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INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIAS E TECNOLOGIA

DO ESTADO DA BAHIA

História e Filosofia das Ciências

Docente: Ricardo Silva de Macêdo


Data: 28/10/2023 Período Letivo: 2023.2
Atividade: Resenha Crítica Bloco 3
Discente: Paulo Roberto Santos Nunes Júnior

RESENHA FINAL BLOCO 3

Paulo júnior
Conforme a Base Nacional Comum Curricular(BNCC) e suas diretrizes a respeito
das competências e habilidades que a educação básica deve possuir para garantir o
efetivo e pleno desenvolvimento dos educandos acerca dos significados e manifestações
que a ideia de ciência deve compreender(principalmente os significados e manifestações
que as ciências naturais devem abranger), destaca-se sobretudo a competência de
desenvolver no aluno a potencialidade do letramento científico que consiste em transmitir
a capacidade de perceber e interpretar o mundo(natural, social e tecnológico) e seus
princípios e valores como: sustentabilidade, atuação crítica e responsabilidade.
Entretanto, apesar dessas considerações a respeito do letramento científico, tais
concepções escondem uma lógica que, ao invés de proporcionar de fato o letramento,
proporcionam incompatíveis abordagens acerca da ideia de ciência, como, por exemplo, a
ideia de uma ciência pautada na lógica indutivista e positivista que pouco tem a agregar
para a verdadeira compreensão da natureza científica.
Sendo assim, como tentativa de fugir da lógica indutivista/positivista que a BNCC
esconde em seu texto, a análise feita por alguns autores, como Ricardo Silva de Macêdo,
Fernanda Ostermann, Fernando Lang, Hodson, Dutra, Sánchéz-Ron, entre outros, pode
contribuir para a reflexão de melhores formas de se pensar a concepção da ciência e com
isso tentar orientar quando possível, outras formas de se conduzir o processo de
ensino/aprendizagem de ciências.
Começando por Fernanda Ostermann que pautará suas análises nas
fundamentações teóricas do autor Thomas Kuhn, ela enfatizará que a ciência
compreende uma natureza construtiva, inventiva e não definitiva, destacando as ideias de
Kuhn como referenciais para o ensino, afirmando que a visão de ciência transmitida na
sala de aula e nos livros didáticos, bem como as estratégias de ensino, podem ser
fundamentadas no modelo de desenvolvimento de Kuhn na qual entende a ciência
através de sua principal hipótese: os paradigmas, que consistem em um conjunto de
modelos/conjecturas científicas a serem seguidos pela comunidade científica. Dessa
forma, entende-se que o letramento científico que a BNCC aborda e que os profissionais
da educação adotam na maioria das vezes, nada mais é do que letrar os estudantes com
base em paradigmas que nada tem a agregar para a construção e consolidação do senso
crítico dos mesmos a respeito da natureza das ciências
Outro ponto a ser destacado na tentativa de se obter uma boa compreensão a
respeito da natureza das ciências para o ensino, refere-se sobre a relação existente entre
ciência, tecnologia e sociedade, na qual alguns autores como o Sánchéz, evidenciará a
visão comum, mesmo entre os cientistas, de que a tecnologia é simplesmente uma
aplicação da ciência, destacando que essa concepção, enraizada no positivismo, acarreta
uma separação artificial entre esses dois domínios. Assim, o autor, apresentará
argumentos sobre a relação entre ciência e tecnologia do ponto de vista histórico para nos
mostra que ambas as áreas possuem uma significativa conexão, mostrando que uma
depende da outra. Dessa forma, abarcar as relações existentes entre ciência, tecnologia e
sociedade contribui para romper com as visões positivistas que os documentos
orientadores podem trazer na prática docente, possibilitando revoluções nas formas com
as quais os professores constroem a ideia de ciência para seus estudantes.
Sobre as considerações de Dutra, o mesmo discuritirá os problemas a respeito das
concepções referentes a teoria do conhecimento científico, apresentando importantes
autores como Popper, Hume, entre outros, para defender a tese de que a lógica
indutivista, possui graves problemas na consolidação e construção das bases e estruturas
científicas. Dutra argumentará que a visão da ciência, pautada na lógica indutivista,
apresenta significativos problemas naquilo que tange a definição do conceito de
experiência e na garantia da própria ideia de indução científica que nem sempre poderá
ser confirmadas ou infirmadas pela ciência. Dessa forma, Dutra contribui para a
interpretação do conceito de ciência ao mostrar que a mesma possui relevantes
problemas na sua fundação e que a visão de ciência construída em sala, pode melhorar
caso o docente apresente tais problemas aos estudantes.
Sobre as idealizações de Derek Hodson a respeito do seu entendimento sobre a
natureza ciêntífica, o mesmo irá questionar a tese comum da existência de um método
científico que seja universalmente aceito e estabelecido dentro das ciências. O autor
investigará tal concepção, destacando a falta de um consenso entre os principais
epistemólogos da ciência, enfatizando que apesar da falta de um método, ainda, sim, os
professores poderiam apresentar uma imagem da ciência com a qual os estudantes
poderiam contar. Dessa forma, mesmo com a carência de um método científico dentro
das ciências, isso não implica necessariamente que não haverá um letramento científico,
mas, pode contribuir ainda mais para a consolidação da acepção científica por parte dos
estudantes.
Ainda sobre a temática e reforçando o ponto onde Dutra faz críticas a respeito da
lógica indutivista das ciências, Fernando Lang também apresentará algumas concepções
acerca do método indutivista ao defender as ideias de Popper sobre a impossibilidade de
implementação de teorias científicas com base em observações e experimentos,
justificando que as teorias científicas são construções humanas, envolvendo elementos
não totalmente racionais em sua busca. Com isso e com o já exposto diversas vezes no
texto, fica evidente que tal abordagem do Lang contribui para uma formação adequada
em ciências ao aproximar a mesma dos estudantes, e ao considerar que ela não é nada
mais, nada menos que um produto da mente humana comum e não um produto da mente
dos gênios, como as concepções positivistas insistem em afirmar.
Por fim, Ricardo Silva de Macêdo, irá destacar a importância das concepções dos
professores sobre a natureza das ciências(NdC) e como tais concepções influenciam
suas práticas em sala de aula. O autor menciona diversas pesquisas que apontam para
concepções limitadas ou ingênuas dos professores sobre a NdC, o que acaba impactando
na qualidade do ensino de ciências. Ele ainda irá ressaltar argumentos sobre a falta de
compreensão da natureza das ciências pelos professores, o qual pode resultar em
abordagens de ensino inconvenientes, com ênfase apenas em fatos científicos.
Ressaltando também que as reformas educacionais falham quando não consideram as
concepções filosóficas dos educadores, salientando a importância da formação docente
para melhorar tais concepções e consequentemente melhorar a prática docente e por
conseguinte melhorar o letramento científico dos estudantes.
Com isso, fica claro que apesar do documento da BNCC apresentar uma ideia de
como a ciência deve ser transmitida para os educandos, muito se deixa a desejar a
respeito das reais considerações sobre a natureza das ciências, devendo, para tanto, que
os profissionais à frente da educação, se qualifiquem e desenvolvam competências e
habilidades capazes de elucidar os entraves que permeiam as estruturas cientificas de
modo que as concepções acerca da natureza das ciências sejam passados
adequadamente para os estudantes.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
MACÊDO, Ricardo Silva de. As concepções Sobre a Natureza da Ciência. Ensaio apresentado
como trabalho de conclusão de disciplina Filosofia da Ciência e Ensino das Ciências do Programa
de Pós-Graduação em Ensino, Filosofia e História das Ciências UFBA/UEFS, 2011.
SILVEIRA, Fernando Lang da. A filosofia da ciência de Karl Popper: o racionalismo crítico.
Caderno Catarinense de ensino de física. Florianópolis. Vol. 13, n.3(dez.1996), p. 197-218,
1996.
HODSON, Derek. Existe um método científico. Education in chemistry, v. 11, p. 112-116,
1982.
SÁNCHEZ-RON,J.M. El siglo de laciência, Madrid:Taurus, p. 21-31
OSTERMANN, Fernanda. A epistemologia de Kuhn. Caderno Brasileiro de Ensino de
Física, v. 13, n. 3, p. 184-196, 1996.
DUTRA,L.H. Introdução à teoria da ciência. Florianópolis: Ed. da UFSC, p.13-31,2009.
DA SILVEIRA, Fernando Lang; OSTERMANN, Fernanda. A insustentabilidade da proposta
indutivista de" descobrir a lei a partir de resultados experimentais". Caderno Brasileiro de
Ensino de Física, v. 19, p. 7-27, 2002.

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