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tem essa característica, pois desde seu lançamento em 2014 passou por diversas
atualizações, e alterações, incorporando funcionalidades e melhorando algumas já
existentes, tendo como Simondon fala, uma continuidade de sua invenção até sua forma
atual. Pode-se dizer que essa ferramenta sai do abstrato para um nível mais concreto.
Segundo Cupani, Simondon (1989, in CUPANI, p.60, 2016) analisa a gênese e evolução
do objeto técnico, para evitar classificações.
Ainda, como apontado por Cupani ao se referir a Simondon (CUPANI, p.60, 2016),
de início o objeto técnico é um conjunto de partes externas umas a outras, cada uma
intervindo num determinado momento para produzir o funcionamento do conjunto. Para
ingressar em uma turma Google Classroom, é necessário ter um e-mail Gmail, que tem
sua funcionalidade clara, e lá dentro dependendo da intencionalidade pedagógica,
acessar outras ferramentas, como videoconferência via Google Meet, avaliações no
Google Formulário, ou outro recurso que o professor tenha programado. Além disso, o
Classroom também se liga à Agenda Google do professor e alunos, criando
automaticamente compromissos (de entrega de trabalhos ou avaliações) para ambos.
Assim, são partes ou recursos distintos que trabalham conjuntamente durante a utilização
dessa ferramenta, chegando a uma unidade (“sintética”).
Essas partes que convergem dentro da turma Google Classroom, pode ser
entendida também dentro dos três níveis de mundo propostos por Simondon (2020). O
primeiro, diz respeito ao elemento (SIMONDON, 2020), historicamente situado no século
18, e os objetos técnicos existem para melhorar constantemente a vida humana, sem
ameaçar hábitos tradicionais. Nesse nível, as tecnologias seriam acessórias, não
disputando espaço com o professor. A presença do Google Classroom no seu início se
assemelhava a um blog, um repositório onde o professor colocaria materiais selecionados
por ele para enriquecimento de conteúdos dos alunos.
O segundo nível, chamado do indivíduo por Simondon (2020) traz a visão das
máquinas como antagonistas do ser humano, numa visão que leva à tecnofobia. Há na
educação uma resistência dos professores quanto ao uso de tecnologias digitais, um
exemplo é o convênio firmado entre a SEED/PR e o Google que data de 2017, mas que
apenas por ocorrência da pandemia COVID-19, em 2020, a mantenedora e professores
passaram a usar e conhecer os recursos educacionais atrelados a tal convênio. Entender
essa possível visão tecnofóbica requer analisar diversos pontos. Desde a formação dos
professores para conhecer e utilizar tecnologias digitais, passando pela infraestrutura das
escolas, necessária para o pleno funcionamento desses recursos, como também do
próprio modo de existência desses objetos técnicos. Originariamente, as tecnologias
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como internet e redes sociais não foram pensadas para ambientes educacionais, mas
para o comércio.
No caso do Google Classroom, ele utilizou de partes existentes para ser pensado
dentro do ambiente virtual educacional. Os feedbacks e alterações que desde 2014 até o
presente momento, mostram a redução progressiva das funções de estruturas, definindo
o progresso técnico nas palavras de Simondon. Cupani (2016), destaca o trecho em que
“o objeto técnico existe, pois, como um tipo específico obtido ao
final de uma série convergente. Esta série vai do modo abstrato ao
modo concreto: ela tende para um estado que faria do ser técnico
um sistema completamente coerente consigo mesmo,
completamente unificado” (SIMONDON, 1989, p. 23, in CUPANI,
p.60, 2016).
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recurso seria ignorado.
Há níveis de concretização técnica nativa no Google Classroom, por exemplo, o
professor pode programar a reutilização de atividades e materiais para determinado dia e
horário e a programação do Classroom atuará sem a necessidade da intervenção no dia e
hora programados. A existência do recurso dentro da conta Google também fica fora da
dependência de humanos, sendo tudo já programado, de forma estável, entretanto, como
Simondon (2020) aponta, “todo objeto técnico possui em alguma medida aspectos de
abstração residuais”.
O Google Classroom é um objeto técnico que remonta à comunicação digital, por
e-mail, ou aos primórdios da educação à distância via cartas enviadas pelo correio.
Entretanto, há nesse objeto o que Simondon chama de “hiperteleologia”, uma "sobre
adaptação funcional” ao tempo e espaço que vivemos agora. Não seria possível enviar via
carta um vídeo ou áudio, e com esse objeto técnico isso ocorre. Assim, este objeto
técnico existe em um meio técnico-geográfico (sendo que ele pode existir em qualquer
território porque também existe de forma virtual na Internet). A adaptação-concretização
que ele sofre gera um novo meio, chamado de meio associado. Assim, o Google
Classroom enquanto objeto técnico tem em si a condição de existência e do seu meio
misto, técnico e “geográfico” ao mesmo tempo. O meio ao qual ele está é o digital, online,
sendo utilizado de diversas formas, mas a técnica que o constitui se mantém (porém,
pode ser direcionada pelas mudanças no meio associado). É o que Simondon (2020)
apresenta como a naturalização do homem, que cria um meio técnico geográfico possível
pela inteligência humana, que auto condiciona o esquema de funcionamento do objeto
técnico às suas necessidades.
Essa evolução técnica que tratamos até aqui é possibilitada e explicada por
Simondon (2020) como “tecnicidade”. Esta nada mais é do que a qualidade do uso, aquilo
que nele se acrescenta a uma primeira determinação dada pela relação entre forma e
matéria. E que aumenta o grau de concretização do objeto. Almeja ultrapassar o mero uso
que ignora a essência do objeto técnico. Ao fazer isso, estes seriam percebidos e usados
como “portadores de informação sobre esquemas funcionais” [...] testemunhas da
maneira como o ser humano elaborou o modo de agir sobre o mundo (CUPANI, 2016).
A evolução passada de um ser técnico fica como algo essencial
desse ser sob a forma da tecnicidade. O ser técnico, portador da
tecnicidade [...] não pode ser objeto de um conhecimento adequado
a menos que este último capte nele o sentido temporal da sua
evolução: este conhecimento adequado é a cultura técnica, diferente
do saber técnico que se limita a captar na atualidade esquemas
isolados de funcionamento [...] (SIMONDON, 1989 in CUPANI, p.60,
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2020).
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possibilidades é a formação permanente que ultrapassa o simples uso reducionista do
objeto técnico por sua função, mas também o entendimento de quais as forças sociais,
econômicas e políticas que transitam no seu modo de existir.
O terceiro mundo ou nível apontado por Simondon (2020) refere-se aos conjuntos
técnicos, os quais reportam a era da informação. Os conjuntos são semelhantes às redes,
e nesse sentido é o que mais se aproxima do objeto técnico analisado neste texto. No
nível dos conjuntos o grupo em uma consciência da sua relação com o objeto técnico,
com juízos de valor diversificados, no caso estudado, parte do professorado pode ver o
Google Classroom como uma ferramenta que os auxilia em determinadas tarefas,
enquanto outros podem discordar, entendendo o objeto técnico como uma forma de
controle e poder sobre as ações dos professores. Simondon analisa esse terceiro nível,
correspondendo-o ao progresso otimista do século XVIII e a melhoria das tecnologias e
também ao progresso pessimista e dramático do século XIX, que via a substituição do
humano pelo indivíduo-máquina, por não enxergar a natureza do homem como portador
de ferramentas - e, portanto, concorrente da máquina -, mas inventor de objetos técnicos
capazes de resolver problemas de compatibilidade entre as máquinas num conjunto. O
tecnólogo que entende as máquinas e as cria ou regula, no nosso estudo não faz parte
dos usuários, sejam professores ou alunos. São os engenheiros do Google, inalcançáveis
pelos usuários comuns. O engenheiro coordena e organiza a relação mútua que as
máquinas mantêm, como Cupani (2016) exemplifica:
Mais do que governá-las, ele as compatibiliza, é agente e tradutor de
informações de máquina para máquina, intervindo na margem de
indeterminação contida no funcionamento da máquina aberta, capaz
de receber informações. O homem constrói a significação das trocas
de informações entre máquinas. (SIMONDON, p.41, 2020)”
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MANCEBO, 2020) no qual o ensino remoto foi vantajoso para empresas educacionais,
pois reduziu o gasto de folha de pagamento, havendo um número menor de professores
para maior quantidade de estudantes, uma vez que o número de pessoas estudando pela
internet pode ser muito superior ao que comporta uma sala de aula.
Nesse ensaio analisamos o Google Classroom, que pode ser entendido como um
LMS, enquanto um objeto técnico segundo Simondon (2020), e assim em que medida ele
é abstrato ou concreto, em quais mundos ou níveis pode ser classificado e de que
maneira a tecnicidade atua sobre ele enquanto ferramenta utilizada pela rede pública
estadual do Paraná. Ainda assim, não é possível desconsiderar as influências
corporativas, econômicas e políticas na opção de uma ferramenta como esta, a qual
pertence a uma grande corporação de tecnologia de informação - Alphabet/Google
(MANCEBO, 2020). Mancebo (2020) alerta que estas corporações têm objetivos
econômicos e políticos claros e que nem sempre coadunam com o que se almeja no
campo educacional. É importante ficar alerta para que a utilização da ferramenta seja uma
extensão positiva da ação docente e não a substituição do mesmo pela máquina, ou que
esta seja instrumento para precarizar as relações de trabalho no ambiente educacional.
Sendo o homem o depositário da tecnicidade e que quanto mais este atua sobre o
objeto técnico Google Classroom, mais traz concretude à ferramenta, tomamos aqui o
posicionamento de que este recurso pode ser um auxiliar na prática pedagógica dos
docentes da rede pública estadual do Paraná, desde que alguns pontos estejam
presentes nas escolas e na própria Secretaria de Educação.
O primeiro refere-se à formação permanente para desenvolver o conhecimento da
ferramenta, a nível de existência da tecnicidade na forma do instrumento, propiciando ao
homem, ser um portador da ferramenta, em uma espécie de simbiose instintiva com o
objeto técnico usado em determinado meio, segundo a intuição e o conhecimento
implícito, quase inato (SIMONDON, 1989 in CUPANI, p.40, 2016). Entende-se aprender
sobre a ferramenta como o modo de existência do objeto técnico, sua evolução, as forças
políticas e econômicas que regulam seu devir e, como o professor pode utilizar da
ferramenta para facilitar suas ações, consciente das forças econômicas e políticas que
também atuam sobre o objeto técnico.
O segundo ponto é determinar os limites de abstração e concretização da
ferramenta, dando ao professor possibilidades de autoria e domínio do objeto técnico
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Google Classroom, dentro das possibilidades impostas pela empresa que o desenvolve.
O quanto de autonomia a ferramenta possibilita ao professor e o quanto de tempo ela
pode poupar em tarefas burocráticas? Quanto a SEED estaria disposta a disponibilizar
(de formações e também de autonomia, versus a possibilidade que a ferramenta dá de
controle e auditoria das turmas no Estado inteiro?)
Ao entender o modo de existência do Google Classroom, é possível relacioná-lo
com outras opções disponíveis, e analisar quais atendem melhor os anseios educacionais
da rede estadual de ensino no Paraná. Isso seria o que Simondon chama de consciência
técnica, posicionando os professores entre os pólos de artesão e engenheiro, entre a
cultura enciclopédica e técnica, fomentando uma atitude adequada em relação ao mundo
técnico. Para Simondon (2020) a exterioridade das máquinas com relação ao ser humano
é uma alienação, isso porque a máquina não prolonga o esquema corporal, e que
precisamos de uma cultura tecnológica, só possível quando nos familiarizarmos com o
modo de existir e funcionar das máquinas. O primeiro passo é saber lidar bem com os
elementos técnicos da máquina (operar os comandos do Google Classroom) mas também
conhecer o funcionamento do conjunto técnico (quais as engrenagens que fazem os
engenheiros otimizar uma função no Google Classroom em detrimento de outras, para
assim evitar a alienação tanto do operário quanto do capitalista).
Por fim, é necessário desenvolver o que Simondon chama de cultura tecnológica
(SIMONDON, 2020), a qual necessita compreender as máquinas, no sentido de como são
constituídas suas partes e seus conjuntos técnicos. Entender os esquemas de
funcionamento e sua evolução são tão importantes quanto entender as formas que
momentaneamente tomam os elementos e indivíduos técnicos. Assim se desenvolvem os
tecnólogos, pessoas responsáveis para com o mundo técnico e que detém a sabedoria
técnica. Eles seriam os representantes dos setores técnicos perante os que elaboram a
cultura em sentido tradicional (escritores, artistas e contribuíram para a uma mediação
entre a técnica e o poder.
Na estrutura da educação pública estadual do Paraná, esses profissionais
poderiam ser professores que atuam nos núcleos regionais de educação, na função de
assessores pedagógicos das coordenações regionais de tecnologias educacionais
(CRTE), que antes de 2007 eram técnicos pedagógicos dos Núcleos de Tecnologia
Educacional (NTE) e tinham a função de assessorar os demais profissionais da educação
na utilização e pesquisa de tecnologias educacionais diversas. Defendo o posicionamento
de que esses profissionais são mais necessários do que já foram em algum ponto da
nossa história educacional.
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Referência Bibliográfica
GOOGLE. Mais ensino, menos tecnologia. O Google Sala de Aula é lançado hoje.
Disponível em: <https://cloud.googleblog.com/2014/08/more-teaching-less-tech-ing-
google.html> Acesso 13 Ago 2021.