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Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Programa de Pós-graduação em Formação Científica Educacional e Tecnológica


Doutorado Profissional em Ensino de Ciências

Disciplina de Bases Epistemológicas para a Pesquisa no Ensino de Ciências


e Matemática

Professor Dr. Marcelo Lambach

Aluna: Andrea da Silva Castagini Padilha

IDENTIFICAÇÃO
Epistemology for interdisciplinary research – shifting philosophical
paradigms of science

AUTORAS
Mieke Boon é professora titular de Filosofia da Ciência na Prática no
Departamento de Filosofia da Universidade de Twente. Este departamento concentra-se
na Filosofia da Tecnologia. Seus interesses de pesquisa são: Filosofia da ciência para as
ciências da engenharia (em seu texto de apresentação, ela apresenta a pergunta se a
imagem de ciência que temos é adequada para entender o papel da ciência e da
pesquisa científica, em contextos de design e de solução de problemas? E da pesquisa
que iniciou em 2003 que propõem uma alternativa epistemológica para fornecer novos
marcos conceituais. A pesquisa aborda tópicos como ética e epistemologia da Inteligência
Artificial, Big Data, Tecnologia do Aprendizado da máquina em aplicações como medicina
personalizada e formação de especialistas humanos. Também sobre o papel do
conhecimento humano em uma sociedade digital (Homem e máquina), Epistemologia e
Metodologia da investigação científica em contextos de design (engenharia) e resolução
de problemas. Papel epistemológico dos modelos científicos. Epistemologia das
estratégias de pesquisa em humanos (criatividade, imaginação, compreensão, reflexão e
pensamento construtivo sobre problemas mal estruturados. Responsabilidade
epistemológica na investigação científica dirigida a contextos de concepção e resolução
de problemas.1
Sophie van Baalen estudou Medicina Técnica e Filosofia da Ciência, Tecnologia e
Sociedade na Universidade de Twente. Em sua pesquisa de doutorado, ela estudou como
os profissionais médicos usam e constroem o conhecimento na prática e que papel as

1 https://people.utwente.nl/m.boon
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tecnologias de imagens médicas (como raios-X e ressonância magnética) desempenham.


Ela também pesquisou o que implica expertise, para especialistas e para especialistas
interdisciplinares. Além disso, ela trabalhou em um novo método de ressonância
magnética para visualizar e caracterizar tumores renais. 2

REVISTA
O European Journal of Philosophy of Science publica trabalhos inovadores que podem
aprofundar a compreensão dos conceitos e métodos das ciências, à medida que exploram
cada vez mais muitas facetas do mundo em que vivemos. É de interesse direto para
filósofos da ciência vindos de diferentes perspectivas, bem como cientistas, cidadãos e
formuladores de políticas. A revista está interessada em artigos de todas as tradições e
origens, desde que se envolvam com as ciências de forma construtiva e crítica. A revista
representa as várias tradições filosóficas europeias de longa data que se dedicam às
ciências, mas acolhe artigos de todas as partes do mundo.

RESENHA
As autoras apresentam neste artigo uma alternativa de paradigma filosófico chamado de
paradigma da engenharia da ciência, que envolve pressupostos filosóficos a respeito de
aspectos como objetivo da ciência, caráter do ato de conhecer, os critérios epistêmicos e
pragmáticos para aceitar o que é conhecimento e o papel dos instrumentos tecnológicos.
Este paradigma filosófico alternativo pressupõe a produção de conhecimento para
funções epistêmicas como finalidade da ciência, e interpreta 'conhecimento' (como
teorias, modelos, leis e conceitos) como ferramentas epistêmicas que devem permitir a
realização de tarefas epistêmicas por agentes epistêmicos, ao invés de interpretar o
conhecimento como representações que objetivamente representam aspectos do
mundo independente da forma como foi construído.

As pesquisadoras afirmam que os problemas do mundo real são complexos e que exigem
pesquisa interdisciplinar ou transdisciplinar. O suporte teórico escolhido pelas autoras, de
filósofos da ciência, especializados em política científica e estudos educacionais, relatam
que há tentativas de promoção da pesquisa interdisciplinar nas universidades, mas que

2 https://www.rathenau.nl/en/about-us/who-we-are/our-staff/sophie-van-baalen
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esbarram em dificuldades em estabelecer uma comunicação entre os fatores


epistemológicos e cognitivos. Na filosofia da ciência a pesquisa interdisciplinar é
estudada, mas não há pesquisa filosófica sobre porque a pesquisa interdisciplinar é tão
difícil, citando MacLeod (2016) que é uma autora presente na pesquisa em educação
CTS, claramente interdisciplinar. A educação também é um ambiente interdisciplinar para
pesquisa e portanto, também apresenta as mesmas dificuldades. As autoras afirmam que
em ambos é dada pouca atenção às dificuldades cognitivas e epistemológicas, em
especial na capacidade de fazer a pesquisa interdisciplinar e da necessidade de
compreensão específica da ciência e das habilidades cognitivas relacionadas.
A tese presente no artigo foi dividida em duas partes, a primeira apresenta que a
negligência das dificuldades cognitivas e epistemológicas para fazer ciência
interdisciplinar é em parte pela crença filosófica sobre a ciência (que tem a ver com
reducionismo, unidade da ciência e epistemologia como evidência para a crença
verdadeira justificada, e a distinção entre contexto da descoberta e contexto da
justificação. A segunda parte apresenta que a visão filosófica alternativa da ciência pode
ser baseada na ideia de Kuhn de matrizes disciplinares. O conceito de matriz disciplinar
kuhniana é o repertório de conhecimentos que as pessoas que constituem uma
comunidade científica partilham e constroem sua ciência. É composta por crenças,
valores e exemplos (modelos que instruem os aprendizes de uma ciência). As autoras
expandem a visão dos elementos que constituem a matriz,articulando visões filosóficas
diferentes da ciência, paradigma da ciência física versus paradigma da engenharia da
ciência. O segundo paradigma possibilita reconsiderar pressupostos associados à
educação em pesquisa interdisciplinar com habilidades cognitivas de ordem superior (ou
metacognitivas) e estruturas conceituais (ou metacognitivas).
O objetivo do artigo é desenvolver vocabulário para um estudo filosófico detalhado das
práticas de pesquisa interdisciplinar, principalmente na resolução de problemas do mundo
real (levando em consideração as tarefas epistêmicas e desafios cognitivos inerentes).
As autoras apresentam as partes que constituem o artigo. A seção dois contesta a crença
de que uma organização adequada das pesquisas interdisciplinares pode resolver os
problemas analisados por elas. E que os pesquisadores interdisciplinares (enquanto
comunidade científica) concebem que sua pesquisa visa a integração do conhecimento
(na opinião delas, a parte mais desafiadora epistemologicamente falando).
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A seção três apresenta as percepções educacionais e descobertas empíricas sobre o


treinamento de pesquisadores e o conhecimento específico necessário para realizar
pesquisas interdisciplinares. Foca nas habilidades metacognitivas. Justifica que a pouca
pesquisa na área pode ser devido aos termos de visões filosóficas dominantes da ciência
que orientam a educação científica para o que chamam de visão positivista da ciência.
A seção quatro discute como as visões filosóficas tradicionais geram e aplicam
conhecimento científico (ou recursos epistêmicos) para resolver os problemas do mundo
real.
Na segunda parte da tese, apresentam que há diferentes paradigmas filosóficos da
ciência e que estes determinam quais temas são dignos de estudos e como serão
estudados. E que o paradigma da ciência física foi o dominante e pode ser o que impede
a pesquisa interdisciplinar e que esconde dificuldades cognitivas e epistemológicas. E
então propõe uma epistemologia alternativa com o paradigma da engenharia da ciência e
com esboço da matriz kuhniana.
Traz como central a diferença entre a ciência como rede de teorias paradigma da física)
versus o conhecimento considerado como ferramentas epistemológicas construídas e
moldadas em disciplinas científicas, que serão construídas para serem usadas como
recursos epistêmicos na realização de tarefas epistêmicas, em um processo de pesquisa
científica sempre em andamento (paradigma da engenharia). Entre as ferramentas
epistêmicas, as autoras discutem na seção 5, os andaimes metacognitivos. Eles são
ferramentas que orientam e restringem o pensamento sobre aspectos epistemológicos da
prática científica, que as mesmas acreditam que auxiliam no aprendizado e na realização
de pesquisas científicas.
Como foi apresentado antes, há todo um vocabulário específico no artigo, que as autoras
apresentam na parte Terminologia.
Conhecimento metacognitivo - não é conhecimento sobre o mundo real, mas sobre como
aprender e fazer pesquisa científica. Também é chamado por matrizes ou frameworks
metacognitivos.
Recursos epistêmicos são os conhecimentos usados na geração de novos
conhecimentos.
Resultados epistêmicos são os conhecimentos gerados.
O conhecimento metacognitivo e os recursos epistêmicos ressaltam que a pesquisa
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científica é um processo interminável de produção e uso de conhecimento, enquanto


entidade epistêmica enfatiza que o conhecimento é usado como uma ferramenta.
A parte dois começa a definir pesquisa inter e transdisciplinar. A interdisciplinar é
promovida, realizada, administrada, organizada e ensinada, no sentido que esses
aspectos sejam estudados em domínios acadêmicos abordam ampla gama de estudos
(de política científica, governança, estudos CTS, educação científica, ciências cognitivas,
filosofia da ciência e epistemologia social).
A definição de pesquisa interdisciplinar é um processo de responder a uma pergunta,
resolver um problema ou abordar um tópico que é muito amplo ou complexo para ser
tratado de forma adequada por uma só disciplina. E sim, baseia-se em perspectivas
disciplinares e integra seus insights em uma perspectiva mais abrangente.
A transdisciplinaridade é uma forma superior de interdisciplinaridade no sentido de tratar
de problemas mais complexos, para os quais são desenvolvidas soluções
tecnológicas.Consideram um estágio superior da interação disciplinar, baseia-se em
cooperação entre vários setores da sociedade e de partes interessadas para questões
complexas em todo de um novo discurso.
Métodos para organização interna da pesquisa interdisciplinar.
1. Concentram-se no desenvolvimento da compreensão sobre problemas complexos
fora da ciência.
2. Menken e Keestra problemas dentro da ciência, como a pesquisa científica é
orientada para a ciência.
3. Expansão do método hipotético-dedutivo. Decisões tomadas em disciplinas
relevantes, o quadro teórico deve abranger todas as disciplinas elencadas e deve
existir integração de resultados e percepções.
Trazem a metáfora de integração do quebra-cabeça, resolução de conflitos e projeto de
engenharia. O quebra-cabeça é um termo kuhniano, mas aqui é tratado como a
integração de peças do conhecimento, que se encaixam sem necessidade de alteração.
Os aparentes desacordos são tratados com a metáfora da resolução de conflitos, que tem
a ver com pressuposições ocultas ou confusão sobre conceitos básicos, como o discurso
político e comunicação. E o desenho (design) de engenharia é a metáfora que concetra
na construção de recursos epistêmicos para tarefas epistêmicas específicas. Exigindo
intervenções do designer criativo para combinar partes do quebra-cabeça, criando uma
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entidade epistêmica coerente, como um modelo científico. Na visão das autoras,


pesquisas interdisciplinares trazem implicitamente visões epistemológicas (expressas pelo
quebra-cabeça e metáfora da resolução de conflitos). Isso pode dificultar a identificação
de dificuldades epistêmicas e cognitivas na pesquisa, e o design de engenharia viria como
alternativa. As autoras apresentam a importância do diálogo filosófico que aprimora a
comunicação interdisciplinar, para esclarecer conceitos e crenças de fundo. Depois elas
trarão no artigo as habilidades macias (soft skills) como situação cognitiva que pode
contribuir (ou não) para uma melhor articulação dos saberes das diferentes àreas na
pesquisa interdisciplinar. Já a importância das abordagens filosóficas na pesquisa
interdisciplinar está no fato destas ajudarem a resolver a confusão conceitual da pesquisa,
indicar aos pesquisadores se estão no caminho certo, mas sem tocar em questões
epistemológicas mais profundas. A perspectiva epistemológica adotada no artigo entende
que o maior desafio em uma pesquisa interdisciplinar é conectar e integrar
(conhecimentos de diferentes áreas, recursos epistemológicos, métodos das disciplinas,
habilidades cognitivas superiores) para gerar conhecimento na resolução de problemas
do mundo real. Isso aplica-se também no ensino de ciências, em pesquisas educacionais
e na engenharia em nível acadêmico. As soft skills (integridade, comunicação, cortesia,
responsabilidade, atitude positiva, profissionalismo, flexibilidade, capacidade de trabalho
em equipe e ética do trabalho) são vistas como desafios cognitivos e epistemológicos no
projeto de pesquisa, e devem ser resolvidas mediante treinamento da equipe e melhoria
nas habilidades comunicativas. Da mesma forma, apresentam a aprendizagem profunda
na qual os alunos são convidados a autorreflexão, por meio de metodologias como a
aprendizagem baseada em problemas e projetos. Entretanto, não há indicações que estas
abordagens desenvolvam habilidades metacognitivas de ordem superior necessárias para
integrar e conectar recursos epistêmicos na resolução de problemas. A literatura
consultada aponta que para o desenvolvimento destas habilidades é necessário o apoio
de andaimes metacognitivos (que não são bem desenvolvidos).
Uma afirmação importante das autoras é que as noções de conhecimentos e habilidades
metacognitivas centradas nas habilidades de aprendizagem dos alunos quando
conectadas à capacidade de compreender o conhecimento científico na pesquisa e em
tarefas de resolução de problemas, promovem uma visão epistemológica que reconhece
a contribuição do sistema cognitivo para a construção do conhecimento. Como não é bem
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desenvolvida essas habilidades, acaba refletindo na educação acadêmica em ciências


quanto ao uso da ciência na construção de fontes epistêmicas (modelos e conceitos) para
tarefas epistêmicas específicas.
As autoras expandem a matriz disciplinar de Kuhn em uma tabela com treze elementos
que ao final foram utilizados para contrapor os paradigmas de ciência física e de
engenharia da ciência.
Depois as autoras defendem a hipótese de que o paradigma da ciência física causa
dificuldades epistemológicas na pesquisa interdisciplinar, argumentando que a unidade
(reducionista) da ciência faz com que os objetivos e resultados da pesquisa
interdisciplinar sejam explicados como associação de teorias.
As autoras apresentam que na abordagem kuhniana, a perspectiva disciplinar de
especialistas em uma disciplina treina os pesquisadores a verem, fazer perguntas, de
uma certa maneira, uma forma que restringe a pesquisa, principalmente se ela é um
problema complexo do mundo real. Elas sugerem que a perspectiva disciplinar de uma
determinada disciplina, possa ser analisada em termos de determinado conjunto de
elementos coerentes, denominado matriz disciplinar. Assim, essa matriz é uma estrutura
metacognitiva, que permite aos pesquisadores caracterizar sua própria perspectiva
disciplinar em um conjunto limitado de aspectos de sua disciplina. A ênfase na
perspectiva disciplinar (dos elementos presentes na matriz disciplinar) determinam em
parte a produção de ‘conhecimento’ produzido. E isso enfatiza a importância dos
andaimes metacognitivos (e habilidades para usá-los). No paradigma da engenharia da
ciência, a interpretação das entidades epistêmicas (sistemas axiomáticos, princípios,
teorias, leis, descrições de fenômenos, modelos) são ferramentas epistêmicas . é vista em
funcionamento epistêmico quando construídas para atender os critérios epistêmicos,
práticos e específicos. Em resumo, as autoras buscaram no artigo mostrar as dificuldades
epistemológicas da pesquisa interdisciplinar e as crenças filosóficas sobre a ciência. E
que o conhecimento científico é apresentado como o resultado de uma relação
representacional entre conhecimento e mundo, ignorando o papel das perspectivas
disciplinares. A solução proposta é adotar uma visão epistemológica em que o
conhecimento científico seja entendido e moldado pelas especificidades das disciplinas.
Os andaimes metacognitivos apresentados foram: perspectiva disciplinar analisada e
articulada por meio de matriz disciplinar; como modelos são construídos e analisados; e a
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maneira como conceitos científicos estão inseridos em contexto mais amplo, analisados
pelo mapeamento de conceitos.

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