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Ciência em Ação

Como seguir cientistas e engenheiros sociedade afora

BRUNO LATOUR
Parte III - De Pequenas a Grandes Redes -
Capítulo 5 – Tribunais da Razão

Partimos aqui da 5ª Regra Metodológica

“Com relação àquilo de que é feita a tecnociência, devemos


permanecer tão indecisos quanto os vários atores que
seguimos; sempre que se constrói um divisor entre interior
e exterior, devemos estudar os dois lados simultaneamente
e fazer uma lista (não importa se longa e heterogênea)
daqueles que realmente trabalham ( capítulo 4).”
Parte III - De Pequenas a Grandes Redes -
Capítulo 5 – Tribunais da Razão

Um aumento no número de elementos amarrados a


uma alegação tem seu preço;

Não tem um alcance muito grande;

Tecnociência sendo feitas em lugares novos,


raros, caros e frágeis;

Tecnociência como um rede;

Linhas telefônicas: conhecimento estar com tão


poucas pessoas, mas um ciência que cobre o mundo.
FONTE: Google Fotos 2021
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(1) Povoando o mundo com mentes irracionais

Como é que multidões que estão fora de rede vêem os


cientistas e os engenheiros, e de que modo julgam a parte de
fora dessas redes?
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(1) Povoando o mundo com mentes irracionais

Meteorologistas
x
Pessoas comuns

FONTE: Google Fotos 2021


Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(1) Povoando o mundo com mentes irracionais

Meteorologistas
x
Pessoas comuns
CONHECIMENT CRENÇAS
O

FONTE: Google Fotos 2021


Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(1) Povoando o mundo com mentes irracionais

As paixões podem deixar as


pessoas cegas a razão;

David Bloor – Explicação


Assimétrica;

Caminho reto: mente sã e um


método perfeito;

Curva: muitos fatores: culturais,


raça, anomalias cerebrais,
fenômenos psicológicos e fatores
sociais.
FONTE: Latour, 2000
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(1) Povoando o mundo com mentes irracionais

Pessoas comuns atraídos pela


tecnociência;

Tecnociência desapareceu por conta


de mentes racionais, ou de mentes
racionais vítimas de mestres mais
poderosos.

FONTE: Latour, 2000


Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(2) Invertendo o resultado dos julgamentos de irracionalidade

Juri: Pessoas

FONTE: Google Fotos 2021


esclarecidas do
mundo Ocidental
Promotores:
Cientistas,
acusadores da
irracionalidade
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(2) Invertendo o resultado dos julgamentos de irracionalidade

Evans - Pritchard, Antropólogo Britânico - acusador da


irracionalidade do povo Azande.

Hereditáriedade.

FONTE: Enciclopédia da antropologia, 2021


Bruxos Frios e Quentes.

“É ilógico, diz o promotor, mas compreensível: uma


força social preponderou sobre a Razão.”

Contra-feiticeiro
Azande do séc. XIX,
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(2) Invertendo o resultado dos julgamentos de irracionalidade

Ilhas Trombriand - Sistema de posse de terras;

Promotores consideram simplesmente alógicos.

FONTE: Google Fotos, 2021


Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(2) Invertendo o resultado dos julgamentos de irracionalidade

Elisha Gray vs
Graham Bell

Desconhecido vs um
especialista

FONTE: Google Fotos, 2021


Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(2) Invertendo o resultado dos julgamentos de irracionalidade

Caso 1: Um antropólogo
africano vai a Londres, e a
contradição do “assassino”;

Caso 2: Advogado de defesa


inclui aos autos do processo o
contexto da discussão e o
sistema de posse fundiária
dos indígenas de Trobriand;

Caso 3: Advogado joga o


futuro na mesa, mostrando
que Bell ao final não foi
assim tão promissor, tendo Advogados de
que apelar para a ajuda dos Defesa: Alegações
especialistas. de defesa
FONTE: Google Fotos, 2021
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(2) Invertendo o resultado dos julgamentos de irracionalidade

“O afã de encontrar “causas para as


distorções” está fatalmente
prejudicado”;

Tentar inverter a conclusão;

1 - Contar a história, por um outro


viés, o que se aplique a sociedade de
quem está contando;

2 - Trazer o contexto para a história;

3 - Contar a história, mas de uma


maneira que ela prossiga;

4 - Contar a história onde a lógica Advogados de


também será infringida, se baseará em Defesa: Alegações
conhecimento não sobre crenças. de defesa
FONTE: Google Fotos, 2021
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(3) Endireitando crenças tortas

CONHECIMENT CRENÇAS
O Irracional
Racional
Crédulo
Cético
Preconceituoso
Fundamentado
Absurdo
Crível
Distorcido
Procedente
Obscuro
Lógico
Bitolodo
Sem Preconceitos
Parte A - Os julgamentos de racionalidade
(3) Endireitando crenças tortas

CONHECIMENT CRENÇAS
O

“ A única conclusão lógica de tal crença ilógica é que, afinal,


ninguém na Terra é RACIONAL O TEMPO TODO.”
Parte B - SÓCIO-LÓGICA
(1) Correndo de encontro às alegações dos outros

RELATIVISTAS
X
RACIONALISTA

FONTE: Google Fotos, 2021


Parte C - Quem precisa de fatos duros?

O que sabemos:
● Num debate científico existe simetria entre alegações, isto é, qualidades e defeitos.
● Apesar da simetria entre alegações, há um ponto de discordância, e isto reflete as visões de
mundo dos discordantes, o que gera o conflito de ideias.
● Racionalidade e irracionalidade: resultado de ataques à associações que lhe entravam o
caminho.
● O conflito estará entre as redes, mas decide-se o que cairá destas.
● A natureza é o término de todas as controvérsias, pois é direta e não possui influências.
● O que deve se perguntar é: se a natureza é direta, verdadeira e precisa, por que é possível um
ataque cruzar o caminho de outra pessoa, gerando acusações necessitando de defesa e
comprovações?
● Conflitos entre o lado de dentro e fora das redes.
(1)Por que não fatos moles?

Nem sempre serão satisfeitas as condições para os choques entre alegações.

Alistamento de muitos aliados para a construção do fato, o que exige controle.

As alegações são transferidas e transformadas, adaptadas ao seu próprio contexto. (Ex:


ditos populares)

Alegações são passíveis de rupturas, o que leva à irracionalidade

O exercício da ruptura leva à revisão de conceitos.


(2) Endurecendo os fatos

O exercício da ruptura não deve criar divisórias

A alegação ou afirmação deve dar margem para negociação, livre interpretação dentro do
contexto onde é inserida.

Flexibilidade e negociação: mais interesse e mais envolvidos na disseminação de ideias


(fatos moles).

Controle e menor negociação: menos interessados e mais recursos para endurecer os fatos
(fatos duros).

Fatos duros são melhores que fatos moles.


(2) Endurecendo os fatos

Não existem linhas divisórias entre mentes, mas redes diferentes.

Todos poderiam ser cientistas, o que impede é o preconceito, superstição e paixões.

Fatos duros são caros, demandam muito trabalho e aliados → Verdade

Relação entre qualidade dos fatos e aliados.


(3) Sexta regra metodológica: só uma questão de escala...

Conflito entre culturas tradicionais e rede científica → Observação dos cientistas.

Intersecções revelam associações entre coisa, palavras, pessoas e costumes → diversidade


de culturas.

Grande Divisor: acusações oriundas de dentro da rede científica contra o que está fora dela
→ Eles (acreditam) X Nós (sabem ou saberão).

Racionalistas X Relativistas e o Grande Divisor → O movimento do observador.


(3) Sexta regra metodológica: só uma questão de escala...
(3) Sexta regra metodológica: só uma questão de escala...

“Fanáticos desinteressados” → julgam a


cultura alheia como “crenças sobre” o mundo.

“Diante de uma acusação de irracionalidade,


ou simplesmente de crenças em coisa alguma,
nunca procuraremos saber que regra da lógica
foi infringida, mas simplesmente
observaremos o ângulo, a direção o
movimento e a escala do deslocamento do
De onde vem a diferença de escala?
observador”. (Latour, p. 332-333)
Capítulo 6 - Centrais de Cálculo
A viagem de Léperouse à Sacalina
(“Segalien”) em 17 de julho de 1787.

Uma ilha ou uma península? → não era


claro nas cartas náuticas.

Navios equipados com todos os fatos e


artefatos → Comprovação da verdade.

Contato com nativos → Conhecimento


local e experiência.
Domesticação de uma mente selvagem
● Conhecimento local → conhecimento universal
● De acordo com o Grande Divisor: da etnogeografia à geografia
● Sexta regra: não há Grande Divisor, mas sim pequenas diferenças → depende do
movimento do observador: ângulo, direção e escala.
● O avanço da marinha sobre a região da Sacalina depende do sucesso de Lapérouse:
○ Se não tiver êxito, forma-se uma assimetria entre os nativos da região e os navegadores
○ Se as observações chegarem à Versailles: os navegadores serão capazes de domesticar os nativos
(conhecimento sobre sua cultura)
● Durante a expedição: acumulação de conhecimento → Assimetria.
Parte A - Ação e distância - (1) Ciclos de acumulação
Número de repetições de certo evento →
Familiaridade com o assunto

Nativos serão mais “fortes” que estrangeiros


→ Não se cria o Grande Divisor

Conhecimento → Familiaridade com o


assunto/ Experiências anteriores

Conhecimento → Ciclo de acumulações.

A cada volta mais informações são acrescidas.


(1)Ciclos de acumulação

Todo ciclo de acumulação possui fragilidades, que podem ser suprimidas a partir de
acordos.

As fragilidades estão ligadas umas as outras como “os muitos fios de macramê, para que
um compensasse a fraqueza do outro”. (Latour, p. 347) .

Como atuar a distância sobre eventos, lugares e/ou pessoas pouco conhecidos?
● Mobilidade → transporte
● Estabilidade → sem deteriorar
● Combinabilidade → acumular, agregar ou embaralhar.
(2) A mobilização dos mundos

Uso consciente dos instrumentos (fatos e artefatos) em número favorável

Método e vivências tornam o estrangeiro mais forte → revolução copernicana.

Revolução copernicana: uma disciplina antiga, trôpega e duvidosa se torna cumulativa e


“ingressa no caminho seguro da ciência”

Em vez dos cientistas darem voltas nas coisas, as coisas rodeiam a mente dos cientistas.

Mapas e desenhos tornam as coisas móveis. Animais, plantas rochas podem ser retirados
→ coleções, outra forma de revolução copernicana.
(2) Mobilização dos mundos

“Não é com diferenças cognitivas que devemos nos admirar, mas com essa mobilização
geral do mundo que dota alguns cientistas de casaca” (Latour, p. 351)

Não é salutar limitar os dados somente à lugares onde a humanidade pode estar in locu →
processos de acumulação “à distância” são válidos.

A revolução copernicana não depende dos métodos e meios, mas que se alcance o objetivo
: uma troca entre o centro e a periferia ( o que está dentro das redes e o que está fora).

É importante conservar os dados, arquivos e coleções → descrevem ações humanas no


tempo.
(2) Mobilização dos mundos

Sempre surgirão controvérsias a respeito dos dados, arquivos e coleções, que devem ser
combatidas.

A controvérsia acelera o ciclo de acumulação.

Durante o ciclo os objetos estarão relacionados podendo ser concatenados, enxutos e


reduzidos a um arquivo pequeno, que permita a visualização global ou sobre um ponto.

“Tudo o que puder aumentar a mobilidade, a estabilidade ou a permutabilidade dos


elementos será bem-vindo e selecionado desde que acelere o ciclo de acumulação”
(Latour, p. 355)
(3) Construindo o espaço e o tempo

Caráter cumulativo da ciência - Grande Divisor

Cartografia, zoologia, astronomia, economia - não cumulativas e cravadas “num cantinho


do espaço e do tempo”

Expansão da rede
(3) Construindo o espaço e o tempo

“Parece estranho, à primeira vista, afirmar que espaço e tempo podem ser construídos
localmente, mas essas são as construções mais comuns de todas. O espaço é constituído
por deslocamentos reversíveis, e o tempo, por deslocamentos irreversíveis. Como tudo
depende de deslocar elementos, cada invenção de um novo móvel imutável vai traçar um
espaço-tempo diferente.”
(3) Construindo o espaço e o tempo

Étienne-Jules Marey - Metralhadora fotográfica


(3) Construindo o espaço e o tempo

Professor Bijker (Holanda) - Barragem no porto de Roterdã - outra revolução copernicana


(3) Construindo o espaço e o tempo

Dominar uma situação

“Ou você a domina fisicamente, ou põe do seu lado um grande número de aliados, ou
então tenta chegar antes dos outros. Como fazer isso? Simplesmente invertendo o fluxo do
tempo”.

Cientistas e engenheiros em ação


Parte B - Centrais de cálculo

Trabalho complementar

Gráfico

Dmitri Mendeleiev

Revisão
CALCULANDO ENFIM

Dentro dos centros, a logística exige a rápida


mobilização do número máximo de elementos e sua
maior fusão possível.
GABARITOS

TOTAIS

GRÁFICOS

TABELAS

LISTAS

São essas algumas das ferramentas que possibilitam o tratamento complementar das inscrições.
Quando chegamos ao reino dos cálculos e das teorias, vemo-nos quase de mãos vazias. Até o fim desta parte, devo confessar que contamos
apenas com um programa de pesquisa, e não com um acúmulo de resultados, o que nos sobra é obstinação, e não recursos..
A invenção da variância é um desses dispositivos que continuam
resolvendo os importantes problemas das inscrições: mobilidade,
permutabilidade e fidedignidade. O mesmo se diga da invenção da
amostragem. O que é a amostra mínima que permite representar o maior
número de características?
Tomemos como exemplo, o trabalho de Reynolds:
O coeficiente, número ou módulo de Reynolds
(abreviado como Re) é um número adimensional
usado em mecânica dos fluídos para o cálculo do
regime de escoamento de determinado fluído sobre
uma superfície. É utilizado, por exemplo, em
projetos de tubulações industriais, aeronaves,
foguetes e embarcações.
Como é possível relacionar os muitos casos de turbulência
observados em maquetes ou nos rios? Esses casos já
estão resumidos em sentenças de forma “quanto mais...
“tanto mais”...., “quanto mais...”tanto menos”... Quanto
maior o fluxo, tanto maior a turbulência, quanto mais
denso um fluído, tanto mais propenso à turbulência;
finalmente quanto mais viscoso um fluído menos
turbulência ocorrerá (o óleo contorna mansamente um
obstáculo que desencadearia turbilhões com água.)
T (turbulência) é proporcional a V (velocidade)
T (turbulência) é proporcional a C (comprimento do
obstáculo)
T (turbulência) é proporcional a D (densidade)
T é inversamente proporcional a Vi (viscosidade)
Alguma coisa foi ganha com a manutenção da
fórmula de Reynolds ou trata-se simplesmente de
um resumo abreviado de todas as possibilidades?
Assim como ocorreu com a tabela de Mendeleiev e
na verdade com todas as reformulações observadas
nessa seção, alguma coisa foi ganha, porque cada
translação recombina os nexos entre os ele
mentos (criando assim, um novo espaço-tempo).
Situações que pareciam tão divergentes quanto um
riacho rápido correndo contra uma pedra e um grande
rio remansoso interrompido por uma barragem, ou
uma pena caindo no ar e um corpo nadando em
melado, podem produzir turbulências muito parecidas
se estiverem “mesmo número de Reynolds” (Como
agora se chama).
R é agora um coeficiente que pode marcar todas
as possíveis turbulências, seja de galáxias no
céu ou de nós numa árvore e, realmente, como
lembra o nome “coeficiente”, leva todas as
turbulências a agir no laboratório do físico
como se fossem uma só.

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