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Universidade Tecnológica Federal do Paraná

Programa de Pós-graduação em Formação Científica Educacional e Tecnológica


Doutorado Profissional em Ensino de Ciências

Disciplina de Bases Epistemológicas para a Pesquisa no Ensino de Ciências


e Matemática

Professor Dr. Marcelo Lambach

Aluna: Andrea da Silva Castagini Padilha

IDENTIFICAÇÃO
Epistemologia, Currículo e Formação Continuada de Professores de Ciências

AUTOR
Paulo Sérgio Araújo da Silva
Licenciatura Plena em Química pela Universidade Federal do Pará (2003) e
mestrado em Educação em Ciências e Matemática - Núcleo de Apoio ao
Desenvolvimento Científico da UFPA (2006) e Doutorado em Educação em Ciências pela
Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT-2015). Atualmente é professor assistente I
da Universidade Estadual do Pará. Vice-coordenador do Núcleo de Estudos em Educação
Científica, Ambiental e Práticas Sociais (NECAPS/UEPA). Tem experiência na área de
Química, com ênfase em Ensino de Ciências; Educação Ambiental e Estudos
relacionados à formação docente.
REVISTA
ENSINO EM REVISTA - é um Periódico Científico do Programa de Pós-Graduação em
Educação, da Faculdade de Educação, da Universidade Federal de Uberlândia (UFU),
dirigido a pesquisadores, professores e estudantes da área da Educação. Divulga artigos
que versam sobre resultados de pesquisas e ensaios originais, resenhas de livros e
traduções. Recebe textos em qualquer época do ano escritos em português, inglês e
espanhol. Publica dossiês temáticos, organizados por pesquisadores de áreas-temas,
com artigos de especialistas convidados, brasileiros e estrangeiros, e abarcando assuntos
de interesse e discussão atuais de diversas áreas da Educação.

RESENHA
Neste artigo, o autor apresenta a investigação que ocorreu com a formação continuada de
professores de ciências (licenciados em Química, Biologia e Ciências da Educação
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Básica) em uma universidade pública brasileira. O objetivo era compreender as relações


entre reflexão epistemológica e formação docente. Em especial, o autor deseja investigar
como os professores constroem e se apropriam do conhecimento e a relação que
estabelecem com suas histórias de vida. Ele organizou as reflexões em quatro
dimensões: Ético-política, Curricular, Metodológica e afetiva, entretanto o artigo aborda a
dimensão Curricular. É interessante que o autor apontou que durante a formação, ele e a
formadora estimularam nos professores cursistas um processo de desalienação de si,
solicitando que produzisse narrativas memorialísticas, para debater os aspectos
epistemológicos ali presentes. Os achados na pesquisa corroboram com a literatura em
ciências, com preocupações semelhantes, tais como a perspectiva da ciência pronta e
acabada, recorrente entre muitos professores, e que mostrou que os que assim pensam
acabam projetando essa perspectiva em suas aulas. A atual reflexão epistemológica
requer o entendimento do conhecimento científico como provisório e ideológico. Ainda na
Introdução, o autor traz o embasamento teórico que apresenta e justifica a necessidade
de professores de ciências terem boa fundamentação em epistemologia e o que ela
agrega ao ensino de ciências. Implica em ajudar os professores a melhorarem as suas
próprias concepções de ciência e a fundamentação da sua ação didático-pedagógica,
pois os autores presentes defendem que existe sempre um pressuposto epistemológico
subjacente em cada prática educativa e conteúdo curricular. No caminho metodológico, o
autor apresenta a pesquisa narrativa e qualitativa, pois mostra como nós experienciamos
o mundo. O perfil dos sujeitos investigados foram: a professora formadora do curso
(licenciada em Ciências Naturais e doutorado em Ensino de Ciências) e professores
cursistas, professores da área de ciências naturais, ou seja, das disciplinas Química,
Biologia e Física e Ciências para o ensino fundamental. O autor buscou a partir das
memórias docentes discutir as reflexões devolvidas pelos professores participantes,
investigando os possíveis elos que emergem entre seus escritos e suas histórias de
formação. A divisão em quatro dimensões deve-se à recursividade que cada tema surgiu
nas narrativas, mas o artigo discute a dimensão curricular e sua relação com a
epistemologia.
Sobre a reflexão curricular, o autor discute sobre a seleção do que os professores de
ciência lecionam e o que é ser professor na sociedade da informação. Isto porque o
currículo escolar como está apresentado valoriza uma quantidade de informação
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considerável, privilegiando-as em detrimento da formação, de como elas são trabalhadas


e assimiladas (a quantidade mais valorizada que a qualidade).
E essa situação aparece entre os professores cursistas quando partilham sua insatisfação
em serem ‘transmissores’ de conteúdo/informações. Como fazer isso e promover a
formação de cidadãos críticos, independentes e transformadores do mundo? Soma-se a
isso o fato que as informações chegam em tempo real, e em uma quantidade muito
superior do que pode ser consumida (com qualidade, discernimento e criticidade).
Os professores também questionaram o porquê de ensinar conhecimentos inúteis,
fragmentados para cumprir com o protocolo do currículo informativo, mas que não
contribui para o desenvolvimento de uma sociedade melhor. E chegaram a conclusão que
esses conhecimentos estão ali para validar o próprio desenvolvimento da ciência. Sobre
essa fragmentação o autor repete o mesmo trecho de entrevista dos professores (de
forma intencional?) apresentando a visão que alguns deles tem sobre as super-
especializações dentro de cada área (Biologia, Química, Física) como áreas estanques e
mais ou menos associadas. E todas presentes no ensino de Ciências, sem
necessariamente ter a articulação que trará sentido para o estudante. Por mais que exista
aqui uma história da ciência que justifique e valide a necessidade dessa super
especializações em áreas do conhecimento bem delimitadas, no ensino de ciências isso
perde o sentido. Para o especialista que está produzindo conhecimento a fragmentação
resulta em hiperfoco, mas para os estudantes da educação básica, deve ficar claro as
associações e complementaridades, mostrando que a ciência tem conhecimentos bem
específicos, mas que estes se conjugam de forma interdependentes, derivando para a
literatura de pensamento complexo em contraposição à fragmentação. Essa discussão
ocorreu durante a formação continuada, na qual a crítica à fragmentação da ciência e dos
conhecimentos científicos das ciências naturais aparentemente apenas ‘teórico-
metodológica’ em termos didáticos, mas que é fundamentalmente epistemológica. O que
selecionar em meio a tanto conhecimento, e de que maneira abordar, acaba por parecer
aos professores que estão (eles e os alunos) se afogando em tanto conhecimento, o que
em nada contribui para a aprendizagem de ciências e a formação de cidadãos críticos.
Outra questão abordada é da ciência inquestionável, que divide afirmações em certo e
errado. Entre os participantes, uma professora colocou que deve-se questionar a
legitimidade do conhecimento que ensinamos.
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A visão de ciência limpa, certa, neutra e dogmática que aparece nos livros didáticos
promove um recorte intencional nos conteúdos e também da ausência de
questionamentos dos conteúdos que são ensinados. Apontaram que a reflexão
epistemológica pode ajudar a repensar a configuração do currículo, da fragmentação da
ciência, da disciplinarização e da marginalização da elaboração cognitiva, em decorrência
do pensamento moderno. O limite rígido do que é certo ou errado, científico ou não sem
discussão e aporte epistemológico básico, hierarquiza conhecimentos e segrega outras
formas de saberes. A epistemologia ajuda a repensar essas relações entre conhecimento
e poder, a ter mais consciência que os currículos propostos evidenciam o saber
hegemônico da ciência em detrimento a outros saberes, como a forma correta de ver o
mundo. Sobre esse tema, há uma parte de relato de professora que chama a atenção:
“Hoje fico pensando em quantas vezes eu devo ter entediado os meus alunos, querendo
colocar na cabeça deles todas as verdades dos fenômenos da Natureza que a Física
explica, ou que eles teriam que abrir mãos de suas “verdades” para absorverem as
minhas”. (Valéria: memorial)” O que é ciência e o que é verdade, e quanto esses dois
termos se confundem nas aulas de ciências? A questão da autoridade epistêmica da
professora que viu que fez os alunos abrirem mão de suas verdades para assumir as
verdades dela, a auto reflexão e desalienação da professora mostra a necessidade de
prover momentos que estimulem esse tipo de ação. A perspectiva de enculturação
também apareceu na investigação do autor, definido como entrada numa nova cultura,
mas que ocorre sem a perda da identidade cultural. Isto sinaliza um ensinar com a
ciência, ou ainda ensinar sobre ciência ao invés de ensinar ciências para o aluno, o que
implica em aprender sobre a ciência. Assim, o ensino de ciências pode ser
problematizador, enculturador e assumir implicações filosóficas, históricas e sociais do
conhecimento científico nos processos de ensino e aprendizagem. Nesse sentido, não há
como escapar do ensino de ciências frente a vivência dos alunos, tópico que aparece no
artigo e que indica a valorização e inclusão de conteúdos/conhecimentos que sejam
significativos para os estudantes. Ao valorizar e incluir, é possível também mudar o foco
do o que ensinar para a legitimidade do conteúdo frente à sociedade, em como esse
conteúdo pode contribuir para a formação da cidadania a fim de transformar a sociedade.
Outro ponto que apareceu nas narrativas foram os obstáculos a mudar a forma com que
se ensina os conteúdos em ciências. Um deles é o mal-estar que atinge o professorado,
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desmotivação pessoal, absenteísmo e abandono, insatisfação profissional traduzida na


atitude de desinvestimento e indisposição constante. Assim, é mais difícil sair do lugar
seguro, até porque também é cobrado dos profissionais que cumpram o programa de
ensino tal qual está posto. Maldaner corrobora que as constatações colocadas
anteriormente pelos professores têm respaldo com a reflexão epistemológica, porque
pode proporcionar uma visão mais ampla para o que diz respeito a conhecimento e
currículo.
O artigo articula visões dos professores acerca de suas práticas pedagógicas no ensino
de ciências com a assunção da epistemologia, o que promoveu a eles uma melhor
percepção do objeto de estudo e trabalho (a ciência) dentro da realidade da educação
básica e seus objetivos, com sua própria postura profissional.

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