecido é o Coliseu de Roma (séc. I);
 Teatros – ao ar livre, onde se representavam as tragédias e comédias;
 Ginásios e estádios- Competições físicas;
 Bibliotecas;
 Mercados públicos;
 Monumentos comemorativos- estátuas, arcos de triunfo, colunas e pórticos;
 Domus- casa particular, onde moravam os cidadãos mais ricos (em Roma,
espalhavam-se pelas colinas), com jardim interior, atrium, piscina e outras
comodidades;
 Insula – casa colectiva alugada, lembrando os actuais imóveis, alta e frágil,
construída em tijolo e madeira, que ruía com frequência ou era vítima de incêndios.

A fixação de modelos artísticos


O pragmatismo também está presente na arte e na literatura romanas.
 Não criam modelos originais pois tiveram contacto com outros povos;
 Respeitam e aproveitam os valores culturais com que se iam cruzando –
introduzem inovações para o respetivo ajustamento a uma cultura liderada
através da funcionalidade e utilidade.
A arte romana é marcada por influências etruscas, gregas e helenísticas, contudo a
grega é a mais presente. Afinal, a Grécia foi conquistada política de militarmente pelos
romanos.
A arquitetura é a expressão artística mais poderosa da cultura Romana.
Os Romanos desenvolvem a nova ordem – a ordem compósita.
 Uso de materiais como o tijolo, o mármore, argamassas;
 Uso de mármore;
 Uso de mosaicos;
Aprofundou novos conhecimentos como:
 Arco de volta perfeita;
 Abobada de berço;
 A cúpula;
 Uso da planta circular;
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O luxo, a grandiosidade e a simetria das formas são algumas de suas características.


Como exemplos de obras estão os templos, termas, basílicas, anfiteatros e arcos do triunfo.
A influência dos gregos e dos etruscos na arte latina é incontestável – incluindo
a arquitetura, a pintura e a escultura. Portanto, os romanos não teriam criado um estilo próprio.
Na verdade, tudo o que eles fizeram provém da uma união entre conjuntos de elementos
gregos – que priorizavam o ideal de beleza – e etruscos – que expressavam a realidade
quotidiana.
Os romanos se apropriaram dos ensinamentos que haviam recebido e os modificaram –
em alguns pontos até aprimoraram. Por exemplo, eles acrescentaram aos estilos herdados –
dórico, jônico e coríntio – duas novas formas de construção na arquitetura romana: a toscana e
a compósita.

A apologia do Império na épica e na historiografia


A poesia épica
A celebração de feitos gloriosos motivou o culto da poesia épica. É um estilo explorado
sobretudo na época de Augusto.
 Poetas e escritores romanos celebravam Roma como capital do mundo e o
imperador como melhor dos governantes.
 Através de Mecenas, surgiu um grupo de poetas que, pela riqueza das
temáticas tratadas, pela forma como cultivaram o latim e pelas influencias que
exerceram nos seculos seguintes, se tornaram os maiores vultos da literatura
latina.
 Virgílio (70 a.C. – 19 a.C.) – autor de Eneida, uma epopeia que canta as origens
mitológicas de Roma e da família imperial, bem como a ação conquistadora do
povo romano.

A historiografia
Os intelectuais romanos davam grande importância à narração historiográfica dos
feitos do passado:
 Engrandeciam Roma e os seus imperadores para impressionar os povos
dominados.
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 Tito Lívio (59 a.C.- 17) – relatou a história de Roma desde o momento da sua
fundação mítica na obra Ab urbe condita (Desde a fundação da cidade). Tinha o
objetivo de «lembrar os altos feitos do primeiro povo do mundo».
 Tácito (55-120) - Anais e Histórias – continuidade às narrações de Tito Lívio.

A formação de uma rede escolar urbana e uniformizada
No império romano existia uma rede de escolas distribuída e implementada pelo
Estado.
O Estado via esta instituição como um importante instrumento de unificação cultural
das populações. Roma incentivava as cidades a criarem as suas escolas e a conceder privilégios
e regalias aos professores.
A Educação oferecida tanto a rapazes quanto a raparigas dispunha das seguintes
etapas:
 Dos 7 aos 12 anos- leitura, escrita, cálculo, aprendizagem de princípios cívicos,
decoravam-se pedaços de poesias;
 Dos 12 aos 15 anos – línguas, literatura, História, geografia, matemática, astronomia e
música;

A partir dos 17 anos destinava-se só a rapazes ou a elites sociais. Aprendia-se a


retórica, o direito para proporcionar bases para a carreira política.

A romanização da Península Ibérica


A conquista da Península Ibérica
Os primeiros sinais da presença romana nas praias ibéricas remontam no ano de 218
a.C.,ao atacarem as oposições cartaginesas. Em 206 a.C., já derrotados os cartagineses, os
Romanos já dominavam todo o Sudeste da península.
No Norte e Ocidente Ibéricos o processo de ocupação foi dificultado pelo carácter
aguerrido dos povos indígenas: Lusitanos, Cântaros, Ástures e os Galaicos, com os quais os
romanos tiveram de combater.
Ao fim de 2 séculos (208 a.C. – 19 a.C.) toda a península estava pacificada e a Hispânia
transformada no meios romano de todos os territórios a seguir à Península Itálica.
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A organização administrativa
Desde cedo os romanos preocuparam-se em consolidar a sua autoridade
administrativa.
Antes do fim da guerra com o Cartago, a Hispânia foi dividida em 2 províncias:
 Citerior (Nordeste mediterrânico);
 Ulterior (Sul/Sudeste);
Durante o império de Augusto a organização administrativa da Hispânia passou de2
para 3 províncias:
 Bética;
 Tarraconense;
 Lusitânia;

A reorganização económica
Depois de vencidas e pacificadas, estas populações dominadas pelos Romanos
desceram para as planícies férteis, onde passaram a dedicar-se às atividades agrícolas e
comerciais, ao mesmo tempo que começavam a apreciar os prazeres materiais ensinados pelo
vencedor.
Assim, ocorreu uma profunda alteração do regime de propriedade e do carácter da
economia.
 A propriedade comunitária deu lugar à produção individualista;
 A economia predominantemente pastoril deu lugar a uma economia agrícola;
 Formam-se amplas propriedade fundiárias: exportação de produtos ibéricos;
 Pecuária – atividade paralela à agricultura, com vista na produção de carne, lã
e pele.
 Indústrias- extração de mineiros, tecelagem, olaria, produção de sal, conserva
de peixe.
Esta atividade produtiva levou a uma maior dinâmica da atividade comercial.

Uma nova sociedade


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População ibérica- via-se misturada com os legionários romanos e comunidades de


migrantes civis.
Estas, vinham em busca de novos modos de vida, fugidos da política vivida em Roma
ou de perseguições.
O dinamismo comercial ibérico atraiu ainda prósperos comerciantes com as suas
comitivas, levando à renovação social das populações ibéricas.

Os novos valores culturais


As autoridades provinciais ibéricas tinham o dever de mostrar a grandeza do poder
romano:
 Clima de paz e de confiança;
 Respeito e tolerância pelas culturas locais;
 Promoção dos benefícios da cultura e dos modos de vida romanos.
Esta atitude política insere particular cuidado:
 Difusão de novos tipos de casa e de vestuário (tijolo, toga);
 Criação de novos espaços urbanos ou reorganização dos já existentes
(templos, teatros, circos, aquedutos, balneários…);
 Traçado de uma rede de amplas vias;
 Exercício cuidado da justiça;
 Culto religioso (culto a Roma e ao imperador);
 Criação de escolas (importância na aprendizagem do latim);

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