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Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Programa de Pós-graduação em Formação Científica Educacional e Tecnológica


Doutorado Profissional em Ensino de Ciências

Disciplina de Bases Epistemológicas para a Pesquisa no Ensino de Ciências


e Matemática

Professor Dr. Marcelo Lambach

Aluna: Andrea da Silva Castagini Padilha

IDENTIFICAÇÃO
A FENOMENOLOGIA EXISTENCIAL: UM MÉTODO DE ANÁLISE, UMA
EPISTEMOLOGIA DAS POSSIBILIDADES

AUTORES
Caroline Lisian Gasparoni
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos - Unisinos
Luciane Rocha Ferreira Pielke
Doutoranda pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do
Vale do Rio dos Sinos – Unisinos.
Mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade do Vale
do Rio dos Sinos – Unisinos.
Luiz Augusto Passos
Professor Doutor no Programa de Pós - Graduação em Educação da Universidade
Federal do Mato Grosso – UFMT.

REVISTA
Revista Online Revisão em Ação é uma Revista B1 (Educação) e A2 (Ensino), do
Programa de Pós-Graduação em Educação - Mestrado e Doutorado da Universidade de
Santa Cruz do Sul - UNISC. É quadrimestral, com discussão das problemáticas
contemporâneas da área educacional, compreendidas em sua historicidade e
complexidade.
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RESENHA

Os autores apresentam no resumo a fenomenologia como uma abordagem metodológica


enquanto prática pesquisante e seus os referenciais. A metodologia foi a análise de uma
dissertação de mestrado e uma tese de doutorado em educação. O artigo desenvolve o
que os autores entendem sobre a fenomenologia enquanto método ou metodologia e
como o dialogismo fenomenológico existencial pode auxiliar as ciências humanas e a
educação, sendo esta uma epistemologia das possibilidades.
A introdução traz como os autores compreendem fenomenologia, sendo esta “uma
filosofia encarnada na existência nua e crua: em suas diversas interconexões e formas de
expressão.” E apresenta um breve histórico do seu surgimento e como a fenomenologia
foi transformada ao longo das influências e contribuições de outros autores. Colocam que
além de corrente filosófica, a Fenomenologia pode ser considerada como um método de
análise. Segundo Resende, esta vertente “pode ser ao mesmo tempo método e tema”. E
para trabalhar nesta perspectiva é necessário uma dialogicidade constante entre método,
metodologias, pesquisadores, as pessoas e as realidades.
Ao reconhecer sua complexidade e ambiguidade, os autores encaram a fenomenologia
como projeto em (re)construção dialética com os tempos e lugares enredados nos modos
de ser gente e viver o mundo: nele e com ele. O “vir-a-ser, não linear e reversível” que
caracteriza o método. Como não é um modelo e sim um método para refletir como é
construído o conhecimento (epistemologia), então questiona as certezas e “pretensas
soberanias paradigmáticas que nos alijam da encarnação por moldes eurocêntricos”.
Nessa perspectiva, provavelmente associa a temática com os escritos de Boaventura de
Souza Santos, descentralizando e democratizando modelos que não sejam
exclusivamente os criados dentro das epistemologias do Norte.

No artigo, na parte método fenomenológico, os autores apresentam os dois precursores


da fenomenologia, Husserl e Merleau-Ponty, e a escolha pelo último. A partir dele,
propõem no artigo a Fenomenologia enquanto método de análise compreensiva que
intenta conciliar dialeticamente a dimensão analítica por partes. Para Merleau-Ponty é
necessário ampliar dimensões que permitam o dialogismo e que acolham argumentos que
podem ser invisíveis. O dialogismo por si remete à Paulo Freire e a questão de observar o
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que o outro pensa, diz e vive.


Para a fenomenologia existencial nós, seres humanos, não somos objetos, coisas, nem
apenas sujeitos, conscientes para si mesmos. A pesquisa com este método deve ser
sensível a isso, e entender o mundo inteiro como campo de pensamentos e percepções,
não existindo uma única verdade. Inclui na visão interpretativa do fenômeno a própria
visão do pesquisador, junto com a do sujeito que o constitui, que foi observado.
Explica o método Fenomenológico merleau pontyano como a capacidade do pesquisador
de formular a experiência do seu ponto de vista, sem ser subjetivo, porque localiza
historicamente, para ler aspectos do mundo plausíveis e compreendê-lo em suas
dimensões próprias, e dialogar com outros corpos e olhares. Em outras palavras, analisa
o que vê, mas o que vê não é a única fonte, leva em conta o ponto de vista de outros
participantes que constituem aquela realidade, criando uma intersubjetividade.
Enquanto metodologia, ajuda a ampliar as estratégias argumentativas, interpretativas e
compreensivas em diálogo com os objetivos traçados pela pesquisa. Há um respeito aos
contextos possíveis, que são tratados por autores como Freire e Boaventura de Souza
Santos (e Fanon).
Na Fenomenologia Existencial, o estudo se opera entre parte-todo (intencionalidade do
Micro para o Macro, dialeticamente) e entre a (inter) subjetividade em relações, que é o
que dá sentido à existência dos sujeitos. Neste movimento, assumem os significados
individuais e coletivos em constante conflito, imersos entre contradições, avanços e
retrocessos. Há três passos principais: constatação, análise e interpretação e proposições
construídas.
O primeiro passo, o da constatação, se refere à realização de uma descrição densa do
fenômeno. Segundo Rezende (1990) “para se compreender é preciso ir fundo na origem
das simbologias utilizadas pelos indivíduos na sociedade e compreendê-las como
características inerentes ao ser humano.” Nesse sentido, é importante treinar o
pesquisador para um olhar aguçado, e não é coincidência que a fenomenologia esteja
ligada à psicologia, pois o psicólogo deve estar atento às palavras e ações do paciente,
assim como o pesquisador deve estar atento ao que é dito e ao que não é dito pelos
sujeitos envolvidos em sua pesquisa. Contudo, deve-se saber que há nele também
subjetividade na observação, do próprio aparelho sensorial e do cognitivo pode influenciar
o que o pesquisador vê e o que não percebe.
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O segundo passo, de análise e interpretação da descrição realizada, envolve um olhar


cuidadoso do pesquisador frente ao material descrito. Aqui os autores trazem a
intersubjetividade do pesquisador que interpreta outras subjetividades. Surge, então, a
intersubjetividade no encontro do eu para o outro e do outro para mim. A descrição
iniciada no primeiro passo, é agora analisada e interpretada. Da mesma forma que a
observação pode ser condicionada e subjetiva pelo pesquisador, a análise e interpretação
também. Assim, é necessário o pesquisador identificar o que é subjetivo do outro e o que
é subjetivo dele próprio para tecer qualquer análise.
O terceiro passo é das proposições, tem sua explicação apoiada em Freire sobre vencer a
dicotomia entre entre o dito e o não dito, o material e o imaterial. Mundo e consciência
deste são uma só coisa. Segundo os autores, a perspectiva da Educação Popular
freireana é um exemplo do processo dialógico radical com a fenomenologia
merleaupontyana, isso porque abrange as muitas dimensões do ser e do mundo, o
inacabamento do mundo e do ser, a intencionalidade; a polissemia do ser e do mundo.
Os autores apontam a questão das perspectivas e horizontes, dimensões centrais no
processo de compreensão da realidade como sendo convergência entre o pensamento de
Freire e Merleau-Ponty. Remete ao legado fenomenológico à filosofia e à ciência que se
pretende autêntica ao seu contexto – lugar, pessoas, processos, dinâmicas e
intencionalidades – sem pretensões de verdades absolutas ou explicações
determinísticas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nas considerações os autores apresentam que o objetivo do texto foi de compartilhar
considerações do método fenomenológico como construção de um paradigma para
abordagens metodológicas populares, entendendo que por populares remetam à
educação freireana. Justificaram que usaram da dialética e dialogismo como alternativas
pedagógicas para o processo da análise e escrita do mesmo. As conclusões
fenomenológicas são possibilidades, e tiveram como espaços a Educação Social e
Popular, com as questões sociais e políticas como estratégia para emancipação humana
(claramente freireana).
A complexidade do texto não permitiu identificar de forma clara a fundamentação
metodológica que serviu de base para colocar a fenomenologia como um método, que é o
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que o artigo se propõe. Não ficou evidente, por exemplo, o que encontraram de
similaridade entre a dissertação de mestrado e a tese de doutorado que puderam apoiar a
fenomenologia enquanto método. E pode ser que o próprio caráter da fenomenologia
impeça esse tipo de escrita. Entretanto, a escrita da fundamentação teórica está muito
bem feita, e situa o leitor dentro da fenomenologia e do recorte que os autores desejaram
fazer, com referenciais teóricos externos à temática.

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