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Raymond Ruyer1
INTRODUÇÃO
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Raymond Ruyer foi um filósofo francês(1902 – 1987)autor de importância
reconhecida internacionalmente. Entre outros temas, ele abordou a filoso-
fia da biologia e da informática. Seu livro mais conhecido, “A Gnose de Prin-
ceton” apresenta suas concepções filosóficas com o artifício literário de se-
rem opiniões de um grupo de cientistas gnósticos da Universidade de Prin-
ceton.
1
Guardadas as proporções, é possível que no caso moderno, o
rei também esteja nu. Existem também adeptos das ideias e
ideais cientifistas, com as quais descrevem o mundo e a socie-
dade, enquanto outros que preferem olhar a vida conside-
rando aspectos transcendentais, ignorados pelo primeiro
grupo. Entendemos que a tolerância que devemos defender,
não é a ideia simplória de que “cada um tem sua verdade”, a
qual, aplicada em toda sua possível extensão conduziria ao ab-
surdo: “todas as opiniões são igualmente aceitáveis”. Certa-
mente, cada um tem sua opinião sobre a verdade, e o direito
de defende-la, mas opiniões podem estar certas ou erradas. É
necessário a existência de critérios que nos permitam decidir a
respeito do conteúdo de verdade em proposições conflitantes.
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está disposto a abandonar a preocupação consigo mesmo, o
egoísmo, a cobiça que, talvez de modo inevitável, estão entra-
nhados em nossa mente e em nossa conduta e são responsá-
veis por grande parte de nosso sofrimento. Os gregos chama-
vam esse processo de kenosis (esvaziamento). Quem renuncia
ao desejo de promover-se, denegrir os outros, chamar a aten-
ção para suas qualidades únicas e especiais e garantir para si
mesmo o primeiro lugar na hierarquia, sente imensa paz.” 2
(p. 37)
22
Karen Armstrong. Em defesa de Deus : O que a religião realmente signi-
fica. Companhia de letras, 2011
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direito de escolha individual, assim como a escuridão surge
pela ausência da luz.
https://aminoapps.com/c/dcamino-comics/page/blog/o-deus-da-
dc-universe/0XVo_pWCkuYv1DZZaw4QRQo4DWRr3B0aMk
4
bíblico, ou “Maya”, ilusão, como queriam os antigos Hindus,
ou, guardadas as imensas e incomparáveis proporções, asse-
melhado a uma “realidade virtual”, na linguagem atual.
3
Brahman – o todo transcendente; Atman- o núcleo transcendente da in-
dividualidade humana
5
dispostas nem mesmo a ouvir o ponto de vista rival ou avaliar
evidências que poderiam enfraquecer sua posição.”
ORDEM EMPÍRICA
6
vista, dentro deste modelo de realidade não existe lugar para
fenômenos transcendentais, e a própria ideia de religião esta-
ria excluída. Contudo, um número crescente de cientistas não
compartilha dessa perspectiva limitada. Admitem ser o mundo
dos fenômenos que se podem manipular, pesar e medir (or-
dem empírica) o objeto por excelência da investigação cientí-
fica, mas que estes não perfazem em si a totalidade do cosmos.
Como nos relatam os pesquisadores das civilizações primitivas,
o relacionamento dos
nossos ancestrais com
o universo parece ter-
se iniciado dentro de
uma perspectiva má-
gica Viam-se criaturas
especiais fantasmagó-
https://cyberclio.worpress.com/2015/06/12/os-in-
ricas, de qualidades
cas/
4
Carl Jung et alii, O Homem e seus Símbolos, Nova Fronteira, 1964. Neste
livro iniciado por Jung, seus discípulos apresentam uma análise dos símbolos
comuns a diferentes agrupamentos humanos através das eras e sua ligação
com a realidade subjetiva coletiva e individual.
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como reação à manifestação daqueles seres incompreensíveis,
causadores dos fenômenos naturais. Era um esforço para fazer
corresponder o mundo mágico dos sonhos e das visões (onde
aqueles seres também se manifestavam), ao mundo palpável
do cotidiano. Em sua formulação original tinham o objetivo de
apaziguá-los ou de ganhar os seus favores. Podemos, entre-
tanto, perceber mesmo nessas formulações primitivas, certa
vinculação com a postura do futuro pensamento científico,
pois também buscavam nas manifestações as causas para os
efeitos observados. As observações da posição do sol nascente
e poente sobre o horizonte, por exemplo, indicavam o mo-
mento propício para as plantações e a colheita; a posição de
outros astros no céu coincidia com as cheias dos rios e as con-
dições do céu ao entardecer indicavam como seria o tempo no
dia seguinte.
8
principalmente pelos sacerdotes, e os primeiros astrônomos
foram também astrólogos.
9
tanto na nova visão de mundo a eles apresentada pela “filoso-
fia natural”, a ciência, quanto nos antigos filósofos gregos
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científicas no campo da filosofia natural (hoje física), expressas
na linguagem precisa da matemática, assombravam a Europa,
e encontraram na pessoa de Voltaire um ardoroso divulgador.
Como consequência dessa visão cósmica fundamentada na ra-
zão, os postulados religiosos, por muitos séculos incontestes,
começaram a ser questionados. Durante muito tempo asso-
ciou-se o livre pensar ao exercício intelectual de refutação dos
dogmas religiosos que por séculos limitaram o pensamento hu-
mano. Esse livre pensar era inspirado em novas filosofias e nas
crescentes e estonteantes descobertas em todos os ramos da
ciência. Os iluministas, descontentes com a descrição do uni-
verso apresentada pela religião tradicional e suas consequên-
cias na vida comum, propunham a criação de uma religião na-
tural igual para todos os homens, com seus fundamentos no
conhecimento científico, o qual viria responder a todas as
questões e esclarecer todas as dúvidas. Nos anos que se segui-
ram, entre as revoluções e restaurações políticas, ora a Igreja
predominava e impunha suas diretrizes, ora os filósofos e radi-
cais liberais tentavam fazer valer sua visão de mundo. Os
pensadores que contribuíram para o crescimento desse movi-
mento foram muitos, separados no tempo e no espaço, perten-
centes a diferentes nações europeias. Desde o século XVI, Co-
pérnico, Galileu, Bacon, depois Descartes e Newton, entre ou-
tros, vinham minando o conhecimento rigidamente
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estruturado e estabelecido sobre bases aristotélicas, formado-
res da cosmovisão aceita e subscrita pela Igreja, por mil anos.
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o quadro de incerteza e injustiça social, contra as quais clama-
vam os iluministas.
5
Ibid., pp.120-126.
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as ideias iluministas foram obliteradas por reavivamentos reli-
giosos no final do século XVIII e início do século XIX. Mesmo
assim, muitas de suas consequências persistem até hoje. Os re-
flexos do pensamento científico na sociedade e seu confronto
com a visão religiosa merecem ser estudados.
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de vista, claramente não há lugar para fósseis com milhares e
milhões de anos. Essa visão fundamentalista, que foi monopo-
lizadora do pensamento religioso no passado, já não tem a
mesma expressão em nossos dias, mesmo entre religiosos.
Pensadores cristãos, católicos e de denominações evangélicas,
têm publicado estudos eruditos sobre história, linguística e
exegese bíblica que modificaram profundamente a posição tra-
dicional6. Contudo e curiosamente, vários escritores e até ci-
entistas de renome, ao abordarem a controvérsia ciência/reli-
gião, o fazem considerando apenas a interpretação fundamen-
talista, como se esta fosse a única possível.
6
Ver, entre outros, Jean Bottero, O Nascimento de Deus, Paz e Terra, 1993;
Diego Arenhovel, Assim se formou a Bíblia, Edições Paulinas, 1978; Alfred
Lappel, A Bíblia Hoje, Edições Paulinas, 1979.
7
Isaac Newton, Princípios Matemáticos, Os Pensadores, Abril Cultural, 1979,
p. 21.
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(...) mas de certo modo, não é, em absoluto, corpóreo, de certo
modo, é totalmente desconhecido para nós. Assim como um ho-
mem cego não tem ideia das cores, nós também não temos ideia
da maneira pela qual o todo-sábio Deus percebe e entende todas
as coisas. Ele é completamente destituído de todo corpo e figura
corporal, e não pode, portanto, nem ser visto, nem ouvido, nem
tocado; nem deve ser adorado sob a representação de qualquer
coisa corporal.(...) muito menos, temos qualquer ideia da subs-
tância de Deus. (...) Mas, para servir de alegoria, Deus é dito ver,
falar, rir, amar, odiar, desejar, dar, receber, regozijar-se, estar
faminto, lutar, inventar, construir; pois todas as nossas noções
de Deus são tomadas dos caminhos da humanidade, por
uma certa similitude que, apesar de não ser perfeita, tem en-
tretanto, alguma semelhança.” (grifo nosso)
Os citados escritos dão a entender que uma “fé cega” nas atu-
ais proposições científicas é sinal de uma condição intelectual
superior, o que não é verdade. O conhecimento científico atual,
apesar de todo seu avanço, não alcançou o máximo desenvol-
vimento possível em todos os campos, não está, portanto,
isento de incoerências, erros e da necessidade de correções. O
desenvolvimento que por certo ocorrerá nas décadas e séculos
que virão, trarão alterações em muitas das proposições hoje
tidas como verdadeiras. As teorias cosmogônicas, por exemplo,
não cessam de sofrer alterações, com novos aspectos sendo
propostos, ainda que em sua maioria não cheguem ao grande
público, que repete as mais conhecidas teorias como se fossem
verdades incontestáveis, absolutas. Na verdade, esse campo,
da cosmogonia, é dos mais espinhosos. Conheço alguns físicos
que se recusam a considera-lo, dado seu caráter extrema-
mente “metafísico”. O que costuma ocorrer obedece a
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seguinte sequência: Observações astronômicas recolhem da-
dos sobre o que existe no cosmos. De posse desses dados e se-
guindo proposições existentes, cria-se uma simulação matemá-
tica em computador propondo uma explicação para a realidade
observada, e compara-se os resultados da simulação com da-
dos de novas observações. Dessa comparação, introduzem-se
correções na simulação e continua-se o processo. Não existe
uma simulação cujos resultados concordem totalmente com as
observações e há quem diga que o conhecimento que cresce
vertiginosamente a cada dia é apenas sobre simulações de
computador, não sobre a realidade que aquelas pretendem si-
mular. Foi dessa maneira que surgiram os conceitos de “maté-
ria escura” e “energia escura”, como sugestão de correção
para as inconsistências entre as previsões das simulações e os
dados coletados. Dizem os astrofísicos que a matéria nos esta-
dos em que a conhecemos (sólido, líquido, vapor, plasma)
constitui apenas cerca de 4% da matéria total do Universo.
Uma reflexão então se impõe: O conhecimento parcial de 4%
da matéria existente, nos habilita a descrever processos e leis
gerais para o Universo como um todo?
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exercício de dinâmica, no qual um móvel parte com velocidade
inicial e aceleração conhecidas, pergunta-se em quanto tempo
ele percorrerá uma distância conhecida. A equação que dá a
posição em função do tempo é do segundo grau, e dá dois pos-
síveis resultados para o tempo, um positivo e outro negativo.
Todos devem lembrar que nesses casos se desprezava o resul-
tado negativo, pois o tempo negativo não tem sentido. O móvel
não poderia chegar a certa distância do ponto de partida em
um instante antes de ter saído. O resultado desprezado, que
não tem realidade física, é, contudo, matematicamente coe-
rente, válido. Outro exemplo. Tomamos uma régua com 1,0m
de comprimento, com um orifício a certa distância de seu cen-
tro e inserimos a régua por esse orifício em um pino fixo em
uma parede. Afastando-se a régua da posição vertical por um
pequeno ângulo, ela oscilará por algum tempo como um pên-
dulo físico. Pergunta-se a que distância do centro da régua
deve estar o orifício para que ela oscile com um período dese-
jado. O cálculo cai novamente em uma equação do segundo
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grau, e dará dois resultados de validade matemática idêntica.
Mas, dependendo do valor do período desejado, um desses
pontos estará em uma posição fora da régua, o que é absurdo.
As simulações em computador utilizam equações diferenciais e
matemática superior, muito além das simples equações co-
mentadas acima, mas também seguem leis inflexíveis: alimen-
tados com dados, seguirão seu desenvolvimento e produzirão
seus resultados, matematicamente inquestionáveis. Esses re-
sultados são apresentados como novas descobertas, quando,
na verdade são suposições matematicamente fundamentadas,
sim, mas que precisam de um volume razoável de dados expe-
rimentais comprobatórios antes de serem aceitos como possí-
vel verdade. É preciso demonstrar, comprovar, se essas formu-
lações têm alguma correspondência com o universo físico.
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e teoria da 'evolução' sob análise da teoria de sistemas e aná-
lise metateórica”:
A teoria da 'evolução' ('TE') é tida hoje como algo semelhante a
uma teoria universal e como ápice do conhecimento científico. O
processo denominado 'evolução', por ela descrito, é interpre-
tado como acontecimento abrangente, que vai uniformemente
da 'evolução' do cosmo à 'evolução' da razão e da cultura, viabi-
lizando uma grandiosa visão geral da realidade. Sem considerar
a dificuldade de definir o processo 'evolução', ele é tomado por
fato incontestável, e a teoria de mesmo nome é tida como tão
certa, que seus adeptos não vêm motivo para verificar a legiti-
midade de sua 'menina dos olhos’, isto é, para examiná-la meta-
teoricamente e avaliar suas hipóteses e sua validade. Tal inves-
tigação parece-lhes ainda menos necessária, já que quase diari-
amente é apresentado novo material reforçando a compreensão
aparentemente inabalável da 'evolução'. Não há motivo evi-
dente para ir além e tornar a 'TE' objeto de investigação, já que
ela tudo explica suficientemente, de forma maravilhosa (no du-
plo sentido da palavra). No entanto, evitando ser confundido
pela aparência e mantendo distância crítica, constata-se facil-
mente que a 'TE' não é ápice do conhecimento científico, mas
ponto final de um movimento intelectual que, partindo de Des-
cartes e Galileu se manteve erguido em otimismo embriagante
por muito tempo, hoje só conseguindo disfarçar seu descaminho
(e conversão em destruição da natureza) com ruidosa propa-
ganda em causa própria. A 'ciência galileana', sobre a qual ba-
seia a 'TE', chancela o resultado de uma abstração metódica da
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mente como única realidade e assim inevitavelmente passa ao
largo da verdadeira realidade. 8
8
A. Locker Evolução e teoria da 'evolução' sob análise da teoria de sistemas
e análise metateórica”:Traduzido por Karl Heinz Kienitz. www.free-
webs.com/kienitz/Locker_pt2.pdf - acessado em 07/01/2015.
9
Situazione Atualle del Evolucionismo Biológico - Entrevista com o Professor
Roberto Fondi, da Universidade de Siena, publicada na revista Hiram, no.
9/10, settembre-Ottobre, 1991, Grande Oriente D’Itália.
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desconhecidas, de natureza metafísica, mas apenas leis pura-
mente físicas e portanto, suscetíveis de, ao menos em parte,
serem manipuladas e reproduzidas.
10
Ibid., pp. 23,24 (tradução livre)
22
“Mas é de todo surpreendente que a natureza dote uma espécie
de um órgão de luxo, extremamente complexo, excedendo em
muito suas necessidades efetivas e imediatas, órgão que a espé-
cie empregará milênios para aprender a usar (o cérebro) .” 11
11
Arthur Koestler, O Homem e o Universo, Ibrasa,1989.
12
Uma equipe de 32 autores escreveu A História do Homem nos Últimos
Dois milhões de anos, publicada pela editora Reader’sDigest de Portugal,
1975. A figura citada encontra-se nas páginas 12 e 13.
23
Sequência evolutiva humana de acordo com o darwinismo
http://www.ahistoria.com.br/da-evolucao-humana/
http://ciencia.estadao.com.br/noticias/geral,fossil-encontrado-nos-
eua-revela-a-evolucao-dos-morcegos,124087
http://actividadesonline.blogspot.com.br/2010/09/nautilus-fossil-
vivo.html
(continua na parte 2)
SUGESTÕES BIBLIOGRÁFICAS
24
CHALMERS, A.F. O que é ciência afinal? São Paulo, Editora Bra-
siliense,1993.
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