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O Modelo SAMR

O Substitution, Augmentation, Modification e Redefinition (SAMR) pretende ser um modelo para


a integração da tecnologia na relação ensino-aprendizagem. O referido modelo, criado pelo Dr. Ruben
Puentedura, é representado por uma escada com 4 níveis diferentes do uso da tecnologia na educação.
O modelo é dividido por uma linha pontilhada que representa o limite em que o professor deixa de usar
a tecnologia para o aprimoramento (Substitution e Augmentation) e passa a usá-la para transformar o
aprendizado (Modification e Redefinition), como pode ser visto na imagem abaixo.

No nível Substitution, a tecnologia age como um substituto de uma ferramenta analógica, mas
sem alteração funcional. É o caso de, por exemplo, uma tarefa em que os alunos respondem às
perguntas no computador ao invés de no caderno. No nível seguinte, Augmentation, a tecnologia continua
sendo uma substituta, mas gera uma alteração positiva, como, por exemplo, o uso do revisor de ortografia
e gramática disponível na ferramenta do Word ao escrever um texto. Assim, em ambos os níveis, a
tecnologia serve para aprimorar a atividade proposta em sala de aula, mas não promovem nenhuma
transformação na relação ensino-aprendizagem, apenas reproduzem práticas pedagógicas anteriores.

Entretanto, quando passamos para os dois níveis superiores, há uma modificação significante
da prática pedagógica ao incorporar a tecnologia, mas mantendo o que Puentedura denominou de “heart
of matter”, ou seja, o ponto fulcral da matéria. Assim, o nível Modification requer um replaneamento de
uma tarefa com a integração da tecnologia, como, por exemplo, o uso de uma ferramenta colaborativa
(Google Docs, Google Slides) em que os alunos possam compartilhar seu trabalho com seus pares e
receber feedback. Por fim, no nível Redefinition, é possível a criação de novas tarefas através da
tecnologia. Neste caso, por exemplo, os alunos podem criar e editar vídeos sobre determinado conteúdo
da disciplina. Estes dois níveis contribuem para uma transformação na aprendizagem, promovendo
habilidades de alto nível de pensamento, como analisar, avaliar e criar (Commom Sense Education,
2016).

O professor deve, portanto, estar sempre a buscar “subir os degraus” do modelo SAMR e
transformar o planeamento de suas práticas de aprendizagem através da incorporação da tecnologia em
sala de aula. Para isso, o docente pode fazer as seguintes perguntas: (i) O que eu vou ganhar se substituir
a antiga tecnologia pela nova tecnologia?; (ii) Eu adicionei uma melhoria ao processo da tarefa que não
poderia ser realizada com a tecnologia mais antiga?; (iii) Essa modificação depende fundamentalmente
da nova tecnologia?; (iv) Como a nova tarefa é possibilitada exclusivamente pela nova tecnologia?
(Commom Sense Education, 2016c).
Aspetos positivos do Modelo SAMR:

De acordo com Dr. Puentedura, o bom uso da tecnologia em sala de aula (nomeadamente os
níveis Modification e Redefinition) permite que os alunos se engajem na exploração de diferentes áreas
que não explorariam sem o uso desta ferramenta, uma vez que estão a ser protagonistas na construção
de sua aprendizagem (Commom Sense Education, 2016a).

Ademais, os resultados mostram que trabalhar nos dois níveis mais altos do SAMR tende a estar
associado com maiores ganhos por parte dos alunos na compreensão, não só na quantidade de
informações, mas também em relação à mobilização dessas informações. Isto possibilita uma maior
agência e maiores possibilidades para o uso do conhecimento (Commom Sense Education, 2016b).

Aspetos negativos do Modelo SAMR:

Segundo Hamilton, Rosenberg e Akcaoglu (2016), existe um número limitado de evidências


qualitativas e quantitativas para embasar a diferenciação entre os níveis do SAMR, e isto gera, por vezes,
diferentes interpretações e representações deste modelo. Algumas destas representações, encontradas
numa rápida busca on-line, não estão propriamente alinhadas com as definições propostas por
Puentedura e podem gerar distorções no seu modelo.

Os três autores mencionados acima também criticam a representação de Puentedura uma vez
que este modelo não considera o contexto em que se dá as relações de ensino-aprendizagem. Ou seja,
“important contextual components, such as technology infrastructure and resources (…), community buy-
in and support (…), individual and collective student needs (…), and teacher knowledge and support for
using technology (…) are not recognized” (Hamilton, Rosenberg & Akcaoglu, 2016, p. 6). Assim, o modelo
SAMR é demasiado generalista, posto que o contexto em que o professor ensina é importante e está
relacionado ao ensino e à aprendizagem.

Além disso, o modelo SAMR possui uma estrutura rígida de taxonomia e ignora a complexidade
de integrar a tecnologia ao ensino ao definir e organizar o uso da tecnologia pelos professores de forma
predefinida. Desta forma, tal modelo não leva em conta o processo dinâmico do fenómeno abordado.
Ressalta-se, ainda, a ênfase do modelo SAMR no produto e não no processo. Neste sentido, como
argumentam Hamilton, Rosenberg e Akcaoglu (2016), o objetivo do uso da tecnologia educacional
deveria ser aprimorar o processo de aprendizagem do aluno, entretanto o esquema proposto por
Puentedura foca no produto (isto é, na atividade instrucional).
Considerações Finais

O modelo SAMR proposto por Ruben Puentedura possui, como qualquer esquema graficamente
representado, suas potencialidades e limitações. Neste sentido, o referido modelo pode ser um bom
ponto de partida para entender a integração da tecnologia em sala de aula, uma vez que aborda 4
grandes arquétipos presentes na realidade escolar e instiga o professor a “subir os degraus” do esquema
para alcançar o nível mais alto. Igualmente, o modelo SAMR também pode despertar alguns
questionamentos por parte dos professores em relação ao uso da tecnologia nas suas práticas
pedagógicas, posto que a grande maioria dos profissionais da educação não refletem sobre os reais
objetivos deste uso e acabam por normalizar algo que deveria ter fins educativos explícitos.

Por outro lado, o modelo de Puentedura também não deveria ser o único suporte consultado
pelos professores por ser demasiado simplista. O esquema não considera uma série de aspetos
extremamente relevantes para pensar a integração digital nas escolas como, por exemplo, o contexto em
que elas estão inseridas e o processo de aprendizagem dos alunos. Assim, é importante buscar discutir
e aprimorar o modelo SAMR, além de criar outras representações mais complexas sobre a temática
abordada, para que seja realmente possível transformar a prática educativa através do uso da tecnologia
no contexto escolar.

Bibliografia

Commom Sense Education. (2016a, 12 de julho). How to Apply the SAMR Model with Ruben Puentedura
[Vídeo]. Youtube.
Commom Sense Education. (2016b, 12 de julho). The Impact of the SAMR Model with Ruben Puentedura
[Vídeo]. Youtube.
Commom Sense Education. (2016c, 12 de julho). What Is the SAMR Model? [Vídeo]. Youtube.
Hamilton, E. R., Rosenberg, J. M., & Akcaoglu, M. (2016). Examining the Substitution Augmentation
Modification Redefinition (SAMR) model for technology integration. Tech Trends, 60, 433-441.
http://dx.doi.org/ 10.1007/s11528-016-0091-y
Spencer Education. (2015, 04 de novembro). What is the SAMR Model and what does it look like in
schools? [Vídeo]. Youtube.

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